boletim bibliográfico - (abril) - eça de queiroz

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Boletim Bibliográfico 6 - O Escritor do mês - abril de 2015 - Eça de Queiroz José Maria de Eça de Queiroz nasceu na Póvoa do Varzim em 1845. Estudou entre o colégio da Lapa, na cidade do Porto, e a Universidade de Coimbra, onde entrou no primeiro ano, em 1861. Aqui, ligou-se a uma geração académica, admiradora das ideias de Proudhon e de Com- te. Travou conhecimento com Antero de Quental e iniciou a sua carreira literária, com a pu- blicação de folhens que mais tarde seriam agrupados nas Prosas Bárbaras (1905). Em 1866, formou-se em Direito e passou a viver em Lisboa, onde exerceu a profissão de advogado. Ci- mentou a sua ligação a Antero de Quental e ao grupo do Cenáculo (1868), após ter dirigido o Distrito de Évora (1867). Em 1869, viajou até ao Egito, para fazer a reportagem sobre a inau- guração do Canal do Suez, de que resultará O Egipto, publicado apenas em 1926. Em 1871, parcipou nas Conferências do Casino Lisbonense. Entre 1869 e 1870, publicou diferentes obras, tais como Os Versos de Fradique Mendes, O Mistério da Estrada de Sintra, em parceria com Ramalho Orgão e iniciou a publicação das Farpas. Em 1871, foi nomeado 1.º Cônsul nas Anlhas espanholas, transitando depois para Cuba, onde permaneceu dois anos. Entre 1883 e 1887, refez algumas das suas obras e publicou o Conde D’Abranhos e Alves & Companhia. Em 1874, passou a desempenhar a sua avidade em Inglaterra, foi em Newcastle que termi- nou O Crime do Padre Amaro (1875), ali ficando até 1878. Após esta data, foi para Paris, onde se dedicou à criação literária e onde faleceu em 1900. Em 1888, publicou a sua grande obra Os Maias e foi nomeado Cônsul em Paris. Connuou a escrever diferentes textos e obras, como A Ilustre Casa de Ramires ou a publicação na Revista Moderna, em Paris. Podemos ainda destacar da sua produção romanesca, entre outros, O Mistério da Estrada de Sintra (em colaboração com Ramalho Orgão, (1871), O Primo Basílio (1878), O Mandarim (1879), A Relíquia (1887), A Ilustre Casa de Ramires (1900), A Correspondência de Fradique Mendes (1900), A Cidade e as Serras (1901), A Capital (1925), O Conde d'Abranhos 1925), Alves e Cia. (1925) e Contos (1902). Eça de Queiroz, tendo vivido na parte final do sé- culo XIX, soube, através da sua capacidade de analisar o quodiano e a sociedade, traçar com humor algumas das caracteríscas do nosso país. Fez o diagnósco de uma classe políca naufragada, onde os interesses parculares parecem não ser ca- pazes de organizar instucionalmente o país. Vindo do século XIX, é um modernista na escrita e no pensamento que nos deixou. Eça é um dos maiores escritores de lín- gua portuguesa, sendo em muitos aspetos uma figura que cria um mundo novo que alcança formas novas de exprimir um modernismo na escrita. É um dos escritores mais populares de língua portuguesa. A sua obra evoluiu de uma formulação inicial mais fantásca e influenciada por nomes como Baudelaire ou Heine, presente nos argos e crónicas, para numa fase posterior se dedicar à críca das instuições mais tradicionais, preocupando-se com a reforma social, dando-nos belos quadros de “crónicas de costumes.” Na úlma fase, encontramos uma escrita com mais esperan- ça, com o culto da Natureza e de um certo regresso à simplicidade do homem, como se percebe em A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras ou a Correspondência de Fradique Mendes. “Ega esfregava as mãos. Sim, mas precioso! Porque essa simples forma de botas explicava todo o Portugal contemporâneo. Via-se por ali como a coisa era. Tendo abandonado o seu feio ango, à D. João VI, que tão bem lhe ficava, este desgraçado Portugal deci- dira arranjar-se à moderna: mas, sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feio seu, um feio próprio, manda vir modelos do estrangeiro – modelos de ideias, de calças, de costu- mes, de leis, de arte, de cozinha… Somente, como lhe falta o sen- mento da proporção, e ao mesmo tempo o domina a impaciên- cia de parecer muito moderno e muito civilizado – exagera o mo- delo, deforma-o, estraga-o até à caricatura.” - Os Maias (1888).

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Boletim Bibliográfico sobre um dos autores do mês - Eça de Queiroz, destacado em abril na Biblioteca (ESRDA)

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Boletim Bibliográfico 6 - O Escritor do mês - abril de 2015 - Eça de Queiroz

José Maria de Eça de Queiroz nasceu na Póvoa do Varzim em 1845. Estudou entre o colégio

da Lapa, na cidade do Porto, e a Universidade de Coimbra, onde entrou no primeiro ano, em

1861. Aqui, ligou-se a uma geração académica, admiradora das ideias de Proudhon e de Com-

te. Travou conhecimento com Antero de Quental e iniciou a sua carreira literária, com a pu-

blicação de folhetins que mais tarde seriam agrupados nas Prosas Bárbaras (1905). Em 1866,

formou-se em Direito e passou a viver em Lisboa, onde exerceu a profissão de advogado. Ci-

mentou a sua ligação a Antero de Quental e ao grupo do Cenáculo (1868), após ter dirigido o

Distrito de Évora (1867). Em 1869, viajou até ao Egito, para fazer a reportagem sobre a inau-

guração do Canal do Suez, de que resultará O Egipto, publicado apenas em 1926. Em 1871,

participou nas Conferências do Casino Lisbonense. Entre 1869 e 1870, publicou diferentes

obras, tais como Os Versos de Fradique Mendes, O Mistério da Estrada de Sintra, em parceria

com Ramalho Ortigão e iniciou a publicação das Farpas. Em 1871, foi nomeado 1.º Cônsul nas

Antilhas espanholas, transitando depois para Cuba, onde permaneceu dois anos. Entre 1883

e 1887, refez algumas das suas obras e publicou o Conde D’Abranhos e Alves & Companhia.

Em 1874, passou a desempenhar a sua atividade em Inglaterra, foi em Newcastle que termi-

nou O Crime do Padre Amaro (1875), ali ficando até 1878. Após esta data, foi para Paris, onde

se dedicou à criação literária e onde faleceu em 1900. Em 1888, publicou a sua grande obra

Os Maias e foi nomeado Cônsul em Paris. Continuou a escrever diferentes textos e obras,

como A Ilustre Casa de Ramires ou a publicação na Revista Moderna, em Paris.

Podemos ainda destacar da sua produção romanesca, entre outros, O Mistério da Estrada de

Sintra (em colaboração com Ramalho Ortigão, (1871), O Primo Basílio (1878), O Mandarim

(1879), A Relíquia (1887), A Ilustre Casa de Ramires (1900), A Correspondência de Fradique

Mendes (1900), A Cidade e as Serras (1901), A Capital (1925), O Conde d'Abranhos 1925),

Alves e Cia. (1925) e Contos (1902). Eça de Queiroz, tendo vivido na parte final do sé-

culo XIX, soube, através da sua capacidade de analisar o quotidiano e a sociedade,

traçar com humor algumas das características do nosso país. Fez o diagnóstico de

uma classe política naufragada, onde os interesses particulares parecem não ser ca-

pazes de organizar institucionalmente o país. Vindo do século XIX, é um modernista

na escrita e no pensamento que nos deixou. Eça é um dos maiores escritores de lín-

gua portuguesa, sendo em muitos aspetos uma figura que cria um mundo novo que

alcança formas novas de exprimir um modernismo na escrita. É um dos escritores

mais populares de língua portuguesa. A sua obra evoluiu de uma formulação inicial

mais fantástica e influenciada por nomes como Baudelaire ou Heine, presente nos

artigos e crónicas, para numa fase posterior se dedicar à crítica das instituições mais

tradicionais, preocupando-se com a reforma social, dando-nos belos quadros de

“crónicas de costumes.” Na última fase, encontramos uma escrita com mais esperan-

ça, com o culto da Natureza e de um certo regresso à simplicidade do homem, como

se percebe em A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras ou a Correspondência

de Fradique Mendes.

“Ega esfregava as mãos. Sim, mas precioso! Porque essa simples forma de botas explicava todo o Portugal contemporâneo. Via-se por ali como a coisa era. Tendo abandonado o seu feitio antigo, à D. João VI, que tão bem lhe ficava, este desgraçado Portugal deci-dira arranjar-se à moderna: mas, sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do estrangeiro – modelos de ideias, de calças, de costu-mes, de leis, de arte, de cozinha… Somente, como lhe falta o sen-timento da proporção, e ao mesmo tempo o domina a impaciên-cia de parecer muito moderno e muito civilizado – exagera o mo-delo, deforma-o, estraga-o até à caricatura.” - Os Maias (1888).

Ficha Técnica Redação: Equipa da Biblioteca Biblioteca: Escola Secundária Rainha Dona Amélia Periodicidade: Mensal (abril) Distribuição/Publicitação:

(Afixação na Biblioteca / Plataformas digitais)

Boletim Bibliográfico 6 - O Escritor do mês - abril de 2015 - Eça de Queiroz

“O Lawrence onde é? Na serra?

- perguntou ele com a ideia re-

pentina de ficar ali um mês na-

quele paraíso”.

“Num claro espaço rasga-do, onde Carlos deixara o Passeio Público pacato e frondoso - um obelisco, com borrões de bronze no pedestal, erguia um traço cor de açúcar na vibração fina da luz de inverno: e os largos globos dos can-deeiros que o cercavam, batidos do sol, brilhavam, transparentes e rutilantes, como grandes bolas de sabão suspensas no ar.”

“Pararam à porta do teatro da Trinda-de no momento em que, de uma tipóia de praça, se apeava um sujeito de bar-bas de apóstolo, todo de luto, com um chapéu de abas largas recur-vas à mo-da de 1830”.

Obelisco dos restauradores

A aclamação de El-Rei o sr. D. Carlos I na Avenida da Liberdade

Lisboa, Rua das Janelas Verdes-princípios do século XX

“A casa que os Maias vie-ram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era co-nhecida na vizinhança da rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela casa do Ramalhete.”

Vista do Palácio da Pena-sob o arco dos Seteais: princípios do século XX

Hotel Lawrence: fins do século XIX

“No vão do arco, como dentro de uma pesada moldura de pedra, brilhava, à luz rica da tarde, um quadro maravilho-so, de uma composição quase fantásti-ca, como a ilustração de uma bela len-da de cavalaria e de amor. Era no pri-meiro plano o terreiro, deserto e verde-jando, todo salpicado de botões amare-los; ao fundo, o renque cerrado de anti-gas árvores, com hera nos troncos, fazendo ao longo da grade uma mura-lha de folhagem reluzente; e emergin-do abruptamente dessa copada linha de bosque assoalhado, subia no pleno resplendor do dia, destacando vigoro-samente num relevo nítido sobre o fun-do de céu azul claro, o cume airoso da serra, toda cor de violeta escura, coro-ada pelo castelo da Pena, romântico e solitário no alto, com o seu parque sombrio aos pés, a torre esbelta perdi-da no ar, e as cúpulas brilhando ao sol como se fossem feitas de ouro…”

Lisboa, Teatro da Trindade-3º Quartel do

Lisboa, Estátua de Luís de Camões: 1868

"Estavam no Loreto; e Carlos parara, olhando reentrando na intimidade daquele velho coração da capital. Nada mudara. A mesma sentinela sonolenta rondava em torno à estátua triste de Camões”.

Cintra: Praça da Rainha D. Amélia

“O Dâmaso, no pátio do Victor, de perna tra-çada, dizia familiar-mente «a Raquel»; era um dever de moralida-de pública dar bengala-das no Dâmaso!..”

“Diante deles, o hipódromo elevava-se suavemente em colina, parecendo, depois da poei-rada quente da calçada e das cruas reverberações da cal, mais fresco, mais vasto com a sua relva já um pouco crestada pelo sol de junho, e uma ou outra papoula vermelhejando aqui e além. [...] Para além, dos dois lados da tribuna real forrada de um baetão vermelho de mesa de Repar-tição, erguiam-se as duas tribunas públicas, com o fei-tio de traves mal pregadas, como palanques de arraial

duas tribunas públicas, com o feitio de traves mal pregadas, como palanques de arraial.”

- Corridas no hipódromo de Belém - último quartel do séc. XIX

Fontes Bibliográ-ficas:

Fundo iconográ-fico da Biblioteca

Nacional