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XXIV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação
Sistemas de Informação, Multiculturalidade e Inclusão Social Maceió, Alagoas, 07 a 10 de Agosto de 2011
Temática 3: Políticas de Informação, Multiculturalidade e Identidade Cultural
As Bibliotecas Públicas e os Suportes para a Lei 10.639/03
Maria Cleide Rodrigues Bernardino [email protected]
Universidade Federal do Ceará Joselina da Silva
[email protected] Universidade Federal do Ceará
Nicacia Lina do Carmo [email protected]
Universidade Federal do Ceará
RESUMO O conceito de biblioteca sempre esteve muito associado à preservação,
sendo vista como guardião do conhecimento, no entanto, no contexto social vigente, novos paradigmas tem se estabelecido modificando essa visão de guardiã para disseminadora da informação, isso se aplica a qualquer tipo de biblioteca inclusive a biblioteca pública, que embora tenha um papel importante para a memória sócio cultural deve ser atuante em meio à comunidade no intuito de informar e difundir a cultura a educação e o lazer. Sendo assim, o objetivo do presente trabalho é discutir acerca das funções da biblioteca pública bem como propor uma reflexão sobre os fatores que influenciam o cumprimento destas funções.
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PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca Pública. Biblioteca Pública – Funções. Biblioteca Pública – Sociedade. Lei 10.639 – Biblioteca Pública.
1 Introdução
A origem do conceito de biblioteca pública (ARAÚJO, 2002, p. 15) deu-se a partir da
confluência do humanismo renascentista com a invenção da imprensa e a reforma protestante.
Enquanto a invenção da imprensa permitiu em larga escala a reprodução da cultura escrita e
popularizou a leitura, até então restrita a poucos, a ideologia da reforma pleiteava uma
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educação mais democrática, socializadora e comum a todos. Por sua vez, todos esses fatores
vieram contribuir para o aumento do numero de alfabetizados.
A história dos livros e das bibliotecas registra uma interligação entre o acesso à informação e
o poder aquisitivo, de forma muito intensa (SUAIDEN, 2000, p. 52). O acesso à escrita
sempre foi marcado por esforços isolados, sem, no entanto, se tornar uma prioridade A leitura
e a escrita eram sinônimos de poder e de status e a biblioteca e o livro era o símbolo. Em
virtude do acesso restrito e segmentado, a biblioteca tinha um perfil diferente do que possui
hoje. Desse modo, pensar no usuário ou mesmo na informação não era um ponto fulcral. O
que prevalecia era a preservação da memória. Essa característica de registro da memória
prevaleceu por muitos anos e mais tarde somada ao caráter escolarizante da biblioteca
pública, devido a falta de bibliotecas escolares, conforme explicita Milanesi (2002, p. 47),
“[...] as bibliotecas fizeram pois, no século XX, um trajeto rumo aos currículos escolares, e,
por isso, entre outros motivos, deixaram de lado a população”.
Entretanto, sua missão, objetivos e serviços, tem sido motivo de constantes discussões entre
especialistas e congressos, tanto em âmbito nacional como internacional (SUAIDEN, 1995, p.
19). Isto nos faz refletir sobre a gestão da informação voltada para a comunidade. O papel
social da biblioteca, sobretudo, da biblioteca pública, que por sua característica, deve atender
a toda a comunidade de usuários, a mais diversificada possível, - que vai desde a dona de
casa, do adolescente, ao especialista -, exige de sua gerencia uma ação efetiva acerca das
necessidades informacionais da população.
A lei 10639/03, que prevê a obrigatoriedade da inclusão de História e Cultura Afro-brasileira
nos currículos escolares, nos leva a refletir sobre a principal fonte de pesquisa da comunidade:
a biblioteca pública, e sobre a gestão da informação e serviços voltados para esta temática.
Nossa proposta é uma reflexão a respeito do acervo das bibliotecas públicas no Ceará,
especificamente no centro sul, chamado de Cariri, observando se estão dotadas de
documentos e materiais nos mais variados suportes e se esses materiais, no caso de existirem,
se contam com alguma ferramenta para gerir essas informações.
A pesquisa foi realizada no período de março a junho de 2010, em 10 bibliotecas públicas e
comunitárias localizadas no cariri cearense, como parte integrante da disciplina de Bibliotecas
Públicas e Comunitárias, da matriz curricular do Curso de Biblioteconomia, da UFC Campus
Cariri. O objetivo desta investigação é descobrir se o acervo das bibliotecas públicas do cariri
cearense está devidamente condizente ao que prevê a lei 10.639, baseado na hipótese
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preliminar da falta de estruturação documental favorável para o auxílio à pesquisa e também
para instrumentação e aparato educacional para os professores da rede pública municipal,
sobre a referida lei.
Acreditamos que, mesmo estando previsto na lei, as nossas bibliotecas públicas ainda são
carentes em seu acervo, de material, seja bibliográfico ou não, em qualquer suporte físico, que
permita o cumprimento da lei pelas escolas da rede pública de ensino.
Por fim, discutimos sobre o papel da biblioteca pública em acordo com as necessidades
informacionais e a realidade da população, a qual esta serve, levando em consideração
principalmente as exigências da lei 10.639/03, a fim de minimizar a carência informacional da
comunidade usuária.
2 As Bibliotecas Públicas e os Suportes para a Lei 10.639/03
A biblioteca pública surgiu na segunda metade século XIX, nos EUA e Inglaterra (ALMEIDA
JÚNIOR, 2003, p. 66), no ano de 1850 e suas características dentre outras eram; totalmente
mantida pelo Estado, com a pretensão de atender a toda a comunidade e funções específicas.
No Brasil, a primeira biblioteca pública fundada foi a da Bahia, em 1811, até então, todas as
bibliotecas fundadas não eram totalmente públicas, ou não tinham características. A
Biblioteca Real já existia em Lisboa e o que ocorreu foi a sua transferência. O mais
interessante desse acontecimento é que a criação da Biblioteca Pública da Bahia foi criada por
iniciativa da comunidade, ou seja, ela nasceu da própria comunidade e de suas necessidades
(SUAIDEN, 1980, p. 5).
Araujo Junior (2005, p. 66) diz que há certa controvérsia a esse respeito entre os estudiosos,
alguns afirmam que: “o que motivou o surgimento da biblioteca pública foi a necessidade, a
partir das exigências da revolução industrial, de mão-de-obra mais qualificada”, afirmando
inclusive que, essa foi uma atitude meramente filantrópica. Sobre isto Wada (1985, p.16) diz
que:
Os homens da classe dominante viam nas bibliotecas uma forma de atenuar os problemas sociais. Assim, foram impostos ao povo, sem terem sido resultantes de uma demanda popular. O desenvolvimento industrial demandava de uma mão-de-obra especializada e a Biblioteca Pública surgiu como meio de aperfeiçoamento dos trabalhadores que já estavam fora do ensino formal.
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Outros estudiosos enxergam esse momento de surgimento da biblioteca pública no País como
uma reivindicação da população por acesso à educação gratuita, isto incentivado pela
revolução francesa e como uma busca de ascensão social, a população exige que o Estado
ofereça a seus filhos acesso a educação através de suporte pedagógico às ações educacionais.
Já Nogueira (1986 apud ALMEIDA JÚNIOR, 2003, p. 67) defende que:
[..] tanto a revolução industrial, gerando a necessidade de mão-de-obra qualificada, como a revolução francesa, que fundamenta pressões por maior democratização da educação, devem ser consideradas não de forma isolada, mas participando de maneira concomitante no surgimento das bibliotecas públicas.
O caráter educativo da biblioteca pública é evidenciado pela UNESCO, que credita à
biblioteca pública a função de favorecer e fortalecer a educação e a cultura, estimulando a
publicação de livros e a implantação de sistemas de bibliotecas públicas. De acordo com a
UNESCO “[...] a biblioteca pública representa uma força em prol da educação, da cultura e da
informação, sendo um instrumento indispensável para promover a paz e a compreensão entre
os povos e nações” (SUAIDEN, 1980, p. 40).
Com o objetivo principal de atender a todos em uma determinada comunidade, o que significa
que deve estar a serviço de todos os cidadãos, oferecendo-lhe como propõe a UNESCO,
informação, cultura e lazer. Entretanto, um questionamento é veemente: como as bibliotecas
públicas brasileiras cumprem essa diretriz? Ou mesmo, como estão aparatadas de forma a
cumprir seu papel perante a sociedade? As bibliotecas públicas são consideradas instrumento
de apoio pedagógico à educação escolar e hoje pela inexistência de bibliotecas escolares ou
mesmo pela ausência de atuação dessas, as bibliotecas públicas assumiram mais fortemente
essa função, sendo na maioria das vezes a única forma de pesquisa dos usuários.
Com o passar dos anos a biblioteca incorporou a função de biblioteca escolar às suas
atividades e a preocupação com a preservação da memória cedeu espaço ao acesso e gestão da
informação. Miranda et al (2008, p. 18) diz que:
A palavra biblioteca deixou de ser uma denominação aplicada à instituição encarregada, desde a Antiguidade, de preservar os acervos; há tempos deixou de designar um prédio com vocação específica, para ser um substantivo comum próprio para todo e qualquer conjunto de acervos tangíveis ou virtuais.
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Essa conceituação tradicional estava ligada a segmentação de público e classificação de
acervo. Hoje com novos modelos pautados na era tecnológica, o suporte se diversificou e o
público sofreu algumas alterações, entretanto, a política da biblioteca, seu caráter público e o
direcionamento de seus serviços permanecem. Isto nos coloca à frente de novos desafios,
como por exemplo, ser o local de disseminação de informações que possam subsidiar alunos e
professores quanto ao que rege a Lei 10.639.
Essa preocupação teve início na III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação
Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância realizada de 31 de agosto a 08 de
setembro de 2001, em Dobam, na África do Sul e como uma ratificação do relatório final da
conferência, o Brasil assumiu o compromisso de atuar propositivamente contra o racismo e a
discriminação racial e construir políticas com esse objetivo. A escola pela sua função de
formação da cidadania e entendendo o grande déficit quanto ao acesso às informações sobre
história e cultura afro-brasileira, necessita que a biblioteca dê suporte neste sentido e pela
própria problemática das bibliotecas escolares, como ausência de bibliotecários, esta
responsabilidade recai sobre a biblioteca pública.
Esse déficit informacional deu lugar na área da educação a sanção pelo governo Lula da Lei
10.639, em 09 de janeiro de 2003, que por sua vez alterou a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, - Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996 - tornando obrigatório o ensino
de História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio de
todo o país.
Segundo o texto legal, “o conteúdo programático incluirá o estudo da História da África e dos
Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da
sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e
política pertinentes à História do Brasil”. (BRASIL, 2003, art. 26-A).
Por seu turno, a Resolução CNE/CP Nº 1/ 2004 publicada no Diário Oficial da União (DOU)
de 22/06/2004, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Etnico-Rraciais e para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Em seus
parágrafos 1º e 2º do artigo 2º, a resolução trata de suas finalidades e sintetiza o espírito da
Lei 10.639/2003 e uma concepção de formação do cidadão pela escola, como expressamos a
seguir:
§ 1º A educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de
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interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira. § 2º O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana tem por objetivo o reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem como a garantia de reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, européias, asiáticas.
Nesta seqüência de instrumentos e documentos legais que tratam do tema, em abril de 2007,
foi lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). O conceito de qualidade em
educação declarado no PDE está sintonizado com o previsto nas Diretrizes Curriculares para a
Implementação da Lei 10.639, de 2003. Desta forma, no que diz respeito à educação, o Brasil
além de cumprir os compromissos internacionais assumidos com o objetivo de combater o
racismo e a discriminação racial, por meio da Lei 10.639/2003 e da Resolução CNE/CP
1/2004, dá um importante passo na direção de uma mudança qualitativa no seu sistema de
ensino. No entanto, entre a orientação normativa e a efetividade das mudanças sugeridas
observa-se a existência de uma distância a ser trilhada que impõe a identificação de quais são
os atores sociais que, conjuntamente com os entes federativos, podem assumir a tarefa de
implementar as alterações previstas na Lei.
Assim, os desafios determinados pela globalização dos mercados, a evolução das tecnologias
da informação e comunicação, aliados aos novos padrões exigidos pelas organizações
modernas no tocante ao compartilhamento do conhecimento, impõem a necessidade do
desenvolvimento de novas habilidades. O que significa que, muitos aspectos precisam ser
aprofundados no que se referem à importância a ser dada pelos bibliotecários à capacitação
profissional e ao contínuo aprimoramento de suas habilidades numa perspectiva de adaptação
às modificações da sociedade moderna e às exigências colocadas pelos novos conhecimentos.
De uma maneira mais sistemática, precisamos voltar os olhos para as bibliotecas públicas pela
amplitude de seu atendimento e por suas funções e ainda em atendimento ao Manifesto da
UNESCO, sobre os subsídios necessários para auxiliar o que diz a lei.
Esperamos, portanto, uma estruturação de nossas bibliotecas públicas, tanto no que diz
respeito ao seu acervo, como também seus serviços e gerenciamento da informação, de modo
a atender as diretrizes previstas na lei e contribuir efetivamente para a educação no país. Nas
salas de aulas do Brasil, é muito comum o professor se basear no livro didático para
desenvolver os conteúdos com seus alunos. O que nos leva imediatamente a ressaltar a
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importância da biblioteca pública, que supre na maioria das vezes a lacuna deixada pela
biblioteca escolar.
Pelo contexto da biblioteca pública, seu conceito e funções e até mesmo pelo adjetivo que
carrega o seu nome, que indica uma socialização e abrangência, o foco de atendimento é
amplo, uma vez que se propõe a atender a todos os indivíduos de uma comunidade, como
afirmam Rasche e Varvakis (2006, p. 127):
No cotidiano da biblioteca pública, convive-se como diferente. Isso tem implicações na tomada de decisões relativas ao modo de organizar, de tratar acervos, de propor serviços, o que faz com que o gerenciamento de tais bibliotecas torne-se uma tarefa complexa.
Isto por sua vez, levando em conta todos os referenciais que permeiam o conceito de
biblioteca pública, a compreensão de seu papel social e missão enquanto disseminadora da
informação implica na ampliação de seus serviços de acordo com demandas sociais, como por
exemplo, o atendimento a Lei 10.639. O desafio das bibliotecas é adequar-se a este novo
serviço, gerir essas informações de modo a atender satisfatoriamente esta população usuária e
sobretudo, suprir a lacuna da biblioteca escolar.
3 Os Suportes para Lei no Eixo Crajubar: Metodologia
Nossa investigação pautada no Manifesto da UNESCO e funções da biblioteca pública:
educativa, cultural e recreativa, pontua as bibliotecas públicas municipais do Estado do Ceará,
mais especificamente, do cariri cearense, aqui representado pelos municípios de Juazeiro do
Norte, Ipaumirim, Barbalha, Farias Brito, Crato e Caririaçu, Brejo Santo, prevê a observação
do acervo e questionário respondido pelos responsáveis ou bibliotecários destas instituições, a
respeito do conhecimento da referida lei.
O progresso da ciência se faz pela quebra de paradigmas e pela discussão das teorias e
métodos (KUNH, 2009), a primeira regra a ser quebrada é a própria atuação das bibliotecas
públicas no que diz respeito á lei 10.639, uma vez que a mesma prevê que a escola deve ser a
responsável pela introdução das informações sobre a cultura e história afro-brasileira.
Entretanto, pela falta de bibliotecas escolares ou mesmo pela pouca atuação destas, a
biblioteca pública assume esta missão e se reconstrói pela quebra de seus próprios
paradigmas.
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Delineamos nossa investigação como pesquisa social de abordagem qualitativa, com a ajuda
de questionários e observação a fim de traçar uma paisagem a respeito do acervo das
bibliotecas públicas do cariri cearense a respeito da lei 10.639.
Minayo (2008, p. 14) diz que “o objeto das Ciências Sociais é essencialmente qualitativo”.
Entendemos ainda que, a pesquisa qualitativa “[...] trabalha com o universo dos significados,
dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de
fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social [...]”. (MINAYO, 2008,
p. 21). Este delineamento prevê um ciclo de três etapas: a fase exploratória; o trabalho de
campo; e a análise do material.
A primeira etapa do processo foi contemplada através dos estudos de textos teóricos a respeito
de bibliotecas públicas, suas funções e conceitos; e sobre a lei 10.639, a fim de delimitar e
definir o objeto de pesquisa, desenvolvendo-o teórica e metodologicamente. Na segunda fase
combinamos os instrumentos de pesquisa questionário e observação nas visitas às bibliotecas
públicas palco da investigação. Esta etapa ocorreu concomitantemente com as atividades
desenvolvidas na disciplina Bibliotecas Públicas e Comunitárias, ministrada no primeiro
semestre de 2010.
A terceira e última etapa, a fase da interpretação, análise e tratamento do material,
articulando-os com a teoria, com o objetivo de conduzir a uma espécie “busca lógica, peculiar
e interna”, (MINAYO, 2008, p. 27) que nos permite afirmar que “a análise qualitativa não é
uma mera classificação de opinião dos informantes, é muito mais. É a descoberta de seus
códigos sociais a partir das falas, símbolos e observações” (MINAYO, 2008, p. 27).
Bauer e Gaskell (2008, p. 39) diz que toda pesquisa social “seleciona evidencia par
argumentar e necessita justificar a seleção que é a base de investigação, descrição,
demonstração, prova ou refutação de uma afirmação específica”. Para esta investigação
pretendemos responder ao questionamento se o acervo das bibliotecas públicas do cariri
cearense está devidamente condizente ao que prevê a lei 10.639.
4 Considerações Finais
De acordo com Cesarino (2007, p. 11) as “bibliotecas são instituições muito antigas que
sobrevivem há anos, adaptando-se às diversas mudanças políticas, sociais e tecnológicas. Essa
sobrevivência, por si só, já é suficiente para provar que cabe à biblioteca uma função muito
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importante na sociedade”, que é a função de servir a comunidade, oferecendo-lhes
informação, cultura e lazer.
Ao longo da história as bibliotecas públicas, (MUELLER, 1984) de uma forma ou de outra,
tiveram como funções básicas, a coleta, a conservação, a organização e a difusão de
informações, e têm buscado, através da difusão do conhecimento, a produção de um bem
social. A função social da biblioteca pública necessita de um maior empenho e de constantes
avaliações, como evidencia Almeida Júnior (2003).
Pautadas pelo Manifesto da UNESCO, que prevê que a biblioteca pública é:
[...] local de informação, tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os gêneros [...] Todos os grupos etários devem encontrar documentos adequados às suas necessidades. As coleções e serviços devem incluir todos os tipos de suporte e tecnologias modernas apropriados, assim como materiais tradicionais. (IFLA/UNESCO, 1994)
As bibliotecas públicas precisam para cumprir o que prevê o Manifesto, oferecer serviços com
base na igualdade de acesso para todos, sem distinção, disponibilizar serviços e materiais
específicos, dispor ainda de documentos adequados às necessidades de todos. Precisa,
sobretudo, compreender seu valor e missão perante a sociedade, funcionando como um
espaço sociocultural que dispõe de produtos e serviços informacionais para a comunidade em
geral e possui em seu acervo uma ampla gama de assuntos em múltiplos suportes.
Ao assumir seu papel perante sua comunidade, a biblioteca pública reconhecerá sua função
social e incorporará além do seu objetivo primordial que é preservar e difundir o
conhecimento, fazendo isto, principalmente no que se refere à cultura local, mas, incorporará
também a própria comunidade do seu entorno às suas funções e atribuições, sendo
reconhecida e legitimada pela sociedade, uma vez que a biblioteca pública (SUAIDEN, 1995,
p.20), dentre todos os tipos de bibliotecas é a única que possui realmente características de
uma instituição social, tanto pela amplitude de seu campo de ação quanto pela diversificação
de seus usuários.
O importante é compreendermos que enquanto usuários também somos responsáveis pelo
funcionamento e qualidade dos serviços oferecidos pela biblioteca pública, pois ao mesmo
tempo em que podemos fiscalizar suas ações, podemos também, nos inserir neste processo,
sugerindo, contribuindo para a melhoria e qualidade de suas funções.
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Essas novas exigências da biblioteca pública pressupõem um profissional com competências e
habilidades compatíveis, conhecimento geral e participação política. Compor o acervo da
biblioteca pública de material adequado para cumprir o que rege a lei 10.639 é
responsabilidade do Estado, entretanto, gerir esse material é papel do bibliotecário gestor e da
condução dos serviços oferecidos. Assim, como afirmam Rache e Varvakis (2006, p.137):
Percebe-se que os serviços é que vão conferir à biblioteca sua dinâmica, sua capacidade de transpor a métrica e estabilidade de seus acervos, permitindo a concretização da sua função social. Essa função social pede uma relação constante entre o que se pode chamar de corpus da biblioteca, suportes documentais, pessoal, informação, conhecimento, cultura e público utilizador.
Nossa investigação aplicou um questionário que visava responder a uma pergunta impar: se a
biblioteca pública em questão possui obras em observância a lei 10.639. Para este
questionamento obtivemos seis respostas negativas e quatro afirmativas, em termos
percentuais 60% de respostas negativas e 40 de respostas positivas.
Quanto as respostas afirmativas, a pergunta pedia um complemento, que o entrevistado citasse
algumas obras ou que o pesquisador observasse junto ao acervo se essas obras estavam
visíveis a primeira vista. Os entrevistados citaram obras de literatura de um modo geral,
mitologia dos orixás e outros títulos diversos. A observação do acervo identificou ainda,
livros de história sobre a escravidão. Literatura como a obra “O Crioulo”, de Adolfo Caminha,
presente em todas as bibliotecas observadas. Entretanto, não visualizamos nenhuma obra que
possa servir de subsídio para o professor preparar suas aulas sobre cultura e história afro-
brasileira como obriga a Lei. O acervo se restringe a temática da escravidão, resumindo toda a
cultura afro-brasileira ao período colonial.
É importante destacar que nesta fase da pesquisa nosso olhar se voltou para o acervo a fim de
complementar as respostas do entrevistado, o que se caracteriza pela observação participante.
Na prática nossas Bibliotecas Públicas são verdadeiras Bibliotecas Escolares. Isto se deve ao
fato de quase não existirem bibliotecas escolares ou mesmo pela contingência de sua atuação,
o que acaba por inferir às bibliotecas públicas municipais, obrigações e deveres desta. Por
exigência dessa demanda, nossas bibliotecas necessitam de um olhar mais efetivo quanto a
dotação de seus acervos e principalmente quanto a contratação de bibliotecário, de modo que
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permita uma inserção forte na sociedade e ao mesmo tempo efetive o cumprimento do que
rege a lei.
Por fim, consideramos que infelizmente as bibliotecas públicas ainda não estão aptas para
suprir a lacuna deixada pela biblioteca escolar no que diz respeito ao cumprimento do que
determina a Lei 10.639/2003 e recomendamos que seja traçada uma política de
desenvolvimento de coleções que permita à biblioteca pública assegurar aparato bibliográfico
ou não sobre cultura e história afro-brasileira para a comunidade escolar.
ABSTRACT: The concept of library has always been very involved in preservation, being seen as the guardian of knowledge, however, in the current social context, new paradigms have been established by modifying this view as guardian for disseminator of information, this applies to any library including the public library, although it has an important role in the socio-cultural memory must be active within the community in order to inform and spread the culture to education and leisure. Therefore, the aim of this paper is to discuss about the functions of the public library as well as proposing a reflection on the factors influencing the performance of these functions. KEYWORDS: Public Library. Public Library - Functions. Public Library – Society. Law 10.639/03 – Public Library.
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