boletim eletrônico do deser nº 159 - junho 2007 · entrada da cooperativa aurora, em santa...

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Rua Ubaldino do Amaral, 374 – Alto da Glória – Curitiba – Paraná – 80060-190 Tel.: (41) 3262-1842 – Fax: (41) 3362-3679 E-mail: [email protected] http://www.deser.org.br Boletim Eletrônico do Deser Nº 159 - Junho 2007

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Rua Ubaldino do Amaral, 374 – Alto da Glória – Curitiba – Paraná – 80060-190 Tel.: (41) 3262-1842 – Fax: (41) 3362-3679 E-mail: [email protected]

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Boletim Eletrônico do Deser Nº 159 - Junho 2007

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DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS RURAIS

DIRETORIA

Executiva: Presidente: Luis Pirin – STR Francisco Beltrão - PR Vice-Presidente: Cláudio Risson – Cresol Central/SC e RS 1ª Secretária: Sandra Nespolo Bergamin – Fetraf - Sul/CUT 2º Secretário: Marcio Luiz Cassel – STR de Sarandi/RS 1ºTesoureiro: Genês da Fonseca Rosa - Cresol Chapecó/SC 2ºTesoureiro: Ademir Luiz Dallazen - UNICAFES/PR

Membros Efetivos: Avelino Callegari - ASSESOAR/PR Valdir Zembruski - STR de Xanxerê e Região/SC Gervásio Plucinski - COORLAC/RS Augusto V. Pinto - STR de Mallet/PR Bernardo Vergapolem - Ecoaraucária/PR Severine Carmem Macedo - Fetraf Brasil/CUT

Membros Suplentes: Rinaldo Segalin - Ascooper/SC Denise Knereck - SINTRAF de Laranjeiras do Sul/PR Adir Fiorese - Cresol-Baser/PR

Conselho Fiscal Efetivo: Celso Prando - STR Sananduva/RS Manoel Cardozo - Sintraf Itaperuçu/PR Vera Lucia Cecchin Dapont - STR Marmeleiro/PR

EQUIPE INTERNA Alvori Cristo dos Santos Área: Produção Familiar e Mercado, Redes e Sistemas Amadeu Antonio Bonato Área: Políticas Públicas, Redes e Sistemas, Desenvolvimento Institucional. Denilson Pasin Área: Desenvolvimento Institucional. Ézio José Gomes Área: Produção Familiar e Mercado Gerson Ferreira Lima Área: Desenvolvimento Institucional. Ivone Pereira Ataíde Área: Desenvolvimento Institucional. João Carlos Sampaio Torrens Área: Políticas Públicas, Redes e Sistemas. Marcos Antonio de Oliveira Área: Produção Familiar e Mercado. Moema Hofstaetter Área: Desenvolvimento Institucional. Sidemar Presotto Nunes Área: Políticas Públicas e Produção Familiar e Mercado Thiago de Angelis Área: Produção Familiar e Mercado Thiago G. Basilio Área: Desenvolvimento Institucional

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Conjuntura Agrícola

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Porque os preços do leite estão elevados? Produção mundial aumenta menos que a demanda No mundo, há mudanças estruturais significativas em relação à produção e à demanda por lácteos, que têm trazido grandes conseqüências para o mercado e para os preços desses produtos. De forma geral, três processos se interconectam: 1) o aumento da demanda dos países asiáticos, principalmente da China, 2) redução dos subsídios para exportações dos paises da União Européia e 3) investimentos do capital mundial para produção de leite no Brasil. No primeiro caso, o consumo mundial de leite fluído deve chegar em 2007 a 175,7 bilhões de litros, 3,1% acima do volume observado em 2006. Este aumento é puxado principalmente pelos países asiáticos, especialmente a China. De acordo com o Usda, a demanda chinesa pelo produto deve chegar neste ano a 16,9 bilhões de litros, 14,5% acima do volume consumido no ano passado. Com a continuidade do processo de industrialização daquele país, deve continuar a elevação da demanda por este produto.

O grande problema para o mercado mundial de lácteos é que a produção de leite fluído não aumenta na mesma intensidade que o aumento da demanda. De acordo com o Usda, neste ano deverão ser produzidos 434 bilhões de litros de leite fluído, apenas 2,1% acima do que foi produzido em 2006. Além disso, conjunturalmente há, neste ano de 2007, a continuidade das conseqüências da seca de 2006 sobre a produção da Austrália, produção essa que deve recuar quase 4% neste ano em relação ao ano passado. Para o mercado brasileiro, um outro complicador é a ocorrência de chuvas intensas no início deste ano na Argentina, que trouxe queda na produção daquele país e dificuldades para suas exportações para o Brasil.

País 2006 2007 Var. %Argentina 10,3 10,8 4,9Austrália 10,4 10,0 -3,8Nova Zelândia 15,2 15,4 1,3Brasil 24,7 25,4 2,5Estados Unidos 82,5 83,0 0,6União Européia 130,5 130,6 0,1Total 425,1 434,0 2,1

País 2006 2007 Var. %Argentina 1,9 2,0 3,2Austrália 2,1 2,0 -4,8Nova Zelândia 0,4 0,4 0,0Brasil 13,3 13,4 1,1Estados Unidos 27,5 27,6 0,4União Européia 34,1 34,1 0,2Total 170,4 175,7 3,1Fonte: Usda. Elaboração: Deser.

Leite Fluído: Comparativo de produção e consumo no mundo (2006 e 2007) - (Em Bilhões de litros)

Produção

Consumo

Quanto aos subprodutos lácteos (leite em pó, manteiga e queijo) há, de acordo

com o Usda, um processo onde o consumo também aumenta mais que a produção. Neste ano, em relação ao ano passado, o consumo de queijo aumentou 1,43% no

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mundo, contra um aumento de produção de apenas 0,1%. No caso do leite em pó integral há um aumento de 7,2% na demanda, contra um aumento na produção de apenas 4,15%. Na manteiga há um incremento de 5,4% na produção contra 5,8% de aumento na demanda deste.

Produto Produção Consumo Exportações ImportaçõesQueijo 0,10 1,43 1,28 0,10Manteiga 5,45 5,85 -1,75 -0,52Leite em Pó Integral 4,15 7,20 1,68 4,63Leite em Pó Desnatado 0,94 -0,13 0,19 2,61Fonte: Usda. Elaboração: Deser.

Leite: Variações da produção, consumo e exportações de lácteos no mundo em 2006 e 2007

Na União Européia, há uma tendência de estagnação e ou recuo nas exportações de lácteos com base em seu território. No caso dos queijos aquela região, que já foi origem de mais de 510 mil toneladas para o mercado mundial até 2002, em 2007 deve ofertar apenas 495 mil toneladas para este mercado. No caso da manteiga, há também a mesma tendência, com as exportações com origem naquela região devendo chegar neste ano em apenas 220 mil toneladas, contra mais de 320 mil toneladas em 2003. Finalmente, no caso do leite em pó desnatado, o principal produto do mercado mundial de lácteos, os países da União Européia devem ser a origem para o mercado mundial em 2007 de apenas 120 mil toneladas, quando há 5 anos ofertavam quase 270 mil toneladas. Neste contexto, há uma mudança qualitativa no padrão do mercado mundial de lácteos, que hoje parece desbancar a União Européia como exportadora de produtos subsidiados ao mercado mundial, exportações estas que seguravam os preços neste mercado e fazia de vários países do terceiro mundo, entre eles o Brasil, um importador líquido desses produtos. A retirada desses subsídios, aliado ao crescimento da demanda por parte da União Européia sobre suas exportações, abrem espaço no mercado mundial para outros supridores. Na realidade, o capital mundial, atendidos os mercados centrais do sistema e na necessidade de continuar lucrando, descobre que pode produzir de forma mais barata em outras regiões do mundo. Assim, como boa parte da população européia não mais trabalha com atividades ligadas à produção de leite, o Estado europeu retira os subsídios às exportações, favorecendo o acúmulo capitalista europeu com base na produção em outros locais do globo.

Com isto entra no cenário do mercado mundial a produção com base no Brasil. Empresas como a Nestlé ampliando sua produção no Rio Grande do Sul; a associação entre esta última e a maior empresa de lácteos da Nova Zelândia, dando origem à DPA-Dairy Partners Americas, que permite a esta última operar no mercado mundial com base em produção no Brasil e na América Latina; a recente entrada da Cooperativa Aurora, em Santa Catarina, e da Perdigão, através da aquisição da Batávia, no Paraná, no mercado de leite, além dos rumores da entrada

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da Sadia neste mercado, são exemplos empíricos que confirmam a tese de que o Brasil passa a ser origem de leite ao mercado mundial. Preços internacionais se elevam

Além dessas questões estruturais (aumento da demanda mias intenso que a produção), conjunturalmente o mercado mundial de leite vem passando por um período de aumento nos preços. Isto se deve ao fato da ocorrência de seca no final de 2006 na Austrália e à forte demanda no mercado mundial. Há ainda a ocorrência de chuvas na Argentina, tradicional região ofertante de lácteos ao mercado interno no Brasil e que complica sua produção e suas exportações. Nestas condições, de acordo com o Usda, os preços internacionais do leite em pó, principal produto do mercado mundial de lácteos, estão atualmente na faixa dos US$ 4,8 mil/t, contra apenas US$ 2,4 mil de um ano atrás. A expectativa é de que estes preços continuem enquanto durar os problemas na Austrália, por mais uns três meses. Mesmo assim, a possibilidade dos preços retornarem aos níveis anteriores parece pouco provável no momento. Preços maiores das exportações brasileiras Nas condições atuais, os capitalistas do leite têm conseguido colocar no mercado mundial volumes cada vez mais crescentes de lácteos com origem no Brasil. Em 2006, por exemplo, saíram das fronteiras brasileiras 98,8 mil tonelada de lácteos. A um preço médio de US$ 1,7 mil por tonelada, este volume rendeu US$ 168,6 milhões aos exportadores. Com isto, em 2006 o Brasil foi uma região de exportação líquida de lácteos para o mercado mundial. No período janeiro a maio houve um recuo nos volumes exportados com base no Brasil em relação ao mesmo período de 2006. Segundo o Mdic/Secex, foram exportados apenas 28,9 mil toneladas, 29% abaixo das 40,7 mil toneladas exportadas no mesmo período de 2006. Mas, se de um lado recuaram as exportações, também recuaram as importações, demonstrando que o mercado interno está mais enxuto neste ano em relação ao ano passado. Entretanto, há que lembrar que os preços neste ano subiram significativamente em relação a 2006. Segundo o mesmo órgão do governo federal, o preço médio das vendas de lácteos passou dos US$ 2 mil por tonelada, num aumento de quase 11% de um período para outro. Lácteos: Comparativo de importações e exportações com base no Brasil

Export. Imp. Saldo Export. Imp. Saldo Export. Imp.2005 (a) 150.636,8 121.337,7 29.299,1 86,0 72,9 13,1 1.751,8 1.664,42006 (b) 168.622,4 155.108,7 13.513,7 98,8 94,4 4,4 1.706,4 1.643,0

Jan/maio/06 © 76.304,3 54.976,8 21.327,5 40,7 30,3 10,4 1.874,2 1.812,0Jan/maio/07 (d) 59.898,3 53.305,4 6.592,9 28,9 27,3 1,6 2.074,9 1.952,7Var. % (b/a) 11,94 27,83 -53,88 14,91 29,50 -66,33 -2,59 -1,29Var. % (d/c) -21,50 -3,04 -69,09 -29,09 -10,03 -84,87 10,71 7,76Fonte: Midc/Secex. Sistema Alice. Elaboração: Deser.

Ano/Período Valor (US$ mil) Volume (mil t) Preços (US$/t)

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Chegada do inverno e queda na produção brasileira O IBGE ainda não divulgou sua pesquisa de captação de leite pelas agroindústrias para este primeiro trimestre do ano, mas as notícias das associações, cooperativas e empresas que operam no mercado na Região Sul do Brasil são de que a chegada do inverno já trouxe redução no volume de leite produzido nesta Região. Assim, uma produção menor nesta Região está se refletindo em maiores dificuldades para a indústria manter seus níveis de captação. Além desse problema conjuntural, a maior disputa pelo leite da Região Sul verificada nas últimas semanas pode ter uma origem mais estrutural, relacionada ao aumento da produção álcool com base na cana no Brasil. Sabendo que há um aumento na demanda por terras para a produção de cana, nas regiões brasileiras que possuem clima para sua produção (a partir do paralelo de latitude 22, que passa pela Região de Londrina, no Paraná) está ocorrendo uma disputa de terras entre pasto e cana, francamente favorável a esta última, dados os altíssimos níveis de rendimento econômico. Assim, pode estar havendo um deslocamento da captação de leite destas para outras regiões do país, dentre as quais a Região Sul. É neste sentido, talvez, que devam ser analisados os investimentos feitos pelas agroindústrias no Rio Grande do Sul, principalmente. Isto explicaria a instalação da Nestlé, com planta captadora e processadora, Palmeira das Missões; da Avipal e outras indústrias naquele Estado. Preços aumentam no mercado interno No cenário descrito, de queda sazonal da produção em importantes regiões produtoras, aliado ao aumento nos preços do produto para exportação, os preços aos agricultores vêm aumentando na Região Sul neste ano, principalmente se comparados ao ano passado. No Paraná, em junho os agricultores vêm recendo preços em média acima dos R$ 0,50/litro, mais de 20% superiores aos de junho de 2006, com a mesma situação ocorrendo em Santa Catarina, com agricultores recebendo atualmente R$ 0,48/litro, contra apenas R$ 0,38/litro em junho do ano passado, num aumento de 26%. No Rio Grande do Sul, onde a disputa por leite parece ser mais intensa, os agricultores recebem atualmente R$ 0,51/litro, contra R$ 0,39/litro da mesma época do ano passado, num aumento de quase 31% em um ano. Tal desempenho dos preços deve continuar, pelo menos, enquanto durar o inverno e não retornar o período de chuvas e de calor, com a conseqüente retomada das boas condições das pastagens.

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Leite: Evolução dos preços mensais recebidos pelos produtores na Região Sul (jan/2005 a jun/07)

0,30

0,35

0,40

0,45

0,50

0,55

jan/05

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jul/05

set/0

5

nov/0

5jan

/06

mar/06

mai/06

jul/06

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6

nov/0

6jan

/07

mar/07

mai/07

R$/

litro

PR SCRSFonte: Seab/Deral, Icepa/SC e Emater/RS. laboração: Deser.

Este desempenho, entretanto, não pode ser considerado como excepcional

para os agricultores, uma vez que os preços de vários insumos também vêm aumentando. Neste sentido, basta lembrar que os preços do milho aumentaram quase 17% de um ano para cá. Assim, ao atual preço do leite aos agricultores, com a venda de um litro do produto estes conseguem adquirir pouco mais de 2 quilos de milho, volume ainda menor que aquele adquirido com a venda do produto no ano passado.

Volume de milho adquirido com a venda de um litro de leite no Paraná (jan/05 a jun/07)

1,51,61,71,81,9

22,12,22,32,4

jan/05

mar/05

mai/05

jul/05

set/0

5

nov/0

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/06

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6

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mar/07

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kg

Fonte: Seab/Deral. Elaboração: Deser.

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Trigo

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Trigo: Preços em elevação no mercado mundial e estagnados no Brasil Abastecimento continua complicado em 2007/08 Em junho último o Usda divulgou sua primeira estimativa para a safra 2007/08. De acordo com o órgão, a produção mundial será de 610,2 milhões de toneladas, 2,5% acima do volume obtido na temporada 2006/07. As produções em importantes países supridores, como os Estados Unidos e União Européia devem subir, respectivamente, 19,6% e 2%. Já na Argentina, o principal fornecedor para o Brasil, a produção será praticamente igual àquela de 2006/07, de apenas 14 milhões de toneladas.

País 2006/07 2007/08 Var. %União Européia 124,8 127,3 2,0China 103,5 100,0 -3,4Rússia 44,9 45,0 0,2Estados Unidos 49,3 59,0 19,6Canadá 27,3 24,5 -10,2Austrália 10,5 22,1 110,5Mundo 595,1 610,2 2,5Fonte: Usda. Elaboração: Deser.

Trigo: Comparativo de produção nos principais países produtores - 2006/07 e 2007/08

O abastecimento mundial, entretanto, não deve se apresentar mais folgado nesta temporada que se inicia. Segundo o Usda mesmo com o consumo mundial um pouco inferior ao de 2006/07, os baixos estoques iniciais de 2007/08 devem fazer os estoques finais ficarem em apenas 112,03 milhões de toneladas, 8,13% menor que aquele da temporada anterior. O consumo aumentará mais de 5% nos Estados Unidos, atingindo 33,78 milhões de toneladas. Com isto, as exportações daquele país não devem aumentar muito, apenas 3%, e seus estoques finais ficarão próximos àqueles de 2006/07, em 12 milhões de toneladas. Isto está ocorrendo principalmente em função do aumento da demanda de milho para etanol, que puxa a demanda de parte da produção de trigo para a alimentação animal. Na Argentina, além de uma produção que não deve aumentar, em 2007/08 suas exportações devem recuar mais de 5%, devendo ser de apenas 9 milhões de toneladas.

Devido a estes fatores, não há como dizer que haverá uma melhora nas condições de abastecimento do mercado mundial no próximo período comercial. A tendência é de que continuem as dificuldades de suprimento por parte dos principais importadores mundiais.

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Trigo: Bal. de Oferta e Demanda no Mundo, Estados Unidos e Argentina (2006/07 e 2007/08)

2006/07 2007/08 Var. % 2006/07 2007/08 Var. % 2006/07 2007/08 Var. %Estoque Inicial 148,99 121,95 -18,15 15,55 11,34 -27,07 0,50 0,31 -38,00Produção 594,00 610,15 2,72 49,32 59,00 19,63 14,20 14,00 -1,41Importação 107,58 104,18 -3,16 3,27 2,72 -16,82 0,01 0,00 0,00Exportação 106,51 107,42 0,85 24,77 27,22 9,89 9,50 9,00 -5,26Consumo 621,13 620,07 -0,17 32,03 33,78 5,46 4,90 4,90 0,00Estoque Final 121,95 112,03 -8,13 11,34 12,06 6,35 0,31 0,41 32,26Fonte: Usda. Elaboração: Deser. Obs: Em milhões de toneladas

Itens Mundo Estados Unidos Argentina

Preços aumentam significativamente no mercado mundial Nas condições acima, no mercado mundial há uma forte tendência de elevação nos preços. Em Chicago atualmente o cereal é negociado a aproximadamente US$ 220/t, 55% acima dos níveis de US$ 141/t de um ano atrás. Naquela Bolsa, o aperto no abastecimento e a utilização de trigo para a alimentação animal são os principais responsáveis por esta situação. Cabe lembrar que no momento está entrando no mercado a safra norte-americana, mas a safra chinesa e da União Européia ainda estão em fase de desenvolvimento. Nestas condições, problemas com aquelas lavouras podem trazer preços ainda maiores no mercado mundial.

Na Argentina, o cereal é negociado atualmente a US$ 215/t, 43% acima dos US$ 152/t de junho de 2006. Entretanto, estes são preços apenas indicativos, uma vez que também naquele país vive-se a entressafra, não havendo produto no mercado disponível. No mercado futuro, para o trigo a ser colhido a partir de outubro, as indicações atuais são de contratos sendo negociados a até US$ 260/t. Nestas condições, fica claro que os preços para o produto da nova safra devem continuar elevados.

Trigo: Evolução dos preços em Chicago (jan/05 a jun/07)

80

100

120

140

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180

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220

240

jan-

05

mar

-05

mai

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5

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5

nov-

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jan-

06

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6

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6

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jan-

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mar

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mai

-07

US$

/t

Fonte: CBoT. Elaboração: Deser.

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Safra brasileira confirma maior volume Nestas condições, a safra brasileira de trigo fatalmente irá aumentar, principalmente se não ocorrer algum problema durante o desenvolvimento das lavouras. Com o clima sem grandes alterações, a produção de trigo dentro das fronteiras brasileiras deve chegar, segundo a Conab, a 3,83 milhões de toneladas, quase 12% superior ao volume colhido em 2006/07. Esta produção será garantida com a evolução da produção no Paraná, com aumento de 70,1%, e no Rio Grande do Sul, com aumento de 104% em relação ao ano passado. Assim, as produções nos dois principais Estados produtores de trigo no Brasil serão, respectivamente, de 1,9 e 1,4 milhões de toneladas, respectivamente. Até o momento não houve problemas climáticos nestes Estados e, com mais de 95% das lavouras já plantadas no Paraná e pelo menos 70% no Rio Grande do Sul, a expectativa é de que a produção possa até ser maior que a estimada pela Conab. Há agentes privados calculando uma safra de até 4,2 milhões de toneladas.

Brasil: Produção de trigo 2006/07 e 2007/08Estado 2006/07 2007/08 Var. %Paraná 1.127,2 1.917,9 70,1Sta. Catarina 126,8 142,0 12,0R. G. do Sul 728,0 1.486,0 104,1Minas Gerais 56,3 53,6 -4,8M. G. do Sul 62,1 51,6 -16,9Goiás 46,2 74,1 60,4Outros 87,1 111,5 28,0Brasil 2.233,7 3.836,7 71,8Fonte: Conab. Elaboração: Deser. Em mil t.

Para o mercado interno, o elemento que deve ser considerado é a estimativa da Conab para a demanda brasileira. Segundo a Companhia, esta deve aumentar mais de 1,5% em 2007/08 em relação à temporada comercial passada, atingindo as 10,45 milhões de toneladas. Nestas condições, haveria a necessidade de importações até menores em 2007/08, de apenas 6,6 milhões de toneladas, contra 7,9 milhões de toneladas em 2006/07. De qualquer forma, os estoques finais continuam relativamente muito reduzidos, inferiores a 300 mil toneladas. Preços no mercado interno não se alteram Como já adiantado pelo Deser em Boletins anteriores, os preços do trigo no mercado interno não vêm apresentando elevações significativas. No Paraná, atualmente os agricultores que ainda têm o produto para a venda conseguem apenas R$ 26,50/sc. Este nível é mais de 36% superior ao do ano passado, mas já chegou a ser superior a R$ 27,00/sc naquele Estado. Como ainda estão na entressafra, este é um claro indicador do que pode ocorrer quando da colheita da safra. Ou seja, quando oferta aumentar, os preços podem recuar sensivelmente.

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É evidente que os níveis de preços no mercado interno dependerão dos preços internacionais. Como vimos, preços na Argentina a US$ 260/t significam até US$ 280/t colocado em São Paulo. Assim, à cotação de R$ 1,84 por dólar, o preço em reais naquela cidade é de R$ 545/t. Para o norte do Paraná isto significa uma paridade de pelo menos R$ 490/t em outubro próximo. Se isto se confirmar, pode-se dizer que os produtores paranaenses estariam em boas condições, até porque são os primeiros a colher sua safra, com produto geralmente mais apreciado pela indústria que os produtos mais ao Sul do Brasil. Por outro lado, dado o custo de transporte atualmente de aproximadamente R$ 90/t para o trigo do interior do Rio Grande do Sul até São Paulo, a paridade para um trigo desta origem é de apenas R$ 450/t. Ocorre, entretanto, outro problema para este trigo, que é a competição que encontra com o produto argentino, colhida praticamente na mesma época.

Além de tudo isso, deve-se lembrar que em 2006 os preços do trigo aumentaram, mas a safra brasileira foi de 2,2 milhões de toneladas, praticamente a metade do previsto inicialmente. Neste ano, como a safra será de até 4 milhões de toneladas, ninguém pode garantir que os preços ficarão acima nos mesmos níveis daqueles do ano passado, principalmente para o trigo gaúcho. Isto se deve ao fato de haver uma distribuição do mercado brasileiro feita pelos moinhos que faz o abastecimento do Norte/Nordeste (aproximadamente 4 milhões de toneladas) ser suprido por trigo argentino, abastecido com transporte marítimo. Sobrariam, então, considerando uma demanda total no Brasil de 10 milhões de toneladas, um consumo de aproximadamente 6 milhões de toneladas para a Região Centro-Sul. Ocorre que, nesta Região, há também a preferência, em pelo menos 60% deste mercado, por trigo argentino. Restaria para a safra brasileira uma demanda de apenas 2,4 milhões de toneladas. Ou seja, qualquer produção no Brasil acima das 3 milhões de toneladas, como é o caso atual, fatalmente tem trazido problema de preços para o trigo produzido no Brasil. Com isto, fica aqui uma incógnita para este mercado, que é a ação que os moinhos e processadores no mercado interno terão neste ano. Repetirão a estratégia de preterir o produto brasileiro ao argentino, principalmente? O Deser aposta que isto novamente ocorrerá. Por conta disso, os agricultores devem forçar o governo a estar disposto a fazer leilões de PEP (Prêmio de Escoamento da Produção) para garantir, no mínimo, o preço mínimo para o trigo gaúcho.

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Trigo: Comparativo do comportameto dos preços aos agricultores no Paraná (jan/05 a jun/07)

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2005 2006 2007Fonte: Seab/Deral. Elaboração: Deser.

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Milho

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Preços do milho se mantêm elevados. Primeiras estimativas para a safra mundial 2007/08 Em junho último o Usda divulgou sua estimativa total para a safra mundial de milho em 2007/08. De acordo com o órgão serão produzidos nesta safra 767,9 milhões de toneladas, volume mais de 9% superior ao produzido em 2006/07. Os principais responsáveis por este comportamento são os Estados Unidos, onde a produção deve atingir 316,5 milhões de toneladas, num aumento de 18% em relação à safra anterior. Na Argentina a produção deve atingir 24 milhões de toneladas, volume mais de 6% acima do colhido em 2006/07. A China também contribui para o aumento na produção mundial, devendo passar de 143 para 146 milhões de toneladas entre 2006/07 e 2007/08. Do lado do consumo, o Usda prevê um recuo tanto nas exportações quanto importações mundiais, decorrente principalmente do aumento do consumo interno dos países em virtude da produção de etanol. Assim, o consumo total deve atingir em 2007/08 770,84 milhões de toneladas, 6% acima do volume consumido em 2006/07. Nos Estados Unidos, o consumo aumenta quase 12%, atingindo 266,46 milhões de toneladas. Importante para o Brasil, o consumo na Argentina deve subir 5,7%, atingindo 7,1 milhões de toneladas, o que permitirá àquele país exportar 16 milhões de toneladas. Finalmente, deve-se mencionar o caso da China, que deve manter o aumento no seu consumo com base nos seus estoques e na redução de suas exportações, que serão em 2007/08 de apenas 3 milhões de toneladas, o que deve abrir mais espaço para países como o Brasil no mercado mundial de milho. Com isto, os estoques finais daquele país recuam, devendo trazer em alguns anos problemas para o abastecimento interno quando seus estoques recuarem a níveis ao redor das 15 milhões de toneladas. Por conta de tudo isso, os estoques finais no mundo em 2007/08 serão de apenas 91,8 milhões de toneladas, recuando 3% em relação à safra anterior. Deve-se lembrar que os estoques finais à disposição do mercado em agosto do ano passado eram de 122,42 milhões de toneladas, portanto 33% acima do estimado para agosto de 2008. Isto deverá manter as dificuldades de abastecimento para o mercado mundial do cereal no próximo ano. Milho: Bal. de Oferta e Demanda no Mundo, Estados Unidos e Argentina (2006/07 e 2007/08)

2006/07 2007/08 Var. % 2006/07 2007/08 Var. % 2006/07 2007/08 Var. %Estoque Inicial 122,42 94,68 -22,66 49,97 25,07 -49,83 1,16 1,46 25,86Produção 699,32 767,96 9,82 267,60 316,50 18,27 22,50 24,00 6,67Importação 83,25 82,33 -1,11 0,25 0,38 52,00 0,00 0,00 0,00Exportação 86,93 83,11 -4,39 54,61 50,17 -8,13 15,50 16,00 3,23Consumo 727,07 770,84 6,02 238,14 266,46 11,89 6,70 7,10 5,97Estoque Final 94,68 91,80 -3,04 25,07 25,33 1,04 1,83 2,36 28,96Fonte: Usda. Elaboração: Deser.

Itens ArgentinaMundo Estados Unidos

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Preços se mantêm firmes no mercado mundial No mercado mundial, esta situação tem levado ao aumento substancial nos preços do milho. Em Chicago, principal bolsa de valores de negociação de milho no mundo, os preços do cereal estão atualmente nos níveis de US$ 160/t, 66% acima do preço de um ano atrás. Isto decorre principalmente em virtude da elevação no consumo do produto para outros fins, como por exemplo, a produção de etanol. Neste ano, abrindo com níveis de US$ 145/t, mas chegando em março a até US$ 175/t, coincidindo com a entressafra do principal produtor mundial, os preços recuaram com a confirmação de aumento na safra norte-americana. Entretanto, chegando o período de plantio e sua efetivação os preços recuaram. No entanto, as dificuldades enfrentadas na evolução das lavouras naquele país, único que já plantou a safra 2007/08, trouxeram novamente a elevação nos preços, atingindo os atuais US$ 160/t. Como os norte-americanos colhem sua safra apenas a partir de outubro, a tendência é de que os preços continuem evoluindo de acordo com o desenvolvimento das lavouras naquele país. Com isto, a ocorrência de problemas com aquela produção fatalmente trarão problemas para o mercado e elevação nos preços. De qualquer forma os preços devem continuar elevados em relação ao ano passado.

Milho: Preços na Bolsa de Chicago (janeiro e junho de 2007)

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Fonte: CBoT. Elaboração: Deser.

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Safra brasileira continua elevada Em relação à safra brasileira, a Conab reestimou seu volume total, que deve ser agora de apenas 50 milhões de toneladas, num recuo de 600 mil toneladas em relação a sua última estimativa. Isto ocorreu principalmente devido a problemas com a primeira safra, agora estimada em 36,7 milhões de toneladas. A estimativa da segunda safra, entretanto, permanece nas 13,9 milhões de toneladas, volume 30% superior ao do ano passado. Assim, a safra total ainda será quase 20% superior aos 42,51 milhões de toneladas colhidas em 2005/06. Por conta disso, a primeira safra já está praticamente toda definida, uma vez que está praticamente toda colhida no Centro-Sul. No Paraná, a colheita já ultrapassa os 98% da área plantada, com números parecidos para o Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A safrinha ainda depende de um bom andamento em relação ao clima, com a ausência de geadas mais fortes pelo menos até o final de julho no Paraná, principalmente. Entretanto, até o momento o clima não tem sido prejudicial, praticamente inexistindo perdas quando da ocorrência de geadas localizadas no Paraná no início de junho. Abastecimento do mercado interno ainda indefinido Com a colheita de 50 milhões de toneladas e um consumo de 39,5 milhões e exportações de 7,5 milhões, deverão sobrar mais de 9 milhões de toneladas em estoques finais em agosto deste ano. Este não deixa de ser um quadro favorável para o abastecimento, mas algumas variáveis ainda podem alterar este quadro; a) a safrinha precisa ainda ser confirmada, podendo perder em volume assim que ocorra uma geada. Até o momento o Inpe/Ceptec (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/Centro de Pesquisa de Tempo e Clima) tem dito que o inverno neste ano tende a ser mais intenso (mais frio) que o do ano passado. Com isto, geadas podem ainda trazer queda na produção da safrinha; b) as exportações de milho continuam elevadas, podendo ultrapassar as 7,5 milhões de toneladas estimadas até o momento pelo governo; c) há um bom ritmo de alojamento de frangos e suínos no país, inclusive por ser este um ano mais favorável às exportações destas carnes. Com isso, pode haver maior pressão de demanda no segundo semestre do ano; Desta maneira, as facilidades para o abastecimento do mercado interno pode não ser o mesmo que o projetado até o momento.

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Brasil: Balanço de oferta e demanda (2005/06 e 2006/07)Item 2005/05 2006/06 Var. %Estoque Inicial 3.235 5.262 62,6Produção 42.129 40.659 -3,5Importação 450 100 -77,8Exportação 3.938 7.500 90,5Consumo 37.000 39.500 6,8Estoque Final 5.262 9.020 71,4Fonte: Conab. Elaboração: Deser. OBS: em mil t.

Preços aumentam no mercado interno No mercado interno, os preços do milho estão em elevação pelo menos desde o final de maio. No Paraná os produtores recebem atualmente mais de R$ 15,00/sc, contra apenas R$ 14,80/sc do final daquele mês. No Rio Grande do Sul os preços estão atualmente em R$ 16,20/sc contra R$ 16,00/sc também do final de maio. A tendência é de os preços continuarem nestes níveis até o avanço mais definitivo da colheita da safrinha. No Paraná, o principal produtor nacional de milho na segunda safra, já foi colhido 15% da safra. A partir de julho, com toda safrinha colhida, os preços podem voltar a ceder, mas fatalmente voltarão a subir a partir de agosto/setembro. Por conta disso, a estratégia por parte dos agricultores que vendem milho é segurar o máximo que podem sua produção, vendendo após a colheita unicamente o necessário para o pagamento das despesas imediatas. No segundo semestre, não nos assustaríamos com preços nos níveis de R$ 18,00/sc aos agricultores.

Milho: Preços recebidos pelos agricultores no Paraná em 2007

14,00

14,50

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17,00

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8-ja

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v

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19-m

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R$/

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Fonte: Seab/Deral. Elaboração: Deser.

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Análise da Produção e Consumo de Óleos Vegetais no Brasil

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Produção e consumo de óleos vegetais no Brasil Sidemar Presotto Nunes

Apresentação

O consumo de óleos vegetais tem aumentado no mundo todo, substituindo

parte do consumo de gorduras animais. Embora tenham algumas especificidades no

que se refere às características químicas, os óleos vegetais, mas também as gorduras

animais, concorrem entre si. A maioria desses óleos são utilizados em processos

industriais e na alimentação humana e animal1. Em função do aumento do consumo,

a produção, que pode ser obtida através de várias espécies vegetais, também tem se

elevado.

Em algumas espécies, como no dendê/palma e na mamona, o óleo é o

principal produto comercial. Em outras, como no amendoim e na soja, o óleo é um

“sub-produto”, pois não é o que tem o maior valor comercial atualmente. Esse é um

aspecto a se considerar quando se trata da possibilidade de aumento da produção de

uma ou outra espécie, por interferir na viabilidade econômica do cultivo.

O texto apresenta, a partir de dados do USDA2, principalmente, a evolução da

produção e do consumo de óleos vegetais no Brasil, além dos fluxos comerciais

brasileiros (importações e exportações) desse produto. Trata também da produção

mundial de acordo com as principais espécies produtoras de óleo, além da

produtividade média das principais espécies cultivadas no Brasil.

1 Alguns óleos não se prestam à alimentação por substâncias tóxicas, como a ricina no óleo de mamona. Esses óleos situam-se no grupo dos “non edible oils”. 2 As informações do USDA para o ano 2005/2006 são estimativas e para 2006/07 são projeções. Fonte: www.fas.usda.gov

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1. Produção mundial de óleos vegetais

A produção mundial de óleos vegetais aumentou aproximadamente 400% entre

1974/75 e 2006/07, passando de 25,7 milhões de toneladas para 123,1 milhões de

toneladas. Somente nos dois últimos anos (entre 2004/05 e 2006/07), de acordo com

projeções do USDA, o consumo se elevará em 27 milhões de toneladas. A tabela a

seguir apresenta a evolução da produção mundial de óleos vegetais, a partir de

1974/75, conforme as espécies vegetais produtoras.

Tabela 1 – Evolução da produção mundial de óleos (mil toneladas)

1974/75 1984/85 1994/95 2000/01 2004/05 2005/06 2006/07 Particip. (%)

Palma 2.891 6.754 14.888 24.295 33.875 35.956 37.672 30,61 Soja 6.476 10.203 19.849 26.762 32.511 34.522 35.868 29,14 Canola/ Colza 2.443 5.552 10.013 13.318 15.76 17.165 18.243 14,82 Girassol 3.868 6.125 8.26 8.385 9.038 10.389 10.733 8,72 Amendoim 2.743 2.875 4.118 4.535 5.069 5.172 4.975 4,04 Algodão 2.930 3.762 3.594 3.529 4.709 4.568 4.726 3,84 Palmiste 415 902 1.91 3.061 4.134 4.360 4.573 3,72 Côco 2.554 2.537 3.401 3.596 3.439 3.458 3.295 2,68 Oliva 1.379 1.579 1.760 2.490 2.968 2.593 2.990 2,43 Soma 25.699 40.289 57.623 89.971 95.743 118.183 123.075 100,00 Fonte: USDA (2007). Obs: Exceto gorduras. Elaboração: Deser.

O óleo de palma é atualmente o mais consumido no mundo. A produção

mundial de óleo de palma (que no Brasil se equivale ao dendê) aumentou em 1.203%,

a mais alta de todas, passando de 3,6 milhões de toneladas para 37,6 milhões de

toneladas, ultrapassando o consumo mundial de óleo de soja. Atualmente, somados

o óleo de palma e de palmiste, ambos produzidos a partir da palma, chega-se à mais

de 42 milhões de toneladas, enquanto a produção de óleo de soja é de 35,86 milhões

de toneladas. O óleo de canola/colza é o terceiro mais consumido no mundo. A

produção se concentra na União Européia, na China, na Índia e no Canadá, que

respondem por 83% da produção mundial.

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Tabela 2 – Consumo mundial de óleos vegetais segundo os usos (industrial e alimentar, em mil toneladas, previsão para a safra 2006/07) Alimentar Industrial Total Palma 27.531 8.788 36.319 Soja 33.153 2.488 35.641 Girassol 9.821 512 10.333 Amendoim 4.932 24 4.956 Colza/ Canola 12.92 4.917 4.917 Algodão 4.474 208 4.682 Palmiste 1.195 3.015 4.210 Côco 1.791 1.374 3.165 Oliva 2.871 53 2.924 Total 85.768 21.379 107.147 Fonte: USDA (2007). Elaboração: Deser.

No ano-safra 2006/07, de acordo com estimativas do USDA, foram

consumidas 107 milhões de toneladas de óleos vegetais, sendo 85,77 milhões de

toneladas para fins alimentares e 21,38 milhões para fins industriais. Verifica-se,

portanto, que, apesar do aumento do uso industrial, em termos de volumes e do

número de processos industriais em que é aplicado, é na alimentação que a maior

parte (80%) dos óleos vegetais são consumidos. No entanto, esse quadro poderá ser

alterado com o estímulo à diversificação da matriz energética, através do biodiesel,

por exemplo.

2. A produção e o consumo brasileiro de óleos vegetais

No Brasil, o consumo anual de óleos vegetais está em torno de 3,72 milhões de

toneladas. O óleo de soja é de longe o mais consumido, chegando à 3,2 milhões de

toneladas em 2006/07 ou 86% do total consumido. Em seguida, na segunda posição,

aparece o óleo de algodão, com 255 mil toneladas. Considerando o óleo de palma e

palmiste juntos são 195 mil toneladas consumidas em 2006/07, de acordo com o

USDA, ficando na terceira posição. A tabela a seguir apresenta a evolução do

consumo de óleos vegetais no Brasil nos últimos sete anos.

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Tabela 3 – Evolução do consumo de óleos vegetais no Brasil (mil toneladas) Óleo 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007

Soja 2.952 2.949 2.920 2.954 3.050 3.053 3.196 Algodão 129 147 168 242 242 201 255 Palma 100 110 133 117 105 155 120 Palmiste 50 51 46 47 60 70 75 Girassol 69 28 49 37 34 38 39 Oliva 24 22 21 24 27 26 30 Amendoim 17 14 9 8 7 6 7 Total 3.341 3.321 3.346 3.429 3.525 3.549 3.722 Fonte: USDA (2007). Elaboração: Deser.

No que se refere aos usos dos óleos vegetais consumidos no Brasil, verifica-se

que mais de 84% são utilizados para fins alimentícios e aproximadamente 16% para

fins industriais. Das 3,92 milhões de toneladas consumidas na última safra, 3,32

milhões foram utilizadas para fins alimentares e 598 mil toneladas para fins

industriais. O óleo de soja é o mais consumido nos dois tipos de uso, alimentar e

industrial, conforme se verifica através da tabela a seguir.

Tabela 4 – Consumo total de óleos vegetais no Brasil e segundo o uso (alimentar e industrial) em 2006/07 (mil toneladas) Alimentar Industrial Consumo Total Soja 3.021 270 3.291 Algodão 171 84 255 Palma 39 165 204 Palmiste 79 79 Girassol 52 0 52 Oliva 32 0 32 Amendoim 11 0 11 Total 3.326 598 3.924 Fonte: USDA (2007). Elaboração: Deser.

Na última safra foram produzidas 5,93 milhões de toneladas de óleo no Brasil.

O volume produzido vem se elevando ao longo dos anos, puxado principalmente

pela soja, cuja produção chegou 5,45 milhões de toneladas na última safra. O óleo de

algodão, obtido a partir do caroço, obteve o maior aumento proporcional, quase 50%

no período considerado (últimos sete anos). Na safra atual a produção deverá chegar

à 300 mil toneladas para um consumo de 255 mil toneladas. As 45 mil toneladas

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restantes foram exportadas. A tabela a seguir apresenta a evolução da produção

brasileira dos principais óleos vegetais.

Tabela 5 – Evolução da produção brasileira de óleos vegetais (mil toneladas) 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007

Soja 4.333 4.700 5.205 5.588 5.550 5.350 5.450 Algodão 208 172 204 286 305 236 300 Palma 110 108 110 110 110 110 110 Girassol 34 23 23 33 24 31 31 Amendoim 16 16 15 16 27 24 24 Palmiste 15 14 15 15 15 15 15 Total 4.716 5.033 5.572 6.048 6.031 5.766 5.930 Fonte: USDA (2007). Elaboração: Deser.

Na safra atual o Brasil deverá exportar, de acordo com o USDA, 2,32 milhões

de toneladas de óleo de soja. No entanto, cabe salientar que o potencial de produção

e exportação de óleo de soja poderia ser bem superior, haja vista que a maior parte da

soja é exportada em grão. Caso fosse esmagada, a produção nacional de óleo

praticamente dobraria. A Lei Kandir, que isenta de ICMS os produtos agrícolas

exportados, bem como tarifas menores de importação para produtos agrícolas não

industrializados nos países importadores, garantem que a maior parte da soja

exportada seja em grão.

Figura 1 – Exportações brasileiras de óleo de soja em 2005 segundo os principais países de destino

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Verifica-se, através do gráfico acima, que o Irã, a Índia e a China são os

principais destinos do óleo de soja brasileiro. Em 2005 responderam,

respectivamente, por 765 mil toneladas (28,38%), 433 mil toneladas (16,07%) e 433 mil

toneladas (16,07%) das exportações brasileiras de óleo de soja. Já no que se refere às

exportações de soja em grão, os principais destinos, no mesmo ano, foram a China

(7,6 milhões de toneladas) e a Holanda (5,04 milhões de toneladas). Embora alguns

países tenham um nível de importância maior, a soja brasileira é exportada para um

grande número de países.

Se, de um lado, o Brasil é um importante país exportador de óleo,

principalmente de soja, de outro lado, também se caracteriza como importador. O

óleo de palmiste é o principal óleo importado pelo Brasil. Verifica-se, através da

figura abaixo, que as importações brasileiras de óleo de palmiste (e de palma

também) têm como origem dois principais países: Indonésia (49,42%) e a Malásia

(47,06%). Em 2005 o Brasil importou 20,6 mil toneladas de óleo da Indonésia e 19,7

mil toneladas da Indonésia. Esses países são os principais produtores mundiais de

palma e, em conseqüência, os maiores exportadores também.

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Figura 2 – Importações brasileiras de óleo de palmiste em 2005 segundo os países de origem

3. Os óleos vegetais na produção de biodiesel

A produção brasileira de óleos vegetais é bastante significativa, mas o uso na

forma de biocombustível ainda é pequeno. O biodiesel pode ser obtido a partir de

uma ampla gama de produtos, que atualmente são utilizados com outros fins.

Apesar de que a utilização de biodiesel já esteja mais desenvolvida na Europa, prevê-

se uma mistura de 2% ao óleo diesel derivado do petróleo (autorizado até 2007 e

obrigatório após esse ano) e a ampliação para 5% a partir de 2013.

Em termos de agrocombustíveis, o Brasil produz álcool e se tornará produtor

de biodiesel. Em 2006, a produção de álcool ficou em torno de 18 bilhões de litros,

destinando-se ao mercado nacional e internacional (15%). Atualmente, a produção

está sendo estimulada pelo desenvolvimento de automóveis bicombustíveis e

tricombustíveis (gasolina, álcool e gás), que dão maior segurança (em relação ao

preço e disponibilidade) em relação aos automóveis movidos somente à álcool. Com

isso, espera-se que a produção brasileira chegue à 35 bilhões de litros em 10 anos e as

exportações em 8 bilhões de litros3.

3 Conforme projeção do Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo (IEA/ SP).

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Tabela 6 – Produtos agrícolas cultivados no Brasil e passíveis de utilização na produção de biocombustíveis Produto Produção

brasileira Área

cultivada atual (ha)

Produtividade brasileira

(kg/ha)

% Óleo no grão ou

amêndoa

Produtividade óleo (kg/ha)

Principais estados

produtores Algodão (caroço)

2.394 1.115.000 2.142 15 321 MT, BA, GO, SP, MS, MG, PR

Amendoim (em casca)

236 105.000 2.247 SP

Babaçu 118,7 extrativo - 66% - MA Cana-de-açúcar

415.205 5.633.000 73.670 - 7 m3 de álcool SP, AL, PR, PE, MG, MT.

Dendê 909 87.553 10.380 20 2.076 PA, BA. Girassol 94 150.000 1.595 44 701 Centro-Oeste Mamona 138.000 172.000 802 45 361 BA Milho 41.787 12.864.000 3.248 - - PR, MG, SP,

GO, MT Soja 49.549 21.600.000 2.293 18 412,9 MT, PR, GO,

RS, MS, MG, BA, SP, MA, TO, SC, PA

Outros* 11 extrativo - - - BA, MG, Amazônia.

* Produtos extrativos vegetais, produzidos principalmente na região Norte e Nordeste do Brasil: licuri, pequi, oiticica, tucum, copaíba, cumaru, etc. Fonte: PAM e PPM 2004 (IBGE).

Cabe salientar que para alguns produtos agrícolas (soja, cana-de-açúcar,

algodão) o óleo é apenas um dos produtos, enquanto que, para outros é ou o único

ou o principal produto (mamona e dendê), embora possa ser utilizado para muitos

fins (aviação, produção de inseticidas, fungicidas, plásticos, etc.). A análise da

competitividade dos biocombustíveis, o que não se pretende apresentar aqui, deve

levar em consideração os resultados econômicos dos diversos cultivos e também o

nível de subsídio público. Apesar dessas particularidades e dos distintos usos dos

óleos vegetais, devemos considerar que o uso na forma de combustível pode fazer

que a produção aumente muito.

A cana-de-açúcar e o dendê apresentam atualmente as maiores

produtividades de biocombustíveis (álcool e biodiesel, respectivamente). No que se

refere ao álcool, o Brasil é bastante competitivo internacionalmente devido à

produtividade alta da cana-de-açúcar e a baixa remuneração do trabalho. Em virtude

disso, é provável que o cultivo avance bastante nos próximos anos, até porque o

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álcool utiliza o mesmo sistema de combustão da gasolina, que é o combustível mais

usado atualmente nos veículos de passeio e utilitários no Brasil. Em níveis

internacionais, o rendimento de álcool obtido através de outros produtos (milho, por

exemplo) é inferior e necessita de subsídios públicos.

Para a obtenção do biodiesel, faz-se necessário realizar um processo químico

para separar a glicerina do óleo vegetal. Isso porque, a glicerina reduz a vida útil dos

motores à diesel e, atualmente, os motores não são adaptados à realizar o processo de

combustão com a presença dela. A figura a seguir demonstra o processo utilizado

para a obtenção de biodiesel.

Processo de produção de biodiesel a partir de óleo vegetal (Ceplac, 2007)

4. Considerações finais

Ocorreu, nos últimos anos, um significativo deslocamento no consumo

mundial de matérias graxas animais em favor dos óleos vegetais, em decorrência de

fatores ligados à saúde, custos de produção, desenvolvimento industrial e

versatilidade desse tipo de matéria-prima. Isso permitiu a elevação do consumo

mundial de óleos vegetais.

O óleo de palma ocupa, atualmente, a primeira posição entre os óleos vegetais

mais consumidos no mundo, seguido pela soja. A Malásia e a Indonésia são os

principais produtores mundiais de óleo de palma (que se equivale ao dendê

brasileiro), respondendo por mais de 80% da produção mundial e se caracterizando

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como os maiores exportadores mundiais do produto. Embora a produção nacional de

dendê esteja aumentando, o Brasil não é um grande consumidor do produto.

O óleo de soja, em virtude do menor preço e da alta disponibilidade no

mercado interno, é o óleo mais consumido no país e ocupa o lugar do óleo de palma.

Entretanto, apesar das condições adequadas de clima e solo, o Brasil é um

importador líquido de óleo de palma e palmiste (retirados da polpa e da amêndoa do

dendê, respectivamente). Outra palmácea brasileira que produz óleo semelhante ao

do dendê é o babaçu, um produto extrativo das regiões Norte e Nordeste do Brasil

que tem sofrido a concorrência dos óleos de palma e palmiste.

A demanda por óleos vegetais poderá se elevar ainda mais nos próximos anos

em virtude da diversificação da matriz energética, que prevê o consumo na forma de

biodiesel. Várias espécies vegetais podem ser utilizadas na produção de biodiesel,

mas algumas, como a palma ou dendê, apresentam maior produtividade de óleo por

hectare cultivado, o que poderá colocá-la em vantagem em relação aos demais óleos.

Se, de um lado, a produção de biodiesel poderá reduzir a emissão de gás carbônico

na atmosfera, de outro lado, haverá problemas ambientais decorrentes do cultivo

(desmatamento, monocultivos, etc.) e sociais (conflitos pela posse e uso da terra,

concentração e elevação do preço da terra, etc.), os quais deverão ser considerados

pelos governos e movimentos sociais do campo.

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Política Agrícola

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Instrumentos de política agrícola para a agricultura e a agricultura familiar no Brasil

Sidemar Presotto Nunes - DESER

Introdução

Para analisar a realidade da política agrícola brasileira faz-se necessário considerar o contexto de “ajuste” colocado aos Estados, inclusive ao Brasil. Atualmente, as práticas neoliberais são colocadas aos países como se fosse a única saída para se enfrentar os problemas econômicos e promover o desenvolvimento. Diversas reformas são desenvolvidas com esse objetivo, que foram aplicadas em vários países, principalmente nos mais pobres. Os ideólogos dessa teoria afirmam que a liberalização dos mercados seria capaz de atrair um número cada vez maior de investimentos.

O neoliberalismo procura, portanto, ajustar os países mais pobres às necessidades das grandes empresas em ampliar sua dominação. Entretanto, verifica-se que o Estado dos países mais ricos não vem diminuindo de tamanho, mas que sua ação é direcionada às estratégias das grandes empresas que pretendem se fortalecer no mundo inteiro. Entre algumas medidas consideradas "necessárias" para os neoliberais, estão as privatizações de empresas estatais, a abertura de mercado de capitais, o fim das reservas de mercado e a flexibilização de leis trabalhistas.

Cabe destacar, inicialmente, que embora esse texto trate de política agrícola, os instrumentos de política econômica que influenciam a agropecuária são diversos4:

• Política fiscal: tributação, gastos do governo, mecanismos de isenção fiscal e de incentivos fiscais.

• Política monetária: taxa de juros de captação versus taxa de juros de empréstimos, taxas de juros nominal versus taxas de juros real.

• Política cambial: câmbio valorizado versus câmbio desvalorizado.

• Política de rendas: legislação trabalhista e política de zoneamento do uso da terra.

• Política comercial: acordos comerciais entre países.

• Política agrícola: crédito rural, política de garantia de preços mínimos, seguro rural, pesquisa, extensão rural, sanidade vegetal e animal, políticas específicas para certos produtos e insumos, política de uso florestal e de incentivo ao reflorestamento. Além desses instrumentos de política agrícola mais gerais,

4 BACHA, Carlos José Caetano. Economia e política agrícola no Brasil. Editora Atlas, São Paulo, 2004.

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outros podem ser desenvolvidos visando atender um público específico, como os de apoio à agricultura familiar.

Como toda política pública, as políticas agrícolas podem induzir mudanças desejadas pelos governos no setor, através do arranjo de instrumentos que estimulem a produção (preços, crédito, juros, seguro, formação de estoques, exportações, compras internas) e promovam a distribuição social da riqueza da agricultura5. Sendo assim, a orientação dessas políticas é dada pelo papel que se espera que a agricultura cumpra em um dado momento histórico (liberar mão-de-obra, baratear o custo da cesta básica, promover as exportações de determinados produtos, garantir a segurança alimentar, fortalecer a agricultura familiar ou patronal, etc).

Pode-se considerar quatro fases na trajetória das políticas agrícolas brasileiras, após o início da Revolução Verde: 1) 1965–1985: modernização conservadora. A agricultura se modernizou, mas não alterou sua estrutura fundiária; 2) 1985–1995: desmonte das políticas agrícolas e liberalização dos mercados; 3) 1995-2002: retomada da política de crédito com juros controlados, mas com recursos privados; desenvolvimento de mecanismos privados de escoamento e estoques da produção; 4) 2003 até agora (2007): fortalecimento da política de crédito e pequena retomada de outros mecanismos, principalmente dos direcionados à agricultura familiar (seguro agrícola, seguro de preços, compras institucionais, assistência técnica etc.). É importante destacar que, embora tenha havido certa retomada da política agrícola, isso não foi suficiente para conter o processo de ampliação do poder econômico das grandes empresas inseridas no mercado mundial.

Nos últimos anos, além de buscar incrementar o saldo da balança comercial, as políticas agrícolas brasileiras foram sendo desenvolvidas com vistas a reduzir o preço final dos produtos agrícolas, permitindo assim que os setores urbanos mais pobres diminuíssem a parcela dos gastos de suas rendas com a alimentação. Se, de um lado, o baixo preço de alguns produtos agrícolas prejudicou os agricultores, de outro, permitiu a redução do custo da cesta de alimentos e o aumento do consumo de alguns produtos, como o caso das carnes. Atualmente o salário mínimo permite a aquisição de 2,3 cestas básicas, contra 1,3 em dezembro de 2002. Nesse período, houve um aumento do poder de compra e do consumo estimulados por um aumento real do salário mínimo em 26% e pela ampliação das transferências sociais do governo federal.

Cabe destacar também que, apesar da importância das políticas econômica, agrícola e fundiária, no que tange ao setor agrícola e pecuário, o apoio público pode se dar também através de políticas sociais. Tanto as políticas econômicas como as sociais podem garantir melhoria da renda e das condições de vida das pessoas que dependem da atividade agrícola, já que, em grande parte do mundo, a agricultura 5 Como exemplo, entre meados da década de 60 e meados da década de 80, o governo federal planejou as políticas agrícolas nas áreas de pesquisa, de assistência técnica e de crédito, principalmente, visando liberar mão-de-obra da agricultura para a indústria.

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proporciona rendas inferiores em relação às demais atividades econômicas. O Box, a seguir, apresenta uma discussão sobre os gastos públicos em agricultura.

Gastos Públicos em Agricultura

A análise do gasto público em agricultura mostra que houve uma queda da participação relativa da agricultura no dispêndio total da União se comparados os gastos da década de 1980 com os da década de 1990. Porém, em valores absolutos, gastou-se mais nos anos 1990 do que na década de 1980. Em relação aos anos 2000 e 2001, os dispêndios na função Agricultura são menores que os observados nos últimos dezesseis anos. Essa redução de dispêndios ocorreu nas políticas de crédito rural e de sustentação de preços e de renda, justamente aquelas em que os países que protegem suas agriculturas mais concentram seus gastos. Na nova lei agrícola americana (Farm Bill, 2002 apud Coelho, 2002), está previsto um dispêndio com subsídios de US$ 108,69 bilhões no período 2002-2007, que representa muitas vezes mais o que o Brasil gasta em toda a função Agricultura.

Em 2001, os gastos médios dos estados, em termos relativos, em agricultura seguem um padrão próximo ao da União – enquanto o dispêndio relativo da União em agricultura em 2001 representava 1,13%, o dos estados foi de 1,20% em média. Porém, em valores absolutos, a União gasta mais de três vezes o que gastam os estados.

O Brasil não se encontra bem posicionado se comparado a outros países da América Latina e ao Caribe em relação à proporção desejada do gasto público em agricultura. No Brasil, essa proporção está muito abaixo daquela que seria recomendada pelo chamado Índice de Orientação Agrícola, elaborado a partir da participação da agricultura no PIB. Segundo esse indicador, utilizado pela FAO, o governo deveria gastar em agricultura cerca de oito vezes mais do que gasta atualmente.

A principal razão da queda do gasto público em agricultura é a mudança introduzida pelo governo em relação aos instrumentos de política agrícola, como Crédito Rural e Política de Preços e Estoques. Como foi mostrado em outros trabalhos, a participação do governo no Crédito Rural ocorre mediante equalização de taxa de juros. As atribuições da Política de Preços e Estoques foram transferidas em grande parte para a iniciativa privada (...) Os dispêndios com essas políticas são pouco expressivos se comparados aos dos anos 1990. Os acontecimentos ocorridos em 2002 com alguns alimentos básicos, especialmente milho e arroz, evidenciam a necessidade de o governo voltar a ter estoques estratégicos de produtos básicos, previstos em lei, que garantam uma estabilidade do abastecimento quando da falta de produtos no mercado.

Finalmente, a análise dos dispêndios com a política fundiária mostrou que, apesar dos esforços que têm sido feitos, foram gastos R$ 23,53 bilhões em um período de 34 anos, o que, dada a magnitude do problema agrário, é um valor que se situa aquém do que seria necessário. Nos últimos anos, como no período 1994-1998, houve uma clara opção por priorizar a questão agrária, o que se percebe pelos valores alocados nessa área. Já nos anos mais recentes (1999 a 2001), os gastos foram reduzidos à metade em relação aos anos anteriormente mencionados.

Fonte: GASQUEZ, 2003.

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A política agrícola serve como um importante instrumento para induzir mudanças na agricultura e em outros setores da economia de um país. Apesar de os resultados não ficarem alheios à conjuntura do mercado nacional e internacional, as mudanças provocadas pelas políticas agrícolas contribuem diretamente para:

1. reduzir as instabilidades provocadas pelo mercado e clima;

2. favorecer o investimento nas atividades agrícolas;

3. elevar a produção e a produtividade agrícola;

4. reduzir os custos de produção por unidade de mercadoria produzida (kg ou saca), devido à redução no custo do crédito, da assistência técnica, tecnologias, uso de novas tecnologias de produção e máquinas que aumentam a produtividade do trabalho, etc;

5. reduzir os custos dos alimentos ao consumidor final. Isso também pode acontecer com os demais produtos agrícolas e florestais: fibras, energia (álcool, biodiesel) e madeira;

6. democratizar o acesso ao crédito e às tecnologias entre os que têm dificuldade de acesso através dos mecanismos normais, facilitando sua inserção ao mercado;

7. fazer frente à concorrência dos produtos agrícolas importados, mediante a redução dos custos de produção provocados pela própria política agrícola, através de barreiras tarifárias à importação e isenção de impostos à exportação;

8. promover o desenvolvimento de determinados produtos agrícolas e técnicas de produção, que dependerá dos incentivos da política e do mercado;

9. facilitar, pela disponibilidade de crédito, o acesso aos insumos e tecnologias colocados no mercado (adubos químicos, agrotóxicos, etc);

10. facilitar a organização de cadeias produtivas, favorecendo também as indústrias;

11. elevar a renda das famílias através do aumento da produção destinada à comercialização;

12. diversificar as atividades rurais, estimulando atividades não-agrícolas ou parcialmente agrícolas (agroindústrias, turismo, etc);

13. incentivar e promover a segurança alimentar, pois do contrário pode contribuir para estimular apenas alguns produtos que possuem conjuntura de mercado mais favorável (soja, por exemplo);

14. transferir renda - nesse caso, encontram-se os créditos com níveis de abatimento alto aos agricultores de baixa renda (Pronaf B, por exemplo, embora também estimule a produção);

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15. desenvolver outros setores da economia (indústria e serviços).

A existência de política agrícola pode desempenhar um importante papel na implementação das mudanças acima apresentadas. No entanto, não oferece a garantia de:

1. conter a redução dos preços dos produtos agrícolas. A maior estabilidade, o aumento da produção e produtividade e a redução dos custos provocada pela política normalmente contribuem para a redução dos preços;

2. manter ou elevar a renda agrícola. Mesmo que uma parte dos agricultores eleve ou mantenha sua renda, a tendência geral da agricultura é reduzir sua participação no Produto Interno Bruto (PIB);

3. democratizar o acesso à terra. Devido ao fato de gerar maior estabilidade na agricultura, ajuda a promover a elevação do preço, dificultando a aquisição por quem não possui;

4. conter a redução da população ocupada na agricultura. Ao contrário, pode contribuir para estimular a redução e até o próprio êxodo rural. No que se refere ao êxodo, poderá acontecer em níveis menores se as pessoas se ocuparem em outras atividades no meio rural. Os avanços na área de transportes e comunicação e a opção de algumas indústrias em interiorizar suas unidades produtivas para reduzir custos de produção têm contribuído para isso;

5. conservação dos recursos naturais. A existência de crédito e a elevação do preço da terra podem promover uma pressão maior sobre os recursos naturais, mediante o desmatamento, drenagem, etc;

6. segurança alimentar e produção para o consumo familiar. Os produtos com preços melhores tendem a ser os mais cultivados e os agricultores podem optar por produzir mais para o mercado e relegar a produção para o consumo familiar;

7. evitar a diferenciação social. Os aspectos apontados anteriormente indicam que a diferenciação social entre os agricultores poderá continuar ocorrendo com a existência de políticas agrícolas, já que alguns tenderão a se integrar no mercado de determinados produtos agrícolas e se capitalizar, e outros não.

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1. Política de crédito rural

O crédito rural é um importante instrumento de política agrícola. Aos agricultores, individualmente, é sem dúvida o mais importante. Durante a Revolução Verde o crédito rural foi farto e bastante subsidiado, viabilizando, juntamente com a pesquisa e a assistência técnica, o processo de modernização da agricultura.

Após um período de escassez entre 1985 e 1995, a política de crédito rural passou a ser retomada no Brasil. De lá para cá, os volumes de recursos programados para o crédito rural tem aumentado ano a ano, tanto os destinados à agricultura familiar, através do Pronaf, quanto os destinados à agricultura patronal. No entanto, os recursos destinados ao Pronaf, que possuem juros mais baixos e um nível de subsídio mais alto, representaram pouco mais de 16% do volume total dos recursos destinados ao crédito rural. A Tabela 1, a seguir, apresenta a evolução dos recursos programados para o crédito rural a partir da safra 2003/04 até a atual (2006/07).

Tabela 1 – Evolução dos recursos programados para o crédito rural (milhões de R$)

Fonte de recursos e programas

2003/04

2004/05 2005/06 2006/07 Variação

% 1. Custeio e comercialização 21.400 28.750 33.200 41.400 93,5 1.1 Juros controlados 16.400 17.700 20.900 30.100 83,5 1.2 Juros livres 5.000 11.050 12.300 11.300 126,0 2. Investimento 5.750 10.700 11.150 8.600 49,6 2.1 Finame Agrícola Especial 500 500 500 200 -60,0 2.2 Proger Rural (8% a.a) 250 100 100 100 -60,0 2.3 Demais programas BNDES 2.000 2.600 8.550 6.100 205,0 2.4 Fundos Constitucionais 1.000 2.000 2.000 2.200 120,0 3. Sub-total 27.150 39.450 44.350 50.000 84,2 4. Agricultura Familiar 5.400 7.000 9.000 10.000 85,2 5. Total 32.550 46.450 53.350 60.000 84,3

Fonte: MAPA, 2006.

O volume de recursos disponibilizado pelo Governo Federal para o Plano Safra 2006/07 é de R$ 60 bilhões, 12,5% maior do que em 2005/06. Desse total, R$ 10 bilhões foram disponibilizados para o Plano Safra da Agricultura Familiar, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), no âmbito do Pronaf. Os R$ 50 bilhões restantes foram destinados ao Plano Agrícola e Pecuário (PAP), divulgado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). O volume de recursos disponibilizados ao financiamento da agricultura deve atender pouco mais da metade da necessidade de crédito, estimada em R$ 106 bilhões6. Para atender o restante da demanda, os agricultores deverão recorrer ao autofinanciamento e aos mecanismos privados (empresas agropecuárias, cerealistas, bancos).

6 TSUNECHIRO, Alfredo et al. Plano de safra 2006/07 e a realidade do setor rural: breve análise. Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA/SP). Análise e Indicadores do Agronegócio, v. 1, nº 6, junho de 2006.

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Atualmente, para a safra agrícola 2006/2007, a taxa de juros foi reduzida para 12,35% no Finame agrícola especial; 8,75% para o Prodecoop; 8,75% e 10,75% no Moderfrota, que permitirá financiar também máquinas usadas. No último caso, a taxa de juros mais baixa se aplica aos agricultores com renda inferior a R$ 250 mil e a mais alta aos agricultores com renda superior a esse limite. Definiram-se também os novos limites de financiamento para os agricultores não integrados às agroindústrias: R$ 60 mil à avicultura e R$ 120 mil à suinocultura.

2. O Crédito do Pronaf

No início dos anos 90, que precedeu a criação do Pronaf, a agricultura brasileira passou por um processo que incrementou a abertura comercial, colocando os produtos brasileiros sob a concorrência do mercado internacional. Ao mesmo tempo em que o crédito rural se tornou escasso, foi desativada a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater) e a inflação apresentava uma curva crescente. Era um cenário diferente do período que foi até início dos anos 80, quando o Estado Nacional desenvolveu sua política de modernização agrícola, baseada em crédito abundante e em investimentos em pesquisa e assistência técnica. Os agricultores familiares tinham pouco acesso ao crédito em virtude de sua escassez. Alguns governos estaduais desenvolveram programas de financiamento com pagamento em equivalência-produto, mas, para a maioria dos que necessitavam de empréstimos para financiar a produção agrícola, restavam os financiamentos particulares em empresas cerealistas, cooperativas etc. A inflação e os juros altos que não estimulavam o aumento da produção por parte dos agricultores familiares e a intensificação do processo de abertura comercial (principalmente ao Mercosul) corroíam a renda agrícola.

Com base nesse contexto, as organizações dos agricultores familiares (DNTR/CUT e Contag) reinvidicaram um programa de crédito específico, consolidando-se no Pronaf. O Fórum Sul dos Rurais da CUT realizou um seminário, em Chapecó, no ano de 1993, com o lema “Crédito de investimento – Uma luta que vale milhões de vidas”. O seminário indicou que o crédito seria a bandeira central do movimento sindical naquele momento, que poderia desencadear a conquista de outras políticas: assistência técnica, crédito fundiário, pesquisa, educação e formação profissional, infra-estrutura e habitação. De acordo com as resoluções do seminário, a proposta de crédito de investimento subsidiado para os agricultores tinha como objetivos: “recuperar e implementar a infra-estrutura necessária aos pequenos estabelecimentos rurais, redefinindo os seus sistemas de produção e capacitando-os para competirem com os produtores dos países do Mercosul; adequar o nível tecnológico utilizado, possibilitando a redução dos custos de produção e o aumento da qualidade e da produtividade agrícola; aumentar a produção de alimentos de forma a garantir a segurança alimentar do país; permitir o desenvolvimento de uma agricultura

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ecologicamente sustentável na conservação dos solos, águas e demais recursos naturais; e fixar os agricultores familiares no campo, evitando o êxodo rural”7.

O Pronaf se propõe a fortalecer a agricultura familiar como categoria social, mediante apoio financeiro (financiamento para custeio e investimento de atividades agrícolas), capacitação e apoio à infra-estrutura social e econômica dos territórios rurais fortemente caracterizados pela agricultura familiar. Embora seja um programa de fortalecimento da agricultura familiar, a maior parte de seus esforços e resultados estiveram concentrados no crédito desde a sua criação. Entretanto, cabe destacar que, nos três últimos anos, o governo federal passou a desenvolver novas ações, principalmente na área de comercialização (estoques, compras, garantia de preços mínimos), assistência técnica e extensão rural e seguro agrícola.

Atualmente, o público-alvo do programa são os agricultores familiares que possuem as seguintes características:

a) possuem parte da renda familiar proveniente da atividade agropecuária, variando de acordo com o grupo em que o beneficiário se classifica (30% no grupo B, 60% no grupo C, 70% no grupo D e 80% no grupo E);

b) detêm ou exploram estabelecimentos com área de até quatro módulos fiscais, ou até seis módulos quando se tratar de atividade pecuária;

c) exploram a terra na condição de proprietário, meeiro, parceiro ou arrendatário;

d) utilizam mão-de-obra predominantemente familiar;

e) residem no imóvel ou em aglomerado rural ou urbano próximo;

f) possuem renda bruta familiar de até R$ 60 mil por ano;

g) pescadores artesanais, pequenos extrativistas e pequenos aqüicultores se incluem no público-alvo do Pronaf.

Ao longo dos anos, foram criados novos grupos dentro do Pronaf, com o objetivo de melhor atender os diferentes contextos sociais e a heterogeneidade de público que pode ser apoiada pelo crédito do programa. Além disso, as rendas para enquadramento e os valores-limite de financiamento foram sendo atualizados. O Quadro 1 apresenta as condições de enquadramento ao crédito para custeio na atual safra agrícola (2006/07).

7 Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais – DESER. Cartilha do Pronaf. Curitiba, 2000.

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Quadro 1 – Limites de enquadramento e de financiamento para Custeio, de acordo com os grupos do Pronaf (Safra 2006/07) Grupo Renda enquadramento Limite financiamento

Custeio A/C Primeiro crédito de custeio para assentados do

Programa Nacional de Reforma Agrária e beneficiários do Programa de Crédito Fundiário

R$ 3.000,00

C R$ 16.000,00 R$ 4.000,00 D R$ 45.000,00 R$ 8.000,00 E R$ 80.000,00 R$ 28.000,00 Fonte: MDA/SAF (2006). Elaboração: DESER.

Considerando-se os limites de renda bruta e do valor financiado por grupo ou do valor do financiamento do Pronaf em relação ao VBP da agricultura familiar, verifica-se que o crédito do Pronaf financia parcialmente a agricultura familiar. Por exemplo, no grupo D, os limites da renda bruta variam entre R$ 16 mil e R$ 45 mil e o limite de financiamento para esse grupo é de R$ 8 mil. Considerando que o beneficiário tomaria o valor limite (R$ 8 mil), os custos de produção deveriam ser de, no máximo, 50% no caso de menor renda bruta e 17,7% no de maior. Como normalmente os custos variáveis de produção tendem a ficar bem acima desses percentuais, os agricultores lançam mão do autofinanciamento ou entram em outras fontes de financiamento.

Quadro 2 – Limites de enquadramento e de financiamento para Investimento, de acordo com os grupos do Pronaf (Safra 2006/07) Grupo Renda enquadramento Limite financiamento Investimento A Assentados do Programa Nacional

de Reforma Agrária e beneficiários do Programa de Crédito Fundiário

R$ 16.500,00 R$ 18.000,00 com ATER

B Até R$ 3.000,00 Até R$ 4.000,00, com bônus de adimplência de 25% em cada operação de até R$ 1.500,00

C R$ 16.000,00 R$ 1.500,00 a R$ 6.000,00 D R$ 45.000,00 R$ 18.000,00 E R$ 80.000,00 R$ 36.000,00 Fonte: MDA/SAF (2006). Elaboração: DESER.

O crédito para investimento foi uma das primeiras demandas das organizações sociais do campo, pois se pressupunha que os agricultores não possuíam infra-estrutura produtiva adequada. O crédito para investimento possui um nível de subsídio maior do que o de custeio, principalmente no grupo A, B e C.

Nos primeiros anos do Pronaf, o financiamento para investimento foi pouco utilizado. A ampliação do número de contratos aconteceu nesses últimos anos, principalmente com a incorporação e ampliação do Pronaf B como uma linha de crédito destinada a investimento. Em virtude de que muitos projetos eram colocados em execução sem um devido planejamento, as organizações sociais passaram a cobrar que o governo dispusesse de assistência técnica aos projetos. A solução encontrada pelo governo foi ampliar o limite de crédito, sem reembolso, com vistas a

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possibilitar que a iniciativa privada cobrisse essa lacuna. Entretanto, a assistência técnica continua sendo um problema não inteiramente resolvido, já que muitos projetos não são acompanhados.

O Grupo E do Pronaf é o mais recente, tendo sido criado na safra 2003/04, no início do governo Lula. Já o grupo A constituía um programa específico, o Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária (Procera), e foi incorporado ao Pronaf. Nos anos seguintes, os beneficiários dos programas de crédito fundiário também passaram a poder se utilizar dessa linha.

Após um período de ampliação do número de contratos e dos valores contratados, a partir da safra 1999/00, iniciou-se um processo de estagnação. Se forem deflacionados os valores aplicados, conclui-se que houve até uma redução. Isso aconteceu por dois motivos: a dificuldade do programa em ampliar para outras regiões, principalmente ao Nordeste do País e ao fato de que o financiamento da fumicultura passou a ser proibido, obrigando os fumicultores e as indústrias fumageiras a buscar outras fontes a juros mais elevados. A Tabela 2 apresenta a evolução dos valores programados e efetivamente aplicados através do Pronaf, a partir da safra 1999/2000.

Tabela 2 - Valores aplicados e Anunciados no PRONAF (R$ mil) a partir da safra 1999/2000

Ano-Safra Valor programado

Valor Aplicado

Aplicado/ programado (%)

Valor aplicado deflacionado IGP-DI*

1999/2000 3.460.000 2.149.434 62,1 4.025.588.612 2000/01 4.040.000 2.168.486 53,7 3.698.567.518 2001/02 4.196.000 2.189.275 52,2 3.382.361.863 2002/03 4.190.000 2.376.465 56,7 2.904.474.769 2003/04 5.400.000 4.490.478 83,2 5.097.087.664 2004/05 7.000.000 6.131.600 87,6 6.206.681.072 2005/06 9.000.000 7.579.669 84,2 7.579.669.303 Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário – Secretaria da Agricultura Familiar. * IGP-DI calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Considerou-se o índice do último dia do ano-safra (31/12/1996, por exemplo). Elaboração: Deser

Embora seja um programa nacional, nos primeiros anos a maior parte dos recursos do Pronaf foi aplicada no Sul do país, devido a um conjunto de motivos: os agricultores familiares eram mais integrados aos mercados e dependiam da aquisição de insumos agrícolas para garantir a produção; a estrutura de divulgação e operacionalização montada pela assistência técnica oficial e pelo movimento sindical; a pressão do movimento sindical junto ao governo e aos bancos; a existência de uma rede bancária bem mais distribuída pelos municípios em relação às demais regiões; a existência da assistência técnica pública na maioria dos municípios (Emater e Epagri); o surgimento do cooperativismo de crédito; a fonte de recursos (Tesouro Nacional) que garantia maior facilidade para operacionalizar os financiamentos e o fato das

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empresas integradoras de fumo (nos anos em que o Pronaf financiou essa atividade), avalizarem os financiamentos, facilitando as operações de crédito etc.

O Rio Grande do Sul foi o estado brasileiro que na safra 2005/06 mais concentrou contratos do Pronaf, 343 mil, só menos que duas regiões brasileiras: o Sul, a qual pertence, e ao Nordeste. Entretanto, não se trata de uma posição conquistada recentemente, pois desde o início do Pronaf esse estado sempre liderou, tanto em número de contratos quanto em valores aplicados. Logo em seguida, com mais de 100 mil contratos aplicados na safra 2005/06, aparecem Minas Gerais (222 mil), Paraná (162 mil), Bahia (155 mil), Santa Catarina (124 mil), Maranhão (119 mil), Piauí (103 mil) e Ceará (101 mil).

Se, de um lado, a região Sul do Brasil ainda concentra a maior parte dos recursos, de outro lado, em termos de número de contratos, com 42% do total, a região Nordeste atualmente é a mais importante, contra 33% do Sul. Isso porque o Pronaf B, cujos valores são menores, evoluiu bastante nessa região, aproximadamente 300 mil contratos somente na última safra em relação à que precedeu. O Sudeste, com pouco mais de 15%, ocupa a terceira posição nesse quesito. A região Norte concentra 5,1% dos contratos e o Centro-Oeste, 3,5%.

A região Sul do Brasil ainda é a que recebe a maior quantidade de financiamento do Pronaf, 38,7% do total. No entanto, o Sul, que já respondeu por mais de 60% dos recursos do Pronaf nos primeiros anos do programa, tem perdido em importância relativa para outras regiões. A região Nordeste é a que mais tem crescido em importância, ocupando o segundo lugar em termos de valores contratados, com 25,7%. As demais regiões (Norte, Centro-Oeste e Sudeste) mantiveram-se praticamente estáveis no que se refere a esse quesito, mas a região Sudeste concentra bem mais recursos que as outras duas, 19,5% do total. A evolução dos valores contratados de cada estado brasileiro a partir da safra 2000/01 pode ser verificada no Quadro 4.

A concentração dos recursos do Pronaf pode ser encontrada também internamente às regiões. Atualmente, na safra 2005/06, o Rio Grande do Sul foi o estado brasileiro que mais recebeu, R$ 1,4 bilhão. Essa quantidade é praticamente igual ao que receberam as regiões Norte e Centro-Oeste, juntas. Logo em seguida, com R$ 935 milhões, aparecem Minas Gerais, Paraná (R$ 827 milhões), Santa Catarina (R$ 701 milhões), Bahia (R$ 435 milhões), Maranhão (R$ 369 milhões) e Pará (R$ 347 milhões).

Verifica-se que, após três anos de ampliação do número de contratos, principalmente aos agricultores mais pobres e das regiões Norte e Nordeste do Brasil, não há muito mais que se avançar nessa direção. Na safra 2005/06 foram aplicados R$ 1,95 bilhão em 809 mil contratos na região Nordeste do Brasil, contra R$ 393 milhões e 285 mil contratos há três anos atrás. Os valores médios dos contratos ficaram em R$ 1,37 mil e R$ 2,41 mil, respectivamente (valores nominais, sem deflacionar). As garantias do

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governo federal ao Pronaf B, que assumiu os riscos dos financiamentos, foram fundamentais para isso.

De outro lado, na região Sul do Brasil, os valores contratados na safra 2005/06 foram praticamente semelhantes aos da safra anterior (R$ 2,88 bilhões e R$ 2,92 bilhões, respectivamente). Já no que se refere ao número de contratos, houve uma pequena redução, passando de 678 mil para 630 mil. Isso pode ter acontecido devido a alguns motivos: as subseqüentes estiagens, a queda do preço das commodities agrícolas e o fato de que uma grande parte dos agricultores já contraiu financiamento para investimento, o que pode impossibilitar a contratação de um novo empréstimo por um certo período.

No que se refere aos grupos de enquadramento no Pronaf, a maior parte dos contratos realizados na safra 2005/06 pertence ao grupo C (33,2%), seguido do grupo B (29,2%). Verifica-se que o Pronaf C sempre foi o mais importante em termos de números de contratos, mas tem perdido em importância para o grupo B, na medida em que esse foi sendo ampliado. Já no que se refere aos valores aplicados, o grupo D do Pronaf, que inclui os agricultores que possuem maiores níveis de renda, é o que ainda concentra a maior parte dos recursos do Pronaf (36,1%). Em seguida, aparecem o grupo C (22,8%), o grupo E (13,4%) e a exigibilidade bancária (sem enquadramento (12,3%). O grupo B, apesar da importância no número de contratos, responde por apenas 7,4% dos recursos aplicados, mesmo percentual do grupo A.

No que se refere à modalidade do crédito, verifica-se que na última safra houve uma ampliação bastante grande dos contratos de investimento, como o que ocorreu na safra 2003/04. Isso ocorreu devido às diferentes formas de estímulo ao crédito de investimento, como a assistência técnica, mas principalmente devido à ampliação do Pronaf B, que é considerado um crédito de investimento.

Alguns avanços foram conquistados pelo Pronaf desde sua criação: a) o aumento do volume de recursos repassados aos agricultores familiares, que passou de R$ 89 milhões8 em 1995 para R$ 7,5 bilhões em 2005/06; b) o número de contratos que no mesmo período passou de 33.227 para mais de 1,9 milhão, c) a diminuição progressiva dos encargos e elevação dos níveis de subsídios, inclusive sobre o capital (os juros passaram de 16% ao ano para 4%, rebate nos grupos de baixa renda – A, B e C); d) a criação do grupo B, que visa financiar o investimento a agricultores de baixa renda e a criação de mecanismos para efetivamente atendê-los; e) a nacionalização do Pronaf, ampliando a atuação ao Nordeste e Norte; f) a criação do seguro agrícola (Garantia-Safra e Proagro Mais); g) a criação do seguro de preços da agricultura familiar. Outros importantes avanços do programa podem ser considerados: a articulação do crédito a outras políticas (garantias de compra, aquisição da agricultura familiar, Programa Fome Zero, etc.); a estruturação de uma política de assistência técnica e extensão rural; a criação de linhas específicas de financiamento (jovens, mulheres, agroecologia, etc.), apesar das dificuldades de operacionalização; a

8 Referente ao ano fiscal.

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identificação da estrutura das cadeias produtivas da agricultura familiar em nível nacional, no sentido de desenvolver ações específicas para apoiá-las na inserção no mercado.

3. Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), comercialização e Estoques Reguladores

A Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) foi um dos principais instrumentos de política para os produtos básicos da agricultura brasileira. O objetivo central dessa política era a garantia de renda dos agricultores e a manutenção da oferta dos produtos agrícolas. Contudo, o governo federal passou, a partir do final da década de 80, a encontrar dificuldades para manter as políticas de apoio à agricultura como a PGPM, que garantia o preço mínimo para os agricultores, via os programas de Aquisição do Governo Federal (AGF) e Empréstimo do Governo Federal (EGF). Os cortes nas políticas de crédito e na PGPM começaram na década de 80 e se aprofundaram nos anos 90, com a predominância das políticas neoliberais dos governos Collor e FHC.

Atualmente, os principais instrumentos de garantia de preços, comercialização e estoques são: o AGF, o programa de garantia de preços mínimos, o prêmio de escoamento do produto (PEP), o contrato de opção de venda de produtos agrícolas, a cédula de produtor rural, o empréstimo de governo federal (EGF), a nota promissória rural (NPR) e a linha especial de comercialização (LEC). Esses instrumentos são acessados, na maioria das vezes, somente por médios e grandes produtores, empresas e cooperativas. Isso se deve principalmente à preferência do governo e bancos por contratos maiores. Apesar de que a agricultura familiar acesse pouco, os instrumentos de comercialização contribuem para escoar a produção de uma região, favorecendo um maior equilíbrio nos preços dos produtos agrícolas e elevando quando eles se encontram muito baixos.

Com a abertura da economia, iniciaram-se as importações agrícolas, não obstante sob a existência de volumosos estoques públicos de alimentos. Isto se deve, em parte, ao privilégio que setores do empresariado agroindustrial passaram a ter na obtenção de matérias-primas para seus parques industriais, como foi o caso do trigo, do algodão e do leite, entre outros, desde o início dos anos 1990. Além do processo de desmonte das políticas de crédito e preços mínimos, o processo de abertura comercial criou situações que demonstraram a incompatibilidade de funcionamento dos antigos instrumentos da PGPM (EGF e AGF)9. 9 Oliveira, 2001.

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Tabela 3 - Preços Mínimos de produtos agrícolas Produto Unidade 2003/04 2004/05 2005/06 2006/2007 Milho 60 kg 13,50 13,50 13,50 14,00 Mandioca-raiz tonelada 54,00 54,00 Feijão 60 kg 47,00 47,00 47,00 47,00 Algodão em caroço arroba 13,40 13,40 13,40 13,40 Soja 60 kg 14,00 14,00 14,00 14,00 Arroz Longo Fino 50 kg 20,00 20,00 20,00 22,00 Trigo Melhorador tonelada 400,00 400,00 Leite litro 0,40 0,40 Fonte: Conab. Elaboração: Deser.

Em que pese algumas mudanças iniciadas com o Governo Lula, não se verifica uma tendência de retomada dos mecanismos públicos de política de estoques e preços. Para a próxima safra, apenas os preços de alguns produtos regionais foram reajustados e o volume de recursos para garantia de preços e sustentação da renda (R$ 2,8 bilhões). Nessa última safra, o governo federal não fez aquisições quando o preço de diversos produtos agrícolas mantinha-se abaixo do mínimo, o que fez com que os preços se mantivessem baixos por um longo período. Considerando a oscilação dos preços dos produtos agrícolas nos últimos anos, pode-se dizer que os mecanismos privados (estoques, Bolsa de Mercadorias e Futuros) pouco têm contribuído para regular o preço.

Atualmente, faz-se necessário continuar um processo de recuperação dos estoques reguladores da Conab, com vistas a regular a oferta e, em conseqüência, os preços dos produtos agrícolas, principalmente quando eles se encontrarem altos. Essa necessidade se deve ao fato de que a maior parte dos armazéns da Conab foram cedidos ou vendidos durante os governos Collor e FHC.

O governo federal criou, em 2006, o Título 3310, denominado Formação de Estoque pela Agricultura Familiar, que na prática funcionará como uma espécie de capital de giro para associações e cooperativas da agricultura familiar. Através do programa, as cooperativas e associações de agricultores familiares poderão tomar empréstimos do governo federal para financiar a comercialização, limitado a R$ 1,5 milhão por associação ou cooperativa e R$ 3,5 mil por agricultor.

4. Compras Institucionais/ Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)

Em que pese a existência de diversos mecanismos de garantia de preços e aquisição do governo federal, o acesso a esses instrumentos se concentrava entre os grandes produtores rurais, que dispunham de produção em escala. Em virtude disso, o governo federal, a partir da gestão do governo Lula, resolveu desenvolver uma política que pudesse atender aos agricultores familiares e, entre eles, os mais pobres e

10Disponível em www.conab.gov.br/conabweb/download/moc/titulos/T33d04AII.pdf. Acesso em outubro de 2006.

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menos integrados ao mercado. Daí, a origem do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar.

Esse programa, criado em julho de 2003, pela Lei 10.696/03, é um programa de política pública desenvolvido para incentivar a agricultura familiar, promover a inclusão social no campo e garantir alimento a populações em situação de insegurança alimentar, por meio da compra da produção familiar.

Os beneficiários do PAA fazem parte de diversos grupos sociais de produtores e consumidores. São considerados como grupos de produtores os agricultores familiares11, agro-extrativistas, quilombolas, famílias atingidas por barragens, trabalhadores rurais sem terra acampados, comunidades indígenas, pescadores artesanais, aqüicultores e produtores familiares em condições especiais. Os beneficiários consumidores são as instituições governamentais ou não governamentais que desenvolvam trabalhos publicamente reconhecidos de atendimento às populações em situação de risco social. Em geral, os beneficiários do PAA devem estar organizados em grupos formais (cooperativas e associações) ou em grupos informais, dependendo do instrumento acessado.

Os programas do PAA operacionalizados pela CONAB atingiram nos dois primeiros anos aproximadamente 50,3 mil famílias de beneficiados (agricultores e consumidores). Já o Programa do Leite do PAA, operacionalizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social, envolveu no acumulado dos anos 2003 e 2004 aproximadamente 656,8 mil famílias beneficiadas (agricultores e consumidores), na sua maioria os consumidores beneficiados pela aquisição do leite nas regiões Nordeste e Norte de Minas Gerais.

No Brasil, a segurança alimentar deve considerar também a distribuição de renda. Embora o programa Bolsa Família seja acusado de assistencialista e que através dele se justifique os baixos investimentos em outras áreas e a manutenção de uma política econômica conservadora, é necessário admitir que não se pode falar de segurança alimentar atualmente sem tratar de distribuição de renda. Para quem não possui renda ou uma renda muito baixa, resta a possibilidade de aquisição de alimentos de baixo preço e, por conseqüência, baixo valor agregado aos agricultores. Faz-se necessário avaliar e ampliar as transferências sociais do tipo Bolsa Família, associando-a às ações de desenvolvimento econômico e geração de emprego.

Procurando-se fazer uma avaliação do programa, pode-se afirmar que:

• Os recursos do programa têm evoluído ao longo dos anos, assim como o número de famílias beneficiadas.

• Estimulou-se a produção de alguns produtos que não possuem cadeias organizadas e que não se encontram entre os produtos de grande mercado, contribuindo com a diversificação das atividades agrícolas. Pode estimular também o

11 Enquadrados nos grupos A ao D do PRONAF.

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consumo e a produção de produtos agroecológicos, promovendo um processo virtuoso, como a geração de tecnologias mais adequadas a esse objetivo.

• O programa permite a aquisição de sementes crioulas e, por conseqüência, a preservação e a difusão destas.

• Tem contribuído para o fortalecimento de organizações econômicas (pequenas cooperativas) e até para surgimento de algumas delas. O problema é que algumas estão muito dependentes do programa.

• Funciona como um estímulo à produção, uma vez que Estado, mediante um contrato com organizações de agricultores, garante a aquisição por um preço pré-definido;

• Sob a ótica da “segurança alimentar”, permite a aquisição de alimentos sem a necessidade de licitação, apenas mediante critérios de enquadramento (Declaração de Aptidão ao Pronaf, limite de R$ 3.500 por beneficiário). Assim, permite direcionar aos agricultores que mais dependem do Estado, os que possuem pequenas áreas de terra e pouca produção.

• Contribui para balizar o preço de produtos agrícolas que não estão inseridos no grande mercado (castanha de cajú, leite de cabra, açúcar mascavo). Com isso reduz também as margens de lucro dos atravessadores com esses produtos, pois o PAA se coloca como um canal de comercialização aos agricultores que estiverem organizados.

• Em 2006 passou a funcionar uma outra linha, denominada Formação de Estoques pela Agricultura Familiar, que na prática se trata de um crédito para comercialização. Apesar da importância de uma linha como esta, não é possível garantir que ela contribuirá efetivamente com a formação de estoques, já que estes serão privados e possíveis de serem comercializados a qualquer momento e não quando houver um problema de desabastecimento.

• O programa é desenvolvido através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e compõe o programa Fome Zero. Apesar disso, permanece como um mecanismo isolado, devido à dificuldade atual de se tratar ao mesmo tempo a produção e o consumo de forma articulada e também porque o próprio programa Fome Zero tem se restringido à transferência de renda, através do Bolsa Família.

• Atualmente, a maior parte dos produtos adquiridos através do PAA vão para a doação simultânea (escolas, creches, comunidades e bairros pobres, entidades assistenciais) e uma parte menor para a formação de estoques. Apesar de que a doação simultânea obrigue a formação de uma parceria entre as organizações da agricultura familiar, que na maioria das vezes são as proponentes, e as organizações urbanas que recebem as doações de alimentos, verifica-se, muitas vezes, que isso não tem contribuído muito para fortalecer os laços de solidariedade.

• Apesar de que a doação signifique quase sempre uma melhoria da alimentação de quem recebe os alimentos, essa condição pode ser apenas temporária

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e, até mesmo, excludente. Isso porque um pequeno número de entidades atualmente são beneficiadas e ao fato de que elas podem ser escolhidas livremente, apesar da existência dos comitês gestores.

• O PAA, através da linha “compra direta com doação simultânea”, deu demonstrações de que as políticas públicas, especialmente as compras institucionais, podem contribuir para diversificar os produtos comercializados pela agricultura familiar. Embora o programa seja recente e ainda tenha beneficiado um número pequeno de agricultores, verifica-se que conseguiu estimular a produção de produtos que não eram produzidos ou tinham pequena expressão econômica. Acredita-se que esse estímulo possa contribuir para ajudar na organização da produção e na busca de novos canais de comercialização. É claro que não é possível pensar num programa de compras institucionais que possa ser responsável pela aquisição de todos os produtos da agricultura familiar, nem que este devesse ser o único estímulo à diversificação, mas que o programa contribui para pensar outras ações no âmbito do Pronaf. No caso do PAA, o governo cumpre a função que hoje as empresas integradoras exercem, garantindo preço e adquirindo os produtos agrícolas.

Passados quase quatro anos de execução do PAA, cabem algumas reflexões acerca do rumo que o programa poderá vir a tomar. Além dos aspectos acima mencionados, outras questões podem ser colocadas. O que esperar de um programa que tem o caráter do PAA? É possível se constituir em um novo mercado com o estímulo do Estado? É possível reduzir recursos do Pronaf e aumentar os recursos do PAA? Isso traria benefícios à agricultura familiar e à segurança alimentar?

5. Seguro da Agricultura Familiar (SEAF)

O Seguro da Agricultura Familiar (SEAF) é um mecanismo de proteção à renda da agricultura familiar, aplicando-se em caso de problemas climáticos que implicam em perdas acima de 30% da prevista no momento de contratação. O programa, criado no início do Governo Lula, pode ser utilizado pelos agricultores que acessam o Pronaf. Assegura o valor financiado (através do Proagro) e até 65% da receita líquida prevista, limitada à R$ 1.800,00 (através do Proagro Mais).

Para o agricultor familiar que solicita financiamento de custeio para as culturas zoneadas (algodão, arroz, feijão, feijão caupi, maçã, milho, soja, sorgo e trigo) e para as culturas de banana, caju, mandioca, mamona e uva, a adesão ao seguro é compulsória (obrigatória). Assim, mais de 95% dos financiamentos de custeio agrícola realizados no Pronaf podem ser cobertos pelo Seguro da Agricultura Familiar.

As demais culturas não zoneadas (batata, tomate, cebola, girassol, mamão, laranja, etc) não se enquadram no Seguro da Agricultura Familiar. Mas, nesses casos, os agricultores familiares podem, se o desejarem, aderir à modalidade anterior de Proagro (que permanece sendo opcional), pagando 2% de adicional (contribuição do produtor, correspondente ao que é denominado de prêmio no mercado segurador).

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Na safra 2004/05, o seguro beneficiou mais de 800 mil agricultores familiares. Em razão da seca ocorrida nos estados do Sul, aproximadamente 200 mil produtores receberam o benefício. Já na safra 2005/06 foram aproximadamente 100 mil.

Atualmente, em virtude dos problemas climáticos e da conjuntura de preços, torna-se vantajoso aos agricultores financiar a produção com recursos do Pronaf, mesmo que possuam condições financeiras de se autofinanciar. Além da disponibilidade de crédito barato e da possibilidade de um rebate sobre o financiamento, nesse caso a produção estará assegurada, já que o seguro é barato e obrigatório.

Algumas considerações podem ser feitas a respeito do programa:

• Garantiu renda aos agricultores do Sul em anos que a estiagem prejudicou a produção, evitando que esses agricultores se endividassem.

• Em virtude de o financiamento exigir certas técnicas de produção, estimulou o uso de insumos industriais e de sementes melhoradas.

• Não sabemos se estimulou a produção de “commodities” agrícolas, mas a maior parte das indenizações foram à esses produtos (soja, milho).

• Temos que considerar que o Pronaf, sobre o qual se aplica o Seguro da Agricultura Familiar, é uma das fontes de recursos utilizadas pelos agricultores para o custeio da produção agrícola, mas não a única, pois se utilizam também de recursos próprios e de financiamentos diretamente com empresas e cooperativas. Por isso, se o Pronaf e o Seguro passarem a serem aplicados à propriedade e não para produtos individualmente, isso não seria a garantia da promoção de uma grande mudança nos sistemas produtivos.

• O Governo afirma ter tido grandes dispêndios com indenizações, muitas vezes com grandes commodities agrícolas, que estariam fora do interesse de estímulo à quem possui pouca terra, que deveriam investir em atividades agrícolas de maior valor agregado. Membros do governo federal têm destacado também que o SEAF está com o mesmo problema do Proagro, quando este possuía um grande alcance nacional, que é o fato de que muitas indenizações estão sendo forjadas, uma vez que muitos agricultores não estariam suscetíveis à indenizações. Alegam a falta de estrutura pública e conivência de algumas organizações, facilitando que esse problema ocorra.

A Fetraf-Sul tem se proposto algumas mudanças no SEAF: a) alteração da fórmula de cálculo, partindo-se do capital aplicado e não do capital financiado; b) a adesão dos agricultores que não financiaram; c) a unificação dos critérios de fiscalização, vistorias e laudos; d) a inclusão de todos os produtos produzidos pela agricultura familiar.

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6. Garantia-Safra

Criado em 2003, o programa Garantia-Safra é uma ação do Pronaf que beneficia os pequenos produtores familiares do semi-árido brasileiro. Sua área de atuação são os municípios localizados na região Nordeste, no norte do Estado de Minas Gerais (Vale do Mucuri e Vale do Jequitinhonha) e no norte do Estado do Espírito Santo. O programa tem ampla participação e o Fundo é formado por contribuição da União, dos estados, dos municípios e dos produtores.

Tabela 4 – Garantia Safra: evolução do número de adesões e de indenizações

Ano Nº de Adesões (mil) Nº de Indenizações (mil) 2002/03 200,3 84,6 2003/04 177,8 75,1 2004/05 287,8 199,7 2005/06 356,6 - Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário

Em 2005, cerca de 356,6 mil agricultores haviam aderido ao Garantia-Safra, a maior parte deles (57,9%) localizados no estado do Ceará, seguido da Paraíba (22,4%) e Pernambuco (14,4%). Para a safra 2006/2007, o programa Garantia-Safra estará disponibilizando 459.091 cotas para a inscrição dos agricultores familiares que vivem na região semi-árida brasileira. De acordo com a área de abrangência, estabeleceram-se as seguintes cotas de agricultores assegurados: Alagoas (22.033); Bahia (32.980); Ceará (176.226); Minas Gerais (23.609); Paraíba (64.559); Pernambuco (59.070); Piauí (46.561); Rio Grande do Norte (15.050); e Sergipe (19.003).

Considerando que o acesso ao Garantia-Safra é independente do acesso ao crédito do Pronaf, o que o seguro da agricultura familiar não prevê, pode-se concluir que a parcela de agricultores da região Nordeste brasileira que está apoiada por ações do governo federal é um pouco maior. Ou seja, enquanto uma parte dos agricultores é beneficiada com crédito para investimento, outra parte reduz os riscos da produção, mesmo que utilize recursos próprios na produção. Entretanto, os valores mensais que os agricultores recebem em caso de seca ainda são bastante reduzidos. 7. Pesquisa e Assistência técnica

A pesquisa e a extensão já se revelaram fundamentais para a agricultura brasileira. O Brasil gasta hoje com pesquisa agropecuária menos do que gastava há alguns anos atrás. Para 2005, foi atribuído à Embrapa um orçamento de R$ 877 milhões. Para 2006, estima-se ter aplicado R$ 1,1 bilhão, mas a empresa precisaria, no mínimo, de R$ 1,3 bilhão para dar conta de seu programa de trabalho. Algumas considerações sobre a pesquisa pública para a agricultura no Brasil:

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• Atualmente, a Embrapa, a principal empresa pública de pesquisa agropecuária, está sendo remunerada pela iniciativa privada, mediante royalties. Isso a obriga desenvolver produtos que gerem retorno econômico imediato. Além disso, desenvolveram-se parcerias com empresas privadas, que, em última instância, utilizam-se das estruturas públicas e de pessoal qualificado para desenvolver seus projetos.

• Em termos de pesquisa para a agricultura familiar não se tem avançado muito. O MDA tem financiado o desenvolvimento de cultivares adaptado ao Nordeste do Brasil. Além de gerar variedades mais adaptadas, busca-se promover a preservação de recursos genéticos. Cabe destacar, entretanto, que há muito que se avançar nesse sentido.

• No caso específico da agroecologia, houve pouco aporte público ao desenvolvimento de pesquisa. Atualmente, a produtividade e penosidade do trabalho na agroecologia tem sido limitantes, dificultando sua ampliação e a democratização do consumo.

• É importante que a Embrapa destine, pelo menos, parte de seus esforços e seus recursos para desenvolver pesquisas voltadas para atender as demandas da agricultura familiar. Essas pesquisas devem se orientar, prioritariamente, para oferecer alternativas técnicas que considerem a ampliação das possibilidades da agricultura familiar se fortalecer nos mercados, a ampliação de ocupações e empregos, a segurança alimentar, a agroecologia e a conservação ambiental. Além da Embrapa, o “sistema institucional de ciência e tecnologia” no Brasil é composto por outras organizações, conforme se verifica através do quadro a seguir.

Quadro 3 - Sistema institucional de Ciência e Tecnologia Agropecuária no Brasil

Governo Federal Embrapa, Universidades, Ministérios Governo Estadual Empresas Estatais, Secretarias Estaduais e

Municipais, EMATER Governo Municipal Escolas técnicas, centros experimentais.

Entidades “Públicas” – não-estatais

ONGs, Fundações

Entidades “Privadas” sociais Cooperativas (Fecotrigo), universidades (faculdades),

Entidades Privadas Agro(indústrias), Microempresas de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico

Fonte: Gehlen (2003) 12.

12 GHELEN, Ivaldo. Pesquisa, tecnologia e competitividade na agropecuária brasileira. Sociologias. [on line]. 2001, nº 6, p. 70-93. Disponível em http://www.scielo.br. Acesso em 01/11/2006.

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No que diz respeito à assistência técnica e à extensão rural (ATER), o aporte público do governo federal a essa política atualmente é de R$ 112 milhões, anualmente, ou pouco aproximadamente 1,4 bilhão, quando se somam os orçamentos destinados pelos estados a essa função.

Embora as linhas gerais para formulação de uma nova política nacional de ATER estivessem começado a ser discutidas ainda no governo FHC, no atual governo ela passou por uma revisão e começou a ser implementada. Algumas considerações podem ser feitas ao programa:

• Apesar de grande parte dos esforços da ATER pública ser destinada à agricultura familiar, muitos estados brasileiros não possuem tais serviços e, por conseqüência, as políticas públicas destinadas a essa categoria não chegam adequadamente. Sendo assim, faz-se necessário ampliar os gastos públicos nessa função (principalmente do governo federal, já que esta esfera retirou a política de ATER no início dos anos 90, obrigando municípios e estados a assumirem-na) para garantir uma melhor eficiência das políticas públicas para a agricultura familiar.

• O volume de recursos tem aumentado ano após ano. Ao plano de safra 2006/07 o governo federal disponibilizou R$ 112 milhões de reais. Significa uma melhoria em relação à situação anterior, já que o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural foi extinto no governo Collor.

• O novo programa de ATER prevê a parceria entre entes públicos (órgãos públicos estaduais, federais e municipais) e privados (cooperativas de técnicos, ONG´s, cooperativismo, sindicalismo).

• Uma parte das entidades não públicas critica a ATER pública por ela ser ineficiente. No entanto, cabe salientar que, se de um lado as organizações privadas, que podem ser formadas por organizações representativas, agora podem potencializar seu trabalho de apoio aos agricultores, de outro lado, coloca-se sob o risco de apoiar o processo de privatização dos serviços públicos, contribuindo para justificar a falta de investimentos. Outro problema é a competição pelos recursos públicos destinados ao programa.

• Em virtude da realização de editais e projetos anuais, é provável que uma parte dos agricultores não possam contar com uma assistência continuada, já que o projeto pode não ser aprovado, a entidade pode deixar de existir ou, ainda, a entidade pode optar por outros agricultores ou outras linhas de ação.

• Não se investiu muito em uma estrutura pública de ATER (cooperativas de técnicos e ONG´s são entes privados, não públicos, pois não são Estado e direcionam suas ações ao público que quiserem, diferente de um ente público).

• O governo afirma que o “novo programa de ATER” norteia-se pelo desenvolvimento sustentável, pela agroecologia, etc. No entanto, não está muito claro o que isso significa, o que dificulta uma melhor avaliação do programa, já que o sistema de monitoramento através de listas de presença não permite identificar a qualidade do trabalho.

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• A ATER pode ser importante aos agricultores, mas cabe salientar que ela isolada não é garantia de melhorias, já que, em última instância, o que define é o acesso aos canais de mercado. Não é possível se avaliar a ATER sem se considerar isso.

• Aos agricultores familiares mais capitalizados e integrados ao mercado predomina a assistência técnica privada, seja através de técnicos contratados por empresas que trabalham em sistemas de integração com os agricultores (aves, suínos, fumo), seja através de profissionais contratados por empresas de insumos (adubos, agrotóxicos, etc.). Os casos que diferem um pouco das duas anteriores é em relação às cooperativas, cujos técnicos dedicam parte de seu trabalho à assistência, sem muita preocupação com a venda de insumos que isso implica, mas também passa a ser importante a remuneração mediante metas de vendas. Predomina, portanto, a assistência por produto agrícola e também uma assistência que se caracteriza pelas vendas de insumos.

• Uma nova assistência técnica precisa se abastecer de informações de uma nova pesquisa. Por isso ATER e pesquisa devem estar vinculadas.

8. Programa de Garantia de Preços da Agricultura Familiar (PGPAF)

A última safra agrícola (2005/06) ficou marcada pela queda dos preços dos produtos agrícolas, ocorrida em virtude da baixa cotação do dólar e dos efeitos negativos da gripe aviária e da febre aftosa às exportações brasileiras. Como produtora de mercadorias, a agricultura familiar também foi afetada por esses processos, principalmente os produtores de commodities e pouco diversificados. Diante da forte queda dos preços dos produtos agrícolas, que comprimiu a renda agrícola, a saída encontrada pelo governo brasileiro foi a concessão de bônus sobre os empréstimos, variando de acordo com os produtos agrícolas financiados.

Com vistas a evitar problemas semelhantes ao encontrado na safra 2005/06, o governo federal criou o Programa de Garantia de Preços da Agricultura Familiar, lançado em outubro de 2006. O programa funcionará em um sistema de equivalência-produto. No entanto, será feita apenas uma conversão simbólica do valor financiado em quantidade de produto para um determinado valor-referência, que será divulgado em breve. Caso o preço de mercado do produto agrícola financiado esteja abaixo do preço de referência, o agricultor receberá um rebate no valor do financiamento referente a essa diferença.

Na safra 2006/07, seis cultivos agrícolas serão contemplados: milho, feijão, mandioca, arroz, soja e leite, desde que tenham financiamentos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O Governo Federal estima que cerca de 500 mil agricultores familiares (dos grupos A/C, C, D e E) sejam beneficiados nessa safra e que, a partir do ano-safra 2007/2008 outras modalidades e outros cultivos agrícolas poderão ser incluídos no programa. Não haverá nenhuma

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mudança nos procedimentos para obtenção dos créditos do Pronaf no sistema bancário.

A partir da safra 2006/07, portanto, os agricultores poderão utilizar dois instrumentos de política agrícola contra perdas provocadas pelo clima e pelo mercado. Se as perdas forem provocadas pelas condições climáticas, os agricultores poderão solicitar o amparo do Proagro e Proagro Mais. Se as perdas forem devido às condições de mercado, os agricultores poderão utilizar o PGPAF, cujo bônus é limitado à R$ 3.500 por beneficiário. Caso as perdas sejam devido à condições climáticas e de mercado, os agricultores deverão encaminhar primeiro a solicitação de pedido de Proagro e aguardar o resultado da solicitação. Caso a indenização seja total, não haverá mais condições de recorrer ao PGPAF, mas se ela for parcial, os agricultores poderão solicitar bônus sobre o valor restante do financiamento através do PGPAF.Apresentam-se, a seguir, três simulações sobre situações em que os agricultores podem recorrer ao PGPAF, ao Proagro ou aos dois programas simultaneamente. Cabe ressaltar que, caso o preço de mercado de um determinado produto agrícola esteja acima do preço do PGPAF, o agricultor efetuará o valor integral do financiamento, não incorrendo em nenhum procedimento adicional. Caso esteja sujeito ao bônus, a agência bancária estará informada e efetuará o desconto no valor do financiamento a ser pago. A resolução do CMN não faz referência sobre a possibilidade ou não de incluir os encargos financeiros (juros) no cálculo do Programa de Garantia de Preços da Agricultura Familiar. Situação 1: O agricultor toma R$ 5.300,00 de empréstimo do Pronaf para o cultivo de feijão e, no ato do pagamento, o preço de mercado está abaixo do preço do PGPAF. Valor do empréstimo do Pronaf R$ 5.300 Preço do feijão no PGPAF R$ 53,00 Conversão (simbólica) do financiamento em sacas de feijão

100

Diferença entre preço PGPAF e preço no mercado R$ 20,00/ saca Valor do rebate 100 sacas x R$ 20,00/ saca =

R$ 2.000,00 Valor a ser pago R$ 3.300,00 Situação 2: O agricultor toma R$ 5.300,00 de empréstimo do Pronaf para o cultivo de feijão. Problemas climáticos afetam a produção e o preço de mercado se encontra abaixo do preço do PGPAF. O agricultor recorre ao Proagro e recebe indenização total. Valor do empréstimo do Pronaf R$ 5.300 Indenização Proagro R$ 5.300 Direito ao PGPAF? Não OBS: além da indenização do valor financiado, os agricultores podem receber o benefício do Proagro Mais, equivalente à 65% da renda líquida prevista e limitado à R$ 1.800 por beneficiário.

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Situação 3: O agricultor toma R$ 5.300,00 de empréstimo do Pronaf para o cultivo de feijão. Problemas climáticos afetam a produção e o preço de mercado se encontra abaixo do preço do PGPAF. O agricultor recorre ao Proagro, recebe indenização parcial e, em seguida, acessa o PGPAF. Valor do empréstimo do Pronaf R$ 5.300 Valor da indenização Proagro R$ 3.300 Valor da dívida Pronaf R$ 2.000 Preço do feijão no PGPAF R$ 53,00 Conversão (simbólica) da dívida restante em sacas de feijão

37,73

Diferença entre preço PGPAF e preço no mercado R$ 20,00/ saca Valor do rebate 37,73 sacas x R$ 20,00/ saca

= R$ 754,60 Valor a ser pago R$ 1.245,40

Mesmo que o programa recém tenha começado a funcionar, algumas considerações podem ser feitas:

• Com o programa, o governo poderá garantir um novo preço mínimo aos agricultores, mesmo que limitado ao valor financiado através do Pronaf, sem fazer com que os preços ao consumidor se alterem, garantindo que os mesmos fiquem baixos.

• O nível de gastos do governo federal poderá ser alto caso os preços na época de pagamento dos financiamentos estejam muito abaixo do valor de referência.

• O programa se aplica apenas ao valor financiado. Apesar do reconhecido avanço, já que pelo menos os agricultores não herdarão dívidas em caso de preços baixos (através do PGPAF) e de problemas climáticos (através do SEAF), cabe destacar que os agricultores terão perdas, principalmente aqueles que não utilizarem recursos do Pronaf.

• Outro problema específico se refere ao fato de que muitos agricultores utilizam o crédito do Pronaf para investir em outros cultivos e que não poderão utilizar desse instrumento caso ocorra perdas devido aos baixos preços no momento da comercialização.

• Falta de uma política de estoques mais bem definida, o que poderá resultar, em determinados momentos, em uma alta de preços e até mesmo o desabastecimento de alguns produtos destinados ao consumo humano, seja em virtude de problemas climáticos, seja em virtude de interesses específicos de grandes empresas que poderão comercializar em outros locais do mercado mundial em que for economicamente mais interessante.

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A atual safra agrícola poderá dar elementos para uma melhor avaliação do programa, mas as questões acima pontuadas podem dar alguns indicativos.

9. A Questão Agrária e a Reforma Agrária

A partir de meados dos anos 90, com a queda nas taxas de inflação, a tendência é de que investimentos em terras deixassem de ser tão interessantes, em virtude de que a estabilização econômica facilita o investimento em atividades produtivas. No entanto, verificou-se que grandes áreas passaram a ser utilizadas para a “lavagem de dinheiro” (oriundas do tráfico de drogas, desvio de dinheiro público, etc.), forjando-se uma supervalorização dos imóveis.

Verifica-se que, atualmente, não há uma oposição clara entre o agronegócio produtivo e o latifúndio improdutivo. Isso porque grandes proprietários possuem áreas que estariam cumprindo a função social, conforme o Estatuto da Terra, mas outras áreas que são utilizadas especulativamente.

O desenvolvimento de tecnologias que aumentam a produtividade do trabalho, como máquinas e produtos transgênicos, tende a provocar uma maior concentração da propriedade fundiária. Isso ocorre mesmo entre os agricultores familiares mais capitalizados, principalmente entre os produtores de commodities agrícolas que utilizam pouco trabalho. Esse processo, junto com a ampliação das áreas de cultivos destinados à exportação (soja, álcool, madeira), promove a valorização do preço da terra, dificultando o acesso por quem não a possui, como os assalariados rurais e agricultores que possuem pouca terra.

A reforma agrária, ao longo dos anos, tem sido adotada como sinônimo de assentamentos. Normalmente não se considera outras dimensões da reforma, principalmente no que se refere ao uso do solo e dos recursos naturais, o aparato jurídico sobre uso e propriedade da terra, entre outros.

Desde o governo FHC prevaleceu a regularização fundiária (quilombolas, por exemplo) e o assentamento em áreas públicas. Aconteceram algumas aquisições de grandes áreas com pagamento à vista, a exemplo da Giacometi e Marondin em Quedas do Iguaçu, no Paraná. Ao longo desses últimos anos não houve grandes desapropriações. Outras vezes, ainda, segundo o Incra, os valores da indenização foram muitas vezes maiores o valor real dos imóveis desapropriados. Isso revela que a propriedade fundiária, através do aparato jurídico que dá sustentação à ela, ainda possui muito poder no Brasil.

Em relação aos assentamentos, prevaleceu o assentamento em regiões distantes do mercado e com pouca ou quase sem infra-estrutura social e econômica, o que dificultou a consolidação de muitos assentamentos, o que poderiam ser considerados projetos de colonização e não de assentamentos.

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10. O Crédito Fundiário

O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) faz parte do plano nacional de reforma agrária e constitui-se em um mecanismo complementar de acesso à terra. Tem como objetivo principal viabilizar o acesso à terra aos agricultores familiares, jovens e o combate à pobreza rural. Para isso, as áreas utilizadas nesse programa não podem estar sujeitas à desapropriação.

O PNCF desenvolveu um aparato institucional que permite a participação das organizações na gestão e execução do programa, o que deveria garantir maior rigor na concessão de empréstimos e o desenvolvimento de projetos que fossem economicamente mais viáveis. Entretanto, nos dois primeiros anos do governo Lula, o andamento do programa ficou prejudicado em virtude da falta de infra-estrutura e de pessoal e, também, em virtude da escalada do preço da terra, estimulada pelo alto preço que algumas “commodities” agrícolas alcançaram nesse período.

Tabela 5 - Financiamentos do crédito fundiário entre 2002 e 2006 no Brasil Total Percentual Brasil Estado Prop. Fam. R$ Área Prop. Fam. R$ Área

AL 74 1.084 19.459.693 11.570 0,72 2,81 3,06 1,64 BA 94 3.161 28.647.612 59.802 0,92 8,20 4,50 8,50 CE 110 1.438 14.155.804 45.312 1,08 3,73 2,22 6,44 ES 122 1.159 19.130.917 6.532 1,19 3,01 3,01 0,93

GO 121 121 4.813.607 1.687 1,18 0,31 0,76 0,24 MA 256 7.351 54.250.335 156.933 2,51 19,07 8,52 22,30 MG 28 631 5.090.265 10.278 0,27 1,64 0,80 1,46 MT 517 534 21.346.744 5.779 5,06 1,39 3,35 0,82 PB 106 1.734 17.250.817 39.119 1,04 4,50 2,71 5,56 PE 129 1.746 17.976.581 35.285 1,26 4,53 2,82 5,01 PI 362 7.192 50.910.277 181.056 3,55 18,66 8,00 25,73

PR 667 693 27.340.007 3.898 6,53 1,80 4,30 0,55 RJ 85 92 3.440.596 1.569 0,83 0,24 0,54 0,22

RN 303 2.971 54.477.505 59.547 2,97 7,71 8,56 8,46 RS 4.298 4.599 165.194.423 40.347 42,09 11,93 25,96 5,73 SC 2.867 2.959 111.354.102 30.553 28,08 7,68 17,50 4,34 SE 42 803 11.082.549 7.671 0,41 2,08 1,74 1,09 SP 20 56 2.184.900 323 0,20 0,15 0,34 0,05

TO 10 225 8.325.087 6.480 0,10 0,58 1,31 0,92 BRASIL 10.211 38.549 636.431.821 703.741 100 100 100 100

Fonte: Site do Programa Nacional de Crédito Fundiário (2007), em www.creditofundiario.org.br

Passado algum tempo, pode-se dizer que as condições não melhoraram muito, embora o número de contratos de financiamento tenha avançado. Suspeita-se que muitos projetos são desenvolvidos sem o devido planejamento e assistência técnica inicial e, em virtude do preço da terra e do teto de financiamento, em diversos lugares a área adquirida tem ficado bem abaixo do módulo fiscal. No Paraná, por

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exemplo, os empréstimos tem permitido a aquisição de aproximadamente 5 hectares por família. Para se tentar a alcançar uma certa viabilidade econômica, faz-se necessário investir em atividades intensivas em trabalho (fumo, por exemplo) ou em capital (avicultura, suinocultura). Pode-se afirmar que, de outra forma, a viabilidade dos projetos fica comprometida.

Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, estados da região Sul onde o programa avançou mais, predomina a aquisição de áreas pequenas, dotadas com alguma infra-estrutura e adquiridas por uma única ou um pequeno número de famílias que já possui alguma terra e já estão integradas ao mercado. No Paraná, entretanto, a exemplo do que acontecia à época do Banco da Terra, um grande número de financiamentos foram concedidos à ex-assalariados rurais que poderiam se encontrar entre o público da reforma agrária. Nesse caso, principalmente ao Norte e Noroeste do estado, as áreas adquiridas tendem a ser grande e com pouca infra-estrutura.

Apesar das particularidades do programa na região Sul, a linha Consolidação da Agricultura Familiar (CAF) tem sido praticamente a única utilizada em virtude de dois motivos principais: a necessidade de associativismo nas linhas Combate à Pobreza Rural (CPR) e Nossa Primeira Terra (NPT) para se obter uma certa quantidade de recursos não reembolsáveis destinados à infra-estrutura inicial, ao que muitos não estão dispostos, e ao fato de que esse valor, em sendo concedido, é abatido do teto de financiamento definido para aquele local para a aquisição de terra. Isso significa, por exemplo, ter que limitar ainda mais a quantidade de terra adquirida.

Considerações finais

Embora as políticas públicas para a agricultura tenham ocupado espaço muito importante em diversos países13, não se pode ignorar o efeito dos mercados e do desenvolvimento do capitalismo. A negociação de uma grande parte dos produtos agrícolas em bolsa de valores (as commodities agrícolas) faz com que os preços variem de acordo com a disponibilidade desses produtos no mercado internacional. Além do próprio mercado, o desenvolvimento de tecnologias contribui para elevar a produtividade do trabalho e da terra e, conseqüentemente, provocar uma compressão dos preços (ao produtor e ao consumidor) e da renda agrícola. Provocam, muitas vezes, a especialização dos agricultores e países em torno de alguns produtos e uma “seleção” dos agricultores em determinadas atividades, o que pode levar uma parte desses agricultores a deixar a agricultura. Um exemplo emblemático desse processo foram os anos da “modernização agrícola brasileira” (de meados dos anos 60 ao início dos anos 80).

As medidas anunciadas pelo governo federal no Plano de Safra da Agricultura Familiar 2006/07 apontam para dois sentidos complementares: melhorar as

13 O exemplo mais significativo é que praticamente a metade dos recursos da União Européia é aplicado na Política Agrícola Comum (PAC) dos países que a compõem.

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condições de financiamento e ampliar o acesso ao crédito, e resolver parte dos problemas decorrentes dos baixos preços. Trata-se de mudanças que não alteram significativamente a linha adotada em anos anteriores, mas verifica-se uma ampliação dos níveis de subsídio, via equalização de juros, bônus sobre os empréstimos e subvenção ao Seguro da Agricultura Familiar. Em 2005/06, o MDA estima que será destinado R$ 1 bilhão à equalização, R$ 900 milhões em bônus sobre empréstimos e R$ 500 milhões ao seguro agrícola.

Em seus onze anos de existência, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) conseguiu avançar na democratização do crédito no Brasil mediante o financiamento público. Viabilizou-se, assim, o financiamento da atividade agrícola a agricultores familiares de baixa renda que ou não possuíam crédito ou dependiam dos instrumentos privados (cerealistas, pequenos e médios comerciantes), para quem pagavam altas taxas de juros.

Apesar dos avanços conquistados pelo programa, avalia-se que se faz necessário repensá-lo, já que a maior disponibilidade de crédito obtida através do Pronaf e as exigências legais para financiamento (por cultivos) têm trazido alguns resultados indesejados. Dentre eles, pode-se destacar: a reprodução do modelo agrícola baseado em commodities de baixo valor agregado, a pressão sobre os recursos naturais (desmatamento, aumento da utilização de insumos) e a especialização dos estabelecimentos agrícolas em torno de algumas culturas em que o mercado já está constituído. Acredita-se que a produção para autoconsumo dos agricultores tem se reduzido em decorrência da especialização e em prol das culturas comerciais. A produção quase exclusiva de soja transgênica no Rio Grande do Sul e a utilização recorrente, nos últimos anos, do seguro agrícola (Proagro, Pronaf Mais e Bolsa Estiagem) reforçam a urgência de se repensar esse importante programa para a agricultura familiar brasileira.

Os desafios a que o Pronaf está submetido dizem respeito à relação do programa com o mercado. Isso não significa que uma política pública ou a política agrícola sejam capazes de reverter a lógica do mercado em uma economia liberal, já que, em última instância, é no mercado que se define a alocação dos bens produtivos (capital e trabalho). Entretanto, as políticas públicas podem, ao menos, não reforçar uma determinada lógica (monocultivos, por exemplo) ou até reduzir os efeitos desta, mediante a criação de incentivos à diversificação das atividades agrícolas, à proteção ambiental e à segurança alimentar. Estes seriam os três grandes desafios colocados ao Pronaf atualmente. Trata-se de criar mecanismos e incentivos que também não desestimulem a produção e a atividade econômica.

As considerações que por ora se apresentam pretendem afirmar que a política agrícola deverá agir no sentido de criar alternativas econômicas mais rentáveis, menos agressivas ao meio ambiente e à saúde e que garantam maior oferta de alimentos aos próprios agricultores e ao consumo interno. Diversos esforços do programa já apontam para esse sentido, destacando-se o Pronaf B, o estímulo à diversificação da fumicultura, o programa de biodiesel e o próprio Programa de

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Aquisição de Alimentos, em que o MDA jogou muitos esforços. Entretanto, faz-se necessário reavaliar e fortalecer esses instrumentos, uma vez que a demanda do grande mercado exportador tem dado, em grande medida, a tônica aos financiamentos do Pronaf.

Em síntese, pode-se afirmar que, sob o ângulo das políticas agrícolas para a agricultura familiar, o grande desafio desse programa configura-se na necessidade de se criar instrumentos para promover a diversificação das atividades agrícolas, a segurança alimentar e a preservação ambiental, bem como na definição de mecanismos desburocratizados que viabilizem efetivamente essas medidas.

No que se refere à questão agrária brasileira, pode-se afirmar que depois de um período de estagnação do processo de aquisição de terras por grupos estrangeiros, a tendência é que isso volte a ocorrer sob a expectativa gerada em torno dos agrocombustíveis e dos serviços ambientais estimulados pelo Protocolo de Kioto e também pelo próprio governo brasileiro. O plano de concessão de áreas na Amazônia brasileira, que pode chegar até 100 mil hectares por concessão, concedidas por prazos de até 30 anos, vai nesse mesmo sentido. Em virtude disso, sob a promessa de uma nova modernização do agro brasileiro, a questão agrária tende a ficar ofuscada nos próximos anos. Somente uma política muito agressiva dos movimentos sociais poderá reverter parte desse quadro.

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