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Exercícios aplicados de Biofísica

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Exercícios aplicados de

Biofísica

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 2

Exercícios aplicados de Biofísica

Organização: Audrey Heloisa Ivanenko Salgado

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 3

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 4

COLABORADORES

Alice Coelho

Aline Medrado

Almyr Danilo Marx Neto

Bárbara Isadora V. Mussi Cruz

Fábio Araújo Gomes de Castro

Fernanda Vilela Dias

Gabriel Milhomem da Silva Mota

Gilvan Ferreira Vaz

Juliana Tavares Salgado

Karina Diniz Pereira

Marina Palhares

Rafael Peixoto

Raphael Ribeiro Teles dos Santos

Renato Fernandes

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 5

Apresentação

Com o livro Exercícios aplicados de Biofísica pretendemos auxiliar no

aprendizado daqueles que estejam cursando a disciplina de Biofísica ou estejam

interessados por temas dessa área do conhecimento. Os textos introdutórios de cada

módulo foram elaborados com a finalidade de fazer uma revisão dos conceitos básicos

dos seguintes assuntos: 1) soluções, pH e tampão; 2) membranas biológicas e 3)

radiobiologia; além de buscar aproximar a Biofísica do dia a dia dos estudantes de

diferentes áreas. Os exercícios visam à familiarização com cálculos matemáticos que

são frequentes na área de Biofísica, estimular a revisão e fixação de conceitos, além de

apresentar uma visão aplicada ao cotidiano e à futura prática profissional.

Esta obra surgiu, originalmente, da necessidade de uma apostila de exercícios

que auxiliasse aos alunos na disciplina de Biofísica de diferentes cursos na

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como material de apoio para os

professores e monitores na tarefa de ensinar uma disciplina fundamentada em princípios

das ciências exatas aplicados aos cursos da área de ciências da vida.

Os livros de Biofísica disponíveis no mercado priorizam a parte teórica e

oferecem poucos exercícios que ajudam os estudantes a colocar em prática o que

aprenderam e a identificar suas dificuldades. Diante disso, a organizadora desse livro,

Profa. Audrey Heloisa Ivanenko Salgado , do Departamento de Fisiologia e Biofísica do

Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, propôs a nós, monitores de Biofísica, a

elaboração de uma apostila de exercícios inéditos que pudesse ser usada como um

estudo dirigido para os estudantes.

A apostila foi elaborada dentro do Programa de Monitoria. A ideia central desse

trabalho era que os estudantes se deparassem com uma nova informação a cada questão

lida.

O material, disponibilizado aos alunos da graduação dos cursos de Ciências

Biológicas, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia, Fisioterapia, Farmácia,

Enfermagem e Terapia Ocupacional no segundo semestre de 2009, sofreu modificações

após o olhar crítico de inúmeros estudantes, professores e dos próprios monitores da

disciplina. Após a complementação com textos referentes aos assuntos básicos de

Biofísica, realizada para a produção deste livro, ele se tornou um guia prático e simples

para estudantes de graduação e outras pessoas interessadas.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 6

Nós autores, na qualidade temporária de monitores de Biofísica, compartilhamos

da posição de nossa orientadora, Profa. Audrey, e entendemos a necessidade de

exercícios aplicados como fonte de aprendizado na disciplina.

Esperamos que cada estudante possa aprender com este livro, tanto quanto

aprendemos em sua elaboração.

Os autores.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 7

SUMÁRIO

Capítulo I: Soluções, Equílibrios Iônicos, Solução-Tampão, Difusão, Osmose,

Tonicidade e Compartimentação Biológica

7

1.1. Soluções 8

1.2. Equilíbrios iônicos 10

1.3. Solução-tampão 16

1.4. Difusão 17

1.5. Osmose 18

1.6. Tonicidade 20

1.7. Compartimentação biológica 21

Capítulo II: Membranas Celulares e Seus Mecanismos de Transporte 23

2.1. Funções 24

2.2. Composição e Estrutura 24

2.3. Mecanismos de Transporte 25

Capítulo III: Gênese dos Potenciais de Membrana: Potencial de Ação e Potencial de

Repouso

40

3.1. Equilíbrio Iônico Através da Membrana Plasmática 41

3.2. Equilíbrio de Gibbs-Donnan 44

3.3. Transporte Ativo de Íons e o Potencial de Repouso 46

3.4. Gradiente de Íons e o Potencial de Repouso da Membrana 47

3.5. Variações do Potencial de Membrana: Respostas Sublimiares e 48

Potencial de Ação 48

3.6. Gênese do Potencial de Ação 49

3.7. Propriedades dos Potenciais de Ação 51

Capítulo IV: Introdução à Radioatividade, Emissões Primárias, Emissões Secundárias,

Transmutação Radioativa, A Energia Nuclear e Suas Aplicações, Radiações X e

Ultravioleta, Radiobiologia e Radioproteção.

53

4.1- Introdução à Radioatividade 54

4.2- Emissões Primárias 54

4.3- Emissões Secundárias 57

4.4- Transmutação Radioativa 58

4.5- A Energia Nuclear e Suas Aplicações 60

4.6- Radiações X e Ultravioleta 64

4.7- Radiobiologia 66

4.8- Radioproteção 66

Capítulo V: Exercícios resolvidos e Respostas comentadas 69

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 8

Capítulo I:

Soluções, Equílibrios Iônicos, Solução-tampão, Difusão, Osmose, Tonicidade e

Compartimentação biológica

Sumário do capítulo:

1.1. Soluções

1.2. Equilíbrios iônicos

1.3. Solução-tampão

1.4. Difusão

1.5. Osmose

1.6. Tonicidade

1.7. Compartimentação biológica

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1.1 Soluções

As principais expressões de concentração de soluções são título (em massa e em

volume), porcentagem (em massa e em volume), concentração em massa e concentração

em quantidade de matéria.

Expressões de concentração de soluções:

Título e Porcentagem:

Título e Porcentagem em massa:

Título em massa (τp) é definido como a relação entre o número de unidades de

massa do soluto (m1) e o número de unidades de massa da solução (m). Tanto a massa

do soluto (m1) quanto a massa da solução (m) devem estar na mesma unidade, ou seja,

grama com grama, quilograma com quilograma, etc. Assim, pode-se escrever:

O título é um número puro (adimensional), já que relaciona dois termos de

mesma unidade. Quando se multiplica o título por 100, obtem-se a porcentagem em

massa do soluto (Pp):

Exemplo: Uma solução de cloreto de sódio (NaCl) apresenta título de 0,30. Isso

significa que, para cada 1,0 g de solução, há 0,30 g de NaCl no meio. Um título de 0,30

corresponde a uma porcentagem em massa de 30% (0,30 x 100). Assim, a solução de

NaCl de porcentagem em massa de 30% apresenta 30 g de NaCl para cada 100 g de

solução.

Título e Porcentagem em volume:

O título em volume (τv) é a relação entre o número de unidades de volume do

soluto (v1) e o número de unidades de volume da solução (v):

O volume do soluto e o da solução devem estar na mesma unidade. O título em

volume, como o título em massa, é um número puro. Quando se multiplica o título em

volume (τv) por 100, obtem-se a porcentagem em volume do soluto (Pv):

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Exemplo: Uma solução de álcool etílico apresenta título de 0,70. Isso significa

que, para cada 1,0 L de solução, há 0,70 L de álcool etílico.

Concentração em massa:

É definida como a massa de soluto (m) dissolvida em um determinado volume

de solução (v):

Unidade: g/L (normalmente)

Exemplo: Uma solução possui concentração de 50 g/L de cloreto de potássio

(KCl). Isso significa que, a cada litro de solução, há 50 g de KCl dissolvidos.

Concentração em quantidade de matéria:

É a relação entre a quantidade de matéria do soluto (n1) e o volume da solução

(v) em litros:

Quantidade de matéria é uma grandeza cuja unidade é o mol (da mesma forma

que “massa” é uma grandeza cuja unidade, no Sistema Internacional de Unidades, é o

kilograma – kg). Logo, a unidade da concentração em quantidade de matéria é mol/L.

Exemplo: Uma solução de NaCl possui uma concentração de 5 mol/L. Isso

significa que, a cada litro de solução, há 5 mol de NaCl dissolvidos.

Densidade:

É uma propriedade que caracteriza as substâncias. Ela é definida pela relação

entre a massa (m) e o volume (v) da solução:

Unidade: g/mL (normalmente)

Exemplo: A densidade do álcool etílico é de 0,8 g/mL. Isso significa que cada 1

mL de solução possui uma massa de 0,8 g.

Diluição de soluções:

Quando se necessita diminuir a concentração de uma solução, é preciso realizar

uma diluição. Nesse processo, adiciona-se um solvente (normalmente, água) à solução.

Dessa forma, há uma redução da concentração da solução sem que haja alteração da

quantidade do soluto (a quantidade permanece constante). Baseado nisso, é possível

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desenvolver uma expressão matemática que relaciona as concentrações e volumes da

solução antes e após a diluição:

FIGURA 1 – Diluição de solução

Para as demais expressões de concentração, também é possível desenvolver

relações matemáticas análogas às realizadas acima. Além da expressão matemática que

envolve concentração em massa, uma outra bastante empregada é a que utiliza a

concentração em quantidade de matéria: .

1.2. Equilíbrios Iônicos

Constantes de acidez e basicidade

Em uma solução, há um ácido genérico, HA, e água. Na presença desse

solvente, o ácido sofre ionização, como representado pela reação:

Quando se calcula a constante de equilíbrio em termos de concentração em

quantidade de matéria (Kc), obtem-se:

Nesse caso, Kc é chamado de constante de acidez (Ka):

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Para bases, o raciocínio é análogo:

Nesse caso, Kc corresponde à constante de basicidade (Kb).

Duas importantes conclusões podem ser realizadas a partir do valor da constante

de equilíbrio (Ka e Kb):

Quanto maior o Ka, maior a força do ácido, já que ele apresenta uma maior

ionização.

Quanto maior o Kb, maior a força da base, já que ela apresenta uma maior

dissociação.

Força de um eletrólito (ácido ou base):

Como dito anteriormente, a força de um ácido e de uma base pode ser verificada

a partir da constante de equilíbrio da substância (Ka e Kb). Além disso, é possível

verificar a força de um ácido ou de uma base pelo seu grau de ionização ou dissociação

(α), respectivamente:

O valor de α está compreendido entre 0 e 1 ou, se for expresso em porcentagem,

entre 0% e 100%. De uma maneira geral, ácidos e bases fortes apresentam um valor de

α próximo a 100%. Ácidos e bases fracas, de modo geral, possuem um valor de α

inferior a 5%.

As constantes de equilíbrio (Ka e Kb) e o grau de ionização ou dissociação (α)

dos eletrólitos são obtidas experimentalmente e, portanto, devem ser consultadas em

tabelas próprias sempre que necessário. Para a determinação da força de um eletrólito,

há, porém, regras práticas que possibilitam a verificação dessa característica sem a

necessidade de analisar a constante de equilíbrio ou o grau de ionização (ou de

dissociação):

Ácidos:

Os ácidos inorgânicos podem ser divididos em dois grupos: hidrácidos e

oxiácidos.

Os hidrácidos são ácidos que não apresentam oxigênio em sua fórmula química,

como o ácido clorídrico (HCl) e o ácido iodídrico (HI). Nesse grupo, são considerados

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fortes, em ordem decrescente de força ácida, o HI, HBr (ácido bromídrico) e HCl. O HF

(ácido fluorídrico) é semiforte e todos os demais hidrácidos são fracos.

Os oxiácidos são ácidos que apresentam o oxigênio em sua fórmula química,

como o ácido sulfúrico (H2SO4) e o ácido nítrico (HNO3). Para a determinação da

acidez, utiliza-se a seguinte regra: dado um ácido de um elemento E genérico, HxEyOz, e

fazendo a subtração z-x =R, obtem-se:

R ≥ 2: Ácido forte. Exemplo: HNO3 z=3 x=1 R=3-1=2

R < 2: Ácido semiforte ou fraco. Exemplo: H3BO3 z=3 x=3 R=3-3=0

Os ácidos orgânicos, de uma maneira geral, são fracos.

Bases:

De modo geral, pode-se afirmar que são fortes as bases de metais alcalinos e

metais alcalinos terrrosos, como o hidróxido de sódio – NaOH e o hidróxido de

magnésio – Mg(OH)2. As bases fracas são as de metais de transição, de metais das

famílias 13, 14 e 15 da tabela periódico e o hidróxido de amônio, NH4OH.

Produto iônico da água (Kw)

A água sofre auto-ionização, como representado pela equação:

A água sofre auto-ionização em escala muito pequena. Dessa forma, como a

concentração de água – [H2O] – é praticamente constante, pode-se incluir seu valor no

valor de Kc:

O produto [H+][OH-] é denominado produto iônico da água e é simbolizado por

Kw:

A 25ºC, Kw é igual a 1,01 · 10-14.

Potencial hidrogeniônico (pH) e hidroxiliônico (pOH)

O potencial hidrogeniônico (pH) é definido da seguinte forma:

O potencial hidroxiliônico (pOH) é definido do seguinte modo:

Uma importante relação que envolve pH e pOH é a seguinte:

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De acordo com o pH, uma solução pode ser classificada em neutra, ácida e

básica:

Solução neutra: . Logo, como o Kw é igual a 1,0 · 10-14 a 25 ºC,

então: . Ao se calcular o pH nessas condições, obtem-

se:

Como pH + pOH = 14, o pOH de uma solução neutra será de 7. Assim, pode-se

afirmar que, em uma solução neutra, pH = pOH = 7, a 25 ºC.

Solução ácida: . A partir do Kw a 25 ºC, pode–se deduzir que, em

uma solução ácida, e . Assim, uma solução

ácida a 25 ºC terá um pH < 7 e um pOH > 7.

Solução básica: . A partir do Kw a 25ºC, pode-se deduzir que, em

uma solução básica, e . Assim, uma solução

básica a 25 ºC apresenta um pH > 7 e um pOH < 7.

Para se calcular o pH de uma solução ácida ou básica, é preciso, primeiramente,

identificar a força do eletrólito (ácido ou base forte; ácido ou base fraca):

Ácido ou base forte: Como o grau de ionização ou dissociação (α) de um ácido

ou base forte, respectivamente, está próximo a 100%, pode-se considerar que o

eletrólito se ioniza ou dissocia completamente. Assim, a concentração de H+ – [H+] - ou

de OH- - [OH-] - na solução será igual à concentração inicial do ácido ou base forte, em

mol/L, respectivamente.

Exemplo: O pH de uma solução de HCl 0,01 mol/L será:

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Ácido ou base fraca: Como um ácido fraco ioniza parcialmente e uma base

fraca dissocia parcialmente, não se pode afirmar, como dito para ácidos e bases fortes,

que a concentração de H3O+ ou OH- será igual a concentração inicial do ácido ou base,

respectivamente. Para encontrar o valor de [H+] ou [OH-], é preciso utilizar a constante

de acidez (Ka) ou de basicidade (Kb) do eletrólito.

Exemplo: O pH de uma solução de ácido acético (CH3COOH) 0,01 mol/L será:

Se o número de mols de CH3COOH ionizados em 1 L de solução for chamado

de x, obtêm-se as seguintes concentrações das espécies envolvidas na reação:

Espécie Concentração inicial

(mol/L)

Variação na concentração

(mol/L)

Concentração no

equilíbrio (mol/L)

CH3COOH 0,01 - x 0,01 - x

H+ 0 + x x

CH3COO- 0 + x x

Dessa forma, a condição de equilíbrio será (Ka=1,8 · 10-5):

Como o ácido acético é fraco, pode-se afirmar que o valor de x é muito menor do

que 0,01 (concentração inicial de CH3COOH). Assim, como o valor de x é desprezível

em comparação a 0,01, pode-se considerar que a concentração de CH3COOH em

equilíbrio é igual à concentração inicial desse ácido:

Como [H3O+] = x, então, [H3O

+] = 4,2 ·10-4 mol/L. Assim, o pH da solução de

CH3COOH será:

Titulação ácido-base:

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Para se determinar a concentração de uma solução, é comum realizar uma

técnica chamado titulação. Para se analisar uma solução de um ácido de concentração

desconhecida, por exemplo, adiciona-se um volume desse ácido (titulado), medido

previamente, em um erlenmeyer (Figura 2). Acrescenta-se, a esse frasco, um indicador,

que é uma substância capaz de mudar de cor de acordo com o pH do meio. Em seguida,

é adicionada, ao frasco, uma solução de concentração conhecida (titulante) que, na

situação estudada, é uma base. O titulante é gotejado, com uma bureta, sobre a solução

de ácido analisada até que o indicador mude de cor. Quando ocorre essa alteração de

cor, a titulação é finalizada, pois foi alcançado o chamado ponto final da titulação. É a

partir do volume gasto de titulante nesse ponto que se realizam os cálculos para a

determinação da concentração do ácido analisado. Porém, o volume gasto de titulante

não corresponde à quantidade exata de base necessária para neutralizar o ácido, pois o

indicador não muda de cor exatamente no pH em que ocorre a neutralização total do

ácido. A neutralização completa do ácido ocorre no chamado ponto de equivalência.

É importante ressaltar que apenas titulações que envolvem ácidos fortes e bases

fortes resultam em uma solução neutra (pH=7) no ponto de equivalência. Se o ácido ou

a base for um eletrólito fraco, o ponto de equivalência terá um pH ligeiramente ácido

ou básico, já que o sal formado na titulação sofre hidrólise.

Exemplo: Uma titulação de 25 mL de HCl consumiu 55 mL de NaOH 0,1 mol/L. Qual

é a concentração, em mol/L, da solução de HCl?

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 17

FIGURA 2 – Representação esquemática da montagem da titulação

1.3. Solução-tampão

É uma solução que sofre apenas pequenas variações de pH quando a ela são

adicionados um ácido ou uma base. Ele pode ser formado por um ácido fraco e seu sal

de mesmo ânion (exemplo: CH3COOH e CH3COONa) ou uma base fraca e seu sal de

mesmo cátion (exemplo: NH4OH e NH4Cl).

Para entender a ação do tampão, considere, por exemplo, uma solução de

CH3COOH e CH3COONa. Como o CH3COONa é solúvel, ele libera CH3COO- na

solução e, assim, CH3COO- e CH3COOH estabelecem o seguinte equilíbrio:

Quando um ácido é adicionado a essa solução, os íons H+, provenientes da

ionização dele, provocam um deslocamento do equilíbrio do tampão para a esquerda.

De maneira análoga, quando uma base é adicionada à solução do tampão, os íons OH-,

originados da dissociação da base, consomem H+ e, assim, o equilíbrio é deslocado para

a direita. Dessa forma, nas duas situações, há um consumo dos íons H+ e OH-,

provenientes, respectivamente, do ácido e da base, e, assim, o pH da solução tampão

não é alterado de forma significativa.

Para determinar o pH de uma solução-tampão, utiliza-se a equação de

Henderson-Hasselbalch:

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 18

Em que: pKa = logaritmo negativo do Ka (-logKa); [A] = concentração, em

mol/L, do aceptor de prótons (H+); [D] = concentração, em mol/L, do doador de

prótons.

No exemplo dado (tampão CH3COOH/CH3COONa), o aceptor de prótons (A) é

o CH3COO- (derivado da dissociação do CH3COONa) e o doador de prótons (D) é o

CH3COOH.

Uma solução-tampão é eficiente na sua função, ou seja, ela é capaz de minimizar

as variações de pH, na seguinte faixa de pH: pKa ± 1. Assim, o tampão

CH3COOH/CH3COONa (pKa = 4,74) será eficaz na faixa de pH entre 3,74 (4,74 – 1) a

5,74 (4,74 + 1). Outro fator que caracteriza a capacidade de tamponamento é a

quantidade de aceptor e doador de prótons. Essa quantidade, por sua vez, depende tanto

do volume de tampão (fator extensivo) quanto da concentração da solução-tampão

(fator intensivo). Assim, quanto maior o volume de tampão, maior será a capacidade de

tamponamento dele. Da mesma forma, quanto maior a concentração da solução-tampão,

maior será a capacidade de tamponamento dela.

1.4. Difusão

Para entender o conceito de difusão, considere a Figura 3:

FIGURA 3 – Compartimentos A e B, separados por uma divisória removível

Nos dois compartimentos, foram colocadas moléculas de um mesmo composto,

de modo que a quantidade de partículas em A é muito maior do que aquela em B. Todas

as moléculas apresentam um movimento térmico aleatório, também denominado de

movimento browniano. Quando se remove a divisória, há uma movimentação contínua

de partículas. A probabilidade de uma molécula inicialmente em A mover-se para B é a

mesma de uma partícula originalmente em B dirigir-se para A. Como há um número

maior de moléculas em A, o total de partículas que se movem de A para B será maior do

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 19

que a quantidade de moléculas que se dirigem de B para A. O fluxo resultante de A

(mais concentrado) para B (menos concentrado) é chamado de difusão.

Para se calcular a difusão por uma membrana, utiliza-se a primeira lei de Fick

para a difusão:

Em que:

J = intensidade da difusão (mols ou gramas por segundo);

D = coeficiente de difusão do soluto na membrana (cm2/s);

A = área da membrana (cm2);

∆C = diferença de concentração através da membrana (mol/cm3);

∆x = espessura da membrana (cm).

O coeficiente de difusão (D) é definido, de forma aproximada, para

macromoléculas esféricas, de acordo com a equação de Stokes-Einstein:

Em que:

k = constante de Boltzmann (1,38 x 10-23 J/K);

T = temperatura absoluta;

r = raio da macromolécula;

η = viscosidade do meio.

Quando se analisa o fluxo de difusão nas membranas celulares, é comum

empregar o coeficiente de permeabilidade (Ρ), o qual é específico para o soluto e a

membrana em questão:

P é expresso em cm/s.

1.5. Osmose

A osmose é um caso especial de difusão da água, na qual há um fluxo dessa

substância a favor de seu gradiente de concentração entre dois compartimentos,

separados por uma membrana semipermeável ou predominantemente permeável à água.

Uma membrana semipermeável permite a passagem apenas de água e impede, assim, o

transporte de solutos. Como a água movimenta a favor de seu gradiente de

concentração, ela está difundindo de um compartimento de menor concentração de

soluto para outro, de maior concentração de soluto.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 20

Na figura 4, estão representados dois compartimentos (A e B), separados por

uma membrana semipermeável. A água irá movimentar de A para B, ou seja, ela irá

difundir do compartimento de água pura para a solução. Ao se empurrar o pistão, o

fluxo osmótico irá diminuir, já que a concentração de moléculas de água em B irá

aumentar (como também, haverá o aumento da concentração de soluto). Caso a força

aplicada ao pistão continue a ser aumentada, chegará um momento em que a pressão em

B impedirá o fluxo resultante de água. Essa pressão responsável pela interrupção do

fluxo de água é denominada pressão osmótica da solução do lado B.

FIGURA 4 – Representação da definição de pressão osmótica

A pressão osmótica depende do número de partículas em solução. Por isso, é

importante conhecer os íons e/ou moléculas efetivamente dissolvidos na solução. Para

calcular a pressão osmótica, pode-se utilizar a seguinte forma da lei de Van´t Hoff:

Em que:

π = pressão osmótica (atm).

R = constante dos gases ideais (0,082 atm x L x mol-1 x K-1).

Φ = coeficiente osmótico.

i = número teórico de partículas livres por molécula de soluto.

= concentração, em mol/L, de soluto.

O coeficiente osmótico (Φ) representa o desvio da solução do ideal. Ele depende

da partícula dissolvida, da concentração dela e da temperatura. O valor de Φ pode ser

superior ou inferior a 1.

Um importante termo da equação de pressão osmótica é (Φi ). Ele representa

a concentração osmoticamente efetiva e é denominado osmolaridade, medida na

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 21

unidade osmol por litro (Osm/L). Para estimar a osmolaridade de uma solução, é

comum utilizar o valor 1 para o coeficiente osmótico (Φ):

.

Considerando Φ = 1:

Exemplo: Qual é a osmolaridade aproximada de uma solução de NaCl 1 mol/L?

O NaCl se dissocia na água em 2 partículas, Na+ e Cl-. Logo, o valor de i é 2.

Como se deseja calcular a osmolaridade aproximada da solução, pode-se considerar Φ =

1. Então:

É muito freqüente fazer comparações das pressões osmóticas de duas soluções.

Quando as pressões osmóticas de duas soluções (A e B, por exemplo) são iguais, elas

são chamadas isosmóticas. Quando a pressão osmótica de A é maior do que de B, a

solução A é hiperosmótica em relação a B. Se a pressão osmótica de A é menor do que

de B, a solução A é hiposmótica em relação a B.

1.6. Tonicidade

Na seção anterior, observou-se que a osmolaridade é uma propriedade da

solução, que não depende, assim, da interação do soluto com a membrana osmótica.

Nos sistemas biológicos, porém, é importante caracterizar tanto as propriedades da

solução quanto a interação do soluto com a membrana, já que algumas substâncias são

permeáveis por essa estrutura celular. O conceito biofísico que engloba esses dois

parâmetros é a tonicidade. Assim, pode-se afirmar que a tonicidade depende da

osmolaridade da solução e de um fator que reflete a permeabilidade do soluto, o

coeficiente de reflexão (σ). O coeficiente de reflexão é específico para um determinado

soluto e uma determinada membrana. O valor de σ varia de 0, para solutos

extremamente permeantes, a 1, para solutos completamente impermeantes.

As membranas plasmáticas da maioria das células do corpo humano são

permeáveis a água, sendo, porém, relativamente impermeáveis a muitos solutos do

líquido extracelular. Dessa forma, as membranas celulares estão sujeitas aos fenôme nos

de osmose. Para analisar esses eventos, é comum utilizar as hemácias, já que elas são

facilmente obtidas e estudadas.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 22

Quando se mergulham hemácias em uma solução de NaCl de aproximadamente

150 mmol/L (σ = 1, ou seja, o soluto é impermeável), observa-se que o volume dessas

células não é alterado. Assim, pode-se afirmar que a solução de NaCl 150 mmol/L é

isotônica à célula, já que não há fluxo osmótico nessa situação (as pressões osmóticas

da hemácia e da solução são iguais). Outra conclusão desse evento é que as hemácias

comportam como se, em seu interior, possuíssem uma solução de solutos impermeantes

a 300 mOsm/L, que é a mesma osmolaridade da solução de NaCl 150 mmol/L.

Uma solução de NaCl de concentração superior a 150 mmol/L é hipertônica à

hemácia, já que a pressão osmótica da solução é maior do que a da célula. Nessa

situação, há um fluxo de água para fora da hemácia e, assim, a célula irá murchar. Caso

as hemácias sejam mergulhadas em uma solução de NaCl de concentração inferior a 150

mmol/L, ocorrerá um inchamento dessas células. Esse fenômeno será observado nas

hemácias, em virtude do fluxo osmótico para dentro das células, o qual foi causado, por

sua vez, pela reduzida pressão osmótica da solução em relação às células.

Quando se colocam hemácias em contato com um soluto permeante, como a

ureia 500 mOsm/L (σ = 0,5), as células, inicialmente, irão murchar. Porém, ao longo do

tempo, ocorrerá a entrada de ureia nas hemácias e, em um determinado momento, essa

substância estará em equilíbrio, ou seja, a ureia terá uma concentração de 250 mOsm/L

dentro e fora das hemácias. Assim, no equilíbrio, os eritrócitos estarão inchados e parte

deles terá sofrido, até mesmo, lise. Dessa forma, pode-se definir a solução de ureia 500

mOsm/L como hipotônica em relação às hemácias.

1.7. Compartimentação biológica

A água presente no corpo de um indivíduo está distribuída em dois

componentes: líquido extracelular (LEC) e líquido intracelular (LIC). O LEC, como

sugere seu nome, está localizado fora das células e pode ser dividido ainda em outros

dois componentes: o líquido intersticial e o plasma sanguíneo. O líquido intersticial é a

parte do LEC que está situada fora do sistema vascular, o qual está banhando as células

do organismo. O LIC, como o próprio nome sugere, corresponde ao volume de água

localizado no meio intracelular.

O volume total de água presente em um indivíduo varia, entre outros fatores,

com a idade e o sexo. Um homem adulto jovem de estatura média apresenta um volume

total de água igual a 60% de seu peso corporal. A água está distribuída no organismo de

um indivíduo como representado na FIGURA 5:

Page 23: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 23

FIGURA 5 – Distribuição de água em um indivíduo

A água está em permanente movimento entre esses componentes corporais de

modo a manter os volumes deles praticamente constantes. Assim, por exemplo, quando

um indivíduo desidratado recebe soro fisiológico (solução de NaCl 0,3 Osm/L)

intravenosamente, há um fluxo de água do LEC para o LIC de forma a manter, nesses

componentes, os volumes de água de 40 % do peso corporal e 20 % do peso corporal,

respectivamente.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 24

Capítulo II:

Membranas Celulares e Seus Mecanismos de Transporte

Sumário do capítulo:

2.1. Funções

2.2. Composição e Estrutura

2.3. Mecanismos de Transporte

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 25

Membranas Celulares

As membranas celulares são envoltórios biológicos que delimitam compartimentos

específicos na estrutura celular. São representadas pela membrana plasmática

(membrana citoplasmática, sarcolema), membrana nuclear e pelas membranas que

envolvem diversas organelas intracelulares (como a membrana do retículo

endoplasmático e as membranas mitocondriais).

2.1 Funções

Os diversos compartimentos individualizados pelas membranas celulares (núcleo,

organelas intracelulares e citoplasma) apresentam características físico-químicas e

estados termodinâmicos diferentes em relação ao meio no qual estão inseridos. Isto

ocorre porque as membranas celulares agem como barreiras de permeabilidade,

permitindo a manutenção de composições químicas distintas nos meios por elas

interfaciados, e também a ocorrência de processos bioquímicos específicos em cada

meio.

Além disso, as membranas celulares contêm enzimas, receptores e antígenos em sua

estrutura, os quais são importantes na interação da célula com a matriz extracelular, com

outras células e com diversas substâncias reguladoras presentes no meio extracelular

(hormônios, neurotransmissores e citocinas, dentre outras).

2.2 Composição e Estrutura

As membranas celulares apresentam uma constituição básica lipoprotéica.

A. Lipídeos das Membranas Celulares

Fosfolipídeos - são os principais lipídeos constituintes das membranas

celulares. São substâncias que possuem caráter anfipático, apresentando em

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 26

sua estrutura molecular duas cadeias hidrocarbônicas apolares (caudas

hidrofóbicas, provenientes de moléculas de ácidos graxos) e um grupamento

terminal polar (cabeça hidrofílica) como ilustrado na Figuras 1.

Figura 1 Estrutura molecular de um fosfolipídeo.

A organização dos fosfolipídeos na estrutura da membrana celular, segundo

o modelo do mosaico fluido, ocorre por meio da formação de uma bicamada

fosfolipídica, na qual as cadeias hidrofóbicas de ácidos graxos estão

orientadas para longe do contato com a água, permanecendo o grupamento

polar hidrofílico em contato com o meio aquoso (Figura 2).

Figura 2 Representação esquemática da organização dos fosfolipídeos em

bicamada, situação que ocorre quando eles estão dispersos em meio aquoso.

(Observe a orientação das caudas hidrofóbicas para o interior da bicamada,

enquanto a disposição da molécula favorece o contato da cabeça hidrofílica

com a água).

Page 27: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 27

Colesterol – é uma substância pertencente à classe dos esteróides. Assim

como os fosfolipídeos, também possui caráter anfipático, apresentando em

sua estrutura molecular uma grande região apolar (consistindo em anéis

esteróides e uma cadeia lateral hidrocarbônica) e um pequeno grupamento

polar (consistindo em uma hidroxila) A figura 3 ilustra a estrutura do

colesterol.

Figura 3 Estrutura molecular do colesterol.

O colesterol está presente apenas nas membranas celulares dos animais.

Nestas células, a região apolar da molécula de colesterol interage com as

caudas hidrofóbicas dos fosfolipídeos, enquanto o grupamento polar do

colesterol interage com as cabeças hidrofílicas dos fosfolipídeos. As

interações hidrofóbicas existentes entre o colesterol e os fosfolipídeos e a

presença de anéis esteróides relativamente rígidos são importantes na

determinação da viscosidade das membranas celulares, reduzindo a fluidez

presente nas mesmas.

B. Proteínas das Membranas Celulares

Proteínas integrais ou intrínsecas da membrana – estão embebidas na

matriz da bicamada fosfolipídica por intermédio de interações hidrofóbicas

envolvendo as cadeias hidrocarbônicas de ácidos graxos e cadeias laterais

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 28

apolares dos aminoácidos. Estas interações podem ser rompidas na presença

de detergentes (como o triton, octilglucosídio e o dodecilsulfato de sódio).

Proteínas periféricas ou extrínsecas da membrana – estão associadas à

superfície da membrana, na maioria das vezes por intermédio de interações

por carga envolvendo as proteínas integrais da membrana. Alterações na

composição iônica do meio podem romper estas interações e remover as

proteínas periféricas da membrana.

Figura 4 Representação esquemática da estrutura de membranas celulares.

Os fosfolipídeos e as proteínas presentes nas membranas plasmáticas de células

animais podem estar associados a moléculas de carboidrato originando,

respectivamente, os glicolipídeos e as glicoproteínas. O conjunto das moléculas de

carboidrato presente nestas membranas forma uma estrutura denominada glicocálix (ou

glicocálice). Estas moléculas de carboidrato contêm domínios que funcionam como

receptores para substâncias presentes no meio extracelular, como é o caso da toxina do

cólera, que se liga a parte de carboidrato de um glicolipídeo especial, o gangliosídeo

(GM1). Além disso, outros domínios funcionam como imunógenos, como é o caso dos

antígenos A e B do sistema sanguíneo AB0.

Segundo o modelo do mosaico fluido, os diversos componentes das membranas

celulares (fosfolipídeos, colesterol e proteínas) estão livres para se movimentar no plano

Page 29: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 29

da monocamada fosfolipídica original (Figura 5). A movimentação destes elementos

(em particular dos fosfolipídeos) entre as duas camadas fosfolipídicas (flip-flop) ocorre

mais lentamente; entretanto, é improvável que um grande componente hidrofílico

consiga realizar tal movimento, visto que será necessário atravessar o interior

hidrofóbico da membrana. Certos elementos não são passíveis de sofrer deslocamento

na membrana celular, o que acarreta uma distribuição irregular destes pela estrutura da

membrana (assimetria das membranas celulares).

Figura 5 Representação esquemática dos tipos de movimentos possíveis das moléculas

de fosfolipídeos em uma bicamada fosfolipídica.

3.3 Mecanismos de Transporte

O transporte transmembranoso de substâncias ocorre por diversos mecanismos

dependentes das propriedades morfofuncionais das membranas celulares.

Algumas partículas são transportadas pelas membranas celulares sem, no entanto,

atravessá-las de fato. Os mecanismos envolvidos no transporte destes materiais resultam

na formação de vesículas (lipossomos) originadas das membranas celulares. Estas

vesículas contêm em seu interior as moléculas a serem transportadas entre os meios

interfaciados pelas membranas. Este tipo de transporte envolve o dispêndio de energia

metabólica sendo, portanto, classificado como transporte ativo. Os processos de

transporte realizados por Endocitose, exocitose que são mediados por vesículas não

serão aqui tratados.

Várias substâncias atravessam as interfaces membranosas por mecanismos que

independem da formação de vesículas. Nestes casos, o trânsito das partículas pode

Page 30: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 30

ocorrer por: (1) difusão das partículas da substância por entre as moléculas cons tituintes

das membranas celulares ou (2) proteínas de transporte específicas localizadas nas

membranas celulares.

A. Difusão Simples

Aspectos gerais – as partículas presentes em um meio são dotadas de

velocidade térmica (relacionada à temperatura), que pode ser estimada pela

relação:

onde: = velocidade térmica média da partícula

K = constante de Boltzmann

T = temperatura absoluta

m = massa da partícula

O processo de difusão das partículas no meio ocorre devido ao movimento

térmico aleatório (movimento browniano) que elas apresentam,

representado na figura 6.

Figura 6 Representação esquemática do movimento browniano de

partículas em um determinado meio.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 31

O fluxo resultante de partículas na di fusão é direcionado da região onde elas

estão mais concentradas (maior potencial químico das partículas) para a

região onde é menor a sua concentração (menor potencial químico das

partículas), o que resulta em uma distribuição homogênea destas por todo o

meio.

A difusão de partículas por distâncias microscópicas é um processo

geralmente rápido; entretanto, quando as distâncias consideradas são de

ordem macroscópica, este processo ocorre muito lentamente. Isto porque o

intervalo de tempo necessário para a difusão de partículas no meio varia

com o quadrado da distância, como explicitado na relação de Einstein:

onde: ∆t = intervalo de tempo necessário para a difusão

∆x = distância média de difusão

D = coeficiente de difusão

O coeficiente de difusão é inversamente proporcional a raiz quadrada da

Massa molecular (MM)1/2 para moléculas pequenas e inversamente

proporcional a raiz cúbica (MM)1/3 para macromoléculas.

O coeficiente de difusão para as macromoléculas esféricas pode ser

calculado pela equação de Stokes-Einstein, já descrita no capítulo 1:

Difusão simples de partículas através das membranas celulares - as

membranas celulares são impermeáveis à maioria das substâncias

hidrofílicas presentes nas soluções biológicas, visto que o interior da

bicamada fosfolipídica é essencialmente apolar (não permite o trânsito de

moléculas pouco solúveis em solventes não-polares). As substâncias

hidrofóbicas, por apresentarem boa solubilidade em solventes não-polares,

são mais permeantes nas membranas celulares. A capacidade de dissolução

Page 32: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 32

de uma substância em solventes polares e apolares pode ser analisada por

meio do seu coeficiente de partição óleo/água, que é definido como a razão

entre as solubilidades da substância no óleo e na água. Assim, quanto maior

o coeficiente de partição óleo/água da substância, maior a sua solubilidade

no interior da bicamada fosfolipídica e, portanto, maior a sua capacidade de

difusão através das membranas celulares.

O tamanho das partículas constituintes da substância também influencia

significativamente no processo de difusão através das membranas celulares;

quanto menor a partícula, maior a permeabilidade das membranas à

substância.

Assim, os solutos mais permeantes nas membranas celulares são os que

apresentam elevado coeficiente de partição óleo/água e cujas partículas

componentes são menores, como as moléculas de O2.

Figura 7 Ilustração representando a permeabilidade das membranas

celulares a diferentes solutos presentes nas soluções biológicas.

Assim, os solutos mais permeantes nas membranas celulares são os que

apresentam elevado coeficiente de partição óleo/água e cujas partículas

componentes são menores, como as moléculas de O2.

Algumas substâncias moleculares hidrofílicas cujas partículas possuem

pequeno raio, apresentam considerável capacidade de difusão através das

membranas celulares, como ocorre com as moléculas de água. Isto ocorre

porque estas moléculas conseguem atravessar as cadeias de ácidos graxos

dos fosfolipídeos sem, no entanto, solubilizarem-se nas moléculas lipídicas.

Page 33: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 33

As moléculas de água ainda se beneficiam da existência de proteínas

transportadoras de membrana, denominadas aquaporinas, que funcionam

como canais para a passagem de moléculas de água em seu interior, o que

aumenta bastante a capacidade de transporte destas moléculas através das

membranas celulares.

A magnitude da difusão através das membranas celulares pode ser

determinada por meio da primeira lei de Fick, já descrita no capítulo 1:

O fluxo resultante da difusão também pode ser calculado considerando a

permeabilidade específica da membrana para solutos específicos, por meio

da equação:

onde: J = fluxo resultante da difusão

Ps = permeabilidade da membrana a determinado soluto (S)

∆C = diferença de concentração da substância através da

membrana

O processo de difusão de partículas através das membranas celulares não

envolve gasto de energia metabólica (transporte passivo).

B. Osmose

A osmose é um caso particular de difusão que ocorre através de uma

membrana semipermeável (não permite a passagem de solutos, apenas de

moléculas de água). Neste processo, o fluxo resultante das moléculas de água

é direcionado da solução que apresenta menor concentração de solutos (maior

potencial químico da água) para a que apresenta maior concentração de

solutos (menor potencial químico da água).

Page 34: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 34

As membranas celulares, como falado anteriormente, são impermeáveis à

maioria das substâncias hidrofílicas presentes nas soluções biológicas. Assim,

alterações nas concentrações químicas de vários solutos (presentes nas

soluções interfaciadas pelas membranas) são acompanhadas de fluxo

resultante de água através das interfaces membranosas.

C. Transporte Mediado por Proteínas

Diversas substâncias hidrofílicas, eletrólitos e partículas grandes não são

passíveis de se difundirem através das membranas celulares, ou o fazem em

uma taxa extremamente baixa. Assim, o transporte destes solutos é mediado

por proteínas integrais das membranas. Estas proteínas podem ser de dois

tipos: (1) canais iônicos ou (2) proteínas transportadoras (carreadoras).

A maioria dos íons não atravessa as membranas celulares por difusão simples,

visto que o interior apolar da bicamada fosfolipídica impede a passagem de

substâncias pouco solúveis em solventes apolares (substâncias hidrofílicas,

íons). Assim, o transporte passivo de grande parte dos íons ocorre por

intermédio de proteínas integrais da membrana que apresentam, em seu

interior, um canal apropriado para a passagem destas partículas (canais

iônicos). Estes canais apresentam conformações podem estar abertos,

fechados ou ainda inativados. Uma parte da proteína constituinte do canal

funciona como comporta e alterações conformacionais aleatórias na proteína

determinam alternância da comporta entre os estados aberto e fechado. O

transporte por meio de canais iônicos apresenta magnitude maior que o

realizado por intermédio de proteínas carreadoras. Os canais iônicos podem

ser controlados por voltagem ou controlados por ligantes. No primeiro caso, a

probabilidade de um canal encontrar-se no estado aberto depende do valor da

voltagem transmembranar. No segundo caso, a concentração do ligante é que

influencia na probabilidade de um canal iônico encontrar-se no estado aberto

(Figura 8).

Page 35: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 35

Figura 8 Representação esquemática de um canal iônico presente na membrana

plasmática.

Para substâncias que apresentam a mesma massa molecular e a mesma

solubilidade lipídica o transporte mediado por proteínas é muito mais rápido

quando comparado ao processo de difusão simples através das membranas

celulares Entretanto, ele apresenta a cinética de saturação, algo que não

ocorre na difusão (Figura 9). Assim, um aumento na concentração do soluto a

ser transportado é acompanhado de um aumento na taxa de transporte, mas a

partir de determinada concentração a taxa de transporte não mais se altera

(fluxo máximo) (Figura 10). Isto ocorre porque há uma saturação dos

sistemas de transporte com o soluto transportado.

Figura 9 Gráfico ilustrando a relação entre o fluxo (F) e a concentração (C)

do soluto no processo de difusão simples.

Page 36: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 36

Figura 10 Gráfico ilustrando a relação entre o fluxo (F) e a concentração (C)

do soluto no processo de difusão facilitada. (Observe a relação entre os

gráficos de difusão simples e facilitada, demonstrando a maior taxa desta

última - considerando as mesmas variáveis).

A taxa máxima de transporte mediado pode ser representada pela equação de

Michaelis-Menten, descrito para enzimas:

][

].[

SK

SJJ

m

máx

onde: J = taxa de transporte do soluto (S)

Jmáx = taxa máxima de transporte do soluto (S)

[S] = concentração do soluto (S)

Km = constante aparente de Michaelis para o transportador

Quando [S] = Km, J = Jmáx / 2. Assim, o Km pode ser definido como a

concentração do soluto transportado necessária para a metade do transporte

máximo.

Outra propriedade importante do transporte mediado é a especificidade

química do transportador. Esta especificidade, porém, não é absoluta para a

maioria das proteínas transportadoras e é mais ampla que a especificidade

existente nas enzimas.

O transporte mediado por proteínas pode ainda sofrer competição por

moléculas estruturalmente semelhantes. Assim, a presença de um substrato

para o transportador irá reduzir a taxa de transporte de outro substrato para o

mesmo transportador. Existem ainda, compostos estruturalmente relacionados

Page 37: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 37

aos substratos do transportador que podem se ligar à proteína transportadora,

diminuindo a afinidade com o substrato normalmente transportado (inibidor).

Transporte facilitado (difusão facilitada) – é um tipo de transporte

mediado por proteínas carreadoras no qual não há gasto de energia

metabólica (transporte passivo). Possui todas as propriedades acima

descritas, com a ressalva de que este transporte não é deprimido por

inibidores metabólicos. Neste processo, o substrato se liga à proteína

carreadora que, a seguir, sofre uma mudança conformacional (ping-pong)

que resulta no deslocamento do substrato para a outra face da membrana

(Figura 11), tendendo a igualar as concentrações do mesmo através da

interface membranosa (a favor do gradiente de concentração química).

Como exemplo temos a entrada de monossacarídeos nas células musculares

por meio do transporte facilitado.

Figura 11 Representação esquemática do processo de transporte facilitado

(difusão facilitada).

Transporte ativo – é um tipo de transporte mediado por proteínas

carreadoras no qual há gasto de energia metabólica. Ao contrário do que

ocorre na difusão facilitada, neste tipo de transporte os substratos são

transportados contra o gradiente de concentração química. Além disso, os

íons podem ser transportados por estas proteínas carreadoras contra um

potencial eletroquímico (os canais iônicos, como será visto no capítulo 3,

transportam os íons a favor de um potencial eletroquímico). Este tipo de

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 38

transporte deve estar acoplado direta ou indiretamente ao metabolismo

energético da célula. Assim, podemos classificar o transporte ativo em:

a) Transporte ativo primário – está acoplado diretamente ao

metabolismo energético da célula como, por exemplo, pela utilização

do ATP como fonte energética.

O íon Na+ está mais concentrado no meio extracelular em

comparação ao interior da célula, o que favorece a sua entrada na

célula através de canais iônicos específicos presentes na membrana

plasmática. O contrário ocorre com o íon K+ que, estando mais

concentrado no meio intracelular, tende a sair da célula também por

canais iônicos específicos presentes na membrana plasmática. Estes

processos tendem a igualar as concentrações destes íons através das

membranas. Isto não ocorre porque todas as células apresentam a

Na+, K+ - ATPase (bomba de Na+ e K+), uma proteína carreadora

responsável por realizar o transporte ativo (acoplado ao ATP, como o

nome sugere) destes íons contra os seus gradientes de concentração.

Assim, o Na+ é transportado para fora da célula enquanto o K+ é

transportado para o interior da mesma. Em cada ciclo de transporte 1

molécula de ATP é hidrolisada, 3 íons Na+ são transportados para o

meio extracelular e 2 íons K+ são transportados para o meio

intracelular. Quando as magnitudes dos transportes passivos (através

dos canais iônicos) e ativos (por meio das ATPases) destes íons

através da membrana plasmática são iguais, estabelece-se um estado

estacionário no qual as concentrações dos íons nos meios intra- e

extracelular não se alteram.

b) Transporte ativo secundário – está acoplado indiretamente ao

metabolismo energético da célula. Alguns tipos de substratos

(aminoácidos, glicose, etc.) podem ser captados pelas células por

transporte ativo secundário.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 39

A bomba de Na+ e K+ (transporte ativo primário) cria um gradiente

eletroquímico do Na+ através da membrana plasmática, o que

possibilita o seu deslocamento para o interior da célula por transporte

através de canais iônicos (transporte passivo). Assim, o transporte

passivo do Na+ libera uma quantidade de energia que será utilizada

para transportar ativamente a glicose (maior concentração no meio

intracelular) para o interior da célula, portanto, contra o gradiente de

concentração química. Note que, neste caso, a energia proveniente da

hidrólise do ATP é utilizada no transporte ativo dos íons Na+ e,

consequentemente, no estabelecimento de um gradiente

eletroquímico deste íon através da membrana. Este gradiente, por sua

vez, impulsiona o movimento passivo dos íons Na+ concomitante ao

transporte da glicose para o interior da célula.

Para completar o seu estudo:

AIRES, M. de M. Fisiologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

BERNE, R. M. et al. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

GANONG, W. F. Fisiologia médica. 22. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill

Interamericana do Brasil, 2006.

HENEINE, I. F. Biofísica Básica. São Paulo: Editora Atheneu, 2000.

Page 40: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 40

Capítulo III:

Gênese dos Potenciais de Membrana: Potencial de Ação e Potencial de Repouso

Sumário do capítulo:

3.1. Equilíbrio Iônico Através da Membrana Plasmática

3.2. Equilíbrio de Gibbs-Donnan

3.3. Transporte Ativo de Íons e o Potencial de Repouso

3.4. Gradiente de Íons e o Potencial de Repouso da Membrana

3.5. Variações do Potencial de Membrana: Respostas Sublimiares e Potencial de

Ação

3.6. Gênese do Potencial de Ação

3.7. Propriedades dos Potenciais de Ação

Page 41: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 41

Potencial de Repouso

As células em geral apresentam, quando em repouso, uma diferença de potencial

elétrico (ddp, voltagem) entre as faces interna e externa da membrana plasmática; o

meio intracelular possui um potencial elétrico negativo em relação ao meio extracelular.

Esta voltagem existente através da membrana plasmática é denominada potencial de

repouso (potencial face interna – potencial face externa).

3.1 Equilíbrio Iônico Através da Membrana Plasmática

Conforme descrito no capítulo II, os íons são transportados passivamente através da

membrana plasmática por intermédio dos canais iônicos. Neste processo, 2 forças

propulsoras agem sobre os íons: uma de natureza química e outra de natureza elétrica.

O potencial químico de um determinado íon está relacionado à concentração deste

íon no meio. Quando uma interface membranosa separa dois meios que apresentam

potenciais químicos distintos para determinado íon, este tende a se mover do meio com

maior potencial químico (maior concentração química) para o meio que apresenta o

menor potencial químico (menor concentração química). Assim, a força propulsora de

natureza química é devido à existência de uma diferença de potencial químico

(diferença de concentração química) entre as duas faces da membrana plasmática.

Além disso, por serem partículas dotadas de carga elétrica, os íons estão submetidos

a uma força propulsora de natureza elétrica, originada da voltagem existente através da

membrana plasmática.

Então, o movimento resultante dos íons através da membrana plasmática depende de

qual efeito é maior, o efeito da diferença de concentração química ou o efeito da

diferença de potencial elétrico. Esta interação entre forças de naturezas distintas pode

ser descrita em termos do potencial eletroquímico (μ) de um determinado íon (X + por

exemplo), como demonstrado na relação:

Page 42: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 42

).(.][

][ln..

)()()( BA

B

A

XBXAXEEFz

X

XTR

onde: Δμ = diferença de potencial eletroquímico do íon X+ entre os lados A

(intracelular) e B (extracelular) da membrana plasmática

R = constante dos gases ideais

T = temperatura absoluta

lnB

A

X

X

][

][

= logaritmo natural da razão das concentrações de X+ nos dois lados da

membrana plasmática

z = valência do íon

F = número de Faraday

EA – EB = diferença de potencial elétrico através da membrana plasmática (meio

intracelular – meio extracelular)

O primeiro termo da equação (R.T.lnB

A

X

X

][

][

) representa a tendência dos íons se

movimentarem devido à diferença de concentração química existente entre os dois lados

da membrana plasmática, enquanto o segundo termo, z.F.(EA – EB), representa a

tendência dos íons se deslocarem devido à existência da diferença de potencial elétrico

ao longo da espessura da membrana.

O transporte resultante dos íons ocorre do meio que apresenta o maior potencial

eletroquímico para o meio que apresenta o menor potencial eletroquímico. Assim, se μA

> μB, o Δμ é positivo e o deslocamento dos íons será orientado do meio A para o meio

B; se μA < μB, o Δμ é negativo e o transporte ocorrerá no sentido oposto.

Quando as duas forças propulsoras que agem sobre os íons possuem a mesma

magnitude e sentidos opostos, o Δμ = 0 e não há força resultante atuando sobre os íons.

Neste caso, diz-se que o íon encontra-se em equilíbrio eletroquímico:

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 43

0).(.][

][ln..

BA

B

A EEFzX

XTR

A

B

B

ABA

X

X

Fz

TR

X

X

Fz

TREE

][

][ln.

.

.

][

][ln.

.

.

Esta última equação é denominada equação de Nernst e é utilizada para determinar a

condição de equilíbrio eletroquímico de uma espécie iônica através da membrana. Por

meio dela pode-se determinar qual é a diferença de potencial elétrico necessária para os

íons permanecerem em equilíbrio através da membrana plasmática. Uma forma mais

prática de utilizar a equação de Nernst é por meio da transformação da equação em

logaritmo decimal, considerando a temperatura fixa em 25oC , e substituindo os valores

para as constantes R e F

B

ABA

X

X

z

mVEE

][

][log

60

A equação de Nernst pode ser utilizada para predizer o sentido do fluxo espontâneo

dos íons:

Se o EA – EB através da membrana for igual ao EA – EB calculado a partir da

equação de Nernst, o íon encontra-se em equilíbrio eletroquímico e não há

fluxo resultante entre os compartimentos;

Se o EA – EB através da membrana tem o mesmo sinal (positivou ou

negativo) do EA – EB calculado pela equação de Nernst, mas é maior em

módulo, a força de natureza elétrica é maior que a força de natureza química

e, portanto, o movimento dos íons é determinado pela força elétrica;

Page 44: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 44

Se o EA – EB tem o mesmo sinal, porém é menor em módulo que o EA – EB

calculado pela equação de Nernst, a força de natureza química é maior que a

força de natureza elétrica e, portanto, o movimento dos íons é determinado

pela diferença de concentração química;

Se o sinal do EA – EB através da membrana é oposto ao calculado pela

equação de Nernst, as forças de natureza elétrica e química estão orientadas

para o mesmo sentido. Desta maneira, os íons não estão em equilíbrio e o

fluxo é dado pela soma das duas forças propulsoras.

3.2. Equilíbrio de Gibbs-Donnan

As células apresentam em seu citoplasma algumas substâncias dotadas de carga

elétrica (proteínas, polifosfatos orgânicos, ácidos nucléicos etc.) que não são passíveis

de serem transportadas pelos canais iônicos devido ao seu tamanho. Assim, tais

moléculas impermeantes são responsáveis por um tipo de equilíbrio eletroquímico

estabelecido através das membranas plasmáticas denominado equilíbrio de Gibbs-

Donnan.

Observe a seguinte situação:

Figura 1: Dois compartimentos separados por membrana permeável a água, ao K+ e

ao Cl-, mas não ao Y-.

A figura 1 representa um sistema constituído por dois compartimentos, A e B,

separados por uma membrana semipermeável. O compartimento A está preenchido por

uma solução aquosa dos íons K+ e Y-, e o compartimento B está preenchido por uma

solução aquosa dos íons K+ e Cl-. Esta membrana é permeável a água, ao K+ e ao Cl-,

mas não ao Y-.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 45

Como a [Cl-]B > [Cl-]A, estes íons tendem a se movimentar do lado B para o lado A

devido à diferença de concentração química. Este fluxo iônico cria uma diferença de

potencial elétrico entre os dois lados da membrana, devido ao acúmulo de cargas

elétricas negativas (Cl-) no compartimento A. Isto resulta em um fluxo dos íons K+ para

o lado A, orientados pela força propulsora de natureza elétrica. Após um determinado

tempo, os íons Cl- e K+ atingirão o equilíbrio, no qual o ΔμK+ e o ΔμCl- deverão ser

nulos.

Para atingir a situação de equilíbrio, duas condições devem ser satisfeitas:

Os dois compartimentos devem apresentar neutralidade elétrica:

AAA YClK ][][][ e BB ClK ][][

Os íons permeantes na membrana devem satisfazer a seguinte relação:

BBAA ClKClK ].[][].[][

Esta última equação é denominada equação de Gibbs-Donnan.

A partir destas equações pode-se determinar as concentrações finais dos íons nos

compartimentos A e B, ilustradas na figura 2.

Figura 2: Concentrações finais dos íons nos compartimentos A e B.

Como os íons permeantes (K+ e Cl-) estão em equilíbrio eletroquímico através da

membrana, podemos utilizar a concentração de qualquer destes íons nos

compartimentos A e B para, a partir da equação de Nernst, calcular a diferença de

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 46

potencial elétrico através da membrana. Vamos utilizar, como exemplo, as

concentrações do K+:

mVmVmVmVEE BA 183,0.602log.60...066,0

...333,1log.60

Podemos perceber que a presença de íons impermeantes (neste caso, o Y-) implica

na geração de um potencial elétrico negativo no compartimento que os contêm. A

presença de tais solutos no interior da célula contribui em cerca de -10 mV para o

potencial de repouso na membrana plasmática em relação ao meio extracelular.

3.3 Transporte Ativo de Íons e o Potencial de Repouso

A Na+, K+ - ATPase presente na membrana plasmática das células é responsável

pela manutenção dos gradientes iônicos de Na+ e K+ ao longo da interface membranosa

(capítulo II). Neste processo, em cada ciclo de transporte 3 Na+ são ejetados da célula

enquanto 2 K+ são transferidos para o citoplasma, o que acarreta um acúmulo de carga

positiva no meio extracelular em relação ao meio intracelular. Assim, o bombeamento

ativo de íons através da membrana plasmática contribui diretamente na gênese do

potencial de repouso da membrana plasmática (bomba eletrogênica). Na maioria das

células nervosas e musculares esqueléticas dos vertebrados, a contribuição direta da

bomba no potencial de repouso é cerca de -5 mV.

Além da participação direta na gênese do potencial de repouso da membrana

plasmática, esta ATPase possui uma importante participação indireta, por meio da

manutenção de gradientes dos íons Na+ e K+, o que possibilitará a ocorrência de fluxos

iônicos (o principal determinante do potencial de repouso, como será descrito no

próximo item).

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 47

3.4 Gradiente de Íons e o Potencial de Repouso da Membrana

A distribuição dos íons através da membrana plasmática acarreta fluxos iônicos

entre os compartimentos intra- e extracelular. Neste processo, cada íon tende a atingir o

equilíbrio eletroquímico e, consequentemente, trazer o potencial de repouso da

membrana (Em) para próximo do seu próprio potencial de equilíbrio (conforme

calculado pela equação de Nernst). Os principais íons envolvidos neste processo e o seu

respectivo potencial de equilíbrio, para concentrações usuais são os seguintes: K+ (-105

mV), Na+ (+67 mV) e Cl- (-90 mV).

A condutância (g) da membrana plasmática a determinado íon determina o grau de

permeabilidade da membrana ao fluxo iônico. Assim, quanto maior a condutância da

membrana ao íon, maior será tendência do íon em trazer o potencial de repouso da

membrana para próximo do seu potencial de equilíbrio eletroquímico e, assim, mais

próximo ele estará do equilíbrio.

Os principais íons envolvidos na determinação do potencial de repouso da

membrana podem ser relacionados pela equação:

ClCl

NaNa

KK

m Eg

gE

g

gE

g

gE

Esta equação é denominada equação de condutância de corda e é utilizada para

predizer a tendência do íon em trazer o potencial de repouso da membrana para próximo

do seu potencial de equilíbrio. Nesta equação, a soma das condutâncias dos íons é igual

a 1:

1)( ClNaK gggg

Em células musculares de vertebrados, o potencial de repouso da membrana é cerca

de -90 mV. Assim, podemos concluir que a condutância da membrana ao íon Cl- é

maior em relação aos outros 2 íons, visto que o potencial de repouso da membrana

plasmática se aproxima do potencial de equilíbrio para o Cl -. No mesmo caso, a

condutância do Na+ é a menor dos 3 íons, pois ele possui um potencial de equilíbrio

mais afastado do potencial de repouso da membrana.

Assim, podemos concluir que a difusão iônica é o principal mecanismo pelo qual o

potencial de repouso da membrana plasmática é estabelecido.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 48

Potencial de Ação

O potencial de ação pode ser definido como uma alteração rápida e transitória do

potencial de repouso da membrana plasmática, a qual é passível de ser transmitida

através da extensão celular mantendo constante o seu tamanho e forma durante o

processo. A gênese e a transmissão do potencial de ação é a base biofísica da

capacidade celular de transmissão de sinais nas células excitáveis (ex.: neurônios, fibras

musculares lisas e estriadas).

3.5 Variações do Potencial de Membrana: Respostas Sublimiares e Potencial de

Ação

Como foi descrito no tópico anterior, o potencial de repouso da membrana

plasmática é cerca de -90 mV. A aplicação de pulsos de corrente elétrica à membrana

pode alterar este valor aumentando-o (por exemplo, para -50 mV), tornando-o mais

positivo ou diminuindo-o (por exemplo, para -110 mV), tornando-o mais negativo; no

primeiro caso, ocorre uma despolarização da membrana, enquanto no segundo ocorre

uma hiperpolarização da mesma.

Quando pequenos pulsos despolarizantes são aplicados à membrana plasmática, eles

propagam-se pela célula com uma redução em seu tamanho e alteração da sua forma

inicial, fenômeno denominado condução com atenuação. Assim, quando mais afastada a

região do lugar no qual ocorreu a aplicação do pulso, menor será a alteração do

potencial de membrana original existente na região. Estes pulsos que são transmitidos

com atenuação acarretam uma resposta celular local (resposta sublimiar), visto que eles

são “perdidos” durante o processo de condução, não sendo capaz de provocar alterações

por toda a célula.

Quando o pulso aplicado acarreta despolarizações acima de determinado valor

limiar (potencial limiar de membrana), um potencial de ação é disparado e transmitido

ao longo da célula. Este potencial é uma resposta muito maior, na qual ocorre reversão

da polaridade da membrana (o interior da célula se torna positivo em relação ao

exterior) e, durante a sua propagação, não ocorre atenuação do mesmo, que mantém a

sua forma e tamanho durante todo o processo. Assim, os potenciais de ação são capazes

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 49

de desencadear respostas em toda a célula, e não apenas em uma região celular restrita

(resposta local) (Figura 3).

Figura 3 Gráfico explicitando as alterações possíveis do potencial de membrana da

célula.

É importante notar que um estímulo despolarizante deflagra ou não um potencial de

ação (em caso negativo, ocorrerá uma resposta sublimiar). Por isso, o potencial de ação

é descrito como uma resposta tudo-ou-nada.

3.6 Gênese do Potencial de Ação

Os fluxos iônicos de Na+ e K+ são fundamentais na gênese do potencial de ação nas

células excitáveis. Como foi descrito anteriormente, os íons transitam através da

membrana plasmática do meio com o maior potencial eletroquímico para o meio com o

menor potencial eletroquímico. Durante este processo, tendem a trazer o potencial da

membrana para próximo do seu próprio potencial de equilíbrio. Os movimentos iônicos

através da membrana plasmática ocorrem por meio de canais iônicos específicos. Estes

possuem comportas de ativação e comportas de inativação, que são responsáveis pela

alteração da condutância (g) do íon em questão.

D. Neurônios

No início do processo, a condutância para o Na+ (gNa) eleva-se rapidamente

e o potencial de membrana tende a aproximar-se do potencial de equilíbrio

do Na+ (+67 mV) (despolarização da membrana). A condutância para o

sódio atinge o pico quase ao mesmo tempo em que o potencial de ação

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 50

atinge o valor máximo. Apesar disso, o potencial de membrana não chega a

atingir o potencial de equilíbrio do sódio, pois desde o início do processo

ocorre um aumento do gK,que se processa de forma mais lenta e, portanto,

“segura o potencial” para este não atingir valores tão elevados. O rápido

retorno do potencial aos valores de repouso é causado pela rápida redução

do gNa e pela elevação progressiva do gK. Assim a membrana repolariza-se,

visto que o potencial tende a aproximar-se do potencial de equilíbrio do K+

(-105 mV). Da mesma forma, o potencial da membrana não chega a atingir

o potencial de equilíbrio do K+, visto que a condutância do potássio vai

reduzindo-se lentamente e, portanto, o potencial retorna ao seu valor de

repouso. O intervalo no qual o potencial da membrana é menor que o seu de

repouso e maior que o potencial de equilíbrio do K+ é denominado pós-

potencial hiperpolarizante (Figura 4).

Figura 4 Representação do potencial de ação em neurônios. (Observe a

presença do pós-potencial hiperpolarizante indicado pela fase 3).

E. Músculos Cardíaco e Liso

A gênese do potencial de ação nas fibras musculares cardíacas e lisas

apresenta certas particularidades que diferem da origem do mesmo nos

neurônios. Nestas fibras musculares, após o pico do potencial de ação, este

não retorna rapidamente ao seu valor de repouso, mas sim mantém um platô

de potencial elevado. Isto ocorre porque, enquanto há um aumento rápido no

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 51

gNa, ocorre também um aumento do gCa, pela abertura dos canais lentos de

cálcio. Assim, quando ocorre diminuição da gNa, os canais de Ca2+ ainda estão

abertos, o que sustenta o potencial de ação no platô. Depois, o gCa diminui de

forma lenta e ocorre a abertura rápida dos canais de K+.

Figura 5- Representação do potencial de ação em fibras musculares

cardíacas e lisas. (Observe a presença do platô após o pico do potencial).

3.7 Propriedades dos Potenciais de Ação

O potencial de ação somente ocorre após atingir um valor limiar de

potencial porque há a necessidade de recrutar um número mínimo de

canais para o fluxo iônico rápido.

A redução da condutância dos íons que ocorre após o seu aumento ocorre

devido à inativação por voltagem dos canais iônicos (por meio das

comportas de inativação). Após a inativação, os canais devem ser

submetidos à repolarização de repouso para serem aberto de novo.

Durante a maior parte do potencial de ação, a célula é refratária à geração

de novos potenciais. Assim, ela é incapaz de disparar um segundo

potencial de ação, independente da intensidade do estímulo aplicado.

Este estado é denominado período refratário absoluto.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 52

Durante a parte final do potencial de ação, a célula é capaz de disparar

um novo potencial, mas um estímulo mais intenso é necessário. Neste

tempo, uma parte dos canais de Na+ ainda está inativo, portanto é

necessário um estímulo maior para abrir um número crítico de canais de

Na+ necessário para desenvolver o potencial de ação.

Quando uma célula excitável é despolarizada lentamente, o limiar pode

ser ultrapassado sem que um potencial de ação seja desencadeado. Neste

processo, os canais de sódio que são abertos pela despolarização são

inativados antes que o número crítico de canais para ter o potencial seja

atingido. Além disso, ocorre abertura dos canais de K+, que tendem a

repolarizar a membrana, evitando a despolarização acentuada e rápida da

mesma.

Para completar o seu estudo:

AIRES, M. de M. Fisiologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2008.

BERNE, R. M. et al. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,

2004.

GANONG, W. F. Fisiologia médica. 22. ed. Rio de Janeiro:

McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2006.

HENEINE, I. F. Biofísica Básica. São Paulo: Editora Atheneu, 2000.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 53

Capítulo IV

Introdução à Radioatividade, Emissões Primárias, Emissões Secundárias, Transmutação

Radioativa, A Energia Nuclear e Suas Aplicações, Radiações X e Ultravioleta,

Radiobiologia e Radioproteção.

Sumário do capítulo:

4.1- Introdução à Radioatividade

4.2- Emissões Primárias

4.3- Emissões Secundárias

4.4- Transmutação Radioativa

4.5- A Energia Nuclear e Suas Aplicações

4.6- Radiações X e Ultravioleta

4.7- Radiobiologia

4.8- Radioproteção

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 54

4.1- Introdução à Radioatividade

A radioatividade é o fenômeno baseado na emissão de partículas ou de energia

por um radioisótopo, também chamado de radionuclídeo, átomo com excesso de matéria

(partículas) ou de energia no núcleo. Assim, as radiações nucleares podem ser de duas

naturezas: partículas ou ondas eletromagnéticas. As partículas possuem massa e carga,

além de sua velocidade variar de acordo com sua energia. Já as ondas são desprovidas

de massa e de carga e sua velocidade é de 300.000 Km/s.

Como conseqüência desse fenômeno, que é espontâneo, tais elementos adquirem

um estado de maior estabilidade. Diversos elementos com tais características são

encontrados na natureza, como o Urânio235, cujo tempo de meia-vida é de 713 milhões

de anos, enquanto outros apresentam uma existência efêmera, a exemplo do Polônio212

(meia-vida de 3x10-7 segundos). Já outros são obtidos artificialmente em reatores

nucleares e aceleradores de partículas.

A população mundial está constantemente exposta à radiação, tanto oriunda (1)

dos raios cósmicos; (2) do solo, que varia de acordo com as características geográficas

de cada região, como o exemplo de Guarapari-Es, onde as areias monazíticas elevam a

radiação ambiental; e (3) radiação de origem interna, devido ao acúmulo de

radionuclídeos em tecidos e órgãos adquiridos através de alimentos, água e inalação. A

radiação emitida por um radioisótopo pode ser classificada em primária ou secundária,

da seguinte maneira:

4.2- Emissões Primárias

Partículas Alfa

Assemelham-se ao núcleo do átomo de hélio e,

dessa forma, possuem dois prótons e dois nêutrons, o

que lhe confere a carga 2+ (figura 1). A interação

dessa partícula com o ser humano é limitada pelo

poder mínimo que tem de penetração, ou seja, ao

incidir sobre a matéria, qualquer que seja ela, essa

partícula tem sua trajetória desviada por espessuras

tão finas quanto as de uma folha de papel (figura 6).

Figura 1- Emissões primárias

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 55

Durante sua propagação, as partículas alfa (α) podem interagir com a matéria, trocando

energia. Há atração eletrostática, associada a uma elevada energia cinética, entre as

partículas α e elétrons, estes presentes nos orbitais de átomos que encontra em sua

trajetória, podendo promover a retirada dos elétrons e, assim, as partículas alfa são

capazes de ionizar a matéria com a qual interagem.

Sendo X e W elementos químicos genéricos, a equação geral que gera uma

partícula α, também conceituada como equação de decaimento α (porque há diminuição

de 4 unidades de massa e de 2 no número atômico) é a seguinte:

→ 2- + 2+

Partículas Beta

A emissão de partículas beta

decorre do excesso de nêutrons em

relação a prótons ou do excesso de

prótons em relação a nêutrons no núcleo.

Na primeira situação, há a conversão de

um nêutron em um próton e a liberação

de uma partícula negativa, partícula beta

negativa (β-) ou elétron, como pode ser

visto na figura 2. Em contrapartida, no segundo caso, há a transformação de um próton

em um nêutron e a liberação de uma partícula beta positiva (β+), pósitron ou anti-

elétron. As partículas beta apresentam maior poder de penetração (podem atravessar

vários centímetros de camadas de ar e folha de papel) em relação às partículas alfa.

Podem interagir com a matéria de maneiras distintas. Assim, partículas β -, ao passarem

nas proximidades de orbitais atômicos, causam ionização por repulsão eletrostática,

porém são menos ionizantes do que partículas alfa. A partícula β+, por sua vez, pode se

chocar com um elétron, o que promove a conversão da matéria em radiação gama,

fenômeno conhecido como aniquilação.

Sendo X e W elementos químicos genéricos, as equações gerais do decaimento

de partículas β são as seguintes:

Equação geral do decaimento β -:

→ 1+ + β-

Figura 3- Exemplo de emissão de partícula beta

Figura 2- Exemplo de emissão beta negativa.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 56

Equação geral do decaimento β+:

→ 1- + β+

Radiação Gama

É emitida geralmente após a emissão de partículas alfa ou

beta, quando há ainda excesso de energia no núcleo. É constituída

por ondas eletromagnéticas, sendo altamente penetrante (para ser

barrada, é preciso uma parede de chumbo com muitos centímetros de

espessura, como mostrado na figura 6). Da sua interação com a

matéria, resultam o efeito fotoelétrico e o efeito Compton e também a

formação de par iônico. Sabe-se que a radiação gama é a menos

ionizante das emissões radioativas.

O efeito fotoelétrico resulta da absorção de um fóton

(quantidade de energia a ser absorvida para que ocorra ionização) por um elétron

orbital, o que causa ionização.

Já o efeito Compton ocorre quando a energia da radiação gama é maior do que a

necessária para provocar a ejeção de apenas um elétron. Dessa forma, o excesso de

energia é absorvido por outros elétrons, que abandonam o domínio orbital (figura 4). O

fóton incidente pode ser desviado de sua trajetória por um elétron situado em uma órbita

mais externa de um dos átomos do meio no qual ele incidiu. A transferência de energia

do fóton para o elétron é parcial, assim o fóton continua transferindo sua energia para

outros elétrons. Os elétrons ejetados passam a ionizar a matéria.

Figura 3- Emissão de

radiação gama.

Figura 4- Efeito Compton.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 57

Figura 6- Poder de penetração das radiações

alfa, beta e gama.

Figura 5- Formação do par Elétron-pósitron.

Ao passar próximo a um núcleo atômico, a radiação gama (semelhante ao raio-X), pode

interagir com ele, sendo convertida em um par eletrônico, β+ e β-, fenômeno contrário

ao da aniquilação, representado na figura 5. Para que a produção de um par ocorra é

necessário que o fóton tenha energia maior ou igual a 1.022 keV (quiloelétrons-volt), a

saber: a energia de repouso do elétron é igual a 511 keV. As partículas são criadas

simultaneamente em sentidos opostos. O elétron criado pode continuar ionizando o

meio, já o pósitron se recombina com um elétron livre do meio, emitindo dois fótons e

estes tem a capacidade de continuar ionizando o meio. A criação de pares ocorre para

altas energias e elementos de Z elevado.

A figura 6 acima compara o poder de penetração das radiações produzidas por emissão

primária α, β, e γ em relação a uma folha de papel, uma mão de um ser humano, uma

viga de aço e uma parede de chumbo com muitos centímetros de espessura.

4.3- Emissões Secundárias

Em determinadas situações, o núcleo atômico captura um elétron orbital,

geralmente do nível K e, com menos freqüência, dos níveis L e M, o que resulta em

emissão de radiação gama pelo núcleo devido ao excesso de energia do elétron. Pode

ocorrer rearranjo orbital, ou seja, elétron de orbital mais externo ocupar a vacância do

nível K e, como conseqüência, haver emissão de raio-X. O elemento que sofrer esse

processo se transforma em outro com número atômico uma unidade menor.

Quando o núcleo atômico encontra-se com excesso de energia, pode haver o

rearranjo de suas partículas e a emissão de radiação gama como conseqüência, fato

conhecido como transição isomérica. Nesse processo, a radiação gama emitida pode ser

absorvida por elétrons orbitais, que são ejetados do domínio orbital. O preenchimento

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 58

dessas vacâncias por elétrons vindos de níveis mais externos promove, por sua vez, a

liberação de raio-X orbital.

As radiações que apresentam menor energia são capazes de ejetar apenas

elétrons de camadas mais externas, de modo que, quando essa vacância é ocupada por

um elétron mais externo, ocorre a liberação de raios ultravioleta (UV) ou luz visível.

4.4- Transmutação Radioativa

Como consequência da emissão de partículas alfa e beta, ocorre a alteração do

número atômico, fenômeno conhecido como transmutação radioativa, desintegração

radioativa ou decaimento radioativo. Assim, um átomo-pai dá origem a um átomo-

filho, tendo este maior grau de estabilidade.

Considerando-se uma amostra de isótopos instáveis, sabe-se que no tempo 0 (t =

0), haverá N0 átomos. Em razão da instabilidade energética, átomos dessa amostra

sofrerão transmutação radioativa com o passar do tempo. Assim, após um intervalo de

tempo t, a quantidade de átomos do elemento original na amostra será N = N0 · e-λ · t ,

sendo λ a constante de decaimento radioativo.

A constante de decaimento radioativo (λ) refere-se ao percentual de átomos que

se desintegram por unidade de tempo. A unidade do Sistema Internacional (SI) para a

constante de decaimento é s -1 (segundos -1), mas pode também ser representada por

minutos -1 , dias -1 etc.

Atividade Radioativa (A)

É definida como o número de emissões radioativas por uma amostra radioativa

ou a quantidade de átomos que sofrem transmutação, por unidade de tempo.

Pode ser calculada das seguintes maneiras:

(1) A= λ.N

ou

(2) A = A0 · e –λ · t

Sendo:

A = atividade da amostra no tempo t

A0 = atividade da amostra no tempo 0 (t=0)

λ = constante de decaimento radioativo

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 59

N = número de átomos no tempo t

As unidades para a atividade radioativa são:

I- Becquerel: número de desintegrações por segundo (dps). É a unidade do

Sistema Internacional (SI).

1Bq = 1dps

II- Curie: número de desintegrações a partir de 1 g de rádio 226 ( 226Ra)

Em 1 Ci = 3,7 x 1010 dps ou 2,2 x 1012 dpm (desintegrações por minuto)

Frequentemente, são usados submúltiplos da unidade Ci, a saber:

1 mCi (miliCurie) = 3,7 x 107 dps

1µCi (microCurie) = 3,7 x 104 dps

É importante ressaltar que, ao se utilizar a equação A = A0 · e –λ · t , A e A0

deverão possuir a mesma unidade, que seja compatível com as unidade do tempo e da

constante de decaimento. Por exemplo, se A e A0 são expressos em desintegrações por

segundo, o tempo (t) deverá ser convertido para segundos, bem como a constante de

decaimento (λ) deverá estar explicitada em segundo-1.

Meia-Vida (t½) física de um Elemento Radioativo

Pode ser definido como o tempo necessário para que metade dos átomos de uma

amostra radioativa sofra decaimento, o que pode ser explicitado na equação:

Relação entre meia-vida e constante de decaimento

Na equação N= N0 . e-γ · t, quando , tem-se: N = N0/2. Logo, N0/2 = N0 . e

-γ · t.

Aplicando-se o logaritmo ln à equação, tem-se:

ln N = ln (N0 . e-λ. t½)

ln = ln (N0. e-λ. t½)

ln N0 – ln 2 = ln N0 + ln (e-λ. t½)

- ln 2 = ln (e-λ. t½)

- ln 2 = -λ. t½ . ln e

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 60

- ln 2 = -λ. t½ . 1

ln 2 = λ. t½

λ = ou λ =

Aplicação prática do decaimento radioativo: datação com 14C (carbono 14)

Nas camadas mais altas da atmosfera,

átomos de nitrogênio absorvem nêutrons

provenientes dos raios cósmicos e, desse

processo, resultam átomos de 14C, um

radioisótopo. Estes se combinam, então, com

oxigênio, o que origina dióxido de carbono

(CO2), que é, por sua vez, absorvido pelos

vegetais. Dessa forma, ao ingerirem vegetais, os

animais incorporam 14C ao longo da vida. Após

a morte, esse processo cessa e ocorre o

decaimento do radioisótopo sem que haja, no

entanto, sua reposição (figura 7). Ao se saber que a meia-vida do 14C é de 5600 anos, o

estudo da proporção 14C/12C, que é fixa para seres vivos, permite a datação de fósseis,

uma vez que nestes a proporção cai exponencialmente com o decorrer do tempo.

4.5- A Energia Nuclear e Suas Aplicações

O fato de radioisótopos emitirem radiação torna a energia nuclear de grande

utilidade para áreas como a medicina, a indústria e a agricultura. O emprego dessa

energia baseia-se na propriedade de que a radiação pode ser absorvida ou simplesmente

atravessar a matéria.

O deslocamento de um radioisótopo por um sistema biológico pode ser

monitorado por meio da radiação emitida que, ao atravessar a matéria, é captada por

detectores de radiação. Nesta situação o radioisótopo age como traçador ou marcador

radioativo. Um exemplo é a utilização do radioisótopo Fe59 para estudos hematológicos,

o que permite a avaliação de anemias ferroprivas, em que o isótopo é rapidamente

Figura 7 - Decaimento de uma amostra de

10g de carbono-14.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 61

retirado da circulação, ou anemias em que há baixa eritropoiese, ficando o metal na

circulação por várias horas.

Outros empregos de marcadores são: a utilização de glicose contendo C14 para

verificação do metabolismo celular, ou CO2 também contendo C14 para verificar

processo de fotossíntese em plantas; a datação de substratos orgânicos pela relação C14/

C12; a verificação de transmissão nervosa em neurônios e comportamento do sódio em

sistemas biológicos utilizando Na24; a radioimunofluorescência, dentre inúmeras outras.

Na agricultura, a energia nuclear é utilizada, dentre outras formas, mediante a

irradiação de produtos agrícolas com raios gama, raios X e feixes de elétrons. Esse

procedimento leva à formação de íons que interrompem reações biológicas (como

mudanças conformacionais em enzimas) responsáveis pelo apodrecimento dos

alimentos, e destrói microorganismos, o que permite armazená-los sem que ocorra

deterioração ou brotamento do alimento.

Na indústria, a esterilização de materiais médicos-cirúrgicos como luvas

cirúrgicas, seringas e gazes utilizando-se radiação é uma alternativa útil ao emprego de

métodos convencionais que, por necessitarem de altas temperaturas, danificariam tais

materiais.

Na medicina, radioisótopos administrados a pacientes tendem a se concentrar em

órgãos pelos quais exibem maior afinidade. A intensidade da radiação emitida nesses

órgãos tem relação com a intensidade de absorção do elemento pelos órgãos, o que pode

ser um parâmetro útil para a avaliação de sua função.

Como exemplo, pode-se citar a utilização de doses pequenas de 131I (iodo 131),

radioisótopo absorvido, concentrado e metabolizado pela glândula tireóide. Ao detector

de radiação é acoplado um sistema que permite o mapeamento da glândula e a

identificação de áreas hipoativas, normoativas ou hiperativas, técnica conhecida como

cintilografia. Áreas que exibem maior cintilância são consideradas normais ou

hiperfuncionantes (hipertireoidismo). Em contrapartida, áreas com menor cintilância,

por serem geralmente neoplásicas, possuem células muito jovens e deficientes na

captação do 131I.

Doses maiores do radioisótopos podem ser utilizadas na destruição de células

malignas, técnica chamada de radioterapia. Nesse caso, pode ser utilizada tanto a

irradiação do tecido neoplásico, por meio de aparelhos que geram feixes radioativos

(teleterapia), como a implantação de um radiocomposto no tecido alterado

(braquiterapia). Obviamente, na radioterapia, devem ser avaliadas as características do

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 62

tumor a ser tratado, como maior absorção do radioisótopo, taxa de divisão celular, além

de sua sensibilidade e dos tecidos vizinhos à radiação. Outro ponto a ser observado é

que a braquiterapia torna o indivíduo uma fonte emissora de radiação.

Tendo-se em vista a administração e a interação de radioisótopos com sistemas

biológicos, há que se levar em conta que sua meia-vida em tais sistemas (meia-vida

biológica) diferirá da meia-vida fora deles (meia-vida física). Por exemplo,

radioisótopos que se acumulam em ossos, geralmente possuem meia-vida biológica

longa.

Ao se trabalhar com a meia-vida biológica, deve-se considerar a meia-vida

efetiva, de acordo com a equação:

=

Sendo:

= meia-vida efetiva

= meia-vida biológica

Pode-se concluir que quanto maior for a meia-vida biológica de um

radioisótopo, maior será sua permanência no organismo, assim como a possibilidade de

danos a este.

É importante ressaltar a diferença entre irradiação e contaminação por material

radioativo. A irradiação pressupõe a exposição de objetos ou corpos a uma fonte

radioativa. No entanto, caso haja a presença de material radioativo na matéria, diz-se

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 63

que esta se encontra contaminada (figura 8). Radioisótopos podem contaminar a pele ou

penetrar o organismo por inalação, ingestão ou por meio de lesões na pele. Indivíduos

contaminados emitem radiação e podem contaminar outras pessoas e o meio ambiente.

Os efeitos biológicos de contaminação incluem: efeitos agudos, que

caracterizam a síndrome aguda da radiação, mostrados na tabela 1. Carcinogênese,

envelhecimento precoce, cataratas, depressão do sistema imunológico, e malformações

estão entre os principais efeitos tardios da radiação.

Forma Dose absorvida Sintomatologia

Infra-clínica Inferior a 1 Gy Ausência de sintomatologia na maioria dos

indivíduos.

Reações gerais

leves

1-2 Gy Astenia, náuseas, vômitos (3 a 6 hs. Após a

exposição; sedação em 24 hs.)

Hematopoiética

leve

2-4 Gy Função medular atingida: linfopenia,

leucopenia trombopenia, anemia; recuperação

em 6 meses.

Hematopoiética

grave

4-6 Gy Função medular gravemente atingida.

DL50 4-4,5 Gy Morte de 50% dos indivíduos irradiados

Gastro-intestinal 6-7 Gy Diarréia, vômitos, hemorragias, morte 5 ou 6

dias.

Pulmonar 8-9 Gy Insuficiência respiratória aguda, coma e

morte entre 14 e 36 h.

Cerebral superior a 10 Gy Morte em poucas horas por colapso.

Gy: Gray (unidade da dose de radiação absorvida)

Alguns fatores devem ser considerados no uso de radioisótopos na medicina

nuclear:

Figura 8 – Contaminação à esquerda e irradiação à direita.

Tabela 1 – Efeitos de uma radioexposição aguda em adulto.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 64

Um desses fatores é o efeito de massa, o qual pressupõe que reações químicas se

processam em velocidades dependentes das massas dos reagentes. Por exemplo, para os

isótopos H1, H2 e H3, a velocidade das reações é maior para o isótopo menos pesado.

Outros fatores a serem levados em conta são a meia-vida física e a meia-vida

biológica, como já visto. Sua importância reside na determinação da quantidade de

radioisótopo a ser utilizado.

Finalmente, o tipo de radiação e a quantidade de energia associada é de

fundamental importância; por exemplo, radiação α tem alto poder ionizante, tendo, pois,

seu uso restrito.

4.6- Radiações X e Ultravioleta

As radiações gama, radiações X e ultravioleta fazem parte do espectro das

radiações eletromagnéticas. Enquanto as duas primeiras possuem alta energia e são

ionizantes, o efeito da última é o de excitação.

Os raios-X podem ter duas origens: Raios-X orbital (veja em Emissões

Secundárias) e raios-X de frenagem. Estes podem ser produzidos em ampolas com

vácuo. Um filamento metálico aquecido (cátodo) desprende muitos elétrons. A

aplicação de uma diferença de potencial elevada entre cátodo (eletrodo negativo) e

ânodo (eletrodo positivo) promove a aceleração dos elétrons em direção ao ânodo. A

colisão dos elétrons contra um anteparo posicionado neste eletrodo promove a emissão

de raios-X. A figura 9 ilustra o processo de formação de raios-X de frenagem. Sabe-se

que quanto maior a diferença de potencial entre cátodo e ânodo, maior será a energia do

raio-X. Além disso, quanto mais aquecido o cátodo mais elétrons se desprenderão, o

que conferirá maior energia ao raio-X emitido.

De acordo com o conteúdo energético, os raios-X podem ser classificados como

duros (altamente energéticos) ou moles (pouco energéticos). O emprego de raios-X em

Figura 9 – Ampola de produção de raio-X.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 65

radiografias baseia-se no fato de que diferentes estruturas orgânicas absorvem raios-X

de maneiras distintas. Assim, estruturas mais densas, como ossos, podem ser

atravessadas apenas por raios-X duros, enquanto raios-X moles atravessam tecidos

pouco densos como músculos, vísceras e tecido adiposo. Como conseqüência desse

fato, estruturas densas aparecem como uma sombra em imagens radiográficas, por

absorverem mais radiação (menor transparência aos raios-X) e aparecem mais claras em

chapas negativas, como esquematizado na figura 10. Ao passo que pulmões, quando

repletos de ar, e músculos, por exemplo, aparecem como uma imagem escura por

exibirem maior transparência aos raios-X e são as estruturas mais escuras em chapas

negativas.

Na formação de radioimagens, um fenômeno conhecido como efeito Compton

(reveja também em Radiação Gama) pode interferir de forma negativa. Tal fenômeno

ocorre naqueles casos em que a energia da radiação, como a do raio-X, é superior

àquela necessária para ejetar um elétron das camadas mais externas, sendo o excesso de

energia desviado na forma de um fóton de menor energia. Esse efeito é prejudicial à

formação de radioimagens, visto que esse desvio de energia acaba expondo diferentes

áreas dos tecidos a diferentes quantidades de energia, tornando sobrepostas as interfaces

entre diferentes tecidos, além de aumentar a exposição do profissional responsável pela

realização de exames como na radioscopia.

A luz ultravioleta (UV), por sua vez, é produzida da seguinte maneira: ao se

utilizar calor, radiação gama, radiação X ou eletricidade, elétrons podem absorver essa

energia e saltar para níveis mais externos. Ao retornarem para seus níveis de origem, o

excesso de energia é liberado mediante a emissão de luz UV; esta, ao ser absorvida por

átomos, torna-os excitados. Substâncias expostas a UV são mais reativas, o que aumenta

Figura 10 – Utilização de raios-X para realização de radiografia.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 66

de forma geral a taxa de reações bioquímicas. Além disso, podem participar de novas

vias bioquímicas, fato que pode ser prejudicial ao organismo.

Vale ressaltar que o sol é uma grande fonte de radiações ultravioleta (raios

UVA, UVB e UVC), sendo os dois primeiros os grandes responsáveis pela alta taxa

mundial de casos de câncer de pele.

A radiação UV tem sido amplamente empregada em diversas situações. Por

exemplo, ela é utilizada para se acelerarem diversas reações químicas em laboratórios

(aceleração de reações fotossensíveis); no diagnóstico de lesões dermatológicas, por

meio da lâmpada de Wood (os raios UV produzidos permitem visualizar e caracterizar

lesões que não são vistas a olho nu) ; na indústria de plásticos (aceleração da reação de

polimerização). A luz UV também é muito utilizada na esterilização do ar em salas de

cirurgias.

4.7- Radiobiologia

A radiobiologia estuda os efeitos diretos e indiretos de emissões radioativas

sobre seres vivos. Os efeitos diretos decorrem do choque das emissões com

biomoléculas, com consequente quebra de ligações, formação de radicais reativos e

inativação de enzimas, por exemplo. Os efeitos indiretos são devidos à absorção das

emissões por moléculas de água, as quais liberam radicais. Estes, por serem altamente

reativos, logo interagem com biomoléculas, lesando-as e alterando sua participação no

metabolismo celular.

Diferentes tecidos apresentam sensibilidades distintas aos efeitos das radiações.

Os fatores associados à susceptibilidade dos tecidos aos efeitos nocivos das radiações

são, em ordem decrescente de importância: maior teor de água, maior quantidade de

DNA, maior taxa de replicação celular e menor grau de diferenciação das células.

Assim, pode-se concluir que os tecidos neoplásicos são um dos mais sensíveis aos

efeitos da radiação, já que apresentam um alto grau de divisão celular e a maioria de

suas células são pouco diferenciadas.

4.8- Radioproteção

Tendo-se em vista a ampla utilização das radiações em diagnósticos e

tratamentos médicos, alguns importantes parâmetros devem ser obedecidos, a fim de

minimizar possíveis danos biológicos quando há exposição às radiações.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 67

Assim, a distância do organismo à fonte radioativa deverá ser a maior possível,

ao contrário do tempo de exposição, que deverá ser o mínimo possível, já que os efeitos

nocivos são cumulativos. Além disso, a blindagem (uso de barreiras absortivas entre a

fonte radioativa e o organismo vivo) mostra-se de muita importância na proteção contra

radiações alfa e beta; para a proteção contra radiações gama e raios X, a blindagem

ocorrerá apenas se a espessura da barreira absorvente for compatível com a energia da

radiação.

Para completar o seu estudo:

HENEINE, I. F. Biofísica Básica. São Paulo: Atheneu, 2006.

GARCIA, E. A. C. Biofísica. São Paulo: Sarvier, 2002.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Comissão Nacional de Energia Nuclear.

Apostila Educativa: Aplicações da Energia Nuclear. Rio de Janeiro. 18 p.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Comissão Nacional de Energia Nuclear.

Apostila Educativa: Radiações Ionizantes e a Vida. Rio de Janeiro. 42 p.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Comissão Nacional de Energia Nuclear.

Apostila Educativa: Radioatividade. Rio de Janeiro. 19 p.

Alimentos irradiados. Disponível em:

http://www.fcf.usp.br/Ensino/Graduacao/Disciplinas/LinkAula/MyFiles/alimentos_irrad

iados.htm. Acesso em: 26 de janeiro de 2010.

Figura 11 – Símbolo da presença de radiação acima dos valores encontrados no meio ambiente.

Page 68: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 68

Química Nuclear na Medicina. Disponível em:

http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/nuclear/medicina.html. Acesso em: 26 de

janeiro de 2010.

KASSIS, A. I.; ADELSTEIN, S. J. Radiobiologic Principles in Radionuclide

Therapy. The Journal of Nuclear Medicine,2005, 46: 4S-12S.

KASSIS, A. I.; Therapeutic Radionuclides: Biophysical and Radiobiologic

Principles. Semin Nucl Med. 2008 ; 38(5): 358–366.

SHARMA, N.; NEUMANN, D.; Roger MACKLINS,R.; The impact of functional

imaging on radiation medicine, Radiation Oncology, 2008, 3:25.

Page 69: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 69

Capítulo V - Exercícios Aplicados e Respostas Comentadas

1 Uma criança chega ao posto de saúde com desidratação. A mãe da criança afirma que

apesar de ter dado soro caseiro, a desidratação piorou. Quando questionada sobre o

modo que preparou o soro, percebeu-se que ela usou uma colher de café de açúcar para

duas colheres de sal. Qual foi o erro no preparo?

R: A quantidade de sal utilizada no preparo foi muito superior ao desejado, assim, a

solução preparada, que deveria ser isotônica às células, estava hipertônica. Quando em

contato com as células, essa solução provocou osmose (movimento de solvente/água)

do meio intracelular para o meio extracelular, agravando ainda mais o estado de

desidratação da criança. Contudo, vale ressaltar que o preparo caseiro de soro deve ser

evitado pelos riscos de erro de concentração. Assim, deve-se procurar os postos de

saúde, onde envelopes de soro são distribuídos gratuitamente. Colheres-padrão também

podem ser adquiridas, para o preparo em casa. Medidas: 40 g de açúcar comum (dos

quais 20 g são de glicose) + 3,5 g de sal + 1 L de água filtrada e/ou fervida.

2 Uma suspensão de antibiótico, para uso oral, tem concentração de 500 mg/10 mL. A

dose para crianças é de 30 mg/10 kg de massa corpórea. a) Quantos mL devem ser

administrados a uma criança de 20 kg? b) Se a dose é administrada a cada 6 horas, qual

o total administrado após uma semana?

R: Devem ser administradas 1,2 mL de antibiótico por dose e 1680 mg deste

medicamento por semana à criança. Resolução:

30 mg de antibiótico / 10kg de massa → 60 mg antibiótico / 20 kg de massa corporal

500 mg --- 10 mL 1 dose de 6 em 6h = 4 doses/dia x 7 dias = 28 doses

60 mg --- x 28 doses de 60mg = 1680 mg

x= 1,2 mL

3 O ácido fosfórico e seus derivados têm aplicação na formação de soluções tampão. As

equações abaixo mostram as estruturas dos compostos correspondentes às três

dissociações do ácido fosfórico, com as respectivas constantes de dissociação e valor de

pK. Lembre-se que o valor de pK indica valor de pH, quando existem 50% de reagentes

e 50% de produtos.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 70

a) Qual dos pares tamponantes acima (A e B, B e C ou C e D) seria o mais eficiente na

manutenção do pH fisiológico (7,4)?

b) Sobre o par tamponante escolhido no item anterior, qual dos compostos estaria em

maior quantidade no pH fisiológico?

c) Considerando que diariamente o metabolismo produz uma série de ácidos, ter esse

composto em maior quantidade é vantajoso ao organismo? Justifique sua resposta.

d) A composição de uma solução tampão é 0,12 mol/L de K2HPO4 mais 0,08 mol/L de

KH2PO4. Utilizando a equação de Henderson-Hasselbach e considerando os valores

de constante de dissociação e pKa fornecidos acima, calcule o pH desta solução.

R:

a) O par B e C (H2PO4 / HPO4) constituem o tampão mais eficiente, pois, dentre os

três pares, este é o tampão cujo pKa (6,8) está mais próximo do pH fisiológico (7,4).

b) O componente C (HPO4) estaria em maior quantidade. Veja cálculo:

A/D = 10pH-pKa → HPO4/ H2PO4 = 107,4-6,82 HPO4/ H2PO4 = 3,80

HPO4 = 3,80.H2PO4 HPO4 + H2PO4 = 100% 3,80.H2PO4 + H2PO4 = 100%

4,80.H2PO4 = 100% H2PO4 = 20,8% HPO4 = 79,2%

c) Sim. O componente que está em maior quantidade é o HPO4, que é o aceptor de

prótons do tampão fosfato, ou seja, há mais justamente do composto que é o

responsável pelo tamponamento dos ácidos (aceptor).

pK3= 12,38

pK2= 6,82

pK1= 2,15

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 71

pH > pKa → A > D, melhor tamponamento de ácidos (HPO4 + H+ → H2PO4)

pH < pKa → A < D, melhor tamponam. de bases (H2PO4 + OH- → H2O + HPO4)

pH = 7,4 e pKa = 6,82 → HPO4 > H2PO4

d) Resposta: pH = 7,0.

pH= pK + log pH= 6,82 + log pH= 7,0

4 Uma enzima chamada anidrase carbônica regula a acidez do sangue através da

reação:

H₂O + CO₂ H₂CO₃ HCO₃¯ + H⁺

Os alpinistas, quando sobem elevadas altitudes, podem experimentar os efeitos do

chamado “mal das montanhas”. Os sintomas deste mal incluem: dores de cabeça,

vômitos e dispneia, podendo evoluir para quadros mais graves, como edemas pulmonar

e cerebral. A fim de evitar esses problemas, os alpinistas se previnem tomando

acetazolamida, um inibidor da anidrase carbônica presente nos túbulos convolutos

proximais dos néfrons. Veja esquema do seu mecanismo de ação:

a) Como a alteração da respiração influencia o pH do sangue?

b) Como a respiração dos alpinistas é alterada em função da altitude alcançada?

c) Quais as alterações fisiológicas promovidas por esse medicamento?

d) Justifique a escolha deste medicamento pelos alpinistas.

R:

Anidrase carbônica

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 72

a) Na frequência respiratória normal, há um equilíbrio dinâmico entre o dióxido de

carbono e o bicarbonato, de modo que o pH é mantido próximo de 7,4. Quando a

frequência respiratória aumenta: a eliminação de CO2 é maior e o nível sanguíneo de

ácido carbônico é reduzido, havendo menor quantidade de íons hidrogênio livres; o

sangue é então alcalinizado (alcalose respiratória). Já na hipoventilação, há menor

eliminação de CO2, deslocando a reação para direita, o que acidifica o sangue.

Hipoventilação = ↑PCO2 ↑[H+] ↓pH (H2O + ↑CO2 → ↑H2CO3 → ↑H+ + HCO3-)

Hiperventilação = ↓PCO2 ↓[H+] ↑pH (H2O + ↓CO2 ← ↓H2CO3 ← ↓H+ + HCO3-)

b) Quanto maior a altitude escalada, menor é a PO2 atmosférico, o que leva à

hiperventilação, como mecanismo compensatório.

c) A inibição da anidrase carbônica induzirá uma acidose metabólica, por reduzir a

reabsorção de bicarbonato, e aumentará a diurese (volume de urina produzido), por

reduzir a reabsorção de cloreto de sódio e, consequentemente, de água. Veja o

esquema do mecanismo de ação.

d) Como visto no item b, o alpinista aumentará a frequência respiratória na tentativa de

compensar a menor PO2 atmosférica. Contudo, a hiperventilação resultará em

alcalose respiratória. Desse modo, a administração preventiva de acetazolamida se

justifica pelo fato de que ela irá induzir uma acidose metabólica, compensando os

efeitos da escalada que são gerados pela alcalose.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 73

5 Os medicamentos designados por A, B C e D são indicados para o tratamento de

uma paciente. Adicionando-se água a cada um desses medicamentos obtiveram-se

soluções que apresentam as seguintes propriedades:

Solúveis no sangue A, B, C

Iônicas A, B

Moleculares C, D

Pressão osmótica igual à do sangue A, C

Pressão osmótica maior que a do sangue B, D

Assinale a alternativa que só contém os medicamentos que poderiam ser injetados na

corrente sanguínea, via acesso periférico, sem causar prejuízos aos tecidos.

a) A, B, C e D

b) A, B e D

c) B, C e D

d) B e D

e) A e C

R: Resposta letra e. O sangue é composto essencialmente por água (≈ 90%), de modo

que medicamentos administrados por via intravenosa devem ser solúveis neste meio (A,

B e C). Contudo, se a solução medicamentosa for hipertônica, recomenda-se a

administração por via central, pois a administração por via periférica pode provocar

uma irritação venosa e a desidratação dos tecidos adjacentes. Já uma solução hipotônica,

reduziria a pressão osmótica do plasma, levando ao edema, pelo excesso de filtração do

líquido vascular para o interstício. Assim, como a tonicidade é dada pela pressão

osmótica da solução, e considerando o acesso (periférico), devem ser escolhidos os

medicamentos solúveis no sangue e que têm pressão osmótica igual ao mesmo: A e C.

H2O

vaso

tecido

hipertônico

Desidratação! H2O

vaso

tecido

hipotônico

Edema!

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 74

6 Uma empresa de cosméticos, na tentativa de desenvolver uma linha de hidratantes

para os pés, convocou um farmacêutico com ênfase em cosméticos para o

desenvolvimento do produto. Dentre as substâncias abaixo, qual deve ter sido a

opção do farmacêutico para que o produto tenha a maior eficácia em seu objetivo de

hidratar?

Substância Coeficiente de

reflexão

A 1,0

B 0,4

C 0,85

R: Substância B. O coeficiente de reflexão (0 ≤ σ ≤ 1) nos indica o quão permeável (σ

mais próximo de zero) ou impermeável (σ mais próximo de 1) uma substância é em

relação à célula. Já o efeito hidratante é dado pela entrada de água nas células, o que é

promovido quando a solução é hipotônica. Há, então, duas opções: usar um soluto

impermeante em baixíssima concentração; ou usar soluto permeante, o qual levará

obrigatoriamente à hipotonicidade. Assim, o melhor efeito hidratante será obtido com o

da substância mais permeante, ou seja, a de menor coeficiente de reflexão.

(Pressão Osmótica: π = R . T . Osm . σ)

7 O soro fisiológico é uma solução que contém 0,9% (p/v) de NaCl em água destilada,

sendo isotônica em relação aos líquidos corporais. Essa solução é utilizada para

reposição se íons sódio e cloreto, limpeza de ferimentos, higienização nasal, entre

outros procedimentos.

a) Um farmacêutico precisa preparar 400 mL de uma solução de soro fisiológico a

partir de uma solução de NaCl 30% (p/v). Qual volume da solução inicial ele deve

usar?

b) Caso esse farmacêutico resolvesse usar NaCl sólido 100% (p/p), qual a massa que

ele deveria usar para preparar 1 L de solução de soro fisiológico?

R: Resolução:

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 75

a) C₁V₁= C₂V₂

30 x V₁ = 0,9 x 400

V₁ = 12mL

b) 0,9 g NaCl ----- 100 mL solução

x ------------- 1000 mL

x = 9 g de NaCl

8 Um farmacêutico preparou uma solução de glicose 10% (p/v) que será

comercializada em bolsas de 250 mL.

a) Qual a massa de glicose presente na solução contida em uma bolsa?

b) Quantas bolsas de 100 mL a 5% (p/v) esse farmacêutico conseguirá preparar

utilizando a massa encontrada no item a?

R:

a) 10 g glicose ---- 100 mL solução

x ------------ 250 mL

x = 25 g glicose

b) 5 g glicose ----- 100 mL solução

25g glicose ----- y

y = 500 mL solução

ou 5 bolsas de 100 mL

9 Um farmacêutico precisa preparar uma solução de glicose para uso medicamentoso

por injeção intravenosa. Qual a massa de glicose necessária para preparar 1 mL de

uma solução isotônica à célula sanguínea (0,3 Osm)? (MM Glicose = 180g/mol).

R: Glicose: 0,3 Osm = 0,3 mol/L

1 mol glicose ------ 180g 1 mL = 0,001L

0,3 mol glicose ---- x 54g x 0,001 = 0,054 g/mL

x = 54 g/L Resposta: 0,054 g

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 76

10 Um farmacêutico que realiza controle de qualidade resolveu verificar se a massa de

ácido acetilsalicílico indicado no rótulo da aspirina estava correta. Após realizar

uma titulação, com uma solução padronizada de NaOH, ele obteve os seguintes

dados:

Volume titulado 1: 5,56 mL

Volume titulado 2: 5,58 mL

Volume titulado 3: 5,54 mL

A partir dos dados conclua: a massa da aspirina fornecida pelo rótulo está correta?

R: Sim, a massa titulada equivale à indicada no rótulo. Veja resolução:

Vmédio = (V1+ V2+ V₃) ÷ 3 → Vmédio = (5,56 + 5,58 + 5,54) ÷ 3 → Vmédio = 5,56 mL

0,5mol NaOH ---- 1000mL

x---------- 5,54mL

x = 2,78 x 10-³ mol

Considerando-se a proporção de 1:1 da reação (NaOH + HA → H₂O + Na⁺ + A-), o

número de mols de NaOH será igual ao número de mol da aspirina. Assim...

1 mol aspirina ---- 180g

2,78 x 10-3 mol --- y

y = 0,5 g aspirina = 500 mg

11 Um paciente chega à farmácia se queixando de febre alta e apresenta uma receita

prescrevendo aspirina. Ao se deparar com duas apresentações do fármaco, o

paciente questiona o farmacêutico, o qual explica que uma das formas é a aspirina

comum e a outra é a aspirina tamponada. Sabendo que se trata de um ácido fraco

(pKa=3,5), o que se espera do tamponamento desse fármaco (aspirina + CaHCO3)?

R: O transporte dos fármacos através da membrana é determinado por características

físico-químicas das moléculas e das membranas. Fármacos lipossolúveis, não ionizados,

ou na forma molecular, difundem mais efetivamente através da membrana (bicamada de

fosfolipídios), que aqueles que são hidrossolúveis, ionizados, ou na forma dissociada.

Para a aspirina comum, em sendo um ácido fraco de pKa = 3,5, portanto, maior que o

Sol. padronizada de NaOH = 0,5 mol/L

RÓTULO: M (aspirina) = 500 mg

MM (aspirina)= 180g/mol

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 77

valor do pH estomacal (pH ≈ 1,0), tem-se que pH < pKa, logo, A < D, prevalecendo a

forma molecular da aspirina, de modo que sua absorção é favorecida neste órgão.

Contudo, para a aspirina tamponada, o agente (CaCO3) leva à formação de

bicarbonato (HCO3-), reduzindo a acidez estomacal. Isso se traduz em aumento do pH e,

por conseguinte, em maior dissociação do fármaco, reduzindo, portanto, sua absorção.

Por que, então, existe aspirina tamponada? Apesar de seus efeitos analgésico,

antipirético e anti-inflamatório, a absorção da aspirina causa o rompimento dos capilares

presentes na mucosa do estômago, produzindo desde pequenos sangramentos, até

hemorragias. Alguns fabricantes adicionam o tampão para que, ao passar pelo

estômago, a aspirina esteja o mínimo possível na sua forma molecular, para que seja

mínima a absorção neste local, reduzindo assim os efeitos adversos. A absorção fica,

então, por conta do intestino delgado. Veja o efeito do agente tamponante sobre a acidez

estomacal e sobre a absorção do fármaco:

CaCO3 ↔ Ca2+ + CO32-

CO32- + H+ ↔ HCO3

- ↓[H+] ↑pH ↑A-/HA

HCO3- + H+ ↔ H2O + CO2 ↓absorção ↓sangramentos

12 A produção de urina no corpo é regulada através da osmolaridade. Se há um excesso

de água no plasma sanguíneo, esse excesso passa para a urina de modo a diminuir a

osmolaridade da mesma (ficando menor que a do plasma). Certo medicamento é

ingerido e metabolizado, liberando um sal (NaCl) na corrente sanguínea, que deverá

ser parcialmente eliminado. Suponha que a concentração de NaCl no plasma após a

ingestão desse medicamento seja 1,0 mol/L e que essa pessoa esteja produzindo uma

urina que possui 0,1 mol de NaCl em 40 mL, devido à excreção desse sal. Nesse

caso, ocorrerá transporte de água para a urina? Justifique.

R: Sim. Devido à diferença de tonicidade entre a urina e o plasma (πurina > π plas ma), a

osmose ocorrerá do plasma para a urina, aumentando o volume desta.

Quanto ao plasma: NaCl = 2 Osm

[NaCl]plasma = 1 mol/L ou 1 M.....................2 Osm............(NaCl ↔ Na+ + Cl-)

Quanto à urina: NaCl = 5 Osm

0,1 mol NaCl ---- 40 mL x = 2,5 mol/L ou 2,5 M

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 78

x----------- 1000 mL Osm = 2 x M = 5,0

Pressão Osmótica: π = R . T . Osm

- do plasma: π = 2RT

- da urina: π = 5RT

13 Uma mulher entrou em uma farmácia alegando ter hipotensão, e propranolol foi o

medicamento prescrito pelo médico. Esse medicamento diminui a corrente de

influxo de Ca²⁺ e Na⁺ para as células do nodo sino atrial (marca-passo cardíaco). O

farmacêutico disse à mulher que seu médico estava errado e que, na verdade, ela

deveria fazer uso de outro medicamento, que aumente a concentração intracelular de

Ca²⁺. Com base nos seus conhecimentos sobre o transporte iônico, pergunta-se: qual

dos dois profissionais está correto? Justifique

R: Os potencias de ação das células musculares cardíacas dependem do influxo dos íons

sódio e cálcio, de modo que do medicamento irá agravar o quadro de hipotensão da

paciente. Assim, o farmacêutico estava correto.

Esquema de um PA em célula cardíaca, evidenciando a relação entre as fases e seus

respectivos fluxos:

14 Um paciente com edema (acúmulo anormal de líquido no espaço intersticial devido

ao desequilíbrio entre a pressão hidrostática e osmótica) foi à farmácia e perguntou

ao farmacêutico se o medicamento que lhe foi prescrito realmente seria eficiente em

seu tratamento. O medicamento é um diurético que atua nos túbulos renais. Qual foi

a resposta do farmacêutico quanto à eficiência do medicamento? Justifique com

base na ação do medicamento.

R: Sim. Devido à diferença de tonicidade entre a urina e o plasma (πurina > π plas ma), a

osmose ocorrerá do plasma para a urina, aumentando o volume desta.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 79

Quanto ao plasma: NaCl = 2 Osm

[NaCl]plasma = 1 mol/L ou 1 M.....................2 Osm............(NaCl ↔ Na+ + Cl-)

Quanto à urina: NaCl = 5 Osm

0,1 mol NaCl ---- 40 mL x = 2,5 mol/L ou 2,5 M

x----------- 1000 mL Osm = 2 x M = 5,0

Pressão Osmótica: π = R . T . Osm

- do plasma: π = 2RT

- da urina: π = 5RT

O medicamento prescrito age reduzindo a reabsorção de íons como o Na+, Cl- e K+, que

ficam na luz tubular, aumentando a pressão osmótica. Disto resulta que a água é atraída

para o túbulo renal, havendo, assim, uma eliminação de água para além do fisiológico,

que reverte o quadro edematoso.

15 Em um medicamento constituído de solução para perfusão usou-se as seguintes

concentrações em 1 litro de solução:

120,0 mmol de glicose

25,7 mmol de lactato de sódio

2,5 mg/mL de NaCl (MMNaCl = 58,5g/mol)

a) Determine a osmolaridade do medicamento;

b) Classifique o medicamento quanto à sua osmoticidade. (Hemácias = 300 mOsm)

R: a) Osmolaridade = 256,8; b) hiposmótica.

a) Resolução:

- Glicose: 120 mmol/L = 120 mOsm

- Lactato de sódio: 25,7mmol/L = 51,4mOsm

(CH3CH(OH)COONa+ ↔ CH3CH(OH)COO

- + Na

+)

- Cloreto de sódio: 2,5 mg/mL = 2500 mg/L = 2,5g/L

nº mols = massa ÷ MM n = 2,5 ÷ 58,5 n = 0,0427 mol/L ou M

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 80

Osm = 2 x M Osm = 0,0854 mOsm = 85,4

Osm total: 120 + 51,4 + 85,4 =256,8 mOsm

b) Hiposmótica (OSM SOLUÇÃO < OSM CÉLULA)

16 Um dos procedimentos pré-cirúrgicos é a utilização de álcool iodado para a

antissepsia local. A concentração do iodo na solução, para sua ação, é de 2% v/v.

Um enfermeiro observou que um frasco continha a seguinte informação: 40 mL de

iodo em 1 L de solução. A concentração do iodo está de acordo com a

recomendada?

R: A concentração não está de acordo com a recomendada, está mais concentrada. Mas,

para se obter a concentração desejada, basta apenas diluir a solução, dobrando o

volume. Veja os cálculos:

2% v/v = 2 mL de iodo para cada 100 mL de solução

2 mL/100 mL = 20 mL/1000 mL = 20mL/L

40 mL/LFRASCO > 20 mL/L

17 Considere a seguinte composição de 100 mL de soro: 0,06 M de NaCl e 0,22 M de

glicose. Dados: MMNaCl = 58,5 g/mol e MMglicose = 180 g/mol; Célula = 0,3 Osm.

a) Determine a massa de NaCl e de glicose necessárias para o preparo da solução;

b) Cite e explique qual a tonicidade da solução com relação à célula.

R:: a) 0,351 g de NaCl e 3,96 g de Glicose; b) hipertônica

a) Resolução:

NaCl: 0,06 mol/L = 0,006 mol/100mL → 0,006 mol x 58,5 g/mol = 0,351 g

Glicose: 0,22 mol/L = 0,022 mol/100mL → 0,022 mol x 180 g/mol = 3,96 g

b) Resolução:

Osm total = (0,06 x 2) + 0,22 = 0,34 Osm > 0,3 Osmcélula.

Para os solutos impermeantes (ex.: cloreto de sódio e glicose), a tonicidade equivale à

osmolaridade, pois apenas os impermeantes geram efeito osmótico e, no exemplo da

questão, a OSMSORO > OSMCÉLULA, logo, o soro preparado é hipertônico. Caso se

substituísse a glicose por 0,22 M ureia, um permeante, a solução ainda seria

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 81

hiperosmótica (0,34 Osm), mas seria agora hipotônica, pois haveria apenas 0,12 Osm de

impermeantes (NaCl), contra 0,3 Osm da célula.

18 O ácido acetilsalicílico (AAS) é um anti-inflamatório não-esteroidal, com

propriedades antipirética e analgésica, bastante conhecido pela população, sobretudo

pelo seu nome comercial, Aspirina. O AAS é um ácido fraco, de fórmula

C6H4(OCOCH3)COOH, com massa molecular de 180,16 g/mol e valor de pKa =

3,4. Dito isto, pergunta-se:

Em que parte do trato gastrointestinal a absorção do AAS é favorecida: no estômago ou

nas primeiras porções do intestino delgado? Dados: pHestômago = 1,4.........pHintestino = 5,0.

R: A absorção é favorecida no estômago. Veja resolução e comentários:

Resolução I: pH = pKa + log (Aceptor/Doador)

No estômago: 1,4 = 3,4 + log(A/D)

-2 = log(A/D)

A/D = 10-2

A = 0,01 D

No intestino: 5,0 = 3,4 + log(A/D)

1,6 = log(A/D)

A/D = 101,6

A= 40 x D

Resolução II: A/D= 10pH-pKa

No estômago: A/D = 10 -2 A= D÷100

No intestino: A/D = 101,6 A= 40×D

A partir da equação de Henderson Hasselbach, pode-se perceber que no

estômago há a prevalência da espécie protonada/doadora que é a forma molecular do

medicamento. Assim, é no ambiente ácido do estômago que a absorção do AAS é

favorecida. Contudo, há que se lembrar de que o esvaziamento gástrico é relativamente

rápido, de modo que o medicamento permanece por muito pouco tempo neste órgão.

Já no intestino (apesar de prevalecer a forma ionizada do fármaco), o tempo de

permanência é consideravelmente maior e a superfície de absorção é 200 vezes maior

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 82

que a do estômago. Assim, ainda que em menor quantidade, a forma molecular tem

bastante tempo e área para a sua absorção.

Conclui-se, então, que o AAS é absorvido em parte pelo estômago, mas na sua

maioria pelos segmentos proximais do intestino.

19 Quem já sentiu dor de garganta e teve de tomar injeção de Benzetacil® sabe a dor

intensa, aguda e persistente que esse antibiótico causa. O remédio é indicado não só

no tratamento de infecções do trato respiratório superior, mas também no de

infecções venéreas, como a sífilis. Sabe-se que o medicamento apresenta uma

solubilidade extremamente baixa, que a suspensão injetável tem alta concentração

da droga, e que os níveis séricos são muito baixos, porém prolongados. Explique o

porquê da intensa dor e por que a quantidade no sangue é tão baixa, porém contínua.

R: A extrema baixa solubilidade dificulta a difusão do medicamento que acaba

apresentando um espalhamento lento a partir do local de administração. Isso explica

porque o medicamento não atinge altos níveis séricos, que são mantidos baixos por

tempo prolongado. A alta concentração da droga e sua permanência prolongada no local

da aplicação explica a dor aguda e persistente.

20 A ingestão de alguns medicamentos, como nimesulida e naproxeno, é feita

exclusivamente por via oral. Em pacientes submetidos à nutrição enteral, a

administração de tais medicamentos deve ser evitada. Caso o medicamento não

possa ser substituído, é responsabilidade do farmacêutico fazer as diluições

necessárias, pois os medicamentos são normalmente hiperosmolares em relação às

secreções gastrintestinais (0,1 a 0,4 Osm). Foi prescrita, a um paciente que recebe

nutrição enteral, a administração de nimesulida, porém, o fármaco é oferecido à

farmácia hospitalar com osmolaridade igual a 1,0 Osm.

a) Qual a diluição que o farmacêutico deve realizar, considerando 0,3 a osmolaridade

do trato gastrintestinal?

b) Para se preparar 5 mL da solução de nimesulida a 0,3 Osm, qual o volume do

medicamento a 1,0 Osm deve ser medido?

R: a) A diluição será na proporção de 1 parte de nimesulida para 2,333 partes de água.

Veja o cálculo:

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 83

C1 .V1 = C2 .V2

1,0 Osm × 1 mL = 0,3 Osm × Vfinal → Vfinal = 3,333 mL

Vad icionado = Vfinal - Vincial

Vad icionado = 3,333 mL - 1 mL → Vad icionado = 2,333 mL

Para cada 1 mL nimesulida a 1,0 OSM, adiciona-se 2,333 mL água.

b) Para o preparo de 5 mL a 0,3 Osm serão necessários 1,5 ml. Veja cálculo:

C1 .V1 = C2 .V2

1,0 × V1 = 0,3 × 5 → V1 = 1,5 mL

21. O tempo de duração de um anestésico local é determinado pelo tempo que o fármaco

permanece no local de ação, em contato com as fibras nervosas, sem ser difundido para

a corrente sanguínea. Com base nos parâmetros que influenciam a difusão de solutos,

discuta como um laboratório farmacêutico pode aumentar o tempo de duração de um

anestésico local.

R: Lembrando que...

Fluxo: J = -D.A. ou J = P.∆C

Coeficiente de difusão: D =

Coeficiente de partição = solubilidade em óleo / solubilidade em água

Sabe-se que a resistência do meio (viscosidade), o tamanho das moléculas e a

concentração do soluto, dentre outros, são fatores que influenciam o fluxo de difusão.

Assim, é possível ao laboratório reduzir a velocidade de difusão reduzindo a

permeabilidade do fármaco, o que pode ser obtido através: a) do aumento da

viscosidade do produto; b) do aumento do tamanho da molécula do analgésico, por

exemplo, ligando cadeias carbônicas maiores a mesma; e c) reduzindo a concentração

do remédio.

22. O Captopril é um anti-hipertensivo utilizado no tratamento da hipertensão arterial

crônica, leve ou moderada, e de insuficiência cardíaca congestiva. Sabe-se que ele

apresenta dois valores de pKa (3,7 e 9,8) e que o uso de antiácidos reduz a absorção

∆C

∆x

KT .

6πrη

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 84

desse medicamento em até 30%. O mesmo ocorre quando da presença de alimentos no

estômago, momento em que 40% da absorção do Captopril fica comprometida.

a) Qual o percentual de ionização do Captopril no estômago (pH = 1,2) e no intestino

delgado (pH = 6,5)?

b) Como a informação do percentual de ionização pode auxiliar o farmacêutico na

previsão das características farmacocinéticas do medicamento no tocante à sua

absorção?

c) Em que região do trato gastrintestinal a absorção do Captopril é favorecida?

d) Na bula do Captopril, o paciente é advertido a tomar o medicamento 1 hora antes

ou duas horas depois das refeições. Explique o motivo dessa orientação e relacione

sua resposta aos dados apresentados no enunciado desta questão.

R: a) pH = pKa + log (Aceptor/Doador) → A/D= 10pH-pKa

No estômago:

pKa = 3,7 1,2 = 3,7 + log (A/D)

A/D = 10-2,5 A= 10-2,5 D → A= 0,00316 D

A+D = 100% A= ?%

0,00316D + D = 100 A = 0,32%

D = 99,68% Perc. Ionização = 0,32%

pKa = 9,8 1,2 = 9,8 + log(A/D)

A/D = 10-8,6 A = 10-8,6D

A + D = 100% A = ?%

10-8,6D + D = 100% A ≈ 0%

D ≈ 100% Perc. de Ionização ≈ 0%

No intestino:

pKa = 3,7 6,5 = 3,7 + log(A/D)

A/D = 102,8 A= 102,8 D

A+D = 100% A= ?%

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 85

102,8D + D = 100 A = 99,84%

D = 0,16% Perc. Ionização = 99,84%

pKa = 9,8 6,5 = 9,8 + log(A/D)

A/D = 10-3,3 A = 10-3,3D

A + D = 100% A = ?%

10-3,3D + D = 100% A = 0,050%

D = 99,95% Perc. Ionização = 0,05%

b) O percentual de ionização é de fundamental importância na previsibilidade da

absorção de um fármaco, uma vez que o grau de ionização é inversamente

proporcional à lipofilicidade, de forma que as espécies não ionizadas, por serem

mais lipofílicas, conseguem atravessar as membranas biológicas por transporte

passivo; já as espécies carregadas são polares e, além disso, normalmente se

encontram solvatadas por moléculas de água, dificultando o processo de absorção

passiva.

c) A absorção é favorecida onde prevalece a forma não ionizada do fármaco, logo, no

estômago.

d) De modo geral, tem-se que, durante as refeições, com a chegada do alimento ao

estômago, o conteúdo deste fica diluído, aumentando seu pH que, por sua vez,

aumenta o percentual de ionização do fármaco. Por esse motivo é que a absorção do

Captopril fica reduzida em 40% no estado alimentado. O mesmo raciocínio se aplica

ao uso concomitante de antiácidos e Captopril. Os antiácidos reduzem a acidez

estomacal, de modo a aumentar a dissociação do fármaco, consequentemente,

reduzindo a sua absorção.

23. Um farmacêutico está formulando um creme e deseja conhecer o fluxo de absorção do

creme para a pele. Ele utilizará como substância principal a ureia, um composto

largamente encontrado em hidratantes da classe dos umectantes, que são substâncias

hidrofílicas, que não adicionam umidade à pele, mas auxiliam na sua hidratação,

mantendo sua umidade natural. Sabe-se que, em condições normais, a concentração de

ureia dentro das células é nula. Considerando, então, que a permeabilidade da

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 86

membrana celular à ureia é de 2×10-5 cm/s, numa área de 0,01mm², qual a velocidade

inicial da difusão da ureia, estando esta a uma concentração de 10 mg/mL?

R: A difusão iniciará com uma velocidade de J = 2,0 × 10-8 mg/s.

J = P.A.(Ca - Cb) → fluxo = permeabilidade x área ([ureia]extra – [ureia]intra)

J = 2×10-5 cm x 1×10-4 cm2 x (10 – 0) mg

s mL

J = 2,0 ×10-8 x cm3 x mg 1 L = 1000 cm3

s x mL 1000 mL = 1000 cm3 → 1 mL = 1 cm3

J = 2,0 × 10-8 mg/s

24. A um farmacêutico foram enviadas amostras de um soro glicosado para controle de

qualidade. Sabendo que a temperatura normal do corpo é 37°C e que a pressão osmótica

do sangue humano é de 7,8 atm, qual a quantidade (em gramas) de glicose o

farmacêutico usará para a preparação de 100 mL de soro fisiológico isosmótico ao

sangue? (MMglicose = 180,16 g/mol)

R: Serão usados 5,53 g de glicose para o preparo de 100 mL do soro glicosado.

Considerando a pressão osmótica teórica, temos:

π = R × T × Osm

7,8 = 0,082 × (273 + 37) × Osm

Osm = 0,307

Como a glicose não dissocia: Glicose a 0,307M ou 0,307 mol.L-1

Para preparo dos 100 mL do soro ....... 0,0307 mol de Glicose

Massa = nº mols × Massa Molecular

Massa = 0,0307 × 180,16

Massa = 5,53 g

25. O uso do ácido ascórbico (vitamina C) em cosméticos com finalidade hidratante,

clareadora, antioxidante e estimuladora da síntese de colágeno vem crescendo muito nos

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 87

últimos anos. Assim, qual a quantidade de ácido ascórbico (Ka = 6,70×10 -5) um

farmacêutico deve utilizar no preparo de 250 mL de um creme que possua o pH igual ao

da pele humana? Considere que todo o ácido do creme provém do ácido ascórbico e que

o pH da pele é 5,0. (MMácido arcórb ico = 176,13 g/mol)

R: Deve-se utilizar 0,0656 mg do ácido ascórbico.

HA ↔ H+ + A- Ka = [H+] × [A-] pH = 5

[HA] [H+] = 10-5

6,70 × 10-5 = 10-5 × 10-5 [HA] = 1,49 × 10-6 mol/L

[HA]

Para 250 mL................................HA = 3,725 × 10-7 mol

Massa = nº mols × MM Massa = 6,56 × 10-5g

= 0,0656 mg

26. O ácido glicólico é uma substância muito utilizada em produtos dermatológicos para

melhorar a aparência e a textura da pele, no tratamento de acnes e pele ressecada,

manchas, podendo até ser usada no peeling químico. Este fármaco é um alfa-

hidroxiácido, encontrado naturalmente em frutas como a cana-de-açúcar e o abacaxi.

Normalmente, o ácido glicólico é encontrado a 70% em solução alcoólica ou em gel,

cujo pH = 0,6. (Dados: pKa = 3,83; MMác. glicólico = 76g/mol; MMglico lato = 98g/mol)

a) Para o uso dermatológico doméstico, é preciso neutralizar parcialmente o ácido para

que este fique com pH entre 3,0 e 5,0. Qual a quantidade máxima de base que deve

ser adicionado àquela solução comercial (ácido glicólico 70%) para que fique

próprio para o uso?

b) Após o procedimento do item “a”, qual a nova concentração do ácido glicólico?

R: a) Como, para o uso dermatológico doméstico, o pH do ácido deve estar entre 3,0 e

5,0, o máximo de base que pode ser adicionado é de 8,627 mols, considerado o volume

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 88

de 1L do ácido glicólico a 70%; b) Após a adição de 8,627 mols de base, a concentração

do ácido varia de 70% para 4,43%.

a) Resolução:

Ác. Glicólico ↔ H+ + Glicolato- pH = pKa + log (Gli-/Ác)

Inicialmente...

Ác. 70% → 70 g/100 mL → 9,21 mols/L nº mols = massa / MM

0,6 = 3,83 + log (Gli- / 9,21) Ác = 9,21 mols

Gli- = 5,42×10-3 mols em 1L Gli- = 5,42×10-4 mols

Acrescentada a base...

5,0 = 3,83 + log 5,42×10-4 + b . → 5,42 × 10-4 + b .= 14,79

9,21 – b 9,21 – b

b = 8,627 mols

b) Resolução:

[Ác]inicial = 70% p/v → 9,21 M

9,21mols de Ác. Glicó lico – 8,627mols de base = 0,583 mol de Ác. Glicólico restante

0,583 mol em 1L → 44,31 g/L → 4,43%

Concentração varia de 70% para 4,43%

27. O ácido glicólico pertence a um grupo de ácidos orgânicos chamados alfa-hidroxiácidos

(AHA’s), que têm em comum o hidróxido na posição alfa (ou posição 2). Os AHA’s

têm sido amplamente utilizados na composição de cosméticos destinados a diversos

tipos de tratamento de pele. O ácido glicólico é o alfa-hidroxiácido de menor molécula,

com fórmula C2H4O, e é o AHA mais usado. De acordo com os seus conhecimentos

sobre difusão, dê uma possível causa para a preferência pelo ácido glicólico, dentre os

outros AHA’s, para a formulação de um cosmético destinado à pele.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 89

R: Um dos fatores que favorece a difusão é o tamanho da molécula do soluto, como

pode ser verificado abaixo:

J = - D.A. ∆C D = K T . r = raio da molécula

∆x 6 π r η ↓r ↑D ↑J

Quanto menor o seu tamanho, maior é o fluxo difusional da substância. Dessa maneira,

o ácido glicólico é o preferido entre os demais AHA’s, pois é o alfa-hidroxiácido de

menor tamanho molecular, sendo assim, o que mais rápido se difundirá pela pele.

28. Uso cosmético do ácido glicólico requer concentração entre 2 a 10% e para peelings de

30 a 70%. Em pH = 6,0, o ácido glicólico é um excelente agente hidratante. No entanto,

à medida que o pH aumenta, diminui a capacidade hidratante. Em valores de pH mais

ácidos, como, por exemplo, pH = 3,8, o ácido glicólico torna-se um agente esfoliante e

despigmentante. Explique porque dessa diferença. (Obs.: Consulte os dados das

questões anteriores e os resultados para a resolução desta).

R: Como já calculado na questão anterior, observa-se que:

pH = 0,6 → Ác 70% → 9,21 mols Ác / 0,000542 mols Glicolato

pH = 5,0 → Ác 4,43% → 0,583 mols Ác / 8,63 mols Glicolato

Pode-se perceber, então, que quanto menor o pH, menos o ácido glicólico se dissocia,

logo, maior será sua quantidade no produto. Esta alta concentração do ácido no

cosmético é que lhe confere o efeito esfoliante. Já em pH mais básicos, prevalece a

forma ionizada, de modo que cai bastante a concentração do ácido. Este, em baixa

concentração, é menos agressivo à pele, não chegando à esfoliação, mas (por ser uma

molécula pequena e sem carga – o menor dos AHAs) o pouco ácido presente difunde

para a pele hidratando-a.

29. Um farmacêutico, responsável pela produção do medicamento de nome comercial

Mylanta Plus, queria determinar a quantidade do componente hidróxido de ma gnésio

em um lote desse medicamento para confirmar se estava em conformidade com a

indicada na embalagem (110 mg de Mg(OH) 2). Dessa forma, o farmacêutico realizou

uma titulação com um ácido forte, utilizando para isso 41 mL de HCl, até atingir o

ponto de equivalência. Sabendo-se que 1 mL de HCl neutraliza 2,9 mg de Mg(OH)2,

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 90

responda se a quantidade de hidróxido de magnésio presente nesse lote está de acordo

com a indicada pelo fabricante.

R: Não, a quantidade de Mg(OH)2 é superior ao indicado na embalagem.

1 mL de HCl neutraliza 2,9 mg de Mg(OH)2

41 mL de HCl neutraliza x → x = 118,9 mg de Mg(OH)2

30. As formas farmacêuticas sólidas orais de liberação prolongada caracterizam-se pela

liberação gradual do fármaco e manutenção da sua concentração plasmática em níveis

terapêuticos, durante um período de tempo prolongado, a fim de evitar concentrações

subterapêuticas ou tóxicas. Como é possível que essa liberação seja gradual e não

ocorram picos de concentração a cada ingestão do fármaco?

R: Empregando-se tecnologias de matrizes poliméricas tais como filmes e microesferas,

promove-se a difusão gradativa. As matrizes são dispersões ou soluções de um fármaco

em uma ou mais substâncias capazes de modular a sua liberação. Nas matrizes

insolúveis, constituídas de ceras (matrizes hidrofóbicas) ou polímeros insolúveis em

água (matrizes inertes), o fármaco é liberado essencialmente por difusão. Observa-se

que na matriz insolúvel, após a ingestão, a água presente nos fluidos do trato

gastrointestinal penetra na forma farmacêutica e dissolve o fármaco. Como

consequências são formados canais na estrutura da matriz, através do qual o fármaco é

gradualmente liberado por difusão. Os objetivos dessa tecnologia podem ser prolongar o

efeito farmacológico ou liberar o fármaco em um sítio específico do trato

gastrointestinal após um período definido de tempo.

31. Um indivíduo que se queixava de cefaleia, alterações visuais, náuseas e vômitos foi

diagnosticado com hipertensão intracraniana. Como tratamento, foi indicado o uso de

manitol 20%, 1908 mOsm/L, intravenoso.

a) Para que o medicamento tenha eficácia, é recomendado que o paciente receba uma

dose média de 500 mL a cada 24 horas. Um indivíduo recebe infusão IV de

exatamente 84 mL por dose. Ao final do dia, quantos gramas de manitol terão sido

administrados?

Page 91: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 91

b) Considerando-se a osmolaridade da solução de manitol, como ele pode ajudar a

reduzir a pressão intracraniana?

R: 10,08 g b) Manitol = hipertônico → osmose , ↓ pressão intracraniana. Veja os

cálculos e comentário abaixo:

a) Resolução:

Cálculo das doses diárias: 500 mL / 84 mL = 5,95 doses → 6 doses por dia.

Cálculo da massa de manitol administrada:

20 g de manitol estão presentes em 0,1 L de solução

X g .................................................0,504 L de solução (6 doses de 84mL)

X = 10,08 g de manitol

b) Comentário:

O manitol, um álcool derivado da manose, é um agente hiperosmolar, já que sua

osmolaridade, de 1,908 Osm/L, é bem superior à osmolaridade celular, de 0,3 Osm/L.

Ao aumentar a osmolaridade sérica, o composto promove a reabsorção do líquido

cefalorraquidiano, que se difunde do meio menos concentrado para o mais concentrado,

contribuindo para reduzir a pressão intracraniana. Ele também é um diurético osmótico,

uma vez que não é reabsorvido no túbulo renal e, portanto, induz a diurese por aumentar

a osmolaridade do filtrado glomerular.

32. O Rivotril® é um ansiolítico amplamente utilizado. Recomenda-se uma dose de 0,01

mg do medicamento a cada 10 Kg do paciente por dia. A meia-vida de eliminação do

fármaco é em torno de 36h. Aproximadamente 2% do medicamento são eliminados pela

urina e 0,5% pelas fezes. Considerando que uma criança de 10 Kg ingeriu uma

superdosagem de 0,06 mg do ansiolítico, calcule a quantidade de Rivotril® eliminada

pela urina após 6 dias de ingestão, considerando a meia-vida desse fármaco.

R: Será eliminado pela urina, após 6 dias de ingestão, uma quantidade de 0,000075 mg

do Rivotril®. Veja:

36h _____________ 1 meia-vida

144h (6dias)_______ X → X = 4 meias-vida

1a meia-vida: 0,06/2 = 0,03

2a meia-vida: 0,03/2 = 0,015

3a meia-vida: 0,015/2 = 0,0075

4a meia-vida: 0,0075 = 0,00375 mg eliminados após 6 dias.

Page 92: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 92

Como 2% são eliminados pela urina, tem-se:

0,00375 mg x 0,02 = 0,000075 mg eliminados pela urina.

33. Um paciente chegou em estado muito grave ao hospital e, dentre os exames

laboratoriais, foi solicitada a gasometria venosa, que mede o pH e a concentração de

bicarbonato (HCO-) no sangue. Em 5 ml de sangue o laboratorista obteve os seguintes

valores:

- Resultados do paciente: - Valores de referência:

[H+] = 1,07X10-7 pH normal do sangue = 7,32 – 7,42

HCO3- = 0,06 mmol HCO3

- =24 – 28mmol/L

a) Qual o pH do sangue desse paciente?

b) Qual a concentração em mmol/L de bicarbonato?

c) Comente os resultados comparando com os valores de referência e a partir de

conhecimentos prévios.

R: a) pH = 6,97 b) 12 mmol.L- c) ↓HCO3- ↑[H+] ↓pHfisiológico

a) Resolução:

pH = - log (1,07 x 10-7)

pH = 6,97

b) Resolução:

0,06mmol________5 mL

x mmol________1000 mL

x =12mmol.L⁻

c) O papel do HCO3- é capturar H+ do meio, mas, no caso do paciente, houve um

grande decaimento do bicarbonato, o que levou ao aumento da concentração de

prótons H+ no sangue. Assim, o pH caiu bruscamente, promovendo uma série de

alterações (quadro de acidose metabólica) que repercutiram no grave estado de

saúdo desse paciente. Como o valor mínimo do pH compatível com a vida nas

acidoses é de 6,85, este paciente poderá ir à óbito se não for rapidamente socorrido.

(Obs.: o valor máximo de pH tolerado pelo organismo, nas alcaloses, é de

aproximadamente 7,95; assim, a faixa de pH compatível com a vida, em média, vai

de 6,85 a 7,95).

Page 93: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 93

34. Sabe-se que o leite de magnésia é facilmente comprado nas farmácias. Ele é largamente

utilizado devido as suas ações laxante e antiácida. Explique como ocorrem esses

processos no organismo.

R: O leite de magnésia é uma suspensão de hidróxido de magnésio em água. Sua ação

laxante se deve a reação com o ácido clorídrico do suco gástrico formando o MgCl 2,

que absorve muita água, lubrificando os intestinos e neutralizando a prisão de ventre.

Em doses moderadas, serve também como um antiácido devido à sua propriedade

alcalina, diminuindo, portanto, a acidez estomacal.

35. Do ponto de vista farmacêutico, uma formulação deve ser compatível com os princípios

ativos, aditivos especiais, não ser irritante, nem se degradar. Além disso, deve

apresentar estabilidade, que é a capacidade que o produto tem num determinado período

de tempo, do inicio ao final de sua vida útil, e em determinada embalagem, de manter as

mesmas propriedades e características que tinha no momento em que finalizou a sua

fabricação, por meio de um procedimento padronizado. O Cetaconazol é um agente

antifúngico, que pode ser incorporado em diferentes formas farmacêuticas, como por

exemplo, xampus e cremes. Para manter a estabilidade destas formulações o pH destas

tem que estar na faixa de 4-5. Durante a preparação de um xampu de cetoconazol em

um laboratório de manipulação, percebeu-se que após a solubilização do fármaco, o pH

da formulação estava elevado (fora da faixa de 4 a 5). O que pode ser feito para corrigir

o pH de modo que não haja perda de estabilidade ou mesmo perda de produto?

R: O farmacêutico pode valer-se de uma solução ácida, por exemplo, de ácido cítrico,

para corrigir este valor de pH elevado. A adição do ácido cítrico aumentará a

concentração de H+ na formulação, abaixando pH (pH= -log[H+]), que ficará próximo

da faixa requerida para a ação e estabilidade do fármaco.

36. O creme vaginal Nistatina é usado no tratamento de infecção da pele e da mucosa

vaginal causada por espécies de Candida spp. Tal fármaco age no pH = 4,0

(aproximadamente o vaginal) e, para ter certeza que este pH será mantido, utiliza-se o

tampão acetato (CH3COOH). Para isso é usado 0,30 M de CH3COO- (a base conjugada)

e 1,76 M de CH3COOH. Verifique se esse tampão é eficaz, sabendo que seu valor de

pKa é de 4,76.

Page 94: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 94

R: Para as quantidades de ácido acético e acetato usadas, o tampão será eficaz, pois o

pH exigido para a sua ação farmacológica será mantido (pH ≈ 4,0), não afetando as

condições fisiológicas da vagina. Além disso, o tampão é considerado eficiente por

apresentar valor de pKa próximo ao do pH em questão (pKa = 4,76 ≈ pH = 4,0).

CH3COOH ↔ CH3COO- + H+

pH = pKa + log [CH3COO-] /[ CH3COOH]

pH=4,76 + log 0,30/1,76

pH=3,99

37. Medicamentos que são administrados por via intravenosa devem possuir pH neutro e

serem isotônicos. Durante o preparo de uma solução de Buscopan® para ser

administrado via intravenosa, houve pequeno erro de concentração e a solução tornou-se

levemente hipotônica, sem grande diferença do que seria a isotonicidade ideal. Esse

medicamento foi administrado por via intravenosa em um paciente internado que

imediatamente apresentou reação ao fármaco, sendo esta uma resposta não proveniente

de alergia e sim à leve hipotonicidade da solução farmacológica. Ainda assim, o

paciente se recuperou sem danos sérios. Explique porque essa reação não causou sérios

danos à saúde do paciente.

R: Quando soluções hipotônicas são administradas via intravenosa, há entrada de água

por osmose nas hemácias, causado lise das mesmas. Entretanto, quando a solução

apresenta apenas leve hipotonicidade, o volume de água que entra no interior das células

não é suficiente para romper a mebrana celular, já que o equilíbrio osmótico é

rapidamente atingido. O paciente apresentou reação ao Buscopan® devido à ocorrência

dos efeitos osmóticos nas suas hemácias, mas como o volume de água que entrou não

foi suficiente para lisar as hemácias não houve sérios danos a saúde.

38. Um paciente diabético, com distúrbios psiquiátricos, ingeriu 68 comprimidos de 500mg

de cloridrato de metformina. Foi encaminhado ao pronto socorro e apresentou pH

sanguíneo menor que 7,4 e lactato de 5mmol/L. (Obs.: o valor de referência do lactato

no plasma é de 0,5 a 2,22 mmol/L)

a) Como um farmacêutico, descreva o mecanismo de ação do medicamento.

b) Qual conduta a ser realizada nesse paciente?

Page 95: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 95

R:

a) A metformina reduz a hiperglicemia através de: aumento da sensibilidade periférica

à insulina e da utilização celular da glicose; inibição da gliconeogênese hepática; e

retardo na absorção intestinal da glicose.

b) A alta concentração de lactato revela que houve uma grande liberação de íons H+

(ácido lático ↔ lactato + H+), o que repercute na acidificação do plasma sanguíneo.

Por esse motivo, deve-se proceder rapidamente com a infusão de bicarbonato (para

elevar o pH do sangue), uma que o paciente apresenta uma concentração de lactato

que é mais de 2 vezes superior a concentração máxima normal.

39. Desodorantes e talcos para os pés são amplamente produzidos pelas indústrias

farmacêuticas. A bromidrose é o suor com cheiro desagradável, que ocorre nas axilas ou

nos pés. A causa é a atuação de bactérias presentes nestas regiões sobre o suor,

provocando o odor característico. Explique, com base nos conhecimentos biofísicos,

como são formulados esses produtos.

R: Esses produtos possuem em sua composição carbonatos e outras substâncias básicas,

que quando utilizadas alteram o pH. Assim a alcalinização do meio dificulta a

proliferação das bactérias causadoras do mau cheiro.

40. Soro fisiológico é uma solução isotônica em relação aos líquidos corporais que contém

0,9%, em massa, de NaCl em água destilada. Um farmacêutico precisa preparar 300 mL

de uma solução de soro fisiológico a partir de uma solução NaCl 30% (p/v). Qual

volume de partida ele deve usar?

R: Deve-se usar 9 mL como volume de partida.

C1V1 = C2V2

30% x V1 = 0,9% x 300 mL

V1 = 9 mL

41. Para um paciente em tratamento será necessário a administração de um total de 985 mg

de dipirona, em 4 dias. Ele deverá receber doses contendo 10 mL do medicamento, 2

vezes ao dia. No hospital onde está internando, há frascos com concentrações iguais a

Page 96: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 96

1,2% p/v, 1 % p/v e 1,5% p/v. Qual deles o enfermeiro deve escolher para medicar esse

paciente?

R: O enfermeiro deve escolher o frasco de concentração 1,2% p/v, já que cada dose que

o paciente irá receber deve ter aproximadamente 1,2g de dipirona.

985mg/4 = 246,25 mg/dia 0,123 g ______ 10 mL

246,25mg/2 = 123,125mg/dose x _______ 100 mL → x =1,23 g

42. Um paciente chega ao hospital com dor de cabeça, febre, dor de garganta, entre outros

sintomas. Foi diagnosticada uma amigdalite bacteriana. Como forma de tratamento, o

médico prescreveu o antibiótico amoxicilina, que deveria ser consumido de 8 em 8

horas, na dosagem de 500 mg, durante 5 dias. Na hora de comprar o produto, o paciente

depara-se na farmácia com um frasco que possui 200 mg de princípio ativo a cada 5 mL

da solução. Qual é o mínimo volume que o paciente deverá comprar para realizar todo o

tratamento?

R: O paciente deverá adquirir pelo menos 187,5 mL do remédio para se medicar

corretamente. Veja resolução:

15 doses de 500 mg = 7,5 gramas ou 7.500mg de amoxicilina.

remédio da farmácia: 200 mg para cada 5 mL do produto

200mg-----------5 ml

7.500mg--------x → x = 187,5 mL

43. Uma paciente deu entrada no pronto socorro, com quadro de desidratação, após ter

dormido dentro de uma sauna. Calcule o volume e a osmolaridade dos LIC e LEC dessa

paciente, antes e depois do ocorrido. Considere que a paciente pesa 60 kg e que a

transpiração gerou uma perda de 3 litros de água apenas.

R: Em condições normais, tem-se que 60% do peso corporal se devem à composição de

água no corpo. Este percentual é o total dos 40% do peso corpóreo, equivalente à água

dos líquidos intracelulares (LIC), somado aos 20% do peso do corpo que corresponde

ao volume dos líquidos extracelulares (LEC = interstícios, espaços vasculares, etc.).

Tanto o LIC, quanto o LEC, em condições saudáveis, apresentam concentração de 300

Page 97: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 97

miliosmóis.L- (0,3 Osm). Qualquer desequilíbrio hidroeletrolítico pode levar a

alterações nas concentrações dos líquidos biológicos, bem como pode alterar a

distribuição de água no corpo. No caso particular, tem-se que:

Antes da desidratação:

LIC(40%)= 24 L. OSM= 300mOSM 7,2 osmóis

LEC(20%)= 12L. OSM= 300mOSM 3,6 osmóis

Depois da desidratação: alterações na homeostase

LEC – 3 L = 9 L

Como a osmolaridade = n° osmóis / volume (em litros) e houve apenas perda de água,

ou seja, não se perdeu eletrólitos, o n° de osmóis permanece o mesmo, havendo apenas

uma redistribuição de água em decorrência do aumento da pressão osmótica no LEC.

LEC = 3,6 osmóis em 9 L = 0,4 Osm

OsmLEC > OsmLIC → haverá osmose com passagem de água do LIC par o LEC

Depois da desidratação: atingido o novo equilíbrio

Volume total = 24 L + 9 L = 33 L

N° total de osmóis = 7,2 + 3,6 = 10,8

Osmolaridade do equilíbrio = 10,8 osmóis / 33 L = 0,327 Osm

VolumeLIC = 7,2 osmóis / 0,327 Osm = 22 L

VolumeLEC = 3,6 osmóis / 0,327 Osm = 11 L

Resposta: Antes, os volumes eram LIC = 24 L e LEC = 12 L, ambos com 0,3 Osm.

Depois, os volumes passaram a ser de LIC = 22 L e LEC = 11 L, ambos com 0,327

Osm.

44. Para se realizar a desinfecção do ambiente hospitalar, é necessário o uso de álcool

70ºGL. Quando foi realizar esse procedimento, um enfermeiro deparou-se com apenas

um frasco de 750 ml de álcool a 85ºGL.

a) O que ele deve fazer para poder realizar a desinfecção adequadamente?

b) Qual o volume máximo de álcool 70°GL pode ser obtido?

Page 98: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 98

R: O enfermeiro deverá realizar a diluição da solução inicial, adicionando-se água, até

que a concentração se iguale a 70ºGL. b) A partir da solução inicial é possível preparar,

no máximo, 910 mL de álcool 70°GL.

C1V1 = C2V2

85°GL x 750 mL = 70 °GL x V2

V2 = 910 mL

45. Para pacientes muito alcoolizados, recomenda-se o uso de glicose. Porém, a via para a

administração da mesma depende da osmolaridade da solução. Para valores de

osmolaridade abaixo de 0,9 Osm, utiliza-se a via periférica, enquanto para valores

acima disso se utiliza o acesso central. Foi prescrito para um paciente de 70 kg, 4 litros

de solução de glicose a 10% m/v. Qual será o acesso a ser utilizado?

R: Deverá se utilizada a via de acesso periférica, pois a osmolaridade da solução de

glicose é menor que 0,9 Osm. Veja cálculo da osmolaridade da solução:

10g-------100 mL 1Mol de glicose------180g

x¹--------1000 mL x²------------------100g

x¹ = 100g x² = 0,56 mol de glicose.

Glicose – não dissocia →Osm = M

Solução glicose 10% m/v = 0,56 M = 0,56 Osm

46. Certo paciente procura um dentista com queixa de dor de dente. Segundo ele, a dor

havia começado há poucos dias, mas, acreditando não ser nada sério, aplicou xilocaína

(um anestésico local). Num primeiro momento, a dor foi aliviada, entretanto, passado

algum tempo, o paciente percebeu a formação de pus no local e que o fármaco já não

estava surtindo efeito. O dentista o avaliou e percebeu que se tratava de um abscesso

periodontal (inflamação purulenta nos tecidos que envolvem o dente). Sabendo que o

processo inflamatório reduz o pH no local inflamado (pHpus = 4,5 a 5,5), explique o

porquê da ineficiência do fármaco.

R: Lembrando que os anestésicos locais são bases fracas e que o pH e o pK das bases se

relacionam da seguinte forma:

pKb > pH → B+ > BOH

pKb = pH → B+ = BOH

pKb < pH → B+ < BOH

Page 99: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 99

Tem-se que, quanto mais ácido fica o meio: ( pKb > ↓pH → ↑B+ > BOH), maior é a

dissociação da base e, portanto, maior será a quantidade da forma ionizada, que não

favorece a difusão do fármaco, alterando sua eficiência. Foi o que aconteceu com o

paciente: no tecido normal, espera-se valores de pH próximos de 7,4, mas no tecido

inflamado esse valor cai pra cerca de 5,0, logo, mais ácido, aumentando a proporção da

forma catiônica do anestésico.

47. Em instituições de saúde e laboratórios de pesquisa, os profissionais devem sempre se

preocupar com a assepsia do seu local de trabalho. Sabe-se que o álcool tem melhor

ação antisséptica a 70º GL (Graus Gay-Lussac - º GL – equivale a % v/v). Para a

obtenção desse álcool etílico diluído, há disponível um frasco contendo 500 mL de

álcool a 98º GL. A partir dessas informações, calcule:

a) A concentração em massa (g/L) do álcool a 98º GL. (MM = 46 g/mol; d = 0,8

g/mL)

b) A concentração em massa do álcool a ser obtido (70º GL).

c) O volume de água, em mL, necessário para a diluição do álcool.

d) A porcentagem de água que foi adicionada em relação ao volume final do álcool

etílico diluído.

R:

a) L

L

100

98%

gmálcool413 108,7100,81098

Lg

L

gc

/108,7

100

1084,7

2

4

b) L

L

100

70%

gmálcool413 106,5100,81070

Lg

L

gc

/106,5

100

106,5

2

4

Page 100: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 100

c)

mLv

mLv

v

vcvc

OH 200500700

700

106,5500108,7

2

2

2

22

2211

d) %6,28100700

200

48. Um pesquisador utiliza em suas análises de dosagem da enzima TGP

(Transaminase Glutâmico-Pirúvica) uma solução de NaOH 50 % p/v com um

grau de pureza de 73 % p/p, segundo o fabricante. Essa solução é adicionada à

amostra a ser analisada, sendo essencial para a correta dosagem do TGP.

Quando o pesquisador começou a utilizar a solução de NaOH, ele ficou

intrigado com os resultados obtidos e decidiu realizar uma titulação da solução

com HCl 37% p/v para verificar se o grau de pureza presente no rótulo estava

realmente correto. O pesquisador diluiu 5 vezes o NaOH 50% p/v e titulou 50

mL da solução diluída. Ao final da titulação, ele gastou um volume de HCl de

5,2 mL. Considere que as impurezas presentes na solução de NaOH são inertes

ao HCl. Com base nessas informações, responda:

a) O pesquisador verificou alguma alteração no grau de pureza da solução de

NaOH 50% p/v? Justifique sua resposta.

b) Com base nas informações do enunciado e na resposta do item a, explique o

motivo para que os resultados da dosagem da enzima TGP intrigassem o

pesquisador.

R:

Page 101: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 101

a)

mol

LgmL

g

1,940

365n

NaOH 365g xg 500 NaOH gx

100g NaOH 73g

/5001000

500

100mL

50g :p/v 50% NaOH

NaOH

mol

LgmL

g

1,105,36

370n

/3701000

370

mL 100

37g :p/v 37% HCl

HCL

LmolM

M

VMVM

/05,1

2,51,1050

1

1

2211

Lm o lM /25,5505,1

gm

MM

mn

2104025,5

pureza % 42 x

g 100 puro NaOH gx

impuro NaOH 500g puro NaOH 10g2

De acordo com os cálculos, verifica-se que o grau de pureza do NaOH (42%) é

menor do que o presente no rótulo do reagente (73%).

b) Os resultados intrigaram o pesquisador, porque o grau de pureza do NaOH

estava abaixo do esperado. Assim, os resultados de suas análises foram

diferentes do que era esperado.

1. Um laboratorista realizou um teste de glicemia no jejum de um indivíduo.

Para tanto, ele analisou 0,5 mL do soro sanguíneo do paciente e encontrou

0,7 mg de glicose. Sabendo que indivíduos não-diabéticos apresentam

valores para a glicemia inferiores a 99 mg/dL, responda: O paciente é

diabético? Justifique sua resposta.

R: dLmg

dL

mg

dLmL

/140005,0

7,0

005,05,0

O paciente é diabético, porque sua glicemia é superior ao valor de referência (99

mg/dL).

Page 102: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 102

49. Em unidades de saúde, é freqüente o preparo de medicações para se obter a

dosagem presente na prescrição médica. A partir de cada uma das situações abaixo,

responda o que se pede:

a) Foi prescrita 30 gotas de dipirona, VO (via oral) de 6 em 6 horas. Na unidade de

saúde, há um frasco de dipirona a 50% p/v. Qual a massa de dipirona, em mg,

que será administrada nas 30 gotas? Sabe-se que 20 gotas correspondem a

aproximadamente 1 mL de solução.

b) Foram prescritos 200 mg de fenitoína, IM (via intramuscular). Há fenitoína em

ampolas a 5% p/v. Qual volume, em mL, deverá ser administrado ao paciente?

c) Foi prescrita uma injeção de heparina com dose inicial de 7500 UI (Unidade

Internacional) para um paciente cardíaco adulto e, em seguida, uma infusão de

20000 UI/dia. A unidade de saúde possui um frasco de heparina na concentração

de 5000 UI/ 5mL. Qual volume, em mL, deve ser administrado ao paciente no

primeiro dia de tratamento?

R:

a)

mLx

xgotas

mLgotas

5,1

30

120

mgx

mLx

mLmg

750

5,1

100000.50

b)

4mL=x

x→200mg

100mL→5000mg

c)

mL 27,5=x

UI27500 mLx

UI5000mL 5

UI27500200007500

=+

Page 103: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 103

50. Um pesquisador necessita de 100 mL de HCl com pH=3 para seus experimentos.

Em seu laboratório, há uma solução de HCl 1 mol/L. Ele decide diluir a solução

existente para obter o HCl com pH=4. Com base nessas informações, responda:

a) Qual será o volume, em mL, da solução de HCl 1 mol/L necessário para se obter

100 mL de HCl com pH=4?

b) Quantas vezes serão necessárias diluir a solução de HCl 1 mol/L?

R:

a)

mol/L10=][H

Hlog -=3

4pH HCl

3-+

+

1mL=L10=Vi

110=V1×

3-

-3

i

b) vezes1.000=10=10

1=Diluição 3

3-

51. Uma titulação de 50 mL de ácido acético 0,1 mol/L (CH3COOH, ácido fraco)

com NaOH 0,1 mol/L foi realizada, registrando-se os volumes de NaOH gastos em

2 momentos da titulação: 1) quando o pH da solução titulada atingiu o pKa do

ácido acético e 2) no término da titulação (ponto final). Em seguida, foi feita uma

outra titulação de 50 mL de ácido clorídrico 0,1 mol/L (ácido forte) com NaOH 0,1

mol/L, anotando-se os volumes de NaOH gastos da mesma forma realizada na

titulação anterior (quando pH da solução titulada= pKa do ácido acético e no ponto

final da titulação). Com base nessas informações e em outras sobre o assunto,

responda:

Dado: Ka ácido acético = 1,6 x 10-5

a) Qual o pH das soluções iniciais (CH3COOH 0,1 mol/L e HCl 0,1 mol/L,

respectivamente)?

Page 104: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 104

b) Utilizando a tabela abaixo, escolha o melhor indicador para acompanhar cada

uma das titulações realizadas, ou seja, de CH3COOH e de HCl com NaOH,

respectivamente. Justifique sua escolha.

Indicador Faixa de Viragem

(pH)

pH < viragem pH > viragem

Vermelho de

cresol

7,2 – 8,8 Amarelo Vermelho

Alizarina 5,6 – 7,2 Amarelo Vermelho

Fenolftaleína 8,2 – 9,8 Incolor Violeta

c) Considerando que os indicadores escolhidos no item b sejam usados para

acompanhar as titulações descritas no enunciado, complete o quadro abaixo com

os termos MAIOR, MENOR ou IGUAL. Justifique sua resposta.

Volume de NaOH registrado (VNaOH)

Situação Titulação de CH3COOH Titulação de HCl

pH da solução

titulada = pKa do

CH3COOH

VNaOH _________________________ VNaOH

No ponto final da

titulação VNaOH _________________________ VNaOH

d) Se substituirmos o HCl por ácido sulfúrico (H2SO4), mantendo os mesmos

volume e concentração iniciais (50 mL e 0,1 mol/L, respectivamente), as

respostas anteriores (itens a, b e c) seriam diferentes? Justifique sua resposta.

e) A partir das situações trabalhadas, diferencie: ponto de equivalência e ponto

final; acidez aparente e acidez total.

R: a)

1=pH

[10 -logpH :HCl -1 ]=

Page 105: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 105

[ ] [ ]

[ ]

[ ]

[ ] mol/L10×1,26=H

101,6H

10×10×1,6 =H

COOHCH×K=H :COOHCH

3-+

6-

1-5-+

i3a3

×=+

+

[ ]

2,9=0,1-3=pH

10×1,26-log=pH -3

b) O melhor indicador para acompanhar a titulação do HCl é a Alizarina e para o

CH3COOH, é a Fenolftaleína. Como o pH no ponto de equivalência para a

titulação do HCl é 7, observa-se que a Alizarina irá determinar o ponto final com

o menor erro. Para a titulação do CH3COOH, verifica-se que a Fenolftaleína irá

determinar o ponto final com o menor erro, porque o pH de seu ponto de

equivalência é maior do que 7 (pH=9,7; valor tabelado).

c)

Quando pH= pKa do CH3COOH, o VNaOH para a titulação do CH3COOH é MENOR

do que o VNaOH para a titulação do HCl. No ponto final, o VNaOH para a

titulação do CH3COOH é IGUAL ao VNaOH para a titulação do HCl. Quando

pH= pKa do CH3COOH, ou seja, pH=4,8 , será gasto um maior volume de

NaOH na titulação de HCl, pois a solução inicial nessa situação tem um pH

inferior ao da presente na titulação de CH3COOH. Assim, será necessário um

volume de NaOH maior para deslocar o pH de 1,0 (pH da solução de HCl 0,1

mol/L) para 4,8, do que para aumentar o pH de 2,9 (pH da solução de

CH3COOH 0,1 mol/L) para 4,8. Ao final das duas titulações, os volumes de

NaOH gastos serão iguais, já que os dois ácidos apresentam as mesmas

concentrações e volumes iniciais. Dessa forma, no ponto final da titulação, os 2

ácidos terão fornecidos a mesma quantidade de íons H+ e, assim, terão

consumidos volumes iguais de NaOH.

d)

:inicial solução pH

H2SO4 2H+ + SO42-

Page 106: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 106

+

+

42

+

42

H mol 2,0=x

H mol x→SOH mol 1,0

H mol 2→SOH mol 1

[ ]

0,7 =pH

0,2 log -=pH

Hlog -=pH +

Melhor indicador para a titulação:

Como o ponto de equivalência da titulação do H2SO4 e NaOH é 7,0 (titulação

de ácido e base fortes), o melhor indicador será a Alizarina, pois ela irá

determinar o ponto final com o menor erro. Esse indicador também foi

escolhido como o mais adequado para a titulação do HCl.

pH = pKa CH3COOH:

Como no item c, o volume gasto de NaOH para titular o CH3COOH seria

menor do que o usado na titulação de H2SO4. Como será necessário um volume

menor de NaOH para deslocar o pH de 2,9 (pH do CH3COOH 0,1 mol/L) a 4,8

ao se comparar com a mudança de pH necessária para o H2SO4 (∆pH=4,8-

0,7=4,1), pode-se afirmar que o gasto de NaOH será menor na titulação do

CH3COOH.

pH no ponto final:

1 H2SO4 + 2 NaOH 1 Na2SO4 + 2 H2O

mL 25=V

)V×1,0(2=50×1,0

n 2→n 1

NaOH mol 2→SOH mol 1

NaOHSOH

42

42

No ponto de equivalência, são gastos 25 mL NaOH. Esse volume é menor do que o

gasto para a titulação do CH3COOH. Logo, quando há substituição do HCl para o

H2SO4, o volume de NaOH consumido é diferente.

Page 107: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 107

e)

Ponto de equivalência: é o ponto, durante uma titulação, em que não há excesso de

ácido nem de base. Para uma reação em que os reagentes interagem na proporção

de 1:1, o ponto de equivalência ocorre quando há uma igualdade do número de

mols do ácido e da base titulados.

Ponto final: ocorre quando há a “viragem” do indicador, ou seja, a mudança de cor

dessa substância.

Acidez aparente: é determinada por técnicas que não afetam as quantidades dos

íons H+ presentes na solução, por exemplo, medições com pHmetro e fita de papel

indicador. Essa acidez reflete, assim, a concentração de H+ presente na solução no

momento da determinação do pH.

Acidez total: é a soma da acidez aparente mais a acidez potencial. Ela é

determinada por titulação. Assim, é possível dosar, por exemplo para um ácido

fraco, as quantidades de ácidos ionizado (acidez aparente) e não ionizado (acidez

potencial), presentes em um momento anterior à titulação.

52. A absorção de fármacos no organismo requer a passagem através da membrana

plasmática do conjunto de células de um determinado local. A taxa de absorção

deles depende, dentre outros fatores, da polaridade da molécula administrada.

Assim, pode-se afirmar, ao analisar apenas a polaridade do fármaco, que moléculas

ionizadas não atravessam a membrana celular ou se difundem vagarosamente,

enquanto que moléculas não-ionizadas atravessam essa barreira rapidamente. A

aspirina, um dos analgésicos mais consumidos no mundo, é um ácido fraco com

pKa de 3,5. Sua ação farmacológica ocorre na sua forma não ionizada. Ela é

absorvida através das células da superfície do estômago e das primeiras porções do

intestino delgado. O pH do suco gástrico está próximo de 1,5 e o pH das primeiras

porções do intestino delgado está ao redor de 6,0. Com base nessas informações e

em outras sobre esse tema, responda: A aspirina será melhor absorvida no estômago

ou no intestino delgado? Justifique.

Page 108: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 108

R: A aspirina será melhor absorvida no intestino delgado. Como esse órgão

apresenta uma grande área de superfície, proporcionada pelas microvilosidades, é

nele que ocorrerá a maior parte da absorção da aspirina, em sua forma não-

ionizada. No estômago, haverá uma maior quantidade de aspirina na forma não-

ionizada, devido ao pH ácido desse órgão. Porém, a melhor absorção ocorrerá no

intestino delgado, pelo motivo descrito anteriormente.

53. Em um indivíduo saudável, a produção diária de suco gástrico é de 2,5 L e a

concentração de íons H+ no estômago, liberados pelo HCl originado da secreção

gástrica, é de aproximadamente 5 x 10-3 mol x L-1. Um determinado indivíduo, em

um período entre refeições, apresentou uma concentração de íons H+ de 1 x 10-2

mol x L-1. A partir dessas informações, determine a massa (em g) de hidróxido de

alumínio - Al(OH)3 - que deve ser ingerida pelo indivíduo em questão para

neutralizar o seu excesso de acidez estomacal.

R:

mol/L 107

103-1010

105-10

3-

3-3-

-32-

excesso

excesso

excesso

H

H

H

OHAlClCA

molnH

233

-3-3

3l3H l(OH)

1017,5 5,2107

mol

molx

HCl

3-

3-

3

3

1083,5x

HCl 105,17Al(OH) mol

mols 3Al(OH) mol 1

gm

m

45,0

781083,5 3

54. O tampão fosfato (H2PO4-/HPO4

2-) é usado em laboratório na faixa de pH entre

5,8 e 7,8 , combinando-se os sais Na2HPO4 (MM = 142 g/mol) e NaH2PO4 (MM =

120 g/mol). Quando se prepara um tampão com 45 mL de Na 2HPO4 0,2 M e 55 mL

de NaH2PO4 0,2 M, qual será o pH encontrado? (pKa H2PO4- = 6,8)

R:

mol 011,0=055,0×2,0=n

mol 009,0=045,0×2,0=n

42

42

PONaH

HPONa

7,6=10,-8,6=pH

011,0

009,0log+8,6=pH

Page 109: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 109

55. O tampão borato (H3BO3 /NaH2BO3) é utilizado como veículo de alguns

fármacos presentes em colírios. Este tampão pode ser preparado misturando-se

200,0 mL de uma solução 0,15 mol x L-1 de ácido bórico (H3BO3) com 300,0 mL

de uma solução 0,3 mol x L-1 de borato de sódio (NaH2BO3). (Ka do ácido bórico =

7,3 x 10 -10)

a) Qual o pH desse tampão ?

b) Qual é a quantidade de borato (em mol) que deve ser adicionados a 200,0 mL

da solução de ácido bórico (0,15 mol x L-1) para obter um tampão de pH 9,0?

c) Determine o pH se fossem adicionados 0,01 mol de NaOH a 200,0 mL do

tampão originalmente preparado.

d) Qual será o volume máximo de HCl 0,1 mol/L que poderá ser adicionado ao

tampão originalmente preparado de modo que sua capacidade de

tamponamento seja mantida?

e) Quando se adiciona 500 mL de água destilada ao tampão originalmente

preparado, qual será o pH resultante? Justifique.

R:

a)

9,10,9-10

]10[7,3 -logpK

mol 09,03,03,0n

mol 03,015,02,0

10-

a

32

33

a

BONaH

BOH

pK

n

6,90,51,9

03,0

09,0log1,9

pH

pH

b)

03,010

03,0log0,1-

03,0log1,90,9

32

32

32

1,0 BONaH

BONaH

BONaH

n

n

n

mol 0024,0

79,003,0

32

32

BONaH

BONaH

n

n

Page 110: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 110

c)

33 018,0

300

03,0500

mol 09,03,03,0n

mol 03,015,02,0

32

33

BOHmolx

xmL

molmL

n

BONaH

BOH

32 054,0

300

09,0500

BONaHmolx

xmL

molmL

00,109,01,9

008,0

064,0log1,9

0,01 -,0180

01,0054,0log1,9

pH

pH

pH

d)

103,0

n-09,0log

03,0

n-,090log1,91,8

H

H

H

H

n

n

mol 079,0

087,0 1,1

1,0003,0n-09,0

1,003,0

n-09,0

H

H

H

H

H

H

n

n

n

n

mL 790ou L 79,0

1,0

079,0

079,01,0

HCl

HCl

HCl

V

V

V

e)

O pH não será alterado, porque, quando se adiciona água, o número de mols do

aceptor e do doador não são alterados.

56. O equilíbrio ácido-base do organismo é garantido por tampões sanguíneos, bem

como pela atividade pulmonar e renal. O principal sistema de tamponamento do

sangue é o tampão bicarbonato (H2CO3/HCO3-), o qual é responsável por

aproximadamente 75% da capacidade tamponante do plasma sanguíneo. Com base

Page 111: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 111

no papel desempenhado pelo tampão bicarbonato e considerando-o como o único

tampão sanguíneo, responda:

a) Escreva as reações do tampão bicarbonato quando há um excesso de acidez

(H+) no sangue.

b) Calcule o pH sanguíneo quando [CO2 dissolvido] = 1,5 mmol/L e [HCO3-] =

30mmol/L. Considere pKa do ácido carbônico (H2CO3) de 6,14.

c) Após um exercício físico intenso, detecta-se 5 mmol/L de lactato no sangue de

um atleta, formado pela ionização do ácido láctico (HAc). Esse ácido, por sua

vez, foi produzido durante o metabolismo anaeróbico do indivíduo em

atividade física. Com base nessas informações, calcule a variação do pH

sanguíneo desse indivíduo após o exercício físico, adotando o pH determinado

em b como o padrão de repouso do atleta.

d) Considera-se que a faixa de pH sanguíneo tolerada por um indivíduo está

compreendida entre 6,80 a 8,00. Valores de pH que ultrapassam esses limites,

quando mantidos por um tempo considerável, podem levar ao óbito de uma

pessoa. Com base na faixa de tamponamento do tampão bicarbona to e em

outras características dele, elabore uma hipótese que justifique a importância

desse tampão no controle do pH sanguíneo.

R:a) HCO3- + H+ H2CO3 CO2 + H2O

b)

44,73,114,6

5,1

30log14,6

pH

pH

c)

725,6585,014,6

5,6

25log14,6

55,1

5-30log14,6

pH

pH

pH

72,0=6,72-44,7=pH

Page 112: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 112

d)

A faixa de tamponamento do tampão bicarbonato (6,44 a 8,44) cobre a faixa de

pH sanguíneo suportável para a vida (6,8 a 8,0). Assim, o tampão bicarbonato é

eficiente no tamponamento do sangue.

57. O ácido benzóico, C6H5COOH, é usado como conservante em vários produtos

da área alimentícia, principalmente em refrigerantes. Ele é utilizado com essa

finalidade, porque inibe o crescimento de bactérias.

a. Sabendo que o pKa do ácido benzóico é 4,2, você diria que este ácido é fraco?

Justifique a sua resposta.

b. Os sais da base conjugada (benzoato) não apresentam a mesma atividade

bacteriostática da forma livre do ácido benzóico. Por isso, o ácido benzóico só

pode ser usado em pH no qual a concentração do ácido livre exceda a da base

conjugada. Isso ocorrerá em solução ácida ou básica? Justifique sua resposta.

c. Calcule o pH em que são iguais as concentrações de ácido benzóico e de

benzoato.

R: a)

5-

a

a

10×31,6=K

2,4=pK [ ]COOHHC

]COOHC][H[=K

56

-

56

+

a

Como o Ka do ácido benzóico é pequeno, pode-se afirmar que esse ácido ioniza

pouco, porque, em um determinado meio, há uma grande quantidade de

C6H5COOH e uma pequena quantidade de H+ e C6H5COO-. Assim, pode-se dizer

que o ácido benzóico é fraco.

b) HCOOHC

COOHClog+2,4=pH

56

-

56

Page 113: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 113

O ácido benzóico terá uma adequada ação de conservante em pH ácido. Como a

quantidade de C6H5COOH deve ser maior do que a de C6H5COO-, o pH da solução

deve ser menor do que 4,2. Assim, a solução deve ser ácida.

c) HCOOHC

COOHClog+2,4=pH

56

-

56

2,4=pH

1log+2,4=pH

58. No gráfico abaixo, explique o significado da inclinação das retas a, b e c,

considerando que elas foram obtidas em células de mesma área de membrana

plasmática (A). Adotando ainda que o processo de difusão ocorra apenas pela

matriz lipídica da membrana, dê três causas prováveis para essas diferenças da

inclinação das retas.

– Fluxo de difusão de S através da membrana celular:

Js – Fluxo de difusão de S através da membrana celular

∆C – Diferença de concentração de S através da membrana

celular

R: As diferentes inclinações das retas estão demonstrando as diferentes

permeabilidades da membrana celular a uma substância nas situações a, b e c. As

três causas prováveis para essas diferenças são: diferentes coeficientes de difusão,

coeficientes de partição ou espessuras da membrana em cada uma das situações.

59. O processo de difusão é essencial para o transporte de nutrientes para as células,

a partir da membrana plasmática. O fluxo de difusão através da membrana é

Page 114: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 114

determinado por características tanto da membrana celular quanto do soluto

transportado. Com base nesse assunto, responda:

a) Considere 2 moléculas esféricas difusíveis pela membrana plasmática de uma

determinada célula. Uma delas tem raio igual a X, a outra, tem raio igual a 4X.

Qual das 2 moléculas se difundirá mais rapidamente pela membrana?

b) Cite pelo menos 3 características da membrana celular que influenciam na

intensidade do fluxo de difusão (J). Justifique sua resposta.

R:

r

kTD

6 (Equação de Stockes-Einstein)

x

CDAJ

(1ª Lei de Fick)

a) De acordo com a equação acima, quanto maior o raio, menor é o coeficiente de

difusão. Além disso, de acordo com a 1ª Lei de Fick para a difusão, quanto menor o

coeficiente de difusão, menor será a intensidade do fluxo de difusão. Assim, a

molécula de raio 4X apresenta um coeficiente de difusão menor do que a molécula

de raio X. Dessa forma, a molécula de raio X apresenta um maior fluxo de difusão

ao compará-la com a de raio 4X e, assim, a molécula de raio X se difundirá mais

rapidamente pela membrana celular.

b)

Área da superfície da membrana (A): Quanto maior a área da membrana, maior é a

velocidade do fluxo de difusão. Espessura da membrana (∆x): Quanto maior a

espessura da membrana, menor é a intensidade do fluxo de difusão. Viscosidade do

meio ( ): Quanto maior a viscosidade da membrana, menor o coeficiente de

difusão e, assim, também será menor o fluxo de difusão.

Page 115: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 115

60. Com a finalidade de verificar como o organismo realiza suas tarefas

respiratórias, é comum utilizar testes para medir a capacidade de difusão dos

pulmões para o monóxido de carbono (CO). Esses testes permitem verificar a

transferência dos gases inspirados para as hemácias sanguíneas. Um deles é o

Método de Respiração Única, no qual é feita uma única inspiração de uma mistura

contendo 0,3% de CO, uma retenção da respiração por 10s e, finalmente, há uma

expiração. Esse procedimento permite determinar a capacidade de difusão para CO

(DLCO):

Sendo:

VCO = volume de CO transferido dos

alvéolos para o sangue por unidade

de tempo (mL/min)

PACO = pressão parcial alveolar do

CO (mmHg)

A capacidade de difusão é um termo que engloba o coeficiente de difusão de um

gás (D); a área da superfície (A) e a espessura (∆x) da membrana. Essas variáveis

estão presentes na Lei de Fick aplicada para a difusão de gases:

Sendo:

P1-P2 = gradiente de pressão na

membrana

Um paciente com enfisema pulmonar (doença caracterizada por destruição

progressiva das paredes capilares e alveolares) realizou o Método de Respiração

Única. Ele obteve os seguintes resultados: PACO = 0,1 mmHg; Volume inspirado de

CO = 0,50 mL; Volume expirado de CO = 0,25 mL. Com base nessas informações,

responda:

a) Calcule a DLCO do paciente em questão.

b) Sabendo que a faixa de variação normal para a DLCO é de 20 a 30

mL/min/mmHg, relacione o valor encontrado em a com as características do

enfisema pulmonar.

Page 116: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 116

R:

a) mL/min 5,1=

min60

10

mL25,0=

10s

mL 0,25-5,0=VCO

mmHg×mL/min 15=1,0

5,1=DLCO

b) O valor encontrado para a DLCO do paciente está abaixo da faixa normal de DLCO

(20 a 30 mL/min x mmHg). Como ele apresenta enfisema pulmonar, pode-se

relacionar essa diminuição da DLCO com a diminuição da área de superfície

pulmonar (“A” da Lei de Fick).

61. Na fase pré-clínica de um estudo de medicamentos, aplica-se o fármaco em

animais de laboratório para se analisar, de maneira preliminar, a atividade

farmacológica e a segurança do fármaco. Vários testes são feitos para se

determinar, entre outros fatores, a absorção, metabolização, distribuição e

eliminação de um fármaco. Suponha que uma substância, em ensaio pré-clínico,

deva difundir por uma célula-alvo de 10-6 cm2 de área. Considerando que o

coeficiente de permeabilidade dessa substância é 8 cm/s, calcule o tempo de difusão

de 1 µL de uma solução desse fármaco a 300 mol/L

R:

smolJ

smolJ

cmmolsJ

molscmJ

scmJ

pAJ

/104,2

/1024

/103/cm 108

cm 1000

300/ 108

)(-300mol/L cm 10/ 8[

)C-(Ci

6

7

3136

3

36

26

e

mol 103 x

xmL 0,001

mol 300mL 1000

4-

s 125 x

xmol 103

1smol 10,42

4-

-6

Page 117: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 117

62. Considere a hemácia com Cos m = 0,3 Osm, Coeficiente de reflexão (σ) da ureia =

0,5; σ(Na Cl ) = 1 e t = 25 °C, mergulhada nas seguintes soluções:

I- H2O IV-NaCl = 0,6 Osm

II- NaCl = 0,2 Osm V- Ureia = 0,6 Osm

III- NaCl = 0,4 Osm VI-NaCl = 0,2 Osm + Ureia = 0,2 Osm

a) Determine, em cada um dos casos, a osmoticidade e a tonicidade da solução em

relação à célula.

b) Qual é a pressão osmótica teórica de cada uma das soluções?

c) Considerando as propriedades de transporte dos solutos diretamente pela

membrana celular, discuta, para cada uma das situações do enunciado (I a VI),

se a pressão osmótica teórica calculada em b será confirmada em uma situação

real.

R: a)

Substância Osmoticidade Tonicidade

I) H2O Hiposmótica Hipotônica

II) NaCl 0,2 Osm Hiposmótica Hipotônica

III) NaCl 0,4 Osm Hiperosmótica Hipertônica

IV) NaCl 0,6 Osm Hiperosmótica Hipertônica

V) Ureia 0,6 Osm Hiperosmótica Hipotônica

VI) NaCl 0,2 Osm + Ureia 0,2 Osm Hiperosmótica Hipotônica

b)

i. H2O: osmolarCTR atm 00298082,0

ii. NaCl 0,2 Osm: atm 89,42,0298082,0

Page 118: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 118

iii. NaCl 0,4 Osm: atm 77,94,0298082,0

iv. NaCl 0,6 Osm: atm 66,146,0298082,0

v. Ureia 0,6 Osm: atm 66,146,0298082,0

vi. NaCl 0,2 Osm + Ureia 0,2 Osm: atm 77,94,0298082,0

c)

vii. H2O: atm 00298082,0 . A água não exerce pressão osmótica.

viii. NaCl 0,2 Osm: atm 89,42,0298082,0 . Essa pressão será

confirmada em uma situação real, porque o fluxo osmótico previsto

indiretamente pela pressão osmótica teórica não será alterado em uma

situação real.

ix. NaCl 0,4 Osm: atm 78,94,0298082,0 . Essa pressão será

confirmada em uma situação real, porque o fluxo osmótico previsto

indiretamente pela pressão osmótica teórica não será alterado em uma

situação real.

x. NaCl 0,6 Osm: atm 67,146,0298082,0 . Essa pressão será

confirmada em uma situação real, porque o fluxo osmótico previsto

indiretamente pela pressão osmótica teórica não será alterado em uma

situação real.

xi. Ureia 0,6 Osm: atm 67,146,0298082,0 . Essa pressão não

será observada em uma situação real, porque o fluxo osmótico previsto

indiretamente pela pressão osmótica teórica será maior do que o

observado em uma situação real. Assim, em uma situação real, a

pressão osmótica observada será menor do que a calculada

teoricamente.

xii. NaCl 0,2 Osm + Ureia 0,2 Osm: atm 78,94,0298082,0 . Essa

pressão não será observada em uma situação real, porque o fluxo

osmótico previsto indiretamente pela pressão osmótica teórica será

maior do que o observado em uma situação real. Assim, em uma

situação real, a pressão osmótica observada será menor do que a

calculada teoricamente.

Page 119: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 119

63. A concentração das soluções no interior e exterior das células pode variar. O

conceito de tonicidade indica que a resposta celular a modificações na concentração

do meio extracelular se manifesta sob a forma de variação de volume da célula, de

tal forma que essa variação é função da pressão osmótica do meio externo. Além

disso, a resposta celular depende da variação da concentração extracelular e da

permeabilidade da membrana aos solutos do meio externo.

a) Durante uma aula prática de Biofísica sobre tonicidade, seis soluções foram

apresentadas aos alunos em tubos de ensaio. Complete a tabela seguinte com as

informações sobre essas soluções (considere Φ = 1 para todos os solutos).

Soluções para prática de tonicidade

Solução σ 1

Molaridade

(mol/L)

Osmolaridade

(Osm)

Osmoticidade

π 2

Tonicidade3

1)Água 0 hiposmótica

2) NaCl 1 0,05 hipotônica

3)NaCl 0,30

4)NaCl 0,30

5)Ureia 0 0,30

6) Mistura de

10mL de Ureia

com 10mL de

NaCl

0

(ureia)

1

(NaC)l

0,60M (solução

inicial de ureia)

-0,30M (solução

inicial de NaCl)

Observações: 1 σ: coeficiente de reflexão do soluto – medida indireta da permeabilidade

de membranas.

2 e 3 Osmoticidade e tonicidade da solução, respectivamente, em relação à

concentração intracelular usual: 0,30 Osm.

b) Durante a aula prática, foram adicionadas gotas de sangue em cada solução. As

soluções 1, 2 e 5 se tornaram soluções róseas transparentes enquanto as demais

se tornaram róseas, porém turvas. Como você identificaria a ocorrência de

Page 120: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 120

hemólise em uma solução de um experimento de laboratório em que hemácias

precisam ser misturadas na solução?

c) Com base na tabela preenchida no item a, formule uma regra geral para solutos

não permeantes relacionando Osmoticidade e Tonicidade.

d) A hiponatremia dilucional é uma condição clínica frequente em indivíduos que

trabalham no sol ou que exercem diariamente grandes esforços. Esses

indivíduos apresentam taxa de sudorese elevada, perdem quantidades

significativas de água, sal e ureia no suor e geralmente bebem água quando

sentem sede. Que soluções, dentre as citadas na tabela do item a, você

recomendaria para que uma pessoa saudável com hiponatremia dilucional

ingerisse todos os dias quando sentisse sede?

R: a)

Soluções para prática de tonicidade

Solução δ1 Molaridade

(M)

Osmolaridade

(Osm)

Osmoticidade

π2 Tonicidade3

1) Água 0 0 0 hiposmótica hipotônica

2) NaCl 1 0,05 0,10 hiposmótica hipotônica

3) NaCl 1 0,15 0,30 isosmótica isotônica

4) NaCl 1 0,30 0,60 hiperosmótica hipertônica

5) Ureia 0 0,30 0,30 isosmótica hipotônica

6) Mistura

de 10mL de

Ureia com

10mL de NaCl

0

(ureia)

1

(NaCl)

-0,60

(solução

inicial de

ureia)

-0,30

(solução

inicial de

NaCl)

-0,45

(mistura)

-0,60

(solução

inicial de

ureia)

-0,60

(solução

inicial de

NaCl)

-0,60

(mistura)

hiperosmótica isotônica

Page 121: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 121

Observações: 1) δ: coeficiente de reflexão do soluto – medida indireta da

permeabilidade de membranas.

2 e 3) Osmoticidade e tonicidade da solução em relação à concentração

intracelular usual: 0,30 Osm.

Embora existam diversas partículas dissolvidas na água, para facilitar, podemos

considerar, neste caso, que a Molaridade e a Osmolaridade da água pura sejam iguais a

0.

Para o cálculo de Osmolaridade do NaCl, que é uma substância que se dissocia

formando íons em solução aquosa, basta multiplicar a Molaridade pelo número de

partículas originadas durante a dissociação. Como cada fórmula unitária de NaCl

origina dois mols de íons, deve-se multiplicar a Molaridade por 2. Para obter a

Molaridade, basta efetuar cálculo inverso: dividir a Osmolaridade por 2.

A ureia não se dissocia, logo, os valores de Molaridade e Osmolaridade para a ureia

serão idênticos.

A Molaridade da mistura na última linha da tabela é obtida pela soma das Molaridades

parciais de NaCl e de ureia na mistura. Quando misturamos volumes iguais das soluções

de NaCl e ureia, a concentração de cada substância na mistura cai pela metade devido à

diluição: é como se o volume de cada solução inicial dobrasse. Temos então:

Concentração de ureia: solução inicial → 0,60M; concentração na mistura →

0,30M;

Concentração de NaCl: solução inicial → 0,30M; concentração na mistura →

0,15M.

A soma das Molaridades na mistura é 0,45M.

A Osmolaridade da mistura pode ser calculada de forma análoga: trata-se da soma das

Osmolaridades parciais dos componentes da mistura após a diluição. Temos:

Osmolaridade de ureia: solução inicial → 0,60Osm; Osmolaridade após a

diluição → 0,30Osm.

Osmolaridade de NaCl: solução inicial → 0,60Osm; Osmolaridade após a

diluição: 0,30Osm.

Soma: 0,60Osm.

Page 122: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 122

A Osmoticidade (π) é determinada comparando-se as Osmolaridades das soluções em

relação à do meio intracelular (0,30Osm). Se a Osmolaridade da solução for inferior à

do meio intracelular, a solução é considerada hiposmótica em relação ao meio

intracelular; se a Osmolaridade da solução for igual à do meio intracelular, a solução é

isosmótica; se a Osmolaridade da solução for superior à do meio intracelular, a solução

é classificada como hiperosmótica.

Com relação à Tonicidade, uma forma simples de raciocinar é pensar no efeito da

solução sobre as forças de interação entre os componentes da membrana celular. Se

quando células forem colocadas em contato com a solução existir fluxo resultante de

fluido para dentro da célula, aumentando seu volume, essa solução afastará os

componentes da membrana. Consequentemente, a interação entre as cadeias apolares da

bicamada lipídica se tornará menos intensa: a solução será classificada como hipotônica.

Se a solução propiciar um fluxo resultante de fluidos para fora da célula, reduzindo o

volume da célula, essa solução aproximará os componentes da membrana, tornando a

interação entre eles mais intensa: a solução será classificada como hipertônica. Por fim,

quando células estiverem em contato com a solução e não houver fluxo resultante entre

os compartimentos intra e extracelular, a solução não alterará o volume celular.

Consequentemente, não há alteração na força de interação entre os componentes da

bicamada lipídica: a solução será considerada isotônica.

b) As soluções 1, 2 e 5 provocam hemólise por serem hipotônicas. Portanto, a

identificação de ocorrência de hemólise pode ser feita através da análise da solução: se

ela se tornar rósea transparente, provavelmente, ocorreu hemólise.

c) Para solutos não permeantes, Osmoticidade = Tonicidade; ou seja, se a solução do

soluto não permeante é isosmótica, ela será também isotônica em relação a células; se a

solução do soluto não permeante é hiposmótica, ela será também isotônica em relação a

células; se a solução do soluto não permeante for hiperosmótica, ela será também

hipertônica em relação a células.

Page 123: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 123

d) Como a ureia é um produto de excreção do organismo, sua reposição não procede. A

ingestão apenas de água não repõe sal e dá origem à condição clínica citada. O ideal é a

ingestão de solução isotônica de NaCl que repõe tanto sal quanto água. A solução

hipotônica de NaCl também pode ser utilizada, já que repõe sal em alguma proporção.

A solução hipertônica de NaCl não deve ser utilizada diariamente, pois representa

aumento de carga ingerida de NaCl, determina reabsorção renal de água e aumento de

volume extracelular o que pode culminar em hipertensão arterial.

64. Um método para reidratação de atletas é a ingestão de soluções hipotô nicas

contendo, por exemplo, NaCl. Um atleta de 80,0Kg ingeriu 1,00 L de uma solução

a 0,100M de NaCl. Qual será o volume e a osmolaridade no meio intracelular e

extracelular quando os líquidos corpóreos tiverem atingido equilíbrio após a

ingestão da solução? Desconsidere a desidratação leve decorrente da prática

esportiva. Considere Φ = 1 para o NaCl.

R: Os líquidos corpóreos se dividem em dois compartimentos principais: o intracelular e

o extracelular. Os volumes intra e extracelular serão tratados neste texto como VIC e

VEC, respectivamente. VIC → 2/3 do volume de líquido do organismo que é dado por

60% do peso corporal, logo, VIC = 40% do peso. VEC → 1/3 do volume de líquido do

organismo que é dado por 60% do peso corporal, logo, VEC = 20% do peso.

Em um homem de 80,0 kg, VIC é 32,0 L e VEC, 16,0 L. Ao se ingerir 1,00 L de uma

solução 0,100 M de NaCl, altera-se o volume e a osmolaridade do líquido extracelular

de tal forma que ocorrerá movimento de água através das membranas celulares do meio

hiposmolar para o meio hiperosmolar. O movimento de soluto não ocorre, porque o

NaCl não é capaz de atravessar as membranas celulares.

O primeiro passo para a resolução deste exercício é, portanto, o cálculo do novo volume

e da nova osmolaridade do meio extracelular.

O novo volume é: 16,0 + 1,00 = 17,0 L.

A nova osmolaridade pode ser obtida através da fórmula “volume x osmolaridade = no

de partículas”, como se segue:

1,00 L x 0,100 osm / L = 0,100 osm → partículas que vieram da solução ingerida.

Page 124: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 124

16,0 L x 0,300 osm / L = 4,80 osm → partículas que já estavam no meio extracelular.

0,100 + 4,80 = 4,90 osm → total de partículas no meio extracelular após a ingestão.

A osmolaridade do meio extracelular é portanto: 4,90 osm / 17,0 L = 0,288 Osm.

A ingestão da solução em questão fez com que o meio extracelular ficasse ligeiramente

hipotônico (0,288 Osm) em relação ao meio intracelular que, inicialmente, permanece

com concentração de 0,300 Osm. Logo, o fluxo de água ocorrerá do meio extracelular

para o intracelular.

X L de água sairá do meio extracelular e irá para o meio intracelular.

Organizando o raciocínio:

Para o líquido extracelular, temos: V1 = 17,0 L; V2 = (17,0 - X) L; C1 = 0,288 Osm; C2 =

? Osm.

Para o líquido intracelular, temos: V1 = 32,0 L; V2 = (32,0 + X) L; C1 = 0,300 Osm; C2 =

? Osm.

Aplicando a fórmula “C1 x V1 = C2 x V2” para os meios intra e extracelular, temos as

seguintes equações:

Meio intracelular: 0,300 x 32,0 = C2 x (32,0 + X)

Meio extracelular: 0,288 x 17,0 = C2 x (17,0 - X)

Como, no equilíbrio, as concentrações finais serão as mesmas tanto para o meio

intracelular quanto para o meio extracelular, C2 é a mesma incógnita nas duas equações.

Por isso, podemos utilizar o método de substituição para resolver o sistema de equações

acima:

Meio intracelular: 0,300 x 32,0 = C2 x (32,0 + X) → C2 = 0,300 x 32,0 / (32,0 + X)

Substituindo:

Meio extracelular: 0,288 x 17,0 = [0,300 x 32,0 / (32,0 + X)] x (17,0 - X)

4,90 = [9,60 / (32,0 + X)] x (17,0 – X)

156,8 + 4,90X = 163,2 – 9,60X

Page 125: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 125

14,5X = 6,40

X = 0,441

Resolvendo a equação, temos que X = 0,441 L.

Portanto, já sabemos que os volumes finais intra e extracelular são 32,441 L e 16,559 L,

respectivamente.

Para descobrir o valor de C2, isto é, da concentração final nos meios intra e extracelular,

basta substituir o valor encontrado para VIC na equação referente ao meio intracelular

ou o encontrado para VEC na equação correspondente ao meio extracelular. Fazendo

isso, encontra-se uma concentração final de equilíbrio de 0,296 Osm que é ligeiramente

menor que a osmolaridade inicial dos compartimentos biológicos (0,300 Osm).

O resultado encontrado é coerente já que o indivíduo ingeriu uma solução cuja

concentração em partículas era menor (0,100 Osm) que a concentração dos líquidos

corpóreos (0,300 Osm).

65. Em crianças com diarréia, pode ocorrer uma severa desidratação. Em 24 h, essas

crianças podem perder água na proporção de 100 mL/Kg de peso corporal e 90 mmol de

Na+/L de água perdida (os íons K+ e Cl- são também perdidos nessa proporção). Nessa

situação, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda a ingestão da solução de

Sais para Reidratação Oral (SRO). Nas primeiras 4h, é recomendável que uma criança

de 20 Kg ingira 1.500 mL dessa solução. A composição da solução de SRO é a

seguinte:

Substância Massa molar

(g/mol)

Concentração

(g/L)

Cloreto de sódio 58,4 2,6

Cloreto de potássio 74,5 1,5

Citrato trisódico diidratado 294,1 2,9

Glicose 180,2 13,5

Page 126: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 126

a) Calcule a osmolaridade da SRO. O número de partículas do Citrato trisódico

diidratado é 4. Considere Φ = 1 para todas as substâncias da SRO.

b) Com base na osmolaridade calculada em a, explique como a SRO pode reidratar

e repor os sais perdidos por uma criança desidratada.

c) Uma criança de 20 Kg está com diarréia e uma severa desidratação. Durante

24h, ela perdeu água, Na+ e Cl- nas proporções descritas no enunciado desta

questão. Após esse período, a criança recebeu 1500 mL da solução de SRO.

Com base nessas informações e considerando que a água e os íons foram

perdidos apenas do meio extracelular, calcule a osmolaridade final e os

volumes extracelular e intracelular finais. Considere o organismo divido em

dois compartimentos: extracelular e intracelular; [Na+]meio extracelular = 140

mmol/L; [Cl-]meio extracelu lar = 100 mmol/L; uma criança saudável possui um

volume total de água igual a 60% de seu peso corporal.

66. Na fase inicial de uma queimadura de grandes proporções em um indivíduo, é

comum observar a formação de edemas e um quadro de hiponatremia sérica

(diminuição da concentração de Na+ no soro sanguíneo). Para reverter esses

sintomas, injeta-se normalmente na veia do paciente uma solução de NaCl a 3,5%

p/v. Com base nessas informações, responda:

a) Calcule a osmolaridade da solução de NaCl a 3,5% p/v (considere Φ = 1).

b) Com base na osmolaridade calculada no item a e nos conhecimentos sobre

tonicidade, explique como a solução de NaCl pode reverter os sintomas

apresentados pelo paciente.

R:

a)

NaCl:

Page 127: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 127

mol 04,04,58

6,2n

Osm 0,0820,04OSM

mol/L 04,0M

KCl:

mol 02,05,74

5,1n

Osm 0,0420,02OSM

mol/L 02,0M

Citrato trisódico:

mol 0099,01,294

9,2n

Osm 0,0440,0099OSM

mol/L 0099,0

M

Glicose:

mol 0749,02,180

5,13n

Osm 0,0710,0749OSM

mol/L 0749,0

M

Osmolaridade da SRO: 0,08+0,04+0,04+0,07=0,23 Osm

b)

Como a SRO é hipotônica em relação às células de uma criança desidratada, a

água irá fluir do meio extracelular para o intracelular, reidratando o indivíduo.

Quanto à reposição dos sais perdidos, eles irão se difundir do meio extracelular

para o intracelular. Assim, os sais perdidos pela criança serão também repostos.

c)

mmol 180NaCl

mmol 180290:Na

L 2mL 200010020:OH

perdidoperdido

perdido

perdida2

L4202,0OH

L8204,0OH

L12206,0OH

extra2

raint2

total2

Page 128: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 128

mOsm 24003008Osm

mOsm 8402(180) - 1200Osm

mOsm 12003004Osm

início intra

perda extra

início extra

mOsm 180Cl

Osm 0,18 5,104,008,0Cl

mOsm 300Na

Osm 0,301,53(0,04)][0,08 Na

L5,1:SRO Ingestão

-

-

mOsm/L 5,32311,5

3720deOsmolarida

L5,115,1212V

mOsm 372024001320Osm

mOsm 2400Osm

mOsm 1320180300840Osm

final total

total

final intra

final extra

L 4,1V

V mOsm 1320

1L mOsm 5,323

final extra

final extra

L 4,7V

V mOsm 2400

1L mOsm 5,323

final intra

final intra

67. Uma doença inflamatória grave foi detectada em um indivíduo, sendo recomendado

o uso da nutrição parenteral para o seu quadro. Nesse tipo de nutrição, uma solução

nutriente é infundida por via intravenosa em um acesso periférico (pequena veia,

geralmente no braço) ou central (grande veia com alto fluxo sangüíneo). Um dos

critérios para definir o acesso a ser utilizado é a osmolaridade da solução parenteral.

Para soluções com osmolaridade inferior a 900 mOsm/L, utiliza-se o acesso

periférico. Para uma osmolaridade superior a esse valor, deve-se necessariamente

empregar o acesso central. O indivíduo em questão deve receber uma infusão de

2400 mL, durante 24h, a uma taxa de 100 mL/h, com a seguinte composição:

Page 129: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 129

Componentes Massa (g) Massa Molar

(g/mol)

Glicose 400 180

Aminoácido 100 100

(valor médio)

NaCl 4,7 58,5

NaCH3COO 6,6 82

KCl 3,0 74,5

K2PO4 5,2 173

MgSO4 0,6 120

Com base nessas informações e em outras sobre esse tema, responda:

a) Calcule a osmolaridade da solução parenteral. (Número de partículas do

Aminoácido = 1; considere Φ = 1 para todos os componentes da solução).

b) Com base na osmolaridade calculada em a, responda: Qual acesso de nutrição

parenteral deve ser utilizado para infundir a solução descrita? Justifique.

c) Caso fosse empregado o acesso inadequado para infundir a solução descrita,

qual seria um possível sintoma que o paciente apresentará? Justifique.

d) Com base na velocidade de infusão da nutrição parenteral (100 mL/h), descreva

as implicações na distribuição de líquidos no organismo do indivíduo.

e) Caso a velocidade de infusão fosse 10 vezes maior (1000 mL/h), quais seriam as

implicações na distribuição de líquidos no organismo do indivíduo?

f) Se a velocidade de infusão fosse 10 vezes menor (10 mL/h), haveria alguma

alteração no processo de nutrição em relação à infusão a 100 mL/h? Justifique.

R:

Page 130: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 130

mol 60,04,58

35n

mol/g 4,58MM

L/g35mL 1000

g35

mL 100

3,5g3,5% NaCl

NaCl

Osm/L 1,220,6OSM

xMOSM

mol/L 60,0M

b) Como o NaCl 3,5% é hipertônico aos tecidos do organismo (1,2 Osm/L), ele

irá provocar um fluxo de água para fora do compartimento intersticial do tecido,

revertendo, assim, os edemas corporais. O quadro de hiponatremia sérica também será

revertido, porque o NaCl 3,5% está sendo injetado diretamente na corrente sanguínea,

fornecendo Na+ para o plasma sanguíneo.

68. .

a)

Glicose:

g/L 67,166x

L1g x

L4,2g 400

mol/L 93,0180

67,166n

mOsm/L 930ou 93,0OSM

193,0OSM

Para os outros componentes da solução parenteral, utiliza-se o mesmo

raciocínio. Assim, obtêm-se:

Componente Molaridade (mmol/L) Osmolaridade (mOsm/L)

Aminoácidos 417 417

NaCl 33,5 67

NaCH3COO 33,5 67

KCl 16,8 33,6

MgSO4 2,1 4,2

Page 131: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 131

Osmolaridade total = 930 + 417 + 2(67) + 33,6 + 4,2 = 1518,8 mOsm/L

b)

O acesso central. Como a osmolaridade da solução parenteral é superior a 900

mOsm/L, deve-se necessariamente utilizar o acesso central.

c)

Caso se empregasse a solução parenteral no acesso periférico, poderia surgir um

quadro de flebite no paciente. A flebite é um processo inflamatório do vaso

sanguíneo que, no caso em estudo, seria causada pela grande perda de água na

veia periférica.

d)

Como a velocidade de infusão é baixa, não ocorrerá uma perda excessiva de

água na via de acesso central. Assim, o corpo consegue equilibrar a grande

osmolaridade presente na solução, sem prejudicar nenhum tecido do organismo.

e)

Nessa situação, provavelmente, o paciente teria uma flebite na via de acesso

utilizada. Assim, ocorreria uma grande perda de líquidos pelo vaso sangüíneo.

Além disso, seriam esperados efeitos sistêmicos, como a formação de edemas

em algumas áreas corporais. Sobrecarga de alguns órgãos, em especial os rins.

f)

Não haveria uma nutrição adequada do indivíduo. Como a quantidade presente

dos nutrientes na infusão é pequena, não ocorrerá um suprimento adequado para

o paciente em tempo adequado.

69. - As células do organismo estão em equilíbrio dinâmico com o meio

extracelular. Isso significa dizer que, continuamente, existe fluxo de substâncias

através das membranas celulares.

Page 132: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 132

a) O que é uma membrana semipermeável? E o que significa o termo

permeabilidade seletiva?

b) Conceitue osmose e difusão.

c) Defina os limites numéricos (valor mínimo e valor máximo possíveis) do índice

ou coeficiente de reflexão e comente os valores definidos.

d) O que é um soluto osmoticamente ativo?

R: a) Membrana semipermeável: permite passagem apenas de moléculas de água.

Permeabilidade seletiva: permeabilidade a substâncias específicas, além da água.

b) Osmose é o fluxo de água, através de uma membrana semipermeável, de um

compartimento onde a concentração do soluto é menor para um onde a concentração de

soluto é maior. Mais simplificadamente: o fluxo de solvente do meio menos

concentrado em partículas para o meio mais concentrado em partículas.

Difusão é o processo onde os átomos ou moléculas se misturam devido ao seu

movimento térmico ao acaso (browniano). Mais simplificadamente: o fluxo de soluto do

meio mais concentrado em partículas para o menos concentrado em partículas.

c) Os limites do coeficiente de reflexão são 0 e 1 ou 0% e 100%. O índice de reflexão de

0 ou 0% indica que a substância não é refletida pela membrana celular, ou seja, a

membrana é totalmente permeável à substância. Em contrapartida, o índice de reflexão

de 1 ou 100% indica que a substância é totalmente refletida pela membrana: a

membrana é impermeável à substância.

d) Solutos osmoticamente ativos são aqueles incapazes de atravessar uma membrana

semipermeável. Presos em compartimentos separados por essas membranas, exercem

pressão forçando a passagem de água para onde estão em maior concentração.

70. Uma substância cujas concentrações intracelular e extracelular são iguais está em

equilíbrio? Justifique detalhadamente sua resposta com base nas forças que podem

agir sobre partículas carregadas ou não carregadas localizadas no líquido

extracelular (LEC) e líquido intracelular (LIC).

R: Não necessariamente. Uma partícula carregada sofre ação de duas forças: elétrica e

de concentração. Desta forma, não basta não haver força de concentração (as duas

Page 133: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 133

concentrações – interna e externa – serem as mesmas) para que haja equilíbrio; antes

disso, é necessário que não haja também forças elétricas. Partículas não carregadas

estariam, sim, em equilíbrio na situação descrita (igualdade de concentrações interna e

externa), uma vez que elas não estão submetidas a forças elétricas.

71. . As proteínas são macromoléculas constituídas por inúmeros resíduos de

aminoácidos ligados por meio de ligações covalentes. Desta forma, elas constituem

substâncias muito grandes para atravessarem membranas celulares; seu transporte pela

membrana é feito por endocitose ou exocitose. Além disso, como os monômeros

(aminoácidos) desses polímeros são unidos por ligações covalentes, as proteínas não

dissociam em partículas menores, a menos que sofra ação enzimática. Dispondo dessas

informações, responda:

a) As proteínas são substâncias osmoticamente ativas? Justifique com base nas

informações do enunciado e em seus conhecimentos sobre o assunto.

b) A permeabilidade dos poros capilares às proteínas plasmáticas é, em geral,

muito baixa. Desta forma, as proteínas ficam confinadas no espaço vascular e exercem a

pressão oncótica sobre o compartimento de líquido intersticial. A pressão oncótica é

especialmente importante na extremidade venosa dos capilares, promovendo a volta,

para o leito vascular, do líquido que saiu do vaso na extremidade arterial. O que é a

pressão oncótica? Com base nas informações fornecidas, qual seria a principal

conseqüência de um quadro de hipoproteinemia em um indivíduo?

R: . a) Sim. Como as proteínas possuem grandes dimensões, as membranas biológicas

são impermeáveis a elas. Presas em um compartimento delimitado por membrana

semipermeável e estando em maior concentração nesse compartimento que nos outros

em contato com ele, as proteínas são capazes de exercer pressão osmótica sobre os

outros compartimentos e determinar o fluxo de água para o compartimento onde estão

em maior concentração.

b) Pressão oncótica é a pressão osmótica exercida por proteínas plasmáticas sobre o

compartimento extravascular.

Page 134: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 134

Formação de edema por redução de pressão oncótica e não retorno de líquido

plasmático para o leito vascular na extremidade venosa do capilar. Com isso, líquido

plasmático se acumula no interstício.

72. 4. A célula não é um compartimento isolado: sua sobrevivência e funcionamento

dependem da entrada e saída de muitas substâncias, entre as quais, nutrientes e

metabólitos. Sabendo que nem toda substância pode atravessar a camada apolar

representada pela membrana plasmática, responda:

a) Quais os tipos de transportadores existentes?

b) Caracterize os transportadores mencionados no item anterior e o mecanismo de

transporte de cada um deles.

c) Diferencie transporte ativo de transporte passivo.

d) Cite e caracterize os dois tipos de transporte ativo existentes.

R: a) Transportadores do tipo canal e do tipo carreador.

b) - Proteínas transportadoras do tipo canal atravessam a membrana lipídica e formam

poros hidrofílicos na membrana que possibilitam a passagem de substâncias pouco

lipossolúveis. Esses poros são, em geral, revestidos por resíduos de aminoácidos com

carga elétrica e a carga predominante no poro está relacionada à seletividade do canal a

cátions ou a ânions. Esses poros também possuem uma região de maior constrição ou

estreitamento que está relacionada à seleção do tamanho da substância a ser

transportada.

- Proteínas transportadoras do tipo carreador interagem com a substância a ser

transportada e, mudando de conformação, translocam essa substância de um lado para

outro da membrana. Essa é a etapa mais lenta do transporte. Em seguida, a interação se

desfaz e a substância é liberada no local de destino.

c) O transporte ativo (TA) ocorre com gasto de energia contra gradientes de potencial

eletroquímico e o passivo, sem gasto de energia e a favor dos gradientes de potencial

eletroquímico.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 135

d) O transporte ativo é dividido em primário e secundário. TA primário é caracterizado

por obter energia de uma reação química (de hidrólise de ATP ou de oxirredução). TA

secundário se caracteriza pela utilização do gradiente de potencial eletroquímico de um

íon para o transporte de uma substância qualquer.

73. O transporte através das membranas biológicas pode ou não depender de

proteínas transmembrana que facilitam a travessia de substâncias através da camada

apolar. A facilidade com que uma molécula atravessa a bicamada lipídica depende de

muitos fatores, entre eles, da lipossolubilidade da molécula. Moléculas lipossolúveis

atravessam membranas independentemente de proteínas transportadoras, ao passo que

as hidrossolúveis necessitam dessas proteínas.

a) Quais são as características que permitem às substâncias atravessarem facilmente

membranas lipídicas? Considere apenas o trânsito através da bicamada lipídica e

desconsidere outras formas de passagem pela membrana como endocitose e exocitose.

b) Observe o gráfico e as fórmulas estruturais representadas abaixo:

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 136

O gráfico acima representa a dinâmica do fluxo de difusão do oxigênio molecular (O2) e

da glicose (C6H12O6) através de membranas celulares em função da diferença de

concentração dessas substâncias nos compartimentos intracelular e extracelular.

Observando as fórmulas estruturais das duas substâncias e as curvas representativas da

difusão de cada uma delas através da membrana, o que se pode concluir sobre o

transporte dependente e independente de proteínas transportadoras específicas?

c) Em situações normais, a glicose sanguínea é filtrada nos glomérulos renais e é

totalmente reabsorvida no túbulo contorcido proximal dos néfrons, não estando presente

na urina. No diabetes melitus tipo 1 ou 2 a concentração de glicose no sangue se eleva.

Proporcionalmente a essa elevação, mais glicose é filtrada nos glomérulos. Considere os

seguintes dados:

A reabsorção de glicose na membrana apical das células tubulares proximais dos

néfrons é ativa e o subsequente transporte de glicose através da membrana basolateral

para o interstício é passivo por difusão.

O transporte ativo da glicose é efetuado por uma proteína que transporta Na+ e

glicose, simultaneamente, do lúmen do túbulo proximal para o interior da célula que o

reveste, utilizando, para isso, o gradiente eletroquímico do íon Na +.

Quando o índice de reflexão (σ) da glicose é 1, ela se comporta como uma

substância osmoticamente ativa.

c.1) Considerando as características do transporte dependente de proteínas

transportadoras específicas (características analisadas no item anterior) e sabendo que

no diabetes melitus o volume urinário aumenta, o que acontece com o transporte de

glicose nos néfrons em indivíduos com essa doença? Justifique.

c.2) Classifique o transporte realizado pela proteína da membrana apical das células

proximais do néfron quanto ao sentido do transporte de substâncias e quanto ao gasto

energético.

R: a) Lipossolubilidade alta, tamanho pequeno, ausência de carga e de polaridade. No

caso de a substância possuir lipossolubilidade baixa, carga ou polaridade e ter grandes

dimensões, a facilidade do transporte através das membranas biológicas depende da

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 137

presença da proteína transportadora na membrana, além da quantidade em que essa

proteína está presente e de seu estado (caso a proteína possua mais de um): aberto,

fechado, inativado.

b) Observando as fómulas estruturais, pode-se perceber que a glicose é uma molécula

bastante hidrofílica (muitos grupos OH que interagem com a água por meio de inúmeras

ligações de hidrogênio) de lipossolubilidade baixa que necessita de proteínas

transportadoras específicas para atravessar membranas celulares. Diferentemente, o

oxigênio molecular é uma molécula apolar de lipossolubilidade elevada e que pode se

difundir por entre as moléculas de lipídios da membrana sem necessidade de proteínas

transportadoras.

A difusão do oxigênio é linear: diretamente proporcional à diferença de concentração

nos meios intra e extracelular; já a difusão de glicose é uma curva que tende a se tornar

uma reta horizontal. Essa conformação das duas curvas indica que, para a glicose, existe

fluxo máximo de difusão, o que não acontece no caso do oxigênio.

Observando o gráfico e as fórmulas estruturais pode-se perceber a natureza saturável do

transporte dependente de proteínas transmembrana.

c.1) Transporte se satura.

O transporte dependente de proteínas transportadoras específicas é saturável

(informação do item anterior). A elevada carga filtrada de glicose nos indivíduos com

diabetes faz com que o transporte de glicose nos túbulos proximais se sature (glicose

não atravessa a membrana → δ = 1). Com isso, a glicose que não é reabsorvida é

eliminada na urina e puxa água com ela (glicose osmoticamente ativa), por isso o

volume urinário aumenta.

c.2) Quanto ao sentido → co-transporte ou simporte: duas substâncias são transportadas

num mesmo sentido.

Quanto ao gasto energético → transporte ativo secundário: utiliza-se o fluxo passivo do

Na+ para energizar o transporte ativo de glicose.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 138

74. A doença hipertensiva específica da gravidez (pré-eclâmpsia e eclâmpsia) é uma

patologia caracterizada pela elevação da pressão arterial em mulheres grávidas a partir

da 20ª semana de gestação. Na pré-eclâmpsia, os vasos sanguíneos da gestante se

contraem (tornando-se estreitos), diminuindo o suprimento de sangue e oxigênio ao

feto, à placenta, aos rins, ao fígado, aos olhos, ao cérebro e a outros órgãos da mulher. A

eclâmpsia, uma complicação da pré-eclâmpsia, surge quando crises convulsivas se

adicionam à sintomatologia da pré-eclâmpsia. A terapêutica farmacológica consiste na

utilização de anti-hipertensivos (pré-eclâmpsia) e anticonvulsivantes (eclâmpsia).

a) O íon Ca+2 é fundamental para o acoplamento excitação-contração no músculo liso.

Sabe-se que, nesse tecido, as reservas intracelulares de Ca+2 parecem não ser muito

importantes para o processo de contração, o qual depende da entrada desse íon na

célula. Ca+2 pode entrar nas células musculares lisas por dois tipos de canais: canais

de Ca+2 dependentes de voltagem e canais de Ca+2 acionados por ligantes (hormônios,

neurotransmissores, medicamentos). Sabendo que o problema chave na pré-eclâmpsia

é a contração do músculo liso vascular, proponha um mecanismo de ação para a

nifedipina, um anti-hipertensivo utilizado em pacientes com pré-eclâmpsia.

b) Analise o mecanismo de transmissão neuromuscular típico do músculo esquelético

apresentado a seguir:

Os músculos esqueléticos são inervados por neurônios motores.

Após um estímulo, o neurônio motor se despolariza e essa despolarização é

conduzida até a porção distal do axônio pelo potencial de ação.

Na porção distal do axônio (terminal pré-sináptico), a membrana contém canais de

Ca+2 dependentes de voltagem que se abrem quando o potencial de ação chega.

Os canais de Ca+2 são canais seletivos para cátions bivalentes.

A abertura desses canais permite ocorrência de fluxo de Ca+2 para o interior do

terminal pré-sináptico.

O aumento local de Ca+2 promove a liberação de vesículas contendo acetilcolina, um

neurotransmissor.

A placa motora, local da membrana da célula muscular que está em contato com a

terminação nervosa, contém receptores nicotínicos de acetilcolina.

Esses receptores de acetilcolina são canais de Na+ que se abrem na presença do

neurotransmissor permitindo a despolarização e consequente contração muscular.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 139

Uma das estratégias terapêuticas utilizadas na prevenção de crises convulsivas em

pacientes com eclâmpsia é a administração de sulfato de magnésio (MgSO 4). Com base

nas informações fornecidas acima sobre a transmissão neuromuscular, justifique a

estratégia terapêutica utilizada na eclâmpsia.

c) Sabendo que a manutenção do tônus muscular, ou seja, o controle da contração

muscular no estado de repouso, depende da neurotransmissão colinérgica, qual seria um

efeito colateral do sulfato de magnésio?

R: a) O mecanismo de ação da nifedipina envolve o bloqueio de canais de Ca+2 de

células musculares lisas vasculares.

b) MgSO4 libera íons magnésio (Mg2+). Tais íons, por serem bivalentes como os íons de

cálcio (Ca2+), competem, por excesso de substrato, com os íons Ca+2 para entrar nas

terminações nervosas através dos canais de cálcio que são seletivos para íons bivalentes.

Tal competição resulta em menor entrada de cálcio nas terminações. O efeito final é a

inibição da neurotransmissão que culminaria na contração do músculo esquelético.

Portanto, doses adequadas de sulfato de magnésio, revertem o sintoma crítico da

eclâmpsia: as crises convulsivas.

c) O efeito colateral dessa substância é a fraqueza muscular da gestante e do feto.

75. A fosforilação oxidativa é um processo no qual transporte ativo e passivo estão

acoplados e o resultado final da associação dos transportes é a produção de ATP. A

membrana interna da mitocôndria é a sede do processo. As etapas são as seguintes:

I. NADH e FADH2, situados na matriz mitocondrial, transferem elétrons para uma

proteína da membrana mitocondrial interna.

II. A partir dessa proteína, os elétrons são transferidos a outras proteínas da

membrana mitocondrial interna, numa sequência, o que dá origem a uma corrente

elétrica no interior da membrana.

III. Essa corrente elétrica energiza o transporte de íons H+ da matriz mitocondrial

para o espaço entre as membranas interna e externa da mitocôndria. Esse transporte de

H+ é efetuado pelas próprias proteínas receptoras/doadoras de elétrons; obviamente,

apenas as proteínas integrais podem fornecer poro hidrofílico através do qual os prótons

se movimentam.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 140

IV. O destino final dos elétrons é o oxigênio molecular (aceptor final de elétrons)

situado na matriz mitocondrial.

V. A energia do gradiente de pH é dissipada por outra proteína intrínseca da

membrana, a ATP sintase, que utiliza a energia do gradiente para sintetizar ATP a partir

de ADP e de fosfato inorgânico (Pi).

As transferências de elétrons ocorrem, de uma proteína a outra da membrana

mitocondrial, até o oxigênio molecular, por meio de reações de oxirredução. As reações

que sintetizam o processo são as seguintes:

- NADH + H+ + ½ O2 → NAD+ + H2O

- FADH2 + ½ O2 → FAD + H2O

- ADP + Pi → ATP

Esse processo é conhecido como cadeia respiratória e sua ocorrência é fundamental para

a síntese de ATP.

a) Classifique os transportes que ocorrem nas etapas III e V.

b) O 2,4-dinitrofenol é uma substância que se insere na membrana mitocondrial interna

e permite passagem de H+ através dessa membrana. Cite a principal implicação do uso

dessa substância.

c) O íon cianeto (CN-), substância conhecida pelo seu caráter letal quando em

organismos vivos, é um íon que bloqueia o transporte de elétrons realizado pela última

proteína da cadeia respiratória (complexo IV ou citocromo oxidase). Cite a principal

implicação do uso dessa substância.

R: a) III → Transporte ativo primário: utiliza-se energia proveniente de uma reação

química de oxirredução para a realização do transporte.

V → Transporte passivo: a favor do gradiente eletroquímico.

b) Perda do gradiente de pH através da membrana mitocondrial interna. Prejuízo para a

síntese de ATP.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 141

c) Interrupção da cadeia respiratória. Prejuízo para a síntese de ATP.

76. A compreensão de como ocorrem os movimentos de fluidos no organismo é de

fundamental importância para o entendimento da homeostasia. Por essa razão, o

transporte de substâncias através das membranas biológicas é um assunto vasto e

muito estudado pelos pesquisadores. O Prêmio Nobel da Química do ano de 2003 foi

atribuído a Peter Agre pela descoberta das aquaporinas.

a) O que são aquaporinas?

b) Se a água tem trânsito livre na membrana, qual o papel fisiológico das aquaporinas?

c) As aquaporinas estão presentes em membranas de todas as células do organismo?

Comente sua resposta incluindo os mecanismos que regem a constância ou inconstância

dessas proteínas nas membranas.

d) Com base na resposta ao item c, como você modificaria a resposta dada no item b,

(qual a função das aquaporinas no movimento dos fluidos no organismo)?

e) Defeitos genéticos envolvendo genes que codificam as aquaporinas têm sido

associados a várias doenças humanas, uma delas é o Diabetes insipidus causado por

uma mutação no gene codificador da aquaporina do tipo 2, que é a isoforma renal. Qual

é o principal sintoma apresentado por indivíduos com essa alteração genética? Cite

outra causa possível para esse sintoma com base no mecanismo de ação das

aquaporinas.

R: a) Aquaporinas são proteínas transmembrana compostas por quatro subunidades

protéicas (cada subunidade funciona como um canal) que transportam água

seletivamente. Existem diversas isoformas de aquaporinas e algumas permitem a

passagem de glicerol juntamente com água (gliceroaquaporinas).

b) Otimizar ou aumentar o fluxo de água através da membrana.

c) Não. Estudos já confirmaram a presença das aquaporinas em diversos tecidos, mas

não em todos. Além disso, nos tecidos onde essas proteínas são expressas, elas parecem

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 142

ser recrutadas de reservatórios intracelulares para a membrana plasmática em situações

em que as células do órgão precisam ter fluxo aumentado de água pela membrana para

executar a função do órgão (reabsorção de água nos rins, secreção de água nas glândulas

salivares...). Os mecanismos mais conhecidos que regulam a quantidade de aquaporinas

nas membranas incluem mecanismos hormonais (bem conhecidos para as células renais:

vasopressina aumenta a quantidade de aquaporinas nas membranas) e genéticos

(indução/repressão da transcrição gênica).

d) Como as aquaporinas não ficam o tempo todo na membrana, elas participam do

processo de MODULAÇÃO do fluxo de água pelas membranas celulares.

e) O principal sintoma dessa doença é a eliminação excessiva de água pela urina já que

faltam aquaporinas para promover reabsorção de água nos néfrons. Outra causa para

esse sintoma seria a hipofunção da glândula secretora do hormônio que recruta

aquaporinas para as membranas (vasopressina). Outra causa seria a ausência ou defeito

no receptor desse hormônio nas células onde ele atua.

77. . Os ionóforos são agentes químicos que interagem com as membranas biológicas e

promovem o transporte de íons. São utilizados amplamente como antibióticos que,

misturados na ração de ruminantes, eliminam certas bactérias fermentadoras que

prejudicam a digestão e, consequentemente, crescimento desses animais. O

mecanismo de ação dos ionóforos não está completamente estabelecido. Uma hipótese

é a de que eles fornecem poros hidrofílicos na membrana celular permitindo o fluxo

passivo de íons.

a) Em doses acima das indicadas, os ionóforos podem causar a morte, não só de

bactérias, mas também dos próprios ruminantes. Considerando as células eucariotas dos

bovinos e sabendo que os ionóforos podem “invadir” a membrana de qualquer

compartimento celular, além da membrana plasmática, cite possíveis danos às células

que podem ocorrer em decorrência dessas substâncias.

b) Observe a figura que representa uma célula eucariota.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 143

Três proteínas da membrana celular estão ilustradas; o transporte ativo está indicado por

“ATP” e o sentido do fluxo de alguns íons, por setas. Compare os potenciais

eletroquímicos nos meios intracelular (µi) e extracelular (µe) para todos os íons

representados na figura (maior, menor, igual) e indique a direção do fluxo de cada um

através do ionóforo.

R: - Desacoplamento entre transporte ativo e passivo de prótons durante a fosforilação

oxidativa a nível da membrana mitocondrial;

- Entrada e saída descontrolada de diversos íons na célula: a entrada de Ca+2 prejudica

processos de sinalização dependentes desse íon;

- Perda de gradientes de potencial eletroquímico que seriam dissipados com finalidade

específica de energizar algum transporte ativo secundário.

b) Na+→ µi < µe ; fluxo do meio extracelular para o intracelular.

K+→ µi > µe ; fluxo do meio intracelular para o extracelular.

H+→ µi < µe ; fluxo do meio extracelular para o intracelular.

78. Uma das formas de comunicação entre diferentes partes de um organismo multicelular

ocorre através da variação do potencial elétrico transmembrana. Ela é possível devido à

existência de potenciais elétricos através das membranas celulares; tais potenciais são

mantidos em um valor aproximadamente constante durante o tempo, mas podem variar,

sendo essa variação utilizada para transmitir informações de uma célula para outra.

a) Qual a origem do potencial de membrana das células?

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 144

b) Elabore hipótese(s) para explicar as diferenças de potencial elétrico de repouso

de um fenótipo celular para outro. Por exemplo, células musculares esqueléticas podem

ter potenciais de -90mV, neurônios de -65 mV e algumas células epiteliais tem

potenciais de -40 mV.

R: a) O potencial de membrana é mantido por meio da movimentação de íons através da

membrana lipídica tornando o meio externo predominantemente positivo e o interno

predominantemente negativo. Esse movimento pode ser passivo ou ativo, sendo que o

fluxo passivo de íons (fluxo de eletrodifusão) é o que mais contribui para a manutenção

do potencial de repouso nos níveis usuais. Ao contrário do que somos induzidos a

pensar, a bomba de Na/K eletrogênica não é a principal formadora e mantenedora do

potencial de membrana. Dependendo da célula, muito ou pouco ativa, a contribuição da

bomba para formação e manutenção do potencial de membrana é maior ou menor,

respectivamente. É importante ressaltar que, mesmo em se tratando de células muito

ativas, a contribuição da bomba nunca é maior que a dos fluxos passivos dos íons. No

máximo, a bomba contribui em 20% do potencial de membrana de repouso.

b) Diferente composição da membrana celular em termos de quantidade e tipo dos

diversos canais. Essa diferença numérica e qualitativa nas proteínas canal da membrana

podem estar relacionadas à expressão, em cada tipo celular, maior ou menor de

determinados genes e à expressão de isoformas diferentes de uma mesma proteína

canal.

79. Sobre as substâncias que participam da geração do potencial transmembrana,

responda:

a) Qual é a diferença entre um íon que está em equilíbrio eletroquímico e um que se

encontra em estado estacionário?

b) Em que situação a equação de Nernst é válida?

c) Utilize a equação de Nernst {Es = [ R x T x ln ( Ce / Ci ) ] / ( Zs x F )}para calcular o

potencial de equilíbrio para os seguintes íons hipotéticos a 20 oC: A+ → [A+]e= 20 mM;

[A+]i= 9 mM; B-2 → [B-2]e= 100 mM; [B-2] i= 1 mM. (R é a constante dos gases ideais;

R = 8,31 J x K-1 x mol-1. T é a temperatura absoluta, em Kelvin; T = t + 273. t é a

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 145

temperatura em graus Celsius. ln é o logaritmo natural. Zs é a valência da substância

“s”. F é a constante de Faraday; F = 96500 C x mol-1)

R: a) Em ambas as situações, as concentrações e potenciais eletroquímicos dos íons se

mantêm constantes ao longo do tempo. A diferença é que, na situação de equilíbrio

eletroquímico, o fluxo do íon através da membrana é praticamente nulo, enquanto que

no estado estacionário fluxos ativo e passivo do íon coexistem para manter a

concentração e potencial eletroquímico do íon constantes.

b) Quando o íon está em equilíbrio eletroquímico.

c) EA = [ 8,31 x 293 x ln ( 20 / 9 ) ] / ( +1 x 96500 ) = 20,15 mV.

EB = [ 8,31 x 293 x ln ( 100 / 1 ) ] / ( -2 x 96500 ) = -58,09mV.

80. Considerando uma célula no estado estacionário com concentrações de K+ de 158

mM; Na+, 12 mM; Cl-, 4mM; em uma solução com K+ a 4 mM; Na+, 124 mM; Cl-, 128

mM, responda:

Dados: Os resultados devem ser arrendondados para o número inteiro mais próximo.

Vm = -87 mV; R = 8,31 J.K-1.mol-1; F = 96500 C.mol-1; t = 20oC. Equação: Vs =

[R.T.ln (Cse / Csi)] / Zs.F.

a) Existe algum íon em equilíbrio?

b) Indique o sentido do fluxo de eletrodifusão para os íons que não estejam em

equilíbrio.

R: . a) Para saber se existe algum íon em equilíbrio, calculamos o potencial de equilíbrio

de cada íon e comparamos com o valor do potencial de membrana. Assim:

VK+ = [8,31 x 293 x ln (4/158)] / (+1 x 96500) = -93mV;

VNa+ = [8,31 x 293 x ln (124/12) / (+1 x 96500) = +59mV;

VCl- = [8,31 x 293 x ln (128/4) / (-1 x 96500) = -87mV.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 146

Como o potencial de membrana vale -87mV, concluímos que o íon Cl- está em

equilíbrio.

b) i) Os íons que não estão em equilíbrio (K+ e Na+) tendem a se movimentar de tal

forma a tentar fazer com que Em adquira o mesmo valor de seu potencial de equilíbrio

(Em = Es), situação de maior estabilidade para os íons.

K+ tende a fazer Em (-87mV) ficar igual a seu potencial de de equilíbrio: Em = EK+ = -

93mV. Para isso, o interior da célula deve ficar mais negativo e, portanto, K + deve sair

da célula.

Na+ tende a fazer Em (-87mV) se igualar ao seu potencial de equilíbrio: Em = ENa+ =

+59mV. Para isso, o interior da célula deve ficar mais positivo e, portanto, Na+ deve

entrar na célula.

ii) Outra resposta possível, cujo raciocínio é mais quantitativo, é a seguinte:

Esta sugestão de resposta envolve demonstração por meio da seguinte fórmula: μs i – μs

e = Zs x F (Vm – Vs); nesta fórmula:

- μs i = potencial eletroquímico da substância “s” no meio intracelular;

- μs e = potencial eletroquímico da substância “s” no meio extracelular;

- Zs = carga da substância em questão;

- F = constante de Faraday, dada no exercício;

- Vm = potencial da membrana da célula em questão;

- Vs = potencial de equilíbrio da substância “s”.

O fluxo de eletrodifusão para os íons que não estão em equilíbrio (Na+ e K+) pode ser

calculado comparando-se o potencial eletroquímico de cada íon dentro e fora da célula.

Assim:

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 147

μNa+

i – μNa+

e = +1 x 96500 x (-87 – 59) < 0 → μNa+

i – μNa+

e < 0 → μNa+

i < μNa+

e. Como

o fluxo ocorre do local de maior potencial para o de menor, conclui-se que o Na+ flui do

meio extracelular para o meio intracelular.

μK+

i – μK+

e = +1 x 96500 x (-87 + 93) > 0 → μK+

i – μK+

e > 0 → μK+

i > μK+

e. Como o

fluxo ocorre do local de maior potencial para o de menor, conclui-se que o K+ flui do

meio intracelular para o meio extracelular.

81. Calcule a relação entre as condutâncias (g) dos íons K+ e Na+ numa célula cujo

potencial de membrana depende apenas dos íons Na+ e K+ e vale – 88 mV. Considere:

ENa+ = + 58,8 mV; EK

+ = - 92,7 mV e a relação: Is = gs x ( Em – Es ), onde “s” representa

uma substância qualquer, como o Na+ ou o K+. Desconsidere a contribuição da bomba

de Na+/K+ na formação do potencial de membrana.

R: Como Em se mantém constante ao longo do tempo, podemos concluir que as

correntes (I) de Na+ e de K+ têm a mesma intensidade e sentido contrário. Só essa

situação é compatível com o movimento de íons através da membrana sem que haja

variação de Em.

Temos, então:

INa+ = gNa

+ x ( - 88 – 58,8 ) = - 146,8 gNa+

IK+ = gK

+ x ( - 88 + 92,7 ) = 4,7 gK+

INa+ = - IK

+ → - 146,8 gNa+ = - 4,7 gK

+ → gK+ / gNa

+ = 31,23

82. Em uma célula não excitável cujo Em é determinado essencialmente pelo íon K+,

como varia Em se a concentração externa de K+ diminui de 10 mM para 4mM?

R: Fica mais negativo. Se Em é determinado apenas pelo K+, Em acompanha as variações

no EK+. Reduzindo-se a concentração externa de potássio, podemos concluir, através da

fórmula abaixo, que o EK+ diminui “puxando” consigo o Em.

Es = [ ( - R x T ) / ( Zs x F ) ] x ln ( Csi / Cse )

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 148

Se CK+

e diminui, Csi / Cse aumenta e ln ( Csi / Cse ) aumenta. Como o termo [ ( - R x T ) /

Zs x F ] é negativo, o aumento em ln ( Csi / Cse ) faz com que EK+

fique mais negativo.

Em acompanha EK+, ou seja, fica mais negativo.

83. Observe os seguintes gráficos de potenciais de ação em diferentes células.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 149

Além de os canais iônicos presentes na membrana serem importantes para definir o

potencial de membrana de repouso, eles também determinam o perfil do potencial de

ação. As diferenças nos potenciais de ação entre as células, representadas acima, se

devem a diferenças qualitativas e quantitativas na composição proteica da membrana.

a) Uma das diferenças entre o potencial de ação das fibras de Purkinje e o de

células do nodo sinusal e neurônios é a existência de um platô após a despolarização

que impede a repolarização imediata. Sabendo que a abertura de canais de Ca+2 é

responsável pela formação do platô, qual deve ser a diferença entre a membrana das

células que apresentam platô e a de células que não apresentam?

b) Uma das proteínas de membrana presentes nos cardiomiócitos e que

desempenha função importante nessas células é o trocador Na+ - Ca2+. Obviamente, esse

transportador também está presente em outros tipos celulares, mas exerce função muito

especial nos cardiomiócitos comuns e fibras de Purkinje. Considerando a existência da

fase de platô no potencial de ação dessas células, que função especial poderia ser

atribuída ao trocador Na+ - Ca+2?

c) O transportador mencionado no item anterior (trocador Na+-Ca2+) realiza um

transporte ativo secundário energizado pelo gradiente eletroquímico do Na + através da

membrana. Sua peculiaridade é a possibilidade de funcionar em intensidades diferentes

e, até mesmo, em dois sentidos (tanto pode colocar Ca+2 para dentro da célula, como

pode remover esse íon do meio intracelular) dependendo das condições eletroquímicas

dos íons envolvidos no transporte. Intensidade e sentido do transporte podem ser

previstos por relações matemáticas: FD = Em – 3ENa + 2ECa. Se a força diretora para o

transporte (FD) é negativa, ocorre efluxo de Ca+2 e influxo de Na+; quando FD é

positiva, o transporte ocorre em sentido contrário. Quanto maior o módulo da força

diretora, maior o fluxo iônico.

Calcule a força diretora e indique o sentido do transporte Na+ - Ca+2 em cardiomiócitos

nas seguintes condições apresentadas.

1) Célula em repouso ([Ca2+] i = 0.2 M, Em = -80 mV);

2) Célula durante o platô (fase 2) do potencial de ação ([Ca2+]i = 0,8 M, Em = -10

mV).

Considere: [Na+]i = 8 mM, [Na+]e = 140 mM, [Ca2+]e = 1,5 mM, 37 oC.

Page 150: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 150

R: a) Existência de canais de Ca+2 que se abrem antes que repolarização significativa

ocorra.

b) Transporte do Ca+2 (que se acumulou durante a fase de platô) para o meio

extracelular normalizando a concentração intracelular desse íon.

c) 1) Célula em repouso ([Ca2+]i = 0.2 M, Em = -80 mV).

FD = Em – 3ENa + 2ECa

Calculando: ENa = [ 8,31 x 310 x ln ( 140 / 8 ) ] / ( + 1 x 96500 ) = 76,41 mV;

ECa = [ 8,31 x 310 x ln ( 1,5 / 0,2 x 10-3 ) ] / ( + 2 x 96500 ) =119,10mV ;

FD= -80 – ( 3 x 76,41 ) + ( 2 x 119,10 ) = -71,03mV.

O valor negativo encontrado nos indica que a bomba funciona no sentido de influxo de

sódio e efluxo de cálcio.

2) Célula durante o platô (fase 2) do potencial de ação ([Ca2+]i = 0,8 M, Em = -10

mV).

FD = Em – 3ENa + 2ECa

Calculando: ENa = [ 8,31 x 310 x ln ( 140 / 8 ) ] / ( + 1 x 96500 ) = 76,41 mV;

ECa = [ 8,31 x 310 x ln ( 1,5 / 0,8 x 10-3 ) ] / ( + 2 x 96500 ) = 100,59 mV;

FD= -10 – ( 3 x 76,41 ) + ( 2 x 100,59 ) = -38,05mV.

Mantém a direção de influxo de sódio e efluxo de cálcio, mas com menor intensidade,

pois o módulo da força diretora é menor.

84. Sabe-se que a ação de diversas substâncias (hormônios, fármacos,

neurotransmissores) envolve a interação com proteínas da membrana das células. A

fisiologia e farmacologia das crises convulsivas, cujo mecanismo está relacionado à

despolarização neuronal, é um bom exemplo de tais interações ao nível da membrana.

Page 151: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 151

a) O ácido gama-amino-butírico (GABA) é um neurotransmissor inibitório

(hiperpolariza células) que interage com canais de Cl - fazendo com que esses canais se

abram e permitindo o fluxo de eletrodifusão de Cl- através da membrana. Com base

nessas informações, compare os potenciais eletroquímicos do Cl - nos meios intracelular

(µCl-i) e extracelular (µCl

-e).

b) Os fármacos do grupo dos barbitúricos foram os primeiros fármacos utilizados

na terapêutica anticonvulsivante. Eles agem de forma análoga ao neurotransmissor

GABA, pois também interagem com os canais de Cl - promovendo a abertura desses

canais e o fluxo de eletrodifusão de íons Cl -. Represente (num gráfico potencial de

membrana em função do tempo) o potencial de membrana de repouso seguido de um

potencial de ação (PA) para ambas as situações: com e sem os fármacos mencionados.

Para fins comparativos, esboce ambas as curvas em um mesmo gráfico. Considere Em =

-80mV e ECl- = -90mV; Elimiar = -60mV.

c) Com base no gráfico esboçado na resposta do item anterior, justifique o efeito

anticonvulsivante dos barbitúricos.

R:. a) µCl-i < µCl

-e .

b)

Explicação para o PA com fármaco:

Page 152: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 152

Como os fármacos hiperpolarizam os neurônios, o Em na presença dos fármacos é

menor. Com maior permeabilidade da membrana ao Cl-, o potencial de membrana tende

a se aproximar do potencial de equilíbrio desse íon.

Se um potencial de ação é deflagrado, seu limite superior é o mesmo que o do potencial

de ação na ausência dos fármacos, pois o limite superior do PA é determinado pela

sensibilidade dos canais de Na+ e K+ à voltagem. Num mesmo tipo celular, os canais de

Na+ permanecem abertos até que um potencial limite os inativa; e os canais de K +

permanecem fechados até que um potencial limite os abre. Nesse potencial limite (pico

do PA), o potencial de membrana começa a diminuir devido à inativação dos canais de

Na+ e à abertura de canais de K+. O pico do PA depende apenas da natureza dos canais

de Na+ e K+.

A fase de repolarização ocorre normalmente, talvez até mais rapidamente, devido ao

fluxo de Cl- estimulado pelos fármacos.

Na fase de hiperpolarização, o potencial diminui devido à maior saída de K+ (normal

nessa fase) e à maior entrada de Cl- (decorrente da presença do fármaco). Quando o

potencial de membrana atinge o valor X, os canais de K+ se inativam,

independentemente da presença de fármaco. O que ocorre na presença de fármaco é

que, nesse momento, o potencial de membrana não volta a aumentar como ocorre na

ausência do fármaco. Devido aos canais de Cl- abertos pelo fármaco, o potencial de

membrana continua reduzindo até que atinge os novos valores de potencial de

membrana de repouso.

c) Esses fármacos, ao reduzirem o potencial de membrana de repouso (E mr), distanciam

Emr do valor limiar. Desta forma, um estímulo maior é necessário para deflagrar um PA.

A probabilidade de despolarizações neuronais ocorrerem “fora de hora” (convulsão) é

menor.

85. A maioria das células apresenta uma diferença de potencial elétrico através da

membrana mantida praticamente constante ao longo do tempo (potencial de membrana

de repouso). Nas células excitáveis, esse potencial de repouso possui magnitude

suficiente para permitir a ocorrência do potencial de ação, forma de comunicação entre

as células excitáveis.

Page 153: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 153

a) O que determina o valor do potencial de membrana de repouso?

b) Qual a diferença de uma resposta despolarizante local para potencial de ação?

c) A hipocalemia (redução dos níveis plasmáticos de potássio) pode ser causada

por ingestão deficiente e aumento da perda deste íon, como no hiperaldosterismo, fluxo

urinário aumentado, alcalose metabólica, dentre outros. Qual o seu efeito na

excitabilidade do neurônio?

R: a) Concentrações intra e extracelular dos íons que colaboram para a geração do

potencial de membrana e permeabilidade da membrana aos íons.

b) Na resposta despolarizante local, a despolarização desencadeada pelo estímulo não é

suficiente para variar o potencial de membrana até um valor limiar a partir do qual a

despolarização se auto-alimenta. Desta forma, a variação de potencial de membrana não

se propaga. Ao contrário, o potencial de ação resulta de um estímulo que altera o

potencial de membrana até (ou além de) um valor limiar a partir do qual a

despolarização se auto-alimenta; o potencial de ação se propaga.

c) O efeito é o de reduzir a excitabilidade do neurônio. Quando existe concentração de

K+ no plasma abaixo da normal, existe menor concentração de K+ no meio extracelular

e, desta forma, maior tendência desse íon em sair das células. Essa maior saída de K+

faz com que o potencial de membrana dos neurônios fique mais negativo. Tal redução

do potencial de membrana de repouso do neurônio torna mais difícil o início do

potencial de ação já que distancia o potencial de membrana do limiar.

86. Observe a figura:

Page 154: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 154

a) Considerando que o EK+ = - 80 mV e ENa

+ = + 40 mV, qual o íon mais permeável no

repouso? Justifique.

b) Ainda durante o repouso, qual íon tem maior tendência em se movimentar, o Na + ou

o K+? Justifique.

c) Que alterações ocorrem durante a despolarização e repolarização que permitem a

elevação e diminuição, respectivamente, do Em? Responda considerando o conceito de

condutância.

d) Por que existe hiperpolarização? Justifique, considerando, ainda, o conceito de

condutância.

e) Como Em volta, do ponto mais baixo do gráfico, ao nível correspondente ao repouso?

Responda indicando os fluxos responsáveis por essa volta.

f) Ocorre fluxo de K+ para fora da célula durante a despolarização? Justifique.

g) Ocorre fluxo de Na+ para dentro da célula durante a repolarização? Justifique.

R: a) O íon mais permeável no repouso é o K+. O Em se aproxima do potencial de

equilíbrio do íon mais permeável e Em é mais próximo de EK+ durante o repouso.

b) O Na+, pois este íon é o que está mais longe de seu equilíbrio (tem maior força

diretora), já que o potencial de membrana está muito longe de seu potencial de

equilíbrio.

c) - Despolarização: canais de Na+ dependentes de voltagem se abrem aumentando a

condutância da membrana a esse íon. Na+ entra na célula aumentando Em.

Page 155: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 155

- Repolarização: os canais de Na+ dependentes de voltagem são inativados e os de K+,

também dependentes de voltagem, se abrem aumentando a condutância da membrana ao

K+. Esse íon sai da célula e faz com que Em diminua.

d) A hiperpolarização acontece porque quantidade significativa de canais de K+

dependentes de voltagem só se fecha quando o potencial de membrana chega a níveis

bem baixos, abaixo dos níveis normais de repouso. Desta forma, a condutância ao K +

permanece alta e íons K+ continuam saindo até que Em chegue a um nível baixo tal

(ponto mais baixo do gráfico) que seja capaz de fechar os canais de K+ e interromper o

fluxo deste íon. A interrupção do fluxo do K+ interrompe a queda do Em.

e) Em volta aos níveis do repouso devido a fluxos passivos (de eletrodifusão) de íons

pelos canais permanentemente abertos. Esses fluxos são os mesmos que acontecem no

repouso e são os responsáveis pelo ajuste do Em.

f) Sim. Os canais de K+ permanentemente abertos permitem a saída de K+ durante todo

o potencial de ação. O que ocorre durante a despolarização é um fluxo predominante de

Na+ para dentro da célula.

g) Sim. Os canais de Na+ permanentemente abertos permitem a entrada de Na+ durante

todo o potencial de ação. O que ocorre durante a repolarização é um fluxo predominante

de K+ para fora da célula.

87. A bomba de sódio e potássio trabalha permanentemente, inclusive durante o

potencial de repouso.

a) Esta afirmação está correta? Explique.

b) Sabe-se que em algumas situações, como isquemia ou intoxicação por metais pesados

(chumbo e mercúrio), o funcionamento da bomba de sódio e potássio é comprometido.

Quais seriam as conseqüências da inibição da bomba sobre o potencial de repouso (PR)

e sobre o potencial de ação (PA)?

R: a) Sim. A bomba de sódio e potássio transfere, de forma ativa e em situações

normais, 3Na+ para fora da célula e 2K+ para dentro. Como existem fluxos passivos de

Page 156: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 156

eletrodifusão de Na+ para dentro da célula e de K+ para fora, o potencial da membrana

permanece constante, durante o repouso, mesmo com a ATPase Na/K ativa.

b) A contribuição da bomba de sódio e potássio para o potencial de membrana de

repouso (Em r) é pequena: muito pequena para algumas células e um pouco maior para

outras, mas sempre inferior à contribuição dos transportes passivos. Desta forma, a

inibição dessa bomba não altera muito o Em r. A pequena alteração é no sentido de

aumentar o Em r, ou seja, no sentido de torná-lo menos negativo já que algum fluxo

efetivo de carga positiva para fora da célula, que era realizado pela bomba, foi

interrompido.

Os fluxos iônicos que ocorrem durante o potencial de ação e que, efetivamente,

determinam a variação de potencial de membrana são todos passivos. A inibição da

bomba afeta apenas indiretamente o potencial de ação: como o po tencial de membrana

de repouso fica mais alto, estímulos menores podem desencadear potencial de ação.

88. Os anestésicos locais como a Lidocaína são fármacos que bloqueiam

reversivelmente a condução dos impulsos nervosos, entre eles, aqueles envolvidos co m

estímulos nociceptivos (dolorosos). Estes fármacos têm ampla aplicação na clínica

médica e odontológica, promovendo anestesia local com intensidade que, muitas vezes,

dispensa o uso de anestésicos gerais. Sabe-se que o mecanismo de ação dessas

substâncias envolve o bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem pela

ligação da molécula do fármaco a um sítio do canal que fica exposto ao citoplasma

apenas quando esse canal está aberto ou se abrindo.

a) Faça um gráfico de potencial de membrana (mV) em função do tempo (ms) e

represente um potencial de ação. Considere Em = -85mV; EK+ = -95mV; ENa

+ = +55mV.

b) No gráfico construído no item anterior, trace linhas verticais que separem as

principais etapas do potencial de ação. Nomeie as etapas e, para cada uma delas,

compare as condutâncias (g) da membrana aos íons Na+ e K+.

c) Indique a fase que contém canais de Na+ dependentes de voltagem

principalmente no estado aberto.

d) Em que fase pode-se esperar maior efeito do anestésico?

R: a)

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 157

b)

a → repouso: gNa+ < gK

+

b → despolarização: gNa+ > gK

+

c → repolarização: gNa+ < gK

+

d → hiperpolarização: gNa+ < gK

+

e → repouso: gNa+ < gK

+

c) Fase de despolarização.

d) Na fase de despolarização.

Page 158: BIOFISICA

Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 158

89. A respeito do potencial de ação, responda:

a) Quais são os 2 fatores principais que determinam a existência de uma corrente de

entrada de Na+ durante a fase de despolarização do potencial de ação?

b) No pico do potencial de ação, o potencial de membrana atinge valor igual, inferior,

ou superior ao potencial de equilíbrio do Na+? Comente a sua resposta justificando o

valor encontrado.

c) Por que, na fase de repolarização, o potencial de membrana tende a voltar para um

valor próximo do potencial de equilíbrio do K+?

d) Canais de K+ dependentes de voltagem são conhecidos como canais lentos de K+.

Isso se deve ao fato de eles serem sensíveis apenas a uma grande variação de potencial

de membrana (Em) e se abrirem com certo atraso em relação aos canais de Na+

dependentes de voltagem. Qual a importância dessa diferença de sensibilidade elétrica

entre os dois tipos de canais?

R: a) - Abertura de canais de Na+ voltagem dependentes aumentando a condutância da

membrana ao Na+;

- Gradiente de potencial eletroquímico ( μNa e > μNa i ).

b) Inferior. Porque, nesse momento, assim como durante toda a fase de despolarização,

embora a permeabilidade da membrana ao Na+ aumente muito, a membrana não se

torna totalmente permeável a esse íon.

c) Porque a permeabilidade da membrana ao K+ aumenta muito (abertura de canais de

K+ dependentes de voltagem). Além da abertura de canais de K+ dependentes de

voltagem, também são importantes para a aproximação entre Em e EK+ durante a

repolarização: fluxo de K+ através de “canais de vazamento” – canais de K+

permanentemente abertos – e redução da permeabilidade da membrana ao Na+ (devido à

inativação de canais de Na+ dependentes de voltagem).

d) Canais de Na+ se abrem no limiar, após pequena variação no Em.

Canais de K+ só se abrem no pico do potencial de ação, após grande variação no Em.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 159

A abertura de canais de K+ com certo atraso em relação à abertura de canais de Na+

permite a existência de fluxo resultante de carga positiva (Na+) para dentro da célula

durante a fase de despolarização. A abertura não simultânea decorrente da diferença de

sensibilidade elétrica dos canais possibilita a existência do potencial de ação.

Se os canais se abrissem ao mesmo tempo (mesma sensibilidade elétrica), a fase de

despolarização não existiria, pois o fluxo de cargas positivas (Na+) para dentro da célula

seria contrabalanceado pelo fluxo de cargas positivas (K+) para fora da célula.

90. As variações do potencial de membrana que ocorrem durante o potencial de ação

resultam de variações da condutância da membrana ao Na+ e ao K+. Essas variações da

condutância são resultado da abertura, do fechamento e da inativação de canais

dependentes de voltagem, específicos para cada tipo de íon, que existem na membrana

celular.

a) Cite os estados possíveis para os canais de Na+ dependentes de voltagem. Para cada

estado, descreva a situação em que estão as comportas de ativação e inativação (fechada

ou aberta).

b) Considere os seguintes valores para os potenciais de membrana:

Em = -85mV (estado de repouso)

+20mV (limiar) < Em < +50mV (pico do potencial de ação)

Em = +48mV (fase de repolarização)

Para cada valor de potencial de membrana apresentado, indique o estado mais provável

em que se encontram os canais de Na+.

c) Defina e caracterize os períodos refratários.

d) A propagação do potencial de ação ocorre apenas em um sentido. Por que isso

ocorre?

R: a) Canal de Na+ fechado → comporta de ativação fechada e comporta de inativação

aberta;

Canal de Na+ aberto → comportas de ativação e inativação abertas;

Canal de Na+ inativo → comporta de ativação aberta e comporta de inativação fechada.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 160

b)

o Em = -85mV (estado de repouso) → estado fechado.

o +20mV (limiar) < Em < +50mV (pico do potencial de ação) → estado aberto.

o Em = +48mV (fase de repolarização) → estado inativado.

c) No período refratário absoluto, a membrana se encontra absolutamente refratária a

estímulos; por mais fortes que os estímulos sejam não se consegue gerar um novo

potencial de ação. Isso ocorre porque, nesse período, uma fração considerável de canais

de Na+ encontra-se inativada por voltagem. Poucos canais de Na+ estão fechados e,

portanto, apenas esses poucos podem responder ao estímulo, mas não são suficientes

para deflagrar potencial de ação.

O período refratário relativo é um período em que a membrana pode responder a

estímulos fortes, mas ainda é refratária a estímulos normais. A causa é a existência de

alguns canais de Na+ inativados por voltagem. Apenas estímulos muito fortes podem

abrir quantidade suficiente de canais de Na+ que estavam fechados e deflagrar novo

potencial de ação.

d) Porque a membrana do local pelo qual o potencial de ação passou encontra-se em

período refratário.

91. Considere o sistema, separado por uma membrana semipermeável, onde as proteínas

(o grupo R-) e os íons sódio NÃO são difusíveis. As concentrações dos dois lados da

membrana, no equilíbrio, são as indicadas.

Compartimento A Compartimento B

145 mM Na +

30 mM R-

5 mM K +

X mM Cl -

15mM Na +

156 mM R-

YmM K +

Z mM Cl -

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 161

Sabendo que os íons cloreto e potássio são difusíveis, que os íons sódio e as proteínas

não são difusíveis e que este sistema pode atingir o Equilíbrio de Donnan, determine as

concentrações de cloreto e de potássio, em cada compartimento no equilíbrio.

R: Dois princípios devem ser obedecidos para a resolução deste exercício: princípio da

iso-osmolaridade para aqueles íons que podem atingir o equilíbrio entre os

compartimentos e princípio da neutralidade dentro de cada compartimento.

Considerações:

Quantidade de cargas = q.

= potencial eletroquímico.

s = o + R x T x ln Cs onde “s” é uma substância qualquer e C representa sua

concentração.

Aplicando o princípio da neutralidade ao compartimento A, obtemos X (concentração

de íons cloreto):

q+(A) = 145 + 5 = 150;

q-(A) = 30 + X.

Como, no equilíbrio, o compartimento A está neutro, q+ (A) = q-(A) 150 = 30 + X X

= 120 mM.

Para descobrir as demais concentrações, algumas observações devem ser feitas a

respeito da condição de equilíbrio entre os compartimentos:

No estado de equilíbrio, os potenciais eletroquímicos nos compartimentos A e B devem

ser iguais. Os potenciais eletroquímicos dos dois compartimentos são calculados

considerando-se apenas os íons que podem se difundir. Assim, temos:

(A) = K+

(A) + Cl-(A)

(B) = K+

(B) + Cl-(B)

o K+

(A) = oK+ + ( R x T x ln CK

+(A) )

o Cl-(A) = oCl

- + ( R x T x ln CCl-(A) )

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 162

o K+

(B) = oK+ + ( R x T x ln CK

+(B) )

o Cl-(B) = oCl

- + ( R x T x ln CCl-(B) )

Equilíbrio (A) = (B), então:

oK+ + ( R x T x ln CK

+(A) ) + oCl

- + ( R x T x ln CCl-(A) ) = oK

+ + ( R x T x ln CK+

(B) ) +

oCl- + ( R x T x ln CCl

-(B) )

Simplificando, temos:

( R x T x ln CK+

(A) ) + ( R x T x ln CCl-(A) ) = ( R x T x ln CK

+(B) ) + ( R x T x ln CCl

-(B) )

Colocando o termo “ R x T” em evidência, temos:

R x T x ( ln CK+

(A) + ln CCl-(A) ) = R x T x ( ln CK

+(B) + ln CCl

-(B) )

Simplificando, temos:

ln CK+

(A) + ln CCl-(A) = ln CK

+(B) + ln CCl

-(B)

Aplicando a propriedade de logarítimo, temos:

ln ( CK+

(A) x CCl-(A) ) = ln ( CK

+(B) x CCl

-(B) )

Simplificando, temos:

CK+

(A) x CCl-(A) = CK

+(B) x CCl

-(B) Esta é a expressão mais geral e conhecida do

equilíbrio de Donnan e será aplicada neste exercício para obtenção das concentrações

que ainda faltam:

CK+

(A) x CCl-(A) = CK

+(B) x CCl

-(B) 5 x 120 = Y x Z 600 = Y x Z Y = 600 / Z (1)

Aplicando o princípio da neutralidade, temos:

q+(B) = 15 + Y

q-(B) = 156 + Z

Sendo que q+(B) = q-(B) 15 + Y = 156 + Z (2)

Substituindo (1) em (2), temos:

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 163

15 + ( 600 / Z ) = 156 + Z ( 15 x Z ) + 600 = ( 156 x Z ) + Z2 Z2 + ( 141 x Z ) –

600 = 0 Z = 4,13 mM.

Substituindo o valor de Z na equação (2), obtemos o valor de Y:

15 + Y = 156 + 4,13 Y = 145,13 mM.

Compartimento A Compartimento B

145 mM Na +

30 mM R-

5 mM K +

120 mM Cl -

15mM Na +

156 mM R-

145,13 mM K +

4,13 mM Cl -

Enunciado 1 – A dor pode ser definida como uma sensação desagradável, criada

por um estímulo nocivo, e que atinge o sistema nervoso central por meio de vias

específicas. Estas vias são compostas de neurônios sensitivos que se comunicam através

das sinapses de modo a levar a informação dos nociceptores (“receptores da dor”) até o

centro de integração, onde ocorre de fato a percepção da dor, ou seja, onde o estímulo

doloroso torna-se uma sensação consciente.

92. A dor rápida, descrita como aguda e localizada, é transmitida rapidamente por fibras A-

δ (A-delta), que são fibras pequenas e mielinizadas. A dor lenta, descrita como difusa e

espalhada, é levada por fibras C que são pequenas e desmielinizadas.

Tipo de Fibra Nervosa Diâmetro (µm) Mielinização Velocidade de

Condução (m/s)

fibras A-δ 3 a 6 presente 15 a 35

fibras C 0,3 a 1,3 ausente 0,7 a 1,3

Explique a diferença de velocidade de condução entre as fibras segundo as

características apresentadas;

R: Quanto ao diâmetro:

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 164

Quanto maior o diâmetro do axônio, menor será a resistência oferecida pela

membrana à passagem da corrente despolarizante do Potencial de Ação. Assim, quanto

maior o diâmetro, maior a velocidade de condução.

Quanto à mielinização:

Embora os nódulos de Ranvier permitam uma condução saltatória e, por isso,

rápida, a corrente que chega ao nódulo implica em: despolarização de membrana,

abertura de canais de Na+, influxo de Na+ no axônio e reforço da despolarização que, se

por um lado evita o decaimento do sinal, mantendo a amplitude do Potencial de Ação,

por outro torna mais lento o fluxo da corrente. Assim, os nódulos são necessários, mas

quanto maior a extensão mielinizada, mais rápida será a condução.

Conclusão:

Como as fibras C têm menor diâmetro e não se apresentam envolvidas pela

bainha de mielina, elas conduzem o Potencial de Ação com menor velocidade que as

fibras A-δ (A-delta), que têm maior diâmetro e são mielinizadas.

93. Ao caminhar descalço pela praia na noite de Ano Novo, você pisa em um caco de vidro

bastante fino e pontiagudo, resto de uma garrafa de champagne. Primeiro, você sente

uma dor aguda (dor rápida), exatamente no local onde o vidro penetrou o pé, seguida de

uma dor latejante (dor lenta) persistente.

a) Com base no que foi dito sobre as fibras nervosas aferentes, por que primeiro se sente

a dor aguda e só depois é que vem a dor latejante?

b) Como um estímulo nocivo no pé pode ser percebido como dor no SNC, na cabeça,

distante 1,70 metros do local da lesão tão rapidamente? Explique isto através de uma

comparação entre potenciais graduados e potenciais de ação.

a) R: A dor aguda é sentida primeiro porque usa vias aferentes cujas fibras são do tipo

A-δ (A-delta), que são cerca de 30 vezes mais rápidas na condução do Potencial de

Ação do que as fibras C, que constituem as vias da dor latente.

b) Se o estímulo que partiu do pé alcançou o encéfalo e foi capaz de informar a lesão,

com consequente percepção da dor, é porque o estímulo foi forte o suficiente para

gerar um Potencial de Ação, ou seja, a penetração do caco de vidro gerou um

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 165

estímulo supralimiar, deflagrando o Potencial de Ação. Não se pode dizer que a dor

é resultado de potencial graduado, porque este, ao se propagar, perde a amplitude,

decaindo o sinal. O Potencial de Ação, ao contrário, é deflagrado por um estímulo

tal que gera uma amplitude suficientemente forte para vencer a resistência e se

propagar de modo constante. Isso acontece porque a corrente despolarizante do

Potencial de Ação é regenerada ao longo do axônio nos nódulos de Ranvier.

Transmissão de sinais à distância tão longa somente são possíveis pelas

propriedades do Potencial de Ação.

Enunciado 2 – Já conhecemos um pouco dos mecanismos neurofisiológicos que

levam à percepção da dor, mas vamos conhecer agora um pouco mais sobre uma droga

que impede essa sensação, mas sem deixar o paciente inconsciente: os anestésicos

locais. Este tipo de anestesia permite a realização de pequenos procedimentos

cirúrgicos, terapêuticos ou até diagnósticos que, sem o uso do anestésico local, seriam

inviabilizados pelo grande desconforto associado. Exemplos de sua aplicação são os

anestésicos usados pelos dentistas antes da extração do dente siso ou de uma obturação.

A anestesia local também precede desde procedimentos médicos mais corriqueiros

como as suturas, até outras menos comuns como as traqueostomias. Vejamos, então, um

pouco do mecanismo de ação desses anestésicos.

Os anestésicos locais agem reduzindo a permeabilidade ao sódio nas membranas

excitáveis, porque estes canais iônicos funcionam também como receptores para o

anestésico. Trata-se dos canais voltagem-dependentes que mudam de conformação

segundo variações no potencial de membrana. Quando os canais estão na conformação

“aberta” ou “inativada”, a ligação dos anestésicos locais aos canais de Na+ é favorecida.

94. Proponha um possível mecanismo de ação para os anestésicos locais que explique como

este fármaco evita a sensação da dor no local de aplicação.

R: Os anestésicos locais se ligam ao canal de sódio bloqueando o mesmo, disso resulta

que os canais se tornam “impermeáveis” ao sódio. Ainda que se produza um estímulo

supralimiar, não haverá o influxo de sódio necessário à despolarização súbita que

deflagra o potencial de ação, logo, este não ocorre. Desse modo, não haverá propagação

do impulso elétrico que informaria o estímulo doloroso.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 166

95. Como potenciais de ação e despolarizações repetidas podem favorecer a ligação do

anestésico ao canal?

R: O potencial de ação e as repetidas despolarizações levam à abertura dos canais de

sódio, configuração que favorece a ligação do anestésico ao canal, bloqueando-o. Do

próprio decurso do potencial de ação também resulta a inativação dos canais, outra

conformação que leva à ligação AL-canal Na+.

96. Uma das características dos anestésicos locais é o “bloqueio frequência-dependente” ou

“uso-dependente” que diz que quanto mais estimulado um nervo (ou outra membrana

excitável qualquer), maior será o efeito bloqueador de dor do anestésico. Explique.

R: Os canais de sódio se abrem e/ou se inativam, proporcionalmente à intensidade do

estímulo, de modo a facilitar a entrada do anestésico local que prefere estas

configurações. Assim, o bloqueio é mais intenso (profundo) à medida que a frequência

da estimulação aumenta. Quanto mais se estimula uma membrana, mais canais de Na+

serão abertos, logo, mais anestésicos locais penetrarão nestes canais, impedindo sua

reabertura numa próxima estimulação. Em outras palavras, é preciso expor o tecido ao

estímulo doloroso para que o anestésico funcione nesse local.

97. Qual o impacto do uso dos anestésicos locais sobre a excitação das terminações

nervosas?

R: Como a cada despolarização/excitação da membrana menos canais estão

“disponíveis” para o influxo de Na+, há redução da excitabilidade das terminações

nervosas.

Enunciado 3 – Já dissemos que os anestésicos locais reduzem a permeabilidade

ao sódio por bloquearem os canais voltagem-dependentes deste íon na membrana.

Contudo, o que ainda não dissemos é que estes canais são receptores intracelulares para

os anestésicos locais e que quem efetivamente se liga ao canal é a forma catiônica do

anestésico. Considerando estas informações e que os anestésicos locais são bases fracas

que têm valores de pKa geralmente acima do pH fisiológico, responda:

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 167

98. Que percentual da tetracaína (anestésico local de pK = 8,5) está sob a forma molecular

no pH fisiológico (pH = 7,4)?

R: Em pH = 7,4, um total de 94% da tetracaína está na forma não ionizada.

pH = pK + log(A/D) A + D = 100%

10(pH-pK) = A/D 0,08D + D = 100%

10(7,4 - 8,5) = A/D 1,08D = 100%

A = 0,08D D = 93%

99. O percentual calculado no item anterior favorece a ação do anestésico local? Responda

considerando o transporte através de membranas.

R: Sim, como o AL precisa atingir seu receptor intracelular (que nada mais é que a

porção intracelular do canal de Na+), primeiro é ele difundir do local de aplicação para o

interior do neurônio, através da membrana. Logo, se prevalecer a forma molecular, a

difusão será favorecida, já que a forma não-ionizada, a molecular, é mais lipossolúvel.

100. Mas, como foi dito no enunciado, a forma que interage com essa porção

intracelular do canal é a forma catiônica (ionizada). Explique como isso se dá se a forma

molecular é a que difunde para dentro da célula.

Dados: pka tetracaína = 8,5; pHfisiológico = 7,4; pHintracelu lar = 6,9.

1. R: Quanto mais ácido o meio, mais a reação de dissociação da base (BOH ↔ B+ +

OH-) se desloca para a direita, no sentido de liberar hidroxilas. Assim, como do LEC

para o LIC há redução do pH, (pois o ambiente intracelular é mais ácido que o

extra), o anestésico na forma molecular que difundiu para dentro da célula, neste

ambiente, se ioniza, liberando a forma catiônica que se liga ao canal de Na+.

pKb > pH → B+ > BOH

pKb = pH → B+ = BOH

pKb < pH → B+ < BOH

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 168

BOH

BOH BOH

B+

B+

BOH → B+

BOH pH=6,9

BOH B+

pH=7,4

Já vimos que no pH de 7,4 a tetracaína está 93% na forma molecular, que é mais

lipossolúvel e por isso difunde melhor. Ao chegar ao meio intracelular, o pH é mais

ácido e o anestésico se ioniza, liberando forma catiônica (B+) que pode se ligar ao canal

de sódio (Na+).

101. Valium® e Lexotam® são exemplos de benzodiazepínicos conhecidos

comercialmente. Trata-se de um grupo de fármacos depressores do Sistema Nervoso

Central com efeitos ansiolítico e miorrelaxante, dentre outros. Hoje se sabe que essa

classe de medicamentos atua reforçando a ação de um neurotransmissor chamado

GABA (ácido gama-aminobutírico). O GABA se liga ao seu receptor na membrana pós-

sináptica e muda a conformação deste de modo a abrir canal seletivo a íons cloreto. Os

benzodiazepínicos são chamados comumente de tranquilizantes, sedativos, e são

indicados alívio sintomático da ansiedade, agitação e tensão nervosa. Dito isto,

pergunta-se:

a) Qual o tipo de sinapse envolvida na questão?

b) Sobre o GABA, como se classifica o seu receptor?

c) Qual parece ser o efeito pós-sináptico do neurotransmissor GABA neste caso?

d) Por que o uso dos benzodiazepínicos leva aos efeitos descritos?

R:

a) Sinapse química, pois fala de neurotransmissor, receptor de membrana;

b) Como se trata de um receptor de membrana que atua como um canal para íon

segundo a ativação por um ligante, o receptor é do tipo ionotrópico;

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c) Considerando efeitos farmacológicos e que o canal é seletivo ao Cl -, o efeito pós-

sináptico é inibitório;

d) Como os benzodiazepínicos aumentam a ação do GABA e este leva à abertura de

canais de cloreto, o uso do medicamento leva a maior influxo de Cl - na célula pós-

sináptica. Isso hiperpolariza o neurônio, tornando mais difícil o desenvolvimento do

potencial de ação. Assim, embora exista o estímulo ansiogênico (como vôo de

avião), os sintomas não aparecerão, pois o efeito inibitório do medicamento evita o

processamento de uma resposta pelo SNC.

102. A Síndrome de Gordon (também denominada pseudo-hipoaldosteronismo do

tipo II) é uma tubulopatia hereditária autossômica dominante rara, diagnosticada

geralmente na infância ou na adolescência. Essa síndrome caracteriza-se pela

reabsorção excessiva de cloreto pelo túbulo renal distal reto (hipótese do “shunt” de

cloreto), o que resulta na redução do potencial negativo luminal do túbulo renal, e

promove o aumento da reabsorção de sódio e hipervolemia. Dessa forma, os pacientes

apresentarem hipertensão arterial sistêmica e supressão da produção de renina e

aldosterona. A diminuição dos níveis séricos de aldosterona causa redução da excreção

de íons H+ e K+, e conseqüentemente acidose metabólica e hiperpotassemia. O

tratamento consiste na restrição da ingestão de sal e no uso de diuréticos como a

furosemida. Explique por que.

R: A furosemida é antipertensivo, da classe de fármacos dos diuréticos de alça e atua

sobre o ramo ascendente espesso da alça de Henle inibindo o transportador Na+/K+/2Cl-

o que aumenta a excreção de água e íons. No pH fisiológico, esses fármacos são ânions

que se prendem ao sítio de fixação do Cl-, impedindo-o de ciclar e com isso aumentam a

oferta de sódio nos túbulos renais, resultando na maior eliminação de água por gradiente

osmótico. Por cauda da medicação também ocorre o aumento da eliminação de Ca+2 e

Mg+2 (pois o co-transportador Na+/K+/2Cl- é responsável por gerar uma carga positiva

no lúmen do túbulos renais o que favorece a reabsorção desse íons). A dieta com

redução da ingestão de sal tem como objetivo reduzir as concentrações plasmáticas de

sódio e dessa forma reduzir o volume de sangue circulante o que auxiliará no controle

da pressão arterial.

103. Um pescador faleceu com a suspeita de intoxicação após ingestão de um peixe

conhecido como Baiacu. Após análises clínicas de exame de sangue, confirmou-se a

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 170

suspeita pela detecção da presença de tetrodotoxina (TTX) – toxina produzida nas

gônadas e outros tecidos viscerais de alguns peixes da classe dos Tetraodontiformes.

Sabendo-se que a intoxicação pela TTX provoca paralisia da vítima, qual será o

mecanismo de ação dessa toxina que o levou à morte?

R: A tetrodotoxina é uma neurotoxina que atua bloqueando os canais de sódio

voltagem-dependentes, impedindo a despolarização e a propagação do potencial de ação

nas células nervosas. Esta ação ocorre nos nervos periféricos motores, sensoriais e

autonômicos, tendo ainda ação depressora no centro respiratório e vasomotor do tronco

encefálico. Dessa forma a provável causa de morte é devido à paralisia muscular, que

leva à depressão respiratória e falência circulatória, além de bradicardia severa.

104. A toxina botulínica é produzida pela bactéria Clostridium botulinum e foi

inicialmente estudada em alimentos contaminados. Ao ser ingerida, essa toxina induz

efeitos graves, especialmente musculares, produzindo fraqueza e paralisia, podendo até

mesmo ser fatal. Hoje a toxina botulínica tem aplicações clínicas devido a suas

propriedades. Primeiramente, foi utilizada no tratamento de estrabismo; nos anos 80, na

terapêutica de distúrbios musculares, como blefarospasmo, e outras distonias focais. Na

última década, tem-se usado toxina botulínica tipo A e B como relaxante muscular, em

terapêutica de distúrbios musculares e de produção de secreções, assim como se tem

revelado muito popular em aplicações estéticas, (eliminação de rugas e imperfeições),

sendo mais conhecida como BOTOX®. Como ela exerce esse efeito de relaxante

muscular?

R: A toxina botulínica atua degradando uma proteína presente na vesícula que carrega o

neutransmissor. Essa proteína, a sinaptobrevina, é responsável por promover a fusão da

membrana da vesícula sináptica dentro do neurônio com a membrana sináptica. Em

suma, essa toxina impede a liberação do neurotransmissor na fenda sináptica e assim

interrompe a transmissão de impulsos nervosos na placa motora promovendo o

relaxamento muscular.

105. Xylestesin é o nome comercial de um fármaco usado como anestésico local, cuja

composição química consiste em Cloridrato de Lidocaína, e o vasoconstritor, epinefrina.

A lidocaína estabiliza a membrana neuronal por inibição dos fluxos iônicos necessários

para o início e para a condução dos impulsos, efetuando deste modo a sua ação de

anestésico. Com qual objetivo é adicionado um vasoconstritor à formulação?

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R: O efeito de vasoconstritores, como a epinefrina, promove um tempo de ação mais

prolongado dos anestésicos locais, pois reduz a sua eliminação. Além disso, evita que o

que anestésico atinja a circulação sanguínea em concentrações elevadas diminuindo o

risco de toxicidade sistêmica. Outra fato importante é que o vasoconstritor permite a

utilização de menores concentrações do anestésico para produzir o bloqueio da

condução nervosa e também ajudam a diminuir a hemorragia local. Por outro lado,

podem causar estimulação do coração e irritabilidade, ou isquemia local principalmente

em extremidades corpóreas onde o fluxo sanguíneo já é diminuído.

106. As sulfonilureias pertencem a uma classe de fármacos muito utilizada no

tratamento de Diabetes Tipo II. Essas drogas exercem seus efeitos ao se ligarem e

bloquearem canais para potássio. Como esse bloqueio pode levar a uma resposta

hipoglicêmica?

R: As sulfonilureias possuem ação hipoglicemiante ao facilitar a liberação de insulina

pelas células beta do pâncreas. Esses fármacos são capazes de se ligarem aos canais de

K+ sensíveis a ATP nas células beta-pancreáticas, bloqueando esses canais. Com isso,

ocorre a despolarização da membrana e consequente influxo de Ca2+ pelos canais de

Ca2+ sensíveis a voltagem. O aumento da concentração intracelular de Ca2+, por sua vez,

promove a exocitose de vesículas contendo insulina, um hormônio hipoglicemiante.

107. Um jovem de 18 anos foi ao consultório médico queixando-se de fraqueza

muscular todas as manhãs ao realizar esforços físicos leves como subir escadas ou

pequenas caminhadas. Relatou também apresentar sonolência e desmaios esporádicos.

O médico iniciou o tratamento com o fármaco piridostigmina, contudo não houve

melhoras no quadro clínico. O médico indicou, então, uma nova abordagem baseado na

dieta alimentar e indicou que o paciente procurasse um nutricionista. Dessa vez então, o

tratamento foi eficaz. Explique a função da piridostigmina e porque não houve melhora

no quadro. Qual exame laboratorial deveria ter sido feito para diagnosticar a suspeita

inicial?

R: A suspeita inicial do médico era que o paciente era portador de uma doença

autoimune, a miastenia gravis, que possui sintomas como debilidade muscular

generalizada que piora com o uso da musculatura afetada e melhora com o repouso. Na

miastenia gravis, são produzidos anticorpos contra os receptores para acetilcolina, nas

placas motoras dos músculos esqueléticos. O bloqueio dos receptores impede a

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 172

despolarização das fibras musculares, conseqüentemente, não haverá contração e

mobilidade. O diagnóstico é feito pela administração de fármacos que aumentam o

tempo da acetilcolina na fenda sináptica como a piridostimina (um fármaco que

bloqueia a ação da acetilcolinesterase) acompanhado da melhora do quadro clínico.

Outras provas de diagnóstico consistem em medir a função dos nervos e dos músculos

através de um eletromiograma, ou fazer análise sanguínea para detectar anticorpos para

a acetilcolina. No caso em questão, como não houve melhora clínica com a

administração do fármaco, o médico suspeitou então de um quadro de hipoglicemia que

foi confirmado quando se observou a melhora do paciente ao aderir uma dieta adequada.

108. Um paciente chega ao PA queixando-se de dificuldades na mastigação

acompanhada de rigidez muscular na região cervical. O exame clínico do paciente

constatou a presença de uma ferida com secreção purulenta, que teve amostras

recolhidas para análise laboratorial. Foi então, confirmada a contaminação pelo bacilo

Clostridium tetani. Como o bacilo atua para gerar os sintomas apresentados? Qual a

terapêutica?

R: O bacilo, após colonizar a ferida e encontrar ambiente favorável, com baixa pressão

de oxigênio, libera a sua toxina tetanospasmina. . Esta é uma neurotoxina e todas as

manifestações conhecidas do tétano resultam da capacidade da tetanospasmina de inibir

a liberação de neurotransmissores, na fenda sináptica, em neurônios inibitórios,

desregulando, assim, a inibição de neurônios excitatórios. O sistema motor responde ao

estímulo aferente, resultante dos impulsos excitatórios, não controlados por mecanismos

inibitórios, com contração intensa, simultânea e sustentada dos músculos agonistas e

antagonistas (espasmo tetânico), havendo uma paralisia espasmódica generalizada,

característica do tétano. Como tratamento é administrado antídoto, um anticorpo que se

liga à toxina e inibe a sua função. São também administrados fármacos relaxantes

musculares, como curare. A penicilina e o metronidazol eliminam as bactérias, mas não

têm efeito no agente tóxico que elas produzem. Os depressores do sistema nervoso

central como o Diazepam e a vacina DTP também são dados, reduzindo a ansiedade e

resposta espásmica aos estímulos.

109. O androsterona é um hormônio responsável pelo aumento da excreção de

potássio para o filtrado urinário. Um indivíduo que possui hipoaldosteronismo apresenta

fraqueza muscular. O exame de sangue demonstrou concentrações séricas de potássio

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elevadas. Explique qual seria a relação entre o quadro clínico de fraqueza muscular e o

resultado do exame de sangue.

R: A repolarização durante o potencial de ação ocorre devido a corrente de efluxo de

K+. Quando a concentração extracelular de K+ está aumentada, conforme indicado no

exame, o gradiente de concentração fica comprometido, o que dificulta a saída K+ da

célula e diminui a velocidade de repolarização durante o potencial de ação. Dessa

forma, haverá um quadro de fraqueza muscular.

110. Uma mulher, 55 anos, em acidose diabética, é tratada com insulina. Essa

substância interfere no transporte de K+ gerando uma diminuição desse íon no plasma

sanguíneo. a) Essa hipopotassemia pode causar fraqueza muscular. Explique.

b) E como um enfermeiro pode atuar a fim de diminuir os efeitos da fraqueza muscular?

R:

a) A hipopotassemia (ou hipocalemia) promove a fraqueza muscular por hiperpolarizar

as células, deixando o potencial de membrana ainda mais distante do limiar para o

potencial de ação. Hiperpolarizada, a célula se torna menos excitável, explicando a

fraqueza muscular. Tal hiperpolarização se deve ao aumento do gradiente de

concentração do potássio entre os meios intra e extracelular, em função da redução

na [K+]extracelular que caracteriza a hipocalemia.

b) O enfermeiro terá um importante papel checando a dieta do paciente, sempre se

certificando de que ele receberá uma quantidade maior de K+ em sua alimentação.

Além disso, pode recomendar exercícios diários ao paciente visando um

fortalecimento muscular. Outra conduta possível seria comunicar ao médico a

evolução do quadro e se possível sugerir uma diminuição nas quantidades de

insulina.

111. A fibrose cística é uma doença genética que altera proteína CFTR (regulador de

condutância transmembranar de fibrose cística). E tal como a proteína, o próprio canal

de Cl- vai sofrer uma mutação da qual vai resultar um transporte anormal de íons Cl -

através dos ductos das células sudoríparas e da superfície epitelial das células da

mucosa. Vai ocorrer, então, uma alteração no transporte dos íons Cl - através das

glândulas exócrinas apicais, resultando dessa anormalidade, uma permeabilidade

diminuída ao Cl-, fazendo com que o muco da fibrose cística fique cerca de 30 a 60

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vezes mais viscoso. A água por sua vez, como vai seguir o movimento do sódio de volta

ao interior da célula, vai provocar um ressecamento do fluído extracelular que se

encontra no interior do ducto da glândula exócrina. Como um enfermeiro pode auxiliar

um paciente com essa patologia durante seu tratamento?

R: O enfermeiro pode auxiliar de modo a recomendar a reidratação e a reposição de

sódio, especialmente nos dias de calor. Além disso, outras medidas:

Uso de drogas moduladoras do transporte iônico: Amiloride – um diurético que,

utilizado por via inalatória, bloqueia a reabsorção de sódio, aumentando sua

concentração e, consequentemente, a de água na secreção brônquica, diminuindo a

sua viscosidade;

Boa nutrição do paciente, por meio de dieta rica em calorias sem restrição de

gorduras;

Suplementação de enzimas pancreáticas para auxiliar a digestão;

Reposição das vitaminas lipossolúveis A, D, E, K;

Inalações diárias com soro fisiológico, broncodilatadores ou mucolíticos,

conforme as características da secreção.

112. A lidocaína injetável é um anestésico local parenteral (anestésico tipo amida;

cloridrato de lidocaína). Com base nos conhecimentos biofísicos acerca de canais de

membrana (sobretudo os canais de Na+) explique o mecanismo de ação desse

anestésico.

R: O anestésico age bloqueando o impulso nervoso (a iniciação e a condução do

impulso). O anestésico local diminui a permeabilidade da membrana neuronal aos íons

sódio; a membrana fica estabilizada, pois impede a despolarização, inibindo assim, a

propagação do impulso nervoso.

113. Um paciente é encaminhado à unidade de pronto atendimento queixando-se de

fraqueza, falta de ar e tontura. Ao se verificar a frequência cardíaca, foi diagnosticada

uma bradicardia. Baseando-se nos seus conhecimentos sobre biofísica, a enfermeira

relatou ao médico a necessidade de se administrar um fármaco que elevasse a

condutância da membrana aos íons cálcio. Por que ela concluiu isso?

R: A redução da frequência cardíaca abaixo de valores fisiológicos é chamada de

bradicardia. A entrada íons cálcio na célula é fundamental para que ocorra a contração

cardíaca. Essa entrada ocorre por meio da abertura dos chamados canais lentos de

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cálcio. Assim, a administração do fármaco fará com que ocorra aumento da entrada de

íons cálcio, gerando aumento da frequência cardíaca e da forca de contração.

114. M.C.B. chegou ao hospital apresentando um ferimento profundo no braço

direito. Devido à necessidade de se realizar uma sutura, o médico solicitou à enfermeira

a administração do anestésico local procaína no paciente. Qual o mecanismo de ação

dos anestésicos locais, como a procaína?

R: Os anestésicos locais bloqueiam os canais de sódio. Dessa forma, se impede a

condução do potencial de ação pelo axônio neuronal, deixando a área anestesiada.

115. A Miastenia grave é uma doença de cunho imunológico caracterizada pela

destruição de grande parte os receptores de acetilcolina presentes na placa motora da

musculatura esquelética. Isso causa uma fraqueza muscular e fadiga profunda nos

portadores dessa doença. Mas, quando se administra um inibidor da acetilcolinesterase

em um afetado, o paciente melhora quase que magicamente dos sintomas. Por que isso

ocorre?

R: O inibidor de acetilcolinesterase reduz a taxa de degradação da ACh na placa motora.

Dessa forma, ocorre um aumento da concentração de ACH, o que compensa a pequena

quantidade de receptores presentes na placa motora.

116. Houve nos anos 90, grande interesse mundial pela irradiação de alimentos tanto

pelo público como pela indústria alimentícia, sendo hoje uma prática adotada em

diversos países ao redor do mundo, incluindo o Brasil.

a) Existem riscos associados à utilização de alimentos irradiados pelo consumidor?

Justifique.

b) Qual tipo de radiação deve ser usado para a irradiação de alimentos?

c) Exemplifique alguns dos benefícios de tal procedimento?

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 176

R: a) Ainda não foram encontrados riscos associados à irradiação de alimentos. O

processo realizado não torna o alimento uma fonte de radiação e pouco altera suas

propriedades nutricionais, não acarretando danos à saúde do consumidor.

b) Devem ser utilizadas radiações ionizantes, como raios γ, raios X ou feixes de

elétrons. Isso se deve ao fato de que a ionização induz a formação de íons capazes de

interromper algumas reações biológicas que levam ao apodrecimento dos alimentos,

como mudanças conformacionais em enzimas, além de promover a morte de bactérias e

fungos.

c) Além da eliminação de microorganismo que contribuem no processo de

apodrecimento dos alimentos, a irradiação desses aumenta o tempo de armazenamento e

reduz o uso de substâncias químicas que deixam resíduos nos alimentos.

117. Elementos radioativos podem emitir tanto matéria como energia. Identifique as

possíveis emissões e também as características necessárias para que ocorra cada uma

destas emissões.

R: Elementos instáveis podem emitir espontaneamente partículas ou energia a partir do

núcleo.

Elementos que apresentam excesso de energia (ex: Ra226 e Po214) emitem partículas ,

de massa atômica 4 e carga elétrica +2. É altamente ionizante, além de apresentar

mínima penetração.

Já os elementos que apresentam excesso de nêutrons (ex: C14) podem emitir partículas

-, que apresentam mesma massa e carga do e-. São menos ionizantes do que as

partículas , e apresentam maior poder de penetração.

Elementos que apresentam excesso de prótons (ex: C11) podem sofrer transformação por

emissão de partículas +, cuja massa é idêntica ao e-, porém de carga positiva. Sua

existência é extremamente curta (10-9seg), ocorrendo logo após sua emissão o processo

de aniquilamento.

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Por fim, elementos que apresentam excesso de energia no núcleo (ex: todos os

elementos metaestáveis) podem emitir fótons , altamente penetrantes, porém com

pouco efeito ionizante.

118. Os raios-X podem ser utilizados em diagnóstico, a partir das imagens formadas

quando a energia incide sobre a matéria. A qualidade da imagem formada depende da

absorção da energia associada aos raios-X.

a) Diferencie a qualidade da imagem formada quando esta incide sobre tecido ósseo

daquele visceral.

b) Classifique os raios-X moles e raios-X duros e relacione com seus respectivos

comprimentos de onda, energia, poder de penetração e indicações de uso para se

radiografarem ossos e tecidos moles.

c) Quais as medidas tomadas para evitar os efeitos nocivos da exposição aos raios-X

tanto em pacientes quanto em profissionais responsáveis pela manipulação da

aparelhagem radiográfica.

R: a) O uso de radiações X e também γ para exame de sistemas biológicos se baseia na

absorção diferencial dos tecidos: A absorção da radiação aumenta com o aumento da

densidade estrutural dos tecidos. Assim, ossos e cartilagens absorvem mais radiação do

que músculos, tecido adiposo, vísceras, e dão uma sombra na imagem. Na chapa

negativa, eles aparecem mais claros, porque absorvem mais radiação. A pequena

absorção observada no parênquima pulmonar se deve à presença de ar.

b) Raios-X moles: apresentam maior λ, menor energia, menor poder de penetração,

usados para tecidos moles;

Raios x duros: apresentam menor λ, maior energia, maior poder de penetração, usados

para tecidos duros.

c) As diversas formas de proteção utilizam um ou mais desses três princípios:

Afastamento máximo entre a fonte e qualquer trabalhador no local de exames,

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minimização da quantidade de radiação emergente e tempo de exposição à fonte. O uso

de blindagem tornou-se bastante comum.

119. Diferentes tecidos apresentam diferentes sensibilidades à exposição por radiação,

de acordo com suas propriedades.

a) Determine os fatores responsáveis por esta sensibilização diferenciada e

exemplifique 2 tecidos mais afetados.

b) Como os componentes dos tecidos podem ser alterados pelas radiações, e quais os

seus efeitos?

c) A exposição à radiação é dependente, dentre outros fatores, da dose e do sexo.

Descreva como esses dois fatores podem influenciar na determinação de esterilidade

nos indivíduos expostos.

R: a) A sensibilidade dos tecidos é determinada por:

1- Maior quantidade de água;

2- Maior concentração de DNA;

3- Taxa elevada de reprodução;

4- Baixo grau de diferenciação.

Estão entre os tecidos mais sensíveis estão os tecidos neoplásicos, assim como

hematopoiético, tecidos das linhagens germinativas e pele.

b) Pode haver uma ação indireta pela formação de radicais livres a partir da água

(OH*, H*), que são altamente reativos, podendo lesar diversas moléculas fundamentais

à célula. Além disso, existem os efeitos diretos sobre o DNA (como mutação, quebra de

uma das fitas, formação de dímeros da mesma fita e pareamento inadequado),

adicionados à inativação de enzimas e mudanças conformacionais em componentes de

membrana.

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c) A mulher pode sofrer redução da fertilidade após exposição à radiação, já que os

ovócitos não são capazes de se multiplicar por mitose, a fim de recompor a população

perdida devido à exposição à radiação. Processo que por sua vez ocorre no homem,

onde células primordiais da linhagem germinativa são capazes de gerar novas

espermatogônias. Entretanto, devido ao maior índice de replicação das células da

linhagem germinativa no homem (células em divisão são mais susceptíveis a danos no

DNA), ele poderá ficar completamente estéril quando exposto a uma dose menor de

radiação, em comparação a dose necessária para causar o mesmo efeito na mulher.

120. O efeito Compton pode interferir na formação da imagem provocando absorção

diferenciada entre as partes dos tecidos, além de aumentar a exposição do

profissional que realiza exames de radiografias. Explique como este efeito ocorre e

sua influência na formação de radioimagens.

R: O efeito Compton ocorre naqueles casos onde a energia da radiação, como a dos

raios-X, é superior àquela necessária para ejetar um elétron das camadas mais externas,

sendo o excesso de energia desviado na forma de um fóton de menor energia. Tal efeito

é prejudicial à formação de radioimagens, visto que esse desvio de energia acaba

expondo diferentes áreas dos tecidos a diferentes quantidades de energia, tornando

sobrepostas as interfaces entre eles, além de aumentar a exposição do profissional

responsável pela realização de exames como na radioscopia.

121. Nos exames de radiografia, a incidência de raios-X nos tecidos pode gerar outras

formas de energias secundárias. Explicite quais formas de energias são essas e seus

efeitos nas chapas de radioimagens e também nos tecidos.

R: Podem ser produzidos raios X secundários devido a seu choque contra os sistemas

biológicos, que ao se espalharem prejudicam a imagem. Além disso, elétrons do

material irradiado podem absorver energia e saltar para orbitais mais externos. Na volta,

a energia é devolvida como luz visível ou UV, que é excitante dos tecidos.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 180

122. Os elementos radiativos têm muitas aplicações. A seguir, estão exemplificadas

algumas delas.

I. O iodo é utilizado no diagnóstico de alterações da glândula tireóide, e pode ser obtido

pela seguinte reação:

II. O 11C pode ser utilizado para avaliação da atividade cerebral, assim como da

presença de diversos tumores e suas metástases. Seu decaimento é:

III. O fósforo é utilizado na agricultura como elemento traçador (radionuclídeo cujo

caminho dentro de um sistema biológico pode ser monitorado) para proporcionar a

melhoria na produção do milho, e pode ser obtido pela reação:

Sua reação de decaimento é:

IV. O radionuclídeo Tecnécio preenche quase todas as características de um

radioisótopo para uso diagnóstico, sendo usado na varredura de rins, fígado, cérebro,

bexiga e pulmões. Seu tempo de meia-vida é de 6 horas, e seu decaimento é

representado abaixo:

Quais são as partículas de a, b, c, d e e nas afirmativas I, II, III e IV ?

R: c = b= β+ a = d = β-1 e=

123. Estudos mostram que a administração por via intravenosa , como terapia

adjuvante à retirada cirúrgica de adenocarcinoma de pulmão estádio III e carcinoma

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 181

epidermóide de pulmão, aumenta a taxa de sobrevida (em 5 anos) dos paciente em 36

e 30% , respectivamente, quando comparado com o tratamento cirúrgico. Se 100mCi

de radioisótopo são injetados em um paciente no pós-operatório da ressecção

de um desses tumores, quanto do isótopo permanece ativo após 2 semanas se :

a) Nenhuma quantidade é eliminada do corpo por meio biológico?(T1/2= 2,7 dias)

b) Assumirmos que é de 5 dias?

R: a) = λ= = 0,255 dias-1

N= N0.e-λt N= 100 . e-0,255.(14)

N= 2,815mCi

b) = λbio = = 0,138 dias-1

= = 0,138 + 0,255 = 0,393 dias-1

N= N0. N= 100 . e-0,393.(14) =

N = 0,4 mCi

124. O fósforo radioativo tem como algumas de suas aplicações a detecção de tumores

oculares, câncer de pele ou tumores pós-cirúrgicos. Uma amostra de 32P chegou ao

laboratório 12 dias depois de sua preparação. A atividade inicial era de 10 mCi.

a) Qual a atividade atual em KBq?

b) Qual a quantidade inicial de 32P, em gramas?

R: a) T1/2fis (32P) = 14,3 dias

ln

log A=5,6x103 Ci . 3,7x1010=

A=2,072x108kBq

b) 14,3 dias = 343,2 horas = 20.592 min

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 182

10mCi = 2,2.1010dpm (vide atividade radioativa no texto)

= 592.20

693,0 = 3,36.10-5 min-1

A0 = . N0 N0= 2,2.1010/3,36.10-5 = 0,654.1015 átomos

1 mol ----- 6,02 x 1023 átomos X = 0,108.10-8 mol

X ----- 0,654.1015 átomos

1 mol ---------------- 32 g

0,108.10-8 mol----- X

X= 3,5 x 10-8 g

125. Um paciente recebeu uma dose de 131I e, ao fim de 10 dias, a atividade residual na

tireóide era de 12%. Calcule a meia-vida biológica do iodo na tireóide.

R: T1/2fis (131I) = 8,3 dias.

= 0,083 dias-1

ln (0,12) = . 10 = 0,21

λbio=0,21 – 0,083= 0,127 dias-1

126. O sódio radioativo 24

Na que tem uma meia-vida de 15 horas é enviado de um

laboratório para um hospital, gastando no percurso 2 horas. Sabendo-se que sua

atividade deve ser de 20 mCi ao chegar ao hospital, calcule a atividade da fonte na saída

do laboratório.

R: T1/2 = 15 h t = 2 h A = 20 mCi A0

= ?

A = A0 e

-λt

⇒ 20 = A0 e

-λ .2

λ = 0,693/15 = 0,0462 h-1

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 183

20= A0.e-0,0462.2

A0 = 20 / e

-0,1386

= 20 / 0,91 =

A0 = 21,98 mCi

127. Em 2004, foi noticiado um estudo americano, que, por meio de datação de 14C,

afirmava que um assentamento indígena na Carolina do Sul, EUA, era anterior há até

então aceita teoria de que a ocupação das Américas pelo ser humano começou há 13 mil

anos.

Suponha que tais pesquisadores encontraram restos de carvão, cuja análise revelava uma

atividade de 3,6x10-2 desintegrações/min/g. Quantos anos teriam as amostras coletadas,

levando-se em conta que toda madeira viva tem uma atividade de 15,3

desintegrações/min/g e que o tempo de meia-vida do carbono 14 é de 5600 anos?

R: λ = 0,693/ T1/2 =0,693/ 5600 = 1,2 10-4

anos-1

A = A0 e

-λ t

A/A0 = e

-λ t

⇒ ln (0,036/15,3) = ln e- λ t

-6= -(1,2.10-4).t t= 50.000 anos.

128. O volume de um fluido extracelular pode ser medido injetando-se sulfato de sódio

marcado com 35

S. Certa amostra tem uma atividade inicial de 2 mCi.

a) Sabendo-se que este isótopo tem uma meia-vida de 87 dias, calcule a atividade da

fonte após 60 dias em Ci e em Bq.

b) Após quanto tempo a atividade cai a 0,5 mCi?

R: a) A0 = 2 . 10

-3

Ci T1/2 = 87 dias t = 60 dias A = ?

λ . 87 = 0,693 ⇒ λ = 0,693/87 = 0,00797 dias-1

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 184

A = A e-λ.t

⇒ A = 2 . 10-3

e- 0,00797 . 60

⇒ A = 1,24 . 10-3

Ci

A = (1,24 . 10-3

)(3,7 . 1010

) =

A = 4,59 . 107

Bq

b) T=0 dias A=2mCi

T=87 dias A= 1mCi

T=174 dias A= 0,5mCi

ou

0,5mCi = 25% A0 ln A/A0 = - λ.t

ln(0,25) = -0,00797.t

t = 174 dias

129. Quais características físicas e biológicas de um radioisótopo devem ser avaliadas

para utilizá-lo em medicina nuclear?

R: Alguns fatores devem ser considerados no uso de radioisótopos:

1- Efeito de massa; já que as reações químicas se processam em velocidades

dependentes da massa dos reagentes (ex: H1, H2, H3).

2- biológico e físico, determinando a quantidade de radioisótopo a ser

utilizado.

3- O tipo de radiação produzido; por exemplo, radiação α tem alto poder ionizante,

tendo, pois, seu uso restrito.

130. A utilização de marcadores radioativos é um processo trabalhoso, entretanto é

utilizado em pesquisa biológica, como, por exemplo, na marcação de enzimas, toxinas e

outras moléculas.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 185

a) Nesses casos, o pesquisador deve produzir pequenas ou grandes quantidades dessa

molécula marcada? Justifique a sua resposta.

b) Um exemplo é radioalbumina para a determinação do volume do compartimento

vascular. Descreva como é feito este estudo.

c) Para quais outros fins um pesquisador utiliza a marcação isotópica?

R: a) O pesquisador deve produzir pequenas quantidades, já que os radioisótopos

emitem radiação continuamente, principalmente quando se trata de radioisótopos com

meia-vida relativamente curta.

b) Utilizando-se uma amostra de radioalbumina com volume e atividade inicial

conhecidos, pode-se fazer uma infusão intravenosa, e, após certo tempo, faz-se uma

nova avaliação da atividade, tendo em vista a diluição da amostra no compartimento

sanguíneo e, portanto, redução da atividade por unidade de volume. Isso é possível

devido ao alto peso da radioalbumina, que não atravessa a parede dos vasos.

c) Pode-se utilizar 59Fe para estudos hematológicos, permitindo avaliar anemias

ferroprivas, em que o isótopo é retirado rapidamente da circulação, ou anemias em que

há baixa eritropoiese, ficando o metal na circulação por várias horas; utilização de

glicose contendo 14C para verificação de metabolismo celular, ou CO2 também contendo

14C para verificar processo de fotossíntese em plantas; datação de substratos orgânicos

pela relação 14C / 12C; verificação de transmissão nervosa em neurônios e

comportamento do sódio em sistemas biológicos utilizando 24Na;

radioimunofluorescência, pesquisa de H. pylori utilizando ureia marcada com14C

através de teste respiratório, dentre inúmeras outras.

131. Em certa região do interior de Minas Gerais, após um período de seca com

grande mortandade de peixes e plantas aquáticas, a população ribeirinha observou

grande quantidade de matéria orgânica no rio, e notificou o IBAMA a respeito. Após

coleta da água e análise da relação 14C/12C, o IBAMA concluiu que essa matéria

orgânica resultava de uma indústria petroquímica da região, e não da decomposição dos

peixes e plantas mortos na seca anterior. Sabendo-se que a relação 14C/12C é constante

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 186

nos seres vivos e que o tempo de meia-vida do 14C é de 5600 anos, como o IBAMA

chegou a esta conclusão?

R: Após morrer, os seres vivos param de incorporar 14C do meio ambiente e, portanto, a

relação 14C/12C cai exponencialmente. Caso tal matéria orgânica resultasse da

decomposição dos peixes e plantas mortos recentemente nesse rio, esperar-se-ia uma

relação 14C/12C praticamente idêntica à dos seres vivos. O IBAMA deve ter encontrado

um valor baixo para tal relação, sendo justificado pela presença de material orgânico de

milhões de anos, como petróleo (que não sofre a ação dos nêutrons dos raios cósmicos,

responsáveis pela transformação 14N em 14C nas camadas altas da atmosfera) e que sofre

decaimento a milhões de anos.

132. A aproximação de uma amostra de radioisótopo de um tecido hígido por tempo

prolongado pode induzir a formação de uma lesão profunda, por meio da interação entre

radiação e matéria.

a) Explique a formação da lesão pelo radioisótopo.

b) Associe esta característica com a possibilidade de utilização de isótopos, como o

Rádio, para destruição de tecidos afetados por tumores cancerígenos.

c) A braquiterapia é uma modalidade de radioterapia utilizada no tratamento de

câncer, como em sarcomas de membros, câncer de próstata, e outros. Defina a

braquiterapia e sua indicação terapêutica.

d) Quais os elementos radioativos mais utilizados na braquiterapia.

e) Identifique as vantagens e desvantagens da braquiterapia.

R: a) Radiações ionizantes causam distorções de moléculas estáveis com liberação de

espécies quimicamente reativas, alterando moléculas importantes como DNA, enzimas

e lipídeos componentes de membrana. Tudo isso pode levar a morte celular, induzindo a

formação de uma ferida e processo inflamatório.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 187

b) Células tumorais são mais sensíveis, pois geralmente apresentam falhas nos

mecanismos de reparo do DNA (podendo ser esta a causa do tumor), além de

apresentarem maior atividade mitótica, conferindo-lhes maior susceptibilidade a

radiações ionizantes.

c) A braquiterapia é um tipo de tratamento na qual o material radiativo é colocado

diretamente em contato com o tecido tumoral. Podem ser utilizados tanto implantes

temporários ou permanentes, utilizando altas ou baixas doses de radiação. Ela permite

irradiar volumes muito pequenos com uma alta dose, além de minimizar os efeitos nos

tecidos saudáveis vizinhos, já que à medida que se distancia da fonte radioativa, a dose

de radiação decai rapidamente.

A braquiterapia pode ser utilizada como método adjunto após radioterapia externa,

aumentando-se a dose de radiação no local desejado, ou mesmo como um tratamento

exclusivo; de acordo com a doença.

d) Ela pode ser feita com vários isótopos, tais como Césio, Iodo, Rádio, Paládio, Ouro e

Iridium, sendo umas das principais características avaliadas a radiação emitida e o

tempo de meia-vida do radionuclídeo.

e) A principal vantagem da braquiterapia é a utilização de altas doses de radiação em

um pequeno volume, poupando os tecidos vizinhos e o organismo como um todo.

Sua principal desvantagem é a não uniformidade da dose desde que a radiação é muito

mais intensa perto da fonte, embora usando muitas fontes possa-se uniformizar a dose.

Outra desvantagem se relaciona com a segurança das radiações. O terapeuta deve estar

próximo à fonte enquanto elas estão sendo colocadas no local desejado. O paciente é

uma "fonte radioativa" durante os dias em que as fontes estão no lugar, e as enfermeiras

e outros estarão expostos assim à radiação.

133. A observação da atividade metabólica de grupos celulares ou tecidos pode ser

utilizada no diagnóstico por imagem, através de métodos não-invasivos como o PET

(positron emission tomography) que permite uma avaliação em tempo real e com

grande precisão.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 188

A descoberta de que o análogo da glicose, a fluorodeoxiglicose (FDG, cujo flúor é

radioativo) se acumula em diversos tipos de câncer humano devido à fosforilação

irreversível pela hexoquinase, sem que este produto siga qualquer caminho metabólico,

tem aumentado a utilização do PET como método adjunto no diagnóstico de câncer de

mama, pulmão, linfoma, melanoma e outros diversos.

a) Explique qual processo físico de interação da radiação e matéria permite a

formação da imagem por meio do PET.

b) Quais radionuclídeos poderiam ser usados para realização de exames por meio do

PET? Justifique.

R: a) O PET baseia-se no fenômeno em que o encontro de um elétron (das moléculas

adjacentes àquela marcada) com um pósitron (no caso acima emitido pelo FDG

marcado) leva a formação de 2 fótons com energia característica de 0,51 MeV e de

sentidos opostos, que ao se chocarem em aparatos detectores também em pontos

opostos, permitem a formação de uma imagem tridimensional.

b) Podem ser usados o F18, como no exemplo acima, que emite pósitron e apresenta

meia-vida de 110 minutos, ou mesmo N13 na marcação de amônia (t1/2=9,9 min) ou C11

(t1/2= 20,4 min), ambos emissores de β+ e elementos comumente presente em moléculas

do corpo humano.

Além, é claro, da emissão de pósitrons, é necessário que o radinuclídeo apresente

tempo de meia-vida pequeno, viabilizando a realização do exame sem tornar o paciente

uma fonte emissora de radiação por um longo período de tempo.

134. Pode-se administrar radionuclídeos por via intravenosa ou ingestão a fim de

avaliar-se a função de determinados órgãos e tecidos, assim como para tratamento de

hiperplasias e tumores.

a) Explique qual o principio de tais aplicações.

b) Qual fator deve ser essencialmente diferente entre a avaliação do órgão de um

indivíduo e o tratamento de tumores?

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 189

c) Identifique a problemática envolvida na radioterapia de hiperplasias e tumores

utilizando o método descrito no enunciado da questão, tendo em vista a dose dada ao

paciente e a interação deste com outros indivíduos.

d) Qual medida pode ser tomada para solucionar a problemática levantada no item c?

R: a) Alguns radionuclídeos acumulam-se em determinados tecidos, o que permite a

detecção da radiação emitida e avaliação de diversos parâmetros correlacionados a seu

metabolismo. Aqueles administrados por via oral não são absorvidos, permanecendo no

interior do tubo digestivo.

b) A diferença essencial em cada método é a dose de radionuclídeo administrada.

Enquanto que para avaliação da função do órgão são utilizadas pequenas doses devido à

sensibilidade dos medidores de radiação, para o tratamento de hiperplasias e tumores

são utilizadas altas doses a fim de destruírem-se os tecidos hiperplásicos ou tumorais.

c) A ingestão de altas doses de radioisótopos torna o paciente uma verdadeira fonte de

radiação, além de não ser possível evitar completamente a radiação do tecido saudável

em torno do tecido neoplásico.

d) O paciente deve ser isolado até a redução da radiação para proteger tanto

profissionais de saúde como outras pessoas que poderiam entrar em contato com esse

paciente. Deve ser feito também o controle da dose.

135. O acidente radiológico de Goiânia foi um grave episódio de contaminação por

radioatividade ocorrido no Brasil. A contaminação teve início em 13 de Setembro de

1987, quando um aparelho utilizado em radioterapias foi furtado das instalações de um

hospital abandonado, em Goiânia. O instrumento roubado foi, posteriormente,

desmontado e o pó azul reluzente em seu interior (Césio134 radioativo) foi manipulado

por várias pessoas, contaminando-as, além de ruas casas, e causando 4 mortes. Quais

seriam os possíveis efeitos agudos e tardios da exposição ao Césio134?

R: Os efeitos agudos caracterizam a síndrome aguda da radiação, podendo o paciente

apresentar manifestações gastrointestinais como náuseas, vômitos, hemorragia

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 190

digestiva, anorexia, diarréia, etc. Pode haver também febre e apatia, assim como

sudorese aumentada e cefaléia.

Carcinogênese, envelhecimento precoce, cataratas, depressão do sistema imunológico, e

malformações estão entre os principais efeitos tardios da radiação.

136. No ano de 2008, o Ministério da Sáude distribuiu 3900 Testes de

Imonofluorescência para o HIV-1, utilizado no diagnóstico confirmatório de HIV em

indivíduos positivos no teste de ELISA (usado para triagem) para antígenos virais.

a) Qual o princípio da imunofluorescência?

b) Qual energia, ou transferência de energia é explorada em tal método?

c) Quais as vantagens desse método?

R: a) São utilizados fluorocromos como isocianato de fluorosceina e rodamina, dentre

inúmeros outros, que absorvem um determinado comprimento de onda e emitem outro

geralmente maior (ex: isocianato de fluorosceina que se excita com um comprimento de

onda de 450 nm[luz azul] e emite um comprimento de 514 nm), estando estes ligados a

um anticorpo anti-Ab virais ou anti-anticorpos contra antígenos virais. No caso do

diagnóstico de HIV, são utilizadas luz azul e violeta.

b) A excitação de elétrons por absorção de comprimentos de ondas específicos, de

modo que, ao retornar a sua camada de origem, há emissão de um comprimento de onda

característico daquele fluorocromo.

c) Alta especificidade dos anticorpos e alta sensibilidade dos fluorocromos.

137. O filtro solar é uma loção, spray ou produto tópico que ajuda a proteger a pele da

radiação ultravioleta do sol, o que reduz as queimaduras solares e outros danos à pele,

ultimamente ligado a um menor risco de câncer de pele.

a) Explique como a radiação UV pode gerar danos celulares.

b) Quais os princípios de proteção pelo filtro solar.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 191

c) A vitamina D é produzida endogenamente por nosso organismo, sendo importante na

absorção de cálcio pelo epitélio intestinal. Todavia, a primeira etapa de sua produção

requer exposição a raios UV. Explicite o mecanismo bioquímico pelo qual isso ocorre.

R: a) Os átomos e moléculas que absorvem a radiação ultravioleta se tornam

energizados e em estado de excitação. Essas substâncias participam com mais facilidade

de reações bioquímicas, havendo um aumento no ritmo geral das reações de um sistema

biológico. Pode também haver aparecimento de novos caminhos metabólicos

prejudiciais ao sistema.

b) Muitos protetores solares contêm tanto compostos orgânicos que absorvem a luz

ultravioleta (como o oxibenzeno) ou um material opaco que reflete a luz (como o

dióxido de titânio, o óxido de zinco), ou uma combinação de ambos.

c) A Pró-Vitamina D ou 7-dehidrocolesterol é produzida tanto pela derme quanto pela

epiderme. A luz ultravioleta entre 290 nm e 315 nm (UVB) conjuga duplas pontes de

hidrogênio nos carbonos C5 e C7, produzindo pré-Vitamina D.

138. A energia ultrassônica está entre as mais utilizadas pelo fisioterapeuta, para auxiliar

o tratamento das diversas disfunções dos tecidos moles, incluindo contraturas

articulares, tendinites, bursites, espasmos musculoesquelético e dor. Qual é o

mecanismo de ação do ultrassom terapêutico?

R: Existem dois mecanismos: térmicos e não térmicos. Os efeitos térmicos ocorrem

devido à conversão de energia cinética em energia térmica nos tecidos. A elevação da

temperatura tecidual pode trazer benefícios através de uma vasodilatação local, aumento

da atividade metabólica, aumento da extensibilidade do colágeno em estruturas tais

como tendões e articulações, alivio de dor e diminuição de espasmos musculares. Já os

efeitos não térmicos podem ser gerados pela modificação da posição de partículas

intracelulares e extracelulares ou mesmo a configuração normal da célula (microfluxo),

afetando a atividade celular. Esse microfluxo tem seu valor, uma vez que sua ação

facilita a difusão através da membrana. Dependendo do tipo de célula, a alteração iônica

produzida pode desenvolver modificações na motilidade, síntese ou secreção celular,

que podem acelerar o processo de reparo.

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Exercícios Aplicados de Biofísica – Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 192

139. A termoterapia baseia-se na modificação da temperatura dos tecidos biológicos com

fins terapêuticos. Sua prática remonta ao tempo de Hipócrates, que já falava dos efeitos

benéficos do calor radiante.

a) Quais são as reações fisiológicas ao calor nos tecidos e sistemas que justificam sua

utilização na terapêutica?

b) Em quais casos a termoterapia é indicada?

c) Quais são os efeitos maléficos do calor excessivo?

R: a) A estimulação por calor no tecido promove a liberação de acetilcolina, o que

favorece a vasodilatação e eliminação de produtos indesejáveis do metabolismo e

migração de macrófagos.

Ainda, por meio de uma ação sistêmica, o calor aumenta o fluxo de sangue circulante,

levando a um maior metabolismo celular e consumo de oxigênio e facilitando as trocas

hidroelétricas.

Há também ação calmante sobre o SNC.

b) Doenças inflamatórias das articulações e tendões, estiramentos e contusões

musculares, além de processos inflamatórios da pele e de outros. Também promovem

relaxamento muscular, efeito sedativo sobre o SNC e aumentam transporte e eliminação

de catabólitos pelo aumento do fluxo sanguíneo superficial.

c) Queimaduras (destruição celular) e insolação, cãibras musculares, tetania, náuseas e

vômitos (todos resultantes da perda excessiva de água e eletrólitos), além de anoxia e

trombose (resultante do aumento da viscosidade do sangue).