brasil é o país que mais pune no mundo

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3 FOLHA DE LONDRINA, domingo, 15 de julho de 2012 Entrevista ‘Como uma deusa...’ Sempre lembrada pelo refrão ‘‘Como uma deu- sa...’’, a cantora Rosanah Fienngo agora quer ser reconhecida como vereadora. Ela é candidata a uma vaga na Câmara Municipal do Rio pelo Parti- do Comunista do Brasil (PCdoB). A campanha co- meçou há duas semanas, com uma visita da intér- prete do hit da década de 80 ‘‘O amor e o poder’’ à Cidade do Samba para divulgar seu nome na co- munidade do carnaval. Chegou escoltada por um assessor, que a auxiliou nos temas vinculados à eleição. Se espelhando em Getúlio Vargas Diante de uma pergunta sobre as referências da cantora no mundo político, ele deu a dica: ‘‘Rosa- nah, não fala mal de ninguém’’. Após soltar uma ri- sada, ela respondeu: ‘‘Estou me espelhando em Getúlio Vargas. Como política, quero seguir a mes- ma trajetória dele, mas com uma diferença: não vou me suicidar no final’’. O fato de Getúlio ter combatido os comunistas é contemporizado pela candidata do PCdoB, que adota um discurso con- ciliador. ‘‘Sou uma pessoa eclética a nível de opi- nião. Acho que todos os partidos têm o seu valor. Tem muita gente capacitada na política’’, avaliou. Rosanah com ‘h’ Desde 2009, Rosanah passou a assinar seu no- me com ‘‘h’’ no final. ‘‘Sonhei com um anjo que in- dicou como deveria ser escrito.’’ Já a idade da cantora quase virou caso na Justiça. Ela cogitou processar o Google porque páginas da internet in- dicavam que ela tinha 58 anos. ‘‘Tenho 44 anos. Nasci em 1968. Mas já resolvi essa questão’’, en- cerrou Rosanah. Propostas para o mandato de ve- readora, ela ainda não definiu. ‘‘Assim que elabo- rar meus projetos, mando para o seu email’’, pro- meteu a cantora. Desistência em Londrina Londrina registrou a primeira desistência de can- didato a vereador para as eleições de outubro. O coordenador de esportes da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), Luiz Carlos de Assis Car- doso (PSDB), renunciou à candidatura. O PSDB deve se reunir amanhã para decidir quem vai assu- mir a vaga deixada por Luiz Carlos da AABB. ‘‘Ele teve que sair por problemas de saúde na família. Agora, vamos avaliar os vários nomes que ficaram de fora e decidir o substituto’’, adiantou o presi- dente do diretório municipal do PSDB, Éder Pimen- ta, em entrevista ao Bonde. Condenações O Ministério Público Federal (MPF) em Cascavel obteve sentença favorável em ação civil pública de improbidade administrativa movida contra o ex- prefeito de Formosa do Oeste (Oeste) Shiguemi Kiara, o ex-presidente do Programa do Voluntaria- do Paranaense (Provopar) Osami Sassaki Kiara e o ex-tesoureiro do Município Carlos Luiz dos Santos. Os réus foram condenados, entre outras penas, à perda da função pública, ressarcimento integral pelo dano causado ao erário, suspensão dos direi- tos políticos por 8 anos e proibição de contratar com o poder público. Irregularidades A condenação, segundo o MPF, ocorreu por ‘‘diversas irregularidades’’ cometidas durante a administração do ex-prefeito Shiguemi, referentes a 16 programas do governo federal. Entre as irre- gularidades, aponta o MPF, houve direcionamento de licitações e pagamento de empenhos sem a prestação dos serviços. A defesa recorreu contra a sentença. TAC contra ‘poluição eleitoral’ O Ministério Público de Santa Helena (Oeste) e a Justiça local firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com os representantes dos par- tidos políticos no município para que as legendas e coligações cumpram determinadas normas, com o objetivo de evitar a poluição sonora e visual na ci- dade durante a campanha eleitoral deste ano. De acordo com o TAC, as coligações e partidos se comprometem a não realizar carreatas, nem utilizar bandeiras e placas. Em caso de descumprimento do TAC, o partido ou coligação terá o prazo de uma hora para cumprir a ordem de regularização do compromisso. O descumprimento do acordo impli- ca no pagamento de multa, no valor de R$ 5 mil. Um termo de compromisso semelhante também foi assinado em Matinhos (Litoral). Nome do cônjuge nas faturas O deputado estadual Professor Lemos (PT) apresentou projeto de lei que assegura ao cônjuge do consumidor de serviços públicos de abasteci- mento de água, telefonia, distribuição de energia elétrica e gás o direito de solicitar a inclusão do seu nome como adicional na fatura mensal de con- sumo, como forma de atestar a sua residência. Se- gundo o petista, o direito deve ser estendido tam- bém aos que vivem em união estável. ‘‘O constran- gimento de não possuir em seu nome um compro- vante de residência afeta um enorme número de pessoas’’, disse ele. A proposta deve ser analisada na volta do recesso, em agosto. INFORME FOLHA CRIME E CASTIGO ‘Somos o país que mais pune no mundo’ Criminalista critica reforma do Código Penal sugerida por comissão de juristas; aprovação depende do Senado Vítor Ogawa Reportagem Local A comissão de juristas res- ponsável pela elaboração do anteprojeto de reforma do Código Penal priorizou o au- mento do rigor das penas para conter a violência crescente no País. E não foi só o rigor que au- mentou. Cresceu também o nú- mero de crimes tipificados, o que vai na contramão do que é feito em outros países. A avaliação é do professor de Direito Penal e Criminologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Juarez Cirino dos San- tos. Para ele, o resultado do tra- balho deixou a desejar porque faltou legitimidade ao grupo constituído para elaborar o texto. ‘‘Faltou uma ampla discus- são popular, nas associações de bairro, nos sindicatos, nos partidos políticos, na academia, nos institutos e nos congres- sos. Essa comissão de juristas ficou um convescote de pes- soas que decidiram o que é cri- me ou não e ninguém discutiu isso’’, critica Santos, que iniciou a carreira como professor na Universidade Estadual de Lon- drina (UEL), fez mestrado e doutorado no Rio de Janeiro e pós-doutorado na Alemanha. Entre as alterações propos- tas estão assuntos polêmicos, como a transformação dos jo- gos de azar em crime, descri- minalização do plantio e do porte de maconha para con- sumo, ampliação de possibili- dades de aborto legal e refor- ço da punição a motoristas embriagados. O projeto de re- forma do Código Penal - o que está em vigor é de 1937 - está em tramitação no Senado. Qual a sua avaliação so- bre as alterações propostas pela comissão de juristas para o anteprojeto do Novo Código Penal? Em geral o projeto é punitivo, é mais repressivo que o anterior. É um projeto que acredita na pe- na como forma de combate à criminalidade, quando ninguém mais em criminologia acredita nisso. Claro que o projeto tem algumas qualidades, mas se é para fazer esse tipo de mudan- ça é melhor deixar como está. O que faltou na elabora- ção do projeto? Faltaram criminólogos reco- nhecidos por sua competência, pelo seu conhecimento. Na co- missão que analisou as propos- tas estavam juízes e pessoas que normalmente acreditam na pena para resolver o problema da criminalidade. Nós propo- mos não a ampliação do estatu- to penal, mas uma redução. Ho- je se fala em Direito Penal míni- mo, que deve ser reduzido para defender os direitos fundamen- tais como o direito à vida, à liber- dade, à sexualidade, à idoneida- de pessoal. O resto deveria ir para o Direito Administrativo e para o Direito Civil. Também faltou uma ampla discussão popular, nas asso- ciações de bairro, nos sindica- tos, nos partidos políticos, na academia, nos institutos e nos congressos. Essa comissão de juristas ficou um convesco- te de pessoas que decidiram o que é crime ou não e ninguém discutiu isso. Isso faz com que haja uma falta de legitimidade. Quais foram as mudanças em relação aos crimes he- diondos? Agora nós temos muito mais crimes hediondos. Homicídio qualificado, latrocínio, extorsão qualificada com resultado de morte, extorsão mediante se- questro, estupro, estupro de vulnerável, epidemia com resul- tado de morte, falsificação de medicamentos e produtos simi- lares, condição análoga à es- cravidão, tortura, terrorismo, tráfico de drogas (a menos que seja primário tenha bons ante- cedentes e não se dedique à atividade criminosa), racismo, tráfico de pessoas, crimes con- tra a humanidade. Praticamen- te tudo virou crime hediondo. Depois de tanto tempo que inauguramos essa categoria, os crimes hediondos aumenta- ram e não só quantitativamen- te, mas também proporcional- mente. Essa ideologia penal ou punitiva de combater a crimina- lidade com penas está errada. Há um excesso de artigos no novo Código Penal? O anteprojeto prevê 543 arti- gos contra os 360 artigos do Código Penal atual. Temos qua- se 200 artigos a mais. Apesar de serem muitos artigos, isso representa um avanço no senti- do de que atende ao princípio da codificação. Todo crime tem que ser previsto em uma lei que determine o comportamento criminoso e estabelece uma pena para esse comportamen- to. Essas definições legais de crimes e suas punições têm que estar no Código Penal e não em leis especiais que nem os especialistas conhecem. Temos 543 artigos, mas que na realidade são muito mais. Na Itália fizeram um levantamento e constataram que havia 6 mil ti- pos de crimes. Aqui nós fize- mos um estudo que constatou 2,6 mil tipos de crimes e cada um se desdobra em três crimes diferentes e isso vai dar mais do que os 6 mil crimes tipificados na Itália. Quem é capaz de sa- ber o que é crime ou não? Esse é o grande problema. Mas isso vai melhorar ou piorar? Se isso vem para mal ou para bem eu não sei. Mas eu acredito que quanto mais se criminaliza pior fica, mas isso só o tempo vai dizer. Entraram também no- vas categorias de crimes que fo- ram incluídas exatamente da mesma forma que a legislação extravagante veio para o Código Penal. Agora teremos os crimes cibernéticos tipificados com to- da essa questão da informática e dos computadores. As pessoas sempre recla- mam da impunidade na Jus- tiça brasileira. Como fica com o novo Código Penal? Somos o país que mais pune no mundo. O crescimento da população carcerária no Brasil foi o maior do planeta nos últi- mos 20 anos. Nós punimos mais do que qualquer outro País, mais até do que os Esta- dos Unidos. Eles quintuplica- ram a sua população carcerária em 30 anos e nós quintuplica- mos em 20 anos. Impunidade aqui é o que não existe. Mas não se resolve o problema da criminalidade por aqui, porque isso não se resolve com pena. Enquanto não resolvermos o problema da marginalização, da miséria, dessa vida abaixo da linha da pobreza absoluta, enquanto não integrarmos essa população, enquanto não su- perarmos a sociedade desi- gual, injusta e desumana, não vamos resolver o problema da criminalidade. Os meios de co- municação não tomam conhe- cimento disso. A exigência é de cada vez mais punição, de ca- da vez mais pena, mas isso é uma loucura. O sistema que criamos para combater a crimi- nalidade é um sistema crimino- gênico. Ele reproduz e amplia a criminalidade. As alterações terão impac- to no sistema prisional? As instituições penais ficarão cada vez mais superlotadas por- que as alterações propõem difi- cultar a mudança de regime pri- sional. A progressão do regime agora exige o ‘‘bom convívio social’’, além do bom comporta- mento carcerário. Eu não sei co- ENTREVIST ENTREVISTA Juarez Cirino dos Santos Advogado Crescimento da população carcerária foi o maior do planeta nos últimos 20 anos Todo crime tem que ser previsto em uma lei que determine o comportamento criminoso [email protected] Equipe da Folha com Agências [email protected] Theo Marques mo vai se provar isso. É uma exi- gência que não deveria ter sido feita. Nos prazos de progressão do regime do mais grave para o menos grave há uma valoriza- ção excessiva da reincidência, que acaba influenciando muito essa questão da progressão dos regimes, mas se existe a reincidência significa que o Esta- do está falhando na execução do projeto corretivo da prisão, de ressocialização e reeduca- ção do preso. Então a responsa- bilidade não deveria recair sobre o preso, mas sobre o Estado. Em muitos aspectos essas alte- rações vão impedir os direitos dos condenados. O que vai acontecer se o Senado aprovar esse Códi- go da maneira como está? Ele não pode ser aprovado da maneira como está. Ele tem problemas conceituais muito sé- rios, tem desarranjos científicos e sistemáticos e que correspon- dem aos anseios de um ou ou- tro membro da comissão. O pro- blema é que cada um dos mem- bros da comissão ficou respon- sável por uma parte e depois juntou o texto e ficou um mons- trengo. Está longe de uma filo- sofia, de um programa político coerente. Se aprovado como está teremos problemas sérios. Estamos perdendo a oportuni- dade de fazer uma reforma pe- nal efetiva, que não fosse mera- mente cosmética e que não fos- se mais punitiva do que a lei pe- nal que nós temos. Se ele trouxe alguns aspectos positivos, que são inegáveis, a quantidade de aspectos negativos que ele apresenta não compensa os as- pectos positivos. Como deveria ser, na sua visão, o novo Código Penal? Em primeiro lugar se os cri- minólogos e penalistas da co- missão de juristas tivessem uma visão avançada e progres- sista o novo Código não teria esse caráter repressivo e puniti- vo e não teria essa quantidade de artigos. Deveria ser um Có- digo Penal reduzido à proteção de bens jurídicos individuais. Os bens jurídicos do Estado e da comunidade (que deveriam fazer parte do direito adminis- trativo e cível) não fariam parte deste estatuto repressivo. E co- mo a pena é o instrumento mais inadequado para combater a criminalidade as penas não te- riam essa extensão, seriam bem menores. O Direito Penal ainda tem um papel a cumprir nesses crimes que lesionam os direitos humanos fundamentais como o direito à vida, à integri- dade, à sexualidade. Essa seria a nossa concepção.

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"Somos o país que mais pune no mundo. O crescimento da população carcerária no Brasil foi o maior do planeta nos últimos 20 anos. Nós punimos mais do que qualquer outro País, mais até do que os Estados Unidos. Eles quintuplicaram a sua população carcerária em 30 anos e nós quintuplicamos em 20 anos. Impunidade aqui é o que não existe. Mas não se resolve o problema da criminalidade por aqui, porque isso não se resolve com pena."(...)"Ele não pode ser aprovado da maneira como está. Ele tem problemas conceituais muito sérios, tem desarranjos científicos e sistemáticos e que correspondem aos anseios de um ou outro membro da comissão. O problema é que cada um dos membros da comissão ficou responsável por uma parte e depois juntou o texto e ficou um monstrengo."

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Page 1: Brasil é o país que mais pune no mundo

3FOLHA DE LONDRINA, domingo, 15 de julho de 2012 Entrevista

‘Como uma deusa...’Sempre lembrada pelo refrão ‘‘Como uma deu-

sa...’’, a cantora Rosanah Fienngo agora quer serreconhecida como vereadora. Ela é candidata auma vaga na Câmara Municipal do Rio pelo Parti-do Comunista do Brasil (PCdoB). A campanha co-meçou há duas semanas, com uma visita da intér-prete do hit da década de 80 ‘‘O amor e o poder’’à Cidade do Samba para divulgar seu nome na co-munidade do carnaval. Chegou escoltada por umassessor, que a auxiliou nos temas vinculados àeleição.

Se espelhando em Getúlio VargasDiante de uma pergunta sobre as referências da

cantora no mundo político, ele deu a dica: ‘‘Rosa-nah, não fala mal de ninguém’’. Após soltar uma ri-sada, ela respondeu: ‘‘Estou me espelhando emGetúlio Vargas. Como política, quero seguir a mes-ma trajetória dele, mas com uma diferença: nãovou me suicidar no final’’. O fato de Getúlio tercombatido os comunistas é contemporizado pelacandidata do PCdoB, que adota um discurso con-ciliador. ‘‘Sou uma pessoa eclética a nível de opi-nião. Acho que todos os partidos têm o seu valor.Tem muita gente capacitada na política’’, avaliou.

Rosanah com ‘h’Desde 2009, Rosanah passou a assinar seu no-

me com ‘‘h’’ no final. ‘‘Sonhei com um anjo que in-dicou como deveria ser escrito.’’ Já a idade dacantora quase virou caso na Justiça. Ela cogitouprocessar o Google porque páginas da internet in-dicavam que ela tinha 58 anos. ‘‘Tenho 44 anos.Nasci em 1968. Mas já resolvi essa questão’’, en-cerrou Rosanah. Propostas para o mandato de ve-readora, ela ainda não definiu. ‘‘Assim que elabo-rar meus projetos, mando para o seu email’’, pro-meteu a cantora.

Desistência em LondrinaLondrina registrou a primeira desistência de can-

didato a vereador para as eleições de outubro. Ocoordenador de esportes da Associação AtléticaBanco do Brasil (AABB), Luiz Carlos de Assis Car-doso (PSDB), renunciou à candidatura. O PSDBdeve se reunir amanhã para decidir quem vai assu-mir a vaga deixada por Luiz Carlos da AABB. ‘‘Eleteve que sair por problemas de saúde na família.Agora, vamos avaliar os vários nomes que ficaramde fora e decidir o substituto’’, adiantou o presi-dente do diretório municipal do PSDB, Éder Pimen-ta, em entrevista ao Bonde.

CondenaçõesO Ministério Público Federal (MPF) em Cascavel

obteve sentença favorável em ação civil pública deimprobidade administrativa movida contra o ex-prefeito de Formosa do Oeste (Oeste) ShiguemiKiara, o ex-presidente do Programa do Voluntaria-do Paranaense (Provopar) Osami Sassaki Kiara e oex-tesoureiro do Município Carlos Luiz dos Santos.Os réus foram condenados, entre outras penas, àperda da função pública, ressarcimento integralpelo dano causado ao erário, suspensão dos direi-tos políticos por 8 anos e proibição de contratarcom o poder público.

IrregularidadesA condenação, segundo o MPF, ocorreu por

‘‘diversas irregularidades’’ cometidas durante aadministração do ex-prefeito Shiguemi, referentesa 16 programas do governo federal. Entre as irre-gularidades, aponta o MPF, houve direcionamentode licitações e pagamento de empenhos sem aprestação dos serviços. A defesa recorreu contraa sentença.

TAC contra ‘poluição eleitoral’O Ministério Público de Santa Helena (Oeste) e a

Justiça local firmaram um Termo de Ajustamentode Conduta (TAC) com os representantes dos par-tidos políticos no município para que as legendas ecoligações cumpram determinadas normas, com oobjetivo de evitar a poluição sonora e visual na ci-dade durante a campanha eleitoral deste ano. Deacordo com o TAC, as coligações e partidos secomprometem a não realizar carreatas, nem utilizarbandeiras e placas. Em caso de descumprimentodo TAC, o partido ou coligação terá o prazo de umahora para cumprir a ordem de regularização docompromisso. O descumprimento do acordo impli-ca no pagamento de multa, no valor de R$ 5 mil.

■ Um termo de compromisso semelhante tambémfoi assinado em Matinhos (Litoral).

Nome do cônjuge nas faturasO deputado estadual Professor Lemos (PT)

apresentou projeto de lei que assegura ao cônjugedo consumidor de serviços públicos de abasteci-mento de água, telefonia, distribuição de energiaelétrica e gás o direito de solicitar a inclusão doseu nome como adicional na fatura mensal de con-sumo, como forma de atestar a sua residência. Se-gundo o petista, o direito deve ser estendido tam-bém aos que vivem em união estável. ‘‘O constran-gimento de não possuir em seu nome um compro-vante de residência afeta um enorme número depessoas’’, disse ele. A proposta deve ser analisadana volta do recesso, em agosto.

INFORME FOLHA CRIME E CASTIGO

‘Somos o país quemais pune no mundo’

Criminalista critica reforma do Código Penalsugerida por comissão de juristas;

aprovação depende do Senado

Vítor OgawaReportagem Local

Acomissão de juristas res-ponsável pela elaboraçãodo anteprojeto de reforma

do Código Penal priorizou o au-mento do rigor das penas paraconter a violência crescente noPaís. E não foi só o rigor que au-mentou. Cresceu também o nú-mero de crimes tipificados, oque vai na contramão do que éfeito em outros países.

A avaliação é do professor deDireito Penal e Criminologia daUniversidade Federal do Paraná(UFPR) Juarez Cirino dos San-tos. Para ele, o resultado do tra-balho deixou a desejar porquefaltou legitimidade ao grupoconstituído para elaborar o texto.

‘‘Faltou uma ampla discus-são popular, nas associaçõesde bairro, nos sindicatos, nospartidos políticos, na academia,nos institutos e nos congres-sos. Essa comissão de juristasficou um convescote de pes-soas que decidiram o que é cri-me ou não e ninguém discutiuisso’’, critica Santos, que inicioua carreira como professor naUniversidade Estadual de Lon-drina (UEL), fez mestrado edoutorado no Rio de Janeiro epós-doutorado na Alemanha.

Entre as alterações propos-tas estão assuntos polêmicos,como a transformação dos jo-gos de azar em crime, descri-minalização do plantio e doporte de maconha para con-sumo, ampliação de possibili-dades de aborto legal e refor-ço da punição a motoristasembriagados. O projeto de re-forma do Código Penal - o queestá em vigor é de 1937 - estáem tramitação no Senado.

Qual a sua avaliação so-bre as alterações propostaspela comissão de juristaspara o anteprojeto do NovoCódigo Penal?

Em geral o projeto é punitivo,é mais repressivo que o anterior.É um projeto que acredita na pe-na como forma de combate àcriminalidade, quando ninguémmais em criminologia acreditanisso. Claro que o projeto temalgumas qualidades, mas se épara fazer esse tipo de mudan-ça é melhor deixar como está.

O que faltou na elabora-ção do projeto?

Faltaram criminólogos reco-nhecidos por sua competência,pelo seu conhecimento. Na co-missão que analisou as propos-tas estavam juízes e pessoasque normalmente acreditam napena para resolver o problemada criminalidade. Nós propo-mos não a ampliação do estatu-to penal, mas uma redução. Ho-je se fala em Direito Penal míni-mo, que deve ser reduzido paradefender os direitos fundamen-tais como o direito à vida, à liber-dade, à sexualidade, à idoneida-de pessoal. O resto deveria irpara o Direito Administrativo epara o Direito Civil.

Também faltou uma ampladiscussão popular, nas asso-ciações de bairro, nos sindica-tos, nos partidos políticos, naacademia, nos institutos e noscongressos. Essa comissãode juristas ficou um convesco-te de pessoas que decidiram oque é crime ou não e ninguémdiscutiu isso. Isso faz com quehaja uma falta de legitimidade.

Quais foram as mudançasem relação aos crimes he-diondos?

Agora nós temos muito maiscrimes hediondos. Homicídioqualificado, latrocínio, extorsãoqualificada com resultado demorte, extorsão mediante se-

questro, estupro, estupro devulnerável, epidemia com resul-tado de morte, falsificação demedicamentos e produtos simi-lares, condição análoga à es-cravidão, tortura, terrorismo,tráfico de drogas (a menos queseja primário tenha bons ante-cedentes e não se dedique àatividade criminosa), racismo,tráfico de pessoas, crimes con-tra a humanidade. Praticamen-te tudo virou crime hediondo.Depois de tanto tempo queinauguramos essa categoria,os crimes hediondos aumenta-ram e não só quantitativamen-te, mas também proporcional-mente. Essa ideologia penal oupunitiva de combater a crimina-lidade com penas está errada.

Há um excesso de artigosno novo Código Penal?

O anteprojeto prevê 543 arti-gos contra os 360 artigos doCódigo Penal atual. Temos qua-se 200 artigos a mais. Apesarde serem muitos artigos, issorepresenta um avanço no senti-do de que atende ao princípioda codificação. Todo crime temque ser previsto em uma lei quedetermine o comportamentocriminoso e estabelece umapena para esse comportamen-to. Essas definições legais decrimes e suas punições têmque estar no Código Penal enão em leis especiais que nemos especialistas conhecem.

Temos 543 artigos, mas quena realidade são muito mais. NaItália fizeram um levantamento econstataram que havia 6 mil ti-pos de crimes. Aqui nós fize-mos um estudo que constatou2,6 mil tipos de crimes e cadaum se desdobra em três crimesdiferentes e isso vai dar mais doque os 6 mil crimes tipificadosna Itália. Quem é capaz de sa-ber o que é crime ou não? Esseé o grande problema.

Mas isso vai melhorar oupiorar?

Se isso vem para mal ou parabem eu não sei. Mas eu acreditoque quanto mais se criminaliza

pior fica, mas isso só o tempovai dizer. Entraram também no-vas categorias de crimes que fo-ram incluídas exatamente damesma forma que a legislaçãoextravagante veio para o CódigoPenal. Agora teremos os crimescibernéticos tipificados com to-da essa questão da informáticae dos computadores.

As pessoas sempre recla-mam da impunidade na Jus-tiça brasileira. Como ficacom o novo Código Penal?

Somos o país que mais puneno mundo. O crescimento dapopulação carcerária no Brasilfoi o maior do planeta nos últi-mos 20 anos. Nós punimosmais do que qualquer outroPaís, mais até do que os Esta-dos Unidos. Eles quintuplica-ram a sua população carceráriaem 30 anos e nós quintuplica-mos em 20 anos. Impunidadeaqui é o que não existe. Masnão se resolve o problema dacriminalidade por aqui, porqueisso não se resolve com pena.Enquanto não resolvermos oproblema da marginalização,da miséria, dessa vida abaixoda linha da pobreza absoluta,enquanto não integrarmos essapopulação, enquanto não su-perarmos a sociedade desi-gual, injusta e desumana, nãovamos resolver o problema dacriminalidade. Os meios de co-municação não tomam conhe-cimento disso. A exigência é decada vez mais punição, de ca-da vez mais pena, mas isso éuma loucura. O sistema quecriamos para combater a crimi-nalidade é um sistema crimino-gênico. Ele reproduz e amplia acriminalidade.

As alterações terão impac-to no sistema prisional?

As instituições penais ficarãocada vez mais superlotadas por-que as alterações propõem difi-cultar a mudança de regime pri-sional. A progressão do regimeagora exige o ‘‘bom convíviosocial’’, além do bom comporta-mento carcerário. Eu não sei co-

ENTREVISTENTREVISTAAJuarez Cirino dos SantosAdvogado

❜Crescimento da população

carcerária foi o maior do planetanos últimos 20 anos

❜Todo crime tem que ser previsto

em uma lei que determineo comportamento criminoso

[email protected]

Equipe da Folha com Agê[email protected]

Theo Marques

mo vai se provar isso. É uma exi-gência que não deveria ter sidofeita. Nos prazos de progressãodo regime do mais grave para omenos grave há uma valoriza-ção excessiva da reincidência,que acaba influenciando muitoessa questão da progressãodos regimes, mas se existe areincidência significa que o Esta-do está falhando na execuçãodo projeto corretivo da prisão,de ressocialização e reeduca-ção do preso. Então a responsa-bilidade não deveria recair sobreo preso, mas sobre o Estado.Em muitos aspectos essas alte-rações vão impedir os direitosdos condenados.

O que vai acontecer se oSenado aprovar esse Códi-go da maneira como está?

Ele não pode ser aprovadoda maneira como está. Ele temproblemas conceituais muito sé-rios, tem desarranjos científicose sistemáticos e que correspon-dem aos anseios de um ou ou-tro membro da comissão. O pro-blema é que cada um dos mem-bros da comissão ficou respon-sável por uma parte e depoisjuntou o texto e ficou um mons-trengo. Está longe de uma filo-sofia, de um programa políticocoerente. Se aprovado comoestá teremos problemas sérios.Estamos perdendo a oportuni-dade de fazer uma reforma pe-nal efetiva, que não fosse mera-mente cosmética e que não fos-se mais punitiva do que a lei pe-nal que nós temos. Se ele trouxealguns aspectos positivos, quesão inegáveis, a quantidade deaspectos negativos que eleapresenta não compensa os as-pectos positivos.

Como deveria ser, na suavisão, o novo Código Penal?

Em primeiro lugar se os cri-minólogos e penalistas da co-missão de juristas tivessemuma visão avançada e progres-sista o novo Código não teriaesse caráter repressivo e puniti-vo e não teria essa quantidadede artigos. Deveria ser um Có-digo Penal reduzido à proteçãode bens jurídicos individuais.Os bens jurídicos do Estado eda comunidade (que deveriamfazer parte do direito adminis-trativo e cível) não fariam partedeste estatuto repressivo. E co-mo a pena é o instrumento maisinadequado para combater acriminalidade as penas não te-riam essa extensão, seriambem menores. O Direito Penalainda tem um papel a cumprirnesses crimes que lesionam osdireitos humanos fundamentaiscomo o direito à vida, à integri-dade, à sexualidade. Essa seriaa nossa concepção.

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