brecht. pequeno organon para o teatro

Upload: emmecarrd

Post on 07-Jul-2015

1.814 views

Category:

Documents


85 download

DESCRIPTION

Pequeno Organon Para o Teatro de Bertold Brecht

TRANSCRIPT

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    1/19

    ;.PEQUENO CRGANON PARA 0 TEATRO

    PROLOGOVamos exarninar, a seguir, qual s e r a 0 teor de urna este tica

    que se baseia em determinada forma de representar, a que, ja dealgumas decadas para ca, se tern dado realizacao pratica, Nasocasionais observacoes e conclusoes teoricas e nas indicacoes tee-nicas, pub licadas sob forma de cornentar ios a s pecas do autor, 0problema estetico apenas foi aflora do de urn modo aeidental ere lat ivarnente desinteressado. Nelas, vernos urna determinada es-pecie de teat ro alargar e restr ingir sua funcao socia l, completar auselecionar seus rneios ar tis ticos, e estabelecer -se ou afi rrnar- se nocampo da este tica , quando isso vinha a proposito, menosprezandoas prescricoes entao vigentes -; ..3uer elas Iossern de naturezamoral , quer dissessern respei to acf~~to ar tistico -. au invocando-as em seu benef ic io, conforme a sua posicao de combate. Era comdiscricao que defendia, por exemplo, 0 seu pendor social - apon-tando tendencias sociais em obras geralmente consagradas eutilizando apenas 0 argumento de serem estas as tendencias entaoaceiras. Carac terizava a eliminacao de rodos as valores cul turais,na producao contemporanea, como urn indicia de decadencia:acusava os recintos de diversao norurna de se terern degradado epass ado a ser mais urn ramo do cornercio burgues de estupefacien-tes . As falsas reproducoes da vida rea l que erarn efetuadas nos pal-cos. incluindo as do chamado natura lismo, levaram-no a sol ici tarreproducoes cientificamente exatas, e 0 insipido espirito de"iguaria", de deleite sensaborao arraves des olhos e da alma, fe-ioexigir a excelente logica da tabuada. Este teatro rejeitou, com des-dern, 0 culto do bela, culto entao alimentado ao lade de uma aver-sa o ao saber e de urn desprezo pelo util: e 0 que induziu a essaremincia Ioi , sobre tudo, a c ircunstancia de nao estar produzindonada de bela naquela epoca. Aspirava-se a urn teatro proprio deuma epoca cientifica e. como era muito dificil para os planejadores

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    2/19

    o desse :eatro requisitar ou furtar do arsena l dos conceitos ester icosvigern :s sequer apenas 0 bastante para manter os estetas da Irn-prens, a distancia, preferirarn simplesmenre ameacar afirrnando 0seguine prcposito: "extrair do instrumento de prazer urn objerodidati. 0 e reiormar determinadas ins tituicoes t rans tormando-as delocais .Iediversao ern 6rgaos de divulgacao" iNotas sabre a Opera),ou seja . en.igra r do reino do apraz ive l. A este tica , legado de urnaclasse depr ..vada que se tornara parasita ria, encontrava -se num es-tado tao deploravel que um teatro que preferisse apodar-se dethaeter logo adquiria, por si, tanto prestlgio como liberdade deacao. No entanto , 0 que entao se praticava como teatro de umaepoca cientifica nao era c iencia, mas, sim, teatro, e toda essa por-cao de inovacoes, surgidas Dum periodo em que nao havia pos-sibilidade de dernonstracao pratica (no periodo nazi e durante aguerra) faz que se torne prerne nte analisar qual a posicao destegenero de teatro dentro da estetica, ou, entao, determinar os tracesde uma estetica adequada aes ta especie de teatro. Ser ia demasiadodif ic iI, por exernplo, apresenta r a teoria do distanc iamento fora deurna perspectiva estetica.

    Poder-se-ia rriesmo escrever, hoje em dia, uma esteuca dasciencias exa ta s. Ga lileu ja fa lava da e legancia de certas formulas edo humor das exper iencias: Einstein atribuiu ao sentidc.da belezauma funcao de cescobe rta eo fisico a tfimico R. Oppenheimer en al-teee a atitude cientifica afirrnando que ela "tern uma belezapropria e se revela perieitamente adequada a pos icao do hornem naTerra" .

    ;i.~I

    1

    Chegou a altur a de rebatermos, per muito que pese ao comumdas pessoas, 0 nosso proposito de emigrar do reino do aprazivel ede manifestarrnos. nor muito que pese ainda a maior nurnero depessoas, 0 nosso ?r~p6sito de nos estabelecermos, daqui para fren-te , oes te reino . Tratcrnos 0 teatro como urn recinto de diversao.. (mica tratarnenro possivel desde que 0 enquadremos numa estetica.e anali semos. pois. qual a forma de diversao que mais nos agrada.

    o rearro consiste na apresentacao de imagens vivas de aeon-tecimentos passados no rnundo dos hornens que si lo reproduzido-100

    ou que foram, sirnplesmente, imaglnados; 0 objet ive dessaapresentacao...i-Ah:ea ir. Se ra se rnpre com este sentido que ern-pregarernos 0 termo, tanto ao falarmos do teatro antigo como dornoderno.

    2Se quisessernos arnpliar 0 con telldo da expressao, poderiarnos

    inclu ir nela, t arnbem, os acontecimentcs ocorr idos ent re homens edeuses, mas, como' nos intere ssa apenas determinar seu sentidores tr ito, t al acrescimo pode, perfeitamente, ser abolido . E, mesmoque optassemos por urn tal a la rgarnento de sentido, teriarnos decontinuar a descrever a funcao mais ge ral desta instituicao que sedenomina teatro exatamente nos rnesmos termos, i sto e . teriamosde continuar a desc reve- la como uma funcao de diver sao, E esta afuncao mais nobre que atr ibui rnos ao teat ro .

    3o tea tro, tal c0~~todas as outras artes, te rn estado, se rnpre,empenhado em divertir , E e este empenho, precisarnente, que lhe

    confere, e continua a conferir, uma dignidade especial. Comocaraeteristica especifica, basta-Ihe 0prazer, prazer que tera de ser, .evidentemente, absolu to . Tornando-o urn mercado abastecedor demoral, nao 0 faremos ascender a urn plano superior; muito pelo-contrario , 0 tea tro deve justamente se precaver nesse caso, paranao degradar-se, (Ique cer tarnente sucedera se nao t ransformar elemento moral em algo agradavel, ou. melhor, susceptive! decausa r prazer aos sentidos, Tal tram formacao ira beneficiar, jus-tamente, 0 aspecto mora l. Nern seque r se deve ra exigir ao tea troque ensine , ou que possua utiiidade maior do que a de urna emocaode prazer, que r organica, quer psicol6gica . 0 teatro precisa podercontinue r a ser algo absolura rnente superfluo, 0 que s ignif ies .evidenternente. que vivernos para 0 superfluo, E a causa dos diver-t imentos e, dent re todas, a que men osnecess ita de ser advogada.

    4o obje tivo que os Aruigos. segundo Ar istote les. seguem em

    suas tragedias nao pode classificar-se nern como superior nem101n

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    3/19

    I1 como inferior ao s imples obje .ivo de divertir. Dizer que 0 teatroi surgiu das cerimonias do cul t: nao e diferente do que dizer que 0; teatro su r giu precisamen te p ir se ter desprendido destas; nao.J adotou .a missao dos misterios ad0IOiJ, s irn , 0 prazer do exerciciot do culto, pura e simplesment, ... E cocatarse aristotelica, a purifi-i cacao pelo terror e pela pieda Ie, )11 a purificacao do terror e daf piedade, nao e uma ablucao realize da simples mente de urna forma} recreativa, e , sim, uma ablucao que tern par objetivo 0 prazer.iQuaisquer exigencias au concessoes que facamos ao teatro paraf alem disto sign ificam apenas que estamos menosprezando seu ob- .;;jetivo especifico,

    5I E, ainda que distingamos uma forma superior e uma forma!inferior de diversao, a arte nao se compadece de tal distincao: 0: que ela ambiciona e poder expandir-se l ivreruen te, tan to nurna es-. Iera inferior como numa esfera superior, des d e que divirta a pu-blico com i5S0.

    6Mas 0 teatro pode proporcionar-nos prazeres fracos (simple'S)

    e prazeres intensos (complexos). Os u ltimos surgern-nos nas gran-.des obras dramaticas e desenvolvem-se ate alcancarern urn apogeu,ido mesmo modo que 0 ate sexual, por exemplo, alcanca a sua,:plen itude no amor ; sao mais d iversif icados, mais r ices em poder de.intervencao, mais contraditorios e de consequencias mais deci-.sivas.

    7E as diversees proprias das diferentes epocas tem sido, na-

    \turalmente, distintas urnas das outras, varian do de acordo com 0'tipo de convivio humane de cada epoca. 0 demos dos cireos he-denicos, sob 0 dominic da tirania, teve de ser reeriado de uma for-Ima diferente na cone feudal de Luis XIV, 0 teatro tern precisadoproporcionar reproducoes diversas do convivio humane, que nao

    -ri02

    sao apenas irnagens de urn conVIV1Odiferente, mas tarnbemimagens dadas de uma forma diferente,8

    Foi necessaria dar as personagens propOTl;:5esdiversas, e tam-~em ~5 situ acoes tiverarn de ser construidas segundo urna perspec-trva diversa, con forme a natureza da diversao posslvel e necessariaem cada forma de convivio humano. Deve-se narrar as his torias deurna fo rma muito distint a fim de cue possarn divertir aos he-lenos, para quem nao havia possivel escapatcria da lei divina, ain-da que esta Iosse desconhecida. ou aos franceses, com a suagraciosa auto-suficisncia que 0 codigo de deveres palacianos exigedos gran des senhores do mundo, ou aos ingleses da era elisabe-tana, com 0 seu narcisismo de homens novos, totalmente l iber tosde inibicoes,

    9~~N~~ se dey~ tarnbem esquecer que 0 usufruto de reproducoes

    de especie tao diversa quase nunca dependeu do grau de semeihan-ca entre a imagem eo seu objeto ..A inexatidi io, e mesmo uma forte!alha ~e verossimilhanc;a, pouco ou nada impor tavam, desde que ainexatidao apresentasse uma certa consistencia e a inverossimi-lhanca conservasse urn certo grau de sernelhanca , Bastava a i lusaode que 0 decurso das historias se desenrolava compulsivamenteilusao criada por toda a especie de recursos teatrais e poeticos.Tarnbem nos fechamos de born grado os olhos a tais discrepanciassempre que nos permitem extrair das ablucoes espiriruais deSoiocles . dos hoJocaustos de Racine ou dos instintos sanguinariosde Shakespeare urn prove i to parasitario, apoderando-nos dos belosau grandes sentimentos dos protagonistas dessas his-tarias.

    10

    .. D,as mult ip~as especies de reprodu~oe5 de acomecimentos sig-m~lca~vos ~corr,ldos no rnundo dos homens, que, des de os Antigosate hoje , . tem sido apresen tadas no teatro e que. apesar de Sua

    103

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    4/19

    inexatidao e sua ausencia de verossinulhanca.. tern servido dediversao, ha, ainda, hoje em dia, urn rnimero espantoso que tam-bern diver te a nos ,

    I1,jji!

    IIlOra, se constatamos a nossa capacidade de nos deJeitarrnos!coni reproducoes provenientes de epocas tao diversas (0 que ter ia~ sido quase impossivel aos mhos dessas epocas grandiosas), naordeveriamos, entao, suspeitar que nos Ialta ainda deseobrir 0 prazerf e sp ec if ic o, a d iv er sa o propria da nossa -epoca?i!. t 12

    A nossa capacidade de Iruicao do teatro deve ter-se atrofiado,~em re lacao ados Antigos, mui to embora a nossa forma de convivioj B ind a se assernelhe bastante a s ua p ara que, de rnaneira geral, es-i sa fruicao possa surgir da nossa arte. Apossarno-nos das obras an-itigas por in termedin de urn processo relar ivarnente novo, ou seja,; por empatia, processo para 0 qual as releridas obras nao dao, de si,;. grande cont ribuicao. A nossa frui~ao e. desta forma, quase total-r mente alimentada por fontes diversas das que tao possantemente.se; abriram para aqueles que viverarn ames de nos . Arranjamos urnacompensacao na beleza da linguagem dessas obras. na eleganciada sua Iabulacao, nas passagens cujo poder de sugestao nos per-mite criar uma representacao mental desligada delas, em suma,

    'n o s o rnamenro s. Esses recursos po etico s e teatrais dissirnulam.. justamente, a sensacao de desacerto que a historia nos provoca , Os:nossos teatros ja nao tern a eapac idade ou 0 prazer de narrarern es-. l as historias, nem rnesrno as do grande Shakespeare (que nlio sao,;ass im, tao antigas), com exatidao, isto e , tornando verossirnil a as-;sociacao dos aconrecimentos. E a Iabula e , segundo Aristoteles - e; nesse ponto pensamos identicameme -. a alma do drama! Cada; vez rnais nos molesta 0 primitivismo e 0descuido que encontramcs:nas reproducoes do. convivio humane, [lao' s6 nas obras ant igas.j mas. tambern nas conternporaneas, quando estas sao fei tas pelas re-r ceitas antigas. 0 nosso modo de fruicao comeca a desatualizar-se.

    It11rftf~!;

    10 4

    13

    E a sensacao de desacerto, que nos vern perante as repro-ducoes dos acontecirnentos .ocorridos no mundo des hornens, querecuz IlOSSO prazer no teatro. A razao desse desacerto e 0 faro dea nossa posicao em relacao aoobjeto reproduz ido ser diverse daque-la dos que nos artecederam. .-

    14Ao indagarmos que especie de diversao (direta), que prazer

    ample e consrante 0 nosso teat ro nos poderia proporc ionar comsuas reproducees do convivio humano, nao podemos esquecer quesornos fi lhos de uma era c ientifica. 0 nosso convivio como hornens- a nossa vida, quer dizer - esta condicionado, pela ciencla, den-tro de dirnensces eompletamente novas.

    15Ha algumas eentenas de anos, nouve urnas quantas pessoas

    que, embora em paises df~l'Sos, realizaram experiencias equi-valentes no sentido de arrancarem a Natureza os seus segredos.Pertencendo a classe industrial de cidades ja en t ao poderosas,transmitirarn suas invencoes a terceiros, que as exploraram nodominio da pratica, sern pedirern das novas ciencias outra coisasenao lucro pesscal. Indusrrias que, durante milhares de anos, sehaviarn mantido dentro de processes quase inalteradns ; desenvol-veram-se , entao, espantosarnente, ern varias Iocalidades: estaslocalidades ligavarn-se umas a s outras pela caneorrencia e en-globavarn em si, por toda a pane, grandes massas humanas, que,estruturadas de uma forma nova . iniciaram uma producao gigan-tesca, Ern breve, a hurnanidade pode revelar forcas de uma am-plitude ate entao nunca sonhada.

    16

    Dir-se-ia que a humanidade so agora se dispunha, unitaria econsciente, a tornar habitavel 0 astra em que vivia, Varies elemen-tos naturals, tais como 0 carvao, a agua, 0 petrolec, tornaram-se

    10 5

    )

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    5/19

    , ;verdadeiros tesouros, Incumbiu-se 0 vapor de agua de m rver) veiculos: umas quantas pequerias faiscas ea vibracso das coxa ;d a.1"l'ra denunciaram urna Iorca da Natureza, uma forca que prod rzia11uz.e transportava 0 sam por sabre os continentes , etc. Era com urn10lhar novo que 0 hornern, par toda a parte, rnirava ao redor de si e[inqu ir ia como lhe seria possive l u ti lizar para seu bern-estar tur 0 0!-que ja ha multo conhecia de vista, mas nunca utilizara , 0 n.eiotambiente trans torrnava-se cada vez mais, de decenio em deceuic,Idepois de ano para ano, e, mais tarde. quase de dia para dia. Eu1pr6prio estou nes te momento escrevendo numa maquina que naol~ra conhecida quando nasci . Desloco-me nos novas veiculos a umaelocidade que a meu avo nao poderia sequer imaginar; nao havia

    l . ,_ ~ . - . ,:~I-~":CiiC,:~~O;~Il. ..........c;~"\ !;J"I>4l" t" ~~:-- --[-~~ :-._. _., -;":,,:"; '~""I"":~ > I; f J : :- ' o ): -~ ~.: " : .' I -; . .-.:I":''.' ' ' ' ' ' ' '_:'-~'~

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    6/19

    ;rI1~i.~Iis'' '; . e qUI,sennos, pois, entre gar-nos a grande paixa ) de produzir ,'~fl.ual devera ser 0 teor das nossas reproducoes do Call' ivio humane?,t,Qual sef.a a atitude produtiva, em relacao a Natu eza e a socie-lade, que, no teatro, nos recreara, a nos, 05 filhos Ie U IT!a epoca'f ie n ti fica?r!~t Essa atitude e de natu reza critics. Perante urn rio. ela consistetm regulanzar 0 seu curse: perante lima arvore fru rifera, em en.~'erra'la; perante a locomoca o, em construir veiculos de terra e de..r: perante a sociedade, em fazer u rna revolucao. As nossas reoprodU(;oes do convivio humano d es tin arn -s e a os tecnicos fluviais ,fO S pornicultores, aos construtores de veiculos e aos revolucio-arios, a quem convidarncs a virern aos nossos tearros e a quem

    f,!edimos que nao esquecarn, enquanto estiverem conosco os seustes~ect i l 'os interesses (que sao uma fonte de alegria); poderernos,~ssml, entregar 0 mundo acs seus cerebros e aos seu s coracoes,rara que 0 modifiquem a S(,1I criterio.j

    iII!I)jjii. j!iiIJrII:1

    '1r1iI1

    21

    22

    2 3

    i_ern duvida, so sera po ssiv el ao reatro assurnir uma po -1 yao rndependente , casu se ent regue as correntes mais avassalado-r s da .so~iedad.e e se associe a todos os que estao, necessariamen-f. , m_als rmpaci en t es por. fazer grandes modificacoes nes se dorni-! ~ O ,E, sob:etudo. 0 desejo de desenvolver a nossa arte em diapa-;ao com a epoca em que ela se insere que nos impele, desde ja, aleslocar 0 nosso teatro, 0 teatr o proprio de uma epoca cien tifica,1a r. a o s su_o ur b io s das cidades; ai ficara. a bem dizer, inteiramentetdlsposl (; ao d~s vastas m~s. sas de todos os que produzem em Iarga.s ca la e que. vivem com dificuldades, para que nele possarn diver-~-se proveuosarnente com a complexidade dos seus propriosroblemas. E possivel que achern difici l remunerar a' nossa arte ebssivel que nao compreendarn, logo a primeira vista, a nossa nova9rrna de diversao, e , em rnuitos aspectos. nos terernos de apr ender\descobrir aquilo de que necessitam e de que modo 0 necessuarn:fas podernos ~srar seguros do,~eu_interesse. E que todos aqueles.ue parecem tao distantes da crencia 0 estao, com efeito, pela sim-

    1 1I.I,

    b

    0 8

    pIes razao de serern mantidos a distancia; para se apropriarern daciencia terao de desenvolver e por em pratica, par si, desde ja, umanova ciencia social. Sao estes as verdadeiros mhos de uma era den-rifica como a nossa, cujo reatro nao se podera desenvolver se naoforem eles a irnpu lsiona-lo ..U rn teatro que torne a produtivid adefonte princ ipal de -diversao Devera torna-la, tarnbern, seu tema; e ecom urn cuidado muito particular que devers fazelo, hoje em dia,pois par toda a parte vernos 0 homem a impedir 0 hornern deproduzi r a si propr io , isto e. de angariar 0 seu proprio sustento, dedivertir-se e divertir. 0 teatro tern de se comprorneter com arealidade, porque 56 assirn sera possivel e sera licito produzirimagens eficazes da realidade,

    24

    Tudo isto vern Iacilirar ao teatro urna aproximacao, tantoquanta passive I estreita, com os estabelecimentos de ensino e dedilusao . Pois, embora 0 ieatro nf io deva ser irnpo rtunado com todaa sorte de temas de ordem cultural que nao the confiram urn ca-niter recreative, tern plena liberdade de se recrear com 0 en sino aucom a investigacao. Faz com que as reproducoes da sociedade se-jam validas e capazes de a influenciar. como auten tica diversao.Expoe aos construtores da so~ade as vivencias dessa mesrnasociedade, tanto passadas como atuais: mas fa-lo de forma que sepossarn tornar objetos de Iruicao o s conhecimentos, os sentimentose os impulses que aqueles que dentre nos sao os mais emotivos. osm uis sab io s e o s rn ais a tiv os. e xrra ern dos acon t ecimen tos do diaa,.dia e do seculo. E nosso proposito recrea-los com a sabedoria queadvern da solucao dos problemas, com a ira em que se pedeproveitosamente rr a nsforrnar a compaixao pelos oprimidos, com 0respeito pelo arnor de tudo a que e hurnano, ou seja, pelo filan-tr6pico; em surna, com tudo aquilo que deleita 0 hornem queproduz.

    25

    o teatro pode, assim. levar seus espectadores a fruit a moralespecifica cia sua epoca. a moral que emana da produtividade.Tomando a critica, ou seja. a grande metoda da produtividade,urn prazer , nenhum dever se deparara ao teatro no campo ciamoral; deparar-se-ao, sirn, multiplas possibilidades. A sociedade

    10 9

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    7/19

    !

    ftp od e m es mo extrair praze r de tudo 0 que apresente urn carater as -"t.S.Ocial.de~de que 0 apre senre rn como a.:~a \:ital e reve~tido de.gr~n-f oe z.a; a ss irn s e nos revelarn. com f re qu en ci a, Io rc as i nt ele cru 21S e:!,inumeras capacidades de especial valia, empregadas porern,evidenternente, com propositus destruidores. Ora bern, a sociedadeod e m esm o g ozur ! i'. remer Ie. em toda a sua m ugn ilicencia. des-

    : tSa to r ren te que ir ro rn pe caras uo ficam erue . de sde 0 momenta 4\ ~U he s eja p os si ve l d or nin a- Ia . p as sa nd o n es se c as o a corre n te a ser suu.-~ .t 26

    s eg uir , c om urn 'dec, i qu e n ao pobre do mundo, e rnociona r os es -pectadores muito m a i . i nt e ns ar ne n te do que 0 mundo propriamen-te dito.

    28

    E, no fundo, hi! que .lesculpar. em certa medida, os arores,porque a verdade e que, com reproducoes mais exatas do mundo ,nao se ria possive l provocar os praze res que lhes sa o comprados atroco de dinheiro e de celebridade: e seria, tarnbern, impossivelIazer aceitar no mercado as suas reproducoes inexatas se asapresentassem de urna forma menos magica.

    A sua aptidao para retratar hornens manifesta-se indiscri-minadamente : sao espec ia l mente os patif 'e s e as personagensmenores que revelarn maces da sua experiencia e s e dife re ncia muns dos outros; as personagens principais. porern, devern conservarsernpre urn carater geral, para que 0 especrador possa mais facil -mente identifiea r-se com elas, E. ale rn disso, os traces ca r acteris-ticos devem sernpre pertencer a lim campo restrito, dentro doqual qualquer pessoa possa dizer imediatamente: " J : : issa mesrno"!o espectador deseja uS\1f~e sensacoes bern deterrninadas, talcomo uma crianca , par exernplo. quando m enta nurn cavalo demade ira de urn c arro ss el: a s en sa ca o de orgulho po r saber andar acavalo e por te r urn cavalo, 0 prazer de se deixar levar e de passa rjunto de out ras criancas, 0 sonho cheio da ventura de esra r sendoseguida ou de estar eia propria a seguir outros, etc. A sernelhanca.entre 0 veiculo de madeira e urn c av al o n ao c on tr ib ui grandementepara que a crianca exper irnente estas sensacoes: nem a aborrece,rarnpouco. 0 fa to de a cavalgada se lirn itar a urn pequeno circulo .Par sua vez; ao Ir equeruador de teatro a que Ihe intere ssa e podersubstituir urn mundo ccmradiroric par urn mundo harmonioso.urn mundo que conhece mal por Lim mundo onirico.

    , Para Ievar a bom termo um empreendimento desta ordern_eria i m po s si ve l d e ix ar 0 teatro f icar com o esta. Entrernos numa:as- habituais salas de espetaculo s e obse rve rnos 0 efeito que a:e:!.fro e xe rc e s ab re os especradores, OIhando ao redo r, ve rn osigur~s inanirnadas, que se encontrarn nurn estado singular : dao-" os a i de ia d e e st are rn retesando o s rrn is cu lo s n um e sf orco e no rm e.J~ en laO. de os l.eren.! I:daxado por in ie. .~so esgoramento. Qlia.~::~ao convivem entre SI: e como ~ma reurnao em q~e todos dermis-'j.e m pro fun dam en te e lo sse m. s irn ultan eam en te , vm mas de sonhosgitados, par estarern dehados de costas, como diz 0 povo atoposi to dos pesadelos . Tern os olhos, evidenremente, aberros ,nus nao vee rn , nuo Iiuuu e tampouco ouvcm, CSCUIJIll. Olhamipmo que fascinados a ceria. cuja forma de e xp re ss ao e rn be be SUCl\~izes na Idade Media. a epoca das I ei ti ce ir as e dos clerigo s. V e r c~\,lr sa o at as que causam , por vezes, praz.er; essas pessoas. po -r O l . parecern-nos bern lange d e q ua lqu er a ti vi da de , parecern-nos.pies. objetos passives de urn processo qualquer que se , e sia de -lnrolando. 0 esrado de enlevo em que se encornram e em quea re c er n e n tr e gues a s en sa co es i nd ef in id as , mas in re nsas . e tanto:ais proiundo quanto melhor trabalharem os atores: por isso~sejariamos. v is ta que tal esrado de enlevo de fo rma nenhurna no:cmpra 7.. qu e os arores Iossern antes lao maus q ua ru o p o ss iv cl .I

    \ 27 Foi neste estado que encon tr amos 0 teatro, ao procurarrnosrealizar 0 nos so empreendimcruo. E a tal estado se devia que osnossos espe rancosos arnigos. a quem chamamos filhos do seculocientif ico. se encontrassern t ransformados numa intimidada mas-sa crente .: ' Iascinada " .

    . 0 mundo que e reproduzido e do qual s a o tirades excertosIra a criacao dos referidos estados de alma e emocoes surge deisas de ta l mane ira pobres e escassas - urn tanto de carica tura.tquanta de mimica e urna certa porcao de texto _. que e impos-fI deixar de adrnirar a genre de teatro: adrnirarno-Ia per con-.p l' s J 1

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    8/19

    t1I:1 Sem duvida ha cerca de meio seculo lhes tern sido dado verJprodu-;oes algo rnais fieis do convivio entre os homens, e, tam(Ill, personagens que se rebelarn contra determinados males, :iais au ate contr a a estrutura globa l da sccie dade . 0 seu interes-, elo teatro, foi, mesmo, sufic iente rnente for te para que, de es-= ntanea vontade, sesujeitassern ternporar iarnente a uma ext raor- ,. ar ia reduciio da l inguagem, da fibula e doseu nivel intelectual,'~s a aragem do espirito c ientifico que entao soprava fazia que osibitua is motives de encanto se desvanecessern. Mas ta is sacr i-. ips nao valern muito a pena. 0 aperfeicoamento das reproducoes, edia urn determinado tipo de prazer, sem que se oferecesse., ; 0 em troca. 0 campo das relacoes humanas tornou-se evidente,. rs nilo "claro". As sensacoes provocadas pela forma an r iga~gica) continuaram a ser ta rnbem da natureza das antigas.

    i,.3, 0 e executado, os deuses tomam a si esta tarefa, eles nao sao cri-ticaveis, As gran des pe rsonagens solitar ia s de ';hakespeare, que

    tr azem nopeito a estre la do seu destine, ar rojarr - se em seus VaQS emorta is fr enesis suic idas, e Iiquidam-se a si pn prias: e a vida, enao a rnorte, que se torna obscena, quando de s.ias derrocadas: acarastrofe nao e suscept ive] de ser cri ti cada. Sa. ri fi cios humanospor toda a pa rte. Barba ros divertimentos! Ora, So os o.nbaros ternurna ar te, Iacarnos n os urn a outra!

    ,i

    3 4

    Por quanta tempo a inda os nossos espiritos, abrigados 11aes-curidao os seus corp os "cornpactos", terao de penetrar em todasaquelas quin~eras que pairarn sabre a estrado, _ara. .. !!! tic ipar de~ma pro~endade. que~9_~~!!gfUI\Qdo. .' .: ,_.nQ~~lt~gadfl? Que es-pecie de libertacao sera esta, se no final de todas as pecas - queapenas para 0 espir ito da epoca e fel iz . (a jus ta Providencia, a dis-ciplina ) - vive rnos a Iantastica execucao que pune a prosperi dadepor ser excesso! E de rastos que nos adentramos no Edipo - ai sedepararn ainda e sernpre ~ .abus: a ignorancia nao evita a pu-nicao: no Otero. pois, 0 ciume, ainda e sernpre, nos move. e tudedepende da posse ; no Wallenstein, tarnbern nos devernos ser livrese lea is. para uma luta de concorrencia, senao tal luta finda ra, Este shabitos demoniacos sao tarnbern Iomentados em pecas como OsFantusmas e as Teceloes: nelas. a sociedade como miliell-surge.._. p ore rn . cnvolt a em maior problematica. E pOI' coacao qu e reee-'bemos as sensacoes, a s ide ias e os impulses das personagens prin-c ipais. e da soc ie dade recebemos apenas 0 que nos e dado pelomilieu em que as personagens se movern ,

    31

    Tal como anteriormente , 05 teatros eram os recintos de re-. io de uma classe Que mantinha 0 espirito cientifico amarrado a: ureza. nao ousando transteri-lo para as relacoes hurnanas,. .percentagern minima do publico que era proletaria e a que se'~ararn , apenas acessor ia e precariarnente, alguns intelectuai sti_statas.era ainda, tarnbem, necessario 0 velho t ipo de diversao, _ ,J'constituia urn alivio para 0 seu dia-a-dia sernpre estipulado.

    32tIJ Todavia. prossigamos! Seja de que rnaneira for! Saimos a: 1 p O para uma luta, lutemos , entao! Nao vimos ja como a crencaoveu montanhas? Nao basta enrao termos descobe rro que al-a coisa esta sendo ocultada? Essa cortina que nos oculta isto et i O . e preciso arranca-Ia: 35

    Necessi tarnos de urn teatro que nao nos proporcione sornenteas sensacoes, a s ideia s e os impulsos que sao perrnitidos pe lo res-pectivo contexte his torico das relacoes hurnanas (0 contexte emque as acoes se realizarn) , mas. sim, que empregue. e suscite pen-sarnentos e sentirnentos que desempenhem urn papel na modif i-cacao desse contexte.

    ,,!lo t eatro, tal como nos e dado ver a tualmente, aoresenta a es-ra da sociedade (reprcduzida no palco) como 'algo que naoe se r modificado pe la soc iedade (na sa la). Edipo, que pecouI a alguns dos princip ios que susrern 'a sociedade de sua epoca,f '

    33

    113

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    9/19

    36 diferenternente, nao sera, entao, rnuitc ~imp]esmente, essa pessoaurn prototipo de todas as outras? Cada pessoa reage , na real idade ,de maneira diverse, eonforme 0: tempos que corrern e a classe aque pertence; quer tenha vivido r. ou t ra epoca, quer nao tenha ain-da vivido tanto tempo Como outra quer viva ja no oeaso da vida, areacao e . sernpre, infal ivelmente. diver sa, mas igualmente preeisae i d en t ic a a de qualquer pessoa qi. e se en,:ontre na rnesrna situa s iv e is d e reaqao? Onde en-co n trar 0 ser vivo. 0 proprio e inconfundive l, aquele que nao e ab-solutamente sernelhanr- ao seu .semelhante? t pe la imagem queteremos de torrra-lo pa tente a todos; eo processo para 0 eonseguir-rnos sera. precisamente, configurar na imagem a e o n tr ad i~ a o _ Aimagem de perspeciiva!Z em quando. rnuda de opiniao,ou apenas diz frases que se contradizem, de maneira que 0 eco,acompanhando-o. poe as frases em confronto_

    Tal contexte tern de ser caracterizado na sua rel ativi dade. his-toriCa . Ora, is to s ig nif ic a u rn a ru ptu ra corn a n os so habi to de des-poja r das suas dife rencas as diversas estru turas soc iai s das epocaspassadas, de mane ira a faze-las aproximarern-sa rna is ou menos danossa, a qual, por sua vez, adquire, por meio desta operacao, 0carater de algo sernpre existente, por tan to, ererno. Nos preten-demos. porern, deixar a s di ferentes epocas a sua diversidade e naoesquecer jamais a sua efemeridade, de forma que a nossa epocapossa ser tarnbem considerada efemera. (Para tal proposi to, nolopodem, naturalmente, ernpregar 0 color ido ou 0 folclore, usadospelos nossos teatros para fazer sobressair, tanto mais acenrua-darnente quanta possivel, a analcgia das fonnas de a

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    10/19

    42 aqui l.o que . a "Provi?encia" Ihe impoe e 0 que a sociedade provi-denc~ou ,. al~da a socledad~ - esse poderoso conjun to de seres quelhe sao s irn ilare s - havera de parecer-lhe urn todo rnaior do que aSoma das partes, .urn todo em absolute nao susceptivel de sermodi fica do; desta forma, tudo 0 que nao e susceptive! de ser in-I luenciado sera familiar: e quem desconf ia do que e familiar? Paraque todos estes inurneros dados pudessern parecer duvidosos, teriade ser capaz de produzir em si urn olhar de estranheza identicoaquele com que 0 grande GaliIeu contemplou 0 lustre que oscilava,As oscilacoes surpreenderarn-no, como se jamais tivesse esperadoque fossem dessa forma, como se M ID entendesse nada do que seestava passando: foi assim que descobriu a lei do pendulo. 0teatro. com as suas reproducoes do convivio humano, tern de sus-c ita r no publ ico uma visao sernelhante ,v isao que e tao dificil quan-to Iecunda. Tern de Iazer Que 0 publico fique assornbrado, 0 Queconseguira, se utilizar urna tecrnca que 0 distancie de tudo que efamiliar.

    A forma de representa .ao que foi experirnentada no Teatro-Sch if fbaueedamrn de Berl irr , entre a pri rne ira e a segunda guerrarnundial.ce.cujo-objetivc era apreseutar imageris do tipo a que' nosternos ~ef~rig.o,baseia-se no .Ieito de distanciamento. Numa repro-e } . i J ! Y M ~~nlque se manifeste efeito de distanciarnenro, 0 obieto". ~~::su~!!"ptiverde ser reconhecido. parecendo, simu naneamente .

    i? - a l t i e , g . : D teatro ant igo e a teatro medieval distanciavam suas per-"":",",.~6ilag~n.sar meio de mascaras representaodo homens e anirnais; 0: ; , < - 'feafro asiatico ainda hoje utiliza efeitos de distanciamen to de.~ .. :n. iture~

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    11/19

    "mas-pfi r- rne peran te e le . representando todos nos. E esse 0 motivepar que 0 tea tro tem de distanciar tudo 0 que apresenta. - nao desaparece I 0 seu objeto - Galileu. Tudo isto, que deu aesra forma de repr .sentacao a designacao de "epica", naosig-n if ica, enf irn, outra .oisa senao que 0 acontecimento real, profano,nao sera mais levad- . aos clnos do publico: es ta em cena Laughton

    e rnostra como imag na Gnlileu. Ao adrnirar Galileu, a publico naocsqueceria natural rr, ente Laughton, mesmo que esre ten tasse urnametamorfose compluta: contudo, perderia, assim, as sensacoes e as - ,opinioes do ator, ccmpHamente absorvidas pela personagern. 0 /"ator, neste caso, se apossaria das opinioes e dos sent imeri tos dapersonagem, de tal forma que resultaria deles, na realidade, urnpadrao unico, que importa, depois, a nos. Para impedir que se detal atrofia, 0 atcr tern de transformer 0 simples a te dernostrar nurnato artistico. Utilizando uma forma de representacao auxiliar,podemos completar com alguns gestos urn dos aspectos da atitudedupla que referimos atras - a do individuo que mostra -, paralhe conferirmos evidencia, Se ator estivesse fumando, largaria, de /vez em quando, 0 charuto, para nos dernonstrar ainda uma outrafonna de cornportamento da personagem s imulada. Se dermos 0devida desconto a qualquer precipi tacao e nao pensarmos que tudoo que for lentidao e sinon imo de negl igencia , e is-nos perante urnator que podera nos Iazer abandonar, muito facilmente, tanto aos!laSSOS como aos seus.rios pensamentos.

    47

    -Para produzir 0 efeito de distanciarnento, 0 ator teve de por del

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    12/19

    dade". Por meio de uma representacao viva, narra it histor ia dasua personagern, rnostrando saber mais do que esta, e apresentan-do 0 "agora" e 0 "aqui" nao como uma ficcao que e passive) devidoasregras da representacao, mas, sim, tornando-os distintos do"ontem"'e do "em outro lugar": a associacao dos acontec irnen tosse tornara, deste modo , mais c lara.

    atributo d, movimento e de tudo 0 que e rnovido, E apenas neces-saria, absc iutarnente necessaria, que se ver if iquem, de urn modo.geral, can, icoes de experiencia, isto e, que haj a possibilidade deconceder 1 rna experiencia contraria para cada caso, respectiva-mente. As .ciedade e . desta forma. tratada como se 0 que taz: tosseIeito per el. : a tin.l de experiencia.

    51 S 3o que dizemos e especialrnente importante na apresentacaode movimentos de massas ou ern casas em que 0 meio ambientesof ra profunda modificacao, como, por exernp lo, em guerras e emrevolucoes. Ao espectador poderao ser, assim, apresentados tan toa

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    13/19

    05 maus habi tos que preva lecern nos nossos tea tros ensinam-nos que urna das razoes par que 0 ator reinante, a "estrela", 50-bressai, eo fa to de se fazer servir por todos os demais arores: ao dara sua personagem urna feicao tern vel au sabia. compele os par-ceiros a darem uma feicao receosa au atenta a s personagens quefiguram. Para que todos possam gozar desta vantagem, e parabeneficiar a fabula. os atores deviarn trocar os papeis entre si nosensaios, de modo que todas as personagens tivessern possibilidadede receber urnas das outras tudo aquilo de que necessitarn reci-procarnente. Convern. igualmente. que os atores vej am suas per-

    12 3

    S5 sirn para nao definir demasiado eedo - isto e , antes de ter regis-t rade a totalidade das suas afirmacoes e, em especial , as das outraspersonagens - a sua personagem. a qual muito haveria depois aacrescentar, decerto: deve assumi-Ia, sobre tudo, para incluir na.estruturacao da sua personagem a al ternativa "riao .... antes pelocontrario ... ', a lternat iva indispensave l, caso se pretenda que 0publico. que representa a sociedade, veja 0 decurso dos aconte-cimentos sob urn prisma em que estes Ihe surjam como susceptiveisde serem influenciados. 0 ator, em Vel. de lancar mao apenas aoque com ele se harmoniza, de "tudo 0 que e pura e simplesrnenrehumane", deve sobretudo recorrer ao que Ihe nao e harmcnico, aoespecial. Junto com 0 texto. iera de decorar suas primeiras reacoes,rese rvas, c riticas e perplexidades, para gue e lns nao "cnharn a se r,porventura. banidas "par absorr;ao" da configura r;ao defini ti.s doseu papel e sejarn, pelo contrario. conservadas. perman~cendom;r-ceptiveis. Tanto ~~s como os elemeI11Qs..cinti:Qs._de.~ma~dP_m; a.ate ..~iil,eI{r-fJ()hlco..em.lnzar.de, arre ba f a -Ia.

    ~er1jub:05 critic os e.sem urn objetivo bern determinado, e im ..R9s.si~~Eazer urna reproducao. Scm conhecimentos, nao e possivel' .mpstrarcoisa algurna; < ; r l l :: : 1 Q . .Qi~rnir a que e que vale a ~ena~ l i o ~ ~ ~ i > ? : ator que nao desej e assemelhar-ss a urn papagaio ou a urn.~~a5!o 'iem de adquirir as conhecirnentos sobre convivio humaneqhi 'sao.patr imonio da sua epoca, tern de adquiri-Ios par ticipandorla luta d e classes. Tal coisa parecera uma degradacao a muitos, a.todos os que poem a arte nos pincaros (56 depois de acertadas ascontas; claro). Mas e numa luta travada na Terra, e nao nas nu-,yon"que se pod era. decidir tudoo que e de fato importanre para

    . -e - ~I"O humane: urna luta travada no "exterior" I e nao nas C ; ;! ' .C. : .~ - A ninguem e possivel colocar-se Dum plano superior ao.. aas.dasses que lutam, pais a ninguern e possivel colocar-se numplano Superior ao dos hornens . A sociedade nao tera urn porta-vozcomurn enquanto estiver dlvidida ern classes que Iutam. Niio terpartido; em arte, significa apenas pertencer aopartido dominance.

    .J;

    5 6 J . . i I ; i 5 8

    A escolha de uma perspectiva e , assim, outro aspecto esserrcialda arte de representar, escolha que tera de ser efetuada fora 00teatro. Tal como it t ransformacao da Natureza, a transforrnacaoda sociedade e um ate de libertacao: cabe ao teatro de uma epocacientifica transmitir 0 jubilo dessa libertacao.

    A aprendizagem de cada ator deve-se processa r em conjuntocom ados outros atores, e. da mesma forma. a esrruturacao decada personagern tern de ser conjugada com a das restantes. E quea unidade social minima naoe 0 ho rn ern , e sim dois hornens. Tam-bern na vida real nos formamos uns ao s ~uIrOS.

    5 7 59

    Prossigamos analisando, por exernplo, como e que 0 ator tedde ler seu papel em funcao dessa perspectiva, E i rnportante quenao 0 "compreenda" demasiado rapidarnente. E, mesmo que des-cubra, logo a prirneira vista, 0 tom mais natural para 0 seu texto, amaneira mais c6moda de dize-Io, nao devera nunca pensar que asefirmacoes que deve proferir sao as mais najurais: devera, simhesitar.,e recorrer a s suas opinioes proprias de ordem geral, deveni:ier'em conta todas as outras afirma~oes possiveis, em suma . . a . s . : . . .sumir a atitude de quem se admira. Deve assurnir uma atitude as-122

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    14/19

    sonagens se rern imitadas por outrern, ou que as ve jam com outrasconfiguracoes. Uma per sonage rn desernpenhada pa r uma pessoadosexo oposto revelara 0 seu proprio sexo muito mais incisivamen-te; se for represerr tada por urn atcr cornice, ganhara novos aspec-tos , quer- tragicos. quer cfimicos. Aoelaborar conjuntarnente com asua as outras personagens, OU. pelo menos . ao subs ti tu ir os seus in-terpretes, 0 ator consol ida, sobretudo, a decis iva perspectiva sociala que obedece 0 seu desernpenho. Assim, o senhor se ra sornentesenhor na medida em que 0 criado perrnitir , etc.

    a titude izualmente critic a que ac nnpanha as exter iorizacoes dasper sonag~ns que com ele contra - ena rn e, ainda, as de todas asdernais.

    63

    60

    Para melhor conceber 0 corr.eudo do gesto, percor rarnos ascenas iniciais de uma peca moderna, de miuha autor ia . A Vida deGalileu Galilei 1. .E ja que 0 nosso proposito e verificar tambern como as dife -rentes formas de exter iorizacao se esclarecern reciprocamente, par-tames do principio de que nao se tra ta de urn prirneiro conta to coma peca, Esta principia com as ablucoes matinais de urn homemde quarenta e seis anos, que as interrornpe a certa altura para vas-culhar alguns Iivros e dar ao jovern Andrea Sarti uma licao sobreo novo sistema solar. Para desempenhar esta cena, nao e verdadeque 0 atar deve saber que a peca termina com a ceia de urn homemde setenta e oito anos, a quem esse mesmo aluno tera acabado,prec isamente, de deixar para sernpre? Irernos encontra- lo, entao,modificado, modifica~ao~ito mais terrivel do que a que po-deriamos esperar que se pToOuzisse durante este periodo de tempo.E com urna gula irrefreavel que devora a cornida. com 0 pensa-mento alheio a tudo 0 que nao seja comer; desernbaracou-se da suamissao didatica de forma ignominiosa, como se se tratasse de urnfardo, e pensar que e a mesmo que outrora tornava distraido 0leite, ao cafe da manha, avido de ensinar 0 jovern disdpulo! Masestara de fato distraido, ao tamar 0 leite? 0 prazer que sente embeber e em lavar -se nao se identifica ra com 0 que sente devido aosnovos pensarnentos que 0 tomam? E nao esquecamos, ta rnbern,que e le pensa pe la voluptuosidade de pensar! Tal circunstanciaparece merecer apreco au censura? Aconselho a que a apresentecomo algo que merece apreco, urna vez que ao longo de toda a pecanada encontrara que a revele desvantajosa para a sociedade e,sobretudo, porque 0 proprio ato~.- a ssim f) espero - e urn dignof ilho desta e ra c ientifica . Note bern, muita s e terriveis coisas se vanpassar. 0 fato de 0 homem que sa lida agora a nova era se r obriga-

    Quando a personagern surge entre- a s outras per sonagens dapeca, ja a sua est ru tura foi submetida a inumeras in tervencoes : 0ator devera , entao, estuda r todas as conjecruras que 0 texto tiversuscitado. Mas e sobretudo em funcao do t ratarnento que as out raspersonagens lhe dispensarern que fica conhecendo melhor a suapersonagem.

    iI1.

    61

    Chamamos esferado gesro aquela a que pertencern as ati tudesque aspersonagens assumem em relacao umas asoutras . A pos icaodo corpo, a entoacao e a expressao fis ionomica sao determinadaspor urn gesto social; as personagens injur iam-se mutuamente.cumpr imentam-se, instruem-se mutuamente , etc. A s atitudestomadas de homem para homern pertencem, mesmo, as que. na1 aparencia , sao absolutamente privadas, tal como a exter iorizacaot da do: fisica. na doenca. ou a exteriorizacao reiigiosa. A exte

    I riorizacao do "gestc' e . na maior pane das vezes, verdadeiramente.~I cornplexa e contraditor ia , de modo que nao e possivel transmiti-Ia\ numa unica palavra: 0 ator. nesse case. ao efetuar urna represen-t tacao necessariamente relorcada, tera de faze-lo cuidadosamente,lde forma a nada perder e a reforcar, pelo contrario, todo 0 com-.! plexo expressive .\ 62ilt 0 ator apodera-se da sua personagem acornpanhando comIuma atitude cri tica as suas mult ip les exter iorizacoes : e e com uma'\ l24

    I L"/...I tI... Gutilr],1 2 5 0

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    15/19

    do, no fim, a lancar-Ihe urn repto, e de esta repeli 10 corn desdern -se bern que expropriando-o, sirnultaneamente, ' a sea obra - re-lac iona-se d iretarnenre com esses acon tec imento . No que respeita:~ aicao, 0 ator tera que decidir se ela brota de ur ; corac fo repleto,que na o consegue travar a lingua e que diria 0 r n. S ID e ? quem querque fosse, neste caso ate a uma crianca, ou se f est a crianca quetem de leva-to a revelar-Ihe 0 seu saber, mostranuo-sc interessada,como boa conhecedora que e da sua personalidade. E pode tam-bern dar-se 0 caso de se tratar de duas pessoas que nao conseguemconter-se, uma de fazer perguntas, a outra de responder; tal afi-nidade seria. interessante, pois haveria uma altura em que seriarravemente lesada. Decerto 0 ator concordara em Iazer, urn tanto- ecipitadamente, a demonstracao do rnovimento de rotacao daIerra, pois es ta nao lhe rende nada; surge entao 0disdpulo estr an-geiro rico, que paga a peso de Duro 0 tempo do sab io. Ernbora estenao mos tre interesse pelos seus ensinamentos, Galileu nao podedeixar de atende-lo, uma vel que seencontra sem quaisquer recur -50S; assim 0 vemos dividido entre 0 aluno r ico e 0 aluno inteligente,eo vemos escolher entre ambos com urn suspire. Nao pode ensinarmuita coisa ao novo.discipulo, e e , antes, este que lhe ensina: atravesdele toma conhecimento da existencia do telescopic, descoberto naHolanda, Tir a, assim, partido, it sua maneira, da perturbacao quesobreveio ao seu trabalho mat inal . Aparece 0 Curador da Univer-s idade. A peticao de Galileu solicitando aumento de orden ado 10iindeferida, a Universidade nao da de born grado por teorias fisicasa mesma quantia que paga pela teologia; dele. que se move nurnp lano subestimado da invest igacao, apenas sol ic ita a lga que tenhautilidade para 0 dia-a-dia, Pela maneira como apreserna 0 seurratado, notara que Galileu esta habituado a s recusas e a s repreen-sees. 0 Curador aponta- lhe 0 fato de a Republica conceder tiber-dade de investigacao, se bern que rernunerando mal; Galileu res-ponde que pouca coisa pode fazer com esta liberdade, desde quenao disponha do tempo necessario que provem de uma boa re-muneracao, Convern que nao atribua a impaciencia de Gal ileu urncarater demasiado sobranceiro, senao a sua pobreza fica em se-gundo plano. Momentos depois ele esta preso a lucubracoes queprecisam de uma expl icacao. 0 arauto de uma nova era de ver-dades cientificas pondera acerca da possibilidade de burlar a

    Republica, apresentando-lhe 0 telescopic como invencao sua.Verificar a que esta nO\'2: invencao. que ele es tuda visando, uni -ca:nente, a dela se apoder ar, nao significa para Galileu senao amaneira de ganhar alguns ducados. Porern, se passar a segundacen a, vera que, ao vender It Signoria de Veneza esta invencao, comUlll discurso que as ment iras avi ltarn, quase esqueceu 0 dinheiro,pois descobriu que 0 instrumento, alern de ter uma irnpor tanciamilitar, e tarnbern val ioso no campo da astronomia, A mercador iaque Iabricou como que por chantagem, charnemos finalmente ascoisas pelo seu nome, parece-lhe agora excelente para a investi-gacao que t ivera de inter ro -noer para fabr ica-Ia. An aceitar, l ison-jeado, durante a cerim6nia, as honras imerecidas, ao apontar aosabio seu amigo as suas rnaravilhosas descobertas - repare bernem sua at itude teat ra l-, descobr ira nelas uma excitacao muito maisprofunda do que a que foi provocada pela perspectiva de Iucropecuniario. E, mesmo que a sua charlatan ice pouco sign ifique so bes te aspecro, ela revela a que ponto este homem esta decidido a es -cother 0 caminho mais Iacil e a utilizar a sua TaZaO tanto de um aforma inferior como de uma forma superior. Uma prova mais sig-nificat iva esta iminente, e nao e verdade que uma fraqueza conduza outr a Iraqueza? 1~"

    '.

    ~l'I64

    E corn urna interpretacao como a que acabarnos de rea lizar,expondo 0 "gesto" que inforrna a acao, que a ator se apodera dapersonagern. ao apoderar-se da "fabula", S6 a partir desta. doacontecimento global delirnitado, 0 ator consegue chegar, como deur n s alr o. a p er so na ge rn d ef in it iv a, quefunde em. si todos ostraces particulares, Se:-6 ator tudo fez para surpreender-se com ascontradicoes contidas nas diversas atitudes - consciente de quetera tambern de levar 0 publico a surpreender-se com elas-, en-contra na Iabula, encarada como urn tcdo, um a possibilidade deassociacao dos aspectos conr rad itor ios. Na rnedida em que a fabu lae um acontecimento restrlto, dela resulta urn sentido bern deter-minado, Oll seja, a fabula, entre varies interesses possive is , sat is-faz apenas certos e deterrninados interesses.

    12 712 6

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    16/19

    65

    A dererrninacao de qual 0 aspecto a d istanciar e como fa: :e-iodepende ci a interpreiucao dada ao acoruecirnen to global. e e a : queo tearro pode e deve defender vigorosamente as interesses dz suaepoca. 'Cirernos como exemplo de uma interpretacao deste tipouma peca antiga. 0Hamiel. A luz dos tempos que corrern e em queestou escrevendo estas l inhas, tempos sangrentos e tenebrosos. aluz da existencia de classes dominantes criminosas e de urna des-coni lanca general izada na razao. da qual con tinuamente seabusa ,creio poder ler esia Iabula da seguirue forma: esta-se em tempo de

    Tude depende da . 'Iabula", que eo ceme da obra teatral. Sa o'os acontecimentos que ocorrem entre os homens que cons rituempara 0 hornem materia de discussao e de critica, e que podern ser-por ele modificados. Mas 0 hornem part icu larizado que 0 atordesernpenha ajusta-se, ao fim, a mais do que apenas aquila queacontece: e , see preciso ajusta-lo apenas ao que acontece, e porquea ocorrencia e tanto mais sensacional quanta se realiza num ho-mem particularizado. A tarefa fundamental do teatro reside na"fibu la", cornposicao global de todos os acontecimentos-gesro , in-cluindo juizos e impulso s . E tudo isto que, de ora avanre. devenstituir 0material recreative apresentado ao publico.

    da Iabula, dando-Ihes uma e st ru tu ra p ro pr ia . a d urna pequenapeca dentro da peca. Para atingirmos este obje .ivo. .1 rnelhormane ira e adotarmos titulos, como os que encom rarnos no itemprecedents. Os titulos devem center Ilechas certe ras. dentro deUIT ,a p e rspectiva social. e explicitar, simultaneamer te o

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    17/19

    guerra. 0 paide Hamlet, rei da Dinamarca, abateu, numa guerra.de .piIhagem, para ele vitoriosa, 0 rei da Noruega . Quando 0 filhodeste, Fortinbras, se anna para uma nova guerra, 0 rei da Di-.namarca e tambem derrubado, e pelo seu proprio irmao. Os ir-m a o s - dos reis assass inados, agora de posse do t rono, fazem que a .guer ra se desv ie noutro sent ido; as t ropas norueguesas obtern per-missao de atravessar 0 territorio dinarnarques para realizarern umajricursao na PolOnia. Mas 0 jovem Hamlet e entao charnado peloespiri to do seu belicoso pai a v ingar crime contra ele perpetrado.kpos' uma certa hesitacao em responder a urn ato sangrento cornoutre a to igualmente sangren to, e estando, mesmo, d isposto a par -

    .~,tit.~para0 exili c, encontra na costa 00 seu pais 0 jovern F ortinbras,, \ !l1~ .cvaia caminho da Polonia com as suas t ropas, Sugest iooado. : ' pt l~ 'esseexernp lo, vol ta a tras e, numa barbara carnificina, l iquids-o:: ttoe 'a mae, e Iiquida-se a si proprio, deixando a Dinarnarca a.merce do noruegues. Esses acontec imentos nos mostrarn 0 jovem

    ._ Hamlet, que, contudo, ja e urn homem feito. a ut ilizar, de forma_ . abso lutamente insuficien te, a nova visao rac ional que adquiri ra na

    .JJiiiverSidade de Wittenberg. Tal visao e para ele urn o bs ta cu lo n asquestoes de carater feudal a s quais regressa. Perante a praxis-irracional, a sua razao e por completo improcedente. Tombatl'aglcamente, sacrificado a contradicao entre uma forma de ra-ciocinio e outra forma de acao. Esta maneira de l er a peca (que ad-'mite mais de uma forma de leitura) poderia, a meu ver, imeressar 0nosso publico.

    70

    rnuito nobre e digno de admi racao, em vista das rnuitas e v .. iadasmodificacoes e geracoes que nela surgem, continuamente."

    A interpretacao da Iabula e a sua transrnissao por inter rnediode efei tos de distanciamento adequados deverao ser a tarefa cap italdo tea tro . Mas na n e 0 ator que precisa fazer tudo, ainda que nadase deva fazer que nao esteja com ele relacionado. A fabula e inter-p re tada, p roduzida e apresentada pelo teat ro como urn rodo, cons.tituido pelos arores, cenografos, maquiladores, encarregados de sguarda-roupas, musicos e coreografos. Todos eles conjugam assuas artes para urn empreendimento comum, sern renunciar, noentanto, a sua autonomia.

    71o gesto geraI da dernonstracao, que sempre acompanha oges-

    to do que esta sendo rnostrado em part icular, e rea lcado par meiode ape l os musicais _idos ao publico nas cancoes, Os atoresjamais dever n fazer uma passagem natural da fala para 0 canto;devern, s im, destaca- Io ni tidamente do restan te, a traves de recur -50S cenicos adequados, como, par exemplo, mudanca de ilumi-nacao au emprego de titu lo s, A rm is ica, por seu tumo, tern deresistir por cornplero a "sintonizacao" que Ihe e geralmente exigidae que a degrada . tomando-a urn automato.:~ubserviente. A musicsnao deve . 'acornpanhar" , a nao ser por corr ientar ios . Nao deve con-tentar-se com "exprimir-se", esvaziando-se, pura e simplesmente,do tom ernocional que the sobrevern durante as acon tec imentos.Eisler, por exemplo, cuidou , de forma exemplar . da associacao dosacontec imentos, compondo uma musica rr iunfan te e arneacadorapara as cenas do Entrudo do Galileu Galilei, para 0 desfile de m a s -caras das corporacoes, musica que revela como a plebe deu a steor ias ast ronomicas do sab io urn novo teor revo luciouario. Iden-ticarnerite , no Ciraulo de Giz Caucasiano, 0modo frio e indiferentecom que 0 can tor canta, ao descrever 0 salvarnento ci a crianca pelacriada, apresentado no palco sob a forma de pantomima, poe a nutodo 0 horror de urna epoca em que a maternidade pode trans for-

    69

    Todos os avances, toda e qualquer emancipacao da natureza.no dominic da producao, que levem a uma transforrnacao dasociedade, todas as tentativas orient adas numa nova direcao, quetem side empreendidas pela humanidade para melhorar a seu des-t ino , conferern-nos urn sent imento de triunfo e de confianca enosproporcionam a frui cao das poss ibilidades de transforrnacao detodas as co isas, quer a l iteratura nos descreva essas ten ta tivas comobern sucedidas, quer como malogradas. E exatamente isto 0 queGalileu exprime quando diz: "Em meu parecer, a Terra e alga13 0 13 1

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    18/19

    iII(II!IIIIIiIiIii~.r,

    111;1r ; .~cem Iraql lC/; t suicid. ,\ 11ll\sil';\ podc. a ss im , r cv cs ri r- v ,k.diversas formas, sem perder a sua independencia . Pode tarnbern

    _ adotar uma atitude, a seu modo, em relacao a05. ternas. Mas sua; unic~.'preocupa~ao pode ser tambern a de tornar variada a diver-sao.

    coreografica sao, j a em si, efe itos de distanc iar. ento , e a invencaopantomimica e urn precioso auxiliar da fibula,

    74

    72 Ha, pois. que inti mar todas as arres afins d

  • 5/9/2018 BRECHT. Pequeno Organon Para o Teatro

    19/19

    1 .,."77

    Ou seja, as reproducoes devern ceder passe ao que esta s'=,n~o. reproduzido, ao convivio dos homens, e 0 prazer da sua. pe~eH;ao. ve ser elevado a o n lv el de urn prazer superior, que deriva G2. err-cunsrancia de as normas que se manifestaram neste convivio hu-

    ' .mano serern tratadas como provisor ias e imperfeitas. Por esta for-' ma super ior de prazer 0 teatro leva 0 seu espectador a urna atirudeIecunda, para alern do simples ato de olhar. No seu te.arro ~ espec-tador podera recrear-se, como sese tratasse de urna dlversao, c~m

    tremendas e infindaveis canseiras que .Ihe hao de dar a SUbS1S.. ': 'tenda e com 0 pavor que Ihe inspira a sua interrninavel transfer-' . . '" [ ,; ' I; ' ii ; . Num teatro deste tipo 0 espectador tern a possibilidade ~e

    ;" ::. a r a si pr6prio da maneira mais simples. pois a forma mars..simples de existencia e a a rt e que no-la proporciona.

    A DIALETICA NO TEATRO

    (1948)

    Os trabalhos que se seguern, e que ilustram 0paragrafo 4SdoPequeno Organon para 0 Teatro, levam-nos a suspeitar de que ..!!des!Wl!.t;:ao "teatlQjJic.Q~. demasiado fOfT!1al.,2ara0 teatro_g_.Q!!f.nos referimos (e que. em certa medida, rem sido, tambem, exe-'cut;do n;P;a tica). 9_.!eatro tpico e , sem dti\'ida, 0 pressupostodeste tipo de r~Eres~.!~cao; tal desig!}_acao.tOdavia. e irwilicien~.Eoi~ [laO sugere .. .2.! ' .~J~. nova produtividade. nem a Pos.&Qjlidad~9!_~llodificaxiio d!U2ciedade ..fontes de onde a representaca~extrair 0 seu pra3::E_principaL Esta c1assificac;ao tern de s.er, per is--so.considerada insatisfatoria, sern que possarnos oferecer outra emsua subsnruicso.

    ESTUDO DA PRIM EIRA CENA DO CORlOLANOD E S HA K ES PE AR E

    B. Como e que principia a pec;a?R. Urna grande rnultidao de pJebeus pegou em arm as para

    derrubar 0 inimigo do povo.. Caius Marcius, urn patric io que seopoe a que 0 preco do trigo seja reduzido. Dizem que a rnise ria daplebe signifies vida regalada para ospatricios.

    B . ?R. Omiti algurna coisa?B. Os meritos de Marcius sao mencionados?R. Mencionados e conr.esrados.P. Quer dizer que os plebeus nao estao completamenteunidos? No e nta nro , e le s frisam bern sua decisao,W . B ern de rn ais, Quando u rn a d ec is ao s frisada a tal ponte, eporque se esta. ou se esreve , antes. irresolute digo melhor. muitoinsegu;o.

    13 5

    ,.