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Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Bioetanol a partir de resíduos agro-florestais Projeto FEUP 2016/2017 – Mestrado Integrado em Engenharia Química Equipa Turma 4, Grupo 2 Supervisora: Eugénia Macedo Monitora: Joana Silva Estudantes & Autores: André Pacheco [email protected] Joana Silva [email protected] Diana [email protected] Ricardo [email protected] Inês Coutinho [email protected] Sara Silva [email protected]

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Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Bioetanol a partir de resíduos

agro-florestais

Projeto FEUP 2016/2017 – Mestrado Integrado em Engenharia Química

Equipa Turma 4, Grupo 2

Supervisora: Eugénia Macedo Monitora: Joana Silva

Estudantes & Autores:

André Pacheco [email protected] Joana Silva [email protected]

Diana [email protected] Ricardo [email protected]

Inês Coutinho [email protected] Sara Silva [email protected]

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Resumo

A produção de bioetanol é uma alternativa ecológica à enorme quantidade de

combustíveis fósseis que é consumida no mundo e ao inevitável esgotamento das reservas

de petróleo, gás natural e carvão. Combustíveis fósseis esses que são, não só uma grande

fonte de poluentes, como também uma das razões pela qual a temperatura global tem vindo

a aumentar- devido aos gases com efeito estufa, produzidos pela queima de combustíveis

fósseis. A produção de bioetanol como biocombustível tem várias vantagens

socioeconómicas, contudo o seu método de produção pode suscitar dilemas éticos. Alguns

países começam a investir na produção de bioetanol surgindo novas empresas que se

especializam na produção de biocombustíveis, tratando e purificando a matéria prima desde

biomassa até bioetanol. O bioetanol é dividido em diferentes gerações consoante a

proveniência e o tipo de matéria-prima utilizada.

Palavras-Chave

Biocombustível; Biomassa; Álcool; Lenhocelulose; Bioetanol, Hidrólise, Fermentação,

Purificação; Resíduos Agro-florestais

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Índice 1 Introdução ....................................................................................................................................... 1

1.1 Contextualização ..................................................................................................................... 1

1.2 Definição ................................................................................................................................. 1

2 Gerações de bioetanol .................................................................................................................... 2

2.1 Primeira geração ..................................................................................................................... 2

2.2 Segunda geração ..................................................................................................................... 2

2.3 Terceira geração...................................................................................................................... 3

3 Ética e os Biocombustíveis .............................................................................................................. 3

4 Composição dos resíduos lenhocelulósicos .................................................................................... 4

5 Processo de produção de bioetanol ............................................................................................... 4

5.1 Pré-tratamento ....................................................................................................................... 4

5.2 Hidrólise .................................................................................................................................. 5

5.3 Fermentação ........................................................................................................................... 5

5.4 Purificação ............................................................................................................................... 5

6 Implementação a nível industrial.................................................................................................... 6

6.1 Industrialização Mundial ......................................................................................................... 6

6.2 Industrialização na Europa e Portugal .................................................................................... 9

7 Conclusão ...................................................................................................................................... 11

8 Referências bibliográficas ............................................................................................................. 12

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Lista de Figuras

Figura 1: Perspetivas da produção de biocombustíveis

Figura 2: Produção de biocombustíveis na União Europeia

Figura 3: Produção de biocombustíveis em Portugal

Lista de Tabelas

Tabela 1: Balanço energético e as respetivas emissões de dióxido de carbono de alguns

combustíveis.

Tabela 2: Produção mundial de bioetanol em biliões de litros

Tabela 3: Produção e consumo do milho a nível mundial entre 2009 e 2012

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1 Introdução

1.1 Contextualização

Atualmente a energia mais utilizada a nível mundial é a energia proveniente dos

combustíveis fósseis, cerca de 80%. Sendo estas energias não renováveis, as suas reservas

apresentam, no presente, uma curta duração: 50 anos para o petróleo, 60 anos para o gás

natural e 120 anos para o carvão. Para além desta desvantagem, a combustão destes

combustíveis liberta grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, o

que irá promover a intensificação do efeito de estufa e as consequentes alterações climáticas.

Perante as desvantagens dos combustíveis fósseis, foi implementado o uso de

energias alternativas.

Uma das alternativas é o uso da energia nuclear, mas a sua produção leva à formação

de resíduos nucleares perigosos, o que prejudica gravemente o ambiente.

O aumento da procura mundial de energia primária e a preocupação acerca dos custos

e do impacto negativo no ambiente do uso das energias acima referidas, levaram à

investigação de novas fontes de energia renovável como os biocombustíveis.

A utilização destas energias apresenta várias vantagens como a diminuição da emissão

de CO2 e o facto de serem inesgotáveis em comparação com os combustíveis fósseis.

Apesar das vantagens referidas, possuem também algumas desvantagens, como o

preço elevado do equipamento utilizado para as produzir e provocam impactos visuais

negativos no meio ambiente.

1.2 Definição

Com a procura de várias alternativas aos combustíveis fósseis surgem os

biocombustíveis, sendo um dos principais o bioetanol.

É um combustível líquido que resulta numa baixa emissão de compostos nocivos para

o ambiente (como monóxido de carbono, óxidos de azoto e dióxido de carbono) e é produzido

através da biomassa. Biomassa é qualquer tipo de matéria de origem vegetal que disponha

de bioenergia e que possa ser processada para fornecer energia utilizável.

O bioetanol é produzido a partir da fermentação de açúcares: no Brasil através da

cana-de-açúcar, ou amido e nos Estados Unidos da América através do milho.

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2 Gerações de bioetanol

Podemos distinguir o bioetanol em 3 gerações distintas que diferem entre si no tipo

de compostos que servem de base para a sua produção:

1ª geração: produzido a partir de matérias-primas vegetais provenientes da

agricultura (milho, cana de açúcar, arroz);

2ª geração: produzido a partir de resíduos vegetais (palha da cana de açúcar,

lenhocelulose);

3ª geração: produzido a partir de biomassa derivada de algas marinhas.

2.1 Primeira geração

O bioetanol de primeira geração é obtido a partir de fontes de açúcar como cana-de-açúcar, no Brasil, a beterraba doce e o trigo, na Europa, e plantações de amido como o milho, muito usado nos EUA. O bietanol, juntamente com o biodiesel, é também o biocombustível mais produzido a nível mundial.

Os biocombustíveis, incluindo o bioetanol, utilizam por volta de 4% dos solos agrícolas no mundo e entre 2% a 3% de água doce que é utilizada na produção de alimentos. Se estes recursos fossem utilizados na produção de alimentos, os solos férteis e a água que foram consumidos na produção da matéria-prima poderiam alimentar mais de 280 milhões de pessoas. (Eatglobe, 2016)

2.2 Segunda geração

O bioetanol de segunda geração é produzido a partir de resíduos, ou seja, produtos

sem caráter alimentar, como matérias lenhocelulósicas de resíduos agrícolas, florestais e

industriais. Estas matérias lenhocelulósicas podem ser a celulose que se encontra na parede

celular e é constituída por moléculas de glicose ou também a hemicelulose (polímero de

pentoses, hexoses e ácidos úronicos) e a lenhina que é formada por polímeros de

fenilpropano. A lenhina constitui a maior fração dos materiais lenhocelulósicos usados na

produção do bioetanol de segunda geração. (Quilhó, 2011)

As vantagens resultantes da utilização dos resíduos são consideráveis visto que, neste

processo há um melhor aproveitamento da planta e, portanto, um menor desperdício, há

também um maior rendimento energético visto que exige menos produtos químicos e um

menor gasto de energia para a sua produção, a mesma área de solo plantado é capaz de

produzir até 50% a mais de combustível, para além disto a disponibilidade destes resíduos é

elevada o que facilita o acesso aos mesmos.

O bioetanol produzido a partir da celulose é uma alternativa fundamental para países

que desejam elevar os níveis de produção de biocombustíveis sem que a área de terrenos

férteis ocupados seja aumentada.

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2.3 Terceira geração

Os biocombustíveis de terceira geração são os obtidos através da biomassa de

microalgas. As microalgas são processadas e como têm uma grande capacidade de armazenar

hidratos de carbono conseguem ser utilizadas para a produção de bioetanol transformando

hidratos de carbono em etanol. É possível também aproveitar o amido e a celulose das algas

para produzir o biocombustível (Tomar, 2006). O facto de apresentarem uma elevada

conversão fotossintética e uma rápida proliferação são também parâmetros que permitem

que estas algas sejam muito úteis para a produção de bioetanol de terceira geração. (Magro,

Decesaro, Berticelli, & Colla, 2016)

3 Ética e os Biocombustíveis

Atualmente o bioetanol de primeira geração é o mais industrializado, visto que é de

baixo custo e tem uma maior produtividade. No entanto, com a utilização de resíduos para a

produção de biomassa, estes custos podem ser reduzidos e o crescimento pode ainda ser

aumentado. (Pacheco, 2011)

Existem também vários problemas associados a questões éticas no que diz respeito às

diferentes gerações. Relativamente ao bioetanol de 1ª geração, a matéria prima utilizada na

sua produção, poderia ser usada para consumo animal e humano. Para além disso, são

utilizados solos que se encontram férteis para plantações agrícolas, entrando assim em

competição com a indústria alimentar.

No entanto, estas questões podem ser resolvidas aumentando a produção de

bioetanol de segunda e terceira geração. Isto trará inúmeras vantagens tendo em conta que

a qualidade do combustível é equivalente e o custo de produção é 30% mais barato. As

consequências para o ambiente são também positivas uma vez que as emissões de dióxido

de carbono são menores, como se consegue observar na Tabela 1.

Tabela 1– Balanço energético (Ein-Energia que se consome; Eout-Energia que se produz) e as respetivas concentrações de dióxido de carbono de alguns combustíveis (g CO2 eq./km). (Pedro, 2013)

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4 Composição dos resíduos lenhocelulósicos

A lenhocelulose é o componente principal da biomassa e é composta por três tipos de

polímeros: celulose, hemicelulose e lenhina, sendo que a sua composição e abundância pode

variar dependendo do tipo de planta em causa. É o recurso renovável orgânico mais

abundante no solo. As maiores fontes de produtos lenhocelulósicos residem nas cascas de

milho, palha de arroz, canas de açúcar, entre outros.

5 Processo de produção de bioetanol

O processo de produção de bioetanol a partir de resíduos lenhocelulósicos divide-se

geralmente em 4 passos:

1. Pré-tratamento

2. Hidrólise

3. Fermentação

4. Purificação

5.1 Pré-tratamento

O processo de pré-tratamento tem como objetivo dividir os 3 componentes principais

da lenhocelulose (lenhina, celulose e hemicelulose) de modo a remover a lenhina presente

nos resíduos, tornando a celulose mais acessível no passo seguinte (hidrólise da celulose),

sendo para isso utilizados 3 tipos de tratamentos: físicos químicos, e biológicos.

Físicos: são usados essencialmente para aumentar a área de acesso e diminuir o grau

de polimerização da celulose. Os processos físicos mais usados são a moagem e a irradiação

por raios gama ou micro-ondas.

Químicos: nestes degradam-se os resíduos de lenhina e hemicelulose resultantes,

sendo, para o efeito, usados nos tratamentos soluções de ácidos diluídos, tais como o ácido

sulfúrico ou soluções alcalinas, como o hidróxido de sódio. O pré-tratamento pode também

ser efetuado com ozono, que elimina os vestígios de lenhina e hemicelulose presentes na

lenhocelulose.

Biológicos: o pré-tratamento da lenhocelulose pode ser realizado também utilizando

microrganismos que têm a capacidade de degradar a hemicelulose e a lenhina, sendo que a

celulose é mais resistente do que as restantes. Este é um processo bastante benéfico uma vez

que não requer tanta energia como os restantes, no entanto é bastante lento.

Os produtos resultantes deste pré-tratamento devem ter um aumento na produção

de açúcares ou então a capacidade de o fazer através de hidrólise e evitar a perda de

hemicelulose e formação de produtos inibidores da hidrólise e fermentação.

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5.2 Hidrólise

A hidrólise enzimática é realizada com o propósito de transformar a celulose em

glicose, através da ação de três enzimas que atuam em diferentes partes da fibra celulósica

(endoglucanase, exoglucanase, β-glicosidase). A ação conjunta destes três tipos de celulases

é o que permite a produção de glicose. Alguns fatores como o grau de polimerização da

celulose, o volume dos poros e o tamanho das partículas podem condicionar o efeito das

celulases e, como tal, o resultado da hidrólise da celulose.

5.3 Fermentação

A fermentação é o processo que converte as pentoses e hexoses resultantes do

processo de hidrólise em etanol, através do uso de microrganismos, tais como bactérias,

leveduras ou fungos.

Para que um determinado microrganismo possa ser utilizado neste processo ele deve

ter uma elevada produtividade, produzindo elevadas quantidades de etanol e conseguir

suportar elevadas concentrações do mesmo.

Este processo pode ser realizado juntamente com o anterior ou separadamente sendo

que o primeiro, dependendo das condições, geralmente apresenta uma melhor alternativa

uma vez que realizar ambos os processos num único reator é mais económico, a produção de

etanol é maior, a quantidade de enzimas mais pequena e a capacidade de contaminação é

também mais pequena, devido à presença de etanol no reator.

5.4 Purificação

A purificação consiste em aumentar o grau de pureza do etanol eliminando

essencialmente a percentagem de água que este contém, uma vez que esta causa um

aumento da polaridade da molécula de etanol, o que constitui uma grande desvantagem já

que, por exemplo, quando misturado com gasolina, iriam haver duas fases distintas, o que

não seria aceitável.

Para que tal seja possível, são utilizados processos como a destilação, para separar a

água do etanol, e a desidratação, para eliminar pequenas percentagens de água ainda

presentes na mistura de etanol.

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6 Implementação a nível industrial

6.1 Industrialização Mundial

Quanto à implementação a nível industrial, o mercado do bioetanol tem vindo a

crescer rapidamente nos últimos anos.

Através da visualização da Tabela 2, se pode verificar que a produção mundial de

bioetanol aumentou mais do dobro desde 2007 até 2015, chegando a produzir-se, nesse ano,

cerca de 97 biliões de litros deste composto. (AFDC, 2015)

Tabela 2 – Produção mundial de bioetanol em biliões de litros (AFDC, 2015)

Os líderes mundiais na produção de bioetanol são os EUA, com cerca de 56 biliões de

litros, seguido pelo Brasil com cerca de 27 biliões de litros e juntos, os E.U.A e o Brasil

produzem 85% do etanol mundial.

Nos E.U.A, a maioria do bioetanol é produzido através do milho e é principalmente

utilizado como um aditivo na gasolina. O E10, combustível que contém 10% de etanol, é o

combustível-padrão utilizado, enquanto que o E15, que contém 15% de etanol, está

disponível nas estações de gasolina desde 2011. (Cropenergies, 2015)

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Quanto ao Brasil, a maioria do bioetanol é produzido através de cana-de-açúcar e está

disponível tanto como um combustível puro, E100, que apenas contém uma percentagem

reduzida de água, como também como uma mistura com gasolina com um teor de 20%-25%.

Cerca de 90% das matrículas de veículos novos no Brasil são veículos de combustível flexível

(FFV), ou seja, veículos que podem funcionar com gasolina regular, com bioetanol ou com

uma mistura de ambos. (Cropenergies, 2015)

No entanto, como vimos anteriormente, a produção de bioetanol pode ser feita de

três formas diferentes correspondentes às três gerações e, no contexto deste trabalho,

interessa falar no bioetanol de segunda geração ou, por outras palavras, no etanol

lenhocelulósico.

A produção deste composto ainda está numa fase inicial e, como tal a sua produção

não se compara à produção de bioetanol de primeira geração.

Contudo, perspetivas norte-americanas mais otimistas relativamente à produção

mundial de bioetanol afirmam que em 2022 serão produzidos aproximadamente 130 biliões

de litros de biocombustíveis celulósicos ou de segunda geração, como pode ser visualizado

na Figura 1. De acordo com esta Figura, a produção de biocombustíveis de segunda geração

apresentará o maior crescimento quando comparada com os restantes biocombustíveis.

(Silva, 2010)

Figura 1 - Perspetivas da produção de biocombustíveis (Silva, 2010)

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2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022

BIL

IÕES

DE

LITR

OS

ANO

Perspetivas da Produção de Biocombustíveis

Biocombustíveis avançados Biocombustível celulósico Biodiesel Etanol de milho

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Quanto à implementação industrial, na primeira década do século 21, várias empresas

anunciaram planos para construir fábricas de etanol celulósico comercial, mas a maioria

desses planos, eventualmente, desfez-se, e muitas das pequenas empresas foram à falência.

Atualmente, há muitas instalações de demonstração em vários países e vários planos em

escala comercial, que estão ou em operação ou próximos de tal. (Wikipedia, 2016)

Alguns dos exemplos de empresas atualmente em operação são: a Beta Renewables

(Crescentino, Itália); a INEO Bio (Flórida, EUA) e a POET-DSM Advanced Biofuels (Iowa, EUA);

entre outras.

Reletivamente à Beta Renewables, esta inaugurou oficialmente a sua fábrica de etanol

com base em celulose em escala comercial a 9 de outubro de 2013. Esta instalação é

atualmente a maior do mundo relativamente à refinaria de biocombustíveis avançados, com

uma capacidade de produção de 75 milhões de litros de etanol por ano através da conversão

de trigo, arroz e de arundo donax (cana-do-reino). (European Biofuels Technology Platform,

2016)

Quanto à INEO Bios, esta iniciou a produção comercial na sua biorrefinaria de etanol

com base em celulose em julho de 2013. A matéria-prima para o processo inclui resíduos

agrícolas, resíduos de quintal e resíduos de madeira. (European Biofuels Technology Platform,

2016)

A empresa POET-DSM Advanced Biofuels iniciou a produção de etanol com base em

celulose a Setembro de 2014, na sua instalação de 250 milhões de dólares. Nesta, o etanol é

produzido a partir dos resíduos do milho. (European Biofuels Technology Platform, 2016)

Para cada hectare de milho plantado é possível produzir cerca de 8 a 11 toneladas de

grãos, sendo que de cana são produzidas 90 toneladas.

Para essa quantidade de milho, são produzidos de 3200 a 4500 litros de etanol,

enquanto que a cana produz cerca de 7500 litros. (Barros, 2016)

Tabela 3 - Produção e consumo do milho em milhões de toneladas a nível mundial

entre 2009 e 2012 (Luís de Vasconcelos e Souza, 2015)

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6.2 Industrialização na Europa e Portugal

No dia 8 de maio de 2003 a Comissão Europeia estabeleceu vários princípios para a

promoção dos biocombustíveis na EU. Mais especificamente, declarou que cada país deve

assegurar que uma quota mínima de biocombustíveis é colocada no mercado. Assim,

estabeleceu diferentes valores de referência tendo em conta várias metas, sendo que:

A quota mínima deve ser de:

• 2% de toda a gasolina e de todo o gasóleo utilizados para efeitos de transporte

colocados no mercado, até 31 de dezembro de 2005; (Quilhó, 2011)

• 5,75% de toda a gasolina e de todo o gasóleo utilizados para efeitos de transporte

colocados no mercado, até 31 de dezembro de 2010. (Quilhó, 2011)

A 23 de abril de 2009 as metas foram atualizadas para novos valores determinando

que cada país deve assegurar que a quota de energia proveniente de fontes renováveis,

consumida por todos os meios de transporte em 2020, represente, pelo menos, 10% do

consumo final de energia nos transportes. Além disso, foram definidos pela primeira vez

critérios de sustentabilidade para os biocombustíveis, os quais deverão ser cumpridos para

que a energia produzida seja contabilizada no cumprimento das metas.

Alguns dos critérios impõem que:

• Os biocombustíveis não devem ser produzidos a partir de matérias-primas

provenientes de terrenos ricos em biodiversidade (p. ex. floresta primária);

• Os biocombustíveis não devem ser produzidos a partir de matérias-primas

provenientes de terrenos com elevado teor de carbono (p. ex. zonas húmidas);

O impacto que estas diretivas tiveram na produção de biocombustíveis na Europa

pode ser observado na Figura 2. Como se pode ver, a partir do ano 2004, um aumento

exponencial da sua produção. A produção de bioetanol na União Europeia, em 2010,

correspondeu a cerca de 35% da produção total de biocombustíveis (Quilhó, 2011).

Figura 2 - Produção de biocombustíveis na União Europeia (Quilhó, 2011)

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Em Portugal, surgiu a Março de 2006 um novo decreto-lei que transpõe para a

legislação nacional algumas destas metas.

Este decreto-lei tem como objetivo a colocação no mercado português de

biocombustíveis e de outros combustíveis renováveis, em substituição dos combustíveis

fósseis. No mesmo ano, a produção de biocombustíveis registou um aumento significativo,

sendo a sua totalidade constituída por biodiesel. No ano de 2010 atingiu-se a produção de

cerca de 6.000 barris por dia (Quilhó, 2011). A evolução da produção deste biocombustível

pode ser observada na Figura 3.

Figura 3 - Produção de biocombustíveis em Portugal (Quilhó, 2011)

Em resumo, as políticas de apoio à produção de biocombustíveis são um fator-chave

para a promoção do seu desenvolvimento.

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7 Conclusão

O processo de produção de energias renováveis através do bioetanol de 2ª geração

permite a utilização de resíduos vegetais, o que por si só já seria vantajoso uma vez que a sua

produção não compete com a indústria alimentar, eliminando assim, muitas das questões

éticas relacionadas com biocombustíveis. Para além disso, os impactos ambientais causados

seriam menores, visto que verificamos que ocorre uma menor emissão de gases com efeito

de estufa, nomeadamente o dióxido de carbono.

A implementação deste processo em Portugal seria viável, visto que existem imensos

recursos disponíveis. Assim este processo poderá representar uma potencial obtenção de

energia para o futuro de Portugal.

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8 Referências bibliográficas

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