Download - Bioenergia um Diálogo Renovável Volume 2
B I O E N E R G I A : U M D I Á L O G O R E N O V Á V E L I I
Copyrigth 2013,
Rodolfo Belo Exler, Lorene Paixão Sampaio e Luis Polybio Brasil Teixeira
Todos os direitos autorais desse trabalho são de propriedade dos
autores. Qualquer parte dessa publicação pode ser reproduzida, desde
que citada a fonte. O conteúdo de cada capitulo é de inteira responsa-
bilidade de seus autores.
B I O E N E R G I A : U M D I Á L O G O R E N O V Á V E L I I
Copyrigth 2013,
Rodolfo Bello Exler, Lorene Paixão Sampaio e Luis Polybio Brasil Teixeira
Todos os direitos autorais desse trabalho são de propriedade dos
autores. Qualquer parte dessa publicação pode ser reproduzida, desde
que citada a fonte. O conteúdo de cada capitulo é de inteira responsa-
bilidade de seus autores.
CAPA:
Nayara Cecília Afonso
R E V I S Ã O :
Autores
E D I T O R A Ç Ã O , I M P R E S S Ã O E A C A B A M E N T O :
Editora e Grafica Vento Leste
S i s t e m a de Bibliotecas da UFBA
Bioenergia: um diálogo renovável. Rodolfo Belo Exler, Lorene Paixão Sampaio e
Luis Polybio Brasil Teixeira (organizadores). - Salvador: Vento Leste, 2013. Vol
II. 169 p.
ISBN 978-85-8140-043-3
1. Tecnologia 2. Bioenergia 3. Biodiesel 4. Etanol 5. Biogás
I. Título II. Organizadores
CDU - 628.4
"Não há transição que não implique um ponto de partida, um
processo e um ponto de chegada. Todo amanhã se cria num
ontem, através de um hoje. De modo que o nosso facturo baseia-se no passado e se cotporifica no presente. Temos de saber o que
fomos e o que somos, para sabermos o que seremos."
(PAULO FREIRE)
P R E F Á C I O . . .
Além de extremamente atual no cenário global, o tema Bioenergia
é antes de tudo multi, inter e transdisciplinar. Não temos como
enxergar esse assunto apenas pela visão de uma área do conhecimento
ou de uma profissão. A importância do tema se dá principalmente pelo
fato da não sustentabilidade das fontes atuais de combustíveis, tendo
como principal exemplo o petróleo, e os efeitos deletérios ao meio
ambiente como um todo.
Quando estudamos uma fonte de energia renovável, inócua ao meio
ambiente e eficiente como biocombustivel, devemos pensar nela em
diversos ângulos: O trabalhador rural e a população circunvizinha,
analisando possíveis problemas ligados à saúde ocupacional até
poluentes jogados no ar; Aspectos econômico-financeiros desde a
lavoura até a produção de um biocombustível; Desenvolvimento de
novos fármacos a partir de plantas produtoras de bio-óleo; Estudos
Legais de Bioprocessos e Bioprodutos em Bioenergia;
Desenvolvimento de processos e produtos para produção de
biodiesel.
Desde a criação do Mestrado Profissional Interdisciplinar em
Bioenergia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) em 2007,
temos desenvolvido projetos nas diferentes áreas do conhecimento,
sempre voltados para o tema central da Bioenergia.
Estou a quase dois anos como professor e pesquisador nesse pro-
grama, e há pouco tempo fui convidado a assumir a coordenação do
Mestrado, portanto tenho acompanhado boa parte do
desenvolvimento dos trabalhos que estarão nesse segundo volume
do livro Bioenergia: um diálogo renovável. Estou muito orgulhoso
pela iniciativa da publicação do livro e muito feliz pelo convite para
escrever esse prefácio.
Além de divulgação dos trabalhos desenvolvidos no Mestrado em
Bioenergia, esse livro é uma excelente maneira de divulgar ainda mais o
mote Bioenergia.
Sucesso! Aproveitem a leitura.
Dr. Januário G. Mourão e Lima
Coordenador do Mestrado Profissional em Bioenergia da FTC Salvador
Outubro de 2013
SOBRE OS AUTORES
Alberto Freire Nascimento
Doutor em Cultura e Sociedade.
Docente do quadro permanente do Mestrado Profissional em Tecnolo-
gias aplicáveis a Bioenergia da Rede FTC
E-mail: [email protected]
Amaro Emiliano Trindade Silva
Microbiologista, Mestre e Doutor em Ciências Biológicas pela UFRJ.
Docente do quadro permanente do Mestrado Profissional em Tecnolo-
gias aplicáveis a Bioenergia da Rede FTC
E-mail: [email protected]
Andréa Monteiro de Amorim
Doutora em Saúde Pública. Docente do quadro permanente do
Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioenergia
E-mail: [email protected]
Astria Dias Ferrão-Gonzales Farmacêutica. Pós-Doutorado em Ciências Biológicas. Coordenadora e
docente titular do Mestrado Profissional em Tecnologias Aplicáveis á
Bioenergia — Faculdade de Tecnologia e Ciências FTC.
E-mail: [email protected]
Claudia Tremam: Rocha Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioe-
nergia, Especialista em Gestão da Segurança de Alimentos, Nutricio-
nista, Engenheira Química. Coordenadora do Curso de Nutrição da
Faculdade Mauricio de Nassau. Docente na Faculdade de Tecnologia e
Ciências (FTC).
E-mail: [email protected]
Eduardo Augusto Brito Arêas
Mestre em Bioenergia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências
(FTC), Pós-graduado em Controladoria e Graduado em Administração
com Habilitação em Gestão de N egócios. Atualmente é Coordenador
de Recursos Humanos da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquis-
ta, assessor técnico da comissão especial de avaliação de desempenho,
professor titular da Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC) e profes-
sor titular da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR).
E-mail: [email protected]
Eliane Teixeira de Assunção Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a
Bioenergia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Especialis-
ta em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, Graduada em Adminis-
tração. Gerente de Projetos de Recursos Humanos da Prefeitura
Municipal de Vitória da Conquista, docente da Faculdade de Tecnolo-
gia e Ciências (FTC), Faculdade Juvêncio Terra Mauricio de Nassau.
E-mail: [email protected]
Elizabete Clara Silveira
Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a
Bioenergia e Enfermeira.Docente da Faculdade de Tecnologia e Ciência
E-mail: [email protected]
Evangileno Nunes Leal
Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioener-
gia, MBA Executivo em saúde, Especialista em Fisioterapia Ortopédica
e Traumatológica e Bacharel em Fisioterapia. Docente da Faculdade
Metropolitana de Camaçari e do Centro Universitário da Bahia (FIB).
E-mail: [email protected]
Fábio Rodrigues Teixeira
Mestre em Bioenergia, Especialista em Administração da Qualidade,
Bacharel em Administração de Empresas.
Analista Administrativo da Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis.
E-mail: [email protected]
Grace Caroline Nery Jacobina Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bine-
nergia, Especialista em Metodologia do Ensino Superior e Estudos
Avançados de Fisioterapia, Graduada em Fisioterapia.
Docente da Faculdade Metropolitana de Camaçari (FAMEC).
E-mail: [email protected]
Isadora Lucena de Andrade Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias Aplicáveis a.
Bioenergia da Rede FTC, Especialista em Gestão e Planejamento
Escolar e Gestão em Instituições de Ensino Superior,
Graduação em Pedagogia. Docente do quadro permanente do Colegia-
do de Enfermagem da FTC - Jequié
E-mail:[email protected]
José Emanuel Rebouças Ferreira
Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioe-
nergia, Especialista em Especialista em Engenharia de Produção
Internacionais e Bacharel em Relações Internacionais.
Docente da FTC, Faculdade Estácio, FACSAL e dos cursos Técnicos
do SENAI CIMATEC.
E - mail: [email protected]
Luis Manuel Garcia Reyes Doutor em Geofisica, Mestre em Física Aplicada,
Engenheiro Nuclear. Especialista em Regulação da Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
E-mail: [email protected]
Luis Oscar Silva Martins
Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias Aplicáveis a Bioenergia, Especialista em Administração e Bacharel em Economia..
Professor titular das disciplinas Economia e Teoria das Organizações,
na Faculdade de Santa Cruz da Bahia.
E-mail: [email protected]
Luis _Polybio Brasil Teixeira
Mestre em Bioenergia, Especialista em Administração Moderna e
Bacharel em Administração de Empresas.
Especialista em Regulação da Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis.
E-mail: [email protected]
Milena Nascimento Sales
Mestre em Bioenergia, Especialista em Direito Tributário e
Bacharel em Direito. Especialista em Regulação da Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
E-mail: [email protected]
Nazaré Franco Santana
Graduanda em Administração. Atua como bolsista do Programa
Institucional de Iniciação Científica (PIBIC/ CNPq).
E-mail: [email protected] / [email protected]
Roberto Antônio Fortuna Carneiro
Mestre em Administração e Bacharel em Geografia. Docente do
quadro permanente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicá-
veis a Bioenergia da Rede FTC e Diretor de Planejamento Económico
da Secretaria do Planejamento da Bahia.
E-mail: [email protected]
Ricardo de Oliveira Mota
Engenheiro Químico, Especialista em Sistemas de Gestão da Qualidade
— Saúde e Meio Ambiente, Mestrando em Bioenergia pela Faculdade de
Tecnologia e Ciências de Salvador. Professor da Faculdade de Tecnolo-
gia e Ciências de Feira de Santana
E-mail: [email protected]
Rodolfo Bello Exler
Mestre em Tecnologias aplicáveis a Bioenergia, MBA em Gestão
Empresarial, Especialista em Educação a Distância e Bacharel em Ciências
Estatísticas.
Docente da Universidade de Uberaba, Faculdade de Tecnologia
SENAI CIMATEC e Centro Universitário Jorge Amado.
E-mail: [email protected]
Rodrigo de Oliveira Coelho
Especialista em Saúde pública e Bacharel em
Administração de Empresas.
E-mail: [email protected]
Thiago Bruce
Microbiologista. Doutor em Genética. Docente do quadro permanente
do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioenergia da
Rede FTC.
E-mail: [email protected]
Vítor Hugo Moreau
Pós-doutorado pelo Instituto Militar de Engenharia, Mestre e
Doutor em Química Biológica e Graduado em Farmácia. Atualmente é
professor Adjunto da Universidade Federal da Bahia (UFBA) - membro
do corpo permanente dos PPG em Biotecnologia da UFBA e da Rede
Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO) - e Professor Titular da
Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC, Salvador) - Mestrado
Profissional em Bioenergia. Dr. Moreau é, ainda, Editor Chefe da
revista Diálogos & Ciência e, como pesquisador, atua nas áreas de
desenvolvimento de biocatalisadores para a produção de Biodiesel e em
aproveitamento de biomassa de oleaginosas de interesse para a agroin-
dústria.
E-mail: [email protected]
Viviane Gaivão
Docente do quadro permanente do Mestrado Profissional em Tecnolo-
gias Aplicáveis a Bioenergia da Rede FTC, Doutora em Biotecnologia,
Mestre em Física, Bacharel e Licenciada em Física
E-mail: [email protected]
Zenaide de Oliveira Ferraz Silva Discente do Mestrado Profissional em Tecnologias aplicáveis a Bioe-
nergia, Especialista em Mídias na Educação e Licenciada em Física.
Docente da Faculdade de Tecnologia e Ciências e Coordenadora de
curso EAD na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. E-
E-mail: [email protected]
S U M Á R I O
CAPÍTULO 1
RESTRIÇÕES REGULATÓRIAS AO DESENVOLVIMENTO 17
DA INDÚSTRIA DE BIOETANOL COMBUSTÍVEL NO
BRASIL: UM ENFOQUE AMBIENTAL
Luis Polybio Brasil Teixeira, Fábio Rodrigues Teixeira, Luis Manuel
Garcia Reyes e Mllena Nascimento Sales
CAPÍTULO 2
AGRICULTURA FAMILIAR NA CADEIA PRODUTIVA DO 32
BIODIESEL NA BAHIA: UMA TENTATIVA DE
INCLUSÃO SOCIAL Elizabete Clara Silveira e Alberto Freire Nascimento
CAPÍTULO 3
ASPECTOS ECONÔMICOS DOS ACIDENTES 44
OCUPACIONAIS E DOENÇAS DO TRABALHO EM
TRABALHADORESNO CAMPO DABIOENERGIA (2009 —2010)
Luís Oscar Silva Martins, Andréa Monteiro Amorico e Rodrigo de
Oliveira Coelho
CAPÍTULO 4
SOCIEDADE E BIOENERGIA: SAÚDE EM FOCO 57
Grace Caroline Jacobina
CAPÍTULO 5
HISTÓRICO E PERSPECTIVAS SOBRE O ETANOL: 70
O PANORAMA BRASILEIRO
Claudia Treumann, Rodolfo Bello Exler, Thiago Bruce e Astria Dias
Ferrão-Gonzales
CAPÍTULO 6
BIOCOMBUSTÍVEL : IMPORTÂNCIA ECONÔMICA, 85
INCLUSÃO SOCIAL E REDUÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS Isadora Lucena Andrade e Viviane Galvão
CAPÍTULO 7
BIORREMEDIAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS 96
COM BIODIESEL E SEUS BLENDS COM DIESEL:
UMA REVISÃO Ricardo de Oliveira Mota e Amaro Emiliano Trindade Silva
CAPÍTULO 8
BIOENERGIA, ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS 111
E AMBIENTAIS: SEUS EFEITOS NA SAÚDE,
CENÁRIOS E CAIsdINHOS
Evangileno Nunes Leal e Grace Caroline _Nery Jacobina
CAPÍTULO 9
BIODIESEL: UMA ANÁLISE SOBRE OS PRINCIPAIS 123
PAÍSES PRODUTORES
Zenaide de Oliveira Ferraz Silva e Viviane Galvão
CAPÍTULO 10
INFRA.ESTRUTURA LOGÍSTICA — O ELO QUE FALTA 135
PARA A CONSOLIDAÇÃO DO AMBIENTE DE
NEGÓCIO DAS BIOMASSAS — O CASO DO
BIODIESEL E DO ETANOL
José Emanuel Rebouças Ferreira e Roberto Antonio Fortuna Carneiro
CAPÍTULO 11
ESTUDO DA VIABILIDADE FINANCEIRADAADAPTAÇÃO 149
DE UMA MICRO DESTILARIA DE ETANOL COMBUSTÍVEL PARA
PROCESSOS DE PRODUÇÃO A PARTIR DA MANIPUEIRA: UM
ESTUDO DE CASO
Eliane Teixeira de Assunção, Vítor Hugo Moreau, Eduardo Augusto Brito Arêas e
Nazaré .Franco Santana
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
17
CAPÍTULO 1
RESTRIÇÕES REGULATÓRIAS AO
DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DE
BIOETANOL COMBUSTÍVEL NO BRASIL:
UM ENFOQUE AMBIENTAL
Luis Polybio Brasil Teixeira
Fábio Rodrigues Teixeira
Luis Manuel Garcia Reyes
Milena Nascimento Sales
RESUMO
Cada vez mais se exige a geração de energia de forma limpa, sendo que o
bioetanol, em vários aspectos, apresenta-se como uma das melhores solu-
ções economicamente viáveis disponíveis na atualidade, mesmo com os
cuidados ambientais que requer sua produção. O presente estudo visa
apresentar as principais restrições regulatórias vigentes sobre a produção
de bioetanol, com ênfase nos princípios aplicáveis à gestão ambiental.
Com esse horizonte, as unidades produtoras poderão melhor se preparar
para a obtenção sustentável do bioetanol combustível.
PALAVRAS-CHAVE: Bioetanol. Meio Ambiente. Regulação.
18 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
INTRODUÇÃO
A sociedade atual impõe, de forma cada vez mais abrangente, que a
produção de energia seja não somente renovável e limpa, mas sustentável,
sendo necessário satisfazer as necessidades do presente sem comprometer o
bem-estar das gerações seguintes. Não existe processo industrial mais eficiente
na captação de energia que a fotossíntese realizada pelas plantas, que, para
efetivar tal atividade, precisam de solo, água e sol. Há de se ressaltar que não
há país tão privilegiado nestes aspectos quanto o Brasil (VECCHIA, 2010).
Vecchia (2010) observa que qualquer cultura alimentícia, para ter
importância econômica e social, necessita de escala e acaba, consequentemente,
se tornando uma monocultura, acrescentando que um ecossistema natural é
normalmente composto de elevada heterogeneidade biológica e que limitá-lo
com uma única espécie seguramente produz fortes desequilíbrios ambientais,
os quais desencadeiam mudanças de micro-climas, alteração do regime local
de chuvas, erosão dos solos, entre outros. Observa-se que a era da energia
limpa, proveniente do uso da biomassa, passa pelo aumento das áreas de cultivo
das culturas de inSumos geradores de energia, existindo o grande desafio de
transformá-los em commodities internacionais, sendo necessário,
primordialmente, garantir o abastecimento, com a inserção de novos produtores
em áreas ainda não exploradas, além de mecanismos que assegurem
estabilidade de preços e a padronização internacional das especificações dos
produtos visando dar credibilidade.
A produção de combustível com o emprego de biomassa, que também
pode ser utilizada para a alimentação humana, não é assunto pacífico no
debate mundial, existindo até mesmo estudiosos que atestam que a produção de
bioetanol da cana-de-açúcar não reduz a emissão de gases de efeito estufa, além
de trazer consequências desastrosas, como o deslocamento de pequenos
agricultores, a redução da segurança alimentar, o estresse hídrico, com a
consequente redução da disponibilidade futura de água, e o aceleramento do
desmatamento, com a produção especializada em grandes propriedades
monocultoras manejadas com alto uso de insumos agroquímicos (ALTIERI,
2012).
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
19
Assim, torna-se imperioso encontrar o equilíbrio regulatório na bus ca
pelo atendimento às necessidades energéticas para o bom desenvolvimento da
humanidade, sem perder de vista a preservação do meio ambiente. Desta
forma, este estudo visa destacar as principais restrições regulatórias ao
desenvolvimento da indústria do bioetanol no Brasil.
O empreendimento sucroalcooleiro, como toda atividade que envolve
aspectos relativos à produção agrícola e industrial, gera consequências sobre o
meio ambiente e, para tentar minimizar os efeitos deletérios de sua
produção, são editadas restrições regulatórias, principalmente no que diz
respeito ao licenciamento ambiental, ao uso do solo e dos recursos hídricos, à
poluição atmosférica e sonora, bem como às que possuem impactos sobre a
fauna e flora. Tais aspectos serão analisados a seguir, sem deixar de se
mencionar, em primeiro lugar, os princípios fundamentais norteadores da
questão ambiental que são aplicados ao setor sucroalco oleiro.
1 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS APLICÁVEIS AO SETOR
SUCROALCOOLEIRO
Observa Machado (2011) que a natureza normativa dos princípios
jurídicos é a promoção de critérios para a resolução de divergências entre
normas, quando forem aplicadas a um caso concreto. Nesse sentido,
Moraes (2011) afirma que princípios são diretrizes basilares que devem ser
seguidas e observadas por todos os operadores do direito.
Assim, no presente trabalho, são apresentados os princípios fundamentais
que devem ser utilizados para nortear a criação e a aplicação de normas
regulatórias, com vistas ao desenvolvimento sustentável da atividade
produtiva de bioetanol combustível, sem perder de vista a preservação do
meio ambiente.
Um dos princípios que regem a atividade sucroalcooleira é o princípio
do desenvolvimento sustentável. Para Nascimento (2009), tal postulado se
caracteriza pela manutenção das bases da produção e reprodução do homem
e suas atividades, harmonizando o crescimento econômico e a preservação do
meio ambiente, visando garantir recursos naturais para as futuras gerações.
20 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Prossegue o mesmo autor destacando que os recursos ambientais são finitos e
a extinção deles conduz a um esgotamento para a possibilidade de
existência humana, afirmando ser inaceitável que as atividades econômicas se
desenvolvam sem esse cuidado com o meio ambiente.
Para Moraes (2011), é necessário buscar a tutela ambiental, mas de forma
consciente e fundamentada, pois não se pode esquecer que é vital garantir o
desenvolvimento econômico e social, com vistas a erradicar a fome e a
pobreza, de mitigar as deficiências do sistema educacional brasileiro, de
proporcionar segurança à população, além de tantas outras questões a serem
trabalhadas.
Com relação ao princípio da prevenção, Czyzeski (2010) ressalta que se faz
presente a partir do reconhecimento de que os prejuízos quando alcançam o
meio ambiente, em sua grande maioria, não têm volta nem possibilidade de
reparo e, mesmo quando esta exista, seu custo é alto e leva um período de
tempo longo para restaurar o equilíbrio que existia anteriormente. Neste caso,
a prevenção decorre do nexo causal entre a ação e suas consequências, em
sua grande maioria comprovadas cientificamente.
Assevera Moraes (2011) que o princípio da prevenção cuida de impactos
conhecidos, agindo quando existe certeza, sabendo-se que é impossível
recompor, exatamente, uma biodiversidade perdida, sendo que justamente esta
é a razão para se tutelar o meio ambiente de forma preventiva, significando
uma ação prévia contra algo indesejável.
Brito (2011) assinala que o princípio da prevenção não estabelece atividades
econômicas que devam ser prevenidas, subtendendo-se, portanto, que todo e
qualquer empreendimento, independentemente de sua essência, deve ser
previamente mapeado para se precaver e evitar que, pela falta de cuidado,
seja prejudicada não só a sustentabilidade, mas, também, a renovabilidade
ambiental.
Intrinsecamente relacionado às questões ambientais destaca-se, ainda, o
princípio da obrigatoriedade da ação estatal que, no entender de Brito
(2011), trata-se de uma obrigação do Estado que, utilizando todos os meios
e recursos disponíveis a seu alcance, deve atuar preventivamente para evitar
as degradações ao meio ambiente, punindo aquele que agir em desacordo
com as normas ambientais vigentes.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 21
Nesta seara, não se pode esquecer o princípio do direito humano
fundamental que, no pensamento de Brito (2011), compreende o sentido
de que todos têm direito a usufruir de um meio ambiente saudável, não
degradado, ou seja, faz parte da própria essência da natureza humana
desfrutar desse bem de uso comum.
Nas palavras de Giehl (2008), foi, nos anos 1980, que surgiram as
primeiras menções ao uso do princípio da precaução em matéria ambiental,
especificamente no que diz respeito à proteção da camada de ozônio, com
emissão de alertas ao uso dos clorofluorcarbonetos (CFC). Ressalta que tal
princípio se traduz na necessidade de deliberar sobre questões relacionadas ao
meio ambiente, tendo em perspectiva a certeza científica sobre o potencial dano
futuro de determinada atividade. Com efeito, no entender de Moraes (2011),
em caso de existência de dúvida quanto à possibilidade de dano ambiental, a
situação ensejadora desse deve ser evitada, principalmente quando não
existem conhecimentos suficientes para se garantir a não ocorrência da
degradação.
Segundo Colombo (2006) o princípio do poluidor-pagador é de caráter
normativo econômico, tendo em vista determinar que, aquele que degrada o
meio ambiente deve arcar com as despesas originadas pela atividade
poluente, sendo, assim, utilizado para compelir o uso racional dos recursos
naturais escassos. Destaca o mesmo autor que este princípio não autoriza
quem quer que seja a poluir o meio ambiente e registra que os custos para
evitar danos decorrentes da regulamentação ambiental são sustentados pelo
poluidor e também pela sociedade, considerando que, na prática, o poluidor
transfere tais custos ao produto final.
Por último, mas não menos importante, é o principio do usuário-
pagador que, no entendimento de Takeda (2010), parte da consideração de
que deve existir uma compensação financeira pela concessão do direito de
uso de um recurso natural, devendo ser caracterizado como um preço
público que está sendo cobrado pelo uso de um bem pertencente à coletividade.
Desta forma, exemplificando no caso do uso dos recursos hídricos, além dos
valores normalmente cobrados pelo tratamento e distribuição da água, há
previsão para cobrança de um valor adicional com vistas à realização de ações
no sentido da reversão do processo de degradação das bacias hidrográficas de
forma a proporcionar uma infra-estrutura para atendimento com
22 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
qualidade das necessidades de saneamento básico.
Moraes (2011) destaca que este princípio está intrinsecamente relacionado
ao dever de manutenção do bem ambiental, no seu sentido quantitativo,
mediante uma maior conscientização para seu uso racional, de forma a
garantir o direito das gerações futuras.
2 P RINCIPAIS REST RIÇÕES REGULATÓRIAS AO
DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DO BIOETANOL NO
BRASIL
2.1 Restrições regulatórias relativas ao licenciamento ambiental
No Brasil, o órgão responsável por todas as decisões estratégicas a respeito
do meio ambiente é o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
Trata-se de um órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA), competindo-lhe, dentre outras atribuições,
estabelecer normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou
potencialmente poluidoras, bem como determinar a realização de estudos das
alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou
privados, requisitando informações indispensáveis á apreciação de estudos
prévios de impacto ambiental e respectivos relatórios, no caso de obras ou
atividades de significativa degradação ambiental.
A definição legal do licenciamento ambiental está indicada no inciso I
do artigo 1° da Resolução CONAMA n° 237/1997, transcrito abaixo:
[...] Art. I° - Para efeito desta Resolução são adotadas
as seguintes definições:
- Licenciamento Ambiental: procedimento adminis-
trativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia
a localização, instalação, ampliação e a operação de
empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente
poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma,
possam causar degradação ambiental, considerando as
disposições legais e regulamentares e as normas técnicas
aplicáveis ao caso.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 23
O artigo 8° da sobredita Resolução apresenta as etapas necessárias para
a obtenção do licenciamento ambiental, as quais estão listadas abaixo:
[...] Art. 8° - O Poder Público, no exercício de sua com-
petência de controle, expedirá as seguintes licenças:
I - Licença. Prévia (LP) - concedida na fase preliminar
do planejamento do empreendimento ou atividade
aprovando sua localização e concepção, atestando a
viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos bá-
sicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas
fases de sua implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do
empreendimento ou atividade de acordo com as espe-
cificações constantes dos planos, programas e projetos
aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental
e demais condicionantes, da qual constituem motivo
determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da
atividade ou empreendimento, após a verificação do
efetivo cumprimento do que consta das licenças anteri-
ores, com as medidas de controle ambiental e condici-
onantes determinados para a operação.
Resta claro que qualquer atividade que exija o licenciamento ambiental
deverá passar por três etapas de análise por parte do órgão ambiental que
expedir a respectiva licença, distintas, sucessivas e interligadas, sendo que a
primeira se refere ao planejamento do empreendimento, a segunda à sua
instalação e a última à. licença para operar o empreendimento.
Quanto à competência legislativa em matéria ambiental é concorrente,
significando dizer que todos os entes da Federação estão autorizados a executar o
licenciamento ambiental. Alguns estudiosos criticam esta repartição de
competência, por concentrar excessivamente atribuições nos órgãos estaduais
de meio ambiente, os quais não apresentam condições de atender à demanda.
Moraes (2011) conclui que, pela legislação aplicável e vigente, o
licenciamento ambiental das usinas de produção de bioetanol está a cargo dos
órgãos ambientais estaduais.
Além dos três tipos de licença anteriormente citadas, no caso
específico da unidade produtora de bioetanol, pelo caráter poluidor de
24 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
sua atividade, demanda o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu
respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).
2.2 Restrições regulatórias quanto ao uso do solo
No que diz respeito ao uso do solo, o presente trabalho destaca, inicialmente,
o instituto da Reserva Legal, que, no entender de Moraes (2011), se trata de
uma limitação imposta pelo poder público ao direito de uso da propriedade,
obrigando o proprietário ou possuidor de área rural a reservar parte de sua
terra para uso restrito, conforme determina a Lei.
Com efeito, a Reserva Legal está definida nos termos do inciso III do artigo
3°, sendo delimitada a área pelos percentuais definidos no artigo 12, ambos
da Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012 (chamado de Novo Código Florestal
Brasileiro), elencando-se abaixo os artigos citados:
[...] Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
[...] III - Reserva Legal: área localizada no interior de
uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos
do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico
de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel
rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos proces-
sos ecológicos e promover a conservação da biodiversi-
dade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre
e da flora nativa;
[...] Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com
cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Le-
gal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áre-
as de Preservação Permanente, observados os seguintes
percentuais mínimos em relação à área do imóvel:
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área
de florestas:
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em
área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de
campos gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte
por cento).
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 25
A referida Lei, além de delimitar o percentual de terras destinadas à Reserva
Legal, também definiu como devem ser mantidas, inclusive estipulando prazos
para início da recomposição da Reserva Legal, conforme prevê o seu artigo 17,
caput e parágrafo 4°.
Portanto, no sentir de Moraes (2011), as usinas de bioetanol, quer sejam
as proprietárias da terra ou aquelas que utilizam terras de terceiros, sob
qualquer forma, ou mesmo como simples adquirentes da cana-de-açúcar,
responderão indiidualmente (nos casos em que forem a proprietária da terra)
ou solidariamente (nos casos de utilização de terras de terceiros ou como
adquirentes do insumo) pelo não atendimento ao disposto na Lei referente ao
instituto da Reserva Legal, responsabilidade esta de forma tríplice, ou seja,
nas esferas civil, administrativa e penal.
Portanto, cabe aqui invocar o princípio da prevenção anteriormente
explanado, devendo as unidades produtoras de bioetanol agir de forma
antecipada, até mesmo para verificar se seus fornecedores de insumo estão
de acordo com a legislação ambiental vigente.
Tratou a Lei de permitir ao proprietário ou possuidor de imóvel rural
com área de Reserva Legal em percentual inferior ao mínimo estabelecido três
formas de viabilizar o cumprimento da obrigação, conforme previsto no
artigo 66 do referido diploma legal: recompor a Reserva Legal; permitir a
regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal ou compensar a
Reserva Legal.
2.3 Restrições regulatórias quanto à poluição atmosférica
Rangel (2012) entende o meio ambiente como um bem difuso, não
exclusivo de determinada região ou grupo de pessoas, ou seja, é um direito de
todos, tanto dos presentes quanto dos que estão por vir, encarado como algo
pertencente a toda a sociedade, não subsistindo a possibilidade de quantificar,
por exemplo, o total de pessoas atingidas pela poluição atmosférica, pois a
coletividade é indeterminada.
Para Moraes (2011), uma das grandes preocupações com o meio
ambiente sadio concentra-se na qualidade do ar atmosférico, pois o descuido
com sua tutela pode gerar danos irreparáveis. No Brasil, o Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA) é o órgão responsável pela determinação dos
padrões de emissão.
26 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Nesse sentido, o CONAMA editou a Resolução n° 382, de 26 de
dezembro de 2006, a qual tratou dos limites de poluição atmosférica de fontes
fixas provenientes de procedimento de geração de calor, destacando os limites
para emissão de poluentes atmosféricos resultado da combustão externa do
bagaço de cana-de-açúcar, conforme anexo III da referida Resolução.
Outra questão relacionada à poluição atmosférica, intrinsecamente ligada
à atividade sucroalcooleira, é a prática da queima da palha da cana-de-açúcar,
que tem por objetivo eliminar as folhas da cana e facilitar o corte, bem como
afugentar animais peçonhentos. Assim, a disciplina para o uso do fogo nas
atividades agrícolas está presente no Decreto n° 2.661, de 8 de julho de 1998.
Pelo referido Decreto, verifica-se que a regra geral é a proibição do uso
do fogo nas florestas e demais formas de vegetação. O mesmo diploma legal
estabelece algumas exceções, mediante o procedimento chamado de queima
controlada, definida no parágrafo único do artigo 2°.
No que diz respeito à atividade sucroalcooleira, a referida norma legal
estabeleceu, em seu artigo 16, que tal procedimento será eliminado de forma
gradativa, numa proporção de, no mínimo, vinte e cinco por cento da área
mecanizável a cada período de cinco anos, ou seja, num prazo máximo de
vinte anos deveria ser eliminado todo procedimento de uso do fogo na região
mecanizável, sendo esta entendida como uma área em que a declividade do
terreno é inferior a 12%, justificada pela possibilidade de acidentes com
máquinas colheitadeiras para inclinações maiores. O legislador ainda
destinou previsão legal para a revisão periódica deste conceito, em
decorrência do desenvolvimento tecnológico e dos efeitos sócio-econômicos.
2.4 Restrições regulatórias quanto ao uso dos recursos hídricos
A Lei Federal n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997, instituiu a Política
Nacional dos Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenci-
amento de Recursos Hídricos, destacando-se o uso do conceito de desen-
volvimento sustentável, com vistas à preservação do recurso para as atu-
ais e futuras gerações.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 27
No seu artigo 10, estabeleceu o legislador que a Política Nacional de
Recursos Hídricos é fundamentada no conceito de que a água é um bem de
domínio público e dotado de valor econômico e que, em situações de escassez,
seu uso prioritário será para consumo humano e dessedentação de animais,
devendo, ainda, a gestão dos recursos hídricos proporcionar o uso múltiplo
das águas. O artigo 12 prevê a sujeição à outorga pelo Poder Público para
uso da água como insumo em processo produtivo, prevendo o seu pagamento,
conforme inciso IV do artigo 5°. Assim, a Lei tratou de colocar em prática o
principio do usuário-pagador, anteriormente explanado.
A cobrança pelo uso dos recursos hídricos é um dos instrumentos de gestão
instituídos pela Lei Federal n° 9.433, tendo por objetivo estimular o uso
racional da água e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e
preservação dos mananciais das bacias, não podendo ser caracterizado, assim,
como um imposto. A cobrança surge em função da escassez do referido recurso,
tanto em qualidade como em quantidade e, conforme previsto na Lei, os
recursos hídricos passaram a ter valor econômico. No caso do Brasil, compete
à Agência Nacional de Águas (ANA) a operacionalização do serviço de
cobrança pelo uso das águas que estão sob o domínio da União,
caracterizadas como os rios ou demais cursos d'água que percorrem mais de
um Estado da Federação, conforme previsão constitucional.
Na lição de Moraes (2011) a demanda de recursos hídricos pelos
produtores de bioetanol de cana-de-açúcar é pequena, especialmente no centro-
sul do país, que não necessita de irrigação, sendo bastante para o
desenvolvimento da cultura o regime natural das chuvas, contribuindo,
também, neste aspecto, o processo de fertirrigação com a utilização da
vinhaça. Dependendo do clima, a cultura da cana necessita de 1.500mm a
2.500mm de lâmina d'água proporcionalmente distribuídos durante o ciclo
(um período úmido e quente para crescimento e um período seco para
maturação e acúmulo de açúcar), sendo que, na região Nordeste, é utilizada a
técnica de irrigação de salvação, após o plantio da cana, visando garantir a
brotaçã o em condições de déficit hídrico e como irrigação suplementar
(BNDES, 2008).
Conforme registra a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA),
nos últimos anos, vem se reduzindo a utilização de recursos hídricos pela
28 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
indústria sucroalcooleira, sendo que atualmente o consumo é de um metro
cúbico por tonelada de cana processada, com viés de que este parâmetro ainda
venha a sofrer redução, mediante a aplicação de técnicas mais modernas no
uso da água.
A vinhaça é o mais importante efluente líquido da produção sucroalcooleira,
com teores elevados de potássio e de matéria orgânica e sendo pobre nos
demais nutrientes. Nos anos 1970, a vinhaça era lançada diretamente nos rios,
gerando consequências desastrosas ao meio ambiente. Nessa época, passou-se
a utilizá-la no processo de fertirrigação, com vistas a aumentar a produtividade
agrícola e diminuir o uso de fertilizantes químicos. Se utilizada em taxas
adequadas, respeitando-se as características dos solos em que é aplicada, bem
como a localização das nascentes d'água, a vinhaça, além de fornecer água e
nutrientes, age como recuperadora da fertilidade do solo (BNDES, 2008).
2.5 Outras restrições regulatórias
Conforme ensina Moraes (2011), poluição sonora é a degradação do
ambiente com origem em sons e ruídos que, em decorrência da intensidade, do
momento, constância ou mesmo duração, produz incômodo de modo a
atingir, de forma negativa, a qualidade de vida e o bem-estar da coletividade. O
seu combate tem como objetivo afastar seus impactos negativos, tutelando,
dessa maneira, o sossego alheio.
Assim, no sentir de Moraes (2011), tendo em vista que a instalação e o
funcionamento de unidades produtoras de bioetanol produzem ruídos, tanto na
área industrial quanto na agrícola, decorre a necessidade de realização de
estudos específicos no que concerne ao licenciamento ambiental, levando-se em
conta, também, os ruídos que podem ser gerados pelos veículos que venham a
servir ao empreendimento. Isto posto, verifica-se a aplicação do princípio do
poluidor-pagador, devendo-se impor ao empreendedor medidas de
automonitoramento, no sentido de mitigar as externalidades negativas da
atividade.
Leciona Moraes (2011) que, diante das características e dos tipos de
impactos decorrentes da implantação e da operacionalização das unidades
produtoras de bioetanol, deve ser observado, quando do procedimento de
licenciamento ambiental, um levantamento dos impactos sobre a fauna,
bem como apresentado um conjunto de propostas mitigadoras, tanto
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 29
para a unidade industrial quanto para a agrícola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção de energia limpa e renovável torna-se imperiosa para a
existência das gerações vindouras e não apenas uma mera questão
mercadológica. Existem sinais claros de que os consumidores estão
alterando seus hábitos de consumo com vistas à aquisição de bens e
serviços que não insultem ao meio ambiente Mas, por melhor que seja a
pretensão inicial, inúmeros cuidados devem ser tomados para que a
produção de energia renovável, no caso específico do bioetanol
combustível, não acabe por gerar prejuízos maiores do que os benefícios
advindos de seu uso para o meio ambiente e a população.
A ponderação dos princípios fundamentais à causa ambiental parece
ser a melhor solução para a resolução dos conflitos que inevitavelmente
emergem quando se trata de colocar em marcha novos empreendimentos
geradores de energia, tão vitais para o desenvolvimento da humanidade
quanto à preservação ambiental.
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de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição
30 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Federal, e altera o art. 1° da Lei n° 8.001, de 13 de março de 1990, que
modificou a Lei n° 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em:<
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Leis nQ' 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e
a Medida Provisória n° 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras
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_______ . Decreto 2.661, de 8 de julho de 1998. Regulamenta o parágrafo
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florestal), mediante o estabelecimento de normas de precaução relativas ao
emprego do fogo em práticas agropastoris e florestais, e dá outras
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VECCI-11A, R. O meio ambiente e as energias renováveis: instrumentos de
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32 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
CAPÍTULO 2
AGRICULTURA FAMILIAR NA CADEIA
PRODUTIVA DO BIODIESEL NA BAHIA:
UMA TENTATIVA DE INCLUSÃO SOCIAL
Elizabete Clara Silveira
Alberto Freire Nascimento
RESUMO
O trabalho tem como objetivo fazer uma análise crítica da participação
da agricultura familiar no Programa Nacional de Produção e Uso de
Biodiesel-PNPB,nos municípios de Olindina e Itapicuru na
Bahia.Esteprograma tem como um de seus pilares à inclusão social, atra-
vés da participação da Agricultura Familiar na cadeia produtiva do bio-
diesel. A evolução do programa no estado, até então, não foi suficiente
para acrescentar ao agricultor familiar perspectivas de melhorias em suas
condições socioeconômicas.A situação da Agricultura Familiar se en-
contra, em situação precária, não existindo, até o momento, uma política
eficiente voltada ao desenvolvimento social. Por isso, é interessante en-
tender o processo de formulação e execução de políticas públicas que
regem a inserção social, considerando as singularidades de cada região.
PALAVRAS-CHAVE: Agricultura Familiar; Programa Nacional de Pro-
dução e Uso de Biodiesel; Inclusão Social.
BIOENERGIA; UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 33
INTRODUÇÃO
No final de 2003, o Governo Federal lançou o Programa Nacional de
Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), uma das grandes apostas para con-
solidar a posição do Brasil como protagonista no fornecimento de Bio-
34 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
combustíveis para o mercado interno. Este Programa enfoca a questão
social, juntamente com as motivações ambientais e econômicas, buscan-
do aproveitar as especificidades regionais, bem como atender aos anseios
da sociedade civil organizada.
Na perspectiva de substituição progressiva dos combustíveis fósseis
por energias renováveis, a produção de biodiesel na Bahia tem um papel
fundamental, que é a inclusão social e o desenvolvimento regional, atra-
vés da participação da agricultura familiar como fornecedora de parte da
matéria prima usada na produção do biocombustível.
Para execução do programa seria necessário uma prévia elaboração e
análise das diferenças regionais, assim como: estrutura, cultura, clima,
política e economia. Isso, devido diferenças regionais existentes no país.
Sendo assim, é de fundamental importância entender o processo de for-
mulação e execução de políticas públicas que regem a inserção social de
segmentos antagónicos como a agricultura familiar e indústria agroener-
gética no país.
A preocupação mundial com o esgotamento dos combustíveis de
origem fóssil, juntamente com a mitigação pela diminuição dos efeitos
causados com o desenvolvimento caracterizado como pouco sustentável,
tornou-se um dos principais paradigmas da atualidade. Isto acarretou a
necessidade de novas fontes energéticas renováveis, na tentativa de dar
continuidade ao crescimento econômico com redução do efeito estufa e
diminuição das desigualdades sociais.
As fontes energéticas do mundo são atendidas em sua maioria por
combustíveis de origem fóssil. O Brasil é considerado um dos pioneiros
na produção e consumo de energias renováveis, através do uso das bio-
massas. Uma vez que as reservas de petróleo são finitas, estudos indicam
que se o padrão de consumo mantiver seu ritmo de expansão, essas reser-
vas poderão se esgotar um período considerado próximo.
A fim de garantir um parque energético seguro, o governo brasileiro
apresenta uma promissora perspectiva de crescimento no uso do biodiesel
para o mercado interno. Isto acarreta a necessidade de organizar setores da
sociedade civil, empresa e estado, no sentido de, obter competitividade,
viabilidade, sustentabilidade com desenvolvimento socioambiental.
A principal estratégia do programa foi possibilitar a exploração do
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 35
biodiesel criando mercado consumidor através de leis regulamentadoras,
o que favorece uma série de oportunidades para uma demanda de traba-
lhadores, empresas e setores do estado.
Nesse contexto, José A. L. Santos, 2012, p.26. Em sua tese de dou-
torado afirma que:
Essa regulação vem fomentando ações voltadas ao
surgimento de articulações sociais complexas que de-
mandam a necessidade de repensarmos as políticas
públicas no âmbito da questão agrária no Brasil (SAN-
TOS, 2012 p.26).
Sendo assim, o PNPB enquanto Politica Pública de interesse político,
social e econômico apresenta um de seus pilares à inclusão social no setor
agroenergético. Nesse sentido, é de fundamental importância entender
como está inserida a Agricultura Familiar baiana no novo contexto
mercadológico. Este é um programa viável para consolidar a posição do
país como protagonista mundial no fornecimento de biocombustíveis,
sustentado na inclusão social para o desenvolvimento.
A gestão do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel —
PNPB é gerida pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a
Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), que promovem o incentivo à
produção do novo combustível por meio das empresas produtoras de
biodiesel, que sensibiliza e apoia o ingresso da participação da agricultura
familiar na sua cadeia de produção.
Para a inserção da Agricultura Familiar no mercado do Biodiesel é
essencial o desenvolvimento de tecnologias e condições que manifeste o
interesse político-administrativo e empresarial, representados por
acesso ao crédito, informação, capacitação, mudança no modo de
cultivo e gestão da produtividade, conciliando com canais de
comercialização, transporte e infraestrutura usada no manejo da
agricultura. Esses fatores são de importância para a evolução do
programa. Por isso, são os maiores gargalos desafiadores do
desenvolvimento e disseminação do projeto de bioenergía já iniciados na
Bahia.
Na tentativa de promover a evolução do programa, o governo oferece
36 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
incentivo fiscal e financeiro às empresas privadas ou de capital misto, que
inserem a participação da agricultura familiar na cadeia de produção do
biodiesel.
Uma dessas tentativas utilizadas pelo governo federal e estadual para
incentivar a inclusão social, através da agricultura familiar, foi introduzir
na produção de oleaginosa o Selo Combustível Social. Para isso, a empre-
sa privada ou de capital misto que utilizarem percentuais da matéria pri-
ma para produção do biodiesel proveniente da agricultura familiar, em
contrapartida, recebe isenção fiscal nas alíquotas de PIS, PASEP, CO-
FINS e maior facilidade em conseguir empréstimo com menores juros.
Dessa forma, a dimensão social consiste em um importante fator de sus-
tentação do PNPB no Brasil.
Essa nova postura, de compartilhamento de responsabilidades entre
Estado e sociedade não implica, entretanto, em menor responsabilidade
dos governos. Ao contrário, fortalece o seu papel formulador de políticas
públicas de grande alcance, visando o bem comum e a equidade social,
aumentando sua responsabilidade em bem gerenciar a sua máquina, os
recursos públicos e naturais na sua prestação de contas à sociedade.
A Bahia é o estado brasileiro que apresenta o maior número de agri-
cultores familiares em atividade rural. Entretanto, é também um dos esta-
dos onde a Agricultura Familiar encontra pouca assistência por parte do
governo. Percebe-se uma falta de política pública eficaz, voltada para
esse contingente de pessoas à margem do crescimento social e econômi-
ca.
As dificuldades encontradas pela agricultura familiar baiana retrata-
da pela escassez de água e pobreza, consequentemente, a dificuldade de
encontrar estratégias de melhorias no modo de conduzir a atividade ru-
ral. Isso pode contribuir com a saída da mão de obra rural para outros
estados, à procura de melhores condições de vida, que nem sempre são
bem sucedidas.
Essa vulnerabilidade do agricultor rural à espera de chuva, que nor-
malmente, não acontece no tempo esperado nem na quantidade esperada,
juntamente, com a falta de apoio Estatal, agravado pela falta de tradição
no modo de trabalho organizado, tem contribuído na dificuldade do esta-
do enquanto fomentador de projetos sociais voltados para a agricultura
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 37
familiar na cadeia produtiva do biodiesel.
Nesse contexto, desenvolvemos urna pesquisa que tem como objeti-
vo, fazer uma análise crítica da relação entre produção de biodiesel e
agricultura familiar como política pública do Estado da Bahia, para inser-
ção da agricultura familiar na produção de biodiesel. Algumas constata-
ções foram baseadas na pesquisa de campo, com aplicação de questioná-
rio com Agricultores Familiares, gestores, e líderes da Cooperativa CO-
OPERO nos município de Olindina e Itapicuru, na Bahia.
O problema para desenvolvimento da pesquisa partiu da seguinte
interrogação. Para o agricultor familiar baiano, participar do PNPB
tem contribuído com alguma melhoria em seu padrão socioeconômico?
Os municípios de Olindina e Itapicuru foram escolhidos para realiza-
ção da pesquisa por três motivos. Primeiro foi o fato do PNPB, promover
a região como escolhida para um dos polos de plantação e cultivo do
girassol por meio da Agricultura Familiar. O outro motivo se deve, pela
questão apresentada em discurso governamental, em que a região possui
um grande potencial para cultivo de oleaginosa, principalmente o giras-
sol, e que a mesma possui grande concentração de agricultores familiares
em atividade no campo. O terceiro item foi o fato da região já ter plantado
girassol pela agricultura familiar para produção de biodiesel em 2009.
Sendo assim, essa experiência de plantio, dava para ter uma breve avalia-
ção do resultado da parceria.
Durante a busca por estudos já explorados nos municípios estudados,
como ponto de partida para realização deste trabalho, ficou evidente a
escassez de outros estudos voltados para a agricultura familiar na cadeia
produtiva do biodiesel nos municípios de Olindina e Itapicuru,o que
ocorre o contrário quando comparamos com a microrregião de Irecê,
encontra-se a maioria dos trabalhos já concluídos.
1. PRODUÇÃO DE BIODIESEL E ENCLUSÃO SOCIAL
Nos países considerados desenvolvidos é crescente a demanda ener-
gética nos setores produtivos e de serviços. Nos países emergentes, co-
nhecidos como BRICS (Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul), a
38 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
tendência de expansão dessa demanda também é essencial para assegurar
o crescimento econômico e a garantia de acesso a bens de consumo que
favorecem melhorias devida da população.
Sendo assim, assegurar a necessidade de constantes pesquisas que
explorem novas tecnologias para o desenvolvimento sustentável com es-
tratégias de melhores alternativas, que sejam economicamente competi-
tivas e tecnicamente viáveis, para garantir o crescimento econômico, são
perspectivas que contribuem para novos avanços na matriz energética do
país.
O uso de tecnologias sustentáveis no cultivo da matéria prima tem
facilitado o progresso social da reforma da agricultura no país. Pois, cria
novas oportunidades de emprego e renda tanto no campo quanto na indús-
tria, o que favorece a inclusão social e desenvolvimento regional, que é o
elo da cadeia de produção do biodiesel por meio da agricultura familiar.
A Agência Internacional de Energia reforça a importância da produ-
ção e uso das energias renováveis no país. Para essa instituição,
[...] Em áreas rurais, as fontes renováveis apropriadas a
esse contexto podem contribuir de forma mais incisiva
para o desenvolvimento econômico, melhorando a pro-
dutividade na agricultura, reduzindo as desigualdades
regionais, contribuindo para a melhoria da qualidade de
vida da população, notadamente nos campos da saúde e
educação, permitindo a melhoria dos meios de
comunicação e reforçando a capacidade de produção na
região com melhor infraestrutura[...] (ATE, 2002).
Na Bahia, esse modelo agrícola pode significar melhoria na qualidade
de vida da população, devido suas vantagens em extensão territorial,
possuir três biomas: mata atlântica, caatinga e cerrado, possuir usina de
biodiesel, malha ferroviária, rodoviária e portos capazes de fazerem o
escoamento da produção do biocombustível.
Nesse sentido, o desafio imediato é assegurar que a matriz energéti-
ca baiana considere a segurança ambiental e os valores sociais pelos
quais foram planejadas. Para isso, a Secretaria Estadual de Ciência,
Tecnologia e Inovação (SECTI), em 2004, lançou a Rede Baiana de
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 39
Biocombustíveis, integrada por diversos setores do ramo do biodiesel,
com o objetivo de ampliar e apoiar as estratégias do programa de biodi-
esel no Estado.
A produção de biodiesel é uma a estratégia de oportunidade de forma
que o Brasil possa minimizar o cenário nacional de desigualdade social,
principalmente, nas regiões do semiárido nordestino e norte do pais, po-
dendo significar uma transformação no campo, gerando conhecimento,
emprego e renda. Além de melhores condições de vida com acesso à
educação, saúde, alimentação, moradia e novas perspectivas de fontes de
renda na agricultura familiar.
Por substituir o óleo diesel que vem do petróleo, tem sido um grande
vetor de redução das emissões de poluentes o que reforça o protagonismo
do Brasil nos acordos e compromissos internacionais de respeito ao meio
ambiente, colaborando assim, para uma maior diversificação da matriz
energética brasileira, que já é exemplo mundial na utilização de energias
renováveis.
A substituição progressiva do biodiesel em relação ao diesel fóssil
vem contribui e apoiar ações para que o Brasil compre menos diesel de
países vizinhos, politicamente instáveis. O que favorece a diminuição da
dependência econômica e ameniza os custos da economia, também agre-
ga valor ao produto quando deixa de exportar o grão in natura para expor-
tar o produto final.
O PNPB, como fruto de políticas públicas dirigida pelo Estado,
deve se pautar em prioridades que levem em consideração a busca pela
soberania energética do país, a democratização dos biocombustiveis, a
inclusão participativa das mais diversas camadas sociais na gestão do
programa, a integração com outros programas de cunho social e a plena
sintonia com uma política estruturada de redução das desigualdades no
país.
2. COOPERATIVA E AGRICULTURA FAMILIAR NA CADEIA DE
BIODIESEL
40 BIOENERGIA; UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
O Programa Nacional de Produção e liso do Biodiesel (PNPB) pro-
piciou a entrada dos pequenos agricultores familiares no processo de pro-
dução de biodiesel agregada por à formação de cooperativas agrícolas. O
trabalho rural produzido através do cooperativismo demonstra uma justi-
ficativa de maior profissionalização do agronegócio.
Percebe-se que o modelo de trabalho voltado ao cooperativismo no
nordeste, particularmente na Bahia, ainda encontra-se pouco expressivo
e incipiente o que dificulta a evolução do programa na inserção social
nessa região.
O modelo de trabalho do agricultor familiar da Bahia diferencia dos
utilizados no Sul, Sudeste e Centro Oeste do país, lá empresas disputam
agricultores, o que promove bons resultados para o programa nessa par-
ceria entre empresa e agricultores familiares. Isso reflete a tradição de
cultivo dentro da logística de cooperativa, pois, as cooperativas já são
empresas que cumprem contratos, procura corresponder às metas de pro-
dução, promove capacitação dos cooperados com gestão eficiente e agri-
cultores empreendedores.
A situação da Agricultura Familiar especialmente no estado baiano
ainda se encontra em situação bem diferente, extremamente precária,
trabalha de forma individualizada, ainda segue o ritmo de subsistência e
com baixo uso de tecnologia. Infelizmente, há dois anos o semiárido
passa por uma extrema seca, uma das piores dos últimos 60 anos, o que
dificulta progressivamente qualquer projeto voltado à agricultura que irá
depender de água.
O que agrava ainda mais a situação, o fato de que, até então, parece
não existir uma política eficaz direcionada à organização dessa
população.O que maximiza as dificuldades inerentes ao sertão, causando
morosidade e retardo no avanço do projeto.
A dificuldade de organização é ainda um desafio entre agricultores
familiares na Bahia. Por esta razão, iniciativas de formação de cooperati-
vas de produção agrícola são fundamentais para o PNPB, sendo uma das
principais diretrizes do trabalho do NI DA dentro do Programa.
A formação de cooperativas e o fortalecimento das que já existem,
principalmente na região do Nordeste permitem uma participação mais
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 41
qualificada e sustentável dos agricultores familiares no PNPB, "ajudando
a superar os tradicionais gargalos agrícolas, mercadológicos e gerenciais
destes atores" (VIDA, 2010). Sendo assim, as cooperativas necessitam de
um grupo administrativo constantemente qualificado e capacitado.
As regiões do Sul, Sudeste e Centro Oeste, vêm ganhando força no
desenvolvimento regional, através da inserção social na cadeia produtiva
do biodiesel. Isto demonstra que o aprendizado adquirido com o trabalho
voltado à organização rural parte da consolidação da agricultura familiar
mediante o modelo de cooperativa.
As estratégias de inserção da Agricultura Familiar no programa de
Bioenergia da Bahia, realizada até então, estão sendo repensada se coloca-
das em curso para garantir a efetividade,As ações realizadas
como:formação de técnicos para prestar Assistência Técnica Rural
(ATER)às culturas, promovendo uma visão mais abrangente de toda a
propriedade, envolvendo todas as culturas de qualquer espécie, incluindo
animais de criação e não somente a produção de oleaginosas.
De acordo, as necessidades de estratégias para o desenvolvimento
social, Ignacy Sachs, 2008, em seu estudo Bioenergias: uma janela de
oportunidade. Aponta para a necessidade do olhar mais abrangente para a
agricultura familiar não somente a plantação de oleaginosa.
Ao mesmo tempo, deve-se reabilitar a noção de que o
desenvolvimento rural é ainda possível e benéfico e a de
sem estimular a pluriatividade dos agricultores e seus
familiares na agricultura, nas agroindústrias e nos ser-
viços rurais, não se consegue resolver a crise social que
abala o mundo.Longe de constituir um vestígio do pas-
sado, o desenvolvimento rural ou, mais exatamente, o
desenvolvimento territorial baseado em novos equilí-
brios entre cidade e o campo" (SACHS, 2008, p. 158).
Os técnicos da Atenção Técnica e Extensão Rural —ATER nesta nova
versão de trabalho possuem além das funções já praticadas na primeira
tentativa de plantação de oleaginosa, que era de distribuição de sementes
e mudas de oleaginosas, análise e orientação no preparo do solo, têm
agora a função de capacitar os agricultores familiares quanto a
formação e gestão de cooperativas, elaboração e gestão dos planos de
negócios de cada propriedade rural.
Esses novos esforços do governo, têm o objetivo promover o fortale-
cimento do pequeno produtor rural,a fim de ampliar o desenvolvimento
regional nas áreas mais remotas, amenizando assim, os desafios encontra-
dos pelo agricultor familiar.Para isso, esse novo modelo de gestão deve
ser o grande fomentador, articulador e facilitador das políticas de desen-
volvimento social nas regiões menos desenvolvidas.
A agricultura familiar ampliará a sua participação nessa
cadeia produtiva desde que haja participação crescente
dos movimentos sociais e das organizações sindicais
que a representam, que sejam ampliados os atuais apoio
governamental e que a inserção dos agricultores famili-
ares seja feita de maneira paulatina e sustentável
(CAMPOS;CARMÉLIO, 2008, p, 94).
A participação da sociedade na fiscalização e no apoio critico fortale-
ce a formulação e execução das políticas articuladas na esfera do poder
público.O desenvolvimento rural, sob essa ótica, representa uma tentati-
va de ir além da modernização técnico-produtiva, apresentado como uma
estratégia de sobrevivência das unidades familiares que buscam sua re-
produção. "O modelo contemporâneo não é mais o do agricultor-empre-
sário, mas o do agricultor-camponês que domina tecnologias, e toma de-
cisões sobre o modo de produzir e trabalhar (informação verbal)" (SCH-
NEMER, 2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Bahia é o estado brasileiro que apresenta o maior número de
agricultores familiares vivendo no campo, entretanto, é também um dos
estados onde a Agricultura Familiar se encontra, menos organizada ainda
despreparada para o cooperativismo. À falta de políticas públicas eficientes
voltadas para esse contingente de pessoas à margem do desenvolvimento
socioeconômico, traduz as dificuldades encontradas pelos agricultores
familiares. A situação da Agricultura Familiar,
42 BIOENERGIA; UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
particularmente na Bahia, ainda se encontra em situação bem diferente
do resto do país. A história de atraso e desorganização para o trabalho no
modelo cooperativista retarda a progressão da inserção social no estado.
Isso faz com que, haja uma maior morosidade do serviço público para
evolução dos objetivos do programa. Pois, infelizmente o momento exige
que se faça o que deveria ter feito há muitas décadas, que é a organização
da agricultura familiar por meio de cadastramento, treinamento, capacitação e
gestão para o modo cooperativista. A ausência desses fatores tem
contribuído com o atraso do estado com relação à inserção social para o
desenvolvimento regional. A capacidade para organização é ainda um
desafio entre os agricultores familiares na Bahia. Por esta razão, iniciativas
de formação de cooperativas de produção agrícola são fundamentais na
eficiência do PNPB.
O fraco desempenho da agricultura familiar no nordeste para produ-
ção de biodiesel é apresentado desde os primeiros resultados da produção
de oleaginosa. As empresas, governo e cooperativas localizadas na re-
gião, ainda não conseguiram estruturar satisfatoriamente os agricultores
familiares locais para adotarem uma base produtiva. As estratégias adotadas
até o momento não foram suficiente para corresponder com as expectativas
do programa, no qual o principal motivo para produção de biodiesel no
nordeste não foi suficiente para apresentar resultados.
Para evolução do programa é necessário uma reabordagem da análise
das diferenças regionais como estrutura, cultura, clima, política e econo-
mia. Cada região tem suas especificidades, consequentemente,necessita
de estratégia voltada para suas particularidades. A ausência de resultado
dos pilares que sustentam o PNPB na Bahia, particularmente, nos muni-
cípios de Olindina e Itapicuru, reflete a importância do planejamento e
conhecimento regional para formulação e execução de políticas públicas
que regem a inserção social entre classes tão diferentes, por meio da inser-
ção da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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(PNPB), 2004.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 43
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44 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
CAPÍTULO 3
ASPECTOS ECONÔMICOS DOS ACIDENTES
OCUPACIONAIS E DOENÇAS DO TRABALHO EM
TRABALHADORES NO CAMPO DA BIOENERGIA
(2009 — 2010).
Luís Oscar Silva Martins
Andréa Monteiro Amorim
Rodrigo de Oliveira Coelho
RESUMO
A saúde do trabalhador no campo da Bioenergia, considerada sob a análise
de acidentes advindos do trabalho é campo fértil para discussões de
âmbito econômico, financeiro e social. Esta pesquisa preliminar apresenta
como objetivo dissertar sobre o número de acidentes de trabalho, ocorrência
de doenças ocupacionais e mortes advindas de atividades laborais, bem
como informar os valores repassados ao Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS). A pesquisa foi realizada através de dados obtidos no cite do
Ministério da Previdência Social (MPS) e do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE), sendo possível observar que o setor de plantio de cana de
açúcar, foi o responsável pelo maior número de acidentes de trabalho,
apresentando, inclusive, maior incidência de beneficias liberados,
especialmente quando se trata de manejo manual.
PALAVRAS-CHAVE: Doença ocupacional no campo da Bioenergia,
Acidente de trabalho no campo da Bioenergia, Saúde do trabalhador.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 45
IINTRODUÇÃO
A partir do século XVIII, com as grandes alterações tecnológicas
proporcionadas pela humanidade com a Revolução Industrial ate os tempos
atuais com o cenário mundial competitivo, percebe-se que as empresas vêm
exigindo cada vez mais dos seus funcionários, tanto no nível intelectual
quanto no nível fisico, fazendo com que os mesmos se adaptem às exigências
impostas pelo mundo globalizado em um tempo muito curto, ocasionando,
frequentemente, lesões irreversíveis.
Alguns inventos como a maquina a vapor e o regulador automático de
velocidades, criadas na revolução industrial, proporcionaram ao homem a
independência das fontes localizadas de energia (rios) que poderiam ser feitas
de forma controlada, de baixo custo e de grande abundância porem, vêm
deixando mais e mais visíveis o aumento e a necessidade do estudo da doença
profissional.
Os relatos de doenças que podem afetar a saúde do trabalhador são muito
antigos, sendo que provavelmente um dos primeiros registros sobre
distúrbios funcionais dos membros superiores por sobrecarga, vem da
bíblia, observa-se através dos relatos de Godo (1995, p. 438) que essa doença
vem desde muito tempo e que esta sendo mais estudada e pesquisada há pouco
tempo.
Bernadino Ramazzini, médico italiano, cita as lesões em duas passagens:
ao falar da doença dos escribas e notários, uma espécie de câimbra e
dormência que acometiam aqueles que tinham como função escrever durante
todo o dia, e no capítulo das doenças dos mineiros, ao citar "a violência que se
faz a estrutura natural da máquina vital composições forçadas e inadequadas
do corpo, o que pouco a pouco pode produzir graves enfermidades".
(Ramazzini 1999, p. 25).
Os acidentes de trabalho são considerados fenômenos socialmente
determinados e constituem o maior agravo à saúde dos trabalhadores
brasileiros. Atingem principalmente adultos jovens causando elevado número
de invalidez temporária e permanente, além de óbitos. De acordo com
Michel (2001), ele ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa,
provocando lesão corporal ou perturbação funcional, que cause a. redução
ou perda da capacidade para o trabalho, além de morte.
Costa (2009) acrescenta que o acidente típico se define corno um
46 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
ataque inesperado ao corpo humano, ocorrido durante a atividade labo-
rai, decorrente de uma ação traumática violenta, subitânea, concentrada
e de consequências identificáveis. Em relação às doenças ocupacionais, o
autor as define como moléstias de evolução lenta e progressiva, originárias
de causas igualmente gradativa e durável, vinculadas às condições de
trabalho.
Segundo COSTA (p.72) "Doenças ocupacionais são as moléstias de
evolução lenta e progressiva, originárias de causa igualmente gradativa e
durável, vinculadas às condições de trabalho"
O Ministério da Previdência Social (2012) define acidente de traba-
lho como aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da em-
presa ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional, permanente ou temporária, que
cause morte, a perda ou redução da capacidade de trabalho. Já a doença
ocupacional pode ser entendida como a alteração da saúde do trabalhador
provocada por fatores ambientais associados ao trabalho. Ainda de acordo
com a fonte, o termo acidentes de trabalho refere-se a lesões decorrentes
de causas externas, aos traumas e envenenamentos ocorridos no ambiente
de trabalho durante a execução de atividades ocupacionais e/ou durante
o trajeto de ida ou retorno para o trabalho, e às doenças ocupacionais.
No que se refere à gestão de saúde, é válido destacar que as práticas de
saúde na contemporaneidade vêm sendo foco de atenção nas novas con-
cepções de ser humano; cuidados com saúde, vida, sociedade, dentre ou-
tras, encaminhando para a construção de tecnologias de processos de
gestão que interagem o fazer, o estar mobilizado, o ser, o pensar em ações
de cuidado com o ser humano. A participação e a responsabilidade dos
indivíduos nas ações de cuidado de promoção da saúde transformam—no
em sujeito da ação, participando ativamente, conforme suas peculiarida-
des individuais, sociais, econômicas e culturais.
No campo da saúde, a questão das melhores práticas oferece dificul-
dades. Existem diferenças acentuadas nas práticas de cuidado, tanto indi-
viduais como coletivas determinadas por condições sócio—econômicas e
padrões culturais, pelo caráter e fundamento nas politicas de saúde vigen-
tes e pelo acesso, espécie e natureza de serviço ofertado. Estas diferenças
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 47
acarretam dificuldade para padronização de processos e
procedimentos, e requerem a adoção de adequado tratamento gerencial, de
modo a maximizar os beneficies para o trabalhador.
Afirma Mendes (1995) que:
O posto de trabalho deve ser projetado de forma a
permitir liberdade de movimentos e conforto para o
trabalhador. Mesas, cadeiras e bancadas improvisadas
sobrecarregam a musculatura, responsáveis pelas quei-
xas de dores no dorso, região cervical, membros superi-
ores e inferiores (MENDES, 1995, p. 173-174).
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) as doenças
ocupacionais continuam sendo uma das principais causas de morte rela-
cionada ao trabalho, conforme estimativas da mesma ocorrem 2,34 mi-
lhões de acidentes mortais de trabalho a cada ano, o que equivale a 5.500
mortes por dia. A ausência de uma prevenção mais efetiva geram efeitos
avassaladores não somente nos trabalhadores e famílias envolvidas, mas
na sociedade como um todo, pois além do enorme custo financeiro tam-
bém se observa a diminuição da produtividade e a elevada carga nos
sistemas de seguridade social.
Os problemas de saúde ocupacionais causam prejuízo ao governo,
que sofre com a sobrecarga previdenciária gerada; para as empresas, que
oneram seus custos com os pagamentos realizados aos órgãos competentes
das esferas federal, estadual e municipal e, especialmente, para os
trabalhadores que correm o risco de comprometerem sua capacidade la-
borai, estando sujeitos a incapacidade de proverem o próprio sustento
bem como o da família.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 7' certifica a proteção
da saúde do trabalhador em seu inciso XXII, quando afirma que o mesmo
tem direito a redução dos riscos inerentes ao trabalho, através das normas
de saúde, higiene e segurança.
Compreende-se que o tema da gestão de saúde, no contexto da
saúde do trabalhador é pautado nas questões psicológicas, assim demons-
tradas as inviabilidades de certas atividades. Segundo Michel (2000, p.
284) o contexto laborai. apresenta como resultado das características físi-
48 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
cas da carga, da personalidade do indivíduo, das experiências anteriores e
da situação social do trabalho, a percepção psicológica que o indivíduo
tem das exigências do trabalho.
Estes pré-requisitos legais deixam clara a posição governamental em
relação à saúde do trabalhador, em todas as áreas, inclusive no campo da
Bioenergia. No entanto, o ônus dessas questões não é completamente
absorvido pelo governo, este atribui como forma punitiva e preventiva,
contrapartida em forma de despesas às empresas.
Para essas últimas, insere-se ainda, o Fator Acidentário Previdenciá-
rio (FAP) cuja formação contempla vários dados de forma a proporcionar
redução ou aumento da alíquota de pagamento e que direcionam esse
referido incentivo à melhoria das condições de trabalho e saúde do traba-
lhador. O FAP analisa frequência, relativo ao número de acidentes e do-
enças, gravidade, baseado na intensidade do acidente (morte, invalidez,
afastamento) e custo, relativo aos gastos da Previdência com o pagamento
dos beneficios. Posteriormente aos cálculos das variáveis descritas aci-
ma, são atribuídos percentuais de acordo com os setores designados na
Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), possibili-
tando assim, que às empresas com menor ocorrência de acidentes de
trabalho seja imputado um menor percentual.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho é evidenciar perdas econômicas
advindas dos acidentes e doenças de trabalho no campo da Bioenergia de
acordo com a análise dos valores repassados ao Instituto Nacional de
Seguridade Social (INSS), nos anos de 2009 e 2010.
1. METODOLOGIA
O estudo preliminar em questão caracteriza-se como método docu-
mental, com pesquisa bibliográfica e utilização de dados secundários.
Estes foram coletados de fontes de dados do INSS, Ministério da Previ-
dência Social (MPS), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e do
Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e
compilados conforme o objetivo da pesquisa.
Foram escolhidos três ramos de trabalho no campo da Bioenergia:
trabalhadores do agronegócio sucroalcooleiro, trabalhadores do setor de
extração de biogás e trabalhadores que atuam na produção de biodiesel.
Estes ramos de trabalho foram escolhidos pela representatividade na pro-
dução de Bioenergia, no tocante a participação no Produto Interno Bruto
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 49
(PIB) brasileiro, bem como pela quantidade de empregos gerados.
As informações foram tabuladas conforme número de empregados
com carteira assinada no período de 2009 a 2010, bem como percentual
de variação MTE (2010). Secundariamente foi apresentada a frequência
de ocorrência e valores de beneficias concedidos em virtude de doenças
ocupacionais, acidentes de trabalho e pensão por morte MPS (2010). Em
todos esses itens descritos acima foram demonstrados os valores gastos
pela Previdência Social.
O MPS (2012) define beneficio concedido como o requerimento,
apresentado pelo segurado ou seus dependentes junto à Previdência Soci-
al, que é analisado e posteriormente deferido, desde que o requerente
preencha todos os requisitos necessários à espécie do beneficio solicitado
e liberado para pagamento. A concessão corresponde ao fluxo de entrada
de novos beneficios no sistema previdenciário.
Ainda de acordo com o site, os beneficios concedidos em virtude de
doenças do trabalho e acidentes de trabalho são classificados como auxílio
doença e auxílio acidente, respectivamente. O primeiro tem caráter tempo-
rário e é devido ao segurado que fica incapacitado por motivo de doença. O
auxílio acidente, regulamentado pela lei 9.032/95 é pago ao segurado que,
após as lesões decorrentes de acidente de trabalho, sofra redução de capaci-
dade funcional. Pode ser cumulativo com o auxílio doença, no entanto é
vedado quando da existência de liberação de aposentadoria.
2. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo o Dieese (2007), o setor sucroalcooleiro fatura direta e indi-
retamente, cerca de R$ 40 bilhões por ano, o que corresponde a aproxima-
damente 2,35% do PIB nacional, gerando aproximadamente 3,6 milhões
de empregos diretos e indiretos. Observa-se que apesar da magnitude
desse número, menos de um terço desses trabalhadores possuem carteira
assinada, e, portanto, gozam de direitos trabalhistas. Ainda segundo o
Departamento, os setores de extração de biogás e produção de biodiesel
encontra-se em franca expansão no quesito geração de emprego criando um total de 241.336 empregos com direitos previdenciários em dezem-
bro de 2010. A Tabela 1 demonstra a quantidade de trabalhadores com
carteira assinada dos setores em estudo ao fim do ano em 2009 e 2010,
bem como seu percentual de variação nesse período.
50 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Tabela 1 - Profissionais com CTPS assinada em 2009 e 2010 no campo da
Bioenergia. Grupos 2009 2010 A
Agronegócio Sucroalcooleiro 1.123.200 898.227 -20,63
Extração de Biogás 92.504 108.902 17,73
Produção de Biodiesel 114.773 132.434 15,39
Total 1.330.477 1.139.563 -14,35
Fonte: Dados compilados do Dieese
A queda acentuada no setor sucroalcooleiro deve-se, segundo o Die-
ese, a substituição gradual da colheita de cana manual para a mecanizada,
que até 2017 deve eliminar a queimada do manejo e substituir todo o
conceito do negócio até então baseado no uso intensivo de mão de obra,
para uso intensivo de tecnologia. Já os setores de biogás e biodiesel apre-
sentam crescimento dos postos gerados, visto que a gama de investimen-
tos nos mesmos encontra-se aquecida.
Os números da Tabela 2, a seguir, apresentam as ocorrências e os
valores dos benefícios pagos em decorrência de doença ocupacional.
Observa-se grande perda econômica e social, especialmente no setor su-
croalcooleiro, onde apesar da redução do número de ocorrências no perí-
odo, este se mantém elevado, especialmente quando comparado à quanti-
dade de postos de trabalho gerados, que como observado anteriormente
na Tabela 1, sofreu variação negativa da ordem de 20,63%. Já os setores
de Biogás e Biodiesel, performaram ligeira alta em virtude também da
menor quantidade de empregos apresentados. É interessante salientar
que não estão sendo considerados, por exemplo, os pequenos produtores
familiares que trabalham na produção de oleaginosas que alimentam a
indústria do Biodiesel, pois estes, em sua maioria, trabalham de forma
independente ou em cooperativas, portanto sem carteira assinada. Em
todos os casos, no entanto, observa-se perda financeira e social, já que
exemplifica desperdício de mão de obra nos grupos em estudo e prejuízo
para o governo e para as empresas.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 51
Tabela 2 - Ocorrência de Doença Ocupacional e valores de
benefícios concedidos.
2009 2010
Grupos Ocorrência Beneficio (RS) Ocorrência Beneficio (RS)
Agronegócio
Sucroalcooleiro
Extração de
Biogás
Produção de
Biodiesel
8.985
29.652,480
574
5.581.543
1.021
1.656.840
6.916
675
1.165
22.893.948
6.569.100
1.890.309
Fonte: Dados compilados do site do Ministério da previdência social
A Tabela 2 considera as ocorrências de doenças ocupacionais e os
valores médios de beneficios pagos durante o tempo em que os trabalha-
dores permaneceram impedidos de realizar suas atividades. Percebe-se
diminuição de 23% no número de incidentes de doença ocupacional nos
trabalhadores do ramo sucroalcooleiro, praticamente acompanhando a
redução do número de vagas do setor de um período para outro. Na extra-
ção de biogás observou-se aumento de 18% nos valores dos beneficios
pagos. Comparando-se ao percentual de vagas criadas de 2009 a 2010,
pode-se afirmar que possivelmente estas existiram apenas para substituir
os trabalhadores que permaneceram parados acometidos de algum tipo
de doença ocupacional. Na produção de biodiesel, nota-se uma pequena
evolução na ocorrência de doença ocupacional durante o período em
estudo, 14%, o que elevou também os valores dos beneficios pagos, no
entanto, ao contrário do setor de biogás criou proporcionalmente mais
vagas de emprego, comparadas com o número de trabalhadores impedi-
dos de realizar suas atividades devido a doenças laborais.
A fonte do custeio para cobertura de eventos advindos dos riscos
ambientais do trabalho, acidentes e doenças do trabalho, assim como as
aposentadorias especiais, baseiam-se na tarifação coletiva das empresas.
A tarifação coletiva está prevista no artigo 22 da lei 8.212/1991 que
estabelece as taxas de 1, 2 e 3% calculados sobre o total das remunerações
52 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
pagas aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, ;.VIPS (2012).
As Tabelas 3 e 4 evidenciam o número de acidentes de trabalho e
número de mortes, respectivamente, devido aos mesmos, no período em
estudo. A tabela 3 demonstra também os valores de benefícios concedidos
pela previdência social na forma de auxílio-acidente. Os valores relativos a
indenizações por morte não foram apresentados devido a possíveis
distorções que poderiam ocorrer devido morosidade desses processos na
justiça, que podem levar anos e até mesmo décadas para serem definidos.
Pode ocorrer, por exemplo, de urna indenização por morte, ocorrida devido a
acidente de trabalho, ser paga no ano de 2009 ou de 2010, dentro do período
de estudo da pesquisa, no entanto, esta ser relativa a um incidente ocorrido
em período anterior, fora do escopo do estudo. Devido ao curto espaço
temporal da pesquisa, esses valores foram suprimidos.
Tabela 3 - Ocorrência de Acidentes de trabalho e Auxílio-acidente pagos no período de 2009 a 2010.
Números de Registros / Auxílio Acidente (R$)
2009 2010
Grupos Ocorrência. Auxilio (RS) Ocorrência Auxílio (R$)
Agronegócio
Sucroalcooleiro
Extração de
Biogás
Produção de
Biodiesel
8478
27.977.000
844 8
.123.808
1002 9
.751.464
9132
679
994
30.135.000
6.608.028
9.673.608
Total 10324 45.852.272 10805 46.416.636
Fonte: Dados compilados do site do Ministério da Previdência Social.
Observa-se, que mesmo com a redução das vagas no setor sucroal-
cooleiro, devido à substituição gradual da mão de obra por capital intensivo, a
incidência de acidentes apresentou uma crescente de 7,7% e consequente
aumento dos benefícios pagos. Os setores de biogás e biodiesel, ao contrário,
apresentaram reduções do número de acidentes e, portanto redução dos
valores dos auxílios. Isto se deve, possivelmente, a campanhas preventivas
realizadas pelo maior empregador do setor, a Petrobrás, que também exige de
seus prestadores de serviço, a mesma metodologia de trabalho praticada na
estatal.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 53
Tabela 4 - Ocorrência de morte por acidente de trabalho em atividades no campo
da Bioenergia (2009 / 2010)
Número de Registras
Grupos 2009 2010 A %
Agronegócio
Sucroalcooleiro 1987 1789 -9,96%
Extração de Biogás 108 93 -13,89%
Produção de Biodiesel 73 81 10,96%
Total 2168 1963 -9,46%
Fonte: Dados compilados do site do Ministério da Previdência Social.
Em relação à ocorrência de morte causada por acidentes de trabalho,
observa-se redução nos setores sucroalcooleiros e de biogás, 9,96% e
13,89%, respectivamente. Já no ramo de produção de biodiesel houve
aumento de 10,96%, merecendo atenção e revisão dos processos por par-
te das empresas e governo.
Os resultados demonstram a grande perda financeira causada pelos
acidentes de trabalho e doenças ocupacionais nos trabalhadores do cam-
po da Bioenergia nos três ramos analisados. Os prejuízos são divididos
pelas empresas, governo e especialmente trabalhadores, que são acometi-
dos de incapacidade temporária ou permanente para realizar suas ativida-
des ou até mesmo de morte. Salienta-se ainda que o estudo foi realizado
apenas com os trabalhadores que têm acesso à carteira assinada e, portan-
to passíveis dos beneficios da Previdência Social.
Segundo pesquisa realizada em conjunto pelo Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o Serviço Social da
Indústria (SESI), de 2005, o custo total de um acidente é dado pela soma
de duas parcelas: uma refere-se ao custo direto (ou custo segurado), a
exemplo do recolhimento mensal feito à Previdência Social, para paga-
mento do seguro contra acidentes do trabalho, visando a garantir urna das
modalidades de beneficios estabelecidos na legislação previdenciária. A
outra parcela refere-se ao custo indireto (custo não segurado). Essa pes-
quisa informa que a relação entre os custos segurados e os não segurados
é de um para quatro, ou seja, para cada real gasto com os custos segurados,
54 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
são gastos quatro com os custos não segurados, como por exemplo, salá-
rio dos 15 primeiros dias após o acidente, transporte e assistência médica
de urgência, comoção coletiva ou do grupo de trabalho, destruição do
veículo ou equipamento, pagamento de horas extras, indenizações e ho-
norários legais, treinamento de substituto, elevação dos preços dos pro-
dutos e finalmente o custo da vida humana, este incalculável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os números tratados na cessão anterior evidenciam quadro preocu-
pante na situação das empresas, governo e especialmente os trabalhado-
res do campo da Bioenergia. Em 2009 foram gastos RS 82.743.135,00
em auxilio doença e auxílio acidente com um total de 23.072 ocorrênci-
as, incluindo-se as mortes por atividades laborais. Comparado com o ano
2010, onde o total desembolsado pelo Governo e pelas Empresas foi de
RS 77.726.993,00 e as ocorrências foram de 21524, detecta-se redução
dos números, explicados principalmente redução dos postos de trabalho
no setor sucroalcooleiro, que conforme comentado anteriormente está
substituindo a mão de obra intensiva por capital intensivo na forma de
tecnologia no campo.
Fazem-se necessário considerar que a pesquisa relacionou apenas
três grupos de trabalhadores no campo da Bioenergia, escolhidos pelo
número de empregos gerados e representação econômica. Vale lembrar
também que foram considerados apenas os acidentes laborais com Co-
municação de Acidente de Trabalho (CAT) e incluídos apenas os traba-
lhadores que possuem Carteira de trabalho registrada junto á Previdência
Social.
Mesmo com a redução dos valores dos beneficias concedidos pela
Previdência Social na ordem de 6,06%, esse número ainda é alto, oneran-
do em demasia, empresas e governo, e prejudicando, em alguns casos, de
forma definitiva o trabalhador e sua família.
Dessa forma, a alternativa mais viável para modificar essas estatísti-
cas é investir em prevenção e treinamento para os trabalhadores do cam-
po da Bioenergia. Como observado em toda a pesquisa a prevenção é a
forma mais barata e eficiente que existe no processo, o que nos mostram
nem tão eficientes medidas tomadas pelas
BICENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 55
organizações,deixando sempre para tratar o que já existe e não focando na
prevenção, devendo então ocorrer apelos aos governos, organizações de
empregadores e de trabalhadores que colaborem no desenvolvimento e
implantação de políticas e estratégias que possam prevenir e melhorar as
estáticas de campanhas de conscientização, da importância do uso de
equipamentos de segurança que são essenciais nesses setores, visto que
os trabalhadores são expostos a situações de risco diversas.
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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 57
CAPÍTULO 4
SOCIEDADE E BIOENERGIA: SAÚDE EM FOCO.
Grace Caroline Nery Jacobina
RESUMO
A degradação ambiental decorrente de atividades industriais e urbanas
estão atingindo níveis cada vez mais alarmantes e a otimização de novos
formas de energia vem ganhando espaço cada vez maior. Os cientistas e
pesquisadores do clima em escala mundial afirmam que este aquecimento
global está ocorrendo em função do aumento de poluentes, principalmente
de gases derivados da queima de combustíveis fósseis na atmosfera. A
poluição do ar das grandes cidades é, provavelmente, o mais visível impacto
da queima dos derivados de petróleo. A avaliação dos efeitos sobre a
saúde relacionados com os impactos das mudanças climáticas é
extremamente complexa e requer uma avaliação integrada com uma abor-
dagem interdisciplinar dos profissionais de saúde, climatologistas, cien-
tistas sociais, biólogos, fisicos, químicos, epidemiologistas, dentre ou-
tros, para analisar as relações entre os sistemas sociais, econômicos, bio-
lógicos, ecológicos e fisicos e suas relações com as alterações climáticas.
Por esse motivo, é de suma importância o entendimento das relações
existentes entre bioenergia, poluição, saúde e sociedade. Este trabalho
apresenta de maneira geral, um contexto de mudanças climáticas e ambi-
entais globais, em que as incertezas sobre a natureza de seu impacto na
escala dos ecossistemas locais se somam as complexidades das novas
realidades de um Brasil urbano, discutindo questões no enfrentamento
dos problemas no contexto da saúde pública e da bioenergia.
PALAVRAS-CHAVE: Mudança Climática; Bioenergia; Poluição; Saúde.
58 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
INTRODUÇÃO
Nestes últimos anos, mas principalmente no início deste milênio, os
cientistas estão chamando a atenção e alertando as pessoas sobre a rápida e
catastrófica mudança climática. Os meios de comunicação veiculam com
mais ênfase em seus noticiários e documentários o tema sobre o
Aquecimento Global e suas consequências nas mais diversas áreas do planeta
A pergunta que se faz hoje é quem ou o que pode estar provocando tudo
isso. Num modo geral, os cientistas e pesquisadores do clima em escala
mundial afirmam que o aquecimento global está ocorrendo em função do
aumento de poluentes, principalmente de gases derivados da queima de
combustíveis fósseis na atmosfera. A poluição do ar das grandes cidades é,
provavelmente, o mais visível impacto da queima dos derivados de
petróleo.
A degradação ambiental decorrente de atividades industriais e urbanas
estão atingindo níveis cada vez mais alarmantes e a otimização de novas
formas de energia vem ganhando espaço cada vez maior. Ao longo dos anos 80,
cresceu a preocupação de pesquisadores ligados a questões ambientais, com o
impacto dessas mudanças sobre os ecossistemas.
A busca pelo chamado green job — trabalho verde —, além de contri-
buir para a proteção do meio ambiente e reduzir as emissões de carbono na
atmosfera, pode ser um indício do melhor rumo a seguir no correr do século
XXI. O tema Mudança Climática vem movimentando a economia em larga
escala, na procura de tecnologias, equipamentos, construções, infraestrutura,
fornecendo maneiras de preservar os empregos já existentes como de criar
novas oportunidades (RENNER; SWEENEYS; KUBIT, 2008).
A divulgação do 4° relatório de avaliação do Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCCAR4) em fevereiro de 2007; o filme "Uma
verdade inconveniente", ganhador do Oscar de melhor documentário de 2007; o
tratamento midiático dado a uma série de eventos extremos do ponto de vista
climático, catastróficos e sociais, como o furação Katrina, que destruiu
Nova Orleans; a onda de calor na Europa em 2003, quando foi registrado um
excesso de mais de 44 mil mortes (KOSATSKY T., 2005); contribuíram
para trazer à tona e reforçar o debate sobre as origens e os efeitos das
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 59
mudanças climáticas em escala global, mesmo sem consenso para suas
determinações causais.
As mudanças climáticas podem ser entendidas como qualquer mu-
dança no clima ao longo dos anos, devido a variabilidade natural ou
como resultado da atividade humana (IPCC, 2007a). O Painel Intergo-
vemamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou recentemente
que há 90% de chance de o aquecimento global observado nos últimos 50
anos ter sido causado pela atividade humana (I PCC, 2007b), através do
aumento das emissões de gases de efeito estufa.
A recuperação de dados mais remotos sobre o clima da Terra tem
sido possível através da análise da composição de testemunhos de gelo do
Ártico e Antártica. Esses dados têm demonstrado que as concentrações
de CO2 (dióxido de carbono) e de CH4 (metano) na atmosfera nunca
foram tão altas nos últimos 600.000 anos (IPCC, 2007a). O aumento do
efeito estufa, causado pela acumulação de gases, produziu um acréscimo
de um grau Celsius na temperatura média ao longo do último século.
As mudanças climáticas refletem o impacto de processos socioeco-
nômicos e culturais, como o crescimento populacional, a urbanização, a
industrialização e o aumento do consumo de recursos naturais e da de-
manda sobre os ciclos biogeoquímicos (McIVIICHAEL, 1999; CONFA-
LONIERI et al, 2002).
No Brasil, destaca-se o papel do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), notadamente o Centro de Previsão de Tempo e Estu-
dos Climáticos (CPTEC) monitoramento e desenvolvimento de Mo-
delos Globais Atmosféricos (GCMs) e Modelos Globais Acoplados Oce-
ano-Atmosfera (A0GCMs) para a previsão d.e mudanças cliniáticas (MA-
RENGO, 2007).
Entretanto, o evento El Nino de 1997-1998 chamou a atenção devi-
do as graves consequências em nivel mundial, com prejuízos fisicos e
econômicos (seca, inundação, perda de produtividade agrícola etc.) e per-
das em vidas humanas. Apesar da dificuldade para reuffir dados homogê-
neos e completos, o Compendium ofclimate variability indica que quase 10
milhões de pessoas foram afetadas ou deslocadas pelos efeitos desastrosos
desse fenômeno (SARI KOVATS, 2000).
60 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
1.FEITOS NA SAÚDE
Desde esse evento de El Nino, epidemiologistas e entomologistas
começaram a dar uma atenção especial aos impactos dos grandes fenômenos
climáticos sobre a saúde. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
publicou um estudo especifico sobre o tema em 1999 que enfatizou a
permanência de eventos como El Nino e os desafios para não esquecer e
repetir erros do passado (ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA
SALUD, 2000). Entretanto, a maior parte dos estudos que relacionam esse
acontecimento a doenças vetoriais e é feita no nível planetário ou continental
(GITHEKO et aL, 2000; GAGNON et al., 2002; BASHER CANE, 2002;
THOMSON et al., 2003) enquanto que os impactos de El Nino são muito
variáveis de acordo com a intensidade do evento e as regiões que ele atinge
(DESSAY et al., 2004).
A identificação da influência humana na alteração do clima e um dos
principais aspectos analisados pelo Terceiro Relatório (Third Assessment Report -
TAR) do (IPCC, 2001b). Nas regiões tropicais e subtropicais da América do Sul,
África, sudeste da Ásia e parte da Oceania estão os países que mais queimam
biomassa em todo o globo terrestre (FREITAS et al., 2005) contribuindo
diretamente para o fenômeno das mudanças climáticas globais. Na América
do Sul, as estimativas de liberações de partículas de aerossóis para a
atmosfera por queima de biomassa representam um terço do total do material
particulado liberado mundialmente para a atmosfera, chegando a 34 Tg/ano
de partículas (ANDREAE, 1991).
A população humana sob influência das mudanças climáticas apresentará
os efeitos, de origem multicausal, de forma exacerbada ou intensificada. A
avaliação dos efeitos sobre a saúde relacionados com os impactos das
mudanças climáticas e extremamente complexa e requer uma avaliação
integrada com uma abordagem interdisciplinar dos profissionais de saúde,
climatologistas, cientistas sociais, biólogos, fisicos, químicos,
epidemiologistas, dentre outros, para analisar as relações entre os sistemas
sociais, econômicos, biológicos, ecológicos e fisicos e suas relações com as
alterações climáticas (McMICHAEL, 2003).
O aquecimento global pode ter consequências diretas sobre a morbidade e
mortalidade, por meio da produção de desastres como enchentes, ondas
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 61
de calor, secas e queimadas. A onda de calor que atingiu a Europa Ocidental
no verão de 2003 causou cerca de 12.000 óbitos (KOSATSKY T., 2005)
na França.
2. EFEITOS NA DINÂMICA DAS DOENÇAS
As flutuações sazonais produzem efeitos na dinâmica das doenças
vetoriais, como por exemplo, dengue e malária Os eventos extremos in-
troduzem considerável flutuação que afetam a dinâmica das doenças de
veiculação hídrica, como a leptospirose, as hepatites virais, as doenças
diarreicas, etc. Essas doenças podem se agravar com as enchentes ou
secas que afetam a qualidade e o acesso a água. Da mesma forma, as
doenças respiratórias são influenciadas pôr queimadas e os efeitos de
inversões térmicas que concentram a polu4o, impactando diretamente
a qualidade do ar, principalmente nas áreas urbanas. É clara a relação
entre alguns efeitos na saúde devido as variações climáticas e os níveis de
poluição atmosférica, tais como os episódios de inversão térmica, au-
mento dos níveis de poluição e o aumento de problemas respiratórios,
parece inevitável que as mudanças climáticas de longo prazo possam
exercer efeitos a saúde humana em nível global.
Em áreas urbanas quando ocorrem alterações climáticas alguns efei-
tos da exposição a poluentes atmosféricos são potencializados. Isto se
verifica em relação a asma, alergias, infecções bronco-pulmonares e in-
fecções das vias aéreas superiores (sinusite), principalmente nos grupos
mais susceptíveis, que incluem as crianças menores de 5 anos e indivídu-
os maiores de 65 anos de idade. Os efeitos da poluição atmosférica na
saúde humana têm sido amplamente estudados em todo o mundo. Estu-
dos epidemiológicos evidenciam um incremento de risco associado às
doenças respiratórias e cardiovasculares, assim como da mortalidade ge-
ral e especifica associadas a exposição a poluentes presentes na atmosfera
(POPE et al., 1995; ANDERSON et al., 1996; RUMEL et al., 1993;
CIFUENTES et al., 2001).
Segundo a OMS, 50% das doenças respiratórias crônicas e 60% das
doenças respiratórias agudas estão associadas a exposição a poluentes
atmosféricos. A maioria dos estudos relacionando os níveis de poluição
62 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
do ar com efeitos a saúde foram desenvolvidos em áreas metropolitanas,
incluindo as grandes capitais da Região Sudeste no Brasil, e mostram
associação da carga de morbimortalidade por doenças respiratórias, com
incremento de poluentes atmosféricos, especialmente de material parti-
culado (SALDIVA et ai 1994; GOUVEIA et aí, 2006).
As emissões gasosas e de material particulado para a atmosfera deri-
vam principalmente de veículos, indústrias e da queima de biomassa. No
Brasil, as fontes estacionárias e grandes frotas de veículos concentram-se
nas áreas metropolitanas localizadas principalmente na Região Sudeste,
enquanto a queima de biomassa ocorre em maior extensão e intensidade
na Amazônia Legal, situada ao norte do país. Segundo o inventario brasi-
leiro de emissões de carbono, 74% das emissões poluentes atmosféricos e
sobre as áreas afetadas pela pluma oriunda do fogo. Se os ventos predomi-
nantes dirigirem-se para áreas densamente povoadas, um número maior
de pessoas estará sujeito aos efeitos dos contaminantes. Esse é o caso do
Sudeste Asiático, onde queimadas provocam nevo a de poluentes de ex-
tensão regional com impactos a saúde de centenas de milhões de pessoas
(RIBEIRO; AS SUNÇAO).
Alguns estudos evidenciam que a associação entre altas temperaturas
e elevadas concentrações de poluentes atmosféricos pode gerar um incre-
mento das hospitalizações, atendimentos de emergência, consumo de
medicamentos e taxas de mortalidade. A interação entre poluição e clima
também deve ser considerada como fator de risco para as doenças do
coração, seja como consequência de stress oxidativo, infecções respirató-
rias ou alterações hemodinâmicas. O aumento da temperatura também
esta associado ao incremento de partículas alergênicas produzidas pelas
plantas, aumentando o numero de casos de pessoas com respostas alérgi-
cas e asmáticas (ZAMO RANO et al., 2003; UNITED STATES DEPART-
MENT OF STATE, 2007).
O contexto de mudanças climáticas e ambientais globais, em que as
incertezas sobre a natureza de seu impacto na escala dos ecossistemas
locais se somam ás complexidades das novas realidades de um Brasil
urbano, sugere novas questões no enfrentamento dos problemas no con-
texto da saúde pública.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL TI 63
3. O BRASIL E SUA CONTRIBUIÇÃO NA AGROENERGIA X
SAÚDE E MEIO AMBLEIN'LL
O Brasil, por situar-se, predominantemente, na faixa tropical e sub-
tropical do planeta, recebe, ao longo do ano, intensa radiação solar. "A
energia solar é a base da produção de bioenergia e a densidade fotossinté-
tica depende, diretamente, da quantidade de radiação solar incidente"
(R ODRIGUES, 2005).
Ainda segundo Rodrigues (2005), o país apresenta diversidade de
clima, exuberância de bio diversidade, em decorrência de sua extensão e
localização geográfica, e detém um quarto das reservas superficiais e sub-
superficiais de água doce. O Brasil é reconhecido pela sua liderança na
geração e implantação de tecnologia de agricultura tropical, associada a
uma firme e atuante agroindústria, podendo alavancar um negócio pode-
roso na área de agroenergia, pois o crescimento da demanda nesta área
virá da pressão social pela substituição dos combustíveis fósseis.
A agricultura é uma alternativa viável, do ponto de vista econômico,
social, pois gera renda e emprego no setor rural e apresenta vantagens
ambientais, além de promover a geração de energia renovável, em larga
escala, e reduzir custos em relação ao petróleo. Segundo Rodrigues (2005),
promove o desenvolvimento sustentável do interior do Brasil, em especi-
al, nas regiões remotas.
Há perspectiva de incorporação de áreas à agricultura de energia,
sem competição com a agricultura de alimentos, e com impactos am-
bientais circunscritos ao socialmente aceito, pois seriam utilizadas
áreas de expansão de cerrados, a integração pecuária/lavoura, a recu-
peração de pastagens, a ocupação de áreas de pastagens degradadas e
outras áreas antropizadas, as áreas de reflorestamento e a incorpora-
ção de áreas atualmente marginais, que pode aproximar-se de 200
milhões de hectares/ano, quando projetado em longo prazo (2030)
(RODRIGUES, 2005).
A preocupação com a questão ambiental não vem recebendo a mes-
ma atenção que o aumento de produção, fatores essenciais para a susten-
tabilidade da agricultura canavieira não estão sendo levados em conta, e
embora seja indiscutível o avanço ambiental ocasionado pela substitui-
64 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
ção de boa parte dos combustíveis fósseis pelo etanol, principalmente nos
grandes centros urbanos, não se pode dizer o mesmo dos impactos ecoló-
gicos de seu processo produtivo como a degradação de ecossistemas, po-
luição atmosférica causada pelas queimadas, poluição de cursos d'água e
do lençol freático causado pela aplicação excessiva de agrotóxicos. Tam-
bém a rotina de trabalho nos canaviais se equipara a vida útil dos cortado-
res à dos escravos do início da colonização brasileira. Devido à ação
repetitiva e ao esforço fisico, o trabalhador, com o passar do tempo, co-
meça a apresentar problemas sérios de coluna, nos pés, cairribras e tendi-
fites, já que chega a colher em torno de 15 toneladas de cana-de-açúcar
por dia (ALVES, 1992).
Segundo Mota (2009) a existência de sociedades marcadas por desi-
gualdades sociais e problemas ambientais resgata a importância para pes-
quisas com abordagens integradoras, que incorporem as dimensões sócio
políticas, ambientais e económicas. Dessa forma, torna-se possível uma
discussão sobre a estrutura de produção que existe em algumas socieda-
des, que podem comprometer a promoção da saúde e da qualidade de
vida das comunidades, principalmente, as mais vulneráveis.
Rozemberg (2005) destacou a escassez de estudos com grupos ru-
rais na área da saúde coletiva, particularmente, na área de saúde do
trabalhador, citando que a maior parte dos estudos, aborda a relação
entre a exposição e o adoecimento relacionados à utilização dos agrotó-
xicos que permanecem, mesmo com toda discussão acadêmica e política,
como um dos principais problemas de saúde pública no meio rural
brasileiro.
Dessa forma, torna-se necessária e fundamental a melhoria das con-
dições de vidas e trabalho dos trabalhadores do setor, evitando que estes
morram por excesso de trabalho, ou venham a adoecer, ou venham a
integrar precocemente o enorme batalhão de mutilados e afastados da
vida laborai. Nesse sentido, é preciso empreender mudanças no processo
de trabalho e estar atentos à necessidade de novas pesquisas e investimen-
tos no setor, visando à manutenção da biodiversidade e à melhoria na
qualidade de vida do trabalhador e da comunidade rural envolvida no
processo de produção da bioenergia.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade atual se encontra frente a um grande desafio no que diz
respeito ao setor da saúde. As mudanças climáticas representam uma
série de exposições a diversos fatores de risco, a causa mais distai dessas
exposições e a alteração do estado ambiental devido a acumulação de
gases do efeito estufa. Deve-se ressaltar que o modelo de desenvolvimento
e a própria produção de energia causam mudanças climáticas, mas
também problemas de saúde pela poluição do ar, que resulta em mais de
800 mil óbitos por ano; acidentes de (rânsito, que causam 1,2 milhões de
óbitos por ano e a redução da atividade fisica, que resulta em 1,9 milhões
de óbitos por ano (WORLD HEALTH ORGA_NIZATION, 2007).
Segundo Confaloniere (2005), o mundo vem passando por mudan-
ças que não estão limitadas apenas a aspectos climáticos. Paralelo aos
processos de mudanças climáticas, vem se acelerando a globalização (au-
mentando a conectividade de pessoas, mercadorias e informação), as
mudanças ambientais (alterando ecossistemas, reduzindo a biodiversida-
de e acumulando no ambiente substâncias tóxicas) e a precarização de
sistemas de governo (reduzindo investimentos em saúde, aumentando a
dependência de mercados e aumentando as desigualdades sociais).
Os riscos associados às mudanças climáticas globais não podem ser
avaliados em separado desse contexto. As transformações sociais e tecno-
lógicas ocorridas no mundo nas ultimas décadas permitem antever que os
comprometimentos da saúde adquiriram, ao longo dessas décadas, outras
características, além dos fatores biológicos intrínsecos. A possibilidade
de prevenir, diagnosticar e tratar algumas pessoas e excluir outras desses
sistemas aprofundou as diferenças regionais e sociais de vulnerabilidades
e transformou as desigualdades sociais num importante diferencial de
riscos ambientais.
Cabe ao setor saude„ e a toda a sociedade, não só prevenir esses riscos
fornecendo respostas precisas para os impactos causados pelas mudanças
ambientais e climáticas, mas atuar efetivamente na redução de suas vul-
nerabilidades sociais, por meio de mudanças radicais rio comportamento
individual, social e político, por um mundo sustentável mais saudável e
justo com as gerações futuras.
66 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
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70 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
CAPÍTULO 5
HISTÓRICO E PERSPECTIVAS SOBRE O ETANOL:
O PANORAMA BRASILEIRO.
Claudia Treumann Rocha
Rodolfo Bello Exler
Thiago Bruce
Astra' a Dias Ferrão- Gonzales
RESUMO
No Brasil, os elevados números apontam que o país possui domínio da
tecnologia de produção de etanol de primeira geração, aquele que emerge
a partir da extração do caldo da cana-de-açúcar, por meio da fermentação
alcoólica da sacarose. Desde 1970, quando esse combustível ganhou
notoriedade nacional, o mesmo se manteve presente na matriz energética
do país ganhando diferentes formas e proporções. Por possuir expertise
na produção do etanol de 1a geração, os investimentos brasileiros em
PD8z.I objetivando o aperfeiçoamento do uso de matéria-prima lignoce-
lulósica podem atuar como relevante alternativa para diversificar a pro-
dução do biocombustível.
PALAVRAS-CHAVE: Etanol; Biomassa; Biocombustível.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 71
INTRODUÇÃO
Ao longo da história, a questão energética sempre se apresentou como
importante agente relacionado às formas de crescimento e desenvolvi-
mento de um pais (SILVA et al, 2007). Acerca desse tema, Nascimento &
Abres (2012) complementam que a disponibilidade de energia para o
consumo diário em qualquer que seja a sociedade observada, consiste em
um fator fundamental para a qualidade de vida de seus cidadãos. Desde a
antiguidade, o homem busca mecanismos facilitadores para execução de
suas tarefas. No início da era industrial, o domínio da energia do vapor
transformou a sociedade, entretanto anos após, com o descobrimento do
petróleo e o consequente desenvolvimento tecnológico para sua extração
e beneficiamento, este combustível fóssil não renovável tornou-se o prin-
cipal responsável pela geração de energia no mundo.
Assim, a energia, em proporções cada vez maiores, se consolidou
como um bem de caráter decisivo para o desenvolvimento social e
econômico. Como consequência desse panorama, organismos interna-
cionais, nacionais e locais tornaram-se obrigados a empregar maior
atenção no que concerne às novas formas de negócio, às possibilidades
de utilização eficiente e também aos efeitos gerados pela emissão de
CO, originado pelas fontes de energia até então predominantes (GOU-
VEIA, 2006).
Com a matriz energética mundial baseada acima de 80% em com-
bustíveis fósseis, a grave crise ambiental amplamente discutida durante
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, que ocorreu no
Rio de Janeiro em 1992, conhecida como Eco-92, instigou as buscas por
energias renováveis (hidráulica, eólica, solar, geotérmica e biomassa).
Não que há previsão de substituição em curto prazo, mas existe a neces-
sidade de busca por alternativas energéticas renováveis e a comunidade
científica mundial trabalha nesta direção (BERMANN, 2008).
O somatório de questões sociais (possibilidade de acesso à renda de
pequenos produtores), econômicas (dependência do petróleo e a segu-
rança energética), geopoliticas (instabilidade política em regiões produ-
toras de petróleo) e ambientais (emissão de gases de efeito estufa GEE)
ligadas às fontes alternativas de energia, permitiu que o etanol ganhasse
72 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
destaque nas rotas de discussão. De maneira gradativa o biocombustível passou
a ser ponto de interesse para a máquina pública, pesquisadores e empresas que
tiveram que fazer frente às pressões associadas à oscilação de preços do
petróleo, possibilidade de esgotamento das fontes não renováveis de
combustíveis fósseis e das preocupações de natureza ambiental diante da
necessidade de redução da emissão de substâncias que comprometem o meio
ambiente (BASTOS, 2007).
Registros apontam que a produção de etanol no Brasil possui seu inicio
estabelecido na década de 1920. Entretanto, somente nos anos 70, mais
precisamente em 1975, é criado o Proálcool (Programa Nacional do Álcool),
destacando-se como o marco da energia renovável no país, sendo o incentivo
para a produção de biocombustível, e pela tentativa de reduzir a importância
do petróleo na matriz energética nacional. Além disso, essa iniciativa tinha
como objetivo diminuir dependência relacionada a uma matriz produzida
essencialmente fora do país.Nesse período , estabeleceu-se um mercado
fortemente regulado em aspectos como controle de preços, oferta compulsória e
subsídios para que dessa forma fosse possível estabelecer garantias para a adoção
do etanol como substituto da gasolina, reduzindo ainda a dependência externa ao
petróleo e seus elevados preços (WILKINSON HERRERA, 2010).
Sendo assim, o objetivo deste trabalho é apresentar a relevância do etanol
como importante biocombustível produzido no país, destacando sua
trajetória nacional ao longo do tempo.
1. ENERGIAS RENOVÁVEIS: BIOCOMBUSTÍVEIS
Energias renováveis são aquelas disponibilizadas pela natureza de forma
cíclica. Embora seja um assunto estratégico para as nações, sua utilização
ainda se constitui de forma reduzida a nível mundial. No entanto, com o
crescimento da população e demanda crescente por energia, pesquisas
apontam a necessidade imperativa de utilização de alternativas viáveis como
fonte de energia "limpa". Na esfera brasileira, a presença de fontes
renováveis possui maior percentual na matriz nacional, sendo a biomassa
uma das principais fontes utilizadas (COSTA & PRATES, 2005).
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 73
Tabela 1: Rankind de investimentos em energia renovável (dez. 2011).
Posição País Investimento em
2011 (bil. US$)
Investimento em
2010 (bil. US$)
1 EUA 48 33,7
2 China 45,5 45
3 Alemanha 30,6 32,1
4 Itália 28 20,2
5 Outros - União
Euro • eia
11,1 15,2
6 India 10,2 6,6
7 Reino Unido 9,4 7,0
8 Japão 8,63 7,0
9
10
Espanha
Brasil
8,6
8,0
6,9
6,9
Fonte: The Pew Charitable Trust (2012)
O mundo tem feito, de maneira geral, crescentes investimentos em
energia limpa conforme apresentado na tabela 1, onde o Brasil aparece
com o décimo lugar, tendo 49% de crescimento nesses investimentos
entre 2006 - 2011. Ainda com dados de The Pew Charitable Trust (2012),
a capacidade mundial instalada de energia limpaj em 2011 era de 565
GW, sendo que, aproximadamente, 43% referem-se à energia eólica,
33% hidráulica, 13% energia fotovoltaica, 10% biomassa, 1,9% geotér-
mica e 0,1% energia das marés. No Brasil, segundo o Balanço Energético
Nacional do Ministério de Minas e Energia (BRASIL, 2013), 42,4% da
energia é de fontes renováveis e 57,6% de fontes não renováveis.
A biomassa — matéria orgânica de origem vegetal ou animal - contém
energia química conseguida pela fotossíntese no caso de plantas verdes.
Com elevada taxa de incidência solar, condições edafoclimáticas favorá-
veis e disponibilidade de terras agricultáveis, nosso país ocupa posição
favorável para uso da biomassa. Esta pode servir de fonte de energia com
combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos (COUTO et al, 2004).
A utilização do termo biocombustível refere-se a todo tipo de combus-
tível, líquido ou gasoso, que seja produzido tendo a biomassa como maté-
74 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
ria prima. Sua utilização em automotores é uma das principais
destinações para os biocombustíveis, sendo que, nesse âmbito,
dispõem-se os biocombustíveis líquidos representados pelo metanol,
etanol, butanol e biodiesel e que podem ser usados em locomotivas,
veículos terrestres e aeronaves (DEMIRBAS, 2008).
A segurança energética, econômica e ambiental pode ser destacada
como um dos muitos beneficios capazes de emergir da utilização dos
biocombustíveis. Entretanto outros tantos desafios são propostos para al-
cançar tais beneficios, tais como o suprimento da demanda nacional,
alocação de recursos, estabilidade de preços, avanços no desenvolvimen-
to rural, desenvolvimento de políticas para uso da água e do solo, defini-
ção e acompanhamento de critérios para redução da emissão de gases de
efeito estufa (GEE), dentre outros (HOEKMAN, 2009).
2. ETANOL: ENERGIA A PARTIR DA BIOMASSA
De acordo com UNICA (2007), etanol e álcool etílico se destacam
como sinônimos, pois ambos se referem a um tipo de álcool que traz em
sua composição carbono, hidrogênio e oxigênio, sendo representado pela
fórmula: C2H50H. Ao citar a produção do etanol, é salutar a diferenciação
entre o etanol anidro (ou álcool etílico anidro) e o etanol hidratado (ou
álcool etílico hidratado). Tal diferença se faz devido ao teor de água
apresentado no etanol uma vez que para o etanol anidro o teor de água fica
em torno de 0,5%, em volume, enquanto que para o hidratado, aquele
vendido nos postos de combustíveis brasileiros, esse quantitativo chegue a 5%
de água. Ressalta-se que no processo produtivo industrial do etanol, o tipo
hidratado é oriundo das colunas de destilação enquanto que para o etanol
anidro se faz necessária a utilização um processo adicional que almeja
promover maior retirada da água presente (UNICA, 2007).
Os combustíveis não fósseis que se apresentaram como alternativa
inicial, os chamados de 1a geração, no caso do etanol, são produzidos a
partir de milho e cana-de-açúcar. Embora sejam amigáveis ao meio ambi-
ente e facilmente convertidos em biocombustíveis, sofrem pressões com
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 75
relação à segurança alimentar e nutricional pela competição com o uso
da água, áreas cultiváveis e destinação do produto (RODRIGUES, 2011). A
produção de etanol através da fermentação de açúcares derivados do
milho ou cana-de-açúcar está com sua rota de produção próxima dos limites
teóricos de eficiência industrial, entre 80 e 90% (CGEE, 2007).
A demanda crescente de energia fez com que outras rotas de produ-
ção estivessem em fase de pesquisa, desenvolvimento e implantação. Al-
guns países incentivam a sua produção através de apoio governamental,
estimulando a regionalização da produção de biomassa, criação de mer-
cado e apoio para instalação de plantas em escala piloto ou de escala
comercial. No Brasil, a criação do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia
e Inovação (PACTI) 2007-2010, pelo Ministério da Ciência e Tecnolo-
gia, que em seu Eixo III atribui prioridade aos biocombustíveis, dá ênfa-
se ao desenvolvimento de processos de hidrólise enzimática de materiais
celulósicos e lignocelulósicos, bem como aos trabalhos de identificação e
otimização de processos para transformação da biomassa em etanol
(NYKO et al, 2010).
Ainda sobre o dilema colocado pela competição entre fontes alimen-
tares sendo utilizadas como matéria-prima para bioetanol, gerando inse-
gurança alimentar, Rodrigues (2011) complementa que as limitações com
relação ao binômio alimento X energia são amenizadas quando se fala em
combustível de 2a geração, aqueles produzidos a partir de resíduos ligno-
celulósicos da produções agrícolas, florestais e industriais, que não são
fontes alimentares diretas para humanos. O bioetanol lignocelulósico,
conhecido também como etanol de 2a geração, é fabricado à partir de
material lignocelulósico após tratamento químico (hidrólise ácida) para
converter em açúcares fermentáveis os componentes da biomassa (celu-
lose, hemicelulose e lignina). A biomassa lignocelulósica pode também,
ser utilizada para fabricação de etanol à partir de conversão bioquímica —
com uso de coquetéis enzimáticos ou hidrólise enzimática por fungos,
para processar os componentes da matéria-prima (resíduos vegetais) de
forma a permitir posterior fermentação alcoólica, sendo este bioetanol
dito de 3' geração (BUCKERIDGE et al, 2009; RODRIGUES, 2011).
76 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
3 ETANOL NO BRASIL
Os números verificados no Brasil apontam que o país possui domínio da
tecnologia de produção de etanol de primeira geração, aquele que emerge a partir
da extração do caldo da cana-de-açúcar, por meio da fermentação alcoólica da
sacarose. Esse combustível ganhou notorieda de no Brasil durante a década de 1970,
momento em que eclodia a crise energética mundial que motivou a criação do
Programa Nacional do Álcool — Proálcool, que apresentava como objetivo maior a
redução da dependência brasileira em relação ao petróleo. A ação do programa fez
do Brasil o segundo maior produtor mundial de etanol, atrás apenas dos Estados
Unidos (JOÃO et al, 2012).
O referido programa, instituído diante do Decreto Federal n° 76.593, de 14 de
novembro de 1975, apresentou como meta em um primeiro momento a implantação
do etanol como aditivo à gasolina consumida no Brasil. Somente em sua segunda fase,
no ano de 1979, sua utilização na forma pura, sob a nomenclatura de E100 foi proposta
para uso direto nos motores (GOLDEMBERG et al, 2008 ; VIERA JUNIOR et al.,
2008).
Este programa, que trouxe incentivos fiscais e crédito para a instalação de
destilarias, teve raízes nas politicas de modernização e inovação na agricultura,
implantadas pelo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAÁ) no final dos anos 1960.
Houve modernização das usinas, inovação nas variedades da cana-de-açúcar, ganho
de escala. A pesquisa tecnológica dos estados do sudeste reforçaram as diferenças
regionais, bem como a integração entre agroindústria e indústrias de máquinas e
equipamentos que, instaladas nas proximidades, facilitaram a expansão da produção de
bioetanol, principalmente em São Paulo (VIAN & RIBEIRO, 2008).
Segundo Vian & Ribeiro (2008), em 1980 a produção de etanol se estabilizou, uma vez
que o principal incentivo ao uso do álcool, o elevado preço do petróleo, sofreu um declínio.
Grande crise de abastecimento deste biocombustível ocorreu então, com nova retomada do
incentivo à produção de bioetanol somente a partir dos anos de 2000, quando as discussões
climáticas ganharam força e permitiram a mudança na matriz energética nacional.
3.1 Produção de etanol do Brasil
Conforme verificado anteriormente, o etanol possui como ponto de partida para
sua produção uma diversidade de fontes vegetais, entre elas a cana-de-açúcar e o
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 77
sorgo sacarino, que oferecem açúcares fermentáveis, ou fontes amiláceas como
milho, através de hidrólise, que tem maior custo de produção e menor eficiência
energética que as anteriores (SOUZA, 2011). Dentre as rotas de produção disponíveis,
a cana-de-açúcar é a que oferece, atualmente, mais vantagens energéticas e econômicas
para o Brasil, e desse modo, o pais somente produz etanol deste vegetal (ANP, 2013).
Corroborando com essa temática, um resultado complementar que permite
ratificar o aumento produtivo de etanol se refere a crescente expansão de áreas
destinadas ao plantio da cana-de-açúcar no país. Andrade e Verissimo (2011) apontam
que o cultivo dessa matéria prima vem sendo introduzido em diversas áreas que até
então não possuíam tradição no segmento, fato responsável por uma diversidade de
discussões acerca dos possíveis efeitos de transbordamentos oriundos das novas
tendências perante a dinâmica de ocupação das terras nas regiões brasileiras em fun-
ção da atratividade da produção de etanol.
Para ilustrar, o gráfico 1 evidencia a evolução da área colhida de cana-de-açúcar
no Brasil no período 1970, nas proximidades do inicio do Proálcool, quando a mesma era
de aproximadamente 1.725.121 hectares (ha), até o ano de 2010, quando este
quantitativo alcançava a marca de 8.612.294 ha.
78 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Furtado et al (2007) aponta que mesmo diante do alvoroço inicial e sucesso
relativo aos esforços empreendidos, o primeiro momento de salutar interesse pelo
etanol como fonte alternativa de energia viável foi fugaz. Embora que nos anos 80 a
maior parte das novas vendas de automóveis era dos modelos integralmente movidos a
etanol, logo na década seguinte, 1990, o Brasil teve a imperativa necessidade de
importar o produto dos Estados Unidos para conseguir manter a mistura na gasolina
pela falta da oferta interna do produto.
Masiero e Lopes (2008) afirmam que, entre 1975 e 2000, o Brasil produziu em
torno de 5,6 milhões de automóveis com motores a álcool.Além disso, foi
aprovado o uso e comercialização da mistura de etanol anidro e gasolina, de forma
gradativa, atingindo hoje a exigência de 25% de mistura. Entretanto, a produção de
etanol não acompanhou a demanda interna, tendo em 1995 a importação de etanol
atingido volume de quase 1.500 m3 (BRASIL, 2013).
Os automóveis que circulam no País usam dois tipos de etanol combustível: o
hidratado, consumido em motores desenvolvidos para este fim, e o anidro, que é
misturado á gasolina, sem prejuízo para os motores, em proporções variáveis. Desde
julho de 2007, a partir da publicação da Portaria n° 143 do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, toda gasolina vendida no Brasil contém 25% de etanol
combustível anidro (ANP, 2013).
A retomada da produção de etanol a partir de 2003 se deu, também, pela
produção de veículos com a tecnologia bicombustível, onde motores trabalham com
mistura gasolina/etanol em proporções diversas. Além disso, pressões mundiais para
busca de energias sustentáveis e diminuição na emissão de gases do efeito estufa
tiveram também contribuição para o incremento da fabricação deste biocombustivel
(BERMANN, 2008).
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 79
30 000.000
25.000.000
20.000.000
15.000.000
10.000.000
5.000_000
o
Ano /Safra
Gráfico 2 - Produção Nacional de Etanol
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da
UDOF (2013) (*) Valores atualizados em 01/04/2013
Como visto no gráfico 2 a retomada da produção de etanol no país, atinge valores
consideráveis, colocando este combustível com importante papel na matriz
energética do país. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(2013) mostram o tamanho deste mercado que, na safra 2009/2010 produziu
25.738 mil m3 de etanol, sendo aproximadamente 27% anidro, exportou 2.940 m
3
que renderam U$$ 1.239 milhões, importou 41 mil m3 e consumiu 23.230 mil m3,
sendo quase 70% hidratado. Para o mesmo período (2009/2010) a produção mundial
de etanol alcançou a marca de 85 milhões de m3 (GRFA, 2012)
O mercado consumidor desenvolvido, aliado aos beneficios ambientais do uso do
álcool e exportações em alta, se contrapõe aos problemas de competição pela
mesma matéria-prima com o açúcar, que vem obtendo bons rendimentos no mercado
mundial de commodities, barreiras alfandegárias em alguns países, dificuldades em
logística de estoque e distribuição e, por fim, estagnação da rota tecnológica para o
etanol de 1a geração.
80 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Assim uma outra proposta, o etanol celulósico, traz inúmeros benefícios, sendo em
essência um combustível que favorece a sustentabilidade. Conforme Rodrigues (2011),
embora ainda em estágio pré-comercial, provem de matéria-prima barata e
facilmente encontrada, permitindo produção de biocombustíveis e, possivelmente,
outros produtos da chamada "química verde", trazendo o conceito de biorrefinarias,
revitalizando áreas rurais e contribuindo para minimizar impactos sociais.
Vale destacar que no ano de 2010, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos (U.S.Environmental Protection Agency — EPA) enquadrou o etanol de cana
de açúcar brasileiro na classificação de biocombustível avançado, o que implica na
comprovação de que o mesmo possui capacidade de reduzir em pelo menos 50% as
emissões de gases de efeito estufa quando comparado à gasolina. Diversos estudos
realizados ao longo dos anos confirmam a condição de que essa redução
proporcionada pelo etanol da cana é ainda superior a essa exigência mínima,
podendo chegar a um quantitativo em torno de 90% (ÚNICA, 2013).
Além do mercado interno, o bioetanol produzido no Brasil também é destinado à
exportação para os mercados norte-americano e europeu. Politicas para redução de
poluição nas cidades americanas e a assinatura do Protocolo de Kyoto em 1997 por
várias nações da Europa, aumentam o volume das exportações conforme visto no
Quadro 1.
Outros países também buscam novas soluções energéticas em decorrência da
expansão de mercados consumidores como a China e Índia. Os Estados Unidos,
tradicionalmente grande consumidor de petróleo, se atentam para outras fontes de
energia, incentivando PD&I em biocombustiveis. Ao longo de 3 déca(4; s o Brasil
liderou a produção de etanol combustível, fabricado à partir cana-de-açúcar,
perdendo sua posição para os Estados Unidos em 2005/2006, que produz etanol à
partir do milho, principalmente pelos estados produtores deste cereal (MASIERO &
LOPES, 2008; NYKO et al., 2010).
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 81
Quadro 1: Exportação brasileira de bioetanol por ano / safra.
Ano - Safra Volume de Exportação
Brasileira (Milhões de
Litros)
2000/2001 93,99
2001/2002 516,53
2002/2003 817,60
2003/2004 956,11
2004/2005 2478,23
2005/2006 2615,62
2006/2007 3691,61
2007/2008 3624,83
2008/2009 4721,90
Fonte: UNICA (2013)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que a demanda mundial por biocombustíveis continuará a crescer
à taxas elevadas diante da conscientização mundial em torno da real
necessidade de deter o processo de aquecimento global, assim bem como
motivada pelos temores de uma eminente escassez de petróleo.
Assim, no contexto de grande demanda por biocombustíveis, o Brasil
destaca-se como um dos maiores produtores do mundo devido à combinação de
fatores favoráveis ao cultivo de matéria prima e utilização das mesmas para
produção. Em especial, as safras de cana de açúcar permitem elevados
números produtivos de Etanol no país.
A demanda por biocombustíveis — em particular, pelo etanol — produzidos
no Brasil tende a ser cada vez mais expressiva, como pode ser comprovado
por diversos cenários. Entretanto, como o país já possui • expertise na
produção de etanol de 1° Geração, sugere-se maiores investimentos em PD&I
para que o bioetanol obtido à partir de matéria-prima lignocelulósica, possa
ganhar destaque na matriz energética brasileira sendo mais uma alternativa
de produção e consumo.
82 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 85
C AP Í T U LO 6
BIOCOMBUSTÍVEL: IMPORTÂNCIA ECONÔMICA,
INCLUSÃO SOCIAL E REDUÇÃO DOS IMPACTOS
AMBIENTAIS.
Isadora Lucena Andrade
Viviane Galvão
RESUMO
A necessidade de substituição de combustíveis de origem fóssil tem ampliado a
produção e utilização de biocombustíveis no mercado mundial. Esse crescimento
aponta como uma alternativa para reduzir a dependência do petróleo e, assim,
aumentar a utilização de energia limpa. Dessa forma, este artigo consiste em uma
revisão a respeito do panorama no uso das energias renováveis no Brasil,
especificamente Biodiesel e Etanol. Ele tem como objetivo explanar e ilustrar alguns
aspectos sobre os biocombustíveis, analisando suas repercussões no contexto social,
ambiental e suas influências econômicas. Estas perspectivas favorecem oportunidades
socioeconômicas em novas áreas, com potencial ecológico e sustentável para o Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Biocombustível; Energia renovável; Meio ambiente.
86 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, o Brasil está investindo em tecnologia e mão-de-obra especializada
para manter a qualidade e ampliar a geração de biocombustível (HOLANDA et al.,
2004). A busca por combustíveis renováveis, limpos e eficientes tornou-se uma
necessidade devido ao crescimento econômico mundial (PIMENTA et al., 2011). O
aumento da demanda por biocombustíveis está ocorrendo devido a elevação
contínua do preço do petróleo (TÁVORA, 2011). Há várias razões para que o
desenvolvimento de biocombustíveis tenha importância mundial. Dentre algumas,
pode-se destacar que eles são facilmente disponíveis a partir de fontes de biomassa,
fornecem novas oportunidades socioeconômicas no setor rural, oferecem um impacto
ambiental reduzido, possuem um considerável potencial ecológico, são biodegradáveis,
reduzem o uso de combustíveis fósseis e contribuem para a sustentabilidade
(PUPPAN, 2002).
O termo biocombustível refere-se a um combustível sólido, liquido ou gasoso
predominantemente produzido a partir de biomassa. As principais razões para o
investimento neste novo tipo de combustível são a redução da dependência do
petróleo, diminuição da emissão de poluentes por veículos e maior controle da
concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera (LEITE E LEAL, 2007). Os
custos da produção de biocombustíveis são influenciados pelo valor da matéria-prima,
escala de produção e a região onde é produzido. (DEMIRBAS, 2009). Os
biocombustiveis mais comuns, etanol e biodiesel, são produzidos a partir de culturas
alimentares clássicas que requerem terras agrícolas de alta qualidade. Em 2010, o Brasil
foi o segundo maior produtor mundial de Etanol e de Biodiesel. O maior produtor de
etanol foram os Estados Unidos e de biodiesel foi a Alemanha (ANP, 2013).
O etanol pode ser produzido por resíduos da agricultura e industriais e pelas
seguintes matérias-pr:mas: cana-de-açúcar, milho, trigo, sorgo, beterraba, dentre outras
(MASIERO E LOPES, 2008). Este combusti47e1 pode ser utilizado na sua forma pura,
E100 (100% de etanol) ou pode ser empregado na mistura com a gasolina, sendo
comum adicionar E 10 (10% de etanol em 90% de gasolina) (MASIERO E LOPES,
2008). O etanol representa um biocombustível potente no Brasil e a maioria dos
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 87
carros brasileiros possui motor bicombustível, ou seja, funciona com gasolina ou
com etanol. Este fato comprova que as montadoras automobilísticas estão apostando
no etanol como o combustível promissor para o país (TÁVORA, 2011).
O biodiesel, também chamado de petróleo verde, é produzido a partir de óleos e
gorduras vegetais e animais. Ele é considerado um combustível limpo, pois não
contém enxofre e hidrocarbonetos poliaromáticos (FERRÃO-GONZALES et al.,
2008). O biodiesel pode ser utilizado como substituto ou adicionado ao óleo diesel
mineral derivado do petróleo, representando, assim, uma alternativa que pode
contribuir na redução de emissão de gases poluentes (MACEDO, 2007; POUSA et
ai., 2007). Na produção de biodiesel, a matéria-prima é responsável por cerca de 75-
80% do total do custo operacional (DEMIRBAS, 2009).
Um caminho para a redução da poluição ambiental é o aumento da produção de
etanol ou de biodiesel. Desta forma, o trabalho apresenta um panorama sobre a
produção de biocombustíveis, especificamente o etanol e o biodiesel (KOHLHEPP,
2010). Adicionalmente, uma análise sobre as repercussões no contexto econômico,
social e ambiental será realizada. Este trabalho abordará a temática da importância
da utilização e geração de energias renováveis em substituição dos combustíveis de
origem fóssil.
1. BREVE HISTÓRICO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS NO BRASIL
Uma das primeiras instituições brasileiras a pesquisar e avaliar sistematicamente
combustíveis alternativos e renováveis foi o Instituto Nacional de Tecnologia (INT),
na década de 1920. Em 1925, a conferência "O álcool como combustível industrial
no Brasil", ministrada na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, começou a
desenvolver uma consciência na defesa do uso de combustível (TÁVORA, 2011).
A tabela 1 apresenta a evolução dos biocombustíveis no Brasil. A partir da
década de 1970, devido a crise do petróleo, a Petrobrás começou a apoiar o Programa
Nacional do Álcool (Pra-álcool), lançado pelo governo brasileiro em 1975, por
meio do Decreto n° 76.593/1975. Este fato contribuiu para o sucesso de seu uso na
88 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
matriz energética do país, como forma renovável de se obter energia, mediante um
método que não agride o meio ambiente, visto que consistia em desenvolver o uso
do etanol como combustível para substituir veículos movidos a gasolina. Nesta
mesma década, a Universidade Federal do Ceará (UFCE) iniciou suas pesquisas sobre
fontes alternativas de energia e identificou um novo combustível com propriedades
semelhantes ao óleo diesel, o biodiesel (LIMA, 2004). Do ano de 1975 ao ano 2000, o
governo brasileiro aprovou a mistura de etanol na gasolina de 1,1 para 25% em cada
litro de combustível. O aspecto positivo desta mistura foi reduzir a emissão de gás
carbônico na atmosfera e a importação de barris de petróleo (MASIERO e LOPES,
2008). Diversos países têm demonstrado interesse na utilização e produção de
etanol, anunciando políticas para a inclusão deste produto em suas matrizes
energéticas.
O etanol não é o único biocombustível renovável desenvolvido no Brasil. Em
1983, o governo anunciou o Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para
Fins Energéticos (Pro-óleo). Este programa consistiu em desenvolver e produzir
biodiesel a partir de fontes de energia distintas, tais como o algodão, dendê, girassol,
mamona, soja, dentre outros. Este programa foi interrompido em 1985 e só foi
retomado em 2003 como Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB)
(MASIERO e LOPES, 2008). O PNPB possui três pilares fundamentais que são a
inclusão social por meio da agricultura familiar, a sustentabilidade ambiental e a
viabilidade econômica (FLEXOR et al., 2011).0 objetivo deste programa é
implementar de forma sustentável, a produção e utilização de Biodiesel, focalizando a
inclusão social e o desenvolvimento regional através da criação de emprego e
aumento de renda (GARCEZ E VIANNA, 2009).
A Lei n° 11.097 de 13 de janeiro de 2005, determinou percentuais mínimos de
mistura de biodiesel ao diesel. Entre 2008 e 2012, a proporção de biodiesel no óleo
diesel foi de 2% (B2). Em 2013, esta proporção será ampliada para 5% (B5)
(COLARES, 2008). Em 2006, esta lei foi implementada com da compra de biodiesel
através de um leilão da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(PRATES et al., 2007).
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 89
Tabela 1: Evolução dos biocombustíveis no Brasil, segundo a Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP, 2013).
Ano Acontecimento
1974 Brasil cria o Programa Pro-álcool
1977 Adição de 4,5% de etanol a gasolina
1979 Adição de 15% de etanol a gasolina
1980 Segunda crise do petróleo
1983 Carro movido a etanol representa 90% do total de vendas
1985 Adição de 22% de etanol a gasolina
1989 Preço do petróleo cai e gasolina se equipara ao etanol
2003 Lançamento do carro bicombustível
2005 Lançamento do Programa Nacional de Biodiesel
2007 Terceira crise do petróleo
2008 Obrigatoriedade do B2 e consumo de etanol se equipara a
gasolina
2011 ANP passa a regular e fiscalizar a produção de etanol.
Percentual de etanol na gasolina pode variar de 18% a
25%
2013 Vigência do B5
2. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E SOCIAL
Algumas vantagens econômicas dos biocombustíveis são o aumento da oferta de
postos de trabalho na agricultura empresarial e na familiar, diminuição da emissão de
gases do efeito estufa, redução da dependência do petróleo e desenvolvimento
regional. Nos últimos anos, a importância de culturas não-alimentares aumentou
significativamente e este fato pode aumentar a produção de biocombustível a partir de
biomassa (DEMIRBAS, 2008). Do ponto de vista social, tem-se que levar em conta
que uma maior oferta de emprego na zona rural deve ser associada a requalificação de
trabalhadores. Este processo será essencial para o ganho de produtividade e
competitividade, bem como, resultará na geração de empregos de maior qualidade e
remuneração (TÁVORA, 2011).
Em média, na produção de biodiesel, a agricultura empresarial empréga f-
trabalhador para cada 100 hectares cultivados, enquanto que na familiar a relação é
de apenas 10 hectares por trabalhador. Estes dados mostram a importância de
90 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
priorizar a agricultura familiar de oleaginosas para erradicar a miséria do Brasil, pois
este tipo de lavoura emprega um grande contingente de pessoas (LIMA, 2004).
Entretanto, a produção de biocombustível tende a reduzir a importância de outros
tipos de agricultura e este aspecto pode ter impactos sociais indesejáveis (PIMENTA
et ai., 2011).
A sustentabilidade pode ser alcançada através de um modelo econômico adequado
que possibilite o aumento de recursos financeiros, evitando estragos na natureza. Este
modelo deve utilizar os recursos naturais sem destruí-los. Desta maneira, o
desenvolvimento de culturas para a produção de biodiesel ou de etanol deve ser feito de
forma sustentável, respeitando o meio ambiente. O governo brasileiro necessita
descentralizar a produção para impedir a concentração de renda e de propriedade. Esta
mudança deve beneficiar a agricultara familiar no Brasil (BRASIL, 2006).
O Brasil possui diversas espécies oleaginosas com potencial para serem
utilizadas como matéria-prima na produção de biodiesel. A. Tabela 2 mostra as
principais culturas empregadas na produção deste biocombustível nas cinco regiões do
país (LIMA, 2004; PAULILLO et al., 2007). A matriz de produção de biodiesel deve
considerar as necessidades de desenvolvimento de cada região do país, com suas
especificidades próprias, tais como clima, solo, disponibilidade de terras,
desenvolvimento econômico da população, entre outros (DA SILVA et al., 2008).
Tabela 2: Principais culturas que são utilizadas na produção de biodiesel nas
diferentes regiões do Brasil
Região Cultura
Norte Dendê, babaçu, soja e gordura animal
Nordeste Babaçu, soja, mamona, dendê, algodão, coco
Centro-oeste Soja, mamona, algodão, girassol
Sul Soja, canola, girassol, algodão
Sudeste Soja, mamona, algodão, Girassol
Em 2010, os principais estados brasileiros com infraestrutura de produção de
biodiesel são Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo (ANP, 2011). A
produção de brasileira de biodiesel puro (B100) ao longo de um ano (ANP, 2013)
têm um acumulada bom ajuste com o modelo sigmoidal de Boltzmann (Figura 1 e
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 91
Tabela 3). Este modelo (MOTULSKY, 1995) é representando pela equação:
(1)
onde, Y corresponde à produção de biodiesel em m3, X representa o ano, os
parâmetros Ale A, correspondem, respectivamente, às assíntotas inferior e superior, xn
representa o ponto de inflexão da curva e dx o nível de espalhamento.
Figura 1. Evolução da produção de biodiesel puro (B100) no Brasil ajustada pelo
modelo sigmoidal de Boltzmann.
Tabela 3: Parâmetros da equação sigmoidal de Boltzmann (A1, A2, x0 e dx) e
coeficiente de correlação (R2) obtidos com a análise dos dados de produção do
biodiesel puro no Brasil.
Boltzmann Valor
R2 0,99
A1 1,7 x 105-± 0,2 x 10
5
A2 , 3,0 x 106± 0,33 x 10
6
X0 2,0 x 10
3 ± 0,3
dx 1,12 ± 0,29
dx
xx
e
AAAY
)(
212
0
1
)(
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
0.0
7.0x105
1.4x106
2.1x106
2.8x106
B100
Curva sigmoidal de Boltzmann
B1
00
pro
du
zid
o (
m3
)
Ano
92 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
3. IMPACTOS AMBIENTAIS
Em junho de 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento foi realizada no Rio de Janeiro. Em âmbito internacional, esta
conferência foi de extrema relevância para levantar discussões em relação às questões
ambientais. Ela representou um marco decisivo para a formalização de acordos
internacionais que tem como objetivo promover a sustentabilidade do
desenvolvimento global (TÁVORA, 2011).
O maior exemplo de energia renovável é a produção em larga escala de etanol,
sendo que Estados Unidos e Brasil, são responsáveis por 70% da sua produção
mundial. Este combustível é ecologicamente adequado para motores de ignição por
faísca. A mistura de etanol com gasolina aumenta a octanagem do combustível e reduz
a emissão de gases poluentes, tais como monóxido de carbono e hidrocarbonetos
(NAJAFI et al., 2009). No futuro, o etanol poderá ser produzido de bagaço de cana-
de-açúcar, celulose e outras matérias orgânicas, sendo sua produtividade aumentada
em torno de 40%-50% (KOHLHEPP, 2010).
O aumento crescente da produção de biocombustíveis poderá provocar profundas
alterações no uso do solo, convertendo áreas não plantadas em lavouras. Uma pesquisa
recente mostrou que se a produção de etanol derivado do milho nos Estados Unidos
aumentar 75%, 12,8 milhões de hectares de outros tipos de lavoura passariam a
produzir milho. Neste cenário, o ecossistema pode sofrer danos expressivos, já que
muitas destas plantações são cultivadas em área que possuem alta biodiversidade
(VICHI E MANSOR, 2009).
A produção em larga escala de qualquer cultura pode causar impactos negativos,
pois requer grandes quantidades de água, fertilizantes e pesticidas. Além disso, se o
manejo não for adequado o plantio também pode degradar o solo (MASIERO e
LOPES, 2008). Assim, para um crescimento sustentável, as terras agricultáveis
precisam ser bem geridas no que diz respeito à produção de biocombustíveis e a
produção de alimentos.
As mudanças climáticas causadas por emissões de carbono são o principal
incentivo para a produção de biocombustíveis. Estes, em princípio, ao longo do
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 93
seu ciclo de vida não emitem carbono. O carbono emitido pela sua queima é
compensado na fase agrícola mediante a fotos-síntese das plantas. Assim, a
produção de biocombustíveis é bastante sensível às características da cadeia
produtiva ao longo de todas as fases (HILL et al., 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho foi possível verificar que a dependência de energia e
matérias-primas aumentou significativamente com o desenvolvimento e o
crescimento mundial. Isto aconteceu devido a maior produção e consumo
agrícola e industrial, causando o aumento das emissões de gases poluentes
capazes de provocar alterações climáticas. Este fato contribuiu para que os
governos mundiais estimulassem a produção e a gradativa substituição dos
combustíveis fósseis por biocombustíveis, não apenas em virtude da
volatilidade e do aumento dos preços do petróleo, mas pela perspectiva de
esgotamento das reservas mundiais. Esta atitude beneficia tanto o meio
ambiente quanto a sociedade e a diminuição da emissão de gases favorece o
desenvolvimento sustentável (BASTOS, 2007). Neste contexto, ainda existe
muitos desafios para que o equilíbrio entre produção de energia,
sustentabilidade, meio ambiente e manutenção da vida na terra alcance seja
alcançado. Desta forma, toda a sociedade deve modificar sua economia e
tomar medidas estratégicas para redimensionar o aproveitamento de energia
renovável como aumento do consumo de biocombustível.
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96 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
C APÍ TULO 7
BIORREMEDIAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS
COM BIODIESEL E SEUS B.LENDS COM DIESEL:
UMA REVISÃO
Ricardo de Oliveira Mota
Amaro Emili ano Trindade Silva
RESUMO
Biorremediação consiste na utilização da versatilidade metabólica dos
microrganismos, removendo contaminantes do meio ambiente, eficientemente, com
baixos custos, minimizando impactos antrópicos. A provável rota de degradação
microbiana do biodiesel consiste na clivagem do metil éster por esterase, produzindo
ácido graxo e álcool associado, e quebra do ácido graxo pelo Ciclo de Krebs. Alguns
microrganismos com potencial de degradação do biodiesel já foram identificados.
Estudos pioneiros realizados no sul e sudeste verificaram efeitos da bioventilação em
solos argilosos, e capacidade de degradação de diferentes blends biodiesel/diesel, seja
como cultura pura ou consórcios microbianos. No nordeste temos duas grandes
usinas da Petrobrás Biocombustível S/A com grande capacidade produtiva, que
justifica realização de pesquisas similares na avaliação dos impactos ambientais
decorrentes de possíveis acidentes de transporte, vazamentos, derramamentos de
biodiesel ou seus blends, no semi-árido .e mata atlântica. Esse artigo rever conceitos
de biorremediação e estado da arte dos processos de biorremediacão do biodiesel.
PALAVRAS -CHAVE: Biorremediação; Biodiesel; Microrganismos.
BIOENERG1A: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL lI 97
INTRODUÇÃO
O Brasil tem sido pioneiro na pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de
produção de biocombustíveis, como no caso do etanol combustível, já há muitos anos,
utilizado em todo país no abastecimento de automotores, e mais recentemente, na
produção de biodiesel. O biodiesel vem se mostrando como uma fonte de energia
limpa e extremamente promissora para a diminuição de danos ambientais, sendo
aplicado como combustível alternativo ao combustível fóssil, que além de mais
poluente, é uma fonte de energia não renovável (URQUIAGA et al, 2005).
Por ser oriundo de biomassa, o biodiesel é considerado um produto biodegradável.
De fato, estudos já consideraram a implementação do biodiesel para aumentar a
biodisponibilidade e, consequentemente, a biorremediação de hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos (da sigla em inglês, PAH) derivados do alcatrão de carvão
(TAYLOR & JONES, 2001), ou ainda de óleo oriundo de derramamentos pesados
(FERNÁNDEZÁLVAREZ et al., 2007).
Todavia, considerando que o biodiesel foi recentemente inserido na matriz
energética mundial, sob a condição de blends com o óleo diesel, denominadas de
blends, estudos acerca de sua biodegradabilidade ainda são escassos e altamente
necessários. Técnicas de remediação, que apresentem uma relação custo/beneficio
favorável e que sejam compatíveis com aspectos socioambientais, precisam ser melhor
compreendidas para impulsionar a expansão do uso desses blends frente a métodos
convencionais de descontaminação, como a incineração, solidificação/estabilização,
extração de vapor do solo e lavagem (XU & LU, 2010).
O termo biorremediação, descreve o processo de degradação do contaminante no
meio ambiente por meio de métodos biológicos utilizando o potencial metabólico
dos microrganismos para degradar uma ampla variedade de compostos orgânicos. A
principal vantagem da biorremediação é o seu custo reduzido em comparação com as
técnicas convencionais. Portanto, esses processos são de grande interesse, pois o custo
de remediação de todas as áreas contaminadas através de técnicas convencionais, só
nos EUA é estimado em 1,7 trilhões de dólares. Além do custo-eficiência, a
98 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
biorremediação é uma solução permanente, que pode levar à completa mineralização do
poluente. Além disso, é uma técnica não invasiva, deixando o ecossistema intacto
(PERELO, 2010).
A degradação das propriedades dos recursos naturais do ambiente, ocasionada pela
contaminação e pela poluição, e os prejuízos à saúde humana potencialmente
decorrentes desses fatores, justificam o uso da abordagem multidisciplinar da
biorremediação, que combina processos biotecnológicos avançados com a engenharia
ambiental para solucionar ou atenuar esses problemas (BENTO et al, 2005).
1) Uma vez que o biodiesel ou seus blends sejam introduzidos no ambiente, por
meio de acidentes, vazamentos ou derramamentos, esses podem se tornar
poluentes e causar danos aos diferentes ecossistemas. Portanto, justifica-se o
estudo e avaliação da biodegradabilidade, tempo de degradação e formação de
produtos intermediários . OBJETIVOS DA REVISÃO
O Governo Federal junto ao Ministério de Minas e Energia tem dado grande
apoio à pesquisa na área de avaliação de impactos ambientais e biocombustiveis.
No campo do impacto ambiental promovido por derramamento de biodiesel, seus
blends ao diesel e os efluentes de sua linha de produção, poucos trabalhos
científicos foram realizados, a grande maioria por iniciativas de pesquisadores do
sudeste e sul do país, mais especificamente, da Universidade Estadual Paulista, Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade de Passo Fundo. O
nordeste brasileiro possui duas grandes usinas de biodiesel da Petrobrás
Biocombustível S/A, uma em Quixadá (CE) e outra em Candeias (BA). -Juntas.;
estas usinas possuem capacidade de produção instalada de 325,2 milhões de
litro/ano. Desta forma, faz-se necessário que pesquisadores nordestinos estudem os
processos de biorremediação= e como esses processos podem solucionar possíveis
problemas de contaminação de solos típicos da região, como o semi-árido, com
biodiesel e seus efluentes. No presente artigo fez-se uma revisão sobre conceitos
básicos de biorremediação e dos mecanismos de degradação do biodiesel.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 99
2) BIODIESEL
A produção de biodiesel é oriunda da reação de esterificação de triglicerídeos com
um álcool (sendo comumente utilizado o metanol ou o etanol) na presença de um
catalisador químico ou biológico. A reação tem como produto mono alquil ésteres de
ácidos graxos (a sigla em inglês "FAME'-fatty acid methyl esters" , se refere ao biodiesel
produzido a partir de metanol) e como subproduto o glicerol (ISO et al ., 2001; KOSE et
al., 2002). Os triglicerídeos necessários para produção do biodiesel podem ser de
origem vegetal (sementes de algodão, soja, pinhão-manso, girassol, entre outras) de
origem animal (sebo bovino, suíno, etc), ou ainda de óleos residuais utilizados para
frituras (SCHUCHARDT, et ai., 1998; MA e HANNA, 1999; FUKUDA et al.,
2001; TOMASEVIC e MAINKOVIC, 2003; RAMANDHAS et al., 2005).
Os ésteres ou ácidos graxos metil esterificados componentes do biodiesel são de
baixa complexidade estrutural, predominando oito diferentes tipos com cadeias
variando entre 16 e 18 carbonos, e incluindo: oleato, palmitato, estearato, linoleato,
mirístico, laureato e linolenato. O biodiesel pode ser misturado a qualquer outro
combustível derivado do petróleo (NEWMAN, 1993).
Em 2005, o Governo brasileiro sancionou a Lei 11097/2005 que estabelece
percentuais mínimos de formação de blends do biodiesel ao diesel, assim como o
monitoramento da inserção do novo combustível no mercado. O biodiesel foi
efetivamente introduzido na matriz energética brasileira em- 2006 e, apenas em 2008
o blend biodiesel/diesel foi tomado como obrigatória com a comercialização do B2. A
nomenclatura designada ao biodiesel considera a porcentagem de participação do biodi-
esel puro (100%) no Mendbiodiesel/diesel, sendo então o B2 equivalente a 2% de
biodiesel, o B5 a 5%, e assim sucessivamente (SILVA E FREITAS, 2008). O B5 já
vem sendo comercializado no território nacional desde Janeiro de 2010. A
implementação do biodiesel na matriz energética nacional tem efeito direto na
conservação do meio ambiente visto que esse biocombustivel renovável tem alto
potencial de biodegradabilidade, possuindo cadeias de ácidos graxos com átomos de
oxigênio altamente suscetíveis a oxidação, ausência de hidrocarbonetos aromáticos e
100 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
de enxofre na sua composição. Além disto, os ésteres mediados do biodiesel possuem
alto número de octanas que servem como uma alternativa biodegradável aos compostos
oxigenados recalcitrantes da gasolina (LIU, 2009). Finalmente, o biodiesel,
diferentemente do diesel e outros combustíveis derivados do petróleo, apresenta uma
baixa toxidade em vista da redução relativa de emissões de CO, CO2, SO2 e material
particulado na atmosfera, contribuindo para a redução do efeito estufa (BENTO et al.,
2005; DE MELLO, 2007; LERMONTOV & USHAKOVA, 2008 ; ATADASHI et al.,
2010; CHAO et al., 2010).
3) DIESEL
O óleo diesel é produto da destilação fracionada do petróleo. Este óleo apresenta
em sua composição principalmente hidrocarbonetos alifáricos de cadeia simples não
ramificados, variando de C9- C28. Na mistura são encontrados altos teores de enxofre,
variando de 0,1 a 0,5%, além de produtos da combustão, como CO, NOZ, SOE, material
particulado, aldeídos, benzeno, cianetos, tolueno, e hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos, -sendo estes últimos bastante nocivos ao meio ambiente.
4) O INTERESSE MERCADOLÓGICO DA BIORREMEDIAÇÃO
O tamanho do mercado internacional da remediação é estimado atualmente entre
US$ 25 bilhões e US$ 35 bilhões. Entretanto, é difícil avaliar este mercado em
detalhes, pois a maioria dos países ainda não tem condição de identificar e catalogar os
seus sítios contaminados. Geralmente, o mercado da remediação desenvolve-se após
um país ter experimentado a contaminação do ar e da água e a gestão de resíduos
perigosos, prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. No Brasil, apenas a Cetesb mantém
um levantamento de sítios contaminados e do estágio em que se encontram. Do total
de 2.514 sítios cadastrados, 78% são postos de combustíveis e apenas 3% estão
reabilitados (BENTO et al, 2005).
De um modo geral, a biorremediação tende a ser um mercado atraente, pois
remove poluentes orgânicos eficientemente, a um baixo custo quanto comparado ao
tratamento térmico, três a quatro vezes mais caro.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 101
Análises do mercado atual de remediação apontam a biorremediação como a
técnica que mais tem despertado o interesse dos governos, de cientistas, e da
indústria, devido à boa relação custo-beneficio e à facilidade de implementação. Os
atos legislativos também apontam para o apoio de inovações tecnológicas, ao invés de
técnicas convencionais (BENTO et al , 2005).
5) PRINCÍPIOS DE BIORREMEDIAÇÃO
Biorremediação é definida como o processo pelo qual os resíduos orgânicos são
biologicamente degradados sob condições controladas a um estado inócuo, ou para
níveis inferiores aos limites de concentração estabelecidos pelas autoridades
reguladoras.
Por definição, o processo de biorremediação utiliza-se de microrganismos
procariotos e eucariotos, como bactérias e fungos respectivamente, para degradar ou
desintoxicar substâncias poluentes perigosas a saúde humana e/ou ao ambiente. Os
microrganismos atuantes nesse processo podem ser aqueles nativos de uma
determinada área contaminada, ou previamente isolados de outra área e trazidos para
um novo local contaminado. No processo de biorremediação, os compostos
contaminantes são transformados pela ação de uma ou mais enzimas comumente
encontradas exclusivamente na incrível versatilidade metabólica dos microrganismos.
Esta versatilidade, por sua vez, é oriunda de processos de evolução que ocorreram ao
longo de milhares de anos, frente a uma gama de pressões seletivas.
Normalmente, a biodegradação de um composto resulta da ação de vários
microrganismos, e a comunidade microbiana atuante sobre o poluente se dá o nome
de consórcio microbiano.
Quando microrganismos com habilidades catabólicas específicas são
importados para um sítio contaminado, de forma a melhorar a degrada-
ção de um poluente, temos um processo conhecido como bioaumentação.
A degradação biológica de contaminantes em solos é geralmente rea-
lizada pelo metabolismo anaeróbico. Como vias metabólicas anaeróbias
precisam de outros aceptores de elétrons além do oxigênio, a adição des-
ses aceptores caracteriza a bioestimulação. Já a atenuação natural é a respos-
102 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
ta de sistemas hidrogeológicos à contaminação envolvendo processos
químicos, fisicos e biológicos que, sob condições favoráveis, agem sem
intervenção humana, reduzindo massa, toxicidade, mobilidade, volume ou
concentração de contaminantes no solo como tempo (PERELO, 2010).
Para biorremediação ser eficaz, os microrganismos devem atacar
enzimaticamente os poluentes e convertê-los em produtos de menor
toxi¬cidade. Condições ambientais que permitam o crescimento e a atividade
microbiana são cruciais para essa eficácia. A aplicação da biorremedição,
envolve, muitas vezes, a manipulação de parâmetros ambientais que per-
mitam que o crescimento microbiano, e a degradação do poluente, pros¬sigam
a uma taxa mais rápida. A- biorremediação pode ser, desta forma,
contextualizada como a aceleração do processo natural de biodegrada¬ção, e
por isso tem sua eficiência limitada a fatores ambientais como a
disponibilidade de nutrientes, umidade, temperatura, pH, concentração de
minerais, potencial redox, e outras características fisico-químicas do ambiente
contaminando, além da natureza da substância contaminante (ROSA E
TRIGUIS, 2005). Algumas outras medidas biocorretivas de¬vem ser adotadas
para se assegurar a eficiência de um processo de biorre¬mediação; estas
medidas visam aumentar a população microbiana pro¬porcionando uma
condição ambiental ótima para o seu desenvolvimento em condições aeróbias
(na presença de oxigênio) ou anaeróbias (na ausên¬cia de oxigênio) (ABBAS,
2003).
As técnicas de biorremediação In situ são aquelas em que não há
necessidade de remoção do material, evitando custos e distúrbios ambi¬entais
associados ao movimento do material contaminado para o local de tratamento
(JACQUES et al., 2006; MARIANO, 2006).
Na tecnologia exsitu, muito utilizada em contaminações de cursos de água
e lençóis freáticos, o material contaminado é encaminhado para um local mais
adequado para evitar o alastramento do contaminante (ALE¬XANDER, 1999
e SANTOS et ai., 2007).
6) DEGRADAÇÃO MICROBIANA DO BIODIESEL
A contaminação de um ambiente com Na/ ocarbonetos por um lado acarreta,
geralmente, o enriquecimento primário dos microrganismos capazes de utilizá-los
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 103
como fontes nutritivas e, por consequência, os microrganismos que utilizam os
metabólitos produzidos por estes primeiros também serão enriquecidos. Por outro
lado, o impacto das alterações ambientais nas comunidades microbianas, torna-se um
meio seletivo e redutor da diversidade biológica (LEAHY & COLWELL 1990).
As condições ambientais são de fundamental importância na atuação das bactérias
e fungos no processo de biodegradação de hidrocarbonetos. Outros fatores que
corroboram para o aumento na capacidade de biodegradação dos microrganismos são:
indução e/ou desrepressão de genes que codificam para enzimas específicas;
enriquecimento seletivo de organismos biodegradadores destes compostos, aquisição de
plasmídeos e mudanças genéticas nas atividades metabólicas (ROSATO, 1997).
Os plasmídeos têm um papel importante na adaptação, pois são transferidos de
forma natural via transformação e conjugação para outras linhagens receptoras,
conferindo a estas uma nova característica. A transferência de plasmídeos detentores
de vias de degradação de hidrocarbonetos metabólicos para linhagens com
capacidade limitada de utilização de alguns destes compostos pode levar a uma
expansão do potencial catabólico das mesmas, sendo estas induzidas à seleção quando
expostas a hidrocarbonetos (ROSATO, 1997).
Devido à composição química com alto número de octanas e muito mais simples
que a do óleo diesel, o biodiesel é mais suscetível ao ataque de bactérias ambientais,
(LIU & SULFITA 1994). Comparando-se os ácidos graxos presentes no biodiesel
com os alcanos e compostos aromáticos de alto peso molecular que compõem o diesel,
a ação de degradação por parte das bactérias demonstrou ser mais eficiente no
biodiesel (F0- LLIS, 1994).
A provável rota para a degradação do biodiesel consiste em: 1) clivagem do metil
éster por esterase, produzindo-se ácido graxo e o álcool associado e 2) quebra do ácido
graxo pelo Ciclo de Krebs, metabolismo respiratório ou incorporação direta nos
lipídeos celulares. Certas bactérias tais como Pseudomonas oleovorans, E mendocina, E
aeruginosa, Marinomonas vaga, Escherichia coli, Burkholderia gladiou, B. cepacia, Bacillus
subtilis, entre outras apresentam potencial para a degradação de biodiesel (F0- LLIS,
1994).
104 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Pesquisas sobre biorremediação e biodegradação do biodiesel realizadas na
Universidade Estadual Paulista, -Universidade Federal do Rio Grande do Sul e
Universidade de Passo Fundo (RS) são esforços pioneiros no Brasil. Em 2008 foram
feitos estudos comparando processos de biorremediação de solo argiloso contaminado
com biodiesel (4,0% de biodiesel sobre o peso seco de solo, m/m) por processos de
atenuação natural e bioestimulação por bioventilação. Verificou-se que as amostras de
solo bioestimuladas através da utilização de ar comprimido (bioventilação) tiveram um
aumento de 14,6% no percentual de biodegradação do biodiesel em relação às amostras
submetidas a atenuação natural. Esse resultado demonstrou a importância da utilização
de bioventilação na redução do tempo de biodegradação do contaminante
(MENEGHETTI et al, 2008).
A degradação de biodiesel e blends de biodiesel/diesel (O, 2, 5, 20 e 100%) foi
estudada utilizando-se uma linhagem de Candida viswanathü isolada
das águas residuais de uma refinaria de petróleo brasileiro (Replan / Petrobras). Para
verificar a biodegradabilidade das misturas por C viswanathii utilizou-se a técnica
baseada no indicador redox 2,6-diclorofenol indofenol (DCPIP). Medidas da produção
de CO2, como indicador de substratos biodegradados, foram feitas pelo método
respirométrico. Concluiu-se que o isolado de C. viswanathii foi capaz de aumentar a biode-
gradação de blends de biodiesel/diesel no solo contaminado de forma significativa
(aproximadamente 50%), no entanto, a biodegradação do biodiesel é preferencial
(JUNIOR et al, 2008).
A capacidade de um consórcio de microrganismo degradar blends de biodiesel/diesel,
bem como a produção de biosurfactantes foi pesquisada em 2012. As amostras foram
coletadas em duas áreas com histórico de contaminação: i) solo contaminado de uma
área de landfanning em um Sistema Integrado de Tratamento de Efluentes no estado
do Rio Grande do Sul, que teve contato com resíduo de petróleo por 27 anos, e ii) lodo
formado durante a centrifugação de biodiesel a partir dos sistemas de armazenamento
de empresas localizadas no estado do Rio de Janeiro . Os microrganismos foram isolados
a partir das amostras contaminadas, e identificados por meios de sequenciamento do
genes para o RNA ribossomal 16S. Através das medições da tensão superficial
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 105
e do indice de emulsão das amotras, além da atividade de esterases, concluiu-se que os
isolados Bacillus megaterium, B. pumilus, Pseudomonas aeruginosa e Stenotrophomonas
maltophilia exibem maior potencial de-degradar B20, devido ao grande potencial de
produção de enzimas específicas para a biodegradação dos compostos policíclicos
aromáticos (BENTO et al, 2012).
Esses trabalhos demostraram que as perspectivas do desenvolvimento de
processos de biorremediação de áreas contaminadas com biodiesel são promissoras,
afinal degradar compostos usando a atividade biológica natural é uma atitude
sustentável.
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES FINAIS
Estima-se que em 2030 os biocombustíveis vão atingir de 4 a 7% da demanda de
combustíveis de transporte rodoviário do mundo (BESERRA, 2010). Desta forma,
estudos voltados a remediação de possíveis acidentes de derramamento desses
combuStíveis são de grande importância para a sociedade. A biorremediação já é uma
alternativa bastante empregada em países como os Estados Unidos e a Holanda. No
Brasil sua utilização ainda é pequena, e parte disso se deve a escassez de estudos
voltados para os eventuais prejuízos de eventos de vazamento e contaminação de solos
e efluentes com biocombustíveis, tais como os blends de biodiesel/ diesel. É necessário
que façamos um esforço envolvendo as empresas produtoras de combustíveis fosseis e
renováveis e nossos pesquisadores e que juntos façam levantamento dos sítios
contaminados em todas as regiões do Brasil. Esse levantamento irá acarretar na
intensificação do interesse da comunidade científica em aplicar processos de
remediação e biorremediacão para essas áreas contaminadas. Uma maior divulgação e
estudo dos processos de biorremediação de biocimbustiveis vai, consequentemente,
levar a um melhor conhecimento e prospecção da diversidade taxonômica e
enzimática constituinte das complexas comunidades microbianas presentes em regiões
como o semi-árido e a mata atlântica do nordeste brasileiro. Desta forma, poderemos
detectar consórcios microbianos e/ou combinações enzimáticas para
106 BIOENERGIA: UNI DIÁLOGO RENOVÁVEL II
biorremediações especificas e potencialmente mais eficientes; para contornar
contaminações nestes tipos de solo.
importante também que estudos sejam feitos quanto ao uso de resíduos
lignocelulósicos como agente bioestimulante na degradação de biodiesel/diesel. Essa
iniciativa pode ser a solução para o acúmulo de resíduos ou o desenvolvimento de
novas tecnologias de produção de biocombustíveis.
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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 111
CAPÍTULO 8
BIOENERGIA, ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E AMBI-
ENTAIS: SEUS EFEITOS NA SAÚDE, CENÁRIOS E
CAMINHOS
Evangileno Nunes Leal
Grace Caroline Nery Jacobina
RESUMO
No início do milênio os cientistas começaram a chamar a atenção sobre as
mudanças climáticas que estão transformando o planeta terra. A emissão de gases
poluente resultantes da queima de combustíveis fósseis tem transformado a atmosfera e
provocando, além do efeito estufa, mudanças adaptativas na vida e na saúde da
população. As grandes catástrofes climáticas resultantes do fenômeno EL NINA,
mostram em grande escala que os países desenvolvidos e subdesenvolvidos precisam
mudar o rumo na emissão dos gases poluentes. A partir do Protocolo de Quioto
(1998) que o interesse mundial pelos biocombustiveis foi alavancado em função da
necessidade de se reduzir a emissão de gases poluentes que contribuem para o
aquecimento global. Porém, é necessário que se esclareça que também não existem
apenas vantagens na utilização dos biocombustíveis. É necessário disciplina e
cautela no seu uso. É preciso que a saúde, acima de tudo também seja inclusa no
contexto e na busca de alternativas para diminuir os efeitos deletérios á saúde, pelo
aumento da temperatura, bem como evitar maiores catástrofes resultantes das
transformações climáticas.
PALAVRAS-CHAVE: biocombustíveis, mudanças climáticas, poluição, saúde, efeito
estufa, emissão de poluentes.
112 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
INTRODUÇÃO
A preocupação com os efeitos das mudanças climáticas tem forçado os países a
pesquisarem soluções para a redução do consumo de combustíveis fósseis. A cada ano
que passa, aumenta o consumo de combustíveis derivados dopetróleo e,
consequentemente, o aumento da poluição atmosférica. (FERRARI& COLS., 2005).
A busca por combustíveis alternativos vem ganhando destaque nas últimas
décadas. A substituição dos combustíveis fósseis tem sido motivada por fatores
ambientais, econômicos e sociais, uma vez que toda a sociedade depende de seu uso.
Nesse contexto, uma alternativa que se tem destacado é o uso de biocombustíveis e
energias renováveis e limpas. (OLIVEIRA E COLS., 2007).
Segundo Miragaya (2005) as vantagens ambientais do uso de biocombustíveis
líquidos destacam-se a diminuição das emissões, pelos veículos automotores, de gases
e/ou partículas prejudiciais à saúde humana ou ao meio ambiente, como o monóxido
de carbono, hidrocarbonetos e óxidos de enxofre e nitrogênio e de gases do chamado
efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono.
1 AQUECIMENTO GLOBAL
Nestes últimos anos, mas principalmente no início deste milênio, os cientistas estão
chamando a atenção e alertando as pessoas sobre a rápida e catastrófica mudança
climática. Os meios de comunicação veiculam com mais ênfase em seus noticiários
e documentarias o tema sobre o Aquecimento Global e suas consequências nas mais
diversas áreas do planeta.
A pergunta que se faz hoje é quem ou o que pode estar provocando tudo isso.
Num modo geral, os cientistas e pesquisadores do clima em escala mundial afirmam
que este aquecimento global está ocorrendo em função do aumento de poluentes,
principalmente de gases derivados da queima de combustíveis fósseis na atmosfera. A
poluição do ar das grandes cidades é, provavelmente, o mais visível impacto da queima
dos derivados de petróleo.
A degradação ambiental decorrente de atividades industriais e urbanas
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 113
está atingindo níveis cada vez mais alarmantes e a otimização de novas formas de
energia vem ganhando espaço cada vez maior. Ao longo dos anos 80, cresceu a
preocupação de pesquisadores ligados a questões ambientais, com o impacto dessas
mudanças sobre os ecossistemas.
A divulgação do 4° relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCCAR4) em fevereiro de 2007; o filme "Uma verdade
inconveniente", ganhador do Oscar de melhor documentário de 2007; o tratamento
midiático dado a uma série de eventos extremos do ponto de vista climático,
catastrófico e social como o furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans; a onda de
calor na Europa em 2003, quando foi registrado um excesso de mais de 44 mil mortes;
contribuíram para trazer a tona e reforçar o debate sobre as origens e os efeitos das
mudanças climáticas em escala global, mesmo sem consenso para suas
determinações causais. (KOSATSKY, 2005).
As mudanças climáticas podem ser entendidas como qualquer mudança no
clima ao longo dos anos, devido à variabilidade natural ou como resultado da
atividade humana. (IPCC, 2007a). O Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) divulgou recentemente que há 90% de chance do aquecimento
global observado nos últimos 50 anos ter sido causado pela atividade humana, através
do aumento das emissões de gases de efeito estufa. (IPCC, 2007b).
A recuperação de dados mais remotos sobre o clima da Terra tem sido possível
através da analise da composição de testemunhos de gelo do Ártico e Antártica. Esses
dados têm demonstrado que as concentrações de CO2 (dióxido de carbono) e de
CH4 (metano) na atmosfera nunca foram tão altos nos últimos 600.000 anos. (IPCC,
2007a). O aumento do efeito estufai, causado pela acumulação de gases, produziu
um acréscimo de um grau Celsius na temperatura media ao longo do ultimo século.
As mudanças climáticas refletem o impacto de processos socioeconômicos e
culturais, como o crescimento populacional, a urbanização, a industrialização e o
aumento do consumo de recursos naturais e da demanda sobre os ciclos
biogeoquímicos. (McMICHAEL, 1999; CONFALONIERI et al., 2002).
No Brasil, destaca-se o papel do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), notadamente o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
114 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
(CPTEC) no monitoramento e desenvolvimento de Modelos Globais Atmosféricos
(GCMs) e Modelos Globais Acoplados Oceano-Atmosfera (AOGCMs) para a previsão
de mudanças climáticas. (MARENGO, 2007).
2 EFEITOS NA SAÚDE
Desde o evento El Nino (1997-1998), epidemiologistas e entomologistas
começaram a dar uma atenção especial aos impactos dos grandes fenômenos
climáticos sobre a saúde. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) publicou
um estudo especifico sobre o tema em 1999 que enfatizou a permanência de eventos
como El Nino e os desafios para não esquecer e repetir erros do passado.
(ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA SALUD, 2000). Entretanto, a
maior parte dos estudos que relacionam esse acontecimento a doenças vetoriais é feita
no nível planetário ou continental. (GITHEKO et al., 2000; GAGNON et al., 2002;
BASHER GANE, 2002; THOMSON et al., 2003). Enquanto que os impactos de El
Nino são muito variáveis de acordo com a intensidade do evento e as regiões que ele
atinge. (DESSAY et al., 2004).
A identificação da influência humana na alteração do clima e um dos principais
aspectos analisados pelo Terceiro Relatório do (Third Assessment Report - TAR).
(IPCC, 2001b). Nas regiões tropicais e subtropicais da América do Sul, África,
sudeste da Ásia e parte da Oceania estão os países que mais queimam biomassa em
todo o globo terrestre contribuindo diretamente para o fenômeno das mudanças
climáticas globais. (FREITAS et al., 2005). A população humana sob influência das
mudanças climáticas apresentará os efeitos, de origem multicausal, de forma exa-
cerbada ou intensificada. A avaliação dos efeitos sobre a saúde relacionados com os
impactos das mudanças climáticas e extremamente complexa e requer uma avaliação
integrada com uma abordagem interdisciplinar dos profissionais de saúde,
climatologistas, cientistas sociais, biólogos, fisicos, químicos, epidemiologistas,
dentre outros, para analisar as relações entre os sistemas sociais, econômicos,
biológicos, ecológicos e fisicos e suas relações com as alterações climáticas.
(McMICHAEL, 2003).
O aquecimento global pode ter consequências diretas sobre a morbidade e
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 115
mortalidade, por meio da produção de desastres como enchentes, ondas de calor, secas e
ueimadas. A onda de calor que atingiu a Europa Ocidental no verão de 2003 causou cerca de
12.000 óbitos na França. (KOSATSKY, 2005).
As flutuações sazonais produzem efeitos na dinâmica das doenças vetoriais, como
por exemplo, dengue e malária. Os eventos extremos introduzem considerável flutuação
que afetam a dinâmica das doenças de veiculação hídrica, como a leptospirose, as hepatites
virais, as doenças diarréicas etc. Essas doenças podem se agravar com as enchentes ou
secas que afetam a qualidade e o acesso à água. Da mesma forma, as doenças respiratórias
são influenciadas por queimadas e os efeitos de inversões térmicas que concentram a
poluição, impactando diretamente a qualidade do ar, principalmente nas áreas urbanas. É
clara a relação entre alguns efeitos na saúde devido às variações climáticas e os níveis de
poluição atmosférica, tais como os episódios de inversão térmica, aumento dos níveis de
poluição e o aumento de problemas respiratórios, parecem inevitáveis que as mudanças
climáticas de longo prazo possam exercer efeitos a saúde humana em nível global.
Em áreas urbanas quando ocorrem alterações climáticas alguns efeitos da exposição a
poluentes atmosféricos são potencializados. Isto se verifica em relação à asma, alergias,
infecções bronco-pulmonares e infecções das vias aéreas superiores (sinusite),
principalmente nos grupos mais susceptíveis, que incluem as crianças menores de cinco
anos e indivíduos maiores de 65 anos de idade. Os efeitos da poluição atmosférica na saúde
humana têm sido amplamente estudados em todo o mundo. Estudos epidemiológicos
evidenciam um incremento de risco associado às doenças respiratórias e cardiovasculares,
assim como da mortalidade geral e especifica associadas à exposição a poluentes
presentes na atmosfera. (POPE et al., 1995; ANDERSON et ai., 1996; RUMEL et al.,
1993; CIFUENTES et al., 2001).
Segundo a OMS, 50% das doenças respiratórias crônicas e 60% das doenças
respiratórias agudas estão associadas à exposição a poluentes atmosféricos. A maioria dos
estudos relacionando os níveis de poluição do ar com efeitos a saúde foram
116 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
desenvolvidos em áreas metropolitanas, incluindo as grandes capitais da Região
Sudeste no Brasil, e mostram associação da carga de morbi-mortalidade por doenças
respiratórias, com incremento de poluentes atmosféricos, especialmente de material
particulado. (SALDIVA et al., 1994; GOUVEIA et al., 2006).
As emissões gasosas e de material particulado para a atmosfera derivam
principalmente de veículos, indústrias e da queima de biomassa. No Brasil, as fontes
estacionárias e grandes frotas de veículos concentram-se nas áreas metropolitanas
localizadas principalmente na Região Sudeste, enquanto a queima de biomassa ocorre
em maior extensão e intensidade na Amazónia Legal, situada ao norte do país. Se os
ventos predominantes dirigirem-se para áreas densamente povoadas, um número
maior de pessoas estará sujeito aos efeitos dos contaminantes. Esse e o caso do Sudeste
Asiático, onde queimadas provocam nevoa de poluentes de extensão regional com
impactos a saúde de centenas de milhões de pessoas. (RIBEIRO; ASSUNÇAO,
2002).
Alguns estudos evidenciam que a associação entre altas temperaturas e elevadas
concentrações de poluentes atmosféricos pode gerar um incremento das
hospitalizações, atendimentos de emergência, consumo de medicamentos e taxas de
mortalidade. (EPA, 2007). A interação entre poluição e clima também deve ser
considerada como fator de risco para as doenças do coração, seja como consequência
de stress oxidativo, infecções respiratórias ou alterações hemodinâmicas. O aumento
da temperatura também esta associado ao incremento de partículas alergênicas pro-
duzidas pelas plantas, aumentando o numero de casos de pessoas com respostas
alérgicas e asmáticas (ZAMORANO et al., 2003; UNITED STATES, 2007).
O contexto de mudanças climáticas e ambientais globais, em que as incertezas
sobre a natureza de seu impacto na escala dos ecossistemas locais se somam as
complexidades das novas realidades de um Brasil urbano, sugerem novas questões no
enfrentamento dos problemas no contexto da saúde pública.
3 BIOCOMBUSTÍVEIS
Segundo Dyonisio e Meirelles (2006), a descoberta de novas fontes de energia
sempre foi de interesse humano, pois permitiu que o trabalho pesado, que era
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 117
inicialmente realizado à custa da energia muscular humana ou animal, fosse
substituído por energia proveniente da combustão (calor e trabalho). Tudo se iniciou
nos tempo do homem primitivo, na descoberta do fogo quando se pode sentir a liberação
de energia através da combustão.
Dyonisio e Meirelles (2006) relatam que combustível usado como principal fonte
de energia foi sendo substituído ao longo do tempo: inicialmente era a madeira, depois
carvão vegetal e mineral até chegar aos derivados do petróleo. Atualmente, há uma
grande preocupação na busca, utilização eficiente e no aprimoramento de processos
de obtenção de fontes energéticas alternativas como nuclear, eólica, solar, entre
outras em substituição aos combustíveis fósseis.
O fornecimento de energia para uma demanda mundial crescente impõe desafios
"às políticas energéticas nacionais e internacionais". (SILVA JÚNIOR; PEREZ, 2008
apud Miranda e Carmen 2009). Isso ficou muito claro na década de 1970, quando
duas crises planetárias do petróleo assustaram as economias e fizeram o preço desse
combustível fóssil disparar. A partir daí, o mundo passou a conviver com incertezas
quanto à utilização dessa categoria de fonte energética. É também na mesma década
de 1970 que as preocupações ambientais começam a vir à tona, em especial após o
Encontro de Nações em Estocolmo em 1972. A busca incessante por fontes alternativas
de energia perdura até a atualidade. Nessa ótica se desenvolvem as chamadas
"energias limpas" que se utilizam da biomassa para a geração de combustíveis e
energia.
Apesar de já se produzir biocombustíveis há. séculos, foi apenas após o Protocolo de
Quioto (1998) que o interesse mundial pelos biocombustíveis foi alavancado em
função da necessidade de se reduzir a emissão de gases poluentes que contribuem para
o aquecimento global (gases do efeito estufa).
Os biocombustíveis são provenientes de fontes que podem ser repostas em
quantidade e velocidade proporcional a sua utilização, sem o risco de se esgotar.
Soma-se a isto o fato de serem biodegradáveis, diminuindo o impacto ambiental
decorrente de sua utilização, do seu descarte ou em relação às possíveis acidentes
como os derramamentos e também não contribuem para o aumento do acúmulo de
CO2, mesmo quando adicionados aos combustíveis fósseis.
118 BIOENERGA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Porém, é'necessário que se esclareça que também não existem apenas vantagens na
utilização dos biocombustíveis. É necessário disciplina e cautela no seu uso. Dyonisio
e Meirelles (2006) mencionam algumas das preocupações e desvantagens associadas à
produção de biocombustíveis:
- Produção da matéria-prima para a produção de grandes quantidades de
biocombustíveis pode levar ao esgotamento do solo, à destruição da fauna e flora
regional, aumento do risco de erradicação de espécies animais e vegetais, possível
aparecimento de novos parasitas e invasão das áreas de florestas tropicais pelas
lavouras;
- A energia necessária para a irrigação, aplicação de adubos e utilização de
máquinas agrícolas, transporte e armazenamento não é levada em conta no balanço
de emissão de CO2;
No que diz respeito aos biocombustíveis, pode-se dizer que eles não são
obrigatoriamente substitutos dos combustíveis fósseis, mas aditivos que minimizam
os problemas ambientais e melhoram a qualidade do combustível.
CONCLUSÕES
A sociedade atual se encontra frente-a um grande desafio no que diz respeito ao
setor da saúde. As mudanças climáticas representam uma série de exposições a
diversos fatores de risco, a causa mais distai dessas exposições e a alteração do estado
ambiental devido à acumulação de gases do efeito estufa. Deve-se ressaltar que o
modelo de desenvolvimento e a própria produção de energia causam mudanças
climáticas, mas também problemas de saúde pela poluição do ar, que resulta em mais
de 800 mil óbitos por ano; acidentes de trânsito, que causam 1,2 milhões de óbitos por
ano e a redução da atividade fisica, que resulta em 1,9 milhões de óbitos por ano
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007).
Segundo Confaloniere (2005), o mundo vem passando por mudanças que não
estão limitadas apenas a aspectos climáticos. Paralelo aos processos de mudanças
climáticas vem se acelerando a globalização (aumentando a conectividade de pessoas,
mercadorias e informação), as mudanças ambientais (alterando ecossistemas,
reduzindo a biodiversidade e acumulando no ambiente substâncias tóxicas) e a
precarização de sistemas de governo (reduzindo investimentos em saúde, aumentando
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 119
a dependência de mercados e aumentando as desigualdades sociais).
Os riscos associados ás mudanças climáticas globais não podem ser avaliados em
separado desse contexto. As transformações sociais e tecnológicas ocorridas no mundo
nas ultimas décadas permitem antever que os comprometimentos da saúde adquiriram, ao
longo dessas décadas, outras características, além dos fatores biológicos intrínsecos.
A possibilidade de prevenir, diagnosticar e tratar algumas pessoas e excluir outras
desses sistemas aprofundou as diferenças regionais e sociais de vulnerabilidades e
transformou as desigualdades sociais num importante diferencial de riscos
ambientais.
Cabe ao setor saúde, e a toda a sociedade, não só prevenir esses riscos fornecendo
respostas precisas para os impactos causados pelas mudanças ambientais e climáticas,
mas atuar efetivamente na redução de suas vulnerabilidades sociais, por meio de
mudanças radicais no comportamento individual, social e político, por um mundo
sustentável, mais saudável e justo com as gerações futuras.
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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 123
CAPÍTULO 9
BIODIESEL: UMA ANÁLISE SOBRE OS PRINCIPAIS
PAÍSES PRODUTORES
Zenaide de Oliveira Ferraz Silva
Viviane Gaivão
RESUMO
Atualmente, o biodiesel tem sido bastante utilizado e apresenta potencial como
biocombustível em decorrência da sua grande contribuição ao meio ambiente. O biodiesel
é promissor, pois reduz de maneira quantitativa e qualitativa a poluição ambiental. Além
disso, ele representa uma fonte estratégica de energia limpa e renovável, podendo até
vir a substituir o óleo diesel e outros combustíveis deriVados do petróleo. Neste
sentido, este trabalho teve como objetivo, fazer uma análise histórica sobre o
biodiesel, enfatizando os cinco maiores países produtores deste biocombustível no ano
de 2010. Nesse ano, os maiores países produtores de biodiesel foram Alemanha,
Brasil, França, Argentina e Estados Unidos, respectivamente.
PALAVRAS-CHAVE: Biocombustivel, Bio diesel; Matérias-primas.
124 BIOENERG1A: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II INTRODUÇÃO
A demanda mundial por energia vem crescendo devido ao avanço econômico de
vários países emergentes. Contudo, a previsível redução mundial das reservas de
petróleo, a poluição ambiental e as alterações climáticas do planeta provocadas pelo
efeito estufa, estão mudando o panorama mundial no aspecto que se refere ao uso de
energia. A utilização de energias não-renováveis configura-se como uma matriz
energética não sustentável a longo prazo. Além disso, uma maior tomada de
consciência ecológica, está fazendo com que pesquisadores busquem fontes de
energia renováveis para a produção de combustível. Um tipo de combustível
renovável e viável são os biocombustíveis (DABDOUD et al., 2009).
Os biocombustíveis são co-mbustíveis renováveis produzidos a partir de
matérias-primas biológicas. Eles são uma fonte de energia ecológica, uma vez que
os danos causados ao meio ambiente são reduzidos em relação aos combustíveis
derivados do petróleo. Atualmente, um dos principais biocombustíveis utilizados no
mundo é o biodiesel. O biodiesel pode ser definido como um biocombustível
derivado de biomassa renovável para uso em motores à combustão interna ou para
geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente
combustíveis de origem fóssil (SUAZEZ. e MENEGHETTI, 2007).
O biodiesel é produzido através da reação de transesterificação de óleos vegetais
(soja, dendê, mamona, girassol, canola, pinhão-manso, amendoim> dentre outros) com
um álcool (metanol ou etanol), na presença de um catalisador ácido ou básico. Desta
reação derivam um éster (biodiesel) e diversos subprodutos, dentre eles a glicerina, a
lecitina e outros (SILVA e FREITAS, 2008). Uma das características do biodiesel é o
expressivo percentual de oxigênio em sua composição, aproximadamente 11%. Esse
fato representa menor poder energético, porém colabora para a redução das
concentrações de gases poluentes emitidos OZ et al., 2004).
A ampliação da produção de biodiesel levou ao crescimento a produção de óleos
vegetais, uma vez que estes são utilizados como matéria-prima na produção
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 125
daquela substância. Atualmente, grande parte do biodiesel produzido é derivada do
óleo de soja. Contudo, várias oleaginosas vêm sendo estudadas e utilizadas como
possíveis fontes substitutivas de óleos vegetais na produção deste biocombustível. O
elevado preço dos óleos vegetais tem deixado o biodiesel não-competitivo quando
comparado ao diesel de petróleo. Assim, é imprescindível a criação de programas e
incentivos governamentais que contribuam para minorar o custo operacional envolvido
na produção do biodiesel e, consequentemente, torná-lo mais competitivo
economicamente (MASIERO E LOPES, 2008).
As misturas binárias de óleo diesel de petróleo e biodiesel são representadas através
da sigla BX, em que o X designa a porcentagem de biodiesel na mistura. Por exemplo,
B2 é uma mistura binária cuja porcentagem de biodiesel é igual a 2%, B5 possui 5% de
biodiesel e assim até B 100, que representa o biodiesel puro, sem nenhum tipo de
mistura (FERRARI et al., 2005).
A produção mundial de biodiesel está crescendo com o passar dos anos. A figura
1 apresenta os cinco principais países produtores de biodiesel (MME, 2011) e a
capacidade instalada dos Estados Unidos (EIA, 2013), Brasil (ANP, 2010), Alemanha
(EBB, 2013), França (EBB, 2013) e Argentina (CADER, 2011), em 2010. Com base
nesses países, observa-se que a produção de biodisel concentra-se no continente
europeu e americano.
Alemanha Brasil Argentina França Estados Unidos
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
Pro
du
ca
o (
x 1
06 m
3)
(a)
126 BIOENERG1A: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Figura 1. a) Cinco maiores países produtores de biodiesel em 2010. b)
Capacidade instalada nesses cinco países em 2010.
A Alemanha foi o maior país produtor de biodiesel, produzindo em torno de
46% da sua capacidade total. Em segundo lugar vem o Brasil, que produziu
aproximadamente 41% da sua capacidade. A Argentina e a França ocupam o
terceiro e quarto lugar em produção respectivamente e, em ambos, a indústria
produziu cerca de 75% da sua capacidade. Os Estados Unidos, apesar de
possuirem a maior capacidade instalada, estão na quinta posição em produção,
uma vez que só produzem 13,5% da sua capacidade. Desta forma, este trabalho
teve como objetivo fazer uma análise histórica sobre o biodiesel, enfatizando os
cinco maiores países produtores deste biocombustível no ano de 2010.
1 BIODIESEL NA ALEMANHA
Os países europeus, em particular a Alemanha, investiram em pes¬quisas na
área de tecnologia de combustíveis renováveis e matrizes ener-géticas menos
poluentes. A partir destes estudos, a Alemanha instituiu a utilização de biodiesel
obtido de canola misturado ao óleo diesel. Esta mistura é muito empregada nesse
país (GSI, 2012). Na Alemanha, os agricultores plantam a canola com a finalidade
de fornecer nitrogênio de forma natural aos solos que já estão esgotados desta
substância, importante nutriente encontrado no solo. A principal matéria-prima
Estados Unidos Brasil Alemanha França Argentina
0
2
4
6
8
(b)
Ca
pa
cid
ad
e (
x 1
03 m
3)
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 127
empregada na produção de biodiesel na Alemanha é, portanto, a canola (LIMA,
2004).
A Alemanha tem cerca de 82 milhões de habitantes, os quais consomem
aproximadamente 27 milhões de toneladas de diesel. Este fato fez com que houvesse
investimentos em um programa de fabricação de biodiesel. Em 2010, a Alemanha foi
o maior produtor (MME, 2011) e, também, o maior consumidor mundial de
biodiesel (GSI, 2012). Nesse país, o biodiesel já vem sendo amplamente utilizado em
ônibus, caminhões, tratores, geradores de energia e motores de indústria. O esforço
e o incentivo na Alemanha para chegar a um nível cientifico e tecnológico elevado para
a produção de biodiesel, está correlacionado principalmente á falta de petróleo no
país e ao apoio do governo no incentivo a novas tecnologias baseadas em fontes
renováveis (PINTO et. al., 2005).
A Alemanha possui uma estratégia interessante para comercializar o biodiesel. O
combustível fornecido ao posto já vem misturado com o óleo diesel e os postos
nesse país possuem dois bicos em uma mesma bomba. Um bico possui o selo verde
para o biodiesel e o outro para o óleo diesel de petróleo. Outra estratégia adotada
pelos alemães é a prática de um menor preço para o biodiesel, explicada pela isenção
completa dos tributos envolvidos em toda sua cadeia produtiva (LIMA, 2004).
2 BIODIESEL NO BRASIL
O Brasil vem despontando em pesquisas científicas não apenas como um dos
maiores produtores, mas também como grande consumidor de biodiesel. A partir da
década de 1970, o governo brasileiro iniciou medidas com o objetivo de reduzir o uso
do petróleo, implantando diversos programas de pesquisa com a finalidade de estudar a
utilização dos biocombustíveis. Dentre os biocombustiveis, o biodiesel mereceu
destaque (KOHLHEPP, 2010).
Em 1980, o Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para Fins
Energéticos (Pró-óleo) foi criado por meio da Resolução Número 7, do Conselho
Nacional da Energia. Tendo como um dos objetivos promover a substituição de óleo
diesel por óleo vegetal em mistura de até 30% (SUAZEZ e MENEGHETTI, 2007).
128 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Em 1980, também surgiu o Programa de Óleos Vegetais (OVEG), que tinha por
finalidade testar a utilização de biodiesel puro e misturas somente em veículos
automotores (RAMOS e cols., 2011). Em 2002, foi criado pelo governo Federal o
Programa Brasileiro de Biocombustíveis (Probiodiesel). O objetivo deste programa
era incentivar o uso de combustíveis renováveis, reduzindo assim a emissão de
gases poluentes (SUAZEZ e MENEGHETTI, 2007).
Em 2004, o Probiodiesel sofre reformulações e se transforma no Programa
Nacional de Produção e Uso do Bio diesel (PNPB). O PNPB foi fundamental para o
estabelecimento da composição atual no processo de fabricação e comércio do biodiesel,
desde o cultivo da matéria-prima à exportação do produto. Esse programa incentiva a
participação dos pequenos e médios agricultores familiares na produção de
oleaginosas dando, assim, um enfoque social, econômico e regional ao programa.
Além disso, ele também estimula pequenas e médias empresas agroindustriais a
produzirem biodiesel, oferecendo subsídios, isenções fiscais e redução de imposto
sobre o biodiesel produzido por eles (KOHLHEPP, 2010).
De acordo com a Lei n° 11.097, de 13 de janeiro de 2005, no seu artigo 2°,
tornou-se obrigatória a adição de um percentual de 2% de biodiesel ao óleo diesel no
Brasil. Em 2013, o percentual obrigatório passou a ser de 5% (RAMOS e cols.,
2011). A qualidade do biodiesel disponível para comercialização é garantida pela
emissão do Certificado de Qualidade que deve acompanhar o produto. Esse
certificado é de responsabilidade do produtor, adquirente e importador. Para tanto, o
produto deve atender às especificações contidas no Regulamento Técnico da ANP n°
4/ 2012 (ANP, 2012).
A concessão e o gerenciamento do Selo Combustível Social é a identificação
concedida pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) ao produtor de
biodiesel que cumpre os critérios estabelecidos pelo PNPB e participa do Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) (MDA, 2013). Este
programa se caracteriza por implementar a produção e o uso de biodiesel de forma
sustentável, tanto técnica como economicamente, buscar o desenvolvimento regional e
a inclusão social, garantir preços competitivos e qualidade no fornecimento de
biodiesel para mistura no diesel, em todo o território nacional (PINTO et. al., 2005).
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 129
No Brasil, a produção de biodiesel foi ajustada à cultura de cada região. No
norte, as oleaginosas mais utilizadas são dendê, babaçu e soja. No nordeste são
mamona, dendê, babaçu, soja e algodão. No centro-oeste são babaçu, soja, mamona,
palma e algodão. No Sudeste são soja, mamona, algodão e girassol. No Sul são a soja
e o girassol. No Brasil, a soja ocupa um lugar de destaque entre as plantas
oleaginosas para a produção de biodiesel (HOLANDA, 2004).
3 BIODIESEL NA ARGENTINA
A Argentina é outro país da América Latina que se destaca na produção de
biodiesel. Em 2010, foi um dos líderes do mercado mundial na produção de biodiesel,
com a produção de 1,8 milhões de toneladas. Esse país tem o biodiesel como um dos
principais vetores para o desenvolvimento econômico do país. A Argentina passou a
incentivar e investir no aumento da produção desse biocombustível, por intermédio do
Decreto 1.396, de novembro de 2001. A partir desse decreto, foi implementado o "Plano
de Competitividade do Combustível Biodiesel", cujo objetivo principal foi incentivar
os investimentos (externos e internos) na produção do biocombustível. O modelo de
produção do biodiesel adotado pela Argentina tem como principal matéria-prima a
soja. A produção desse grão aumentou consideravelmente nos últimos anos nesse
país, propiciando o crescimento da produção de biodiesel (CREA, 2011).
O diesel e a gasolina são obrigados a conter um percentual de biocombustíveis de
5% em sua composição desde o ano de 2010. Essa resolução foi prevista pela Lei de
Biocombustíveis da Argentina, número 26.093, de abril de 2006 e implementada em
fevereiro de 2007 sob o amparo do Decreto 109/2007. As especificações acerca da
qualidade do biodiesel foram formalizadas a partir da Resolução 6/2010 e a fixação do
preço do biodiesel foi criada com a Resolução 7/2010, em fevereiro de 2010
(SORDA et al., 2010).
A Argentina leva vantagem natural na produção de biodiesel, por ter abundância nos
seus recursos primários e também uma produtividade agríçola extraordinária. Esse
fato torna a Argentina o quarto país produtor mundial de biocombustíveis, só
130 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
ficando atrás da Alemanha, Brasil e França. A Argentina vende o excedente de
biodiesel para outros países como Peru, Espanha, Itália e Holanda (CREA, 2011).
4 BIODIESEL NA FRANÇA
A França encontra-se atualmente numa posição de destaque com relação à
produção de biodiesel na União Europeia. Nesse país, o biodiesel é conhecido como
diéster e suas principais matérias-primas são a canola e o girassol (BAJPAI e TYAGI,
2006). Na França, o biodiesel é utilizado somente misturada ao óleo diesel derivado do
petróleo, ou seja, ainda não é utilizado em sua forma pura. O biodiesel é fornecido aos
postos já misturado com o óleo diesel, cujos percentuais de mistura variam de acordo
com o setor que irá utilizá-lo. O transporte urbano francês, realizado por ônibus, utiliza
o biodiesel em uma porcentagem que varia de 5% a 30%. Em refinarias de petróleo
são acrescentados 5% de biodiesel ao óleo diesel normal (MELLO, 2007).
Uma associação de entidades francesas, denominada " Partenaires Diest-d'
("Parceiros do Biodiesel"), composta por produtores e consumidores, foi criada com
o objetivo de difundir e analisar os efeitos causados pela mistura de biodiesel e
diesel de petróleo nos centros urbanos, em especial nos transportes coletivos. Uma
das maiores indústrias de produção de Biodiesel está localizada na Europa,
especificamente em GrandCouronne, na França. Essa indústria foi construída em
1995, com um custo total de 18 milhões de Euros. Ela pertence à Diester Industrie e sua
produção está em torno de 250.000 toneladas por ano (PAHL, 2005).
5 BIODIESEL NOS ESTADOS UNIDOS
Os norte-americanos estão motivando sua população a consumir o biodiesel, pois
eles estão preocupados com a qualidade do meio ambiente, principalmente nos
grandes centros (LIMA, 2004). O programa de biodiesel norte-americano foi criado
pela Lei do Senado S-517, de 25/ 04/2002, cuja meta de produção foi programada em
torno de 20 bilhões de litros ao ano. O marco regulatório do biodiesel nos Estados
Unidos foi determinado e fixado pela ASTM D-6751 (TEIXEIRA e TAOUI, 2010)
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 131
e pela politica de produção, sendo sua utilização estabelecida e regulamenta pela
National Biodiesel Board (NBB), fundada em 1994 (LOBO e FERREIRA, 2009). A
principal matéria-prima usada pelos Estados Unidos na produção do biodiesel é a soja.
Contudo, o óleo reciclado também vem ganhando um espaço considerável na
produção deste biocombustível (EIA, 2013).
Os Estados Unidos possuem diversos incentivos à produção de biodiesel, como o
Commodity Credit Corporation Bioenergy Prograrn. Este programa visa dar subsídio à
obtenção de matérias-primas para fabricação de biodiesel e determina um nível mínimo
de consumo de biocombustível por órgãos públicos e frotas comerciais. Em 1990, o
Clean Air Act aprovou o biodiesel produzido nos Estados Unidos e a Agência
Ambiental Americana (PEA) autorizou a venda e a distribuição desse produto. De
acordo com este ato, o biodiesel é o único combustível alternativo aprovado nesse
país; já os óleos vegetais puros não podem ser utilizados como óleo combustível
(BENEDETTI, 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo como levantamento realizado, os problemas com os combustíveis
derivados do petróleo estão aumentando em todo o mundo, especialmente no que diz
respeito às questões ambientais. Isto está ocorrendo devido à escassez das reservas de
petróleo conhecidas. Por outro lado, o consumo de energia continua crescendo e a forma
mais viável para atender a esta demanda é a utilização de combustíveis renováveis,
ou seja, biocombustível. O biodiesel, por ser um biocombustível, merece destaque,
pois pode substituir o óleo diesel, caracterizando-se também por ser biodegradável,
não tóxico e não inflamável. A presente pesquisa possibilitou a constatação que, em
escala industrial, o biodiesel tem sido produzido com a utilização de inúmeras
matérias-primas. sendo as principais a canola, a soja, o girassol e o óleo vegetal
reciclado.
Em diversos países existem normas e leis que regulamentam a qualidade do
biodiesel, além de medidas de isenção fiscal cujo objetivo é incentivar a produção
desse biocombustível. Essas medidas estimulam o consumo e a participação dos
pequenos e médios agricultores na produ ção de oleaginosas. O aumento e o
132 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
aperfeiçoamento dos programas de incentivo à produção e o consumo de biodiesel é
essencial e sua importância se deve ao fato do alto custo para a sua produção.
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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 135
CAPÍTULO 10
INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA — O ELO QUE FAL-
TA PARA A CONSOLIDAÇÃO DO AMBIENTE DE
NEGÓCIO DAS BIOMASSAS -
O CASO DO BIODIESEL E DO ETANOL
José Emanuel Rebouças Ferreira Roberto
Antonio Fortuna Carneiro
RESUMO
O propósito deste artigo esteve em analisar o contexto em que está inserido o negócio
das energias renováveis com o foco na infraestrutura logística. O artigo trabalha a
literatura especializada sobre a área de Logística, definindo suposições sobre possíveis
determinantes do atraso no processo de implantação desta infraestrutura logística
para suportar o negócio das biomassas e fatores relacionados ao ambiente sócio-
político que interferem no ambiente de negócio. O objetivo explícito de tudo isso é
instrumentalizar as áreas envolvidas de informações que conduzam a pensar em
estratégias que resultem em infraestrutura logística que minimize os custos no uso
dessa energia e consolidação do ambiente de negócio das biomassas.
PALAVRAS-CHAVE: Infraestrutura Logística, Energias Renováveis, Biomassas.
136 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
INTRODUÇÃO
O sistema logístico disponível, hoje, na economia brasileira, está caracterizado por
ser deficiente e exige ações que possam minimizar os gargalos enfrentados pelo setor
produtivo brasileiro. São desafios que precisam ser enfrentados pelos grupos
empresariais e suas lideranças no âmbito do setor público, pois os problemas da
infraestrutura logística do país ocorrem, principalmente, pela ausência de políticas
mais claras e eficientes e de programa de investimentos para a melhoria de portos,
rodovias, ferrovias, aeroportos, entre outros.
A Bahia, apesar da sua posição de destaque na economia brasileira, e de liderança
na Região Nordeste, enfrenta problemas que se acumularam ao longo dos anos e que
vêm restringindo o processo de desenvolvimento do estado. Neste panorama,
entender os gargalos que envolvem o ambiente econômico ligado à distribuição e
consumo de combustíveis é fator preponderante para que sejam encontradas respostas
que minimizem os efeitos negativos sobre os preços e a economia de um modo
geral.
Entender essa equação é fundamental, dado a oferta cada vez maior de novas
matrizes de energia. Nesse sentido, é importante determinar a relação existente entre a
estrutura logística atual e o futuro desejado; o uso das novas tecnologias aplicadas a
esse ambiente, além de outros desafios que exigem investimentos para o
desenvolvimento de soluções e inovações e o surgimento de uma nova logística.
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
O termo "logística" não tem um único significado, de forma que se pode
encontrar uma referência da palavra para representar várias áreas tais como:
transportes, distribuição, distribuição física, suprimento e distribuição, administração de
materiais e operações logísticas. No entanto, a definição mais aceita é dada por
Bailou (1993, P. 24 - 27):
"logística trata de todas as atividades de movimentação e
armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de
aquisição da matéria- prima até o ponto de consumo final, assim
como dos fluxos de informação que colocam os produtos em
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 137
movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço ade-
quados aos clientes a um custo razoável".
A logística começa nas fontes de suprimento, passando pelas operações da
empresa até chegar ao cliente. Outro autor que pode ser citado, Ching (2001, P. 27)
afirma que:
Numa óptica de fluxos, as atividades logísticas, em seu conjunto,
percorrem toda a cadeia de abastecimento origem-destino. Daqui
resulta que, se por um lado, é evidente que existem realidades
empresariais diversas, destacadamente as do produtor, do distribuidor
e do prestador de serviços, por outro, fica clara a necessidade de
uma visão global, isto é, de toda a cadeia de abastecimento. O
tratamento das atividades logísticas, nas empresas, pode ser
classificado em várias fases de acordo com o grau de inter-relação
existente entre diversos agentes da cadeia. [...]
Por sua vez, a Associação Brasileira de Logística, a melhor definição para este
termo é:
processo de planejamento, implementação e controle do fluxo e
armazenagem eficiente e de baixo custo de matérias-primas, estoque
em processo, produto acabado e informações relacionadas, desde o
ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender
os requisitos do negócio.
A logística apresenta uma combinação no fluxo de puxar e empurrar os produtos na
cadeia de suprimentos ao mesmo tempo. Uma cadeia de suprimento, como proposto
por Porier e Quinn (2006), demonstra o caminho do processo de integração até a
conectividade total. Classifica as ações em níveis de importância e, inicialmente,
trabalhando a limitação interna, indo até o envolvimento efetivo dos parceiros
externos, descrevendo um salto evolutivo na gestão da cadeia, promovendo a verdadeira
conectividade entre parceiros e cadeia.
Torna-se essencial pensar em uma estrutura diferenciada, englobando conceitos
138 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
de logística e estratégia de negócios. A integração das atividades de negócio e logística
tem agregado valores ás interações da cadeia produtiva e tem se transformado na nova
fronteira competitiva das organizações. A introdução dessas exigências implica
reconhecer que a logística visa aumentar a competitividade nos mercados. Implica,
também, que para satisfazer o ambiente de negócio é necessário ter uma compreensão
profunda de suas necessidades e possuir estruturas eficientes, que permitam o uso
comercial desses novos produtos.
Para isso, os mercados deverão traduzir essas necessidades em requisitos,
certificando a entrada destes novos produtos, transformando conceitos em ambiente de
negócio. Logo, vê-se a logística como capaz de criar valor ao negócio. Assim, a logística
tem como finalidade fornecer a sociedade os níveis de serviços desejados. A meta de
nível de serviço logístico é providenciar bens de serviços corretos, no lugar certo, no
tempo exato e na condição desejada ao menor custo possível (BALLOU, 1993, p.
38). Isto é, conseguido através da administração adequada das atividades-chaves da
logística: transporte, manutenção de estoques, processamento de pedidos e de várias
atividades de apoio adicionais. Este trabalho traz uma reflexão da dificuldade que esse
tema tão complexo representa quando se busca outras opções para a consolidação de
uma matriz alternativa de combustível e os desafios que a logística tem para atender a
necessidade de comercialização desses novos produtos.
2. A CADEIA PRODUTIVA: FERRAMENTA POTENCIALIZAI)ORA
DA LOGÍSTICA NA CONSTRUÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA DE
NEGÓCIOS
Para que aconteça, de forma eficiente, o fluxo de informações, movimentação e
armazenagem na produtividade das organizações, uma ferramenta imprescindível para
os gestores é compreender como é formada e como está estruturada a cadeia produtiva
do segmento ao qual está inserida.
Batalha (1997) apresenta uma discussão acerca da cadeia de produção voltada
para o setor agroindustrial. Referencia as dificuldades encontradas pelos economistas
franceses para encontrar um conceito adequado para cadeia de produção. O tema
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 139
possui várias definições, mas uma forma sintetizada para analisá-lo é considerar três
elementos que se interrelacionam na cadeia de produção: i) é uma sucessão de
operações de transformação dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas entre si por
um encadeamento técnico; ii) um conjunto de relações comerciais e financeiras que
estabelecem entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca, situado de
montante a jusante, entre fornecedores e clientes; iii) é um conjunto de ações
econõmicas que presidem a valoração dos meios de produção e asseguram a articulação
das operações. Demonstra que os três macros segmentos são: comercialização,
industrialização e produção de matérias-primas.
Pires (2004) diverge, quando afirma que não existe um padrão para o termo cadeia
de produção, mas que este, geralmente, refere-se ao conjunto de atividades que
representam genericamente determinado setor industrial. Vem sempre acompanhado
de um "complemento" que designa um determinado setor industrial.
Cabe ressaltar ainda que os custos para uma matéria prima em escala primária pode
ser de mensuração mais fácil, ao passo que a mesma possua uma logística construída
para atender seu processo produtivo, tratando-se de energias renováveis. Aqui se
encontra o maior desafio posto ás empresas e Governos para transformar essa nova
fronteira em riqueza e novos negócios. Exige um tratamento diferenciado conforme o
posicionamento do mercado e das forças ali existentes. Ou seja, é preciso estar atento
para que, ao pensar na produção com fluxo de materiais, tenha segurança de
abastecimento contínuo. "A importância da boa administração de materiais pode ser
bem mais apreciada quando os bens necessários não estão disponíveis no instante
correto para atender as necessidades de produção ou operação" (BALLOU, 1993, p.
61).
Sobre a visão do futuro da logística, Bailou (1995) apresenta a necessidade de uma
reelaboração das atuais politicas de preservação do meio ambiente tendo em vista o
crescimento da industrialização e população. Alerta para uma preocupação maior com
a ecologia e revela que a logística deve não só ser capaz de reconhecer o desafio de
preservação dessé meio ambiente, mas também ser capaz de compreender e de poder
utilizá-lo. Resultam em grandes desafios para os empresários e os governos.
140 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
É necessária a existência de uma espécie de diálogo entre a empresa e o governo,
basicamente, focando na forma como a logística pode interagir entre as áreas privada e
pública, interação que, muitas vezes, é a base para a resolução de problemas e para a
tomada de decisão.
Reconhecendo a fase atual da logística, no âmbito do processo de produção e novas
exigências ambientais, este artigo aborda um tema hospedado na necessidade de
apresentar alternativas que impliquem na construção de uma de cadeia produtiva
eficiente na visão do processo produtivo, especificamente na operacionalização e o
uso comercial dos produtos derivados de fontes renováveis.
3 . D E SA FIO S D A IN FR A E ST R UTU R A LO G ÍST IC A
DECORRENTE DOS NOVOS ARRANJOS NA GEOPOLinCA MUNDIAL.
Sabe-se que vem ocorrendo um incremento na demanda das organizações em se
adaptar mais velozmente às mudanças no mercado e na economia global. A demanda
ou pressões feitas às organizações para melhorar a performance advém de
(MACINTOSH, 1998), assim apresentado:
i. incremento na competitividade a nível de mercado;
ii. incremento na taxa de inovação;
iii. incremento no foco de criação de valor para o consumidor;
iv. redução no tamanho da força da mão de obra critica para a criação de conhecimento;
v. cada vez menos disponibilidade para uma organização realizar pesquisas e
adquirir conhecimento;
vi. incremento na mobilidade força de trabalho e aposentadoria mais cedo;
vii. incremento tecnológico dos processos produtivos;
viii. frequentes mudanças no direcionamento estratégico das corporações; e cada vez
maior o incremento de volume de dados e informações.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 141
Resulta de uma combinação de vários fatores, a saber: a) individuais (resistência às
inovações tecnológicas, sobrecarga de inovação e falta de treinamento); b)
organizacionais (sistema de informação inadequado ou insuficiente, ausência de
participação dos usuários finais nas decisões e falta de momtoramento quanto à
adaptação dos mesmos). Diversas outras explicações podem ser destacadas para
justificar este novo comportamento: a competição internacional decorrente dos novos
arranjos na geopolitica mundial, o caso do crescimento dos blocos econômicos, o surgi-
mento de novas potencias econômicas, descoberta de novas fontes energética, uso de
fontes renováveis de energia, maior produtividade advindo do uso das novas
tecnologias, dentre outras.
O Brasil, desde a década de 70, trabalha em pesquisas desenvolvendo combustíveis
renováveis, como é o caso do Etanol e o HBIO, entre outros, que, para o uso em
escala comercial, exigem uma logística moderna, flexível, capaz de reagir e
acompanhar a dinâmica dos mercados. Por muitas razões, nos estudos históricos que
descreve a evolução do crescimento econômico do Brasil, a década de 80 é vista como
a que menos repercutiu positivamente: inflação, abertura de mercado, mudança de
Governo Militar e infinitos pacotes ortodoxos, refletem até hoje no desenvolvimento
econômico e na renda per capita do brasileiro.
Foi a partir da década de 90 que o Brasil passou a intensificar seus investimentos
em pesquisas, desenvolvendo projetos destinados a minimizar sua dependência de
petróleo. Isso levou a retomada dos estudos para a construção de uma matriz que
usasse o combustível renovável. Esta ação, seguida por muitos países, acelerou o
desenvolvimento das tecnologias, criando e mudando o rumo deste combustível, hoje
sendo tratado como de 2a geração. É um processo de reaproveitamento da cana, palha,
sebo bovino, torta da soja e muitos outros subprodutos que tornam viáveis na sua
industrialização, produzindo, em escala, um óleo totalmente extraído e processado
em meio de uso do solo, sem comprometer as áreas de cultura para fins humanos.
Seja como for, o Brasil se apresenta em uma posição privilegiada, capaz de
produzir e abastecer o mercado mundial carente de combustível. O Brasil é, hoje,
um dos principais produtores da matéria prima para a produção do Biodiesel e um
dos maiores produtores no mundo. O país ocupa o 2° lugar na produção e no uso do
Biodiesel, atrás apenas da Alemanha, todavia, existem estudos que afirmam que já
142 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
neste ano de 2013 o Brasil passará a ser o 1° lugar em produção deste combustível.
Fazer a integração logística para circular esse produto é o desafio. A Bahia se apresenta
como um estado com proporções territoriais iguais a um país e, também, precisa
vencer essa barreira.
De acordo com Wanke (2010), existe de um lado um forte movimento de
modernização nas empresas, que demanda serviços logísticos cada vez mais
eficientes, confiáveis e sofisticados, a fim de se manterem competitivos num mundo que
se globalizou, e onde a logística é cada vez mais determinante para o sucesso empresarial;
de outro lado, um conjunto de problemas estruturais, que distorcem nossa matriz de
transportes e contribuem para o comprometimento do desenvolvimento econômico e
social do estado: ausência de infraestrutura; mão de obra sem formação especifica;
serviços logísticos especializados. Fatores que emperram o crescimento e não atraem
novos investidores. Por conseguinte, a exigência de crescer e reagir ás ameaças ao
ambiente de negócio tem levado as organizações a investirem em sua cadeia produtiva
com vista a uma maior competitividade.
Enfim, para a comercialização dessa riqueza, mirando os combustíveis de
energias renováveis, é necessário compreender os contornos do seu manuseio e suas
origens e como essa inteligência pode contribuir para a diminuição do custo repassado
ao consumidor. Acrescentar que o envolvimento da agricultura familiar gera uma
grande dificuldade adicional na produção do combustível renovável e, nessa
compreensão, Dornier, Ernst, Fender, Kouvelis (2000), afirmam que um importante
elemento da arquitetura da distribuição fisica é o papel desempenhado pelos
provedores de transportes e operadores logísticos. Um quadro de profissionais
logísticos de área, com responsabilidade e capacidade produtiva comprovada, também
contribuem na geração e distribuição da riqueza advinda do controle eficiente de
distribuição.
Dentro desta premissa, a logística funciona como um facilitador para as
mudanças necessárias nos ambientes produtivos, oferecendo a perspectiva central das
decisões, estimulando a convergência de esforços e a focalização da atenção nos
fatores-chave para o sucesso. Premissa defendida por Christopher (1997) é haver
entendimento na rede de negócio, que conecta os fornecedores e os fornecedores
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 143
deles, bem como seus clientes e os clientes deles. Compreender essa sequência
contribui na construção do planejamento estratégico adequado dentro da cadeia de
suprimento, promovendo aos gestores do segmento de logística amplo conhecimento
do comportamento mercadológico, questões legais específicas, processo tecnológico e
fluxo de informações.
Passa pela construção de uma logística eficiente que atenda a necessidade de
mobilidade e de projetos que apontem nessa direção. Não existe produção sem
transporte, não existe ganho com um gargalo tão grande. Para Wanke (2010), o
sistema de transportes brasileiro encontra-se numa encruzilhada. De um lado, um
forte movimento de modernização nas empresas, que demanda serviços logísticos
cada vez mais eficientes, confiáveis e sofisticados, a fim de se manterem competitivos
num mundo que se globalizou, e onde a logística é cada vez mais determinante para o
sucesso empresarial; de outro lado, um conjunto de problemas estruturais, que
distorcem nossa matriz de transportes e contribuem para o comprometimento do
desenvolvimento econômico e social do Estado.
4. A UTILIZAÇÃO DA LOGÍSTICA COMO ESTRATÉGIA E USO DA TIC
COM INSTRUMENTO DE ALAVANCAGEM DE SOLUÇÕES.
Segundo Porter (1986), a essência de uma estratégia é relacionar uma companhia a
seu meio ambiente, sendo que tal relacionamento é o que determina a intensidade da
concorrência enfrentada pela indústria. Fleury (2000) afirma que para ser competitiva
a empresa precisa ter flexibilidade em seus processos. Assegura que no mundo incerto
e dinâmico dos dias atuais, a velocidade de resposta é um fator determinante para a
construção de vantagem competitiva.
A globalização tem dado novo contorno ao processo competitivo das instituições.
Quando é tratado sobre a comercialização de combustíveis de energias renováveis, é
necessário entender os contornos do seu manuseio e suas origens. Esse entendimento
pode contribuir para a diminuição do custo elevado para o consumidor e buscar
maneiras para aumentar seu uso, atenuando o custo de produção a patamares que se
aproximem de valores comerciais. O conceito de valor agregado ao posicionamento
144 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
do produto, quando é preciso saber a quantidade certa, no lugar certo, no momento
certo, ganhou nova dimensão, colocando em destaque a importância dos processos
logísticos e do como fazer para dar certo.
Márquez (2004, p. 38-63), afirma que existe potencial de melhoria na integração
dos processos ao se utilizar a TIC, (Tecnologia da Informação) para obter uma cadeia
de suprimento mais colaborativa. Zacharia e Mentzer (2004) trabalham o conceito
de competição baseado no tempo em que a troca contínua de informações reduz
incertezas da cadeia de suprimentos. Capacidade de resposta rápida é importante no
desenvolvimento e lançamento de produtos, no atendimento de pedidos, na
produção por encomenda, na recuperação de falhas e na adaptação às mudanças no
mercado. Ou seja, capacidade de resposta rápida representa flexibilidade, um
atributo fundamental no mundo volátil em que vivemos.
O uso de tecnologias, nos sistemas de controle logístico, tem crescido
rapidamente nas empresas, pois a competitividade tornou-se uma questão de
sobrevivência e Hill (1993), as classifica em dois grupos distintos: o primeiro, os
critérios de qualificação (order-qualifying cri-teria), que representam os valores
mínimos de desempenho necessários para qualificação em determinado mercado,
séries ISO, exemplo Comunidade Europeia. O segundo são os grupos, critérios
ganhadores de pedido (order-winning criteria), o que garante uma vantagem
competitiva no mercado.
De acordo com Ching (2001), a logística numa empresa é um assunto vital,
exercendo uma função de estudar as formas de como a administração pode obter cada
vez mais eficácia/ eficiência em seus serviços de distribuição aos seus clientes e
consumidores. Este autor acrescenta que é preciso estar sempre pensando em inovar e se
adequar às novas necessidades dos mercados, pois, de acordo com Christopher (1997),
a procura de uma vantagem competitiva sustentável e defensável tem se tornado a
preocupação de toda empresa que está alerta para as realidades do mercado. Não se
pode mais pressupor que os produtos bons sempre vendem, nem é aceitável
imaginar que o sucesso de hoje continuará no futuro. O uso da TI é um instrumento
de inovação e de valor estratégico incalculável.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 145
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão básica que se busca explicar advém do exposto na contextualização. Foi
colocado que vários fatores concorrem para o sucessO de uma logística eficiente e
que respondam, de forma positiva, as necessida des sócio-econômica que o ambiente
de negócio vive com o advento da globalização.
Entender as mudanças da indústria que se relaciona com a logística de
distribuição requer sinergia entre os mercados, a indústria e os governos. No
desenvolvimento das estratégias que podem influenciar na construção de uma
infraestrutura, os papéis precisam ser definidos. Percebe-se que nem sempre os
limites estão claros e, muitas vezes, os objetivos não foram compreendidos. As áreas
envolvidas precisam perceber seus limites para identificar as interfaces, fatores
preponderantes para se criar estratégias complementares, que se somem e levem ao
desenvolvimento de uma logística eficaz no fazer; eficiente na gestão; com
efetividade na oferta de soluções de longo prazo e acima de tudo, integrada as
necessidades do ambiente de negócio de energia renovável.
Se colocar a ênfase na tecnologia, novas competências precisam ser adquiridas para
o aproveitamento de oportunidades que surgem inesperadamente. Sobre esse olhar, no
contexto de rivalidade entre as empresas, as descontinuidades as forçaram a prospectar
as novas tecnologias, implicando que terão de se preocupar com culturas, perspectivas
comerciais e habilidades diversas. Conforme Vergara (2005, p.1) as tecnologias basea-
das nas habilidades de operadores são um aspecto importante na administração de
sistemas de manufatura. Muitas tecnologias são substitutas da habilidade, ao invés de
aperfeiçoadoras. A tecnologia baseada em habilidades humanas é destinada a tornar a
habilidade, o discernimento, a inteligência e a experiência humana mais produtiva e
mais efetiva.
Analisando a agricultura familiar, apesar dos muitos projetos em andamento, não
estão claras as políticas de crescimento e fomento. É preciso investir mais na
formação da mão de obra para garantir a manutenção desse mercado, integrar as
regiões produtoras e fornecer mais incentivos à produção.
146 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Por fim, ainda que o tema não tenha se esgotado, muito do que se discute no
Brasil está sendo executado por países como a China, e o resultado é de fácil
percepção. Exemplos à parte, se de um lado temos o Governo preocupado em
desenvolver a infraestrutura, falta-lhe iniciativas que resultem em resposta aos
problemas aqui mencionados; do outro, temos a iniciativa privada que se diz mais
capacitada, sem que reaja ou apresente solução para os mesmos problemas
contribuindo para a inércia em que o Brasil, em específico, a Bahia se encontra.
É preciso organizar o ambiente para planejar as ações e administrar a progressão e
exigências do ambiente de negócio, que leve a implantação de uma logística que
atenda as exigências para o uso das energias renováveis: respeitar seus limites e evoluir
nos dispositivos de diferenciação, envolver todos os agentes nesse trabalho e levá-los a
participar da gestão coletiva. O objetivo explícito de tudo isso é instrumentalizar as
áreas envolvidas de informações, que conduzam a pensar em estratégias que resultem
em infraestrutura logística, que minimize os custos no uso dessa energia e consolidação
do ambiente de negócio das biomassas.
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BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 149
CAPÍTULO 11
ESTUDO DA VIABILIDADE FINANCEIRA DA ADAP-
TAÇÃO DE UMA MICRO DESTILARIA DE ETANOL
COMBUSTÍVEL PARA PROCESSOS DE PRODUÇÃO
A PARTIR DA MANIPUEIRA:
UM ESTUDO DE CASO
Eliane Teixeira de Assunção
leitor Hugo Moreau
Eduardo Augusto Brito Arêas
Nazaré Franco Santana
RESUMO:
A preocupação com a manipueira é muito expressiva, portanto, a implantação de uma
micro destilaria para a produção de etanol a partir dos resíduos da indústria da
mandioca aponta como uma alternativa para transformar o resíduo amiláceo em co-
produto. O aproveitamento da manipueira para obtenção de etanol é uma alternativa
para solucionar o problema do manejo desse resíduo. O presente trabalho, contudo,
tem como objetivo estudar a viabilidade financeira da implementação de uma micro-
destilaria na COOPASUB (Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos Agricultores
do Sudeste da Bahia), com fins de produção de etanol a partir da manipueira. A
pesquisa foi realizada com o presidente da cooperativa. Para a análise da viabilidade
financeira foi utilizado o software SISAF-BIO (Sistema de Análise Financeira para
Biocombustíveis). Verificou-se um resultado favorável no que diz respeito aos indica-
dores financeiros, independente das condições do mercado e ou de custos de
oportunidade em outros investimentos, da mesma natureza.
PALAVRAS- CHAVE: Manipueira. Micro destilaria de etanol. Viabilidade financeira.
150 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
1. INTRODUÇÃO
A mundialização das economias ocasionou transformações no comportamento geral
das empresas, que precisam revisar seus meios tecnológicos de produção, a qualidade
de seus produtos e se empenhar na procura de novos mercados. A utilização de fontes
alternativas de energia é uma das grandes prioridades, uma vez que contribui
significativamente para contornar os graves problemas ambientais ocasionados pelo
desenvolvimento socioeconômico.
Nesse contexto, Fecularias de mandioca também foram afetadas pelas mudanças
econômicas e enfrentam atualmente mercados muito competitivos que as
responsabilizam a um gerenciamento de produção dinâmico. Desta maneira, o
aproveitamento dos resíduos produzidos como forma de tornar mais eficiente o
processo de produção de fécula, tem conquistado muito interesse dos industriais
(CEREDA e LEONEL, 2000).
Graças à ampla biodiversidade constatada em seu território, o Brasil apodera de
uma enorme diversidade de resíduos agrícolas e agroindustriais, cujo aproveitamento é
de interesse econôMico e social. É essencial estimular a comprovação das vantagens
efetivas e incentivar a adaptação de tecnologias para alcançar ganho energético a
partir de resíduos que podem se transformar em subprodutos.
A redução da poluição e a crise energética (oferta menor que a demanda) tem sido
uma preocupação constante. A economia global encontra-se em crescimento e a
demanda por energia limpa e recursos renováveis também vem crescendo (BILGEN
ET AL., 2006).
Um dos resíduos gerados nas indústrias de mandioca é a manipueira, líquido
resultante da prensagem da raiz da mandioca e representa perigo à população por
conta do ácido cianídrico presente em sua composição (CEREDA, 1994) e do alto
valor de Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) associado ao alto volume produzido
(LAMO E MENEZES, 1979), bem como das altas concentrações de matéria orgânica,
notadamente, carboidratos.
Em Vitória da Conquista, a Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos
Agricultores do Sudeste da Bahia (COOPASUB) recebe produção de mandioca de
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 151
18 (dezoito) municípios da região sudoeste da Bahia e agrega 2330 (dois mil trezentos
e trinta) cooperados. É a primeira indústria do Brasil a beneficiar mandioca para
fabricação de fécula, aos moldes da economia solidária.
A massa ralada, no processo de obtenção de farinha de mandioca, perde de 20% a
30% de água. A manipueira resultante da prensagem da massa ralada arrasta cerca de
5% a 7% de fécula, 2% a 3% de carboidratos, 1,0% a 1,5% de proteínas e menos de
1% de minerais. O processamento de uma tonelada de raiz produz cerca de 200 a 300
litros de manipueira, que contém 12 a 18 Kg de fécula (polvilho) em suspensão (INSTI-
TUTO AGRONÔMICO, 1989).
Indagado sobre o processo de produção da Cooperativa, e ainda sobre os dados
da COOPASUB Rodrigues (2013) relata, que na cooperativa, o processamento de
uma tonelada de raiz requer entre 970 a 1100 litros d'água para lavagem das raízes, e
gera de 200 a 400 litros de manipueira.
Na COOPASUB, o processo produtivo apresenta capacidade de processamento de 5
(cinco) toneladas de mandioca por hora, sendo 100 (cem) toneladas diariamente, o que
utiliza 20 (vinte) mil litros de água por hora, gerando 12 (doze) mil litros de manipueira
por hora, consequentemente, para 20 (vinte) horas de funcionamento diário do
Complexo Industrial seriam 240 (duzentos e quarenta) mil litros de manipueira por
dia.
Levando-se em conta o processo descrito, a cooperativa apresenta condições
técnicas para produção diária de 1000 (mil) litros de etanol, por meio da
manipueira.
Ante ao exposto, faz-se necessário determinar a viabilidade financeira da
adaptação de uma micro destilaria de etanol, na COOPASUB, para processo de produção
a partir da manipueira, detalhando os fatores financeiros.
Para tanto, foi utilizado o SISAF-BIO (Sistema de Análise Financeira para
Biocombustíveis), desenvolvido pelo Professor Eduardo Augusto Brito Arêas, mestre em
Bioenergia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências. Uma vez que o software foi
desenvolvido para teste de viabilidade financeira de etanol de cana de açúcar, seus
parâmetros foram modificados e adaptados para a análise da produção de etanol por
meio da manipueira.
152 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
1.1 Objetivo Geral
Realizar consultoria para a Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos
Agricultores do sudoeste da Bahia (COOPASUB) com fins de revelar a viabilidade
financeira da implementação de uma micro destilaria para produção de etanol de
manipueira.
1.2 Objetivos Específicos
Coletar informações sobre o processo de sacarificação;
Alimentar o Sistema de Análise Financeira para Biocombustíveis (SISAF-BIO)
para adaptação ao processo transformação de manipueira em etanol;
Realizar consultoria de viabilidade financeira para a implementação
de uma micro destilaria para a produção de etanol de manipueira.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A analise da viabilidade financeira da implementação de uma micro destilaria de
etanol, a partir da manipueira, neste estudo, será realizada na COOPASUB, que fica
localizada nos povoados Corta-Lote, distritos de Vitória da Conquista - BA.
O estudo descreve o processo de sacarificação da manipueira, baseado em dados
coletados em entrevistas com o presidente da cooperativa e em artigos, os quais
revelam resultados das experiências realizadas em laboratórios. A partir dos
resultados pode-se identificar fatores relevantes para alimentação do software, como
tempo do processo, quantidade e preço das enzimas e outras substâncias químicas
utilizadas e rendimento da reação.
Após coleta dos dados, o SISAF-BIO tem seus parâmetros adaptados ao processo
de produção de etanol por meio da manipueira, e assim analisa gastos, investimentos,
custos, despesas, custos diretos e indiretos, variáveis, lucratividade, rentabilidade,
ponto de equilíbrio, período de retorno --- pay back, valor presente líquido (VPL), Taxa
Interna de Retorno (TIR), margem de lucro operacional, Demonstrativo do Resultado
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 153
do Exercício (DRE), análise vertical e Rentabilidade ou Retorno sobre o Investimento
(ROI), para implantação de uma micro destilaria de etanol, a partir da manipueira. A
seguir são expostos o análise dos custos, investimentos, despesas e dos dados processados
pelo SISAF-BIO e as considerações sobre a viabilidade financeira para implementação
da micro destilaria.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela de parâmetros, disposta na tabela 1 serve de base para todas as outras,
tendo em vista que, é a partir desta que os dados primários da configuração do cenário
que se pretende analisar são inseridos para a análise da viabilidade financeira. Outra
função importante é a possibilidade de realizar simulação de cenários por intermédio
das diversas variáveis, como por exemplo: capacidade diária da micro destilaria,
produção (em litros) de manipueira, margem de lucro pretendida, produção de etanol
por volume de manipueira, base para o rateio dos custos fixos, entre outros.
O item custo da matéria-prima, localizado na linha 3 (ver tabela abai xo), é o
único campo que não é inserida informação, esta informação é formada na tabela, e
ainda, no caso desse estudo, a matéria-prima é considerada custo zero, pois costuma ser
descartada, sem nenhum uso comercial.
O programa flexibiliza a exclusão ou alteração de dados cadastrados em qualquer
momento e as consultas aos resultados gerados podem ser observados nas tabelas:
"Rateio Custo Unitário Total"; tabela 12 "Ponto de Equilíbrio" tabela 13; "DRE"
tabela 14; "Análise vertical" tabela 15; e "VPL e TIR" tabela 17. O software oferece
relatórios e impressão de todas as tabelas.
154 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
PARÂMETROS PARA ANÁLISE FINANCEIRA CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DIÁRIA DA USINA 1.000
CUSTO DA MATÉRIA-PRIMA 0,00
PRODUÇÃO DE ETANOL POR TONELADA DE MAN IPUEIRA 20
RENDIMENTO DA VINHAÇA 20,00%
PREÇO DE VENDA DO ETANOL P/ DISTRIBUIDORA 1,2700
PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO ANUAL 2,00%
TAXA DE OPORTUNIDADE REQUERIDA 10,00%
CRITÉRIO PARA RATEIO DOS CUSTOS FIXOS ETANOL 100,00%
MÃO-DE-OBRA DIRETA E INDIRETA SALÁRIOS QTD
OPERADORES 933,00 3
AUXILIARES 622,00 ENCARREGADO DA PRODUÇÃO 1224,00 1
SECRETÁRIA 622,00 1
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 155
Nas tabelas 2, 3, 4 e 5 foram colocados todos os gastos necessários para
implantação de uma micro destilaria, nesse caso, com uma capacidade produção de
1000 (mil) litros por dia de etanol combustível. Os referidos gastos foram divididos
em: fisicos, despesas pré-operacionais e financeiros (capital de giro). Gasto, segundo
Martins e Assaf Neto (1985) é o consumo financeiro com que a organização arca
para a aquisição de um produto ou serviço qualquer.
No que diz respeito a máquinas e equipamentos foram incluídos equipamentos que
podem não ser utilizados para a produção de etanol de rnanipueira, como a esteira
transportadora e a moenda, contudo, considerou-se que, a cooperativa agrega mais de
dois mil cooperados, que produzem diversos produtos agrícolas, dando margem para
produção de etanol de cana- de açúcar, caso a produção de mandioca encontre-se em
período de escassez, ocasionando o não funcionamento da fecularia, criando assim,
outras possibilidades de funcionamento da micro destilaria.
INVESTIMENTO INICIAL
MÁQUINAS/EQUIPA
MENTOS
QTD Valor
Unit.
DEPR. (%)
TOTAL Deprec.
mês
Esteira transportadora 1 4.000,00 10% 4.000,00 400,00
Moenda de 1 Temos 1 x 14" . 2000 kg/h
1 50.000,00 10% 50.000,00 5.000,00
Tanques de diluição 500
litros
1 500,00 20% 500,00 100,00
Moto Bomba Centrífuga Alimentadora de Vinho
1 1.200,00 10% 1.200,00 120,00
Microdestilaria em aço
inox 304 - 421/h
1 100,00 10% 100,00 10,00
Domas de Fermentação de 5000 litros
8 2.000,00 20% 16.000,00 3.200,00
Moto Bomba p/ transferência do Álcool
1 1.200,00 10% 1.200 00 120,00
Torre de Resfriamento
de Água Vazão I0 m3/hora Motor 1/2 cv
1 4.500,00 10 )̀/0 4.500,00 450,00
Reservatório de Álcool 10.000 litros
1 9.000,00 20% 9.000,00 1,800,00
Açude com 235 m3
armazenagem da vinhaça
1 17.000,00 10% 17.000,00 1.700,00
Caldeira de 200kg de
vapor/hora
1 25.000,00 25.000,00 2.500,00
Galpão com 150 m2 a usina
_para
150 550,00 10% 82.500,00 8.250,00
SUBTOTAL 211.000,00 14.820,00
156 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
SUBTOTAL 211.000,00 14.820,00
MÓVEIS E
UTENSÍLIOS
QT
D
Valor
Unit. DEPR
.(%)
TOTAL Deprec.
mês
ARMÁRIO GRANDE
C/ CHAVE
1 300,00 10% 300,00 30,00
CADEIRA
EXECUTIVA
1 125,00 10% 125,00 12,50
CADEIRA
ERGONÔMICA
4 100,00 10% 400,00 40,00
CADEIRA FIXA
ESTOFADA
2 80,00 10% 80,00 8,00
MESA GRANDE 2 200,00 10% 400,00 40,00
VENTILADOR 1 80,00 10% 80,00 8,00
VENTILADOR DE
TETO
1 100,00 10% 100,00 10,00
ARMORIO DE AÇO 2
PORTAS
1 250,00 10% 250,00 25,00
LIXEIRA 2 30,00 10% 60,00 6,00
COMPUTADORES 2 1.200,00 20% 2.400,00 480,00
IMPRESSORAS 2 240,00 20% 480,00 96,00
SUBTOTAL 4.755,00 763,50
Tabela 3: Tabela de móveis e utensílios. Fonte: Adaptado do SISAF-BlO.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 157
NECESSIDADE DIÁRIA PRODUÇÃO
DIÁRIA
LITROS DE
MANIPUEIRA
LITROS DE
ETANOL LT DE
VINHAÇA
50.000 1.000 10.000.000
NECESSIDADE MENSAL PRODUÇÃO
MENSAL
LITROS DE
MANIPUEIRA
LITROS DE
ETANOL LT DE
VINHAÇA
1.500.000 30.000 30.000.000
NECESSIDADE ANUAL
DE MATÉRIA-PRIMA
18.000.000
MANDIOCA TONELADAS DIA
Necessidade de 21 processamento dia
Tabela 5: Tabela de produção. Fonte:Adaptado do SISAF-B10.
Na tabela 6 foram inseridos os dados a cerca das despesas tributárias, às
comissões de vendas, ao marketing e ao frete. É importante informar que, nessa
tabela, só são informados gastos na forma de percentual. As informações inseridas
nessa tabela são determinantes para encontrar a margem de lucro operacional do
etanol.
DESPESAS GERAIS E TRIBUTÁRIAS
IMPOSTOS
CSLL 0,42%
INSS 3,61%
IRPJ 0,42%
• PIS 0,30%
COFINS 1,23%
ALÍQUOTA (Simples Nacional) 5,98%
OUTROS COMISSÃO DE VENDAS 2,50%
MARKETING 5,00%
FRETE 3% S/ VALOR DA NOTA 3,00%
TOTAL 8,98% Tabela 6: Tabela das despesas gerais e tributárias. Fonte. Adaptado
do SISAF-BIO.
156 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Nas tabelas 7 e 8 são expostas as informações de quantidades e de valores de
mão-de-obra, direta e indireta. A tabela 9 apresenta os resulta¬dos determinados
nos cálculos desta tabela são enviados para compor os custos fixos totais do
etanol.
SALÁRIO BASE R$ 622,00
MÃO-DE-OBRA DIRETA
PRODUÇÃO / OPERAÇÃO
Qtd MENSAL ANUAL
OPERADORES 3 R$ 2.799,00 R$ 33.588,00
AUXILIAR 6 R$ 3.732,00 R$ 44.784 00
ENCARREGADO DE PRODUÇÃO 1 R$ 1.224,00 R$ 14.688,00
SUBTOTAL R$ 7.755,00 RS 100.815,00
ENCARGOS SOCIAIS 33,77% R$ 2.618 86 R$ 34.045,23
TOTAL RS 10.373,86 R$ 124.486,36
TOTAL DE MÃO-DE-
OBRADIRETA R$ 10.373,86 R$ 124A86,36
Tabela 7: Tabela de mão-de-obra direta. Fonte: Adaptado
do SISAF-810
MÃO-DE-OBRA INDIRETA
MENSAL ANUAL
FUNCIONARIOS INDIRETOS QUANT.
SECRETARIA 1 R$ 622,00 SUBTOTAL R$ 622,00 R$ 7.464,00
ENCARGOS SOCIAIS 33,77% R$ 210,05 R$ 2.730,64
TOTAL RS 832,05 R$ 9.984,59
TOTAL DE MÃO-DE-OBRA
INDIRETA R$ 832,05 R$ 9.984,59
TOTAL GERAL R$ 11.205,91 R$ 134.470,95
Tabela 8: Tabela de mão-de-obra indireta. Fonte: Adaptado do SISAF-BlO
BEOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 159
CUSTOS FIXOS
DESCRIÇÃO MENSAL ANUAL
ENERGIA ELÉTRICA ESCRITÓRIO R$ 400,00 RS 4.800,00
ÁGUA DO ESCRITÓRIO RS 60,00 R$ 720,00
INTERNET/TELEFONE R$ 250,00 RS 3 000,00
MATERIAL DE ESCRITÓRIO RS 120,00 RS 1.440,00
MATERIAL DE LIMPEZA RS 130,00 RS 1.560,00
CONTABILIDADE R$ 600,00 RS 7.200,00
DEPRECIAÇÃO RS 1.298,63 R$ 15.583,50
SEGURANÇA ELETRÔNICA RS 280,00 RS 3.360,00
CONSULTORIA .ENG. SEGURANÇA R$ 360,00 RS 4.320,00
SALARIOS DIRETOS-ENCARGOS RS 10.373,86 R$ 124.486,36
SALÁRIOS INDIRETOS-ENCARGOS RS 832,05 RS 9.984,59
TOTAL R$ 14.704,54 R$ 176.454,45
Tabela 9: Tabe a de custos fixos. Fonte: Adaptado do SISAF-B10.
Nas tabelas 10 e 11, são expostos os gastos que só irão ocorrer com a ativação da
produção, sendo eles: matéria-prima, fontes de energia e insumos. O custo variável
unitário ficou em RS 0,097988. Esta tabela ainda exibe uma análise gráfica da
participação em peréentual de cada item de custos variável, como também determina
o custo variável unitário de um litro de etanol.
MATÉRIA-PRIMA E INSUMOS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO
ETANOL
SACARIFICAÇÃO HOR
trab/
dia
Cons. hora
Cons,
dia
Preço
R$
Total
R$
TOTAL POR
LITRO
TER.MAMIL
1201, - LITRO
12 0,041667 0,500004 13,00 6,50005 0,014690
AMG 300 L - KG 12 0,094167 1,130004 13,00 14,69 TOTAL 0,021190
FERMENTAÇÃO gim' kg
dia
R$ kg Total
R$
TOTAL POR
LITRO
NUTRIENTES 10 13,5 0,14 12,00 1,68 0,001680
LEVEDURAS 10 13,5 0,14 15,00 2,10 0,002100
ENERGIA
ELÉTRICA
12 0,06 0,72 0,56706 0,41 0,000408
TOTAL 0,004188
160 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
VAPOR/VESTI-
LAÇÃO
HOR
trab/
dia
cons.
Kg
dia
vol.
dia
M3
Preço RS Total
RS
TOTAL POR
LITRO
LENHA 12 980 1,6 35,00 56,00 0,001680
AGUA 12 2320 2,32 1,00 2,10 0,002100
ENERGIA
ELÉTRICA
12 2,1 25,2 0,56706 0,41 0,000408
MATÉRIA-
PRIMA
Preço ton.
R$
rendi-
men-
to
custo
litro TOTAL 0,072610
MANIPUEIRA 0,00 20 O
Tabela 10: Tabela de custos variáveis do processo de produção de etanol. Fonte: Adaptado do SISAF-BIO.
ENZI. TEMAIL 1 6,63%
ENZIMA AMG 300 0,14992%
NUTRIENTES 1,71°/:-.«
LEVEDURAS 2,14%
ENERGIA ELÉTRICA 0,42%
LENHA 57,15%
ÁGUA 2,37%
ENERGIA ELETRICA 14,58%
MANIPUEIRA 100,00%
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 161
A tabela 12 mostra o custo fixo unitário do etanol que foi extraído da divisão do
custo fixo total pela quantidade de produção mensal, ou seja, R$ 14.704,54 / 30.000
lt = 0,49015.
Como também mostra, através de um pequeno demonstrativo extraído do preço
de venda, as margens de lucro operacional de cada um dos produtos. Oliveira (1995
apud Elck, 2010, p. 28) define custo como "um dispêndio necessário a obtenção de um
produto. Ou seja, é todo aquele gasto para se fabricar um produto e, sem o qual, o
processo de produção não se completaria".
Memória de cálculo da tabela 12:
Para encontrar a margem de lucro operacional do etanol foi dividido o Lucro
Operacional unitário pelo preço, de acordo com os dados da tabela 12 será
calculado da seguinte forma: 0,5678/1,2700 = 0,44708 x 100 = 44,71%.
Rateio dos custos e despesas fixos
CUSTOS
DESPESAS
/FIXOS
14.704,54
PRODUTOS PROPOR-
ÇÃO
PROD.
PROD.
MENSAL
CVU BASE P/
RATEIO
RATEIO CF CF
UNITÁRIO
ETANOL 100% 30.000 R$0,10 100,00% R$ 14.704,54 0,49015
TOTAL 100% 300000 R$0,10 100,00% R$ 14.704,54 0,49015
PRODUTOS CUSTO UNITÁRIO TOTAL ETANOL 0,58814
MARGEM DE LUCRO OPERACIONAL
ETANOL DRE
PREÇO 1,2700
(.)CUT 0,5881
(-) 1 BRUTO 0,6819
(.) DESPESAS 0,1140
(-) L OPERACIONAIS 0,5678
MARGEM OPERACIONAL 44,71%
Tabela 12: Tabela de rateio dos Custos e despesas fixas.
Fonte: Adaptado do SISAF-BIO.
162 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
É demonstrada na tabela 13 a quantidade mínima que a empresa necessita
vender de cada produto para cobrir todos os seus custos e todas as suas despesas.
Para Ribeiro (2009) o ponto de equilibrio é uma quantidade mínima que a
organização precisa produzir ou vender para que consiga pelo menos pagar os seus
custos e despesas totais. Portanto, a empresa deve-se manter acima do ponto de
equilíbrio, ou seja, vender acima de 10502 litros de etanol. Para calculo do ponto
de equilíbrio, utilizou-se o valor total do custo Fixo Total, dividido pelo preço de venda
menos o custo variável unitário mais o valor das despesas unitárias, conforme
memória de calculo abaixo:
PE=CFT /PV-(CVU+DESP UNIT)
Logo o PE=R$14750,54/1,27-(0,10+0,11)=10502
Na tabela 14 encontra-se o Demonstrativo de Resultados e Exercício (DRE), o
DRE é uma comprovação contábil que apresenta o fluxo de receitas e despesas, que
deriva do aumento ou redução do Patrimônio Líquido entre duas datas (HOJI, 2007).
Ainda de acordo com o referido autor "ela deve ser apresentada de forma dedutiva,
isto é, inicia-se com a receita operacional bruta e dela deduz-se custos e
BIOENERGIA: UNI DIÁLOGO RENOVÁVEL II 163
despesas, para apurar o lucro liquido" (p. 259). Apresenta também as projeções das
receitas baseada nas vendas de toda a produção da empresa que, deduzidos os custos
e as despesas operacionais, encontra-se o lucro líquido mensal, anual e a margem
liquida. Essa tabela mostra, também, o Grau de Alavancagem Operacional (GAO),
mostrando, com isso, qual o impacto que uma variação nas vendas causaria no lucro
operacional. Vale ressaltar que, na tabela 14, foi excluído o valor de R$1.298,00,
referente à depreciação, dos custos fixos totais, para que os resultados representem
o fluxo de caixa liquido nos cálculos do VPL e da TIR.
O grau de alavancagem operacional é um indicador de risco empresarial e está
diretamente ligado aos custos fixos. Portanto, o índice de 1,62 mostrado na tabela 14,
significa que qualquer variação percentual na atividade da empresa, implica
diretamente na multiplicação da variação pelo grau de alavancagem operacional. Na
simulação exposta na tabela 14, com a variação na atividade em 2,5%, o impacto no
lucro operacional, seria de 4,4%. Esse resultado pode também ser utilizado como
análise de sensibilidade, representando mais um indicador para compor as demais
variáveis na análise de viabilidade financeira.
PREVISÃO DE RECEITA MÊS ANO
ETANOL R$ 38.100,00 457.200,00
RECEITA TOTAL R$ 38.100,00 R$ 457.200,00
(-) CPV
C. VARIÁVEL ETANOL R$ 2.939,65 35.275,79
CUSTOS FIXOS TOTAIS R$ 13.405,91 160 870,95
CUSTOS TOTAIS RS 16.345,56 196.146,74
(=) LUCRO BRUTO R$ 21.754,44 R$ 261.053,26
(-) DESPESAS RS 3.421,38 R$ 41.056,56
(=) LUCRO OPERACIONAL R$ 18.333,06 RS 219.996,70
LAIR R$ 18.333,06 R$ 219.996,70
IR 0% R$- R$ -
LUCRO LÍQUIDO R$ 18.333,06 R$ 219.996,70
MARGEM LÍQUIDA 48,12% 48,12%
Tabela 14: Tabela de Demonstrativo de Resultado e Exercício (DRE).
Fonte: Adaptado do SISAF-BIO.
164 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
As informações da tabela 15 são exclusivamente utilizadas para análise vertical, e
auxiliam na observação da estrutura do ativo e do passivo, bem como a participação de
cada item no Demonstrativo de Resultado na obtenção do lucro ou prejuízo (HOJI,
2007). Na tabela 15, é mostrada em forma de gráfico a participação percentual de
cada produto na formação da receita de venda, a relação percentual da participação
dos custos fixos e variáveis na produção e a proporção dos custos sobre a receita.
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 165
São mostrados na tabela 16, por intermédio de análise sofisticada, três
indicadores de viabilidade do projeto. 1 - O Valor Presente Líquido (VPL), que
segundo Leite (1994, p. 341) designa-se por VPL "a diferença entre o valor
presente das entradas e o valor presente das saídas, assumindo-se determinada
taxa de desconto para ambas as avaliações. Segundo Gitman (2011, p. 302) "O
Valor Presente Líquido (VPL) é encontrado ao subtrair o investimento inicial
de um projeto do valor presente se seus fluxos de entrada de caixa, descontados a
uma taxa igual à do custo de capital da empresa". 2 - O Retorno Sobre o
Investimento (ROI), que é derivado do inglês Return on Investiment (ROI) é uma
das ferramentas usadas pelos gestores de organizações e analistas para calcular
os rendimentos obtidos por um projeto com o valor total investido, isso
permite uma comparação entre as aplicações de capital, o que contribui no
processo de gestão dos administradores (ELCK, 2010). Para Hoji (2007) o
ROI relaciona as aplicações de capital efetuado com o lucro anual gerado por
essas aplicações. 3- E o período de retorno do investimento - Pay back, nas
palavras de Gitman (2001) pay back é o espaço de tempo essencial para
recuperar o capital investido. Em outras palavras significa dizer que é o
intervalo de tempo básico para a empresa obter lucros dos investimentos, ou
seja, recuperar o capital investido para liquidar o capital empregado.
Para o cálculo do VPL foi utilizado como fluxo de caixa livre o lucro operacional
anual contido na tabela 16 e a taxa mínima requerida, inserida na Linha 13 da tabela
1.
Memória de cálculo da tabela 16 para o cálculo da TIR foi feito com base nos
valores da tabela 12: 321485,00 + (219996,70 / (1+58,78%)) + 224.396,63 /
(1+58,78)2) + (228.8846 / 58,78)
3) + (223.462,26 / (1+58,78)).
166 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo principal a análise da viabilidade financeira
da adaptação cie uma micro destilaria de etanol combustível para processos de
produção a partir da manipueira. A utilizaço do software SISAF-BIO, nas condições
apresentadas no estudo de caso, na Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos
Agricultores do Sudoeste da Bahia (COOPASUB), no município de Vitória da
Conquista, Bahia, apontou para a viabilidade financeira da produção em pequena e
de
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 167
escala de bioetanol combustível, ficando os resultados restritos ao caso estudado.
Trata-se de um resultado favorável no que diz respeito aos indicadores financeiros,
independente das condições do mercado e/ou de custos de oportunidade em outros
investimentos da mesma natureza. Entretanto é importante salientar que os
indicadores positivos dos resultados sofreram influência do aproveitamento da
manipueira, considerada a custo zero, o que representou a redução do impacto do
custo da matéria prima na participação do custo variável unitário, com a participação
deste custo em apenas 17,98% do custo total, conforme descrito na tabela 15. Portan-
to, como conceitualmente o custo variável unitário tende a ser fixo, na
operacionalização do negócio o custo fixo com 83, 02% possibilita a redução da
incidência deste custo na sua forma unitária por aumento da escala de produção ou por
exclusão de alguns itens de custos e despesas fixas.
Feita a previsão de investimentos em R$ 321.425,00, partiu-se para a avaliação dos
resultados financeiros do projeto. Os resultados encontrados no Demonstrativo do
Resulta do Exercício (DRE) apontam para um lucro operacional de 48%, contudo é
importante frisar que o resultado da receita total foi proveniente do preço do etanol
praticado no período da pesquisa.
O projeto apresentou também um ponto de equilíbrio de 10.501 litros de etanol,
demonstrando que a empresa necessitará de um esforço mercadológico de 35% da
produção total, como demonstrado na tabela 13
Outro ponto importante da análise é o Valor Presente Líquido - VPL, onde foi
dimensionado um fluxo de caixa livre de R$ 219.996,00 e projetado um crescimento
de 2% ao ano, em 4 (quatro) anos, o que gerou um VPL positivo de R$ 395.385,98,
como também a Taxa Interna de Retorno (TIR) que foi calculada utilizando uma Taxa
Mínima de Atratividade (TMA) de 10% e proporcionou uma TIR de 58,79%.
Com relação ao Retorno Sobre o Investimento (ROI) o projeto identificou uma
rentabilidade de 68,43%. Já o Período de Retorno do Investimento Payback foi de
aproximadamente um ano e cinco meses, o que representa um tempo aceitável para o
investimento proposto.
168 BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II
Todos os indicadores acima demonstram dessa forma um excelente nível de
atratividade para o processo decisório de aceitabilidade do projeto. A utilização do
etanol produzido pode ainda reduzir os custos totais, operacionais, relativos ao
transporte da mandioca dos 18 municípios vizinhos, produtores e fornecedores da
matéria-prima para a Coopasub.
Como proposta para futuros estudos indica-se a verificação da possibilidade de
utilização do resíduo da produção, proveniente do processo de sacarificação do
amido presente na manipueira, para a produção'de biogás, a ser utilizado também pela
cooperativa, nos processos de funcionamento da fecularia.
REFERÊNCIAS
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157, 1984.
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de hidrolise-sacarificação do farelo de mandioca para obtenção de etanol. Ciência,
Tecnologia, Alimentação, Campinas, v. 20, n. 2, mai. /ago. 2000.
ELCK, G. Viabilidade econômica e financeira de uma pequena central de
hidrelétrica no Brasil. 2010. 70 f. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas)
- Departamento de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis. 2010.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira essencial. 2. ed. São
Paulo : Bookman, 2006.
HOJI, M. Administração financeira na prática. São Paulo : Atlas, 2007.
INSTITUTO AGRONÔMICO: Toxicidade da mandioca, resíduos de
BIOENERGIA: UM DIÁLOGO RENOVÁVEL II 169
fabricas de farinha, utilização, tratamento e eliminação de resíduos. Parecer técnico.
Campinas, 10 p. 1989.
LAMO, P.R; MENEZES, T. J. B. Bioconversão das águas residuais do processamento
da mandioca para aprodução de biomassa. ITAL, Campinas, v.10, p. 1-14, 1979.
LEITE, H. P. Introdução à administração financeira. 2. ed. São Paulo : Atlas, 1994.
MARTINS, Eliseu; ASSAF NETO, Alexandre. Administra;) financeira. 1. ed.
São Paulo Atlas, 1985.
RODRIGUES, I. Processo de produção da COOPASUB (Câoperativa Mista
Agropecuária de Pequenos Agricultores do Sudeste da Bahia): entrevista. [24 maio,
2013]. Vitória da Conquista. Entrevista concedida a Eliane Assunção.