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Book2 - Short Story 1 - Upgrade 2

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O dia em que Che Guevara chegou no Inferno

O dia em que Che Guevara chegou ao Inferno

Cidade de Canf. Romnia. Transilvnia. Alpes da Valquia.

2015.* * * * *

Sylvia estava no trabalho quando o telefone tocou. Era o marido pedindo para que ela sasse uma meia hora mais cedo da repartio. Disse que havia feito uma reserva em um restaurante francs para que os dois pudessem desfrutar de uma noite especial.

Ela fica surpresa. Ivan nunca havia mostrado interesse neste tipo de programa romntico. A moa concorda em pedir para o chefe a gentileza de liber-la mais cedo. Ivan diz que a ama e desliga o telefone.

Mais incomum ainda. Eu te amo no eram palavras que o senhor Cartochek costumava usar rotineiramente.

Meio sem saber o que fazer, Sylvia vai at o escritrio de seu superior, inventa uma desculpa qualquer e ganha a meia hora solicitada pelo marido.

Mas ela sentia que havia algo de muito estranho na situao.

As pessoas no mudam de um hora para outra. Romance era uma caracterstica de personalidade que Ivan jamais havia manifestado. Ela entendia isto e o amava mesmo assim. Era um homem rude, de poucas palavras, poucos amigos, que gostava de relaxar cortando lenha ou ouvindo polca.

Sylvia sabia que alguns homens demonstram seus sentimentos e outros no. Seu marido, definitivamente, pertencia ao segundo tipo e isto no a incomodava. Conversavam muito pouco, mas como ele dificilmente perdia tempo papeando com estranhos, ela sempre achou que estava tudo bem. Afinal, timidez e introspeo so traos no necessariamente incomuns de personalidade.

Quando se mora na Transilvnia impossvel esquecer que se vive em uma terra de monstros, porm, Sylvia jamais imaginou que Ivan fosse um deles.

* * * * *

Ela chega em casa.

Encontra o marido de terno e gravata sentado no sof vendo televiso. Outra imagem rarssima j que Ivan Cartochek era tcnico de manuteno de mquinas de raio-x e ternos estavam to longe de seu cotidiano como transistores estavam do cotidiano de um padeiro. Mantinha dois trajes no armrio s para batizados, casamentos e velrios. E olhe l...

- Sylvia, nossa reserva entre sete e sete e meia, melhor voc colocar uma roupa um

pouco mais formal.

- OK... Qual o restaurante ?

- O Chateau Corsac.

- Isto caro. alguma ocasio especial ?

- No. Vontade de sair um pouco, respirar o ar da noite. Agora vai se arrumar e me deixa

ver o noticirio.

- Certo.

Sem saber direito o que fazer, ela sobe a escada at o quarto do casal. Aps quatro anos de casamento ainda no tinham filhos, mas continuavam tentando. Possivelmente ele era estril devido ao trabalho com as mquinas de raio-x, mas Sylvia no tinha coragem de tocar no assunto.

No incio, ela no sabia o que escolher. O Chateau Corsac era um ambiente caro, refinado para uma cidade pequena como Canf. O restaurante era um lugar onde namoradas recebem o pedido de casamento e famlias abastadas comemoram datas festivas como aniversrios ou a promoo de algum no servio. Vendo que o tempo corria, Sylvia apanha um vestido preto que usara na formatura da irm, um colar de prolas e, descala, corre at o armrio dos sapatos, tentando encontrar alguma coisa. Encontra. Vai para o chuveiro.

* * * * *

Doze minutos depois.

Sylvia desce a escada. Vinte e sete anos. Formada em administrao de empresas, mas o maldito governo a tornara uma especialista em logstica ao invs da gestora que almejava ser quando ingressara no servio pblico. No era uma mulher de beleza estonteante, mas tinha a sua graa. Um sorriso aberto. E aquela vivacidade que tm as pessoas que brilham simplesmente por estarem vivas.

Jamais teria um aniversrio de vinte e oito anos.

Morreria naquela noite.

* * * * *

Ivan olha para Sylvia descendo a escada. Surge um pouco de remorso em relao ao que havia planejado fazer mais tarde com ela.

- Podemos ir ?

- Claro. J terminou de ver o seu jornal ?

- J.

Sem elogios, sem referncias ao novo perfume, como se todo o ritual de preparao para o jantar feito por Sylvia fosse absolutamente corriqueiro, Ivan Cartochek conduz a esposa para o corredor, abre a porta, deixa Sylvia passar, passa, aciona os alarmes e fecha o trinco.

* * * * *

Chateau Corsac. Canf, Romnia.

86 minutos depois.

J estavam na sobremesa. Ivan comentara sobre o resultado das eleies parlamentares, Sylvia buscou assunto nas obras que a prefeitura fazia nas ruas do centro da cidade e que transformaram o trnsito em um inferno. A comida era boa e o tempo passou rpido.

- Eu quero o divrcio.

- H ?

- Voc entendeu, Sylvia. Acabou. Eu quero o divrcio.

- Isto srio ?

- Serssimo. No te amo mais. Que acha de escolhermos um advogado s para economizarmos um dinheirinho ?

- O que eu fiz ?

- Nada. Acabou. O Bartolev, amigo do meu pai, bem podia ser o nosso advogado, o que voc acha ?

- Eu no entendi ainda. Porqu voc quer o divrcio ?

- Eu quero me casar com a Sofia e bigamia crime neste pas.

- Sofia Svelistslova ? A enfermeira ?

- E existe outra Sofia ?

As coisas comearam a fazer sentido na mente de Sylvia. As mudanas constantes de turno, o cansao repentino de quem sempre fora um stiro para o sexo, os jogos de futebol aos sbados...

- Desde quando comeou isto ?

- No importa. Posso ligar para contratar o Bartolev como nosso advogado mtuo ?

A ficha cai.

Sylvia se levanta, apanha o molho de chaves que o marido colocara em sua frente j se preparando para a sada. Com a mo esquerda d um soco na mesa, fazendo voar vinho para tudo que lado.

- Bartolev ? Est louco ! Eu vou pegar o melhor advogado da Romnia para tirar de voc at o ltimo centavo !

- No faz escndalo, a gente pode conversar...

- Bom que voc est com uma enfermeira, pois eu vou mandar uns caras da Mfia Russa

quebrarem cada osso do seu corpo.

- Voc est blefando...

- Espera s.

Ela parte. Com o restaurante inteiro olhando.

O matre vem falar com Ivan.

- O senhor vai ter que pagar pelo copo que sua acompanhante quebrou.

- No tem problema, pode acrescentar na conta, eu pago.

- Desentendimento conjugal ?

- No, divrcio. Eu tentei o velho truque de levar a ex-mulher em restaurante caro para dar a notcia de que a pobre ia ser chutada e com isto evitar um escndalo, mas no funcionou. Pode trazer a conta e me chamar um txi ?

- Sim, senhor.

* * * * *

16 minutos depois.

Sob o efeito do vinho e com dio em todos os poros, Sylvia Cartochek, voa baixo dirigindo como uma louca.

No queria voltar para casa.

Tenta chegar na casa de uma tia, mas a memria falha sobre qual estrada vicinal deveria ser escolhida em uma encruzilhada. Penetra cada vez mais na zona rural pensando estar no caminho certo.

Era um pedao de cho com um passado bem escabroso. Estrias de vampiros. De gente desaparecida. De famlias inteiras que sumiam do dia para noite. Sabe-se l o porqu, os desaparecimentos cessaram l pelos anos 40, mas a fama ficou. Terra boa, baratinho, baratinho, mas ningum comprava. Tratores da dcada de 30 abandonados como fantasmas da grande depresso ou de coisa pior.

Ela continua correndo.

Derrapa.

No consegue fazer a curva.

O carro voa, destruindo o guarda-rail e despencando verticalmente em uma lagoa.

Onze metros de queda livre.

TCHIBUM !

Bbada, Sylvia bate a cabea no painel do carro, tonteia, mas no desmaia, porm no consegue se soltar do cinto de segurana e morre afogada.

Ivan Cartochek, ainda casado com comunho de bens, teria todos os seus problemas financeiros resolvidos com a morte da esposa. Quem disse que a vida justa ?

Porm o carro, o tmulo sub-aqutico de Sylvia, havia aterrisado em algo infinitamente mais valioso que as modestas economias de uma funcionria pblica.

Uma espaonave aliengena.

* * * * *

Dia seguinte.

Ivan acorda. Olha para o lado, no v Sylvia. No esperava mesmo.

Veste os chinelos e vai at a janela. O carro no estava l.

O fato no o preocupava, sabia que ela devia ter ido para a casa de alguma amiga ou algum parente.

O que realmente o inquietava era a ameaa da Mfia Russa. Sylvia se gabava de ter namorado, quando solteira, Mikhail Sardichenko, empresrio, importador de bebidas, mas que todos sabiam era o homem de confiana de um dos cartis moscovitas do trfico de armas na Romnia.

O namoro terminou quando ela colocou o sujeito contra a parede: ou ela ou os negcios. Ele disse que a amava mas no podia deixar a organizao naquele momento. Talvez ano que vem... Sylvia no esperou e foi embora. Mas continuava recebendo cartes de Natal e aniversrio do persistente mafioso.

Enfim, ela podia no estar blefando. Tinha mesmo contatos no submundo.

O telefone toca.

- No deu, Bartolev. Ela no aceitou a proposta, mas voc pode defender o meu lado, se ainda estiver interessado.

- Claro, pode contar comigo. Ela disse quem vai ser o advogado dela ?

- No, mas disse que vai me tirar at o ltimo centavo.

- Realmente... Estamos em uma terra de vampiros.

Cartochek ri um pouco. Conversam banalidades e Ivan promete avisar assim que soubesse quem seria o advogado de Sylvia. Desliga o telefone.

Em nenhum momento, passou pela cabea do Sr. Cartochek chamar a polcia para registrar o desaparecimento. Sabia que ela estava na casa de algum conhecido e voltaria logo para buscar uma mala de roupas ou tentar expuls-lo da casa.

Levou trs dias para chamar a polcia e comear a procurar pela esposa.

Quando soube do bito, ficou chocado com a morte da mulher, mas aliviado por ter conseguido evitar a confuso que um divrcio litigioso em cidade pequena.

Bartolev, o advogado, acertou na sorte grande. Ganhou quatro vezes mais no inventrio do que ganharia no divrcio, um procedimento bem mais simples, quase cartorial.

* * * * *

Alguns segundos depois...

Nadia Carnacci passa pela estrada esburacada com uma pick-up levando dois porcos para vacinar no veterinrio.

V o buraco no guarda-rail. Chama a polcia.

A polcia checa se haviam desaparecidos recentes. Nada. Aparentemente, havia cado um carro dentro do lago. Chamam o Corpo de Bombeiros de Canf.

O minsculo Corpo de Bombeiros de Canf no tinha mergulhadores e chama o Corpo de Bombeiros de Tavastt, a cidade vizinha.

Dois dias depois, uma viatura com dois bombeiros mergulhadores chega ao lago lamacento para investigar o que havia acontecido.

Na falta de qualquer registro de desaparecimento em dois dias, a polcia passa a trabalhar com a hiptese de que eram turistas.

A regio era conhecida pelas lendas sobre desaparecimentos e vampiros. No era incomum aparecerem jovens gticos de toda a Europa, buscando algum morto-vivo para que este os mordesse e, assim, pudessem viver para sempre.

Tem doido pra tudo.

* * * * *

O primeiro mergulhador entra na gua.

O segundo, que estava com o traje recm-comprado, cheio de parafernalhas eletrnicas, demora mais para calibrar os instrumentos e fica na praia tentando usar a roupa pela primeira vez.

Cinco minutos se passam.

- Tem alguma coisa l embaixo !

- Um carro ?

- Um carro com algum dentro, mas o carro est em cima de algo bem maior, maior do que um vago de trem.

- Eu quero ver isto !

Piotr mergulha na gua congelante. Alex vai atrs, depois de uns doze minutos no fundo do lago, Piotr, o lder da equipe que antes era de quatro, mas estava reduzida a dois, faz sinal para subirem.

Apressadamente, retiram a mscara.

- Estamos ricos !

- Alex, o que era aquilo embaixo do carro ?

- No tem idia ?

- Nenhuma.

- Uma nave, seu otrio ! Dos homenzinhos do espao !

- Eu pensei nisto, mas no tinha o formato de um disco.

- Ningum pode saber que isto existe ou vo pegar a nossa fortuna !

- Que fortuna ? No delira !

- Vamos desmontar a nave e vender pedao por pedao para esta gente que curte disco voador no Ebay.

- E a moa no carro ?

- , a moa um problema.

* * * * *

Resolvem o problema.

Retiram o cadver de dentro do lago, levam, na viatura dos bombeiros at outro pequeno lago pouco adiante. Atiram o corpo na gua, quase no raso. Alex telefona para a polcia, anonimamente, dizendo que estava mergulhando e achou a moa.

Desaparecem.

Algumas horas depois, a polcia surge, encontra o corpo e conclu, apressadamente, que Sylvia havia sido morta por assaltantes que roubaram seu carro e a mataram com uma pancada na cabea, que, na verdade era fruto do desastre de automvel. Depois jogaram o corpo da moa desacordada no lago onde morrera afogada.

Sem identificao, vai parar na geladeira do Instituto Mdico Legal.

O marido surge por l no dia seguinte para liberar o corpo e cuidar do sepultamento.

O suposto mafioso, Mikhail Sardichenko aparece no enterro. No se contm e chora copiosamente.

S neste momento, descobriu que a amava.

Tarde demais.

* * * * *

U.S.S. Nosferatu.

Atlntico Sul, rumando para a Antrtida.

14:15

- Vai dormir, mana. Voc no vai encontrar o Groody destruindo a sua sade. Voc precisa dormir.

- Ele um adolescente. Adolescentes no gostam deste negcio de internet ? Mais cedo ou mais tarde eu acho ele.

- No mais como antes, mana. Ele fugiu de ns. Ele pensa que somos os monstros que devastaram o monastrio. Ele no quer nos ver.

- Claro, eu sei, mas no seria bom se pudssemos descobrir onde ele est para ficarmos observando. Ajud-lo se ele precisar ?

- Vai dormir, vai...

Razor puxa a tomada e a tela simplesmente se apaga, cortando a conexo de internet que eles costumeiramente roubavam de um satlite militar francs mal-protegido.

- Sabotador.

Ela deixa a cadeira e caminha em direo aos quartos, enquanto o irmo desliga os complexos sistemas do dirigvel um a um.

- Engraado... A minha vida inteira eu cuidei de voc, agora as coisas esto se invertendo.

- Bobagem.

- Eu sou muito chata. No sei como que o Khull e voc me aguentam...

- O Khull eu no sei, mas eu sei porqu eu vou te suportar pra sempre.

- Por qu ?

- Sangue.

- Ainda sente saudades do papai e da mame ?

- s vezes.

- Faz tanto tempo, n ?

- Muito. Mas, se ns estamos vivos, eles talvez estejam, no mesmo ?

- Pode ser.

- Vai dormir, vai... Voc tem que ajeitar seu sono, mana.

- T bom. Boa noite. Quer que eu te conte uma estria antes de dormir ?

- No necessrio.

Ele sorri.

Quinze anos depois da fuga de Groody as coisas voltaram ao normal.

* * * * *

Washington D.C., USA.

Quartel-general do Instituto de Pesquisas Biolgicas Avanadas, tambm conhecido como I.P.B.A..

Gabinete do Diretor Michael Clark.

Sentado, claramente alterado e tentando usar todo o seu poder de persuaso, o Diretor Clark.

Em p, calmo, tentando entregar a carta de demisso amigavelmente, o Agente Especial Grant, que no quer discusso. S quer atravessar as etapas do protocolo burocrtico, pegar o cheque com o que tiver de direito e no voltar ali to cedo. Ou nunca mais.

* * * * *

- Eu entendo a sua situao...Vamos fazer o seguinte: eu lhe dou seis meses de frias pagas, se voc prometer que quando terminarem os seis meses voc volta para sua sala. Est bom ?

- No so frias, Diretor. Pra mim acabou.

- Certo. O que quer ento ? Aumento de salrio ?

- Eu no vou passar por aquilo de novo, acabou.

- Ns levamos de dez a doze anos para formar um agente aqui dentro. Antes que o perodo de formao termine, uns 40% enlouquece devido ao tipo de clientes que nossa agncia tem. Voc uma grande perda, Grant.

- Eu agradeo o elogio, mas eu fiquei dois meses preso em uma estao orbital russa que ningum sabia que existia e estaria l at agora se minha companheira de cela no fosse uma agente do Servio Secreto Australiano que chamou o nibus espacial deles: o Paul Hogan. Que raio de mundo este que a Austrlia tem um nibus espacial e a Amrica tem que pedir carona s naves Soyuz dos russos ?

- O que eu posso lhe dizer, o que est dentro dos seus nveis de permisso que a CIA sabia que os russos tinham uma estao espacial em volta da lua, mas por causa do desgraado do Ato Patritico no nos passou a informao. Depois de dois meses sem dar notcias ns pensamos que voc estava morto. Muita gente morre no nosso campo de trabalho.

- Sabe o que fazer xixi e coc dentro de um traje espacial em gravidade zero por dois meses ?

O Diretor Clark suspira e d a oferta final.

- Se ns soubssemos onde voc estava teramos mandado uma misso de resgate imediatamente, mas no sabamos. Voc no precisa ir embora, voc importante aqui, o que ns fazemos importante para a segurana da Amrica e de todo o planeta, o IPBA a primeira linha de defesa contra uma invaso aliengena e quando a invaso acabar e os malditos Ets forem derrotados teremos que limpar toda a sujeira para nada sair nos jornais, mesmo naqueles horrveis tablides sensacionalistas ingleses. Enquanto as outras agncias olham para o cho, ns olhamos para o espao. por isto que eu venho aqui todos os dias, para tornar o Universo um lugar mais seguro para todos os americanos.

- Belo discurso. Eu imagino que o Diretor do S.D.A.T.* faz um igualzinho, s que ele troca invaso aliengena por invaso do Reino das Fadas ou algo assim.

Michael Clark percebe como estava sendo ridculo e , na falta de outra alternativa, sorri.

- Eu vou embora. Eu nem sabia que era to importante assim aqui dentro, mas... Deu tudo certo, os australianos apareceram com aquele nibus espacial infame pintado com os dentes de um jacar, mas poderia ter dado tudo errado, entende ?

- Entendo. Uma ltima oferta. Voc ganha seis meses de frias pagas e, depois, volta aqui e fala comigo. Sem compromisso de voltar, s me escuta mais uns 10 minutos e pode ir embora.

O Agente Especial Grant j estava ficando comovido. Realmente, no tinha a menor idia que possua alguma importncia na agncia.

- Sem compromisso de voltar ? S conversar com voc de novo ?

- Compromisso nenhum. Voc est com raiva da gente, mas o erro no foi nosso, foi da CIA. Depois de descansar voc vai julgar melhor a situao.

- Ento est certo, mas eu tenho mais uma condio.

- Pode falar.

- Mande um carto de natal para a Agente Susan Rojas e outro para seja l quem que dirige o Servio Secreto Australiano, eles poderiam muito bem ter me deixado apodrecendo l na rbita da Lua.

- Vou mandar minha secretria procurar os cartes mais bonitos de Washington e vou telefonar pessoalmente para a senhorita Rojas e seu chefe que eu no tenho a mnima idia de quem seja.

CRANK !

A porta se abre com violncia.

Um homem, esbaforido, com um laptop aberto na mo.

- Diretor Clark ! O senhor tem que ver isto !

Acostumado com este tipo de interrupo o tempo todo, Michael Clark aterrisa o laptop sob sua mesa e grunhe.

O que eu devo ver com tanta urgncia, Jones ?

Tem um cara, no Ebay europeu, vendendo partes de um disco voador que teria se

espatifado na Romnia.

Michael Clark analisa as fotos postadas no site. Se era uma fraude, era uma fraude bem original, no se parecia com nada que ele j tivesse visto.

O Diretor Clark sabia que tinha de ser rpido, antes que os chineses ou os russos chegassem primeiro nos destroos, se que no eram uma fraude.

- Jones, mande prepararem o IPBA 1, vamos para a Romnia agora !

- Eu tambm ?

- Claro, se for real o crdito seu e o bnus no salrio dem.

Michael Clark vira a cabea e interroga o quase demissionrio Agente Grant.

- Vem conosco ? Dizem que a Romnia linda nesta poca do ano.

- Quem disse isto ? O Agente Blade ?

- Talvez. Acho que sim. Equipe pequena. Em uns 10 dias estamos de volta.

- Romnia...Vampiros ? No, obrigado. No se esqueam do alho e dos crucifixos.

- Bobagem... O IPBA tem cada vampiro deste planeta identificado e monitorado.

- E os que vieram de fora ?

O Agente Grant sai da sala rindo. Michael Clark e o Agente Jones aparentemente no entenderam a piada.

* * * * *

* S.D.A.T. significa Sistema de Defesa a Ameaas Transdimensionais. a agncia de segurana do governo norte-americano responsvel por monitorar e retalhar ataques provenientes das 3215 dimenses conhecidas. Fadas, gnomos, trolls, goblins e elfos normalmente so os clientes de suas carceragens e a mo-de-obra de muitas de suas unidades. Uma vez recrutados como agentes, os seres msticos diminuem sua pena at terem a autorizao para retornarem para suas dimenses de origem ou ficarem trabalhando no setor de inteligncia como contratados. O S.D.A.T. e o I.P.B.A. corriqueiramente invadem a competncia um do outro causando irritao e uma certa animosidade entre seus agentes e diretores. Se algum dia, voc se sentiu frustrado porqu a Fada do Dente no colocou uma moeda embaixo de seu travesseiro, talvez a culpa tenha sido de uma valente equipe do S.D.A.T. que capturou, encarcerou e dissecou aquela perigosa criatura.

* * * * *

Inferno.

Mrmore do Inferno, se voc for muulmano.

O mesmo lugar tem muitos nomes, assim como seu soberano.

No centro do Inferno est Dite, a cidade infernal, mas o local gigantesco. Quanto mais voc se distancia de Dite, radialmente, menos criaturas voc encontra. Menos demnios, menos almas sendo torturadas e menos anjos vigiando os demnios. O lugar imenso, foi projetado imaginando uma expanso populacional da humanidade (e, consequentemente, de novas almas a serem torturadas) bem maior do que a que realmente ocorreu.

Nas periferias extremas do Inferno h literalmente: nada. S o cho duro. Infrtil. Rochoso e morto.

BANF !

O visitante aterriza de joelhos. Esfrega os olhos. Confuso, tenta se lembrar da ltima coisa que ocorrera em sua vida. Bolvia. Uma emboscada. Cheio de dio, entende a situao.

Grita.

- Tem algum a ?

Silncio.

No dia 12 de abril de 2015, o Comandante Ernesto Che Guevara chegou ao Inferno. Para obrigar o I.P.B.A. a mandar agentes aonde nenhum homem jamais esteve e voltou.

* * * * *

Guevara sabia que estava no Inferno. S nunca tinha perdido tempo imaginando como seria o alm-tmulo. Imaginava encontrar demnios. No via sinal de demnio algum. O que via era um deserto, morto.

Remexe em seus bolsos. A caneta ainda estava l, a carteira tambm. O amuleto encontrado em uma aventura peruana tambm continuava prensado dentro de seu passaporte argentino.

A lenda que ficou para a Histria diz que uma medalha de Nossa Senhora, segurou uma bala endereada ao Comandante Guevara. No era bem assim.

Em seus dias de mdico errante pela Amrica Latina, Guevara encontrou, nas cercanias de Cuzco, no cho mesmo, algo que parecia ser um amuleto. Uma pedra esculpida de algum deus Inca esquecido, chato como uma moeda, vermelho como um rubi. O jovem mdico encapsulou o artefato nas pginas de seu passaporte argentino e se esqueceu daquilo. At, anos mais tarde, a pedra segurar uma bala certeira que rumava para seu corao.

O que o Comandante Guevara no sabia que o amuleto misterioso era nada mais nada menos que um escudo militar poderosssimo, dado pelos aliengenas Darknack aos incas juntamente com outros presentes. Erich von Danniken no estava totalmente errado, afinal.

A aura de proteo do escudo causara uma distoro espao-temporal. Guevara, que deveria ter chegado ao Inferno em 1967, s apareceu em 2015, aps vagar desacordado por dcadas em limbos dimensionais. A mesma distoro fez com que Che aterrizasse na periferia da periferia do Inferno e no no local de praxe, onde dezenas de demnios j estariam lhe esperando.

No sente fome. Ou sede. Se espanta que suas roupas continuam as mesmas. Tinha tantos planos... Agora tudo o que lhe restava era o sabor amargo da resignao.

Muito, muito longe, enxerga uma tnue coluna de fumaa. Se estava condenado a ser punido por toda a Eternidade, que o castigo comeasse logo.

Caminha em direo ao seu destino. Se estava ali, aquilo haveria de ser justo. Se estava ali porqu no havia sido um bom soldado, j que o inimigo o vencera.

Sim, era justo.

* * * * *

Dite. A Cidade Infernal.

A uma distncia incomensurvel do lugar onde o angustiado Comandante Guevara aterrizara em estado de autocomiserao pela derrota na Bolvia.

A cada 10 anos, Satan tira trs semanas de frias, possui um mortal previamente escolhido e vai desfrutar uns dias de descanso de suas funes de administrador da maior priso do Universo. Apesar do que dizem os Conlotorianos que continuam a afirmar que sua Gruta N.8 maior que o Inferno.

Desta vez, o soberano planejara passar uns dias nas Bahamas. Pegando sol, tomando marqueritas, talvez jogando poker com uns nativos s para se divertir.

Vai embora e deixa a incumbncia de lidar com tudo com o vice: Boberto Barinho, que era conhecido quando vivo como o Dito-cujo Carcar Sanguinolento.

Satan deixa somente uma ordem: No ser incomodado em hiptese alguma. Qualquer interrupo e o Sr. Barinho, anteriormente conhecido como o Torquemada da Quinta do Boticrio, seria arremessado para as fossas de tortura reservadas aos polticos que roubam o dinheiro da merenda escolar. Nada pior. At onde se sabe.

O velho Lucifer j havia partido faziam dois dias e tudo estava em paz. Boberto Barinho tinha a impresso que seriam dias calmos, a pasmaceira de sempre. Fora os gritos dos condenados l fora, claro.

Em vida, o senhor Barinho havia sido um gangster, travestido de filantropo. O chefe de uma organizao criminosa altamente complexa, mas que, por vaidade, gostava de cultivar a imagem de amigo das Artes, do Teatro, das Causas Meritrias principalmente as que tivessem o hbito de conceder medalhas e fardes. Era um escravo da prpria vaidade.

Como mdico, o Comandante Guevara o chamaria de mitomanaco, o sujeito que vive para construir sua prpria lenda. Como Comandante Militar, Guevara tomaria cuidado com o facnora. Na guerra, h uma tica, um cdigo de conduta e a Conveno de Genebra.

No crime, no.

* * * * *

Enquanto o superjato executivo do I.P.B.A.: o IBPA 1 atravessa o Atlntico rumo Romnia, planejando somente uma escala obrigatria para reabastecimento na Alemanha, em solo norte-americano, a parte da equipe que ficou faz o dever de casa:

1 - Tiram o site do Ebay Europeu do ar;

2 - Roubam, do arquivo do Ebay os dados de quem estava vendendo os supostos destroos aliengenas;

3 - Verificam os dados de todos que haviam visitado a pgina com as fotos. Por sorte, ningum suspeito. Quando um ultra-paranico membro de uma agncia de inteligncia do governo norte-americano diz, ningum suspeito ningum suspeito, MESMO.

4 Cruzam as informaes do registro de vendedores do Ebay com os dados do Sistema de Previdncia Romeno e... Voil ! O alvo estava localizado.

Piotr Televocci

Rua Doze de Novembro, n.51

Cidade de Tavastt, Transilvnia

Romnia.

* * * * *

10:00 (Hora local).

O avio chega em Bucarest. A Romnia ainda continuava sendo uma zona de influncia dos russos, apesar da queda do muro de Berlim muitos anos atrs. A KGB, agora renomeada de FSB tinha agentes por toda parte. O prefixo IPBA 1 era familiar aos radares russos desde quando estes eram chamados de radares soviticos.

Para no despertar suspeitas, o avio levado para um velho angar da Aeroflot, agora desativado. Tudo isto aps autoridades aerovirias romenas em terra serem subornadas por dlares americanos, entregues por uma equipe da CIA que vegetava na embaixada norte-americana no pas.

Como se hospedar em um hotel chamaria muita ateno ( e na embaixada mais ainda ), Michael Clark resolve submeter sua equipe privao de pernoitar na aeronave, uma vez que se esperava da misso um desfecho rpido. Entre dormir em poltronas e ver os chineses carregarem para Pequim os preciosos despojos aliengenas, a primeira opo era a mais indicada.

12:00 Comem. Dentro do avio estacionado mesmo.

14:00 Primeira reunio formal.

Cinco pessoas. Michael Clark. Os agentes Jones, Colt, Dexter e a novata: agente especial Antnia Dillinger.

O Diretor Clark inicia os trabalhos:

- E ento, o que sabemos do alvo ?

- Casado, 1 filho, 37 anos, casa alugada.

- Ficha militar ?

- Nada. S se ele for um Black Ops.

- No creio. Esta gente de Foras Especiais ganha bem, a casa no seria alugada. O que o sujeito faz pra viver ?

- bombeiro, chefe.

- Tem mais algum vivendo na casa alm dele, a esposa e o filho ?

- No sabemos.

- Daqui at Tavastt, de carro, quanto tempo leva ? Algum pesquisou ?

- Trs horas, senhor.

- Aceitvel, Dexter. No necessrio alugarmos um helicptero.

- Verifico as condies metereolgicas em caso de um Plano de Contingncia com deslocamento areo de helicptero ?

- No importa. Jones e Dexter vo l fora e roubem um carro: um sedan, confortvel mas nada de luxo, entendem ?

- Perfeitamente.

- Eu trouxe um kit de placas falsas romenas entre as minhas bugigangas de sempre. No gosto de alugar carros. Estas locadoras sempre tem cmeras. Colt, voc e a novata invadam o sistema de telefonia local e derrubem tudo em Tavastt: telefone, internet e servio de pager se isto ainda existir. No quero ningum chamando a polcia local se algo der errado.

Antnia, encabulada, interrompe o chefe.

- O que servio de pager, senhor ?

- um tipo de sistema de comunicao que, hoje, s existe em alguns pases do terceiro mundo, mas foi muito popular na Amrica na poca em que voc assistia Vila Ssamo na televiso.

- Obrigada, senhor.

- Olha, garota, voc est muito tensa. s um bombeiro de 37 anos que, no mximo, tem um .38 contra 5 agentes treinados em 18 tipos de Artes Marciais diferentes. A qualquer momento, pode se teleportar agora, na nossa frente, um Krondotiliano de 8 olhos que vai nos dissolver com o cido de seus tentculos. E a voc morre. com este tipo de coisas que voc tem que se preocupar.

Encabulada, gaguejante, a novata no contm a curiosidade.

- E... Senhor... O que eu fao se um Krondotiliano de 8 olhos se teleportar agora, na nossa frente ?

- Voc morre.

* * * * *

Se dividem.

Jones e Dexter saem do avio para roubar um carro.

Michael Clark vai revisar relatrios de desastres de naves aliengenas desde Roswell.

Colt e a novata vo para os servidores no fundo do avio sabotar o Servio de Telefonia Romeno.

* * * * *

- E ento ? O que est achando da primeira misso ?

- bem mais informal do que eu imaginava. comum o Diretor vir com a gente ?

- Nas misses simples isto acontece, s vezes. Nas complicadas, nunca. Ele diz que porqu ns devemos aprender a andar com as nossas prprias pernas.

- Interessante... nas misses complexas que morrem mais operativos.

- Talvez seja por isto que ns sejamos agentes e ele seja o Diretor. sussurra o agente Colt quase encostando o queixo no ombro da colega.

Ela sorri e sussurra de volta.

- Cuidado, se ele te ouve te mata.

- Eu fiz voc sorrir. Morro feliz.

Contato.

* * * * *

Horas depois.

Depois de um dia no trabalho, Piotr, o bombeiro, chega em casa.

D um beijo rpido na mulher e corre para o quarto do casal, onde ficava o PC-Desktop que escondiam do filho de 10 anos.

A internet estava fora do ar, conseguentemente, o site do Ebay, tambm. Esperava ficar rico em semanas, mas talvez isto demorasse mais tempo.

Olga, a esposa, entra no quarto.

- Vendeu algo ?

- Nada. A rede est com problemas tcnicos. Isto acontece.

P !

Piotr grita para o filho ir atender quem estava l fora:

- V ver a porta ! Estou conversando com sua me.

- T bom, pai.

Preguiosamente, o moleque se descola do sof de corvim e rasteja at a porta arrastando os ps.

Abre a correntinha de metal.

Gira a chave.

Baixa o trinco.

Abre a porta.

* * * * *

Assim que o moleque aparece, Antnia sussurra para Colt:

- Ai... Criana. Nunca matei criana.

- s vezes no necessrio. Fica quieta.

- Certo.

A formao era a seguinte: Michael Clark na frente, Dexter do lado direito, Jones do lado esquerdo, Colt e Antnia na terceira fila para no fazer bobagens. Bobagens como no ter coragem de disparar a Magnum 44 em uma criana, por exemplo.

* * * * *

Michael Clark, vampirescamente, inicia a invaso da casa:

- Queramos falar com seu pai, podemos entrar ?

- Podem.

O garoto deixa o quinteto entrar na sala, fecha a porta e corre para o quarto dos pais.

- Pai, tem uns amigos seus l na sala.

- Amigos ?

Mais surpreso que assustado, Piotr entra na sala e encontra a equipe do I.P.B.A. confortavelmente instalada nos seus dois sofs.

Michael Clark se levanta e estende a mo para o atnito bombeiro:

- Somos do Museu Britnico, o senhor ainda tem destroos aliengenas para vender ?

- Museu Britnico ? Em Londres ?

- Sim senhor. Podemos fazer uma boa oferta se forem legtimos.

- Ah... Isto so. Querem ver ?

- Sem dvida.

Piotr desaparece no corredor que finda nos aposentos do casal. O quarto do garoto ficava em um anexo com entrada pela cozinha. Mais um destes muitos exemplos de projeto arquitetnico bizarro.

* * * * *

Quatro minutos depois.

Haviam trs fragmentos supostamente aliengenas: todos retirados a golpes de marreta e formo da espaonave que, por tantos sculos havia sido o lar de Ddara Khull e famlia. Um fragmento era o maior, quase um metro quadrado e os outros dois tinham dimenses no muito diferentes das de um laptop domstico.

Os trs pedaos de metal sobre a mesa da sala intrigavam a todos. Realmente no pareciam com nada j citado na vasta literatura existente sobre tecnologia extraterrestre.

O Diretor Clark filma tudo e compara com o banco de dados do I.P.B.A. acessado atravs do laptop. Tudo em tempo real. Washington do outro lado da linha. Conexo de internet com link direto com o satlite para poucos.

Colt e Jones, excitados, fotografam os destroos e analisam tudo com um contador geiser porttil.

Antnia e Dexter se sentam no sof e ficam esperando.

Piotr, o bombeiro, vigia a todos com medo que roubem alguma coisa.

Buscando ser agradvel, Olga Televocci toca o ombro de Antnia:

- Vamos para a cozinha preparar algo para seus amigos ?

Atnita, a Srta. Dillinger nem imaginava o que fazer. Olha para o Diretor Clark e este faz sinal com a mo para que siga a mulher.

* * * * *

Olga Televocci era uma mulher simples, porm inteligente. Trabalhava em uma tecelagem e ganhava muito pouco. O que somado com o irrisrio salrio de bombeiro do marido no significava muita coisa. Havia pesquisado sobre o tema: sabia que com o dinheiro dos destroos podiam, pelo menos, comprar uma casinha e sair do aluguel. Por isto, trataria a todos da melhor maneira possvel.

- Vocs gostam de ch, no ?

- Claro, mas qualquer coisa est bom.

Antnia sorri. A pergunta que lhe afligia era: no final, teriam que matar esta gente toda ou no ?

- Como vocs nos encontraram ?

- Uma prima do Pinkerton trabalha no Ebay e sabia que procuramos este tipo de coisas e nos deu o endereo de vocs.

- Isto ilegal, no ?

- Talvez seja, mas foi por uma boa causa: ajudar o primo a ganhar uma promoo. Voc no tem idia como a vida cara em Londres.

Olga, fruto de severa educao na Igreja Ortodoxa, torce o nariz demonstrando desaprovao, mas, por outro lado, a coisa fora para ajudar um primo. E, afinal, parente parente. Manifestando assim, uma estranha Contabilidade Espiritual onde uma boa ao pode anular a m ao praticada anteriormente.

- Eu nunca confiei neste negcio de internet. Os vampiros so mais confiveis.

- Porqu ?

- Ora... Eles s entram na sua casa se forem convidados, no sabia ?

- ...

Remorso.

* * * * *

Quarenta minutos depois.

Inquieto, o Diretor Clark fecha o laptop ruidosamente.

O bombeiro, mais nervoso ainda, no se contm:

- Vo comprar ?

- O senhor me deixe ir l fora falar com um especialista s um instante e eu lhe dou a resposta.

- Pode usar o telefone aqui de casa.

- interurbano internacional, melhor eu ligar do meu celular mesmo.

Piotr concorda com a cabea e o Diretor Clark caminha alguns passos at a rua, ainda molhada da chuva vespertina.

Goldstein ! O que achou ?

Porqu o telefone ? Porqu simplesmente no digitou no computador ?

Algum poderia ler. Aqui mais tranquilo. J tem dados para dizer se fraude ?

Fraude no . A estrutura parece um polmero, mas tem a densidade do Tungstnio.

algum tipo de metal orgnico fossilizado.

Compro ?

Compre, mas compre tudo. No se deixe enganar, os pedaos foram arrancados de algo

muito maior. Coloque o sujeito na parede que ele leva vocs at a totalidade dos destroos.

- Pelos dados que eu mandei, tem idia de onde tudo veio ?

S so da Terra se voc considerar que os destroos vieram do futuro.

- Se voc est dizendo, ento deve ser.

- E a novata, como est se saindo ?

- Um pouco nervosa, primeira vez assim mesmo.

- O pessoal aqui est fazendo apostas para ver se um de vocs quatro leva a Antnia para a cama antes do IPBA 1 pousar em Washington novamente.

- O Colt est tentando.

- Acha que ele consegue ?

- Duvido. Ela esperta demais, deve estar pensando que a aproximao algum tipo de teste psicolgico.

Goldstein ri.

Agora a parte chata, convencer o sujeito a nos mostrar todo o lote.

Pode confiar. As placas foram arrancadas de algo maior.

Se der errado sempre existe a boa e velha injeo de Sdio Pentatol, no mesmo ?

Talvez nem precise. Boa sorte.

At logo.

* * * * *

Enquanto Michael Clark consultava Henry Goldstein, o resto da equipe tomava o ch e comia os biscoitinhos trazidos da cozinha por Antnia e Olga Televocci, que tenta puxar conversa com o agente Dexter, sentado ao seu lado.

- Vocs viajam muito, no ?

- Bastante.

- Acha que estas rochas vieram dos homenzinhos do espao, mesmo ?

- Se o nosso pessoal tcnico achar que sim, provavelmente vieram.

- Pessoal tcnico quem est falando com seu chefe no telefone ?

- Sim senhora.

Dexter no dava a mnima se teriam de matar aquela gente toda ou no. Nove anos em uma Agncia do Servio de Inteligncia Norte-americano fazem isto com qualquer um.

A mutao progressiva: primeiro voc perde o sono, depois a inocncia... Por ltimo, voc perde a sanidade e ganha um minguado cheque de aposentadoria e os pesadelos que o acompanharo at o tmulo.

* * * * *

Michael Clark abre a porta.

Todos olham para ele esperando alguma proclamao, mas ele nada diz.

Caminha oito passos at a maleta anteriormente carregada por Colt, abre a maleta e diz:

- Eu compro, mas tenho uma condio.

Haviam cem mil dlares na maleta. Piotr e Olga jamais haviam visto tanto dinheiro na vida. Olga ensaia um movimento com o brao para tocar em um mao de notas, mas repreendida com o olhar pelo Diretor Clark.

- Eu quero comprar tudo, seu Piotr.

- Os trs pedaos ?

- No, os trs pedaos mais o resto que o senhor no nos mostrou.

* * * * *

Silncio.

Olga fuzila o marido com o olhar, vida para agarrar os maos de notas de 100 dlares.

- Eu no contei porqu, a minha idia era vender tudo aos poucos, quando fosse precisando de dinheiro, compreende ?

- Suas razes no me interessam, senhor Televocci, guarda os outros pedaos aqui em sua casa ou em outro lugar ?

Olga, louquinha para pegar o dinheiro, se apressa e condena a todos.

- Esto debaixo dagua no lago Rartok, mas vocs vo ter de esperar amanhecer para mergulhar e ver com seus prprios olhos.

Com um gesto pendular, um movimento rpido com a mo esquerda, o Diretor Clark sinaliza para Colt e Jones que a hora havia chegado.

Colt dispara.

Piotr cai.

Jones dispara.

Olga cai.

Percebendo o que estava acontecendo a criana grita.

Jones atira de novo.

Moleque morto.

* * * * *

Hora da Arte-final.

- Antnia, recolha as xcaras que vocs usaram para tomar ch. Vamos lev-las conosco.

- Sim, Diretor Clark.

- Jones, circunde a casa e veja se esta gente tem algum tipo de cmera de segurana.

- Imediatamente.

O resto, fica aqui comigo esperando o Jones.

Michael Clark coloca as trs placas no colo e espera, sentado no confortvel sof dos Televocci.

Minutos mais tarde, Jones aparece, esbaforido:

- Nada.

Michael Clark d a ordem final do dia.

- Vamos ento.

* * * * *

Carro fechado. Aquecedor ligado.

Trocando estradas vicinais por rodovias secundrias e vice-versa, Colt tentava chegar Bucarest no pelo caminho mais curto, mas pelo mais seguro.

Na frente: Colt, o motorista e Jones, dormindo com a cabea apoiada no vidro da porta.

Atrs, da esquerda para a direita: Antnia, o Diretor Clark e Dexter, que se distraia com um PSP e fones de ouvido.

Aparentemente sem rumo, aleatoriamente, o Diretor Clark vagava entre os sites da Revista Der Spiegel, o Pravda e a The Economist. Sobre suas pernas, o laptop pulava como um touro de rodeio, mas, aparente, isto no o incomodava.

Diretor Clark ?

- Sim ?

- Estou atrapalhando ?

- No. O que quer, Antnia ?

- Queria confessar uma coisa.

- Fale.

- Eu no conseguiria matar aquela criana.

- Voc disse a frase de uma maneira errada, incorretamente.

- Como assim ?

- O certo : Eu no conseguiria matar aquela criana, hoje.. Entendeu ?

Silncio.

- O senhor sabe o que aquela mulher me disse na cozinha ?

- No. No tenho como saber. O qu ?

- Que os vampiros eram mais confiveis do que a internet.

- Porqu ?

- Por que os vampiros necessitavam de permisso para entrar nas casas e a internet no.

Michael Clark olha srio para a pupila. Vendo como estava confusa e reticente quanto aos mtodos da agncia, sorri e faz uma gracinha:

- Voc no est mais no Kansas, Dorothy.

Ela no retribui o sorriso.

Se cala.

Sabia que o pior ainda estava por vir.

* * * * *

Uma hora e quarenta e trs minutos depois.

Chegam.

Na porta do hangar, um agente da CIA esperava o grupo para pegar o carro e dar um fim no sedan roubado incendiando-o em algum terreno baldio ou coisa que o valha.

Em misses internacionais, as agncias do resto-do-resto como o I.P.B.A.. o S.D.A.T. e o B.D.F.T. normalmente, precisam do apoio de suas irms mais estruturadas globalmente como a CIA e a NSA. Por sua vez, se um agente da CIA sequestrado por gnomos, eles imediatamente chamam o S.D.A.T. sem nenhuma deferncia.

Mais ou menos. Quando o pessoal da CIA ou da NSA quer ser sacana, eles so sacanas e no ajudam quem quer que seja. E o mesmo pode ser dito da tribo do resto-do-resto.

Depois do Ato Patritico piorou tudo. Ningum mais confia em ningum. Qualquer um que possua um sobrenome com uma sonoridade levemente rabe virou suspeito de terrorismo. A parania substituiu a prudncia.

Estados Desunidos da Amrica, como diria algum Confederado saudosista.

* * * * *

Quatro horas depois.

O cu era delirantemente azul.

Antnia Dillinger dormia como um anjo, esparramada em sua poltrona do I.P.B.A. 1. Ningum teve coragem de acord-la quando o jato executivo decolou do aeroporto de Bucareste para retornar a Washington.

Turbulncia.

Um solavanco.

E Antnia rola direto para o cho da aeronave.

- Ai !

- Voc se machucou ?

- No, acho que no. Colt, estamos no ar ?

- Aham... Ningum teve coragem de te acordar para colocar os cintos. Estamos voltando pra casa.

- E os destroos debaixo do lago ?

- Ns ramos os pioneiros. Matamos os ndios e mapeamos o terreno. Agora a vez dos colonos que vo fazer o trabalho fcil.

- Uma equipe B ?

- Na mosca. Uma equipe B vai sair de Washington no I.P.B.A. 2, achar o tal lago, mergulhar, tirar tudo que for possvel e levar para a rea 51 em Nevada.

- Quer dizer que eu estava em uma equipe A e ningum tinha me falado ?

- Garota esperta.

- Espera s eu contar isto pro meu pai...

- No Kansas ?

- No idiota, em Miami. E o primeiro que comear a me chamar de Dorothy ganha um tiro na cabea.

- Voc no se parece em nada com a Dorothy est mais para Alice.

- No entendi.

- Oz era uma dimenso paralela ou algo assim. O Pas das Maravilhas de Alice era um reino subterrneo que ela chegou caindo em um buraco profundo. Talvez tenha morrido na queda e nunca tenha percebido, entendeu ?

- Voc horrvel, Colt.

- Eu sou realista.

Ela d as costas para o colega. Se aninha no cobertor e tenta dormir de novo. O Agente Colt se retira. No havia feito aquilo por mal. S queria retirar as iluses de Antnia antes que isto pudesse interferir em seu desempenho profissional.

O I.P.B.A. no um lugar para mocinhas que sonham em ser Ripley. um lugar para mocinhas que sonham ser a Rainha Alien.

* * * * *

Inferno.

Depois de muito andar, o Comandante Guevara avista duas criaturas que pareciam conversar animadamente sentadas sobre uma pedra.

Muita nvoa, fumaa de enxofre, cido sulfdrico ou algo ainda mais mal-cheiroso rodeava tudo.

Che tenta o contato:

- Comandante Ernesto Guevara se apresentando para cumprir sua pena.

Uma das criatura levanta vo, paira sobre Guevara e arremessa sua lana.

E o milagre da Tecnologia dos Darknack acontece: automaticamente, um campo de fora reluzente como cristal se expande a partir do amuleto que ainda repousava no bolso da camisa de Guevara, entre as pginas de seu passaporte argentino.

O campo de fora rebate a lana, deixando o demnio totalmente estupefacto.

Guevara sente a energia do aparelho em sua pele e percebe que aquela pedra havia sido a responsvel por sua salvao. Tira o amuleto do bolso e coloca-o sobre a palma da mo. Aperta o amuleto com a mo fechada e novo milagre acontece: o campo de fora se expande. Quando ele solta a presso, o campo de fora se retra.

Fascinado, aperta a pedra com toda a sua fora, fazendo o campo expandir at engolir o demnio que, paralisado, despenca do cu, incapaz de voar, mas dentro da bolha criada pelo campo de fora.

Guevara d alguns passos para trs, distanciando-se da criatura e v uma mudana radical na fisionomia do ser infernal: de um rosto retorcido pelo dio em uma placidez patolgica, quase de um lobotomizado.

Che expande a bolha ainda mais, pegando a lana abandonada no cho, porm o demnio no parecia oferecer mais perigo do que algum sob a prostrao profunda de um estado de choque.

Com a lana em punho, apontada para o demnio, Guevara tenta alguma aproximao:

- Voc um demnio, eu presumo.

- Sim, meu amo, vivo para serv-lo.

Analiticamente, Che percebe que o artefato no somente gerava um campo de fora que o protegia, mas retirava a fora de vontade de qualquer um que estivesse dentro da abbada, submetendo-se ao portador do amuleto como um escravo-zumbi.

Resolve fazer um teste.

Aperta com ainda mais fora o amuleto contra a palma de sua mo fazendo a campo se expandir at alm do outro demnio que desaba da pedra onde observava tudo uma distncia que pensou ser segura.

O demnio se estatela no cho.

Guevara corre para pegar a lana do segundo demnio e leva o campo de fora junto.

Com o segundo demnio sobre a mira de duas lanas, pergunta:

- Voc tem um nome ?

- Naliel, amo.

- Parece nome de anjo.

- Fui um anjo, um dia. Quando Lcifer quer premiar um de ns, ele permite que adotemos um novo nome para que possamos nos esquecer de nossos tempos na Jerusalm Celestial. Nunca tive esta sorte.

- Se eu bem me lembro dos sermes na igreja, Lcifer quem manda aqui.

- Sim, amo, desde que o lugar foi criado.

- E como ele trata vocs ?

- Mal. Somos espancados, chicoteados, torturados e pisoteados. Bem verdade, bem menos que as almas dos humanos que torturamos, mas um vida de dor e humilhao, amo.

- E este Lcifer, onde ele est ?

- Dite, a cidade infernal.

- a capital ?

- a nica cidade que temos.

- Ningum nunca tentou sitiar Dite, derrubar as marulhas e depr Lcifer ?

- Isto impossvel, amo... Os demnios mais poderosos, aqueles que lutaram contra os arcanjos de Deus e sobreviveram so fiis Satan: Baal, Astaroth, Asmodeu e os que vivem na corte lucifrica formam uma legio devastadora.

- Nunca diga a palavra impossvel meu amigo. O leste para que lado ?

- L. diz o demnio apontando com o dedo.

- Senhores, antes de mencionarem de novo a palavra impossvel, permitam que eu lhes conte umas estrias sobre um lugar chamado Sierra Maestra...

* * * * *

CONTINUA...