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1 International Biocentric Foundation Escola de Biodanza Sistema Rolando Toro Rio-Barra BIODANZA E A EXPRESSÃO DA IDENTIDADE DANÇANDO OS CRITÉRIOS DA IDENTIDADE SAUDÁVEL EM AMBIENTE HOSTIL Erika Mendel Ferreira 10 de Novembro de 2012 Monografia apresentada à Escola de Biodanza Sistema Rolando Toro Rio- Barra, como requisito parcial para obtenção do título de Facilitador de Biodanza. Orientadora: Anna Cristina Menezes Peralva Facilitadora Didata de Biodanza pela International Biocentric Foundation Reg. RJ nº 0570

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International Biocentric Foundation

Escola de Biodanza Sistema Rolando

Toro Rio-Barra

BIODANZA E A EXPRESSÃO DA IDENTIDADE

DANÇANDO OS CRITÉRIOS DA IDENTIDADE SAUDÁVEL EM

AMBIENTE HOSTIL

Erika Mendel Ferreira

10 de Novembro de 2012

Monografia apresentada à Escola de Biodanza Sistema Rolando Toro Rio-Barra, como requisito parcial para obtenção do título de Facilitador de Biodanza.

Orientadora:

Anna Cristina Menezes Peralva

Facilitadora Didata de Biodanza pela International Biocentric Foundation

Reg. RJ nº 0570

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Monografia apresentada à Escola de Biodanza Sistema Rolando Toro Rio-Barra e

aprovada pela comissão julgadora formada pelos didatas:

________________________________________

Anna Cristina Menezes Peralva

Orientadora: Facilitadora Didata

International Biocentric Foundation

Reg. RJ nº 0570

________________________________________

Solange May Cuyabano de Barros

Facilitadora Didata

International Biocentric Foundation

Reg. RJ nº 0140

Visto e Permitido a impressão.

Rio de Janeiro, 10 de Novembro de 2012

_______________________________________

Eliana de Almeida

Diretora Escola de Biodanza Sistema Rolando Toro Rio-Barra

International Biocentric Foundation

Reg. RJ nº 9717

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AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho e agradeço..

Às minhas alunas que acreditaram no projeto, no poder da Biodanza e entraram de cabeça neste maravilhoso processo de transformação humana. Queridas, com apoio umas das outras nossa vida se torna mais leve!

Ao Sebastian que sonha junto comigo com uma vida dedicada a Biodanza. Lido amor, sonho que se sonha junto é realidade!

À Anna Cristina, sempre muito atenciosa, carinhosa e dedicada no seu trabalho de supervisão. Com este processo pudemos desenvolver uma linda amizade. Obrigada por me presentear com esta linda amizade!

Aos meus pais que, ao conhecerem a Biodanza, se encantaram e me passaram a me apoiar com muito orgulho de todas as pequenas conquistas no que diz respeito à minha nova vida profissional!

À Eliana Almeida, por todos estes anos como minha facilitadora, pelo

acompanhamento como diretora da Escola na condução do Curso de Formação.

Eliana, você teve um papel fundamental nestes últimos anos da minha vida!

À Biodanza que me procipiciou um lindo processo transformador, me brindou com momentos maravilhosos, me apresentou amigos sensacionais e me trouxe um amor que juntos, seremos capazes e retribuir, levando este sistema para muitas pessoas!

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RESUMO

Este estudo tem como objetivo apresentar o conceito de Identidade em

Biodanza e suas Ideias fundamentais, bem como apresentar a aplicação do Sistema

Biodanza em um grupo em risco social – Comunidade Beira Rio - localizada no Rio

de Janeiro e os resultados obtidos no que diz respeito ao fortalecimento e

expressão da identidade dos seus participantes.

Palavras Chave: Biodanza, Identidade, Ação Social

ABSTRACT

This study aims to present the concept of identity in Biodanza and its

fundamental ideas and to present the application of Biodanza System in a group of

social risk – Beira Rio Community - located in Rio de Janeiro and the results

obtained with regard to expression and strengthening of the identity of its

participants.

Key Words: Biodanza, Identity, Social Acción

RESUMEN

Este trabajo tiene como objetivo presentar el concepto de Identidad en

Biodanza en grupo de riesgo social – La Comunidad Beira Rio – ubicada en Rio de

Janeiro y los resultados obtenidos en lo que dice respecto al fortalecimiento y

expresión de la identidad de los participantes.

Palabras Llave: Biodanza, Identidad, Acción Social

5

SUMÁRIO

Página

Introdução ......................................................................................... 07

CAPÍTULO 1: BIODANZA E IDENTIDADE

1.1. Conceitos Fundamentais .................................................................. 08

1.1.1. Conceito de Biodanza .............................................................. 08

1.1.2. Principio Biocêntrico ................................................................ 10

1.2. Identidade e Biodanza .................................................................. 11

1.2.1. Conceito da Identidade ............................................................ 11

1.2.2. Conceito de Identidade em Biodanza ...................................... 12

1.2.3. As Sete Ideias Fundamentais Sobre Identidade

em Biodanza ........................................................................... 14

1.2.4. Diagrama Dinâmico da Identidade ......................................... 16

1.2.5. Autoimagem e Autoestima em Biodanza ............................... 22

1.3. Identidade e o Modelo Teórico de Biodanza ...................................... 26

1.4. Expressão e Fortalecimento da Identidade ....................................... 30

1.4.1. Critérios da Identidade Saudável ........................................... 33

CAPÍTULO 2: O PROJETO VIDA RIO

2.1. Biodanza e Ação Social .................................................................. 34

2.2. Parceria com a Agência do Bem .................................................... 36

2.3. Avaliação Preliminar do Contexto Social ....................................... 37

2.4. Apresentação do Projeto Vida Rio .................................................... 38

2.5. Objetivos Específicos do Projeto ......................................................... 38

2.5.1. Expressão e Fortalecimento da Identidade ............................... 39

2.5.2. Integração dos Potenciais Humanos ......................................... 39

2.5.3. Mudança de Postura frente a vida ............................................ 39

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2.5.4. Elevação do Nível de Afetividade e Expressão Afetiva .......... 40

2.5.5. Elevação do Nível de Expressividade e Criatividade ............. 40

2.5.6. Elevação no Nível de Vitalidade e Saúde ................................ 40

CAPÍTULO 3: DANÇANDO OS CRITÉRIOS DA IDENTIDADE SAU DÁVEL

APLICAÇÃO DA BIODANZA NO PROJETO VIDA RIO

3.1. Inicio do Trabalho – Divulgação e Aula Aberta ………………………… 41

3.2. O Grupo Regular – Características ……………………………………. 43

3.3. O Programa ……………………………………………………………….. 43

3.3.1. Programa Encontros Temáticos …………………………………. 45

3.3.2. Programa Oficinas de Biodanza ………………………………… 52

3.4. Avaliações ………………………………………………………………….. 70

3.4.1. Metodologia de Avaliação …………………………………………. 70

3.4.2. Avaliação dos Resultados …………………………………………. 73

3.4.3. Entrevistas Finais …………………………………………………… 74

3.5. Conclusões ………………………………………………………………… 76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 77

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é apresentar a aplicação da Biodanza em um grupo

em situação risco e vulnerabilidade social e os resultados obtidos no que diz respeito

ao fortalecimento e expressão da identidade dos seus participantes. Ele está

dividido em três capítulos.

No primeiro capítulo, apresento as conceituações de Biodanza, do Principio

Biocêntrico, no qual todo este trabalho está pautado. Rolando Toro conceituou a

Identidade de uma forma muito peculiar que diverge de muitos conceitos

tradicionais. Através deste estudo, apresento detalhes de seu estudo relacionado ao

tema da Identidade. A intergação da Identidade é um dos objetivos principais da

Biodanza e de extrema relevância. Através de uma metodologia crítica, comparo

conceitos tradicionais aos conceitos específicos apresentados na vasta teoria da

Biodanza proposta por Rolando Toro.

No segundo capítulo, apresento detalhes do projeto elaborado por mim, que

tem como objetivo introduzir a Biodanza em um grupo de vulnerabilidade social.

Trata-se da Comunidade Beira Rio, às margens do Rio Morto localizada em Vargem

Grande, Rio de Janeiro. O nome do projeto, VIDA RIO tem como objetivo tirar o

estigma de morte e brindar a comunidade com vida através da aplicação do sistema

de Biodanza.

No terceiro capítulo apresento como apliquei a Biodanza em um grupo de

adultos, que devido às circunstâncias, foi composto de apenas mulheres. Ao longo

de treze mêses, dançamos juntas os critérios da identidade saudável segundo

Rolando Toro. Ainda nesse capítulo, apresento as avaliações dos resultados obtidos

com o trabalho.

Meu objetivo maior é que este estudo venha a comprovar a eficácia da

aplicação do sistema de Biodanza em grupos sociais e sensibilizar pessoas e

intituições a desenvolver projetos semelhantes em outras comunidades de forma

mais ampla e remunerada, reconhecendo o valor Profissional do Facilitador de

Biodanza .

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CAPÍTULO 1: BIODANZA E IDENTIDADE

1.1. Conceitos Fundamentais

1.1.1. Conceito de Biodanza

O conceito acadêmico de Biodanza, segundo Rolado Toro (1924 – 2010), seu

criador é o seguinte:

“Biodanza é um sistema de integração humana, de renovação orgânica, de reeducação afetiva e reaprendizado das funções originárias da vida. Sua metodologia consiste em induzir vivências integradoras por meio da música, do canto, do movimento e de situações de encontro em grupo” (TORO)

Para um praticante de Biodanza, um biodanzante, como chamamos, este

conceito acadêmico é muito claro, pois vivenciamos na prática, durante as aulas,

cada uma das expressões usadas acima. Já para uma pessoa que nunca tenha tido

um contato com a Biodanza, que nunca tenha participado de uma aula de Biodanza,

este conceito pode parecer amplo, ou até mesmo subjetivo, por isto faz-se

necessário detalhar cada uma das expressões mencionadas no conceito acadêmico

pois formam a base deste sistema.

Integração significa “pertencer à totalidade”. Em Biodanza, a integração se

apresenta em três níveis. O primeiro nível de integração é integração consigo

mesmo, ou seja resgatar a sua unidade psicofísica. O segundo nível, é a integração

ao semelhante, ou seja restaurar o vínculo com o outro. Por fim, o terceiro nível de

integração é a integração ao universo, que é resgatar o vínculo primordial que une o

homem à natureza e ao cosmos.

Renovação Orgânica significa estabelecer o efeito da homeostase, do

equilíbrio interno e da redução dos fatores de estresse. A renovação orgânica é

induzida principalmente mediante estados especiais de transe que ativam processos

de reparação celular e regulação global das funções biológicas. Ela atua sobre as

expressões psicossomáticas. No dias atuais, muitas vezes as pessoas “não se dão

um tempo” para a renovação pois vivem uma vida de pura atividade, buscando

ocupar todo o tempo livre com mais e mais atividades.

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Reeducação Afetiva é a estimulação da capacidade de estabelecer ligações

afetivas saudáveis com as outras pessoas, eliminando expressões de desafetos,

destrutividade e violência. Significar eliminar as relações tóxicas e substituí-las por

relações nutritivas e construtivas.

Reaprendizagem das funções originárias da vida consiste na reconexão com

os instintos. Dentro da concepção teórica de Biodanza, o instinto, na realidade, é

uma rede orgânica de impulsos hereditários destinados à auto conservação.

Atualmente a cultura obstrui, desorganiza e perverte os instintos, dando origem à

patologia social e individual. A tarefa mais urgente da Biodanza é resgatar a base

instintiva da vida e buscar orientação nesses impulsos primordiais.

Vivência é uma experiência vivida com grande intensidade por um indivíduo

em um lapso de tempo aqui-agora que abarca as funções emocionais, cenestésicas

e orgânicas. A vivência é a sensação intensa de estar vivo “aqui e agora”

Uma outra definição mais recente dada por Rolando Toro tem um teor mais

científico e fisiológico:

“Biodanza é um sistema de aceleração de processos integrativos à

nível celular, metabólico, neuroendócrino, imunológico e existencial,

mediante a ambiente enriquecido com músicas específicas,

movimentos integradores e carícias que deflagram vivências.”

(TORO, 2009)

Pode-se dizer, em termos gerais, que um dos principais objetivos da Biodanza

é a Integração da Identidade e, neste âmbito, este objetivo, vem de encontro ao

tema proposto por este trabalho.

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1.1.2. Principio Biocêntrico

O Principio Biocêntrico foi proposto por Rolando Toro como uma nova forma

de integração baseado na organização do universo a favor da vida. E uma

transgressão aos valores culturais humanos e dos processos mentais de repressão,

buscando uma nova forma de desenvolvimento dos potenciais individuais a favor da

evolução, do micro ao macro, buscando uma integração do indivíduo com sigo

mesmo, com o outro e, a partir dai, uma nova forma de vinculo com o universo que

nos cerca.

O Principio Biocêntrico entende que o universo e tudo que nele se encontra

estão em ressonância permanente, e que cada movimento, cada intenção individual,

cada fenômeno que se inicia tem efeito em todo sistema vivente. O universo existe a

favor da vida e da sua evolução e todos os objetivos humanos devem pôr-se na

manutenção e conservação da vida, promovendo sua otimização em diferentes

sistemas viventes como todo.

Quando aprendemos a viver a partir do Principio Biocêntrico

experimentamos a sensação de vinculo com a totalidade, sentimos a sensação de

fazer parte desse sistema vivente, nos conectando com todas as formas de vida,

sem se sentir maior ou menor, respeitando a ética do viver, experimentando o amor

como a maior forma de expressão humana, desenvolvendo o nosso potencial

afetivo, criativo, sexual, vital e transcendente, respeitando a sacralidade da vida.

O Principio Biocêntrico constitui o paradigma que deveria servir de

fundamento para todas as ciências humanas, vindo a ser a base da educação, da

psicologia, da jurisprudência, medicina e psicoterapia, respeitando a vida como

centro e ponto de partida para o desenvolvimento humano, restabelecendo o vinculo

com a totalidade há muito perdido. Se entendermos que a vida não e apenas a

conseqüência de um processo atômico e químico desencadeados ao acaso,

começaremos a entender que a evolução do universo e na verdade a uma evolução

a favor da vida.

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O Princípio Biocêntrico é inspirado na intuição de um universo organizado em

função da vida e consiste numa proposta de reformulação de nossos valores

culturais que toma como referencial o respeito pela vida.

1.2. Identidade e Biodanza

1.2.1. Conceito de Identidade

A elaboração intelectual do conceito de Identidade é complexa e requer do

pensador atual muita sutileza. Além da evolução histórica do conceito, a formulação

do conceito de Identidade interessa a vários ramos do conhecimento gerando assim,

diversas conceituações conforme o enfoque que se lhe dê.

Para a sociologia, identidade é o compartilhar de várias idéias e ideais de um

determinado grupo. Já para a Antropologia, seria a soma de um aglomerado de

signos, referências e influências que definem o entendimento relacional de

determinada entidade, humana ou não-humana, comparada e percebida pela

diferença ante as outras, por si ou por outrem mas sempre necessário existir o

“outro” para comparação. Para Medicina Legal, seria o conjunto de exames onde se

apuram no ser humano, a raça, sexo, estatura, idade, peso, etc.. No direito,

identidade é o conjunto de caracteres que tornam a pessoa particularizada,

diferenciando-a dos demais, sujeito a direitos e deveres.

Desde a antiguidade vários conceitos foram dados para Identidade.

Aristóteles (384 a.c. – 322 a.c) criou a teoria de que identidade é a "unidade da

substância”: "Em sentido essencial, as coisas são idênticas do mesmo modo em que

são unidade, já que são idênticas quando é uma só em sua matéria (em espécie ou

em número) ou quando sua substância é uma. É, portanto, evidente que a

identidade de qualquer modo é uma unidade, seja porque a unidade se refira a uma

única coisa, considerada como duas, como acontece quando se diz que a coisa é

idêntica a si mesma.” (ARISTÓTELES apud ABBAGNANO, 1982)

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Leibniz (1642-1716) é autor de uma definição clássica do conceito de

identidade, que se aproxima ao “conceito de igualdade" Esta fórmula utiliza dois

termos e, nomeia a “igualdade” de A e A (A=A), e não descreve uma Identidade.

Para Heidegger (1889 – 1976) A=A trata-se de uma igualdade, para ele, uma

fórmula mais apropriada para o princípio de Identidade é, A é A ou seja, todo o A

sendo o mesmo A.

A abordagem psicológica do princípio de Identidade requer uma nova

perspectiva, já que deixa de ser abstrato para converter-se em matéria do vivente

que está em permanente mudança. Desde este ponto de vista, o conceito de

identidade pode ser definido como um conjunto de aspectos individuais que

caracteriza uma pessoa.

Em seu livro: A Psicologia a Serviço do outro: Ética e Cidadania na Prática,

Freire descreve:

“No entanto, entendemos identidade como plural, constituída a partir das relações sociais, o que tem caráter de metamorfose, por compreender o processo de permanente mudança que os encontros nos possibilitam. A psicologia como estudo científico da subjetividade humana nos propõe investigar modos de subjetivação no que consiste à produção de sujeitos diferenciados (FREIRE, 2003)”

Somos e seremos a mesma pessoa e ao mesmo tempo estamos a cada

momento nos transformando em outro sem deixamos de ser o mesmo. Mudamos

mas mantemos a mesma essência. Somos o que somos frente a qualquer outro

sistema de realidade.

1.2.2. Conceito de Identidade em Biodanza

No contexto da Biodanza, Rolando Toro (1924 – 2010) apresenta os

seguintes conceitos para a Identidade:

“A capacidade de experimentar-se a si mesmo, como entidade única e como centro de percepção do mundo, a partir de uma iniludível e comovedora vivência corporal” (TORO) “A vivência fundamental da Identidade surge como a sensação endógena do estar vivo. A experiência primordial da Identidade é a

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comovedora e intensa sensação de estar vivo, gerando-se a si mesmo” (TORO)

Rolando Toro compreende a identidade a partir da vivência do estar-vivo, uma

intimidade com a vida essencialmente visceral. A identidade emergindo da

diferenciação genética (seleção natural e evolução biológica), e primariamente

voltada para a conservação da unidade e da sobrevivência do indivíduo

(autorregulação visceral, homeostase, correlação intraorgânica e proteção

imunológica).

“A vivência fundamental da identidade surge como expressão endógena do estar vivo. A vivência primordial do estar vivo é a mais comovedora e intensa de todas as vivências (...). A vivência de estar vivo estaria afetada constantemente pelo humor corporal e pelos estímulos externos, entretanto, sua gênesis seria visceral” (TORO).

Segundo Rolando Toro, existem dois paradoxos da Identidade. O primeiro é

relacional, no qual afirma que a Identidade se faz patente somente através do

“outro”: EU me faço presente na presença do TU. Isto significa que a Identidade, a

vivência de si, se molda e se afirma com a “convivência”. Daí o poder do grupo,

gerando a capacidade de geração de vínculo afetivo, propiciando a Integração e

Fortalecimento da Identidade.

“Nossa identidade se revela na presença do outro” (TORO)

O segundo paradoxo é que a Identidade tem uma essência invariável, mas ao

mesmo tempo está sendo transformada constantemente. Venho mudando, porém

continuo sendo eu mesmo. A Identidade é sempre única e, ao mesmo tempo, muda

de aspecto com o tempo.

Complementando Rolando, Cesar Wagner Góis nos fala da identidade como

uma pulsação. Ele afirma que a identidade é altamente permeável à música e a

presença do outro e defende:

“Vivencia é o sentimento de totalidade presente em uma relaçao EU-TU (Bubber 1977). O fato de ocorrer uma vivencia integradora aumenta a pulsação da identidade e a eleva a uma espiral evolutiva. Neste momento, surge o fluxo regulador e expressivo de si mesmo” (GÓIS, 1995)

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“Tomando como ponto de partida as reflexões anteriores, compreendo a identidade como “o mesmo“ (Parmênides), ou melhor, a capacidade de se sentir como centro de percepção de si e do mundo, em um profundo sentimento de estar-vivo, sentimento este que é corporal, comovedor e conectado a tudo o mais. Isso implica que o ponto de partida estruturador da identidade é o sentir-se vivo, instante de transmutação da corporeidade vivida em mais presença e vínculo com o mundo. Por esse caminho vejo a identidade como expressão de uma totalidade e não de partes de si mesmo, só possível de se realizar na imediaticidade do viver, portanto na vivência e não na consciência”. (GÒIS, 2005)

1.2.3. As Sete Ideias Fundamentais sobre Identidade em Biodanza:

“A identidade já foi pensada na Biodanza de diversos modos... Atualmente, concebe-se a identidade como um todo, composto pelo Potêncial Genético, pelos sistemas nervoso, endócrino e Imunológico e também pelo inconsciente coletivo, que acontece através das linhas de vivência e que tem platicidade de pulsar entre um estado de consciência intensificada e reagressão. O que possibilita esta pulsação é a qualidade de identidade de ser permeável à música e à presença do outro. A música e o encontro são vias de acesso à identidade” (Ferreira, 1997)

(1) A Identidade de um indivíduo só se revela em presença de outro:

Conviver significa a alegria de “ser com outro”, de adquirir a capacidade de

vínculo afetivo. A maior vivência de si mesmo surge durante a “convivência” ou seja

quando vivemos em harmonia com o outro. Ao mesmo tempo em uma via de

retorno, quando percebemos o “outro”, estamos valorizando, demonstrando nosso

poder de vínculo e o mais importante estamos dando e recebendo simultaneamente

um lindo presente que a oportunidade de fortalecimento da identidade.

“Estamos demasiado sós no interior de um caos coletivista. Há um modo de estar ausente com toda nossa presença. O ato de não olhar, não escutar e não tocar o outro, o despojamos sutilmente da sua identidade. Não reconhecemos nele uma pessoa: estamos com ele mas o ignoramos. Esta desqualificação, consciente ou inconsciente, tem um sentido pavoroso que involucra todas as patologías do ego. Celebrar a presença do outro, exaltar nele o encanto essencial do encontro é, talvez, a única possibilidade saudável” (TORO).

(2) A Identidade é imutável mas está em permanente transformação

A identidade se produz em constante transformação, o que sugere pensar nas

mudanças que a vida nos reserva. A identidade possuiu um caráter sempre flexível,

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mutável, provisório, o que corresponde às mudanças contínuas ocorridas tanto no

plano das relações sociais quanto nas articulações da história de vida pessoal com o

funcionamento da sociedade. Estes incluem estudo, trabalho, crenças, ideologias.

(3) A relação erótica reforça a Identidade, tornando-a vulnerável, mediante o contato:

A identidade é reforçada na relação erótica porque o contato á torna

vilverável. Ser vulnerável significa poder ser tcado, estimulado, transformado. Em

Biodanza consideramos a “função de contato” como terapêutica na medida em que o

contato corporal, e em especial a carícia, ativa, mobiliza, transforma e reforça nossa

identidade. Nossa identidade se projeta na pele, nossa percepção de limite. Se

nosso limite corporal está insensível, nossa identidade verdadeira está alterada,

oculta ou aprisionada. Transformar nossa pele em um órgão capaz de projetar e

irradiar nossa identidade é de importância vital.

(4) A “via régia” para compreender a Identidade é o transe musical e

(5) A Identidade é permeável aos agentes externos, em especial, à música

A música muda a existência. Ao desenvolver a sensibilidade musical e

ampliar a registro seletivo, se estimulam outras capacidades psicológicas como:

sensibilidade global, capacidade estática, prazer cenestésico, e capacidade de

aceitar estímulos diferenciados, induzindo a uma harmonia interior, sentido de ritmo

e reeducação afetiva afetando diretamente a Identidade. A música utilizada em

Biodanza é rigorosamente selecionada em relação aos exercícios e às vivências que

se pretende alcançar e trabalha com estruturas coerentes de “música-movimento-

vivência” que têm potencial deflagrador de respostas emocionais.

(6) Movimento é a expressão de nossa Identidade, e o acesso às suas modificações

só pode ser a dança.

A música e o movimento, ou seja, a dança, constituem o método deflagrador

de vivências. Em Biodanza, a pessoa é convidada a se colocar por inteiro na dança.

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O movimento em Biodanza deve ter uma motivação afetiva, para que efetivamente

gere mudanças.

(7) O conceito de Identidade é impensável separado do conceito de Regressão:

Regressão é um estado de retorno psicofisiológico à etapa fetal ou perinatal,

isto é, imediatamente anterior ou posterior ao nascimento. Durante o estado de

regressão o indivíduo reedita condições psíquicas e biológicas da infância podendo

assim, reparar conceitos relacionados a sua identidade

1.2.4. Diagrama Dinâmico da Identidade

“A Identidade tem suas raízes na estrutura genética e sua expressão biológica mais dramática é o sistema imunológico e a incompatibilidade com estruturas estranhas. A Identidade se manifesta não só a nível celular e visceral mas a nível psicológicoexistencial. A vivência de estar vivo está afetada constantemente pelo humor corporal e pelos estímulos externos. Mas sua gênese é visceral.”(Toro)

Rolando Toro desenvolveu o Diagrama Dinâmico da Identidade. Neste

diagrama, podemos observar a importância do soma (corpo) na formação /

composição da Identidade.

17

18

Para um melhor entendimento do diagrama, proponho analisar cada um dos

componentes deste diagrama separadamente:

Eixo central (em cor violeta)

Potêncial Genético: Segundo Rolando Toro, a Identidade tem suas raízes na

estrutura genética e sua expressão biológica mais dramática é o sistema

imunológico e a incompatibilidade com estruturas estranhas, ou seja a identidade

está relacionada à proteção e manutenção da vida.

Sensação de Vida: Para o indivíduo, a vivência quotidiana que lhe dá notícias

de sua identidade é a sensação de estar vivo. A consciência de estar vivo permite

tomar contato com a própria identidade. A consciência intensificada de si mesmo

amplia a percepção do mundo. É na sensação de estar vivo que se encontram a

vivência e a consciência. Ambos, tanto a vivência quanto a consciência,

relacionados ao corpo, formarão a identidade em um “duplo caminho”:

Primeira Via – Somática/Vivência (na cor amarela do gráfico):

Primeira noção do próprio corpo: A percepção do próprio corpo evolui através

das experiências cotidianas. Acredito que necessitamos de uma melhor percepção

do nosso corpo, pois embora o corpo envie informações preciosas para nossa

mente, muitas vezes a mesma é ignorada. Por exemplo: por imposição cultural, não

descansamos quando estamos cansados (falta de autoregulação), não dormirmos

quando temos sono (inclusive com o uso substâncias que mantenham o estado de

alerta do organismo), fazemos dietas extremas ao custo de passarmos fome, termos

relações sexuais sem desejos, usamos roupas e sapatos desconfortáveis para

cumprir padrões de moda.

A base da sensação de estar vivo está na corporeidade. Deste modo, a

origem da identidade é biológica. Sem o corpo ou sem a vida corporal não existe

identidade. Tendo como base o corpo, a gênese da identidade está na fecundação.

Em resumo: identidade é a sensação de estar vivo, tem uma origem biológica e sua

gênese é a fecundação.

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Sentir-se a si mesmo: O convite é libertar-se do aprisionamento de nossas

mentes e nos permitir sentir. Sair dos estados mais comuns, que são caracterizados

por um sono acordado, onde o devaneio e a fantasia são a regra. Nesse estado, o

indivíduo permanece separado do momento presente, sendo esta uma das

principais características da vida mecânica. Sentir-se a si mesmo é um resgate da

capacidade de ouvir a linguagem cenestésica.

O corpo como fonte de prazer ou como fonte de dor: O corpo, centro de

percepção do mundo através das sensações, sejam de prazer ou dor, apresenta

sempre seu desejo, ainda que não seja bem compreendido. Ao resgatar esta

consciência corporal, poderemos fazer as nossas escolhas. Usar o nosso corpo

como fonte de prazer, relacionado a autoestimulação e vinculado a sexualidade

mas, o prazer dentro da escala de valores convencionais está a tal ponto

desprestigiado que para muitos é sinônimo de superficialidade, frivolidade ou

materialismo. Não existe prazer verdadeiro que não seja proveniente da

profundidade e do ímpeto natural da vida. Infelizmente, através dos tempos e em

diversas culturas corpo foi associado à dor, à doença, ao sofrimento. Esta visão

determina atitudes e estilos de vida conformistas e dependentes. Só se vence o

medo do sofrimento desenvolvendo a capacidade de prazer.

Seletividade, saber o que se quer: Ambos os padrões (fonte de prazer, fonte

de dor) desenvolvem uma estrutura de seletividade bastante estável, que permitem

ao indivíduo saber o que quer, como por exemplo escolhas de relacionamentos,

trabalho, profissão, estilo de vida. A partir desta escolha, ter a capacidade então, de

buscar a sua autorrealização. Aqueles que escolhem o corpo como fonte de prazer

atrairão pessoas com a mesma característica, gerando uniões saudáveis e

nutritivas.

Segunda Via – Psico / Consciência (na cor vermelha do gráfico):

Primeira Noção de Ser Diferente: As primeiras noções de ser diferente se dão

no contato com o grupo. A Identidade se faz patente no espelho de outras

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Identidades. Nas protovivências, esta primeira noção de ser diferente se dá a partir

da vivência de separação e aproximação do outro (“eu” fico e o “outro” se ausenta,

“eu” recebo a falta e o “outro” é quem chega, “eu” necessito algo e o “outro” me

provém). Esta protovivência reitera a primeira das sete ideias fundamentais sobre a

Identidade em Biodanza: “A Identidade se faz patente na presença do outro”.

Pensar-se a Si Mesmo: As primeiras noções de ser diferente conduzem à

consciência da própria singularidade e ao ato de pensar-se a si mesmo frente ao

mundo.

Autoimagem: O pensar-se a si mesmo configura a autoimagem. Trata-se do

conjunto de ideias, conceitos, opiniões e a imagem que alguém tem de si mesmo,

bem como a imagem que supõem projetar para os outros. No entanto, essa

autoimagem consiste apenas em projeções da personalidade ou ego, e a sensação

de ser que é derivada disso, fundamenta-se nessas atribuições. Assim, as pessoas

comuns, em seu dia a dia, vivem suas vidas como se elas fossem seus próprios

egos - um conjunto de qualidades ou defeitos, lembranças, pontos de vistas,

pensamentos, ideias, experiências que caracterizam a vida de cada um, porém, isso

não consiste na totalidade daquilo que as pessoas são.

O ego e a personalidade são apenas aspectos de uma totalidade, mas

existem outros que potencialmente definem o ser. Por trás da sensação de ser

fundamentada na autoimagem da personalidade existe uma outra forma de

identidade ou de sensação de ser com a qual, infelizmente, devido às condições da

própria vida, na maioria dos casos, as pessoas perdem o contato. Ou seja, elas

passam a confundir sua identidade com essa autoimagem e perdem a oportunidade

de descobrir e experimentar outras dimensões de seu próprio ser. Uma identidade

mais abrangente, capaz de conferir outros níveis de significado para o próprio

indivíduo e para a vida, ficará acobertada pela personalidade e em muitos casos,

poderá não haver nem mesmo a oportunidade de experimentar essas dimensões ao

longo da vida comum.

21

Decisão para Atuar: A partir da sua autoimagem o indivíduo tomará a sua

decisão para atuar. Aqueles com a autoimagem positiva, serão portadores de mais

coragem, atuarão com autenticidade, coerência e segurança.

Retorno ao Eixo central (em cor violeta no gráfico)

Consciência de Si: A consciência de si deriva da sensação de estar vivo ,

da primeira noção do próprio corpo e da primeira noção de ser diferente . A

expressão de presença no mundo se torna possível quando nos sentimos

conscientes do que somos, isto é, quando tomamos consciência de nossa

Identidade. Este é um dos processos evolutivos que mais caracteriza o ser humano:

a consciência de si e a comovedora vivência de estar vivo. A consciência da

Identidade se dá quando nos reconhecemos e somos reconhecidos como

singularidade entre os demais, quando percebemos o significado de ser um

indivíduo distinto entre semelhantes, e quando nos identificamos exatamente por

nossas diferenças e similaridades.

Autoestima: A auto estima se forma a partir da sensação de estar vivo e na

consciência de si, assim como, será influenciada tanto pela autoimagem, como na

primeira noção de seu corpo (prazer o dor). O tema de autoestima em Biodanza será

abordado com mais detalhes no próximo item.

Padrões de Resposta: A partir de três influencias: autoestima, seletividade e a

decisão para atuar, o indivíduo formará os seus padrões de resposta. Alterar os

padrões de resposta depende de Desenvolver

Autorrealização e Autocriação Existencial: A capacidade de criar-se a si

mesmo, transformar suas emoções, a coragem de expressar sentimentos novos e

antigos, faz parte do processo criador e realizador da própria vida.

"Nós somos a mensagem, a criatura e o criador ao mesmo tempo" (TORO)

22

Biodanza como processo facilitador: A Biodanza atua e coopera para o

fortalecimento em todo este processo dinâmico através da integração das linhas de

vivência.

Hora estará atuando na “Primeira Via – Somática” que está sob a regência

do sistema nervoso autônomo parassimpático, cuja atividade é estimulada (com

ação recíproca) pelos hormônios do grupo colinérgico, resultando no estado

chamado Trofotrópico. Este é deflagrado pela noção do corpo, pela percepção

visceral e cenestésica de estar vivo. Neste estado, a atividade cárdio respiratória

tem seu ritmo reduzido, a circulação sanguínea se expande na pele e áreas

periféricas, nos órgãos da digestão e eliminação, permitindo o distensionamento e a

redução do tônus muscular. Tal condição é propícia a todas as funções de

restauração do organismo, a começar pelo sistema imunológico, porque são

reativados os padrões fisiológicos primordiais. Os contatos e carícias facilitam e são

facilitados, tornando-se ferramentas eficazes para a transmutação de energia e

curas orgânicas, emocionais e existenciais com efeito na autoestima.

Hora estará atuando na “Segunda Via – Psico” que está sob a regência do

sistema nervoso autônomo simpático, cuja atividade libera hormônios do grupo

adrenérgico, que viabilizam as funções de alerta, atenção, decisão, ação. O sistema

cardio respiratório intensifica seu ritmo, a circulação sanguínea se concentra na

musculatura e nos mecanismos que identificam detalhes do ambiente, permitindo a

plena expressão dos instintos ligados à necessidade de sobrevivência, de luta e

fuga. Este estado é propício às atividades que permitem alcançar a satisfação de um

desejo, das metas e objetivos identificados: expressão, ação, adaptação e força de

vontade.

1.2.4. - Autoimagem e Autoestima em Biodanza

Ter a autoestima elevada pode fazer a diferença na vida de uma pessoa.

Essa é a afirmação que vemos em palestras, vídeos, livros e programas de televisão

onde o bem-estar, a qualidade de vida e os relacionamentos interpessoais são

23

enfocados. Mas o que se torna difícil de entender e quase sempre não é explicitado

é: O que é exatamente isso que chamamos autoestima?

Autoestima é uma variável psicológica importante e muito se tem estudado

sobre a autoestima, nos recentes últimos anos, mas este termo tem sido definido de

formas diferentes e até mesmo de forma conflitante por vários autores.

Para Biodanza, o conhecimento que o indivíduo tem de si próprio, pode se

dividir em dois componentes distintos: um descritivo, de como nos vemos chamado

autoimagem, e outro valorativo vivencial de como nos sentimos, que se designa

autoestima.

De um fato estamos certos, as diferentes definições dadas por diversos

autores são definitivamente conflitantes para a abordagem de Rolando Toro.

Vamos iniciar este “comparativo” analisando algumas destas definições

destes autores especializados no assunto concentrando nossa análise

principalmente na parte do texto que está sublinhada. Comecemos:

1 - Para Wilber (1995) a autoestima está ligada às características do

indivíduo, que faz uma avaliação de seus atributos e definir uma autoestima positiva

ou negativa, dependendo dos níveis de consciência que expressa sobre si mesmo.

2 - Rosenberg (1996) revela que a autoestima é uma avaliação positiva ou

negativa para o auto, que é baseado em uma base afetiva e cognitiva, porque o

indivíduo sente uma certa forma do que ele pensa sobre da mesma.

3 - Coopersmith (1996), afirma que a autoestima é a avaliação que o indivíduo

faz e habitualmente mantém em relação à mesma. Este auto é expressa através de

uma atitude de aprovação ou desaprovação, que reflete o grau em que o indivíduo

acredita ser capaz, produtivo, importante e digno.

24

4 - Craighead, McHale e Papa (2001), indicam que a autoestima é uma

avaliação das informações contidas no autoconceito que deriva sentimentos sobre si

mesmo. Assim, a autoestima é baseada em uma combinação de informações

objetivas sobre si mesmo e uma avaliação subjetiva desta informação.

Pois bem, o que encontramos em comum nestas definições descritas acima?

Elas afirmam que a autoestima parte de uma “avaliação”. Como avaliar, senão

através de nosso julgamento intelectual, mental?

Dando seguimento a este raciocínio apresento mais algumas definições

sendo que as que virão a seguir, estão um pouco mais próximas à definição de

autoestima segundo a abordagem da Biodanza pois já incluem mais um elemento

além do mental.

5 - Dunn (1996), afirma que a autoestima é a energia que coordena, organiza

e integra toda a aprendizagem realizada pelo indivíduo através de contatos

sucessivos, formando um todo que é chamado de "auto".

6 - McKay e Fanning (1999), autoestima refere-se ao conceito que engloba os

pensamentos, sentimentos, sensações e experiências sobre si mesmo, que tem

procurado o indivíduo durante sua vida. Milhares de impressões, avaliações e

experiências e, juntos, se reúnem em um sentimento positivo em direção a si mesmo

ou, inversamente, em uma desconfortável sensação de não ser o esperado.

7 - Barroso (2000), afirma que a autoestima é uma energia que existe no

organismo vivo, qualitativamente diferente organizada, integrada, coesa, todo

sistema unificado e endereços de contatos que são feitos no próprio indivíduo. Este

autor conceituou a definição de autoestima, considerando sua realidade e

experiência, permitindo-lhe assumir a responsabilidade por si mesmo.

8 - Corkille (2001), a autoestima é o que cada pessoa sente sobre si mesmo,

seu juízo geral, e como ele gosta de sua própria pessoa, concordando com a

afirmação que a autoestima é definida em termos de julgamentos que os indivíduos

fazem sobre si mesmo e adotando atitudes sobre si mesmos.

25

O que percebemos de diferente neste segundo conjunto de definições (5-8)?

As primeiras (1–4) consideram somente avaliações. Excluem sentimentos e

sensações, sensações corporais e vivenciais enquanto o segundo grupo (5-8) já

incorpora estes elementos.

Para a Biodanza estes conceitos seriam de autoimagem, ou seja a imagem

mental, interna e/ou externa que se tem de si mesmo. A autoimagem se forma a

partir do confronto com o espelho. Além de abarcar a aparência (autoimagem

externa), também abarca certas análises introspectivas (autoimagem interna) sobre

o que se representa para os demais e para si mesmo. Trata-se do conjunto de

ideias, conceitos, opiniões e a imagem que alguém tem de si mesmo, bem como a

imagem que supõem projetar para os outros.

Sob o ponto de vista da Biodanza, a autoestima é vivencial, ou seja, está

relacionada ao que o indivíduo sente e como vivencía o seu valor e a sua auto

aceitação. É sentir, visceralmente, o seu valor pessoal, é acreditar em si, é respeitar

a si mesmo e ter autoconfiança. Ela provém da “intensa sensação de estar vivo, de

sentir-se a si mesmo”. A autoestima se estrutura com base na qualificação afetiva

dos pais e das pessoas próximas, e é definida através de como a pessoa percebe os

outros em direção a si mesma, expresso em afeto, elogios e atenção. Rolando Toro

define seguinte forma a autoestima:

A vivência do próprio valor e da autoaceitação é complexa. Provém da intensa sensação de estar vivo, de sentir-se a si mesmo, de sentir o corpo como fonte de prazer e de saber o que se quer. (TORO)

Em Biodanza, a autoestima está intimamente ligada ao prazer, gostar de

sentir-se vivo, de ser quem se é, de valorizar o que se tem, e principalmente,

valorizar as pessoas que nos cercam. Aprender a desfrutar todos os pequenos e

grandes prazeres que a vida oferece é a mais importante das aprendizagens.

Segundo Rolando Toro são quarto os principais caminhos do prazer:

“O prazer da dança, no sentido da Biodanza, é o primeiro caminho. Aprender a escutar música em estado de transe é outro dos importantes caminhos. Ter consciência dos prazeres cotidianos é o terceiro caminho. Desenvolver todas as possibilidades do erotismo é o quarto caminho.” (TORO)

26

Na Biodanza, podemos dizer então que autoimagem tem um caráter

conceitual e formal enquanto que a autoestima tem uma raiz vivencial. Sendo assim,

permito-me concluir as seguintes diferenças comparativas entre as definições:

27

Rolando Toro Outros Autores

Autoimagem Externa equivale à..... Autoimagem

Autoimagem Interna equivale à .... Autoestima

Autoestima não tem equivalência

Não incluem sensações

corporais e em nenhuma

das definições

1.3. Identidade e o Modelo Teórico de Biodanza

Rolando Toro criou o Modelo Teórico da Biodanza para possibilitar ao

Sistema ter um instrumento de investigação capaz de mostrar de forma prática, que

dentro de um campo de observações podem se estabelecer relações imprevisíveis,

abrindo novas opções no campo operacional.

“Um modelo é um instrumento de investigação e manipulação de um determinado conjunto de fenômenos observados, através do qual é possível descobrir relações de coerência [....] O modelo permite mostrar as relações existentes entre um sistema formal (criado pelo homem) e o sistema “natural” em estudo. Pode- se dizer que os pesquisadores fazem uma proposta “mítica” sobre a realidade e, em seguida, estabelecem as relações entre os acontecimentos e essa proposta [.....] O modelo permite, ainda, descobrir relações novas e formular perguntas que não poderiam mais ser feitas se nos contentássemos em observar os fatos, bem como orientar a pesquisa, criar novas hipóteses, manipular relações desconhecidas e compreender os fatos dentro de uma visão unificada.” (TORO)

A proposta deste trabalho não é dissecar totalmente os aspectos de um

modelo teórico. Tampouco do Modelo Teórico da Biodanza, e sim repassar alguns

tópicos importantes no que diz respeito à Identidade no contexto deste modelo.

Origem do Modelo Teórico inspirou-se em experiências clínicas com

pacientes psiquiátricos que Rolando Toro desenvolveu em 1965, como Membro

Docente do Centro de Estudos de Antropologia Médica da Escola de Medicina da

Universidade do Chile. Nesta ocasião Rolando Toro realizou as primeiras

investigações com música e dança, no Hospital Psiquiátrico de Santiago com

doentes mentais.

28

A abordagem consistia em incluir uma atividade corporal e estimular as

emoções através da dança e do encontro humano. Com o objetivo de induzir

harmonia e tranquilidade nos pacientes, Rolando propôs danças harmoniosas e

lentas com os olhos fechados. A observação revelou que estes exercícios tinham

efeitos contraproducentes, pois levavam os doentes a estados regressivos,

acentuando as alucinações e delírios, que podiam durar vários dias. Este resultado

levou a conclusão que estes pacientes que tinham a “identidade mal integrada”, se

dissociavam ainda mais quando realizavam movimentos que induziam regressão.

Em sessões seguintes, Rolando Toro propôs danças euforizantes, com ritmos

alegres que estimulavam o movimento. O resultado foi um notável aumento do juízo

de realidade e o desaparecimento dos delírios e alucinações.

Estas experiências e observações iniciais constituíram a base para a

construção de um Modelo Teórico operativo no qual foram localizados, em um polo

(direito), os exercícios de regressão e no polo oposto (esquerdo), os de reforço da

consciência através de danças euforizantes.

Ficou, assim, desenhado o primeiro eixo para um modelo teórico que, com o

tempo, foi aperfeiçoado. Primeiro Esquema do Modelo Teórico criado por Rolando

Toro:

CONSCIÊNCIA <-------------------> REGRESSÃO

Como conclusão, verificou-se que, em alguns casos podiam ser utilizadas

músicas que reforçassem a Consciência da Identidade e de Realidade (ritmos

euforizantes = polo esquerdo), ao passo que em outros, deveriam ser induzidos

estados de regressão que facilitassem a reparentalização e diminuíssem a

ansiedade (polo direito).

Este modelo permitia prescrever exercícios específicos para o doente mental,

reforçando - mediante diversas danças - a manifestação da consciência identidade.

29

Posteriormente, Rolando observou que pessoas estressadas, tensas,

angustiadas ou com transtornos psicossomáticos (hipertensão e úlcera gástrica),

melhoravam quando realizavam exercícios próprios do polo de regressão, que,

como resultado, tinha com nítidos efeitos ansiolíticos.

Durante a Regressão, o indivíduo tende a dissolver-se na totalidade do

Universo e a perder os limites corporais, enquanto no estado de Consciência da

Identidade se faz a experiência de si mesmo como centro de percepção do mundo.

O Modelo proposto então oscilava entre estes dois pólos, de modo pulsante.

O modelo Teórico de Biodanza passou por muitas modificações durante mais

de 40 anos de existência do sistema Biodanza. Seus termos foram ajustados e

novas relações foram descobertas, mas ele até hoje conserva a sua estrutura

original e os dois polos incialmente propostos, seguem em vigor. A figura a seguir

representa o Modelo Teórico da Biodanza atual (2008).

“Na base do eixo vertical do modelo se encontra o conceito de “potencial genético”, que se exprime na trama das “linhas de vivência”. O desenvolvimento evolutivo se realiza à medida que os potenciais genéticos encontram oportunidades de se expressar na existência. ...O Modelo se articula ao longo de dois eixos colocados dentro de uma espiral. O eixo vertical é estável e o horizontal é pulsante. Ambos os eixos são virtuais, pois não denotam uma trajetória rígida; são projeções direcionais. A espiral representa a abertura do modelo aos processos universais de gestação da vida”. (TORO)

Cada indivíduo possui um potencial genético que constitui o conjunto de

características únicas que, segundo a medicina legal, é denominado “Identidade”.

No momento da fecundação, quando se unem os gametas do pai e da mãe, já fica

determinada a identidade biológica que se expressará através da vida (ontogênese).

A integração adaptativa é o processo em que os potenciais genéticos, altamente

diferenciados, se expressam e se organizam em sistemas cada vez mais complexos,

criando uma rede de interações que potencializam e Fortalecem a Identidade. O ser

humano é pleno de potenciais. Estes têm origem biológica, ou seja, genética e se

manifestam ou não dependendo da relação da pessoa com o meio.

30

31

Todos nós temos potencias muito além do que seremos capazes de

expressar durante nossa existência. O fato uma determinada característica existir

em potencial em uma pessoa, não significa que se manifeste. São fatores

ambientais que estimulam o potencial a se manifestar. Os ecofatores mais fortes

para condicionar a expressão dos potenciais são os humanos. Os ecofatores

humanos podem estimular ou inibir os potenciais genéticos. A expressão da

identidade é, portanto, fortemente condicionada pela Ecologia Humana. Nossa

abordagem sustenta que o processo de desenvolvimento da identidade depende da

interação com as outras pessoas.

Os potencias se manifestam através da experiência no mundo, o que

chamamos vivência. As linhas de vivência são as manifestações destes potencias

em cinco diferentes formas:

Vitalidade: potencias para saúde, autorregulação, busca de alimentação

saudável, regulação do repouso e da atividade;

Sexualidade: potencial de prazer que vai estar relacionado ao desfrutar de

todas as atividades do cotidiano;

Criatividade: potencial de utilizar uma infinidade de formas de expressão de

sentimentos, idéias e emoções – potencial de inovação.

Afetividade: potencial relacional, sentimento de empatia, solidariedade,

amizade e ligação com os demais;

Transcendência: potencial de inserção no meio e de sentir-se parte da

totalidade.

1.4. Expressão e Fortalecimento da Identidade

A Biodanza se diferencia de outras terapias tradicionais, pois tem um enfoque

essencialmente pedagógico e terapêutico e um dos seus propósitos principais é o de

32

integrar a Identidade. Este processo se dá através do desenvolvendo dos potenciais

de saúde ou seja a proposta da Biodanza é de uma mudança a partir da “parte

saudável” e não da patologia, estimulando assim a evolução de suas

potencialidades.

Desta forma, durante uma sessão de Biodanza, o aluno é mais que nunca ele

mesmo. Os exercícios propõem a qualificação, a valorização e o respeito. Biodanza

promove a capacidade de interagir com segurança e respeito com as outras

pessoas, facilitando o processo de integração em grupos e aceitação pelos mesmos,

fornecendo um ambiente enriquecido, desencadeando o desenvolvimento dos

potenciais genéticos.

Cada uma das linhas de vivência têm seu papel fundamental para a

expressão e para o fortalecimento da Identidade.

Linha de Vitalidade: Conforme descrito no Item Identidade e o Modelo

Teórico, se pode observar a importância da linha da Vitalidade na Expressão e

Fortalecimento da Identidade. Um dos conceitos da Identidade segundo Rolando

Toro seria a própria “comovedora e intensa sensação de estar vivo”.

Linha da Sexualidade: as danças de amor, de acariciamento, a oportunidade

de experimentar o corpo como fonte de prazer, ativam a seletividade sexual,

intimidade afetiva e a descoberta, progressivamente, da a Identidade sexual,

propiciando efeitos profundos e transformadores da identidade e da autoestima,

constituindo um verdadeiro processo de reabilitação permitindo a expressão da

Identidade.

Linha da Criatividade: a conexão com a criança interior propicia a expressão

os potenciais de forma criativa promovendo, assim, o processo de diferenciação

evolutiva. A identidade é fortalecida através de novas formas relacionais com o

ambiente. Resgatar esta capacidade de criação e autocriação é resgatar o

sentimento por si mesmo, é resgatar a própria identidade. A Criatividade pode ser o

33

primeiro passo para se tomar contato profundo com a própria identidade e com as

capacidades criativas latentes.

Linha da Afetividade: Segundo Rolando Toro, a afetividade é expressão da

identidade. As pessoas que têm uma identidade débil, são incapazes de amar; têm

medo da diversidade. Os transtornos da autoimagem e autoestima, sentimentos de

inferioridade ou de superioridade, impedem as expressões naturais da afetividade

como o amor, o altruísmo, a amizade e a maternidade. Os indivíduos cuja identidade

está alterada não conseguem “identificar-se” com outro, e seu comportamento é

defensivo, intolerante ou destrutivo. A Biodanza através dos exercícios desta linha

geram um sentimento de empatia. Em Biodanza percebemos uma identidade

fortalecida, como aquela capaz de estabelecer vínculos cooperativos, tendo atuação

baseada em redes afetivas.

Linha da Transcendência: Os exercícios da linha da Transcendência

permitem uma nova percepção do Outro na medida em que nossa identidade se

ilumina percebemos nosso semelhante com outra luz. O desenvolvimento da

dimensão transcendente dá uma perspectiva interior, ampla e universal para

perceber a realidade. A Transcendência em Biodanza propicia uma a transformação

da percepção centrada no ego para uma percepção centrada na Identidade, ou

seja, ir além da dominação do ego. Em tais condições, o praticante de Biodanza

fortalece a sua Identidade suficientemente, de forma integrada, para alcançar os

estados de consciência cósmica. Através do transe e regressão, a Biodanza

proporciona uma vivência de profunda vinculação consigo mesmo, com os outros e

com o cosmo modificando a matriz existencial.

“A identidade sexual, a identidade criativa e seletiva, a identidade afetiva e a identidade como identificação amorosa e cósmica são dimensões cada vez mais diferenciadas da identidade. Negar a própria identidade é uma perversão expressiva grave que conduz à destruição do indivíduo” (TORO).

34

1.4.1 Critérios da Identidade Saudável

Rolando defende que Identidade saudável vai sempre unida a uma percepção

corporal, de limites definidos, com tendência à autonomia. A percepção corporal e a

percepção dos objetos mantêm coerência e unidade. Ele descreveu uma lista de

critérios da Identidade Normal (Saudável), que descrevo abaixo. Associei a linha de

vivência relacionada ao critério e apresento os critérios na ordem de integração das

linhas de vivencia. No capítulo três, apresentarei com mais detalhes cada um destes

critérios e associarei cada um deles ao programa desenvolvido para o grupo de

prática.

• Alto nível de Vitalidade - Vitalidade

• Motricidade com equilíbrio, energia e sinergismo - Vitalidade

• Capacidade de fuga frente a uma força superior - Vitalidade

• Resposta em “feedback” com realidade - Vitalidade

• Autodeterminação do limite de contato - Sexualidade

• Capacidade de intimidade - Sexualidade

• Capacidade criativa - Criatividade

• Vivência de consistência - Criatividade

• Capacidade para por limite à agressão externa - Vitalidade /Afetividade

• Percepção do semelhante como único, diferente e com valor intrínseco -

Afetividade

• Ausência de espírito competitivo - Afetividade

• Ausência de autoritarismo - Afetividade

• Ausência de agressão gratuita - Afetividade

• Percepção de si mesmo como criatura com valor intrí nseco - Transcendência

• Consciência ética - Transcendência

35

CAPÍTULO 2: O PROJETO VIDA RIO

2.1. Biodanza e Ação Social

“Andar de mãos dadas é um ato revolucionário”. (R.T)

“A Biodanza na ação social oferece meios de resgate da cidadania a partir do reforço da identidade individual, grupal, comunitária e cultural, favorecendo a noção de valor intrínseco e de importância dentro da sociedade. Resgata a potência de agir no mundo e modificar realidades opressoras a partir de uma noção vivencial de dignidade” Myrthes Gonzalez - Psicóloga e Facilitadora de Biodanza

O termo "ação social" foi introduzido por Max Weber, em sua obra Ensaios de

Sociologia - Obra transcrita de seu discurso em um congresso na Universidade de

Heidelberg. Ação social refere-se a qualquer ação que leva em conta ações ou

reações de outros indivíduos e é modificada baseando-se nesses eventos. È todo

comportamento cuja origem depende da reação ou da expectativa de reação de

outras partes envolvidas. Essas “outras partes” podem ser indivíduos ou grupos,

próximos ou distantes, conhecidos ou desconhecidos por quem realiza a ação.

A ideia central da ação social é a existência de um sentido na ação: ela se

realiza de uma parte (agente) para outra. É uma atitude sobre a qual recai ao menos

um desejo de intercâmbio, de relacionamento. Como toda relação social, é

determinada não só pelos resultados para o agente, mas também pelos efeitos

(reais ou esperados) que pode causar ao outro.

De acordo com a análise acima descrita, a Biodanza, por si só é um agente

de Ação Social, pois ela gerará impacto em qualquer grupo social que ela venha

atuar, trazendo modificações na estrutura social.

Neste capítulo, vamos falar de Biodanza e Ação Social no contexto um grupo

social em risco, em um ambiente hostil, que descreverei mais adiante neste

capítulo. A prática da Biodanza faz despertar a empatia, o afeto, a capacidade

solidária e a indignação frente ao desrespeito e à opressão.

A Biodanza nos brinda como ferramenta altamente eficaz para o resgate da

dignidade, através do fortalecimento da identidade. Conforme descrito no capitulo

36

anterior, a identidade em Biodanza está relacionado com a presença singular no

mundo, com o convívio, e com a percepção de valor próprio. Estas questões estão

diretamente vinculadas com a dignidade.

A Biodanza é uma oportunidade de proporcionar a este grupo em risco social,

um ambiente enriquecido favorecendo o desenvolvimento de suas potencialidades.

Muitas vezes, a Biodanza será uma oportunidade única, em toda a sua existência,

de encontro com ecofatores posItivos. O desenvolvimento evolutivo de cada

indivíduo cumpre-se à medida que os potenciais genéticos encontram oportunidades

para expressar-se através da existência.

Os fatores ambientais que determinam a expressão do potencial genético

denominam-se "ecofatores". Os ecofatores podem ser positivos ou negativos

segundo permitam a expressão de potenciais ou os bloqueiem. A Biodanza gera, por

meio de exercícios e danças, campos específicos muito concentrados para estimular

os potenciais genéticos. Uma sessão de Biodanza é um bombardeio de ecofatores

positivos sobre a função integradora-adaptativa-límbico-hipotalâmica.

A partir da consciência de si mesmo, da descoberta do corpo como fonte de

prazer e da noção de ser diferente e através das vivências de Biodanza o

participante tem a oportunidade de reconhecendo seu valor, seus potenciais assim

como de reconhecer valor e os potenciais dos demais. Deixa de aceitar a privação

como algo normal e é estimulado a protagonizar ações de mudança no estilo de vida

pessoal e da comunidade.

Segundo Myrthes Gonzalez (2007) são aspectos relevantes deste processo:

• Expressão cultural: A identidade do grupo se traduz por sua manifestação

cultural. É essencial observar, respeitar e validar a cultura de cada população.

• A singularidade cada ser humano: Não existe ninguém igual ao outro. O conceito

de identidade, visto pela Biodanza, passa pelo resgate da sacralidade integrada

com a vida.

37

• A dignidade: Resgatar a dignidade significa o retomar a certeza que pelo simples

fato de existir um ser humano deve ter a condição plena de cidadão.

• Sentimento de potência: A Biodanza estimula a percepção de si como seres

potentes e capazes de mudança e ação concreta no mundo.

• Capacidade de adaptação: A capacidade de adaptação e ao mesmo tempo de

mudança, desenvolvidas principalmente pelo que chamamos em Biodanza, de

capacidade de fluidez.

• Uma reflexão profunda sobre os próprios valores e lugar no mundo: Através da

ampliação dos horizontes de percepção, é possível estabelecer uma visão

reflexiva sobre valores e formas de estar no mundo, permitindo vislumbrar novas

possibilidades tendo o contato com o potencial criativo e solidário como

instrumentos de transformação.

2.2. Parceria com a Agência do Bem

A Agência do Bem é uma ONG que tem como foco de atuação comunidades

consideradas de baixa renda e de baixo desenvolvimento humano, caracterizadas

pela falta de infraestrutura urbana e pela ausência de serviços públicos de

qualidade. Nesses territórios, geralmente situados em áreas periféricas e de difícil

acesso, os moradores sofrem o estigma da desordem, da sujeira e da violência,

tendo negados seus direitos básicos de cidadania.

Agência do Bem está instalado na Comunidade Beira Rio, no bairro de

Vargem Grande desde 2005. Neste local, instalou seu primeiro polo de ação social.

Ao longo dos anos, diversas ações foram realizadas e novos projetos foram

implementados nas áreas de educação, saúde, arte, cultura, segurança alimentar,

comunicação e mobilização comunitária, defesa de direitos, entre outros.

Em 2010, a Agência do Bem iniciou um processo de expansão abrindo novos

pólos de atuação na região da Zona Oeste, também em parceria com entidades

locais, em Vargem Pequena e na Cidade de Deus.

38

O segundo polo de atuação da Agência do Bem foi inaugurado no primeiro

semestre de 2010, em Vargem Pequena, em uma comunidade chamada Novo

Palmares. Já no segundo semestre de 2010, a Agência do Bem expandiu este

mesmo projeto para a Cidade de Deus, em parceria com a ONG Casa de Santana.

Segue abaixo um quadro demonstrativo de vários projetos realizados pela

Agência do Bem em seus três polos de atuação:

2.3. Avaliação Preliminar do Contexto Social

O Projeto Vida Rio tem por objetivo atuar na Comunidade Beira Rio, primeiro

polo de atuação da Agência do Bem. Trata-se de uma comunidade pequena com

cerca de 2.500 pessoas. O perfil socioeconômico da comunidade em nada difere do

alarmante quadro de outras milhares de comunidades pobres do país. Segundo o

levantamento do Índice de Desenvolvimento Humano, realizado pela Prefeitura do

Rio de Janeiro, com base nos Censos Demográficos do IBGE de 1991 e 2000, a

região está classificada em 116º lugar, entre 126 bairros analisados. Há que se

considerar ainda que esses números estão agregados, ou seja, o bairro de Vargem

Grande como um todo ocupa a 116ª, a comunidade Beira Rio, se vista de forma

isolada, certamente ocuparia uma posição ainda pior.

39

2.4. Apresentação do Projeto Vida Rio

O Projeto Vida Rio tem por objetivo realizar Oficinas de Biodanza e atividades

complementares com a finalidade de desenvolver os potenciais individuais dos

participantes, aumentando neles a autoestima, fortalecimento do vínculo familiar,

fortalecimento da identidade, melhorando a qualidade de vida e prazer de viver.

Acreditamos que esta prática, ao longo do tempo, gerará nos participantes uma

diminuição da algumas características marcantes da comunidade como a violência

doméstica, maternidade precoce, desorganização familiar. De uma forma global o

objetivo da prática será uma melhora da Infra-estrutura Pisco-Social-Afetiva.

O projeto original visa atender diferentes faixas etárias: Crianças de Nível I

(De 4 a 07 anos); Crianças de Nível II (De 08 a 11 anos); Adolescentes (De 12 a 17

anos); Adultos (A partir dos 18 anos).

Iniciei o projeto com a turma de Adultos, exercendo um trabalho voluntário,

não remunerado. As aulas semanais, são realizadas às sextas-feiras das 14:00h as

16:30h. O primeiro grupo formado, que é o objeto desta monografia teve a duração

de 13 meses com 02 períodos de programas distinto que explicarei no capítulo três.

O período de iniciação em Biodanza tem como objetivo entregar ao

participante as “chaves para dança da vida”. Acredito de indizido neste período de

iniciação, uma mudança na visão do mundo e da vida onde o participante tem a

oportunidade de entrar em contato com a sua própria essência.

2.5. Objetivos Específicos do Projeto

O projeto Vida Rio tem objetivos específicos, segundo cada faixa etária, mas

apresentarei aqui somente os objetivos específicos para o grupo de adultos, pois

trata-se do objeto deste estudo.

40

2.5.1. Expressão e Fortalecimento da Identidade

Fortalecer nos participantes a autoaceitação e aceitação no grupo para

expressar-se diante de desafios ou situações que exijam clareza de limite,

proporcionando capacitação para superação de medo e timidez e a segurança em

si mesmo. Os execrcícios de Biodanza reforçam os circuitos da Identidade saudável

o que elevam a autoestima, a consciência de si mesma e o desenvolvimento da

autonomia. O sentir-se vivo “com outro” e, ao mesmo tempo, exaltado em suas

próprias características.

2.5.2. Integração dos Potenciais Humanos

Integração significa coordenação das atividades de vários subsistemas para

alcançar o funcionamento harmonioso de um sistema maior. Assim, por exemplo, a

unidade funcional do organismo é realizada pela coordenação de três subsistemas:

nervoso, endócrino e imunológico. Os potenciais se desenvolvem no indivíduo de

acordo com estímulos internos (cofatores) e externos (ecofatores) recebidos durante

a vida. Mediante a dança, a música e situações de encontro em grupo, a Biodanza

ajuda no desenvolvimento dos potenciais humanos ao propiciar ecofatores positivos

para a integração.

2.5.3. Mudança de Postura frente a vida

Ao aumentar a alegria e o prazer de viver, a Biodanza resgata a coragem, e a

dignidade, conectando o indivíduo com seus desejos e necessidades mais íntimos,

para realizá-los de forma integrada e sincera. Muitas vezes a carência altera a

percepção da ser humano de sua condição no mundo. A experiência da fome, falta

de higiene, falta de moradia faz com que elas considerem natural passar por estas

privações. Através do resgate da dignidade, lhe é devolvido a condição plena de

cidadão.

41

2.5.4. Elevação do Nível de Afetividade e Expressã o Afetiva

Ao despertar e desenvolver a ternura, solidariedade e amizade, promovemos

a ampliação do vínculo afetivo familiar e dos cuidados mãe-filho, diminuímos a

incidência de violência doméstica. A poderosa energia amorosa gerada pela

Biodanza desenvolve a iniciativa e receptividade necessárias para criar vínculos

Incentivar a expressão da afetividade abrangendo o núcleo familiar, grupal e

comunitário.

2.5.5. Elevação do Nível de Expressividade e Criat ividade

Ao trabalhar a linha de criatividade, impulsonamos a expressão de desejos,

sentimentos, emoções e pensamentos, desenvolvendo maior autorização pessoal

para expressar-se no mundo com autoaprovação. Aumentamos a capacidade de

expressar-se verbal e corporalmente com sinceridade

2.5.6. Elevação no Nível de Vitalidade e Saúde

Aumento do ímpeto vital ou seja do potencial de equilíbrio, de harmonia biológica

e de energia para enfrentar o mundo. Reforçar a unidade orgânica e a homeostase

através dos exercícios de Biodanza que estão estruturados em relação ao seu efeito

integrador, elevando desta forma os níveis de saúde

42

CAPÍTULO 3: DANÇANDO OS CRITÉRIOS DA IDENTIDADE SAU DÁVEL

APLICAÇÃO DA BIODANZA NO PROJETO VIDA RIO

3.1. Início do Trabalho – Divulgação e Aula Aberta

Criei uma logomarca para o Projeto Vida Rio que apresento abaixo. Preparei

um folheto de divulgação que foi distribuido nas turmas de adultos que acontecem

na casa assim como cartaz de divulgação. Organizamos também uma aula aberta

no dia de sábado aproveitando as atividades que acontecem semanalmente na casa

e que reúne uma grande concentração de pessoas adultas e no lugar da atividade

regular, organizamos a aula aberta que contou com a participação de 36 pessoas.

Para esta aula aberta, convidei a Nilceia, companheira da escola para ajudar.

Folheto de Divulgação Cartaz de Divulgação

43

Aula Aberta

44

3.2. O Grupo Regular – Características

Todas as participantes do grupo são do sexo feminino, embora o grupo estivesse

aberto para ambos os sexos.

Ao longo do trabalho, tivemos uma variação no número de pessoas. A

quantidade de participantes que participou simultâneamente das aulas oscilou entre

16 como máximo e 11 como mínimo. Tivemos no total 20 inscrições. Como

ferramenta de controle da assiduidade, preparei uma planilha com os percentuais de

presença por aula e por participante.

Tivemos algumas desistências, algumas por motivo de trabalho pois o grupo

acontece em horário comercial, verspertino e algumas participantes conseguiram

trabalho durante o processo e não puderam dar seguimento ao projeto.

A faixa etária também era muito variada: a mais jovem iniciou o grupo com 20

anos e a mais velha com 79, sendo que haviam 3 delas com idade acima dos 70

anos. Por certa dificuldade de mobilidade de baixar e levantar, escolhi fazer a

primeira parte de aula verbal sempre em cadeiras, ao invés de colchonetes.

Também escolhi sempre fazer exercícios de pé e somente na parte final do

programa introduzi exercícios deitados ou sentados no colchonete.

A maior parte do grupo pertence a classe social baixa, assim como nível de

escolaridade também baixo, send que alguma começaram recentemente a

alfabetização. Algumas delas participam de outro projeto na ONG Agência do Bem

chamado “Ainda há Tempo de Aprender”, projeto destinado a alfabetização de

adultos.

3.3. O Programa

Iniciei o trabalho em Outubro de 2011. Embora eu já conhecesse o contexto

comunitário Beira Rio por desenvolver um outro trabalho voluntário semanal nesta

comunidade, acredito que processo institucional, social e comunitário exige uma

45

adaptação do facilitador e dos alunos. Resolvi seguir conselhos de facilitadores

experientes neste contexto, que defendem que, nem sempre a Biodanza aula aula

complete de Biodanza, pode colaborar de forma imediata em uma relação de

reciprocidade com a cultura do local atendido.

Sendo assim, dividi o trabalho em duas etapas. A primeira etapa teve a

duração de sete encontros, nos meses de outubro e novembro de 2011, a qual

chamei a atividade de “Encontros Temáticos”. Durante estes encontros procurei

através de Instrumentos mais conhecidos, gerar mais confiança entre os

participantes. Ao longo destes primeiros encontros, incorporei de forma paulatina a

Biodanza, através de exercícios básicos.

Utilizei algumas outras ferramentas pedagógicas além da Biodanza tais como:

Arte-Identidade, contação de estória, dinâmicas de grupos, círculos de diálogo e

passeios em grupo.

Desta forma, pude ir me adaptando ao grupo, podendo conhecer um pouco

mais sobre cada uma, suas personalidades, dificuldades e contexto familiar, sem ter

que faze-lo através de uma entrevista direta, o que poderia acarretar uma retração

frente a minha pessoa.

Outro importante objetivo desta fase do projeto foi induzir a possibilidade de

expressão verbal emocionada através das dinâmicas de grupo e círculos de diálogo,

objetivos estes que foram amplamente alcançados.

Nstes primeiros encontros, trabalhei com a minha companheira de Escola, Maria Carmen Dalalana.

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3.3.1. Encontros Temáticos

Encontro 1:

Tema: Eu no mundo

Objetivo: Apresentação e Integração

Ferramenta Pedagógica: Dinâmicas de Grupo

Exercícios da Biodanza utilizados: Rodas de Integração e Final

Dinâmica de Apresentação: Cadeira em Semi-Círculos, figuras de revistas

cortadas ao meio. Separamos as figuras em número suficiente para os participantes.

As meia figuras foram distribuídas e ao colocar uma música os participantes

deveriam ir dançando ao encontro da sua "outra metade". Após achar seus pares,

cada dupla deveria conversar sobre os seguintes aspectos: 1 - Nome 2 -

Qualidades que encontra em si mesmo 3 - Atividades que gosta de fazer no tempo

livre. Ao final do tempo, cada dupla ia à frente e apresentava os aspectos discutidos

sobre a sua companheira.

Teia da Vida: As participantes se sentaram em círculos. A primeira participante,

segurando a ponta do barbante, jogavam o rolo para alguém que desejava falar algo

sobre o que ouviu durante a vivência anterior. A pessoa agarra o rolo, segura o

barbante e joga para a próxima. Ao final formou-se uma grande "teia da vida" onde

explicamos que tudo está conectado.

Participantes Formando e Discutindo sobre a Teia da Vida

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Encontro 2:

Tema: Reconhecendo a mim Mesma

Objetivo: Trabalhar a Identidade e a autoimagem

Ferramenta Pedagógica: Arte-Identidade

Exercícios da Biodanza utilizados: Roda de Integração, caminhar fisiológico,

Deslocamento com leveza abrindo espaços, Roda Final

Após uma pequena ativação com roda e caminhar, fizemos um Relaxamento

com Visualização e Afirmações Positivas. Logo depois, distribuímos grande papel e

a proposta era fazer um Autoretrato em tamanho original. Elas trabalharam

inicialmente em dupla, que fez o traçado do seu corpo deitado em cima do papel.

Com o tracejado do corpo pronto, elas “decoraram” o seu autorretrato com os

materiais que disponibilizamos. Haviam materiais de várias cores e texturas, além de

revistas. A consigna era usar o material para descrever como sentiam cada parte do

seu corpo com ênfase na cabeça, peito, quadris e mãos. Após o término,

convidamos para que elas compartilhassem o que sentiram nas duas etapas do

trabalho.

Relaxamento Desenhando o corpo Costomizando

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Trabalhos Prontos

Encontro 3:

Tema: Expressando-me no Mundo!

Objetivo: Incentivar a Comunicação Verbal

Ferramenta Pedagógica: Circulo de Diálogo

Exercícios da Biodanza utilizados: Roda de Integração, Coordenação Rítimica, com trocas e quantidades de pessoas, Dança Rítmica Expressiva, Respiração dançante, Roda Final

Apresentei frases geradoras, para que fosse discutido / refletido em uma conversa em dupla. Depois de um tempo trocávamos a frase e formávamos trios, quando trocávamos o tema, mudávamos os grupos incluindo uma pessoas a mais em cada grupo. Foram 6 expressões no total, expressões estas que constam como objetivos específicos do projeto.

• Mudar a postura frente a vida, • Superar o medo e a timidez, • Fortalecer seus vínculos familiares, • Entrar em conexão com a coragem de viver, • Expressar sua afetividade e amizade, • Expressar-se no mundo

Encontro 4:

Tema: Boas Notícias!

Objetivo: Incentivar a Comunicação Verbal

Ferramenta Pedagógica: Circulo de Diálogo

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Exercícios da Biodanza utilizados: Roda de Integração, Caminhar Fisiológico,

Caminhar com motivação afetiva, Sincronização Rítmica, Fluidez, Segmentar de

Peito e Braços, Roda de Ativação, Roda Final

Após exercício de Segmentar de Peito e Braços, formamos uma roda com as

cadeiras e compartilhamos boas notícias. Diariamente, todos nós recebemos

notícias, boas ou más. Infelizmente os meios de comunicações sensacionalistas

priorizam más notícias. Neste dinâmica, o objetivo era de compartilhar boas notícias,

notícias que foram motivo de grande alegria e por isso as guardamos com perfeita

nitidez, e desta forma convidei a recordar e compartilhar algumas dessas boas

notícias.

Encontro 5:

Tema: O Meu Valor!

Objetivo: Fomentar a percepção e aceitação de si, qualidades e valores

Ferramenta Pedagógica: Contação de estória e Dinâmica de Grupo.

Exercícios da Biodanza utilizados: Roda de Integração, Marcha Fisiológica,

Coordenação Rítmica, com trocas de par e quantidades de pessoas, Trenzinho,

Fluidez, Segmentar de Pescoço, PG de receber

A estória contada tinha como mensagem a importância do reconhecimento de

seus valores e qualidades. Após a estória, promovi uma dinâmica chamada Sanfona

das Qualidades. Foram distribuídos papel e lápis, cada uma deveria dobrar os

papéis como uma sanfona. A participante escrevia seu nome na primeira dobra e

passava a sanfona pare a companheira ao lado, escrevia uma qualidade sobre o

dono da sanfona e assim por diante. Ao final cada uma lia as qualidades escritas em

sua sanfonas, logo após fiz um exercício de gesto expressivo, de “dar e receber a

sanfona das qualidades” .

Encontro 6:

Tema: Me Comunicando Afetivamente!

Objetivo: Incentivar e facilitar a comunicação afetiva.

Ferramenta Pedagógica: Contação de estória e Dinâmica de Grupo.

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Exercícios da Biodanza utilizados: Roda de Integração, Marcha fisiológica, Dança

Ritmica tropical a dois (com trocas), Dança Expressiva, Extensão Máxima,

Eutonia, Encontros Fulgazes, Roda de Ativação Final.

Formamos um círculo com as cadeiras. Entreguei um ursinho de pelúcia que

deveria ser passado na roda entre todas as participantes. De posse do ursinho, cada

participante deveria demonstrar seu sentimento em relação aos ursinho seja com

palavras, carinho, afago, etc. No final debatemos sobre as reações dos integrantes

com relação a sentimentos de carinho, medo assim como a inibição que tiveram.

Expressando palavras de Carinho para o Ursinho de Pelúcia

Encontro 7:

Tema: Sou Manchete!

Objetivo: Despertar a autoavalição e autoconhecimento

Ferramenta Pedagógica: Circulo de Diálogo e Dinâmica de Grupo

Exercícios da Biodanza utilizados: Roda de Integração, Caminhar Rítmico, Dança

de Feedback dois, Fluidez, Acariciamento sensível das próprias mãos, Roda das

Transformações, Roda de Ativação, Roda Final

Trabalhamos em cadeiras em círculo. Preparei um caixinha bem decorada e

atraente. Dentro da caixa fixei um espelho. Ao iniciar, eu informei que dentro da

caixa havia uma foto de uma pessoa muito importante mas que não poderiam

informar aos outros quem era esta pessoa. Cada uma deveria abrir a caixa e falar

sobre a pessoa da foto. Ao final, pedi que falassem sobre como se sentiram falando

desta pessoa importante que estava na foto.

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Naquela semana, havia sido publicada no Jornal da ONG uma matéria

principal sobre os nossa trabalho. Este jornal é distribuído para as empresas

patrocinadoras, e os chamados “agentes do bem”, pessoas que mantém a instituição

através de doações. Esta aula era a última antes do recesso e estávamos

comemorado o encerramento dos Encontros Temáticos. Sendo assim, eu preparei

um jornal para cada uma, enroladinho com uma fita e fiz a entrega dos “certificado”

afirmando que Somos Manchete! A cerimônia era um símbolo de reconhecimento do

maravilhoso movimento desempenhado. Cada uma que recebia, ia ao centro de

roda, pegava outro certificado na cesta e entregava este "presente" a outra pessoa.

Notas: as atividades eram propostas na parte baixa da curva e depois

voltávamos a ativar com rodas após as dinâmicas.

Falando sobre si mesma Autoacariciamento das mãos Troca de Certificados

Grupo no Encerramento dos Encontros

52

53

3.3.2. Programa das Oficinas de Biodanza

Iniciei o programa abordando os temas básico da Biodanza que chamarei de

Primeiro Ciclo e, depois de três meses, iniciei a abordagem dos Critérios da

Identidade Saudável segundo Rolando Toro que se prolongou até o final do ano, que

chamarei de segundo ciclo. Neste segundo ciclo, eu trabalhei em cada aula, um dos

critérios da Identidade Saudável.

Abaixo, farei um pequeno resumo do Primeiro Ciclo (da aula #1 até a aula #

13) e em seguida abordarei com detalhes o programa do Segundo Ciclo, no qual

trabalhei os critérios da Identidade Saudável (da aula # 14 até a aula # 33).

3.3.2.1. Programa Primeiro Ciclo – Temas Básico da Biodanza

Aula Tema Título Poético Abordagem Teórica

Exercício (s) Chave

1 Vivência A Dança da Vida Vivência em Biodanza

Dança com Rítmos Tropicais, Trenzinho

2 Prioridade da

Vivência sobre o Pensamento

Sinto logo Existo Prioridade da

Vivência sobre o Pensamento

Segmentar de Peito e Braço

3 Dissolução das

couraças Convite a Viver

com Leveza Dissolução das

couraças

Segmentares e Integração Motora

dos 3 Centros

4 Dissolução das couraças

Convite a Viver com Leveza

Dissolução das couraças

Segmentares e Integração Motora

dos 3 Centros

5 Princípio

Biocêntrico Vida que Gera

Mais Vida Princípio Biocêntrico P.G. de Intimidade e

P.G. de Cuidar da Vida.

6 Potênciais Genéticos

Descobrindo nossa Essência Potênciais Genéticos

Cerimônia do Abraço

7 Integração Motivação para

Viver Integração Motora

Dança com Ritmos Tropicais com

Trocas – Música “Vai ou Não Vai”

8 Integração Afetivo-Motora

Coerência na Vida Coerência no Sentir , Pensar e Agir

Dança Rítmica Expressiva

9 Empatia Comunhão com o

Outro Comunicação Afetiva

em Feedback Dança de Eutonia

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10 Vínculos

Saudáveis

A Comunicação Afetiva gerando

Vínculos Saudáveis

Vínculos Saudáveis e Relações Nutritivas

Acariciamento de Mãos Sensíveis em

Grupos de 3

11 Integração afetiva Restabelecendo a Unidade Perdida Integração afetiva

Dar e Receber a Flor

12 Identidade se

Revela no Outro Celebrando a

presença do outro O Grupo de Biodanza

Canto do Nome do Companheiro

13 Autoestima Sou Visto, logo

existo A Importância do

Olhar em Biodanza Roda concêntrica de

olhares

3.3.2.2. Programa do Segundo Ciclo - Critérios da I dentidade Saudável

Por que não dançar os critérios da Identidade Saudável. Foi com base neles

que formulei o programa do Segundo ciclo.

Associei uma linha de vivência a cada um dos critérios. O intuito era de

organizar uma ordem lógica para a confecção do programa. Após relação feita,

ordenei os critérios obedecendo a ordem da linha de vivência correspondente.

Apresento abaixo um detalhamento do critério assim como a relação com o

programa específico deste segundo ciclo.

Sessão 14 - Critério: Alto Nível de Vitalidade

Linha: Vitalidade

Título Poético: “A Comovedora e Intensa Sensação de Estar Vivo”

Teoria Abordada: Vitalidade em Biodanza

Exercício Chave: Roda com Mudança de Lugar Passando Pelo Centro da Roda

Percentual de Presença: 64%

A experiência primordial da Identidade é a comovedora e intensa sensação de

estar vivo. Os índices de vitalidade podem revelar os níveis de ordem (Saúde) e os

de desequilíbrio (Doença). Para a avaliação da saúde em Biodanza, usamos alguns

“Índices de Vitalidade” significativos como: a capacidade de esforço, vitalidade do

movimento, estabilidade neurovegetativa, potência dos instintos e estado nutricional.

Sentimentos de alegria interior, entusiasmo, plenitude existencial, são características

de uma pessoa vital.

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Esta aula alcançou cem por cento o objetivo proposto. As alunas já entraram

no clima da aula deste a roda inicial na qual utilizei a música Bate Coração (Elba

Ramalho). O exercício chave foi executado por todas as participantes que dançaram

de forma expressiva e criativa no centro da roda. Observei ao final da aula uma

resultado positivo de fundo endotímico através da elevação do ânimo e do humor e

um sentimento de euforia vital. O final da aula posso afirma que todas vivenciaram a

“Comovedora Sensação de estar Vivo”.

Sessão 15 - Critério: Motricidade com Equilíbrio, E nergia e Sinergismo.

Linha: Vitalidade

Título Poético: “Equilíbrio, energia e sinergismo. Um caminho para a Integração

Vivente”

Teoria Abordada: Vitalidade em Biodanza e Categorias de Movimento

Exercício Chave: Salto Sinergico

Percentual de Presença: 86%

A Biodanza trabalha com o centro afetivo-motor que integra a motricidade.

Não há mudança do estilo de vida nem evolução sem mudança do esquema

corporal. Segundo Moshe Feldelkrais, em seu livro a Consciência pelo Movimento,

todo comportamento é um complexo de músculos mobilizados, sensações,

sentimentos e pensamentos. A córtex motora do cérebro, onde os padrões

ativadores dos músculos estão estabelecidos, está somente a poucos milímetros

acima da camada do cérebro que se relaciona com processos associativos. Todos

os sentimentos e sensações que uma pessoa experimenta, estiveram anteriormente

ligados a processos associativos. A cada momento particular, o sistema inteiro

consegue uma integração geral, que o corpo expressará nesse momento. Posição,

sensação, sentimento, pensamento, bem como processos químicos e hormonais,

combinam-se para formar um todo que não pode ser separado em suas várias

partes. Este todo pode ser altamente complexo e intricado, mas é um sistema

integrado naquele dado momento.

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Devido à grande proximidade entre a córtex motora do cérebro e as estruturas

que se relacionam com o pensamento e sentimento, e à tendência dos processos

dos tecidos do cérebro para se difundirem e espalharem aos tecidos vizinhos, uma

mudança drástica na córtex motora terá efeitos paralelos no pensamento e

sentimento.

Uma mudança fundamental na base motora dentro de cada padrão simples

de integração, quebrará a coesão do todo e, deste modo, o pensamento e o

sentimento perdem sua sustentação nas rotinas estabelecidas. Nestas condições, é

muito mais fácil efetuar mudanças no pensamento e nos sentimentos, por que o

componente muscular, através do qual o pensamento e o sentimento alcançam

nossa consciência mudou e não mais exprime os padrões familiares preexistentes.

O hábito perdeu seu maior suporte – o dos músculos – e se tornou mais acessível à

mudança.

Dentro das Categorias de Movimento, o Equilíbrio, é a capacidade de

permanecer, dinâmica ou estaticamente, em postura natural, sem desvios ou

oscilações. Sinergismo, representa a ação conjunta e coordenada de diferentes

estruturas e sistemas que participam na realização de uma única ação. Em Bidanza,

observamos o sinergismo no caminhar, na corrida e nos saltos onde o movimento

voluntário e involuntário dos braços sincronizando-se com uma lateralidade cruzada

em relação às pernas mantém o equilíbrio e aumenta o impulso de avançar.

Potência é a força do movimento muscular, dirigida pela energia disponível. A

potência do movimento pode desenvolver-se com o treinamento, mas o componente

genético é invariável. A potência e energia indicarão o Ímpeto Vital, que é a

disposição à ação, o impulso a realizar os propósitos. Ímpeto Vital é o sentido

existencial, o impulso para viver e a coragem para enfrentar a vida. Seu contrário é a

falta de motivações para viver.

O desenvolvimento destas três categorias de movimento são de extrema

importância para caracterizar a Identidade Saudável.

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O exercício chave desta aula foi o salto sinérgico. Elas tiveram grande

dificuldade de executar o exercício que foi feito em roda e cada uma ia

individualmente ao centro dando uma ou duas voltas no interior da roda. Pude

observar uma debilidade no que diz respeito a potência e ao sinergismo. Por outro

lado, observei que elas enfrentaram a dificuldade e cada uma quis voltar ao interior

da roda para repetir o movimento e tentar fazer melhor. No relato de vivência

seguinte comentaram sobre a execução do exercício.

Sessão 16 - Critério: Capacidade de Fuga Frente a u ma Força Superior

Linha: Vitalidade

Título Poético: “O Valor da Escuta para Proteção a Vida”

Teoria Abordada: Instinto de sobrevivência

Exercício Chave: Dança do anjo Guardião. P.G. de Proteção a Vida

Percentual de Presença: 43%

Esta capacidade está relacionada ao instinto de sobrevivência. É saber

instintivamente proteger a vida. Culturalmente, a fuga é um signo de fraqueza, de

covardia e por este motivo as pessoas se permanecem submetidas a situações em

que a integridade física e até mesmo a própria vida ficam ameaçadas. Saber escutar

a este instinto e saber discernir até onde podemos lutar e chegando ao limite, antes

que se torne uma ameaça a vida,

Uma das principais propostas da Biodanza é a de resgatar os instintos cuja

função é a conservação da vida. Dentro da concepção teórica de Biodanza, o

instinto, na realidade, é uma rede orgânica de impulsos hereditários destinados à

autoconservação. Não se trata só do instinto sexual o responsável por esta

autoconservação, mas de todos os instintos, cuja função é a conservação da vida.

O instinto básico se relaciona com o impulso de sobrevivência e, em íntima

relação com este, se organizam os outros instintos. O instinto de sobrevivência e

conservação da vida se relaciona dinamicamente com a força da identidade. É

nesse ponto onde esta concepção dos instintos se vincula com os aspéctos teóricos

de Biodanza.

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Nesta aula propus exercícios com bastante ritmo, caminhar rítmico , músicas

bem rítmicas, uma ciranda de roda de integração, dança rítmica de batucada, a fim

de exercitarem a escuta.

Sessão 17 - Critério: Resposta em “Feedback” com Re alidade

Linha: Vitalidade

Título Poético: “Resposta em Coêrencia com a Realidade”

Teoria Abordada: A Conexão com o Instinto como Melhor Resposta

Exercício Chave: Jogo de Contato com a Música “Me Gusta tu Rosa Roja” e Dança

de Eutonia

Percentual de Presença: 64%

Resposta em “feedback” com realidade ou seja “em coerência” com a

realidade é um dos critérios da identidade saudável. Este “resposta”, ou seja, nossa

ação no mundo deve estar em coerência com o estímulo recebido. Para a Biodanza,

a resposta mais coerente seria aquela conectada com os instintos e com as

emoções sendo que: os instintos constituem verdadeiros “mandatos biocósmicos”

que estruturam, através da vida, as motivações existenciais; e as emoções e os

sentimentos são o resultado de uma elaboração neurológica cada vez mais

complexa destes impulsos instintivos.

Em ordem de complexidade, o desenvolvimento instintivo tem evolução para

a consciência e na escala deste desenvolvimento, os instintos ocupam a base da

escala pois são os impulsos inatos. Estes instintos ao serem colocados em contato

com os estímulos exteriores, geram as protovivências do recém nascido e as

vivência quando adultos. As vivências são estados cenestésicos intensos que têm a

característica aqui-agora, mas que influenciam nos processos de autorregulação. As

emoções são impulsos de origem instintiva que promovem ações de: (1)

aproximação frente às circunstâncias agradáveis e de (2) rejeição e fuga diante de

situações desagradáveis (realidade). Por último na escala, os sentimentos estão

constituídos por conjuntos complexos de emoções que têm duração no tempo,

possuem componentes simbólicos e elementos de consciência.

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Sentimentos

Emoções

Vivências / Protovivências

Instintos

Sessão 18 - Critério: Autodeterminação do Limite de Contato

Linha: Sexualidade

Título Poético: “Capacidade de Saber dar Limite: Uma Via para Integridade”

Teoria Abordada: Capacidade de saber dar limite

Exercício Chave: Dança de Oposição Harmônica e Dança de Contato Mínimo

Percentual de Presença: 62%

Para que uma relação seja autêntica deve ser recíproca e em feed-back. Isto

vale para qualquer relação, inclusive dentro das sessões de Biodanza, onde cada

participante deve estabelecer através de gestos e sinais, o nível de aproximação que

pode aceitar. Deste modo, ninguém deve invadir o companheiro durante um

exercício.

Quando alguém se sente invadido, deve pôr limites ao participante invasor

através de gestos mais ostensivos. O contato com reciprocidade se denomina

“aproximação em feed-back”. Evidentemente, há pessoas impulsivas que não

aprenderam a respeitar os limites dos demais e há aqueles não aprenderam a dar

impor o seu limite. Não há vitima sem algoz e não há algoz sem vítima e a Biodanza

representa uma importante aprendizagem para ambos.

Esta capacidade se faz necessária como uma forma de preservação da vida e

da identidade. A capacidade de dar limites está relacionada com a coragem e por

sua vez, ter coragem é ser coerente com seus princípios. Sempre é preciso saber

quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o

tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos

viver.

60

Propus dois exercícios chaves, relacionados ao limite. Um o de oposição

harmónica que se trata de um limite de afastamento e a dança de contato mínimo

com o qual exercitamos o limite de aproximação.

Sessão 19 - Critério: Capacidade de Intimidade

Linha: Sexualidade

Título Poético: “O Contato e Carícia como Fonte de Saúde”

Teoria Abordada: Contato e Carícia em Biodanza

Exercício Chave: Autoacariciamento e Roda de embalo com aproximação e contato

Percentual de Presença: 67%

O Tabu relacionado ao contato e ao prazer ainda priva muitas pessoas da

conexão com o seu próprio corpo e este não é amado. Acredito que nas

comunidades de risco este quadro é ainda mais acirrado. Muitas vezes a relação

sexual é extritamente genital, sem oportunidade para uma exploração do prazer,

devido a falta de privacidade existente em suas minúsculas casas.

Todo corpo que não é acariciado começa a morrer. Vivemos nossa

corporeidade quando acariciamos e somos cariciados. O contato e carícia são fontes

de saúde e trazem uma série de efeitos positivos sobre os órgãos, fundo endotímico,

sobre o instinto além de ser representar uma ação terapêutica muito importante com

efeitos positivos sobre as emoções e sentimentos, sobre a percepção e consciência

mudando de forma significativa a existência propiciando sentimentos de liberdade e

felicidade.

Elas executaram bem o exercício do autoacariciamento e percebi bastante

entrega. Já no que diz respeito à Roda de Embalo com Contato e Carícias observei

um desconforto através de risadinhas e brincadeiras durante a execução do

exercício. Outro exercício que tiveram esta mesma reação de desconforto foi

durante o Caminhar Sensual.

61

Sessão 20 - Critério: Capacidade Criativa

Linha: Criatividade

Título Poético: “Criatividade: A Constante Renovação da Identidade”

Teoria Abordada: Criatividade em Biodanza

Exercício Chave: Dança do Espelho em Roda

Percentual de Presença: 92%

“A criatividade é um potencial inerente ao ser humano, mas que necessita ser cultivado e desenvolvido, através do uso da imaginação, do conhecimento, da motivação para criar e do uso de técnicas para fazer desabrochar o ato criativo, de forma que o indivíduo realize suas potencialidades como ser humano e traga uma efetiva contribuição para si mesmo como pessoa, para seu ambiente mais próximo ou para a sociedade na qual se encontra inserido” (Virgolim, 1991).

A criatividade é a capacidade do indivíduo de criar-se a si mesmo. É a

capacidade de dar existência a algo, de gerar, inventar ou somente imaginar.

Criatividade é a constante renovação da existência.

A Biodanza, ajuda este desabrochar do ato criativo, de forma que o indivíduo

realize suas potencialidades como ser humano e traga uma efetiva contribuição para

si mesmo como pessoa, ajudando ao fortalecimento da identidade.

O grupo teve um bom rendimento, participou de forma criativa, comentaram

sobre a realização do exercício de Fluidez com Imagens, na qual pedi na consigna

que fizessem brincadeiras com bonecas. Também se emocionaram com o

execercício de gesto expressiva de dar e receber a Boneca. Nesta aula tivemos a

visita de uma amiga chienesa, que contou a elas sobre a cultura chinesa na qual as

pessoas são praticamente proibidas de demonstar as emoções. No final da aula

tiramos fotos com ela e ouvimos uma canção classica chinesa que ela nos ofereceu.

62

Sessão 21 - Critério: Vivência de Consistência

Linha: Criatividade

Título Poético: “Firmeza, Solidez e Coerência”

Teoria Abordada: Firmeza, Solidez, Coerência nas Ações

Exercício Chave: Dança no Centro da Roda com a Música “A Mi Manera”

Percentual de Presença: 58%

Consistência é um estado de resistência de um corpo. Uma característica de

firmeza e de solidez. Trabalhar a firmeza, solidez e coerência foi a minha proposta

da aula.

O fato de sermos bombardeados com frequência com promessas de sucesso

instantâneo, satisfação imediata, alívio rápido e temporário, leva muitas pessoas a

se desviarem do seu objetivo principal. A mentalidade imediatista que assombra a

nossa sociedade impede o desenvolvimento das competências do ser humano além

de ameaçar sua saúde, educação, carreira, finanças e até mesmo o seu

relacionamento pessoal e profissional. Todos nós aspiramos ao sucesso em

diferentes áreas da vida, entretanto, devemos ter a capacidade de enfrentar um

caminho que muitas vezes se apresenta longo onde as recompensas nem sempre

são fáceis e rápidas. Dessa forma, procuramos trilhas diferentes, menos íngremes, e

cada uma delas atrai certo tipo de personalidade, de acordo com a nossa zona de

conforto.

Mudar o tempo todo por conta de qualquer dificuldade nos prejudica e para

obter e manter sucesso, precisamos de consistência nas nossas ações a vida

inteira, além de caráter, força de vontade, atitude, imaginação e inteligência

emocional.

Nesta aula, trouxe uma gelatina e servi antes de iniciar a apresentação

teórica. Com base nas características da gelatina, consistente e ao mesmo tempo

maleável e flexível pude ilustrar algumas características que devemos incorporar em

nossa vida.

63

Sessão 22 a 25 - Critério: Capacidade para por Limi te à Agressão Externa

Títulos Poéticos:

(22) Conexão com a Própria Força (Afetividade e Transcendência)

Percentual de Presença: 50%

(23) A Vitalidade coma Forma de Proteção a Vida (Afetividade e Vitalidade)

Percentual de Presença: 50%

(24) Inspiração na Natureza - Passeio ao Jardim Botânico – Principio Biocêntrico

Percentual de Presença: 50%

(25) Coragem Como Ferramenta de Proteção a Vida (Transcendência)

Percentual de Presença: 58%

Exercícios Chaves:

(22) Conexão com a Própria Força

(23) Dança Yang

(25) Dança de Oposição Harmonica

Por se tratar de um critério de grande relevância em grupos sociais em

situação de risco, decidi fazer 4 aulas, e procurei evolve-as ao máximo na vivência e

na reflexão durante a explanação teórica.

Na sessão 22, durante a parte verbal da aula, propus uma dinâmica de grupo:

levei um sapinho de pano e todas de pé, deviam ir passando o sapinho entre elas,

dançavam com o sapinho um pouquinho e passavam a diante. Eu parava a música

sem olhar com quem estava o sapinho. Esta pessoa que estava com o sapinho no

momento da pausa da música colocava um chapéu engraçado e explanava sobre o

tema da agressão externa. Desta forma obtive a participação de muitas pessoas que

normalmente não se arriscam a falar durante o relato de vivência.

Na sessão 23, falei da vitalidade, da saúde, da autorregulação. A primeira

coisa que devemos cuidar em nós é da nossa saúde. E para termos saúde é preciso

autorregulação. E para termos este equilíbrio que a autorregulação nos traz é

preciso gostar de nós mesmos. Regularmos o nosso rítmo. Saber o equilíbrio entre

ação e repouso. E sabermos nos dar limite e dar limite aos que nos rodeiam. E

64

quem sabe dar limite não precisa ser agressivo. Ninguém nos invade sem a nossa

permissão. Se não tomamos conta de nós mesmos, se deixamos a nossa “casa”

abandonada temos a chance de sermos “assaltados”. Por isto, devemos cuidar de

nós mesmos em primeiro lugar. Isto não é egoísmo, é sabedoria. Mas como ter

energia para esta ação e reação? Integrando a nossa vitalidade!

Na sessão 24, fizemos um passeio ao Jardim Botânico onde pudemos

vivenciar o Princípio Biocêntrico na natureza e o contato com a terra. Apresentei

alguns casos da natureza onde as plantas usam a sua Inteligência para a garantia

de vida e perpetuação da espécie. Todos os seres vivos são inteligentes, cada uma

à sua forma. Nós evoluímos com o poder da locomoção e da comunicação enquanto

as plantas demoraram milênios para adotar outras estratégias. Artemísia: Quando se

sente atacada por insetos ele emite uma substância química para alertas suas

vizinhas. É na solidariedade que termina o isolamento. Orquídea: Ela produz uma

estrutura perfumada e que pode ser confundida com uma mosca. Esse processo

atrai o inseto para a polinização da flor. É a criatividade que propõe novas formas de

ação, para superar as dificuldades. Maracujazeiro: Para não ser depósito de ninho

de borboletas, ele ativa uma estrutura que imita ovos. O inseto , então percebe que

outra espécie já está ali e procura outro local. Proteção da vida. Não colocá-la em

risco. Tabaco: tenta selecionar melhor qual o material reprodutivo que quer receber

dos pássaros e formigas que passeiam por suas folhas. Ele desenvolveu um sistema

que facilita essa seleção. Quais as escolhas que faço em favor da vida?

Ao final do passeio fizemos uma cerimônia onde entreguei sementes que

representavam não só a vida mas como os sonhos. A proposta foi que elas

plantassem e cuidassem daquela planta, ou seja cuidar da vida assim como de seus

sonhos.

Na Sessão 25, trabalhamos a coragem associado ao o ímpeto vital. Coragem

para enfrentar as situações de adversidade.

65

Sessão 26 - Critério: Ausência de Autoritarismo

Linha: Afetividade

Título Poético: Empatia e o Diálogo Afetivo para a Identidade Integrada

Teoria Abordada: Significado e Importância da Empatia

Exercício Chave: Dança de Eutonia a Dois

Percentual de Presença: 82%

Nas relações que estabelecemos com as nossas pessoas mais próximas é

necessário desenvolvermos a empatia e a afetividade para não precisarmos usar da

agressividade com autoritarismo para sermos compreendidos, respeitados, vistos e

ouvidos pelo nosso meio. Através do amor, carinho e consideração somos capazes

de obter cooperação e sermos correspondidos em nossas demandas. Nesta aula

trabalhamos a nossa capacidade de poder perceber o outro e mostrar a ele nossos

desejos e necessidades respeitando o seu próprio desejo e necessidade e

estabelecendo assim uma relação de harmonia, de paz, de consideração e respeito

no espaço da nossa convivência.

Sessão 27 - Critério: Ausência de agressão gratuita

Linha: Afetividade

Título Poético: Integrando a Afetividade

Teoria Abordada: Afetividade

Exercício Chave: Proteção Afetiva com Carícias de Peito e Braços

Percentual de Presença: 82%

A Afetividade é a capacidade humana de sentir e expressar as emoções e

sentimentos e interesses conseqüentes em relação a vida.

A Afetividade está vinculada à protovivência da amamentação, nutrição,

proteção e cuidado. Esta relacionada à necessidade de receber continente e calor

amoroso.

66

A gênese biológica da linha da afetividade se relaciona com o instinto de

solidariedade entre seres da mesma espécie, ao instinto gregário, às tendências

altruístas e à necessidade de vínculo.

Uma das principais características da afetividade é a capacidade de

qualificação do outro seja através de palavras, gestos, olhar. Quano olhamos para o

outro estamos reconhecendo e qualificando.

O encontro afetivo tem efeitos quânticos de cura, ao mobilizar os centros

límbicos-hipotalâmicos que regulam os órgãos. O abraço, em Biodanza, é um ato de

encontro de si mesmo e do outro. O encontro afetivo estimula a produção de

neuropeptídeos e aumenta a eficácia do sistema imunológico.

Foi a aula mais emocionante até o momento. Antes da ativação propus uma

chuva de carícias a uma das companheiras que fazia aniversário. Todas as

participantes se emocionaram muito e por fim se permitiram um chorar emocionado.

Os encontros finais foram muito comovedores e as pessoas se olhavam, choravam e

se emocionaram. Eu mencionei “que elas se permitiram” pois elas mesmas

confessaram no relato de vivência a dificuldade de se permitir chorar devidos aos

mandatos culturais dos quais elas compartilham. Elas tiveram muita dificuldade de

chegar na aula seguinte, a maioria delas chegaram atrasadas mas esperei todas

para falar antes de inciar a aula. Elas compatilharam esta dificuldade, se

“desculparam” por terem se emocionado.

Sessão 28 - Critério: Ausência de espírito competit ivo

Linha: Afetividade / Transcendência

Título Poético: Fortalecendo a Identidade através da Cooperação

Teoria Abordada: Importância da Cooperação

Exercício Chave: P.G. Trabalho Primordial / Dança Criativa da P.G. de Trabalho

Percentual de Presença: 64%

A cooperação é de extrema importância para a manutenção das espécies.

Observamos diversas relações de cooperação nos animais: os pássaros quando

67

estão voando mudam constantemente de posição para vencer a resistência do ar,

voando em "v". Os leões, assimo como vários outros animais, se únem para caçar

uma presa maior, obtendo maior êxito. Uma presa fica mais segura andando em

bando do que sozinha. Os cardumes que vencem a pressão da água nadando em

bandos e alternando constantemente os indivíduos da linha de frente.

Nós humanos, estamos vivos até a presente data, devido à cooperação, e a

ouganização da sociedade e da vida em comunidade é uma das provas.

No indivíduo, a cooperação gera um estado físico de saúde estimulando um

funcionamento glandular harmonioso pois gera sentimentos e emoções altamente

construtivas tais como o amor, a compaixão, a alegria e a equanimidade; as gera ou

resulta delas. A cooperação estimula a dissolução da dualidade que se opõe o "eu"

e o "outro".

A amizade é uma das formas mais afetivas de cooperação e um dos

sentimentos mais profundos e nobres do ser humano. Na amizade se combinam a

afetividade, o sentimento estético, a lealdade e a sintonia da consciência.

Sessão 29 e 30 - Critério: Percepção do semelhante como único, diferente e

com valor intrínseco

Linha: Afetividade

Teoria Abordada: A Importância da Qualificação do Outro

Títulos Poéticos: (29) Coisa Mais Linda

Percentual de Presença: 71%

(30) Eu te percebo, eu te aceito em harmonia

Percentual de Presença: 57%

Exercício Chave: (29) Percepção Estética do Outro

(30) Dar e Receber Continente em Pares

Nesta aula tratamos da importancia da qualificação do outro. Esta qualificação

está em pequenas atitudes como a de olhar para uma pessoa enquanto ela fala,

colocarmos total atenção quendo alguém deseja compartilhar algo conosco, celebrar

a chegada de alguém. Infelizmente, nossa cultura se preocupa muito em criticar,

julgar e muitas vezes nos tornamos pessoas muito duras ao mirar a vida. Estamos

68

juntos mas cada um na sua sem poder perceber a presença dos nossos

companheiros, amigos e familiars. Acredito que a mudança deste tipo de atitude é

uma das mais significativas para os praticantes da Biodanza os seja uma das mas

imediatas mudanças de atitude é o aumento da capacidade de qualificação do outro.

As duas aulas sobre o tema forma muito lindas, muitas participantes se

emocionaram. Na aula 29, elas se envolveram muito na qualificação estética do

outro, e precebi que o discurso era verdadeiramente emocionado, sincero e

qualificador. Na aula 30, tiveram um puco de dificuldade no exercício de “dar e

receber continente em pares”. Recentemente havia começado a dar exercícios

sentodas ou deitados e elas tiveram bastante dificuldade de entregar-se ao colo. Ao

terminar a música elas logo levantavam com pressa. Aproveitei para pedir que

repetissem esta ato de acordar e ser acordado mas de forma bem lenta e suave, fiz

este pedido de forma muito amorosa demostrando a importancia deste ato e assim

elas fizeram.

Sessão 31 e 32 - Critério: Percepção de si mesmo co mo criatura com valor

intrínseco

Linha: Transcendência

Teoria Abordada: (31) A importância de valorizar-se e qualificar-se

(32) Valor da Entrega e do Prazer

Títulos Poéticos: (31) Eu me percebo, eu me aceito

Percentual de Presença: 71%

(32) Desabrochar para a vida

Percentual de Presença: 79%

Exercício Chave: (31) Canto do Nome do Companheiro

(32) Dança da semente

Ter a coragem de desenvolver as potencialidades da semente interior, todos os momentos de nossa vida tem um valor intinseco que é preciso descobrir. Algo cresce dentro de mim. Nossa sabedoria consiste em permitir que a energia ascendente se manifeste. (Toro)

Estas aulas foram muito bem aceitas com exelentes resultados. Trabalhamos

as experiência de instrospecção através da dança yin, da entrega. Trabalhamos a

69

possibilidade de sentir prazer consimo mesma, através de danças sensuais,

autoacarciamento. Trabalhamos a determinação, e a sensação de crescimento com

a dança da semente.

Sessão 33 - Critério: Consciência ética

Linha: Transcendência

Título Poético: Viver em ética consigo mesma

Teoria Abordada: Ética em Biodanza

Exercício Chave: Ninho Grupal

Percentual de Presença: 46%

Etimologicamente, “ética deriva do grego e significa caráter, hábito, modo de

vida; diz respeito aos costumes, suas regras e à atitude do indivíduo frente a ela.

Para Rolando Toro, o nível mais alto da evolução humana seria a consciência ética. A capaciade de compreensão de que estar com o outro é estar consigo mesmo, como diz o seu poema:

Todos Somos Um

A força que nos conduz é a mesma que acende o sol

que anima os mares e faz florescer as cerejeiras.

A força que nos move é a mesma que estremece as sementes com sua mensagem imemorial de vida.

A dança gera o destino sob as mesmas leis que vinculam

a flor à brisa. Sob o girassol de harmonia

todos somos um. Rolando Toro

A empatia, a capacidade de colocar-se no lugar do outro, é a condição essencial da consciência ética. Empatia é a capacidade de colocar-se na pele do outro. A consciência ética tem componentes afetivos como ternura, compaixão, empatia, sentido de justiça, misericórdia. A consciência ética surge do sentimento de “amor infinito”

O sentido da existência que é a evolução, depende da harmonia com os parâmetro de vida que existem no universo. Quando isto não ocorre, somos

70

impedidos de nos expandir, impedindo a felicidade, autonomia e liberdade e isto significa que estar fora de ética.

O ideal seria poder contribuir com a sociedade sem se prejudicar, sem se desproteger, sem se incapacitar. Quando alguém está fora de ética? É quando alguém está operando em qualquer papel de sua vida (social, profissional, familiar) sem liberdade, sem amor, sem autonomia ou sem saúde.

Haviam poucas participantes neste dia, pois era dia de doação de legumes na

igreja batista. Durante a aula, trabalhei a liberdade: ter ética e ter a liberdade de

escolher o seu proproprio destino. Trabalhei a conquista com uma dança de

Abertura de Espaço Vital e a entrega, através de uma dança de transe seguida de

um ninho grupal. Foi a primeira vez que elas fizeram um exercício que demandasse

tanta entrega. O resultado foi muito bom!

71

3.4. Avaliação

3.4.1. Metodologia de Avaliação

Em meu projeto original para Agência do Bem (notar que o projeto não foi

aqui descrito na sua intregalidade, e algus itens como metodologia e avaliação foram

suprimidos nesta monografia), propus uma metodologia de avaliação através de

questionários que seria aplicado tanto no início do trabalho quanto no final.

Comecei buscando questinários já existentes para a avaliação do tema em

questão, Identidade, mas somente pude encontrar alguns referente a Autoestima,

como a “Escala de Autoestima de Rosenberg” e o “Teste Inventario de Autoestima

Coopersmith”. Ao avaliar estes testes, conclui que nenhum destes inventários eram

apropriados para aplicar aos propósitos de meus estudos.

Consutei então várias pessoas, profissionais da area da psicologia e/ou

Biodanza, que me desencorajaram pois segundo os paradigmas, os níveis de

autoestima e identidade não poderiam ser medidos. Além disto, como estamos

lidando critérios com altamente subjetivos os resultados de qualquer questinários

poderiam não refletir com fidelidade as condições das pessoas avaliadas.

Embora eu tivesse extrema confiança naqueles que me orientavam desta

forma, eu resolvi arriscar a formular uma metodologia de avaliação através de um

questinário. Formulei então diversas perguntas relacionadas aos tradicionais

conceitos de Autoestima e Autoimagem. Submeti as perguntas à minha orientadora

e juntas associamos cada perguntas á uma “area” (ver modelo a seguir).

Escolhemos duas perguntas referentes a cada “area” e propositalmente uma

pergunta tinha semântica positiva e a outra tinha uma semântica negativa.

72

Exemplo: Área: Qualidade

“Penso que tenho mais qualidades do que defeitos”

Semântica Positiva, a resposta deve ser POSITIVA

“Creio que a maioria das pessoas são melhores do que eu”

Semântica Negativa, a resposta deve ser NEGATIVA

Apresento abaixo o quadro de perguntas, áreas de referência da cada uma

delas e a pauta para avaliação (P para Positivo e N para Negativo):

Questão SIM NÂO ÁREA

1 Penso que tenho mais qualidades do que defeitos. P N Qualidade

2 Creio que a maioria das pessoas são melhores do que eu. N P Qualidade

3 Estou descontente comigo mesmo(a). N P Satisfação

4 Sinto-me confiante. P N Confiança

5 Sinto Rejeitada N P Pertinência

6 Considero-me tão inteligente como os meus companheiros. P N Inteligencia

7 Não sou capaz de resolver os meus problemas. N P Capacidade

8 Considero-me atraente. P N Atraente

9 Sinto que sou uma pessoa de valor como as outras pessoas P N Valor

10 Sou capaz de fazer tudo tão bem como as outras pessoas P N Capacidade

11 Eu tenho motivos para me orgulhar na vida P N Sucesso

12 De um modo geral, eu estou satisfeito(a) comigo mesmo(a) P N Satisfação

13 Eu sinto vergonha de ser do jeito que sou N P Atraente

14 Às vezes, eu penso que não presto para nada N P Valor

15 Sou segura de mim mesma P N Segurança

16 Me acho uma pessoa simpática P N Simpatia

17 Tenho sempre que ter alguém que me diga o que tenho que fazer

N P Inteligência

73

Questão SIM NÂO ÁREA

18 Me toma muito tempo acostumar-me com coisas novas N P Segurança

19 Frequentemente me arrependo das coisas que faço N P Decidida

20 Posso tomar decisões e cumpri-las facilmente P N Decidida

21 Sento que minha vida é um fracasso N P Sucesso

22 Em geral as outras pessoas são mais agradáveis que eu N P Simpatia

23 Sempre sei o que dizer as pessoas P N Comunicação

24 Não sou uma pessoa confiante para que outros dependam de mim

N P Confiança

25 Sinto que as pessoas não me entendem N P Comunicação

26 Sinto-me bem recebida nos grupos que frequento P N Pertinência

Além das perguntas acima, utilizei também uma pergunta aberta: “O que

gostaría de mudar em mim caso pudesse?”

Sem dúvidas, o maior valor desta metodologia de avaliação não foi o seu

resultado propriamente dito e sim a sua aplicação. O processo de entrevistas com

base no questionário foi uma boa ferramenta para obter as informações sobre as

particiantes de uma forma não invasiva.

Uma das características de grande parte das particiantes, que acredito ser

justificada pela condição intelectual, é uma dificuldade em expressar verbalmente as

opiniões e sentimentos. Em um primeiro momento, a técnica usada, de perguntas

diretas de sim ou não, foi mais fácil para elas do que dissertar sobre sentimentos e

emoções. Além disto, pergunta aberta possibilitou apresentação de características

específicas de cada uma delas, um desejo pessoal a ser trabalhado. Vale lembrar

que o questinário foi aplicado por mim verbalmente, explicando as possíveis dúvidas

sobre as questões.

Para avalição, apliquei valores às respostas de acordo com o quadro abaixo,

avaliando o conjunto das duas perguntas de cada área:

74

POSITIVO POSITIVO VALOR: 1

Resposta com valor 1, pois é POSITIVO

e ao mesmo tempo coerente dentro de

mesma area

POSITIVO NEGATIVO VALOR: 0 Resposta com valor NULO, pois não tem

coerência e um anula o outro.

NEGATIVO NEGATIVO VALOR: -1 Resposta com valor NEGATIVO, é

coerente mas a resposta é NEGATIVO

3.4.2. Avaliação dos Resultados

Resultado Individual:

Um dos aspectos que avaliamos foi o resultado individual. Para chegar aos

percentuais apresentados no quadro abaixo, consideramos o valor de 13 (obtido

com 1 ponto para cada area, total de 13 áreas) o equivalente a 100% (que neste

caso seria uma autoimagem e autoestima máxima).

Apresento abaixo o quadro onde associei um número (#) a cada participante

(primeira coluna – Participante). A segunda coluna é o resultado percentual

individual e a terceira coluna, a resposta resumida de cada da questão aberta (O

que gostaría de mudar em mim caso pudesse).

Participante Resultado O que gostaría de mudar em mim caso pudesse…

# 1 23% Saber me expressar

# 2 31% Ser mais Paciente e menos tímida. Tenho muita vergonha para falar

# 3 31% Timidez e vergonha para falar

# 4 38% Ser mais paciente

# 5 46% Ser mais segura, mais tolerante e mais compreensiva

# 6 46% Tomar decisões sozinha

# 7 46% Não ser tão "boba"

# 8 54% Ser mais tolerante em algumas situações, mais paciente e menos precupada com os outros. Não ser tão protetora

# 9 62% Ser mais paciente

# 10 69% Não ser tão emotive e expressar-me melhor

# 11 69% Ser mais descontraída e menos tímida

# 12 77% Quero estudar mais e sair da condição de analfabetismo

75

Resultado por Área:

A outra análise de resultado tem relação às áreas. Abaixo apresento o quadro

com o ranking por area, a qual mostra as áreas que as participantes tinham menos

(comunicação) e e mais facilidade (pertinência).

A avaliação destes resultados me ajudaram a formular o programa no qual

priorizei trabalhar a Expressão e Comunicação. Encontrei muito interessante

deparar-me com este resultado no qual demonstrava que a maior dificuldade do

grupo era a Comunicação e Expressão, justamente o tema deste estudo.

3.4.2. Entrevistas Finais

Ao término do programa, organizei entrevistas pessoais com o intuito de

colher depoimentos e de fazer uma nova avaliação através de um curto questionário.

Optei por um formulário pois desvido a uma restrição intelectual, de vocabulário e de

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

1

Comunicação

Inteligência

Capacidade

Decisão

Atraência

Qualidade

Segurança

Simpatia

Satisfação

Sucesso

Confiança

Valor

Pertinência

76

costume de expressar verbalmente as emoções, a maioria das participante não

conseguiu dar depoimentos mas profundos. O questinário contém sete questões

com três opções de resposta e espaço para observações livres.

Questões: 1 - Superar o medo e a timidez 2 - Fortalecer seus vínculos familiars 3 - Entrar em conexão com a coragem de viver, 4 - Expressar sua afetividade e amizade 5 - Sentir Alegria de Viver 6 - Capacidade de adaptar-se à novas situações 7 - Expressar opiniões e vontades Respostas: 1 Não Mudou nada 2 Houve alguma melhora 3 Melhorou muito

Resultados:

0

2

4

6

8

10

12

14

Não Mudou nada

Houve alguma melhora

Melhorou muito

77

3.5. Conclusões

Foi um lindo trabalho. Foram 13 meses de muita dedicação, tanto da minha parte como facilitadora quanto por parte das alunas que frequentavam o grupo, muitas vezes contrariando alguma diversidade.

È muito satisfatório analisar os resultados e observar os benefícios trazidos pela

biodanza para este grupo e da potência da Biodanza que possibilitou mais alegria, mais coragem, mais amizade e mais afeto.

Espero continuar trabalhando com este grupo no ano que vem, e desenvolver um

sistema de captação de recursos afim de estender as aulas de Biodanza à outras faixas etárias (crianças e adolescentes) nesta mesma comunidade através da Agência do Bem.

78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GOIZ, Cezar Wagner de L.. Artigo Arte – Identidade . Revista Pensamento

Biocêntrico, Número 04, julho/dezembro 2005

GONZALEZ, Myrthes. Artigo Biodanza e Ação Social, Aspectos Básicos . Revista

Pensamento Biocêntrico, Número 07, Janeiro/junho 2007

SANTOS, Maria Lucia P. – Biodança Vida e Plenitude , Edição pela Autora, 2009.

TORO, Rolando A. A Vivência . Apostila do Curso de Formação para Professores de

Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema Rolando Toro

_______________. Ação Social . Apostila do Curso de Formação para Professores

de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema Rolando Toro

_______________. Afetividade . Apostila do Curso de Formação para Professores

de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema Rolando Toro

_______________. Aspectos Fisiológicos de Biodanza . Apostila do Curso de

Formação para Professores de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema

Rolando Toro

_______________. Biodanza . Editora Olavobrás, 2005

_______________. Biodanza: Ars Magna . Apostila do Curso de Formação para

Professores de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema Rolando Toro

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_______________. Definição e Modelo Teórico de Biodanza . Apostila do Curso

de Formação para Professores de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema

Rolando Toro

_______________. Identidade . Apostila do Curso de Formação para Professores

de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema Rolando Toro

_______________. Mecanismos de Ação . Apostila do Curso de Formação para

Professores de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema Rolando Toro

_______________. Movimento Humano . Apostila do Curso de Formação para

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_______________. O Inconsciente Vital e Princípio Biocêntrico . Apostila do

Curso de Formação para Professores de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza

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_______________. Sexualidade . Apostila do Curso de Formação para Professores

de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema Rolando Toro

_______________. Transcendência . Apostila do Curso de Formação para

Professores de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema Rolando Toro

_______________. Transe e Regressão . Apostila do Curso de Formação para

Professores de Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema Rolando Toro

80

_______________. Vitalidade . Apostila do Curso de Formação para Professores de

Biodanza, Escola Modelo de Biodanza Sistema Rolando Toro