boa vista: berço das artes plásticas
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Síntese da Palestra dada pelo professor Jacques Ribemboim sobre o bairro da Boa Vista no Recife.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
ALUNA: SUZANA DE MEDEIROS RIBEIRO PESSOA
DISCIPLINA: ECONOMIA AMBIENTAL
PALESTRA: “Boa Vista: Berço Das Artes Plásticas Pernambucanas”.
Palestrante: Prof. Jacques Ribemboim.
O Recife foi receptor do contingente migratório do interior do nordeste e
também do exterior. Os primeiros bairros ocupados foram os bairros do Recife, Santo
Antônio e São José, mas com o tempo, estes, tornaram-se insuficientes para atender a
demanda de chegada dos imigrantes. Com isso houve uma expansão para o bairro da
Boa Vista, que se tornou um dos primeiros locais a serem urbanizados na cidade do
Recife.
As famílias imigrantes foram aos poucos fixando moradia no bairro da Boa
Vista, ao passo que este bairro passou a ser um ponto de convergência de diversas
culturas e saberes. A Boa Vista proporcionou uma grande interação entre as pessoas e
escolas de pensamentos e ao passar do tempo permitiu a emergência e consolidação de
uma classe média urbana, tornando-se assim o lócus da nova classe média da cidade do
Recife.
Da classe média urbana, moderna e plural, formada principalmente de imigrantes
judeus, italianos e portugueses, houve o brotamento de uma arte própria e o surgimento
de artistas locais. Agora, a arte antes restrita às famílias aristocráticas passa também a
ser consumida pela classe média. Com isso, foi criada 1932 a Escola de Belas Artes do
Recife, por artistas que queriam um local de preparação artística no nível da EBA do Rio de
Janeiro.
O Bairro da Boa Vista foi o berço de renomados artistas plásticos, sem contar
escritores e poetas. Dentre os artistas plásticos nascidos em Recife e que viveram e
produziram sua arte no bairro da Boa Vista encontram-se: Lula Cardoso Ayres, Vicente
do rego Monteiro, Gilvan Samico, Lauro Villares, Guita Charifker, Wilton Andrade de
Sousa, Mario Nunes, etc.
O convívio desses artistas tornou possível o aprimoramento da arte plástica
pernambucana. Em entrevista, a judia Guita Charifker relata:
“ Levei muitos anos desenhando sozinha. Um dia, andava pela rua Velha, na Boa Vista, vi uma
janela aberta, e através dela pessoas desenhando. Eu tinha dezesseis anos. Se não fosse esse
momento, não sei o que teria sido a minha vida. Descobri que aquele era o Atelier da Sociedade
de Arte Moderna do Recife, dirigido por Abelardo da Hora, freqüentado por Samico, Zé
Cláudio, Wellington Virgolino, Ivonaldo Marins e outros.
Fui aceita como aluna e fiquei vários anos. Ali comecei a minha vida e compreendi o que é arte:
a troca com outros artistas, a vida coletiva.”
“A arte de Guita, como de muitos outros artistas, saiu do bairro da Boa Vista para o
mundo.”
Do esplendor à decadência.
Hoje o bairro da Boa Vista, como dito em matéria do Diário de Pernambuco, é o
bairro “do comércio e da saudade”.
O bairro fica no centro da cidade do Recife e se configura como um espaço que
congrega pessoas de todas as partes. Na Boa Vista moram em média 15 mil pessoas,
porém, transitam mais de 400 mil. Por ser central e ponto de vários ônibus dos bairros
circunvizinhos, é um trajeto inevitável para quem circula pela cidade.
No entanto, apesar de ser um lugar importantemente movimentado na cidade, ao invés
de estrutura e organização, o que se vê são calçadas esburacadas, metralha, casas e
prédios desbotados, sujos, engarrafamento de pedestres que disputam o espaço das
calçadas com os ambulantes, muita fiação exposta e lixos jogados na rua pela própria
população. Os antigos casarões que continuam vivos na memória de muitos perdem a
cor, o vislumbre e a própria visibilidade ao serem cobertos por tapumes de construtoras.
Isso sem contar os que já foram demolidos para darem espaço aos modernos
empresariais ou mesmo para servir de estacionamentos.
Podemos ver este atual cenário decaído do bairro da Boa Vista como uma
degradação ambiental urbana. Onde a conjuntura dos fatores acima citados e, sobretudo
a escassez das atrações culturais juntamente ao descuido do patrimônio histórico,
deterioram cada vez mais o aspecto do bairro, que fica vazio e deserto após o
fechamento do comércio.
É necessário pensar um planejamento urbano para o bairro da Boa Vista, onde se
possa articular a preservação do patrimônio histórico com as atuais e talvez
irreversíveis, funções comerciais exercidas pelo bairro, que é considerado um dos mais
importantes da cidade do Recife.
“Planejar a (re) organização de espaços urbanos implica em aumentar a qualidade do
meio ambiental, além de gerar externalidades positivas para a população e toda
região.”