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FACULDADE MINEIRA DE DIREITO – PUC MINAS
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO II
ALUNOS (A): ANDRÉA NATÁLIA PINTO; ISABELLA DE OLIVEIRA.
Questão: Discorra sobre a representação lógica do juízo hipotético ou condicional
formulado por Hans Kelsen (…) implicando com as antinominas como proposto por Noberto
Bobbio em Teoria do Ordenamento Jurídico, e por fim, relacionando a referenciação semântica em
Tû-Tû de Alf Ross.
1 . Representação Lógica do Juízo Hipotético Condicional de Kelsen e Antinomias em
Teoria do Ordenamento Jurídico de Bobbio
Começamos com a problemática inicial: caracterizar o Direito como ordenamento e analisar
se ele é um sistema. O conceito de ordenamento implica que em sua composição haja no mínimo
duas normas que não se excluam mutuamente e não conflitem entre uma norma e um princípio
geral. Sendo, então, o Direito um conjunto de textos legais em que cada norma ocupará um lugar
específico e deverá desempenhar efetivamente uma função, sua eficácia não será apenas seu
cumprimento, mas ainda uma sanção coercitiva, no caso de ser burlada.
Enquanto ordenamento jurídico, o Direito não deverá tolerar antinomias, pois precisa ser
efetivo, eficaz e coerente. Qual seria a consequência mais gravosa de uma antinomia no
ordenamento? O operador do Direito poderia se encontrar diante de um impasse ao estudar,
prescrever e aplicar uma norma; um impasse ético, uma vez que é interesse social que o
ordenamento seja um todo organizado, metódico e com nexo, para cumprir sua função de balizar,
mediar e resolver os complexos problemas da sociedade.
Noberto Bobbio localiza este impasse, alinhando o problema das antinomias com as lacunas
deixadas por estas, e com a hierarquia das normas com relação ao ordenamento. Bobbio concorda
que, pressuposto para dizer que o ordenamento jurídico é um sistema é que não poderá coexistir
nele normas incompatíveis, logo, sistema deverá corresponder à validade do princípio que exclui a
incompatibilidade das normas. (BOBBIO, TEORIA. p.80).
Tendo como referência a Teoria do Direito de Kelsen, que distingue dois sistemas
normativos: a) o estático, que é um sistema moral, em que as normas se relacionam umas às outras
num processo dedutivo, partindo de normas de um caráter geral; b) e o dinâmico, que trata do
sistema jurídico propriamente dito, em que as normas derivam umas das outras através de
sucessivas delegações de poder, através da autoridade para legislar e não do conteúdo.
A norma no ordenamento tem caráter de efetividade, exercendo seu poder imperativo através
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de seus comandos de compulsoriedade impostos pelo Estado, a sanção. Esta sanção é bilateral - ou
dicotômica - uns possuem o poder de determiná-la, outros o dever de cumpri-las.
Exemplifica Kelsen sobre o poder imperativo da norma:
(Fato) Se A é → condição ou hipótese legal
(Consequência) B deve ser → sanção jurídica
Não se trata de uma mera causalidade, mas de uma imputação com base em um
ordenamento jurídico válido e vigente. A sanção é o efetivo da norma. Havendo antinomias entre as
normas, as consequências não serão identificadas e aplicadas com absoluta simplicidade. Bobbio
exemplifica uma situação em que a lei é contraditória:
O art. 18 do T.U. Das leis sobre segurança pública
italiana diz: “os promotores de uma reunião num
lugar público ou aberto ao público devem avisar, pelo
menos três dias antes, o delegado”; e o art. 17, da
Constituição diz: “Para as reuniões, também em
lugares abertos ao público, não é exigido aviso
prévio”. Bobbio. p.86.
Definem-se antinomias, então, como situações em que uma norma pode proibir uma ação e
outras normas permitem-na. É necessário elencar pressupostos: a norma deve estar dentro de um
ordenamento jurídico sistêmico e em vigor; as normas contraditórias devem estar dentro de um
mesmo ordenamento, e óbvio, deve colocar o sujeito a quem a norma se dirige em um impasse.
2. Sentido e Referência em Tû-Tû de Alf Ross e Consequência Jurídica
Alf Ross tece uma crítica à visão do direito subjetivista e jusnaturalista, para não dizer
metafísico-substancialista. Hipoteticamente, é tomada como exemplo uma comunidade primitiva,
em que a palavra tû-tû é usada no uso de expressões que embora tenham uma referência semântica
carecem de sentido, ou seja, não apontam para um objeto real no mundo real, mas prescrevem
ordens e normas que embora estejam num plano metafísico tem eficácia na vida real.
Tû-tû é a quebra do totem e tabu de uma comunidade – falamos então de um ordenamento
estático, de fonte moral, em que as normas se relacionam de forma dedutiva de seu conteúdo-,
sempre que o tabu for quebrado a pessoa infratora estará tû-tû e precisará passar por um ritual de
purificação para reparar o dano. Neste ritual não apenas o infrator se purifica, mas toda a
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comunidade.
Por exemplo,
(Fato – Se A é) Se uma pessoa ingeriu o alimento do chefe está tû-tû,
(Consequência – B deve ser) Se a pessoa está tû-tû deverá passar pelo ritual de purificação.
Assim temos,
(C) = Se uma pessoa ingeriu alimento do chefe (A), deverá ser submetida a uma ritual de
purificação (B).
A expressão tû-tû, embora careça de um sentido possui referência semântica, que é o valor
da ação, esta carga valorativa aponta uma consequência lógica e dedutiva dos fatos e sua
consequência. Isto é, faz mediação a partir de operação lógica de fatos, valor e norma, em que tu-tû
como foi dito, é o valor atribuído.
Na linguagem jurídica encontramos proposições semelhantes, como:
(1) Caso se conceda um empréstimo é gerado um crédito,
(2) Se existe um crédito sua soma total deve ser paga no dia do vencimento,
Assim,
(3) Caso se conceda um empréstimo, sua soma total deve ser paga no dia do vencimento.
Percebe-se que em 1 e 2 a palavra "crédito" tem referência semântica e se refere a um estado
metafísico e ideal, que gera um efeito na vida prática. Em 1 e 2 “credito” é dito da mesma maneira
que tû-tû.
3. Considerações Finais
Alf Ross explica que o sentido estrito da norma jurídica é o fato concreto relacionado com a
norma, e o sentido lato é uma relação "matemática" entre o Fato, o Valor e a Norma.
Norberto Bobbio explica a antinomia jurídica através das contrariedades e contradições, onde duas
normas distintas não podem ser verdadeiras porque invalidam entre si, por exemplo, Obrigatório e
Obrigatório não são contrários, da mesma maneira não se pode afirmar que "Todo Homem é Bom"
e "Todo Homem não é bom", pois haverá conflito. Através desses conceitos Kelsen cria a famosa
citação - “Se A é, B deve ser”-, que é o sentido estrito da norma, mas é relativo, porque nem tudo
que se concretiza em A se concretizará em B. Esta referência de Kelsen funciona como auxílio à
Jurisprudência.
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Referência Bibliográfica:
Bobbio, Noberto. O Positivismo Jurídico: Lições de Filosofia do Direito. Tradução e Notas:
Márcio Plugiesi. São Paulo: Ícone Editora, 1995.
Bobbio, Noberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Tradução: Maria Celeste Cordeiro. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 1999. 10.ed.
Ross, Alf. Tû-tû. Tradução: Edson L.M. Bini. São Paulo: Editora Quartier Latin, 2004.