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Comemoraram-se e m 2014 os 35 anos de existncia do Programa
Nacional de Diagnstico Precoce (PNDP). Olhando-se hoje para
este exemplar programa de rastreio neonatal, para o seu funcio-
namento simples e eficaz, para a taxa de cobertura prxima dos
100%, vendo-se a naturalidade c om que os pais aceitam e procu-
ram a picada do pezinho do seu beb, difcil de imaginar um
Portugal moderno em que um programa desses no existisse.
Os programas de rastreio neonatal so programas de sade p-blica, com o objetivo de uma deteo precoce de recm-na scidos
afetados por determinada patologia, com vista a um incio atem-
pado do tratamento, com vista a uma diminuio da morbilidade
e mortalidade.
O rastreio neonatal teve o seu incio com os trabalhos pioneiros de
Robert Guthrie (1)nos anos sessenta, que desenvolveu um mtodo
simples e econmico de avaliar semi-quantitativamente os nveis de
fenilalanina, em sangue de recm-nascidos colhido em papel para o
rastreio da fenilcetonuria. A adoo de papel de fil tro como suporte
para colheita de amostra, o chamado Guthrie card, tambm se reve-
lou ela inovadora, dada a facilidade de transporte e estabilidade da
amostra depois de seca. As vantagens do tipo de amostra, a sim-
plicidade e baixo custo do teste, associados aos excelentes resulta-
dos de um tratamento precoce da fenilcetonria, foram os grandes
impulsionadores da implementao dos programas de rastreio neo-
natal por todo o mundo (2).
Em Portugal, o Programa Nacional de Diagnstico Precoce ini-
ciou-se em 1979 com o rastreio da fenilce tonria, tendo-se inicia-
do o rastreio do hipotiroidismo congnito em 1981 (3). Em 2004
procedeu-se adoo da tecnologia de espetrometria de massa
em tandem (MS/MS), uma tecnologia multianal tica que possibilita
o rastreio simultneo de mais de 20 doenas metablicas, tendo
passado a rastrear-se um total de 25 doenas (o hipotiroidismo
congnito e 24 doenas metablicas) (4). No final de 2013 deu-se
incio ao estudo piloto para o rastreio da fibrose qustica .
Sob a gide do PNDP, foram nesses 35 anos rastreados para a fe-
nilcetonria e hipotiroidismo congnito cerca de 3.500.000 recm-
nascidos (mais de 30% da populao atual), aproximadamente
900.000 dos quais foram tambm rastreados para as restantes do-
enas hereditrias do metabolismo, e ainda 80.000 para a Fibrose
Qustica.
Desde o incio do Programa houve uma evoluo da taxa de co-
bertura do mesmo sendo que nas ltimas dcadas foi aproxima-
damente 100% dos recm-nascidos (grfico 1).
Outro indicador importante do PNDP a mdia da idade do re-
cm-nascido na altura da comunicao de resultados positivos
(grfico 2). O valor encontra-se atualmente nos 9,9 dias o que
um bom resultado, considerando que a colheita realizada entre
o 3 e o 6 dia de vida. Este indicador j se encontra estvel nos
ltimos 10 anos.
Durante este perodo, foram identificados 1.815 portadores das pa-
tologias rastreadas. Este resultado permite-nos verificar que estasdoenas apresentam, no seu conjunto, uma prevalncia ao nasci-
mento de 1:1.106(quadro 1)(5).
_Programa Nacional de Diagnstico
Precoce: 35 anos de atividade (1979-2014)
Laura Vilarinho1,2, Hugo Rocha1, Carmen Sousa1,
Helena Fonseca1, LurdesLopes1, Ivone Carvalho1, Ana Marco1,
Paulo Pinho e Costa2
la ur a.v il ar in [email protected] in -sau de.pt
(1) Unidade de Rastreio Neonatal, Metabolismo e Gentica. Depar tamento de Gentica
Humana, INSA.
(2) Comisso Executiva do Programa Nacional de Diagnstico Precoce.
_Rastreio Neonatal
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0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
Nascimentos RN estudados
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
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22
24
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Dias
Anos
Grfico 1: Recm-nascidos estudados versusnatalidade evoluo nos ltimos 35 anos.
Grfico 2: Mdia da idade do recm-nascido na altura da comunicao de resultados positivos.
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Patologias
Aminoacidop at ias
Fenilcetonria
Hiperfenilalaninemia/Dfice em Dihidropterina Redutase (DHPR)
Leucinose (MSUD)
Ti rosinemia tipo I ( Tyr I)
Ti rosinemia tipo II/ III (Ty r I I/ III )
Homocistinria clssica (CBS)
Deficincia em metionina aden osiltransferase II/III (MAT II/III)
Doenas do ciclo da ureia
Citrulinemia tipo I (Cit I)
Ac idr ia argininosucc in ica ( AAS)
Argininemia (Arg)
Ac idr ias o rgn icas
3-Metilcrotonilglicinria (3-MCC)
Ac idr ia Isova le ri ca
Deficincia em holocarboxilase sintetase (Def. HCS)
Ac idr ia prop in ica (PA)
Ac idr ia meti lma lnica tipo mut - (MMA mut-)
Ac idr ia glutr ica t ipo I
Ac idr ia meti lma lnica tipo Cbl C/D (Cb l C/ D)
Ac idr ia 3-hidroxi -3-me ti lg lu t ri ca (3- HMG )
Ac idr ia ma lnica (MA )
Dfices da -oxidao mitocondrial
Deficincia da Desidrogenase dos cidos Gordos de Cadeia Mdia (MCAD)
Deficincia da Desidrogenase de 3- Hidroxi-Acil-CoA de Cadeia Longa (LCHAD)
Deficincia Mltipla das Acil-CoA Desidrogenases dos cidos Gordos (MADD)
Deficincia primria em car nitina (CUD)
Deficincia da Desidrogenase dos cidos Gordos de Cadeia Muito Longa (VLCAD)
Deficincia da Carnitina-Palmitoil Transferase I (CPT I)
Deficincia da Carnitina-Palmitoil Transferase I (CPT II)
Deficincia da Desidrogenase de 3- Hidroxi-Acil-CoA de Cadeia Curta (SCHAD)
Hipotiroidismo congnito
Fibrose Qustica
Tota l
Positivos
403
333
21
8
6
1
232
19
10
4
5
73
24
4
2
3
4
13
12
9
2
150
112
10
5
8
8
2
3
2
1 160
10
1 815
Prevalncia
1: 5 754
1: 10 383
1: 43 025
1: 112 942
1: 150 589
1: 903 533
1: 451 767
1: 28 235
1: 47 554
1: 90 353
1: 225 883
1: 180 707
1: 12 549
1: 37 647
1: 225 883
1: 451 767
1: 301 178
1: 225 883
1: 69 503
1: 75 294
1: 100 393
1: 451 767
1: 6 024
1: 8 067
1: 90 353
1: 180 707
1: 112 942
1: 112 942
1: 451 767
1: 301 178
1: 451 767
1: 2 953
1: 8 000
1: 1 106
Quadro 1: Prevalncia ao nascimento das patologias rastreadas.
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O rastreio neonatal fundamental para o diagnstico precoce
destas doenas, possibilitando um tratamento adequado a cada
caso, salvando vidas e evitando frequentemente complicaes
graves. Permite um melhor conhecimento destas patologias, mes-
mo antes das suas primeiras manifestaes, contribuindo para a
investigao bsica e clnica, com impacto positivo nos avanos
do diagnstico e teraputica. Os resultados obtidos contribuem
para um melhor conhecimento da epidemiologia das doenas ras-
treadas onde, de entre as Doenas Hereditrias do Metabolismo
se destaca a deficincia da desidrogenase dos cidos gordos de
cadeia mdia (MCAD) como a que apresenta uma maior prevaln-cia ao nascimento, seguida pela fenilcetonria a primeira doena
a ser rastreada no Programa.
Durante os seus 35 anos de existncia, o rastreio neonatal afir-
mou-se com pea-chave na abordagem das doenas raras. Nesse
contexto, so de salientar as doenas hereditrias do metabolis-
mo, que tm ganho crescente relevncia no mbito dos programas
nacionais que enquadram a evoluo positiva dos i ndicadores de
sade em Portugal, como sejam os indicadores de mortalidade
e morbilidade infantis. O rastreio neonatal soube, neste perodo,
evoluir e reinventar-se, mantendo-se na vanguarda da evoluo
tecnolgica.
O futuro passa por faze r sempre mais e mel hor, investindo por um
lado na otimizao dos rastreios existentes, e por outro na avalia-
o das possibilidades e vantagens do alargamento do rastreio a
mais doenas, com o f ito de maximizar o va lor do PNDP, em ter-
mos de sade pblica.
Referncias bibliogrficas:
(1) Guthrie R, Suzy A. (1963) A simple phenylalan ine method for detecting phenylketonuria
in large populations of newborn infants. Pediatrics. 1963;32:338-43
(2) Therrell BL, Padil la CD, Loeber JG, et al. Current status of newborn screening
worldwide: 2015. Semin Perinatol. 2015;39(3):171-87. Review.
(3) Vaz Osrio R. Vinte anos de Diagnstico Precoce. Cadernos da Direco-Geral da
Sade. 2002;1: 3-5.
www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i005519.pdf
(4) Vilarinho L, Rocha H, Sousa C, et al. Four years of expanded newborn screening in
Portugal with tandem mass spectrometry. J Inherit Metab Dis. 2010;33(Suppl 3):S133-8.
(5) Vilarinho L, Costa PP, Diogo L. Programa Nacional de Diagnstico Precoce:
relatrio 2014. Lisboa: Instituto Nacional de sade Doutor Ricardo Jorge, 2015.
http://hdl.handle.net/10400.18/3204
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