[br a - 1] caderno 2/caderno2/pÁginas 16/11/12 · em de 06 a 16 de 06 a ... 1º bailarino teatro...

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Grupo festeja dez anos com repertório marcado pela inquietação e criatividade REVOLTA DAS LANTEJOULAS Dança. Em Cartaz MAPA MOVEDIÇO Teatro Cacilda Becker. Rua Tito, 295, Lapa, 3864-4513. Hoje e amanhã, às 21 h; dom., às 19 h. Grátis. Ângelo Madureira e Ana Catari- na Vieira iniciaram a comemora- ção dos dez anos de sua compa- nhia com uma programação no Sesc Santana, semana passada, que reuniu três obras de seu per- curso: o primeiro solo de Ângelo Madureira, Delírio (1999), cria- do antes da fundação do grupo; A Revolta da Lantejoula (2011); e fechando a mini temporada, a nova criação, Mapa Movediço. Ho- je, a nova obra entra em tempora- da no Teatro Cacilda Becker, on- de se apresenta até domingo. Mostradas numa sequência, as três produções puderam tra- çar o arco que abriga o ponto de onde partiram e onde ele foi dar, tornando claro o atual mo- mento da sua pesquisa. Nele se destaca uma coerência que se transforma em uma força de coesão que vai atando tudo, do começo até aqui. Delírio já aponta para a inquie- tação que viria a se transformar na marca da dupla: tratar com a lógica da dança contemporânea os materiais da dança popular que marcaram a formação de Ân- gelo Madureira, no Recife. Aos poucos, esse trânsito entre os dois mundos foi dando nasci- mento a um vocabulário assina- do por Ana Catarina (que tem formação em balé clássico) e por Ângelo, hoje compartilhado tam- bém por Patrícia Aockio, Luiz Anastácio e Beto Madureira, bai- larinos que os têm acompanha- do nos trabalhos em grupo (a eles acaba de se juntar Juliana Au- gusta Vieira). Dos muitos tratamentos da- dos ao rico material que foram inventando, parece ter emergi- do, em A Revolta da Lantejoula e Mapa Movediço, uma discussão mais ampla, que diz respeito aos fazeres próprios da dança. Ela aparece na forma de mate- rial artístico mesmo, e não de um tema, na forma de uma me- táfora que pode ser chamada de ‘corpo-lantejoula’. No Revolta, o objeto lantejou- la havia aparecido e nos feito pensar na relação “um-mui- tos” que está nele implícita. Afi- nal, uma lantejoula se faz no- tar, mas ela, geralmente, fun- ciona quando está reunida no conjunto de muitas outras. As metáforas da solidariedade e do estar junto são quase instan- tâneas, no seu caso. Agora, no Mapa Movediço,alan- tejoula deixou de ser objeto para virar sujeito, que, na forma de um corpo-lantejoula, agora con- duz tudo. Aparece no chão cober- to de ilhas de lantejoula, que vão sendo desfeitas pelo caminhar dos bailarinos. Um chão-corpo- lantejoula que deixa de ser plano e convida ao tropeço. O cami- nhar constante do elenco passa a desenhar mapas sempre diferen- tes, que brotam dos sons que vão sendo produzidos pela fricção pé-lantejoula-chão. Mas eles nunca ficam prontos, estão sem- pre mudando. Por mais que o grupo faça, as lantejoulas não ficam organiza- das: elas escapam, borram qual- quer possibilidade de compor um mapa de contornos está- veis. Mesmo quando todos os bailarinos se dedicam a uma mesma tarefa (exemplo: em- purrá-las para um mesmo lu- gar), não conseguem completá- la. As lantejoulas continuam a escorrer, não se submetem. Ninguém dá conta delas, nem mesmo quando tentam aplicá- las na própria pele. A força simbólica da associa- ção da lantejoula com a cultura popular se impõe. Suas cores e brilhos mantêm presente essa re- ferência, mas também a modifi- cam, fazendo dela um rastro tão mutante quanto o das trilhas que vão sendo desenhadas e apa- gadas pelo chão dos percursos. Neste Mapa Movediço – que óti- mo nome para indicar do que tra- ta essa criação – não mais conse- guimos encontrar as habituais delimitações entre contemporâ- neo e popular. Estamos no corte- jo instalado pelo corpo-lantejou- la, esse tipo de corpo que precisa dos outros para cumprir a sua função. Nele, reis e rainhas estão abolidos. Querendo ou não, as lantejoulas se infiltram e se espa- lham, e nessa desobediência/re- sistência têm algo a nos ensinar. ✪✪✪✪ ÓTIMO INÊS CORREA/DIVULGAÇÃO Simbologia. Cena de Mapa Movediço: metáfora da solidariedade Crítica: Helena Katz O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 16 DE NOVEMBRO DE 2012 Caderno2 D3

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Grupo festeja dez anos com repertório marcado pela inquietação e criatividade

REVOLTADAS LANTEJOULAS

Música. Homenagem

Dança. Em Cartaz

CAETANO VELOSO RECEBEGRAMMY ESPECIAL

PAUL BUCK/EFE

MAPA MOVEDIÇOTeatro Cacilda Becker. RuaTito, 295, Lapa, 3864-4513.Hoje e amanhã, às 21 h; dom.,às 19 h. Grátis.

A produção de produção de O Quebra NozesO Quebra Nozes tem o patrocínio dotem o patrocínio do

RealizaçãoRealizaçãoApoioApoio

Co-patrocínioCo-patrocínio

Projeto realizado com o apoio do Governo de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura - Programa de Ação Cultural de 2012

Apoio CulturalApoio Cultural

R. Bento Branco de Andrade Filho, 722 Bilheteria: 11 5693.4000 e 0300 789 33 77www.teatroalfa.com.br

Ingressos de R$ 30 a R$ 100No dia 11 de dezembro os ingressos serão subsidiados pela Prefeitura da Cidade de São Paulo e terão 50% de desconto.

apresentame Inse Instituttituto Alfo Alfa de Culturaa de Cultura

apresentam

em

De 06 a 16 De 06 a 16 de dezembrode dezembro2ª a 5ª, 21h | 6ª, 21h30 | Sábado, 17h e 21h | Domingo, 16h e 19h

Música de TchaikovskyDireção Artística: Hulda Bittencourt

Música de TchaikovskyDireção Artística: Hulda Bittencourt

O Quebra Nozes O Quebra Nozes

Solistas convidados:06 a 10 de dezembro Márcia Jaqueline 1ª Bailarina do Theatro Municipal do RJDenis Vieira Solista do Theatro Municipal do RJ11 a 16 de dezembroFederico Fernandez 1º Bailarino Teatro Colón – Buenos AiresLarisa Hominal Solista do Ballet Estável Argentino, La Plata

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Ângelo Madureira e Ana Catari-na Vieira iniciaram a comemora-ção dos dez anos de sua compa-nhia com uma programação noSesc Santana, semana passada,que reuniu três obras de seu per-curso: o primeiro solo de ÂngeloMadureira, Delírio (1999), cria-do antes da fundação do grupo;A Revolta da Lantejoula (2011); efechando a mini temporada, anova criação, Mapa Movediço. Ho-je, a nova obra entra em tempora-da no Teatro Cacilda Becker, on-de se apresenta até domingo.

Mostradas numa sequência,as três produções puderam tra-çar o arco que abriga o pontode onde partiram e onde ele foidar, tornando claro o atual mo-mento da sua pesquisa. Nele sedestaca uma coerência que setransforma em uma força decoesão que vai atando tudo, docomeço até aqui.

Delírio já aponta para a inquie-tação que viria a se transformarna marca da dupla: tratar com alógica da dança contemporâneaos materiais da dança popularque marcaram a formação de Ân-gelo Madureira, no Recife. Aospoucos, esse trânsito entre osdois mundos foi dando nasci-mento a um vocabulário assina-do por Ana Catarina (que temformação em balé clássico) e porÂngelo, hoje compartilhado tam-bém por Patrícia Aockio, LuizAnastácio e Beto Madureira, bai-larinos que os têm acompanha-do nos trabalhos em grupo (aeles acaba de se juntar Juliana Au-gusta Vieira).

Dos muitos tratamentos da-dos ao rico material que foraminventando, parece ter emergi-do, em A Revolta da Lantejoula eMapa Movediço, uma discussãomais ampla, que diz respeitoaos fazeres próprios da dança.Ela aparece na forma de mate-

rial artístico mesmo, e não deum tema, na forma de uma me-táfora que pode ser chamadade ‘corpo-lantejoula’.

No Revolta, o objeto lantejou-

la havia aparecido e nos feitopensar na relação “um-mui-tos” que está nele implícita. Afi-nal, uma lantejoula se faz no-tar, mas ela, geralmente, fun-

ciona quando está reunida noconjunto de muitas outras. Asmetáforas da solidariedade edo estar junto são quase instan-tâneas, no seu caso.

Agora, no Mapa Movediço, a lan-tejoula deixou de ser objeto paravirar sujeito, que, na forma deum corpo-lantejoula, agora con-duz tudo. Aparece no chão cober-

to de ilhas de lantejoula, que vãosendo desfeitas pelo caminhardos bailarinos. Um chão-corpo-lantejoula que deixa de ser planoe convida ao tropeço. O cami-nhar constante do elenco passa adesenhar mapas sempre diferen-tes, que brotam dos sons que vãosendo produzidos pela fricçãopé-lantejoula-chão. Mas elesnunca ficam prontos, estão sem-pre mudando.

Por mais que o grupo faça, aslantejoulas não ficam organiza-das: elas escapam, borram qual-quer possibilidade de comporum mapa de contornos está-veis. Mesmo quando todos osbailarinos se dedicam a umamesma tarefa (exemplo: em-purrá-las para um mesmo lu-gar), não conseguem completá-la. As lantejoulas continuam aescorrer, não se submetem.Ninguém dá conta delas, nemmesmo quando tentam aplicá-las na própria pele.

A força simbólica da associa-ção da lantejoula com a culturapopular se impõe. Suas cores ebrilhos mantêm presente essa re-ferência, mas também a modifi-cam, fazendo dela um rastro tãomutante quanto o das trilhasque vão sendo desenhadas e apa-gadas pelo chão dos percursos.

Neste Mapa Movediço – que óti-mo nome para indicar do que tra-ta essa criação – não mais conse-guimos encontrar as habituaisdelimitações entre contemporâ-neo e popular. Estamos no corte-jo instalado pelo corpo-lantejou-la, esse tipo de corpo que precisados outros para cumprir a suafunção. Nele, reis e rainhas estãoabolidos. Querendo ou não, aslantejoulas se infiltram e se espa-lham, e nessa desobediência/re-sistência têm algo a nos ensinar.

De Sônia.Músicorecebeu ofonógrafodourado

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Caetano Veloso sentiu de pertoo calor e o carinho de alguns dosrostos mais conhecidos da indús-tria musical latina durante umahomenagem na noite da quarta-feira, em Las Vegas, onde ontemaconteceria a entrega do Gram-my Latino.

“Quero agradecer à Acade-mia Latina de Gravação por estahomenagem”, disse o cantor de-pois de ganhar um selinho daatriz Sonia Braga, que tambémlhe entregou o fonógrafo doura-do referente ao prêmio Persona-lidade do Ano 2012. “Eu gosta-ria de agradecer a todas as pes-soas que cantaram canções mi-nhas aqui, esta noite”, conti-nuou Caetano antes de saudar,um por um, todos os artistasque lá se apresentaram.

A cantora mexicana NataliaLa-fourcade eAlexandre Pires inicia-ram a cerimônia interpretandoLivros e Não Enche. Na sequência,foi a vez de artistas como NellyFurtado (Leãozinho), Juanes(Sampa), Alejandro Sanz (ForçaEstranha), La Mari (Onde o Rio ÉMais Baiano), Juanes (Sampa),Natalie Cole (A Little More Blue) eMaria Gadú e Seu Jorge (De Noitena Cama e Beleza Pura).

O ponto culminante da noiteaconteceu quando o próprio Cae-tano subiu ao palco para receberos aplausos dos cerca de mil con-vidados presentes na GardenArena do hotel MGM.

“Esta noite é especialmente di-vertida, muito diferente da entre-ga dos prêmios, sempre muitonervosa, por causa da competi-ção”, disse Enrique Bunburyque, ao lado de La Mala Rodrí-guez, cantou Os Argonautas. “Vie-mos aqui apenas para nos diver-tir e homenagear Caetano.” /COM

AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Simbologia.Cena de MapaMovediço: metáforada solidariedade

Crítica: Helena Katz

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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 16 DE NOVEMBRO DE 2012 Caderno2 D3