boletim especial "olhar" jornal jr unesp - 24/09
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Terceira edição especial do boletim "Olhar" sobre a Se,mana do Jornalismo da Ufsc.TRANSCRIPT
Jornal JúniorAlém do OLHAR, a equipe da Agência Júnior de Jornalismo da UNESP Bauru já produziu três boletins radiofônicos so-bre a Semana do Jornalismo
da UFSC. Acesse em: www.radiovirtual.unesp.br
América Latina em focoNildo OuriquesConvidado a falar na
Semana do Jornalismo da UFSC, o economista e especialista em estudos latino-americanos critíca o modelo de jornalismo praticado pela imprensa brasileira ao se falar em América Latina. Confira
no OLHAR.
Páginas 4 e 5
Boletim Informativo da Agência Júnior de Jornalismo
Edição Especial IIIQuarta-feira, 24 de setembro de 2009Florianópolis - Santa Catarina
Foto
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iogo
Zam
bello
Convidado fala sobre a movimentação política latino-americana sob o olhar da iimprensa
Mesas de Debate
Confira as discussões do terceiro dia da Semana.
Questões sobre jornalismo econômico e uma conversa
caliente sobre América Latina.
Páginas 2, 3 e 6
Entrevista
Equipe do OLHAR conversa com Flávio Dieguez,
colaborador do Le Monde Diplomatique no Brasil.
Páginas 7 e 8
Paul Jurgens é correspondente no Brasil da re-
vista francesa Courrier Internacional, do gru-
po Le Monde. Selou uma posição defensiva
na mesa. Afirmou que o Brasil está se projetando de
maneira definitiva no exterior (segundo ele, a Europa
e os Estados Unidos). Sobre o tema central, pouco
criticou a atu-
ação da mídia
brasileira na
América Latina,
considerada fa-
lha pelo profes-
sor que discur-
sou em seguida.
A voz críti-
ca da mesa foi
de Nildo Ouri-
ques, professor
de economia
da UFSC e presidente do Instituto de Estudos Lati-
no Americanos, o IELA. Nildo focou-se nas falhas de
cobertura da América Latina pela imprensa brasilei-
ra. Definiu-a como ignorante e foi mais longe, “Nós
nos ignoramos”. Ressaltou que o país precisa crescer
primeiro em sua região para depois alcançar des-
taque mundial. “Não dá mais para ignorar a Amé-
rica Latina. Se quisermos ser protagonistas (mun-
diais), precisamos representar a região”, definiu.
Afirmou ainda que a imprensa do país submete-
se a um pensamento eurocêntrico, “sem admitir e
reconhecer nossa
condição de lati-
no-americanos”.
Nildo atacou os
grandes veículos
midiáticos, afir-
mando que “o
jornalismo teme
a opinião públi-
ca bem informa-
da”. Para ilustrar
a negligência
da imprensa
brasileira na cobertura dos problemas da re-
gião, citou Chico Buarque: “a dor da gen-
te não sai no jornal”. Ouriques ainda conside-
rou que a mídia molda o pensamento do povo.
O professor provocou José Eduardo Barella, editor
olharolhar2
Mais pela América, mais para nósFalhas na representação da América Latina podem influenciar visibilidade do Brasil no exterior
Mesas de debateLaís Bellini e Diogo Zambello
Três cabeças destoantes. Foi o que bastou para que o debate na mesa de discussões “Discursos divergentes: como a imprensa vê a América Lati-
na” inflamasse. O debate reuniu a experiência de um correspondente da Eu-ropa no Brasil, a indignação de um professor pela má cobertura da mídia brasi-leira na região latino-americana e um editor de um grande veículo midiático.
Paul Jurgens, José Eduardo Barella e Nildo Ouriques
Foto: Diogo Zambello
olharolhar 3
“Discursos Divergentes”Florianópolis, 24 de setembro de 2009
Renato Oliveira
de internacional do jornal O Esta-
do de São Paulo, dizendo que a
imprensa age como se estivés-
semos numa condição de desen-
volvimento. Para Ouriques, nós
ainda somos subdesenvolvidos e
dependentes assim como qual-
quer país latino-americano. Con-
cluiu dizendo que o país precisa
se aceitar como tal para que pos-
sa crescer e então se desenvolver.
Foi depois desses ataques à
imprensa brasileira que o dis-
curso passou a ser de Barella. O
representante de um dos maio-
res veículos midiáticos defendeu
sua posição e a do jornal em que
trabalha. Para o jornalista, “não
há notícia (em muitos países da
América Latina). Um correspon-
dente é enviado para uma região
e espera encontrar algo novo
e nada muda. É só gasto”. Essa
ideia resulta do pensamento que
circunda O Estadão e a política
editorial do jornal. Por causa dele,
o editor foi alvo de críticas tanto
vindas dos espectadores quanto
de outros convidados da mesa.
“Falta cobertura na América La-
tina, a região em que o Bra-
sil se encontra política, eco-
nômica e geograficamente.
Enquanto isso, a Europa e os
Estados Unidos estão em pauta
diariamente nos meios”, incon-
forma-se Nildo. Barella retrucou
ressaltando a importância da
cobertura na Europa, contudo
não desenvolveu um discurso de
modo a responder por que a im-
prensa brasileira não atua firme-
mente na região latino-americana.
O debate acabou, os dis-
cursos se fizeram firmes, mas
as opiniões se mantiveram
como bem determinou a defi-
nição desta mesa: divergentes.
EXPEDIENTE
Diretoria de Recursos Humanos Cristia-
no Pátaro Pavini e Danielle Mota
Cruz
Diretoria de Projetos Douglas Calixo e
Kelli Franco
Diretoria de Finanças Murilo Tomaz e
Marina Mazzini
Diretoria de Marketing Davi Rocha
Diretoria de Assessoria da Comunicação Renato Oliveira e Ariani Barbalho Diretor Presidente Diogo Zambello
Zacarias Edição Juliana Mello Projeto Gráfico e Diagramação Douglas
Calixto
Colaboração Leo Schmidt & Jornalis-
mo UFSC
unespUNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
www.jornaljunior.comConfira no blog oficial da Agência Júnior da UNESP Bauru as principais
notícias e informações da 8ª edição da Semana do Jornalismo da Univer-sidade Federal de Santa Catarina
Acesse:www.mundodigital.unesp.br
olhar 4
Mirando la pluralidad
Nildo Ouriques atuou no jornalismo na América Central, onde concluiu seu doutorado pela Universidade Nacio-
nal Autônoma do México. Atualmente, é professor de economia da UFSC e presidente do IELA (Instituto de Estudos Latino-Ame-ricanos) da Universidade. Também leciona no Programa de Dou-torado em Desenvolvimento Econômico da Benemérita Universi-dade de Puebla (UAP – México). Como especialista em estudos latino-americanos, Nildo Ouriques tem diversas publicações nessa área.
Durante a mesa de discussão, “Discursos Divergentes: Como a im-prensa brasileira vê a América Latina”, Nildo apontou a imprensa brasi-leira como submissa a um pensamento eurocêntrico. Criticou também o caráter manipulador dos grandes veículos de comunicação, desta-cando a responsabilidade de falar à massa. Terminada a discussão, Nildo conversou com a equipe do OLHAR. Confira o bate-papo a seguir.
Bellini – Por que a Améri-ca Latina voltou a existir para os veículos de comunicação?
Nildo – Politicamente a Amé-rica Latina está em movimento, o povo latino-americano se le-vantou. Se levantou na Venezue-la, se levantou na Bolívia, se le-vantou no Equador, há também a resistência histórica cubana. E isso se transformou em assunto não porque o Chávez é midiáti-co, não porque o Evo Morales é um indígena ou porque o Rafael Corrêa é um economista com po-sições fortes. Milhões de pessoas estão recuperando a identidade e o povo está sendo o protagonista político a despeito desses gover-nos. O fato essencial é esse. Há uma conjuntura, nesse sentido, muito melhor que a dos anos 60.
Bellini – Como você define o caráter sistemático de produ-ção da grande imprensa, apon-tado durante a discussão?
Nildo – Você pega informa-ções ruins, informações inverídi-cas, com tamanha constância e isso chama a atenção. É uma ig-norância de tal forma que só pode ter sido produzida. Nós temos que verificar quais são as estruturas que determinaram essa ignorân-cia. Uma delas é o eurocentrismo,
EntrevistaLaís Bellini e Diogo Zambello
Nildo OuriquesFo
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olhar 5
Nildo Ouriques
Nildo Ouriques: “o jornalismo teme a opinião pública bem informada
o que determina uma visão de mundo a partir da Europa. Tudo o que vem da Bolívia nos parece es-tranho, pois não vem dos cafés de Paris. Tudo o que vem do Equador não nos parece um bom exemplo, pois os bons exemplos só nascem na Inglaterra. E tudo que vem da Venezuela não parece adequado, pois as normas vêm dos Estados Unidos. Então tudo isso nos faz parecer que a América Latina está fadada a dar errado. Mas o que nós estamos vendo é que aqui está se reinventando a política. O tema da democracia participa-tiva como protagonista, as mas-sas participando da política, um otimismo que existe na América Latina, não existe na Europa. A Europa não está dando nenhuma contribuição pra política. É inexis-tente também nos Estados Unidos, Ásia. As coisas estão acontecendo aqui na América Latina. Então, observar a produção da igno-rância brasileira sobre a América Latina é uma das tarefas jornalís-ticas e intelectuais mais importan-tes do mundo contemporâneo.
Bellini – Sendo assim, quais são os rumos a se-guir para atingirmos a con-dição de jornalismo crítico?
Nildo – Observar que o jor-nalismo é um modelo de pro-
paganda, são empresas de co-municação, são monopólios por trás da informação. Seguem as determinações de Washington a partir da política externa. O que o jornalista deve fazer é buscar a verdade mesmo que isso amea-ce o seu futuro profissional. Não existe outra maneira de fazer jor-nalismo a não ser buscando isso.
Bellini – Durante a discus-são você afirmou que o jorna-lismo teme o a opinião públi-ca bem informada. Gostaria que você comentasse isso.
Nildo – Na verdade, eu tiro isso de George Orwell. Se ele diz que o jornalismo teme a opinião pública, eu digo que o jornalista teme a opinião pública bem infor-mada. Pois, se a opinião pública for bem informada esse mode-lo de propaganda do jornalismo não terá mais espaço. Quem faz jornalismo e não entende isso ou é ingênuo, ou vai se transformar inexoravelmente em um cínico.
Bellini – Fale um pouco so-bre o que você disse duran-te a mesa de discussão, so-bre o jornalista não avaliar todos os lados da questão.
Nildo – O que eu digo é que o jornalismo brasileiro viola, sis-tematicamente, o princípio do
pluralismo que ele diz defender.
Bellini – E sobre o que você disse da crítica que a im-prensa faz ao nacionalismo?
Nildo – Existe uma dificulda-de muito grande em afirmar que o Obama é um nacionalista, que o Sarkozy é um nacionalista, assim como eles afirmam que o Chávez é um nacionalista. E todos eles re-almente o são. Parece que o único nacionalismo que tem direito a exis-tir é o europeu, o latino-america-no não. Isso não ocorre por acaso. Ocorre porque a burguesia, a elite brasileira não pode levar o nacio-nalismo às ultimas consequências.
EntrevistaEntrevistaEntrevistaEntrevista
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Mesas de Debate
O be-a-bá dos númerosPara escrever sobre economia, é preciso saber usar as palavras
Juliana Mello
Marçal Alves Leite, João Rogério Sanson e Flávio Dieguez mediados pelo prof. Carlos Locatelli
Com o nome “O resto é nú-mero”, a quarta mesa de dis-cussão da Semana abordou
a cobertura econômica em tem-pos de crise. Os convidados a falar sobre o assunto foram os jornalis-tas Flávio Dieguez e Marçal Alves Leite e o professor de economia da UFSC, João Rogério Sanson.
Para o colaborador do Le Mon-de no Brasil, Flávio Dieguez, é de-ver do jornalista se informar sobre aquilo que escreve e traduzir o conteúdo econômico para a lingua-gem do dia-dia. Segundo ele, isso não tem sido feito. Dieguez acre-dita que a cobertura do jornalismo econômico dá muita importância aos números e às estatísticas e menospreza o contexto social em
que essa matemática está inserida. “Os números são a parte menos importante da economia, o que importa realmente são as relações que ela tece entre as pessoas. Es-sas relações trazem consequên-cias sociais e por isso é necessário entender de economia”, explica.
O professor de ciências econô-micas da UFSC, José Rogério San-son, também partilha a opinião de que o jornalista não pode jamais usar termos técnicos de economia na matéria. Ele precisa traduzir para o público o que os pesqui-sadores e especialistas falam, afi-nal ele é “a cara do grande pú-blico”. “As pessoas têm dificuldade em entender estatísticas, então a mídia foca a cobertura econô-
mica em fatos isolados e especí-ficos para facilitar a compreen-são, mas isso limita a visão” , diz.
Já o editor de indicadores econômicos do jornal Zero Hora, Marçal Alves Leite, assumiu que crises individuais sempre existi-ram e que cabe às pessoas bus-car sair delas. “Todos falam que não entendem de economia, mas não buscam entender. Quem quer saber, sempre procurará por aquilo que for do seu interesse”.
Marçal acredita que cada um deve saber administrar suas fi-nanças para evitar as crises, evi-tando se endividar, já que, segun-do o jornalista, a inadimplência é o principal fator para o surgi-mento de uma crise econômica.
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Florianópolis, 24 de setembro de 2009
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Flávio DieguezPor uma economia mais social
Falar em economia nos grandes veículos de comunicação sem-
pre causa polêmica. Flávio Dieguez, colaborador do Le Monde Diploma-tique no Brasil, explica a forma “su-perficial” com que a mídia brasilei-
ra leva as questões econômicas para a população. Flávio, que já trabalhou em revistas como Veja, Istoé e Super Inter-essante, falou um pouco a Jornal Júnior sobre o enfoque dado pela grande mídia aos problemas econômicos.
Renato Oliveira - Quem, afinal, deve falar de economia ao grande público, o economista ou o jornalista?Flávio Dieguez - No jornal quem fala é o jornalista. Sou totalmente contra a ideia de que um profissional que não seja jornalista fale sobre qualquer assunto. Quem entende de comunicação é o jornalista, ele é a pessoa adequada para transmitir a mensagem ao público.
Renato - E a nossa mídia no Brasil, no âmbito da economia, escreve para qual tipo de leitor?Dieguez - Os grandes jornais brasileiros tem uma tiragem muito pequena. Eles escrevem para a classe média. Sessenta por cento do jornalismo econômico feito no Brasil é escrito para operadores de mercado, empresários, para um público que já é da economia. Quando fazem algo mais popular, como a editoria de dinheiro da Folha, eles pegam questões mais superficiais.
Renato - Que tipo de questões?Dieguez: Aplicações financeiras de pessoas físicas, inflação, preço de comida, coisas mais próximas do
Para jornalista, a imprensa brasileira não faz a população refletir sobre aspectos econômicos
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Florianópolis, 24 de setembro de 2009
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consumidor. Isso é bom, mas não basta, você precisa ter um pouco da grande economia, é ela que afeta a população mais violentamente.
Renato - O senhor acha que a aborda-gem dos jornais sobre assuntos econômi-cos deveria ser mais social e menos exata?Dieguez - Para a população, a economia vista como uma ciência social é mais relevante do que como uma questão matemática, contábil. Mas você não pode separar as duas visões e nem dizer que uma é mais certa do que a outra. O que falta é pegar as informações e passá-las de maneira mais comple-ta, de uma forma que a população possa entender.
Renato - E como fazer a população enten-der algo tão complexo?Dieguez - Você tem que viver o problema, ir aon-de as coisas acontecem. Você tem que explicar o impacto real da crise na vida do cidadão comum e apurar os fatos por todos os ângulos. A po-pulação tem que se identificar com o problema.
Renato - E nas reportagens sobre eco-nomia, a mídia brasileira é imparcial?Dieguez - Não, pelo contrário, é muito par-
cial. Em um país democrático, pressupõe-se que a população tenha uma carga de informa-ção mínima, e a imprensa brasileira não ga-rante essa informação. Ela não se preocupa em informar os cidadãos de forma adequada.
Renato - Essa semana, o Le Monde afirmou que o presidente Lula estava certo quando se referiu à crise como uma “marolinha”. Isso não contradiz o discurso da imprensa brasi-leira que criticou duramente essa declaração?Dieguez - A imprensa brasileira errou quando cri-ticou o Lula, mas errou por não mostrar a popula-ção o motivo de a crise não ser uma simples “ma-rolinha”. Ela se acomodou em atacar o presidente e não esclareceu ao povo brasileiro. E, no final das contas, a mídia se tornou otimista, justamente porque tem tanto medo da crise quanto o Lula.
Renato - E você, concorda com a afirma-ção do presidente?Dieguez - Não, a crise é muito grave. Mesmo com essa sensação de que tudo melhorou, os dados eco-nômicos do país não vão nada bem. Não acho que o Lula esteja errado de não querer criar pânico, mas o povo precisa saber o que de fato está acontecendo.
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Renato Oliveira