binzer, i von. os meus roma - scielo · 2013. 6. 28. · vava quanto ao futuro do brasil sem o...

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96 d iversos, desde a aquisição de no vas máquinas até a concorrência das mul- tinacionais e seu do mínio dos mer ca- dos, inclusive o de maté rias-primas, o livro é obri gató rio. Fi nal me n te , os técnicos e cientist as que estão enga- jados em pesquisas e desenvolvimen- to de novos p rocessos e produtos, bem co mo aqueles que at ua m nos órgãos governamentais dedicados à po tica científico-tecnológica, en - contrarão nesta obra i númer as suges- tões e informações perti nent es, de cunho prático e teórico, para seu t ra ba lho. Hen ri que Rattner Re vista de Administração de Emp resa! Binzer, I na von. Os meus roma- nos- alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Bras il. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980. 135p. A oligarquia rur al b rasilei ra ao fim do impé ri o teve precep tores para suas prol es; ce rt a ment e para cá não vie- ram mestres de vul to, cujo ofício em sola r alheio servisse de suste nto para re flexões pr of undas, como mui t o fi- lósofo de r eno me a servi ço de no bre- zas européias. Mas vi era m muitas mo- ças ensinar francês, inglês, alemão, alguma humanidade e muita etiqueta . lna foi uma delas. Nasceu em 1856 e t inha, por tant o, 25 anos quando aportou no Brasil em 1881 , em busca de trabalho que lhe permi- tisse viver o fascínio dos trópicos sem os riscos extremos do europeu erran- te . E cá ficou até 1884, sem outro cana I par a escoa r suas impressões e emoções a não ser a co rrespondência que mantinha com sua amiga Grete, condiscípula que deixara na Ale- manha. Para lá voltou, casou, lecio- nou e escreveu. Por meio de cart as quase diárias, ia pond o sua amiga a par da vida doméstica nas grandes fazendas, alinhavando vivamente o dia-a-dia da luta em transmitir o abc do alemão aos r ebentos de uma oligarquia para a qual o francês era o que havia de mais fi no. Por isso {e po r out ras tan- tas coisas ), se u tr ab alho pedagógico não era de se levar muito a sério, o que de certo faci litou em muito a dis- posição be m-humorada com que pr o- curou viver e narrar suas expe ri ên- cias. A quem ser ve essa coleção de car- tas be m-escr itas e bem-traduzidas? O cata logador da obr a na fonte a re me- te à históri a da "vida social e costu- mes" de São Paulo e Rio de Janeiro, o que não di z muito. Ma s nela o ar- quiteto, por exemplo, poderá encon- trar subs í di os acerca do uso do espa- ço no casarão da fazen da da época e dos materiais e cnicas emp regados na construção da senzala. Para o so- ciólogo da s classes diri ge nte s, existem observações de va lia a res pe ito dos vínculos intr afamiliares e das relações entre senh or e escravo qu e não estão nas cr ônicas le gadas pe los domina n- tes por passarem como e vi de ntes ou insigni fi cant es. A irreverência de lna, ao rel at ar a verbor ia dos bacharéis que conhe - ceu, serve be m para relati_vizar a ima- ge m de sabe r profun do e de fervor cívi co transmitida na cel ebração da Academia de Direito de São Paulo. Nesse pico, o ed ucador , ai nd a em- basbacado com a excelência da cultu- ra das "e lites" de an tanho, também pode rá rever seu enc antament o injus- tificado, nessa con junt ura atual em que tan to se critica a "q ueda de n í- ve l" de nossas escolas. O hi storiador econô mico preo cupado com a t rans i- ção para o trabalho assalaria do é con- templado com a reco nstruç ão da polêmica que, na casa-grande, se tra- vava quant o ao futur o do Brasil sem o escravo negro. Não que nossa edu- cadora se abalance a análises profun- das, mas simplesmente porque , como diz a Grete, "esse é quase o único assunto de todas as conversas, e desse jeito a mais simples das almas to rn a- se soc iól oga e po lít ic a" {p. 103). Quem se interessou pelo filme Lição de amor poderá conferi-lo por esse document o que, se acaso não lhe ser- viu de referência primeira, poderia . plen amente ter preenchido a função. E quem não estiver a fim de nada disso, poderá ao menos comprazer-se com uma leitu ra agradáve l e provo- cante. José Carlos Garcia Durand

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Page 1: Binzer, I von. Os meus roma - SciELO · 2013. 6. 28. · vava quanto ao futuro do Brasil sem o escravo negro. Não que nossa edu cadora se ab al nce a análises profun das, mas simplesmente

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diversos , desde a aquisição de novas máquinas até a concorrência das mul­tinacionais e seu do mínio dos merca­dos, inclusive o de maté rias-primas, o livro é obrigatório. Fi nal mente, os técnicos e cientistas que est ão enga­jados em pesquisas e desenvolvimen­to de novos processos e produ tos, bem co mo aque les que atua m nos órgãos governa mentais ded icados à política científ ico-tecnológica, en­contrarão nesta obra inúmeras suges­tões e informações pert inentes, de cunh o prático e teórico, para seu t raba lho.

Henrique Rattner

Revista de Administração de Empresa!

Binzer, I na von. Os meus roma­nos- alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra , 1980. 135p.

A o ligarquia rural b rasilei ra ao fim do impéri o teve preceptores para suas prol es; certamente para cá não vie­ram mestres de vul to, cujo ofício em solar alhei o se rvisse de sustento para reflexões profundas, como mui to fi­lósofo de reno me a servi ço de nobre­zas européias . Mas vi era m muitas mo­ças ensina r francês , inglês, alemão, alguma hu man idade e muita etiqueta.

lna foi uma delas. Nasceu em 1856 e t inha, portanto, 25 anos quando aportou no Brasil em 1881 , em busca de trabalho que lhe permi­tisse viver o fascínio dos trópicos sem os riscos extremos do europeu erran­te . E cá ficou até 1884, sem outro cana I par a escoa r suas impressões e emoções a não ser a correspondência que mantinha com sua amiga Grete, condiscípula que deixara na Ale­manha. Para lá volto u, casou, lecio­nou e escreveu.

Por meio de cartas quase diárias, ia pondo sua amiga a par da vida doméstica nas grandes fazendas, alinhavando vivamente o dia-a-dia da luta em transmitir o abc do alemão aos rebentos de uma oligarquia para a qual o francês e ra o que havia de mais fi no. Por isso {e po r outras tan­tas coisas), seu trabalho pedagógico não era lá de se levar muito a sério, o que de certo faci litou em muito a dis­posição be m-humorada com que pro­cur ou viver e nar rar suas expe riên­cias.

A quem serve essa coleção de car­tas be m-escr i tas e bem-traduzi das? O catalogador da obra na fonte a reme­te à históri a da "vida social e costu­mes" de São Paulo e Rio de Janeiro, o que não di z muito. Mas nela o ar­quiteto, por exe mplo, poderá encon­trar subs í di os acerca do uso do espa­ço no casarão da fazenda da época e dos materiais e técnicas empregados na construção da senzala. Pa r a o so­ciólogo das classes dirigentes, existem observações de va lia a res pe ito dos vínculos intrafam iliares e das relações entre senhor e escravo que não estão nas crônicas legadas pe los dominan-

tes po r passarem como evi de ntes ou insignifi cantes.

A irreverência de lna, ao relatar a verbor ré ia dos bacharéis que conhe­ceu, serve be m para relati_vizar a ima­ge m de sabe r profund o e de fervor cívico t ransmitida na ce lebração da Academia de Direito de São Paulo. Nesse tópico, o educador, ai nd a em­basbacado com a excelência da cultu­ra das "e lites" de an tanho, t ambé m pode rá rever seu encantamento injus­tifi cado, nessa con juntura atual e m que t an to se critica a "queda de n í­ve l" de nossas escolas. O hi stori ador econômico preocupado com a t rans i­ção para o t rabalho assal ariado é con­te mplado com a reconstrução da polêmica que, na casa-grande, se t ra­vava quanto ao futuro do Brasil sem o escravo negro. Não que nossa edu­cadora se abalance a análises profun­das , mas simplesmente porque , como diz a Grete, "esse é quase o único assunto de todas as conversas, e desse jeito a mais simples das almas to rn a­se sociól oga e política" {p. 1 03). Quem se interessou pel o filme Lição de amor poderá conferi-lo por esse documento que , se acaso não lhe ser­viu de referência primeira, poderia

. plenamente ter preenchido a função. E quem não estive r a fim de nada disso, poderá ao menos comprazer-se com uma leitura agradáve l e provo­cante.

José Carlos Garcia Durand