bocc jeronimo jornalismo

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Jornalismo o(ff)nline Pedro Jerónimo Escola Superior de Educação e Ciências Sociais Instituto Politécnico de Leiria Índice 1. Introdução 1 2. Pagar ou não pagar? 2 3. Artesãos das notícias 3 4. Portugal online 4 5. Conclusão 5 6. Bibliografia 5 Resumo O jornalismo vive num período histórico importante, em que a sobrevivência dos jor- nais é questionada, tal como os processos que envolvem a actividade. Nunca antes se falou tanto de audiência que, com as meta- morfoses que ocorrem na Internet, passou do modo passivo para o activo. Os conteúdos, produzidos tanto por jornalistas como por “cidadãos repórter”, são cada vez mais mul- timédia. Que diferenças? Em que platafor- mas? Qual o modelo de comercialização? 1. Introdução Mediamorfose ou mediacídio?” 1 A questão coloca-se num período da história em que o jornalismo vive um novo desafio e que surge na sequência do aparecimento da imprensa, da rádio e da televisão. As úl- timas décadas ficaram marcadas por um in- tenso avanço tecnológico, com consequentes mudanças em todas as esferas da sociedade. Na comunicação, muita coisa mudou, prin- cipalmente com o desenvolvimento da In- ternet e das mutações comunicacionais que ocorreram a partir dela. É aí que foram surgindo, e se têm desenvolvido, novas for- mas de jornalismo. O webjornalismo, ou ciberjornalismo, traz novidades na produção, divulgação e consumo de notícias. Os web- sites, os blogues, as redes sociais, são exem- plos dessas novas maneiras de lidar com a informação no ciberespaço. Com um grande potencial interactivo, apresentam-se como a possibilidade de um jornalismo colectivo, colaborativo, ou seja, construído por muitas mãos, numa comunicação que deixa de ser vertical, para passar a ser horizontal. O público deixa de ser encarado como uma 1 ALVES, R. Seminário de Jornalismo Online. UT Austin – Portugal Summer Institute. Maio de 2009. Lisboa.

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jornalismo

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  • Jornalismo o(ff)nline

    Pedro JernimoEscola Superior de Educao e Cincias Sociais

    Instituto Politcnico de Leiria

    ndice1. Introduo 12. Pagar ou no pagar? 23. Artesos das notcias 34. Portugal online 45. Concluso 56. Bibliografia 5

    ResumoO jornalismo vive num perodo histrico

    importante, em que a sobrevivncia dos jor-nais questionada, tal como os processosque envolvem a actividade. Nunca antes sefalou tanto de audincia que, com as meta-morfoses que ocorrem na Internet, passou domodo passivo para o activo. Os contedos,produzidos tanto por jornalistas como porcidados reprter, so cada vez mais mul-timdia. Que diferenas? Em que platafor-mas? Qual o modelo de comercializao?

    1. IntroduoMediamorfose ou mediacdio?1 A

    questo coloca-se num perodo da histriaem que o jornalismo vive um novo desafioe que surge na sequncia do aparecimentoda imprensa, da rdio e da televiso. As l-timas dcadas ficaram marcadas por um in-tenso avano tecnolgico, com consequentesmudanas em todas as esferas da sociedade.Na comunicao, muita coisa mudou, prin-cipalmente com o desenvolvimento da In-ternet e das mutaes comunicacionais queocorreram a partir dela. a que foramsurgindo, e se tm desenvolvido, novas for-mas de jornalismo. O webjornalismo, ouciberjornalismo, traz novidades na produo,divulgao e consumo de notcias. Os web-sites, os blogues, as redes sociais, so exem-plos dessas novas maneiras de lidar com ainformao no ciberespao. Com um grandepotencial interactivo, apresentam-se como apossibilidade de um jornalismo colectivo,colaborativo, ou seja, construdo por muitasmos, numa comunicao que deixa de servertical, para passar a ser horizontal. Opblico deixa de ser encarado como uma

    1 ALVES, R. Seminrio de Jornalismo Online.UT Austin Portugal Summer Institute. Maio de2009. Lisboa.

  • 2 Pedro Jernimo

    massa disforme, passiva, e passa a ser consti-tuda por pessoas activas, prontas para darema sua opinio, contriburem com os seus con-hecimentos e/ou contactos. Mas se, por umlado, esta nova realidade poder significar,para os jornalistas, um contributo preciosono processo de construo de notcias (aindaque muitos estejam relutantes quanto mu-dana), por outro, o negcio dos media estdividido2: pagar ou no por contedos on-line?

    2. Pagar ou no pagar?A questo que se tem levantado nos l-

    timos tempos, sobre cobrar ou no peloscontedos online, faz lembrar a discussooutrora levantada pela indstria discogrfica.Alguns avanos e recuos depois, ela perce-beu que no poderia fazer frente aos con-tedos que eram distribudos gratuitamente(geralmente, de forma ilegal). Forosa-mente, as margens de lucro seriam menores.Da parte dos msicos, igualmente chegaram concluso que a sua maior fonte de rendi-mento seria mais os concertos, a msica to-cada ao vivo, e menos a venda de CDsou DVDs. Por outro lado, h quem tenhaencontrado um modelo de negcio, a par-tir da sua credibilidade, enquanto marca,e comercialize com preos mais reduzido(p.e., iTunes, da Apple). Porm, cedo sepercebeu que anos de habituao, dos uti-lizadores em terem contedos gratuitos, se-riam difceis de mudar. A reaco dos me-dia ao paradigma emergente, acabou por se

    2 Can newspapers charge for theonline versions of their work? inhttp://www.latimes.com/news/opinion/opinionla/la-oew-mutter-jarvis19-2009mar19,0,5194805.story?page=1

    revelar, inicialmente, precipitada e desajus-tada face nova realidade. A ausnciade uma noo clara de quais eram as no-vas regras do jogo, conduziram o fenmenojornalstico a uma experimentao superfi-cial do novo meio, desaproveitando todasas potencialidades latentes. A mera trans-posio de contedos jornalsticos para arede shovelware como se fosse um su-porte de papel, foi a prova evidente que fal-tou conscincia e conhecimento para domi-nar o desafio electrnico. Este ainda umproblema que persiste, (...)the ink isnt dryyet como faz questo de notar Jeff Boul-ter, mas h, no entanto, sinais claros que jor-nalistas e redaces tm consolidado a con-struo das notcia aos pressupostos multi-mdia. o caso, em Portugal, da experinciaacadmica (Universidade do Porto) daqueleque viria a tornar-se o JornalismoPortoNet,em 2003, e do dirio Pblico, no incio de2005. Por outro lado, importa no esque-cer que, tanto na msica, como noutros sec-tores, os cidados esto dispostos a pagarpor produtos que estejam associados a mar-cas de referncia, com qualidade. Por con-seguinte, talvez no seja de todo descabidovermos, num futuro prximo, rgos de co-municao social a cobrarem pelos seus con-tedos online. O modelo ter que passarno por todos, mas por alguns (contedosPremium?). Poder ser esta uma forma desalvar o jornalismo, acrescentando-lhe valor,credibilizando-o, sobretudo num perodo dahistria em que vo crescendo na world wideweb, os bloggers, os participantes nas re-des sociais, os opinion makers, que vo con-fundindo o que jornalismo, como defendeZamith (2003):

    www.bocc.ubi.pt

  • Jornalismo o(ff)nline 3

    Estamos conscientes da fragilizaoda fronteira entre jornalismo e no-jornalismo que a Internet (e particular-mente a blogosfera) potencia, mas tam-bm sabemos que a seu tempo o trigo seseparar do joio. A blogosfera livre, para todos, e cada um acabar por as-sumir o seu lugar. No tememos a ale-gada perda de influncia dos jornalis-tas nem as profecias de desnecessidadedesta profisso. A sociedade vai con-tinuar a precisar de tcnicos qualificadospara a pesquisa, seleco, confirmao,redaco e difuso de notcias. Quemtem razes para temer esta concorrn-cia da blogosfera no so os jornalistas,mas sim os comentadores e colunistas.O xito de alguns blogs est j a alargaro leque de opinion makers, no sendode estranhar a recente invaso da blo-gosfera por colunistas dos media tradi-cionais.

    , portanto, no jornalista, no artesodas notcias, que se centrar o futuro dojornalismo. Na sua capacidade de inter-aco com a rede, com a audincia, e de ir(re)construindo, diariamente, o jornalismo,como j fez no passado, aquando do aparec-imento da rdio e da televiso.

    3. Artesos das notciasA Sociedade da Rede emerge, porque

    pela primeira vez na histria da comunicaosocial o dispositivo receptor tambm emis-sor.3 nesta imensido de pessoas e saberes

    3 ALVES, R. Seminrio de Jornalismo Online.UT Austin Portugal Summer Institute. Maio de2009. Lisboa.

    que se encontra o jornalista, que at h al-guns anos monopolizava a arte de informar.Ou segundo Canavilhas (2001): A mximans escrevemos, vocs lem pertence aopassado. O jornalismo, tal como o con-hecemos, atravessa, assim, mais um abalohistrico. O problema reside no jornalista,por um lado, porque no reconhece com-petncias da actividade ao cidado comum,e neste, por outro, porque ao perceber a fa-cilidade com que consegue difundir a infor-mao que detm, julga que est a fazer jor-nalismo. A soluo estar naquilo a que sepoder chamar de semntica jornalstica,isto , jornalistas e cidados perceberemquais os interesses uns dos outros e trabal-harem em conjunto. Com a web, nomeada-mente atravs das redes sociais, houve umaaproximao entre ambos. A facilidade como que um cidado annimo, uma fonte, chegaat a um jornalista, e vice-versa, aumentousignificativamente. O Twitter, por exem-plo, um bom laboratrio para uma novaprtica jornalstica, como foi possvel ob-servar aquando da amaragem de um aviono rio Hudson4. Quando uma informao avanada, da a ser breaking news vai umadistncia, que compete ao jornalista definir,enquanto mediador da verdade. Compete-lhe verificar a veracidade da informao.Deve ser ele a filtra-la, sobe pena de se entrarnuma anarquia informativa. Se instrumen-tos como o telefone, o telemvel, o computa-dor, as mquinas digitais, surgiram como in-strumentos de trabalho do jornalista, tam-bm a Internet, a web e as redes sociais.Porm, apesar de toda a evoluo, h valores

    4Airplane crash-lands into Hud-son River; all aboard reported safeinhttp://edition.cnn.com/2009/US/01/15/new.york.plane.crash/index.html#cnnSTCOther1

    www.bocc.ubi.pt

  • 4 Pedro Jernimo

    basilares que importa (re)lembrar, como osnove Elementos do Jornalismo (Kovach eRosenstiel):

    1. Obrigao a verdade;

    2. Lealdade com os cidados;

    3. Disciplina de verificao;

    4. Os seus praticantes devem manter inde-pendncia;

    5. Precisa servir como monitor indepen-dente do poder;

    6. Deve abrir espao para a crtica e ocompromisso poltico;

    7. Deve esforar-se por apresentar o que significativo, de forma interessante erelevante;

    8. Deve manter a notcia completa e pro-porcional;

    9. Os jornalistas devem ter permissopara desenvolverem a sua actividade deforma independente.

    Estes princpios so cada vez mais per-tinentes, pois diferenciam quem faz jornal-ismo de quem no faz. Isto porque pas-samos de um sistema media-cntrico paraum ecossistema de media eu-cntrico: oindivduo tem mais controle e poder sobrea informao que consome e, alm disso,pode produzi-la e distribui-la, criando a suaprpria media. H uma proliferao deuma espcie de eu-media. No se trata,de forma alguma, de dizer que essa novaforma de jornalismo que emerge v substi-tuir o jornalismo convencional. No entanto,no se pode simplesmente fechar os olhos

    a essa realidade. Os blogues, as redes so-ciais, esto a, informando, promovendo aconstruo e o debate de ideias e de infor-maes. Em parceria com a media conven-cional, eles surgem como uma forma de co-municao complementar, que aproxima jor-nalista e leitores, veculo e pblico.

    4. Portugal onlineApesar de seguir a corrente exterior,

    nomeadamente, do que se vai fazendo nosEstados Unidos da Amrica, o jornalismoonline em Portugal tem encontrado no meioacadmico um laboratrio privilegiado5 .Quanto aos rgos de comunicao so-cial, pouco se alterou, comparativamente anlise feita, h quatro anos, por Canavilhas:

    Jornais exclusivamente online, comoo Dirio Digital ou o Portugal Dirio,esto longe de ter entrado na fase dewebjornalismo. O Dirio Digital fun-ciona como uma espcie de jornalismode agncia, ao qual se juntam hipertexto,arquivo, artigos de opinio e a possibili-dade de contactar os jornalistas. (. . . ) Asrestantes publicaes fornecem ediesonline com caractersticas muito semel-hantes s das suas verses tradicionais,tirando partido de algumas caracters-ticas da web mas, ainda assim, muitolonge de explorarem as potencialidadesdo meio. Casos como a TSF online ou aSIC online funcionam com base em texto,ao qual acrescentam os hipermdia nat-urais de cada um dos meios: som ouvdeo.

    5ZAMITH, F. (2003). Blog-jornais: As experin-cias da Universidade do Porto. [On-line]. Disponvelem http://www.bocc.ubi.pt.

    www.bocc.ubi.pt

  • Jornalismo o(ff)nline 5

    S recentemente alguns media comearama explorar a infografia, animada, entrando,assim, na terceira fase6 de desenvolvimento,preconizada por Pavlik. Porm, a maioriaainda se encontra na segunda fase7.

    5. ConclusoFazer futurologia completamente

    descabido, porque simplesmente no sabe-mos responder questo: como serum jornal no ano 2020?8 Ainda assim,importa sublinhar que para que o jornal-ismo prospere, ser necessrio um partirpedra, relativamente relutncia da classejornalstica em mudar os seus hbitos. Ojornalista, na sua actividade, ter que pensarmultimdia desde o incio. S assim poderir ao encontro da sua audincia, captando-lhe a ateno e estabelecendo uma relaode interesse mtuo (web semntica). Se oconseguir, talvez a audincia um dia estejadisposta a comprar contedos que lhe demgarantia de credibilidade e qualidade.

    6. Bibliografia

    6.1. Fontes Primrias:Seminrio

    ALVES, R. (2009). Jornalismo Online. UTAustin Portugal Summer Institute.Lisboa.

    6 Contedos desenvolvidos exclusivamente para aweb, tirando partido de todas as suas caractersticas.

    7 Os contedos so produzidos unicamente para asverses online, contendo j hiperligaes, aplicaesinteractivas e, nalguns casos, fotos, vdeos ou sons.

    8 ALVES, R. Seminrio de Jornalismo Online.UT Austin Portugal Summer Institute. Maio de2009. Lisboa.

    6.2. Fontes Secundrias6.2.1. Livros e Textos on-line

    ARENT, H. (2001). A condio humana.Lisboa. Relgio d gua.

    AGUIAR, K. F. (2006). Blog-jornalismo:interatividade e construo coletiva dainformao. [On-line]. Disponvel emhttp://www.bocc.ubi.pt. Consultado em3 de Junho de 2009.

    CANAVILHAS, J. (2001). Webjornalismo.Consideraes gerais sobre jornalismona web. [On-line]. Disponvel emhttp://www.bocc.ubi.pt. Consultado em3 de Junho de 2009.

    CANAVILHAS, J. (2005). Os jornalis-tas online em Portugal. [On-line].Disponvel em http://www.bocc.ubi.pt.Consultado em 3 de Junho de 2009.

    CAPELLA, J. N. e JAMIESON, K. H.(1997). Spiral of Cynicism The Pressand The Public Good. Oxford: OxfordUniversity Press.

    DAMSIO, M. J. (2001). Prticas Educati-vas e Novos Media: contributos para odesenvolvimento de um novo modelo deliteracia. Coimbra: Edies Minerva.

    FAIRCLOUGH, N. (1995). Media Dis-course. Gr-Bretanha: Edward Arnold.

    GOODMAN, S. (1996). Visual Englishin GOODMAN, S. e GRADDOL, D.(eds), Redesigning English: new text,new identities. Routledge, Londres.

    ZAMITH, F. (2003). Blog-jornais: Asexperincias da Universidade do

    www.bocc.ubi.pt

  • 6 Pedro Jernimo

    Porto. [On-line]. Disponvel emhttp://www.bocc.ubi.pt. Consultado em3 de Junho de 2009.

    www.bocc.ubi.pt

    IntroduoPagar ou no pagar?Artesos das notciasPortugal onlineConclusoBibliografia