bioenergia um diálogo renovável volume 2

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Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

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Page 1: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2
Page 2: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

B I O E N E R G I A : U M D I Á L O G O R E N O V Á V E L I I

Copyrigth 2013,

Rodolfo Belo Exler, Lorene Paixão Sampaio e Luis Polybio Brasil Teixeira

Todos os direitos autorais desse trabalho são de propriedade dos

autores. Qualquer parte dessa publicação pode ser reproduzida, desde

que citada a fonte. O conteúdo de cada capitulo é de inteira responsa-

bilidade de seus autores.

Page 3: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

B I O E N E R G I A : U M D I Á L O G O R E N O V Á V E L I I

Copyrigth 2013,

Rodolfo Bello Exler, Lorene Paixão Sampaio e Luis Polybio Brasil Teixeira

Todos os direitos autorais desse trabalho são de propriedade dos

autores. Qualquer parte dessa publicação pode ser reproduzida, desde

que citada a fonte. O conteúdo de cada capitulo é de inteira responsa-

bilidade de seus autores.

CAPA:

Nayara Cecília Afonso

R E V I S Ã O :

Autores

E D I T O R A Ç Ã O , I M P R E S S Ã O E A C A B A M E N T O :

Editora e Grafica Vento Leste

S i s t e m a de Bibliotecas da UFBA

Bioenergia: um diálogo renovável. Rodolfo Belo Exler, Lorene Paixão Sampaio e

Luis Polybio Brasil Teixeira (organizadores). - Salvador: Vento Leste, 2013. Vol

II. 169 p.

ISBN 978-85-8140-043-3

1. Tecnologia 2. Bioenergia 3. Biodiesel 4. Etanol 5. Biogás

I. Título II. Organizadores

CDU - 628.4

Page 4: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

"Não há transição que não implique um ponto de partida, um

processo e um ponto de chegada. Todo amanhã se cria num

ontem, através de um hoje. De modo que o nosso facturo baseia-se no passado e se cotporifica no presente. Temos de saber o que

fomos e o que somos, para sabermos o que seremos."

(PAULO FREIRE)

Page 5: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

P R E F Á C I O . . .

Além de extremamente atual no cenário global, o tema Bioenergia

é antes de tudo multi, inter e transdisciplinar. Não temos como

enxergar esse assunto apenas pela visão de uma área do conhecimento

ou de uma profissão. A importância do tema se dá principalmente pelo

fato da não sustentabilidade das fontes atuais de combustíveis, tendo

como principal exemplo o petróleo, e os efeitos deletérios ao meio

ambiente como um todo.

Quando estudamos uma fonte de energia renovável, inócua ao meio

ambiente e eficiente como biocombustivel, devemos pensar nela em

diversos ângulos: O trabalhador rural e a população circunvizinha,

analisando possíveis problemas ligados à saúde ocupacional até

poluentes jogados no ar; Aspectos econômico-financeiros desde a

lavoura até a produção de um biocombustível; Desenvolvimento de

novos fármacos a partir de plantas produtoras de bio-óleo; Estudos

Legais de Bioprocessos e Bioprodutos em Bioenergia;

Desenvolvimento de processos e produtos para produção de

biodiesel.

Desde a criação do Mestrado Profissional Interdisciplinar em

Bioenergia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) em 2007,

temos desenvolvido projetos nas diferentes áreas do conhecimento,

sempre voltados para o tema central da Bioenergia.

Estou a quase dois anos como professor e pesquisador nesse pro-

grama, e há pouco tempo fui convidado a assumir a coordenação do

Mestrado, portanto tenho acompanhado boa parte do

desenvolvimento dos trabalhos que estarão nesse segundo volume

do livro Bioenergia: um diálogo renovável. Estou muito orgulhoso

pela iniciativa da publicação do livro e muito feliz pelo convite para

escrever esse prefácio.

Page 6: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

Além de divulgação dos trabalhos desenvolvidos no Mestrado em

Bioenergia, esse livro é uma excelente maneira de divulgar ainda mais o

mote Bioenergia.

Sucesso! Aproveitem a leitura.

Dr. Januário G. Mourão e Lima

Coordenador do Mestrado Profissional em Bioenergia da FTC Salvador

Outubro de 2013

Page 7: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

SOBRE OS AUTORES

Alberto Freire Nascimento

Doutor em Cultura e Sociedade.

Docente do quadro permanente do Mestrado Profissional em Tecnolo-

gias aplicáveis a Bioenergia da Rede FTC

E-mail: [email protected]

Amaro Emiliano Trindade Silva

Microbiologista, Mestre e Doutor em Ciências Biológicas pela UFRJ.

Docente do quadro permanente do Mestrado Profissional em Tecnolo-

gias aplicáveis a Bioenergia da Rede FTC

E-mail: [email protected]

Andréa Monteiro de Amorim

Doutora em Saúde Pública. Docente do quadro permanente do

Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioenergia

E-mail: [email protected]

Astria Dias Ferrão-Gonzales Farmacêutica. Pós-Doutorado em Ciências Biológicas. Coordenadora e

docente titular do Mestrado Profissional em Tecnologias Aplicáveis á

Bioenergia — Faculdade de Tecnologia e Ciências FTC.

E-mail: [email protected]

Claudia Tremam: Rocha Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioe-

nergia, Especialista em Gestão da Segurança de Alimentos, Nutricio-

nista, Engenheira Química. Coordenadora do Curso de Nutrição da

Faculdade Mauricio de Nassau. Docente na Faculdade de Tecnologia e

Ciências (FTC).

E-mail: [email protected]

Page 8: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

Eduardo Augusto Brito Arêas

Mestre em Bioenergia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências

(FTC), Pós-graduado em Controladoria e Graduado em Administração

com Habilitação em Gestão de N egócios. Atualmente é Coordenador

de Recursos Humanos da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquis-

ta, assessor técnico da comissão especial de avaliação de desempenho,

professor titular da Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC) e profes-

sor titular da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR).

E-mail: [email protected]

Eliane Teixeira de Assunção Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a

Bioenergia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Especialis-

ta em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, Graduada em Adminis-

tração. Gerente de Projetos de Recursos Humanos da Prefeitura

Municipal de Vitória da Conquista, docente da Faculdade de Tecnolo-

gia e Ciências (FTC), Faculdade Juvêncio Terra Mauricio de Nassau.

E-mail: [email protected]

Elizabete Clara Silveira

Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a

Bioenergia e Enfermeira.Docente da Faculdade de Tecnologia e Ciência

E-mail: [email protected]

Evangileno Nunes Leal

Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioener-

gia, MBA Executivo em saúde, Especialista em Fisioterapia Ortopédica

e Traumatológica e Bacharel em Fisioterapia. Docente da Faculdade

Metropolitana de Camaçari e do Centro Universitário da Bahia (FIB).

E-mail: [email protected]

Fábio Rodrigues Teixeira

Mestre em Bioenergia, Especialista em Administração da Qualidade,

Bacharel em Administração de Empresas.

Analista Administrativo da Agência Nacional do Petróleo, Gás

Natural e Biocombustíveis.

E-mail: [email protected]

Page 9: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

Grace Caroline Nery Jacobina Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bine-

nergia, Especialista em Metodologia do Ensino Superior e Estudos

Avançados de Fisioterapia, Graduada em Fisioterapia.

Docente da Faculdade Metropolitana de Camaçari (FAMEC).

E-mail: [email protected]

Isadora Lucena de Andrade Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias Aplicáveis a.

Bioenergia da Rede FTC, Especialista em Gestão e Planejamento

Escolar e Gestão em Instituições de Ensino Superior,

Graduação em Pedagogia. Docente do quadro permanente do Colegia-

do de Enfermagem da FTC - Jequié

E-mail:[email protected]

José Emanuel Rebouças Ferreira

Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioe-

nergia, Especialista em Especialista em Engenharia de Produção

Internacionais e Bacharel em Relações Internacionais.

Docente da FTC, Faculdade Estácio, FACSAL e dos cursos Técnicos

do SENAI CIMATEC.

E - mail: [email protected]

Luis Manuel Garcia Reyes Doutor em Geofisica, Mestre em Física Aplicada,

Engenheiro Nuclear. Especialista em Regulação da Agência Nacional

do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

E-mail: [email protected]

Luis Oscar Silva Martins

Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias Aplicáveis a Bioenergia, Especialista em Administração e Bacharel em Economia..

Professor titular das disciplinas Economia e Teoria das Organizações,

na Faculdade de Santa Cruz da Bahia.

E-mail: [email protected]

Page 10: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

Luis _Polybio Brasil Teixeira

Mestre em Bioenergia, Especialista em Administração Moderna e

Bacharel em Administração de Empresas.

Especialista em Regulação da Agência Nacional do Petróleo, Gás

Natural e Biocombustíveis.

E-mail: [email protected]

Milena Nascimento Sales

Mestre em Bioenergia, Especialista em Direito Tributário e

Bacharel em Direito. Especialista em Regulação da Agência Nacional

do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

E-mail: [email protected]

Nazaré Franco Santana

Graduanda em Administração. Atua como bolsista do Programa

Institucional de Iniciação Científica (PIBIC/ CNPq).

E-mail: [email protected] / [email protected]

Roberto Antônio Fortuna Carneiro

Mestre em Administração e Bacharel em Geografia. Docente do

quadro permanente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicá-

veis a Bioenergia da Rede FTC e Diretor de Planejamento Económico

da Secretaria do Planejamento da Bahia.

E-mail: [email protected]

Ricardo de Oliveira Mota

Engenheiro Químico, Especialista em Sistemas de Gestão da Qualidade

— Saúde e Meio Ambiente, Mestrando em Bioenergia pela Faculdade de

Tecnologia e Ciências de Salvador. Professor da Faculdade de Tecnolo-

gia e Ciências de Feira de Santana

E-mail: [email protected]

Rodolfo Bello Exler

Mestre em Tecnologias aplicáveis a Bioenergia, MBA em Gestão

Empresarial, Especialista em Educação a Distância e Bacharel em Ciências

Estatísticas.

Docente da Universidade de Uberaba, Faculdade de Tecnologia

SENAI CIMATEC e Centro Universitário Jorge Amado.

E-mail: [email protected]

Page 11: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

Rodrigo de Oliveira Coelho

Especialista em Saúde pública e Bacharel em

Administração de Empresas.

E-mail: [email protected]

Thiago Bruce

Microbiologista. Doutor em Genética. Docente do quadro permanente

do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioenergia da

Rede FTC.

E-mail: [email protected]

Vítor Hugo Moreau

Pós-doutorado pelo Instituto Militar de Engenharia, Mestre e

Doutor em Química Biológica e Graduado em Farmácia. Atualmente é

professor Adjunto da Universidade Federal da Bahia (UFBA) - membro

do corpo permanente dos PPG em Biotecnologia da UFBA e da Rede

Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO) - e Professor Titular da

Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC, Salvador) - Mestrado

Profissional em Bioenergia. Dr. Moreau é, ainda, Editor Chefe da

revista Diálogos & Ciência e, como pesquisador, atua nas áreas de

desenvolvimento de biocatalisadores para a produção de Biodiesel e em

aproveitamento de biomassa de oleaginosas de interesse para a agroin-

dústria.

E-mail: [email protected]

Viviane Gaivão

Docente do quadro permanente do Mestrado Profissional em Tecnolo-

gias Aplicáveis a Bioenergia da Rede FTC, Doutora em Biotecnologia,

Mestre em Física, Bacharel e Licenciada em Física

E-mail: [email protected]

Zenaide de Oliveira Ferraz Silva Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioe-

nergia, Especialista em Mídias na Educação e Licenciada em Física.

Docente da Faculdade de Tecnologia e Ciências e Coordenadora de

curso EAD na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. E-

E-mail: [email protected]

Page 12: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

S U M Á R I O

CAPÍTULO 1

RESTRIÇÕES REGULATÓRIAS AO DESENVOLVIMENTO 17

DA INDÚSTRIA DE BIOETANOL COMBUSTÍVEL NO

BRASIL: UM ENFOQUE AMBIENTAL

Luis Polybio Brasil Teixeira, Fábio Rodrigues Teixeira, Luis Manuel

Garcia Reyes e Mllena Nascimento Sales

CAPÍTULO 2

AGRICULTURA FAMILIAR NA CADEIA PRODUTIVA DO 32

BIODIESEL NA BAHIA: UMA TENTATIVA DE

INCLUSÃO SOCIAL Elizabete Clara Silveira e Alberto Freire Nascimento

CAPÍTULO 3

ASPECTOS ECONÔMICOS DOS ACIDENTES 44

OCUPACIONAIS E DOENÇAS DO TRABALHO EM

TRABALHADORESNO CAMPO DABIOENERGIA (2009 —2010)

Luís Oscar Silva Martins, Andréa Monteiro Amorico e Rodrigo de

Oliveira Coelho

CAPÍTULO 4

SOCIEDADE E BIOENERGIA: SAÚDE EM FOCO 57

Grace Caroline Jacobina

CAPÍTULO 5

HISTÓRICO E PERSPECTIVAS SOBRE O ETANOL: 70

O PANORAMA BRASILEIRO

Claudia Treumann, Rodolfo Bello Exler, Thiago Bruce e Astria Dias

Ferrão-Gonzales

Page 13: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

CAPÍTULO 6

BIOCOMBUSTÍVEL : IMPORTÂNCIA ECONÔMICA, 85

INCLUSÃO SOCIAL E REDUÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS Isadora Lucena Andrade e Viviane Galvão

CAPÍTULO 7

BIORREMEDIAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS 96

COM BIODIESEL E SEUS BLENDS COM DIESEL:

UMA REVISÃO Ricardo de Oliveira Mota e Amaro Emiliano Trindade Silva

CAPÍTULO 8

BIOENERGIA, ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS 111

E AMBIENTAIS: SEUS EFEITOS NA SAÚDE,

CENÁRIOS E CAIsdINHOS

Evangileno Nunes Leal e Grace Caroline _Nery Jacobina

CAPÍTULO 9

BIODIESEL: UMA ANÁLISE SOBRE OS PRINCIPAIS 123

PAÍSES PRODUTORES

Zenaide de Oliveira Ferraz Silva e Viviane Galvão

CAPÍTULO 10

INFRA.ESTRUTURA LOGÍSTICA — O ELO QUE FALTA 135

PARA A CONSOLIDAÇÃO DO AMBIENTE DE

NEGÓCIO DAS BIOMASSAS — O CASO DO

BIODIESEL E DO ETANOL

José Emanuel Rebouças Ferreira e Roberto Antonio Fortuna Carneiro

CAPÍTULO 11

ESTUDO DA VIABILIDADE FINANCEIRADAADAPTAÇÃO 149

DE UMA MICRO DESTILARIA DE ETANOL COMBUSTÍVEL PARA

PROCESSOS DE PRODUÇÃO A PARTIR DA MANIPUEIRA: UM

ESTUDO DE CASO

Eliane Teixeira de Assunção, Vítor Hugo Moreau, Eduardo Augusto Brito Arêas e

Nazaré .Franco Santana

Page 14: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

17

CAPÍTULO 1

RESTRIÇÕES REGULATÓRIAS AO

DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DE

BIOETANOL COMBUSTÍVEL NO BRASIL:

UM ENFOQUE AMBIENTAL

Luis Polybio Brasil Teixeira

Fábio Rodrigues Teixeira

Luis Manuel Garcia Reyes

Milena Nascimento Sales

RESUMO

Cada vez mais se exige a geração de energia de forma limpa, sendo que o

bioetanol, em vários aspectos, apresenta-se como uma das melhores solu-

ções economicamente viáveis disponíveis na atualidade, mesmo com os

cuidados ambientais que requer sua produção. O presente estudo visa

apresentar as principais restrições regulatórias vigentes sobre a produção

de bioetanol, com ênfase nos princípios aplicáveis à gestão ambiental.

Com esse horizonte, as unidades produtoras poderão melhor se preparar

para a obtenção sustentável do bioetanol combustível.

PALAVRAS-CHAVE: Bioetanol. Meio Ambiente. Regulação.

Page 15: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

18 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

INTRODUÇÃO

A sociedade atual impõe, de forma cada vez mais abrangente, que a

produção de energia seja não somente renovável e limpa, mas sustentável,

sendo necessário satisfazer as necessidades do presente sem comprometer o

bem-estar das gerações seguintes. Não existe processo industrial mais eficiente

na captação de energia que a fotossíntese realizada pelas plantas, que, para

efetivar tal atividade, precisam de solo, água e sol. Há de se ressaltar que não

há país tão privilegiado nestes aspectos quanto o Brasil (VECCHIA, 2010).

Vecchia (2010) observa que qualquer cultura alimentícia, para ter

importância econômica e social, necessita de escala e acaba, consequentemente,

se tornando uma monocultura, acrescentando que um ecossistema natural é

normalmente composto de elevada heterogeneidade biológica e que limitá-lo

com uma única espécie seguramente produz fortes desequilíbrios ambientais,

os quais desencadeiam mudanças de micro-climas, alteração do regime local

de chuvas, erosão dos solos, entre outros. Observa-se que a era da energia

limpa, proveniente do uso da biomassa, passa pelo aumento das áreas de cultivo

das culturas de inSumos geradores de energia, existindo o grande desafio de

transformá-los em commodities internacionais, sendo necessário,

primordialmente, garantir o abastecimento, com a inserção de novos produtores

em áreas ainda não exploradas, além de mecanismos que assegurem

estabilidade de preços e a padronização internacional das especificações dos

produtos visando dar credibilidade.

A produção de combustível com o emprego de biomassa, que também

pode ser utilizada para a alimentação humana, não é assunto pacífico no

debate mundial, existindo até mesmo estudiosos que atestam que a produção de

bioetanol da cana-de-açúcar não reduz a emissão de gases de efeito estufa, além

de trazer consequências desastrosas, como o deslocamento de pequenos

agricultores, a redução da segurança alimentar, o estresse hídrico, com a

consequente redução da disponibilidade futura de água, e o aceleramento do

desmatamento, com a produção especializada em grandes propriedades

monocultoras manejadas com alto uso de insumos agroquímicos (ALTIERI,

2012).

Page 16: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

19

Assim, torna-se imperioso encontrar o equilíbrio regulatório na bus ca

pelo atendimento às necessidades energéticas para o bom desenvolvimento da

humanidade, sem perder de vista a preservação do meio ambiente. Desta

forma, este estudo visa destacar as principais restrições regulatórias ao

desenvolvimento da indústria do bioetanol no Brasil.

O empreendimento sucroalcooleiro, como toda atividade que envolve

aspectos relativos à produção agrícola e industrial, gera consequências sobre o

meio ambiente e, para tentar minimizar os efeitos deletérios de sua

produção, são editadas restrições regulatórias, principalmente no que diz

respeito ao licenciamento ambiental, ao uso do solo e dos recursos hídricos, à

poluição atmosférica e sonora, bem como às que possuem impactos sobre a

fauna e flora. Tais aspectos serão analisados a seguir, sem deixar de se

mencionar, em primeiro lugar, os princípios fundamentais norteadores da

questão ambiental que são aplicados ao setor sucroalco oleiro.

1 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS APLICÁVEIS AO SETOR

SUCROALCOOLEIRO

Observa Machado (2011) que a natureza normativa dos princípios

jurídicos é a promoção de critérios para a resolução de divergências entre

normas, quando forem aplicadas a um caso concreto. Nesse sentido,

Moraes (2011) afirma que princípios são diretrizes basilares que devem ser

seguidas e observadas por todos os operadores do direito.

Assim, no presente trabalho, são apresentados os princípios fundamentais

que devem ser utilizados para nortear a criação e a aplicação de normas

regulatórias, com vistas ao desenvolvimento sustentável da atividade

produtiva de bioetanol combustível, sem perder de vista a preservação do

meio ambiente.

Um dos princípios que regem a atividade sucroalcooleira é o princípio

do desenvolvimento sustentável. Para Nascimento (2009), tal postulado se

caracteriza pela manutenção das bases da produção e reprodução do homem

e suas atividades, harmonizando o crescimento econômico e a preservação do

meio ambiente, visando garantir recursos naturais para as futuras gerações.

Page 17: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

20 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Prossegue o mesmo autor destacando que os recursos ambientais são finitos e

a extinção deles conduz a um esgotamento para a possibilidade de

existência humana, afirmando ser inaceitável que as atividades econômicas se

desenvolvam sem esse cuidado com o meio ambiente.

Para Moraes (2011), é necessário buscar a tutela ambiental, mas de forma

consciente e fundamentada, pois não se pode esquecer que é vital garantir o

desenvolvimento econômico e social, com vistas a erradicar a fome e a

pobreza, de mitigar as deficiências do sistema educacional brasileiro, de

proporcionar segurança à população, além de tantas outras questões a serem

trabalhadas.

Com relação ao princípio da prevenção, Czyzeski (2010) ressalta que se faz

presente a partir do reconhecimento de que os prejuízos quando alcançam o

meio ambiente, em sua grande maioria, não têm volta nem possibilidade de

reparo e, mesmo quando esta exista, seu custo é alto e leva um período de

tempo longo para restaurar o equilíbrio que existia anteriormente. Neste caso,

a prevenção decorre do nexo causal entre a ação e suas consequências, em

sua grande maioria comprovadas cientificamente.

Assevera Moraes (2011) que o princípio da prevenção cuida de impactos

conhecidos, agindo quando existe certeza, sabendo-se que é impossível

recompor, exatamente, uma biodiversidade perdida, sendo que justamente esta

é a razão para se tutelar o meio ambiente de forma preventiva, significando

uma ação prévia contra algo indesejável.

Brito (2011) assinala que o princípio da prevenção não estabelece atividades

econômicas que devam ser prevenidas, subtendendo-se, portanto, que todo e

qualquer empreendimento, independentemente de sua essência, deve ser

previamente mapeado para se precaver e evitar que, pela falta de cuidado,

seja prejudicada não só a sustentabilidade, mas, também, a renovabilidade

ambiental.

Intrinsecamente relacionado às questões ambientais destaca-se, ainda, o

princípio da obrigatoriedade da ação estatal que, no entender de Brito

(2011), trata-se de uma obrigação do Estado que, utilizando todos os meios

e recursos disponíveis a seu alcance, deve atuar preventivamente para evitar

as degradações ao meio ambiente, punindo aquele que agir em desacordo

com as normas ambientais vigentes.

Page 18: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 21

Nesta seara, não se pode esquecer o princípio do direito humano

fundamental que, no pensamento de Brito (2011), compreende o sentido

de que todos têm direito a usufruir de um meio ambiente saudável, não

degradado, ou seja, faz parte da própria essência da natureza humana

desfrutar desse bem de uso comum.

Nas palavras de Giehl (2008), foi, nos anos 1980, que surgiram as

primeiras menções ao uso do princípio da precaução em matéria ambiental,

especificamente no que diz respeito à proteção da camada de ozônio, com

emissão de alertas ao uso dos clorofluorcarbonetos (CFC). Ressalta que tal

princípio se traduz na necessidade de deliberar sobre questões relacionadas ao

meio ambiente, tendo em perspectiva a certeza científica sobre o potencial dano

futuro de determinada atividade. Com efeito, no entender de Moraes (2011),

em caso de existência de dúvida quanto à possibilidade de dano ambiental, a

situação ensejadora desse deve ser evitada, principalmente quando não

existem conhecimentos suficientes para se garantir a não ocorrência da

degradação.

Segundo Colombo (2006) o princípio do poluidor-pagador é de caráter

normativo econômico, tendo em vista determinar que, aquele que degrada o

meio ambiente deve arcar com as despesas originadas pela atividade

poluente, sendo, assim, utilizado para compelir o uso racional dos recursos

naturais escassos. Destaca o mesmo autor que este princípio não autoriza

quem quer que seja a poluir o meio ambiente e registra que os custos para

evitar danos decorrentes da regulamentação ambiental são sustentados pelo

poluidor e também pela sociedade, considerando que, na prática, o poluidor

transfere tais custos ao produto final.

Por último, mas não menos importante, é o principio do usuário-

pagador que, no entendimento de Takeda (2010), parte da consideração de

que deve existir uma compensação financeira pela concessão do direito de

uso de um recurso natural, devendo ser caracterizado como um preço

público que está sendo cobrado pelo uso de um bem pertencente à coletividade.

Desta forma, exemplificando no caso do uso dos recursos hídricos, além dos

valores normalmente cobrados pelo tratamento e distribuição da água, há

previsão para cobrança de um valor adicional com vistas à realização de ações

no sentido da reversão do processo de degradação das bacias hidrográficas de

forma a proporcionar uma infra-estrutura para atendimento com

Page 19: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

22 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

qualidade das necessidades de saneamento básico.

Moraes (2011) destaca que este princípio está intrinsecamente relacionado

ao dever de manutenção do bem ambiental, no seu sentido quantitativo,

mediante uma maior conscientização para seu uso racional, de forma a

garantir o direito das gerações futuras.

2 P RINCIPAIS REST RIÇÕES REGULATÓRIAS AO

DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DO BIOETANOL NO

BRASIL

2.1 Restrições regulatórias relativas ao licenciamento ambiental

No Brasil, o órgão responsável por todas as decisões estratégicas a respeito

do meio ambiente é o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

Trata-se de um órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio

Ambiente (SISNAMA), competindo-lhe, dentre outras atribuições,

estabelecer normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou

potencialmente poluidoras, bem como determinar a realização de estudos das

alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou

privados, requisitando informações indispensáveis á apreciação de estudos

prévios de impacto ambiental e respectivos relatórios, no caso de obras ou

atividades de significativa degradação ambiental.

A definição legal do licenciamento ambiental está indicada no inciso I

do artigo 1° da Resolução CONAMA n° 237/1997, transcrito abaixo:

[...] Art. I° - Para efeito desta Resolução são adotadas

as seguintes definições:

- Licenciamento Ambiental: procedimento adminis-

trativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia

a localização, instalação, ampliação e a operação de

empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos

ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente

poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma,

possam causar degradação ambiental, considerando as

disposições legais e regulamentares e as normas técnicas

aplicáveis ao caso.

Page 20: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 23

O artigo 8° da sobredita Resolução apresenta as etapas necessárias para

a obtenção do licenciamento ambiental, as quais estão listadas abaixo:

[...] Art. 8° - O Poder Público, no exercício de sua com-

petência de controle, expedirá as seguintes licenças:

I - Licença. Prévia (LP) - concedida na fase preliminar

do planejamento do empreendimento ou atividade

aprovando sua localização e concepção, atestando a

viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos bá-

sicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas

fases de sua implementação;

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do

empreendimento ou atividade de acordo com as espe-

cificações constantes dos planos, programas e projetos

aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental

e demais condicionantes, da qual constituem motivo

determinante;

III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da

atividade ou empreendimento, após a verificação do

efetivo cumprimento do que consta das licenças anteri-

ores, com as medidas de controle ambiental e condici-

onantes determinados para a operação.

Resta claro que qualquer atividade que exija o licenciamento ambiental

deverá passar por três etapas de análise por parte do órgão ambiental que

expedir a respectiva licença, distintas, sucessivas e interligadas, sendo que a

primeira se refere ao planejamento do empreendimento, a segunda à sua

instalação e a última à. licença para operar o empreendimento.

Quanto à competência legislativa em matéria ambiental é concorrente,

significando dizer que todos os entes da Federação estão autorizados a executar o

licenciamento ambiental. Alguns estudiosos criticam esta repartição de

competência, por concentrar excessivamente atribuições nos órgãos estaduais

de meio ambiente, os quais não apresentam condições de atender à demanda.

Moraes (2011) conclui que, pela legislação aplicável e vigente, o

licenciamento ambiental das usinas de produção de bioetanol está a cargo dos

órgãos ambientais estaduais.

Além dos três tipos de licença anteriormente citadas, no caso

específico da unidade produtora de bioetanol, pelo caráter poluidor de

Page 21: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

24 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

sua atividade, demanda o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu

respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).

2.2 Restrições regulatórias quanto ao uso do solo

No que diz respeito ao uso do solo, o presente trabalho destaca, inicialmente,

o instituto da Reserva Legal, que, no entender de Moraes (2011), se trata de

uma limitação imposta pelo poder público ao direito de uso da propriedade,

obrigando o proprietário ou possuidor de área rural a reservar parte de sua

terra para uso restrito, conforme determina a Lei.

Com efeito, a Reserva Legal está definida nos termos do inciso III do artigo

3°, sendo delimitada a área pelos percentuais definidos no artigo 12, ambos

da Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012 (chamado de Novo Código Florestal

Brasileiro), elencando-se abaixo os artigos citados:

[...] Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

[...] III - Reserva Legal: área localizada no interior de

uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos

do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico

de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel

rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos proces-

sos ecológicos e promover a conservação da biodiversi-

dade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre

e da flora nativa;

[...] Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com

cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Le-

gal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áre-

as de Preservação Permanente, observados os seguintes

percentuais mínimos em relação à área do imóvel:

I - localizado na Amazônia Legal:

a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área

de florestas:

b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em

área de cerrado;

c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de

campos gerais;

II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte

por cento).

Page 22: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 25

A referida Lei, além de delimitar o percentual de terras destinadas à Reserva

Legal, também definiu como devem ser mantidas, inclusive estipulando prazos

para início da recomposição da Reserva Legal, conforme prevê o seu artigo 17,

caput e parágrafo 4°.

Portanto, no sentir de Moraes (2011), as usinas de bioetanol, quer sejam

as proprietárias da terra ou aquelas que utilizam terras de terceiros, sob

qualquer forma, ou mesmo como simples adquirentes da cana-de-açúcar,

responderão indiidualmente (nos casos em que forem a proprietária da terra)

ou solidariamente (nos casos de utilização de terras de terceiros ou como

adquirentes do insumo) pelo não atendimento ao disposto na Lei referente ao

instituto da Reserva Legal, responsabilidade esta de forma tríplice, ou seja,

nas esferas civil, administrativa e penal.

Portanto, cabe aqui invocar o princípio da prevenção anteriormente

explanado, devendo as unidades produtoras de bioetanol agir de forma

antecipada, até mesmo para verificar se seus fornecedores de insumo estão

de acordo com a legislação ambiental vigente.

Tratou a Lei de permitir ao proprietário ou possuidor de imóvel rural

com área de Reserva Legal em percentual inferior ao mínimo estabelecido três

formas de viabilizar o cumprimento da obrigação, conforme previsto no

artigo 66 do referido diploma legal: recompor a Reserva Legal; permitir a

regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal ou compensar a

Reserva Legal.

2.3 Restrições regulatórias quanto à poluição atmosférica

Rangel (2012) entende o meio ambiente como um bem difuso, não

exclusivo de determinada região ou grupo de pessoas, ou seja, é um direito de

todos, tanto dos presentes quanto dos que estão por vir, encarado como algo

pertencente a toda a sociedade, não subsistindo a possibilidade de quantificar,

por exemplo, o total de pessoas atingidas pela poluição atmosférica, pois a

coletividade é indeterminada.

Para Moraes (2011), uma das grandes preocupações com o meio

ambiente sadio concentra-se na qualidade do ar atmosférico, pois o descuido

com sua tutela pode gerar danos irreparáveis. No Brasil, o Conselho Nacional

do Meio Ambiente (CONAMA) é o órgão responsável pela determinação dos

padrões de emissão.

Page 23: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

26 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Nesse sentido, o CONAMA editou a Resolução n° 382, de 26 de

dezembro de 2006, a qual tratou dos limites de poluição atmosférica de fontes

fixas provenientes de procedimento de geração de calor, destacando os limites

para emissão de poluentes atmosféricos resultado da combustão externa do

bagaço de cana-de-açúcar, conforme anexo III da referida Resolução.

Outra questão relacionada à poluição atmosférica, intrinsecamente ligada

à atividade sucroalcooleira, é a prática da queima da palha da cana-de-açúcar,

que tem por objetivo eliminar as folhas da cana e facilitar o corte, bem como

afugentar animais peçonhentos. Assim, a disciplina para o uso do fogo nas

atividades agrícolas está presente no Decreto n° 2.661, de 8 de julho de 1998.

Pelo referido Decreto, verifica-se que a regra geral é a proibição do uso

do fogo nas florestas e demais formas de vegetação. O mesmo diploma legal

estabelece algumas exceções, mediante o procedimento chamado de queima

controlada, definida no parágrafo único do artigo 2°.

No que diz respeito à atividade sucroalcooleira, a referida norma legal

estabeleceu, em seu artigo 16, que tal procedimento será eliminado de forma

gradativa, numa proporção de, no mínimo, vinte e cinco por cento da área

mecanizável a cada período de cinco anos, ou seja, num prazo máximo de

vinte anos deveria ser eliminado todo procedimento de uso do fogo na região

mecanizável, sendo esta entendida como uma área em que a declividade do

terreno é inferior a 12%, justificada pela possibilidade de acidentes com

máquinas colheitadeiras para inclinações maiores. O legislador ainda

destinou previsão legal para a revisão periódica deste conceito, em

decorrência do desenvolvimento tecnológico e dos efeitos sócio-econômicos.

2.4 Restrições regulatórias quanto ao uso dos recursos hídricos

A Lei Federal n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997, instituiu a Política

Nacional dos Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenci-

amento de Recursos Hídricos, destacando-se o uso do conceito de desen-

volvimento sustentável, com vistas à preservação do recurso para as atu-

ais e futuras gerações.

Page 24: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 27

No seu artigo 10, estabeleceu o legislador que a Política Nacional de

Recursos Hídricos é fundamentada no conceito de que a água é um bem de

domínio público e dotado de valor econômico e que, em situações de escassez,

seu uso prioritário será para consumo humano e dessedentação de animais,

devendo, ainda, a gestão dos recursos hídricos proporcionar o uso múltiplo

das águas. O artigo 12 prevê a sujeição à outorga pelo Poder Público para

uso da água como insumo em processo produtivo, prevendo o seu pagamento,

conforme inciso IV do artigo 5°. Assim, a Lei tratou de colocar em prática o

principio do usuário-pagador, anteriormente explanado.

A cobrança pelo uso dos recursos hídricos é um dos instrumentos de gestão

instituídos pela Lei Federal n° 9.433, tendo por objetivo estimular o uso

racional da água e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e

preservação dos mananciais das bacias, não podendo ser caracterizado, assim,

como um imposto. A cobrança surge em função da escassez do referido recurso,

tanto em qualidade como em quantidade e, conforme previsto na Lei, os

recursos hídricos passaram a ter valor econômico. No caso do Brasil, compete

à Agência Nacional de Águas (ANA) a operacionalização do serviço de

cobrança pelo uso das águas que estão sob o domínio da União,

caracterizadas como os rios ou demais cursos d'água que percorrem mais de

um Estado da Federação, conforme previsão constitucional.

Na lição de Moraes (2011) a demanda de recursos hídricos pelos

produtores de bioetanol de cana-de-açúcar é pequena, especialmente no centro-

sul do país, que não necessita de irrigação, sendo bastante para o

desenvolvimento da cultura o regime natural das chuvas, contribuindo,

também, neste aspecto, o processo de fertirrigação com a utilização da

vinhaça. Dependendo do clima, a cultura da cana necessita de 1.500mm a

2.500mm de lâmina d'água proporcionalmente distribuídos durante o ciclo

(um período úmido e quente para crescimento e um período seco para

maturação e acúmulo de açúcar), sendo que, na região Nordeste, é utilizada a

técnica de irrigação de salvação, após o plantio da cana, visando garantir a

brotaçã o em condições de déficit hídrico e como irrigação suplementar

(BNDES, 2008).

Conforme registra a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA),

nos últimos anos, vem se reduzindo a utilização de recursos hídricos pela

Page 25: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

28 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

indústria sucroalcooleira, sendo que atualmente o consumo é de um metro

cúbico por tonelada de cana processada, com viés de que este parâmetro ainda

venha a sofrer redução, mediante a aplicação de técnicas mais modernas no

uso da água.

A vinhaça é o mais importante efluente líquido da produção sucroalcooleira,

com teores elevados de potássio e de matéria orgânica e sendo pobre nos

demais nutrientes. Nos anos 1970, a vinhaça era lançada diretamente nos rios,

gerando consequências desastrosas ao meio ambiente. Nessa época, passou-se

a utilizá-la no processo de fertirrigação, com vistas a aumentar a produtividade

agrícola e diminuir o uso de fertilizantes químicos. Se utilizada em taxas

adequadas, respeitando-se as características dos solos em que é aplicada, bem

como a localização das nascentes d'água, a vinhaça, além de fornecer água e

nutrientes, age como recuperadora da fertilidade do solo (BNDES, 2008).

2.5 Outras restrições regulatórias

Conforme ensina Moraes (2011), poluição sonora é a degradação do

ambiente com origem em sons e ruídos que, em decorrência da intensidade, do

momento, constância ou mesmo duração, produz incômodo de modo a

atingir, de forma negativa, a qualidade de vida e o bem-estar da coletividade. O

seu combate tem como objetivo afastar seus impactos negativos, tutelando,

dessa maneira, o sossego alheio.

Assim, no sentir de Moraes (2011), tendo em vista que a instalação e o

funcionamento de unidades produtoras de bioetanol produzem ruídos, tanto na

área industrial quanto na agrícola, decorre a necessidade de realização de

estudos específicos no que concerne ao licenciamento ambiental, levando-se em

conta, também, os ruídos que podem ser gerados pelos veículos que venham a

servir ao empreendimento. Isto posto, verifica-se a aplicação do princípio do

poluidor-pagador, devendo-se impor ao empreendedor medidas de

automonitoramento, no sentido de mitigar as externalidades negativas da

atividade.

Leciona Moraes (2011) que, diante das características e dos tipos de

impactos decorrentes da implantação e da operacionalização das unidades

produtoras de bioetanol, deve ser observado, quando do procedimento de

licenciamento ambiental, um levantamento dos impactos sobre a fauna,

bem como apresentado um conjunto de propostas mitigadoras, tanto

Page 26: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 29

para a unidade industrial quanto para a agrícola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção de energia limpa e renovável torna-se imperiosa para a

existência das gerações vindouras e não apenas uma mera questão

mercadológica. Existem sinais claros de que os consumidores estão

alterando seus hábitos de consumo com vistas à aquisição de bens e

serviços que não insultem ao meio ambiente Mas, por melhor que seja a

pretensão inicial, inúmeros cuidados devem ser tomados para que a

produção de energia renovável, no caso específico do bioetanol

combustível, não acabe por gerar prejuízos maiores do que os benefícios

advindos de seu uso para o meio ambiente e a população.

A ponderação dos princípios fundamentais à causa ambiental parece

ser a melhor solução para a resolução dos conflitos que inevitavelmente

emergem quando se trata de colocar em marcha novos empreendimentos

geradores de energia, tão vitais para o desenvolvimento da humanidade

quanto à preservação ambiental.

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tentável. 3a Ed. São Paulo, Rio de Janeiro:Expressão popular, AS-PTA, 2012.

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ago. 2012.

____ Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional

de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição

Page 27: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

30 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Federal, e altera o art. 1° da Lei n° 8.001, de 13 de março de 1990, que

modificou a Lei n° 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em:<

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/19433.htm>. Acesso em: 8

ago. 2012.

________ . Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção

da vegetação nativa; altera as Leis nQs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393,

de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as

Leis nQ' 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e

a Medida Provisória n° 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras

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www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011 -2014/2012/Lei/

L12651.htm>. Acesso em: 8 ago. 2012.

_______ . Decreto 2.661, de 8 de julho de 1998. Regulamenta o parágrafo

único do art. 27 da Lei n° 4.771, de 15 de setembro de 1965 (código

florestal), mediante o estabelecimento de normas de precaução relativas ao

emprego do fogo em práticas agropastoris e florestais, e dá outras

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Page 29: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

32 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

CAPÍTULO 2

AGRICULTURA FAMILIAR NA CADEIA

PRODUTIVA DO BIODIESEL NA BAHIA:

UMA TENTATIVA DE INCLUSÃO SOCIAL

Elizabete Clara Silveira

Alberto Freire Nascimento

RESUMO

O trabalho tem como objetivo fazer uma análise crítica da participação

da agricultura familiar no Programa Nacional de Produção e Uso de

Biodiesel-PNPB,nos municípios de Olindina e Itapicuru na

Bahia.Esteprograma tem como um de seus pilares à inclusão social, atra-

vés da participação da Agricultura Familiar na cadeia produtiva do bio-

diesel. A evolução do programa no estado, até então, não foi suficiente

para acrescentar ao agricultor familiar perspectivas de melhorias em suas

condições socioeconômicas.A situação da Agricultura Familiar se en-

contra, em situação precária, não existindo, até o momento, uma política

eficiente voltada ao desenvolvimento social. Por isso, é interessante en-

tender o processo de formulação e execução de políticas públicas que

regem a inserção social, considerando as singularidades de cada região.

PALAVRAS-CHAVE: Agricultura Familiar; Programa Nacional de Pro-

dução e Uso de Biodiesel; Inclusão Social.

BIOENERGIA; UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 33

INTRODUÇÃO

No final de 2003, o Governo Federal lançou o Programa Nacional de

Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), uma das grandes apostas para con-

solidar a posição do Brasil como protagonista no fornecimento de Bio-

Page 30: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

34 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

combustíveis para o mercado interno. Este Programa enfoca a questão

social, juntamente com as motivações ambientais e econômicas, buscan-

do aproveitar as especificidades regionais, bem como atender aos anseios

da sociedade civil organizada.

Na perspectiva de substituição progressiva dos combustíveis fósseis

por energias renováveis, a produção de biodiesel na Bahia tem um papel

fundamental, que é a inclusão social e o desenvolvimento regional, atra-

vés da participação da agricultura familiar como fornecedora de parte da

matéria prima usada na produção do biocombustível.

Para execução do programa seria necessário uma prévia elaboração e

análise das diferenças regionais, assim como: estrutura, cultura, clima,

política e economia. Isso, devido diferenças regionais existentes no país.

Sendo assim, é de fundamental importância entender o processo de for-

mulação e execução de políticas públicas que regem a inserção social de

segmentos antagónicos como a agricultura familiar e indústria agroener-

gética no país.

A preocupação mundial com o esgotamento dos combustíveis de

origem fóssil, juntamente com a mitigação pela diminuição dos efeitos

causados com o desenvolvimento caracterizado como pouco sustentável,

tornou-se um dos principais paradigmas da atualidade. Isto acarretou a

necessidade de novas fontes energéticas renováveis, na tentativa de dar

continuidade ao crescimento econômico com redução do efeito estufa e

diminuição das desigualdades sociais.

As fontes energéticas do mundo são atendidas em sua maioria por

combustíveis de origem fóssil. O Brasil é considerado um dos pioneiros

na produção e consumo de energias renováveis, através do uso das bio-

massas. Uma vez que as reservas de petróleo são finitas, estudos indicam

que se o padrão de consumo mantiver seu ritmo de expansão, essas reser-

vas poderão se esgotar um período considerado próximo.

A fim de garantir um parque energético seguro, o governo brasileiro

apresenta uma promissora perspectiva de crescimento no uso do biodiesel

para o mercado interno. Isto acarreta a necessidade de organizar setores da

sociedade civil, empresa e estado, no sentido de, obter competitividade,

viabilidade, sustentabilidade com desenvolvimento socioambiental.

A principal estratégia do programa foi possibilitar a exploração do

Page 31: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 35

biodiesel criando mercado consumidor através de leis regulamentadoras,

o que favorece uma série de oportunidades para uma demanda de traba-

lhadores, empresas e setores do estado.

Nesse contexto, José A. L. Santos, 2012, p.26. Em sua tese de dou-

torado afirma que:

Essa regulação vem fomentando ações voltadas ao

surgimento de articulações sociais complexas que de-

mandam a necessidade de repensarmos as políticas

públicas no âmbito da questão agrária no Brasil (SAN-

TOS, 2012 p.26).

Sendo assim, o PNPB enquanto Politica Pública de interesse político,

social e econômico apresenta um de seus pilares à inclusão social no setor

agroenergético. Nesse sentido, é de fundamental importância entender

como está inserida a Agricultura Familiar baiana no novo contexto

mercadológico. Este é um programa viável para consolidar a posição do

país como protagonista mundial no fornecimento de biocombustíveis,

sustentado na inclusão social para o desenvolvimento.

A gestão do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel —

PNPB é gerida pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a

Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), que promovem o incentivo à

produção do novo combustível por meio das empresas produtoras de

biodiesel, que sensibiliza e apoia o ingresso da participação da agricultura

familiar na sua cadeia de produção.

Para a inserção da Agricultura Familiar no mercado do Biodiesel é

essencial o desenvolvimento de tecnologias e condições que manifeste o

interesse político-administrativo e empresarial, representados por

acesso ao crédito, informação, capacitação, mudança no modo de

cultivo e gestão da produtividade, conciliando com canais de

comercialização, transporte e infraestrutura usada no manejo da

agricultura. Esses fatores são de importância para a evolução do

programa. Por isso, são os maiores gargalos desafiadores do

desenvolvimento e disseminação do projeto de bioenergía já iniciados na

Bahia.

Na tentativa de promover a evolução do programa, o governo oferece

Page 32: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

36 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

incentivo fiscal e financeiro às empresas privadas ou de capital misto, que

inserem a participação da agricultura familiar na cadeia de produção do

biodiesel.

Uma dessas tentativas utilizadas pelo governo federal e estadual para

incentivar a inclusão social, através da agricultura familiar, foi introduzir

na produção de oleaginosa o Selo Combustível Social. Para isso, a empre-

sa privada ou de capital misto que utilizarem percentuais da matéria pri-

ma para produção do biodiesel proveniente da agricultura familiar, em

contrapartida, recebe isenção fiscal nas alíquotas de PIS, PASEP, CO-

FINS e maior facilidade em conseguir empréstimo com menores juros.

Dessa forma, a dimensão social consiste em um importante fator de sus-

tentação do PNPB no Brasil.

Essa nova postura, de compartilhamento de responsabilidades entre

Estado e sociedade não implica, entretanto, em menor responsabilidade

dos governos. Ao contrário, fortalece o seu papel formulador de políticas

públicas de grande alcance, visando o bem comum e a equidade social,

aumentando sua responsabilidade em bem gerenciar a sua máquina, os

recursos públicos e naturais na sua prestação de contas à sociedade.

A Bahia é o estado brasileiro que apresenta o maior número de agri-

cultores familiares em atividade rural. Entretanto, é também um dos esta-

dos onde a Agricultura Familiar encontra pouca assistência por parte do

governo. Percebe-se uma falta de política pública eficaz, voltada para

esse contingente de pessoas à margem do crescimento social e econômi-

ca.

As dificuldades encontradas pela agricultura familiar baiana retrata-

da pela escassez de água e pobreza, consequentemente, a dificuldade de

encontrar estratégias de melhorias no modo de conduzir a atividade ru-

ral. Isso pode contribuir com a saída da mão de obra rural para outros

estados, à procura de melhores condições de vida, que nem sempre são

bem sucedidas.

Essa vulnerabilidade do agricultor rural à espera de chuva, que nor-

malmente, não acontece no tempo esperado nem na quantidade esperada,

juntamente, com a falta de apoio Estatal, agravado pela falta de tradição

no modo de trabalho organizado, tem contribuído na dificuldade do esta-

do enquanto fomentador de projetos sociais voltados para a agricultura

Page 33: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 37

familiar na cadeia produtiva do biodiesel.

Nesse contexto, desenvolvemos urna pesquisa que tem como objeti-

vo, fazer uma análise crítica da relação entre produção de biodiesel e

agricultura familiar como política pública do Estado da Bahia, para inser-

ção da agricultura familiar na produção de biodiesel. Algumas constata-

ções foram baseadas na pesquisa de campo, com aplicação de questioná-

rio com Agricultores Familiares, gestores, e líderes da Cooperativa CO-

OPERO nos município de Olindina e Itapicuru, na Bahia.

O problema para desenvolvimento da pesquisa partiu da seguinte

interrogação. Para o agricultor familiar baiano, participar do PNPB

tem contribuído com alguma melhoria em seu padrão socioeconômico?

Os municípios de Olindina e Itapicuru foram escolhidos para realiza-

ção da pesquisa por três motivos. Primeiro foi o fato do PNPB, promover

a região como escolhida para um dos polos de plantação e cultivo do

girassol por meio da Agricultura Familiar. O outro motivo se deve, pela

questão apresentada em discurso governamental, em que a região possui

um grande potencial para cultivo de oleaginosa, principalmente o giras-

sol, e que a mesma possui grande concentração de agricultores familiares

em atividade no campo. O terceiro item foi o fato da região já ter plantado

girassol pela agricultura familiar para produção de biodiesel em 2009.

Sendo assim, essa experiência de plantio, dava para ter uma breve avalia-

ção do resultado da parceria.

Durante a busca por estudos já explorados nos municípios estudados,

como ponto de partida para realização deste trabalho, ficou evidente a

escassez de outros estudos voltados para a agricultura familiar na cadeia

produtiva do biodiesel nos municípios de Olindina e Itapicuru,o que

ocorre o contrário quando comparamos com a microrregião de Irecê,

encontra-se a maioria dos trabalhos já concluídos.

1. PRODUÇÃO DE BIODIESEL E ENCLUSÃO SOCIAL

Nos países considerados desenvolvidos é crescente a demanda ener-

gética nos setores produtivos e de serviços. Nos países emergentes, co-

nhecidos como BRICS (Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul), a

Page 34: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

38 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

tendência de expansão dessa demanda também é essencial para assegurar

o crescimento econômico e a garantia de acesso a bens de consumo que

favorecem melhorias devida da população.

Sendo assim, assegurar a necessidade de constantes pesquisas que

explorem novas tecnologias para o desenvolvimento sustentável com es-

tratégias de melhores alternativas, que sejam economicamente competi-

tivas e tecnicamente viáveis, para garantir o crescimento econômico, são

perspectivas que contribuem para novos avanços na matriz energética do

país.

O uso de tecnologias sustentáveis no cultivo da matéria prima tem

facilitado o progresso social da reforma da agricultura no país. Pois, cria

novas oportunidades de emprego e renda tanto no campo quanto na indús-

tria, o que favorece a inclusão social e desenvolvimento regional, que é o

elo da cadeia de produção do biodiesel por meio da agricultura familiar.

A Agência Internacional de Energia reforça a importância da produ-

ção e uso das energias renováveis no país. Para essa instituição,

[...] Em áreas rurais, as fontes renováveis apropriadas a

esse contexto podem contribuir de forma mais incisiva

para o desenvolvimento econômico, melhorando a pro-

dutividade na agricultura, reduzindo as desigualdades

regionais, contribuindo para a melhoria da qualidade de

vida da população, notadamente nos campos da saúde e

educação, permitindo a melhoria dos meios de

comunicação e reforçando a capacidade de produção na

região com melhor infraestrutura[...] (ATE, 2002).

Na Bahia, esse modelo agrícola pode significar melhoria na qualidade

de vida da população, devido suas vantagens em extensão territorial,

possuir três biomas: mata atlântica, caatinga e cerrado, possuir usina de

biodiesel, malha ferroviária, rodoviária e portos capazes de fazerem o

escoamento da produção do biocombustível.

Nesse sentido, o desafio imediato é assegurar que a matriz energéti-

ca baiana considere a segurança ambiental e os valores sociais pelos

quais foram planejadas. Para isso, a Secretaria Estadual de Ciência,

Tecnologia e Inovação (SECTI), em 2004, lançou a Rede Baiana de

Page 35: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 39

Biocombustíveis, integrada por diversos setores do ramo do biodiesel,

com o objetivo de ampliar e apoiar as estratégias do programa de biodi-

esel no Estado.

A produção de biodiesel é uma a estratégia de oportunidade de forma

que o Brasil possa minimizar o cenário nacional de desigualdade social,

principalmente, nas regiões do semiárido nordestino e norte do pais, po-

dendo significar uma transformação no campo, gerando conhecimento,

emprego e renda. Além de melhores condições de vida com acesso à

educação, saúde, alimentação, moradia e novas perspectivas de fontes de

renda na agricultura familiar.

Por substituir o óleo diesel que vem do petróleo, tem sido um grande

vetor de redução das emissões de poluentes o que reforça o protagonismo

do Brasil nos acordos e compromissos internacionais de respeito ao meio

ambiente, colaborando assim, para uma maior diversificação da matriz

energética brasileira, que já é exemplo mundial na utilização de energias

renováveis.

A substituição progressiva do biodiesel em relação ao diesel fóssil

vem contribui e apoiar ações para que o Brasil compre menos diesel de

países vizinhos, politicamente instáveis. O que favorece a diminuição da

dependência econômica e ameniza os custos da economia, também agre-

ga valor ao produto quando deixa de exportar o grão in natura para expor-

tar o produto final.

O PNPB, como fruto de políticas públicas dirigida pelo Estado,

deve se pautar em prioridades que levem em consideração a busca pela

soberania energética do país, a democratização dos biocombustiveis, a

inclusão participativa das mais diversas camadas sociais na gestão do

programa, a integração com outros programas de cunho social e a plena

sintonia com uma política estruturada de redução das desigualdades no

país.

2. COOPERATIVA E AGRICULTURA FAMILIAR NA CADEIA DE

BIODIESEL

Page 36: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

40 BIOENERGIA; UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

O Programa Nacional de Produção e liso do Biodiesel (PNPB) pro-

piciou a entrada dos pequenos agricultores familiares no processo de pro-

dução de biodiesel agregada por à formação de cooperativas agrícolas. O

trabalho rural produzido através do cooperativismo demonstra uma justi-

ficativa de maior profissionalização do agronegócio.

Percebe-se que o modelo de trabalho voltado ao cooperativismo no

nordeste, particularmente na Bahia, ainda encontra-se pouco expressivo

e incipiente o que dificulta a evolução do programa na inserção social

nessa região.

O modelo de trabalho do agricultor familiar da Bahia diferencia dos

utilizados no Sul, Sudeste e Centro Oeste do país, lá empresas disputam

agricultores, o que promove bons resultados para o programa nessa par-

ceria entre empresa e agricultores familiares. Isso reflete a tradição de

cultivo dentro da logística de cooperativa, pois, as cooperativas já são

empresas que cumprem contratos, procura corresponder às metas de pro-

dução, promove capacitação dos cooperados com gestão eficiente e agri-

cultores empreendedores.

A situação da Agricultura Familiar especialmente no estado baiano

ainda se encontra em situação bem diferente, extremamente precária,

trabalha de forma individualizada, ainda segue o ritmo de subsistência e

com baixo uso de tecnologia. Infelizmente, há dois anos o semiárido

passa por uma extrema seca, uma das piores dos últimos 60 anos, o que

dificulta progressivamente qualquer projeto voltado à agricultura que irá

depender de água.

O que agrava ainda mais a situação, o fato de que, até então, parece

não existir uma política eficaz direcionada à organização dessa

população.O que maximiza as dificuldades inerentes ao sertão, causando

morosidade e retardo no avanço do projeto.

A dificuldade de organização é ainda um desafio entre agricultores

familiares na Bahia. Por esta razão, iniciativas de formação de cooperati-

vas de produção agrícola são fundamentais para o PNPB, sendo uma das

principais diretrizes do trabalho do NI DA dentro do Programa.

A formação de cooperativas e o fortalecimento das que já existem,

principalmente na região do Nordeste permitem uma participação mais

Page 37: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 41

qualificada e sustentável dos agricultores familiares no PNPB, "ajudando

a superar os tradicionais gargalos agrícolas, mercadológicos e gerenciais

destes atores" (VIDA, 2010). Sendo assim, as cooperativas necessitam de

um grupo administrativo constantemente qualificado e capacitado.

As regiões do Sul, Sudeste e Centro Oeste, vêm ganhando força no

desenvolvimento regional, através da inserção social na cadeia produtiva

do biodiesel. Isto demonstra que o aprendizado adquirido com o trabalho

voltado à organização rural parte da consolidação da agricultura familiar

mediante o modelo de cooperativa.

As estratégias de inserção da Agricultura Familiar no programa de

Bioenergia da Bahia, realizada até então, estão sendo repensada se coloca-

das em curso para garantir a efetividade,As ações realizadas

como:formação de técnicos para prestar Assistência Técnica Rural

(ATER)às culturas, promovendo uma visão mais abrangente de toda a

propriedade, envolvendo todas as culturas de qualquer espécie, incluindo

animais de criação e não somente a produção de oleaginosas.

De acordo, as necessidades de estratégias para o desenvolvimento

social, Ignacy Sachs, 2008, em seu estudo Bioenergias: uma janela de

oportunidade. Aponta para a necessidade do olhar mais abrangente para a

agricultura familiar não somente a plantação de oleaginosa.

Ao mesmo tempo, deve-se reabilitar a noção de que o

desenvolvimento rural é ainda possível e benéfico e a de

sem estimular a pluriatividade dos agricultores e seus

familiares na agricultura, nas agroindústrias e nos ser-

viços rurais, não se consegue resolver a crise social que

abala o mundo.Longe de constituir um vestígio do pas-

sado, o desenvolvimento rural ou, mais exatamente, o

desenvolvimento territorial baseado em novos equilí-

brios entre cidade e o campo" (SACHS, 2008, p. 158).

Os técnicos da Atenção Técnica e Extensão Rural —ATER nesta nova

versão de trabalho possuem além das funções já praticadas na primeira

tentativa de plantação de oleaginosa, que era de distribuição de sementes

e mudas de oleaginosas, análise e orientação no preparo do solo, têm

agora a função de capacitar os agricultores familiares quanto a

formação e gestão de cooperativas, elaboração e gestão dos planos de

Page 38: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

negócios de cada propriedade rural.

Esses novos esforços do governo, têm o objetivo promover o fortale-

cimento do pequeno produtor rural,a fim de ampliar o desenvolvimento

regional nas áreas mais remotas, amenizando assim, os desafios encontra-

dos pelo agricultor familiar.Para isso, esse novo modelo de gestão deve

ser o grande fomentador, articulador e facilitador das políticas de desen-

volvimento social nas regiões menos desenvolvidas.

A agricultura familiar ampliará a sua participação nessa

cadeia produtiva desde que haja participação crescente

dos movimentos sociais e das organizações sindicais

que a representam, que sejam ampliados os atuais apoio

governamental e que a inserção dos agricultores famili-

ares seja feita de maneira paulatina e sustentável

(CAMPOS;CARMÉLIO, 2008, p, 94).

A participação da sociedade na fiscalização e no apoio critico fortale-

ce a formulação e execução das políticas articuladas na esfera do poder

público.O desenvolvimento rural, sob essa ótica, representa uma tentati-

va de ir além da modernização técnico-produtiva, apresentado como uma

estratégia de sobrevivência das unidades familiares que buscam sua re-

produção. "O modelo contemporâneo não é mais o do agricultor-empre-

sário, mas o do agricultor-camponês que domina tecnologias, e toma de-

cisões sobre o modo de produzir e trabalhar (informação verbal)" (SCH-

NEMER, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Bahia é o estado brasileiro que apresenta o maior número de

agricultores familiares vivendo no campo, entretanto, é também um dos

estados onde a Agricultura Familiar se encontra, menos organizada ainda

despreparada para o cooperativismo. À falta de políticas públicas eficientes

voltadas para esse contingente de pessoas à margem do desenvolvimento

socioeconômico, traduz as dificuldades encontradas pelos agricultores

familiares. A situação da Agricultura Familiar,

Page 39: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

42 BIOENERGIA; UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

particularmente na Bahia, ainda se encontra em situação bem diferente

do resto do país. A história de atraso e desorganização para o trabalho no

modelo cooperativista retarda a progressão da inserção social no estado.

Isso faz com que, haja uma maior morosidade do serviço público para

evolução dos objetivos do programa. Pois, infelizmente o momento exige

que se faça o que deveria ter feito há muitas décadas, que é a organização

da agricultura familiar por meio de cadastramento, treinamento, capacitação e

gestão para o modo cooperativista. A ausência desses fatores tem

contribuído com o atraso do estado com relação à inserção social para o

desenvolvimento regional. A capacidade para organização é ainda um

desafio entre os agricultores familiares na Bahia. Por esta razão, iniciativas

de formação de cooperativas de produção agrícola são fundamentais na

eficiência do PNPB.

O fraco desempenho da agricultura familiar no nordeste para produ-

ção de biodiesel é apresentado desde os primeiros resultados da produção

de oleaginosa. As empresas, governo e cooperativas localizadas na re-

gião, ainda não conseguiram estruturar satisfatoriamente os agricultores

familiares locais para adotarem uma base produtiva. As estratégias adotadas

até o momento não foram suficiente para corresponder com as expectativas

do programa, no qual o principal motivo para produção de biodiesel no

nordeste não foi suficiente para apresentar resultados.

Para evolução do programa é necessário uma reabordagem da análise

das diferenças regionais como estrutura, cultura, clima, política e econo-

mia. Cada região tem suas especificidades, consequentemente,necessita

de estratégia voltada para suas particularidades. A ausência de resultado

dos pilares que sustentam o PNPB na Bahia, particularmente, nos muni-

cípios de Olindina e Itapicuru, reflete a importância do planejamento e

conhecimento regional para formulação e execução de políticas públicas

que regem a inserção social entre classes tão diferentes, por meio da inser-

ção da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL

(PNPB), 2004.

Page 40: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 43

BAHIA. Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária. BAHI-

ABIO, 2008. Disponível em: http://www.seagri.ba.gov.br/bahiabio.pdf.

Acesso em: 20-07-12.

SANTOS, J. A. Lobo dos, Programa Nacional de Produção de Biodiesel:

Sujeição da renda da terra camponesa ao capital no território de identida-

de de Irecê — BA. 2012. 262 p. Tese (Doutorado em Geografia Humana)-

Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São

Paulo, 2012.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Balanço MA —

2003/2006: Desenvolvimento agrário como estratégia. Brasília, DF, 2007.

BAHIABIO — Programa Estadual de Bioenergia, 2008. Disponível em:

wwwseagri.ba.gov.br/bahiabio.asp. Acesso em: 20-07-12.

PROBIODIESEL — Programa de Biodiesel da Bahia, 2006. Disponível

em: www.rbb.ba_goy; Acesso em: 07-06-2012.

Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Inclusão

social e desenvolvimento territorial. 2010.

INMETRO — Instituto Nacional de Meterologia, 2004. Disponível em:

littp://www.inmetro.gov.br/qualidade/responsabilidade_social/

iso26000.asp. Acesso em: 09-06-2012.

SCHNEIDER, S. Desenvolvimento Rural Regional e articulações ex-

trarregionais. In: Anais do I Fórum Internacional: Território, Desenvolvimento

Rural e Democracia. Fortaleza-CE,16 a 19 de Novembro de 2003.

SACHS, Ignacy. Bioenergias: uma janela de oportunidades, São Paulo,

Senac, 2008, p. 158.

CAMPOS, A. A.8L Carmélio, E. C. Construir a diversidade da matriz

energética: biodiesel no Brasil, São Paulo, Senac, 2009, p. 94.

Page 41: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

44 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

CAPÍTULO 3

ASPECTOS ECONÔMICOS DOS ACIDENTES

OCUPACIONAIS E DOENÇAS DO TRABALHO EM

TRABALHADORES NO CAMPO DA BIOENERGIA

(2009 — 2010).

Luís Oscar Silva Martins

Andréa Monteiro Amorim

Rodrigo de Oliveira Coelho

RESUMO

A saúde do trabalhador no campo da Bioenergia, considerada sob a análise

de acidentes advindos do trabalho é campo fértil para discussões de

âmbito econômico, financeiro e social. Esta pesquisa preliminar apresenta

como objetivo dissertar sobre o número de acidentes de trabalho, ocorrência

de doenças ocupacionais e mortes advindas de atividades laborais, bem

como informar os valores repassados ao Instituto Nacional de Seguridade

Social (INSS). A pesquisa foi realizada através de dados obtidos no cite do

Ministério da Previdência Social (MPS) e do Ministério do Trabalho e

Emprego (MTE), sendo possível observar que o setor de plantio de cana de

açúcar, foi o responsável pelo maior número de acidentes de trabalho,

apresentando, inclusive, maior incidência de beneficias liberados,

especialmente quando se trata de manejo manual.

PALAVRAS-CHAVE: Doença ocupacional no campo da Bioenergia,

Acidente de trabalho no campo da Bioenergia, Saúde do trabalhador.

Page 42: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 45

IINTRODUÇÃO

A partir do século XVIII, com as grandes alterações tecnológicas

proporcionadas pela humanidade com a Revolução Industrial ate os tempos

atuais com o cenário mundial competitivo, percebe-se que as empresas vêm

exigindo cada vez mais dos seus funcionários, tanto no nível intelectual

quanto no nível fisico, fazendo com que os mesmos se adaptem às exigências

impostas pelo mundo globalizado em um tempo muito curto, ocasionando,

frequentemente, lesões irreversíveis.

Alguns inventos como a maquina a vapor e o regulador automático de

velocidades, criadas na revolução industrial, proporcionaram ao homem a

independência das fontes localizadas de energia (rios) que poderiam ser feitas

de forma controlada, de baixo custo e de grande abundância porem, vêm

deixando mais e mais visíveis o aumento e a necessidade do estudo da doença

profissional.

Os relatos de doenças que podem afetar a saúde do trabalhador são muito

antigos, sendo que provavelmente um dos primeiros registros sobre

distúrbios funcionais dos membros superiores por sobrecarga, vem da

bíblia, observa-se através dos relatos de Godo (1995, p. 438) que essa doença

vem desde muito tempo e que esta sendo mais estudada e pesquisada há pouco

tempo.

Bernadino Ramazzini, médico italiano, cita as lesões em duas passagens:

ao falar da doença dos escribas e notários, uma espécie de câimbra e

dormência que acometiam aqueles que tinham como função escrever durante

todo o dia, e no capítulo das doenças dos mineiros, ao citar "a violência que se

faz a estrutura natural da máquina vital composições forçadas e inadequadas

do corpo, o que pouco a pouco pode produzir graves enfermidades".

(Ramazzini 1999, p. 25).

Os acidentes de trabalho são considerados fenômenos socialmente

determinados e constituem o maior agravo à saúde dos trabalhadores

brasileiros. Atingem principalmente adultos jovens causando elevado número

de invalidez temporária e permanente, além de óbitos. De acordo com

Michel (2001), ele ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa,

provocando lesão corporal ou perturbação funcional, que cause a. redução

ou perda da capacidade para o trabalho, além de morte.

Costa (2009) acrescenta que o acidente típico se define corno um

Page 43: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

46 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

ataque inesperado ao corpo humano, ocorrido durante a atividade labo-

rai, decorrente de uma ação traumática violenta, subitânea, concentrada

e de consequências identificáveis. Em relação às doenças ocupacionais, o

autor as define como moléstias de evolução lenta e progressiva, originárias

de causas igualmente gradativa e durável, vinculadas às condições de

trabalho.

Segundo COSTA (p.72) "Doenças ocupacionais são as moléstias de

evolução lenta e progressiva, originárias de causa igualmente gradativa e

durável, vinculadas às condições de trabalho"

O Ministério da Previdência Social (2012) define acidente de traba-

lho como aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da em-

presa ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando

lesão corporal ou perturbação funcional, permanente ou temporária, que

cause morte, a perda ou redução da capacidade de trabalho. Já a doença

ocupacional pode ser entendida como a alteração da saúde do trabalhador

provocada por fatores ambientais associados ao trabalho. Ainda de acordo

com a fonte, o termo acidentes de trabalho refere-se a lesões decorrentes

de causas externas, aos traumas e envenenamentos ocorridos no ambiente

de trabalho durante a execução de atividades ocupacionais e/ou durante

o trajeto de ida ou retorno para o trabalho, e às doenças ocupacionais.

No que se refere à gestão de saúde, é válido destacar que as práticas de

saúde na contemporaneidade vêm sendo foco de atenção nas novas con-

cepções de ser humano; cuidados com saúde, vida, sociedade, dentre ou-

tras, encaminhando para a construção de tecnologias de processos de

gestão que interagem o fazer, o estar mobilizado, o ser, o pensar em ações

de cuidado com o ser humano. A participação e a responsabilidade dos

indivíduos nas ações de cuidado de promoção da saúde transformam—no

em sujeito da ação, participando ativamente, conforme suas peculiarida-

des individuais, sociais, econômicas e culturais.

No campo da saúde, a questão das melhores práticas oferece dificul-

dades. Existem diferenças acentuadas nas práticas de cuidado, tanto indi-

viduais como coletivas determinadas por condições sócio—econômicas e

padrões culturais, pelo caráter e fundamento nas politicas de saúde vigen-

tes e pelo acesso, espécie e natureza de serviço ofertado. Estas diferenças

Page 44: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 47

acarretam dificuldade para padronização de processos e

procedimentos, e requerem a adoção de adequado tratamento gerencial, de

modo a maximizar os beneficies para o trabalhador.

Afirma Mendes (1995) que:

O posto de trabalho deve ser projetado de forma a

permitir liberdade de movimentos e conforto para o

trabalhador. Mesas, cadeiras e bancadas improvisadas

sobrecarregam a musculatura, responsáveis pelas quei-

xas de dores no dorso, região cervical, membros superi-

ores e inferiores (MENDES, 1995, p. 173-174).

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) as doenças

ocupacionais continuam sendo uma das principais causas de morte rela-

cionada ao trabalho, conforme estimativas da mesma ocorrem 2,34 mi-

lhões de acidentes mortais de trabalho a cada ano, o que equivale a 5.500

mortes por dia. A ausência de uma prevenção mais efetiva geram efeitos

avassaladores não somente nos trabalhadores e famílias envolvidas, mas

na sociedade como um todo, pois além do enorme custo financeiro tam-

bém se observa a diminuição da produtividade e a elevada carga nos

sistemas de seguridade social.

Os problemas de saúde ocupacionais causam prejuízo ao governo,

que sofre com a sobrecarga previdenciária gerada; para as empresas, que

oneram seus custos com os pagamentos realizados aos órgãos competentes

das esferas federal, estadual e municipal e, especialmente, para os

trabalhadores que correm o risco de comprometerem sua capacidade la-

borai, estando sujeitos a incapacidade de proverem o próprio sustento

bem como o da família.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 7' certifica a proteção

da saúde do trabalhador em seu inciso XXII, quando afirma que o mesmo

tem direito a redução dos riscos inerentes ao trabalho, através das normas

de saúde, higiene e segurança.

Compreende-se que o tema da gestão de saúde, no contexto da

saúde do trabalhador é pautado nas questões psicológicas, assim demons-

tradas as inviabilidades de certas atividades. Segundo Michel (2000, p.

284) o contexto laborai. apresenta como resultado das características físi-

Page 45: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

48 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

cas da carga, da personalidade do indivíduo, das experiências anteriores e

da situação social do trabalho, a percepção psicológica que o indivíduo

tem das exigências do trabalho.

Estes pré-requisitos legais deixam clara a posição governamental em

relação à saúde do trabalhador, em todas as áreas, inclusive no campo da

Bioenergia. No entanto, o ônus dessas questões não é completamente

absorvido pelo governo, este atribui como forma punitiva e preventiva,

contrapartida em forma de despesas às empresas.

Para essas últimas, insere-se ainda, o Fator Acidentário Previdenciá-

rio (FAP) cuja formação contempla vários dados de forma a proporcionar

redução ou aumento da alíquota de pagamento e que direcionam esse

referido incentivo à melhoria das condições de trabalho e saúde do traba-

lhador. O FAP analisa frequência, relativo ao número de acidentes e do-

enças, gravidade, baseado na intensidade do acidente (morte, invalidez,

afastamento) e custo, relativo aos gastos da Previdência com o pagamento

dos beneficios. Posteriormente aos cálculos das variáveis descritas aci-

ma, são atribuídos percentuais de acordo com os setores designados na

Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), possibili-

tando assim, que às empresas com menor ocorrência de acidentes de

trabalho seja imputado um menor percentual.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho é evidenciar perdas econômicas

advindas dos acidentes e doenças de trabalho no campo da Bioenergia de

acordo com a análise dos valores repassados ao Instituto Nacional de

Seguridade Social (INSS), nos anos de 2009 e 2010.

1. METODOLOGIA

O estudo preliminar em questão caracteriza-se como método docu-

mental, com pesquisa bibliográfica e utilização de dados secundários.

Estes foram coletados de fontes de dados do INSS, Ministério da Previ-

dência Social (MPS), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e do

Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e

compilados conforme o objetivo da pesquisa.

Foram escolhidos três ramos de trabalho no campo da Bioenergia:

trabalhadores do agronegócio sucroalcooleiro, trabalhadores do setor de

extração de biogás e trabalhadores que atuam na produção de biodiesel.

Estes ramos de trabalho foram escolhidos pela representatividade na pro-

dução de Bioenergia, no tocante a participação no Produto Interno Bruto

Page 46: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 49

(PIB) brasileiro, bem como pela quantidade de empregos gerados.

As informações foram tabuladas conforme número de empregados

com carteira assinada no período de 2009 a 2010, bem como percentual

de variação MTE (2010). Secundariamente foi apresentada a frequência

de ocorrência e valores de beneficias concedidos em virtude de doenças

ocupacionais, acidentes de trabalho e pensão por morte MPS (2010). Em

todos esses itens descritos acima foram demonstrados os valores gastos

pela Previdência Social.

O MPS (2012) define beneficio concedido como o requerimento,

apresentado pelo segurado ou seus dependentes junto à Previdência Soci-

al, que é analisado e posteriormente deferido, desde que o requerente

preencha todos os requisitos necessários à espécie do beneficio solicitado

e liberado para pagamento. A concessão corresponde ao fluxo de entrada

de novos beneficios no sistema previdenciário.

Ainda de acordo com o site, os beneficios concedidos em virtude de

doenças do trabalho e acidentes de trabalho são classificados como auxílio

doença e auxílio acidente, respectivamente. O primeiro tem caráter tempo-

rário e é devido ao segurado que fica incapacitado por motivo de doença. O

auxílio acidente, regulamentado pela lei 9.032/95 é pago ao segurado que,

após as lesões decorrentes de acidente de trabalho, sofra redução de capaci-

dade funcional. Pode ser cumulativo com o auxílio doença, no entanto é

vedado quando da existência de liberação de aposentadoria.

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo o Dieese (2007), o setor sucroalcooleiro fatura direta e indi-

retamente, cerca de R$ 40 bilhões por ano, o que corresponde a aproxima-

damente 2,35% do PIB nacional, gerando aproximadamente 3,6 milhões

de empregos diretos e indiretos. Observa-se que apesar da magnitude

desse número, menos de um terço desses trabalhadores possuem carteira

assinada, e, portanto, gozam de direitos trabalhistas. Ainda segundo o

Departamento, os setores de extração de biogás e produção de biodiesel

encontra-se em franca expansão no quesito geração de emprego criando um total de 241.336 empregos com direitos previdenciários em dezem-

bro de 2010. A Tabela 1 demonstra a quantidade de trabalhadores com

carteira assinada dos setores em estudo ao fim do ano em 2009 e 2010,

bem como seu percentual de variação nesse período.

Page 47: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

50 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Tabela 1 - Profissionais com CTPS assinada em 2009 e 2010 no campo da

Bioenergia. Grupos 2009 2010 A

Agronegócio Sucroalcooleiro 1.123.200 898.227 -20,63

Extração de Biogás 92.504 108.902 17,73

Produção de Biodiesel 114.773 132.434 15,39

Total 1.330.477 1.139.563 -14,35

Fonte: Dados compilados do Dieese

A queda acentuada no setor sucroalcooleiro deve-se, segundo o Die-

ese, a substituição gradual da colheita de cana manual para a mecanizada,

que até 2017 deve eliminar a queimada do manejo e substituir todo o

conceito do negócio até então baseado no uso intensivo de mão de obra,

para uso intensivo de tecnologia. Já os setores de biogás e biodiesel apre-

sentam crescimento dos postos gerados, visto que a gama de investimen-

tos nos mesmos encontra-se aquecida.

Os números da Tabela 2, a seguir, apresentam as ocorrências e os

valores dos benefícios pagos em decorrência de doença ocupacional.

Observa-se grande perda econômica e social, especialmente no setor su-

croalcooleiro, onde apesar da redução do número de ocorrências no perí-

odo, este se mantém elevado, especialmente quando comparado à quanti-

dade de postos de trabalho gerados, que como observado anteriormente

na Tabela 1, sofreu variação negativa da ordem de 20,63%. Já os setores

de Biogás e Biodiesel, performaram ligeira alta em virtude também da

menor quantidade de empregos apresentados. É interessante salientar

que não estão sendo considerados, por exemplo, os pequenos produtores

familiares que trabalham na produção de oleaginosas que alimentam a

indústria do Biodiesel, pois estes, em sua maioria, trabalham de forma

independente ou em cooperativas, portanto sem carteira assinada. Em

todos os casos, no entanto, observa-se perda financeira e social, já que

exemplifica desperdício de mão de obra nos grupos em estudo e prejuízo

para o governo e para as empresas.

Page 48: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 51

Tabela 2 - Ocorrência de Doença Ocupacional e valores de

benefícios concedidos.

2009 2010

Grupos Ocorrência Beneficio (RS) Ocorrência Beneficio (RS)

Agronegócio

Sucroalcooleiro

Extração de

Biogás

Produção de

Biodiesel

8.985

29.652,480

574

5.581.543

1.021

1.656.840

6.916

675

1.165

22.893.948

6.569.100

1.890.309

Fonte: Dados compilados do site do Ministério da previdência social

A Tabela 2 considera as ocorrências de doenças ocupacionais e os

valores médios de beneficios pagos durante o tempo em que os trabalha-

dores permaneceram impedidos de realizar suas atividades. Percebe-se

diminuição de 23% no número de incidentes de doença ocupacional nos

trabalhadores do ramo sucroalcooleiro, praticamente acompanhando a

redução do número de vagas do setor de um período para outro. Na extra-

ção de biogás observou-se aumento de 18% nos valores dos beneficios

pagos. Comparando-se ao percentual de vagas criadas de 2009 a 2010,

pode-se afirmar que possivelmente estas existiram apenas para substituir

os trabalhadores que permaneceram parados acometidos de algum tipo

de doença ocupacional. Na produção de biodiesel, nota-se uma pequena

evolução na ocorrência de doença ocupacional durante o período em

estudo, 14%, o que elevou também os valores dos beneficios pagos, no

entanto, ao contrário do setor de biogás criou proporcionalmente mais

vagas de emprego, comparadas com o número de trabalhadores impedi-

dos de realizar suas atividades devido a doenças laborais.

A fonte do custeio para cobertura de eventos advindos dos riscos

ambientais do trabalho, acidentes e doenças do trabalho, assim como as

aposentadorias especiais, baseiam-se na tarifação coletiva das empresas.

A tarifação coletiva está prevista no artigo 22 da lei 8.212/1991 que

estabelece as taxas de 1, 2 e 3% calculados sobre o total das remunerações

Page 49: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

52 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

pagas aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, ;.VIPS (2012).

As Tabelas 3 e 4 evidenciam o número de acidentes de trabalho e

número de mortes, respectivamente, devido aos mesmos, no período em

estudo. A tabela 3 demonstra também os valores de benefícios concedidos

pela previdência social na forma de auxílio-acidente. Os valores relativos a

indenizações por morte não foram apresentados devido a possíveis

distorções que poderiam ocorrer devido morosidade desses processos na

justiça, que podem levar anos e até mesmo décadas para serem definidos.

Pode ocorrer, por exemplo, de urna indenização por morte, ocorrida devido a

acidente de trabalho, ser paga no ano de 2009 ou de 2010, dentro do período

de estudo da pesquisa, no entanto, esta ser relativa a um incidente ocorrido

em período anterior, fora do escopo do estudo. Devido ao curto espaço

temporal da pesquisa, esses valores foram suprimidos.

Tabela 3 - Ocorrência de Acidentes de trabalho e Auxílio-acidente pagos no período de 2009 a 2010.

Números de Registros / Auxílio Acidente (R$)

2009 2010

Grupos Ocorrência. Auxilio (RS) Ocorrência Auxílio (R$)

Agronegócio

Sucroalcooleiro

Extração de

Biogás

Produção de

Biodiesel

8478

27.977.000

844 8

.123.808

1002 9

.751.464

9132

679

994

30.135.000

6.608.028

9.673.608

Total 10324 45.852.272 10805 46.416.636

Fonte: Dados compilados do site do Ministério da Previdência Social.

Observa-se, que mesmo com a redução das vagas no setor sucroal-

cooleiro, devido à substituição gradual da mão de obra por capital intensivo, a

incidência de acidentes apresentou uma crescente de 7,7% e consequente

aumento dos benefícios pagos. Os setores de biogás e biodiesel, ao contrário,

apresentaram reduções do número de acidentes e, portanto redução dos

valores dos auxílios. Isto se deve, possivelmente, a campanhas preventivas

realizadas pelo maior empregador do setor, a Petrobrás, que também exige de

seus prestadores de serviço, a mesma metodologia de trabalho praticada na

estatal.

Page 50: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 53

Tabela 4 - Ocorrência de morte por acidente de trabalho em atividades no campo

da Bioenergia (2009 / 2010)

Número de Registras

Grupos 2009 2010 A %

Agronegócio

Sucroalcooleiro 1987 1789 -9,96%

Extração de Biogás 108 93 -13,89%

Produção de Biodiesel 73 81 10,96%

Total 2168 1963 -9,46%

Fonte: Dados compilados do site do Ministério da Previdência Social.

Em relação à ocorrência de morte causada por acidentes de trabalho,

observa-se redução nos setores sucroalcooleiros e de biogás, 9,96% e

13,89%, respectivamente. Já no ramo de produção de biodiesel houve

aumento de 10,96%, merecendo atenção e revisão dos processos por par-

te das empresas e governo.

Os resultados demonstram a grande perda financeira causada pelos

acidentes de trabalho e doenças ocupacionais nos trabalhadores do cam-

po da Bioenergia nos três ramos analisados. Os prejuízos são divididos

pelas empresas, governo e especialmente trabalhadores, que são acometi-

dos de incapacidade temporária ou permanente para realizar suas ativida-

des ou até mesmo de morte. Salienta-se ainda que o estudo foi realizado

apenas com os trabalhadores que têm acesso à carteira assinada e, portan-

to passíveis dos beneficios da Previdência Social.

Segundo pesquisa realizada em conjunto pelo Serviço Brasileiro de

Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o Serviço Social da

Indústria (SESI), de 2005, o custo total de um acidente é dado pela soma

de duas parcelas: uma refere-se ao custo direto (ou custo segurado), a

exemplo do recolhimento mensal feito à Previdência Social, para paga-

mento do seguro contra acidentes do trabalho, visando a garantir urna das

modalidades de beneficios estabelecidos na legislação previdenciária. A

outra parcela refere-se ao custo indireto (custo não segurado). Essa pes-

quisa informa que a relação entre os custos segurados e os não segurados

é de um para quatro, ou seja, para cada real gasto com os custos segurados,

Page 51: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

54 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

são gastos quatro com os custos não segurados, como por exemplo, salá-

rio dos 15 primeiros dias após o acidente, transporte e assistência médica

de urgência, comoção coletiva ou do grupo de trabalho, destruição do

veículo ou equipamento, pagamento de horas extras, indenizações e ho-

norários legais, treinamento de substituto, elevação dos preços dos pro-

dutos e finalmente o custo da vida humana, este incalculável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os números tratados na cessão anterior evidenciam quadro preocu-

pante na situação das empresas, governo e especialmente os trabalhado-

res do campo da Bioenergia. Em 2009 foram gastos RS 82.743.135,00

em auxilio doença e auxílio acidente com um total de 23.072 ocorrênci-

as, incluindo-se as mortes por atividades laborais. Comparado com o ano

2010, onde o total desembolsado pelo Governo e pelas Empresas foi de

RS 77.726.993,00 e as ocorrências foram de 21524, detecta-se redução

dos números, explicados principalmente redução dos postos de trabalho

no setor sucroalcooleiro, que conforme comentado anteriormente está

substituindo a mão de obra intensiva por capital intensivo na forma de

tecnologia no campo.

Fazem-se necessário considerar que a pesquisa relacionou apenas

três grupos de trabalhadores no campo da Bioenergia, escolhidos pelo

número de empregos gerados e representação econômica. Vale lembrar

também que foram considerados apenas os acidentes laborais com Co-

municação de Acidente de Trabalho (CAT) e incluídos apenas os traba-

lhadores que possuem Carteira de trabalho registrada junto á Previdência

Social.

Mesmo com a redução dos valores dos beneficias concedidos pela

Previdência Social na ordem de 6,06%, esse número ainda é alto, oneran-

do em demasia, empresas e governo, e prejudicando, em alguns casos, de

forma definitiva o trabalhador e sua família.

Dessa forma, a alternativa mais viável para modificar essas estatísti-

cas é investir em prevenção e treinamento para os trabalhadores do cam-

po da Bioenergia. Como observado em toda a pesquisa a prevenção é a

forma mais barata e eficiente que existe no processo, o que nos mostram

nem tão eficientes medidas tomadas pelas

Page 52: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BICENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 55

organizações,deixando sempre para tratar o que já existe e não focando na

prevenção, devendo então ocorrer apelos aos governos, organizações de

empregadores e de trabalhadores que colaborem no desenvolvimento e

implantação de políticas e estratégias que possam prevenir e melhorar as

estáticas de campanhas de conscientização, da importância do uso de

equipamentos de segurança que são essenciais nesses setores, visto que

os trabalhadores são expostos a situações de risco diversas.

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Page 54: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 57

CAPÍTULO 4

SOCIEDADE E BIOENERGIA: SAÚDE EM FOCO.

Grace Caroline Nery Jacobina

RESUMO

A degradação ambiental decorrente de atividades industriais e urbanas

estão atingindo níveis cada vez mais alarmantes e a otimização de novos

formas de energia vem ganhando espaço cada vez maior. Os cientistas e

pesquisadores do clima em escala mundial afirmam que este aquecimento

global está ocorrendo em função do aumento de poluentes, principalmente

de gases derivados da queima de combustíveis fósseis na atmosfera. A

poluição do ar das grandes cidades é, provavelmente, o mais visível impacto

da queima dos derivados de petróleo. A avaliação dos efeitos sobre a

saúde relacionados com os impactos das mudanças climáticas é

extremamente complexa e requer uma avaliação integrada com uma abor-

dagem interdisciplinar dos profissionais de saúde, climatologistas, cien-

tistas sociais, biólogos, fisicos, químicos, epidemiologistas, dentre ou-

tros, para analisar as relações entre os sistemas sociais, econômicos, bio-

lógicos, ecológicos e fisicos e suas relações com as alterações climáticas.

Por esse motivo, é de suma importância o entendimento das relações

existentes entre bioenergia, poluição, saúde e sociedade. Este trabalho

apresenta de maneira geral, um contexto de mudanças climáticas e ambi-

entais globais, em que as incertezas sobre a natureza de seu impacto na

escala dos ecossistemas locais se somam as complexidades das novas

realidades de um Brasil urbano, discutindo questões no enfrentamento

dos problemas no contexto da saúde pública e da bioenergia.

PALAVRAS-CHAVE: Mudança Climática; Bioenergia; Poluição; Saúde.

Page 55: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

58 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

INTRODUÇÃO

Nestes últimos anos, mas principalmente no início deste milênio, os

cientistas estão chamando a atenção e alertando as pessoas sobre a rápida e

catastrófica mudança climática. Os meios de comunicação veiculam com

mais ênfase em seus noticiários e documentários o tema sobre o

Aquecimento Global e suas consequências nas mais diversas áreas do planeta

A pergunta que se faz hoje é quem ou o que pode estar provocando tudo

isso. Num modo geral, os cientistas e pesquisadores do clima em escala

mundial afirmam que o aquecimento global está ocorrendo em função do

aumento de poluentes, principalmente de gases derivados da queima de

combustíveis fósseis na atmosfera. A poluição do ar das grandes cidades é,

provavelmente, o mais visível impacto da queima dos derivados de

petróleo.

A degradação ambiental decorrente de atividades industriais e urbanas

estão atingindo níveis cada vez mais alarmantes e a otimização de novas

formas de energia vem ganhando espaço cada vez maior. Ao longo dos anos 80,

cresceu a preocupação de pesquisadores ligados a questões ambientais, com o

impacto dessas mudanças sobre os ecossistemas.

A busca pelo chamado green job — trabalho verde —, além de contri-

buir para a proteção do meio ambiente e reduzir as emissões de carbono na

atmosfera, pode ser um indício do melhor rumo a seguir no correr do século

XXI. O tema Mudança Climática vem movimentando a economia em larga

escala, na procura de tecnologias, equipamentos, construções, infraestrutura,

fornecendo maneiras de preservar os empregos já existentes como de criar

novas oportunidades (RENNER; SWEENEYS; KUBIT, 2008).

A divulgação do 4° relatório de avaliação do Painel Intergovernamental

de Mudanças Climáticas (IPCCAR4) em fevereiro de 2007; o filme "Uma

verdade inconveniente", ganhador do Oscar de melhor documentário de 2007; o

tratamento midiático dado a uma série de eventos extremos do ponto de vista

climático, catastróficos e sociais, como o furação Katrina, que destruiu

Nova Orleans; a onda de calor na Europa em 2003, quando foi registrado um

excesso de mais de 44 mil mortes (KOSATSKY T., 2005); contribuíram

para trazer à tona e reforçar o debate sobre as origens e os efeitos das

Page 56: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 59

mudanças climáticas em escala global, mesmo sem consenso para suas

determinações causais.

As mudanças climáticas podem ser entendidas como qualquer mu-

dança no clima ao longo dos anos, devido a variabilidade natural ou

como resultado da atividade humana (IPCC, 2007a). O Painel Intergo-

vemamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou recentemente

que há 90% de chance de o aquecimento global observado nos últimos 50

anos ter sido causado pela atividade humana (I PCC, 2007b), através do

aumento das emissões de gases de efeito estufa.

A recuperação de dados mais remotos sobre o clima da Terra tem

sido possível através da análise da composição de testemunhos de gelo do

Ártico e Antártica. Esses dados têm demonstrado que as concentrações

de CO2 (dióxido de carbono) e de CH4 (metano) na atmosfera nunca

foram tão altas nos últimos 600.000 anos (IPCC, 2007a). O aumento do

efeito estufa, causado pela acumulação de gases, produziu um acréscimo

de um grau Celsius na temperatura média ao longo do último século.

As mudanças climáticas refletem o impacto de processos socioeco-

nômicos e culturais, como o crescimento populacional, a urbanização, a

industrialização e o aumento do consumo de recursos naturais e da de-

manda sobre os ciclos biogeoquímicos (McIVIICHAEL, 1999; CONFA-

LONIERI et al, 2002).

No Brasil, destaca-se o papel do Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (INPE), notadamente o Centro de Previsão de Tempo e Estu-

dos Climáticos (CPTEC) monitoramento e desenvolvimento de Mo-

delos Globais Atmosféricos (GCMs) e Modelos Globais Acoplados Oce-

ano-Atmosfera (A0GCMs) para a previsão d.e mudanças cliniáticas (MA-

RENGO, 2007).

Entretanto, o evento El Nino de 1997-1998 chamou a atenção devi-

do as graves consequências em nivel mundial, com prejuízos fisicos e

econômicos (seca, inundação, perda de produtividade agrícola etc.) e per-

das em vidas humanas. Apesar da dificuldade para reuffir dados homogê-

neos e completos, o Compendium ofclimate variability indica que quase 10

milhões de pessoas foram afetadas ou deslocadas pelos efeitos desastrosos

desse fenômeno (SARI KOVATS, 2000).

Page 57: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

60 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

1.FEITOS NA SAÚDE

Desde esse evento de El Nino, epidemiologistas e entomologistas

começaram a dar uma atenção especial aos impactos dos grandes fenômenos

climáticos sobre a saúde. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)

publicou um estudo especifico sobre o tema em 1999 que enfatizou a

permanência de eventos como El Nino e os desafios para não esquecer e

repetir erros do passado (ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA

SALUD, 2000). Entretanto, a maior parte dos estudos que relacionam esse

acontecimento a doenças vetoriais e é feita no nível planetário ou continental

(GITHEKO et aL, 2000; GAGNON et al., 2002; BASHER CANE, 2002;

THOMSON et al., 2003) enquanto que os impactos de El Nino são muito

variáveis de acordo com a intensidade do evento e as regiões que ele atinge

(DESSAY et al., 2004).

A identificação da influência humana na alteração do clima e um dos

principais aspectos analisados pelo Terceiro Relatório (Third Assessment Report -

TAR) do (IPCC, 2001b). Nas regiões tropicais e subtropicais da América do Sul,

África, sudeste da Ásia e parte da Oceania estão os países que mais queimam

biomassa em todo o globo terrestre (FREITAS et al., 2005) contribuindo

diretamente para o fenômeno das mudanças climáticas globais. Na América

do Sul, as estimativas de liberações de partículas de aerossóis para a

atmosfera por queima de biomassa representam um terço do total do material

particulado liberado mundialmente para a atmosfera, chegando a 34 Tg/ano

de partículas (ANDREAE, 1991).

A população humana sob influência das mudanças climáticas apresentará

os efeitos, de origem multicausal, de forma exacerbada ou intensificada. A

avaliação dos efeitos sobre a saúde relacionados com os impactos das

mudanças climáticas e extremamente complexa e requer uma avaliação

integrada com uma abordagem interdisciplinar dos profissionais de saúde,

climatologistas, cientistas sociais, biólogos, fisicos, químicos,

epidemiologistas, dentre outros, para analisar as relações entre os sistemas

sociais, econômicos, biológicos, ecológicos e fisicos e suas relações com as

alterações climáticas (McMICHAEL, 2003).

O aquecimento global pode ter consequências diretas sobre a morbidade e

mortalidade, por meio da produção de desastres como enchentes, ondas

Page 58: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 61

de calor, secas e queimadas. A onda de calor que atingiu a Europa Ocidental

no verão de 2003 causou cerca de 12.000 óbitos (KOSATSKY T., 2005)

na França.

2. EFEITOS NA DINÂMICA DAS DOENÇAS

As flutuações sazonais produzem efeitos na dinâmica das doenças

vetoriais, como por exemplo, dengue e malária Os eventos extremos in-

troduzem considerável flutuação que afetam a dinâmica das doenças de

veiculação hídrica, como a leptospirose, as hepatites virais, as doenças

diarreicas, etc. Essas doenças podem se agravar com as enchentes ou

secas que afetam a qualidade e o acesso a água. Da mesma forma, as

doenças respiratórias são influenciadas pôr queimadas e os efeitos de

inversões térmicas que concentram a polu4o, impactando diretamente

a qualidade do ar, principalmente nas áreas urbanas. É clara a relação

entre alguns efeitos na saúde devido as variações climáticas e os níveis de

poluição atmosférica, tais como os episódios de inversão térmica, au-

mento dos níveis de poluição e o aumento de problemas respiratórios,

parece inevitável que as mudanças climáticas de longo prazo possam

exercer efeitos a saúde humana em nível global.

Em áreas urbanas quando ocorrem alterações climáticas alguns efei-

tos da exposição a poluentes atmosféricos são potencializados. Isto se

verifica em relação a asma, alergias, infecções bronco-pulmonares e in-

fecções das vias aéreas superiores (sinusite), principalmente nos grupos

mais susceptíveis, que incluem as crianças menores de 5 anos e indivídu-

os maiores de 65 anos de idade. Os efeitos da poluição atmosférica na

saúde humana têm sido amplamente estudados em todo o mundo. Estu-

dos epidemiológicos evidenciam um incremento de risco associado às

doenças respiratórias e cardiovasculares, assim como da mortalidade ge-

ral e especifica associadas a exposição a poluentes presentes na atmosfera

(POPE et al., 1995; ANDERSON et al., 1996; RUMEL et al., 1993;

CIFUENTES et al., 2001).

Segundo a OMS, 50% das doenças respiratórias crônicas e 60% das

doenças respiratórias agudas estão associadas a exposição a poluentes

atmosféricos. A maioria dos estudos relacionando os níveis de poluição

Page 59: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

62 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

do ar com efeitos a saúde foram desenvolvidos em áreas metropolitanas,

incluindo as grandes capitais da Região Sudeste no Brasil, e mostram

associação da carga de morbimortalidade por doenças respiratórias, com

incremento de poluentes atmosféricos, especialmente de material parti-

culado (SALDIVA et ai 1994; GOUVEIA et aí, 2006).

As emissões gasosas e de material particulado para a atmosfera deri-

vam principalmente de veículos, indústrias e da queima de biomassa. No

Brasil, as fontes estacionárias e grandes frotas de veículos concentram-se

nas áreas metropolitanas localizadas principalmente na Região Sudeste,

enquanto a queima de biomassa ocorre em maior extensão e intensidade

na Amazônia Legal, situada ao norte do país. Segundo o inventario brasi-

leiro de emissões de carbono, 74% das emissões poluentes atmosféricos e

sobre as áreas afetadas pela pluma oriunda do fogo. Se os ventos predomi-

nantes dirigirem-se para áreas densamente povoadas, um número maior

de pessoas estará sujeito aos efeitos dos contaminantes. Esse é o caso do

Sudeste Asiático, onde queimadas provocam nevo a de poluentes de ex-

tensão regional com impactos a saúde de centenas de milhões de pessoas

(RIBEIRO; AS SUNÇAO).

Alguns estudos evidenciam que a associação entre altas temperaturas

e elevadas concentrações de poluentes atmosféricos pode gerar um incre-

mento das hospitalizações, atendimentos de emergência, consumo de

medicamentos e taxas de mortalidade. A interação entre poluição e clima

também deve ser considerada como fator de risco para as doenças do

coração, seja como consequência de stress oxidativo, infecções respirató-

rias ou alterações hemodinâmicas. O aumento da temperatura também

esta associado ao incremento de partículas alergênicas produzidas pelas

plantas, aumentando o numero de casos de pessoas com respostas alérgi-

cas e asmáticas (ZAMO RANO et al., 2003; UNITED STATES DEPART-

MENT OF STATE, 2007).

O contexto de mudanças climáticas e ambientais globais, em que as

incertezas sobre a natureza de seu impacto na escala dos ecossistemas

locais se somam ás complexidades das novas realidades de um Brasil

urbano, sugere novas questões no enfrentamento dos problemas no con-

texto da saúde pública.

Page 60: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL TI 63

3. O BRASIL E SUA CONTRIBUIÇÃO NA AGROENERGIA X

SAÚDE E MEIO AMBLEIN'LL

O Brasil, por situar-se, predominantemente, na faixa tropical e sub-

tropical do planeta, recebe, ao longo do ano, intensa radiação solar. "A

energia solar é a base da produção de bioenergia e a densidade fotossinté-

tica depende, diretamente, da quantidade de radiação solar incidente"

(R ODRIGUES, 2005).

Ainda segundo Rodrigues (2005), o país apresenta diversidade de

clima, exuberância de bio diversidade, em decorrência de sua extensão e

localização geográfica, e detém um quarto das reservas superficiais e sub-

superficiais de água doce. O Brasil é reconhecido pela sua liderança na

geração e implantação de tecnologia de agricultura tropical, associada a

uma firme e atuante agroindústria, podendo alavancar um negócio pode-

roso na área de agroenergia, pois o crescimento da demanda nesta área

virá da pressão social pela substituição dos combustíveis fósseis.

A agricultura é uma alternativa viável, do ponto de vista econômico,

social, pois gera renda e emprego no setor rural e apresenta vantagens

ambientais, além de promover a geração de energia renovável, em larga

escala, e reduzir custos em relação ao petróleo. Segundo Rodrigues (2005),

promove o desenvolvimento sustentável do interior do Brasil, em especi-

al, nas regiões remotas.

Há perspectiva de incorporação de áreas à agricultura de energia,

sem competição com a agricultura de alimentos, e com impactos am-

bientais circunscritos ao socialmente aceito, pois seriam utilizadas

áreas de expansão de cerrados, a integração pecuária/lavoura, a recu-

peração de pastagens, a ocupação de áreas de pastagens degradadas e

outras áreas antropizadas, as áreas de reflorestamento e a incorpora-

ção de áreas atualmente marginais, que pode aproximar-se de 200

milhões de hectares/ano, quando projetado em longo prazo (2030)

(RODRIGUES, 2005).

A preocupação com a questão ambiental não vem recebendo a mes-

ma atenção que o aumento de produção, fatores essenciais para a susten-

tabilidade da agricultura canavieira não estão sendo levados em conta, e

embora seja indiscutível o avanço ambiental ocasionado pela substitui-

Page 61: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

64 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

ção de boa parte dos combustíveis fósseis pelo etanol, principalmente nos

grandes centros urbanos, não se pode dizer o mesmo dos impactos ecoló-

gicos de seu processo produtivo como a degradação de ecossistemas, po-

luição atmosférica causada pelas queimadas, poluição de cursos d'água e

do lençol freático causado pela aplicação excessiva de agrotóxicos. Tam-

bém a rotina de trabalho nos canaviais se equipara a vida útil dos cortado-

res à dos escravos do início da colonização brasileira. Devido à ação

repetitiva e ao esforço fisico, o trabalhador, com o passar do tempo, co-

meça a apresentar problemas sérios de coluna, nos pés, cairribras e tendi-

fites, já que chega a colher em torno de 15 toneladas de cana-de-açúcar

por dia (ALVES, 1992).

Segundo Mota (2009) a existência de sociedades marcadas por desi-

gualdades sociais e problemas ambientais resgata a importância para pes-

quisas com abordagens integradoras, que incorporem as dimensões sócio

políticas, ambientais e económicas. Dessa forma, torna-se possível uma

discussão sobre a estrutura de produção que existe em algumas socieda-

des, que podem comprometer a promoção da saúde e da qualidade de

vida das comunidades, principalmente, as mais vulneráveis.

Rozemberg (2005) destacou a escassez de estudos com grupos ru-

rais na área da saúde coletiva, particularmente, na área de saúde do

trabalhador, citando que a maior parte dos estudos, aborda a relação

entre a exposição e o adoecimento relacionados à utilização dos agrotó-

xicos que permanecem, mesmo com toda discussão acadêmica e política,

como um dos principais problemas de saúde pública no meio rural

brasileiro.

Dessa forma, torna-se necessária e fundamental a melhoria das con-

dições de vidas e trabalho dos trabalhadores do setor, evitando que estes

morram por excesso de trabalho, ou venham a adoecer, ou venham a

integrar precocemente o enorme batalhão de mutilados e afastados da

vida laborai. Nesse sentido, é preciso empreender mudanças no processo

de trabalho e estar atentos à necessidade de novas pesquisas e investimen-

tos no setor, visando à manutenção da biodiversidade e à melhoria na

qualidade de vida do trabalhador e da comunidade rural envolvida no

processo de produção da bioenergia.

Page 62: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 65

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade atual se encontra frente a um grande desafio no que diz

respeito ao setor da saúde. As mudanças climáticas representam uma

série de exposições a diversos fatores de risco, a causa mais distai dessas

exposições e a alteração do estado ambiental devido a acumulação de

gases do efeito estufa. Deve-se ressaltar que o modelo de desenvolvimento

e a própria produção de energia causam mudanças climáticas, mas

também problemas de saúde pela poluição do ar, que resulta em mais de

800 mil óbitos por ano; acidentes de (rânsito, que causam 1,2 milhões de

óbitos por ano e a redução da atividade fisica, que resulta em 1,9 milhões

de óbitos por ano (WORLD HEALTH ORGA_NIZATION, 2007).

Segundo Confaloniere (2005), o mundo vem passando por mudan-

ças que não estão limitadas apenas a aspectos climáticos. Paralelo aos

processos de mudanças climáticas, vem se acelerando a globalização (au-

mentando a conectividade de pessoas, mercadorias e informação), as

mudanças ambientais (alterando ecossistemas, reduzindo a biodiversida-

de e acumulando no ambiente substâncias tóxicas) e a precarização de

sistemas de governo (reduzindo investimentos em saúde, aumentando a

dependência de mercados e aumentando as desigualdades sociais).

Os riscos associados às mudanças climáticas globais não podem ser

avaliados em separado desse contexto. As transformações sociais e tecno-

lógicas ocorridas no mundo nas ultimas décadas permitem antever que os

comprometimentos da saúde adquiriram, ao longo dessas décadas, outras

características, além dos fatores biológicos intrínsecos. A possibilidade

de prevenir, diagnosticar e tratar algumas pessoas e excluir outras desses

sistemas aprofundou as diferenças regionais e sociais de vulnerabilidades

e transformou as desigualdades sociais num importante diferencial de

riscos ambientais.

Cabe ao setor saude„ e a toda a sociedade, não só prevenir esses riscos

fornecendo respostas precisas para os impactos causados pelas mudanças

ambientais e climáticas, mas atuar efetivamente na redução de suas vul-

nerabilidades sociais, por meio de mudanças radicais rio comportamento

individual, social e político, por um mundo sustentável mais saudável e

justo com as gerações futuras.

Page 63: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

66 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

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Page 67: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

70 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

CAPÍTULO 5

HISTÓRICO E PERSPECTIVAS SOBRE O ETANOL:

O PANORAMA BRASILEIRO.

Claudia Treumann Rocha

Rodolfo Bello Exler

Thiago Bruce

Astra' a Dias Ferrão- Gonzales

RESUMO

No Brasil, os elevados números apontam que o país possui domínio da

tecnologia de produção de etanol de primeira geração, aquele que emerge

a partir da extração do caldo da cana-de-açúcar, por meio da fermentação

alcoólica da sacarose. Desde 1970, quando esse combustível ganhou

notoriedade nacional, o mesmo se manteve presente na matriz energética

do país ganhando diferentes formas e proporções. Por possuir expertise

na produção do etanol de 1a geração, os investimentos brasileiros em

PD8z.I objetivando o aperfeiçoamento do uso de matéria-prima lignoce-

lulósica podem atuar como relevante alternativa para diversificar a pro-

dução do biocombustível.

PALAVRAS-CHAVE: Etanol; Biomassa; Biocombustível.

Page 68: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 71

INTRODUÇÃO

Ao longo da história, a questão energética sempre se apresentou como

importante agente relacionado às formas de crescimento e desenvolvi-

mento de um pais (SILVA et al, 2007). Acerca desse tema, Nascimento &

Abres (2012) complementam que a disponibilidade de energia para o

consumo diário em qualquer que seja a sociedade observada, consiste em

um fator fundamental para a qualidade de vida de seus cidadãos. Desde a

antiguidade, o homem busca mecanismos facilitadores para execução de

suas tarefas. No início da era industrial, o domínio da energia do vapor

transformou a sociedade, entretanto anos após, com o descobrimento do

petróleo e o consequente desenvolvimento tecnológico para sua extração

e beneficiamento, este combustível fóssil não renovável tornou-se o prin-

cipal responsável pela geração de energia no mundo.

Assim, a energia, em proporções cada vez maiores, se consolidou

como um bem de caráter decisivo para o desenvolvimento social e

econômico. Como consequência desse panorama, organismos interna-

cionais, nacionais e locais tornaram-se obrigados a empregar maior

atenção no que concerne às novas formas de negócio, às possibilidades

de utilização eficiente e também aos efeitos gerados pela emissão de

CO, originado pelas fontes de energia até então predominantes (GOU-

VEIA, 2006).

Com a matriz energética mundial baseada acima de 80% em com-

bustíveis fósseis, a grave crise ambiental amplamente discutida durante

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, que ocorreu no

Rio de Janeiro em 1992, conhecida como Eco-92, instigou as buscas por

energias renováveis (hidráulica, eólica, solar, geotérmica e biomassa).

Não que há previsão de substituição em curto prazo, mas existe a neces-

sidade de busca por alternativas energéticas renováveis e a comunidade

científica mundial trabalha nesta direção (BERMANN, 2008).

O somatório de questões sociais (possibilidade de acesso à renda de

pequenos produtores), econômicas (dependência do petróleo e a segu-

rança energética), geopoliticas (instabilidade política em regiões produ-

toras de petróleo) e ambientais (emissão de gases de efeito estufa GEE)

ligadas às fontes alternativas de energia, permitiu que o etanol ganhasse

Page 69: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

72 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

destaque nas rotas de discussão. De maneira gradativa o biocombustível passou

a ser ponto de interesse para a máquina pública, pesquisadores e empresas que

tiveram que fazer frente às pressões associadas à oscilação de preços do

petróleo, possibilidade de esgotamento das fontes não renováveis de

combustíveis fósseis e das preocupações de natureza ambiental diante da

necessidade de redução da emissão de substâncias que comprometem o meio

ambiente (BASTOS, 2007).

Registros apontam que a produção de etanol no Brasil possui seu inicio

estabelecido na década de 1920. Entretanto, somente nos anos 70, mais

precisamente em 1975, é criado o Proálcool (Programa Nacional do Álcool),

destacando-se como o marco da energia renovável no país, sendo o incentivo

para a produção de biocombustível, e pela tentativa de reduzir a importância

do petróleo na matriz energética nacional. Além disso, essa iniciativa tinha

como objetivo diminuir dependência relacionada a uma matriz produzida

essencialmente fora do país.Nesse período , estabeleceu-se um mercado

fortemente regulado em aspectos como controle de preços, oferta compulsória e

subsídios para que dessa forma fosse possível estabelecer garantias para a adoção

do etanol como substituto da gasolina, reduzindo ainda a dependência externa ao

petróleo e seus elevados preços (WILKINSON HERRERA, 2010).

Sendo assim, o objetivo deste trabalho é apresentar a relevância do etanol

como importante biocombustível produzido no país, destacando sua

trajetória nacional ao longo do tempo.

1. ENERGIAS RENOVÁVEIS: BIOCOMBUSTÍVEIS

Energias renováveis são aquelas disponibilizadas pela natureza de forma

cíclica. Embora seja um assunto estratégico para as nações, sua utilização

ainda se constitui de forma reduzida a nível mundial. No entanto, com o

crescimento da população e demanda crescente por energia, pesquisas

apontam a necessidade imperativa de utilização de alternativas viáveis como

fonte de energia "limpa". Na esfera brasileira, a presença de fontes

renováveis possui maior percentual na matriz nacional, sendo a biomassa

uma das principais fontes utilizadas (COSTA & PRATES, 2005).

Page 70: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 73

Tabela 1: Rankind de investimentos em energia renovável (dez. 2011).

Posição País Investimento em

2011 (bil. US$)

Investimento em

2010 (bil. US$)

1 EUA 48 33,7

2 China 45,5 45

3 Alemanha 30,6 32,1

4 Itália 28 20,2

5 Outros - União

Euro • eia

11,1 15,2

6 India 10,2 6,6

7 Reino Unido 9,4 7,0

8 Japão 8,63 7,0

9

10

Espanha

Brasil

8,6

8,0

6,9

6,9

Fonte: The Pew Charitable Trust (2012)

O mundo tem feito, de maneira geral, crescentes investimentos em

energia limpa conforme apresentado na tabela 1, onde o Brasil aparece

com o décimo lugar, tendo 49% de crescimento nesses investimentos

entre 2006 - 2011. Ainda com dados de The Pew Charitable Trust (2012),

a capacidade mundial instalada de energia limpaj em 2011 era de 565

GW, sendo que, aproximadamente, 43% referem-se à energia eólica,

33% hidráulica, 13% energia fotovoltaica, 10% biomassa, 1,9% geotér-

mica e 0,1% energia das marés. No Brasil, segundo o Balanço Energético

Nacional do Ministério de Minas e Energia (BRASIL, 2013), 42,4% da

energia é de fontes renováveis e 57,6% de fontes não renováveis.

A biomassa — matéria orgânica de origem vegetal ou animal - contém

energia química conseguida pela fotossíntese no caso de plantas verdes.

Com elevada taxa de incidência solar, condições edafoclimáticas favorá-

veis e disponibilidade de terras agricultáveis, nosso país ocupa posição

favorável para uso da biomassa. Esta pode servir de fonte de energia com

combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos (COUTO et al, 2004).

A utilização do termo biocombustível refere-se a todo tipo de combus-

tível, líquido ou gasoso, que seja produzido tendo a biomassa como maté-

Page 71: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

74 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

ria prima. Sua utilização em automotores é uma das principais

destinações para os biocombustíveis, sendo que, nesse âmbito,

dispõem-se os biocombustíveis líquidos representados pelo metanol,

etanol, butanol e biodiesel e que podem ser usados em locomotivas,

veículos terrestres e aeronaves (DEMIRBAS, 2008).

A segurança energética, econômica e ambiental pode ser destacada

como um dos muitos beneficios capazes de emergir da utilização dos

biocombustíveis. Entretanto outros tantos desafios são propostos para al-

cançar tais beneficios, tais como o suprimento da demanda nacional,

alocação de recursos, estabilidade de preços, avanços no desenvolvimen-

to rural, desenvolvimento de políticas para uso da água e do solo, defini-

ção e acompanhamento de critérios para redução da emissão de gases de

efeito estufa (GEE), dentre outros (HOEKMAN, 2009).

2. ETANOL: ENERGIA A PARTIR DA BIOMASSA

De acordo com UNICA (2007), etanol e álcool etílico se destacam

como sinônimos, pois ambos se referem a um tipo de álcool que traz em

sua composição carbono, hidrogênio e oxigênio, sendo representado pela

fórmula: C2H50H. Ao citar a produção do etanol, é salutar a diferenciação

entre o etanol anidro (ou álcool etílico anidro) e o etanol hidratado (ou

álcool etílico hidratado). Tal diferença se faz devido ao teor de água

apresentado no etanol uma vez que para o etanol anidro o teor de água fica

em torno de 0,5%, em volume, enquanto que para o hidratado, aquele

vendido nos postos de combustíveis brasileiros, esse quantitativo chegue a 5%

de água. Ressalta-se que no processo produtivo industrial do etanol, o tipo

hidratado é oriundo das colunas de destilação enquanto que para o etanol

anidro se faz necessária a utilização um processo adicional que almeja

promover maior retirada da água presente (UNICA, 2007).

Os combustíveis não fósseis que se apresentaram como alternativa

inicial, os chamados de 1a geração, no caso do etanol, são produzidos a

partir de milho e cana-de-açúcar. Embora sejam amigáveis ao meio ambi-

ente e facilmente convertidos em biocombustíveis, sofrem pressões com

Page 72: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 75

relação à segurança alimentar e nutricional pela competição com o uso

da água, áreas cultiváveis e destinação do produto (RODRIGUES, 2011). A

produção de etanol através da fermentação de açúcares derivados do

milho ou cana-de-açúcar está com sua rota de produção próxima dos limites

teóricos de eficiência industrial, entre 80 e 90% (CGEE, 2007).

A demanda crescente de energia fez com que outras rotas de produ-

ção estivessem em fase de pesquisa, desenvolvimento e implantação. Al-

guns países incentivam a sua produção através de apoio governamental,

estimulando a regionalização da produção de biomassa, criação de mer-

cado e apoio para instalação de plantas em escala piloto ou de escala

comercial. No Brasil, a criação do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia

e Inovação (PACTI) 2007-2010, pelo Ministério da Ciência e Tecnolo-

gia, que em seu Eixo III atribui prioridade aos biocombustíveis, dá ênfa-

se ao desenvolvimento de processos de hidrólise enzimática de materiais

celulósicos e lignocelulósicos, bem como aos trabalhos de identificação e

otimização de processos para transformação da biomassa em etanol

(NYKO et al, 2010).

Ainda sobre o dilema colocado pela competição entre fontes alimen-

tares sendo utilizadas como matéria-prima para bioetanol, gerando inse-

gurança alimentar, Rodrigues (2011) complementa que as limitações com

relação ao binômio alimento X energia são amenizadas quando se fala em

combustível de 2a geração, aqueles produzidos a partir de resíduos ligno-

celulósicos da produções agrícolas, florestais e industriais, que não são

fontes alimentares diretas para humanos. O bioetanol lignocelulósico,

conhecido também como etanol de 2a geração, é fabricado à partir de

material lignocelulósico após tratamento químico (hidrólise ácida) para

converter em açúcares fermentáveis os componentes da biomassa (celu-

lose, hemicelulose e lignina). A biomassa lignocelulósica pode também,

ser utilizada para fabricação de etanol à partir de conversão bioquímica —

com uso de coquetéis enzimáticos ou hidrólise enzimática por fungos,

para processar os componentes da matéria-prima (resíduos vegetais) de

forma a permitir posterior fermentação alcoólica, sendo este bioetanol

dito de 3' geração (BUCKERIDGE et al, 2009; RODRIGUES, 2011).

Page 73: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

76 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

3 ETANOL NO BRASIL

Os números verificados no Brasil apontam que o país possui domínio da

tecnologia de produção de etanol de primeira geração, aquele que emerge a partir

da extração do caldo da cana-de-açúcar, por meio da fermentação alcoólica da

sacarose. Esse combustível ganhou notorieda de no Brasil durante a década de 1970,

momento em que eclodia a crise energética mundial que motivou a criação do

Programa Nacional do Álcool — Proálcool, que apresentava como objetivo maior a

redução da dependência brasileira em relação ao petróleo. A ação do programa fez

do Brasil o segundo maior produtor mundial de etanol, atrás apenas dos Estados

Unidos (JOÃO et al, 2012).

O referido programa, instituído diante do Decreto Federal n° 76.593, de 14 de

novembro de 1975, apresentou como meta em um primeiro momento a implantação

do etanol como aditivo à gasolina consumida no Brasil. Somente em sua segunda fase,

no ano de 1979, sua utilização na forma pura, sob a nomenclatura de E100 foi proposta

para uso direto nos motores (GOLDEMBERG et al, 2008 ; VIERA JUNIOR et al.,

2008).

Este programa, que trouxe incentivos fiscais e crédito para a instalação de

destilarias, teve raízes nas politicas de modernização e inovação na agricultura,

implantadas pelo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAÁ) no final dos anos 1960.

Houve modernização das usinas, inovação nas variedades da cana-de-açúcar, ganho

de escala. A pesquisa tecnológica dos estados do sudeste reforçaram as diferenças

regionais, bem como a integração entre agroindústria e indústrias de máquinas e

equipamentos que, instaladas nas proximidades, facilitaram a expansão da produção de

bioetanol, principalmente em São Paulo (VIAN & RIBEIRO, 2008).

Segundo Vian & Ribeiro (2008), em 1980 a produção de etanol se estabilizou, uma vez

que o principal incentivo ao uso do álcool, o elevado preço do petróleo, sofreu um declínio.

Grande crise de abastecimento deste biocombustível ocorreu então, com nova retomada do

incentivo à produção de bioetanol somente a partir dos anos de 2000, quando as discussões

climáticas ganharam força e permitiram a mudança na matriz energética nacional.

3.1 Produção de etanol do Brasil

Conforme verificado anteriormente, o etanol possui como ponto de partida para

sua produção uma diversidade de fontes vegetais, entre elas a cana-de-açúcar e o

Page 74: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 77

sorgo sacarino, que oferecem açúcares fermentáveis, ou fontes amiláceas como

milho, através de hidrólise, que tem maior custo de produção e menor eficiência

energética que as anteriores (SOUZA, 2011). Dentre as rotas de produção disponíveis,

a cana-de-açúcar é a que oferece, atualmente, mais vantagens energéticas e econômicas

para o Brasil, e desse modo, o pais somente produz etanol deste vegetal (ANP, 2013).

Corroborando com essa temática, um resultado complementar que permite

ratificar o aumento produtivo de etanol se refere a crescente expansão de áreas

destinadas ao plantio da cana-de-açúcar no país. Andrade e Verissimo (2011) apontam

que o cultivo dessa matéria prima vem sendo introduzido em diversas áreas que até

então não possuíam tradição no segmento, fato responsável por uma diversidade de

discussões acerca dos possíveis efeitos de transbordamentos oriundos das novas

tendências perante a dinâmica de ocupação das terras nas regiões brasileiras em fun-

ção da atratividade da produção de etanol.

Para ilustrar, o gráfico 1 evidencia a evolução da área colhida de cana-de-açúcar

no Brasil no período 1970, nas proximidades do inicio do Proálcool, quando a mesma era

de aproximadamente 1.725.121 hectares (ha), até o ano de 2010, quando este

quantitativo alcançava a marca de 8.612.294 ha.

Page 75: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

78 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Furtado et al (2007) aponta que mesmo diante do alvoroço inicial e sucesso

relativo aos esforços empreendidos, o primeiro momento de salutar interesse pelo

etanol como fonte alternativa de energia viável foi fugaz. Embora que nos anos 80 a

maior parte das novas vendas de automóveis era dos modelos integralmente movidos a

etanol, logo na década seguinte, 1990, o Brasil teve a imperativa necessidade de

importar o produto dos Estados Unidos para conseguir manter a mistura na gasolina

pela falta da oferta interna do produto.

Masiero e Lopes (2008) afirmam que, entre 1975 e 2000, o Brasil produziu em

torno de 5,6 milhões de automóveis com motores a álcool.Além disso, foi

aprovado o uso e comercialização da mistura de etanol anidro e gasolina, de forma

gradativa, atingindo hoje a exigência de 25% de mistura. Entretanto, a produção de

etanol não acompanhou a demanda interna, tendo em 1995 a importação de etanol

atingido volume de quase 1.500 m3 (BRASIL, 2013).

Os automóveis que circulam no País usam dois tipos de etanol combustível: o

hidratado, consumido em motores desenvolvidos para este fim, e o anidro, que é

misturado á gasolina, sem prejuízo para os motores, em proporções variáveis. Desde

julho de 2007, a partir da publicação da Portaria n° 143 do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento, toda gasolina vendida no Brasil contém 25% de etanol

combustível anidro (ANP, 2013).

A retomada da produção de etanol a partir de 2003 se deu, também, pela

produção de veículos com a tecnologia bicombustível, onde motores trabalham com

mistura gasolina/etanol em proporções diversas. Além disso, pressões mundiais para

busca de energias sustentáveis e diminuição na emissão de gases do efeito estufa

tiveram também contribuição para o incremento da fabricação deste biocombustivel

(BERMANN, 2008).

Page 76: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 79

30 000.000

25.000.000

20.000.000

15.000.000

10.000.000

5.000_000

o

Ano /Safra

Gráfico 2 - Produção Nacional de Etanol

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da

UDOF (2013) (*) Valores atualizados em 01/04/2013

Como visto no gráfico 2 a retomada da produção de etanol no país, atinge valores

consideráveis, colocando este combustível com importante papel na matriz

energética do país. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(2013) mostram o tamanho deste mercado que, na safra 2009/2010 produziu

25.738 mil m3 de etanol, sendo aproximadamente 27% anidro, exportou 2.940 m

3

que renderam U$$ 1.239 milhões, importou 41 mil m3 e consumiu 23.230 mil m3,

sendo quase 70% hidratado. Para o mesmo período (2009/2010) a produção mundial

de etanol alcançou a marca de 85 milhões de m3 (GRFA, 2012)

O mercado consumidor desenvolvido, aliado aos beneficios ambientais do uso do

álcool e exportações em alta, se contrapõe aos problemas de competição pela

mesma matéria-prima com o açúcar, que vem obtendo bons rendimentos no mercado

mundial de commodities, barreiras alfandegárias em alguns países, dificuldades em

logística de estoque e distribuição e, por fim, estagnação da rota tecnológica para o

etanol de 1a geração.

Page 77: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

80 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Assim uma outra proposta, o etanol celulósico, traz inúmeros benefícios, sendo em

essência um combustível que favorece a sustentabilidade. Conforme Rodrigues (2011),

embora ainda em estágio pré-comercial, provem de matéria-prima barata e

facilmente encontrada, permitindo produção de biocombustíveis e, possivelmente,

outros produtos da chamada "química verde", trazendo o conceito de biorrefinarias,

revitalizando áreas rurais e contribuindo para minimizar impactos sociais.

Vale destacar que no ano de 2010, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados

Unidos (U.S.Environmental Protection Agency — EPA) enquadrou o etanol de cana

de açúcar brasileiro na classificação de biocombustível avançado, o que implica na

comprovação de que o mesmo possui capacidade de reduzir em pelo menos 50% as

emissões de gases de efeito estufa quando comparado à gasolina. Diversos estudos

realizados ao longo dos anos confirmam a condição de que essa redução

proporcionada pelo etanol da cana é ainda superior a essa exigência mínima,

podendo chegar a um quantitativo em torno de 90% (ÚNICA, 2013).

Além do mercado interno, o bioetanol produzido no Brasil também é destinado à

exportação para os mercados norte-americano e europeu. Politicas para redução de

poluição nas cidades americanas e a assinatura do Protocolo de Kyoto em 1997 por

várias nações da Europa, aumentam o volume das exportações conforme visto no

Quadro 1.

Outros países também buscam novas soluções energéticas em decorrência da

expansão de mercados consumidores como a China e Índia. Os Estados Unidos,

tradicionalmente grande consumidor de petróleo, se atentam para outras fontes de

energia, incentivando PD&I em biocombustiveis. Ao longo de 3 déca(4; s o Brasil

liderou a produção de etanol combustível, fabricado à partir cana-de-açúcar,

perdendo sua posição para os Estados Unidos em 2005/2006, que produz etanol à

partir do milho, principalmente pelos estados produtores deste cereal (MASIERO &

LOPES, 2008; NYKO et al., 2010).

Page 78: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 81

Quadro 1: Exportação brasileira de bioetanol por ano / safra.

Ano - Safra Volume de Exportação

Brasileira (Milhões de

Litros)

2000/2001 93,99

2001/2002 516,53

2002/2003 817,60

2003/2004 956,11

2004/2005 2478,23

2005/2006 2615,62

2006/2007 3691,61

2007/2008 3624,83

2008/2009 4721,90

Fonte: UNICA (2013)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que a demanda mundial por biocombustíveis continuará a crescer

à taxas elevadas diante da conscientização mundial em torno da real

necessidade de deter o processo de aquecimento global, assim bem como

motivada pelos temores de uma eminente escassez de petróleo.

Assim, no contexto de grande demanda por biocombustíveis, o Brasil

destaca-se como um dos maiores produtores do mundo devido à combinação de

fatores favoráveis ao cultivo de matéria prima e utilização das mesmas para

produção. Em especial, as safras de cana de açúcar permitem elevados

números produtivos de Etanol no país.

A demanda por biocombustíveis — em particular, pelo etanol — produzidos

no Brasil tende a ser cada vez mais expressiva, como pode ser comprovado

por diversos cenários. Entretanto, como o país já possui • expertise na

produção de etanol de 1° Geração, sugere-se maiores investimentos em PD&I

para que o bioetanol obtido à partir de matéria-prima lignocelulósica, possa

ganhar destaque na matriz energética brasileira sendo mais uma alternativa

de produção e consumo.

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82 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

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Page 82: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 85

C AP Í T U LO 6

BIOCOMBUSTÍVEL: IMPORTÂNCIA ECONÔMICA,

INCLUSÃO SOCIAL E REDUÇÃO DOS IMPACTOS

AMBIENTAIS.

Isadora Lucena Andrade

Viviane Galvão

RESUMO

A necessidade de substituição de combustíveis de origem fóssil tem ampliado a

produção e utilização de biocombustíveis no mercado mundial. Esse crescimento

aponta como uma alternativa para reduzir a dependência do petróleo e, assim,

aumentar a utilização de energia limpa. Dessa forma, este artigo consiste em uma

revisão a respeito do panorama no uso das energias renováveis no Brasil,

especificamente Biodiesel e Etanol. Ele tem como objetivo explanar e ilustrar alguns

aspectos sobre os biocombustíveis, analisando suas repercussões no contexto social,

ambiental e suas influências econômicas. Estas perspectivas favorecem oportunidades

socioeconômicas em novas áreas, com potencial ecológico e sustentável para o Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Biocombustível; Energia renovável; Meio ambiente.

Page 83: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

86 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, o Brasil está investindo em tecnologia e mão-de-obra especializada

para manter a qualidade e ampliar a geração de biocombustível (HOLANDA et al.,

2004). A busca por combustíveis renováveis, limpos e eficientes tornou-se uma

necessidade devido ao crescimento econômico mundial (PIMENTA et al., 2011). O

aumento da demanda por biocombustíveis está ocorrendo devido a elevação

contínua do preço do petróleo (TÁVORA, 2011). Há várias razões para que o

desenvolvimento de biocombustíveis tenha importância mundial. Dentre algumas,

pode-se destacar que eles são facilmente disponíveis a partir de fontes de biomassa,

fornecem novas oportunidades socioeconômicas no setor rural, oferecem um impacto

ambiental reduzido, possuem um considerável potencial ecológico, são biodegradáveis,

reduzem o uso de combustíveis fósseis e contribuem para a sustentabilidade

(PUPPAN, 2002).

O termo biocombustível refere-se a um combustível sólido, liquido ou gasoso

predominantemente produzido a partir de biomassa. As principais razões para o

investimento neste novo tipo de combustível são a redução da dependência do

petróleo, diminuição da emissão de poluentes por veículos e maior controle da

concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera (LEITE E LEAL, 2007). Os

custos da produção de biocombustíveis são influenciados pelo valor da matéria-prima,

escala de produção e a região onde é produzido. (DEMIRBAS, 2009). Os

biocombustiveis mais comuns, etanol e biodiesel, são produzidos a partir de culturas

alimentares clássicas que requerem terras agrícolas de alta qualidade. Em 2010, o Brasil

foi o segundo maior produtor mundial de Etanol e de Biodiesel. O maior produtor de

etanol foram os Estados Unidos e de biodiesel foi a Alemanha (ANP, 2013).

O etanol pode ser produzido por resíduos da agricultura e industriais e pelas

seguintes matérias-pr:mas: cana-de-açúcar, milho, trigo, sorgo, beterraba, dentre outras

(MASIERO E LOPES, 2008). Este combusti47e1 pode ser utilizado na sua forma pura,

E100 (100% de etanol) ou pode ser empregado na mistura com a gasolina, sendo

comum adicionar E 10 (10% de etanol em 90% de gasolina) (MASIERO E LOPES,

2008). O etanol representa um biocombustível potente no Brasil e a maioria dos

Page 84: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 87

carros brasileiros possui motor bicombustível, ou seja, funciona com gasolina ou

com etanol. Este fato comprova que as montadoras automobilísticas estão apostando

no etanol como o combustível promissor para o país (TÁVORA, 2011).

O biodiesel, também chamado de petróleo verde, é produzido a partir de óleos e

gorduras vegetais e animais. Ele é considerado um combustível limpo, pois não

contém enxofre e hidrocarbonetos poliaromáticos (FERRÃO-GONZALES et al.,

2008). O biodiesel pode ser utilizado como substituto ou adicionado ao óleo diesel

mineral derivado do petróleo, representando, assim, uma alternativa que pode

contribuir na redução de emissão de gases poluentes (MACEDO, 2007; POUSA et

ai., 2007). Na produção de biodiesel, a matéria-prima é responsável por cerca de 75-

80% do total do custo operacional (DEMIRBAS, 2009).

Um caminho para a redução da poluição ambiental é o aumento da produção de

etanol ou de biodiesel. Desta forma, o trabalho apresenta um panorama sobre a

produção de biocombustíveis, especificamente o etanol e o biodiesel (KOHLHEPP,

2010). Adicionalmente, uma análise sobre as repercussões no contexto econômico,

social e ambiental será realizada. Este trabalho abordará a temática da importância

da utilização e geração de energias renováveis em substituição dos combustíveis de

origem fóssil.

1. BREVE HISTÓRICO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS NO BRASIL

Uma das primeiras instituições brasileiras a pesquisar e avaliar sistematicamente

combustíveis alternativos e renováveis foi o Instituto Nacional de Tecnologia (INT),

na década de 1920. Em 1925, a conferência "O álcool como combustível industrial

no Brasil", ministrada na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, começou a

desenvolver uma consciência na defesa do uso de combustível (TÁVORA, 2011).

A tabela 1 apresenta a evolução dos biocombustíveis no Brasil. A partir da

década de 1970, devido a crise do petróleo, a Petrobrás começou a apoiar o Programa

Nacional do Álcool (Pra-álcool), lançado pelo governo brasileiro em 1975, por

meio do Decreto n° 76.593/1975. Este fato contribuiu para o sucesso de seu uso na

Page 85: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

88 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

matriz energética do país, como forma renovável de se obter energia, mediante um

método que não agride o meio ambiente, visto que consistia em desenvolver o uso

do etanol como combustível para substituir veículos movidos a gasolina. Nesta

mesma década, a Universidade Federal do Ceará (UFCE) iniciou suas pesquisas sobre

fontes alternativas de energia e identificou um novo combustível com propriedades

semelhantes ao óleo diesel, o biodiesel (LIMA, 2004). Do ano de 1975 ao ano 2000, o

governo brasileiro aprovou a mistura de etanol na gasolina de 1,1 para 25% em cada

litro de combustível. O aspecto positivo desta mistura foi reduzir a emissão de gás

carbônico na atmosfera e a importação de barris de petróleo (MASIERO e LOPES,

2008). Diversos países têm demonstrado interesse na utilização e produção de

etanol, anunciando políticas para a inclusão deste produto em suas matrizes

energéticas.

O etanol não é o único biocombustível renovável desenvolvido no Brasil. Em

1983, o governo anunciou o Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para

Fins Energéticos (Pro-óleo). Este programa consistiu em desenvolver e produzir

biodiesel a partir de fontes de energia distintas, tais como o algodão, dendê, girassol,

mamona, soja, dentre outros. Este programa foi interrompido em 1985 e só foi

retomado em 2003 como Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB)

(MASIERO e LOPES, 2008). O PNPB possui três pilares fundamentais que são a

inclusão social por meio da agricultura familiar, a sustentabilidade ambiental e a

viabilidade econômica (FLEXOR et al., 2011).0 objetivo deste programa é

implementar de forma sustentável, a produção e utilização de Biodiesel, focalizando a

inclusão social e o desenvolvimento regional através da criação de emprego e

aumento de renda (GARCEZ E VIANNA, 2009).

A Lei n° 11.097 de 13 de janeiro de 2005, determinou percentuais mínimos de

mistura de biodiesel ao diesel. Entre 2008 e 2012, a proporção de biodiesel no óleo

diesel foi de 2% (B2). Em 2013, esta proporção será ampliada para 5% (B5)

(COLARES, 2008). Em 2006, esta lei foi implementada com da compra de biodiesel

através de um leilão da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

(PRATES et al., 2007).

Page 86: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 89

Tabela 1: Evolução dos biocombustíveis no Brasil, segundo a Agência

Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP, 2013).

Ano Acontecimento

1974 Brasil cria o Programa Pro-álcool

1977 Adição de 4,5% de etanol a gasolina

1979 Adição de 15% de etanol a gasolina

1980 Segunda crise do petróleo

1983 Carro movido a etanol representa 90% do total de vendas

1985 Adição de 22% de etanol a gasolina

1989 Preço do petróleo cai e gasolina se equipara ao etanol

2003 Lançamento do carro bicombustível

2005 Lançamento do Programa Nacional de Biodiesel

2007 Terceira crise do petróleo

2008 Obrigatoriedade do B2 e consumo de etanol se equipara a

gasolina

2011 ANP passa a regular e fiscalizar a produção de etanol.

Percentual de etanol na gasolina pode variar de 18% a

25%

2013 Vigência do B5

2. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E SOCIAL

Algumas vantagens econômicas dos biocombustíveis são o aumento da oferta de

postos de trabalho na agricultura empresarial e na familiar, diminuição da emissão de

gases do efeito estufa, redução da dependência do petróleo e desenvolvimento

regional. Nos últimos anos, a importância de culturas não-alimentares aumentou

significativamente e este fato pode aumentar a produção de biocombustível a partir de

biomassa (DEMIRBAS, 2008). Do ponto de vista social, tem-se que levar em conta

que uma maior oferta de emprego na zona rural deve ser associada a requalificação de

trabalhadores. Este processo será essencial para o ganho de produtividade e

competitividade, bem como, resultará na geração de empregos de maior qualidade e

remuneração (TÁVORA, 2011).

Em média, na produção de biodiesel, a agricultura empresarial empréga f-

trabalhador para cada 100 hectares cultivados, enquanto que na familiar a relação é

de apenas 10 hectares por trabalhador. Estes dados mostram a importância de

Page 87: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

90 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

priorizar a agricultura familiar de oleaginosas para erradicar a miséria do Brasil, pois

este tipo de lavoura emprega um grande contingente de pessoas (LIMA, 2004).

Entretanto, a produção de biocombustível tende a reduzir a importância de outros

tipos de agricultura e este aspecto pode ter impactos sociais indesejáveis (PIMENTA

et ai., 2011).

A sustentabilidade pode ser alcançada através de um modelo econômico adequado

que possibilite o aumento de recursos financeiros, evitando estragos na natureza. Este

modelo deve utilizar os recursos naturais sem destruí-los. Desta maneira, o

desenvolvimento de culturas para a produção de biodiesel ou de etanol deve ser feito de

forma sustentável, respeitando o meio ambiente. O governo brasileiro necessita

descentralizar a produção para impedir a concentração de renda e de propriedade. Esta

mudança deve beneficiar a agricultara familiar no Brasil (BRASIL, 2006).

O Brasil possui diversas espécies oleaginosas com potencial para serem

utilizadas como matéria-prima na produção de biodiesel. A. Tabela 2 mostra as

principais culturas empregadas na produção deste biocombustível nas cinco regiões do

país (LIMA, 2004; PAULILLO et al., 2007). A matriz de produção de biodiesel deve

considerar as necessidades de desenvolvimento de cada região do país, com suas

especificidades próprias, tais como clima, solo, disponibilidade de terras,

desenvolvimento econômico da população, entre outros (DA SILVA et al., 2008).

Tabela 2: Principais culturas que são utilizadas na produção de biodiesel nas

diferentes regiões do Brasil

Região Cultura

Norte Dendê, babaçu, soja e gordura animal

Nordeste Babaçu, soja, mamona, dendê, algodão, coco

Centro-oeste Soja, mamona, algodão, girassol

Sul Soja, canola, girassol, algodão

Sudeste Soja, mamona, algodão, Girassol

Em 2010, os principais estados brasileiros com infraestrutura de produção de

biodiesel são Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo (ANP, 2011). A

produção de brasileira de biodiesel puro (B100) ao longo de um ano (ANP, 2013)

têm um acumulada bom ajuste com o modelo sigmoidal de Boltzmann (Figura 1 e

Page 88: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 91

Tabela 3). Este modelo (MOTULSKY, 1995) é representando pela equação:

(1)

onde, Y corresponde à produção de biodiesel em m3, X representa o ano, os

parâmetros Ale A, correspondem, respectivamente, às assíntotas inferior e superior, xn

representa o ponto de inflexão da curva e dx o nível de espalhamento.

Figura 1. Evolução da produção de biodiesel puro (B100) no Brasil ajustada pelo

modelo sigmoidal de Boltzmann.

Tabela 3: Parâmetros da equação sigmoidal de Boltzmann (A1, A2, x0 e dx) e

coeficiente de correlação (R2) obtidos com a análise dos dados de produção do

biodiesel puro no Brasil.

Boltzmann Valor

R2 0,99

A1 1,7 x 105-± 0,2 x 10

5

A2 , 3,0 x 106± 0,33 x 10

6

X0 2,0 x 10

3 ± 0,3

dx 1,12 ± 0,29

dx

xx

e

AAAY

)(

212

0

1

)(

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

0.0

7.0x105

1.4x106

2.1x106

2.8x106

B100

Curva sigmoidal de Boltzmann

B1

00

pro

du

zid

o (

m3

)

Ano

Page 89: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

92 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

3. IMPACTOS AMBIENTAIS

Em junho de 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento foi realizada no Rio de Janeiro. Em âmbito internacional, esta

conferência foi de extrema relevância para levantar discussões em relação às questões

ambientais. Ela representou um marco decisivo para a formalização de acordos

internacionais que tem como objetivo promover a sustentabilidade do

desenvolvimento global (TÁVORA, 2011).

O maior exemplo de energia renovável é a produção em larga escala de etanol,

sendo que Estados Unidos e Brasil, são responsáveis por 70% da sua produção

mundial. Este combustível é ecologicamente adequado para motores de ignição por

faísca. A mistura de etanol com gasolina aumenta a octanagem do combustível e reduz

a emissão de gases poluentes, tais como monóxido de carbono e hidrocarbonetos

(NAJAFI et al., 2009). No futuro, o etanol poderá ser produzido de bagaço de cana-

de-açúcar, celulose e outras matérias orgânicas, sendo sua produtividade aumentada

em torno de 40%-50% (KOHLHEPP, 2010).

O aumento crescente da produção de biocombustíveis poderá provocar profundas

alterações no uso do solo, convertendo áreas não plantadas em lavouras. Uma pesquisa

recente mostrou que se a produção de etanol derivado do milho nos Estados Unidos

aumentar 75%, 12,8 milhões de hectares de outros tipos de lavoura passariam a

produzir milho. Neste cenário, o ecossistema pode sofrer danos expressivos, já que

muitas destas plantações são cultivadas em área que possuem alta biodiversidade

(VICHI E MANSOR, 2009).

A produção em larga escala de qualquer cultura pode causar impactos negativos,

pois requer grandes quantidades de água, fertilizantes e pesticidas. Além disso, se o

manejo não for adequado o plantio também pode degradar o solo (MASIERO e

LOPES, 2008). Assim, para um crescimento sustentável, as terras agricultáveis

precisam ser bem geridas no que diz respeito à produção de biocombustíveis e a

produção de alimentos.

As mudanças climáticas causadas por emissões de carbono são o principal

incentivo para a produção de biocombustíveis. Estes, em princípio, ao longo do

Page 90: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 93

seu ciclo de vida não emitem carbono. O carbono emitido pela sua queima é

compensado na fase agrícola mediante a fotos-síntese das plantas. Assim, a

produção de biocombustíveis é bastante sensível às características da cadeia

produtiva ao longo de todas as fases (HILL et al., 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi possível verificar que a dependência de energia e

matérias-primas aumentou significativamente com o desenvolvimento e o

crescimento mundial. Isto aconteceu devido a maior produção e consumo

agrícola e industrial, causando o aumento das emissões de gases poluentes

capazes de provocar alterações climáticas. Este fato contribuiu para que os

governos mundiais estimulassem a produção e a gradativa substituição dos

combustíveis fósseis por biocombustíveis, não apenas em virtude da

volatilidade e do aumento dos preços do petróleo, mas pela perspectiva de

esgotamento das reservas mundiais. Esta atitude beneficia tanto o meio

ambiente quanto a sociedade e a diminuição da emissão de gases favorece o

desenvolvimento sustentável (BASTOS, 2007). Neste contexto, ainda existe

muitos desafios para que o equilíbrio entre produção de energia,

sustentabilidade, meio ambiente e manutenção da vida na terra alcance seja

alcançado. Desta forma, toda a sociedade deve modificar sua economia e

tomar medidas estratégicas para redimensionar o aproveitamento de energia

renovável como aumento do consumo de biocombustível.

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Page 93: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

96 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

C APÍ TULO 7

BIORREMEDIAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS

COM BIODIESEL E SEUS B.LENDS COM DIESEL:

UMA REVISÃO

Ricardo de Oliveira Mota

Amaro Emili ano Trindade Silva

RESUMO

Biorremediação consiste na utilização da versatilidade metabólica dos

microrganismos, removendo contaminantes do meio ambiente, eficientemente, com

baixos custos, minimizando impactos antrópicos. A provável rota de degradação

microbiana do biodiesel consiste na clivagem do metil éster por esterase, produzindo

ácido graxo e álcool associado, e quebra do ácido graxo pelo Ciclo de Krebs. Alguns

microrganismos com potencial de degradação do biodiesel já foram identificados.

Estudos pioneiros realizados no sul e sudeste verificaram efeitos da bioventilação em

solos argilosos, e capacidade de degradação de diferentes blends biodiesel/diesel, seja

como cultura pura ou consórcios microbianos. No nordeste temos duas grandes

usinas da Petrobrás Biocombustível S/A com grande capacidade produtiva, que

justifica realização de pesquisas similares na avaliação dos impactos ambientais

decorrentes de possíveis acidentes de transporte, vazamentos, derramamentos de

biodiesel ou seus blends, no semi-árido .e mata atlântica. Esse artigo rever conceitos

de biorremediação e estado da arte dos processos de biorremediacão do biodiesel.

PALAVRAS -CHAVE: Biorremediação; Biodiesel; Microrganismos.

Page 94: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERG1A: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL lI 97

INTRODUÇÃO

O Brasil tem sido pioneiro na pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de

produção de biocombustíveis, como no caso do etanol combustível, já há muitos anos,

utilizado em todo país no abastecimento de automotores, e mais recentemente, na

produção de biodiesel. O biodiesel vem se mostrando como uma fonte de energia

limpa e extremamente promissora para a diminuição de danos ambientais, sendo

aplicado como combustível alternativo ao combustível fóssil, que além de mais

poluente, é uma fonte de energia não renovável (URQUIAGA et al, 2005).

Por ser oriundo de biomassa, o biodiesel é considerado um produto biodegradável.

De fato, estudos já consideraram a implementação do biodiesel para aumentar a

biodisponibilidade e, consequentemente, a biorremediação de hidrocarbonetos

aromáticos policíclicos (da sigla em inglês, PAH) derivados do alcatrão de carvão

(TAYLOR & JONES, 2001), ou ainda de óleo oriundo de derramamentos pesados

(FERNÁNDEZÁLVAREZ et al., 2007).

Todavia, considerando que o biodiesel foi recentemente inserido na matriz

energética mundial, sob a condição de blends com o óleo diesel, denominadas de

blends, estudos acerca de sua biodegradabilidade ainda são escassos e altamente

necessários. Técnicas de remediação, que apresentem uma relação custo/beneficio

favorável e que sejam compatíveis com aspectos socioambientais, precisam ser melhor

compreendidas para impulsionar a expansão do uso desses blends frente a métodos

convencionais de descontaminação, como a incineração, solidificação/estabilização,

extração de vapor do solo e lavagem (XU & LU, 2010).

O termo biorremediação, descreve o processo de degradação do contaminante no

meio ambiente por meio de métodos biológicos utilizando o potencial metabólico

dos microrganismos para degradar uma ampla variedade de compostos orgânicos. A

principal vantagem da biorremediação é o seu custo reduzido em comparação com as

técnicas convencionais. Portanto, esses processos são de grande interesse, pois o custo

de remediação de todas as áreas contaminadas através de técnicas convencionais, só

nos EUA é estimado em 1,7 trilhões de dólares. Além do custo-eficiência, a

Page 95: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

98 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

biorremediação é uma solução permanente, que pode levar à completa mineralização do

poluente. Além disso, é uma técnica não invasiva, deixando o ecossistema intacto

(PERELO, 2010).

A degradação das propriedades dos recursos naturais do ambiente, ocasionada pela

contaminação e pela poluição, e os prejuízos à saúde humana potencialmente

decorrentes desses fatores, justificam o uso da abordagem multidisciplinar da

biorremediação, que combina processos biotecnológicos avançados com a engenharia

ambiental para solucionar ou atenuar esses problemas (BENTO et al, 2005).

1) Uma vez que o biodiesel ou seus blends sejam introduzidos no ambiente, por

meio de acidentes, vazamentos ou derramamentos, esses podem se tornar

poluentes e causar danos aos diferentes ecossistemas. Portanto, justifica-se o

estudo e avaliação da biodegradabilidade, tempo de degradação e formação de

produtos intermediários . OBJETIVOS DA REVISÃO

O Governo Federal junto ao Ministério de Minas e Energia tem dado grande

apoio à pesquisa na área de avaliação de impactos ambientais e biocombustiveis.

No campo do impacto ambiental promovido por derramamento de biodiesel, seus

blends ao diesel e os efluentes de sua linha de produção, poucos trabalhos

científicos foram realizados, a grande maioria por iniciativas de pesquisadores do

sudeste e sul do país, mais especificamente, da Universidade Estadual Paulista, Uni-

versidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade de Passo Fundo. O

nordeste brasileiro possui duas grandes usinas de biodiesel da Petrobrás

Biocombustível S/A, uma em Quixadá (CE) e outra em Candeias (BA). -Juntas.;

estas usinas possuem capacidade de produção instalada de 325,2 milhões de

litro/ano. Desta forma, faz-se necessário que pesquisadores nordestinos estudem os

processos de biorremediação= e como esses processos podem solucionar possíveis

problemas de contaminação de solos típicos da região, como o semi-árido, com

biodiesel e seus efluentes. No presente artigo fez-se uma revisão sobre conceitos

básicos de biorremediação e dos mecanismos de degradação do biodiesel.

Page 96: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 99

2) BIODIESEL

A produção de biodiesel é oriunda da reação de esterificação de triglicerídeos com

um álcool (sendo comumente utilizado o metanol ou o etanol) na presença de um

catalisador químico ou biológico. A reação tem como produto mono alquil ésteres de

ácidos graxos (a sigla em inglês "FAME'-fatty acid methyl esters" , se refere ao biodiesel

produzido a partir de metanol) e como subproduto o glicerol (ISO et al ., 2001; KOSE et

al., 2002). Os triglicerídeos necessários para produção do biodiesel podem ser de

origem vegetal (sementes de algodão, soja, pinhão-manso, girassol, entre outras) de

origem animal (sebo bovino, suíno, etc), ou ainda de óleos residuais utilizados para

frituras (SCHUCHARDT, et ai., 1998; MA e HANNA, 1999; FUKUDA et al.,

2001; TOMASEVIC e MAINKOVIC, 2003; RAMANDHAS et al., 2005).

Os ésteres ou ácidos graxos metil esterificados componentes do biodiesel são de

baixa complexidade estrutural, predominando oito diferentes tipos com cadeias

variando entre 16 e 18 carbonos, e incluindo: oleato, palmitato, estearato, linoleato,

mirístico, laureato e linolenato. O biodiesel pode ser misturado a qualquer outro

combustível derivado do petróleo (NEWMAN, 1993).

Em 2005, o Governo brasileiro sancionou a Lei 11097/2005 que estabelece

percentuais mínimos de formação de blends do biodiesel ao diesel, assim como o

monitoramento da inserção do novo combustível no mercado. O biodiesel foi

efetivamente introduzido na matriz energética brasileira em- 2006 e, apenas em 2008

o blend biodiesel/diesel foi tomado como obrigatória com a comercialização do B2. A

nomenclatura designada ao biodiesel considera a porcentagem de participação do biodi-

esel puro (100%) no Mendbiodiesel/diesel, sendo então o B2 equivalente a 2% de

biodiesel, o B5 a 5%, e assim sucessivamente (SILVA E FREITAS, 2008). O B5 já

vem sendo comercializado no território nacional desde Janeiro de 2010. A

implementação do biodiesel na matriz energética nacional tem efeito direto na

conservação do meio ambiente visto que esse biocombustivel renovável tem alto

potencial de biodegradabilidade, possuindo cadeias de ácidos graxos com átomos de

oxigênio altamente suscetíveis a oxidação, ausência de hidrocarbonetos aromáticos e

Page 97: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

100 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

de enxofre na sua composição. Além disto, os ésteres mediados do biodiesel possuem

alto número de octanas que servem como uma alternativa biodegradável aos compostos

oxigenados recalcitrantes da gasolina (LIU, 2009). Finalmente, o biodiesel,

diferentemente do diesel e outros combustíveis derivados do petróleo, apresenta uma

baixa toxidade em vista da redução relativa de emissões de CO, CO2, SO2 e material

particulado na atmosfera, contribuindo para a redução do efeito estufa (BENTO et al.,

2005; DE MELLO, 2007; LERMONTOV & USHAKOVA, 2008 ; ATADASHI et al.,

2010; CHAO et al., 2010).

3) DIESEL

O óleo diesel é produto da destilação fracionada do petróleo. Este óleo apresenta

em sua composição principalmente hidrocarbonetos alifáricos de cadeia simples não

ramificados, variando de C9- C28. Na mistura são encontrados altos teores de enxofre,

variando de 0,1 a 0,5%, além de produtos da combustão, como CO, NOZ, SOE, material

particulado, aldeídos, benzeno, cianetos, tolueno, e hidrocarbonetos aromáticos

policíclicos, -sendo estes últimos bastante nocivos ao meio ambiente.

4) O INTERESSE MERCADOLÓGICO DA BIORREMEDIAÇÃO

O tamanho do mercado internacional da remediação é estimado atualmente entre

US$ 25 bilhões e US$ 35 bilhões. Entretanto, é difícil avaliar este mercado em

detalhes, pois a maioria dos países ainda não tem condição de identificar e catalogar os

seus sítios contaminados. Geralmente, o mercado da remediação desenvolve-se após

um país ter experimentado a contaminação do ar e da água e a gestão de resíduos

perigosos, prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. No Brasil, apenas a Cetesb mantém

um levantamento de sítios contaminados e do estágio em que se encontram. Do total

de 2.514 sítios cadastrados, 78% são postos de combustíveis e apenas 3% estão

reabilitados (BENTO et al, 2005).

De um modo geral, a biorremediação tende a ser um mercado atraente, pois

remove poluentes orgânicos eficientemente, a um baixo custo quanto comparado ao

tratamento térmico, três a quatro vezes mais caro.

Page 98: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 101

Análises do mercado atual de remediação apontam a biorremediação como a

técnica que mais tem despertado o interesse dos governos, de cientistas, e da

indústria, devido à boa relação custo-beneficio e à facilidade de implementação. Os

atos legislativos também apontam para o apoio de inovações tecnológicas, ao invés de

técnicas convencionais (BENTO et al , 2005).

5) PRINCÍPIOS DE BIORREMEDIAÇÃO

Biorremediação é definida como o processo pelo qual os resíduos orgânicos são

biologicamente degradados sob condições controladas a um estado inócuo, ou para

níveis inferiores aos limites de concentração estabelecidos pelas autoridades

reguladoras.

Por definição, o processo de biorremediação utiliza-se de microrganismos

procariotos e eucariotos, como bactérias e fungos respectivamente, para degradar ou

desintoxicar substâncias poluentes perigosas a saúde humana e/ou ao ambiente. Os

microrganismos atuantes nesse processo podem ser aqueles nativos de uma

determinada área contaminada, ou previamente isolados de outra área e trazidos para

um novo local contaminado. No processo de biorremediação, os compostos

contaminantes são transformados pela ação de uma ou mais enzimas comumente

encontradas exclusivamente na incrível versatilidade metabólica dos microrganismos.

Esta versatilidade, por sua vez, é oriunda de processos de evolução que ocorreram ao

longo de milhares de anos, frente a uma gama de pressões seletivas.

Normalmente, a biodegradação de um composto resulta da ação de vários

microrganismos, e a comunidade microbiana atuante sobre o poluente se dá o nome

de consórcio microbiano.

Quando microrganismos com habilidades catabólicas específicas são

importados para um sítio contaminado, de forma a melhorar a degrada-

ção de um poluente, temos um processo conhecido como bioaumentação.

A degradação biológica de contaminantes em solos é geralmente rea-

lizada pelo metabolismo anaeróbico. Como vias metabólicas anaeróbias

precisam de outros aceptores de elétrons além do oxigênio, a adição des-

ses aceptores caracteriza a bioestimulação. Já a atenuação natural é a respos-

Page 99: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

102 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

ta de sistemas hidrogeológicos à contaminação envolvendo processos

químicos, fisicos e biológicos que, sob condições favoráveis, agem sem

intervenção humana, reduzindo massa, toxicidade, mobilidade, volume ou

concentração de contaminantes no solo como tempo (PERELO, 2010).

Para biorremediação ser eficaz, os microrganismos devem atacar

enzimaticamente os poluentes e convertê-los em produtos de menor

toxi¬cidade. Condições ambientais que permitam o crescimento e a atividade

microbiana são cruciais para essa eficácia. A aplicação da biorremedição,

envolve, muitas vezes, a manipulação de parâmetros ambientais que per-

mitam que o crescimento microbiano, e a degradação do poluente, pros¬sigam

a uma taxa mais rápida. A- biorremediação pode ser, desta forma,

contextualizada como a aceleração do processo natural de biodegrada¬ção, e

por isso tem sua eficiência limitada a fatores ambientais como a

disponibilidade de nutrientes, umidade, temperatura, pH, concentração de

minerais, potencial redox, e outras características fisico-químicas do ambiente

contaminando, além da natureza da substância contaminante (ROSA E

TRIGUIS, 2005). Algumas outras medidas biocorretivas de¬vem ser adotadas

para se assegurar a eficiência de um processo de biorre¬mediação; estas

medidas visam aumentar a população microbiana pro¬porcionando uma

condição ambiental ótima para o seu desenvolvimento em condições aeróbias

(na presença de oxigênio) ou anaeróbias (na ausên¬cia de oxigênio) (ABBAS,

2003).

As técnicas de biorremediação In situ são aquelas em que não há

necessidade de remoção do material, evitando custos e distúrbios ambi¬entais

associados ao movimento do material contaminado para o local de tratamento

(JACQUES et al., 2006; MARIANO, 2006).

Na tecnologia exsitu, muito utilizada em contaminações de cursos de água

e lençóis freáticos, o material contaminado é encaminhado para um local mais

adequado para evitar o alastramento do contaminante (ALE¬XANDER, 1999

e SANTOS et ai., 2007).

6) DEGRADAÇÃO MICROBIANA DO BIODIESEL

A contaminação de um ambiente com Na/ ocarbonetos por um lado acarreta,

geralmente, o enriquecimento primário dos microrganismos capazes de utilizá-los

Page 100: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 103

como fontes nutritivas e, por consequência, os microrganismos que utilizam os

metabólitos produzidos por estes primeiros também serão enriquecidos. Por outro

lado, o impacto das alterações ambientais nas comunidades microbianas, torna-se um

meio seletivo e redutor da diversidade biológica (LEAHY & COLWELL 1990).

As condições ambientais são de fundamental importância na atuação das bactérias

e fungos no processo de biodegradação de hidrocarbonetos. Outros fatores que

corroboram para o aumento na capacidade de biodegradação dos microrganismos são:

indução e/ou desrepressão de genes que codificam para enzimas específicas;

enriquecimento seletivo de organismos biodegradadores destes compostos, aquisição de

plasmídeos e mudanças genéticas nas atividades metabólicas (ROSATO, 1997).

Os plasmídeos têm um papel importante na adaptação, pois são transferidos de

forma natural via transformação e conjugação para outras linhagens receptoras,

conferindo a estas uma nova característica. A transferência de plasmídeos detentores

de vias de degradação de hidrocarbonetos metabólicos para linhagens com

capacidade limitada de utilização de alguns destes compostos pode levar a uma

expansão do potencial catabólico das mesmas, sendo estas induzidas à seleção quando

expostas a hidrocarbonetos (ROSATO, 1997).

Devido à composição química com alto número de octanas e muito mais simples

que a do óleo diesel, o biodiesel é mais suscetível ao ataque de bactérias ambientais,

(LIU & SULFITA 1994). Comparando-se os ácidos graxos presentes no biodiesel

com os alcanos e compostos aromáticos de alto peso molecular que compõem o diesel,

a ação de degradação por parte das bactérias demonstrou ser mais eficiente no

biodiesel (F0- LLIS, 1994).

A provável rota para a degradação do biodiesel consiste em: 1) clivagem do metil

éster por esterase, produzindo-se ácido graxo e o álcool associado e 2) quebra do ácido

graxo pelo Ciclo de Krebs, metabolismo respiratório ou incorporação direta nos

lipídeos celulares. Certas bactérias tais como Pseudomonas oleovorans, E mendocina, E

aeruginosa, Marinomonas vaga, Escherichia coli, Burkholderia gladiou, B. cepacia, Bacillus

subtilis, entre outras apresentam potencial para a degradação de biodiesel (F0- LLIS,

1994).

Page 101: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

104 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Pesquisas sobre biorremediação e biodegradação do biodiesel realizadas na

Universidade Estadual Paulista, -Universidade Federal do Rio Grande do Sul e

Universidade de Passo Fundo (RS) são esforços pioneiros no Brasil. Em 2008 foram

feitos estudos comparando processos de biorremediação de solo argiloso contaminado

com biodiesel (4,0% de biodiesel sobre o peso seco de solo, m/m) por processos de

atenuação natural e bioestimulação por bioventilação. Verificou-se que as amostras de

solo bioestimuladas através da utilização de ar comprimido (bioventilação) tiveram um

aumento de 14,6% no percentual de biodegradação do biodiesel em relação às amostras

submetidas a atenuação natural. Esse resultado demonstrou a importância da utilização

de bioventilação na redução do tempo de biodegradação do contaminante

(MENEGHETTI et al, 2008).

A degradação de biodiesel e blends de biodiesel/diesel (O, 2, 5, 20 e 100%) foi

estudada utilizando-se uma linhagem de Candida viswanathü isolada

das águas residuais de uma refinaria de petróleo brasileiro (Replan / Petrobras). Para

verificar a biodegradabilidade das misturas por C viswanathii utilizou-se a técnica

baseada no indicador redox 2,6-diclorofenol indofenol (DCPIP). Medidas da produção

de CO2, como indicador de substratos biodegradados, foram feitas pelo método

respirométrico. Concluiu-se que o isolado de C. viswanathii foi capaz de aumentar a biode-

gradação de blends de biodiesel/diesel no solo contaminado de forma significativa

(aproximadamente 50%), no entanto, a biodegradação do biodiesel é preferencial

(JUNIOR et al, 2008).

A capacidade de um consórcio de microrganismo degradar blends de biodiesel/diesel,

bem como a produção de biosurfactantes foi pesquisada em 2012. As amostras foram

coletadas em duas áreas com histórico de contaminação: i) solo contaminado de uma

área de landfanning em um Sistema Integrado de Tratamento de Efluentes no estado

do Rio Grande do Sul, que teve contato com resíduo de petróleo por 27 anos, e ii) lodo

formado durante a centrifugação de biodiesel a partir dos sistemas de armazenamento

de empresas localizadas no estado do Rio de Janeiro . Os microrganismos foram isolados

a partir das amostras contaminadas, e identificados por meios de sequenciamento do

genes para o RNA ribossomal 16S. Através das medições da tensão superficial

Page 102: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 105

e do indice de emulsão das amotras, além da atividade de esterases, concluiu-se que os

isolados Bacillus megaterium, B. pumilus, Pseudomonas aeruginosa e Stenotrophomonas

maltophilia exibem maior potencial de-degradar B20, devido ao grande potencial de

produção de enzimas específicas para a biodegradação dos compostos policíclicos

aromáticos (BENTO et al, 2012).

Esses trabalhos demostraram que as perspectivas do desenvolvimento de

processos de biorremediação de áreas contaminadas com biodiesel são promissoras,

afinal degradar compostos usando a atividade biológica natural é uma atitude

sustentável.

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES FINAIS

Estima-se que em 2030 os biocombustíveis vão atingir de 4 a 7% da demanda de

combustíveis de transporte rodoviário do mundo (BESERRA, 2010). Desta forma,

estudos voltados a remediação de possíveis acidentes de derramamento desses

combuStíveis são de grande importância para a sociedade. A biorremediação já é uma

alternativa bastante empregada em países como os Estados Unidos e a Holanda. No

Brasil sua utilização ainda é pequena, e parte disso se deve a escassez de estudos

voltados para os eventuais prejuízos de eventos de vazamento e contaminação de solos

e efluentes com biocombustíveis, tais como os blends de biodiesel/ diesel. É necessário

que façamos um esforço envolvendo as empresas produtoras de combustíveis fosseis e

renováveis e nossos pesquisadores e que juntos façam levantamento dos sítios

contaminados em todas as regiões do Brasil. Esse levantamento irá acarretar na

intensificação do interesse da comunidade científica em aplicar processos de

remediação e biorremediacão para essas áreas contaminadas. Uma maior divulgação e

estudo dos processos de biorremediação de biocimbustiveis vai, consequentemente,

levar a um melhor conhecimento e prospecção da diversidade taxonômica e

enzimática constituinte das complexas comunidades microbianas presentes em regiões

como o semi-árido e a mata atlântica do nordeste brasileiro. Desta forma, poderemos

detectar consórcios microbianos e/ou combinações enzimáticas para

Page 103: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

106 BIOENERGIA: UNI DIÁLOGO RENOVÁVEL II

biorremediações especificas e potencialmente mais eficientes; para contornar

contaminações nestes tipos de solo.

importante também que estudos sejam feitos quanto ao uso de resíduos

lignocelulósicos como agente bioestimulante na degradação de biodiesel/diesel. Essa

iniciativa pode ser a solução para o acúmulo de resíduos ou o desenvolvimento de

novas tecnologias de produção de biocombustíveis.

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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 111

CAPÍTULO 8

BIOENERGIA, ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E AMBI-

ENTAIS: SEUS EFEITOS NA SAÚDE, CENÁRIOS E

CAMINHOS

Evangileno Nunes Leal

Grace Caroline Nery Jacobina

RESUMO

No início do milênio os cientistas começaram a chamar a atenção sobre as

mudanças climáticas que estão transformando o planeta terra. A emissão de gases

poluente resultantes da queima de combustíveis fósseis tem transformado a atmosfera e

provocando, além do efeito estufa, mudanças adaptativas na vida e na saúde da

população. As grandes catástrofes climáticas resultantes do fenômeno EL NINA,

mostram em grande escala que os países desenvolvidos e subdesenvolvidos precisam

mudar o rumo na emissão dos gases poluentes. A partir do Protocolo de Quioto

(1998) que o interesse mundial pelos biocombustiveis foi alavancado em função da

necessidade de se reduzir a emissão de gases poluentes que contribuem para o

aquecimento global. Porém, é necessário que se esclareça que também não existem

apenas vantagens na utilização dos biocombustíveis. É necessário disciplina e

cautela no seu uso. É preciso que a saúde, acima de tudo também seja inclusa no

contexto e na busca de alternativas para diminuir os efeitos deletérios á saúde, pelo

aumento da temperatura, bem como evitar maiores catástrofes resultantes das

transformações climáticas.

PALAVRAS-CHAVE: biocombustíveis, mudanças climáticas, poluição, saúde, efeito

estufa, emissão de poluentes.

Page 109: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

112 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

INTRODUÇÃO

A preocupação com os efeitos das mudanças climáticas tem forçado os países a

pesquisarem soluções para a redução do consumo de combustíveis fósseis. A cada ano

que passa, aumenta o consumo de combustíveis derivados dopetróleo e,

consequentemente, o aumento da poluição atmosférica. (FERRARI& COLS., 2005).

A busca por combustíveis alternativos vem ganhando destaque nas últimas

décadas. A substituição dos combustíveis fósseis tem sido motivada por fatores

ambientais, econômicos e sociais, uma vez que toda a sociedade depende de seu uso.

Nesse contexto, uma alternativa que se tem destacado é o uso de biocombustíveis e

energias renováveis e limpas. (OLIVEIRA E COLS., 2007).

Segundo Miragaya (2005) as vantagens ambientais do uso de biocombustíveis

líquidos destacam-se a diminuição das emissões, pelos veículos automotores, de gases

e/ou partículas prejudiciais à saúde humana ou ao meio ambiente, como o monóxido

de carbono, hidrocarbonetos e óxidos de enxofre e nitrogênio e de gases do chamado

efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono.

1 AQUECIMENTO GLOBAL

Nestes últimos anos, mas principalmente no início deste milênio, os cientistas estão

chamando a atenção e alertando as pessoas sobre a rápida e catastrófica mudança

climática. Os meios de comunicação veiculam com mais ênfase em seus noticiários

e documentarias o tema sobre o Aquecimento Global e suas consequências nas mais

diversas áreas do planeta.

A pergunta que se faz hoje é quem ou o que pode estar provocando tudo isso.

Num modo geral, os cientistas e pesquisadores do clima em escala mundial afirmam

que este aquecimento global está ocorrendo em função do aumento de poluentes,

principalmente de gases derivados da queima de combustíveis fósseis na atmosfera. A

poluição do ar das grandes cidades é, provavelmente, o mais visível impacto da queima

dos derivados de petróleo.

A degradação ambiental decorrente de atividades industriais e urbanas

Page 110: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 113

está atingindo níveis cada vez mais alarmantes e a otimização de novas formas de

energia vem ganhando espaço cada vez maior. Ao longo dos anos 80, cresceu a

preocupação de pesquisadores ligados a questões ambientais, com o impacto dessas

mudanças sobre os ecossistemas.

A divulgação do 4° relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de

Mudanças Climáticas (IPCCAR4) em fevereiro de 2007; o filme "Uma verdade

inconveniente", ganhador do Oscar de melhor documentário de 2007; o tratamento

midiático dado a uma série de eventos extremos do ponto de vista climático,

catastrófico e social como o furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans; a onda de

calor na Europa em 2003, quando foi registrado um excesso de mais de 44 mil mortes;

contribuíram para trazer a tona e reforçar o debate sobre as origens e os efeitos das

mudanças climáticas em escala global, mesmo sem consenso para suas

determinações causais. (KOSATSKY, 2005).

As mudanças climáticas podem ser entendidas como qualquer mudança no

clima ao longo dos anos, devido à variabilidade natural ou como resultado da

atividade humana. (IPCC, 2007a). O Painel Intergovernamental sobre Mudanças

Climáticas (IPCC) divulgou recentemente que há 90% de chance do aquecimento

global observado nos últimos 50 anos ter sido causado pela atividade humana, através

do aumento das emissões de gases de efeito estufa. (IPCC, 2007b).

A recuperação de dados mais remotos sobre o clima da Terra tem sido possível

através da analise da composição de testemunhos de gelo do Ártico e Antártica. Esses

dados têm demonstrado que as concentrações de CO2 (dióxido de carbono) e de

CH4 (metano) na atmosfera nunca foram tão altos nos últimos 600.000 anos. (IPCC,

2007a). O aumento do efeito estufai, causado pela acumulação de gases, produziu

um acréscimo de um grau Celsius na temperatura media ao longo do ultimo século.

As mudanças climáticas refletem o impacto de processos socioeconômicos e

culturais, como o crescimento populacional, a urbanização, a industrialização e o

aumento do consumo de recursos naturais e da demanda sobre os ciclos

biogeoquímicos. (McMICHAEL, 1999; CONFALONIERI et al., 2002).

No Brasil, destaca-se o papel do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

(INPE), notadamente o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos

Page 111: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

114 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

(CPTEC) no monitoramento e desenvolvimento de Modelos Globais Atmosféricos

(GCMs) e Modelos Globais Acoplados Oceano-Atmosfera (AOGCMs) para a previsão

de mudanças climáticas. (MARENGO, 2007).

2 EFEITOS NA SAÚDE

Desde o evento El Nino (1997-1998), epidemiologistas e entomologistas

começaram a dar uma atenção especial aos impactos dos grandes fenômenos

climáticos sobre a saúde. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) publicou

um estudo especifico sobre o tema em 1999 que enfatizou a permanência de eventos

como El Nino e os desafios para não esquecer e repetir erros do passado.

(ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA SALUD, 2000). Entretanto, a

maior parte dos estudos que relacionam esse acontecimento a doenças vetoriais é feita

no nível planetário ou continental. (GITHEKO et al., 2000; GAGNON et al., 2002;

BASHER GANE, 2002; THOMSON et al., 2003). Enquanto que os impactos de El

Nino são muito variáveis de acordo com a intensidade do evento e as regiões que ele

atinge. (DESSAY et al., 2004).

A identificação da influência humana na alteração do clima e um dos principais

aspectos analisados pelo Terceiro Relatório do (Third Assessment Report - TAR).

(IPCC, 2001b). Nas regiões tropicais e subtropicais da América do Sul, África,

sudeste da Ásia e parte da Oceania estão os países que mais queimam biomassa em

todo o globo terrestre contribuindo diretamente para o fenômeno das mudanças

climáticas globais. (FREITAS et al., 2005). A população humana sob influência das

mudanças climáticas apresentará os efeitos, de origem multicausal, de forma exa-

cerbada ou intensificada. A avaliação dos efeitos sobre a saúde relacionados com os

impactos das mudanças climáticas e extremamente complexa e requer uma avaliação

integrada com uma abordagem interdisciplinar dos profissionais de saúde,

climatologistas, cientistas sociais, biólogos, fisicos, químicos, epidemiologistas,

dentre outros, para analisar as relações entre os sistemas sociais, econômicos,

biológicos, ecológicos e fisicos e suas relações com as alterações climáticas.

(McMICHAEL, 2003).

O aquecimento global pode ter consequências diretas sobre a morbidade e

Page 112: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 115

mortalidade, por meio da produção de desastres como enchentes, ondas de calor, secas e

ueimadas. A onda de calor que atingiu a Europa Ocidental no verão de 2003 causou cerca de

12.000 óbitos na França. (KOSATSKY, 2005).

As flutuações sazonais produzem efeitos na dinâmica das doenças vetoriais, como

por exemplo, dengue e malária. Os eventos extremos introduzem considerável flutuação

que afetam a dinâmica das doenças de veiculação hídrica, como a leptospirose, as hepatites

virais, as doenças diarréicas etc. Essas doenças podem se agravar com as enchentes ou

secas que afetam a qualidade e o acesso à água. Da mesma forma, as doenças respiratórias

são influenciadas por queimadas e os efeitos de inversões térmicas que concentram a

poluição, impactando diretamente a qualidade do ar, principalmente nas áreas urbanas. É

clara a relação entre alguns efeitos na saúde devido às variações climáticas e os níveis de

poluição atmosférica, tais como os episódios de inversão térmica, aumento dos níveis de

poluição e o aumento de problemas respiratórios, parecem inevitáveis que as mudanças

climáticas de longo prazo possam exercer efeitos a saúde humana em nível global.

Em áreas urbanas quando ocorrem alterações climáticas alguns efeitos da exposição a

poluentes atmosféricos são potencializados. Isto se verifica em relação à asma, alergias,

infecções bronco-pulmonares e infecções das vias aéreas superiores (sinusite),

principalmente nos grupos mais susceptíveis, que incluem as crianças menores de cinco

anos e indivíduos maiores de 65 anos de idade. Os efeitos da poluição atmosférica na saúde

humana têm sido amplamente estudados em todo o mundo. Estudos epidemiológicos

evidenciam um incremento de risco associado às doenças respiratórias e cardiovasculares,

assim como da mortalidade geral e especifica associadas à exposição a poluentes

presentes na atmosfera. (POPE et al., 1995; ANDERSON et ai., 1996; RUMEL et al.,

1993; CIFUENTES et al., 2001).

Segundo a OMS, 50% das doenças respiratórias crônicas e 60% das doenças

respiratórias agudas estão associadas à exposição a poluentes atmosféricos. A maioria dos

estudos relacionando os níveis de poluição do ar com efeitos a saúde foram

Page 113: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

116 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

desenvolvidos em áreas metropolitanas, incluindo as grandes capitais da Região

Sudeste no Brasil, e mostram associação da carga de morbi-mortalidade por doenças

respiratórias, com incremento de poluentes atmosféricos, especialmente de material

particulado. (SALDIVA et al., 1994; GOUVEIA et al., 2006).

As emissões gasosas e de material particulado para a atmosfera derivam

principalmente de veículos, indústrias e da queima de biomassa. No Brasil, as fontes

estacionárias e grandes frotas de veículos concentram-se nas áreas metropolitanas

localizadas principalmente na Região Sudeste, enquanto a queima de biomassa ocorre

em maior extensão e intensidade na Amazónia Legal, situada ao norte do país. Se os

ventos predominantes dirigirem-se para áreas densamente povoadas, um número

maior de pessoas estará sujeito aos efeitos dos contaminantes. Esse e o caso do Sudeste

Asiático, onde queimadas provocam nevoa de poluentes de extensão regional com

impactos a saúde de centenas de milhões de pessoas. (RIBEIRO; ASSUNÇAO,

2002).

Alguns estudos evidenciam que a associação entre altas temperaturas e elevadas

concentrações de poluentes atmosféricos pode gerar um incremento das

hospitalizações, atendimentos de emergência, consumo de medicamentos e taxas de

mortalidade. (EPA, 2007). A interação entre poluição e clima também deve ser

considerada como fator de risco para as doenças do coração, seja como consequência

de stress oxidativo, infecções respiratórias ou alterações hemodinâmicas. O aumento

da temperatura também esta associado ao incremento de partículas alergênicas pro-

duzidas pelas plantas, aumentando o numero de casos de pessoas com respostas

alérgicas e asmáticas (ZAMORANO et al., 2003; UNITED STATES, 2007).

O contexto de mudanças climáticas e ambientais globais, em que as incertezas

sobre a natureza de seu impacto na escala dos ecossistemas locais se somam as

complexidades das novas realidades de um Brasil urbano, sugerem novas questões no

enfrentamento dos problemas no contexto da saúde pública.

3 BIOCOMBUSTÍVEIS

Segundo Dyonisio e Meirelles (2006), a descoberta de novas fontes de energia

sempre foi de interesse humano, pois permitiu que o trabalho pesado, que era

Page 114: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 117

inicialmente realizado à custa da energia muscular humana ou animal, fosse

substituído por energia proveniente da combustão (calor e trabalho). Tudo se iniciou

nos tempo do homem primitivo, na descoberta do fogo quando se pode sentir a liberação

de energia através da combustão.

Dyonisio e Meirelles (2006) relatam que combustível usado como principal fonte

de energia foi sendo substituído ao longo do tempo: inicialmente era a madeira, depois

carvão vegetal e mineral até chegar aos derivados do petróleo. Atualmente, há uma

grande preocupação na busca, utilização eficiente e no aprimoramento de processos

de obtenção de fontes energéticas alternativas como nuclear, eólica, solar, entre

outras em substituição aos combustíveis fósseis.

O fornecimento de energia para uma demanda mundial crescente impõe desafios

"às políticas energéticas nacionais e internacionais". (SILVA JÚNIOR; PEREZ, 2008

apud Miranda e Carmen 2009). Isso ficou muito claro na década de 1970, quando

duas crises planetárias do petróleo assustaram as economias e fizeram o preço desse

combustível fóssil disparar. A partir daí, o mundo passou a conviver com incertezas

quanto à utilização dessa categoria de fonte energética. É também na mesma década

de 1970 que as preocupações ambientais começam a vir à tona, em especial após o

Encontro de Nações em Estocolmo em 1972. A busca incessante por fontes alternativas

de energia perdura até a atualidade. Nessa ótica se desenvolvem as chamadas

"energias limpas" que se utilizam da biomassa para a geração de combustíveis e

energia.

Apesar de já se produzir biocombustíveis há. séculos, foi apenas após o Protocolo de

Quioto (1998) que o interesse mundial pelos biocombustíveis foi alavancado em

função da necessidade de se reduzir a emissão de gases poluentes que contribuem para

o aquecimento global (gases do efeito estufa).

Os biocombustíveis são provenientes de fontes que podem ser repostas em

quantidade e velocidade proporcional a sua utilização, sem o risco de se esgotar.

Soma-se a isto o fato de serem biodegradáveis, diminuindo o impacto ambiental

decorrente de sua utilização, do seu descarte ou em relação às possíveis acidentes

como os derramamentos e também não contribuem para o aumento do acúmulo de

CO2, mesmo quando adicionados aos combustíveis fósseis.

Page 115: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

118 BIOENERGA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Porém, é'necessário que se esclareça que também não existem apenas vantagens na

utilização dos biocombustíveis. É necessário disciplina e cautela no seu uso. Dyonisio

e Meirelles (2006) mencionam algumas das preocupações e desvantagens associadas à

produção de biocombustíveis:

- Produção da matéria-prima para a produção de grandes quantidades de

biocombustíveis pode levar ao esgotamento do solo, à destruição da fauna e flora

regional, aumento do risco de erradicação de espécies animais e vegetais, possível

aparecimento de novos parasitas e invasão das áreas de florestas tropicais pelas

lavouras;

- A energia necessária para a irrigação, aplicação de adubos e utilização de

máquinas agrícolas, transporte e armazenamento não é levada em conta no balanço

de emissão de CO2;

No que diz respeito aos biocombustíveis, pode-se dizer que eles não são

obrigatoriamente substitutos dos combustíveis fósseis, mas aditivos que minimizam

os problemas ambientais e melhoram a qualidade do combustível.

CONCLUSÕES

A sociedade atual se encontra frente-a um grande desafio no que diz respeito ao

setor da saúde. As mudanças climáticas representam uma série de exposições a

diversos fatores de risco, a causa mais distai dessas exposições e a alteração do estado

ambiental devido à acumulação de gases do efeito estufa. Deve-se ressaltar que o

modelo de desenvolvimento e a própria produção de energia causam mudanças

climáticas, mas também problemas de saúde pela poluição do ar, que resulta em mais

de 800 mil óbitos por ano; acidentes de trânsito, que causam 1,2 milhões de óbitos por

ano e a redução da atividade fisica, que resulta em 1,9 milhões de óbitos por ano

(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007).

Segundo Confaloniere (2005), o mundo vem passando por mudanças que não

estão limitadas apenas a aspectos climáticos. Paralelo aos processos de mudanças

climáticas vem se acelerando a globalização (aumentando a conectividade de pessoas,

mercadorias e informação), as mudanças ambientais (alterando ecossistemas,

reduzindo a biodiversidade e acumulando no ambiente substâncias tóxicas) e a

precarização de sistemas de governo (reduzindo investimentos em saúde, aumentando

Page 116: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 119

a dependência de mercados e aumentando as desigualdades sociais).

Os riscos associados ás mudanças climáticas globais não podem ser avaliados em

separado desse contexto. As transformações sociais e tecnológicas ocorridas no mundo

nas ultimas décadas permitem antever que os comprometimentos da saúde adquiriram, ao

longo dessas décadas, outras características, além dos fatores biológicos intrínsecos.

A possibilidade de prevenir, diagnosticar e tratar algumas pessoas e excluir outras

desses sistemas aprofundou as diferenças regionais e sociais de vulnerabilidades e

transformou as desigualdades sociais num importante diferencial de riscos

ambientais.

Cabe ao setor saúde, e a toda a sociedade, não só prevenir esses riscos fornecendo

respostas precisas para os impactos causados pelas mudanças ambientais e climáticas,

mas atuar efetivamente na redução de suas vulnerabilidades sociais, por meio de

mudanças radicais no comportamento individual, social e político, por um mundo

sustentável, mais saudável e justo com as gerações futuras.

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Page 120: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 123

CAPÍTULO 9

BIODIESEL: UMA ANÁLISE SOBRE OS PRINCIPAIS

PAÍSES PRODUTORES

Zenaide de Oliveira Ferraz Silva

Viviane Gaivão

RESUMO

Atualmente, o biodiesel tem sido bastante utilizado e apresenta potencial como

biocombustível em decorrência da sua grande contribuição ao meio ambiente. O biodiesel

é promissor, pois reduz de maneira quantitativa e qualitativa a poluição ambiental. Além

disso, ele representa uma fonte estratégica de energia limpa e renovável, podendo até

vir a substituir o óleo diesel e outros combustíveis deriVados do petróleo. Neste

sentido, este trabalho teve como objetivo, fazer uma análise histórica sobre o

biodiesel, enfatizando os cinco maiores países produtores deste biocombustível no ano

de 2010. Nesse ano, os maiores países produtores de biodiesel foram Alemanha,

Brasil, França, Argentina e Estados Unidos, respectivamente.

PALAVRAS-CHAVE: Biocombustivel, Bio diesel; Matérias-primas.

Page 121: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

124 BIOENERG1A: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II INTRODUÇÃO

A demanda mundial por energia vem crescendo devido ao avanço econômico de

vários países emergentes. Contudo, a previsível redução mundial das reservas de

petróleo, a poluição ambiental e as alterações climáticas do planeta provocadas pelo

efeito estufa, estão mudando o panorama mundial no aspecto que se refere ao uso de

energia. A utilização de energias não-renováveis configura-se como uma matriz

energética não sustentável a longo prazo. Além disso, uma maior tomada de

consciência ecológica, está fazendo com que pesquisadores busquem fontes de

energia renováveis para a produção de combustível. Um tipo de combustível

renovável e viável são os biocombustíveis (DABDOUD et al., 2009).

Os biocombustíveis são co-mbustíveis renováveis produzidos a partir de

matérias-primas biológicas. Eles são uma fonte de energia ecológica, uma vez que

os danos causados ao meio ambiente são reduzidos em relação aos combustíveis

derivados do petróleo. Atualmente, um dos principais biocombustíveis utilizados no

mundo é o biodiesel. O biodiesel pode ser definido como um biocombustível

derivado de biomassa renovável para uso em motores à combustão interna ou para

geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente

combustíveis de origem fóssil (SUAZEZ. e MENEGHETTI, 2007).

O biodiesel é produzido através da reação de transesterificação de óleos vegetais

(soja, dendê, mamona, girassol, canola, pinhão-manso, amendoim> dentre outros) com

um álcool (metanol ou etanol), na presença de um catalisador ácido ou básico. Desta

reação derivam um éster (biodiesel) e diversos subprodutos, dentre eles a glicerina, a

lecitina e outros (SILVA e FREITAS, 2008). Uma das características do biodiesel é o

expressivo percentual de oxigênio em sua composição, aproximadamente 11%. Esse

fato representa menor poder energético, porém colabora para a redução das

concentrações de gases poluentes emitidos OZ et al., 2004).

A ampliação da produção de biodiesel levou ao crescimento a produção de óleos

vegetais, uma vez que estes são utilizados como matéria-prima na produção

Page 122: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 125

daquela substância. Atualmente, grande parte do biodiesel produzido é derivada do

óleo de soja. Contudo, várias oleaginosas vêm sendo estudadas e utilizadas como

possíveis fontes substitutivas de óleos vegetais na produção deste biocombustível. O

elevado preço dos óleos vegetais tem deixado o biodiesel não-competitivo quando

comparado ao diesel de petróleo. Assim, é imprescindível a criação de programas e

incentivos governamentais que contribuam para minorar o custo operacional envolvido

na produção do biodiesel e, consequentemente, torná-lo mais competitivo

economicamente (MASIERO E LOPES, 2008).

As misturas binárias de óleo diesel de petróleo e biodiesel são representadas através

da sigla BX, em que o X designa a porcentagem de biodiesel na mistura. Por exemplo,

B2 é uma mistura binária cuja porcentagem de biodiesel é igual a 2%, B5 possui 5% de

biodiesel e assim até B 100, que representa o biodiesel puro, sem nenhum tipo de

mistura (FERRARI et al., 2005).

A produção mundial de biodiesel está crescendo com o passar dos anos. A figura

1 apresenta os cinco principais países produtores de biodiesel (MME, 2011) e a

capacidade instalada dos Estados Unidos (EIA, 2013), Brasil (ANP, 2010), Alemanha

(EBB, 2013), França (EBB, 2013) e Argentina (CADER, 2011), em 2010. Com base

nesses países, observa-se que a produção de biodisel concentra-se no continente

europeu e americano.

Alemanha Brasil Argentina França Estados Unidos

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Pro

du

ca

o (

x 1

06 m

3)

(a)

Page 123: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

126 BIOENERG1A: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Figura 1. a) Cinco maiores países produtores de biodiesel em 2010. b)

Capacidade instalada nesses cinco países em 2010.

A Alemanha foi o maior país produtor de biodiesel, produzindo em torno de

46% da sua capacidade total. Em segundo lugar vem o Brasil, que produziu

aproximadamente 41% da sua capacidade. A Argentina e a França ocupam o

terceiro e quarto lugar em produção respectivamente e, em ambos, a indústria

produziu cerca de 75% da sua capacidade. Os Estados Unidos, apesar de

possuirem a maior capacidade instalada, estão na quinta posição em produção,

uma vez que só produzem 13,5% da sua capacidade. Desta forma, este trabalho

teve como objetivo fazer uma análise histórica sobre o biodiesel, enfatizando os

cinco maiores países produtores deste biocombustível no ano de 2010.

1 BIODIESEL NA ALEMANHA

Os países europeus, em particular a Alemanha, investiram em pes¬quisas na

área de tecnologia de combustíveis renováveis e matrizes ener-géticas menos

poluentes. A partir destes estudos, a Alemanha instituiu a utilização de biodiesel

obtido de canola misturado ao óleo diesel. Esta mistura é muito empregada nesse

país (GSI, 2012). Na Alemanha, os agricultores plantam a canola com a finalidade

de fornecer nitrogênio de forma natural aos solos que já estão esgotados desta

substância, importante nutriente encontrado no solo. A principal matéria-prima

Estados Unidos Brasil Alemanha França Argentina

0

2

4

6

8

(b)

Ca

pa

cid

ad

e (

x 1

03 m

3)

Page 124: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 127

empregada na produção de biodiesel na Alemanha é, portanto, a canola (LIMA,

2004).

A Alemanha tem cerca de 82 milhões de habitantes, os quais consomem

aproximadamente 27 milhões de toneladas de diesel. Este fato fez com que houvesse

investimentos em um programa de fabricação de biodiesel. Em 2010, a Alemanha foi

o maior produtor (MME, 2011) e, também, o maior consumidor mundial de

biodiesel (GSI, 2012). Nesse país, o biodiesel já vem sendo amplamente utilizado em

ônibus, caminhões, tratores, geradores de energia e motores de indústria. O esforço

e o incentivo na Alemanha para chegar a um nível cientifico e tecnológico elevado para

a produção de biodiesel, está correlacionado principalmente á falta de petróleo no

país e ao apoio do governo no incentivo a novas tecnologias baseadas em fontes

renováveis (PINTO et. al., 2005).

A Alemanha possui uma estratégia interessante para comercializar o biodiesel. O

combustível fornecido ao posto já vem misturado com o óleo diesel e os postos

nesse país possuem dois bicos em uma mesma bomba. Um bico possui o selo verde

para o biodiesel e o outro para o óleo diesel de petróleo. Outra estratégia adotada

pelos alemães é a prática de um menor preço para o biodiesel, explicada pela isenção

completa dos tributos envolvidos em toda sua cadeia produtiva (LIMA, 2004).

2 BIODIESEL NO BRASIL

O Brasil vem despontando em pesquisas científicas não apenas como um dos

maiores produtores, mas também como grande consumidor de biodiesel. A partir da

década de 1970, o governo brasileiro iniciou medidas com o objetivo de reduzir o uso

do petróleo, implantando diversos programas de pesquisa com a finalidade de estudar a

utilização dos biocombustíveis. Dentre os biocombustiveis, o biodiesel mereceu

destaque (KOHLHEPP, 2010).

Em 1980, o Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para Fins

Energéticos (Pró-óleo) foi criado por meio da Resolução Número 7, do Conselho

Nacional da Energia. Tendo como um dos objetivos promover a substituição de óleo

diesel por óleo vegetal em mistura de até 30% (SUAZEZ e MENEGHETTI, 2007).

Page 125: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

128 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Em 1980, também surgiu o Programa de Óleos Vegetais (OVEG), que tinha por

finalidade testar a utilização de biodiesel puro e misturas somente em veículos

automotores (RAMOS e cols., 2011). Em 2002, foi criado pelo governo Federal o

Programa Brasileiro de Biocombustíveis (Probiodiesel). O objetivo deste programa

era incentivar o uso de combustíveis renováveis, reduzindo assim a emissão de

gases poluentes (SUAZEZ e MENEGHETTI, 2007).

Em 2004, o Probiodiesel sofre reformulações e se transforma no Programa

Nacional de Produção e Uso do Bio diesel (PNPB). O PNPB foi fundamental para o

estabelecimento da composição atual no processo de fabricação e comércio do biodiesel,

desde o cultivo da matéria-prima à exportação do produto. Esse programa incentiva a

participação dos pequenos e médios agricultores familiares na produção de

oleaginosas dando, assim, um enfoque social, econômico e regional ao programa.

Além disso, ele também estimula pequenas e médias empresas agroindustriais a

produzirem biodiesel, oferecendo subsídios, isenções fiscais e redução de imposto

sobre o biodiesel produzido por eles (KOHLHEPP, 2010).

De acordo com a Lei n° 11.097, de 13 de janeiro de 2005, no seu artigo 2°,

tornou-se obrigatória a adição de um percentual de 2% de biodiesel ao óleo diesel no

Brasil. Em 2013, o percentual obrigatório passou a ser de 5% (RAMOS e cols.,

2011). A qualidade do biodiesel disponível para comercialização é garantida pela

emissão do Certificado de Qualidade que deve acompanhar o produto. Esse

certificado é de responsabilidade do produtor, adquirente e importador. Para tanto, o

produto deve atender às especificações contidas no Regulamento Técnico da ANP n°

4/ 2012 (ANP, 2012).

A concessão e o gerenciamento do Selo Combustível Social é a identificação

concedida pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) ao produtor de

biodiesel que cumpre os critérios estabelecidos pelo PNPB e participa do Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) (MDA, 2013). Este

programa se caracteriza por implementar a produção e o uso de biodiesel de forma

sustentável, tanto técnica como economicamente, buscar o desenvolvimento regional e

a inclusão social, garantir preços competitivos e qualidade no fornecimento de

biodiesel para mistura no diesel, em todo o território nacional (PINTO et. al., 2005).

Page 126: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 129

No Brasil, a produção de biodiesel foi ajustada à cultura de cada região. No

norte, as oleaginosas mais utilizadas são dendê, babaçu e soja. No nordeste são

mamona, dendê, babaçu, soja e algodão. No centro-oeste são babaçu, soja, mamona,

palma e algodão. No Sudeste são soja, mamona, algodão e girassol. No Sul são a soja

e o girassol. No Brasil, a soja ocupa um lugar de destaque entre as plantas

oleaginosas para a produção de biodiesel (HOLANDA, 2004).

3 BIODIESEL NA ARGENTINA

A Argentina é outro país da América Latina que se destaca na produção de

biodiesel. Em 2010, foi um dos líderes do mercado mundial na produção de biodiesel,

com a produção de 1,8 milhões de toneladas. Esse país tem o biodiesel como um dos

principais vetores para o desenvolvimento econômico do país. A Argentina passou a

incentivar e investir no aumento da produção desse biocombustível, por intermédio do

Decreto 1.396, de novembro de 2001. A partir desse decreto, foi implementado o "Plano

de Competitividade do Combustível Biodiesel", cujo objetivo principal foi incentivar

os investimentos (externos e internos) na produção do biocombustível. O modelo de

produção do biodiesel adotado pela Argentina tem como principal matéria-prima a

soja. A produção desse grão aumentou consideravelmente nos últimos anos nesse

país, propiciando o crescimento da produção de biodiesel (CREA, 2011).

O diesel e a gasolina são obrigados a conter um percentual de biocombustíveis de

5% em sua composição desde o ano de 2010. Essa resolução foi prevista pela Lei de

Biocombustíveis da Argentina, número 26.093, de abril de 2006 e implementada em

fevereiro de 2007 sob o amparo do Decreto 109/2007. As especificações acerca da

qualidade do biodiesel foram formalizadas a partir da Resolução 6/2010 e a fixação do

preço do biodiesel foi criada com a Resolução 7/2010, em fevereiro de 2010

(SORDA et al., 2010).

A Argentina leva vantagem natural na produção de biodiesel, por ter abundância nos

seus recursos primários e também uma produtividade agríçola extraordinária. Esse

fato torna a Argentina o quarto país produtor mundial de biocombustíveis, só

Page 127: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

130 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

ficando atrás da Alemanha, Brasil e França. A Argentina vende o excedente de

biodiesel para outros países como Peru, Espanha, Itália e Holanda (CREA, 2011).

4 BIODIESEL NA FRANÇA

A França encontra-se atualmente numa posição de destaque com relação à

produção de biodiesel na União Europeia. Nesse país, o biodiesel é conhecido como

diéster e suas principais matérias-primas são a canola e o girassol (BAJPAI e TYAGI,

2006). Na França, o biodiesel é utilizado somente misturada ao óleo diesel derivado do

petróleo, ou seja, ainda não é utilizado em sua forma pura. O biodiesel é fornecido aos

postos já misturado com o óleo diesel, cujos percentuais de mistura variam de acordo

com o setor que irá utilizá-lo. O transporte urbano francês, realizado por ônibus, utiliza

o biodiesel em uma porcentagem que varia de 5% a 30%. Em refinarias de petróleo

são acrescentados 5% de biodiesel ao óleo diesel normal (MELLO, 2007).

Uma associação de entidades francesas, denominada " Partenaires Diest-d'

("Parceiros do Biodiesel"), composta por produtores e consumidores, foi criada com

o objetivo de difundir e analisar os efeitos causados pela mistura de biodiesel e

diesel de petróleo nos centros urbanos, em especial nos transportes coletivos. Uma

das maiores indústrias de produção de Biodiesel está localizada na Europa,

especificamente em GrandCouronne, na França. Essa indústria foi construída em

1995, com um custo total de 18 milhões de Euros. Ela pertence à Diester Industrie e sua

produção está em torno de 250.000 toneladas por ano (PAHL, 2005).

5 BIODIESEL NOS ESTADOS UNIDOS

Os norte-americanos estão motivando sua população a consumir o biodiesel, pois

eles estão preocupados com a qualidade do meio ambiente, principalmente nos

grandes centros (LIMA, 2004). O programa de biodiesel norte-americano foi criado

pela Lei do Senado S-517, de 25/ 04/2002, cuja meta de produção foi programada em

torno de 20 bilhões de litros ao ano. O marco regulatório do biodiesel nos Estados

Unidos foi determinado e fixado pela ASTM D-6751 (TEIXEIRA e TAOUI, 2010)

Page 128: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 131

e pela politica de produção, sendo sua utilização estabelecida e regulamenta pela

National Biodiesel Board (NBB), fundada em 1994 (LOBO e FERREIRA, 2009). A

principal matéria-prima usada pelos Estados Unidos na produção do biodiesel é a soja.

Contudo, o óleo reciclado também vem ganhando um espaço considerável na

produção deste biocombustível (EIA, 2013).

Os Estados Unidos possuem diversos incentivos à produção de biodiesel, como o

Commodity Credit Corporation Bioenergy Prograrn. Este programa visa dar subsídio à

obtenção de matérias-primas para fabricação de biodiesel e determina um nível mínimo

de consumo de biocombustível por órgãos públicos e frotas comerciais. Em 1990, o

Clean Air Act aprovou o biodiesel produzido nos Estados Unidos e a Agência

Ambiental Americana (PEA) autorizou a venda e a distribuição desse produto. De

acordo com este ato, o biodiesel é o único combustível alternativo aprovado nesse

país; já os óleos vegetais puros não podem ser utilizados como óleo combustível

(BENEDETTI, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo como levantamento realizado, os problemas com os combustíveis

derivados do petróleo estão aumentando em todo o mundo, especialmente no que diz

respeito às questões ambientais. Isto está ocorrendo devido à escassez das reservas de

petróleo conhecidas. Por outro lado, o consumo de energia continua crescendo e a forma

mais viável para atender a esta demanda é a utilização de combustíveis renováveis,

ou seja, biocombustível. O biodiesel, por ser um biocombustível, merece destaque,

pois pode substituir o óleo diesel, caracterizando-se também por ser biodegradável,

não tóxico e não inflamável. A presente pesquisa possibilitou a constatação que, em

escala industrial, o biodiesel tem sido produzido com a utilização de inúmeras

matérias-primas. sendo as principais a canola, a soja, o girassol e o óleo vegetal

reciclado.

Em diversos países existem normas e leis que regulamentam a qualidade do

biodiesel, além de medidas de isenção fiscal cujo objetivo é incentivar a produção

desse biocombustível. Essas medidas estimulam o consumo e a participação dos

pequenos e médios agricultores na produ ção de oleaginosas. O aumento e o

Page 129: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

132 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

aperfeiçoamento dos programas de incentivo à produção e o consumo de biodiesel é

essencial e sua importância se deve ao fato do alto custo para a sua produção.

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Page 132: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 135

CAPÍTULO 10

INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA — O ELO QUE FAL-

TA PARA A CONSOLIDAÇÃO DO AMBIENTE DE

NEGÓCIO DAS BIOMASSAS -

O CASO DO BIODIESEL E DO ETANOL

José Emanuel Rebouças Ferreira Roberto

Antonio Fortuna Carneiro

RESUMO

O propósito deste artigo esteve em analisar o contexto em que está inserido o negócio

das energias renováveis com o foco na infraestrutura logística. O artigo trabalha a

literatura especializada sobre a área de Logística, definindo suposições sobre possíveis

determinantes do atraso no processo de implantação desta infraestrutura logística

para suportar o negócio das biomassas e fatores relacionados ao ambiente sócio-

político que interferem no ambiente de negócio. O objetivo explícito de tudo isso é

instrumentalizar as áreas envolvidas de informações que conduzam a pensar em

estratégias que resultem em infraestrutura logística que minimize os custos no uso

dessa energia e consolidação do ambiente de negócio das biomassas.

PALAVRAS-CHAVE: Infraestrutura Logística, Energias Renováveis, Biomassas.

Page 133: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

136 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

INTRODUÇÃO

O sistema logístico disponível, hoje, na economia brasileira, está caracterizado por

ser deficiente e exige ações que possam minimizar os gargalos enfrentados pelo setor

produtivo brasileiro. São desafios que precisam ser enfrentados pelos grupos

empresariais e suas lideranças no âmbito do setor público, pois os problemas da

infraestrutura logística do país ocorrem, principalmente, pela ausência de políticas

mais claras e eficientes e de programa de investimentos para a melhoria de portos,

rodovias, ferrovias, aeroportos, entre outros.

A Bahia, apesar da sua posição de destaque na economia brasileira, e de liderança

na Região Nordeste, enfrenta problemas que se acumularam ao longo dos anos e que

vêm restringindo o processo de desenvolvimento do estado. Neste panorama,

entender os gargalos que envolvem o ambiente econômico ligado à distribuição e

consumo de combustíveis é fator preponderante para que sejam encontradas respostas

que minimizem os efeitos negativos sobre os preços e a economia de um modo

geral.

Entender essa equação é fundamental, dado a oferta cada vez maior de novas

matrizes de energia. Nesse sentido, é importante determinar a relação existente entre a

estrutura logística atual e o futuro desejado; o uso das novas tecnologias aplicadas a

esse ambiente, além de outros desafios que exigem investimentos para o

desenvolvimento de soluções e inovações e o surgimento de uma nova logística.

1. CONTEXTUALIZAÇÃO

O termo "logística" não tem um único significado, de forma que se pode

encontrar uma referência da palavra para representar várias áreas tais como:

transportes, distribuição, distribuição física, suprimento e distribuição, administração de

materiais e operações logísticas. No entanto, a definição mais aceita é dada por

Bailou (1993, P. 24 - 27):

"logística trata de todas as atividades de movimentação e

armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de

aquisição da matéria- prima até o ponto de consumo final, assim

como dos fluxos de informação que colocam os produtos em

Page 134: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 137

movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço ade-

quados aos clientes a um custo razoável".

A logística começa nas fontes de suprimento, passando pelas operações da

empresa até chegar ao cliente. Outro autor que pode ser citado, Ching (2001, P. 27)

afirma que:

Numa óptica de fluxos, as atividades logísticas, em seu conjunto,

percorrem toda a cadeia de abastecimento origem-destino. Daqui

resulta que, se por um lado, é evidente que existem realidades

empresariais diversas, destacadamente as do produtor, do distribuidor

e do prestador de serviços, por outro, fica clara a necessidade de

uma visão global, isto é, de toda a cadeia de abastecimento. O

tratamento das atividades logísticas, nas empresas, pode ser

classificado em várias fases de acordo com o grau de inter-relação

existente entre diversos agentes da cadeia. [...]

Por sua vez, a Associação Brasileira de Logística, a melhor definição para este

termo é:

processo de planejamento, implementação e controle do fluxo e

armazenagem eficiente e de baixo custo de matérias-primas, estoque

em processo, produto acabado e informações relacionadas, desde o

ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender

os requisitos do negócio.

A logística apresenta uma combinação no fluxo de puxar e empurrar os produtos na

cadeia de suprimentos ao mesmo tempo. Uma cadeia de suprimento, como proposto

por Porier e Quinn (2006), demonstra o caminho do processo de integração até a

conectividade total. Classifica as ações em níveis de importância e, inicialmente,

trabalhando a limitação interna, indo até o envolvimento efetivo dos parceiros

externos, descrevendo um salto evolutivo na gestão da cadeia, promovendo a verdadeira

conectividade entre parceiros e cadeia.

Torna-se essencial pensar em uma estrutura diferenciada, englobando conceitos

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138 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

de logística e estratégia de negócios. A integração das atividades de negócio e logística

tem agregado valores ás interações da cadeia produtiva e tem se transformado na nova

fronteira competitiva das organizações. A introdução dessas exigências implica

reconhecer que a logística visa aumentar a competitividade nos mercados. Implica,

também, que para satisfazer o ambiente de negócio é necessário ter uma compreensão

profunda de suas necessidades e possuir estruturas eficientes, que permitam o uso

comercial desses novos produtos.

Para isso, os mercados deverão traduzir essas necessidades em requisitos,

certificando a entrada destes novos produtos, transformando conceitos em ambiente de

negócio. Logo, vê-se a logística como capaz de criar valor ao negócio. Assim, a logística

tem como finalidade fornecer a sociedade os níveis de serviços desejados. A meta de

nível de serviço logístico é providenciar bens de serviços corretos, no lugar certo, no

tempo exato e na condição desejada ao menor custo possível (BALLOU, 1993, p.

38). Isto é, conseguido através da administração adequada das atividades-chaves da

logística: transporte, manutenção de estoques, processamento de pedidos e de várias

atividades de apoio adicionais. Este trabalho traz uma reflexão da dificuldade que esse

tema tão complexo representa quando se busca outras opções para a consolidação de

uma matriz alternativa de combustível e os desafios que a logística tem para atender a

necessidade de comercialização desses novos produtos.

2. A CADEIA PRODUTIVA: FERRAMENTA POTENCIALIZAI)ORA

DA LOGÍSTICA NA CONSTRUÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA DE

NEGÓCIOS

Para que aconteça, de forma eficiente, o fluxo de informações, movimentação e

armazenagem na produtividade das organizações, uma ferramenta imprescindível para

os gestores é compreender como é formada e como está estruturada a cadeia produtiva

do segmento ao qual está inserida.

Batalha (1997) apresenta uma discussão acerca da cadeia de produção voltada

para o setor agroindustrial. Referencia as dificuldades encontradas pelos economistas

franceses para encontrar um conceito adequado para cadeia de produção. O tema

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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 139

possui várias definições, mas uma forma sintetizada para analisá-lo é considerar três

elementos que se interrelacionam na cadeia de produção: i) é uma sucessão de

operações de transformação dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas entre si por

um encadeamento técnico; ii) um conjunto de relações comerciais e financeiras que

estabelecem entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca, situado de

montante a jusante, entre fornecedores e clientes; iii) é um conjunto de ações

econõmicas que presidem a valoração dos meios de produção e asseguram a articulação

das operações. Demonstra que os três macros segmentos são: comercialização,

industrialização e produção de matérias-primas.

Pires (2004) diverge, quando afirma que não existe um padrão para o termo cadeia

de produção, mas que este, geralmente, refere-se ao conjunto de atividades que

representam genericamente determinado setor industrial. Vem sempre acompanhado

de um "complemento" que designa um determinado setor industrial.

Cabe ressaltar ainda que os custos para uma matéria prima em escala primária pode

ser de mensuração mais fácil, ao passo que a mesma possua uma logística construída

para atender seu processo produtivo, tratando-se de energias renováveis. Aqui se

encontra o maior desafio posto ás empresas e Governos para transformar essa nova

fronteira em riqueza e novos negócios. Exige um tratamento diferenciado conforme o

posicionamento do mercado e das forças ali existentes. Ou seja, é preciso estar atento

para que, ao pensar na produção com fluxo de materiais, tenha segurança de

abastecimento contínuo. "A importância da boa administração de materiais pode ser

bem mais apreciada quando os bens necessários não estão disponíveis no instante

correto para atender as necessidades de produção ou operação" (BALLOU, 1993, p.

61).

Sobre a visão do futuro da logística, Bailou (1995) apresenta a necessidade de uma

reelaboração das atuais politicas de preservação do meio ambiente tendo em vista o

crescimento da industrialização e população. Alerta para uma preocupação maior com

a ecologia e revela que a logística deve não só ser capaz de reconhecer o desafio de

preservação dessé meio ambiente, mas também ser capaz de compreender e de poder

utilizá-lo. Resultam em grandes desafios para os empresários e os governos.

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140 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

É necessária a existência de uma espécie de diálogo entre a empresa e o governo,

basicamente, focando na forma como a logística pode interagir entre as áreas privada e

pública, interação que, muitas vezes, é a base para a resolução de problemas e para a

tomada de decisão.

Reconhecendo a fase atual da logística, no âmbito do processo de produção e novas

exigências ambientais, este artigo aborda um tema hospedado na necessidade de

apresentar alternativas que impliquem na construção de uma de cadeia produtiva

eficiente na visão do processo produtivo, especificamente na operacionalização e o

uso comercial dos produtos derivados de fontes renováveis.

3 . D E SA FIO S D A IN FR A E ST R UTU R A LO G ÍST IC A

DECORRENTE DOS NOVOS ARRANJOS NA GEOPOLinCA MUNDIAL.

Sabe-se que vem ocorrendo um incremento na demanda das organizações em se

adaptar mais velozmente às mudanças no mercado e na economia global. A demanda

ou pressões feitas às organizações para melhorar a performance advém de

(MACINTOSH, 1998), assim apresentado:

i. incremento na competitividade a nível de mercado;

ii. incremento na taxa de inovação;

iii. incremento no foco de criação de valor para o consumidor;

iv. redução no tamanho da força da mão de obra critica para a criação de conhecimento;

v. cada vez menos disponibilidade para uma organização realizar pesquisas e

adquirir conhecimento;

vi. incremento na mobilidade força de trabalho e aposentadoria mais cedo;

vii. incremento tecnológico dos processos produtivos;

viii. frequentes mudanças no direcionamento estratégico das corporações; e cada vez

maior o incremento de volume de dados e informações.

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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 141

Resulta de uma combinação de vários fatores, a saber: a) individuais (resistência às

inovações tecnológicas, sobrecarga de inovação e falta de treinamento); b)

organizacionais (sistema de informação inadequado ou insuficiente, ausência de

participação dos usuários finais nas decisões e falta de momtoramento quanto à

adaptação dos mesmos). Diversas outras explicações podem ser destacadas para

justificar este novo comportamento: a competição internacional decorrente dos novos

arranjos na geopolitica mundial, o caso do crescimento dos blocos econômicos, o surgi-

mento de novas potencias econômicas, descoberta de novas fontes energética, uso de

fontes renováveis de energia, maior produtividade advindo do uso das novas

tecnologias, dentre outras.

O Brasil, desde a década de 70, trabalha em pesquisas desenvolvendo combustíveis

renováveis, como é o caso do Etanol e o HBIO, entre outros, que, para o uso em

escala comercial, exigem uma logística moderna, flexível, capaz de reagir e

acompanhar a dinâmica dos mercados. Por muitas razões, nos estudos históricos que

descreve a evolução do crescimento econômico do Brasil, a década de 80 é vista como

a que menos repercutiu positivamente: inflação, abertura de mercado, mudança de

Governo Militar e infinitos pacotes ortodoxos, refletem até hoje no desenvolvimento

econômico e na renda per capita do brasileiro.

Foi a partir da década de 90 que o Brasil passou a intensificar seus investimentos

em pesquisas, desenvolvendo projetos destinados a minimizar sua dependência de

petróleo. Isso levou a retomada dos estudos para a construção de uma matriz que

usasse o combustível renovável. Esta ação, seguida por muitos países, acelerou o

desenvolvimento das tecnologias, criando e mudando o rumo deste combustível, hoje

sendo tratado como de 2a geração. É um processo de reaproveitamento da cana, palha,

sebo bovino, torta da soja e muitos outros subprodutos que tornam viáveis na sua

industrialização, produzindo, em escala, um óleo totalmente extraído e processado

em meio de uso do solo, sem comprometer as áreas de cultura para fins humanos.

Seja como for, o Brasil se apresenta em uma posição privilegiada, capaz de

produzir e abastecer o mercado mundial carente de combustível. O Brasil é, hoje,

um dos principais produtores da matéria prima para a produção do Biodiesel e um

dos maiores produtores no mundo. O país ocupa o 2° lugar na produção e no uso do

Biodiesel, atrás apenas da Alemanha, todavia, existem estudos que afirmam que já

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142 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

neste ano de 2013 o Brasil passará a ser o 1° lugar em produção deste combustível.

Fazer a integração logística para circular esse produto é o desafio. A Bahia se apresenta

como um estado com proporções territoriais iguais a um país e, também, precisa

vencer essa barreira.

De acordo com Wanke (2010), existe de um lado um forte movimento de

modernização nas empresas, que demanda serviços logísticos cada vez mais

eficientes, confiáveis e sofisticados, a fim de se manterem competitivos num mundo que

se globalizou, e onde a logística é cada vez mais determinante para o sucesso empresarial;

de outro lado, um conjunto de problemas estruturais, que distorcem nossa matriz de

transportes e contribuem para o comprometimento do desenvolvimento econômico e

social do estado: ausência de infraestrutura; mão de obra sem formação especifica;

serviços logísticos especializados. Fatores que emperram o crescimento e não atraem

novos investidores. Por conseguinte, a exigência de crescer e reagir ás ameaças ao

ambiente de negócio tem levado as organizações a investirem em sua cadeia produtiva

com vista a uma maior competitividade.

Enfim, para a comercialização dessa riqueza, mirando os combustíveis de

energias renováveis, é necessário compreender os contornos do seu manuseio e suas

origens e como essa inteligência pode contribuir para a diminuição do custo repassado

ao consumidor. Acrescentar que o envolvimento da agricultura familiar gera uma

grande dificuldade adicional na produção do combustível renovável e, nessa

compreensão, Dornier, Ernst, Fender, Kouvelis (2000), afirmam que um importante

elemento da arquitetura da distribuição fisica é o papel desempenhado pelos

provedores de transportes e operadores logísticos. Um quadro de profissionais

logísticos de área, com responsabilidade e capacidade produtiva comprovada, também

contribuem na geração e distribuição da riqueza advinda do controle eficiente de

distribuição.

Dentro desta premissa, a logística funciona como um facilitador para as

mudanças necessárias nos ambientes produtivos, oferecendo a perspectiva central das

decisões, estimulando a convergência de esforços e a focalização da atenção nos

fatores-chave para o sucesso. Premissa defendida por Christopher (1997) é haver

entendimento na rede de negócio, que conecta os fornecedores e os fornecedores

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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 143

deles, bem como seus clientes e os clientes deles. Compreender essa sequência

contribui na construção do planejamento estratégico adequado dentro da cadeia de

suprimento, promovendo aos gestores do segmento de logística amplo conhecimento

do comportamento mercadológico, questões legais específicas, processo tecnológico e

fluxo de informações.

Passa pela construção de uma logística eficiente que atenda a necessidade de

mobilidade e de projetos que apontem nessa direção. Não existe produção sem

transporte, não existe ganho com um gargalo tão grande. Para Wanke (2010), o

sistema de transportes brasileiro encontra-se numa encruzilhada. De um lado, um

forte movimento de modernização nas empresas, que demanda serviços logísticos

cada vez mais eficientes, confiáveis e sofisticados, a fim de se manterem competitivos

num mundo que se globalizou, e onde a logística é cada vez mais determinante para o

sucesso empresarial; de outro lado, um conjunto de problemas estruturais, que

distorcem nossa matriz de transportes e contribuem para o comprometimento do

desenvolvimento econômico e social do Estado.

4. A UTILIZAÇÃO DA LOGÍSTICA COMO ESTRATÉGIA E USO DA TIC

COM INSTRUMENTO DE ALAVANCAGEM DE SOLUÇÕES.

Segundo Porter (1986), a essência de uma estratégia é relacionar uma companhia a

seu meio ambiente, sendo que tal relacionamento é o que determina a intensidade da

concorrência enfrentada pela indústria. Fleury (2000) afirma que para ser competitiva

a empresa precisa ter flexibilidade em seus processos. Assegura que no mundo incerto

e dinâmico dos dias atuais, a velocidade de resposta é um fator determinante para a

construção de vantagem competitiva.

A globalização tem dado novo contorno ao processo competitivo das instituições.

Quando é tratado sobre a comercialização de combustíveis de energias renováveis, é

necessário entender os contornos do seu manuseio e suas origens. Esse entendimento

pode contribuir para a diminuição do custo elevado para o consumidor e buscar

maneiras para aumentar seu uso, atenuando o custo de produção a patamares que se

aproximem de valores comerciais. O conceito de valor agregado ao posicionamento

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144 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

do produto, quando é preciso saber a quantidade certa, no lugar certo, no momento

certo, ganhou nova dimensão, colocando em destaque a importância dos processos

logísticos e do como fazer para dar certo.

Márquez (2004, p. 38-63), afirma que existe potencial de melhoria na integração

dos processos ao se utilizar a TIC, (Tecnologia da Informação) para obter uma cadeia

de suprimento mais colaborativa. Zacharia e Mentzer (2004) trabalham o conceito

de competição baseado no tempo em que a troca contínua de informações reduz

incertezas da cadeia de suprimentos. Capacidade de resposta rápida é importante no

desenvolvimento e lançamento de produtos, no atendimento de pedidos, na

produção por encomenda, na recuperação de falhas e na adaptação às mudanças no

mercado. Ou seja, capacidade de resposta rápida representa flexibilidade, um

atributo fundamental no mundo volátil em que vivemos.

O uso de tecnologias, nos sistemas de controle logístico, tem crescido

rapidamente nas empresas, pois a competitividade tornou-se uma questão de

sobrevivência e Hill (1993), as classifica em dois grupos distintos: o primeiro, os

critérios de qualificação (order-qualifying cri-teria), que representam os valores

mínimos de desempenho necessários para qualificação em determinado mercado,

séries ISO, exemplo Comunidade Europeia. O segundo são os grupos, critérios

ganhadores de pedido (order-winning criteria), o que garante uma vantagem

competitiva no mercado.

De acordo com Ching (2001), a logística numa empresa é um assunto vital,

exercendo uma função de estudar as formas de como a administração pode obter cada

vez mais eficácia/ eficiência em seus serviços de distribuição aos seus clientes e

consumidores. Este autor acrescenta que é preciso estar sempre pensando em inovar e se

adequar às novas necessidades dos mercados, pois, de acordo com Christopher (1997),

a procura de uma vantagem competitiva sustentável e defensável tem se tornado a

preocupação de toda empresa que está alerta para as realidades do mercado. Não se

pode mais pressupor que os produtos bons sempre vendem, nem é aceitável

imaginar que o sucesso de hoje continuará no futuro. O uso da TI é um instrumento

de inovação e de valor estratégico incalculável.

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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 145

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão básica que se busca explicar advém do exposto na contextualização. Foi

colocado que vários fatores concorrem para o sucessO de uma logística eficiente e

que respondam, de forma positiva, as necessida des sócio-econômica que o ambiente

de negócio vive com o advento da globalização.

Entender as mudanças da indústria que se relaciona com a logística de

distribuição requer sinergia entre os mercados, a indústria e os governos. No

desenvolvimento das estratégias que podem influenciar na construção de uma

infraestrutura, os papéis precisam ser definidos. Percebe-se que nem sempre os

limites estão claros e, muitas vezes, os objetivos não foram compreendidos. As áreas

envolvidas precisam perceber seus limites para identificar as interfaces, fatores

preponderantes para se criar estratégias complementares, que se somem e levem ao

desenvolvimento de uma logística eficaz no fazer; eficiente na gestão; com

efetividade na oferta de soluções de longo prazo e acima de tudo, integrada as

necessidades do ambiente de negócio de energia renovável.

Se colocar a ênfase na tecnologia, novas competências precisam ser adquiridas para

o aproveitamento de oportunidades que surgem inesperadamente. Sobre esse olhar, no

contexto de rivalidade entre as empresas, as descontinuidades as forçaram a prospectar

as novas tecnologias, implicando que terão de se preocupar com culturas, perspectivas

comerciais e habilidades diversas. Conforme Vergara (2005, p.1) as tecnologias basea-

das nas habilidades de operadores são um aspecto importante na administração de

sistemas de manufatura. Muitas tecnologias são substitutas da habilidade, ao invés de

aperfeiçoadoras. A tecnologia baseada em habilidades humanas é destinada a tornar a

habilidade, o discernimento, a inteligência e a experiência humana mais produtiva e

mais efetiva.

Analisando a agricultura familiar, apesar dos muitos projetos em andamento, não

estão claras as políticas de crescimento e fomento. É preciso investir mais na

formação da mão de obra para garantir a manutenção desse mercado, integrar as

regiões produtoras e fornecer mais incentivos à produção.

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146 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Por fim, ainda que o tema não tenha se esgotado, muito do que se discute no

Brasil está sendo executado por países como a China, e o resultado é de fácil

percepção. Exemplos à parte, se de um lado temos o Governo preocupado em

desenvolver a infraestrutura, falta-lhe iniciativas que resultem em resposta aos

problemas aqui mencionados; do outro, temos a iniciativa privada que se diz mais

capacitada, sem que reaja ou apresente solução para os mesmos problemas

contribuindo para a inércia em que o Brasil, em específico, a Bahia se encontra.

É preciso organizar o ambiente para planejar as ações e administrar a progressão e

exigências do ambiente de negócio, que leve a implantação de uma logística que

atenda as exigências para o uso das energias renováveis: respeitar seus limites e evoluir

nos dispositivos de diferenciação, envolver todos os agentes nesse trabalho e levá-los a

participar da gestão coletiva. O objetivo explícito de tudo isso é instrumentalizar as

áreas envolvidas de informações, que conduzam a pensar em estratégias que resultem

em infraestrutura logística, que minimize os custos no uso dessa energia e consolidação

do ambiente de negócio das biomassas.

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Page 146: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 149

CAPÍTULO 11

ESTUDO DA VIABILIDADE FINANCEIRA DA ADAP-

TAÇÃO DE UMA MICRO DESTILARIA DE ETANOL

COMBUSTÍVEL PARA PROCESSOS DE PRODUÇÃO

A PARTIR DA MANIPUEIRA:

UM ESTUDO DE CASO

Eliane Teixeira de Assunção

leitor Hugo Moreau

Eduardo Augusto Brito Arêas

Nazaré Franco Santana

RESUMO:

A preocupação com a manipueira é muito expressiva, portanto, a implantação de uma

micro destilaria para a produção de etanol a partir dos resíduos da indústria da

mandioca aponta como uma alternativa para transformar o resíduo amiláceo em co-

produto. O aproveitamento da manipueira para obtenção de etanol é uma alternativa

para solucionar o problema do manejo desse resíduo. O presente trabalho, contudo,

tem como objetivo estudar a viabilidade financeira da implementação de uma micro-

destilaria na COOPASUB (Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos Agricultores

do Sudeste da Bahia), com fins de produção de etanol a partir da manipueira. A

pesquisa foi realizada com o presidente da cooperativa. Para a análise da viabilidade

financeira foi utilizado o software SISAF-BIO (Sistema de Análise Financeira para

Biocombustíveis). Verificou-se um resultado favorável no que diz respeito aos indica-

dores financeiros, independente das condições do mercado e ou de custos de

oportunidade em outros investimentos, da mesma natureza.

PALAVRAS- CHAVE: Manipueira. Micro destilaria de etanol. Viabilidade financeira.

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150 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

1. INTRODUÇÃO

A mundialização das economias ocasionou transformações no comportamento geral

das empresas, que precisam revisar seus meios tecnológicos de produção, a qualidade

de seus produtos e se empenhar na procura de novos mercados. A utilização de fontes

alternativas de energia é uma das grandes prioridades, uma vez que contribui

significativamente para contornar os graves problemas ambientais ocasionados pelo

desenvolvimento socioeconômico.

Nesse contexto, Fecularias de mandioca também foram afetadas pelas mudanças

econômicas e enfrentam atualmente mercados muito competitivos que as

responsabilizam a um gerenciamento de produção dinâmico. Desta maneira, o

aproveitamento dos resíduos produzidos como forma de tornar mais eficiente o

processo de produção de fécula, tem conquistado muito interesse dos industriais

(CEREDA e LEONEL, 2000).

Graças à ampla biodiversidade constatada em seu território, o Brasil apodera de

uma enorme diversidade de resíduos agrícolas e agroindustriais, cujo aproveitamento é

de interesse econôMico e social. É essencial estimular a comprovação das vantagens

efetivas e incentivar a adaptação de tecnologias para alcançar ganho energético a

partir de resíduos que podem se transformar em subprodutos.

A redução da poluição e a crise energética (oferta menor que a demanda) tem sido

uma preocupação constante. A economia global encontra-se em crescimento e a

demanda por energia limpa e recursos renováveis também vem crescendo (BILGEN

ET AL., 2006).

Um dos resíduos gerados nas indústrias de mandioca é a manipueira, líquido

resultante da prensagem da raiz da mandioca e representa perigo à população por

conta do ácido cianídrico presente em sua composição (CEREDA, 1994) e do alto

valor de Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) associado ao alto volume produzido

(LAMO E MENEZES, 1979), bem como das altas concentrações de matéria orgânica,

notadamente, carboidratos.

Em Vitória da Conquista, a Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos

Agricultores do Sudeste da Bahia (COOPASUB) recebe produção de mandioca de

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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 151

18 (dezoito) municípios da região sudoeste da Bahia e agrega 2330 (dois mil trezentos

e trinta) cooperados. É a primeira indústria do Brasil a beneficiar mandioca para

fabricação de fécula, aos moldes da economia solidária.

A massa ralada, no processo de obtenção de farinha de mandioca, perde de 20% a

30% de água. A manipueira resultante da prensagem da massa ralada arrasta cerca de

5% a 7% de fécula, 2% a 3% de carboidratos, 1,0% a 1,5% de proteínas e menos de

1% de minerais. O processamento de uma tonelada de raiz produz cerca de 200 a 300

litros de manipueira, que contém 12 a 18 Kg de fécula (polvilho) em suspensão (INSTI-

TUTO AGRONÔMICO, 1989).

Indagado sobre o processo de produção da Cooperativa, e ainda sobre os dados

da COOPASUB Rodrigues (2013) relata, que na cooperativa, o processamento de

uma tonelada de raiz requer entre 970 a 1100 litros d'água para lavagem das raízes, e

gera de 200 a 400 litros de manipueira.

Na COOPASUB, o processo produtivo apresenta capacidade de processamento de 5

(cinco) toneladas de mandioca por hora, sendo 100 (cem) toneladas diariamente, o que

utiliza 20 (vinte) mil litros de água por hora, gerando 12 (doze) mil litros de manipueira

por hora, consequentemente, para 20 (vinte) horas de funcionamento diário do

Complexo Industrial seriam 240 (duzentos e quarenta) mil litros de manipueira por

dia.

Levando-se em conta o processo descrito, a cooperativa apresenta condições

técnicas para produção diária de 1000 (mil) litros de etanol, por meio da

manipueira.

Ante ao exposto, faz-se necessário determinar a viabilidade financeira da

adaptação de uma micro destilaria de etanol, na COOPASUB, para processo de produção

a partir da manipueira, detalhando os fatores financeiros.

Para tanto, foi utilizado o SISAF-BIO (Sistema de Análise Financeira para

Biocombustíveis), desenvolvido pelo Professor Eduardo Augusto Brito Arêas, mestre em

Bioenergia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências. Uma vez que o software foi

desenvolvido para teste de viabilidade financeira de etanol de cana de açúcar, seus

parâmetros foram modificados e adaptados para a análise da produção de etanol por

meio da manipueira.

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152 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

1.1 Objetivo Geral

Realizar consultoria para a Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos

Agricultores do sudoeste da Bahia (COOPASUB) com fins de revelar a viabilidade

financeira da implementação de uma micro destilaria para produção de etanol de

manipueira.

1.2 Objetivos Específicos

Coletar informações sobre o processo de sacarificação;

Alimentar o Sistema de Análise Financeira para Biocombustíveis (SISAF-BIO)

para adaptação ao processo transformação de manipueira em etanol;

Realizar consultoria de viabilidade financeira para a implementação

de uma micro destilaria para a produção de etanol de manipueira.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A analise da viabilidade financeira da implementação de uma micro destilaria de

etanol, a partir da manipueira, neste estudo, será realizada na COOPASUB, que fica

localizada nos povoados Corta-Lote, distritos de Vitória da Conquista - BA.

O estudo descreve o processo de sacarificação da manipueira, baseado em dados

coletados em entrevistas com o presidente da cooperativa e em artigos, os quais

revelam resultados das experiências realizadas em laboratórios. A partir dos

resultados pode-se identificar fatores relevantes para alimentação do software, como

tempo do processo, quantidade e preço das enzimas e outras substâncias químicas

utilizadas e rendimento da reação.

Após coleta dos dados, o SISAF-BIO tem seus parâmetros adaptados ao processo

de produção de etanol por meio da manipueira, e assim analisa gastos, investimentos,

custos, despesas, custos diretos e indiretos, variáveis, lucratividade, rentabilidade,

ponto de equilíbrio, período de retorno --- pay back, valor presente líquido (VPL), Taxa

Interna de Retorno (TIR), margem de lucro operacional, Demonstrativo do Resultado

Page 150: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 153

do Exercício (DRE), análise vertical e Rentabilidade ou Retorno sobre o Investimento

(ROI), para implantação de uma micro destilaria de etanol, a partir da manipueira. A

seguir são expostos o análise dos custos, investimentos, despesas e dos dados processados

pelo SISAF-BIO e as considerações sobre a viabilidade financeira para implementação

da micro destilaria.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A tabela de parâmetros, disposta na tabela 1 serve de base para todas as outras,

tendo em vista que, é a partir desta que os dados primários da configuração do cenário

que se pretende analisar são inseridos para a análise da viabilidade financeira. Outra

função importante é a possibilidade de realizar simulação de cenários por intermédio

das diversas variáveis, como por exemplo: capacidade diária da micro destilaria,

produção (em litros) de manipueira, margem de lucro pretendida, produção de etanol

por volume de manipueira, base para o rateio dos custos fixos, entre outros.

O item custo da matéria-prima, localizado na linha 3 (ver tabela abai xo), é o

único campo que não é inserida informação, esta informação é formada na tabela, e

ainda, no caso desse estudo, a matéria-prima é considerada custo zero, pois costuma ser

descartada, sem nenhum uso comercial.

O programa flexibiliza a exclusão ou alteração de dados cadastrados em qualquer

momento e as consultas aos resultados gerados podem ser observados nas tabelas:

"Rateio Custo Unitário Total"; tabela 12 "Ponto de Equilíbrio" tabela 13; "DRE"

tabela 14; "Análise vertical" tabela 15; e "VPL e TIR" tabela 17. O software oferece

relatórios e impressão de todas as tabelas.

Page 151: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

154 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

PARÂMETROS PARA ANÁLISE FINANCEIRA CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DIÁRIA DA USINA 1.000

CUSTO DA MATÉRIA-PRIMA 0,00

PRODUÇÃO DE ETANOL POR TONELADA DE MAN IPUEIRA 20

RENDIMENTO DA VINHAÇA 20,00%

PREÇO DE VENDA DO ETANOL P/ DISTRIBUIDORA 1,2700

PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO ANUAL 2,00%

TAXA DE OPORTUNIDADE REQUERIDA 10,00%

CRITÉRIO PARA RATEIO DOS CUSTOS FIXOS ETANOL 100,00%

MÃO-DE-OBRA DIRETA E INDIRETA SALÁRIOS QTD

OPERADORES 933,00 3

AUXILIARES 622,00 ENCARREGADO DA PRODUÇÃO 1224,00 1

SECRETÁRIA 622,00 1

Page 152: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 155

Nas tabelas 2, 3, 4 e 5 foram colocados todos os gastos necessários para

implantação de uma micro destilaria, nesse caso, com uma capacidade produção de

1000 (mil) litros por dia de etanol combustível. Os referidos gastos foram divididos

em: fisicos, despesas pré-operacionais e financeiros (capital de giro). Gasto, segundo

Martins e Assaf Neto (1985) é o consumo financeiro com que a organização arca

para a aquisição de um produto ou serviço qualquer.

No que diz respeito a máquinas e equipamentos foram incluídos equipamentos que

podem não ser utilizados para a produção de etanol de rnanipueira, como a esteira

transportadora e a moenda, contudo, considerou-se que, a cooperativa agrega mais de

dois mil cooperados, que produzem diversos produtos agrícolas, dando margem para

produção de etanol de cana- de açúcar, caso a produção de mandioca encontre-se em

período de escassez, ocasionando o não funcionamento da fecularia, criando assim,

outras possibilidades de funcionamento da micro destilaria.

INVESTIMENTO INICIAL

MÁQUINAS/EQUIPA

MENTOS

QTD Valor

Unit.

DEPR. (%)

TOTAL Deprec.

mês

Esteira transportadora 1 4.000,00 10% 4.000,00 400,00

Moenda de 1 Temos 1 x 14" . 2000 kg/h

1 50.000,00 10% 50.000,00 5.000,00

Tanques de diluição 500

litros

1 500,00 20% 500,00 100,00

Moto Bomba Centrífuga Alimentadora de Vinho

1 1.200,00 10% 1.200,00 120,00

Microdestilaria em aço

inox 304 - 421/h

1 100,00 10% 100,00 10,00

Domas de Fermentação de 5000 litros

8 2.000,00 20% 16.000,00 3.200,00

Moto Bomba p/ transferência do Álcool

1 1.200,00 10% 1.200 00 120,00

Torre de Resfriamento

de Água Vazão I0 m3/hora Motor 1/2 cv

1 4.500,00 10 )̀/0 4.500,00 450,00

Reservatório de Álcool 10.000 litros

1 9.000,00 20% 9.000,00 1,800,00

Açude com 235 m3

armazenagem da vinhaça

1 17.000,00 10% 17.000,00 1.700,00

Caldeira de 200kg de

vapor/hora

1 25.000,00 25.000,00 2.500,00

Galpão com 150 m2 a usina

_para

150 550,00 10% 82.500,00 8.250,00

SUBTOTAL 211.000,00 14.820,00

Page 153: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

156 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

SUBTOTAL 211.000,00 14.820,00

MÓVEIS E

UTENSÍLIOS

QT

D

Valor

Unit. DEPR

.(%)

TOTAL Deprec.

mês

ARMÁRIO GRANDE

C/ CHAVE

1 300,00 10% 300,00 30,00

CADEIRA

EXECUTIVA

1 125,00 10% 125,00 12,50

CADEIRA

ERGONÔMICA

4 100,00 10% 400,00 40,00

CADEIRA FIXA

ESTOFADA

2 80,00 10% 80,00 8,00

MESA GRANDE 2 200,00 10% 400,00 40,00

VENTILADOR 1 80,00 10% 80,00 8,00

VENTILADOR DE

TETO

1 100,00 10% 100,00 10,00

ARMORIO DE AÇO 2

PORTAS

1 250,00 10% 250,00 25,00

LIXEIRA 2 30,00 10% 60,00 6,00

COMPUTADORES 2 1.200,00 20% 2.400,00 480,00

IMPRESSORAS 2 240,00 20% 480,00 96,00

SUBTOTAL 4.755,00 763,50

Tabela 3: Tabela de móveis e utensílios. Fonte: Adaptado do SISAF-BlO.

Page 154: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 157

NECESSIDADE DIÁRIA PRODUÇÃO

DIÁRIA

LITROS DE

MANIPUEIRA

LITROS DE

ETANOL LT DE

VINHAÇA

50.000 1.000 10.000.000

NECESSIDADE MENSAL PRODUÇÃO

MENSAL

LITROS DE

MANIPUEIRA

LITROS DE

ETANOL LT DE

VINHAÇA

1.500.000 30.000 30.000.000

NECESSIDADE ANUAL

DE MATÉRIA-PRIMA

18.000.000

MANDIOCA TONELADAS DIA

Necessidade de 21 processamento dia

Tabela 5: Tabela de produção. Fonte:Adaptado do SISAF-B10.

Na tabela 6 foram inseridos os dados a cerca das despesas tributárias, às

comissões de vendas, ao marketing e ao frete. É importante informar que, nessa

tabela, só são informados gastos na forma de percentual. As informações inseridas

nessa tabela são determinantes para encontrar a margem de lucro operacional do

etanol.

DESPESAS GERAIS E TRIBUTÁRIAS

IMPOSTOS

CSLL 0,42%

INSS 3,61%

IRPJ 0,42%

• PIS 0,30%

COFINS 1,23%

ALÍQUOTA (Simples Nacional) 5,98%

OUTROS COMISSÃO DE VENDAS 2,50%

MARKETING 5,00%

FRETE 3% S/ VALOR DA NOTA 3,00%

TOTAL 8,98% Tabela 6: Tabela das despesas gerais e tributárias. Fonte. Adaptado

do SISAF-BIO.

Page 155: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

156 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Nas tabelas 7 e 8 são expostas as informações de quantidades e de valores de

mão-de-obra, direta e indireta. A tabela 9 apresenta os resulta¬dos determinados

nos cálculos desta tabela são enviados para compor os custos fixos totais do

etanol.

SALÁRIO BASE R$ 622,00

MÃO-DE-OBRA DIRETA

PRODUÇÃO / OPERAÇÃO

Qtd MENSAL ANUAL

OPERADORES 3 R$ 2.799,00 R$ 33.588,00

AUXILIAR 6 R$ 3.732,00 R$ 44.784 00

ENCARREGADO DE PRODUÇÃO 1 R$ 1.224,00 R$ 14.688,00

SUBTOTAL R$ 7.755,00 RS 100.815,00

ENCARGOS SOCIAIS 33,77% R$ 2.618 86 R$ 34.045,23

TOTAL RS 10.373,86 R$ 124.486,36

TOTAL DE MÃO-DE-

OBRADIRETA R$ 10.373,86 R$ 124A86,36

Tabela 7: Tabela de mão-de-obra direta. Fonte: Adaptado

do SISAF-810

MÃO-DE-OBRA INDIRETA

MENSAL ANUAL

FUNCIONARIOS INDIRETOS QUANT.

SECRETARIA 1 R$ 622,00 SUBTOTAL R$ 622,00 R$ 7.464,00

ENCARGOS SOCIAIS 33,77% R$ 210,05 R$ 2.730,64

TOTAL RS 832,05 R$ 9.984,59

TOTAL DE MÃO-DE-OBRA

INDIRETA R$ 832,05 R$ 9.984,59

TOTAL GERAL R$ 11.205,91 R$ 134.470,95

Tabela 8: Tabela de mão-de-obra indireta. Fonte: Adaptado do SISAF-BlO

Page 156: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BEOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 159

CUSTOS FIXOS

DESCRIÇÃO MENSAL ANUAL

ENERGIA ELÉTRICA ESCRITÓRIO R$ 400,00 RS 4.800,00

ÁGUA DO ESCRITÓRIO RS 60,00 R$ 720,00

INTERNET/TELEFONE R$ 250,00 RS 3 000,00

MATERIAL DE ESCRITÓRIO RS 120,00 RS 1.440,00

MATERIAL DE LIMPEZA RS 130,00 RS 1.560,00

CONTABILIDADE R$ 600,00 RS 7.200,00

DEPRECIAÇÃO RS 1.298,63 R$ 15.583,50

SEGURANÇA ELETRÔNICA RS 280,00 RS 3.360,00

CONSULTORIA .ENG. SEGURANÇA R$ 360,00 RS 4.320,00

SALARIOS DIRETOS-ENCARGOS RS 10.373,86 R$ 124.486,36

SALÁRIOS INDIRETOS-ENCARGOS RS 832,05 RS 9.984,59

TOTAL R$ 14.704,54 R$ 176.454,45

Tabela 9: Tabe a de custos fixos. Fonte: Adaptado do SISAF-B10.

Nas tabelas 10 e 11, são expostos os gastos que só irão ocorrer com a ativação da

produção, sendo eles: matéria-prima, fontes de energia e insumos. O custo variável

unitário ficou em RS 0,097988. Esta tabela ainda exibe uma análise gráfica da

participação em peréentual de cada item de custos variável, como também determina

o custo variável unitário de um litro de etanol.

MATÉRIA-PRIMA E INSUMOS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO

ETANOL

SACARIFICAÇÃO HOR

trab/

dia

Cons. hora

Cons,

dia

Preço

R$

Total

R$

TOTAL POR

LITRO

TER.MAMIL

1201, - LITRO

12 0,041667 0,500004 13,00 6,50005 0,014690

AMG 300 L - KG 12 0,094167 1,130004 13,00 14,69 TOTAL 0,021190

FERMENTAÇÃO gim' kg

dia

R$ kg Total

R$

TOTAL POR

LITRO

NUTRIENTES 10 13,5 0,14 12,00 1,68 0,001680

LEVEDURAS 10 13,5 0,14 15,00 2,10 0,002100

ENERGIA

ELÉTRICA

12 0,06 0,72 0,56706 0,41 0,000408

TOTAL 0,004188

160 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

Page 157: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

VAPOR/VESTI-

LAÇÃO

HOR

trab/

dia

cons.

Kg

dia

vol.

dia

M3

Preço RS Total

RS

TOTAL POR

LITRO

LENHA 12 980 1,6 35,00 56,00 0,001680

AGUA 12 2320 2,32 1,00 2,10 0,002100

ENERGIA

ELÉTRICA

12 2,1 25,2 0,56706 0,41 0,000408

MATÉRIA-

PRIMA

Preço ton.

R$

rendi-

men-

to

custo

litro TOTAL 0,072610

MANIPUEIRA 0,00 20 O

Tabela 10: Tabela de custos variáveis do processo de produção de etanol. Fonte: Adaptado do SISAF-BIO.

ENZI. TEMAIL 1 6,63%

ENZIMA AMG 300 0,14992%

NUTRIENTES 1,71°/:-.«

LEVEDURAS 2,14%

ENERGIA ELÉTRICA 0,42%

LENHA 57,15%

ÁGUA 2,37%

ENERGIA ELETRICA 14,58%

MANIPUEIRA 100,00%

Page 158: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 161

A tabela 12 mostra o custo fixo unitário do etanol que foi extraído da divisão do

custo fixo total pela quantidade de produção mensal, ou seja, R$ 14.704,54 / 30.000

lt = 0,49015.

Como também mostra, através de um pequeno demonstrativo extraído do preço

de venda, as margens de lucro operacional de cada um dos produtos. Oliveira (1995

apud Elck, 2010, p. 28) define custo como "um dispêndio necessário a obtenção de um

produto. Ou seja, é todo aquele gasto para se fabricar um produto e, sem o qual, o

processo de produção não se completaria".

Memória de cálculo da tabela 12:

Para encontrar a margem de lucro operacional do etanol foi dividido o Lucro

Operacional unitário pelo preço, de acordo com os dados da tabela 12 será

calculado da seguinte forma: 0,5678/1,2700 = 0,44708 x 100 = 44,71%.

Rateio dos custos e despesas fixos

CUSTOS

DESPESAS

/FIXOS

14.704,54

PRODUTOS PROPOR-

ÇÃO

PROD.

PROD.

MENSAL

CVU BASE P/

RATEIO

RATEIO CF CF

UNITÁRIO

ETANOL 100% 30.000 R$0,10 100,00% R$ 14.704,54 0,49015

TOTAL 100% 300000 R$0,10 100,00% R$ 14.704,54 0,49015

PRODUTOS CUSTO UNITÁRIO TOTAL ETANOL 0,58814

MARGEM DE LUCRO OPERACIONAL

ETANOL DRE

PREÇO 1,2700

(.)CUT 0,5881

(-) 1 BRUTO 0,6819

(.) DESPESAS 0,1140

(-) L OPERACIONAIS 0,5678

MARGEM OPERACIONAL 44,71%

Tabela 12: Tabela de rateio dos Custos e despesas fixas.

Fonte: Adaptado do SISAF-BIO.

Page 159: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

162 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

É demonstrada na tabela 13 a quantidade mínima que a empresa necessita

vender de cada produto para cobrir todos os seus custos e todas as suas despesas.

Para Ribeiro (2009) o ponto de equilibrio é uma quantidade mínima que a

organização precisa produzir ou vender para que consiga pelo menos pagar os seus

custos e despesas totais. Portanto, a empresa deve-se manter acima do ponto de

equilíbrio, ou seja, vender acima de 10502 litros de etanol. Para calculo do ponto

de equilíbrio, utilizou-se o valor total do custo Fixo Total, dividido pelo preço de venda

menos o custo variável unitário mais o valor das despesas unitárias, conforme

memória de calculo abaixo:

PE=CFT /PV-(CVU+DESP UNIT)

Logo o PE=R$14750,54/1,27-(0,10+0,11)=10502

Na tabela 14 encontra-se o Demonstrativo de Resultados e Exercício (DRE), o

DRE é uma comprovação contábil que apresenta o fluxo de receitas e despesas, que

deriva do aumento ou redução do Patrimônio Líquido entre duas datas (HOJI, 2007).

Ainda de acordo com o referido autor "ela deve ser apresentada de forma dedutiva,

isto é, inicia-se com a receita operacional bruta e dela deduz-se custos e

Page 160: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UNI DIÁLOGO RENOVÁVEL II 163

despesas, para apurar o lucro liquido" (p. 259). Apresenta também as projeções das

receitas baseada nas vendas de toda a produção da empresa que, deduzidos os custos

e as despesas operacionais, encontra-se o lucro líquido mensal, anual e a margem

liquida. Essa tabela mostra, também, o Grau de Alavancagem Operacional (GAO),

mostrando, com isso, qual o impacto que uma variação nas vendas causaria no lucro

operacional. Vale ressaltar que, na tabela 14, foi excluído o valor de R$1.298,00,

referente à depreciação, dos custos fixos totais, para que os resultados representem

o fluxo de caixa liquido nos cálculos do VPL e da TIR.

O grau de alavancagem operacional é um indicador de risco empresarial e está

diretamente ligado aos custos fixos. Portanto, o índice de 1,62 mostrado na tabela 14,

significa que qualquer variação percentual na atividade da empresa, implica

diretamente na multiplicação da variação pelo grau de alavancagem operacional. Na

simulação exposta na tabela 14, com a variação na atividade em 2,5%, o impacto no

lucro operacional, seria de 4,4%. Esse resultado pode também ser utilizado como

análise de sensibilidade, representando mais um indicador para compor as demais

variáveis na análise de viabilidade financeira.

PREVISÃO DE RECEITA MÊS ANO

ETANOL R$ 38.100,00 457.200,00

RECEITA TOTAL R$ 38.100,00 R$ 457.200,00

(-) CPV

C. VARIÁVEL ETANOL R$ 2.939,65 35.275,79

CUSTOS FIXOS TOTAIS R$ 13.405,91 160 870,95

CUSTOS TOTAIS RS 16.345,56 196.146,74

(=) LUCRO BRUTO R$ 21.754,44 R$ 261.053,26

(-) DESPESAS RS 3.421,38 R$ 41.056,56

(=) LUCRO OPERACIONAL R$ 18.333,06 RS 219.996,70

LAIR R$ 18.333,06 R$ 219.996,70

IR 0% R$- R$ -

LUCRO LÍQUIDO R$ 18.333,06 R$ 219.996,70

MARGEM LÍQUIDA 48,12% 48,12%

Tabela 14: Tabela de Demonstrativo de Resultado e Exercício (DRE).

Fonte: Adaptado do SISAF-BIO.

Page 161: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

164 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

As informações da tabela 15 são exclusivamente utilizadas para análise vertical, e

auxiliam na observação da estrutura do ativo e do passivo, bem como a participação de

cada item no Demonstrativo de Resultado na obtenção do lucro ou prejuízo (HOJI,

2007). Na tabela 15, é mostrada em forma de gráfico a participação percentual de

cada produto na formação da receita de venda, a relação percentual da participação

dos custos fixos e variáveis na produção e a proporção dos custos sobre a receita.

Page 162: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 165

São mostrados na tabela 16, por intermédio de análise sofisticada, três

indicadores de viabilidade do projeto. 1 - O Valor Presente Líquido (VPL), que

segundo Leite (1994, p. 341) designa-se por VPL "a diferença entre o valor

presente das entradas e o valor presente das saídas, assumindo-se determinada

taxa de desconto para ambas as avaliações. Segundo Gitman (2011, p. 302) "O

Valor Presente Líquido (VPL) é encontrado ao subtrair o investimento inicial

de um projeto do valor presente se seus fluxos de entrada de caixa, descontados a

uma taxa igual à do custo de capital da empresa". 2 - O Retorno Sobre o

Investimento (ROI), que é derivado do inglês Return on Investiment (ROI) é uma

das ferramentas usadas pelos gestores de organizações e analistas para calcular

os rendimentos obtidos por um projeto com o valor total investido, isso

permite uma comparação entre as aplicações de capital, o que contribui no

processo de gestão dos administradores (ELCK, 2010). Para Hoji (2007) o

ROI relaciona as aplicações de capital efetuado com o lucro anual gerado por

essas aplicações. 3- E o período de retorno do investimento - Pay back, nas

palavras de Gitman (2001) pay back é o espaço de tempo essencial para

recuperar o capital investido. Em outras palavras significa dizer que é o

intervalo de tempo básico para a empresa obter lucros dos investimentos, ou

seja, recuperar o capital investido para liquidar o capital empregado.

Para o cálculo do VPL foi utilizado como fluxo de caixa livre o lucro operacional

anual contido na tabela 16 e a taxa mínima requerida, inserida na Linha 13 da tabela

1.

Memória de cálculo da tabela 16 para o cálculo da TIR foi feito com base nos

valores da tabela 12: 321485,00 + (219996,70 / (1+58,78%)) + 224.396,63 /

(1+58,78)2) + (228.8846 / 58,78)

3) + (223.462,26 / (1+58,78)).

Page 163: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

166 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo principal a análise da viabilidade financeira

da adaptação cie uma micro destilaria de etanol combustível para processos de

produção a partir da manipueira. A utilizaço do software SISAF-BIO, nas condições

apresentadas no estudo de caso, na Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos

Agricultores do Sudoeste da Bahia (COOPASUB), no município de Vitória da

Conquista, Bahia, apontou para a viabilidade financeira da produção em pequena e

de

Page 164: Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2

BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 167

escala de bioetanol combustível, ficando os resultados restritos ao caso estudado.

Trata-se de um resultado favorável no que diz respeito aos indicadores financeiros,

independente das condições do mercado e/ou de custos de oportunidade em outros

investimentos da mesma natureza. Entretanto é importante salientar que os

indicadores positivos dos resultados sofreram influência do aproveitamento da

manipueira, considerada a custo zero, o que representou a redução do impacto do

custo da matéria prima na participação do custo variável unitário, com a participação

deste custo em apenas 17,98% do custo total, conforme descrito na tabela 15. Portan-

to, como conceitualmente o custo variável unitário tende a ser fixo, na

operacionalização do negócio o custo fixo com 83, 02% possibilita a redução da

incidência deste custo na sua forma unitária por aumento da escala de produção ou por

exclusão de alguns itens de custos e despesas fixas.

Feita a previsão de investimentos em R$ 321.425,00, partiu-se para a avaliação dos

resultados financeiros do projeto. Os resultados encontrados no Demonstrativo do

Resulta do Exercício (DRE) apontam para um lucro operacional de 48%, contudo é

importante frisar que o resultado da receita total foi proveniente do preço do etanol

praticado no período da pesquisa.

O projeto apresentou também um ponto de equilíbrio de 10.501 litros de etanol,

demonstrando que a empresa necessitará de um esforço mercadológico de 35% da

produção total, como demonstrado na tabela 13

Outro ponto importante da análise é o Valor Presente Líquido - VPL, onde foi

dimensionado um fluxo de caixa livre de R$ 219.996,00 e projetado um crescimento

de 2% ao ano, em 4 (quatro) anos, o que gerou um VPL positivo de R$ 395.385,98,

como também a Taxa Interna de Retorno (TIR) que foi calculada utilizando uma Taxa

Mínima de Atratividade (TMA) de 10% e proporcionou uma TIR de 58,79%.

Com relação ao Retorno Sobre o Investimento (ROI) o projeto identificou uma

rentabilidade de 68,43%. Já o Período de Retorno do Investimento Payback foi de

aproximadamente um ano e cinco meses, o que representa um tempo aceitável para o

investimento proposto.

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Todos os indicadores acima demonstram dessa forma um excelente nível de

atratividade para o processo decisório de aceitabilidade do projeto. A utilização do

etanol produzido pode ainda reduzir os custos totais, operacionais, relativos ao

transporte da mandioca dos 18 municípios vizinhos, produtores e fornecedores da

matéria-prima para a Coopasub.

Como proposta para futuros estudos indica-se a verificação da possibilidade de

utilização do resíduo da produção, proveniente do processo de sacarificação do

amido presente na manipueira, para a produção'de biogás, a ser utilizado também pela

cooperativa, nos processos de funcionamento da fecularia.

REFERÊNCIAS

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