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II SÉRIE - MARÇO/ABRIL 2011 WWW.BLUE.COM.PT PORTUGAL - CONTINENTE 01 JASON MILLER Design desempoeirado Made in USA HELLA JONGERIUS O que é que Hella tem? TREE HOTEL Uma cabana no topo do mundo ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA O regresso do livro-objecto QUE VALORES DEFENDE? Os nossos protegem as próximas gerações... Venha connosco! [ Veja pág. 04 ] HORTAS URBANAS O CAMPO NA CIDADE É “BIOAGRADÁVEL” II SÉRIE N.º 01 BIMESTRAL 3.95

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Jason Miiller; Hella Jongerius; Tree Hotel; Ilustração Portuguesa; Hortas Urbanas.

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II SÉRIE - MARÇO/ABRIL 2011WWW.BLUE.COM.PT

PORTUGAL - CONTINENTE 01

N.º 01 - II SÉR

IE

JASON MILLERDesign desempoeirado Made in USA

HELLA JONGERIUSO que é que Hella tem?

TREE HOTELUma cabana no topo do mundo

ILUSTRAÇÃO PORTUGUESAO regresso do livro-objecto

QUE VALORES DEFENDE?Os nossos protegem as próximas gerações...

Venha connosco! [ Veja pág. 04 ]

HORTAS URBANAS � O CAMPO NA CIDADE É “BIOAGRADÁVEL”

II SÉ

RIE

N.º 0

1

BIMESTRAL €3.95

BD01-KAPA DESIGN1:BK-KAPA COOKING 31 3/1/11 2:13 PM Page 1

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linkqwww.sograpevinhos.eu

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MISSÃO BLUE | OS NOSSOS VALORES

PORQUÊ MUDAR?…Revendo-se na mudança que desponta no mundo,

a Blue será mais solidária com os valores inerentes às “boas práticas”.

Solidariedade, Sustentabilidade e Consciência, são algumas

das palavras de ordem. Mantendo a qualidade que o mercado

sempre lhe reconheceu, responderá através da sensibilização

e da criação de soluções ajustadas à realidade, quer para o universo

dos seus leitores, quer para as marcas que estiverem a seu lado.

Juntos percorreremos esse caminho.

CONSUMO INTELIGENTE O novo paradigma do mercado assim o exige.

PRÁTICAS CONSCIENTESPor uma sociedade mais verdadeira.

SUSTENTABILIDADEPara um Mundo à escala humana.

SOLIDARIEDADE Porque não estamos sozinhos.

MÉRITOPremiar e promover quem merece.

DEFESA DO PLANETAUm bom testemunho para as próximas gerações.Os nossos filhos merecem e aí seremos intransigentes!

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…POR UMA VIDA NOVA!

II SÉRIEMENSAL

II SÉRIEBIMESTRAL

II SÉRIEBIMESTRAL

Mensal

UMA NOVA MARCA, UMA NOVA REVISTA

[ BY BLUE ]

New!

Mais do que querer muito, do que ser grande ou mesmo enorme, é ser IMENSO.

É ter vontade de mudar, de fazer, de ser, de estar, de marcar cada momento

do dia-a-dia, criando à nossa volta um movimento de boas atitudes, boas práticas e maior

consciência, uma corrente com uma aura positiva, generosa, universalista

e aglutinadora que chegue a muitos, a todos!

IMENSO é tudo o que já se faz e tudo o que falta fazer!

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editorial :: blue design

Um passo gigante,uma pequena pegadaUMA CAIXA DE SAPATOS É só uma caixa de sapatos. Mas o trabalho de redesign das embalagens

da Puma, levado a cabo pelo estúdio Fuseproject, de Yves Behar, no final de 2010, mostra como um

pequeno passo para o packaging pode ser um passo gigante para a humanidade.

Estes sapatos foram feitos para andar, mas a caixa que os envolve, e na qual são distribuídos pelo mundo,

reduz significativamente a pegada ambiental: a nova embalagem, baptizada de “Clever Little Bag”, usa

menos 65% de cartão que as caixas tradicionais, e reduz 60% o consumo de energia na etapa de

produção. Uma folha de cartão monta-se como um jogo de crianças, fazendo dobras (sem agrafos, sem

cola, sem nada) e um saco de polipropileno, encarnado vibrante, envolve-a, dando-lhe estrutura.

Mas a inteligência da “Clever Little Bag” não se esgota aqui. Ela é “clever”, sobretudo, porque o seu ciclo

de vida não termina quando chegamos a casa e arrumamos os sapatos no armário. Ela é “clever” porque,

em todas as etapas do projecto, foi pensada, desenhada, para ser reinventada. Porque pode ser reutilizada:

as duas partes (cartão e saco de poliéster) separam-se, e temos um saco de viagem para sapatos. Ou para

uma ida à mercearia. Ou para levar o jornal de domingo. Claro que isto acontece com todas as coisas que

reaproveitamos nas nossas vidas. A diferença aqui é que, desde o princípio, esta caixa foi feita para isso.

E funciona. Apesar do nome, a caixa de Behar não é só uma caixinha. Ela é grande porque é fina, astuta,

inteligente, criativa. É “clever”. E é esta atitude, altruísta, solidária, consciente, responsável,

e absolutamente criativa, que valorizamos e celebramos na blue Design. Sempre o fizemos, e basta recuar

a Dieter Rams, que nos anos 80 enunciou os dez princípios do bom design, para perceber que ser “amigo

do ambiente” era já uma questão em cima da mesa. Hoje, pelas razões óbvias, é ainda mais relevante. E

urgente. Só que ser verde hoje não é a mesma coisa que há 30 anos. O verde, hoje, não é simplesmente

bom. É bonito. Da mesma maneira que um objecto bem desenhado, honesto, claro, legível, duradouro,

simplesmente não pode evitar ser belo. Com este número, inauguramos a segunda série da blue Design,

que agora passa a bimestral. Vamos estar mais vezes consigo e também mais perto das coisas,

pequeninas e grandes, que realmente importam nas nossas vidas. Porque o design é das pessoas

e para as pessoas. Porque a vida está nos pormenores. Desenhe a sua vida.

M A D A L E N A G A L A M B A [email protected]

CLEVER LITTLE BAG YVES BEHAR

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linkqwww.fluxodesign.com

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N 01

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SUM

ÁR

IOIN

SP

IRA

R 10 B R A N D N E W D E S I G NAs últimas novidades das primeiras marcas.

20 A S C O I S A S D E L E S O chef Lujbomir Stanisic escolhe 8 objectos sem maneiras.

22 LIVRO: PAUL FELTONOs dez mandamentos da tipografia. E o reverso.

24 S P O T : T R E E H O T E LUma cabana no topo do mundo.

26 P E R F I LA designer Marcela Brunken e os arquitectos do Plano B.

30 TENDÊNCIA: HORTAS URBANASEm Lisboa e em Berlim, a cidade veste-se de verde.

36 DESIGN GUIDE: CATARINA CARREIRASCidades criativas com um olhar de insider.

Nova Iorque é a estreia.

WW

W.B

LU

E.C

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.PT

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42 E N T R E V I S T A : J A S O N M I L L E RA beleza das coisas imperfeitas segundo o independente

do design americano.

50 DESIGN GURU: HELLA JONGERIUSRetrato ilustrado da grande dame do design Holandês.

60 F O C O : I L U S T R A Ç Ã O N A C I O N A LO regresso do livro-objecto made in Portugal.

88 C U L T O : C I N E C L U B E D A M A I AA tradição cinéfila ainda é o que era.

90 S P O T : S O L E P E S C ANum lugar contemporâneo, o sabor conserva-se.

94 L I V R O SPara folhear o design.

95 E X P O S I Ç Õ E SA arte que vem.

96 M O R A D A SProcure e encontre.

98 N O T E B O O K E R I AIlustração em agenda.

CRIAR

VIVER

68 T H E C O I L I N G C O L L E C T I O NO estúdio Raw Edges mistura lã e silicone.

72 P E T I T H B Y H E R M È SO luxo também se recicla.

76 A R T E C N I C AO design consciente e socialmente responsável da editora

de Los Angeles.

84 W H A T Y O U S E E I S N O TNem tudo o que parece é neste projecto de Fernando Brízio

para a droog design.

86 C O L L E G I E N B R É T I L L O TAs meias vestem a casa.

PROJECTAR

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Edições6

6 X 3,95€ = 23,7€ POUPE 3,70€

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Edições12

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JMTOSCANO LDA; Rua Rodrigues Sampaio N.º 5; 2795-175 Linda-a-Velha. Todos os preços incluem portes de correio.

Cheque à ordem de: JMTOSCANO-Comunicação e Marketing LdaTransferência Bancária: N IB 0 0 4 5 4 0 6 0 4 0 1 0 2 9 72073 1 9 , da Caixa Crédito Agricola

CONTACTOS PARA ASSINATURAS: Tel.: 214 142 909; Fax: 214 142 951; E-mail: [email protected]

O seu comentário é fundamental para melhorarmos a blue Design a cada edição. Assim, criámos este e-mail para que nos possa apontar todos os defeitos que for encontrando na sua revista. Muito obrigado! [email protected]

A F O R M A S E G U E A E M O Ç Ã O

BLUE MEDIA Rua Vera Lagoa, n º 12, 1649 - 012 Lisboa, Tel.: 217 203 340 | Fax geral: 217 203 349 | Contribuinte nº 508 420 237

DIRECTOR GERAL Paulo Ferreira | DIRECTORAMadalena Galamba, [email protected]

DIRECTOR DE ARTE E PROJECTO GRÁFICO BLUE DESIGN Pedro Antunes, [email protected]

COLABORAM NESTA EDIÇÃO Ricardo Polónio (Fotógrafo) | Susana Alcântara (Arte) | Nuno Miguel Dias, [email protected], Gui Abreu de Lima, [email protected] (Textos)

DIRECÇÃO COMERCIAL Paulo Ferreira, [email protected]

PRÉ-IMPRESSÃONuno Barbosa, [email protected] | DISTRIBUIÇÃO Logista | IMPRESSÃO União Europeia

DEPÓSITO LEGAL 257664/07; Registado no E.R.C. 125205 | PROPRIEDADE: MBC Lazer, S.A.

{ I N T ERD I TA A R E PRODUÇÃO D E T E X TOS E I MAGENS POR QUA I SQUER ME I O S }

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INSPIRAR

BRAND NEWS

TYPE BIBLE

HORTAS URBANAS

TREE HOTEL

PLANO B

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R U C H É , D E I N G A S E M P É P A R A A L I G N E R O S E T

Segunda VoltaDEPOIS DO SUCESSO da linha de sofás Ruché, a designer francesa Inga Sempé traz-nos uma sequela

igualmente cativante: as camas e mesinhas de apoio que reproduzem a mesma filosofia. Uma estrutura

simples de madeira de faia é coberta com uma manta levemente almofadada, e o efeito, leve e acolhedor,

está criado. Nas camas, as combinações de cores (azul céu/madeira natural e cinza/encarnado) estão

particularmente conseguidas. As mesas, em vários tamanhos e formatos, têm um cesto de pele na base,

que pode servir para guardar tudo, de revistas a mantas, dependendo se as queremos ao lado do sofá ou

da cama. Talvez o total look (sofá+cama+mesa) seja exagerado mas Ruché não deixa de ser uma colecção

extremamente atractiva. E, neste caso, o sucesso comercial vem acompanhado de boas críticas.

www.ingasempe.fr MG

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F L O W E R P A P E R , D E S A N D R A B A U T I S T A P A R A A I N T U N U B E

Notícias FrescasFAÇA CHUVA OU FAÇA SOL, flores novas todos os dias, com a regularidade e a novidade de um jornal

diário. Como as notícias, estas flores (de papel) são sempre frescas. A ideia é da designer Sandra Bautista que

ideou este Flower Paper, um jornal ilustrado com 32 magníficas fotografias de flores solitárias. O método é fácil:

escolhe-se a flor, põe-se na capa, enrola-se o jornal e põe-se num jarro. Depois é só olhar. E fruir. Hortênsias,

Rosas, Margaridas ou Yoko Onos (sim, o nome existe e são verdes) à mão de semear. Não precisam de água.

Estão sempre maravilhosas. Resistem ao calor. Só não têm perfume, mas inspiram, e a imaginação fará o resto.

Em Lisboa, estão à venda na Fabrica Features. www.intunube.com MG

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T H E C O P E N H A G E N W H E E L P R O J E C T ,P A R A U M A F R E G U E S I A D E C O P E N H A G A

Sentidoe Sustentabilidade

É UMA RODA DE BICICLETA INTELIGENTE, um híbrido entre a pedalada natural

e poder da electricidade. A Copenhagen Wheel acopla-se à bicicleta e vai armazenando a energia

que produzimos, ao pedalar e travar, para depois a usar (em modo eléctrico) quando precisamos de

um empurrãozinho. Mas não é tudo. À medida que pedalamos, a roda Copenhagen vai recolhendo

informação sobre a nossa performance (que esforço estamos a fazer, quantas calorias estamos a

queimar), ao mesmo tempo que os sensores incorporados captam informação sobre o ambiente:

níveis de monóxido de carbono, trânsito, ruído, temperatura e níveis de humidade. Toda esta

informação é reunida numa aplicação no Smart Phone, o que nos permite escolher a melhor rota

e ainda partilhar a informação que vamos recolhendo com os outros ciclistas urbanos ligados.

O projecto, desenvolvido pelo SENSEable City Lab do MIT, para uma freguesia de Copenhaga será

lançado em Junho. http://senseable.mit.edu/copenhagenwheel/ MG

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I E T A G ,Y U R E N A R U S E E J U N I N O K U M A

ConstrutivoPARTINDO DE UMA FORMA ARQUETIPAL e usando um material reciclado (a madeira utilizada nas obras

como suporte da construção, e que, finalizado o edifício, se transforma em lixo) os japoneses Yure Naruse e Jun

Inokuma criam uma paisagem doméstica com memória. A madeira, transformada em papel, é regenerada,

e ao mesmo tempo retém, na forma que permanece, a história do que foi. Cada casa é um bloco de etiquetas

autocolantes de papel que servem para marcar livros e documentos, mas é também a evocação do momento

da construção. Assim, nada se perde, tudo se transforma, e de casa em casa, compõe-se uma cidade verde,

para alinhar, como o perfil de uma povoação, em cima da secretária.

www.narukuma.com MG

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A C A D E M I A D E A R T E U N I Q A ,D E L T A Q

Cápsula Criativa O NAMORO ENTRE as máquinas de café de cápsulas e a produção gráfica e artística

está na moda, e a Delta Q não é excepção. Mas fazê-lo com tanta inspiração e arrojo já

não é tão comum. Com o projecto Academia de Arte úniQa, um espaço vibrante e cheio

de onda, que durante o mês de Fevereiro serviu de plataforma criativa para os jovens

artistas nacionais mostrarem o seu talento, a Delta Q mostrou como o universo do café

pode ser inspirador. No coração do Bairro Alto, a galeria temporária expunha as peças

criadas pelos artistas da agência Who, no último Natal: alinhadas nas paredes,

as máquinas Delta Q Qosmo personalizadas pelos ilustradores não deixavam ninguém

indiferente. Para além da mostra Q, os visitantes do espaço podiam assistir ao vivo

à customização das máquinas, levada a cabo pelos artistas da Academia, e participar no

intenso programa de actividades, que incluía workshops de desenho, duelos de produção

artística entre criadores (Ilustra Battles) e acções apaixonadas, como a convocada para

o Dia dos Namorados, onde os casais especialmente criativos tinham carta branca para

fazer uma declaração de amor pública, e gráfica. Pela Academia de Arte úniQa, entre

tertúlias e intervenções gráficas (o mural, feito ao vivo, é um prodígio) passaram artistas,

mas também estudantes de design, ilustração e Belas Artes à procura do lado mais

criativo e estimulante do café. www.mydeltaq.com MG

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L O S A N G E S D E R O N A N & E R W A N B O U R O U L L E C , P A R A A N A N I M A R Q U I N A

Kilim Geométrico“SEMPRE NOS SENTIMOS fascinados pelos tapetes Persas tradicionais, especialmente pela técnica ancestral

do kilim que é uma mistura delicada entre o rústico e o fino”, explicam Ronan & Erwan Bouroullec a propósito

do seu novo projecto para a marca espanhola Nani Marquina. Feito à mão no norte do Paquistão, cada tapete

Losanges é único, porque a lã afegã é fiada manualmente, dando origem a combinações cromáticas “subtilmente

aleatórias”. São 13 cores e um bonito perfil recortado que reproduz a forma geométrica do losango (que também

vibra, em diferentes tamanhos e tons, na superfície do tapete). Os manos Bouroullec em grande forma, mais uma

vez a reinterpretar um clássico, ainda que distante, e a torná-lo incrivelmente próximo. www.bouroullec.com MG

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CONCEBER uma habitação unifamiliar de construção sustentável e de baixo

custo para a capital de Angola, foi o repto do concurso A House in Luanda:

Patio and Pavillon, lançado pela 2ª Trienal de Arquitectura de Lisboa, em

parceria com a Trienal de Luanda. Os 30 projectos em competição foram vistos

no Museu da Electricidade e o júri elegeu vencedor o projecto português da

equipa coordenada por Pedro Sousa, composta pelos arquitectos Tiago

Ferreira, Madalena Madureira, Tiago Coelho e Bárbara Silva. Na lógica da

sustentabilidade, da execução por etapas, passíveis de realizar pelos

moradores, trata-se de uma casa em taipa – sistema rudimentar de construção

de paredes que consiste em comprimir a terra às camadas em moldes de

madeira – com interessante planta, que lança um corredor central ligado a seis

pátios e aos espaços destinados às diversas funções da casa. Fica, assim,

assegurada a comunicação permanente do interior com o exterior,

e a privacidade dos membros da família.

www.trienaldelisboa.com | www.tma.pt GAL

brand new :: arquitectura

A H O U S E I N L U A N D A : P A T I O A N D P A V I L L O N , P A R A A T R I E N A L D E A R Q U I T E C T U R A D E L I S B O A

A Luanda,com saudade

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??????????? :: ?????????arquitectura :: brand new

O NOVO EDIFÍCIO que expande o Oceanário de Lisboa, projectado pelo arquitecto Pedro Campos Costa em

parceria com a especialista de aquários Coutant, está a vestir-se, e a fatiota foi talhada pela Cumella. A reputada

fábrica de cerâmica catalã de Toni Cumella, foi escolhida para elaborar o revestimento, que terá a cor branca

a três tons, num total de 4000 “escamas” opacas e 800 de gelosia, reservadas à área de fachada perfurada,

concebida para a entrada de luz. A montagem conta com a supervisão assídua de Toni Cumella e as peças serão

colocadas de forma aleatória, a pressagiar um resultado surpresa. O rigor aconteceu na produção, com critérios

de proporção na cor, mas agora é o acaso que vai ditar o ritmo da desordem. Ansiosos pois, sabemos que

o melhor spot para gozar a obra do galardoado Cumella é o restaurante. Vista para o Tejo, 400m2 luminosos

e menus saudáveis de raiz mediterrânica. A descobrir nos últimos suspiros de Março. www.cumella.net GAL

C E R Â M I C A C U M E L L A , G R E S P E R A L ’ A R Q U I T E C T U R AP A R A O O C E A N Á R I O D E L I S B O A

O canto da sereia

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É o homem de quem todos falam. Um falatório por vezes indistinto,

por causa da água na boca. Afinal, Ljubo tem a mão em duas das melhores cozinhas lisboetas, o 100

Maneiras e o homónimo Bistro. Mas há toda uma vida fora delas. É aí que entram todos estes objectos.

Ljubo gosta destas coisas. Vai poder falar sobre outros assuntos que não a cozinha, onde passa a maior

parte do seu tempo, e receitas que cria ou reinterpreta. Foi por isso que lhe coube a inauguração desta

rubrica. Quando chegámos ao Bistro, à hora do almoço (um horário estrategicamente planeado

para aproveitar a hospitalidade jugoslava, que assoma sempre na forma de um inevitável “Queres comer

alguma coisa?”, shame on me), Ljubo estava numa reunião com os sócios (à mesa, claro). Mudava-se,

naquele momento, uma ementa na qual eu não ousaria tocar, festejava-se a chegada

de outro vinho da sua criação e experimentava-se um prato novo. Provei destes últimos e lancei-me

ao trabalho. Sobre o chão de ardósia do 100 Maneiras Bistro, jaziam retalhos da vida

de um Chef jugoslavo sem o qual Lisboa já não consegue viver. e

LJUBOMIR STANISICA S C O I S A S D E L E S

1. Bola de Basquete | Jogador desde os nove anos,

passou pelas equipas Sarajevo e Partisan. Em Portugal,

chegou a disputar, pelos Estrelas de Lisboa, um lugar

na Liga Inatel. Ainda hoje segue as competições mais

importantes e, como bom jugoslavo que é (quem não

se lembra do Vlad Divac ou do Drasdan Petrovic),

brilham-lhe os olhos quando relembra as derrotas

inflingidas aos E.U.A. em duas olimpíadas seguidas (Los

Angeles 84 e Seul 88). Por cá, costuma “bater bolas”, mas

a impopularidade do desporto que considera rei leva

a que os seus adversários sejam vexados (como o próprio

cunhado, que na última partida perdeu por 30-4).

2. Os seus vinhos | Não falamos da sua selecção. São

mesmo os que FEZ, com a ajuda de alguns dos melhores

enólogos da praça. Solar dos Lobos by Ljubomir (branco

e tinto), o elegantíssimo Lhubinho e o novíssimo e já

imperdível LHU BAV (ou LHUBÃO). Aos outros, desde

que bons, gosta de degustá-los com demora, de apreciar

cada pormenor. Não concebe boa comida sem eles.

Um gourmand, pois.

3. MOJ KUVAR | Ou “O Meu Livro de Receitas”.

É uma obra de 1825 de e sobre cozinha tradicional

jugoslava que considera uma bíblia. Foi, provavelmente,

o livro que mais folheou na vida (embora leia tanto

que não vê, sequer, TV) e ainda hoje retira das gastas

páginas ideias valorosas, que acabam sempre por

se provarem excelentes.

4. Navalha | Ljubo não é Alentejano mas parece.

Instrumento de trabalho, talher e fiel amiga na pesca

dos tempos livres, a navalha está sempre ao seu alcance.

Porque nunca se sabe quando e de onde pode aparecer

um queijo de cabra bem curado e salgado.

Como deve ser, portanto.

5. Relógio Snyper | Não é um objecto muito conhecido

em Portugal, mas é um instrumento de precisão

de fabrico suíço que, para um correcto desempenho

da sua profissão (os tempos de forno ou cozedura a vácuo

podem ser quase medidos em milésimas), precisa

de ter ao pulso. Mas não o tira nos tempos livres.

Não que precise de ver as horas. Só porque sim...

6. Discos | Não conseguiria viver sem música.

Tem a “escola” dos Blues e Gospel mas, hoje, é a música

electrónica que o faz vibrar. O gira-discos é essencial

em casa e considera-se, a esse nível, antiquado.

7. Cadeira Barcelona | Um ícone do design mundial

e uma presença obrigatória em sua casa.

Não há outro sofá ou similar que proporcione a mesma

relação conforto/beleza.

8. Piaggio Vespa | O melhor meio de transporte

do mundo, “e chega. Não escrevas mais nada”, pede-me.

Mas eu tenho que referir que a preferência recai sobre

a 150 Sprint dos anos 60 e 70. Peço desculpa, Ljubo.

9. The Man | Ljubomir Stanisic nasceu na Jugoslávia

não interessa há quantos anos. Interessa, isso sim,

há quantos anda nisto da Alta Cozinha. Há muitos.

E há quantos trocou o seu país pela Lisboa por quem

se enamorou? Há alguns. Foi por isso que lhe ofereceu

dois dos melhores restaurantes do momento.

Toda a Europa (e o Tripadvisor.com) o sabe. e

TEXTO E FOTOGRAFIA N U N O M I G U E L D I A S

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PAUL FELTON Porque para quebrar as regras temos de as conhecer. Um guia para paginadores

modernos feito bíblia do design gráfico. Para saber, precisamente, onde e como pecar

da melhor maneira. E que bem que sabe.

TEXTO E FOTOS N U N O M I G U E L D I A S

OS “DEZ MANDAMENTOS DA TIPOGRAFIA”

ou “Heresia na Impressão”, se virarmos o livro

horizontalmente (e numa tradução absolutamente livre

que, por acaso, não existe para português) é, antes de

mais, um apontamento humorístico. 80 páginas que ora

expõem os mandamentos que comandam a mais

convencional forma de paginar o lettering, seja qual for

o suporte (livros, revistas, artes gráficas em geral),

ora apelam ao derrube de todas as barreiras para que

se possa inovar e surpreender de uma forma mais

desafiadora, ou herética, dependendo da forma como

incidimos o nosso olhar sobre o livro

(ou de que lado o abrimos).

Primeiro, aprender os cânones que “regularizam”, desde

Gutenberg, a mais convencional forma de dispor os

caracteres sobre uma página em branco. Depois, e com

o devido conhecimento de causa, perverter tudo em

nome de uma contemporaneidade que cabe a cada um

de nós. No que toca ao design, afinal, tudo vale,

desde que envolva paixão.

Paul Feldon sugere, expondo dez regras como

mandamentos, que as mesmas sejam quebradas,

ilustrando como fazê-lo, num registo humorístico que dá

vontade de ler, partilhar e, pois, seguir religiosamente!

Como petiz que aprendeu, na escola, a cartilha da

paginação de texto e, agora, qual revolucionário lutando

contra o sistema que o agrilhoou durante décadas,

apregoa a mudança, o autor opta por um “golpe” de

mestre: um livro que é, tanto pelo que encerra como

pelo que sugere, à primeira vista, ser, uma obra de arte

gráfica ele próprio. Este livro não é um guia e a sua

repetida consulta só se poderá levar a cabo porque

convém, aos profissionais da área, lembrar que estes

não são tempos de nos rendermos ao convencional.

Num tempo em que se questiona (mais em Portugal do

que em qualquer outro centro de produção de conteúdos

de valor), se o papel, como suporte, tem algum futuro,

quem realmente sabe responde com publicações

verdadeiramente inovadoras e que ultrapassam, em

contemporaneidade, qualquer produção milionária

destinada ao iPad, gritando palavras de ordem que

suplantam modas ou tendências efémeras. Paul Felton

dedica, neste que é, à partida, um objecto de culto

conseguido de forma engenhosamente criativa, um

“lado” aos “mandamentos” do ordeiro alinhamento do

texto em página, apelando à doutrina da legibilidade e

às regras da correcta capitalização, entre outros e, no

final deste, que é, afinal, o início do outro, à sacrílega

subversão dessas regras, apresentando alternativas.

Suportando quaisquer argumentos contra ou a favor,

Felton inclui tanto uma lista de “discípulos” cumpridores

internacionalmente reconhecidos (Eric Gill, Jan

Tschichold e Erik Spiekermann) como “Anjos Caídos”,

os “gurus” do experimentalismo do design gráfico como

sejam David Carson, Jeffery Keedy, Phil Baines

e Jonathan Barnbrook.

De entra as várias conclusões que poderão ser retiradas

desta obra, uma soa como um mantra: “Seguir fielmente

as regras é a forma mais fácil de fazer o trabalho”.

E, se para bom entendedor, meia palavra basta,

esperemos que uma frase inteira chegue para que,

no mínimo, uma revolução, esteja em curso. e

THE TEN COMMANDMENTS OF TYPOGRAPHY | TYPE HERESY

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VIDA DE ESQUILO

A inspiração surgiu do documentário de Jonas Selberg Augustsen, Tree Lovers,

que conta a história de três homens urbanos que constroem uma casa de madeira.

Um filme que reflecte sobre o significado histórico-cultural da “árvore” na vida da Humanidade.

Se o projecto excitou arquitectos e designers, imagine-se o que é passar uns dias no Tree Hotel.

TEXTO G U I A B R E U D E L I M A | FOTOS T R E E H O T E L

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Page 25: blue design 01

UMA VILA NO TOPO DO MUNDO,

um vale, um rio, um hotel. A uma hora da cidade

sueca de Luleå, a pacata povoação de Harads

tem casas que convidam à mais transcendente

experiência. Ficam na floresta, brotam

dos troncos dos pinheiros, confundem-se com

eles ou destacam-se plenamente, e acolhem-nos

com o seu aroma a pinho e o irresistível charme

irreverente do design contemporâneo. Viver

no bosque, acordar ao ritmo do seu despertar,

sentir o movimento da natureza, a sua música

e as suas cores, é uma estadia inspiradora,

divertida e única, seja verão ou inverno. Não será

para todos, mas existe, e tem um propósito

de elevado valor. O já badalado Tree Hotel

de Harads, nasceu para louvar um dos tesouros

mais valiosos do planeta e do país a que pertence

– as árvores.

Todas as casas são diferentes. Do cubo de vidro

que reflecte a paisagem, ao quase genuíno ninho

gigante ou, em alto contraste, o futurista UBO,

que parece uma nave espacial acabada de aterrar,

todas elas desafiaram a criatividade aos

arquitectos que, com muita madeira e vidro q.b.,

conseguiram tornar mágico este pedaço

de bosque escandinavo. Foram vários os ateliers

envolvidos e a eles se juntaram outros

profissionais e marcas, criando sinergias

de cooperação com o objectivo de tornar

a actividade do sui generis hotel sustentável

e a sua filosofia coerente. Os produtos da região,

a comida local, a qualidade do design sueco

a reforçar, nos têxteis, nas loiças, nas luzes,

na tecnologia, o ambiente familiar da guest house

Brittas, ponto de recepção e mesa de refeições,

as actividades outdoor, a certeza de dias de paz

em comunhão com a natureza, todos contribuem

para esta novidade com que a Suécia mais

uma vez surpreende e se destaca. Um cenário,

mil méritos para aplaudir, uma cultura

com contornos imperdíveis para conhecer.e

www.treehotel.se

THE MIRRORCUBE

Na página da esquerda,

o projecto do atelier

Tham & Videgård Arkitekter

(www.tvark.se). A estrutura

de alumínio com 4x4x4 metros

suporta paredes de vidro que

reflectem a envolvente

paisagística. Acessível por pontes

suspensas, evita eventuais

colisões de aves através de cores

ultravioletas transparentes

no interior dos painéis de vidro.

spot :: tree hotel

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design :: perfil

Marcela Brunken

A designer Marcela Brunken é o rosto e a alma da Fabrico Infinito, a concept store que se tornou um símbolo da novamovida do Príncipe Real. Para Brunken, a loja, como a vida, é um work in progress apaixonante.TEXTO: MADALENA GALAMBA FOTOGRAFIA: R ICARDO POLÓNIO

INSPIRAÇÃO INFINITA

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“COSTUMAM DIZER-ME que não só reciclo coisas, que reciclo

pessoas”, conta Marcela Brunken, a designer brasileira fundadora

da Fabrico Infinito, a concept store da Rua D. Pedro V que, há três anos,

maravilha os lisboetas com criações originais de artistas e designers

vindos dos quatro cantos do mundo. O seu trabalho divide-se entre a vida

da loja, a criação de projectos próprios, e a procura de novos talentos, que

abraça, como uma madrinha quase maternal, no espaço que pôs de pé.

“Procuro a criatividade, a diferença. Além do produto, muitas vezes

envolvo-me com as pessoas.”, explica Brunken. “Há pessoas que têm

vidas complicadas e não se apercebem do potencial que têm. Trabalho

com os designers e ajudo-os a desenvolver o seu potencial.

Fazem coisas belíssimas.”

Para Marcela Brunken (Espírito Santo, 1968) a reciclagem é muito mais

que uma tendência. Está-lhe no sangue, faz parte dela. “O lado ecológico

dos objectos... é ali que eu me derreto”, confessa Brunken.

A frase “o verde é bom e bonito”, parece ter sido feita para ela.

“Queria fazer um espaço criativo focado na ecologia” explica Brunken,

que estudou design gráfico no Rio de Janeiro antes de viajar, durante

um ano, pela Europa, até se fixar em Munique. “No Brasil, fui voluntária

da Greenpeace. O meu projecto de fim de curso envolvia lixo reciclado,

e foi feito para eles. Já na Alemanha, fiquei vidrada com

o desenvolvimento ecológico do país.” Um dos seus mais recentes

projectos, um banco ainda sem nome, transforma garrafas de plástico

cheias de água com gás num assento confortável e versátil. Ainda está

em fase de protótipo e precisa de afinações (por exemplo, perceber como

encher as garrafas de gás e até misturar pigmentos para que tenham cor),

mas já tem despertado muita curiosidade.

Para além dos objectos e das pessoas que estão por trás deles, Brunken

recicla espaços. A Fabrico Infinito, eleita a 17ª tendência do mundo pelo

site coolhunter (ao lado de computadores, gadgets, e roupa de designers),

começou por ser uma casa decrépita habitada por ratazanas. Hoje, é um

paraíso para quem procura inspiração ou quer introduzir uma boa dose

de poesia à sua volta. “Encontrei um espaço abandonado mas percebi

que era perfeito para o meu projecto. A rua não tinha o movimento que

tem hoje e praticamente só havia antiquários. Havia o Maurício das flores

(Em nome da Rosa) e a (charcutaria) Moy. Mais nada.”

Agora, é quase impossível encontrar um espaço disponível na Rua D.

Pedro V, citada pelo The New York Times como uma das artérias mais

trendy de Lisboa, graças ao impulso de Marcela.

Na loja, Marcela Brunken encontrou o cenário perfeito para mostrar

as suas criações e as preciosidades que a deslumbram por esse mundo

fora. A Fabrico Infinito ficou conhecida pelas suas montras,

tão surpreendentes e inesperadas quanto o seu interior (e o maravilhoso

e soalheiro jardim nas traseiras), povoado de objectos cheios de vida

e de histórias. Podemos encontrar as jóias maravilhosas de Mana

Bernardes, as últimas criações de Jorge Moita, os headphones búzio

de Joana Astolfi, candeeiros vintage, peças de roupa de autor

(por exemplo em PackLight, a Pop Up Shop, de Kalaf Ângelo e Armando

Cabral, e, em breve, a colecção de Bono Voxx), e um sem fim de peças

únicas e memoráveis. “Eu sei que se tivesse produtos de catálogo,

de produção industrial, seria muito mais rentável”, desabafa Marcela

Brunken. Felizmente para nós, não foi esse o caminho que escolheu.

Assim, podemos sentar-nos numa cadeira fantasma, como a Ghost of

a Chair (design de Valentina Gonzalez Wholers) e quase flutuar,

percebendo que a verdadeira beleza está nas coisas invisíveis. e

www.fabricoinfinito.wordpress.com

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design :: perfil

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São três arquitectos portugueses. Eduardo Carvalho, Francisco Freire e Luís Gama. Colheitas de 74 e 75, trazem os ventos da revolução ao século XXI, com a sua marca registada em 2002, a que chamaram Plano B arquitectura.TEXTO: GUI ABREU DE L IMA FOTOGRAFIA: PLANO B

ALTOS PLANOS

Plano B arquitectura

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design :: perfil

“PLANO B” é sempre uma expressão de esperança, porque é uma

alternativa. E as alternativas calham às vezes melhores que os projectos

iniciais. Retórica à parte, interessa o que os jovens arquitectos andam

a congeminar por esta terra. É terra mesmo, desde que o Eduardo conheceu,

em 2001, numa conferência em Berlim, um senhor do Novo México

que lhe sugeriu receber formação em adobe, nos Estados Unidos. Depois,

foi só contagiar os condiscípulos e aproveitar o desejo de alguém muito

próximo que queria uma casa “plano B”, que é o mesmo que dizer, uma

edificação em que o material de excelência é a terra. Em taipa, em adobe,

em todas as variantes possíveis. E até agora, inúmeros são os exemplos

já erguidos aos céus, aqui e ali, para habitação ou como soluções

em explorações agrícolas e industriais. Como a Casa do Garrano, em Ourém,

ou os Apoios nas Salinas do Samouco, ou o coberto Colunas de Terra,

na Benedita, para a Quinta Pedagógica da Barafunda, levantada em modo

de workshop e com mão-de-obra voluntária. A sustentabilidade no coração?

Sem dúvida, mas na voz dos três arquitectos, com sérios contornos

de sensatez. Para eles, essa filosofia tem de ser bem entendida. Que não

descarte matéria-prima de outra natureza, que não se feche num purismo

enganador. Porque afinal ser ecológico e andar de carro, ser sustentável

mas cobiçar o lucro, é ter dois galos no mesmo poleiro. Então, o Plano B

arquitectura, o que faz, é apartar-se dessa guerra ideológica e honestamente

assumir todas as possibilidades. Incorporando materiais industriais a uma

estrutura o mais natural possível. O esqueleto é uma gaiola pombalina,

as paredes, preenchidas de terra compactada, mas uma rampa de acesso

pode ser pavimentada em alcatrão, as fachadas revestidas de membranas

de plástico, e a cobertura engalanar-se de painéis fotovoltaicos...

Da indústria, chegam mil opções “de uma beleza singular”, garantem.

Na prática, todos “resultam da composição de várias substâncias,

por processos químicos, físicos ou outros, seja vidro, cimento, até mesmo

madeira laminada ou terra estabilizada.” Importa-lhes “utilizar materiais

naturais como elemento estrutural”, até porque a durabilidade

é, obviamente, um valor acrescido. E enquanto sabemos que há casas

de terra com 10 mil anos, estamos a ser confrontados com a incógnita

da validade do betão.

Para o Plano B, as casas também têm coração. E como nas pessoas,

ele faz toda a diferença. Quanto mais puro, melhor. e

www.alejandroaravena.com

CASA EM ARRUDA DOS VINHOS, 2008

“Utilizar madeira, terra ou palha em simultâneo com asfalto, aço ou betão, permite-nos

reflectir sobre aspectos éticos, sociais, políticos e económicos da arquitectura num

contexto industrializado. Porém, une-nos sobretudo o interesse pela arquitectura de

terra, a procura de novas soluções, a vontade de a recriar hoje”. Plano B

EDUARDO

FRANCISCO

LUIS

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Tendências :: agricultura urbana

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a assegurar a justa distribuição de talhões. A adesão é total

e as pequenas hortas urbanas representam uma

contribuição preciosa à subsistência

de tantas famílias que viram a paz dos dias desmoronar-se

com a crise e o desemprego. Mas nem todas as hortas

urbanas se fazem através da Lipor. Uma breve pesquisa

na internet basta para ver exemplos similares, fruto

da vontade de cidadãos anónimos, que transformaram

terrenos abandonados, públicos ou privados,

e invariavelmente depósitos de lixo, em hortas onde

crescem as mais inesperadas culturas. Investigam,

procuram informação, adoptam técnicas da agricultura em

modo biológico e até da Permacultura, procuram sementes

não manipuladas e autóctones, espécies regionais, fertilizam

com composto orgânico, aproveitando o lixo doméstico, e

conhecem os truques para afastar pragas e doenças típicas.

Há anos que a Calçada do Monte, entre a Graça e a

Mouraria, via o seu pequeno espaço verde, miradouro

da cidade, repleto de dejectos caninos, entulho de obras, lixo

de toda a espécie. Até chegar um grupo de jovens que, após

um encontro sobre hortas urbanas, no Centro Social

da Mouraria, promovido pelo Gaia - Grupo de Acção

e Intervenção Ambiental, e com o seu apoio inicial, lhe deu

um fim mais digno. Nasceu a Horta do Monte, que hoje

AS HORTAS URBANAS GANHAM CORPO

em muitos lugares do Planeta e em Portugal também.

Juntam gente de todas as idades, profissões, raças

e credos. Nacionais, estrangeiros, pessoas do bairro

ou vindas de outras freguesias e concelhos. Adultos

e crianças, reformados, saudosos de um passado rural

ou citadinos de gema que, entusiasmados, embarcam

na aventura de cultivar a terra. Para uns é terapia, para

outros, puro prazer. Comer o que se planta e viu crescer,

é um gozo desmedido. E o sabor de produtos livres

de químicos e saudáveis é uma nova sensação.

Uma horta na cidade é hoje símbolo e parte da estratégia de

defesa da Terra. Um universo onde as boas práticas

se encontram, a sustentabilidade se implanta

e a consciência ecológica ganha asas. É o homem

em diálogo com a Natureza, aprendendo lições para uma

vida que exige respeito pelo meio ambiente.

A Lisboa, Coimbra, Porto, Maia, juntam-se já outros

municípios, através do projecto gerido pela Lipor (empresa

de gestão resíduos sólidos urbanos), a entidade que em

articulação com as autarquias, procura disponibilizar terra

a quem a queira cultivar, emparcelando-a, dando formação

básica para que certas regras de cultivo sejam mantidas,

e abrindo inscrições sob critérios simples, de forma

HORTA DO MONTE

Entre a Graça e a Mouraria,

com vista sobre a cidade

”UMA HORTA NA CIDADE É HOJE SÍMBOLO E PARTE da estratégia de defesa da Terra.

Um universo onde as ‘boas práticas’

se encontram, a sustentabilidade

se implanta e a consciência ecológica

ganha asas.”

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Acelgas, alfaces, espinafres, flores comestíveis, rúcula,

beterraba, cenoura, canónigos, alhos, urtigas...” (?!) “São

óptimas na sopa”, garante. Todos os dias, saladas e caldos

com aromas e sabores genuínos. “O que se vende

no supermercado é uma fraude.” À chegada, as pessoas têm

muito que aprender. Há os que insistem nos químicos,

os que não podem ver uma erva daninha, ávidos de capinar

e deixando à mercê do frio, do vento ou do sol, plantas

que estavam protegidas pela vegetação espontânea.

Os mais velhos são mais ciosos das suas parcelas,

desconfiam dos granjeios alheios.

Mas tudo se conversa, o respeito acaba por reinar

e a amizade constrói-se. Nas idas à horta, as crianças

brincam por ali, são curiosas e aprendem por tabela.

Em Julho, o piquenique foi uma festa profícua. Agora,

a primavera anuncia-se e vai haver muito trabalho para

as culturas de verão. É o tempo de semear, boa época para

conviver, abrir mentalidades e renovar a esperança

de que a Horta do Monte perdure.

MAIS PREVENIDOS foram os mentores de um projecto

em Berlim. O Jardim da Princesa é o orgulho de Kreuzberg.

Numa esquina devoluta da Moritzplatz, dois amigos

aventuraram-se a erguer uma horta urbana. Foi no verão

de 2009. Ano e meio volvido, entre prédios e grafitti, há

uma autêntica tribo de agricultores de altíssima categoria,

a merecer o grau de mestres em arquitectura paisagista

e certificado de sustentabilidade. Aos olhos, é uma obra

de arte, e o espanto da genialidade é que o éden

de Moritzplatz é móvel. Sim, uma horta nómada que, caso

o terreno onde se insere seja vendido, se transfere para outro

lugar. Tudo cresce dentro de caixas, os alfobres em

embalagens tetra pack, as couves em sacos de polietileno.

Ver para crer, soluções de cultivo rigorosamente pensadas,

plantas bem nutridas e catalogadas, em que as espécies

mais sensíveis às condições climatéricas extremas, do verão

ou do inverno, podem ser levadas e resguardas.

Se a velha Berlim industrial negligenciou os espaços verdes,

os habitantes contemporâneos da capital alemã não ´

se coíbem de inverter a tendência. Os dois pioneiros

do Prizessinengarten inspiraram dezenas de famílias

das redondezas a dar alma à empreitada. Vêm tratar

e colher alimentos frescos, confraternizar e relaxar,

provando que se as grandes cidades derem espaço

à Natureza, todos serão mais saudáveis e felizes. e

se vê viva e viçosa, apesar dos golpes de vandalismo

e maldade que sofre de quando em vez. Desde abrirem

as torneiras dos depósitos de água da chuva, a partirem

pequenas árvores, a roubarem plantas, a atirarem lixo

e a deixarem os “presentes” dos seus cães. Doloroso para

todos os que semanal ou diariamente vêm tratar

das plantações e sementeiras ou colher para o jantar.

No bairro há quem olhe com muito agrado para a horta

e há quem ache que aquilo devia ser um jardim com bancos

e flores, que hortas não é coisa de se ter numa cidade.

Há os que esquecem os dias em que aquele pedaço

da Calçada do Monte não passava de lixeira a céu aberto

e os que, convidados a participar, devolvem

um olhar com novo brilho.

Uma manhã fria mas ensolarada de Janeiro, apanhei

o eléctrico, apeei-me na Graça, e segui à horta, pela Rua

Damasceno Monteiro. Pouco depois, chegou a Inês C..

Vive “noutra colina” mas já cá anda há três anos

e é a coordenadora do grupo actual. Sim, porque

os hortelãos vão saindo, vão entrando, vão-se organizando

para os trabalhos e outras acções. Há muitos jovens a fazer

Erasmus que gostam de ter aqui o seu talhão. Quando

regressam a casa, doam a sua terrinha portuguesa a outro

que a estime e cultive. Inês fala-me das pessoas formidáveis

que ali se cruzam. Gente cheia de capacidade de realização,

das mais diversas profissões, interessada em fazer bem

e melhor, que procura seguir os métodos de uma agricultura

sã, que se entrega de coração, que ajuda a resolver

problemas e a trazer soluções. A água, por exemplo, é uma

questão central nas hortas urbanas, quase sempre

indisponível ou de difícil acesso. Aqui, a grande conquista,

além da autorização camarária para manterem o projecto,

foi poderem contar com os Bombeiros que, periodicamente,

vêm encher os depósitos. Ainda assim, o futuro é uma

incógnita. No papel, há uns anos, o local estava destinado

a parque de estacionamento...

Virginie D. é francesa mas vive em Portugal há mais de 15

anos. Mora rente à horta e sempre a catrapiscou. Um dia,

recebeu um mail de uma amiga que findara o Erasmus

em Lisboa, e a convidava a ficar com o seu canteiro lá

da Calçada. Passou quase um ano e a lista de produtos

que colheu nos seus três metros quadrados e na zona

comum, abre o apetite. “A colheita de verão foi maravilhosa.

Mãos à obra!No quintal, na varanda, na marquise ou num projecto comunitário, há semprequem ajude, ensine e partilheexperiências com todo o gosto. Viaje porestes domínios fora e encante-se.

- Conheça as hortashttp://hortadomonte.blogspot.com e http://couvesparatodos.blogspot.com e pouse os olhos no berlinensewww.prinzessinnengarten.net e noamericano www.oneseedchicago.com.

- Fique a saber mais emhttp://trumbuctu.blogspot.com, emhttp://cantinhoverde.blogspot.com, e informe-se sobre as hortas da Liporem www.hortadaformiga.com.

SE PRECISA DE AJUDA. contacte ohttp://abchortasgourmet.wordpress.com

. peça aohttp://jardimehorta.blogspot.com ou

. consulte ohttp://maosahorta.wordpress.com e ohttp://dasementearvore.blogspot.com.

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Page 36: blue design 01

A VIVER EM NOVA IORQUE HÁ OITO MESES,

a designer Catarina Carreiras é o nosso primeiro guia

para conhecer por dentro o lado criativo de algumas

das cidades mais irresistíveis do mundo.

DES GNGU DE

Catarina Carreiras nasceu em 1985, em Lisboa. Licenciada emdesign de comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, é um dos talentos mais promissores do design nacional (três bolsasde mérito da Universidade de Lisboa e duas vezes finalista nacategoria de Design Gráfico do concurso Jovens Criadores). A trabalhar desde 2008 na Fabrica, o centro de pesquisa emcomunicação do grupo Benetton, trocou a pacata vila de Treviso, no norte da Itália, pela selva de betão de Manhattan. OuWilliamsburg, o bairro mais hip e criativo de Brooklyn (and beyond)onde vive num apartamento com vista sobre a cidade. Catarinaarrasa no campo do design gráfico, mas o seu talento e energia sãoigualmente visíveis em projectos de design de espaços e de produto.A trabalhar no estúdio Karlssonwilker, continua a colaborar com aFabrica, como consultora. Entre os seus projectos mais recentes,estão o design da exposição permanente, merchandisinge website do Museum of Moving Image, e a colecção Ornament, para a Vista Alegre, esta última, em conjunto com Sam Baron. www.catarinacarreiras.com

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Porque é que foste para NY?

Vim, literalmente, perder-me. Depois de viver dois anos

em reclusão numa vila pequenina no norte italiano, quis

pôr-me à prova numa escala consideravelmente maior.

Quis perder-me a conhecer, passear, ver, sentir, ouvir

uma cidade tão grande — e tão pequena.

E quando tive a oportunidade de vir trabalhar com os

Karlssonwilker, um estúdio que me intrigava (e muito),

meti-me num avião.

O que é que gostas mais na cidade?

Gosto de viver todos os dias num cliché. Das escalas

grandes e dos detalhes mínimos. Dos extremos. Gosto

de não conhecer ninguém, mas de sentir que podia

conhecer toda a gente. Das ruas, dos jardins, da

arquitectura, do rio. Gosto do flâneur. Da juventude,

do passado recente, das gerações. Gosto de lhe conhecer

segredos — quando há tanta coisa para contar.

Gosto de me afogar no díspar — de pessoas, paisagens,

experiências, contextos, lugares. E de poder

ir do 8 ao 80 — só com um bilhete de metro no bolso.

E o que é que gostas menos?

Não gosto do barulho, da poluição, das filas, das esperas,

do frenesim, da demência, dos desesperados, da

superficialidade, dos iPhones e dos iPads na rua e à mesa,

e de todos os apps que te dizem o que fazer, e onde e como.

Mas, ao mesmo tempo, gosto desta falta de perfeição. Seria

tão aborrecido apagar todas estas coisas dos meus dias.

O que podes dizer-nos

sobre o bairro onde vives?

Gosto muito de cidades grandes, mas venho de uma vila

(quase) pequena, à beira mar, a um pé de Lisboa.

Williamsburg é isso mesmo: sentir-me em casa, à beira

rio, a um pé de Manhattan. E tem uma lista incrível de

histórias por descobrir. São milhares de caças ao tesouro

à volta de casa — como quando era pequenina. Cada

ida ao supermercado é uma cena a la Mary Poppins:

uma wonderland de pessoas, restaurantes, lojas,

galerias, objectos, armazéns de segunda mão, murais

gráficos, mercados vintage, episódios, coisas que

nascem de coisas. De vidas simples, mas desenhadas,

que se desdobram atrás das janelas grandes dos lofts

das fábricas antigas. De uma avenida enorme só com

uma loja, e do facto dessa loja ter mais interesse do que

uma rua cheia delas. Gosto de conhecer os meus

vizinhos, de viver num prédio que tem só três andares,

da skyline de Manhattan no canto da janela.

Em Williamsburg, do meu sofá, as luzes do Empire

dão-me as boas noites todos os dias —

sou uma privilegiada.

Qual a tua maneira favorita

de te deslocares em NY?

A pé. Mesmo com um frio terrível, ou um calor agoniante,

andar a pé em Nova Iorque é sempre a melhor história por

contar. Tento sempre olhar à volta, ver uma vida diferente,

descobrir uma coisa nova, todos dias. E consigo.

Que passeio recomendarias em NY

para estar em contacto com a natureza

mesmo dentro da grande urbe?

A High Line, em Chelsea — um projecto de arquitectura

paisagística e design urbano exemplar.

E claro que um passeio no Central Park será sempre

"um passeio no Central Park". Mas não tem de ser só a

acompanhar a carneirada típica de turistas: pode ser

uma tarde num barco a remos, uma volta de bicicleta,

um piquenique, um concerto ao ar livre, um monte e

um saca-rabos (e com a neve torna-se tudo ainda mais

bonito, surreal). Mas para quem evita seguir o guia,

também o Prospect Park, em Brooklyn, e o seu jardim

botânico, são uma boa opção.

www.thehighline.org

O que é que te inspira em NY?

Os detalhes. É uma cidade que se constrói e que

se entranha em ti nos detalhes. Gosto de me inspirar no

que só conhece quem não veio apenas de visita. De me

perder no Lower East Side, de decorar a Bleecker Street

desde Greenwich Village ao Soho. De passar a ponte de

Brooklyn e aterrar em Dumbo, a espreitar os ateliers que

existem em cada esquina. De vaguear pelo Met e perder-

me nos seus milhares de salas. Continuar a saltar de

museu em museu no Upper East Side e acabar a

descobrir o cheesecake do Eli Zabar no E.A.T. Ou, entrar

em todas as galerias de Chelsea, e acabar a lanchar no

Ace Hotel. Inspira-me ver pessoas a passar. >>>

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”GOSTO DE UMAAVENIDA ENORME SÓ COM UMA LOJA,e do facto dessa loja ter mais interesse

do que uma rua cheia delas.

Gosto de conhecer os meus vizinhos...”

Tentar teimosamente conhecer todas as pequenas e

grandes salas de concertos, teatros, escolas de bailado,

bares de música ao vivo, parlours, e os seus programas

incansáveis de concertos e espectáculos. Roubar um

Village Voice da rua e decidir instantaneamente o que

vou fazer a seguir. Sair de casa de manhã, e só voltar à

noite, quando o plano é passear sem fim. Ah, e tenho

esta aspiração (que me inspira) de um dia conhecer

todas as ruas de downtown, de ir fazendo ziguezagues

no mapa para ter a certeza que nada me vai escapar

antes de deixar Nova Iorque.

www.elizabar.com

www.acehotel.com

www.villagevoice.com

(semanário cultural de distribuição gratuita)

Hora do dia preferida em NY, e porquê?

O pôr-do-sol. É dos mais bonitos que já vi. Pelas cores,

pelo sol a desaparecer nos arranha-céus, pelo que

promete — o encerrar de tudo o que se fez de dia

e a passagem para tudo o que a noite ainda oferece.

Qual o teu restaurante preferido?

Five Leaves, em Greenpoint. Óptimo para panquecas

de ricotta num brunch e para truffle fries

e sea scallops ao jantar.

www.fiveleavesny.com

LOJA DE SEGUNDA MÃO EM WILLIAMSBURG

>>>

>>>

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MUSEUM OF THE MOVING

IMAGE, ASTORIA, QUEENS

HIGH LINE, CHELSEA

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guide :: design

Café ou diner preferido?

Café Colette, em Williamsburg. Um diner versão século

XXI, onde te sentes um local, com as melhores

omeletas do mundo e, no verão, uma keylime

pie de chorar por mais.

www.freewilliamsburg.com/listings/cafe-colette

Cinema preferido?

Museum of the Moving Image, em Astoria, Queens.

O museu reabriu este mês e funciona também como

cinemateca, com um programa de excelência, que pode

ser assistido numa das salas de cinema de arquitectura

surrealista, pelo dedo de Thomas Leeser.

www.movingimage.us

Loja preferida?

Kiosk, no Soho. Uma colecção de objectos tão simples

quanto diferentes, que se compram acompanhados por

uma história. http://kioskkiosk.com

Galeria preferida?

The Future Perfect, em Williamsburg e no Soho. Porque

é um blogue de design ao vivo e a cores.

www.thefutureperfect.com

Museu preferido?

Hum... tenho o coração dividido entre o MAD (Museum

of Art and Design), pela curadoria surpreendente,

e o Met (Metropolitan Museum of Art), pela diversidade:

uma colecção incrível de máscaras tribais da Oceânia

e uma exposição do Baldessari na sala a seguir.

www.madmuseum.org

www.metmuseum.org

Livraria preferida?

Não consigo reduzir a lista a menos de três: Strand, em

East Village (quilómetros e quilómetros de livros novos e

antigos a preços reduzidos), Printed Matter, em Chelsea

(livros de artista e fanzines) e Spoonbill and Sugartown,

em Williamsburg (la créme de la créme da literatura

contemporânea e muitos livros e revistas de arte).

www.strandbooks.com

http://printedmatter.org

www.spoonbillbooks.com

CERÂMICA AMERICANA

NO APARTAMENTO DE CATARINA CARREIRAS

FIVE LEAVES,

WILLIAMSBURG

>>>

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CRIAR

JASON MILLER

HELLA JONGERIUS

ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA

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projecto :: espaço público

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design :: entrevista

JASON MILLER SACODE A POEIRA

Jason Miller tem tanto de santo como de pecador. Ao mesmo tempo que a imprensa o apelida de “santo padroeiro do novo design americano”,

Miller continua a encarnar a figura de cavaleiro solitário. Depois de um percurso imaculado

a celebrar a imperfeição, com projectos independentes na fronteira entre o design e a arte,

Miller decidiu oficializar a coisa. Com a Roll & Hill, empresa que edita luminárias de luxo,

o maverick de Brooklyn parece estar mais atinado.

ENTREVISTA M A D A L E N A G A L A M B AFOTOS M I L L E R S T U D I O

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aquela que, para muitos, foi a melhor exposição

da Experimentadesign 09, onde Miller marcou presença

com os seus objectos com rasto (um deles era uma

cadeira “Papyrus” dos irmãos Bouroullec, devidamente

customisada com pó e dedadas). Miller encarna o “lone

fighter” americano, e os objectos que faz “mostram

a imperfeição como uma afirmação de vida”.

Arranhados, poeirentos, partidos, remendados,

os objectos de Jason Miller estão sempre e inegavelmente

vivos. E na sua imperfeição resplandescente,

desempoeiram-nos a vista e a existência. Nos seus

arranhões carregam histórias e memórias. Tempos

e discursos. Acabam quase sempre num sorriso. Mexem

connosco porque, como Miller escreveu, tornam

“o humano visível”.

O humano, já sabemos, é imperfeito. E é nessa

imperfeição que nos reconhecemos. “Revemo-nos

em cada arranhão”, diz Miller, por isso, a ideia é assumir,

em vez de esconder, essas marcas da história e do tempo,

torná-las completamente visíveis, relevantes.

É isso que acontece em Duct Tape Chair, uma poltrona

remendada que foi capa de revista. É o objecto preferido

de Miller, e encarna a sua obsessão em pôr as feridas

a nu, tornando-as incrivelmente belas. Aqui, a fita adesiva

que encontramos em todas as garagens americanas

(na verdade é uma recriação da fita adesiva, feita de pele)

é cosida ao estofo da cadeira, antes mesmo de precisar

de um remendo. É uma espécie de medalha que se

pendura na cadeira, em reconhecimento da sua (longa)

vida e serviços prestados. Se a imperfeição é bela,

e humana, e real, porquê escondê-la? É a mesma atitude

que vemos em Beautifully Broken, uma série de jarras

de vidro que depois de quebradas, são recompostas,

sem nenhuma ilusão quanto à restituição da sua forma

original, com as cicatrizes bem à vista. Ou em Dusty

NAS RUAS DE BROOKLYN, onde vive, não

o imaginamos a descer do cavalo e a sacudir o pó das

botas, mas é a figura romântica do cowboy solitário

que melhor define o percurso e a atitude de Jason Miller.

Não só porque o seu trabalho é, em grande medida, uma

apropriação/reinvenção da cultura americana

(da natureza inóspita das paisagens do Oeste ao brilho

metálico de uns óculos de aviador), mas também porque

a sua maneira de ver o mundo – e o lugar que o design

nele ocupa – é convictamente contra a corrente.

Sem se preocupar demasiado com o “sustainism”

ou a preocupação do design se tornar sustentável

a partir de dentro, Miller apropria-se dos objectos

correntes, gastos, maltratados, esquecidos, de todos

as segundas escolhas, de todos os irremediáveis, e dá-lhes

um novo fôlego. Transforma os párias em príncipes, torna

os preteridos, preferidos. Está de tal maneira convencido

da beleza das coisas imperfeitas que não espera que

os objectos se degradem para os fazer renascer. Ele

trabalha nas fendas, e provoca-as. Celebra o erro, o lapso,

e o descuido.

Como escreveu Hans Maier-Aichen, que comissariou

BEAUTIFULLY BROKEN (2004)

Uma série de jarras que foram

partidas e depois reconstruídas.

Os cacos celebrados.

”ARRANHADOS,POEIRENTOS,PARTIDOS,REMENDADOS, OS OBJECTOS de Jason Miller estão sempre

e inegavelmente vivos.

E na sua imperfeição resplandescente,

desempoeiram-nos a vista e a existência. ”

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design :: entrevista

TINTS (2009)

Mesas com estrutura de madeira e tampo de vidro colorido.

Uma homenagem aos óculos de aviador “uma peça icónica

do design americano”.

SECONDS (2004)

As “sobras”, os restos, são glorificados nestas peças de porcelana

deslocadas. “Quem disse que um pássaro inteiro é melhor que meio?”

pergunta Miller.

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”ACHO QUE OS DESIGNERS DEVIAM PERGUNTAR-SEPORQUE FAZEM O QUE FAZEM,antes de se porem a pensar

como é que vão resolver determinado

problema formal”

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BLUE

DESIGN

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de partida para o design, também. E é algo que muitas

vezes não é tido em conta nas escolas de design. Acho

que os designers deviam perguntar-se porque fazem o

que fazem, antes de se porem a pensar como é que vão

resolver determinado problema funcional.

O que é que faz os seus projectos não serem

objectos de arte? Há uma grande carga

conceptual neles...

Não são objectos de arte porque lhes chamo objectos de

design. Sei que parece uma resposta escorregadia, mas

acredito que é verdadeira. Há uma grande mistura entre

certas disciplinas, como a arte e o design, por exemplo.

Chega um momento em que temos de decidir de que lado

queremos estar.

Tables, onde o pó que inevitavelmente se agarra às coisas

se transforma numa patine luminosa, intercalada

por dedadas que nos recordam que estivemos ali.

É uma questão de honestidade, mas também

de provocação.

Jason Miller nasceu em 1971, em Nova Iorque. Estudou

arte na Universidade de Indiana e na New York Academy

of Art. Trabalhou como director de arte na agência

de publicidade Ogilvy & Mather, foi assistente de Jeff

Koons e (improvável, mas certo) designer na equipa

de Karim Rashid. Sacudiu o pó e avançou. Fundou o seu

estúdio em 2001 e, em 2008, criou a Roll & Hill,

uma empresa que edita luminárias desenhadas pelo

melhor sangue novo do design norteamericano, de Rich,

Brilliant, Willing a Lindsey Adams Adelman. Em 2007, foi

nomeado “best breaktrough designer” pela revista

Wallpaper e eleito um dos “tastemakers” do ano pela

revista Forbes. A direcção de arte da Roll & Hill (que

produz dois candeeiros de Miller: Superordinate Antler

Lamp, feita a partir de chifres de alce moldados em

cerâmica, e o clusterModo) é compaginada com os

projectos como as novas mesas Tints, uma estrutura de

madeira com um tampo de vidro (colorido: uma lâmina de

plástico ensanduichada entre duas peças de vidro) que

colhe inspiração nos clássicos óculos de aviador

americanos. Outro elemento da cultura americana, os

bisontes nas pastagens do Oeste, é recuperado em Wolly

Chair. Entre o “whatever” e o “leftover” (de pauzinhos de

gelado a peças de porcelana com imperfeições,

recompostas assumindo o pecado original) Jason Miller

desdramatiza a falha, glorifica-a, para nos lembrar que

errar é humano, e é tão bom.

Escolheu estudar arte... mas acabou por se

tornar designer. Como é que este caminho

“alternativo” influenciou o seu trabalho?

Os artistas têm de se perguntar, em última análise,

porque é que fazem o que fazem. Não há nenhuma razão

prática para fazer arte, por isso o artista tem de inventar

um motivo. Este tipo de pensamento é um óptimo ponto

CULTURA MATERIAL

O candeeiro Superordinate Antler

(ao lado) e a mesa I Was Here,

com inscrições de grafitti

retiradas das ruas de Nova

Iorque, são dois exemplos do

talento de Miller para revisitar a

cultura americana em todas as

suas faces.

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que veste. Pode-se extrapolar e dizer que os objectos de

design fazem muito mais do que simplesmente funcionar.

Eles exprimem ideias. Em muitos dos meus projectos,

estou apenas a tentar ver até onde posso levar esta ideia.

Há, no seu trabalho, um fascínio com a

imperfeição, os substitutos, a beleza das

coisas partidas e que não encaixam. Quando

é que descobriu que essa ideia do “whatever”

era tão importante para si?

A perfeição não existe. Tudo é imperfeito. Podemos ficar

extremamente desiludidos com este facto, ou abraçá-lo.

Grande parte do meu trabalho procura ir ainda mais longe

e celebrar a imperfeição. A ideia de “whatever” (o que quer

que seja) é muito semelhante. Tem a ver com confiança.

A confiança dá-nos a capacidade de estarmos bem com

o que quer que seja.

Qual é o papel do humor no seu trabalho?

Não há necessidade de levarmos as coisas tão à séria.

Especialmente o design. Parece-me que é bom

mantermos o sentido de humor sobre aquilo

que fazemos.

Muitos dos seus projectos, e até a maneira

como os comunica, parecem ser uma

reinterpretação do imaginário americano

(“Americana”). É uma atitude intencional?

Parece-me que à medida que o mundo se torna mais

global, a cultura local é cada vez mais importante. Não

acredito que caminhemos para uma cultura internacional

uniformizada (seria muito triste se fosse esse o nosso

caminho). Por isso, tento afirmar a minha cultura no meu

trabalho, torná-la reconhecível. Sou americano, e isso

influencia a minha maneira de ver o mundo. Tento ser

honesto com esse ponto de vista.

Outro tema que reaparece no seu trabalho

é o modo como os objectos contam uma

história, e a própria ideia de memória,

pessoal e colectiva. Pode explicar como

é que isso acontece?

Os objectos de design têm uma função. É a partir deste

prisma que os avaliamos. No entanto, há muitos objectos

de design que têm uma importância muito maior nas

nossas vidas. O mobiliário é um excelente exemplo.

A casa de uma pessoa diz tanto sobre ela como a roupa

Design :: entrevista

DUSTY TABLES (2006)

“É inevitável. As mesas ganham poeira.

Porquê preocupar-se?”. Dusty Table é um

dos projectos seminais de Miller, onde

fixa o desarranjo e o desalinho num

objecto belo.

Na página ao lado, o lustre Modo (2009),

um sistema versátil que permite compôr

diferentes formas e tamanhos a partir das

peças base. Editado pela Roll & Hill.

”A PERFEIÇÃO NÃO EXISTE. TUDO É IMPERFEITO.PODEMOS FICAREXTREMAMENTEdesiludidos com esse facto, ou abraçá-lo.

Grande parte do meu trabalho procura ir

ainda mais longe e celebrar

a imperfeição.”

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design :: entrevista

lugar incrivelmente vibrante, especialmente agora

que Manhattan está cada vez mais homogéneo.

Brooklyn é o coração de Nova Iorque.

Como é que a Roll and Hill, a editora

de iluminação que fundou, começou?

A minha namorada estava à espera do nosso primeiro

filho e decidi que era altura de começar a ganhar

algum dinheiro... Mas estava a produzir duas linhas

de candeeiros no meu estúdio, por isso pensei que era

altura de expandir e comecei a editar peças de outros

designers, e assim nasceu a Roll & Hill.

Qual é o seu projecto favorito até agora?

Duct Tape Chair.

E o projecto de sonho?

Um estádio. e

O que é que espera dos objectos

que desenha quando interagem com

as pessoas?

Simplesmente quero que as pessoas sejam felizes.

Como é que um objecto as faz felizes, depende delas.

A sustentabilidade tornou-se parte do ADN

do “bom design”. Como é que aborda isto no

seu trabalho?

Procuro dar o meu melhor e não me preocupo com

muito mais para além disto.

Foi apelidado de “Santo Padroeiro dos

novos designers Americanos”.

O título fica-lhe bem? Concorda?

Não sou nenhum santo...

Qual é o peso da “design scene” de

Brooklyn no panorama do design

americano contemporâneo?

Eu diria que mais ou menos metade do design actual

dos Estados Unidos vem de Brooklyn. Brooklyn é um

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design :: foco

TEXTO M A D A L E N A G A L A M B A

FOTOS C O R T E S I A J O N G E R I U S L A B

Uma retrospectiva em Roterdão e uma

monografia definitiva, editada pela Phaidon, são dois bons

motivos para olharmos de perto para o trabalho de Hella

Jongerius, a grande dame do design holandês que trouxe

a linguagem artesanal para o seio da produção industrial.

HELLA TEM?O QUE É QUE

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guru :: design

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À PRIMEIRA VISTA, os objectos desenhados por Hella

Jongerius são estranhos. Levemente toscos, sim, talvez

inacabados, muitas vezes femininos (a palavra horripila-a,

é sabido), delicados e deliciosamente defeituosos,

seguramente inadaptados num mundo de linhas direitas.

Mas um olhar mais atento, e sobretudo o contacto com estes

pequenos párias da produção industrial, e a história é outra.

De repente, parecem-nos perfeitos. Hella pode não desenhar

a regra e esquadro, mas acaba sempre por escrever direito

por linhas tortas.

Estes objectos revelam uma sensibilidade invulgar. As suas

falhas são a sua força. Muita segurança também. Hella

Jongerius chama-lhe “intuição”, a capacidade inata de

distinguir o que é bom (e bonito) do que não passará nunca

de desinteressante.

Se a intuição é classicamente feminina, a designer

holandesa mostra as suas garras quando tentam reduzir

o seu trabalho a uma questão de género, e foge dos rótulos

como o diabo da cruz. “Quando trabalho com têxteis

ou cerâmica, as pessoas nunca me perguntam se o trabalho

tem um toque feminino.“, disse numa entrevista à revista

ICON. “Isso só acontece quando desenho mobiliário.

Aí é que começam a perguntar: acha que isto tem uma

lógica feminina?.”Hella Jongerius, que se apresenta, no seu

site, como uma das mais “individuais e influentes” designers

contemporâneas, desconfia dos media, não lê revistas

de design e raramente dá entrevistas. Independente,

portanto. Mas isso não a impede de seleccionar

criteriosamente os meios com quem colabora (por exemplo,

a revista daMN, a quem concedeu recentemente uma

entrevista, conduzida, é bom lembrá-lo, por Jerszy Seymour,

em que, curiosamente “desancava” nos media), do mesmo

modo que escolhe a dedo as empresas a quem decide

emprestar o seu talento.

“OS DEFEITOS SÃO A MINHA PERFEIÇÃO”

Hella Jongerius (n. 1963) formou-se na Design Academy

de Eindhoven, em 1993. Durante os anos 90, apanhou

a onda da Droog Design, o que lhe traria grande

notoriedade, mas acabou por seguir o seu caminho,

desligando-se do movimento no ano 2000, para se entregar

ao seu próprio estúdio, Jongeriuslab, dividido entre Roterdão

e Berlim (desde 2008). A partir daí foi sempre a subir.

A colaboração com a Vitra deu asas industriais às suas

criações (o Polder Sofa, uma peça que contém vários tipos

de materiais e texturas, nuances de cor, botões retro

e almofadas de tamanhos desiguais, foi a primeira peça

de mobiliário de Jongerius produzida industrialmente,

embora tudo no sofá grite “feito à mão”). Para empresas

como a Maharam e a Royal Tichelaar Makkum,

desenvolveu projectos únicos que foram fundamentais para

varrer definitivamente (e respectivamente) os têxteis

e a cerâmica das margens do design.

Com a mesma desenvoltura com que remistura o low tech

e o high tech, Hella subverte a lógica de produção de massas

introduzindo pormenores aparentemente desajustados

(porque oriundos da produção, do saber e da cultura

artesanais) neste contexto standardizado. É o que acontece

quando na superfície dos pufes Boivist (2005), produzidos

pela Vitra, aparecem bordados que contêm referências

a um quadro de Johannes Vermeer, que representa,

justamente, uma menina a fazer renda. Ou quando

o serviço de porcelana B-Set (1997, reedição 2006),

da Royal Tichelaar Makkum, introduz pequenas variações,

pois cada peça é ligeiramente distorcida, pelas altas

temperaturas a que é cozida, tornando-se ao mesmo tempo

“igual” a todas as outras e “única”. B-Set foi um dos

© LOUISE BILLGERT

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HELLA JONGERIUS: MISFIT

A exposição monográfica no museu Boijmans

de Roterdão é a primeira grande retrospectiva

de Hella Jongerius na Holanda.

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“COM A MESMADESENVOLTURA COM QUE REMISTURA o low tech e o high tech, Hella subverte

a lógica de produção de massas

introduzindo pormenores aparentemente

desajustados (porque oriundos

da produção, do saber e da cultura

artesanais) neste contexto standardizado.” ANIMAL BOWL

LAYER, MAHARAM

POLDER SOFA, VITRA

TRIBUTE TO CAMPER

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design :: guru

primeiros projectos de Hella a inserir a individualidade

na produção em série. Com estes e outros exemplos, Hella

resolve o dilema do Modernismo: é possível produzir

objectos em massa sem os esvaziar da sua identidade

(ou humanidade). Na monografia editada pela Phaidon,

numa das conversas hipotéticas com a escritora e comissária

holandesa Louise Schouwenberg (que Hella conhece desde

1997, e sobre quem diz “Eu trato do design, tu tratas das

palavras”), Jongerius confessa a sua “dívida” para com

o movimento Memphis. “Eles inauguraram um sentimento

de liberdade.” E acrescenta: “A função do design assumiu

um conteúdo completamente diferente. Não podes conceber

a função unicamente em termos de conforto ou uso.

Às vezes a questão está – paradoxalmente –

na não-funcionalidade, na medida em que os produtos

apelam, acima de tudo, à nossa imaginação.”.

O PAPEL DA COR.Basta olhar para o batom vermelho

dramático que se tornou imagem de marca da designer para

perceber que a cor não é um simples acessório na sua visão

do mundo. Hella Jongerius foi pioneira numa nova

percepção do papel da cor no mundo do design e hoje

é consultora da Vitra neste domínio. A cor já não é um

odiado apêndice decorativo que se acrescenta ao objecto.

A cor faz parte do projecto, é uma variável ao mesmo nível

que a forma e a função. A cor é estrutural, e geralmente não

vem sozinha. Não é perfeita. Claro que mais uma vez

Jongerius foge do esperado. A ideia não é compilar um

manual de cor anunciando quais serão as tendências

cromáticas para o ano seguinte, como fazem os estilistas

deste mundo. A ideia é investigar, compôr, ousar, sobrepôr.

O objectivo não é homogeneizar o mundo pintando-o de um

só tom (ou de uma paleta mais ou menos reduzida de tons

que são tendência), mas fazê-lo explodir em combinações

e nuances audazes e incrivelmente belas. Criar escolhas.

É isso que acontece no programa interactivo Colour Lab,

desenvolvido para a Vitra, onde as pessoas podem pesquisar

as cores que melhor combinam com os produtos

da colecção. Mas a investigação à volta da cor aplica-se

ao próprio trabalho de Jongerius. Para a retrospectiva

no Museu Boijmans Van Beuningen de Roterdão, criou uma

instalação, 300 Coloured Vases, onde as jarras desenhadas

para a Royal Tichelaar Makkum (o mais antigo fabricante

de cerâmica da Holanda) são esmaltadas a partir de uma

camada de pigmentos ancestrais, retirados do processo

de produção – e obtidos a partir de cádmio (encarnado), ferro

(castanho), cobalto (azul) , etc. – combinada com cores “fast

food” actualmente usadas na indústria. Jongerius chama-lhe

“pointillisme sobre porcelana” e o resultado é deslumbrante:

ao justapor e misturar pigmentos, e experimentar com

diferentes temperaturas de cocção, aparecem novas cores,

policromáticas e irrepetíveis. As cores “mudam” dependendo

da hora do dia, e da incidência da luz. A designer que trouxe

as artesanias para o seio da produção industrial,

antecipando o movimento glocal que hoje é central

no design contemporâneo, está agora a experimentar

de novo, imbuindo a tradição com as descobertas

tecnológicas mais recentes. Não é um olhar nostálgico.

A ideia é reinventar a tradição, recompondo as memórias

num quadro inteiramente novo e individual.

A BELEZA DO ERRO.O modus operandi de Jongerius

é extremamente feminino: trata-se de combinar e fazer novo

a partir daquilo que já conhecemos.

De misturar o inesperado. De dar sentido, todo o sentido,

ao contraditório. O artesanato com o industrial, o velho com

o novo, o polido com o rugoso, o impoluto com o defeituoso.

A crítica de design Alice Rawsthorn, que assina um dos

ensaios publicados na nova monografia dedicada

a Jongerius, chama-lhe “o factor humano”, ou a capacidade

inata e intuitiva que Hella tem de conciliar o ideal Modernista

da uniformização (para todos), com a individualidade

(e a imperfeição). Aquilo que é comum a todo o trabalho

de Jongerius (seja um produto industrial disfarçado

de “artesanato”, como nos sapatos para a Camper, ou uma

edição limitada onde o valor da mão é claramente

assumido) é a sua assinatura. A marca da mão, a celebração

da individualidade. À volta das texturas, dos materiais,

das cores. Nos esmaltes quebrados, nos fios de algodão

que se desprendem de miniaturas de porcelana.

Está o designer, o artesão, e estamos todos.

É porque assume que o design, como o erro, é humano,

que Hella Jongerius é capaz de criar objectos tão formosos

e familiares. Serão estranhos, idiossincráticos, heterodoxos,

em queda e em falha. Irregulares e imperfeitos.

Belos e frágeis. Objectos como nós. e

www.jongeriuslab.com

>>>

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Hella Jongerius: MisfitEste livro não é para tablets, mas pode ser para todos. Publicado em Fevereiro

de 2011, e coincidindo com a primeira retrospectiva de Hella Jongerius na Holanda

(a exposição no Museum Boijmans van Beuningen de Roterdão), Hella Jongerius:

Misfit (Phaidon Press) é uma monografia exaustiva do trabalho da designer. O livro

é uma beleza (desta vez, redondamente acabada) e uma delícia. A começar pela capa

(mole, e agradece-se), onde podemos completar o Red White Vase de Jongerius

colando-lhe uma etiqueta translúcida que resulta numa combinação cromática única

(à semelhança do que a designer fez em 300 Coloured Vases). O deleite prolonga-se

no interior, onde temos acesso a toda a obra relevante de Jongerius organizada

cromaticamente: viajamos (deslizamos, flutuamos) da candura dos brancos iniciais

à frescura dos verdes e amarelos, passando por todas as nuances dos vermelhos,

para fechar de novo o círculo (o espectro) com mais objectos pintados de si.

A lombada, de onde pende um fio que parece ter sido toscamente cosido à mão,

oferece uma ilusão de artesania que nos remete para o trabalho de Hella.

As fotografias são de pasmar: estão lá as partes e o todo, os pormenores e o caos.

E depois, os textos: o fio condutor são as entrevistas imaginadas com Louise

Shouwenberg, o alter ego narrativo de Jongerius, que espreitam por entre

os ensaios fotográficos, e estão povoadas de reflexões e desabafos inteligentes

e envolventes. Duas grandes senhoras da crítica e curadoria do design, Alice

Rawsthorn e Paola Antonelli, versam sobre a figura e a obra de Hella Jongerius,

com perspectivas luminosas e claras sobre o seu lugar na história do design.

Se Rawsthorn destaca o factor humano do design de Hella (que aponta como uma

corrente alternativa ao design sustentável, para digerir o Modernismo no contexto

pós-moderno), Antonelli realça a imperfeição que o caracteriza e nos faz pasmar.

Visual e táctil, o livro é poesia impressa sem palavras. Inspiração instantânea para

designers e não só, devia ser obrigatório nas escolas. Um livro para percorrer,

folhear e mastigar. Um objecto, como poucos, para contemplar.

Hella Jongerius: Misfit

Phaidon Press

Fevereiro 2011, 39,95€

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LONG NECK E GROOVE BOTTLES

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NOVÍSSIMAJá lá vai o tempo em que o panorama editorial português era feito,

essencialmente, de conteúdo. As capas, essas, faziam qualquer banca

livreira parecer um alfarrabista. Agora, porém, há sangue novo.

E nunca mais um livro em português vai ser o objecto que era antes.

TEXTO N U N O M I G U E L D I A S

ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA

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ATÉ HÁ BEM POUCO TEMPO, o amor pelo livro

como objecto só era possível, em Portugal, e na maioria

dos casos, depois de o ler. Por um lado, não deixa de ser

interessante que assim fosse. Que a atracção exercida

por determinada obra se devesse ao seu conteúdo.

Mas é demasiado erudito. E contraria a lógica que

estava por trás do livro-objecto aquando da sua criação,

mesmo que a sua importância como livro-conteúdo

fosse um dado adquirido.

Da primeira bíblia à era Gutenberg, o livro foi sempre

algo do qual a beleza era indissociável. Iluminuras

de valor incalculável, caracteres cuidadosamente

elaborados pelos melhores calígrafos, capas de couro

com bordados a folha de ouro, encadernações

milionárias a proteger conteúdos que influenciariam

(ou não) a Humanidade no seu rumo. Livros traduzidos

em quase todas as línguas do mundo, obras

propositadamente omitidas do conhecimento

dos homens, conhecimentos herméticos, declarações

de amor, decretos de ódio, odes a Mephisto. Quase

invariavelmente, o livro era uma obra de arte que se foi

degradando proporcionalmente às suas reedições, até

chegar ao tempo em que as editoras dão a escolher:

Capa mole ou brochada? Como quem pergunta “livro-

conteúdo” ou “livro-obra”. Não obstante, e à medida

que o progresso acomete como o martelo de Thor,

com os e-books a serem lidos no iPad, irrompe também

o saudosismo, a nostalgia de manusear, com o amor,

um livro. Um acto que encerra, em si, beleza.

Atire a primeira pedra (expressão que vem,

precisamente, num dos mais antigos livros-conteúdo-

obra) quem não se recorda de quão solene era, em

criança, o acto de folhear um livro da Anita, do Petzi

ou o “Nungu e a Senhora Hipopótamo” da incontornável

ilustradora infantil Babette Cole. Pois bem: E se o livro

ilustrado, comummente associado à literatura infanto-

-juvenil, estivesse a ser injustiçado e passasse a ser, tal

como aconteceu com a banda desenhada, avidamente

consumido por graúdos com muito bom gosto e poucos

complexos? É um pouco o que aconteceu com o Planeta

Tangerina, a vanguardista editora portuguesa (mas

também um atelier especializado em comunicação para

crianças e jovens) que, no ano passado, venceu

o Prémio de Editora Revelação, na categoria Prémios

de Edição Ler/Booktailors. Arrancou em 1999, com

vontade de renovar o segmento dos livros infantis

e juvenis e acabou por agitar, da melhor forma,

o panorama editorial português. As obras são criadas

de raiz por uma equipa de criativos (os textos saem,

na sua maioria, da cabeça de de Isabel Minhós Martins)

e designers (Madalena Matoso, Bernardo Carvalho

e Yara Kono) e o resultado são objectos de puro design,

com ilustrações verdadeiramente originais, textos

exímios e materiais de topo. Cada livro da Planeta

Tangerina desperta os mais novos mas apaixona

os pais. Madalena Matoso, lisboeta da colheita de 74,

lembra-se do dia em que a ilustração entrou, como

objectivo, na sua vida: Uma exposição no Palácio Foz

que vinha de itália, com ilustradores de todo o mundo.

Antes disso, “O Leão e o Ratinho”, ilustrado por Brian

Wildsmith, os livros da Sophia de Mello Breyner ou “Puff

e os seus amigos”, faziam parte do seu imaginário.

Estudou Design de Comunicação e Design Gráfico

Editorial mas, antes de concluir a licenciatura ou

a pós-graduação, já havia publicado dois livros de

imagens. Quase todas as obras que fez pelo Planeta

Tangerina (que também é obra sua) receberam prémios

ou menções especiais. Não admira, quando tem

objectivos bem traçados naquilo que faz: “Gosto

de experimentar coisas diferentes, andar por territórios

novos, mas procuro deixar espaços em branco para

que cada pessoa os possa completar. Para além disso,

o texto e a imagem devem complementar-se para contar

uma história. Podem viver separados, mas que sejam

muito felizes juntos. E se cada livro for como um

caminho que acaba numa bifurcação (para mim e para

os leitores), a viagem não acaba.”

Bernardo Carvalho, 37 anos, também nasceu em

Lisboa, também estudou Design de Comunicação

(e Desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes)

e também fundou o atelier e a editora Planeta

Tangerina, pela mão da qual já recebeu vários prémios

nacionais e internacionais. Pela editora Caminho,

ilustrou textos de Richard Zimler (“Dança Quando

Chegares ao Fim”). O seu estilo é inconfundível

(“As Duas Estradas” é uma obra incrível) mas isso não

admira, quando diz que se lembra perfeitamente de ter

“despertado” para a ilustração aos quatro meses

de gestação. Já nascido, foi influenciado pela BD

e, particularmente, pelo “Eternus 9”, do Vítor Mesquita

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A MANTA - UMA HISTÓRIA

AOS QUADRADINHOS (DE TECIDO)

As ilustrações são de Yara Kono, o texto de Isabel

Minhós Martins. Não é banda desenhada, mas cada

quadradinho (de tecido) conta uma história.

“TROCOSCÓPIO”, DO PLANETA TANGERINA

É o terceiro volume da Trilogia "Histórias Paralelas",

a ideia é do João, da Isabel, do Bernardo

e da Madalena e as ilustrações do Bernardo Carvalho

TINTA DA CHINA, ANTÍPODAS DO HABITUAL

Um dos muitos exemplos do já invejável portfólio

de uma ainda jovem editora. Sob a direcção

de arte de Vera Tavares, a Tinta da China marca

a diferença

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(um “must” da adolescência dos trintões de hoje). Não

crê que o Planeta Tangerina tenha criado um estilo,

apenas que “Experimenta e arrisca contar histórias

de maneira diferente.”

Yara Kono é a exótica desta história. Paulista de gema,

começou por desenhar, em tenra idade, nas paredes

da sala. Daí passou para o papel e do papel para

o computador. Surpreendentemente, a formação

em Farmácia-Bioquímica (pela Universidade Paulista —

UNESP) foi a sua primeira opção, antes de ingressar

no curso de Design e Comunicação na Escola

Panamericana de Arte, no fim do qual partiu para

o Japão, como bolseira no Centro de Design

de Yamanashi. Faz, desde 2004, parte da equipa do

Planeta Tangerina, como ilustradora e designer gráfica.

Da infância recorda (além dos sarrabiscos na parede, que

fazem mais parte da memória da mãe) uma coleção de

contos tradicionais japoneses (entre eles

o Momotaro e o Kaguyahime) que havia lá por casa

e, hoje, sorri ao observar que o albúm ilustrado vem

ganhando terreno, a crescer e a dar bons frutos

no panorama editorial, para a qual o Planeta Tangerina,

ousando, contribuiu.

OUTRA EDITORA QUE “REFRESCOU”

a aparência das montras dos livreiros portugueses (e

elevou o nível literários das obras traduzidas para a língua

portuguesa), foi a Tinta da China. Criada em 2005, conta já

com um número considerável de lançamentos,

de incontornáveis obras da literatura universal (de autores

como Voltaire, Ernesto “Che” Guevara, Washington Irving,

Rudyard Kipling, Edgar Allan Poe ou Mark Twain),

novíssimos autores portugueses (Fernanda Câncio,

Alexandra Lucas Coelho e Rui Tavares) e, claro, a colecção

Literatura de Humor, de Ricardo Araújo Pereira. Inseridos

nesta última, “Os Cadernos de Pickwick”, de Charles

Dickens, “Jacques, o Fatalista, e o seu amo”,

de Denis Diderot e “Wit, Ensaios Humorísticos”, de Robert

Benchley, contam com capas que sobressaem daquilo

que pode ser considerada a “corrente” das capas das

editoras portuguesas. E é disso que aqui se fala, de gente

que vai “contra a corrente” (alusão óbvia à desde sempre

refractária Antígona — obrigado, Sr. Luís Oliveira),

que agitam, que inovam arriscando. No caso da Tinta

da China, a Direcção de Arte, na pessoa de Vera Tavares,

assume um papel determinante. “Parte da mobília” desde

a criação da editora, passou ainda antes por uma agência

de publicidade, depois de terminado o curso de desenho

do Ar.co. e até chegar ao ponto em que a Tinta da China foi

a vencedora nas categorias de Melhor Design de Não-

Ficção (“Uma Ideia da Índia”, Alberto Morávia) e Melhor

Design de Gastronomia (“Receitas Go Natural”), dos

prémios Edição Ler/Booktailors de 2009, e conta, para

a edição de 2010, com um total de oito obras candidatas.

Agora, para algo completamente diferente. A primeira

edição de “O Novo Guia de Conversação em Portuguez

e Inglez, em Duas Partes”, foi originalmente publicado em

Paris, no ano de 1855. Bastaram 30 anos para a sua

consagração nos países de língua inglesa, data desde

a qual se tem mantido sempre em notável circulação, mas

como livro humorístico. É que os autores, José da Fonseca

e Pedro Carolino, careciam do conhecimento da língua

inglesa a um tal nível que transformaram expressões

do vocabulário português em perfeitos absurdos

gramaticais e semânticos. Ainda para mais, supostamente

auxiliados por uma introdução à fonética onde o rigor

é nulo. O sentido original chega a perder-se

irremediavelmente, mas em prol de alguns momentos

de pura boa disposição do leitor. A University of Califórnia

disponibiliza o download do texto integral no Google

Books, mas a Atlas Projectos editou uma re-impressão

verbatim e literatim, com uma encadernação exímia e que

apetece, do original. O mesmo pode ser encomendado

pelo site e o preço é de €18. Porque há coisas que todos

deveríamos ter na biblioteca. E cada vez é mais difícil

escolher entre tantas coisas que apetecem. Graças a uma

nova geração de editores que delegam, nos seus designers,

uma grande parte da responsabilidade nas criações. e

www.planetatangerina.com | www.tintadachina.pt www.atlasprojectos.net

”YARA KONO,ILUSTRADORA DOPLANETA TANGERINA,começou por rabiscar nas paredes

da casa. A diferença é que a mãe

encorajou-a, ao invés do que acontece

na maior parte das vezes. Daí passou para

o papel e do papel para o computador.

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PROJECTAR

RAW EDGES

DESIGN WITH CONSCIENCE

WHAT YOU SEE IS NOT

PETIT H

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THE COILING COLLECTION, DE YAEL MER & SHAY ALKALAY,RAW EDGES, PARA A FAT GALERIE

TEXTO M A D A L E N A G A L A M B A

FOTOS R A W E D G E S

Para a Fat Galerie, em Paris, os Raw Edges criaram uma colecção de objectos

em feltro 100% lã, cobertos de silicone. Em The Coiling Collection, uma longa banda

de feltro, plana, transforma-se em estrutura.

ENCARACOLADO

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design :: projecto

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YAEL MER E SHAY ALKALAY, dupla no design

e na vida, acabam de ver nascer o seu maior projecto.

The Coiling Collection, a série de objectos para interiores

de feltro e silicone que criaram para a Fat Galerie, em

Paris, podia até ser um bom candidato a momento auge

do ano. Mas não é o vencedor. Yael e Shay acabam de

ser pais: o primeiro filho do casal nasceu poucos dias

depois da inauguração da exposição e naturalmente

eclipsou tudo o resto.

Ainda assim, continua a não ser fácil passar ao lado

desta colecção onde as cores, os materiais e as formas se

conjugam numa combinação genética invulgar.

O processo é simples: uma longa banda de feltro

(foram precisos 326 metros de feltro para fazer os sete

protótipos que compõem a mostra) é enrolada, como

um caracol, e colocada sobre uma base de madeira

(um pedestal ou uma prancha). Depois de enrolado,

o feltro é pincelado com silicone colorido, mas apenas

de um dos lados. A fibra absorve o silicone e endurece.

Assim, obtém-se um material híbrido: com a rigidez

necessária para fixar a estrutura, e a suavidade dócil

da lã. Os designers explicam que, para chegar a este

material, se inspiraram nos materiais compostos:

por exemplo, a palha que funciona como aditivo para

endurecer e dar estrutura aos tijolos de barro (adobe).

The Coiling Collection, uma colecção de 7 objectos

autoproduzidos pelos designers em edição limitada,

é um projecto atraente e suficientemente “responsável”

(emprega um material 100% natural, a lã) para agradar

a muita gente. Representa mais um passo, seguro

e original, no caminho para transformar uma matéria

plana (uma fibra, uma folha de papel) num objecto

tridimensional, onde a matéria é a própria estrutura.

E é vibrante: nas cores e nas formas que tendem

naturalmente para o orgânico.

Desde que concluíram a sua formação no prestigiado

Royal College of Art de Londres, os designers israelitas,

vencedores do prémio Designer of the Future da design

Miami/Basel em 2009, não têm parado de surpreender

com as suas criações. Em 2007, fundaram o seu próprio

estúdio, que baptizaram de Raw Edges, e em 2008 já

tinham editado, com a Established & Sons, um dos

incontornáveis hits do ano: a estante com gavetas

Stack, uma entrada directa (para continuar com

a metáfora musical) para a colecção do MoMA

de Nova Iorque e do Design Museum de Londres.

Também em 2008, a elegante e inteligente cómoda

Pivot (editada pela Arco) venceu um Dutch Design

Award, Wallpaper Design Award e um Elle Decor

International Design Award, na categoria de melhor

peça de mobiliário do ano. Na realidade, os Raw Edges

não são apenas capazes de passar das duas às três

dimensões num abrir e fechar de olhos, usando

materiais à partida planos (o papel, os têxteis). Também

conseguem que os seus projectos mais experimentais,

destinados, em princípio, ao circuito restrito das edições

limitadas em autoprodução, dêem o salto e se adaptem

à produção industrial (como é o caso dos bancos

Tailored Stool, originalmente em papel, e editados pela

Cappellini, com o nome de Tailored Wood). Pode bem

ser este o destino de The Coiling Collection. Para já, são

sete objectos (bancos, cadeira, recipiente, mesa e tapete)

tão autênticos quanto encantadores. e

www.raw-edges.com, www.fatgalerie.com

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“THE COILINGCOLLECTION, UMA COLECÇÃO DE 7 OBJECTOS autoproduzidos em edição limitada,

é um projecto atraente e suficientemente

“responsável” (emprega um material

100% natural, a lã) para agradar

a muita gente. “

SILICONE + LÃ

Depois de enrolado, o feltro é pincelado com silicone

colorido, mas apenas de um dos lados.

A fibra absorve o silicone e endurece.

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Style: François Delclaux para M&Oxygène SAF 2009 Foto: Sylvain Thomas

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HERMÈS SUSTENTÁVELMuita inspiração, ideias a fervilhar e boas práticas, são o impulso da Petit h,

a mais recente aposta da Hermès. Quem diria que a catedral do luxo havia de dar

tamanha energia a um projecto onde o verbo maior é recriar...

ENQUANTO NA ALTA FINANÇA se jogavam todos os trunfos para a aquisição

de acções em Bolsa, com a Louis Vuitton a alcançar uma posição na Hermès, a marca

francesa que dá ao mundo o melhor do luxo em acessórios, roupas e perfumes, perpetuado

por tantas estrelas ao longo das décadas, que desde a sua criação, em 1837, nunca fechou

uma única loja, andou ocupada numa novíssima empreitada – o lançamento da sua

Petit h. Petit h, uma “sub-marca” muito especial, um conceito que nada me admira venha

a constituir um exemplo de peso na história contemporânea, no que toca à sensibilização

para a necessidade de a Humanidade evoluir em consciência ecológica, na óptica

do combate ao desperdício, na ideia central da ordem concertada pela Organização

das Nações Unidas, denominada Sustentabilidade.

Petit h, é uma colecção de objectos que a Hermès apresentou em Paris, em Novembro

de 2010, e que seguirá a outros países ao longo deste ano, com viagens já traçadas para

o Japão e os EUA. Objectos inesperados, extraordinários, diferentes, funcionais

e executados com toda a perícia das equipas de artesãos com longa experiência de trabalho

e conhecimento adquirido ao serviço da Hermès. Costureiras, ourives, artífices do couro,

do cristal e da porcelana, juntam-se agora a designers de renome e a outros artistas

admiráveis, num espaço só seu, autêntico laboratório de ideias, onde se dedicam a dar asas

à criatividade e à arte para que nasceram. Quando uns imaginam, os outros realizam.

Uns e outros, sem descurar o rigor, a exclusividade e a qualidade que a casa-mãe, com

H maiúsculo, exige.

A única diferença na Petit h, prende-se com a matéria-prima. Apenas ela poderá ditar

o produto final. E ela, é tão-só o material que resta da produção da Hermès, sejam sobras

de peles e tecidos ou objectos que, por conterem pequenas falhas ou irregularidades, estão

interditos ao circuito comercial. O grande desafio de todos os que laboram para a Petit h

é, pois, voltar a criar a partir do que existe.

CEILING PENDANT

By Adrien Rovero

TEXTO G U I A B R E U D E L I M A

FOTOS V I C E N T L E R O U X

design :: projecto

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NADA SE PERDETUDO SETRANSFORMA,mantendo os valores de sempre,

a herança de seis gerações, cujas raízes

perduram no tempo: os melhores

materiais, a íntima relação com artesãos,

a alquimia entre o espírito e a arte manual

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É dar uma nova vida a peças descartadas nas oficinas

e ateliers da marca, corroborando a maior lição

da Natureza – nada se perde, tudo se transforma –

mantendo incólumes os valores de sempre, a herança

de seis gerações de comerciantes exemplares, cujas

raízes perduram no tempo: os melhores materiais,

a íntima relação com artesãos, a maravilhosa alquimia

entre o espírito, a criatividade e a arte manual.

E ASSIM SE RECUPERA um copo de cristal

que ganhou uma bolha no pé ao ser soprado,

uma carteira irremediavelmente marcada numa queda

da mesa de trabalho do seu artesão, um retalho de pele

de crocodilo desigualmente tingido, um lenço de seda

beliscado... tudo é lançado às “feras” do Petit h, para

renascer com um novo sentido estético ou funcional,

numa segunda oportunidade de brilhar, espelhando

o talento dos criadores. Está de parabéns a directora

artística, descendente da sexta geração de Thierry

Hermès, Pascale Mussard, pela iniciativa, onde a sua

faceta “caça-talentos” se espraia em beleza, e em que,

além de peças lindíssimas, com um passado para

contar, oferece aos artistas a oportunidade de criarem

desenfreadamente e de se descobrirem, em íntimo

diálogo com aqueles que transformam ideias em arte

visível. Livres, sem amarras, como uma banda de jazz

que improvisa por paixão... Assim os quer a senhora

Mussard, reciclando peças e recriando objectos cheios

de poesia. e

FAWN

By Marjolijn Mandersloot

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design :: foco

ARTECNICA:

TEXTO M A D A L E N A G A L A M B A

FOTOS C O R T E S I A A R T E C N I C A

A editora de Los Angeles Artecnica, pratica um design com consciência, assente nos valores

da sustentabilidade e da responsabilidade social.

Apadrinhando o trabalho de autores consagrados como

o de designers anónimos, espalha o design do mundo pelo

mundo, como a mesma convicção que se investe

num projecto humanitário.

O SOL NASCE PARA TODOS

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encontro :: design

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O SOL DA CALIFÓRNIA ILUMINA com a mesma

intensidade as criações de autores consagrados do design

internacional e os projectos de artistas e artesãos anónimos,

a quem é dada uma oportunidade para brilhar. Esta

é a convicção, e a missão, dos fundadores da Artecnica,

o italiano Enrico Bressan e a iraniana Tahmineh

Javanbakht. Arquitecto e artista plástica, criaram, em 1986,

a editora de objectos de design, que começou por fazer

projectos de atelier de arquitectura e design de interiores

para clientes como Gianni Versace e Sebastian International.

O compromisso com os valores da sustentabilidade

ambiental e da produção responsável é uma constante no

caminho da Artecnica, uma postura que se reflecte na sua

máxima “A viagem do produto é tão bonita como o próprio

produto”. Na viagem, embarcam autores consagrados com

os irmãos Campana, Hella Jongerius, Heath Nash, Inga

Sempé e Tord Boontje, talentos emergentes como Rich,

Brilliant,Willing, Stephen Johnson e Paula Arntzen, e uma

míriade de artistas espalhados pelo mundo, de um grupo

de ex-marginais em Los Angeles a uma comunidade

de artesãos numa aldeia no Perú. Embora praticamente

todos os produtos do catálogo da Artecnica estejam

permeados, numa etapa ou na outra, por preocupações

de sustentabilidade, a missão da empresa cristalizou-se,

a partir de 2002, no programa Design with Conscience.

Trata-se de um projecto quase “humanitário” onde

a Artecnica trabalha directamente com comunidades

de artesãos de países em vias de desenvolvimento, para dar

corpo a objectos de design com uma forte componente

artesanal, que empregam o saber e as técnicas locais,

de acordo com princípios de sustentabilidade. Um exemplo

vivo de como o design pode ser um catalisador de mudança,

integrando a especificidade local num contexto global,

e o artesanato na indústria, para mudar o mundo.

Blue Design: “A viagem do produto é tão

bonita quanto o próprio produto”. A Artecnica

foi dos primeiros editores a assumir a

sustentabilidade como parte integrante

do ADN do design. O que vos levou a escolher

este caminho?

Tahmineh Javanbakht: Foi a evolução natural.

O trabalho do Enrico como arquitecto tinha-nos levado

a colaborar com uma organização não governamental que

ajudou a construir casas para as vítimas do furacão

na República Dominicana. Foi uma sensação extraordinária,

ao completar o projecto, e pensámos “Porque não trazer esta

boa energia para a nossa empresa de objectos para a casa?”.

O nosso projecto Design with Conscience nasceu porque

queríamos mostrar o trabalho de muitas pessoas com

talento que, de repente, se viam pouco reconhecidas num

mercado industrial global. Foi uma decisão orgânica,

simplesmente fazia sentido e foi um daqueles “momentos

Aha!”.

BD: Agora o “sustentismo” está na moda, e toda

a gente quer apanhar a onda. Mas para lá das

palavras e dos rótulos, o que é que acha que

os designer e as empresas deviam fazer para

serem realmente sustentáveis?

TJ: Penso que começam em gestos mínimos, e depois

podemos levar a ideia a um conceito tão abrangente quanto

quisermos. Pode-se começar por fazer o packaging tão

eficiente quanto possível, usando materiais não tóxicos,

amigos da terra. Podemos olhar para a pegada de carbono

e fazer embalagens o mais planas possível, ou então levar

esta preocupação para o próprio produto e usar materiais >>>

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design :: foco

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“O PROJECTO DESIGNWITH CONSCIENCENASCEU PORQUEQUERÍAMOS MOSTRARo trabalho de muitas pessoas com talento,

que, de repente, se viam pouco

reconhecidas num mercado industrial

global. Foi um daqueles momentos ‘Aha!’”.

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design :: foco

verdes. Há tantas maneiras de fazer as coisas de outra

forma, mais inteligente do que o habitual. Por exemplo,

acabámos de lançar o projecto Homeboy Tot Bag project,

produzimos um saco de lona com caligrafias imprimidas

pelos antigos membros do gang de Los Angeles Homeboy.

Os slogans impressos foram criados pelo padre jesuíta que

fundou a organização, o Padre Greg Boyle. Homeboy

Industries (HI) é o maior programa de intervenção em gangs

dos Estados Unidos e dá uma segunda oportunidade a

ex--membros dos gangs e jovens em risco (12 mil por ano).

Actualmente, existem mais de 86 mil membros activos

de gangs em LA, a maioria estão desempregados e vivem

em condições de pobreza. Os artistas que trabalham nestes

projectos têm muitíssimo talento, mas em vez de ir para

prestigiadas escolas de arte, como eu e os meus colegas

fomos, aprenderam a desenhar nos becos da cidade,

fazendo graffiti, e nas prisões, fazendo tatuagens. Agora

estão na Homeboy a tentar começar uma nova vida e com

uma nova esperança (como disse o fundador, os problemas

deles começam na desesperança). Têm um talento

extraordinário, produzimos cinco sacos diferentes, feitos por

eles, e estamos muito contentes.

BD: Arrancaram com o programa Design with

Conscience, em 2002. Como é que começou?

TJ: Começámos com um projecto feito com a Lidewij

Edelkoort, presidente da Design Academy Eindhoven,

e a ideia era levar alguns estudantes ao Brasil para trabalhar

com artesãos locais, através da Fundação Cusenza.

Infelizmente, o projecto não funcionou porque mesmo com

óptimo design, óptimos artesãos e boas intenções as coisas

só funcionam se estiveres lá fisicamente e organizares

a parte logística. E é preciso muita paciência.

BD: Mas mesmo fora do programa DWC, há

muitos projectos da Artecnica que levam esta

marca da responsabilidade. Faz parte do brief,

quando contactam os designers?

TJ: Desde o início, o nosso brief normalmente indica que

o produto deve ir em flat pack, num material verde

e reciclado. Por exemplo, acabamos de lançar o banco

Kactus, um design do Enrico, feito de alumínio reciclado.

BD: Mais do que uma empresa que produz

objectos, a Artecnica tem uma abordagem

“curatorial” do design. Parece-me que esta

atitude faz toda a diferença. O que é que

procuram quando seleccionam os designers,

os projectos e o designer para cada projecto?

TJ: Nós fazemos a curadoria com o coração. Fazer um

produto é muito difícil. Costumava dizer aos meus alunos

do Art Center de Pasadena: se quiserem defender o vosso

portefólio e o vosso trabalho, têm de estar extremamente

envolvidos e convencidos daquilo que fazem, porque se não,

há tantos elementos envolvidos, que o projecto não vai

avançar a menos que tenha esse suporte. Trabalhamos com

designers que sempre admirámos e cujo trabalho

adoramos. Trabalhamos com designers que estão

a começar e vemos que há ali muito talento, magia, energia

e esperteza. Simplesmente bate certo.

BD: Os dois fundadores da Artecnica vêm

de Itália e do Irão. Como é que estas raízes

influenciaram a missão da Artecnica

e a maneira como vêem o design?

TJ: Levamos a nossa história, a nossa cultura e educação

para a mesa, quando nos sentamos no escritório. Juntamos

as experiências de cada um. Eu nasci no Irão, em Isfahan.

Os ornamentos, as cores e os padrões tiveram uma enorme

influência em mim. Depois, vim viver paras os Estados

Unidos, aos 16 anos, e a experiência em si teve também

uma enorme influência em mim. Tenho a certeza que tudo

isto teve um enorme impacto na minha maneira de ver

e de me relacionar com os objectos que me rodeiam. Tenho

a certeza que o mesmo se passa com o Enrico, já que ele

viveu em Itália, em Espanha e, depois, nos Estados Unidos.

BD: Como é que o design pode ser mais

humano, no futuro?

TJ: Não tenho a certeza do que quer dizer com “humano”,

mas tenho a certeza de que o design se torna muito

funcional e utilitário, mas com mais poesia. e

www.artecnicainc.com, www.mundano.pt

>>>

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encontro :: design

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encontro :: design

VER PARA CRERD

ES

IGN

::

PR

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CT

O

What You See is Not é o nome do novíssimo projecto de Fernando Brízio para a droog design.

Uma cómoda (ou uma gaveta suspensa) em trompe l'oeil que, no limite, depende do utilizador para existir.

TEXTO M A D A L E N A G A L A M B A

FOTOGRAFIA S T E F A N I E G R I T Z , D R O O G D E S I G N

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BUSTER KEATON E AS IGREJAS DE ROMA

inspiraram o mais recente projecto de Fernando

Brízio para a editora holandesa droog design: What

You See Is Not. “Não acredito na 'inspiração

repentina', vinda do nada,” explica o designer

português “Uma boa ideia vem de um trabalho

contínuo, da pesquisa a longo prazo e de todas

as camadas das nossas próprias referências

culturais.” Vamos então pela justaposição.

Primeira camada: Buster Keaton no filme The High

Sign, a desenhar um cabide (2D) para pendurar o seu

chapéu (3D). Segunda camada: uma viagem a Roma,

as igrejas com fantásticos trompe l'oeil, no fio

da navalha entre a bidimensionalidade

e a tridimensionalidade, onde nem tudo o que parece

é, e muitas vezes não é mesmo.

E o que é, afinal, What You See is Not? Uma cómoda,

uma gaveta suspensa, um objecto 3D, uma imagem

plana. É tudo isto e nada disto. É sobretudo

um exercício, inteligente e emocional, é mais uma

paragem na viagem de Fernando Brízio à volta

da dimensão relacional do design.

“Tenho tentado perceber e demonstrar através

de objectos do dia-a-dia, o modo como as pessoas

se relacionam emocionalmente, culturalmente

e fisicamente com eles.” explica Brízio “Às vezes

os objectos produzem uma experiência emocional,

outras vezes o enfoque está na questão

da usabilidade. Às vezes levantam questões sobre

a relação entre a cultura e a significância. Outras,

revelam gestos, mostrando de que maneira

os designers condicionam o nosso corpo, o nosso

comportamento e as nossas acções, e são, por isso,

coreógrafos da nossa vida diária.”

What You See is Not é um gaveta (de MDF)

“pendurada” numa fotografia (um autocolante

de vinil que é uma imagem de uma cómoda).

Os dois elementos estão instalados de maneira a criar

um efeito trompe l'oeil. A percepção do objecto

altera-se consoante a nossa posição no espaço.

De frente é uma cómoda com uma gaveta aberta.

De lado, a imagem deforma-se e percebemos

que o volume que víamos é afinal uma ilusão,

uma imagem plana. Que está lá, e não está.

De repente, percebemos que mais do que ver, criámos

uma imagem. Imaginámos. E perdemos a segurança

da referência arquetipal: mas afinal o que é isto?

Brízio é perito nestes jogos de ilusões (a ilusão óptica

é similar ao mecanismo usado no banco Alice)

que são tão divertidos quanto desafiadores.

Está constantemente a tirar-nos o tapete de baixo

dos pés, a desafiar a (ilusória) estabilidade da nossa

mente e da nossa percepção da realidade.

“Interessa-me este tipo de interacção que nos envolve

com a nossa visão; fazendo-nos sentir

que o que vemos e a maneira como olhamos para

as coisas revelam quem somos. Aquilo que realmente

vemos é um resultado do que somos, da maneira

como pensamos e da nossa constituição física

e mental.” e

www.droog.com

“É BOM VER AS PESSOAS SORRIREM quando olham para o meu trabalho

porque é uma reacção emocional visível.”

BRÍZIO + DROOG:

A crème de la crème do designnum projecto que semeia

a dúvida. E ainda bem.

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design :: projecto

TEXTO G U I A B R E U D E L I M A | FOTOS A G E N C E 1 4 S E P T E M B R E

Duas executantes reconhecidas criaram uma colecção de objectos para a casa,

que em Janeiro se deu à mostra no Salon Maison & Objet. Uma, faz meias de andar nas nuvens,

outra, desenha o luxo com uma perna às costas.

TUDO A MEIAS

DIZ QUE NAO FOI FÁCIL adaptar-se à matéria-prima disponÍvel.

Longos tubos de malha... mon Dieu.

Certo é que a limitação se dissipou, o enchimento brilhou e os padrões

fazem toda a diferença, de tão divertidos.

A designer Mathilde Brétillot e a marca francesa de collants e pantufas,

Collégien, conheceram-se através do programa “Tecnologia e Design”,

tutelado pela R3iLab – a rede criada pelo Ministério da Indústria francês,

ponte entre fabricantes têxteis e designers, com vista

ao desenvolvimento de projectos inovadores –, e fizeram nascer

a Linha Collégien-Brétillot, objectos para a casa. Uma esteira para todas

as eventualidades, um cesto de arrumos, balões com bancos para sentar

e outras relíquias.A alma é a cara do dono. Quem não conhece

os irresistíveis sapatos-de-andar-por-casa-(que-apetece-é-levar-

-para-a-rua), corra já a www.collegien-shop.com, e atesta num segundo

a inspiração de madame Brétillot. Encheu de espuma os seus desenhos

e vestiu-os, ou talvez os tenha calçado, de malha da melhor qualidade,

pensando no que merece uma criança e como podem e devem os adultos

tirar partido do que merece uma criança.

Peças pequenas que cabem em qualquer lugar, para relaxar, improvisar

as mais loucas brincadeiras ou cair redondo no sono, num sonho.

A enfeitar, coloridas e lúdicas, espalhadas pela casa ou arrumadinhas

no seu canto, a ideia da designer mima toda uma família numa casa

e derrama a energia primordial da parceria: conforto, muito conforto,

todo o conforto. e

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VIVER

CINECLUBE DA MAIA

SOL E PESCA

EXPOSIÇÕES

LIVROS

NOTEBOOKERIA

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Style: François Delclaux para M&Oxygène SAF 2009 Foto: Sylvain Thomas

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CINECLUBE DA MAIA

TEXTO N U N O M I G U E L D I A S | FOTOS T I A G O C A S A N O V A E I N Ê S D E C A S T R O

Alcatifa, balaústres, cadeiras de veludo vermelho e lâmpadas fluorescentes

numa velha/nova sala, onde se quer estabelecer uma cultura cinematográfica que convide a um olhar

mais crítico. Descentralizar o cinema, retirando-o das grandes superfícies, e promover um culto pela

tela que não passa pelas pipocas e os óculos 3D. Esta gente acredita. Ideólogos ou visionários?

EM NOME DE UM CINEMA

É O PURO CULTO PELO CINEMA que nem sempre cinema de culto. Mas, às vezes,

as coisas misturam-se. Inevitavelmente. Porque, agora, é preciso ser-se quase anti-social para

sonhar com uma sala onde não se oiça o mastigar de pipocas e o último sorvo no refrigerante.

Sacrificar, no seu último grito, as tecnologias, sonora e de imagem, em favor de uma expressão

cultural que resistiu sempre, na sua faceta mais poética, a todos os progressos. Os objectivos

do Cineclube da Maia remetem-nos, obrigatoriamente, para outros tempos. Ou espaços. Não

porque a natureza da iniciativa não seja, afinal, progressista. Mas porque há, no imaginário

de todo o cinéfilo, por muito contido que o seja, um pouco do profundo romantismo que está

por trás do Cinema Paraíso, de Giuseppe Tornatore. Ou, na versão portuguesa, a recordação

do Cine Girassol, em Vila Nova de Milfontes, no tempo em que exibia ao ar livre,

os espectadores em cadeiras de fórmica, o calor do Sudoeste Alentejano, as osgas passeando

na tela que era a típica parede caiada, por vezes a fachada de uma igreja, quando o projeccionista

se deslocava a praças desse Alentejo profundo para levar a magia num feixe de luz.

A tradição cinematográfica é, cada vez mais, o que era. Amar uma forma de arte e propor

a discussão que pode daí surgir, fazer de uma exibição um acontecimento, na acepção mais

emotiva do termo, é ao que se propõe o Cineclube da Maia. Criado por estudantes do ensino

superior, foi oficializado enquanto associação sem fins lucrativos, a 8 de Fevereiro de 2010.

A simples vontade de exibir cinema no centro de uma cidade periférica, numa sala que tende,

nas metrópoles, a morrer. O Cinema Venepor tem toda a beleza romântica que envolveu,

em tempos, uma ida ao cinema como acto social. A Câmara Municipal, proprietária do espaço,

acolheu a iniciativa de braços abertos e, hoje, colhe os frutos de uma sala que vai servindo,

devagar, de ponto de encontro e divulgação da vida cultural da cidade. Uma vez por mês, uma

exibição num formato “cinema+1”, isto é, o filme conciliado com uma experiência com ele

relacionada – um concerto, uma peça de teatro, uma performance – a desenrolar-se durante

a meia hora anterior à película. Projectos destes têm como falhar? Não. Pelo menos,

não é o que queremos. E não é esse, todo o poder do mundo? e

www.cineclubedamaia.org | www.facebook.com/pages/cineclube-da-maia/174443961564

O VELHO PROJECTOR...

... como veículo para obrigar a

questionar a própria sociedade,

participando num acto cultural.

design :: culto

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COMER, BEBER,

SOL E PESCANão falaremos, aqui, de arquitectura. Pelo menos, para lá do facto de ser essa que está,

afinal, por trás de um dos mais inovadores espaços de Lisboa. Porque foi, também, o ímpeto criativo

de dois arquitectos que deu num estabelecimento que, à primeira vista, seria improvável.

Meio ano depois de ter aberto as portas, é só essencial.

TEXTO E FOTOS N U N O M I G U E L D I A S

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BLUE

DESIGN

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spot :: design

DO CAIS DO SODRÉ, ESPERA-SE TUDO.

Ou quase. Ninguém estranhará ao imaginá-lo, nos

primórdios, como cenário possível para uma escala

do The Pequod, antes de Ahab prosseguir a sua

tresloucada busca pelo grande cachalote branco. Quase

ninguém estranhará que a sua má fama tenha vindo,

precisamente, desses tempos em que era o único lugar

de extravaso para mareantes (os tais que se aviam em

terra) que aportavam em Lisboa, durante grande parte

do século XX. Poucos estranharão que, ainda antes do

advento do Bairro Alto, nos anos 80, a Rua Nova

do Carvalho fosse poiso obrigatório do divertimento

nocturno da capital, com bares que, ainda hoje,

subsistem (um suspiro pelo defunto Shangri La) e até

ganharam novo fôlego com a recente imposição

de encerramento dos estabelecimentos

do Bairro Alto às 3h00, como o Jamaica (com 40 anos)

ou o Roterdão, que Ruka Rebelo e Silva (pseudónimo

de banda-desenhista do D’Artagnan do Incógnito)

revitalizou em 2010. Mas serão muitos os que estranharão

ver outra vez iluminado o letreiro “Sol e Pesca” da “loja

do Marreco”, antiquíssima casa de material para pesca

desportiva, encerrada desde 1994. Uma vez lá dentro,

continuarão a estranhar. Porque as mudanças

na decoração foram feitas, mas subsiste o mobiliário,

que continua a guardar ou a exibir anzóis, linhas,

amostras, bóias e caixas de utensílios. No tecto, há

chalavares e covos, nas paredes estão as mesmas canas,

a mesma imagem de Santo António (com o logotipo da

Bayer?!), cartazes publicitando carretos com paisagens

norte--americanas, para as quais as nossas barragens

e rios serão fraco substituto, e fotografias de clientes

exibindo, com orgulho, achigãs dentudos e carpas

portentosas. Mas há, também, um senhor armário

que guarda uma das grandes mais valias da Sol e Pesca.

As mais variadas conservas provenientes das mais

tradicionais e antigas fábricas lusas, do tempo em que um

naco de pão e uma latinha faziam o farnel do dia (bem

mais apetitoso que os mini-pratos de snack-bar de hoje,

responsáveis pelo lento assassinato da gastronomia

nacional), com embalagens e rótulos a condizer, esperam

ali pela escolha do cliente mais exigente ou consumo na

casa. É aí que entra Bárbara Carreira, que já foi proprietária

do mui assinalável “O Cometa”, em Miragaia, vista para as

praias da Invicta. Agora atarefa-se, numa correria por

gosto, proporcionando aos clientes os gostos de outros

tempos. Pica cebolinho e alho sobre alguns carapauzinhos

da Conserveira de Lisboa para que fiquem mais alimados,

dispõe batata doce cozida em volta, e serve um branco

da casta verdelho, um Campolargo da Bairrada.

Acrescenta algumas malaguetas verdes sobre sardinhas

em tomate da Minerva ou enguia com aroma de fumo

da Comur e abre uma garrafa de tinto da Quinta

da Califórnia (comprado directamente ao produtor,

em Azeitão). Sobrepõe à ventresca de atum Santa

Catarina, a conserveira de São Jorge, Açores,

o imprescindível funcho e enche uns copos de tinto

da Quinta do Perdigão, Dão 2007. Nas poucas mesas

ou ao balcão, degustam os já assíduos clientes, estes

pequenos tesouros. Ouve-se, num volume que possibilite

o ameno convívio, o “The Greatest” de Cat Power.

A ambiência que os arquitectos Henrique Vaz Pato

e Gonçalo Carvalho conseguiram aqui criar, é de uma

sofisticação ímpar, sem deixar de ser profundamente

portuguesa. Grita, até, e bem alto, por um orgulho

no que é muito nosso. Mas só o que é bom. e

Sol e Pesca, Conservas e Bebidas

Rua Nova do Carvalho, 44

Tel.: 213.467.203 | [email protected]

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BLUE

DESIGN

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livros :: media

D E S J A R D I N S D A N S L A V I L L E

M I C H E L C O R B O U

W O O DA R C H I T E C T U R E N O W !

P H I L I P J O D I D I O

Madeira, esse material que enche as casas

de alma, conforto e aromas inspiradores.

Sólida, bonita, renovável e sustentável,

é usada desde sempre na construção.

Dos mais nobres materiais à disposição,

é uma dádiva da Natureza a quem

o reconhecido autor desta obra faz questão

de prestar homenagem, numa altura em

que a arquitectura contemporânea elege

a madeira como a matéria-prima do momento.

E porque os Homens não páram de inovar,

Philip Jodidio revela-nos extraordinários

exemplos do que andam arquitectos e estúdios

de todo o mundo a talhar. Útil, surpreendente,

belo e a mostrar com quantos paus se fazem

umas quantas coisas realmente fascinantes.

São 416 páginas e um rol de projectos nos

mais variados lugares do Planeta. 30€

Y E S I S M O R EA N A R C H I C O M I C O N A R C H I T E C T U R A LE V O L U T I O N

B I G - B J A R K E I N G E L S G R O U P

Mais um manifesto da arquitetura, produzido

pelo famoso grupo dinamarquês BIG,

que junta talentosos arquitectos, designers,

construtores e pensadores da ciência

de construir.

Editado pela Taschen em versão impressa,

acaba de chegar em formato digital ao iPad,

disponível no iTunes, versão essa que inclui

25 vídeos, imagens a 360°, contando, ainda,

com três capítulos extra, sobre os projetos mais

recentes, desenvolvidos pelo BIG.

Interessante e original a escolha da banda

desenhada, para contar a história da

arquitectura contemporânea, bem ao jeito

da filosofia do grupo BIG, em que o método,

o processo, os instrumentos e os conceitos, são

constantemente questionados e redefinidos.

A não perder. Em papel, 20€, digital, 10€

WWW.EDITIONSDELAMARTINIERE.FR

WWW.TASCHEN.COM

WWW.TASCHEN.COM

Les Editions de La Martinière, na sua secção

Arte Editions, acaba de dar à estampa uma obra

de Michel Corbu, jornalista e fotógrafo bem

conhecido em França, que propõe a reflexão

sobre esses espaços públicos cada mais

importantes para os habitantes das grandes

cidades: os jardins.

O autor apresenta um inédito testemunho

de reconhecidos paisagistas, que através

de plantas de projectos e de fotografias, revelam

a sua visão do jardim dentro do espaço urbano.

Das muitas entrevistas elaboradas e da análise

dos trabalhos dos arquitectos, resulta também

um inevitável périplo pelo passado e pelo

presente, numa perspectiva evolucional.

Jardins belíssimos e famosos, imagens

encantadoras, ideias para acarinhar e, no final,

um caderno fotográfico que dá a conhecer jovens

arquitectos paisagistas através das suas criações.

Um livro de utilidade pública. 40€

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COORDENADAS SOLTASA Hermès convidou para a sua galeria La Verrière, em Bruxelas, a talentosa artista francesa

Charlotte Charbonnel, que concebeu uma instalação muito divertida. Chama-se Vibrato Con

Sordino e é uma bola de vidro com água, de onde saem dezenas de fios de cores, que preenchem

o espaço da sala de uma forma leve e musical. Os fios fazem sons e os visitantes interagem com a

peça, criando ritmos diferentes. Há mesmo quem não consiga parar!

A sempre cobiçada e imperdível Trienal de Milão apresenta a primeira grande exposição

dedicada ao design gráfico internacional. Disciplina em constante mutação, que toca em

diferentes campos, revela-se aqui num desafio à reflexão. Sob a batuta de Giorgio Camuffo,

Graphic Design Worlds impõe-se, pois, neste certame milanês.

No Design Museum Holon, em Israel, a mostra Post Fossil merece atento olhar. Mais

de 100 obras, 63 designers, israelitas e de outros países. Em cada peça, matéria-prima natural

e sustentável. Objectos que falam do porvir através de materiais, formas e rituais do passado, ou seja,

um universo Flintstone projectado no futuro. Imperdível.

Ao Palácio Quintela, a experimentadesign leva Ordem de Compra. A exposição mostra

a relação do design industrial nacional com a produção. Um olhar sobre a crescente sinergia entre

unidades e empresários fabris e o design, com repercussões positivas na economia!

A segunda edição do projecto Contentores inaugura, em parceria com a P28, o Centro Cultural

de Belém e o Museu Colecção Berardo. Desta vez, à entrada do Centro Cultural de Belém,

com o espírito inicial: dinamizar a arte pública contemporânea e revelar reconhecidos artistas,

nacionais e estrangeiros, num formato pouco convencional. Cinco exposições, vários momentos

diferentes, muitas e boas sensações verão afora. A abrir, Francisco Aires de Mateus, até 14 de Maio.

É ano de Bienal de Arte de Cerveira. É cedo, sim, mas convém programar com antecedência

essa viagem ao Minho, para lhe dedicar alguns dias e aproveitar bem outras maravilhas da região.

Para a 16ª edição o tema é Redes 2011, e parte para um diálogo com outras bienais internacionais,

numa agenda vasta e tentadora. Exposições, debates, workshops, indústrias criativas, visitas guiadas

e concertos. Um programa de luxo, a arte e os seus artistas num cenário perfeito.

� CHARLOTTE CHARBONNEL'S VIBRATO CON SORDINO,La Verrière, 50 Boulevard de Waterloo, Bruxelas, até 26 de Março, www.hermes.com

� GRAPHIC DESIGN WORLDS,Trienal de Milão, Design Museum, Itália, até 27 de Março, www.triennaledesignmuseum.it

� POST FOSSIL, EXCAVATING 21ST CENTURY CREATION,Design Museum Holon, Israel, até 30 de Abril, www.dmh.org.il

� ORDEM DE COMPRA,Palácio Quintela, Rua do Alecrim, 70, Lisboa, de 10 de Março a 15 de Maio, www.experimentadesign.pt

� CONTENTORES, CCB, Praça do Império, Lisboa, de 9 de Abril a 31 de Agosto, www.contentoresp28.com

� 16ª BIENAL DE ARTE DE CERVEIRA,Vila Nova de Cerveira, de 16 de Julho a 17 de Setembro, www.bienaldecerveira.pt

. . . E P R O P O M O S A L G U M A S E X P O S I Ç Õ E S Q U E N Ã O V A I Q U E R E R P E R D E R .

Expos

CONTENTORES

POST FOSSIL

CHARLOTTE CHARBONNEL

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lista :: contactos

PROCURE A S MARCAS QUE O I N S P I RAM . . .

MarcasARTECNICAwww.artecnicainc.cnet

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Rua Gonçalo Cristóvão, 864000-264 Porto. Tel. 223 322 [email protected]

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BLUE

DESIGN

9 7

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ma Ideia da Tailândia porque o livro devorado no avião que m

e levou ao desconhecido Sião foi “Uma Ideia

da Índia” escrito por um M

oravia que visitara o Subcontinente na companhia do am

igo Pier Paolo Pasolini (olha que dois). Diz que “a Índia é algo que se sente”. D

ecidi, por isso, que a

primeira ilustração do diário de viagens deveria ser feita quando a Tailândia era apenas um

a ideia de exotismo, baseada em

imagens com

que fui, a vida toda, construindo una ideia.

É a escolhida para aqui porque também

o Sião é algo que se sente.

NOTEBOOKeria :: Nuno Miguel Dias

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