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Boletim do Embaixador Edição 75. Dezembro 2013 Imagem: Stock e Maurício Araújo www.fazenda.org.br U M NOVO DIA , UM NOVO NATAL ! Para quem saiu da rua, onde nem tinha o que comer e só vivia para as drogas e o álcool, cada dia é um novo nasci- mento, é uma nova vida, é um novo natal e a prática do evangelho possibilita isso se realizar.

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Boletim do EmbaixadorEdição 75. Dezembro 2013

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Um novo dia, Um novo natal!

Para quem saiu da rua, onde nem tinha o que comer e só vivia para as drogas e o álcool, cada dia é um novo nasci-mento, é uma nova vida, é um novo natal e a prática do

evangelho possibilita isso se realizar.

Page 2: Boletim do Embaixadorfazenda.org.br/arquivos/boletins/75.pdf · que fugir para a casa do meu pai. Minha mãe me buscou na boca de fumo várias vezes. Outras vezes, ajoelhava na minha

Imagina você deixar o seu dia a dia, sem regras e ho-rários e do dia para a noite lhe seja imposta uma ro-tina. Acordar cedo, rezar o terço, tomar café, seguir

para o trabalho e fazer uns calos nas mãos. Em todas as refeições, esperar na fila com aquela fome de quem carpiu um grande quintal. Na casa onde foi acolhido dividir seu quarto, banheiro... Na verdade tudo, com pessoas muitas vezes de mau humor. E para encerrar o dia, isso mesmo, tem hora para se deitar, quase como um toque de recolher. Assim pensam alguns que acos-tumavam vagar pelas ruas até altas horas.

“Na minha casa, a Dom Bosco, tem uns oito que acordam de mau humor, e antigamente eu também era um desses: Que chato ter que acordar cedo e aguentar as mesmas pessoas de meses de convivência, e sentar para rezar o terço. Mas eu aprendi com um irmão a acordar bem e não ficar mal humorado, porque se sou à imagem e semelhança de Deus, não posso acordar de cara feia, mas viver para a eternidade.” Hoje, Jefferson Campos dos Santos, 17 anos, de São Paulo-SP, pensa dessa forma, mas antes de sentir essa força interior falou para muitos: “Bom dia, porquê?’

Já o Alexandre Brandão, 26 anos, Vitória-ES, de origem evangélica, buscou muita força interior para entrar no ritmo da comunidade. “Eu não conhecia o terço. Na minha primeira cesta ganhei um livro de ora-ções com essa reza. Apesar de não ser católico, faço unidade todos os dias de manhã na oração, porque somos cristãos.”

Todos perseveram em busca de vida nova. “O terço é complicado, dá sono, começo a bocejar, dá vontade de sair, mas preciso ser persistente”, afirma Juliany Camar-go, 34 anos, Capivari-SP.

O dia começa tenso. Alguns ainda rezam de olhos fechados, outros encostados, mas a moleza acaba logo, porque é preciso se sustentar, e os trabalhos os aguar-dam para serem realizados.

“Quando cheguei, fui morar na casa Santo Agosti-nho que cuida da produção da água sanitária. A casa com serviço mais puxado. Começa às 8h, sai às 11h15, depois retorna às 13h e encerra às 16h15. Trabalhei na linha de produção que enche, encaixota e arma-zena cerca de três mil garrafas deste produto por dia.

2 - Boletim do Embaixador - Edição 75 - dezembro 2013

Nos momentos difíceis, a Palavra de Deus é a ferramenta incentivadora da mudança de atitude e o início de uma nova vida.

As várias atividades e a rotina da comunidade, na maioria dos casos, tocam nas grandes dificuldades de cada um.

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Com 11 anos meus pais se separam e eu fui morar com meu pai, mas aos 14 anos comecei a usar drogas

e ele me mandou embora de sua casa. Busquei refúgio na casa de minha mãe

que morava com minhas duas irmãs

mais velhas.Foi um vai e vem!

Aprontava na rua da minha mãe e tinha que fugir para a casa do meu pai. Minha mãe me

buscou na boca de fumo várias vezes. Outras vezes, ajoelhava na minha frente para me impedir de sair, mas eu a atropelava e seguia meu caminho. Minha irmã entrou em desespero ao me ver na rua como um mendigo. Meu pai não aguentava mais essa

situação! Chamou a polícia e fui preso na Fundação Casa. Para mim foi um ótimo caminho. Lá encon-trei apoio e acompanhamento, e comecei a resga-tar meus valores. Sou muito agradecido aos seus

funcionários. Eles me ofereceram a oportunidade de me internar na Fazenda da Esperança para aprofun-

dar o meu recomeço.Toda vez que sinto vontade de ir embora lembro

de minha mãe, seu sofrimento e seu imenso amor por mim. Ela nunca me abandonou. No início vinha com o pensamento de fugir, mas ainda na triagem meu coordenador me disse que estava disposto a

dar sua vida por mim. À noite, na festa de celebra-ção de boas vindas, senti a alegria dos jovens que nos recepcionavam e nasceu em mim o desejo de também experimentar essa proposta de vida nova.Ser como Jesus, e ser fiel nas pequenas coisas, são

Palavras que me marcaram. No tempo de triagem cometia roubos, mas isso não me satisfazia. Quando fui fiel, e não peguei nem uma bala do outro, come-cei a experimentar a providência de Deus com um e outro me dando o que precisava. E uma alegria me

preencheu verdadeiramente.

A Palavra que me ajudou a enfrentar esse desafio foi: Quem perseverar até o fim será salvo”, conta Arthur Moreno Rodrigues, 17 anos, Caraguatatuba-SP.

“Eu trabalhava com restauração e finos acabamen-tos em prédios, e isso nunca causou calos em minhas mãos. Aqui na Fazenda trabalhei durante cinco meses no cultivo da horta e na plantação de babosa. Quando cheguei, o coordenador perguntou quem tinha intimi-dade com a enxada. Logo me prontifiquei, mas estava acostumado a usá-la por alguns minutos e no terceiro dia de trabalho intenso na comunidade, minha mão es-tava um calo só. Enrolei faixas, o que não ajudava mui-to, apenas amenizava a dor. Com o tempo me acostu-mei, e foi bom para me lembrar da infância, antes do uso das drogas, quando ajudava minha avó a cultivar o seu quintal. Esse foi um bom tempo”, lembra-se Djal-ma Damasceno Cesário, 44 anos, Sertãozinho-SP.

Apesar de todas as atividades diárias, à noite, existem alguns que não conseguem dormir. “No início, a obri-gação de dormir me deixava contrariado e me impedia de pegar no sono. Agora já se passaram seis meses, e por mais que deveria estar acostumado a essa realida-de, ainda não consigo deitar às 22hs e pegar no sono. Minha mente não desliga”, afirma Adonias Jerônimo de Sousa, 36 anos, Guarulhos-SP.

Na casa Dom Bosco moram 26 jovens. Acima você conheceu alguns em suas pequenas experiências. O mais velho tem mais de 50 anos, e o mais novo 17. O trabalho dessa casa, espalhado em toda a comunidade conhecida como Centro Masculino está na padaria, co-zinha, artesanato, fábrica, manutenção, harmonia e os cuidados com os animais.

O jovem ainda mantém acesa uma fagulha de espe-rança em seu ser quando é acolhido em uma das Fa-zendas da Esperança. Ao olhar como “homem velho”,

Boletim do Embaixador - Edição 75 - dezembro 2013 - 3

Aconteceu comigo

Jefferson Campos dos Santos,

17 anos, São Paulo/SP

vê nas regras e nas atividades da comunidade um empecilho que abafa essa centelha. Mas quando co-meça a amar essas ditas ‘dificuldades’, a esperança é alimentada e começa a crescer dentro dele até o ponto de possibilitar seu renascimento. A rotina da comunidade prepara seu coração para acolher Jesus, que todos os dias quer nascer em suas vidas, princi-palmente, nesta época natalina.

A proposta da Fazenda da Esperança no convívio diário aumenta a sensibilidade para necessidade do outro.

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OBRA SOCIAL NOSSA SENHORA DA GLÓRIA - FAZENDA DA ESPERANÇADepartamento Retorno à Vida - Caixa Postal 529 - CEP 12511-970 Guaratinguetá-SP Tel.: (12) 3128 8900 E-mail: [email protected]

A casa inicial

O jovem ao chegar da rua, é acolhido em uma casa chamada triagem. Esse nome se dá aos três primeiros meses, quando o interno não tem o con-tato direto com a família. Essa comunicação é fei-ta apenas por carta, e também é o período mais intenso e atribulado do processo de recuperação. Essa estrutura é fundamental para o início da ca-minhada, e exige atenção especial dos responsáveis e coordenadores.

No dia 18 de outubro de 2013, na Fazenda da Esperança Nossa Senhora da Abadia em Campo Grande-MS, foi inaugurada a casa de triagem cons-truída com verbas da Central de Execução de Penas Alternativas desta cidade.

Com R$ 411 mil reais, dinheiro arrecadado de fianças e penas pecuniárias, o Tribunal da Justiça construiu essa casa para levar a Esperança a mais mulheres que ainda estão no mundo das drogas.

A ideia de transformar esse dinheiro em projetos sociais pertence ao Judiciário do Mato Grosso do Sul, por intermédio de doutor Albino Coimbra Neto, que pretende propor essa prática em nível nacional. Assim, cada entidade social, poderá contar com es-ses recursos para melhoria da vida na sociedade.

A-notável

“Faça esse boletim circular! Dê a um amigo ou vizinho, ele pode atingir mais irmãos

em prol da nossa missão.”

www.fazenda.org.br

A casa de triagem possibilitará o tratamento de mais 14 recuperandas. Conta com nove cômodos entre salas, cozinha, capela, jardim de inverno e quartos. “Recebemos também a doação completa dos móveis e equipamento eletrônico para casa, que foram oferecidos pelo Pró-vida Central do Di-zimo de São Paulo”, conta a voluntária interna Ta-tiana Ivanova.

No dia da inauguração, a comunidade Nossa Se-nhora da Abadia acolheu vários visitantes, entre eles: Juízes, desembargadores, jornalistas, sacerdotes, vo-luntários e ex-recuperandos. Os jovens da comuni-dade masculina assumiram a parte musical e a ani-mação do evento. O doutor Albino e o presidente do tribunal da justiça do Mato Grosso do Sul, Joenildo de Sousa Chaves, abriram esse momento, falando da importância do trabalho realizado pela Fazenda da Esperança com os dependentes químicos.

Após a fala dos representantes oficiais, o arcebis-po de Campo Grande, Dom Dimas, fez um momento de oração e bênção da casa, aspergindo água benta em todos os ambientes. Assim a casa foi entregue às mãos de Deus, pronta para oferecer novas vagas à sociedade.