boletim_epidemiologico_observaco

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  • 7/23/2019 Boletim_Epidemiologico_Observaco

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    artigosbreves_ n. 1

    03

    Comemoraram-se e m 2014 os 35 anos de existncia do Programa

    Nacional de Diagnstico Precoce (PNDP). Olhando-se hoje para

    este exemplar programa de rastreio neonatal, para o seu funcio-

    namento simples e eficaz, para a taxa de cobertura prxima dos

    100%, vendo-se a naturalidade c om que os pais aceitam e procu-

    ram a picada do pezinho do seu beb, difcil de imaginar um

    Portugal moderno em que um programa desses no existisse.

    Os programas de rastreio neonatal so programas de sade p-blica, com o objetivo de uma deteo precoce de recm-na scidos

    afetados por determinada patologia, com vista a um incio atem-

    pado do tratamento, com vista a uma diminuio da morbilidade

    e mortalidade.

    O rastreio neonatal teve o seu incio com os trabalhos pioneiros de

    Robert Guthrie (1)nos anos sessenta, que desenvolveu um mtodo

    simples e econmico de avaliar semi-quantitativamente os nveis de

    fenilalanina, em sangue de recm-nascidos colhido em papel para o

    rastreio da fenilcetonuria. A adoo de papel de fil tro como suporte

    para colheita de amostra, o chamado Guthrie card, tambm se reve-

    lou ela inovadora, dada a facilidade de transporte e estabilidade da

    amostra depois de seca. As vantagens do tipo de amostra, a sim-

    plicidade e baixo custo do teste, associados aos excelentes resulta-

    dos de um tratamento precoce da fenilcetonria, foram os grandes

    impulsionadores da implementao dos programas de rastreio neo-

    natal por todo o mundo (2).

    Em Portugal, o Programa Nacional de Diagnstico Precoce ini-

    ciou-se em 1979 com o rastreio da fenilce tonria, tendo-se inicia-

    do o rastreio do hipotiroidismo congnito em 1981 (3). Em 2004

    procedeu-se adoo da tecnologia de espetrometria de massa

    em tandem (MS/MS), uma tecnologia multianal tica que possibilita

    o rastreio simultneo de mais de 20 doenas metablicas, tendo

    passado a rastrear-se um total de 25 doenas (o hipotiroidismo

    congnito e 24 doenas metablicas) (4). No final de 2013 deu-se

    incio ao estudo piloto para o rastreio da fibrose qustica .

    Sob a gide do PNDP, foram nesses 35 anos rastreados para a fe-

    nilcetonria e hipotiroidismo congnito cerca de 3.500.000 recm-

    nascidos (mais de 30% da populao atual), aproximadamente

    900.000 dos quais foram tambm rastreados para as restantes do-

    enas hereditrias do metabolismo, e ainda 80.000 para a Fibrose

    Qustica.

    Desde o incio do Programa houve uma evoluo da taxa de co-

    bertura do mesmo sendo que nas ltimas dcadas foi aproxima-

    damente 100% dos recm-nascidos (grfico 1).

    Outro indicador importante do PNDP a mdia da idade do re-

    cm-nascido na altura da comunicao de resultados positivos

    (grfico 2). O valor encontra-se atualmente nos 9,9 dias o que

    um bom resultado, considerando que a colheita realizada entre

    o 3 e o 6 dia de vida. Este indicador j se encontra estvel nos

    ltimos 10 anos.

    Durante este perodo, foram identificados 1.815 portadores das pa-

    tologias rastreadas. Este resultado permite-nos verificar que estasdoenas apresentam, no seu conjunto, uma prevalncia ao nasci-

    mento de 1:1.106(quadro 1)(5).

    _Programa Nacional de Diagnstico

    Precoce: 35 anos de atividade (1979-2014)

    Laura Vilarinho1,2, Hugo Rocha1, Carmen Sousa1,

    Helena Fonseca1, LurdesLopes1, Ivone Carvalho1, Ana Marco1,

    Paulo Pinho e Costa2

    la ur a.v il ar in [email protected] in -sau de.pt

    (1) Unidade de Rastreio Neonatal, Metabolismo e Gentica. Depar tamento de Gentica

    Humana, INSA.

    (2) Comisso Executiva do Programa Nacional de Diagnstico Precoce.

    _Rastreio Neonatal

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    Instituto Nacional de Sade Doutor Ricardo Jorge, IP

    Doutor Ricardo Jorge

    Nacional de Sade_Instituto Observaes_ Boletim Epidemiolgico

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    0

    20.000

    40.000

    60.000

    80.000

    100.000

    120.000

    140.000

    160.000

    Nascimentos RN estudados

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

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    16

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    81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14

    Dias

    Anos

    Grfico 1: Recm-nascidos estudados versusnatalidade evoluo nos ltimos 35 anos.

    Grfico 2: Mdia da idade do recm-nascido na altura da comunicao de resultados positivos.

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    Patologias

    Aminoacidop at ias

    Fenilcetonria

    Hiperfenilalaninemia/Dfice em Dihidropterina Redutase (DHPR)

    Leucinose (MSUD)

    Ti rosinemia tipo I ( Tyr I)

    Ti rosinemia tipo II/ III (Ty r I I/ III )

    Homocistinria clssica (CBS)

    Deficincia em metionina aden osiltransferase II/III (MAT II/III)

    Doenas do ciclo da ureia

    Citrulinemia tipo I (Cit I)

    Ac idr ia argininosucc in ica ( AAS)

    Argininemia (Arg)

    Ac idr ias o rgn icas

    3-Metilcrotonilglicinria (3-MCC)

    Ac idr ia Isova le ri ca

    Deficincia em holocarboxilase sintetase (Def. HCS)

    Ac idr ia prop in ica (PA)

    Ac idr ia meti lma lnica tipo mut - (MMA mut-)

    Ac idr ia glutr ica t ipo I

    Ac idr ia meti lma lnica tipo Cbl C/D (Cb l C/ D)

    Ac idr ia 3-hidroxi -3-me ti lg lu t ri ca (3- HMG )

    Ac idr ia ma lnica (MA )

    Dfices da -oxidao mitocondrial

    Deficincia da Desidrogenase dos cidos Gordos de Cadeia Mdia (MCAD)

    Deficincia da Desidrogenase de 3- Hidroxi-Acil-CoA de Cadeia Longa (LCHAD)

    Deficincia Mltipla das Acil-CoA Desidrogenases dos cidos Gordos (MADD)

    Deficincia primria em car nitina (CUD)

    Deficincia da Desidrogenase dos cidos Gordos de Cadeia Muito Longa (VLCAD)

    Deficincia da Carnitina-Palmitoil Transferase I (CPT I)

    Deficincia da Carnitina-Palmitoil Transferase I (CPT II)

    Deficincia da Desidrogenase de 3- Hidroxi-Acil-CoA de Cadeia Curta (SCHAD)

    Hipotiroidismo congnito

    Fibrose Qustica

    Tota l

    Positivos

    403

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    21

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    5

    8

    8

    2

    3

    2

    1 160

    10

    1 815

    Prevalncia

    1: 5 754

    1: 10 383

    1: 43 025

    1: 112 942

    1: 150 589

    1: 903 533

    1: 451 767

    1: 28 235

    1: 47 554

    1: 90 353

    1: 225 883

    1: 180 707

    1: 12 549

    1: 37 647

    1: 225 883

    1: 451 767

    1: 301 178

    1: 225 883

    1: 69 503

    1: 75 294

    1: 100 393

    1: 451 767

    1: 6 024

    1: 8 067

    1: 90 353

    1: 180 707

    1: 112 942

    1: 112 942

    1: 451 767

    1: 301 178

    1: 451 767

    1: 2 953

    1: 8 000

    1: 1 106

    Quadro 1: Prevalncia ao nascimento das patologias rastreadas.

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    artigosbreves_ n. 1

    O rastreio neonatal fundamental para o diagnstico precoce

    destas doenas, possibilitando um tratamento adequado a cada

    caso, salvando vidas e evitando frequentemente complicaes

    graves. Permite um melhor conhecimento destas patologias, mes-

    mo antes das suas primeiras manifestaes, contribuindo para a

    investigao bsica e clnica, com impacto positivo nos avanos

    do diagnstico e teraputica. Os resultados obtidos contribuem

    para um melhor conhecimento da epidemiologia das doenas ras-

    treadas onde, de entre as Doenas Hereditrias do Metabolismo

    se destaca a deficincia da desidrogenase dos cidos gordos de

    cadeia mdia (MCAD) como a que apresenta uma maior prevaln-cia ao nascimento, seguida pela fenilcetonria a primeira doena

    a ser rastreada no Programa.

    Durante os seus 35 anos de existncia, o rastreio neonatal afir-

    mou-se com pea-chave na abordagem das doenas raras. Nesse

    contexto, so de salientar as doenas hereditrias do metabolis-

    mo, que tm ganho crescente relevncia no mbito dos programas

    nacionais que enquadram a evoluo positiva dos i ndicadores de

    sade em Portugal, como sejam os indicadores de mortalidade

    e morbilidade infantis. O rastreio neonatal soube, neste perodo,

    evoluir e reinventar-se, mantendo-se na vanguarda da evoluo

    tecnolgica.

    O futuro passa por faze r sempre mais e mel hor, investindo por um

    lado na otimizao dos rastreios existentes, e por outro na avalia-

    o das possibilidades e vantagens do alargamento do rastreio a

    mais doenas, com o f ito de maximizar o va lor do PNDP, em ter-

    mos de sade pblica.

    Referncias bibliogrficas:

    (1) Guthrie R, Suzy A. (1963) A simple phenylalan ine method for detecting phenylketonuria

    in large populations of newborn infants. Pediatrics. 1963;32:338-43

    (2) Therrell BL, Padil la CD, Loeber JG, et al. Current status of newborn screening

    worldwide: 2015. Semin Perinatol. 2015;39(3):171-87. Review.

    (3) Vaz Osrio R. Vinte anos de Diagnstico Precoce. Cadernos da Direco-Geral da

    Sade. 2002;1: 3-5.

    www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i005519.pdf

    (4) Vilarinho L, Rocha H, Sousa C, et al. Four years of expanded newborn screening in

    Portugal with tandem mass spectrometry. J Inherit Metab Dis. 2010;33(Suppl 3):S133-8.

    (5) Vilarinho L, Costa PP, Diogo L. Programa Nacional de Diagnstico Precoce:

    relatrio 2014. Lisboa: Instituto Nacional de sade Doutor Ricardo Jorge, 2015.

    http://hdl.handle.net/10400.18/3204

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