biografismo e os elementos jornalísticos na produção da

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Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da Narrativa Biográfica 1 ADAM, Felipe (Mestrando) 2 UEPG/PR Resumo: Considerado por Vilas Boas (2002) como um gênero híbrido, as biografias estão tensionadas por vários campos, entre eles a História, Literatura e o Jornalismo. Este artigo busca discorrer sobre o envolvimento de jornalistas escritores na concepção do campo do biografismo e busca compreender quais os elementos jornalísticos podem ser encontrados nos livros de gênero biográfico. Para isso, iremos nos apropriar dos textos de Bauer (2000), Motta (2004), Gadini (2005) com o intuito de analisar conceitos e técnicas, tais como o livro-reportagem, a pesquisa bibliográfica e a entrevista, nesse tipo de projeto. Como resultado, observa-se que o biografismo brasileiro surgiu após a década de 1980 e tem se consolidado como um importante meio cultural para a prática da reportagem. Conclui-se assim que, por terem exercido o ofício em jornais ou revistas, os jornalistas que se dedicam à escrita biográfica também transportam as técnicas de apuração, edição e escrita ao meio literário. Palavras-chave: biografia; biografismo; livro-reportagem; entrevista. Introdução Nas livrarias, elas possuem uma estante de destaque. Até em sebos ou em sites de vendas pela internet, a categoria chama atenção. Muitas a procuram pelo interesse alheio que move a curiosidade do ser humano; outros, apenas pelo prazer da leitura. O fato é que jornalistas perceberam nas biografias uma oportunidade de trabalho, com mais tempo e espaço do que os tradicionais meios impressos. Porém, a discussão se aquilo que se produz é jornalismo, motiva debates sobre o gênero. Goste ou não, o fato é que a produção de obras classificadas como biográficas no mercado editorial brasileiro tem demonstrado fôlego. Segundo a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro 3 , as biografias apresentaram em 2017 um 1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Impressa, integrante do VII Encontro Regional Sul de História da Mídia Alcar Sul, 2018. 2 Graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali/SC), campus de Itajaí e Mestrando em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E- mail: [email protected]. 3 Ano-Base 2017. Encomendada pela Câmara Brasileira do Livro, Sindicato Nacional dos Editores de Livro e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, a pesquisa divulgou que os temas didáticos, religiosos e de literatura adulta foram os mais produzidos no Brasil. Disponível em

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Page 1: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da Narrativa

Biográfica1

ADAM, Felipe (Mestrando)2

UEPG/PR

Resumo: Considerado por Vilas Boas (2002) como um gênero híbrido, as biografias estão

tensionadas por vários campos, entre eles a História, Literatura e o Jornalismo. Este artigo busca

discorrer sobre o envolvimento de jornalistas escritores na concepção do campo do biografismo

e busca compreender quais os elementos jornalísticos podem ser encontrados nos livros de

gênero biográfico. Para isso, iremos nos apropriar dos textos de Bauer (2000), Motta (2004),

Gadini (2005) com o intuito de analisar conceitos e técnicas, tais como o livro-reportagem, a

pesquisa bibliográfica e a entrevista, nesse tipo de projeto. Como resultado, observa-se que o

biografismo brasileiro surgiu após a década de 1980 e tem se consolidado como um importante

meio cultural para a prática da reportagem. Conclui-se assim que, por terem exercido o ofício

em jornais ou revistas, os jornalistas que se dedicam à escrita biográfica também transportam as

técnicas de apuração, edição e escrita ao meio literário.

Palavras-chave: biografia; biografismo; livro-reportagem; entrevista.

Introdução

Nas livrarias, elas possuem uma estante de destaque. Até em sebos ou em sites

de vendas pela internet, a categoria chama atenção. Muitas a procuram pelo interesse

alheio que move a curiosidade do ser humano; outros, apenas pelo prazer da leitura. O

fato é que jornalistas perceberam nas biografias uma oportunidade de trabalho, com

mais tempo e espaço do que os tradicionais meios impressos. Porém, a discussão se

aquilo que se produz é jornalismo, motiva debates sobre o gênero.

Goste ou não, o fato é que a produção de obras classificadas como biográficas

no mercado editorial brasileiro tem demonstrado fôlego. Segundo a pesquisa Produção e

Vendas do Setor Editorial Brasileiro3, as biografias apresentaram em 2017 um

1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Impressa, integrante do VII Encontro Regional Sul de

História da Mídia – Alcar Sul, 2018. 2 Graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali/SC),

campus de Itajaí e Mestrando em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E-

mail: [email protected]. 3 Ano-Base 2017. Encomendada pela Câmara Brasileira do Livro, Sindicato Nacional dos Editores de

Livro e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, a pesquisa divulgou que os temas didáticos,

religiosos e de literatura adulta foram os mais produzidos no Brasil. Disponível em

Page 2: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

crescimento de produção de 11,14% em comparação ao ano de 2016, o que corresponde

a 5.710.986 milhões de exemplares no total. Para corroborar essa influência, vale

mencionar que outras categorias - como os didáticos e os religiosos - apontaram

retrocesso, embora liderem a produção, com 179.599.663 e 90.576.879,

respectivamente.

A pergunta que irá nortear esta discussão é quais os elementos do discurso

jornalístico poderão ser encontrados nos livros de gênero biográfico? A razão pela

escolha das biografias femininas se dá pela pouca visibilidade literária na categoria

biografia aos grupos tidos como oprimidos. Paiva (2011) os define como sendo de

minoria4, tecendo uma relação com a própria hegemonia.

Em síntese: trabalhar o conceito de minoria significa primeiramente

enveredar pelo ambiente que propicia seu aparecimento. Sendo assim, torna-

se praticamente impossível estabelecer o que se entende por minoria sem

antes agendar o entendimento do seu princípio gerativo e sua estrutura

constitutiva: o conceito de hegemonia (PAIVA, 2011, p.29).

Como metodologia, optou pela análise de conteúdo, método a qual Martín Bauer

(2000, p. 192) classifica como “pesquisa de opinião pública com outro meios”. Os

procedimentos da AC, de acordo com o psicólogo suíço, reconstroem as dimensões

sintática e semântica. A primeira teria relação a como algo é dito ou escrito – “o

frequente emprego de uma forma de palavras que não é comum pode identificar um

provável autor e determinado vocabulário pode indicar um tipo provável de público”

(BAUER, 2000, p. 193). Já a semântica daria atenção a quantidade de ocorrências de

palavras numa frase ou parágrafo – ou seja, aos “sentidos denotativos e conotativo em

um texto. A semântica tem a ver com ‘o que é dito em um texto?’, os temas e

avaliações.

Herscovitz (2007, p. 124) ensina que a análise de conteúdo no jornalismo faz

com que os pesquisadores entendam “um pouco mais sobre quem produz e quem recebe

http://www.snel.org.br/apresentado-o-resultado-da-pesquisa-producao-e-vendas-do-setor-editorial-

brasileiro-ano-base-2017. Acessado em 29 de maio de 2018. 4 Dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, divulgada pelo IBGE em 2013, indicam

que viviam no Brasil 103,5 milhões de mulheres, o equivalente a 51,4% da população.

http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/03/mulheres-sao-maioria-da-populacao-e-ocupam-

mais-espaco-no-mercado-de-trabalho

Page 3: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

a notícia e também a estabelecer alguns parâmetros culturais implícitos e a lógica

organizacional por trás das mensagens”. A autora compara os interessados nas técnicas

da AC “como detetives em busca de pistas que desvendem os significados aparentes

e/ou implícitos dos signos e das narrativas jornalísticas, expondo tendências, conflitos,

interesses, ambiguidades ou ideologias presentes nos materiais examinados” (2007, p

127).

Biografar é uma arte exaustiva, complexa, condensada. A trilha para encontrar

personagens, convencer as fontes a dar uma entrevista, checar informações, enumerar os

dados mais notórios e finalmente, tentar iniciar o texto, pertencem a técnicas

acumuladas no decorrer da experiência profissional. São esses bastidores os quais este

trabalho possui a intenção de apresentar. E sendo a biografia um assunto que mergulha

na história cultural do país, o escritor acaba tendo que desvendar os meandros que

possam esclarecer a atividade do jornalista.

Os múltiplos campos da biografia

Realmente, a biografia despertou estudos em variadas áreas, como a Literatura, a

Semiótica e a História. O professor Mozahir Salomão Bruck (2010), por exemplo, infere

que possa haver apontamentos para se construir um conceito de biografia literária. Para

o estudioso, “ela é resultado do trabalho, reconhecidamente artístico de um autor crítico,

cuja obra narrativa prioriza a si mesma como presença no mundo e se vale do mote

biográfico, em geral, como oportunidade de exercício o fazer literário” (BRUCK, 2010,

p. 187). Atrelado a isso, o filósofo Mikhail Bakhtin já dizia que havia os escritores

ingênuos, que acreditavam na biografia puramente como a reposição do real e aqueles

ditos críticos, nos quais valorizavam mais os aspectos estéticos. Em suma, o russo

defendia que “o mundo da biografia não é fechado nem concluído, e o princípio de

fronteiras firmes não o isola no interior do acontecimento da existência” (BAKHTIN,

1997, p. 179) E ainda complementa:

A biografia se atribui como tarefa artística fundamental representar a vida em

seus valores biográficos, a vida do herói, mas não visa determiná-lo interior e

exteriormente, dar-lhe uma imagem concluida; o importante não é saber

quem ele era, mas o que viveu, o que fez. A biografia, claro, comporta

Page 4: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

também aspectos que determinam a imagem do herói (a heroificação), mas

nenhum desses aspectos assegura o acabamento da pessoa; o herói é

significante a título de portador de uma vida histórica notável e determinada,

plena e rica; é essa vida que constitui o centro dos valores da visão e não o

todo do herói, cuja vida pessoal, em suas determinações, não passa de uma

caracterização sua. (BAKHTIN, 1997, p. 187)

A semiótica também se debruçou ao olhar a biografia como uma espécie de

quebra-cabeça. Roland Barthes cunharia a expressão “biografema”, quando a definiria

como uma representação da escrita biográfica (BARTZ, 2014, p. 09).

Os biografemas são, pois, uma forma de ficcionalizar os documentos e

provas, uma vez que, sem factualidade e comprovação documental, os

biografemas também não existem. E, quando se valorizam demasiadamente

os biografemas ou fatos de pouca ou nenhuma importância, a biografia se

torna o que Pignatari (1996) chama de puzzle em que se pode “observar

enormes lacunas [...] transformando-se num arquipélago bizarro de

biografemas flutuantes.” (PIGNATARI, 1996 apud BARTZ, 2014, p. 09).

Enquanto isso, o historiador francês François Dosse (2009) a classificou como

um gênero impuro. Segundo ele, a biografia vive numa “tensão constante entre a

vontade de reproduzir um vivido real passado, segundo as regras da mimesis, e o polo

imaginativo do biógrafo, que deve refazer um universo perdido segundo sua intuição e

talento criador” (2009, p. 55) e complementa que “a imaginação é explicitamente

requerida para compensar as insuficiências documentais e o resgate impossível do

passado” (2009, p. 69). Para tanto, é necessário registrar que até o início dos anos 1980,

a biografia para a história era um gênero totalmente renegado. Fruto da École dos

Annales, que propôs renovar as histórias ditas tradicionais em prol de uma história

social. Na época, o segmento era vinculado ao sistema elitista e dominador, sendo

considerada “um dos pilares do complexo processo de construção das nações”

(MOTTA, 2000, p. 05). Após esse período, as biografias – em especial do século XIX -

foram taxadas como “lugares onde a memória nacional se fixou” (MOTTA, 2000, p.

09).

Ademais, é importante incluir neste quesito o termo ilusão biográfica cunhado

pelo francês Pierre Bourdieu (2001). Nele, o sociólogo credita que a vida de um sujeito

não é possível de se registrar num livro em única ou mais edições ou que essa história

aconteceu daquela maneira, de forma linear.

Page 5: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

Produzir uma história de vida, tratar a vida como uma história, isto é, como o

relato coerente de uma seqüencia de acontecimentos com significado e

direção, talvez seja conformar-se com uma ilusão retórica, uma representação

comum da existência que toda uma tradição literária não deixou e não deixa

de reforçar (BOURDIEU, 2001, p. 185).

Por esses vieses, pode-se observar que o gênero biográfico já serviu de debates

em variadas pesquisas. Gadini (2005) discute as dificuldades na pesquisa jornalística e

as referências utilizadas por pesquisadores em alusão aos estudos da comunicação, em

detrimento aos processos jornalísticos. “Além da ausência de produções bibliográficas

capazes de dar sustentação e base para estudos, formação profissional específica (...) o

campo jornalístico se mantém ‘preso’ ou, talvez, um pouco limitado às generalizações

da área de comunicação social” (2005, p. 04). Interessante notar que, através da

abordagem de Gadini, pode-se também avaliar que a aceitação, no campo do próprio

jornalismo, ainda é reticente. Houve casos tanto de autores que tentaram se aproximar

da biografia quanto daqueles que resolveram se afastar, crendo que essa categoria não

se encaixa com a realidade jornalística.

Vilas Boas (2002) foi enfático e assim como pensava Bourdieu (2001),

considerou como utópica a ideia de totalizar uma vida. “Biografia é o recorte de uma

vida, não a vida. Dito de outro modo: ela é um arranjo de vidas a partir de fatos que

levam à interpretação de uma vida” (VILAS BOAS, 2002, p. 136).

Biografismo e o jornalismo na etapa de produção

Conforme já relatado acima, nossa perspectiva neste paper é saber quais

atributos, quais movimentos de jornalismo podem ser identificados em biografias

elaboradas por jornalistas. Antes, é notório registrar a evolução do biografismo

brasileiro. Vieira (2015) constitui em dois períodos os momentos da escrita sobre

histórias de vida: a primeira, da década de 1930 a 1960; a segunda, a partir dos anos

1980 a contemporaneidade.

O jornalismo mergulharia no biografismo durante a segunda fase, protagonizada

em especial pela publicação de Morte no paraíso: A tragédia de Stefan Zweig (1981),

biografia do escritor austríaco, assinada pelo carioca Alberto Dines. Em seguida, outro

Page 6: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

jornalista atingiria sucesso editorial de vendas: o mineiro Fernando Morais com Olga

(1985)5, história da companheira judia de Luís Carlos Prestes, líder da Coluna Prestes,

que percorreu o interior do Brasil na década de 1920 e da Intentona Comunista em

1935. Ainda em 1985, a paulista Regina Echeverria abriria espaço às mulheres

biógrafas ao estrear no meio literário com o lançamento de Furacão Elis6.

Na década seguinte, o jornalismo presenciaria um crescimento exponencial na

vendagem de biografias. Entretanto, ao mesmo tempo que jornalistas escritores

colheriam bons frutos de seus livros, esses autores também teriam que se preocupar com

os herdeiros dos biografados. Os cariocas Carlos Didier e João Máximo lançaram Noel

Rosa: Uma biografia (1990), mas se depararam com problemas junto aos parentes do

ex-sambista. Em 1992, o mineiro Ruy Castro publicava O anjo pornográfico; dois anos

depois, Fernando Morais e o seu Chatô, o Rei do Brasil7. O ano de 19958 marcaria o

jornalismo pelas publicações de duas obras: Mauá: Empresário do Império, do paulista

Jorge Caldeira e Estrela solitária: Um brasileiro chamado Garrincha9, de Ruy Castro.

Exemplos como esses apresentados no parágrafo demonstram o êxito do gênero e

suporte para a formação de um mercado. De acordo com Vieira (2015), esses

jornalistas:

5 A obra serviria de roteiro para o filme Olga, estreado em 20 de agosto de 2004. Dirigido por Jayme

Monjardim, a cinebiografia era protagonizada pela atriz Camila Morgado no papel-título e Caco Ciocler,

como Luís Carlos Prestes. Disponível em: http://globofilmes.globo.com/filme/olga/. Acessado em:

06/08/2018. 6 O livro receberia uma nova edição em 2012, quando se completavam 30 anos do falecimento da cantora

Elis Regina. Disponível em: http://www.reginaecheverria.com.br/biografias_14.html. Acessado em:

06/08/2018. 7 A biografia de Fernando Morais serviria novamente de inspiração para os cinemas. Porém, o longa

dirigido por Guilherme Fontes sofreu com orçamento baixo, dívidas e após vinte anos parado num

imbróglio judicial, em 2015 foi finalmente liberado para a estreia. Disponível em:

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-

arte/2015/11/26/interna_diversao_arte,508079/cheio-de-poemicas-o-filme-chato-de-guilherme-fontes-

estreia-em-brasi.shtml. Acessado em 06/08/2018. 8 Chatô (205 mil exemplares), Mauá (106 mil) e Estrela solitária (76 mil) lideraram a vendagem dos

livros de não-ficção em novembro de 1995. Os dados foram fornecidos pela editora Companhia das

Letras, relacionados às vendas realizadas até março de 2001. Disponível em VILAS BOAS, Sergio.

Afinidades eletivas. In: Biografias & Biógrafos: jornalismo sobre personagens: São Paulo: Summus,

2002. P. 23-31. 9 A obra seria finalista da categoria Estudos Literários (Ensaios) do Jabuti de Literatura em 1996. A

premiação criaria um segmento próprio para Biografia apenas em 2006, quando Ruy Castro conquistaria

o troféu com Carmen: Uma biografia.

Page 7: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

(...) levaram para outro suporte, o livro, a sua experiência da reportagem

promovendo a um novo status de autoria uma nova geração de jornalistas

que, depois de construírem uma carreira no jornalismo diário, encontram na

produção de biografia – e das reportagens históricas, outro nicho – um lugar

de fala e de expressão jornalística (VIEIRA, 2015, p. 07).

Sustentar uma biografia jornalística é difícil, já indicava Vilas Boas (2002, p.

16). “Se as definições tivessem de estar circunscritas aos campos de formação, os

jornalistas, especialmente, estariam muito restringidos. Teriam de escrever sobre a vida

de jornalistas renomados ou proprietários de empresas de comunicação” (VILAS

BOAS, 2002, p. 17). Contudo, existem elementos que aproximam o jornalismo desse

segmento.

A começar pelo suporte. O professor Edvaldo Pereira Lima foi pioneiro em

conceituar o livro-reportagem como plataforma jornalística. Para caracterizá-lo, Lima

(2009) se aproxima do legado de Otto Groth (2011) ao observar os quatro tópicos

enumerados pelo teórico alemão como fundamentais para se estabelecer a essência da

ciência dos jornais: periodicidade, universalidade, atualidade e publicidade. O primeiro

aspecto possuiria relação com a regularidade; o segundo, seria intrínseco aos conteúdo.

"Sem a universalidade, todo esforço em encontrar ressonância em camadas sociais mais

amplas seria inconcebível e em vão. (...) O jornal é hoje o maior educandário, 'a escola

dos adultos'" (LIMA, 2011, p. 218). Sobre a atualidade, Groth discorre que é nela que se

encontra "a força mais potente" do jornal (2011, p. 223). Por fim, o alemão orienta que

"a publicidade é o meio pelo qual a coletividade torna-se objetivo do jornal" (GROTH,

2011, p. 315).

Lima (2009) aponta que o livro-reportagem constitui apenas duas dessas

qualidades – a universalidade e a publicidade, nomeada por Lima como “difusão

coletiva”; porém, não apresenta periodicidade, bem como seu conceito de atualidade.

“A atualidade, idéia de tempo presente, ganha diferentes contornos, de acordo com a

periodicidade do veículo em que é inserida. (...) encontramos no livro-reportagem uma

extensão do tempo presente superior àquele que percebemos nos periódicos” (LIMA,

2009, p. 30-31). Embora não se encaixe perfeitamente nos quatro quesitos de Groth, o

livro-reportagem abarca procedimentos operacionais do jornalismo, como a pauta,

Page 8: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

redação e edição. Além disso, como aponta Lima (2009), sua narrativa por excelência é

a reportagem. O autor sugere:

É interessante observar que o livro-reportagem mantém uma espécie de

relação às avessas, de ponta-cabeça, com a periodicidade. Embora (...) não

obedeça a nenhuma produção regular no tempo, há uma ligação que este

estabelece com a periodicidade, se a entendermos conforme a conceituava o

teórico alemão. (...) Refere-se ao efeito da periodicidade, mediante a qual a

repetição prolonga a existência dos acontecimentos, estende sua durabilidade,

diminui sua perecibilidade (LIMA, 2009, p. 45-46).

Nessa fala, é importante trazer apontamentos percebidos pelas professoras Paula

Rocha e Cintia Xavier (2013) quanto ao processo de produção do livro-reportagem e

que se aproximam da técnica jornalística. Muito mais do que limitar esse suporte como

sendo uma extensão da reportagem, o livro traz metodologias que contextualizam e

aproximam o jornalismo dessa prática. A seleção das fontes é uma delas. “Os tipos de

informantes escolhidos pelos jornalistas vão determinar qual é o tipo de abordagem

dada ao assunto” (ROCHA; XAVIER, 2013, p. 149). A observação é outro ponto

notório, já que a humanização é um diferencial estratégico que aproxima o jornalismo

do leitor. “Tem que estar atento a tudo, pois gestos, atos, movimentos, cenas, ambientes

também informam, mesmo a ausência é uma informação” (ROCHA; XAVIER, 2013, p.

151). Sendo assim:

Não tem como desconsiderar todos esses elementos no processo de produção

do livro-reportagem, desde a seleção do tema, passando pela apuração,

construção do texto, edição e veiculação. Lembrando que a apuração,

construção do texto e edição ocorrem concomitantemente no livro-

reportagem. E é justamente essa inter-relação entre todos esses fatores

elencados, ora se sobressaindo um ou outro, ora não, que consiste as

especificidades do suporte e o afasta de uma visão singela de que ele é

apenas uma extensão da reportagem (ROCHA; XAVIER, 2013, p. 154).

A apuração, não apenas bibliográfica, é outra técnica muito utilizada por

jornalistas no momento da confecção da livro-reportagem (aqui, leia-se biografia).

Mesmo não sendo algo exclusivo do campo, os jornalistas escritores precisam percorrer

alguns caminhos em busca da informação. “A pesquisa e o documento são fontes

primordiais nas abordagens investigativas e também na elaboração do livro-reportagem”

(ROCHA; XAVIER, 2013, p. 149). Neste parágrafo, para ilustrar esse caso, abrimos

Page 9: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

espaço para Lira Neto recontar o bastidores de pesquisa para Getúlio 1882-1930: Dos

anos de formação à conquista do poder (2012)10

Muitos são estudos acadêmicos, publicados em livro ou lidos ainda no

formato de dissertações de mestrado e, particularmente, teses de doutorado.

Getúlio, como não poderia deixar de ser, é um tema que desperta interesse

privilegiado na universidade brasileira. (...) Mas o leitor notará – ou já terá

notado – que boa parte da narrativa deste livro foi construída a partir da

pesquisa em fontes primárias, no garimpo de arquivos públicos e privados.

Durante os dois anos e meio que levei para escrever este livro, percorri

diferentes cidades brasileiras, em busca de documentos, jornais, de época,

objetos, publicações raras, depoimentos, filmes, músicas e fotografias,

qualquer pista que me ajudasse a contar a história de Getúlio. (NETO, 2012,

p. 527).

A partir dessa citação, observa-se que o jornalista enquanto biógrafo se apropria

de elementos do próprio ofício, através das técnicas de apuração, entrevista, checagem para se

debruçar na pesquisa biográfica. Tendo em vista que as narrativas estão inseridas num

determinado contexto social, Motta (2013) conclui que elas são “dispositivos argumentativos

produtores de significados e sua estruturação na forma de relatos obedece a interesses do

narrador (individual ou institucional) em uma relação direta com o seu interlocutor, o

destinatário ou audiência” (MOTTA, 2013, p. 120-121). Assim, a narrativa biográfica, por

exemplo, produz significações culturais, cristalizados em valores e ideologias.

Os elementos jornalísticos na narrativa biográfica

Cremilda Medina (1986) já havia comentado que a entrevista “é uma técnica de

interação social, de interpenetração informativa, quebrando assim isolamentos grupais,

individuais, sociais; pode também servir à pluralização de vozes e à distribuição

democrática da informação” (MEDINA, 1986, p. 08). Vieira (2013) também auxilia

nesse debate, ao dizer que “o ‘como’ escutar estabelece para o trabalho da entrevista as

pistas do ‘como narrar’ (...) ampliando, assim, a finalidade da entrevista, na qual a

informação não é apenas um dado, mas um sentido” (VIEIRA, 2013, p. 12).

Borges e Araújo (2017) analisaram o livro Maysa – Só uma multidão de amores

(2007) e identificaram elementos jornalísticos ao longo da narrativa biográfica. Além da

10 A obra seria finalista da categoria Biografia do Prêmio Jabuti de Literatura em 2013. A estatueta de

ouro ficaria com Mário Magalhães, autor de Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo (2012).

Page 10: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

busca pela verdade e objetividade – embora esse caminho seja sempre delicado, em

especial quando se depara com familiares da personagem - e da utilização de excertos

de manchetes e reportagens como construção do texto, Lira Neto utilizou-se de

entrevistas variadas, conforme ele mesmo exemplificou abaixo num trecho da obra:

Com base no material saído dos baús da cantora, fui atrás de parentes,

amigos, ex-namorados, ex-maridos, conhecidos, parceiros, músicos,

produtores, enfim, gente que conviveu direta ou indiretamente com ela. Fiz

cerca de duzentas entrevistas, com mais de meia centena de pessoas. A maior

parte das conversas foi feita pessoalmente, algumas poucas pelo telefone, nos

dois casos sempre com a ajuda do gravador. Como novas informações iam

surgindo durante a pesquisa uma história sempre puxa outra -, muitos

entrevistados foram ouvidos mais de uma vez. (NETO, 2007, p. 264).

Quanto a narratividade, Motta (2004) faz ponderações pertinentes. “Pode a

linguagem objetiva e descritiva do jornalismo ser interpretada como narrativa? Nesse

caso, há alguma semelhança entre a narrativa jornalística e a narrativa de ficção

literária?” (MOTTA, 2004, p. 01). Essas indagações tentam problematizar um paradoxo

enfrentado como hipótese pelo autor: “o jornalismo não é ficção, mas é narrativa; como

narrativa, pode ser interpretado como ficção” (MOTTA, 2004, p. 02). A fim de

compreender a definição de narrativa, Motta vai até a literatura de Mieke Bal para

explicar que texto narrativo é quando há um agente narrador, além de personagens

praticando ações num espaço demarcado e num tempo específico. Em outras palavras,

uma história contada por linguagens. “Isto implica dizer que o texto narrativo é aquele

no qual se relata uma história, mas o texto não é a história. Os textos podem diferir entre

si e contar a mesma história. A essência da identidade se transfere para o plano da

história” (MOTTA, 2004, p. 03). Essa “falsa história” faz traçar um paralelo com o

estudo de Reinaldo (2011) a respeito da relação biográfica entre a imagem e a palavra.

Quando pintamos, filmamos ou fotografamos, quando compomos um

personagem performaticamente atentos ao seu figurino e aos seus

movimentos ou quando biografamos, o que de nós se transfere para obra

escondido sob a aparência do outro? Entendemos que a escrita biográfica em

vários aspectos se avizinha do retrato, gênero pictórico que se fundamenta na

semelhança (retratar vem de retrahere, que quer dizer copiar), e que, mesmo

em se tratando de signos com diferenças e com marcas que os singularizam e

que não podem ser desprezadas, sendo um do registro da imagem e o outro

pertencente ao domínio da palavra, retrato e biografia acabam atuando de

maneira correspondente (REINALDO, 2011, p. 01-02).

Page 11: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

Quanto ao campo das identidade dos enunciados, o autor ainda busca na teoria

literária uma oposição de conceitos: showing x telling. Para Motta (2004), o jornalismo

tenderia para o primeiro aspecto, pelo fato de apresentar a situação, demonstrar

distância do ocorrido “e deixar as conclusões éticas, morais e políticas para os leitores e

ouvintes” (MOTTA, 2004, p. 04).

Em seguida, observa-se que Motta busca identificar a definição de narratividade

jornalística, fato ainda nebuloso para ele. Para isso, apoia-se em Sánchez (1992) com o

intuito de refletir que a narração possui como características a cronologia e a

personificação. Porém, enquanto no literário, o narrador não é definido; no jornalismo,

o narrador é específico. “O discurso informativo tem uma finalidade externa (...) precisa

ajustar-se ao mundo real, se dirige a alguém com a finalidade de comunicar informação

(...). O discurso literário, por outro lado, (...) cria o que diz, o sujeito é universal em uma

situação eterna” (MOTTA, 2004, p. 06).

Em outra fonte de argumentação, Motta (2004) cita o crítico literário Wolfgang

Iser para demonstrar a incapacidade totalitária de uma história, fato semelhante com o

que Bakhtin (1997) e Bourdieu (2001) já nos apontaram anteriormente com as suas

ingenuidade e ilusão biográficas, respectivamente. Por essas brechas utópicas, conclui-

se que “(...) o próprio texto é pontuado por lacunas e hiatos que têm de ser negociados

no ato da leitura. Tal negociação estreita o espaço entre texto e leitor, atenua a

assimetria entre eles, uma vez que por meio dessa atividade, o texto é transportado para

a consciência do leitor”. (MOTTA, 2004, p. 14-15). Entretanto, mesmo não tendo o

poder de reconstituir a história conforme ocorreu, o mundo do jornalismo é uma

atividade que representa a vida contemporânea e, por isso, ainda é o “mundo da tragédia

e da comédia humanas” (MOTTA, 2004, p. 15).

Considerações finais

Neste paper, sugerimos refletir a respeito do biografismo brasileiro e os

elementos jornalísticos encontrados nesse gênero. Como metodologia, optou-se pela

análise de conteúdo, segundo as definições de Bauer (2000).

Page 12: Biografismo e os Elementos Jornalísticos na Produção da

Durante nossa avaliação, trouxemos para o debate os conceitos de biografia

segundo as óticas de outras áreas, como a História e Literatura. Como o objetivo era

avaliar a biografia como algo próximo da realidade jornalística, nos baseamos no texto

de Gadini (2005) quando este pondera a respeito das pesquisas em jornalismo, quase

sempre buscando reflexões das Ciências Sociais para se entender o Jornalismo.

A fim de contextualizar a técnica do biografismo, buscou-se contextualizar essa

área no Brasil, em especial aos jornalistas. Avaliou-se elementos jornalísticos durante a

fase de produção, desde a opção pelo livro-reportagem, escolha de fontes e entrevistas.

Por fim, a análise da narrativa pelo olhar de Motta (2004) despertou uma reflexão

importante diante da questão jornalismo x ficção: embora ambos utilizem personagens

num espaço e ao longo de um período temporal, “os enunciados jornalísticos não

possuem ficcionalidade, uma atitude de fingimento consensual que se estabelece entre

autor e leitor no jogo da ficção (suspensão voluntária da descrença)” (MOTTA, 2004, p.

07).

Por fim, o objetivo deste paper é compreender o trabalho realizado por

jornalistas na tentativa de biografar personagens e assim, contribuir para o

desenvolvimento do estudo no campo do biografismo. Além disso, o trabalho este

trabalho também integra a pesquisa, cuja fase está em andamento e será constituída nos

próximos meses no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade

Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

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