arte brasileiros

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7/21/2019 Arte brasileiros http://slidepdf.com/reader/full/arte-brasileiros 1/68 ESPECIAL PRIMITIVO ERUDITO POPULAR Agenda Exposições Keith Haring Marcelo Solá Rebecca Horn Max Ernst Pavilhão das Culturas Brasileiras arteBA Raul Córdula Poteiro Brennand Museu Afro Brasil Emanuel Araújo Galeria Brasiliana Mercado Buenos Aires Berlim Miami julho agosto 2010 número 5 www.brasileiros.com.br

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Page 1: Arte brasileiros

7/21/2019 Arte brasileiros

http://slidepdf.com/reader/full/arte-brasileiros 1/68

ESPECIAL PRIMITIVO ERUDITO POPULAR

Agenda Exposições Keith Haring Marcelo Solá Rebecca Horn Max Ernst Pavilhão das Culturas Brasileiras arteBA Raul Córdula

Poteiro Brennand Museu Afro Brasil Emanuel Araújo Galeria Brasiliana Mercado Buenos Aires Berlim Miami julho agosto 2010

número 5 www.brasileiros.com.br

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Casa Cor 2010

Casa do Mirante - Débora Aguiar  Armário de correr Italiano | Satyrium

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      c      o       l      a       b      o

      r      a       d

      o      r      e

      s

ARTE!Brasileiros número 5 julho agosto 2010 www.brasileiros.com.br

A Revista Mensal de Reportagens

Diretor Responsável Hélio Campos Mello  [email protected]

Diretora de Planejamento  Patrícia Rousseaux  [email protected]

Diretor Comercial Ricardo Battistini  [email protected]

 Assistente Comercial  Gislaine de Oliveira  [email protected]

 Atendimento ao Público  Thaís Giglio  [email protected] 

Gerente Administrativa  Eliane Massae Yamaguishi  [email protected]

 Assistente de Marketing  Isabel Torello  [email protected] 

Copeira  Irani Estrela Dantas

Diretor Responsável  Hélio Campos Mello

Diretora Editorial  Patrícia Rousseaux

Editora  Leonor Amarante

Coordenadora Editorial  Cândida Del Tedesco

Repórteres  Ana Cândida Vespucci

  Marcelo Pinheiro

Revisora  Lilian Brazão

Produtora Fotográfica  Magali Giglio

Fotógrafos  Luiza Sigulem 

Marcos “Coil” Lopes

Chefe de Arte  Alan Dainovskas

Designer  Davi Caseira

 

Rua Mourato Coelho, 798 – 8 º andar - Pinheiros05417-001 – São Paulo – SP

Tel.: (55 11) 3817 [email protected]

[email protected]

CONSULTORIA EMPRESARIALCEA, Consultoria Empresarial & Associados

Luiz Antonio Castro

CONSULTORIA CONTÁBIL, FISCAL E TRABALHISTAOliveira & Nogueira Auditoria e Consultoria, Soluções

Contábeis S/C Ltda.

IMPRESSÃOIBEP Gráfica

Avenida Alexandre Mackenzie, 61905322-000 – Jaguaré – SP

DISTRIBUIÇÃOFernando Chinaglia Distribuidora S.A.

 Rua Teodoro da Silva, 90720560-900 – Vila Isabel – RJ

Código ISSN 1981-559XTiragem: 23.000 exemplares

A revista ARTE!Brasileiros é uma publicação da Brasileiros Editora Ltda.

[email protected] 

 ARTE!

CAPA: OBRA DE ANTONIO POTEIRO,  A CEIA NO INFERNO,120 X 120 CM, 1989. FOTO: RICARDO RAFAEL

A Revista Bimestral de Arte

BRASILEIROS EDITORA LTDA.

Adélia Borges tem se destacado como

crítica de arte, design e como curadora

de exposições importantes. Já dirigiu o

Museu da Casa Brasileira e atualmente

está à frente do Pavilhão das Culturas

Brasileiras.

Ana Maria Ciccacio é jornalista formada

pela ECA-USP. Trabalhou em veículos como

TV Cultura, jornais O Estado de S. Paulo e

 Jornal da Tarde, e revistas. Especialista em

 jornalismo cultural responde pela Assesso-

ria de Imprensa da Associação Viva.

Raul Córdula é artista plástico e curador independente,professor de história da arte. Comissário no Brasil do

Conselho Mundial de Artesanato, ONG filiada à UNESCO,

implantou o Salão Mambahia de Artes Plásticas (1994)

e o Museu de Arte Assis Chateaubriand, em Campina

Grande - PB (1967). Juri de Salões de Artes, coordenou

o intercâmbio cultural Lé Hors Là, entre França e Brasil.

Mario Gioia estreia na ARTE!Brasileiros

com uma curiosa matéria sobre o galerista

Roberto Rugiero, um especialista em arte

popular com sotaque erudito. Repórter daFolha de S.Paulo, Gioia tem se destacado

em inúmeras matérias sobre cultura.

Jaimes Prades faz parte de um seleto

grupo de grafiteiros que ajuda a adensar

a história da arte brasileira. Integrante

do grupo Tupinãodá, que atuou inten-

samente na década de 80, Prades é o

artista escolhido para comentar a arte

de Keith Haring, o mais conhecido gra-

fiteiro do circuito internacional.

Matilde Marin é argentina, artista plástica,

fotógrafa, historiadora e professora de arte.

Para esta quinta edição faz um balanço

das melhores exposições em cartaz em

Buenos Aires, que ninguém em visita a

capital deve perder.

    F    O    T    O

     S    Y    L    V    I    A

    M    A    S    I    N    I

    F    O    T    O     R    E    N    A    T    O

    L    E    A    R    Y

    F    O    T    O     P    A    T    R    I    C    I    A

    S    T    A    V    I    S

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ALEJANDRA von HARTZ GALLERY  miami

2010

may – june

the constructive élan

selected works by:

fabián burgos / marta chilindrón / eduardo costa/danilo dueñas / eugenio espinoza jaime gili /

  silvana lacarra / susana lescano / artur lescher /  adriana minoliti / karina peisajovich / pablo siquier /

horacio zabala

works on paper by:

magdalena atria /inés bancalari / teresa pereda /

ana tiscornia

 july 

closed for vacation

september – october 

matthew deleget / david e. peterson

november – december marta chilindrón / lucio dorr / henrique oliveira

2630 NW 2ND. AVENUE | MIAMI, FL 33127 | WYNWOOD ART DISTRICT | USA | +1 305 438 0220

WWW.ALEJANDRAVONHARTZ.NET | [email protected]

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PRIMITIVO OU ERUDITO?NÃO DÁ PARA RADICALIZAR

    F    O    T    O     L    U    I    Z    A

    S    I    G    U    L    E    M

    I    N

    T    E    R    V    E    N    Ç     Ã    O     N    A

    F    O    T    O

    D    E

    C    E    C    Í    L    I    A

    A    V    E    N    D    A    Ñ    O

POR LEONOR AMARANTE, EDITORA

Arte popular ou arte erudita? Quando se fala de conceitos, por

qualquer ângulo que se analise a questão, não dá para radicalizar.

As duas vertentes, aparentemente distintas, se afastam e se cruzam

constantemente. Nesta quinta edição, a ARTE!Brasileiros levanta

questões que correm por fora do mercado internacional da arte

“erudita”. O assunto da inspiração, recriação ou simples apropriaçãoda arte primitiva é retomada com a exposição do MoMA, Primitivismo

no Século 20. Picasso, Henry Moore, Paul Klee se deslumbraram com

a arte da África, Oceania, Ásia e Américas. Nessa coletiva suas obras

foram colocadas lado a lado, mostrando o quanto a arte primitiva

serviu de estímulo para que eles ousassem.

Os museus brasileiros também costuram suas coleções com a linha

tênue entre o primitivo e o erudito, como confirmam artigos sobre o

Museu Afro Brasil, o Pavilhão das Culturas Brasileiras, ambos em São

Paulo, ou em espaços culturais particulares, como o Inhotim, em Minas

Gerais, e a Oficina Brennand, em Pernambuco. Convidamos críticos

de arte, galeristas, artistas, diretores de museus, pesquisadores para

refletirem sobre o assunto. O resultado é tão caleidoscópico quanto as

questões que o tema suscita. Como comenta em artigo, Adélia Borges,

diretora do Pavilhão das Culturas Brasileiras: “Construir diálogos entre

as culturas letradas e iletradas, ou cultas e populares, é o objetivo do

museu evidenciar como ambas se alimentam”.

Não foi por acaso que um mês antes da morte de Antonio Poteiro, já

o havíamos elegido capa desta edição. Afinal, ele foi um dos artistas

que melhor materializou a alegria visual da pintura primitiva. Seus

personagens e temas são um tributo à mistura genial que compõe a

alma da cultura brasileira.

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São Paulo - SP

Até 17 de julho

Segunda a sexta, das 10 às 18h30

Sábados, das 10 às 16 horas

Galeria Jacques Ardies

Rua Morgado de Mateus, 579,

Vila Mariana

Telefone: (11) 5539-7500

São Paulo - SP

Até 17 de julho

Segunda a sexta, das 10h30 às 19h30

Sábados, das 10h30 às 14h30

Mônica Filgueiras Galeria de Arte

Rua Bela Cintra, 1533, Jardins

Telefone: (11) 3082-5292

Porto Alegre - RS

Até 15 de agosto

Terça a sexta, das 10 às 19 horas

Sábados e domingos das 11 às 19 horas

Santander Cultural-Porto Alegre

Rua Sete de Setembro, 1028, Centro

Telefone: (51) 3287-5500

 a  t   é  

1  7  

 j    u l   

 a  t   é  

1   5   a  g  o 

 a  t   é  

1  7  

 j    u l   

MetamorphosisMostra de 30 colagens inéditas

do artista americano radicado

no Brasil, Gene Johnson, cuja

proposta é mostrar a importância

da reciclagem e como objetos

descartáveis podem perfeitamente

ser reutilizados, até para fazer arte.

Ele empregou vários materiais para

criar, por exemplo, a peça Frida

Censurada, em cartaz na exposição.

Horizonte ExpandidoVários trabalhos realizados entre

1960 a 1970 por artistas que

procuraram refletir sobre a arte e

a vida. Reúne, entre outras, obras

de Joseph Beuyes, Ana Mendieta,

Hélio Oiticica e Denis Oppenheim,

seleção proveniente de vários

acervos internacionais, como a

Fundación Cisneros e a Electronic

Arts Intermix.

Mistura FinaMostra de Art Naïf , expõe 60

trabalhos de artistas de todo o

País, como Maria Guadelupe, de

Minas Gerais; Antonio de Olinda,

de Pernambuco; Edson Lima, da

Bahia; e Rodolpho Tamanini Netto,

de São Paulo. A galeria, fundada em

1935, mantém em acervo pinturas

e esculturas de alguns dos mais

conceituados representantes

de Art Naïf .

    F    O    T    O    S

    D    I    V    U    L    G    A    Ç    Ã    O

AGENDA DESTAQUES

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Curitiba - PA

Até 29 de agosto

Terça a domingo, das 10 às 18 horas

Museu Oscar Niemeyer – Curitiba

Rua Marechal Hermes, 999,

Centro Cívico

Telefone: (41) 3350-4400

São Paulo - SP

Até 10 de outubro

Terça a sexta, das 10 às 21 horas

Sábados, domingos e feriados, das

10 às 18 horas

Centro Universitário Maria Antônia

Rua Maria Antônia, 294, Vila

Buarque, Centro, São Paulo

Telefone: (11) 3255-7182

Piracicaba - SP

De 19 de agosto a 12 de dezembro

Terça a sexta, das 13 às 22 horas,

Sábados e domingos das 9 às 18

horas

SESC Piracicaba

Rua Ipiranga, 155, Centro

Telefone: (19) 3437-9292

 a  t   é  

1   0   o  u  t  

 a  t   é  

2  9   a  g  o 

 a  t   é  

1  2   d   e z 

Marcelo GrassmannSombras e Sortilégios é o nome

da exposição que apresenta mais

de 400 trabalhos do artista, um

dos mais renomados desenhistas e

gravadores brasileiros reconhecido

em todo o mundo. Percorre os 70

anos de sua carreira, com obras

recolhidas em diversas coleções

para mostrar as diferentes fases

de uma arte que teve o mal como

tema recorrente.

Bienal Naïfs do BrasilRealizada pelo SESC Piracicaba,

em sua 10a edição, é considerada

uma importante mostra do gênero.

Originada de exposições anuais,

tem o intuito de valorizar essa

vertente da arte popular brasileira.

Entre os artistas, está Euclides

Coimbra, de Ribeirão Preto,

ganhador do Prêmio Incentivo,

entre um dos mais de 350 inscritos.

Bob WolfensonO fotógrafo está expondo

 Apreensões, trabalhos que se

inspiram no gênero natureza-morta

para apresentar, em imagens digitais

de grandes dimensões, mercadorias

e animais silvestres confiscados e

armazenados. A coletânea será,

posteriormente, registrada em livro

da editora Cosac Naify.

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KEITH HARING É UM FILHO bastardo da moder-

nidade. Ele recuperou o ímpeto criativo, o fazer

intuitivo e espontâneo. Reconquistou o espaço daexpressão artística direta, sem os freios acadêmicos.

Esse guerreiro libertou novamente o talento do fazer

artístico. Desenhava com todo o seu ser, como se ele

por inteiro fosse um instrumento e a tinta brotasse

pelos seus dedos.

Teve uma obra meteórica, pintava sobre qualquer

coisa e sem parar, como se soubesse o pouco tempo

que teria de vida. Faleceu em 1990, aos 31 anos,

deixando uma obra contundente.

Pioneiro do grafite, com a sua força vital e sua gene-

rosidade, ampliou as fronteiras do universo das artes

tomando as ruas com a sua arte limpa e precisa.

Na paternidade do grafite há duas genéticas quase

concomitantes: uma é a do grafite que nasce como

consequência da tradição iniciada pela aventura

modernista. A outra, periférica e militante, mani-

festa e traz para o mundo a cultura e identidade do

movimento Hip Hop. Hoje, no Brasil, assistimos à

evolução e mescla das duas.

Vale a pena destacar rapidamente a ressonância

das obras de Fernand Léger e Jean Dubuffet nouniverso de Haring.

Dois elementos são fundamentais para entender as

conexões entre Haring e Léger: a força gráfica com

predominância do desenho, e uma atitude artística

com uma clara motivação de incluir e abraçar o outro.

Em 1972, Dubuffet realiza a escultura Groupe de

quatre arbres para o Chase Manhattan Bank de

Nova York. Imagino o impacto dessa obra na alma

do jovem Haring, na época com 14 anos.

Dubuffet, com seus desenhos infinitos, cria obras

públicas monumentais, totalmente esculpidas e

cobertas com as suas tramas gráficas.

Haring surfou nas ondas do seu fluxo de consciência,preenchendo harmonicamente todos os espaços.

Dessa forma, ele atravessa a ponte erguida por

Dubuffet por onde transitam o erudito e o popular,

o público e o privado desbravando e consolidando

o novo território da arte urbana.

Vinte anos após a sua morte, seus tags mais conhe-

cidos continuam sendo estampados sobre os mais

variados produtos, atualizando a sua obra sempre

viva e jovem.

Porém, um olhar mais atento é necessário para conhe-

cer a densidade da sua obra mais madura e visceral.

Michael Stewart – USA for Africa de 1985, Safe Sex de

88 e The Last Rainforest de 1989 são alguns exemplos

que nos revelam um artista a procura do entendimento

das forças da existência e seu engajamento contra

os preconceitos raciais e sexuais. Viva Keith Haring!

OBRA VIVA!

POR JAIME PRADES

DAS RUAS PARA AS GALERIAS, KEITH HARINGINFLUENCIOU E SE DEIXOU INFLUENCIAR

SERIGRAFIA DE 1983, DE KEITH HARING

Caixa Cultural São PauloGaleria Vitrine da Paulista - Conjunto NacionalAv. Paulista, 2083 - Cerqueira César, São Paulo, SP Metro ConsolaçãoTelefone: (11) 3321-4400De 31 de julho a 5 de setembro de 2010De terça a sábado, das 9 às 21 horasDomingos e feriados, das 10 às 21 horas

Caixa Cultural Rio de Janeiro - Galeria 3Av. Almirante Barroso, 25, Centro, Rio de Janeiro, RJMetrô Estação CariocaTelefone: (21) 2544-4080De 28 de setembro a 14 de novembro de 2010.De terça a sábado, das 10 às 22 horasDomingos e feriados, das 10 às 21 horas

    F    O    T    O     K    E    I    T    H

    H    A    R    I    N    G

    F    O    U    N    D    A    T    I    O    N

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DESTAQUES MOSTRA

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DESENHO-PINTURA, desenho-instalação, pintura-

literatura são algumas das expressões que Marcelo

Solá lança mão para desenvolver sua obra. Ele

articula e desarticula elementos gráficos e pala-vras ressignificando-os. E nos lembra de que, nos

primórdios, a escrita eram símbolos gráficos, como

até hoje acontece em alguns alfabetos. Sua escrita

é carregada de elementos contemporâneos, como

política, religião, sexualidade e urbanidade.

Solá exibe sua última produção em pinturas, serigra-

fias e desenhos em dois espaços no Rio de Janeiro.

Nascido em Goiânia (1971), utiliza técnicas mis-

tas para produzir suas obras, sem se preocupar

em enquadrá-las. Para ele, aliás, tudo vem junto.

“Quando estou escrevendo, estou desenhando.Quando estou desenhando, estou escrevendo”,

costuma dizer. “Na pré-escola, nós somos estimu-

lados a desenhar para nos expressarmos. Depois,

somos alfabetizados e pedem que nos expressem

dessa forma, mas eu nunca parei de desenhar”,

diz o artista, que já teve sua fase de grafiteiro, na

adolescência, e também já fez oficinas com artistas

SEXUALIDADE, POLÍTICA E RELIGIÃO

SE NOS PRIMÓRDIOS OS SÍMBOLOS GRÁFICOS ERAM A ESCRITA, HOJE ELES FAZEM PARTE DO DIÁLOGO VISUALDA PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA, COMO MOSTRAM AS SERIGRAFIAS, PINTURAS E DESENHOS DE MARCELO SOLÁ

POR PALOMA VARÓN

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DESTAQUES MOSTRA

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como Carlos Fajardo, Nina Moraes e José Espaniol.

Solá esteve na 25a Bienal de São Paulo, em 2002,

quando apresentou uma instalação composta por

escultura, desenhos e um mural. Criou um ambiente

sombrio, todo em preto e branco, no qual, ao lado

do mural composto por um enorme plano preto

recortado por camadas de túneis e palavras enter-

radas, havia uma espécie de avião formado porcarrinhos em que se conduzem caixões nos cemi-

térios. Além disso, já expôs em museus e galerias

de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia, Belo

Horizonte, Recife, Salvador, Nova York, Quebec,

Madri, entre outras.

A pop art, o cinema, os quadrinhos, o rock e a música

eletrônica estão presentes em seus trabalhos e são

suas maiores influências, assim como as cidades

por onde transita. Cita a poeta Ana Cristina Cesar

(1952-1983), que também desenhava, e o artista

Andy Warhol (1928-1987) como referências, mas

não está atrelado a esta ou aquela escola. Segue

seu próprio caminho.

NA PÁGINA AO LADO,LÁPIS E AQUARELA SOBRE

PAPEL, SEM TÍTULO30 X 42 CM. AO LADO,

LÁPIS E AQUARELA SOBREPAPEL, SEM TÍTULO

200 X 170 CM

Casa de Cultura Laura AlvimAv. Vieira Souto, 176 — Ipanema — RJTelefone: (21) 2332-2040Até 1 de agostoTerça a domingo, das 13 às 21 horas

Galeria Arte em DobroRua Dias Ferreira, 417/205 e 206 – Leblon – RJTelefone: (21) 2259-1952Até 7 de agostoSegunda à sexta, das 10 às 18 horasSábados, sob consulta

Paloma Varón é jornalista de Brasília com atuação na área cultural. Foiassessora de curadoria na 10a Bienal Internacional de Curitiba de 2009

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DESDE QUE COMEÇOU a vida artística nos anos1970, suas obras já apresentavam diferenciais,

mesmo para os padrões daqueles tempos de trans-

gressões. São daquela época inusitadas esculturas

que ela elaborou para envolver o próprio corpo,

como se obra e artista não se dissociassem. Pois

a alemã Rebecca Horn, que em 1986 ganhava um

prêmio na Documenta de Kassel, uma das mostras

mais importantes do gênero, está pela primeira

vez apresentando sua obra no Brasil. Trata-se de

uma retrospectiva de 35 anos de carreira em car-

taz no Centro Cultural Banco do Brasil-RJ, em que

figuram alguns dos mais relevantes exemplares de

sua produção.

A mostra chamada Rebelião em Silêncio tem tudo

para surpreender quem nunca entrou em contato

com as criações da artista. Por exemplo: instalada

na rotunda do prédio, a uma altura de mais de

30 m, está O Universo em uma Pérola, uma peça de

dimensões enormes, erigida a partir de diferentes

estruturas. A obra envolve espelhos, funis de ouro

e projetores que lançam para o alto a cor azul emforma de pérola: “É uma obra sobre a energia. Sobre

como algo tão pequeno pode se transformar em um

universo”, ela disse.

Ao todo, são 18 peças que mesclam diversas lin-

guagens, como instalação, escultura, videoarte e

pintura. Além de seis filmes, parte importante de

sua produção artística, basta assistir a O Quarto de

Buster, com Donald Sutherland e Geraldine Chaplin.

O filme evidencia sua ligação com o cinema, já que

ela é fã de Buster Keaton (1985-1966), grande nome

do cinema mudo. Enfim, a exposição em cartaz, além

de mostrar as várias vertentes da arte de Rebecca,

revela sua especial capacidade de inserir objetos

comuns do cotidiano em sua investigação criativa,

ao empregar de penas a facas para criar uma obra.

Nome de prestígio na cena artística contemporânea,ela tem obras em acervos de importantes institui-

ções, como o Museu de Arte Moderna de Nova York.

REBELIÃO EM SILÊNCIO

REBECCA HORN GANHA RETROSPECTIVA COM UM CONJUNTO DE TRABALHOS EM QUE NAVEGA PELA PINTURA,INSTALAÇÃO, VIDEOARTE, ESCULTURA E, EVIDENTEMENTE, PELO CINEMA

POR ANA CÂNDIDA VESPUCCI

Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de JaneiroRua 1o de Março, 66, CentroTelefone: (21) 3808-2020Até 18 de julho de 2010De terça a domingo, das 10 às 21 horas

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DESTAQUES INSTALAÇÃO

    F    O    T    O     A    T    I    L    L    I    O

    M    A    R    A    N    Z    A    N

    O

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A CÚPULA DO CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL EMOLDURA AS PEÇAS DE REBECCA HORN

    F    O    T    O     C    E    S    A    R

    B    A    R    R    E    T    O

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MAX ERNST foi um expoente do Dadaísmo. Sua

tela L’Ange du Foyer (1937), um dragão cuja riqueza

de traços lembra uma meticulosa trama de tecido,é um dos ícones do movimento que ele ajudou a

fundar na Europa. Mas ele também foi um artista

que se interessou por envolver objetos do coti-

diano em suas criações. Seus romances-colagens

enquadram-se nessa categoria. São três, dos quais

um, com cinco volumes e reunindo 184 obras, está

em cartaz no Brasil. A Mostra chegou ao Museu de

Arte de São Paulo, depois de passar por algumas

das mais importantes instituições europeias, como

o Museu d’Orsay, de Paris, com muito sucesso.

Trata-se do romance-colagem chamado Uma

Semana de Bondade, que se divide em cinco dias

da semana, cada qual com um volume. No passado,os especialistas classificavam esse tipo de trabalho

de Ernst como uma série de estudos artísticos do

autor alemão (1891-1976), que também era escul-

tor e poeta. Portanto, sem grande importância no

conjunto de sua obra. O fato, contudo, é que esses

trabalhos, exibidos uma única vez, em Madri, em

1934, chocaram o mundo, incomodaram a Igreja e,

assim, passaram 70 anos guardados pelo coleciona-

dor francês Daniel Filipacchi. Qual a razão de tanta

polêmica? Simples: em linhas gerais, ironizavam a

vida cotidiana da classe burguesa, com homens e

mulheres mesclados a animais, ainda porque alguns

deles se referem ao livro bíblico Gênesis.

Hoje, entende-se que tais obras são importantes,

sobretudo para se compreender a técnica de Max

Ernst, além, evidentemente, do movimento dadaísta

que ele defendia e que pregava o nonsense. O que

impressiona o público por onde a mostra tem passado

são as habilidades do artista nas colagens em que ele

usava desenhos de revistas, jornais e livros dos séculos

XVIII e XIX, para criar a ilusão de outra realidade. Elepróprio chegou a dizer que “foi um esforço obsessivo

criar o surreal mais realista jamais visto”.

O SURREAL MAIS REALISTA JÁ VISTO

NA MOSTRA UMA SEMANA DE BONDADE , O ARTISTA MAX ERNST IRONIZA A BURGUESIA AO MESCLAR HOMENSE ANIMAIS EM AMBIENTES ELEGANTES E NOBRES

POR ANA CÂNDIDA VESPUCCI

MASP – Museu de Arte de São PauloAvenida Paulista, 1578Telefone: (11) 3251-5644Até 18 de julhoTerças, quartas, sextas, sábados, domingos e feriados,das 11 às 18 horas; quintas, das 11 às 20 horas

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DESTAQUES MOSTRA

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Localizada no centro histórico, em frente ao cais,a CASA TURQUESA é um refúgio de paz que oferece conforto, requinte e

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DESTAQUES EXPOSIÇÃO

PURAS MISTURAS

A EXPOSIÇÃO É O APERITIVO DE UM MUSEU PÚBLICO DE CELEBRAÇÃO DADIVERSIDADE CULTURAL BRASILEIRA

POR ADÉLIA BORGES*

PURAS MISTURAS, exposição em cartaz no Parque do

Ibirapuera, em São Paulo, até o final de outubro,

celebra a riqueza e diversidade da cultura do Brasil,apresentando um contraponto entre variadas for-

mas de criação artística produzidas em diferentes

tempos e lugares. Ao construir diálogos entre as

culturas letradas e iletradas, ou cultas e popula-

res, nosso objetivo foi evidenciar como ambas se

alimentam mutuamente, em um processo perma-

nente de recriação e ressignificação, que acaba

por tornar equívoca a própria oposição entre essas

duas esferas.

Para o título da mostra, tomamos emprestada a

expressão paradoxal e contraditória cunhada pelo

escritor João Guimarães Rosa porque ela expressa

com poesia a trama que, a nosso ver, constitui a

força maior da cultura brasileira. E esse processo

é dinâmico, está sempre se reinventando.

A exposição tem números superlativos: cerca de

1.600 peças expostas, 120 participantes e um pai-

nel de 160 m de comprimento, com uma síntese da

história cultural de nosso País no que diz respeito

às ações voltadas para a valorização das culturas

do povo, tudo em uma área de cerca de 2.500 m2.Totalmente bancada por recursos públicos, da Secre-

taria Municipal de Cultura, ela é um aperitivo do

Pavilhão das Culturas Brasileiras, que vai ser criado

por iniciativa do secretário Carlos Augusto Calil.

No processo de desenvolvimento do projeto museo-

lógico da nova instituição, sendo feito desde o final

de 2007, logo de cara rejeitamos uma expressão

do tipo “Museu de Arte Popular”. A nosso ver, ela

traz o risco de colocar seu conteúdo em um gueto,

levando ao isolamento. Além disso, se não há um

“Museu de Arte Erudita”, por que haveria um de

“Arte Popular”?

Materializar um enunciado conceitual complexo –que foge do maniqueísmo e trabalha justamente

os hibridismos de uma dinâmica cultural em trans-

formação – foi o principal desafio da exposição

que anuncia a criação do Pavilhão das Culturas

Brasileiras.

Procuramos resolvê-lo colocando logo na entrada

a mostra Viva a Diferença, com 75 banquinhos, de

variados formatos e materiais. Ela coloca em pé

de igualdade bancos confeccionados por povos

indígenas, por comunidades artesanais de várias

partes do País, por artesãos contemporâneos e por

designers, como Sérgio Rodrigues, Carlos Motta,

Marcelo Rosenbaum, Michel Arnoult, Lina Bardi,

Nido Campolongo e Claudia Moreira Salles. Ao focar

em um objeto com uma única função – sentar-se –,

mas dezenas de formas, é possível trabalhar a ideia

de que cada forma expressa, em última instância, a

visão de mundo de seu criador. O artesão que recicla

ferro velho e espaguetes de plásticos em Juazeiro do

Norte para fazer um banco perfeitamente adequado

à sua função tem, assim, o mesmo valor que SérgioRodrigues com o seu celebrado Mocho, um dos íco-

nes do design brasileiro, de 1951, que foi projetado

 justamente a partir de um tamborete usado para

tirar leite da vaca. O fato de as pessoas poderem

observar os bancos de perto e, mais do que isso,

experimentá-los, usá-los, serve para aproximar o

museu dos visitantes, ajudando-os a reconhecer a

expressão da diversidade.

O enunciado conceitual se aprofunda no módulo

Fragmentos de um Diálogo, em que 12 células     F    O    T    O    S

    M    A    U    R    O

    C    L    A    R    O

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À DIREITA: OBRAS DE MESTRE CUNHA E AO FUNDO, DE LUIZ HERMANO. ABAIXO:VIVA A DIFERENÇA, COM 75 BANQUINHOS, DE VARIADOS FORMATOS E MATERIAIS

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DESTAQUES EXPOSIÇÃO

temáticas se sucedem em um percurso contínuo.

Com caráter assumidamente fragmentário, as célu-

las pontuam conversas entre criações de diferentes

tempos e lugares. Tupi or not tupi, por exemplo,

evidencia como Victor Brecheret bebeu nas tradi-

ções indígenas para compor a escultura moderna

brasileira. Tu me Ensina a Fazer Renda traz louças

projetadas por Marcelo Rosenbaum e cerâmica de

Caroline Harari a partir da rica tradição das ren-

das tecidas por artesãs nordestinas.  Avatares do

 Alvorada mostra como o traço de Oscar Niemeyer,

nas colunas do Palácio da Alvorada, foi reinter-

pretado por pessoas comuns em portões, muros e

objetos criados em todo o País; o que por sua vez é

reinterpretado por artistas contemporâneos, como

Emmanuel Nassar e Delson Uchôa.

Além dos já citados, participam desse módulo com

obras originais artistas como Alex Flemming, Arthur

Bispo do Rosário, Artur Pereira, Di Cavalcanti, Far-

nese de Andrade, Mestre Guarany, Fulvio Pennacchi,

NA PÁGINA AO LADO BONECAS DA

TRIBO INDÍGENA KARAJÁ E À ESQUERDACONJUNTO DE EX-VOTOS, AMBOS DACOLEÇÃO DO MUSEU DO FOLCLOREROSSINI TAVARES DE LIMA, QUE AGORAPERTENCE AO PAVILHÃO DAS CULTURASBRASILEIRAS. ABAIXO: AVIÕES DO MESTRECUNHA, PERNAMBUCO; BARCO DO ACERVOROSSINI TAVARES DE LIMA; ESCULTURADE PAULO LAENDER, MINAS GERAIS EESCULTURA DE VÉIO, SERGIPE, AO FUNDO

  F  O  T  O   M  A  U  R  O

  C  L  A  R  O

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Gilvan Samico, J. Borges, José Antônio da Silva,

Luiz Hermano, Mauro Fuke, Mestre Vitalino, Paulo

Laender, Rubem Grilo, Rubem Valentim, Samico,

Tarsila do Amaral, Ulisses Pereira Chaves, Vicente

Rego Monteiro e Zé do Chalé. Além dos designers

Irmãos Campana, Lino Villaventura e Ronaldo Fraga.

Obras que não puderam estar ao vivo – como pin-

tura rupestre e manifestações de arte urbana – são

apresentadas em projeção multimídia, recurso nem

sempre utilizado quando se fala de criações do povo.

Homenagear quem veio antes

Não seria possível, a nosso ver, anunciar uma nova

instituição sem fazer uma homenagem a quem

veio antes de nós, abrindo o nosso caminho. Assim,

concebeu-se o módulo Da Missão à Missão, consti-

tuído por uma extensa linha do tempo. O painel tem

início com a Missão de Pesquisas Folclóricas reali-

zada, em 1938, por iniciativa de Mário de Andrade.

À frente do então Departamento de Cultura do

município de São Paulo, Mário determinou que

quatro pesquisadores percorressem o Nordeste e o

Norte do País para registrar as músicas e bailados

populares do Brasil. O acervo coletado pela equipe

naquela ocasião será transferido para o Pavilhão

das Culturas Brasileiras.

Depois dessa ação seminal, destaca-se a atuação

dos intelectuais reunidos em torno do Museu doFolclore Rossini Tavares de Lima, que ocupava o

prédio da Oca até o ano de 2000, e cujo alentado

acervo com cerca de 3.500 peças também ficará

com o Pavilhão. A partir daí, pontuam-se ações

empreendidas por nomes como Gilberto Freyre,

Aloisio Magalhães e Lina Bo Bardi, até chegar à apre-

sentação sintética do projeto do Pavilhão e de sua

missão, que será “pesquisar, registrar, salvaguardar

e difundir a diversidade cultural brasileira, contri-

buindo para o diálogo entre as diferentes culturas

e para o reconhecimento do valor do patrimônio

material e imaterial das culturas do povo”.

O painel abre espaço também para o projeto de

restauração do prédio, que o secretário Carlos

Augusto Calil pretende, se tudo der certo, iniciar

ainda este ano. O projeto do arquiteto Pedro Men-

des da Rocha mantém as virtudes da arquitetura

original, preservando as qualidades do desenho de

Oscar Niemeyer, sobretudo a amplitude de espaço

e a leveza do edifício. Longe de um perfil nostál-

gico ou regressivo, este se pretende um museu dacontemporaneidade, capaz de responder com uma

ação afirmativa a questões do presente e capaz de

contribuir com a transformação social. Queremos

contribuir para que possamos, todos, nos ver como

produtores de cultura, e não apenas consumidores

e espectadores.

FOTO MARIANA CHAMA

*Adélia Borges coordenou a elaboração do projeto do Pavilhão das CulturasBrasileiras e é curadora-geral de Puras Misturas . A equipe curatorial daexposição é integrada também por Cristiana Barreto, José Alberto Nemer eVera Cardim. O projeto museológico foi feito com a colaboração de CristianaBarreto, Marcelo Manzatti e Maria Lúcia Montes, entre outros.

    F    O    T    O    S

    S    Y    L    V    I    A

    M    A    S    I    N    I

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NEM NAÏF NEM PRIMITIVA. É ARTE POPULAR, SÔ!

AS CASAS DE LEILÃO TÊM DADO ESPAÇO PARA A ARTE POPULAR BRASILEIRA,

LADO A LADO COM A ARTE CONTEMPORÂNEA

TEXTO MARCO AURÉLIO JAFET

ARTE POPULAR é aquela produzida espontanea-

mente por artistas sem treino específico em arte e/

ou educação formal. Diferentemente da arte étnica

que preserva tradições, mitos e é passada de geração

a geração. Os termos naïf  e primitivo têm origem na

produção de artesãos, visando criar propositada-

mente quadros e objetos decorativos, com base emum conceito estético que representasse a inocência

pessoal e a habilidade ainda “primitiva” de quem os

executasse e é muito apreciada em alguns países

europeus, principalmente na França.

No século XVIII, eram poucos aqueles que tinham

posses para encomendar imagens eruditas, predomi-

nantemente barrocas. A maioria da população deveria

ter uma imagem do santo – ou santa – de sua devoção

em casa, e para tanto recorria-se ao artista popular. “As

imagens chamadas de ‘paulistinhas’ são um exemplo,

como diz Roberto Rugiero, da Galeria Brasiliana, entre-

vistado nesta edição. O comércio também recorria

aos artistas populares para a produção de painéis

e cartazes que mostrassem através de imagens os

produtos vendidos, uma vez que poucos sabiam ler.

“Não se tem notícia de exemplares dessa produção

que foi toda perdida no tempo”, diz Rugiero. Ex-votos

e carrancas foram salvos pelos seus aspectos religioso

e místico, respectivamente, além do utilitário.

O interesse do público brasileiro sobre a arte popular

tem sido crescente e o colecionismo despertado emtodo o País. As casas de leilão têm dado espaço para

a arte popular brasileira, lado a lado com a arte con-

temporânea. “Nos últimos dez anos, tem-se formado

um mercado crescente devido a leitura da beleza e

importância da arte popular brasileira por interessados

e colecionadores que decidiram incorporá-la às suas

coleções”, diz o leiloeiro Aloisio Cravo.

Trabalhos de José Antônio da Silva, Heitor dos Praze-

res, Poteiro e Mestre Vitalino, bem como carrancas de

Mestre Guarani, há muito convivem com trabalhos dos

grandes mestres do Modernismo sem acanhamentos nem vergo-

nha. As carrancas, peças esculpidas em madeira com o objetivo de

espantar maus espíritos, se navegadas podem atingir R$150 mil.

Para Vilma Eid, da Galeria Estação, em São Paulo, a arte hoje

engloba o contemporâneo, seja erudito ou popular. E quanto a

investimentos na área, cita seu avô que lhe dizia: “Não tenha

medo de preço. O que é bom sempre será cobiçado!”.

Recentemente, têm sido ofertados no mercado para venda tra-

balhos de artistas considerados importantes pelos estudiosos.Alguns deles como GTO, tem alcançado o valor de R$ 100 mil.

Agostinho Batista de Freitas, R$ 15 mil. Itamar Julião, há quem

diga que uma das suas onças gigantes chega a custar R$ 200 mil.

Arthur Pereira, Miriam, Loco e mais recentemente Veio, variam

entre R$ 3 mil e R$ 15 mil.

Motivada pela possibilidade de trabalhar com o que gosta Edna

Matosinho Pontes inaugurou sua Galeria Pontes, em 2008. Além

de exposições, a programação da galeria inclui mesas redondas,

parcerias com outras instituições e mostra o interesse da galerista

em facilitar o acesso do público à arte popular,

fazendo um paralelo com a arte contem-

porânea. A arte popular brasileira tem se

revelado uma boa aposta, tanto para aqueles

que querem investir, como para aqueles que

querem colecionar.

É uma arte que apela inconscientemente ao

emocional da memória que vem à tona assim

que olhamos para uma obra que, sem que

percebamos, nos fisga o olhar e encanta.

Por isso mesmo, é preciso cautela para não

se enganar e cair em armadilhas. Encante-semas procure informação confiável!

Como diz o ditado popular: “Caldo de galinha

e cautela não fazem mal a ninguém!”.

GERALDO TELES DE OLIVEIRA,1982, SEM TÍTULO, MADEIRA

Marco Aurélio Jafet  é administrador de arte com título de MFA(Master of Fine Arts) pela Columbia University de Nova York 

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DESTAQUES MERCADO

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SEÇÃO MATÉRIA

arteBA – 19 ANOS

POR LEONOR AMARANTE

O IMPULSO DO MERCADO DE ARTE ARGENTINO SE ESPELHA NA FEIRA DE ARTEMAIS ANTIGA DA AMÉRICA DO SUL

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FEIRA INTERNACIONAL ARTEBA

A ARTEBA COM TODAS AS CRÍTICAS que se possa fazer é,

sem dúvida, a iniciativa de arte mais bem-sucedida

da Argentina. A 19ª edição legitima o evento como

eficiente local para vendas e valioso ponto de encon-

tro de artistas, colecionadores e galeristas. Entre

as mais de 600 feiras do gênero, a arteBA tem seu

lugar na agenda internacional.

Sediada nos pavilhões de La Rural, no bairro de

Palermo, entre 25 e 29 de junho, o evento se integrou

às comemorações do Bicentenário da Independência

da Argentina, unindo-se às de outros países, como

Chile, Colômbia, México e Venezuela, reforçando

politicamente seu caráter continental.

Cada presidente da arteBA coloca seu estilo pessoal

e conhecimento do mercado – financeiro e de marke-

ting – para criar uma vitrine de visibilidade para

os artistas. Este ano, agregando profundo conhe-

cimento de arte contemporânea, o bem-sucedido

 AS ESFERAS, EM AÇO E METAL, DE CELINA SAUBIDET SÃO EXCESSÕES NUMA FEIRA ONDE DOMINAM AS PINTURAS

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advogado Facundo Minujin, de 45 anos, coloca

pimenta nesta edição. Afinal, ele é filho de Marta

Minujin, a performática argentina mais conhecida

fora dos limites de seu país. Convidada especial

para a Bienal de São Paulo deste ano, na arteBA ela

deu uma prévia do que vai “aprontar” em setem-

bro, no Ibirapuera. Autora de happenings memorá-

veis, um deles em parceria com Andy Warhol. No

sábado, Marta causou congestionamento com uma

performance na qual era replicada por duas modelos

com biotipos idênticos ao dela. “Em São Paulo vou

mostrar uma série de ‘pinturas’ e ‘esculturas’, com

efeitos especiais de luzes”, explica Marta enquanto

atende aos fãs e aos flashes dos fotógrafos.

O público nos quatro dias de Feira superou os 125

mil do ano passado. Se no dia da inauguração,

o ambiente era altamente elitizado com a forte

presença de endinheirados, já no dia seguinte se

NA ARTEBA, MARTA MINUJIN FAZUMA PRÉVIA DA PERFORMANCE QUEAPRESENTARÁ NA PRÓXIMA BIENALDE SÃO PAULO EM SETEMBRO DESTEANO. ELA É, SEM DÚVIDA, A ARTISTAARGENTINA MAIS CONHECIDA FORA DASFRONTEIRAS DE SEU PAÍS. NA DÉCADA DE1960 ATUOU COM ANDY WARHOL

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FEIRA INTERNACIONAL ARTEBA

podia notar o movimento de gente mais simples que

tentava se atualizar com a produção contemporâ-

nea. Entre eles, havia jovens ávidos para comprar

sua primeira obra. E tinha opção para todos, como

uma pintura sobre cartão da jovem Monica Salas,

que custava U$ 100,00. Esse frescor que passa

pelo mundo da arte impulsiona o deslocamento

de Irene Abujatum, diretora da Feira de Chaco, no

Chile, que há cinco anos luta para projetar a pro-

dução local. “Não temos bienal. A Trienal do Chile,

que teve sua edição inaugural no ano passado, foi

mais um problema para as artes visuais do país que

solução. Foi mal conceituada pelos curadores e mal

formalizada. No Chile, não temos lei de incentivo

para a cultura como há no Brasil. Fernanda Feitosa,

diretora da SP-Arte, disse que criou a feira depois

de constatar que os brasileiros saíam do País para

comprar arte.

A proprietária da galeria Animat, também do Chile,

vê nas feiras oportunidades, tanto no Brasil como na

ACIMA: A INSTALAÇÃO DE CAROLINA ANTONIADIS. UMA CRÍTICAPOP À SOCIEDADE DE CONSUMO. AO LADO: OS JARDINS DE MONETINSPIRARAM A CHILENA MALU STEWART PARA BORDAR SOBREMADEIRA SUA BLUE POND, 2009

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Argentina. De opinião diferente, Estela Totah, dona

da Del Infinito, de Buenos Aires, garante que hoje

não há grandes colecionadores como nas décadas de

1940-50. “Hoje, há compradores, especialmente na

faixa dos 25-35 anos que estão estudando arte para

saber o que estão adquirindo. Esse dado é novo no

mercado. Se antes nós nos considerávamos cultos,hoje tentamos conhecer arte.” Para a controvertida

historiadora argentina de arte, Victoria Verlichak,

pesquisadora e historiadora de arte, autora do livro

Marta Traba, o que falta na Argentina é apoio e

envolvimento institucional. “Aqui falta uma política

cultural, como existe no Brasil. Não há como ter

projetos sem o envolvimento financeiro do governo

nacional. Dentro desse panorama a arteBA ganha

importância”, garante ela. Para Tereza Gazitúa, pes-

quisadora e historiadora chilena de arte, o mesmo

sucede em seu país. Há dinheiro para a cultura,

o que não há é um projeto consistente. Matilde

Marin, artista e também pesquisadora de arte, vai

mais longe. “O Brasil, mesmo quando não tinha o

dinheiro que tem hoje, já incentivava a cultura, basta

lembrar a Bienal de São Paulo de 1951. A Argentina,

nessa época, era um país muito mais rico, mas nãofez nada desse porte para as artes plásticas.” Para

Rosa Maria, uma das importantes críticas argenti-

nas de arte, a existência da arteBA é fundamental

para a escoar a produção nacional. “Aqui estão os

galeristas, artistas, críticos e colecionadores, o que

transforma a Feira em num local essencial.”

O brasileiro Thomas Cohn, dono da galeria de

mesmo nome, se diz satisfeito com a arteBA. “Estive

aqui em 2000 e hoje a feira está bem melhor, mais

organizada e com mais expositores.”

A EDIÇÃO DESTE ANO COLOCOU LADO A LADO ARTISTAS CONSAGRADOS COMO O ARGENTINO JULIO LEPARC, OBRA ACIMA, E JOVENS PROMISSORES COMO A CHILENA MALU STEWART NA PÁGINA AO LADO

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MERGULHO NO PRIMITIVO PARA OUSAR

NA MODERNIDADEO DIVISOR DAS ÁGUAS NO EMBATE ENTRE PRIMITIVOS E ERUDITOS É A EXPOSIÇÃO ORGANIZADA PELO MoMAPRIMITIVISMO NA ARTE DO SÉCULO XX : AFINIDADE DO TRIBAL E DO MODERNO, DE 1984, OBJETO DE REFLEXÃO ATÉ HOJE

POR LEONOR AMARANTE

QUASE NENHUM MOVIMENTO de arte do século

XX escapou da influência da arte primitiva. Grande

parte do estrelado elenco da Escola de Paris bebeu

diretamente na fonte, sem nunca ter colocado os pés

na África, Ásia, Oceania ou Américas. O Surrealismo,

e o Expressionismo mergulharam na chamada arte

“primeira”, para renovar seu discurso visual com

valores e formas diferenciadas.

Muitos dos grandes mestres da pintura e da escul-

tura reinterpretaram traços de artistas anôni-

mos, tribais, de etnias perdidas, especialmente da

África iletrada e atrasada social e intelectualmente,

segundo os padrões culturais do eurocentrismo

vigente. O que se pode dizer do conceito de arte

"primitiva", utilizado desde o início do século XX,

como abrigo semântico, que engloba desde pinturas

pré-históricas a peças criadas pelo homem comum

sem instrução artística?

O termo naïf  é mais recorrente nos discursos dos

galeristas que comercializam pinturas coloridas,

realistas, marcadas pela espontaneidade de umfigurativismo livre dos dogmas da composição e da

perspectiva. No Brasil, Heitor dos Prazeres e José

Antônio da Silva, já na década de 1950, abriram o

caminho para uma comunidade muito ativa que se

firmou nas duas décadas seguintes.

O divisor das águas no embate entre primitivos

e eruditos é o MoMA, que, em 1984, idealizou a

exposição Primitivism in 20th Century Art: Affinity

of the Tribal and the Modern. Inteligente e essencial,

a intensa pesquisa teve como curador William Rubin

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CAPA PRIMITIVO ERUDITO

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que contou com uma equipe de especialistas em

arte primitiva para reunir peças raras em museus

etnográficos europeus, em galerias especializadas

e em coleções particulares de vários países. Com

uma montagem instigante, colocou lado a lado obras

de mestres ocidentais modernos, como Picasso,

Giacometti, Brancusi e Henry Moore, com peças

museológicas da Guiné, Oceania e América. Um

dos objetivos era mostrar a semelhança das formas

entre as obras de períodos tão distantes entre si. O

resultado foi muito além e colocou em xeque, mesmo

fora dos domínios do MoMA, o caráter político e

moral das obras celebradas pelo mercado interna-

cional desses intocáveis mestres contemporâneos.

Uma das críticas foi a excessiva ênfase dada às

afinidades formais, que evidenciavam as desigual-

dades culturais e sociais. E também o fato de que

os artistas ocidentais eram mostrados geniais, por

terem descoberto e recriado primitivos anônimos

e atemporais.

NA PÁGINA AO LADO: ESCULTURA DA ETNIA ZULU, ORIGINÁRIA DA ÁFRICA DO SUL. COLEÇÃO DO BRITISH MUSEUM. ACIMA: ESCULTURAEM BRONZE DO ARTISTA ITALIANO ALBERTO GIACOMETTI, DE 1929. ACERVO DE RUTH E FRANK STANTON

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IRIAN JAYA. PINTURA SOBREMADEIRA, ORIGINÁRIA DANOVA GUINÉ. COLEÇÃO FRIED,NOVA YORK

O que se levantou é que a ausência de uma icono-

grafia ou de publicações acessíveis a esses objetos

permitiu que fossem apropriados por uma comu-

nidade artística sem qualquer tipo de questiona-

mento. Grande parte deles colecionou raridades que

mantinham em seus ateliês. A tensão provocada

era decorrente do fato de não haver discussão

quanto ao poder de propriedade intelectual dessa

arte "primitiva". Segundo o crítico americano Gill

Perry, o exótico foi recriado por eles, de acordo com

os pressupostos e práticas ocidentais da época – e,

portanto, sob a égide da política colonial europeia.

Ao se observar algumas obras de Emil Nolde, Paul

Gauguin, Henry Moore, Paul Klee, Henri Matisse,

Marc Chagall, Max Ernst, Joan Miró, Amedeo Modi-

gliani, Pablo Picasso, entre muitos outros, não se

pode deixar de refletir sobre o que seriam das artes

plásticas, nos anos 1950, sem essa investida na

arte primitiva.

Depois da iniciativa do MoMA, foi a vez dos

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CAPA PRIMITIVO ERUDITO

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franceses mergulharem fundo nas questões,

organizando uma mostra que foi uma espécie de

resposta à exposição americana. O Beaubourg de

Paris organizou a Les Magiciens de la Terre, em

1989, que se estendeu, na mesma capital, até o

Grande Halle de La Villette. O curador Jean-Hubert

Martin reuniu centenas de obras, levando em con-

sideração a produção periférica do circuito de arte

e, consequentemente, a arte primitiva. O crítico

francês refletiu sobre o significado dos objetos na

passagem de uma cultura a outra e sobre a com-

provação de que existe autoria artística "primitiva".

Política e cultura sempre renderam dividendos aos

políticos de qualquer país. O escritor e intelectual

André Malraux, ex-ministro da cultura da França,

responsável pelo avanço da política cultural daquele

país, na década de 1960, mantinha o bordão de que

era preciso considerar “as artes primordiais”. Com

esse mesmo refrão, o ex-prefeito de Paris, Jacques

Chirac, também deixou marca ao criar o Museu do

INTENTIONS. PINTURA SOBRE TELA DE PAUL KLEE. ACERVO MUSEU DE BERNA

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Quai Branly, que reúne peças importantes de vários

períodos e de alto valor antropológico e etnográfico.Ao entrar no museu ou em qualquer uma des-

sas exposições, pode-se imaginar a avidez desses

artistas sobre a produção da África, Ásia, Oceania

e da América que eram autênticos reservatórios

de formas e valores inovadores. Há pontos em

comum que chamam a atenção dessa produção

“pirata” europeia. Em primeiro lugar, eles tomaram

o elemento primitivo como escudo da moderni-

dade e da filiação às formas autênticas e radicais.

Depois se apropriaram do que eles consideravam

“exótico” para recriar uma arte com as práticas

ocidentais da época — e, como ressaltou Gill Perry,construindo uma arte, “sob a égide da política

colonial europeia”.

Na verdade, a ausência de uma iconografia acessível

desses objetos permitiu que eles fossem facilmente

absorvidos por uma cultura artística moderna.

Essa descontextualização fez com que os artis-

tas modernos fossem acusados de responder de

modo etnocentrista à arte africana e da Oceania,

atribuindo a suas aparências sentidos ocidentais

do século XX.

À ESQUERDA: CABEÇA TROFÉU DA TRIBOBRASILEIRA MUNDURUCU. ACERVO DOMUSEU VOLKERKUNDE, BERLIM. À DIREITA:CABEÇA TROFÉU DE EMIL NOLDE. COLEÇÃODO MUSEU SEEBÜL, DA ALEMANHA

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AO VISITAR EM MARSELHA, no Musée

d’Archéologie Méditerranéenne, em 1993, a exposi-

ção Poèmes de Marbre, não pude deixar de pensarem Brancusi e Max Ernst. Os poemas de mármore

eram esculturas pré-históricas procedentes das

ilhas Cyclades, no Mar Egeu, e de terras como

Turquia, Pérsia, Chipre e Sardenha. O tratamento

do mármore branco, a simetria, a forma sintética

das figuras não realistas — mas que sugeriam ime-

diatamente cabeças e corpos humanos masculinos

e femininos, além das formas perfeitas de alguns

utensílios também expostos —, se confundiriam

com obras dos dois artistas citados, especialmente

Ernst que no conjunto de obras As fases da noite:

Capricórnio, de 1947, parece ter reproduzido deta-

lhes de uma delas.

As esculturas das Cyclades são arte primitiva,

se nos for dado classificá-las como arte. Porém,

criadas antes de qualquer formulação de conceitos

estéticos, elas — e muitas outras manifestações

artísticas primitivas, como as máscaras africanas,

das quais Picasso se apropriou — dão a pessoas

modernas, como somos, a sensação de profunda

beleza e significado. Pensamos então, em um pri-meiro momento, que a arte moderna, ao romper

as barreiras acadêmicas, possibilitou releituras e

inter-relações com a arte primitiva. Os exemplos

são muitos, além dos citados. Mas pensamos tam-

bém em como justificar essas apropriações tão

evidentes, sem referências às fontes. Não quero

me colocar academicamente, como os pesquisa-

dores fazem, mas sim em uma posição ética como

artista que sou.

É bastante evidente que o sistema da arte no qual

existimos, comandado pelo mercado, autorize

atitudes assim. Ao me referir a Brancusi, Marx

Ernst, Picasso, estou apenas citando alguns dosmais ilustres artistas da Terra. Não apenas a arte

primitiva sofre da apropriação sem crédito, esse

comportamento é mais incidente do que imagina-

mos em uma leitura superficial, ele tornou-se uma

prática comum, principalmente nas últimas quatro

décadas, desde a pop art. Vejamos Rauschenberg

e Warhol, somente como exemplo.

No Brasil, temos situações semelhantes. Celeiro

de arte primitiva, nosso País possui um acervo

enorme de sinais e formas arcaicas desde a pré-

história. Como as pinturas e gravuras rupestres

de várias tradições em uma variedade que se

estende por todo nosso território, até as tradições

indígenas presentes em desenhos, cerâmica, arte

plumária de tribos como Kaiowas, Carajás, Caia-

pos, Erikbawas, entre tantas, e a imaginária das

religiões afro-americanas de raiz Yorubá, como

o Candomblé. Mas também temos outra fonte

formal e temática na cerâmica popular que aqui

se confunde com a primitiva, como o que fazem

os descendentes do Mestre Vitalino, no Alto doMoura em Caruaru, e os índios de duas manifesta-

ções isoladas, mas com características temáticas

semelhantes quanto à narrativa do ambiente e da

vida que os cercam.

Sobre arte popular, eu diria que ela é a expres-

são simbólica do povo, marcada pela inteligên-

cia criativa autêntica das populações urbanas,

suburbanas e rurais. Sendo assim, difere da arte

considerada erudita por sua circulação ampla nas

bases populares e por sua compreensão do ponto

ERUDIÇÃO E DOMINAÇÃO

POR RAUL CÓRDULA

NÃO APENAS A ARTE PRIMITIVA SOFRE DA APROPRIAÇÃO SEM CRÉDITO, ESSE COMPORTAMENTOÉ MAIS INCIDENTE DO QUE IMAGINAMOS EM UMA LEITURA SUPERFICIAL

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CAPA PRIMITIVO ERUDITO

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de vista das classes de renda baixa. O sistema de

arte que impera desde o Renascimento, além dos

benefícios materiais que trouxe aos artistas, legou

a eles também sérias contradições sociais. Para

ser considerado artista não basta talento e erudi-

ção, é preciso também status social. Pertencer à

classe dominante é quase que indispensável para

a vida do artista atual, pois sua obra, apelidada

hoje de “produto cultural”, circula no mundo da

economia de mercado. Esta é uma das razões da

dominação de determinadas correntes artísticas,

da negação ou fim da arte, fato admitido a partir

das teorias neoliberais à atualidade e ainda da

anulação do mercado do artista que vive fora

dos eixos de poder. Mas sociologicamente, é uma

mentira sustentada pelos senhores da economia

capitalista, pois nunca se deixou de fazer arte na

periferia do mundo, porque ela é, e sempre foi, uma

necessidade básica da humanidade. Para justificar

esse desequilíbrio e satisfazer o mercado, criou-se

AO LADO: MÁSCARA FANG,PINTURA SOBRE MADEIRA.COLEÇÃO MUSEU DO HOMEMDE PARIS. ACIMA: PORTRAITOF RUSSOLO, 1913. COLEÇÃOPARTICULAR

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CAPA PRIMITIVO ERUDITO

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uma linha divisória entre arte de gente rica e arte

de gente pobre, enunciada em dicotomias, como

“arte erudita e arte popular”, “arte culta e arte

primitiva”, “arte civilizada e arte ingênua, ínsita

ou naïf”. Nesse contexto, um artista do Nordeste

cuja obra foi incorporada à obra de um artista

metropolitano não tem como se defender, pois

seu “produto” não tem repercussão fora de seus

escassos limites, e o artista que se apropriou

da criação periférica é louvado como autêntico

descobridor da cultura brasileira. Na verdade, ao

artista de sucesso é dado o direito de lançar mão

da obra dos humildes.

Exemplos emblemáticos estão em todo o Brasil.

Quem, por exemplo, não encontra Bispo do Rosário

ou dos bordados do Ceará na obra de Leonilson;

Vitalino nas esculturas de Brecheret e nos dese-

nhos de Tarsila do Amaral, Mestre Noza do Jua-zeiro; e detalhes dos entalhes de igrejas barrocas

em Efrain Almeida ou Tota da Paraíba, em Miguel

dos Santos? Há inclusive forte aparato teórico em

defesa dessa forma de apropriação no Movimento

Armorial criado e defendido por Ariano Suassuna,

no qual ele toma posse da cultura do povo nordes-

tino em função de sua valorização e divulgação.

Seus sucessos teatrais têm base na literatura de

cordel. Isso se tornou um hábito nacional, uma

“atitude” moderna e contemporânea.

Parece muito cômodo usar a obra alheia como

ponte para a realização da própria obra. A grande

maioria dos artistas primitivos e toda a gama

de manifestações artísticas do povo não têm

nenhuma projeção, com raríssimas exceções apoia-

das por poucos críticos de arte ou teóricos. O caso

de José Bezerra, escultor do Vale do Catimbau,

sertão pernambucano, é uma dessas exceções a

partir de sua exposição em São Paulo no ano pas-

sado. O conjunto de suas esculturas na exposição

poderia ser atribuído a um artista contemporâneo.Mesmo assim, artistas como ele são vistos como

excepcionais, carentes, dependentes, inferiores.

A consciência artística de Zé Bezerra, em sua

simplicidade, confunde-se com a compreensão de

todo artista maduro e culto. Exemplo disto foi seu

comentário ao ver outro escultor dar esmerado

acabamento em uma peça: “Não adianta dar muito

acabamento, lixar, polir, porque arte é emoção,

enquanto eu tenho emoção, sei que estou fazendo

arte, quando a emoção acaba a arte está pronta”.

O TRAÇO DA XILOGRAVURA DO MESTRE NOZA CRUZA COM OEXPRESSIONISMO ALEMÃO DA DÉCADA DE 1910. ELE É CONSIDERADOO MAIS EXPRESSIVO ARTISTA BRASILEIRO DE CORDEL, COM OBRASEM ACERVOS DE VÁRIOS PAÍSES

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OÁSIS CRIATIVOFRANCISCO BRENNAND CONSTRÓI UM IMPÉRIO ARTÍSTICO HÁ MAIS DE 5ANOS, EM UMA ANTIGA FÁBRICA DE PORCELANA, NO BAIRRO DA VÁRZELONGE DO CENTRO DA CAPITAL PERNAMBUCANA

POR SILAS MARTÍ     F    O    T    O     D    I    V    U    L    G    A    Ç    Ã    O

    O    F    I    C    I    N    A

    B    R    E    N    N    A    N    D

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TEM ALGO DE VISCERAL uma escultura capaz

de fazer o prefeito da cidade invadir armado um

 jornal. Irado com insinuações de que tentara cen-

surar a Coluna de Cristal, de Francisco Brennand,

Roberto Magalhães, então chefe do Executivo em

Recife, entrou no Jornal do Commercio de revólver

na cintura, pedindo explicações.

Era um cilindro fálico, de 32 m de altura, revestido

de cerâmica e bronze. Esse mesmo trabalho foi alvo

de vândalos no Réveillon de 2000. Nas palavras de

Brennand, não tinha nada de mais. Fez uma escultura

que representava “o elemento primordial, o começo

da vida, o emblema da eternidade”.

Toda a obra desse artista pernambucano parece

roçar o limite entre o popular e o erudito. Despertareações passionais, com um pé na erudição de um

intelectual recluso e outro na observação da vida

como ela é, em um Recife que exporta arte dita de

verdade e a cerâmica e azulejaria que reveste casas

e prédios de todo o Nordeste.

A ESCULTURA DE BRENNAND SE ENCONTRA NOTÊNUE LIMITE ENTRE O POPULAR E O ERUDITO

Brennand vive em um mundo só dele, uma antiga

fábrica de porcelana, terreno de 10 mil m2, no bairro

da Várzea, longe do centro da capital pernambu-

cana. Lá estão suas mais de 2 mil esculturas espalha-

das pela propriedade, um “templo”, nas palavras do

artista, ou “cidadela messiânica” e “oásis criativo”

para quem já visitou. Na mesma pegada do falo

depredado, um ovo imenso fica pendurado no teto:

“A origem de tudo”.

Mas na origem mesmo, a Oficina Brennand, como é

chamado hoje seu ateliê, era uma fábrica, que che-

gou a ser um gigante industrial da região. Erguida

pelo pai do artista, um irlandês que se radicou por

aquelas bandas, a olaria dos Brennand fez fortuna

em um contrato com a antiga SUDENE, nos anos1970. Antes da fábrica, quatro engenhos de cana-

de-açúcar funcionaram ali por quase 100 anos.

Não é um passado que possa ser descartado na

leitura de seu trabalho. Brennand vem construindo

um império artístico alicerçado em uma herança de

engenho, espremendo bagaços para extrair lucro, e

de fábrica, a usina ceramista para adornar palácios

e repartições. Mesmo sua escultura, todo o barro,

obedece a uma lógica de produção em massa que

beira o popular, extrapola o universo diminuto do

ateliê, para entrar com força na vida.

    F

    O    T    O     E    U    D    E    S

    S    A    N    T    A    N    A

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CAPA ARTISTA

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“TENHO CERTEZA DE QUEO FANTASMA DE GAUDÍME ACOMPANHA”

    F    O    T    O     H    E    L    D    E    R

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CAPA ARTISTA

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Sem qualquer demérito, nem medo dos rótulos

popular e erudito, Brennand sabe onde pisa. Inven-

tou uma mitologia própria, de seres mutantes que

podem ser qualquer coisa. São pássaros, persona-

gens históricos reais e fictícios, falos e ovos. Se a

repetição é uma marca da obra que aproxima tudo

do artesanato, a receita e fatura manual, o fato de

não usar moldes e nunca repetir uma escultura,

torna cada peça única, fincando raízes na esfera

da criação, ou talvez, da genialidade.

Despachou logo cedo o preconceito pelos mate-

riais que decidiu usar. Alçou à cerâmica, aquela

dos vasos e cuias banidas dos círculos cultos, à

condição de material digno. Nesse ponto, joga luz

sobre uma tradição ofuscada na História da Arte,dos vanguardistas que também adentraram sem

medo nesse terreno.

Quando foi estudar pintura em Paris, ainda jovem,

fez a descoberta que casaria para sempre esses

dois pontos de seu trabalho, uma junção de matéria

popular a conteúdo erudito. “Tinha soberano des-

prezo pela cerâmica”, lembra Brennand. “Mas, em

Paris, vi uma exposição de cerâmica de Picasso e

percebi como eu era provinciano. Todos os grandes

nomes da Escola de Paris — Miró, Picasso, Léger,

Chagall — incursionaram por ela.”

Além da Escola de Paris, todo um repertório eru-

dito serve de lastro para a obra de Brennand. São

constantes as referências a escritores, como Joseph

Conrad e Somerset Maugham, aos pintores Van

Gogh, Gauguin, Cézanne, Léger, ao arquiteto-artesão

Gaudí. “Tenho certeza de que o fantasma de Gaudí

me acompanha”, disse Brennand em entrevista.

“Assim como o fantasma de meu pai me acompa-

nha.” Também lembra como ficou surpreso, em visita

ao ateliê de Léger, com o fato de o artista dar preçosa suas telas pelo tamanho, quanto maior fosse mais

cara custava. Parece levar ao pé da letra a frase de

Gauguin, que dizia: “Um quilo de verde é mais verde

do que meio quilo”.

No fundo, Brennand traduz esse universo para uma

lógica particular, em um meio termo feliz entre

popular e erudito. Quando esteve na Bienal de São

Paulo, foi parar na ala de artistas primitivos, mas

também foi o único capaz de arrancar elogios de

André Malraux, observador das vanguardas, em

visita à cidade. Também foi com seus falos, de alta

carga primitiva, que representou o país na Bienal

de Veneza, em 1990.

“Prefiro me defrontar com uma mitologia própria,

feita com uma sem-cerimônia quase insultuosa,

citações de figuras femininas retiradas da história

que, na verdade, só me atraíram por seu infortú-

nio”, resumiu Brennand certa vez. É uma atitude

que ajuda a explicar seu gosto pessoal por Almeida

Júnior e desprezo por Portinari, José Pancetti.

“Querem que eu fale da seca, mas a seca, os fura-

cões são respostas da natureza ao mal intrínseco

do homem. Interessa-me o indivíduo, não acredito

na coletividade sem face, moldável, caótica.”

E de tão particular que é esse universo, Brennandchegou a ser visto por alguns críticos como o mais

erudito dos artistas brasileiros. Mas isso sem recha-

çar seu estranho e potente apelo popular. “Se Giotto

fosse vivo na época de São Francisco de Assis,

a quem retratou, São Francisco não lhe daria a

mínima”, brinca. “Talvez preferisse um primitivo-

zinho, um borra-botas qualquer da época.”

Silas Martí é jornalista de arte da Folha de S.Paulo e colaborador derevistas de Cultura

O ENIGMÁTICO OVO DA SERPENTE

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    F    E    R    R    E    R

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CAPA HOMENAGEM

A ALEGRIA DE UM BRASIL INGÊNUO

POTEIRO DEIXA UM LEGADO LIVRE DAS AMARRAS DO CIRCUITO DE ARTE, COM PINCELADAS DE CORESDENSAS E VIBRANTES QUE MESCLAM HUMOR, OUSADIA E INQUIETAÇÃO PERMANENTE

POR PX SILVEIRA

ABAIXO: COMO TODO BRASILEIRO, POTEIRO TAMBÉM AMAVA O FUTEBOLETERNIZADO NA OBRA O JOGO E A PELADA , 90 X 100 CM, 2004.

AO LADO: CINCO ILHAS BRASILEIRAS, 120 X 120 CM, 1996

    F    O    T    O    S

    R    I    C    A    R    D    O

    R    A    F    A    E    L

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Poteiro fez sua arte sem querer dar satisfação a

ninguém. Surgia-lhe a vontade e ele fazia, com tinta

ou com barro. Para se expressar artisticamente,

Poteiro lançava mão de procedimentos narrativos e

formais que ele mesmo inventava e desenvolvia, sem

parar, ao longo de sua extensa obra. Foi um criador

de abecedário. Feitor de seu próprio caminho, que

traçou ao esculpir, primeiramente, e depois ao pintar.

Poteiro não tinha medo do erro. Como pintor, seu

colorido por vezes assusta de tão forte e audacioso

que é, sempre personalíssimo, e sempre certeiro para

os fins almejados. E é assim que o resultado da sua

linguagem inusitada (conteúdo e forma) agrada tam-

bém esteticamente, mesmo sem ele querer ser um

artista de arranjos feitos para o bom gosto vigente.

A arte de Poteiro, como sua personalidade,

UM MÊS ANTES DA MORTE DE ANTONIO POTEIRO, A REVISTA ARTE!Brasileiros  JÁ O ELEGERA

CAPA DE SUA QUINTA EDIÇÃO. NO MEIO DO PROCESSO DE FECHAMENTO, FOMOS SURPREENDIDOS

COM SEU FALECIMENTO. PX SILVEIRA, SEU AMIGO DE VÁRIAS DÉCADAS E AUTOR DE POTEIRO NA

PRIMEIRA PESSOA DISPONIBILIZOU, ESPECIALMENTE PARA ESTE NÚMERO, TRECHOS DE SEU LIVRO.

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CAPA HOMENAGEM

repousa no equilíbrio de contrastes imprevistos,

daí a riqueza de ambas. É bem verdade que suas

figuras têm uma aparência quase toscas, parecem

feitas por um principiante nas artes do pincel, a

ponto de seus traços serem frequentemente com-

parados, pelos desavisados, aos de uma criança.

Sim, uma criança com sabedoria octogenária.

Tão espontâneo como uma criança que ia engati-

nhando para os 90 anos de idade, Poteiro viveu em

permanente estado de aprendizado e expressão. Por

isso mesmo o rótulo de artista ingênuo, primitivo — ou

qualquer outro, não lhe cabe. Poteiro será sempre bem

maior que as simples palavras que o tentam enquadrar.

Seu linguajar artístico, original e próprio, é fonte

do patrimônio mundial que passa a fluir inesgo-

tável em algum ponto da eternidade. Mas essa

sua linguagem inaugural nada seria se não fosse

colocada a serviço de um mundo interior em

movimento e, assim, em permanente erupção

do local para o global, interagindo com o pulsar

OS FOLGUEDOS POPULARES MOVIMENTAM ATELA CIRANDAS NAS ESTRELAS –120 X 120 CM - 2008

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da vida em suas dimensões sociais e filosóficas.

Seu abundante universo de criação artística abarca

desde cenas primordiais do mundo até o caos no

trânsito, do mundo animal às sagradas escritu-

ras (a Bíblia era-lhe familiar), das Cavalhadas ao

Fogaréu, das favelas aos coronéis, de Cristo aos

deuses profanos, desde a política mundana até

os pequenos detalhes de sua biografia, sendo

esta o denominador comum de toda sua obra.

Pessoalmente falando, tenho por Antonio Poteiro

uma enorme gratidão. Pois, além de sua importância

no mundo artístico, no qual também atuo, nos últimos

três anos fui seu confidente para a montagem do livro

Poteiro na Primeira Pessoa e pude conviver com ele

momentos sublimes, seja em sua casa, em seu atelier,

em eventos e bares que frequentamos juntos ou

mesmo andando de moto com ele na garupa. Em suas

mais de 200 páginas, o livro traz muitas revelações

inéditas de sua vida. Em breve, será encaminhado a

escolas e bibliotecas de todo o País.

A ESPONTANEIDADE DE POTEIRO NA EMBLEMÁTICAOBRA CARNAVAL  – 190 X 210 CM - 2001

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    F    O    T    O     L    U    I    Z    A

    S    I    G    U    L    E    M

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CAPA MUSEU

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Quando perguntado sobre o que melhor define hoje

o Museu Afro Brasil, na resposta prevalece o criador:

“O Afro Brasil não é um museu de etnologia ou de

antropologia, mas de arte e história. É o espaço

do homem afro-brasileiro na perspectiva de sua

ancestralidade africana e, ao mesmo tempo, um

centro de referência dessa contribuição”.

O museu do Ibirapuera tem pouco a ver, de fato, com

o Musèe du Quai Branly, de Paris, surgido da fusão do

Museu do Homem e do Museu Nacional de Artes da

África e da Oceania, em 2006, dois anos depois do

Afro Brasil. “Os franceses inventaram essa história

de fazer um museu das artes primeiras, porque não

cabe mais a definição de arte primitiva”, diz Emanoel

Araújo. O curador-chefe do Afro Brasil admite, con-tudo, ser difícil a catalogação “arte afro-brasileira”,

por força da poderosa influência da cultura europeia,

de origem greco-romana, entre nós.

“A arte africana tem seus próprios dogmas e estes

estão dentro de uma perspectiva peculiar: a forma

de empilhar, a forma totêmica, entre outras”, lembra

Emanoel. “Eu diria que alguns artistas, até por sua

ancestralidade, têm certos conteúdos dentro desses

dogmas, como Agnaldo Manoel dos Santos e Rubem

Valentim. A obra de Valentim, apesar de ter uma

linguagem universal, está toda fundamentada na

origem totêmica, na repetição de símbolos afro-

brasileiros de fundo religioso, ou seja, numa lingua-

gem que não é mais europeia.” Emanoel sugere que

a pesquisa acadêmica avance nesse sentido, isso,

mas não no sentido exclusivamente antropológico.

“O objeto de arte e o artista têm de ser estudados

enquanto tais.”

Ao se apropriar ou se deixar influenciar por elemen-

tos da arte africana, artistas como Picasso e outros,

no século XX, teriam se antecipado. “Aquela expo-sição no MoMA, anos atrás, ‘Arte Moderna e Arte

Primitiva’, foi um levantamento do que havia nesse

sentido no mundo inteiro”, recorda Emanoel. “Outra

tentativa foi os ‘Mágicos da Terra’, no Beaubourg.”

Para Emanoel Araújo, artistas como Picasso, Brake

e Breton se valeram um pouco da arte africana,

assim como os impressionistas se valeram da arte

 japonesa. “Havia ali uma densidade plástica como

também uma densidade espiritual. Uma nova visão

de mundo a partir de certas referências que a arte

africana trazia. Essa visão é que é muito importante,

e ela de certa forma se une a uma questão religiosa

católica no Haiti, no Caribe, no Brasil, e continua

sendo uma interpretação e uma agregação. Eles

compreenderam a transcendência que havia. O

movimento surrealista, principalmente. O Breton

era um marchand de arte africana. Ele trouxe para

si e seus pares na época toda a importância da

arte africana.”

Memória e contemporaneidade (portanto, criação

atual) formam o escopo sobre o qual trabalha Ema-

noel Araújo na condução do Museu Afro Brasil. Por

sua curadoria não são ignorados nem o preconceito,

nem a discriminação ou a desigualdade social, mascompreendidos em um novo registro. O curador-

chefe do Afro Brasil ousa e avança. Com a expo-

sição Tempos de Escravidão, Tempos de Abolição:

Iconografias e Textos, ele polemizou diretamente

com movimentos negros que rechaçam o 13 de

Maio. “Mas houve o 13 de Maio, a princesa e outras

pessoas muito importantes lutaram por ele, não

importa se já era o final da escravidão.”

O Museu Afro Brasil já deu suficiente mostra de

não dogmatismo com exposições como a de Raus-

chenberg sobre o mercado das pulgas em Paris, a

do artista espanhol Uiso Alemany, ou O Deserto

Não é Silente — uma seleção das mais importantes

obras do patrimônio arqueológico e da arte con-

temporânea da Líbia. Segundo alguns críticos, as

obras de Emanoel Araújo se inscrevem em geral

no Construtivismo; segundo outros, resistem aos

rótulos e são extremamente singulares, mantendo

ao mesmo tempo relação com elementos afro ao

aliarem formas geométricas a cores fortes e con-

trastantes. “Foi em 1976, quando houve o Festivalda Nigéria de Arte Negra, que eu me dei conta de

como o meu trabalho se aproximava da arte afri-

cana. Naquela época, eram muito geométricos e

com certa tendência à abstração.

Mas, só mais recentemente, consegui aliar a geome-

tria a questões simbólicas da religião afro-brasileira

(o candomblé). A minha grande luta, agora, é tra-

balhar nessa direção: fazer uma escultura geomé-

trica, mas fundamentada em símbolos religiosos,

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CAPA MUSEU

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com base nesse grande leque do panteão africano

através da Bahia. Minha exposição no Instituto

Tomie Ohtake, no ano passado, era um pouco isso.

Uma viagem pela energia e sinergia dos deuses

africanos.”

Em tempos de Copa do Mundo, o curador-chefe do

Afro Brasil abre espaço para um bem-vindo senso de

oportunidade e inclusão estética: exibe a exposiçãoDe Arthur Friedenreich a Edson Arantes do Nasci-

mento. O negro no futebol brasileiro. “Friedenreich,

filho de alemão com negra, representa o começo

da inserção do negro no futebol brasileiro. Essa

exposição é uma homenagem a essa memória, a

esses atletas que fizeram a diferença, que deram

alegria, que inventaram a bicicleta, a folha seca. É

o drible do Garrincha, a genialidade do Pelé, a força

do Djalma Santos, a elegância do Didi.”

Emanoel Araújo é fascinado pela questão da

memória e por personagens que não podemos

deixar morrer, porque podem significar inclusive

autoestima. “Em um País como o nosso, em que a

gente sempre está precisando ser incentivado por

alguma razão, porque o Brasil às vezes é muito

difícil, muito duro, de qualquer lado que a autoes-

tima venha, será importante. Poder entusiasmar

 jovens negros, a população mestiça, quem morana periferia, ver seus rostos iluminados de alegria,

isso é o que a gente quer.”

 

À ESQUERDA: ESTATUETAFEMININA, ATTIE , COSTA DOMARFIM, MADEIRA, ACERVOMUSEU AFRO BRASIL.À DIREITA: EMANOEL

ARAUJO,  XANGÔ,   2006,MADEIRA, MIÇANGA ECRISTAL, 220 X 60 X 20 CM

Museu Afro BrasilAvenida Pedro Álvares Cabral, s/ nºParque Ibirapuera - Portão 10São Paulo - SP - BrasilTel. 55 11 5579 0593www.museuafrobrasil.com.brTer. a dom., das 10 às 17 horas (permanência até às 18h)Estacionamento: Portão 3 - Zona Azul

    F    O    T    O     N    E    L    S    O

    N

    K    O    N

    F    O    T    O     J    O    Ã    O

    L    I    B    E    R    A    T    O

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    F    O    T    O    S

    L    U    I    Z    A

    S    I    G    U    L    E    M

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GALERIA BRASILIANA

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barrocas ainda ficaram. Mas perdeu-se muita coisa

e de qualidade, como a publicidade do comérciopopular de cidades como Olinda. Não sobraram

exemplares desse tipo de arte, até para comparar-

mos com o que foi feito mais recentemente.” Para

ele, a pintura de tom popular ainda é mais difícil de

ser estudada historiograficamente e com variedade,

porque é pouco valorizada e tem menos consumo

nas regiões de origem. “A produção tridimensional

é mais fácil de ser vendida. As pinturas, além da

dificuldade em sua comercialização, necessitam

de muito mais estudo e de vivência para uma real

leitura. Por isso, muitos pintores ditos ingênuos

não têm uma obra de qualidade, que acaba sendoincensada inicialmente, mas que não se sustenta

mais em longo prazo.”

Anos 1940

Depois da Missão de Pesquisas Folclóricas, empre-

endida por Mário de Andrade em regiões menos

conhecidas do Norte e do Nordeste do País, em 1938,

Rugiero observa que a década seguinte terá iniciativas

que colocarão a arte popular novamente em destaque.

“José Claudino da Nóbrega (1909-1995) vai a

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GALERIA BRASILIANA

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NA PÁGINA AO LADO: VISTA GERAL DA GALERIA.EM DESTAQUE AS BONECAS DA ARTISTA

MARLIETE. AO LADO: O REALISMO MANEIRISTADE ZEZINHA COM SUAS FIGURAS FEMININAS 

Cuiabá e traz à tona o barroco de Cuiabá, que

não era visto nem estudado àquela época. Depois,

vai à região do São Francisco e descobre Mestre

Guarany (1884-1985), um gênio da escultura, com

suas carrancas. Na mesma década, Mestre Vitalino

(1909-1963) também é descoberto em Caruaru por

Augusto Rodrigues e vira uma celebridade, depois

de matéria na revista O Cruzeiro. E, no interiorde São Paulo, José Antônio da Silva (1909-1996)

também tem sua obra reconhecida.” Segundo o

galerista, os anos 60 serão outro tempo importante

para a arte popular, em especial pela atuação de

Lina Bo Bardi (1914-1992) à frente da criação de

um museu popular no Solar do Unhão, em Salva-

dor, fechado pelo regime militar e que hoje sedia

o MAM baiano.

Para Rugiero, o marco mais recente da valorização

da arte popular é a Mostra do Redescobrimento,

ocorrida em 2000 e que, em segmento organi-

zado por Emanoel Araújo, colocou em primeiro

plano obras feitas por internos de estabelecimentos

psiquiátricos, ex-votos e uma variedade de peças

criadas em diversas fontes menos eruditas e que,

por décadas, passaram à margem do sistema de

arte. “O mercado despertou-se novamente para a

arte popular”, considera ele.O galerista acredita que artistas valorizados na cena

contemporânea, como Efrain Almeida, já confir-

mado para a 29a Bienal de São Paulo, exposição que

começa em setembro, e Farnese de Andrade (1926-

1996), têm um forte lastro no popular, que faz com

que a potência da sua obra seja mais perceptível. “E

há casos mais antigos de artistas estabelecidos na

história da arte brasileira, como Tarsila do Amaral,

Anita Malfatti e Di Cavalcanti, com forte influência

dessa arte espontânea.”

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 A BIENAL DE 2010 PROMETE  algo há muitoesperado: uma potente discussão sobre a incon-

tornável relação entre arte e política. Sobretudo

depois da experiência ousada e fracassada da Bienal

anterior, a famigerada “Bienal do Vazio” – na qual

a proposição francamente política da curadoria se

esvaziou perante suas atitudes questionáveis, de

debates vazios, de festas sobre o nada, resultando

na imagem de uma cidade devastada (uma “Detroit”,

segundo Luiz Renato Martins), ou de mera “Bienal

Diet” (segundo Paulo Sérgio Duarte) –, é de política

mesmo que se espera tratar agora.

O que se deseja hoje, realmente, é que a nova Bienal

retome o que a anterior não arriscou: uma reflexão

consistente sobre o lugar da arte na nova configu-

ração mundial e, ao mesmo tempo, sobre a própria

instituição Fundação Bienal, esse glorioso resquício

do desenvolvimentismo, que há muito frequenta mais

as páginas policiais que as culturais. Salvo engano,

foi justamente esse desejo, e essa urgência, que

motivou os curadores atuais, Moacir dos Anjos e

 Agnaldo Farias (ambos brilhantes pensadores da artecontemporânea brasileira), a elaborar a proposta.

Mas “política” pode significar muita coisa. Pode ser

a prática da “polis”, pode ser a relação institucio-

nal própria ao campo artístico, pode ser a relação

com o Estado ou com o capital. O que os curadores

entenderão sobre o conceito só poderá ser avaliado

a partir das obras escolhidas e da maneira com que

elas se relacionarão ou não entre si e com a proposta

geral. Seja como for, essas escolhas serão duras e

 politicamente questionadas.

O QUE SE ESPERA É QUE APRÓXIMA BIENAL ARRISQUE

DOS CERCA DE 150 ARTISTAS ANUNCIADOS, 50 DELES SÃO BRASILEIROS.O QUE ISSO SIGNIFICA POLITICAMENTE?

POR FRANCISCO ALAMBERT

Um desses questionamentos, certamente, virá emfunção da escolha de um número enorme de artistas

nacionais. Dos cerca de 150 artistas anunciados,

50 deles são brasileiros. O que isso significa politi-

camente? Uma supervalorização da arte brasileira

(para gosto dos colecionadores)? Uma demonstra-

ção de que aqui, no campo da produção artística,

o vazio foi um engano? Um surto neonacionalista,

que acompanha o otimismo do acordo político que

sustenta o “lulismo” e a crença, tanto interna quanto

externa, de que o Brasil é o país do futuro? O palco do

Ibirapuera será o lugar dessas e de outras questões.

O que se pode apreender das escolhas anunciadas é

que elas são rigorosas do ponto de vista da qualidade

artística. Corretas, talvez até demais. Basicamente,

não há surpresas ou apostas surpreendentes.

Oiticica está lá, novamente. Espero que dessa vez

apresentado a partir daquilo que ele realmente foi:

um dos pensadores mais importantes da política das

artes (e não meramente um artista que “antecipou”

 procedimentos da arte contemporânea). Estão lá

também os “Antônios” (Dias e Manuel), Flavio deCarvalho, Paulo Bruscky (espero que dessa vez seja

mostrado o seu trabalho mais radical e não apenas

o seu peculiar e delicioso ateliê), Artur Barrio, Cildo

Meireles, Lygia Pape (que merece disputar com a

outra Lygia mais famosa seu lugar nos desdobra-

mentos radicais do neoconcretismo), Amélia Toledo,

Nelson Leirner.

 Jovens e brilhantes artistas já estabelecidos também

serão expostos à nova política da Bienal: Tatiana

Blass, Matheus Rocha Pitta, Graziela Kunsh (que têm

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OPINIÃO BIENAL SÃO PAULO 2010

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desenvolvido uma consequente reflexão sobre aarte e a cidade e a inter-relação entre coletivos de

artistas), além de Sara Ramo, Cinthia Marcelle e

Marilá Dardot, que já expuseram juntas na Galeria

Vermelho, em São Paulo.

Mas, certamente, a aposta mais ousada é a que

envolve a participação do coletivo Pixação, talvez

como um acerto de contas com os problemas da

Bienal passada. Não só por isso, é a mais “política”

(ou seja, a mais tensa) das apostas dos curadores,

uma vez que trazer o “pixo” para a Bienal pode ter

significações incontroláveis. A ira reacionária, porexemplo. Recentemente, a revista Veja anunciou

que a “Bienal abre as portas para o vandalismo

que pretende ser arte”. É de política bruta que

eles estão falando.

Francisco Alambert

Professor de História Social da Arte do Departamento de História daUSP. Escreveu, com Polyana Canhête, Bienais de São Paulo: daEra do Museu à Era dos Curadores (Editora Boitempo).

LYGIA PAPET TÉIA (DETALHE)FIO METALIZADO

DIMENSÕES VARIADAS [1979/2005]

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www.berlinbiennial.de

www.me-berlin.com

www.berlinerfestspiele.de

6ª BIENAL DE BERLIM

Inaugurada no dia 11 de junho, a Bienal de Berlim se

estende até 8 de agosto, apresentando uma mostra

compacta e incisiva sustentada por um claro fio con-

dutor de caráter sócio-político. A curadora Kathrin

Rhomberg reuniu 43 artistas internacionais em seis

locais distintos. A maior concentração das obras

pode ser vista no KW Institute for Contemporary

Art, no bairro de Mitte e no prédio abandonado

da Oranienplatz, 17 — local rodeado originalmente

por passeatas e manifestações, a exemplo dos usu-

ais protestos de 1o de maio. Esse palco subversivo

contracena com a Alte Nationalgalerie, onde estãoexpostos os desenhos de Adolph Menzel como parte

oficial da Bienal, enfatizando assim o seu traço

autêntico e contemporâneo, independentemente

do distanciamento temporal.

ME COLLECTORS ROOM BERLIN

Por iniciativa do colecionador Thomas Olbricht, foi inau-

gurado no dia 1o de maio um novo espaço de arte perma-

nente dedicado principalmente à apresentação de sua

coleção privada. Localizado na Auguststrasse, bairro de

Mitte, ao lado do KW – Kunst Werke, oferece aos visitantes

uma logística com livraria e cafeteria comparável a de

museus interna-

cionais. Colecio-

nador compulsivo

desde a infância,

Olbricht apre-

senta na primeira

mostra de sua

coleção, Passion

Fruits, até o dia

12 de setembro,

uma variedadeque parte de um

gabinete de curio-

sidades, composto

de diversas vitrines com objetos milenares distribuídos

em diversas categorias –exóticos, científicos, médicos,

entre outros. O vistoso cubo branco abriga uma seleção

única e subjetiva de obras de arte, incluindo mobiliário

dos irmãos Campana.

MARTIN GROPIUS BAU

Essa instituição se consagrou nos últimos anos pela

apresentação de mostras internacionais para ela

concebidas. Aqui, pode ser visto até o dia 9 de agosto

duas exposições imperdíveis.

Uma delas é a primeira mostra em uma instituição

berlinense de Olafur Eliasson, artista dinamarquês

que aqui reside há muitos anos. Sob curadoria deDaniel Birnbaum, o evento abriga obras que criam

um diálogo entre a cidade e o espaço interno. Para-

lelamente, ocorre também a retrospectiva de Frida

Kahlo, composta por 150 obras, incluindo pintura e

desenho, sob a curadoria de Helga Prignitz-Poda,

a mostra mais completa sobre a artista até então

realizada, unindo obras do México e Estados Unidos.

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ARTE! BERLIM

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Fundación Federico Jorge KlemmM. T. de Alvear, 626Buenos Aires – Argentinawww.fundacionfjklemm.org/contacto

Galeria Jorge Mara La rucheParaná, 1133Buenos Aires – [email protected]

Carla Rey Arte ContemporaneoHumbolt, 1478Buenos Aires-Argentinawww.carlarey-artecontemporaneo.blogspot.com

Fundación Proa Av. Pedro de Mendoza, 1929Buenos Aires – Argentinawww.proa.org

“SIN TITULO” 

EDUARDO STUPIA

Stupia é um dos artistas de maior destaque no cená-

rio da arte argentina atual. Desenhos, grafismos,

pinturas em branco e preto, nos quais o traço do

artista percorre o branco da superfície, deixando

marcas de grande riqueza e que circulam na estética

da galeria de Jorge Mara.

 SUJETO Y PALABRA

JULIO ALAN LEPEZ

Excelente realização com

olhar irônico. O homem

retratado por Lepez é um

 jovem urbano nas nossas

cidades globalizadas. É

uma obra inquietante, com

referências ambientais e

temporais. Na exposição, o

artista brinca com as entreli-nhas que o espectador pode

desfrutar.

EL UNIVERSO FUTURISTA: 1909 – 1936

Uma exposição histórica com quase 200 obras da Cole-

ção do Museu de Arte Moderno e Contemporâneo de

Trento e curadoria de Gabriella Belli. Esta exibição toma

quatro salas, cada uma com identidade própria e com

a capacidade criativa das vanguardas.

MIRADAS NÓMADES

CURADORA PILAR ALTILIO

Três olhares: Michel Riehl, Nicolás Ferrando, Sergio

Guerrero. Três fotógrafos que viajam e se apro-

ximam do mundo que os surpreende. Culturas e

projetos diferentes que se associam nesta exposição

para criar redes de cumplicidade entre o artista e o

observador. Como diz a curadora em seu texto de

apresentação: “Um percurso fugaz pelo universo

em constante construção”.

ARTE! BUENOS AIRES

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Disposable: nostalgia for the still imageDina Mitrani Gallery

 Até 28.82620 NW 2nd. Ave. - Miami, Fl 33127

Small wonders (art) salon - Summer FundraisingProject

 Artformz Alternative Até 20.8171 NW 23rd Street - Miami, FL 33127 

Volf Roitman: From MADI to The Ludic RevolutionFrost Art Museum

 Até 29.810975 SW 17th Street - Miami, FL 33199

Claire Fontaine: EconomiesMuseum os Contemporary Art, North Miami

 Até 22.8 Joan Lehman Building / 770 NE 125th Street -North Miami, Florida 33161

DISPOSABLE: NOSTALGIA FOR THE STILL IMAGE

A mostra faz uma conexão entre o filme de câmera

à qualidade descartável agora associada ao trata-

mento digital. Oito fotógrafos apresentam trabalhos

que trazem a relação entre memória e fotografia

com a digitalização de imagens – e suas conseqüên-

cias. A exposição conta com pontos de vista que

analisam a chegada da revolução digital: a perda

da nostalgia associada à documentação visual de

lugares, pessoas e objetos. Integram o time: Danielle

Bender, Luis Lazo, Abner Nolan, Samantha Salzinger,

Humberto Torres, Colleen Plumb e Kyle Ford.

PEQUENAS MARAVILHAS

Sessenta e dois artistas locais

recheiam o espaço da Galeria

Artformz Alternative com peque-

nas obras de arte. A mostra trata-

se de um evento experimental,

onde artistas das mais diversas

áreas expõem seus mais recentes

trabalhos. Serão explorados os

mais variados meios, incluindo pin-tura, desenho, colagem, escultura,

cerâmica e gravura. Uma instala-

ção cobrirá toda a parede da Gale-

ria, dando à exposição expressões

diversas.

VOLF ROITMAN

A comemoração dos 60 anos de carreira do artista uru-

guaio Volf Roitman traz a Miami a exposição From MADI

to The Ludic Revolution. Roitman mostra versatilidade

no mundo das artes, passando por pintura, escultura,

arquitetura, humor etc. - e tudo pode ser conferido na

mostra, que reúne peças do artista dos anos 50 até os

dias de hoje.

CLAIRE FONTAINE: ECONOMIES

Claire Fontaine apresenta anti-

gos trabalhos, incluindo escul-

turas, peças de luz, vídeos e tex-

tos, além de suas novas inter-

venções. A exposição conta com

uma sala de projeção de vídeos

e filmes que influenciaram o trabalho da artista.Claire Fontaine é ligada nos modos colaborativos

de trabalho e questionamento das possibilidades

para a mudança social, explora políticas, teorias e

artistas da década de 1960 da Europa e dos Estados

Unidos, brincando com esse legado.

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ARTE! MIAMI

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Uma vida extraordinária.Um homem extraordinário.

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