bm&fbovesp a supervisÃo de mercados-bsm … · considerando a definição do inciso il ......

18
BM&FBOVESP A SUPERVISÃO DE MERCADOS- BSM CONSELHO DE SUPERVISÃO PLENO CONSELHEIRA-RELATORA: ALINE DE MENEZES SANTOS PROCESSO ADMINISTRATIVO ORDINÁRIO No 23/2015 DEFENDENTE/RECORRENTE: THIAGO BIZARRI COELHO RELATÓRIO I. FATOS 1.1. Objeto do recurso 1. Trata-se de recurso apresentado por Thiago Bizarri Coelho ("Thiago", "Acusado" ou "Recorrente") contra a decisão proferida em 14.04.2016 ("Decisão Recorrida", fls. 231 e 232) pela turma composta pela Conselheira-Relatora Maria Cecilia Rossi e também pelos Conselheiros Henrique de Rezende Vergara e Marcus de Freitas Henriques. 2. A decisão recorrida, fundamentada nas razões que serão detalhadas mais adiante nesse relatório, determinou a aplicação ao Recorrente de pena de multa no valor de R$ 95.000,00 (noventa e cinco mil reais), equivalente a aproximadamente uma vez e meia o valor das operações irregulares questionadas no termo de acusação ("Termo de Acusação"), e mais adiante descritas. BM&FBOVESPA SUPERVISÀO MERCADOS Rua XV de Novembro, andar 01 0'13-001 Paulo, SP Te!.. (11) 2565-4000 (11) 2565·7074

Upload: dangthien

Post on 27-Nov-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

BM&FBOVESP A SUPERVISÃO DE MERCADOS- BSM

CONSELHO DE SUPERVISÃO

PLENO

CONSELHEIRA-RELATORA: ALINE DE MENEZES SANTOS

PROCESSO ADMINISTRATIVO ORDINÁRIO No 23/2015

DEFENDENTE/RECORRENTE: THIAGO BIZARRI COELHO

RELATÓRIO

I. FATOS

1.1. Objeto do recurso

1. Trata-se de recurso apresentado por Thiago Bizarri Coelho ("Thiago",

"Acusado" ou "Recorrente") contra a decisão proferida em 14.04.2016 ("Decisão

Recorrida", fls. 231 e 232) pela turma composta pela Conselheira-Relatora Maria

Cecilia Rossi e também pelos Conselheiros Henrique de Rezende Vergara e Marcus de

Freitas Henriques.

2. A decisão recorrida, fundamentada nas razões que serão detalhadas mais

adiante nesse relatório, determinou a aplicação ao Recorrente de pena de multa no valor

de R$ 95.000,00 (noventa e cinco mil reais), equivalente a aproximadamente uma vez e

meia o valor das operações irregulares questionadas no termo de acusação ("Termo de

Acusação"), e mais adiante descritas.

BM&FBOVESPA SUPERVISÀO MERCADOS Rua XV de Novembro, 8° andar 01 0'13-001 Paulo, SP Te!.. (11) 2565-4000 (11) 2565·7074

Processo Administrativo Ordinário n° 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho

Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 2 de 18

1.2. Histórico do processo

3. Por sua completude e clareza, adoto o relatório feito pela Conselheira Relatora

da Decisão Recorrido, que transcrevo a seguir:

"1. Em 15.08.2013, através do Termo de Acusação PAD No 23/15, o Diretor

de Autorregulação da BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados ("BSM'')

determinou a instauração de Processo Administrativo em face de Thiago

Bizarri Coelho, (''Thiago" ou "Operador"), à época dos fatos operador

vinculado à Alpes Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários S.A.

(''Alpes" ou "Corretora''), devidamente qualificado no termo de acusação

(fls. 1-23), este, por sua vez, baseado em fatos e indícios de infração

apurados pela Superintendência de Acompanhamento de Mercado ("SAM'')

no Parecer n° 16912014 ("Parecer SAM"), relativamente à suposta

realização de operações fraudulentas, em irifi-ingência ao inciso L

considerando a definição do inciso IL alínea "c"1, da Instrução CVM n°

8/1979 ("ICVM no 8/79'').

2. Conforme apontado no Parecer SAM, teria sido constatada a realização

de operações fraudulentas em cinco operações day frade, intermediadas

pela Alpes, distribuídas ao longo de quatro pregões: 06.10.2014,

07.10.2014, 10.10.2014 e 13.10.2014. Essas operações foram executadas

pelo operador Thiago, por meio de negócios diretoi, inclusive

1 "!. É vedada aos administradores e acionistas de companhias abertas, aos intermediários e aos demais participantes do mercado de valores mobiliários, a criação de condições artificiais de demanda, oferta ou preço de valores mobiliários, a manipulação de preço, a realização de operações fraudulentas e o uso de práticas não equitativas. II. Para os efeitos desta Instrução conceitua-se como: ( ... )c) operação fraudulenta no mercado de valores mobiliários, aquela em que se utilize ardil ou artifício destinado a induzir ou manter terceiros em erro, com a finalidade de se obter vantagem ilícita de natureza patrimonial para as pmies na operação, para o intermediário ou para terceiros;". 2

Negócio direto é aquele que o Operador se propõe a comprar e a vender um mesmo Ativo para comitentes

diversos, por intermédio do mesmo Participante (conceito retirado das "Definições"' do

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO MERCADOS Rua XV Novembro. 275. 8° andar 01013-001- Paulo, SP Te!.. (11) 2565-4000 (11) 2565-7074

Processo Administrativo Ordinário n° 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho

1 ulgamento Pleno -Relatório - Fls. 3 de 18

intencionais34, com o intuito de favorecer Ramis Sayar ("Ramis ''), cliente da

Alpes, utilizando para tanto, em grande parte, ofertas realizadas em nome

de outro cliente da Alpes, Alberto Paios Martinho (''Alberto''), como mostra

a tabela a seguir (fi. 25):

Tabela 1- Resumo das operações day-trade de Ramis que Alberto figurou na contra parte

Comeras Vendas Qtde de Resultado

Pregão Papel Qtde Volume Qtde Volume Albertomr

Day-trade ctr art

06/10/2014 PETRJ7& 300.000 -24.000:00 300.000 27.000,00 300.000 3.000,00 07/10/2014 PBTRJ?& 120.000 -12.000,00 120.000 13.400,00 120.000 1.400,00 10/10/2014 PETRJ77 3.000.000 -140.000,00 3.000.000 160.000,00 4.500.000 20.000,00

PETRJ78 5.023.500 -101.175,00 5.023.500 136.645,00 &.500.000 35.470,00 13/10/2014 PETRJ78 500.000 -15.000,00 500.000 20.000,00 500.000* 5.000,00

Total Geral 8.943.500 -292.175,00 8.943.500 357.045,00 13.920.000 64.870,00 * Operação reespecificada para conta erro da Corretora.

Fonte: BM&FBOVESPA

3. Nenhuma dessas cinco operações teria sido respaldada por ordens dos

clientes citados acima e, segundo Alpes e Thiago, a realização de negócios

que favorecessem Ramis teria tido como objetivo único compensá-lo de

prejuízo causado previamente por Thiago, em outras operações, conforme

carta de próprio punho assinada por Thiago, em 13.10.2014 (fi. 81). Ao

executar operações day trade em nome de Alberto e Ramis, sem ordens de

ambos, Thiago teria proporcionado para Ramis um beneficio indevido no

valor de R$ 64.870,00 (sessenta e quatro mil, oitocentos e setenta reais),

REGULAMENTO DE OPERAÇÕES DO SEGMENTO BOVESPA: AÇÕES. FUTUROS E DERIVATIVOS DE AÇÕES). 3 Negócios diretos intencionais consistem no registro de oferta de compra e de venda no sistema de negociação simultaneamente e por um mesmo intermediário, sem a possibilidade de interferência do mercado (conceito retirado das "Definições" do REGULAMENTO DE OPERAÇÕES DO SEGMENTO BOVESPA:AÇÕES, FUTUROS E DERIVA TI VOS DE AÇÕES). Esse registro terá prioridade de fechamento mesmo quando seu preço for igual ao melhor preço da oferta registrada no mercado. 4 A estratégia com negócios diretos intencionais foi realizada nos dias 10.10.2014 e 13.10.2014. Nesses dois pregões foram realizados 8 negócios diretos intencionais entre Ramis e Alberto, 7 deles no dia 10.10.20 14.

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO MERCADOS Rua XV N:lVembro, 275, 8° andar 01013-001- Paulo, SP Tel.: í11) 2565-4000- Fax: (11) 2565-7074

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

Processo Administrativo Ordinário no 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho

Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 4 de 18

bem como, ao utilizar a conta de Alberto para favorecer Ramis, incorrido

na realização de operações fraudulentas, if?fringindo a ICVlvf no 8179.

4. No presente caso, o ardil ou artijicio utilizado pelo Operador consistiria

na realização de operações diretas como mecanismo para combinar o

resultado de operações entre Ramis e Alberto, sem o comando ou

conhecimento das mesmas por parte dos clientes. Trata-se da utilização de

operações fraudulentas com propósito de favorecer Ramis com a utilização

da conta de Alberto, sob duas perspectivas: (a) garantia de lucros certos

para Ramis e (b) exposição de Alberto a riscos do mercado que não foram

desejados pelo cliente e que não tiveram justificativa econômica ou

operacional, a não ser a intenção de Thiago de inserir ofertas em nome de

Alberto com intuito de garantir negócios vantajosos a Ramis.

5. Para lograr o objetivo de favorecer Ramis, Thiago teria utilizado duas

estratégias distintas: (a) posicionar Ramis e em seguida inserir ofertas em

nome de Alberto, cliente prejudicado, em tamanho e preço pretendidos (por

vezes o preço era menor que o melhor preço de mercado) pelo próprio

Thiago, com a finalidade de realizar negócios mais vantajosos a Ramis; ou

(b) executar, entre Alberto e Ramis, negócios diretos intencionais, que tem

prioridade de execução relativamente às ofertas disponíveis no sistema de

negociação, resultando no fechamento de operação day trade favorável a

Ramis. O índice de acerto de Ramis, nas operações realizadas

discricionariamente por Thiago, tendo como contraparte Alberto, foi de

100%.

6. Questionada acerca de tais irregularidades pelas correspondências

SAM-DAR-BSM noS 1739/2014 e 0204/2015, a Alpes Corretora prestou

esclarecimentos à BSM em 19.12.2014, 20.01.2015, 12.02.2015 e

18.03.2015. Em síntese, relatou que, em 18.09.2014, teria detectado a

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO DE MERCADOS l~ua XV de Novembro, 275, 8° andar 01013-001 -São Paulo, SP Te!.. (11) 2565-4000- Fax: (11) 2565-7074

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

Processo Administrativo Ordinário n° 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho

Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 5 de 18

realização de diversas operações irregulares executadas por Thiago em

nome de Ramis, para gerar corretagem, em detrimento da carteira e em

dissonância com o perfil do cliente, provocando-lhe prejuízo de

R$62. 000,00. Diante da falha, teria advertido verbalmente Thiago e

proposto compensação ao cliente por meio de isenção de corretagens

futuras, o que teria sido aceito, conforme constou de "Relatório de

Ocorrência" (fl. 79) apresentado à BSM Em 13.1 O. 2014, ao detectar que

Thiago teria incorrido, novamente, em infração grave, a Alpes o demitiu

por justa causa, antes mesmo dos questionamentos da BSM, por ter

realizado operações sem ordens de clientes, simulando operações para

gerar lucro de cerca R$60. 000,00 para Alberto e, posteriormente,

transferido tais operações para Ramis, através do mecanismo do ''direto",

visando compensar o prejuízo referido no episódio anterior. A Alpes juntou,

ainda, carta de próprio punho de Thiago (fl 81), na qual ele reconheceu ter

dado um direto para ajudar o cliente Ramis, beneficiando-o em

R$50.000,00, aproximadamente, em prejuízo do cliente Alberto. Em ambas

as ocasiões, as operações irregulares teriam sido parcialmente

reespecificadas para a conta erro da Corretora, evitando prejuízos a

Alberto.

7. Diante desses fatos, o Diretor de Autorregulação da BSM determinou, em

9.12.2015, a instauração do presente processo administrativo disciplinar

em face de Thiago, imputando-lhe responsabilidade pela realização de

operações fraudulentas, em violação ao inciso L considerando a definição

do inciso IL alínea "c", da ICVM n° 8/79, conforme acima descrito e

elencado no Termo de Acusação (fls. 1-23).

2.DADEFESA

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO DE MERCADOS Rua XV de Novembro. 8° andar 01013-001 Paulo,

· (11) 2565-4000 Fax: (11) 2565-7074

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

Processo Administrativo Ordinário n° 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho

Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 6 de 18

8. Em defesa (fls. 85-86, em duplicidade a fls. 87-88) apresentada,

tempestivamente, em 12.01.2016, Thiago afirmou, em síntese, que:

a) Teria intenção de firmar Termo de Compromisso, comprometendo-se com o definitivo encerramento de qualquer atividade ilícita, não possuindo, contudo, recursos financeiros stificientes para propor acordo ou restituição à BSJvf, posto que sua "vida e saúde financeira após a demissão por justa causa, no dia 13.10.2014, foram severamente cifetadas" (fi. 85).

b) Não teria obtido "proveito ou vantagem financeira, ou recebi(do) comissão pelas corretagens tratadas" e, após sua saída da Corretora e do mercado financeiro, ainda não teria conseguido se recolocar, tendo sido negativado no SPC em face de contínuas despesas e nenhuma renda.

c) Algumas informações contidas nos autos do processo não seriam condizentes com a realidade. Nesse sentido, destacou que:

i. Teria atuado como assessor de investimentos sênior na Alpes por doze meses (fi. 87) e nunca, durante esse período, teria sido advertido, antes, teria sido elogiado quanto à performance obtida em seu trabalho;

ii. Teria sempre realizado a intermediação de valores mobiliários com a autorização dos clientes;

iii. Não conhecia nenhum dos clientes, não tendo motivos para deliberadamente beneficiá-los através das operações objeto do processo;

iv. Teria sido coagido pela Corretora a escrever a carta reconhecendo a autoria das operações

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO DE MERCADOS XV Novembro, 275, 8° andar

01013-001- São Paulo, (11) 2565-4000- (11) 2565-7074

Processo Administrativo Ordinário n° 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho

Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 7 de 18

realizadas, sob pena e ameaça de ter de pagar altos valores;

v. Teria pedido demissão, momentos antes de ser demitido, pois havia aceito proposta de trabalho em outra corretora. Tal oportunidade teria sido retirada, posteriormente, em face da demissão por justa causa;

vi. Não se recordaria com exatidão da ocorrência dos fatos e não deteria provas contra as alegações que lhe foram opostas.

9. Concluiu pedindo que o Conselho considerasse suas palavras quando do

julgamento de seu caso.

3. DO PARECER DA GERÊNCIA JURÍDICA

10. Em 19.02.2016, a Superintendência Jurídica da BSM emitiu Parecer

Jurídico (fls. 93-107) sobre o processo em tela. Após sumário dos fatos, do

termo de acusação e do Parecer SAM no 16912014, sobre a defesa, registrou

que o defendente não apresentou pedido de produção de provas, não

consubstanciou em proposta sua intenção de firmar termo de compromisso

e não teceu considerações preliminares.

11. Quanto ao mérito, afirmou estarem presentes todos os elementos

necessários para a caracterização de operações fraudulentas, não havendo

na defesa apresentada qualquer informação capaz de afastar o

entendimento de que Thiago praticou, intencionalmente, a conduta vedada

pela JCVM n° 8/79, em seu inciso L qualificado pelo inciso 1L alínea .. c".

12. Esclareceu que o ilícito administrativo de ''operação fraudulenta" foi

estabelecido pela ICVM no 8/79, destacando, por importante, os

BM&FBOVESPA SUPEIWISÃO DE MERCADOS Rua XV de Novembro. 275, 8° andar 01013-001 -São Paulo, SP Tel. (11) 2565-4000 (11) 2565-707~

Processo Administrativo Ordinário n° 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho

Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 8 de 18

fimdamentos da referida norma, em citação a Alexandre Pinheiro dos

Santos et ali/·

"O mercado de valores mobiliários rege-se por regras bastante especificas, as quais têm por objetivo, especialmente, a manutenção do princípio da equidade nas operações nele realizadas, de modo que os participantes do mercado possam negociar em igualdade de condições. Foi com esse objetivo de assegurar a igualdade e o equilíbrio a todos os participantes, resguardando a necessarza confiabilidade do mercado de valores mobiliários, que a CVM, com jimdamento na Lei n. 6.385/76, editou a Instrução CVM n. 8/79. (..) a Instrução n. 8/79 conceituou, de forma propositadamente genérica, situações que configuram operações ou práticas incompatíveis com a regularidade que se pretende assegurar ao mercado. Revelam-se, assim, figuras típicas de conteúdo bastante amplo, verdadeiros standards legais, assemelhando-se à figura penal dos 'tipos abertos', eis que a Instrução definiu os contornos de um conjunto de práticas que se deseja evitar, devendo a interpretação e a aplicação dessas normas serem feitas de acordo com as peculiaridades de cada caso concreto, dada a mutabilidade de tais práticas e o dinamismo próprio dos ilícitos econômicos. Ademais, e considerando a especial relevância dos bens jurídicos ou valores tutelados pela vigência da norma, quais sejam, a confiabilidade, a transparência, a equidade ou, simplesmente, o fimcionamento regular do mercado de valores mobiliários, a norma também prevê a possibilidade de punição agravada daqueles que, pelo seu

5 Santos, Alexandre Pinheiro dos. Osório, Fabio Medina. Wellisch, Julya Sotto Mayor. Mercado de Capitais -Regime Sancionador. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 108-110.

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO DE MERCADOS Rua XV de Novembro, 275. 8° andar 01 013~001 -São Paulo. SP Te! .. (11) 2565~4000- (11) 2565~707 4

Processo Administrativo Ordinário no 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho

Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 9 de 18

comportamento, atentarem contra os interesses nela albergados. "6

13. Salientou que a ICVM n° 8/79 busca, a partir de tipos abertos, garantir

que as operações no mercado de valores mobiliários ocorram com

conjiabilidade e transparência para resguardar a integridade do mercado,

princípios que teriam sido desrespeitados na conduta de Thiago, o qual

teria se aproveitado da confiança dos clientes e da sua posição como

assessor na Alpes para, discricionariamente, inserir ofertas em nome de

Ramis e de Alberto e fechar negócios entre eles para beneficiar Ramis, em

detrimento de Alberto.

14. Citou trecho extraído do voto da Diretora da CVM Ana Dolores Moura

Carneiro Novaes, relatora doPAS CVM 05/08, julgado em 12.12.2012, a

fim de explicitar o entendimento da autarquia quanto aos elementos

necessários à classificação de operações fraudulentas, a saber:

'' (..) Dito isto, passamos a analisar o caso em tela,

começando pela presença dos elementos do tipo descrito no

Inciso IL alínea c da Instrução CVM N° 8/79. A sua redação

define: 'operação fraudulenta no mercado de valores

mobiliários é "aquela em que se utilize ardil ou artificio

destinado a induzir ou manter terceiros em erro, com a

finalidade de se obter vantagem ilícita de natureza

patrimonial para as partes na operação, para o

intermediário ou para terceiros'. (..) 17. Da leitura deste

dispositivo, aparecem os seguintes elementos necessários

para sua tipificação:

6 Santos, Alexandre Pinheiro dos. Osório, Fabio Medina. Wellisch, Julya Sotto Mayor. Mercado de Capitais -Regime Sancionador. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 108-11 O.

BM&FGOVESPA SUPERVISAO DE MERCADOS Rua XV de Novembro. 8° andar 01 013-oo·r -- Sao Paulo, SP TeL (11) 2565-4000 Fax: (11) 2565-7074

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

Processo Administrativo Ordinário n° 23/20 I 5 Defendente/Recon·ente: Thiago Bizarri Coelho Julgamento Pleno- Relatório- Fls. I O de I 8

(i) Ardil ou artificio;

(ii) Indução ou manutenção de terceiro em erro;

(iii) Intenção de obter vantagem ilícita para si ou terceiros.

(..)"

(grifas do Parecer Jurídico)

15. Cotejando o trecho do voto acima transcrito e a seção V do Termo de

Acusação, o Parecer Jurídico concluiu pela presença, na peça acusatória,

de todos os elementos característicos e indissociáveis do tipo no caso

concreto, quais sejam:

a. Ardil (estratagema para burlar alguém): Thiago, assessor de

Ramis e de Alberto, se utilizou da relação de jidúcia entre

Operador e cliente para capturar a conta desses clientes e

realizar operações com o intuito de gerar lucros certos para

Ramis em detrimento de Alberto. "Não fosse a realização de

operações fraudulentas por Thiago, não haveria certeza de

ganhos a Ramis, tampouco haveria exposição de Alberto aos

riscos do mercado, com a realização de negócios em seu nome,

sem suas ordens ou em desacordo com os seus interesses "

(integralidade do item 47 do Termo de Acusação);

b. Induzir ou manter a vitima em erro: as cinco operações day­

trade objeto do processo, realizadas com o objetivo de favorecer

Ramis, foram feitas com ativos que os clientes já operavam, de

forma a não chamar a atenção para ativos estranhos à natureza

de suas operações habituais;

c. Objetivo de obter vantagem patrimonial. É possível que a

vantagem patrimonial desejada seja a terceiros, como ocorreu

no presente caso, em que o favorecido foi Ramis e não Thiago. O

índice de 100% de assertividade em operações day-trade, com

BM&FBOVESPA SUPERVISAO DE MERCADOS Rua XV de Novembro. 8° anelar 01 013-00'1 São Paulo, SP Te!.. (11) 2565-4000 (11) 2565-7074

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

Processo Administrativo Ordinário no 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 11 de 18

recorrência de contraparte com Alberto, é atípico e gerou lucro

para Ramis de R$ 64.870, 00.

16. Adicionalmente a tais elementos, para a configuração da prática

fraudulenta, seria necessário constatar a presença inequívoca do dolo do

Defendente, ou seja, vontade dirigida à realização de um ilícito visando

atingir um fim especial, pois ''somente se caracteriza (o dolo) quando

manifesta a intenção do agente de, com seu comportamento malicioso,

induzir a vítima a erro, miferindo com tal prática vantagem patrimonial "7.

17. No caso concreto, Thiago tinha pleno conhecimento de que Ramis

ganharia em todas as operações referidas no Parecer SAM, pois ele mesmo

fora o estrategista dessas operações, inserindo ofertas em nome de Ramis e

de Alberto, sem ordem dos clientes, controlando todos os parâmetros das

operações, inclusive o tipo do ativo e o melhor momento para executar os

negócios diretos.

18. Destacou o Parecer Jurídico que, apesar de alegar genericamente que

os fatos detalhados no Parecer SAM e no Termo de Acusação "não

condizem com a realidade", a defesa não contestou a realização das

operações da forma como descrita pela Acusação, não rebateu nenhuma

das provas que justificaram a instauração do processo administrativo, a

saber: (a) dinâmica das operações; (b) ausência de ordens para as

operações analisadas; e (c) vantagem patrimonial de Ramis demonstrada

pelo índice de I 00% acerto nas operações realizadas por Thiago em que

Alberto figurou na contraparte.

7 Eizirik, Nelson; Gaal, Ariádna B.; Parente, Flávia; Henriques, Marcus de Freitas. Mercado de Capitais­regime jurídico. 3 ed., revista e ampliada- Rio de Janeiro: Renovar, 20 I I.

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO DE MEf'\CADOS Rua XV de Novembro, 8" andar 01013-001 São Paulo, SP

· (11) 2565-4000- Fax: (11) 2565-70'14

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

Processo Administrativo Ordinário n° 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho Julgamento Pleno -Relatório - Fls. 12 de 1 8

I 9. O Parecer Jurídico dedicou análise pormenorizada a dois dos

argumentos aventados pela defesa, a saber:

a. A falta de vínculos entre o Operador e os clientes

Ramis e Alberto afastaria as motivações e a

intencionalidade da conduta do Defendente para

privilegiar Ramis, em detrimento de Alberto. A

alegação seria irrelevante para a caracterização das

operações fraudulentas realizadas por Thiago, pois,

o vínculo entre "aquele que se utilize de ardil" e o

"terceiro em erro" ou o terceiro beneficiado não

constituiria elemento do tipo e não interferiria na

caracterização da irregularidade.

b. A carta de corifissão8 assinada pelo Defendente (fi.

81), na qual Thiago revela a inserção intencional de

negócios para beneficiar Ramis e prejudicar Alberto,

teria sido assinada sob coerção, o que invalidaria a

prova; porém, tal carta não foi a base da Acusação,

que a reproduziu nos autos como esclarecimentos

prestados pela Alpes. Tanto assim que, afastada a

existência dessa corifissão nos autos, a Acusação

subsiste: em sua carta o Defendente se refere a "um

direto", e o Termo de Acusação, por outro lado,

8 O Parecer Jurídico esclareceu que o conceito e a validade da confissão podem ser tomados como referência legislativa próxima para o processo administrativo sancionador no mercado de capitais: segundo o artigo 348 do Código de Processo Civil (CPC), há confissão quando a parte admite a verdade de um fato, contrário ao seu interesse. A confissão quando emanada de erro, dolo ou coação poderá ser revogada (artigo 352).

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO MEI::ZCADOS Rua )(V de Novembro, 8° andar 01 Oí 3-001 -São Paulo. SP

· (1 í) 2565-4000 Fax: (11) 2565-707~.

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

Processo Administrativo Ordinário no 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho Julgamento Pleno Relatório- Fls. 13 de 18

imputa ao acusado a execução de 5 (cinco)

operações day-trade irregulares.

20. Em momento algum a conduta e os fatos foram contestados pela Defesa,

embora a dinâmica das operações inseridas por Thiago (responsável pelo

Terminal no 147, identificado nos documentos enviados pela Corretora e

nos registros do Parecer SAM) em nome de Ramis e de Alberto, tenha

comprovado a utilização indevida da conta de Alberto para fechar negócios

favoráveis a Ramis. O Parecer Jurídico exemplificou tal prática por meio

das operações do pregão do dia 10.10.2014, encerrado com lucro bruto

total de R$ 55.470,00 para Rami/, no qual Thiago realizou, sem ordens de

Ramis e de Alberto, duas operações day-trade consecutivas (com dois ativos

diferentes: PETRJ77 e PETRJ78, costumeiramente utilizados pelos

clientes), por meio de negócios diretos intencionais, envolvendo grande

tamanho de lote negociado e curto período de tempo para inversão das

operações (fls. 1311 i 0)

21. A esse respeito, ressaltou a acusação: "nos pregões de 10.10.2014 e

13.12.2014, houve notadafraude às condições habituais de mercado em que

as ofertas devem se tornar negócios dentro de condições normais de

mercado, ou seja, quando há competição entre as ofertas de compra e de

venda e não forçosamente definidas pelo Operador que controlou e

determinou arbitrariamente condições em que há ganhos certos para uma

9 Segundo o Parecer SAM, "no dia 10.10.2014, Thiago realizou operações para Ramis com dois ativos, PETRJ77 e PETRJ78, ora abrindo posições contra o mercado e encerrando day-trade com operações de Alberto, ora realizando operações de compra e venda envolvendo lote expressivo com curto período para inversão das posições por meio de diretos intencionais com Alberto figurando na contraparte, resultando para Ramis lucro bruto de R$ 55.470,00. Para Alberto, as operações, envolvendo os mesmos ativos, resultaram em day-trades com prejuízo bruto de R$148.697,00" (item 25 do Parecer SAM, tl. 31). 10 As operações relativas ao pregão do dia 10.10.2014 apontadas pela Acusação estão detalhados nos itens 16 a 25 do Parecer SAM e no Anexo IV ao mesmo Parecer.

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO DE MERCADOS Rua XV de Novembro. 275, 8° andar 01013-001 São Paulo. SP

· (11) 2565-4000- Fax: (11) 2565-707 4

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

4.

Processo Administrativo Ordinário n° 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago BizatTi Coelho Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 14 de 18

parte (Ramis) e perda para sua contraparte (Alberto) em negócios diretos

intencionais, inseridos no sistema sem amparo nas ordens dos clientes" (fl.

16).

22. Considerando todos os documentos e manifestações constantes dos

autos, o Parecer Jurídico entendeu ter havido produção de provas

sifzcientes para demonstrar a realização, por parte de Thiago, de práticas

fraudulentas. Ao concluir, então, pela existência de descumprimento, por

Thiago, do inciso I, qualificado pelo inciso 11, alínea "c", da ICVM n° 8179,

sugeriu ao Conselho de Supervisão a aplicação de penalidade a Thiago,

conforme disposto no artigo 36, da Instrução CVM no 461/07 e no artigo 30

do Estatuto Social da BSM, considerada, para fins de dosimetria da pena, a

gravidade das irregularidades constatadas, que afetariam a credibilidade, a

confiança e integridade do mercado de valores mobiliários, ressaltando que

a infração à JCVM no 8/79 é grave, nos termos do seu inciso 111 e da Lei n°

6.385/76. Outrossim, registrou que Thiago não tem histórico de

condenações na BSM nem na CVM, bem como que, ao tempo da elaboração

do Parecer, Thiago não estava vinculado a outro Participante dos

mercados administrados pela BM&FBOVESPA

4. DA MANIFESTAÇÃO DO ACUSADO ACERCA DO PARECER

JURÍDICO

23. Cientificado acerca da emissão do Parecer Jurídico, em 25.02.2016,

por meio do OFIBSMISJURIPAD- 08112016, Thiago não se manifestou.

11. JULGAMENTO DA TURMA

A Decisão Recorrida, já resumida no início, fundamentou a condenação

imposta nos argumentos constantes do voto da Conselheira-Relatora, Maria Cecília

BM&FBOVESPA SUPERVISÁO MERCADOS Rua XV de Novembro, go andar 01013-001 -São Paulo, SP

. (11) 2565-4000 (11)

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

Processo Administrativo Ordinário n° 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 15 de 18

Rossi, acompanhada à unanimidade pelos demais integrantes da Turma. Na dosimetria

da multa de R$ 95.000,00 (noventa e cinco mil reais) considerou-se a primariedade do

Recorrente, a existência de casos semelhantes já julgados pela BSM e, por fim, o fato de

a infração questionada ser de natureza grave.

5. Para a Conselheira Relatora restou configurada nos autos a realização de

operações fraudulentas, conforme definido na alínea "c" do inciso II da Instrução 8,

estando presentes todos os elementos constitutivos do tipo operações traudulentas: (a)

ardil, (b) indução ou manutenção de terceiro em erro e (c) intenção de obter vantagem

ilícita para si ou para terceiros.

6. Destacou que o ardil utilizado pelo Recorrente consistiu na realização de

negócios diretos intencionais e não intencionais, como mecanismo para combinar o

resultado das operações, uma vez que Thiago teria agido por conta própria, à revelia de

Ramis e de Alberto, executando negócios em nome de Ramis e de Alberto, cujos

parâmetros eram todos definidos pelo Recorrente: tipo de ativo, preço e melhor

momento para executar os negócios diretos.

7. Também evidenciaria o ardil o fato de o Defendente ser assessor frequente

de Ramis e Alberto na Conetora, gozando da confiança de ambos, o que teria

possibilitado que decidisse unilateralmente sobre as operações. Teria, então, havido

abuso de confiança. Em especial em relação a Alberto, destaca que Thiago operou com

opções sobre ativos que já compunham sua carteira de investimento, o que teria sido

feito para não destoar de seu perfil operacional habitual, e portanto com a finalidade de

induzir o investidor a erro. Ou seja, Thiago teria misturado operações rotineirrnente

executadas por ordem de Alberto com as fraudulentas, de forma que o investidor não

notasse que sua conta estava sendo indevidamente utilizada.

Bl\t1&FBOVESPA SUPERVISAO MERCADOS Rua XV Novembro, 8° andar 01013-001 ·• Paulo, SP

· (11) 2565AOOO (11)

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

8.

Processo Administrativo Ordinário n° 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 16 de 18

A Conselheira Relatora também destaca em seu voto o índice de acerto de

100% nas operações day frade em nome de Ramis, que teria decorrido da combinação

de resultados feita por Thiago.

9. Finalmente, entendeu que Thiago, ao inserir ofertas em nome de

investidores que não externaram a vontade de negociar seus ativos, para benefício

indevido de um deles, subverteu a lógica do mercado, baseada na formação de preços e

de resultados a partir da concorrência de ofertas lastreadas em ordens de compra e

venda previamente emitidas pelos investidores.

IH. RECURSO AO ÓRGÃO PLENO DA BSM

10. Em seu recurso, Thiago, embora sem rebater especificamente os

fundamentos de Decisão Recorrida, alegou o que a seguir vai resumido (fls. 135 a 147):

(i) a Alpes CCTVM S.A. ter-lhe-ia acusado da prática de inúmeras

irregularidades. "A acusação está eivada de inverdade, quando se analisa as

provas juntadas aos autos, bem como, o audio anexo, cd 002 ";

(ii) a atividade do Recorrente na Alpes se resumiria a ligar para clientes e propor

operações de investimentos, que eram executadas se houvesse concordância dos

clientes;

(iii) o Recorrente, durante o período em que atuou na Alpes, teria sempre

desempenhado suas atividades com presteza, sem nunca ter sido advertido por

qualquer circunstância;

(iv) o vínculo empregatício com a Alpes ter-se-ia encerrado em 13.10.2014

abruptamente, com inúmeras irregularidades e mediante coação do Recorrente.

Isso porque o Recorrente foi demitido por justa causa em razão da realização de

supostas operações ilícitas em nome de dois clientes [Ramis e Alberto]. No

entanto, a real razão de sua demissão teria sido o fato de, naquele mesmo dia

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO MERCADOS Rua XV de Novembm. 8' andar 01013-001-· Paulo.

· (11) 2565-4000 Fax: (11) 2565-707 4

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

Processo Administrativo Ordinário no 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizarri Coelho Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 17 de 18

13.10.2014, o Recorrente ter formalizado, logo no início do dia, pedido de

demissão de suas funções em razão de suposta nova oportunidade de trabalho no

Banco Santander, fato esse que teria deixado o diretor operacional da Corretora

"chateado e surpreso";

(v) depois do horário de almoço, o Recorernte teria então sido chamado pela

diretoria da Corretora que, para sua surpresa, comunicou-lhe que estava sendo

demitido por justa causa em função das operações ora questionadas. Na ocasião,

embora o Recorrente tenha negado as acusações, "os Diretores passaram a

ameaçá-lo de ver seu nome levado a BSM sem qualquer motivo, a Reclamada

[Alpes] exigiu que o trabalhador realizasse carta a punho, corifirmando as

inverdades ". Tal carta teria sido assinada pelo Recorrente apenas para evitar que

as ameaças se concretizassem, para "evitar prejudicar sua reputaçào

profissional", e que "nitidamente aos olhos do homem médio vê-se que houve

coaçào";

(vi) a acusação "da Alpes" estaria em desconformidade com a realidade dos

fatos, seja porque seria falsa a afirmação de que o Recorrente teria sido advertido

por sua conduta, o que segundo ele jamais ocorreu, seja porque o prejuízo

sofrido por Ramis teria ocorrido, segundo o Recorrente, de operações

autorizadas pelo próprio cliente;

(vii) tais prejuízos teriam levado o cliente a querer retirar sua conta de custódia

da Alpes, o que teria sido evitado com a concessão de descontos nas taxas de

corretagem. A concessão de tais descontos impossibilitaria, como afirmado pela

Corretora, que o Recorrente auferisse benefícios econômicos ao executar

operações em nome de Ramis;

(viii) ''O Reclamante [Recorrente] nào tinha nenhum intuito de ter ou trazer

vantagem para qualquer uma das partes". O Recorrente 'jamais procedeu

qualquer operação sem o aceite dos clientes";

BM&FBOVESPA SUPEHVISÃO MERCADOS Rua XV de Novembro, 8° ancJar 01013-001 -São Paulo, SP TaL, (11) 2565-4000- (11) 2565-707 4

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce

Processo Administrativo Ordinário no 23/2015 Defendente/Recorrente: Thiago Bizan·i Coelho Julgamento Pleno- Relatório- Fls. 18 de 18

(ix) ''de certo (..) existiram operações nas quais o operador com o

consentimento dos clientes realizou, só que por falha e risco ocorreram perdas

aos clientes mas isso não significa que o trabalhador [Recorrente] deixou de

pedir as permissões (..) Se analisar meramente os perfis dos dois investidores

que acreditasse podem ser intimados para oitiva. se verá que um Sr. Ramis é

advogado e o outro Sr. Alberto é diretor de ensino superior. Perfis que

necessariamente o trabalhador [Thiago] realizava os aceites" (grifas do

original);

11. Conclui o Recorrente pedindo a revisão da Decisão Recorrida e sua absolvição

por falta de provas. Alternativamente, "em consideração à situação financeira do

operador, que estava desempregado e com seu nome incluso no cadastro de proteção

ao crédito" requer a revisão do valor da pena de multa de R$ 95.000,00 (noventa e

cinco mil reais) imposta pela Turma do Conselho de Supervisão.

É o relatório.

São Paulo, 1 O de junho de 2016.

Aline de Menezes Santos Conselheira-Relatora

BM&FBOVESPA SUPERVISÃO MERCADOS Rua XV ele Novembro, 275, 8° 01013-001 São Paulo, SP

'(11) 2565-4000 (11) 2565-7074

bazevedo
Realce
bazevedo
Realce