bleger, josé. psicologia institucional [resumo]

Upload: victoria-namur

Post on 08-Jan-2016

47 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

psicologia institucional

TRANSCRIPT

Psicologia Institucional de Bleger numa crtica freudiana

Psicologia Institucional

Introduo

O objetivo da presente apostila servir como material de apoio para a bibliografia bsica de Psicologia Institucional. Abordaremos os autores:

Jos Bleger (Psico-higiene e Psicologia Institucional);

La Passade (Grupos, Organizaes e Instituies);

Ren Lourau (Anlise Institucional);

Marlene Guirado (Temas Bsicos em Psicologia Institucional),

Trabalhos de scio e esquizoanlise de G. Deleuze e F. Guattari.

Psiclogo:

( passar da atividade psicoterpica (doente/ cura)

( para atividade da psico-higiene (preveno)

(para isso: enfoques sociais

A instituio uma formao da sociedade e da cultura; segue-lhes a lgica prpria. Instituda pela divindade ou pelo homem, a instituio ope-se quilo que estabelecido pela natureza. A instituio o conjunto das formas e das estruturas sociais institudas pela lei e pelo costume: regula nossas relaes, pr-existente e se impe a ns; ela se inscreve na permanncia (Kaes, 1991,p.6). Segundo Guirado, tendemos a dizer, em meio reproduo das relaes e exatamente porque desconhecemos sua origem, que as relaes so assim por natureza; no as consideramos como institudas e sim, como se tivessem sido criadas por Deus! Tal legitimao acontece por um efeito de reconhecimento das prticas como as nicas possveis e um desconhecimento de outras modalidades de relao, sendo a representao esse efeito dereconhecimento e desconhecimento: ns nos representamos as relaes que fazemos e assim fica garantida a naturalizao das prticas institucionais. Com isso, acabo naturalizando aquilo que institudo, absolutizando aquilo que relativo. A relao instituda passa a ser representada como natural e, portanto, uma realidade psquica.

As relaes institucionais criam-se e se transformam pelo discurso que Michel Foucault define como formao discursiva, ou um conjunto de regras annimas, histricas, sempre determinadas no tempo e no espao, que definiram, em uma poca dada e para uma rea social, econmica e geogrfica ou Lingstica, as condies de exerccio da funo enunciativa. (Foucault, 1970, p.53). O discurso enquanto produo no pode ser homogneo, transparente, indiviso, como aparece na sua dimenso de comunicao. O discurso divide, ope, superpe, metadiscursa, multiplica sentidos numa mesma palavra e, exatamente por essas qualidades, equivoca-se nos intercmbios entre o dizer e o dito.

O discurso tambm polifnico (heterogneo) de forma que o psiclogo institucional, ao analisar o discurso dos sujeitos que pertencem a determinada instituio trabalha com ambigidades e descontinuidades existentes na linguagem ao deter a ateno no modo de construo do discurso, nas discrepncias em o fazer e o falar, nas recorrncias e nas relaes existentes entre os termos. A partir da anlise do discurso possvel mapear o terreno ou a tessitura discursiva.

Se existe um discurso a analisar, h pessoas em relao que conversam, discutem, pensam e refletem, ou seja, o sujeito do discurso enquanto sujeito institucional que tambm psquico. A subjetividade ao ser constituda no conjunto das relaes institucionais entende a singularidade psquica enquanto organizaes particulares de uma histria de relaes e de vnculos (os organizadores da idias de singularidade no so os conceitos metapsicolgicos de pulso, libido e impulso e sim um conjunto de relaes institucionais).O que a psicologia institucional

Caracteriza-se por:

(seu mbito: instituies

(modelos conceituais

( estratgia:

(enquadramento da tarefa

(administrao de recursos

Tipos de Instituio:

Grupos Primrios:

Forte ambiguidade de papis e status

Identificaes projetivas macias

Dficit na diferenciao e identidade dos membros

Molde no grupo familiar

Grupo de presena forte, mas de tarefa dbil

Forte depositao e gratificao da personalidade sincrtica

Dficit de informao favorece a regresso a grupos primrios

Grupos estereotipados:

Ambiguidade resoluta ou compensada, com uma forte formalizao que leva a intensas segmentaes e incomunicaes.

PSICO-HIGIENE

Para BLEGER, a psicologia institucional no to somente um campo de aplicao da psicologia, mas sim um campo de investigao pois considera que o centro de toda a psicologia, como da cincia em geral, a prtica. A prtica determina a teoria:

"A prtica no uma derivao subalterna da cincia, mas sim seu ncleo ou centro vital: e a investigao cientfica no tem lugar acima ou fora da prtica, mas sim dentro do curso da mesma" (Bleger, 1984, p. 32)

Segundo Bleger, sade deve ser entendida "no s como a ausncia de doena, mas um aproveitamento mais eficiente de todos os recursos com que conta cada grupo para mobilizar sua prpria atividade na procura de melhores condies de vida, tanto no campo material como no cultural, no social e no psicolgico"(1989, p.106).

Ao se pensar em processos de interveno institucional, a atuao do psiclogo est alicerada em dois eixos: curar pacientes doentes atravs da psicoterapia e atividades preventivas de promoo da sade com a populao sadia. Seu trabalho tanto tem o enfoque nos problemas individuais quanto nos fenmenos sociais que desencadeiam problemas individuais, grupais e sociais mais amplos. O psiclogo institucional ir articular-se, ao observar pessoas no curso de seu trabalho cotidiano, entre a investigao cientfica e a interveno tcnica que efetiva a prxis, na qual a investigao modifica o investigador e o objeto de estudo, o que, por sua vez, investigado na nova condio modificada (Bleger, 1984, p.47)

O objeto de estudo e de interveno para Bleger a instituio como um todo. Sua administrao, seus funcionrios, usurios, sua estrutura fsica, a comunidade e a sociedade em que instituio est inserida. Todas estas caractersticas devem ser levadas em conta ao se fazer um diagnstico, planejar um mtodo de interveno e intervir.A psicologia institucional seria uma juno entre as abordagens psicoteraputicas e a psicologia social. Em seu incio, a partir dos anos 60, a juno entre a psicanlise e a psicologia social. Cabe salientar que, em psicologia institucional, o organismo a ser submetido anlise a prpria instituio na qual o psiclogo atua. Cabe a ele compreender, a partir dos objetivos de sua tarefa, os contedos explcitos e latentes que fazem parte da dinmica da instituio.

Psicologia Institucional:

( abarca o conjunto de organismos que tm um certo grau de permanncia em algum campo ou setor especfico da atividade ou vida humana, para estudar neles todos os fenmenos humanos que se do em relao com a estrutura, dinmica, funes e objetivos da instituio.

Como todo e qualquer trabalho ou tarefa a ser efetuada sendo necessrias informaes para contextualizar a instituio, seus usurios e a comunidade na qual se insere.

Dada uma instituio, o psiclogo centra sua ateno na atividade humana em que ela tem lugar e no efeito da mesma, para aqueles que nela desenvolvem dita atividade. Para isto, impe-se um mnimo de informao sobre a prpria instituio que, por exemplo, inclui:

a) finalidade ou objetivo da instituio;b) instalaes e procedimentos com os quais se satisfaz seu objetivo;c) situao geogrfica e relaes com a comunidade;d) relaes com outras instituies;e) origem e formao;f) evoluo, histria, crescimento, mudanas, flutuaes, suas tradies;g) organizao e normas que a regem;h) contingente humano que nela intervm: sua estratificao social e estratificao de tarefas;i) avaliao dos resultados de seu funcionamento; resultado para a instituio e para seus integrantes. Itens que a prpria instituio utiliza para isto." (Bleger, p.38)

O enquadramento particular da tarefa deve levar em conta dois princpios bsicos:a) toda tarefa deve ser empreendida e compreendida em funo da unidade e totalidade da instituio;b) o psiclogo deve considerar, muito particularmente, a diferena entre psicologia institucional e o trabalho psicolgico em uma instituio (a psicologia institucional leva em considerao a toda a instituio. (Bleger, p.39)Um ponto fundamental para o trabalho do psiclogo institucional que seu trabalho dificilmente ser bom se ele for submisso ou estiver vinculado (relao empregado x empregador) instituio.

Psiclogo:

( deve conhecer em detalhes a atividade humana que tem lugar nela e qual o efeito dela para os que desenvolvem as atividades.

Ao realizar a anlise importante que haja um distanciamento entre o psiclogo e a instituio.

Esta afirmao leva a uma questo que tem sido um grande entrave para o trabalho do psiclogo institucional: por que o psiclogo no pode se submeter diretamente hierarquia e s prescries (regras) da instituio?Ora, ao ser contratado como empregado quem o contrata no a instituio e sim a administrao desta. Porque quem contrata o psiclogo, no caso de ele ser um empregado, no a instituio, e sim a administrao desta o que lhe dificulta "transcender" os objetivos da instituio (que via de regra so determinados por administradores) e reconhecer os sintomas dos problemas que so indicados na "queixa" da instituio.

Como no processo de anlise clnica tradicional, o paciente (a instituio) raramente tem conscincia de seu real problema e resiste s tentativas do terapeuta. Reconhece a existncia de um conjunto de sintomas que denunciam seus conflitos, mas necessria uma certa maturidade para enfrentar as prprias resistncias e dificuldades institucionais. Alm disso, entre a instituio e o psiclogo ainda podem surgir outras barreiras relacionadas tica e a objetivos, pois de nada adiantar tentar mudar aspectos de uma instituio se as pessoas que dela fazem parte no lhes do o respectivo significado.

Porm, os objetivos do psiclogo devem levar em conta, ao enquadrar sua tarefa, os objetivos, a misso e a filosofia da instituio. O psiclogo deve incentivar a mudana, mas esta deve estar de acordo com o possvel da instituio. Cabe ao psiclogo avaliar e refletir sobre as mudanas desejveis e "assessorar o processo dinmico da referida instituio".

Enquadramento da tarefa

(toda tarefa deve ser compreendida e empreendida em funo da unidade e totalidade da instituio

(diferena entre Psicologia Institucional e trabalho psicolgico na instituio

(o que interessa a instituio como um todo, ainda que trabalhemos apenas com parte dela.

( Ter apenas um papel na instituio que se estudaMtodo do trabalho institucionalInvestigao

A investigao institucional se baseia no modelo clnico e utiliza a indagao operativa; esta indagao observa os acontecimentos que se do na instituio e busca a compreenso dos fatos e de como estes se relacionam e integram o cotidiano da instituio.

( compreenso do significado dos acontecimentos e da forma como eles se relacionam e integram.

( incluir os resultados dessa compreenso, no momento oportuno, em forma de interpretao, assinalamento ou reflexo.

Gradualmente:

( meta-aprendizagem (os implicados na tarefa aprendem a observar e refletir sobre os acontecimentos)

( investigao modifica: investigador e objeto de estudo.

( prxis: investigar operar

agir uma experincia enriquecedora e enriquecida com a reflexo

Enquadramento.

Tcnicas de enquadramento:

a) atitude clnica: atitude emptica (distncia tima)

b) relaes explcitas (colocar as claras tudo que diz respeito funo profissional)

c) esclarecer a tarefa profissional a realizar

d) esclarecer a todos os grupos qual a tarefa

e) estabelecer de forma prtica, definida e clara o carter da informao dos resultados

f) segredo profissional e lealdade observados

g) limitar ou excluir contatos extra-profissionais

h) no tomar partido de setores da instituio

i) no assumir outros cargos

j) compartilhar responsabilidades na medida em que os efeitos de uma mudana dependam de seu assessoramento

k) no formar superestruturas que desgostem ou se sobreponham com as autoridades

l) no fomentar dependncia psicolgica

m) controle e limitao da informao dentro do que se conhece cientificamente.

n) No tomar como ndice de avaliao da tarefa o progresso da instituio, e sim o grau de compreenso, independncia e melhoria das relaes

o) A nica forma de operar atravs da subministrao de informao (grau de veracidade, timing, quantificao)

p) Contar com a presena de resistncia e investig-la de modo a se tornar um agente de mudana

q) Instituio sadia no a que no tem conflitos, mas a que est em condies de explicitar seus conflitos e possui meios de arbitrar medidas para sua resoluo

r) No aceitar prazos fixos para resolver tarefas.

Ou seja, deve-se fazer um resgate do histrico da instituio, para que se consiga entender quais foram os processos geradores dos padres que esto institudos.

Mtodo clnico e tcnica psicanaltica

enquadramento psicanaltico:

observao e registro detalhados

indagao operativa:

( observao de acontecimentos e seus detalhes.

Sobre a resistncia que a transferncia oferece, tanto Bleger quanto Guirado baseiam-se no argumento freudiano de que a transferncia negativa para a figura do analista dificulta a anlise." O trabalho teraputico deixa-se, pois, decompor em duas fases: na primeira, toda a libido se destaca dos sintomas para fixar-se e concentrar-se nas transferncias; na segunda, a luta se trava em torno desse novo objeto do qual acabamos por libertar a libido. Este resultado favorvel s obtido se consegue, no correr deste novo conflito, impedir novo recalcamento, merc do qual a libido se refugiaria no inconsciente, esquivando-se novamente do eu. Isto se consegue, graas modificao do eu que se realiza sob a influncia da sugesto mdica." (Freud, p.249)

O Psiclogo na Instituio

Desde os primeiros contatos: diagnstico

Registro dos dados

Enquadramento da tarefa

Verificar qual o grau de aceitao do psiclogo

A dinmica da instituio

A dinmica importante na medida que a instituio se reconhea como problemtica e procure instrumentos para resolver problemas.No se espera de uma instituio que ela no tenha conflitos. A instituio composta por indivduos e a relao entre indivduos conflituosa por natureza. importante que haja algum grau de dinmica para que o psiclogo possa agir.

Possibilidade de explicitar conflitos, manej-los e resolv-los dentro do limite institucional

Psiclogo um agente de mudanas, sempre h foras institucionais agindo no sentido de anular suas funes e ao

Quanto menor o grau de dinmica mais ataques ao enquadre e mais tentativas de envolv-lo como pessoa e no como profissional

CONFLITO # PROBLEMA # DILEMA

CONFLITO:

FORAS CONTROVERTIDAS EM INTERJOGO

EM GERAL O CONFLITO DE QUE SE QUEIXA ENCOBRE OUTROS

PROBLEMA:

VARIVEIS OU DISJUNTIVAS QUE REQUEREM SER ORIENTADAS E DIRIGIDAS EM ALGUMA DIREO

TORNA-SE CONFLITO QUANDO GRUPOS DISTINTOS ASSUMEM AS DIFERENTES ORIENTAES

DILEMA:

OPES IRRECONCILIVEIS QUE DEIXARAM DE ESTAR DINAMICAMENTE EM INTERJOGO, J NO EXISTE INTERAO, S A POSSIBILIDADE DE ELIMINAO

FORMA DEFENSIVA EXTREMA DOS PROBLEMAS OU CONFLITOS

NDICE DE MAU PROGNSTICO

DIFICULDADE NO TRABALHO DO PSICLOGO

SITUAES DE CONFUSO E AMBIGUIDADE

O DIFCIL DE MANEJAR A AMBIGUIDADE QUE AGE COMO AMORTIZADOR DOS CONFLITOS

PSICOLOGIA INSTITUCIONAL DE MARLENE GUIRADO

Um dos importantes pontos destacados por Guirado a insuficincia da teoria para se dar conta da tarefa de psiclogo institucional:

"Notamos que o psiclogo, enquanto profissional numa instituio, tem, a princpio, dois caminhos a seguir. Um o da utilizao dos recursos tericos e prticos aprendidos durante o curso de Psicologia (...) outro o de buscar uma interveno de natureza institucional, cujo embasamento terico e prtico no costuma fazer parte dos cursos regulares de formao de psiclogos" (Guirado, p.70)

Outro ponto de importncia (discorda de Bleger) a questo da separao entre sujeito e objeto da psicologia. Para Guirado, esta separao no existe; somos o tempo todo sujeito e objeto do conhecimento sobre ns mesmos e sobre as relaes com outros homens e com o mundo (Guirado, p.71)

Sob esta tica o papel do psiclogo seria auxiliar no processo de tomada de conhecimento (por parte do sujeito) sobre si mesmo nas relaes que vivencia. Ou seja, desenvolver a autopercepo.

O objeto de estudo deve ser a imaginao, o sentimento e representao vivida pelo sujeito atravs da relao. Os pontos centrais de estudo da psicologia institucional sero as relaes e suas conseqncias para os indivduos pertencentes instituio bem como a manifestao inconsciente ou mesmo consciente de contedos despertados no sujeito em relao.

"Trabalhar com Psicologia Institucional no seria, portanto, trabalhar no espao fsico de uma instituio, seja ele qual for; reeditar a compreenso e a tcnica de trabalho da relao psicoterapeuta/cliente, examinador/examinado, selecionador/selecionado. Seria sim, trabalhar com as relaes de determinada prtica institucional". (Guirado, p,72)

Para Guirado, a tarefa do psiclogo institucional ser "destituir o institudo". Existe um grande nmero de relaes institucionais opressivas que podem ser extremamente prejudiciais, porm observados como a ordem natural das coisas ou "institudas na instituio! So produzidas pela manuteno de certos padres de comportamentos por vezes bastante antigos, que foram se instituindo por fora de hbito e esto embutidos na mente de todos como a ordem natural (vai ver que assim mesmo, e vai ser assim para sempre...) das coisas.

"Nota-se, em sua definio, uma nfase na reproduo do institudo. Isto possvel porque se reconhece a ordem estabelecida como natural e autntica, e porque se desconhece o carter institudo desta ordem, assim como sua capacidade de instituir novas relaes.(Guirado, p.73)

A Ordem estabelecida nas instituies bem como as relaes entre seus indivduos ao ser considerada como natural e autntica comparada por Guirado com a transferncia psicanaltica. "A transferncia pode ser entendida como a repetio de modelos primitivos de relao que, enquanto processo inconsciente nega o tempo e o espao como presentes, reproduzindo em vnculos atuais posies vividas em vnculos passados. A interpretao pode ser compreendida como hiptese formulada sobre contedos inconscientes". (Guirado, p 74)