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Brasileiros

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    Brasileiros no Japo: a expectativa temporal na imigrao

    dekassegui

    Katiani Tatie Shishito

    Rosana Baeninger

    Palavras-chave: Migraes Internacionais, Redes Sociais, Expectativa Temporal

    Resumo

    O trabalho analisa as novas tendncias da migrao de brasileiros no Japo,

    focalizando processos recentes de redefinio no tempo de permanncia naquele pas. O

    movimento migratrio, conhecido como movimento dekassegui, consiste no fluxo de

    brasileiros descendentes de japoneses para o Japo e se diferencia pelo carter da legalidade

    na entrada e permanncia dos dekasseguis no pas. Desse modo, o trabalho aborda um aspecto

    desse processo migratrio: a sua expectativa temporal, considerando as formas e influncias

    para a mudana no tempo de permanncia no projeto migratrio de brasileiros naquele pas.

    Passados mais de trinta anos do incio desse fluxo migratrio ainda continuam as dificuldades

    de interao com a sociedade japonesa; nesse contexto, contudo, que os projetos migratrios

    tomam novos rumos: fortalecem os vnculos e formas de relaes entre compatriotas

    brasileiros no Japo e tambm com o seu pas de origem. As dificuldades de interao social

    na sociedade japonesa propiciam que as redes sociais de brasileiros se expandam e se

    fortaleam, influenciando direta ou indiretamente na mudana de expectativa temporal na

    experincia migratria. Para melhor entender tais relaes, consideramos como referencial

    terico a literatura acerca da expectativa temporal (Roberts, 1999), perspectiva que contempla

    as redes sociais, e o conceito de campo social (Bourdieu, 1997) a fim de aprofundar as

    anlises sobre o fluxo de brasileiros no Japo no sculo 21. Conta-se com pesquisa de campo

    no Japo; ateno tambm ser dada s alteraes na lei de imigrao no Japo para o

    entendimento dos atuais processos.

    Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG

    Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010. Mestranda em Demografia- IFCH/NEPO-UNICAMP.

    Departamento de Demografia-IFCH e Ncleo de Estudos de Populao-UNICAMP.

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    Brasileiros no Japo: a expectativa temporal na imigrao

    dekassegui

    Katiani Tatie Shishito

    Rosana Baeninger

    Introduo

    Este trabalho apresenta uma abordagem do fenmeno dekassegui atual, privilegiando

    o enfoque terico sobre as redes sociais e suas possveis influncias na expectativa de durao

    social desse projeto migratrio. O estudo objetiva identificar no fluxo migratrio recente de

    brasileiros para o Japo as alteraes no tempo de permanncia no destino e suas implicaes

    para o retorno migratrio, no envio de remessas e na consolidao de redes migratrias no

    Japo que passaram a sustentar e retroalimentar a emigrao de dekasseguis. Trata-se de

    buscar compreender a emigrao internacional de brasileiros para o Japo resgatando, de um

    lado, as causas presentes na origem do fluxo migratrio; de outro lado, identificar os aspectos

    que transformam a emigrao de temporria para permanente.

    O fenmeno Dekassegui tem sido bastante estudado (Kawamura, 1999; Sasaki, 1998;

    Osawa, 2006). A palavra dekassegui na lngua e cultura japonesas significa o trabalhador que

    sai de sua terra natal para trabalhar, mas pretende voltar sua terra de origem. Galimberti

    (2002) esclarece que no contexto nipobrasileiro entendese por dekasseguis os japoneses radicados no Brasil, ou seus descendentes at a terceira gerao, que viajam ao Japo para

    trabalhar por perodos de tempo variados.

    Esse movimento migratrio do Brasil ao Japo iniciado desde a dcada de 80

    fortalecido a partir de 1991 com a nova lei de imigrao para descendentes. Nesse perodo o

    Japo passava por um forte desenvolvimento econmico em que os cidados japoneses

    rejeitavam os trabalhos pouco qualificados, criando assim a necessidade de um recrutamento

    de mo de obra estrangeira. Ao mesmo tempo o Brasil passava por um perodo de

    instabilidade econmica que impulsionou que os descendentes de japoneses fossem

    legalmente trabalhar no Japo cobrindo a falta dessa mo-de-obra pouco qualificada. (Osawa,

    2006).

    Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG

    Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010. Mestranda em Demografia- IFCH/NEPO-UNICAMP.

    Departamento de Demografia-IFCH e Ncleo de Estudos de Populao-UNICAMP.

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    1. A distncia cultural e social: uma nova leitura para os arranjos migratrios

    Considerando que a maior parte dos brasileiros que emigram para o Japo tem a

    inteno de trabalhar durante um perodo pr-determinado e aps atingir seus objetivos,

    retornar ao Brasil (Beltro, Sugahara, 2006), entendemos que esse contingente migrante em

    geral no apresenta grande interesse ou expectativa de se integrar ou se fixar na sociedade

    japonesa, no sentido de obter ao menos o domnio do idioma japons e facilitar sua

    comunicao para posteriores necessidades. A sociedade japonesa, por sua vez, tambm no

    apresenta polticas significativas que poderiam favorecer esses vnculos.

    Essa dificuldade tambm pode ser verificada atravs dos tipos de contrato de trabalho

    e visto de permanncia entre os brasileiros no Japo. Em relao questo da legalidade do

    processo migratrio, a Lei de Controle da Imigrao promulgada em 1 de Junho de 1990

    passou a permitir a entrada de brasileiros descendentes de japoneses at a terceira gerao e

    seus cnjuges e dependentes com vistos de permanncia de um a trs anos. (Rossini, 2000).

    Essa medida, alm de influenciar no carter temporal da imigrao e no perfil que foi

    passando de individual a coletivo (Hirano, 2008) teve repercusses tambm nas formas de

    contratos de trabalho do imigrante brasileiro.

    A legalidade do processo migratrio dos dekasseguis, todavia no garantiu os direitos

    civis e trabalhistas para os brasileiros dentro da sociedade japonesa, os contratos so feitos

    geralmente por empresas intermedirias que agenciam os trabalhadores brasileiros de forma

    legal ou ilegal, para servios temporrios e sem grande parte dos benefcios que os cidados

    japoneses recebem normalmente. Os servios disponveis so os que no necessitam de mo

    de obra qualificada, sendo muitas vezes perigosos, mas com boa remunerao; no entanto,

    apesar desse diferencial no salrio, cobrado do valor integral mensal do salrio cerca de

    15% a 30%, que vai para a agncia de intermdio (Rossini, 2008). A dificuldade de

    comunicao dos brasileiros por no terem o domnio do idioma japons implica tambm na

    possibilidade de conseguir emprego diretamente com as empresas japonesas, reforando

    assim, a atuao dessas agncias de intermdio que agem muitas vezes de forma ilegal. Essa

    ilegalidade pode manter os brasileiros margem do mercado de trabalho e de seus direitos

    sociais dificultando a integrao na sociedade japonesa.

    A relao distante entre os imigrantes brasileiros e a sociedade japonesa reforada pelo carter meramente temporrio de sua estada no Japo. Mas, alm da temporalidade desse

    processo, tambm consideramos que esse distanciamento esteja ligado s diferenas entre o

    habitus de brasileiros e japoneses na convivncia em um mesmo espao social. O conceito de

    habitus foi desenvolvido por Pierre Bourdieu, socilogo e filsofo francs que a partir da

    dcada de 60 se tornou um grande representante da sociologia contempornea, construiu sua

    teoria a partir de mobilizaes em pesquisa emprica e procurou desenvolver uma teoria que

    fosse capaz de apreender as particularidades de um processo social e histrico, mas que

    mantivesse seu carter de aplicao universal, no sentido de ser adaptvel a distintos

    contextos sociais. Seus esforos legaram sociologia uma renovao: procurou transcender a

    oposio entre objetivismo e subjetivismo com a noo de habitus, enquanto uma noo mediadora que ajuda a romper com a dualidade de senso comum entre indivduo e sociedade

    ao captar a interiorizao da exterioridade e a exteriorizao da interioridade (Wacquant, 2004:36).

    Bourdieu procurou construir uma teoria relacional que fosse capaz de apreender os

    principais dilemas e conflitos sociais de seu tempo. Ao introduzir a noo de habitus, tambm

    as prticas sociais foram consideradas, enquanto relaes dialticas entre a situao e o

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    habitus, esse enquanto um sistema de disposies durveis e transponveis. Dessa forma, as

    histrias individuais e grupais so sedimentadas no corpo; a estrutura social quando tornada

    em estrutura mental constitui competncias prticas adquiridas na e para a ao.

    Portanto uma aptido social pode ser varivel atravs do tempo, do lugar e, sobretudo

    atravs das distribuies de poder; so consideradas competncias durveis, mas no estticas

    ou eternas. (Wacquant, 2004)

    Mas para entender a noo de habitus, necessrio que ele seja tomado em conjunto

    com a noo de espao social, ou seja, no se pode considerar o habitus enquanto uma prtica

    em si, sendo fundamental se perguntar quais as condies histricas que a possibilitaram.

    (Bourdieu, 2007)

    preciso cuidar-se para no transformar em propriedades necessrias e

    intrnsecas de um grupo qualquer [...] as propriedades que lhe cabem em um

    momento dado a partir de sua posio em um espao social determinado e

    em uma dada situao de oferta de bens e prticas possveis (BOURDIEU.

    1997: 18,19)

    A noo de espao pode ser tomada enquanto um conjunto de posies distintas e

    coexistentes, exteriores umas s outras, definidas umas em relao s outras por sua

    exterioridade mtua e por relaes de proximidade, de vizinhana ou de distanciamento2.

    Assim, podemos chegar a um entendimento do que campo social para Bourdieu, que

    considera tanto o habitus - enquanto um princpio de sociao e de individuao - como o

    espao social - enquanto uma estrutura de justaposies que o constitui. (Bourdieu, 1997)

    Considerando os lugares enquanto espaos fsicos e o campo como espao social,

    podemos pensar como o habitus do brasileiro migrante, que tem origem numa estrutura social

    especfica, continuaria a se manifestar atravs do processo migratrio, em um outro lugar ,

    que tambm se constitui em um espao social . O espao social, enquanto um campo de fora

    e de apreenso relacional do mundo social possibilita a reflexo acerca das posies sociais,

    as disposies ou habitus e as escolhas que esses agentes sociais iro fazer ao longo de sua trajetria no projeto da imigrao.

    Wacquant (2004) atentou ao que pode ser designado como inrcia incorporada a

    respeito do habitus, que tende a produzir prticas socialmente moldadas, posteriores as

    estruturas que os geraram. A esse respeito, podemos observar atravs do estudo de campo no

    Japo feito por Kawamura (1999) sobre os dekasseguis, que relata que os brasileiros tendem a

    criar uma vida social em grupos, considerada como uma estratgia de sobrevivncia social e

    cultural a partir de parmetros conhecidos e seguros, e o fazem para enfrentar essa nova

    condio de vida em um pas de padres culturais e sociais extremamente diferentes do Brasil.

    Portanto, consideramos que o habitus do brasileiro imigrante constitudo de prticas

    em um estilo de vida que foi estruturado e estruturante em um campo social distinto, no caso

    dos dekasseguis, esse campo social situado no Brasil e dentro de seu grupo social.

    a partir dessa relao distante marcada por um carter temporrio com a sociedade

    japonesa, que ganha espao e fora uma outra forma de relao social. Essa outra forma

    constituinte das redes sociais. O trabalho de Massey (1990) sobre as redes na organizao

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    social da migrao entre os mexicanos para os Estados Unidos constituiu um legado para o

    uso do conceito das redes sociais nos movimentos migratrios. As redes sociais so

    consideradas laos sociais que ligam os migrantes nas sociedades de origem e destino.

    Migrant networks consist of social ties that link sending communities to

    specific points of destination in receiving societies. These ties bind migrants

    and nonmigrants within a complex web of complementary social roles and

    interpersonal relationships that are maintained by an informal set of mutual

    expectations and prescribe behaviors. (Massey, 1990: 139)

    No entanto, mais do que redes de ligaes, as redes sociais so tambm constitutivas

    de relaes complexas entre migrantes e no migrantes, segundo Massey (1990:140) elas no foram criadas pelo processo migratrio, mas foram adaptadas a ele e ao longo do tempo so

    reforadas pela prpria experincia da migrao [traduo minha]. Os trs tipos de redes de relaes no processo migratrio so os que so formados por ligaes de parentesco, amizade

    ou local de origem. Os significados e funes desses tipos de rede so transformados em um

    conjunto de relaes que possuem suas particularidades definidas no contexto migratrio. As

    redes migratrias so construdas gradualmente e sendo elaboradas ao longo dos anos, suas

    fases vo sendo diferenciadas nesses perodos. Seu processo de maturidade percebido

    atravs da consolidao do tipo de imigrao que vai passando de temporrio a permanente, e

    tambm com o aumento do numero de famlias inteiras residindo no pas de destino. A anlise

    das redes sociais na imigrao dekassegui possibilita definir seu contexto social e as relaes

    entre seus agentes.

    2. A expectativa temporal no entendimento da dinmica do fenmeno migratrio

    Para melhor entender as questes da expectativa temporal sob o enfoque das redes

    sociais consideramos os pressupostos tericos do trabalho de Roberts (1995), que utiliza um

    conceito denominado Socially Expected Durations (SEDs) 3, tal conceito trabalha a idia das expectativas de durao ou ocorrncia no tempo, de diversos fenmenos sociais. A

    expectativa de durao tem um papel importante na coordenao de atividades em uma

    sociedade complexa, tal coordenao requer o conhecimento de quanto tempo se levar para

    fazer algo, mas como esse conhecimento nunca uma certeza ele tende a ser uma estimativa,

    e por isso que chamado de expectativa. Nesse sentido, so percebidos os padres de

    comportamento baseados nas expectativas que tendem a ser mais comuns. Os padres so

    guiados pelo tempo social com um grande senso compartilhado em que as estimativas

    pessoais so apenas parte do todo, cada plano depende de outros e de tempos de outros.

    Strong social networks can produce enforceable trust (...) but enforcement also depends on a shared sense of timing (Roberts, 1995:53)

    Mertons concept of socially expected durations (SEDs) will provide the means to analyze these temporal expectations. SEDs are particularly relevant to understanding immigrant adjustment because immigrant are

    potentially exposed to multiple, and often conflicting, expectations of the

    duration of their migration (Roberts, 1995: 44)

    3 Ver tambm Merton, Robert K. Socially Expected Durations: A Case Study of Concept Formation in

    Sociology, in W.W. Powell and Richard Robins, eds., Conflict and Consensus: A Festschrift for Lewis A. Coser

    (New York: The Free Press, 1984)

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    No contexto migratrio, as SEDs servem tambm como guias que promovem a

    capacidade de indivduos e grupos se ordenarem, para os migrantes, ainda mais conseqente a diferena entre o status de imigrante temporrio ou permanente, o que afeta

    comportamentos e expectativas de outros (Roberts. 1995:55) [traduo minha]

    A experincia migratria segundo Roberts (1995), dificilmente est baseada em uma

    deciso individual, antes reforada e impulsionada pela expectativa de seu grupo,

    geralmente analisado e definido por caractersticas tnicas e de locais de origem. A imigrao,

    portanto, um movimento incerto, que para muitos, como no caso dos dekasseguis tem um

    carter temporal. Roberts considera a expectativa temporal do processo migratrio, um

    importante condicionante do comportamento do imigrante, uma vez que as metas so futuras

    e o seu alcance incerto.

    O processo migratrio dividido em uma primeira viso mais ampla, segundo um

    sistema migratrio e entre as formas: temporrio e permanente e tais formas so derivadas da situao dos pases de origem. A forma de imigrao temporria ocorre quando

    esses pases no asseguram recursos suficientes para a subsistncia, encorajando a sada em

    busca de recursos adicionais, mas com a previso de um retorno em melhores condies. A

    forma permanente quando os recursos no garantem nem a subsistncia parcial e no existem

    possibilidades de investimentos de recursos adicionais nesses locais impossibilitando um

    retorno.

    The various kinds of temporal expectation are interconnected. For instance,

    immigrantsexpectations of whether or not they will take up citizenship or

    eventually return to their place of origin will affect their readiness to enter

    into long-term relationship in their place of destination (Roberts, 1995:44)

    Portanto, a expectativa temporal o que permite a coordenao por parte do imigrante

    e seus familiares a respeito dos comportamentos e decises que iro tomar ao longo do tempo

    da carreira migratria. A imigrao para ser assegurada em seu sentido literal requer algumas

    caractersticas como a naturalizao e o nascimento de um filho no novo pas:

    An immigrants career has, to be sure, some clear stages that include

    naturalization and the birth of children in the new country. Yet many

    immigrants do not pass through these stages and those who do vary widely

    in the length o time it takes (Roberts, 1995:43)

    Os migrantes que viajam com expectativas temporais raramente fazem grandes

    investimentos, como a compra de imveis no pas de destino ou pretendem se naturalizar;

    essas intenes tambm so influenciadas pela expectativa do grupo. Its only within the context of a network of social relationships that individuals calculations become useful

    predictors of the direction and flow of migration (Tilly, 1990:84 apud Roberts, 1995: 46)

    Apesar da nfase no estudo das migraes em grupos, h consideraes de que

    indivduos tambm podem migrar, sem fazer parte de um grupo, e essa possibilidade

    representa um terceiro tipo de imigrao: A Imigrao Individualizada, que ocorre em

    circunstncias em que as condies so heterogneas e os laos comunitrios fracos, mas

    mesmo na imigrao individualizada, as dificuldades encontradas no pas de destino podem

    favorecer a formao de grupos tnicos. Naturally, difficulties with the language of the new country and discrimination may throw immigrants together with others from the same region

    or culture even when they have no prior ties (Roberts, 1995 : 47)

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    O que se observa no contexto da imigrao dekassegui atual uma mudana de

    objetivos principalmente no sentido da imigrao temporria comear a apresentar

    caractersticas e comportamentos de uma imigrao de longo prazo a permanente. (Hirano,

    2008)

    2.1. As especificidades do movimento dekassegui no Sculo 21

    Em nosso estudo, nos questionamos se o movimento que desde seu incio teve um

    carter temporrio, de fato comea a apresentar mudanas na expectativa de durao. Isto

    pode ocorrer no apenas com as mudanas de adiantamento ou retardamento em relao ao

    retorno. O carter temporrio que se tinha no incio do movimento dekassegui passou a ser cada vez menos claro. Isso pde ser verificado atravs do aumento na durao da estadia dos

    dekasseguis no Japo (Sasaki, 1998: 598). Mas alm da temporalidade, o movimento dekassegui comea a apresentar tambm de forma acentuada as caractersticas que desenham

    uma migrao de carter permanente entre os dekasseguis: a maior tendncia naturalizao,

    o crescimento do nmero filhos nascidos no Japo, o interesse pela aquisio de imveis no

    destino, falta de expectativa e insegurana de retorno.

    Outro sintoma foi o aumento de famlias inteiras de dekasseguis no Japo, levando,

    por sua vez, ao aumento gradual de nmero de filhos de dekasseguis nascidos no Japo.

    Segundo O Estado de So Paulo (31.08.97: T-15), o governo japons identificou a forte presena dekassegui no pas, com o nascimento de 4 mil crianas por ano, descendentes de

    brasileiros. (Sasaki, 1998: 598).

    Tais mudanas podem estar sendo estimuladas principalmente pela formao das redes

    sociais, e sua forma particular de insero social da comunidade dekassegui na sociedade

    japonesa, proporcionando ao migrante uma maior segurana e familiarizao no contexto da

    sociedade de destino dentro dos limites de alcance das redes sociais locais.

    Partindo desses pressupostos, sustentamos uma hiptese durante a pesquisa em

    Iniciao Cientfica, que pretendemos aprofundar na continuidade da pesquisa em seus

    alcances e limites, considerando que:

    Quanto maior a dificuldade de interao social da comunidade dekassegui na sociedade japonesa, mais as redes sociais no destino entre os brasileiros se expandem e se

    fortalecem, influenciando direta ou indiretamente na mudana da expectativa temporal na

    experincia migratria. Nesse contexto, origina-se um movimento dialtico produzido pela

    prpria mudana na expectativa temporal, que aliada s dificuldades de interao, fortalece

    as redes sociais.

    Essa hiptese se baseia no fortalecimento de redes sociais enquanto uma forma

    especfica de configurao das relaes entre os imigrantes no destino e com seu pas de

    origem, consideramos tambm a reproduo de um certo habitus que possibilita maior

    reconhecimento e sentimento de pertencimento nas comunidades de brasileiros que se formam

    no Japo. Nossa anlise se concentra nesses laos criados pelas redes sociais, e como estes

    podem influenciar a expectativa temporal da experincia migratria a partir da experincia do

    grupo, e tambm entre as formas: temporria ou permanente de migrao.

    O diferencial das redes sociais existentes entre os brasileiros residentes no Japo, que

    pelo carter de legalidade dessa imigrao, as redes sociais so mais fortes dentro do Japo na

    formao das comunidades brasileiras e redutos de produtos, servios e informaes trazidos

  • 8

    do Brasil, do que na ligao entre os dois pases; diferente do que acontece, por exemplo, no

    caso dos Estados Unidos com uma rede informal entre parentes e amigos para conseguir

    informaes sobre empregos e para a primeira viagem. (Fusco, 2007). Portanto, alm da

    bibliografia sobre redes sociais migratrias, baseada em Massey (1990), consideramos

    tambm os conceitos de Bourdieu (1997) acerca dos efeitos do lugar- os lugares enquanto espaos fsicos e o campo como espao social.

    Os conceitos de Bourdieu possibilitam um melhor entendimento das relaes entre os

    brasileiros dentro do Japo e sua relao com a sociedade receptora ao agregar a noo de

    campo social para o entendimento da temporalidade da imigrao, considerando as

    especificidades desse grupo a partir de seu posicionamento no espao social- o Brasil e o

    Japo, com o fluxo que se faz entre e nesses dois pases. A partir dessas consideraes

    procuramos estudar um certo espao que confere legitimidade aos imigrantes, no entanto no

    deixa de consider-los estranhos, dado que pode-se ocupar fisicamente um habitat sem habit-lo propriamente falando se no se dispem dos meios tacitamente exigidos, a comear

    por um certo hbito (Bourdieu, 1997:165) a partir dessa reflexo, encontramos uma questo importante a ser considerada, que se trata da luta pela apropriao do espao, considerando que:

    Sob a pena de se sentirem deslocados, os que penetram em um espao devem cumprir as condies que ele exige tacitamente de seus ocupantes.

    Pode ser a posse de um certo capital cultural, cuja ausncia pode impedir a

    apropriao real dos bens ditos pblicos ou a prpria inteno de se

    apropriar deles (...) isso vale tambm para os servios que so tidos

    espontaneamente como os mais universalmente necessrios , como os das

    instituies mdicas ou jurdicas. (Bourdieu, 1997:165)

    necessrio que se considere tambm as relaes com e no pas de origem, ou seja,

    como as condies do campo social no Brasil podem tambm influenciar ou no na

    expectativa temporal do projeto migratrio.

    A questo da migrao de retorno uma das faces dos fenmenos migratrios

    internacionais, sendo consideradas em trs tipos distintos: Definitiva, Temporria ou Circular;

    no entanto, no simples o processo dessa classificao para a pesquisa na dinmica

    migratria, considerando a complexidade de seus fluxos.

    A migrao contempornea ocorre segundo a segundo numa dinmica sem

    fronteiras, transpondo obstculos geogrficos, culturais, polticos e

    econmicos, alterando as sociedades envolvidas e tornando-se um fenmeno

    social indubitavelmente complexo. A categorizao dos fluxos migratrios

    como sendo temporria, permanente, circular e de retorno, necessita de uma

    cuidadosa anlise dos protagonistas das histrias, tanto daqueles que a

    fazem, quanto daqueles que participam ativamente. (Hirano, 2008: 81)

    No contexto da imigrao dekassegui o trabalho de Hirano (2008) esclareceu algumas

    particularidades do processo migratrio entre Brasil e Japo que influenciam nesse aspecto de

    retorno da imigrao. A legalidade do fluxo dekassegui um dos principais fatores na grande

    quantidade de imigrantes que retornam vrias vezes ao Brasil ao longo de sua trajetria como

    migrante. Dada estas singularidades com relao natureza de entrada e permanncia em ambos os pases, questiona-se se a condio de legalidade do migrante influencia, estimula ou

    determina o seu tempo de permanncia, levando-o a uma migrao temporria, circular ou

    definitiva. (Hirano, 2008: 83).

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    Essa possibilidade de livre circulao entre os dois pases, assegurada legalmente e institucionalizada pode ser um dos fatores fortes de influncia na expectativa temporal da

    imigrao dekassegui. Uma vez que os vistos de entrada so legalizados e com condies de

    renovaes para reentrada a cada vez que o brasileiro deixa o Japo, a segurana em retornar

    ao Brasil de tempos em tempos para frias ou mesmo resolver assuntos pessoais, de negcios

    ou famlia se torna facilitada. (Hirano, 2008)

    Alm de possvel fator de influncia na expectativa temporal, a migrao de retorno

    pode tambm fortalecer os laos constitutivos das redes sociais, atualizando o processo

    migratrio e as prticas sociais entre seus agentes.

    3. Entrevistas com brasileiros no Japo em 2009

    O trabalho de campo realizado em 2009 contou com a colaborao de instituies

    brasileiras e japonesas situadas no Japo. Dessa forma o levantamento de campo se limitou a

    uma anlise preliminar de forma qualitativa. A metodologia adotada para a realizao da

    pesquisa foi a aplicao de questionrios, contendo perguntas abertas e fechadas, acerca do

    processo migratrio individual e familiar dos brasileiros residentes no Japo. O questionrio

    foi construdo contemplando tpicos referentes principalmente s redes sociais, permanncia

    no Japo e expectativa temporal.

    A execuo de tal trabalho teve grande importncia, pois o levantamento de campo foi

    realizado com a aplicao de questionrios a brasileiros residentes atualmente no Japo. A

    possibilidade de aplicao desses questionrios ocorreu atravs de contatos e vnculos no

    Japo: A Associao Brasileira de Okazaki (ABO) vinculada prefeitura de Okazaki e o

    Consulado Geral do Brasil em Nagoya (Japo-Aichi) apoiaram a iniciativa da pesquisa e

    fizemos um treinamento com o secretrio da ABO para treinar um grupo para serem os

    entrevistadores.

    Esse questionrio formado por onze mdulos:

    I-Identificao, II- Caractersticas dos residentes no domiclio, III-Histrico

    migratrio individual, IV-Redes Sociais, V- Expectativas temporais, VI- Remessas VII-

    Permanncia no Japo, VIII- Educao, IX- Lazer, X-Fundo de Penso, XI-Questes abertas.

    O local de aplicao dos questionrios foi limitado ao plo da indstria

    automobilstica, que compreende a regio central da ilha principal que forma o Japo.

    Escolhemos as quatro cidades que possuem o maior nmero de imigrantes brasileiros nessa

    regio para que fossem os locais de entrevistas, as cidades so: Hamamatsu, na provncia de

    Shizuoka, e as cidades de Okazaki, Toyota e Nagoya, todas em Aichi, a provncia de maior

    desenvolvimento industrial do Japo (Sasaki 2006).

    O processo do levantamento de campo se iniciou desde a construo do questionrio

    com base nas principais questes que levantamos a partir de uma bibliografia especializada no

    movimento dekassegui, bem como dos referenciais tericos adotados para a realizao da

    pesquisa. Teve sua fase de contatos com as instituies e pessoas envolvidas na aplicao dos

    questionrios, com o cuidado de um treinamento e construo de um manual do entrevistador para que a pesquisa pudesse manter seu carter cientfico e de cuidado com a qualidade dos dados a serem coletados. Na fase final da realizao da pesquisa em iniciao

  • 10

    cientfica, fizemos uma pequena amostra de 20 entrevistas qualitativas de Outubro

    Novembro de 2009, com brasileiros residentes no Japo atravs desse intermdio, procurando

    compreender as questes que pudessem influenciar na expectativa temporal dessa imigrao.

    Para o presente trabalho, apresentaremos algumas tabelas resumo que representam os

    principais itens do questionrio em relao s Redes Sociais, Expectativas Temporais e

    Permanncia no Japo.

    As tabelas 1 e 2 que se referem s informaes sobre os membros residentes do

    domiclio, nos mostra que a relao do domiclio se d, sobretudo em famlia, em que

    aparentemente a existncia de famlias nucleares se mostra mais recorrente (tabela3). Em

    relao s ocupaes exercidas no Brasil e posteriormente no Japo, podemos observar que a

    grande maioria tinha ocupaes diversificadas no Brasil, mas chegando ao Japo, se ocupam

    principalmente no trabalho em fbricas como operrios. Uma informao que nos chamou a

    ateno foi o grande nmero de brasileiros nascidos no Japo

    Tabela 1 n

    Relao com o chefe do domiclio

    chefe 20

    cnjuge 11

    filho(a) 17

    pai/me 0

    irmo/irm 0

    neto(a) 0

    outro parente 0

    no parente 0

    total 48

    Fonte: Pesquisa NEPO - CNPq/PIBIC, 2009

  • 11

    Tabela 2

    Ocupaes no Brasil e no Japo

    Ocupao no Brasil Ocupao no Japo n

    Nasceu no Japo Estudante 10

    Estudante Operrio 6

    Comerciante Operrio 6

    Estudante Estudante 3

    Secretria Operrio 3

    Nasceu no Japo Abaixo idade escolar 2

    Contbil Operrio 2

    Financeiro Operrio 2

    Professora Operrio 2

    Grfico Operrio 1

    Aux.Enfermagem Operrio 1

    Telefonista Operrio 1

    Mecnico Operrio 1

    Recepcionista Operrio 1

    Estagirio Operrio 1

    Funileiro Operrio 1

    Bancria Financeiro 1

    Engenheiro Consulto Jurdico 1

    Secretria Autnoma 1

    Contbil Tradutor 1

    Estudante Caminhoneiro 1

    total 48

    Fonte: Pesquisa NEPO - CNPq/PIBIC, 2009

    Como vimos atravs do nosso enfoque terico, a caracterstica de nupcialidade e

    nascimento de filhos no local de destino da imigrao, considerada por Roberts (1995) um

    dos fortes fatores que alteram na expectativa temporal, podendo essa imigrao passar a ter

    um carter de permanncia.

    Tambm atravs da tabela 2, constatamos o carter da imigrao em relao

    tendncia a ser inicialmente uma imigrao temporria com as ocupaes no Brasil e no

    Japo, em que a maioria dos entrevistados que tm ocupaes diversas no Brasil, ao chegarem

    ao Japo passam a ser operrios de mo de outra no qualificada, que se submetem a esse tipo

    de trabalho, pois pretendem juntar dinheiro e voltar ao Brasil.

    Em relao s redes sociais migratrias, a tabela 3 mostra o grande uso das empresas e

    agencias de viagem para as questes sobre: como conseguiu o primeiro emprego, recursos

    para a primeira viagem e hospedagem; mas nos itens sobre a questo a quem recorre nos

    momentos de dificuldade, e migrou para viver com quem, os familiares e amigos foram

    predominantes. Entendemos no entanto, que essas redes se constituem sobretudo, nas relaes

    sociais entre amigos e familiares, como observamos atravs da tabela 3 principalmente, em

    que os migrantes ou viajaram para viver com amigos e familiares e tambm recorrem a estes

    em momentos de dificuldade

  • 12

    A expectativa temporal, analisada na tabela 4 mostrou que parece ser realmente muito

    difcil que o plano inicial do projeto migratrio seja realizado em relao temporalidade,

    entre os 20 entrevistados, apenas um relatou que seu plano foi realizado, sendo que todos os

    outros 19 no concretizou a expectativa temporal e estenderam seu projeto migratrio

    Tabela 4

    Expectativas Temporais

    Antes de chegar ao Japo qual era sua expectativa de

    permanncia?

    Menos de 1 ano 0

    1 ano 2

    At 2 anos 9

    De 2 a 4 anos 5

    4 anos ou mais 4

    total 20

    Fonte: Pesquisa NEPO CNPq/PIBIC, 2009

    Essa expectativa se concretizou?

    No Por que? Sim Por que?

    0 No consegui emprego 0 No consegui emprego

    1 No consegui juntar o dinheiro/me acostumei vida.. 0 No consegui juntar o dinheiro/me acostumei vida..

    2 No consegui juntar o dinheiro pretendido 0 No consegui juntar o dinheiro pretendido

    14 Me acostumei vida no Japo 0 Me acostumei vida no Japo

    1 Me acostumei vida/constitu famlia no Japo 0 Me acostumei vida/constitu famlia no Japo

    1 Constitu famlia no Japo 0 Constitu famlia no Japo

    0 Outro motivo 1 Outro motivo

    19 total 1 total

    Fonte: Pesquisa NEPO - CNPq/PIBIC, 2009

    As questes acerca da permanncia no Japo (tabela 5) nos mostram a modalidade do

    visto e o tipo de moradia dos entrevistados, a questo seguinte relacionada estabilidade no

    trabalho e como essa estabilidade poderia ser afetada com a perda do emprego. O tipo de visto

    de permanncia mostra a possibilidade de estadia no Japo em um perodo mais longo, sendo

    que entre os entrevistados, sete possuem vistos de trs anos que podem ser renovados antes do

    seu vencimento, 15 j no precisam renovar o visto para permanecer no Japo no perodo que

    pretendem, pois tm o visto permanente, e um deles naturalizado japons.

    Tabela 3

    Redes sociais

    Redes Sociais Migratrias

    Ningm/ pai, me outro filho pai me irmo/ amigo Conjuge Empresa Agncia Total

    Sozinho irmos parente irm de viagem

    Com quem viajou?

    10 1 2 1 0 0 0 1 3 0 0 20

    Migrou para viver com quem?

    5 1 1 0 1 2 2 1 6 0 0 20

    Quem forneceu recursos para a viagem? 2 0 0 0 0 1 0 0 1 7 7 20

    Quem ajudou com o primeiro emprego? 0 0 2 0 0 1 0 0 1 7 7 20

    Quem ajudou com a primeira hospedagem? 0 0 2 0 0 1 1 0 2 6 6 20

    A quem recorre nos momentos de dificuldade? 1 0 0 0 0 0 2 4 7 0 0 20

    Fonte: Pesquisa NEPO-CNPq/PIBIC, 2009

  • 13

    O tipo de moradia dos brasileiros entrevistados aparece variando entre alugadas pelo

    Estado e alugada particular, isso demonstra uma maior independncia de moradia em relao

    s empresas e agncias de emprego, ou seja, se o brasileiro migrante perde o emprego no

    Japo, tem ainda uma segurana de ter onde morar at conseguir outro emprego. Isso o que

    podemos observar atravs da terceira pergunta da tabela 4, dos 20 entrevistados, apenas

    quatro voltariam imediatamente ao Brasil se perdessem o emprego, os outros ainda tentariam

    arrumar outro trabalho para continuar a sobreviver no Japo

    Tabela 5 Permanncia no Japo

    Qual sua modalidade de visto de permanncia? Qual o tipo da sua moradia atualmente?

    Turista

    0 Alojamento da empreiteira 0

    Um ano

    0 Moradia alugada pela empreiteira 2

    Trs anos

    7 Moradia alugada pelo Estado 8

    Permanente

    12 Moradia alugada pela Prefeitura 1

    Naturalizado Japons

    1 Moradia alugada particular 8

    Moradia prpria

    1

    Total 20 Total 20

    Se voc perder o emprego voc...

    Volta imediatamente ao Brasil

    4

    Tenta procurar algum trabalho antes de pensar em voltar ao Brasil

    15

    No volta mais ao Brasil

    1

    Procura ajuda na prefeitura ou consulado

    0

    Procura ajuda com parentes ou amigos

    0

    Total 20

    Fonte: Pesquisa NEPO - CNPq/PIBIC, 2009

    De acordo com a permanncia no Japo que mostra que a maioria tem de forma

    legalizada vistos de permanncia de trs anos e vistos permanente, a expectativa temporal

    acaba por sofrer mudanas ao longo do tempo, chegando a um ponto de indefinio. Os

    brasileiros que foram perguntados se pretendiam fixar moradia no Japo relataram que

    preferem morar no Brasil, mas no h mais um prazo para que isso acontea como era

    colocado um prazo no incio do projeto migratrio.

    Grande parte dos entrevistados relatou que ficou mais tempo do que pretendia, porque

    se acostumou vida no Japo, o que refora a nossa hiptese de que o uso das redes sociais

    pode criar um ambiente de reconhecimento e adaptao mais fcil aos brasileiros que

    migraram para um pas muito diferente tanto social como cultural e economicamente.

    Consideraes Finais

    Este trabalho apresentou uma breve anlise do movimento dekassegui atual, sob

    o enfoque terico das redes sociais e sua provvel influncia na expectativa temporal

    desse projeto migratrio. Por se tratar de uma primeira explorao, considera-se que

    esse trabalho forneceu elementos para serem aprofundados em relao ao movimento

    dekassegui em suas caractersticas atuais.

  • 14

    Desse modo, o estudo considera as alteraes na expectativa temporal, suas

    formas e influncias determinantes para a mudana no tempo de permanncia no

    projeto migratrio de brasileiros naquele pas.

    Passados mais de trinta anos do incio desse fluxo migratrio ainda continuam

    as dificuldades de interao com a sociedade japonesa; nesse contexto, contudo, que

    os projetos migratrios tomam novos rumos: fortalecem os vnculos e formas de

    relaes entre compatriotas brasileiros no Japo e tambm com o seu pas de origem.

    As dificuldades de interao social na sociedade japonesa propiciam que as

    redes sociais de brasileiros se expandam e se fortaleam, influenciando direta ou

    indiretamente na mudana de expectativa temporal na experincia migratria. Para

    melhor entender tais relaes, consideramos como referencial terico a literatura

    acerca da expectativa temporal (Roberts, 1999), perspectiva que contempla as redes

    sociais, e o conceito de campo social (Bourdieu, 1997) a fim de aprofundar as anlises

    sobre o fluxo de brasileiros no Japo no sculo 21

    As entrevistas realizadas permitiram compreender o referencial terico vis--vis

    as evidncias empricas, indicando ser o caminho promissor para a compreenso desse

    fenmeno migratrio e como o tempo de permanncia no destino pode ser alterada de

    acordo com as relaes sociais estabelecidas na sociedade receptora e seus vnculos

    com a origem.

    Referncias Bibliogrficas

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