biblioteca digital de obras raras: página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear,...

88

Upload: others

Post on 10-Mar-2021

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 2: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

.'.

Page 3: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 4: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 5: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

MOREIRA MAlA

OPINIÃO

SOBRE

UM .NOVO PLANO DE ESTUDOSNA

ACADEMIA DAS BELLAS ARTESDO

_ ..

r

RIO DE JANEIRO.'ryp. Hildebran.dt:, rua d'Aju<1a 11.. 31

1886

Page 6: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

. .

. .

,

Page 7: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

PARECER

Approvado pela Congregação da Acadomia

\\\\ \\\ \\ \1\ \\\ \\\,~\}\\\\~~\\\l\}\U\2~o].oo

Page 8: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 9: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

111m.Exm. Snr .

Desde que V. Ex., em conferencia particular comque me honrou, se dignou de communicar-me que es-tava deliberado a ouvir-me, antes de promover a consultada Congregação da Academia das Be llas Artes, sobre amateria do Aviso, expedido, a 10 do mez proximo findo,pela 2' Drectoria da Secretaria do Ministerio dos Nego-cios do Imperio, referente á presumida vantagem deser a cadeira de xylographia substituida pela de sombrase perspectiva, tomei por declaração formal o compro-misso de dizer com toda lealdade e isenção o meu modode pensar sobre esta materia, que, por sua alta impor-tancia didactica, assume as proporções de objecto quemerece ponderação e exige exame muito attento edemorado.

Esta mesma declaração foi por mim reiterada, com afranca expressão do meu sincero reconhecimento peladistincção que assim me era tão graciosamente concedida,quando, por occasião da leitura do expediente, em sessãoda Congregação, a 15 do mesmo mez, V. Ex. ordenouque me fosse destribuido aquelle Aviso, para que sobrea respectiva materia eu emittisse parecer.

Page 10: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

-6-

Venho agora desempenhar-me da incumbencia quetomei a mim unicamente por cumprimento de rIgorosodever; e para isso pedirei que me seja permittido ex-ternar com toda franqueza e sem restricção mental deespecie alguma a minha opinião, começando por con-siderações que me parecem necessarias ao esclarecimentoda questão que cumpre bem elucidar, afim de que oGoverno Imperial seja devidamente informado do quecon vem resol ver a bem da melhor organização dos es-tudos artísticos e do aperfeiçoamento do regimen escolar,na parte concernente ao ensino da nossa Academia,

V, Ex., que possue altos dotes de esmerada culturamental, reunidos á longa pratica de administração e ge-rencia de importantes serviços publicas, sabe como é dedifficil solução pratica o complexo problema de dar utile fecunda organização ao ensino das bel las-artes, mór-mente quando disso se trata n'um meio social.onde mão setem educado e desenvolvido o culto do sentimento dodo bello, ou, melhor, onde o senso artístico do povo aindaexiste om estado rudimentar, e ainda se pensa que aAcademia das Bellas Artes, cuja missão actual não deveser outra mais do que a de exclusivamente votar-se aoverdadeiro culto da pureza esthetica da arte classica eda sua propagação evolucionista fomentadora do aper-feiçoamento da arte moderna, póde por si só crear ogosto em materia de sentimento artistico, consideradoem si mesmo e em relação á real influencia que ellaexerce no ameno campo da. belleza da fórma dos arte-factos industriaes ; meio apathico e tibio, onde, á es-cassez dos nossos recursos financeiros e economicos,se vemjuntar a falta mui sensivel da benefica propaganda aque os inglezes chamam tão caracteristicamente - No-tional A 1't-movement - ; meio onde mal se conhecem emenos ou pouco se estudam as relações da arte com as in-dustrias; e onde as discussões technicas que constituem apedra de toque em todos os problemas referentes aos ele-vados principias da arte, seu salutar influxo sobre os cos-

Page 11: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

-7-tumes, bem estar e prosperidade das classes laboriosas,apparecem apenas de passagem sem encontrar echo nasdiversas espheras de actividade da nossa vida social, sempoderem vencer a indifferençn geral, que se oppõe pelainércia á creação de escolas d 'arte applicada e de museusd'arte industrial.que franqueiem exposições permanentesdas prod ucções dessa opulenta fonte de riquezas, fecun-dada pelas bellas-artes, e sem ao menos poderem des-pertar interesse activo e efficiente na questão capital,entre nós tão descurada, da diffusão, na mais larga es-cala, do ensino do desenho elementar - lhe root ar all-nas massas populares, por meio das escolas primarias.

E V.Ex. sabe tambem qlle essa difficuldade assumemaiores proporções e tor na-se mais embaraçosa, quando,não se tendo de cogitar da organização de um planogeral e systematico de boa ed ucação artistica, que im-porte uma reforma completa e radical do ensino dasbellas-artes e que tenha de ser posta em execução com oauxilio de todos os mais amplos meios necessarios, setrata apenas, de na escassez ou deficiencia desses meios,reformar parcialmente, decretando modificações ou re-toques, que corrijam defeitos de um reg imen, em grandeparte condemnado pela experiencia e pelas exigenciasdo ensino moderno.

Não obstante, como o Aviso, sobre o qual a Congre-gação tem de informar, depara favora vel ensejo deintentar uma modificação parcial, no ensino artistico,da qual se deve esperar que possam provir reaes e se-guras vantagens para melhoramento e aperfeiçoamentodesse mesmo ensino, cumpre aproveital-o, investigandoantes de tudo se convem, nas condições em que nosachamos, promover lima ampla reforma no plano deestudos e em todo o regimen, que vigoram na actualAcademia das Bell as-Artes, ou se essa reforma se develimitar á modificação isolada qne é suggerida pOl"aq uelle mesmo Aviso.

Entrarei, pois, desde já nessa investigação singela-

Page 12: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

-8-mente, reduzindo a discussão do objecto a seus precisostermos, evitando toda di vagação e prolexidade, e dizendode modo simples e laconico o meu parecer, com acerteza de que nascerá da discussão deste assumpto, noseio da Congregação a benefica e serena luz necessariao .,á boa orientação da questão,

Depois desta consideração me será permittido dizer,que, desde que a observação da marcha dos factos, con-

firmaudo o que eu havia previsto, me trouxe a firmeconvicção de que a reforma promulgada pelo Decreton. 2,424 de 25 de Maio de 1859, que alterou variasdisposições dos Estatutos vigentes, não correspondia,em seus resultados praticos, aos intentos de seus pro-motores, eu me pronunciei pela necessidade de umareforma que estivesse mais em harmonia com as novasnecessidades do ensino, e com as imperiosas exigenciasdo espírito e das aspirações da epocha.

Na verdade, aquella mal aconselhada reforma par-cial, instituída de modo tão pl'ecoce e extemporaneo,quanto era destituiria dos meios praticos essenciaes aseus fins, pelo mencionado Decreto, e para a qual possodizer que não collaborei senão mui ccnstrng idurnente,de modo mui limitado e quasi nul lo, tendo, como teveessa mesma reforma, por fim principal dar desenvolvi-mento e execução a uma disposição regulamentar,creando, como creou, o curso nocturno, destinado aoensino ind ustrial, não consegui u mais do que mutila rsem vantagem, e em grande parte desorganizar o queestava preceituado nos Estatutos promulgados pelo De-creto n. 1603, de 14 de Maio de 1855, devido á beminspirada e creadura acção administrativa de um escla-recido varão, o Sr. Conselheiro Luiz Pedreira do CouttoFerraz, hoje Sr. Visconde de Bom Retiro, q ue, quandoMinistro do Imperio, havia em seu alto criterio, com alucidez de uma superior mentalidade, ponderado as van-tagens de dar novas condições de vitalidade á nossaentão decadente Academia das Bellas-Artes, fazendo

Page 13: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

-9-que el la, convenientemente reorganizada, pudesse, nodesempenho de sua util instituição, contribuir efficaz-mente, dentro da 01' bi ta q ue lhe era traçada, ou deu tI'Ode sua limitada esphera de acção, na grande e meritoriaobra de promover o progresso da arte no paiz, por meio nãosó da propagação e aperfeiçoamento do eusino theoricoe pratico dos conhecimentos artisticos, tendo como umdos seus primeiros objectivos combater os erros intro-duzidos em matei-ia de gosto, como tambem da boaapplicação das materias que formavam o plano do seuespecial ensino artistico, á iudustria nacional, de modoque todos os artefactos da iud nstria brazileira revelassem,na pureza e correcção da fórrna, o genuino cunho dobenefico influxo das bellas-a rtes, indispensa vel á per-feição de suas condições estheticas.

Esse Decreto (o de 14 de Maio de 1855) que, dandonovos Estatutos á Academia das BeIlas-Artes, revelavao alto estalão da sabedoria do Gover'no, promulgou, coma mais competente col laboração de um eminente artistanacional, de saudosissima memoria, que me seja per-mittido consagrar-lhe aqui um trihuto posthumo damais respeitosa admiração, declinando o venerando nomede Manoel de Araujo Porto Alegre, depois Barão deSanto Angelo, uma mui adiantada reforma, que firmoue estabeleceu pela primeira vez, de modo bem definido,no Brezi l, os solidos fundamentos da verdadeira edu-cação artistica, fazendo que a arte fosse encontrar a suabase essencial na sciencia concreta; e isso porq ue já aesse tempo os illustrados propugnadores dessa impul-sionadora reforma tinham pleno conhecimento de quesem sciencia, corno bem diz Herbert Spencer, não pódehaver trabalho perfeito nem apreciação justa, porquantoella é necessaria não só para ai; prod ucções artisticas demaior exito, mas tambem para a completa apreciaçãodas bellas-artes.

E, em homenagem á verdade, cumpre dizer queessa bem elaborada reforma, que nunca entrou em plena

2

Page 14: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 10 -

execução por diversas causas que não vêm ao caso dis-cutir, inspirando-se nas verdadeiras necessidades dainstr ucção artistica, instituiu na Academia o ensinoregular e organizado da perspectiva e da theoria dassombras; e, comquanto essa. reforma que assim veiu darnova vida á Academia imprimindo-lhe impulso accele-rado, ti vesse tido contra si a obsti nada reacção do espi-rito de rotina, energicamente sustentado pelos adeptose sectários do velho regimen tradicional da antiga es-

'cola q ue consideravam profanada, os resultados colhidosem todas as aulas, e mórmente na a111a de mathematicasapplicadas e na de desenho geometrico e industrial, quelhe era complementar, foram de todo mui satisfactoriose nimiamente animadores, como ainda está na memoriade muitos e ainda se póde verificar pelo exame dos bonstrabalhos escolares produzidos nos concursos que entãohavia no curso de perspecti va e theoria da!'; som bras,com mettido, na parte geometrica, o es tas d nas aulas,em virtude do preceituado na Secção XIV, arts. 47 e 48dos Estatutos de 1855.

Esta verdade innegavel depõe altamente em abonodaquella mesma reforma e da manifesta utilidade doensi no como foi estabelecido naq uellas duas aulas basi-lares; e se eu fosse obrigado a fazer n'urn traço essenciala synthese do elogio desse ensino especial da theoriageometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastariadizer que foi nessa fonte crystalina q ue um moço talen-toso, que já dispunha de uma certa instrucção prelirni-nar por ser pensionista no Imperial Collegio de Pedro IT,recebeu, assim como receberam muitos outros q ue sedistinguiram, as primeiras informações scientificas dessasmaterjas que tanto contribuiram para o esplnedidodesabrochar de um raro talento artistico, dotado devastas aptidões do mais fino quilate, que o fizeramdentro em pouco salientar-se, na illuminada esphera daarte, com o nome nobilitado de Pedra Americo, hojemestre laureado e festejado, de repu tação colossal.

Page 15: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

-11

Infelizmente essa fecunda reforma não foi devida-mente compl,tlhendida ~ tramou-se contra a sua perma-nencia, em pregando-se esforços para se lhe offuscar omerito da acertada orientação que dia dava ao ensinoartistico, e viveu uma curta vida transitoria inteira-mente desajudada das providencias complementares,essenciaes a seu desenvolvimento, até que, depois deexistir apenas quatro annos, foi em grande parteannullada com a promulgação da reforma de 1859,

Esta outra reforma, dando, como acima disse, umanova organização ao ensino, dividiu-o em dous cursos,um diurno e outro nocturno ; e assim, em vez de avigo-rar, robustecer e firmar o que já tanto promettia, e quequando muito reclamava desenvolvimento e consoli-dacão, desmontou o que havia sido, com tanto acerto etão felizes inspirações, anteriormente estabelecido, em-bora ainda a esse tem po existisse como que a penasiniciado,

O desacerto da reforma de 1859 resalta á evidencia,desde que se considere que foi installado o curso noctur-no, na Academia das Bellas Artes, destinado principal-mente ao ensino do desenho industrial e do q ue pudesseaproveitar á applicação da arte ás varias industrias,sem que no paiz estivesse generalizado o ensino dodesenho elementar por meio de numerosas escolasespeciaes e sem que existissem 'outras indispensáveiscondições de bom successo para esse ensino, que assimsophismado, pois qlle até lhe faltavam os precisos recur-sos materiaes, tão mal se havia de adaptar a um estabe-lecimento do genero da Academia, e ali necessariamentetão illusorios resultados havia de produzir sem quese pudesse attingir o louvavel intento que se tinha emvista.

Fazendo se assim, como se fez em 1859, é evidenteque não se começava pela raiz ou por onde se devia co-, meçar ; mas, seguindo-se um caminho errado, .architec-tava-se uma ficticia escola industrial, desprovida de

Page 16: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

-- 12-

meios, incompleta, viciosa e desharmonica, mal enxer-tada na Academia das Bellas Artes, e tão esteril em seusresultados praticos, como illusoria em sua aeção e influen-cia, só tendo o triste merito de lisonjear a opiniãodaquelles que julgam que a salvação nos ha de vir dareforma das escolas superiores e secundarias, quando oremedio está unicamente na instituição da boa escolaelementar ou primaria, o alpha, sem contestação, da sãreforma de todo o movimento intellectual do paiz,e só daqual f.•u te original nos hão de provir os elementos consti-tutivos da larga base fundamental indispensável á boaeducação do senso artistico do povo: o que a Academiadas Bellas Artes por si só nunca poderá conseguir, pormais extensos que sejam os seus meios e por activa qneseja a e:fficacia de sua acção ed ucadora.

E ao passo que essa reforma de 1859, inspirando-sepor outro lado no absurdo da creação de um curso diurnode exclusivo ensino artistico sem a rigorosa exig'enciade largos estudos de modelo-vivo, estatuia que o cursode anatomia e physiologia das paixões se fizesse em dousannos (o que, seja dito de passagem sem intenção de me-lindrar, nunca se executou, assim como não se havia sóuma vez observado a disposição expressa e fertilissimado art. 43 dos Estatutos referente á obrigação impostaaos alumnos de sob a inspecção do respectivo professor,desenharem e esculpirem ossos e musculos), essa mesmareforma preceituou que o curso das duas aulas de mathe-maticas applicudas se fizesse em um só anno, como sefosse possivel e praticavel ensinar com proveito, n'um sóanno lectivo ou escolar, qualq uer especie de perspectivalinear e de theoria das sombras geometricas, a alumnosdo primeiro anno, quando elles não conhecem a maisleve noção de geometria e de optíca, visto que entrampara a Academia sem nem ao menos possuirem a menor

.educação preparatoria em desenho elementar.E não é tudo, porquanto o art. 7° dessa mesma re-

forma annullou o que dispunha, damo do tão vantajoso

Page 17: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 13-

ao ensino, a ultima parte do art. 47 dos Estatutos de1855, em relação aos concursos de perspectiva e theoriadas sombras, e prescreveu que s6 tomassem parte n'essesconcursos os alumnos da segunda aula de mathematicasapplicadas, isto é, que esses concursos, em vez de seremgeraes entre todos os alumnos da Academia, s6 fossempara emulação dos principiantes. Assim tão profunda-mente modificada essa aula em suas condições e regimen,como não passar a produzir ella resultados graphicos detheoria geometrica das sombras e perspectiva linear,mui acanhados e mesquinhos, quando nel la se tem degastar, como se gasta, grande parte do anuo com o en-sino preparatorio e m ui elernen tar do desen ho geometrico,a moços que para el las entram sem ao menos saberemaparar um lapis ?

Demais, entrando esses moços para a Academia, pelamaior parte, nas condições de apedeutas, porquantoiniciam a matricula quasi que anal phabetos e pouco maissabendo que contar pelos dedos (do que é prova irre-cusavel o excessivo acanhamento que mostram nosexames) como poderá o professor da primeira cadeira demathematicas applicadas completar em um só anno ocurso de suas licções, professando, embora de um modoelementar, arithmetica, geometria, trigonometria, me-chanica e optica ? O resultado necessário e fatal desse re-g imen é que o respectivo professor consome quasi todo otempo ou a maior parte do anuo lectivo com a demoradae vagarosa exposição dos elementos da sciencia dos nu-meros, dá por fim algumas licções de rudimentos de geo-metria plana e vê-se obrigado a omittir tudo mais quefaz parte das ma terias da sua cadeira; e lá' se vai um ououtro alumno approvado, havendo apenas aprendidonessa au Ia umas noções abstractas de arithmetica e geo-. metria elementar, cursa!' a aula de architectura, ondetem de estudar a architectura civil, abrangendo (art. 21dos Estatutos) tudo que for relativo ao caracter e com-posição dos edifícios, á eury thrnia., á construcção, distri-

Page 18: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 14-

buição e orçamentos aos mesmos, sem a mais leve noçãode calculo algebrico, sem saber levantar a planta deum terreno, nem fazer o nivelamento delle, sem a menornoção de estereototomia, sem conhecer o principio maiselementar de equilibrio, de resistencia dos materiaes,emfirn, sem as necessarias noções de mechanica pratica.

N essas tristes e mesq ui nhas cond ições de deficieuciade conhecimentos basilares, que sorte ou q,ne especie dearchitectura civil poderá el le aprender ou lhe ser ensi-nada de modo a merecer depois o titulo de architecto ?

Escusa dizer que a menção destes factos não envol vecensura alguma ao pessoal docente, porquanto a exis-tencia delles só depõe exclusivamente contra o regimenregulamentar, que estou analysando de passagem no in-tui to de chegar a esclareci meu tos necessários á questãode que me occupo.

Os fructos legitimas de uma tão viciosa organizaçãodo ensino da Academia se tem manifestado por diversosmodos e principalmente na escassez dos resultados dasduas aulas de mathematicas applicadas, que depois de1859 nunca mais foram tão animadores como eram antes

" , dessa infeliz reforma, com quanto uma pleiade de dis-tinctos artistas, á frente dos quaes muito se salienta Ro-dolpho Bernardelli, tivesse feito com fructo, na segundadessas aulas,a sua apprendizagem e alli adquirido conhe-cimentos scientificos não abstractos, mas concretos, quelhes proporcionaram meios de dar seguros os primeirospassos em sua brilhante carreira artistica com tantolustre para a nossa Academia de que são filhos.

Depois desta ligeira e mui superficial analyse dadefeituosa organização actual dos estudos, na Academiadas Bellas-Artes, não se deve extranhar que eu, com afranqueza que me impuz para bem servir á cansa pu-blica, reprove o que alli subsiste feito em relação aoensino, e me pronuncie sem hesitação pela necessidadeimrnediata, tão palpavel quão imprescindivel, de umareforma completa e radical d'esse mesmo ensino .

Page 19: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 15-

E V. Ex. melhor do que niug uern está no caso de medar plena razão neste meu modo de vêr e neste meufranco pronunciarnen to, porq nan to, havendo acompa-nhado com esc larecida attenção a marcha do ensino naAcademia, acha-se não só informado pela propria ob-servação dos factos, como pela longa exposição escri ptaque, a 6 de Fevereira de 1875, tive a honra de submetterá elevada apreciação de V. Ex., descrevendo o deficientee vicioso estado do ensino de qlle agora de novo meoccupo, como alem disso ta mbern sabe qne, pensando jánaq nelle tempo como agora penso, tomei a mim a a rd úaincumbencia de elaborar ~ projecto de reforma, queapresentei logo depois organizado, e que se não vingounão foi por falta de bem intencionados esforços de V. Ex.;mas sim porque actuara.m causas poderosas totalmenteextranhas á illustrada direção da Academia.

Me parece não ser necessar io accrescentar mais nadapara demonstrar q ue os verdadei ros i IIteresses da ins-trucção artistica exigem e estão imperiosamente recla-mando que se attenda á necessidade palpitante e lll'gentede uma tão geral quão profunda reforma nesse mesmoensino, como de ha muitos annos grande numero defactos está evidenciando. Esta necessidade, posso affir-mal-o com pleno conhecimento de causa, é de vultomuito maior do que parece quando se attende simples-mente ao lisonjeiro facto de um certo gráu de progressomui sensivel que as artes manifestam no nosso paiz,progresso esse, porêm, que é principalmente devido acertas causas efficientes que a té certo ponto tem su-perado a innegavel deficiencia de um bom plano deensino artistico.

Mas para que essa reforma seja fecunda em seusresultados e não nos traga amargas decepções, é indis-pensavel que ella comece pela base, isto é, ella devecomeçar pela conveniente reorganização da instrucçãopublica elementar e secundaria, em relação ao ensino dodesenho, de sorte que o aspirante a cultura da arte faça

Page 20: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

16

uma parte do caminho fóra da Academia, ou que antes deen trar nesse estabeleci men to de instrucção artistica de-vidamente organizado de accordo com as exigenciasmodernas do ensino artistico, tenha passado com proveitopor uma serie de phases do ensino preparatorio, ou porinfalliveis provas que sejam testemunho irrecusavel deseu talento e de sua pronunciada vocação: se não possuiressas condições essenciaes, não deve entrar, ou, melhor,não deve vir concorrer aos premios e recompensas offi-ciaes, porque a Academia não é nem deve ser escola ondese façam experieucias do genero das que se podem fazerem escolas preparatorias.

Por esse meio 011 por meio de uma acertada classi-ficação previa e preparatoria, assim feita das aptidõesnaturaes de cada um, se conhecerá quaes os que convêmencaminhar pam o estudo do desenho applicado á indus-tria nos seus variados ramos, ou para a apprendizagemdo desenho applicado ás artes industriaes, que deverãoir cursar u'uma escola especial d'arte applicada, quecumpre crear no paiz sem ter nada de commum com aAcadernia ; e quaes aquelles que devem ser encami-nhado" para o al to estudo classico da fórrna, na Academiadas Ballas-Ar tes, recons tituida de modo que, sem serrigorosamente uma escola classica ou de tradição, votadaao culto exclusivo da idolatria da fórma, vote um en-tranhado culto da mais alta admiração á arte antiga,fornecendo copiosamente ao mesmo tempo todos os meiosinui:'lpensaveis ao artista para que elle possa attingir oo mais pleno successo em todas as manifestações esthe-ticas interpretativas do ideal moderno,

Se a reforma no systhema de ensino destinado aos queaspiram a ser' artistas, estudando na nossa academia dasBellas Artes, não Iôr assim feita no proprio interesse emaior proveito da arte e do paiz, de sorte que esta neces-saria selecção deva estar completamente feita antes de co-meçar a ser ministrado o ensino academico áquelle quese proponha a cursar reg ularmen te as aulas,' e a Aca-demia, por melhor que seja a sua reorg anização, pretenda

Page 21: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 17 -

continuar a fazer por si a escolha entre o trigo e o joio,perderá o seu tempo, falseará o papel que lhe está desig-nado pela moderna opinião dos mais esclarecidos e compe-tentes, e se degradará, chegando apenas a produzirresultados que ficarão muito a quem do que della se deveesperar para que torne realmente util ao progresso dasbellas artes e assim preencha seus elevados fins.

Mas nós, nas condições em que estarnos, nem podemospensar em fazer essa complexa reforma que, para ser in-teiramente proficua nos levaria a sacrificios pecuniariosabsolutamente incompativeis com a actual estreiteza derecursos financeiros do Thesouro, porquanto para queessa reforma criteriosamente elaborada, podesse ser postaem execução com o alto intuito de crearmos uma verda-deira escola moderna de bellas artes, seria preciso e es-sencial cogitar solicitamente, primeiro que tudo, nosefficazes meios necessnr ios ao effectivo estabelecimento dalarga e firme base que lhe é indispensavel com a diffusãodo ensino elementar do desenho; seria preciso que as con-dições economicas do paiz comportassem a adopção de umsystema de instrucção artistica baseado na creação demuitas escolas elementares de bom ensino de desenhopreparatario, tendo como missão especial introduzir osindíspensaveis elementos da arte na educação publica,completando assim com esse conhecimento artistico ecomplemento essencial, a instrucção publica e a educaçãonacional; systema baseado na creação de uma escolanormal especial para ed ucação de um corpo profissionaldestinado ás escolas d'arte applicada e elementares dedesenho; e na effectiva educação do senso artistico dagrande maioria senão da totalidade do povo, por meio demuseus publicos d'arte appicada á industria, em que cadaum podesse de dia ou de noite, nas exposições perma-nentes franqueadas por esses museus, educar e formar ogosto.

Já se vê que esse conjuncto de medidas, que não sãomais do que aq uellas que, em maior escala, a poderosaInglaterra inaugurou, com maximo proveito de seu en-grandecimento, a partir de 1852, e que a Austria e osEstados-Unidos exploram sabiamente, opuientando as

3

Page 22: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 18

fontes de sua riqueza, estão, mesmo assim reduzidas auma esphera de menores proporções, muito e muito alémdos nossos eSCllSS0S recursos economicos e muito acimados nossos habites de iniciativa publica ou de acção col-lectiva e até mesmo da nossa comprehensão social; e queportanto, uma tal reforma, por mais auspiciosa e prornet-tedora que se nos mostre, por mais que nos possa se-duzir, ha de necessaria e fatalmente ser adiada para me-lhores tem pos.

Não se podendo, pois fazer essa reforma geral, inda-guemos se convêm reformar parcialmente a organizaçãoactual do ensino da Academia.

Essa organização é, como ficou demonstrado, tão im-perfeita, incompleta e deficiente, que toda e q ualq uermodificação q lIe possa corrigil-a, supprirnindo-lhe as Ia-cunas e defeitos, deve ser acolhida de boa vontade,mesmo quando só venha melhorar pnr te limitada da-q uelIe mesmo ensino,

Neste caso está não só virtualmente como pela proprianatureza do objecto comprehendida a idéajudieiosamentesug'garida pelo Aviso, cujo exame veio dar logar a estadiscussão, comquanto se possa dizer que o supra referidoDecreto, de 25 de Maio de 1859, já houvesse creado, nasegunda aula de mathemuticns applicadas, pertencenteao curso diurno, uma aula de sombras e perspectiva,na qual se deve estudar a parte geometrica e linear destasmaterias, reservando-se, como se tem feito, o estudo ex-perimental da theoria physica das som bras 011 da theoriado claro escuro e da perspectiva aerea , pará a aula depaizagem, por ser esta ultima a un ica aula de desenho epintura que fornece (art.34 dos vigentes Estatutos) vastocampo para o estudo da natureza,onde os alu mnos adim-tados podem, fóra do recinto da Academia, e guiados peloprofessor artista, estudar com vantagem tudo-que possa

- depender de um atilado e exercido espirito de observaçãona reproducção iconica dos effeitos de luz, claros,sombras,penumbras, reflexos, e chromatica.

Antes de proseguir seja-me permittido aqui dizer quequem não estudar attenta e minuciosamente esta questãoserá induzido em erro, presumindo que a referida reformade 1859 organizou esta parte do ensino de modo completo

Page 23: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 19-

e perfeito, visto que, á primeira inspecção, parece que oestudo scientifico e o estudo artistico são feitos com todoo necessario desenvolvimento, de sorte a nada deixar adesej.rr ,

O engane, porem, não póde ser maior, porquantobasta vêr que o estudo da theoria geometrica das sombrase da perspectiva linear tem de ser feito, como já disseacima, p=Io alumno principiante ou pelo alumno do1° anuo, depois de haver esse alumno 'consumido grandeparte do anno lectivo na apprendizagem do desenho geo-metrico, sem se poder previa e devidamente habilitar nosconhecimentos elementares de geometria e optica, quelhe são absolutamente essenciaes, como conhecimentosbasilnr es ; e, alem dessa grande desvantagem, que nãolhe permitte fazer senão um estudo muito limitado equasi empirico das sómbras geometricas e da perspectivalinear, esse aluruno vae fazer ao mesmo tempo (parece in-cri vel !) no mesmo primeiro anno, em virtude da pri-meira condição do art. 4° daquelle mesmo Decreto de 25de Maio de 1859, o estudo das sombras physicas e daperspectiva aérea, copiando a natureza nos exercicios etra balhos da aula de paizagem, estudo artistico esse,complementar e mui importante, do estudo das sombrasgeometricas e da perspectiva linear, que o mesmo alumnoprimeiro annista pode até fazer, cursando a aula depaizagem, flores e anirnaes, como lhe faculta aquellacitada primeira condição, sem haver anteriormente cur-sado as duas aulas de mathematicas applicadas nemmesmo uma simples aula prepara to ria de desenho ar-tistico, em que se tenha habilitado na copia dos gessosou de objectos em relevo e vulto. Isto ou esta amalga-mação choatica de estudos desordenados, truncados esem base nem gradação serial, é estupendamente ab-surdo e admiravel, e por si só é bastante para que sejain limine condemnada aquella impensada e quasi perni-ciosa reforma.

E se quizessemos mais uma prova do que affirrno, nósa· encontraríamos na disposição do art. 7° do citado

Page 24: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 20-

Decreto, a qual estatue que «nos ultimos dias de cadatrimestre de ensino haverá o concurso de perspectiva etheoria das sombras de que trata o art. 47 dos Estatutosentre os alumnosque frequentarem a segunda aula demathematicas applicadas.»

«Este concurso será presidido no primeiro trimestrepelo professor da primeira cadeira de mathematicas; nosegundo, pelo da segunda cadeira de mathernaticas ; eno terceiro pelo de archi tetura. »

Tres apparatosos concursos de auirnação eutre alumnosque, durante quatro ou cinco mezes não podem fazer maisdo qtle gastar papel, tentando os incertos e primeirospassos na apprendizagem do desenho geometrico que ellessem preparo algum anterior vem apprender na Aca-demia das Bel las-Artes !

Isto, seja-me permittido dizer, não tem qualificação;e o resultado foi que tal disposição nunca recebeo nemprincipio de execução, nunca foi observada e cahio in-teiramen te em desuso, por que foi desde logo consideradacomo absolutamente impraticavel.

Voltando ao ponto de partida, proseguirei dizendoque o verdadeiro interesse de um bem organizado ensinoartístico exige quese dê ao ensino da perspectiva nmlegar mui proeminente, e que se cogite efficientementede seu desenvolvimento, consagrando-se-Ihe um cuidadoespecial.

E por mais exaggerada que pareça esta al ta i m por-tancia que ligo ao estudo da perspectiva, ella encontra,a sua mais plena justificação na opinião esclarecida dosmais abalizados mestres e no facto innegavel de fornecero estudo da perspectiva um conhecimento basilar, utile indispensavel a todos os que procuram cultivar o en-tendimento; porque ella ensina a vêr, bem utilizando osorgãos visuaes, e premune a intelligencia contra os in-nevitaveis erros que podem provir das illusões d'optica,visto que s6 nos é dado observar formas apparentes enunca formas reaes ; e, em muito mais alto gráu, ella é

Page 25: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 21 -

de maxima utilidade a todos aq uelles que se occupam dein vestigações que dependem de percepções ministradaspelo sentido da vista, que de todos os sen tidos é o maisenganador.

Esta apreciação do grande valor intrinseco do estudoda perspectiva não estando sufficientemente vulga-rizada, me obriga, não a doutrinar aqui, fazendo umaprelecção sobre o ponto, mas a entrar em alguns ligeirosdesenvolvimentos justificativos dessa minha convicção.

Na verdade a perspectiva apreciada em sua essenciaespeculativa e em sua applicação ás artes do desenho,pode ao mesmo tempo ser considerada como sendo umasciencia concreta e uma arte liberal. E' uma scienciacujos principios e preceitos são logicamente estabele-cidos e demonstrados, e cujos methodos deductivos nosconduzem áiuvestigação da verdade, interpretando osfactos objectivos da visão, concernentes á variação daa pparencia da fórrna, sem que lhe falleça o necessariocaracter de certeza e previsão; e é uma arte graphica ede imitação, cujo fim é illudir a vista por meio de operações lineares, construcções geometricas, recursos gm-

phicos e processos chromaticos, que se subordinam aprincipios rigorosamente geometricos e physicos.

Esta verdade escholastica, que' os mais competentesacceitam sem restricção, tem feito que muitos mestres eprofessores de grande nomeada affirmem com DavidSutter, que a sciencia da perspectiva, essencialmenteligada á da optica é uma das mais bellas, mais seduc-toras e mais uteis applicações da geometria. E por certo,considerando a perspectiva linear como uma simples ap-plicação da theoria das projecções cylindricas, póde-sedizer que dentre todas as applicações tão variadas e fe-cundas da geometria, não ha nenhuma mais attractivado que a perspectiva theorica e pratica, porquanto, in-dependentemente de seus usos e prestimos essenciaesn'uma arte cheia de encantos, como é a pintura em seusdiversus ramos e manifestações, ella por si só captiva e

Page 26: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

22 -

seduz a imaginação pelo fim immediato de seus pro-blemas relati vos á determinação das imagens, ella exer-cita ao mesmo tempo a penetração do discernimento,torna mais intensivo o espir ito de observação, contribuepoderosamente para melhor assimilação dos factos vi-suaes, e realiza a feliz alliança do util ao agradavel.

Mas é tambem sabido que os pintores, não se pro-pondo senão a representar em seus quadros, paineis escenographias, objectos e si tios pittorescns, recorrendonesse propo$ito a certos processos particulares e mui pe-culiares, que muito simplificam as construcções geo-métricas, e fazendo alem disso uso permittido de certasaberrações das regras geraes, tem feito da perspectivalinear uma arte g'l'aphica especial, arte que equivale amui poderoso instrumento da faculdade imaginativa doartista, e cujas regras peculiares devem ser estudadascom grande desenvolvimento, maximo cuidado e demodo a bem se lhes comprehender o espirito para sepoder fazer na pratica uma judiciosa e acertada applica-ção das mesmas regras,

O distincto geometra T, Olivier, n'uma interessantememoria sobre a perspectiva linear, considerada comouma das applicações da geometria descriptiva, demon-stra até a evidencia e faz vêr do modo o mais claro e omais completo, como os principios fundamentaes e osmethodos graphicos da perspectiva, considerados sob umpouto de vista mais geral e generalizador, podem serempregados util e vantajosamente na indagação e des-coberta de certas verdades g'eometricas; e que isto sepoderá praticar seguindo o exemplo de diversos geome-tras antigos que fizeram da perspectiva linear um e:ffi-caz instrumento de uso mui frequente em suas investiga-ções, no dominio da sciencia da extensão, em cujo campo,procurando resol ver alguns problemas relativos á posi-ção, forma e grandeza, e indagando quaes as simplifica-ções que as construcções comportam, chega-se muitasvezes a descobrir certas verdades e propriedades geome-

Page 27: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 23-

tricas de reconhecida importancia para o progresso dosconhecimentos exactos.

Além disso, a perspecti va linear considerada espe-culativamente como um desenvolvimento da geometria,descriptiva a projecções cylindricas orthogonaes, ampliaimmensamente o campo desta sciencia com os multipli-ces recursos da theoria das projecções conicas, estereo-graphicas ou polares.constituindo, no vasto dominio dageometria projectiva, a interessante theoria das figurashomographicas.

O sabio professor De La Gournerie , na sua excellentegeometrie descriptiva e no seu precioso tratado de per-spectiva linear, evidencia, fazendo judiciosas considera-ções, que a parte geometrica da perspectiva é de umprestimo valiosissimo e de auxilio indispensavel para osque estudam as sciencias exactas e muitas outras que de-pendem de algum modo das artes graphioas.

Monge, Vallée, Leroy, Ohasles, Mannheim e muitosoutros sábios geometras e distinctos professores, abun-dam nas mesmas ideas ; tanto deve bastar para quepossamos affirmar que a perspectiva l inear é de umairnportancia incontestavel e de uma utilidade inconcussapara os que estudam a mathematica abstracta e con-creta ; assim como esse estudo de concepções scientificasde perspectiva linear, completado com o da perspectivaaerea, constitue o mais essencial e opulento cabedal deconhecimentos artisticos, sem possuir o qual ninguempode nobilitar seu nome na esphera da arte, merecendode vidamente o ti tulo de pin tor,

A estas opiniões tão auctorizadas se pode accrescentarque todos os que tem estudado geometria a tres d imen-sões sabem, por experiencia propria, que a maior diffi-culdade que estorva esse estudo provem principalmentedo embaraço que se encontra em bem en tender os dia-g rarnmas da geometr ia no espaco, q uando não se possueconhecimentos elementares, mesmo que sejam de todoempiricos, de perspectiva pratica.

Page 28: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 24-

. E se depois de tudo isto reflectirmos que o astronomonão pode dispensar o auxilio que lhe presta a scienciadas apparencias ou a perspectiva linear, na interpreta-ção dos factos geometricos que se passam nas regiõessideraes, onde se lhe deparam innumeros phenomenoscuriosos q ue se prendem ao aspecto sempre tão illusoriodo espaço incornrnensuravel , visto que ella, educando osórgãos visuaes, hahilita o ohservador a hem comprehen-der e explicar as illusões d'optica e os effeitos da visão,attinentes á direcção do movimento, posição relativa eapparencia ficticia dos astros, estudados no campo admi-ravelmente positivo da geometria celeste; e se reflectir-mos mais qne não se pode pôr em duvida que os enge-n hei ros e constructores, do mesmo modo que os archi-tectos precisam indispensavelmente da perspectiva para,por meio de um só desenho estereographico, fazer julgare apreciar com antecipação o aspecto architectonico ecaracter architectural dos edificios que tem planejado ee projectam construir, fica-se no caso de admittir comoplenamente justificada a importancia que ligo ao valorintrinseco e á grande utilildade geral do estudo da per-specti va .

Deixando, porem, de lado como se não viessem a peloou como sendo ex trinsecas todas estas considerações rela-tivas a essas applicações mais ou menos scientificas, daperspecti va, no q ue concerne as profissãos extranhas ásbellas artes, ou que com ellas só tem mui fracas relaçõesde affinidade, façamos que a questão fique estrictarnentelimitada ao circulo exclusivo da educação puramenteartistica, e vejamos se nesse campo delimitado de cultu-ra esthetica a perspectiva, considerada apenas comosimples arte especial de imitação, diminue de importan-cia e prestimo .

Jean Thomas Thibault, artista pintor e architectode altos merecimentos, membro do Instituto de França,sabio professor da Escola Real de Bellas-Artes, n'urnresumo da histeria da perspectiva, com que prefacia a

Page 29: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 25-

sua excellente obra intitulada-Applicação da per:spe-ctiva linear ás artes do desenho-pondo em relevo toda aalta importancia do estudo theorico e pratico da per-spectiva na educação do artista, evidencia a incontes-ta vel utilidade desses estudos sem os quaes não se podeprogredir no exercicio da arte. Descrevendo a evoluçãoda perspectiva atravez da larga messe de conquistas daarte no vasto campo da civilização, desde as mais re-motas eras dos primeiros successos da pintura, na Greciae na Italia, até o começo do presente seculo, torna pal-pavel e manifesta a necessidade do estudo da perspectiva,que consideea como sendo um dos primeiros elementosda pintura, por ser a mais real e poderosa mola da il lusãoe a mais firme, opulenta e fecunda base da composição;e assim faz resal tar a importancia daquelle estudo ba-silar que a alta mentalidade, quasi universal, do grandemestre Leonardo de Vinci tanto exaltava e ennobreciaque começa o seu ainda hoje estimado tratado de pintura,dizendo: «Que o jovem discipulo deve primeiramenteapprender a perspectiva, para dar a cada objecto suaj nsta proporção. l)

Não se pode duvidar que foi assim começando e pro-seguindo no desenvolvimento do estudo da arte queensina como variam as apparencias, segundo dadas cir-cunstancias, que brilharam os grandes mestres, produ-zindo, com o auxilio da sciencia por esse modo reunidaá arte, obras primorosas que sobresahiram pela bôaobservaucia das regras da perspectiva na fiel reproducçãoimitativa da apparencia dos objectos. O divino Raphaelapprendeo a perspectiva sob a direcção de Bramante;Ticiano, Paulo Veronez, os Carrachos, Dominiquino,Mignel Angelo, Poussin, Claude o Lorreno, Lesueur, etc,fizeram da perspe ti va um estudo aprofundado, visto quetodos reconheciam que ella é indispensavel a todos osgeneros de pintura, de esculptura, de architectura, degravura e de decora cão ; e alguns desses festejadosmestres produziram quadros preciosos que ainda hoje

4

Page 30: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 26 -

são excellen tes tratados praticos de perspecti va artística.A sabida passagem historica do concurso da esta tua

de Minerva, encommendada pelos athenienses a Phidiase Alcameno, salienta a utilidade do estudo da perspe-ctiva para o estatuario. A importante e interessantissimatheoria geometrica da perspectiva relevo, consti tuidapelas cogitações de Poncelet, Poud ra, Chasles e De LaGournerie, para dirigir o artista na obtenção dos effeitosde perspectiva nos baixos e altos relevos, torna evidenteo grande proveito que o escul p tor póde tirar da appli-cação da perspectiva á boa execução de um trabalhoartistico que seja con ven ien te ao Ioga r mais ou menosalto que é destinado a esse trabalho, como attestam nascondições de provas irrecusaveis, segundo opiniões au-ctorizadas, as admiraveis obras do habil esculptor JeanGougeou e muitas outras de mestres ornarnentistas edecoradores afamados.

Os gravadores encontram na perspectiva, como ésabido, -os recursos necessarios para bem disporem aslinhas de curvatura das superfícies, e dai' a divida dis-posição e direcção aos talhos que exprimem os claros,as sombras e os reflexos, fazendo parecer salientes ourein tra n tes, convexas, conca vas ou pla nas as d ifferen tesimagens dos objectos que querem imitar.

Emfirn, o architecto precisa do soccorro da perspe-ctiva para attingir á perfeição na sua nobre arte, por-quanto é só nas leis da perspectiva que elle encontra oseguro guia dirigente que lhe faz prever de modo certoo effeito optico que produzirá a execução do seu projecto,e assi m de antemão ou antecipadamente saberá se lhedeo as proporções favoraveis a esse previsto effeito, e seevitou racionalmente apparencias e aspectos desagra-daveis, evitando tambem o emprego de detalhes emotivos de ornamentação muitas vezes excessivamentedispendiosos e sempre inuteis quando não possam servistos.

Depois do que fica exposto pode-se considerar justifi-

Page 31: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 27-

cada a alta opinião que formo da importancia e utilidadeda perspectiva, de cujo estudo os artistas não podemprescindir, e devem portanto, fazel-o , em proveito dasua pro pr ia educação ar tistica, com a ma xi rna latitude eo mais amplo desenvolvimento, começando pelos indis-peusaveis principias scientificos que constituem os funda-men tos essenciaes das bel las artes o

Sendo assim, e estando a questão assente nestas con-dições, já se vê que nunca será demais dar, na nossaAcademia, maior desenvolvimento ao ensino da perspec-tiva ; e é PW isso que eu, applaudindo as louvaveis in-tenções do Governo Imperial, reveladas no Aviso de quese trata, me delibero a aux ilial-o com os meus emboraminguados recursos intellectuaes e todo o apoio moralda minha opinião, no tão plausivel empenho de melhoraraq uelle ensino, desen vai vendo-o, aperfeiçoando-o, e poresse modo alargando a esphera de benefica intervençãodaquelh mesma disciplina na obra meritoria de opu-len tar o verdadeiro saber artístico do artista braz ileiro o

Resta agora ver como se a tti ngi rá presen taneamen teá realização desse auspicioso desideraturn , conciliando asconveniencias da Academia, os interesses da boa instruo-ção artística e as difficuldades financeiras dos cofres pu-blicas que não permittem na actual idade augmentoalgum de despeza ,

Entrando nesse exame, começarei dizendo que isso sepoderá conseguir por meio de uma reforma decretadadentro dos rigorosos limites do orçamento vigente, pelomodo porq ue passo a expôr o

E' assim que estando actualmente vaga a aula depaizagem, onde, pela propria natureza dos estudos allifeitos, se vai necessariamente completar o estudo daperspectiva, estudando-se a perspectiva aerea na copiado na tural , pode ser essa aula, com grande vantagempara o ensino artístico, transformada de sorte que sejauma m ui proveitosa aula de ensino pratico da observa-

. ção e estudo das sombras physicas, desenvolvimentos

Page 32: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 28 -

graphicos da perspectiva pratica, e perspectiva aerea es-pecialmente applicada ao desenho e pintura de paizag.em.

Mas antes de proseguir na exh ibição detalhada doplano de reforma que tenho concebido depois de mehaver preoccupado com o attento exame da questão, soe-

correndo-me do que a longa ex periencia de mais de 31. annos de effectivo exercicio no magisterio da nossa Aca-

demia, a attenta e continua observação dos factos e areflexão me tem aconselhado nesse largo periodo, veja-mos se essa aqui indicada transformação tem algumajustificação ou si el la só se póde fazer de nm modo for-çado e a contra geito das sempre m ui attendiveis con ve-niencias do ensino.

Comecemos firmando um ponto de doutrina que muitoconvem assentar em bons principies.

A perspectiva aerea, considerada em sua essencia ex-perimental e em seu vasto campo de observação, não émateria que possa ser com proveito estudada em livros,no recinto circu mmurado de uma sala, sob a direcção dequalq uer que desconheça a pratica da pintura, mesmoquando o professor sej a um distincto geoll1etra ou umphysico nota vel.

Deve ser sabido que quando o illustre Monge,o sabiomathematico qne, reunindo u'urn só corpo de doutrinatodos os pri ncipios da arte do traço, creou com o nomede geometria descriptiva essa linguagem do artista e doengenheiro, o geornetra eminente, tão igualmente cele-bre pela pureza do seu gosto em materia de arte, comopela universalidade de seus conhecimentos scientificos,professava perspectiva,na Escola Polytechnica de Pa ris,elle, ao abrir o curso de suas prelecçõss, prevenia a seusouvintes, desde o começo da primeira licção, que não lhesdaria senão os elementos da sciencia da perspectiva aereaapplicaveis ao desenho de aguadas; e acrescentava qne,considerando-a em relação á pi n t ura, en tend ia que sóLeonardo de Vinci seria capaz de a ensinar.

Com effeito, se podessernos chegar ao' conhecimento

Page 33: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 29 -

das leis da perspeti VII. aerea e á plena comprehensão deseus preceitos, pelo exame e simples estudo experi-mental dos factos qlle todo mundo pode ob serva r, epela assimilação das leis da physica e da geometria, nãoseria d ifficil encon trar quem se achasse ha bili tado a eu-sinal-a; mas a perspectiva aerea, em suas estreitasrelações de affinidade com a sublime arte da pintura,nos leva muito alem, conduzindo-nos á investigação dosinuumeros e variadissimos tons de gradação dos clarose 'sombra:;, das côres e dos reflexos; e para irmos tãolonge na explqjação de campo tão amplo, e chegarmosá percepção clara e distincta de phenornenos physicos enaturaes tão extensos e complexos que, prendendo-seintimamente ao claro-escuro e ao colorido, dependem dosentido da vista applicado á observação delicada dessesmesmos phenomenos, é preciso que ella nos habilite aexaminarmos attentamente, por meio dos orgãos vizuaesdevidamente educados ou quando os org ãos da visãotenham pelo constante exercicro da copia exacta da na-tureza adquirido 11m sentimento milito delicado daapparencia dos corpos, uma exquisita perceptibilidadeocular, os effeitos reaes da luz directa e reflectida nasuperfície dos objectos, e a apparencia desses effeitos,apparencia que é sempre mui differente da realidade;e que nos habilite tambem a bem apreciarmos a uti-lidade de cada um desses factos, de tão difficil percepçãooptica, como elemento que nos auxilie na justa compre-hensão da forma, posição, côr e até da natureza physicadessas su perficies vizi veis.

Os notaveis e tão variaveis efleitos do ar na super-ficie da terra, os reflexos atmosphericos, a variedade deaccidentes de 1111:,a gradaç'ão e coloração aérea, todas asmutiplices cansas da visibilidade objectiva, as obser-vações sobre a lim pidez do ceo, sua apparencia con-cava, os effeitos pittorescos produzidos pela fumaça ecertos vapores tell u ricos, os p han tasticos e encan-tadores effei tos dos nevoeiros e das nuvens, os effeitos

Page 34: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 30 -

sdrniraveis de certos meteoros luminosos, os pittorescoseffeitos da atmosphera sobre os objectos que estãoa baixo do horizou te, a gradação da côr local e da in teu-sidade das sombras, a modificação da cõr pelos reflexos,o estudo dos contornos vagos e indecisos dos objectosao longe, a planimetria e horizontalidade das aguascalmas, as curiosas apparencias das aguas agitadas, sãooutros tantos interessantes assumptos de estudo que,reunindo o conhecimenlo intelligente do claro-escuro áverdade do colorido, alargam o legitimo campo da per-spectiva aerea applicada á pintura, campo essencial-mente ar tistico, cuja exploração depende de uma activasensibilidade visual delicadissima, de urna m ui ed ucadafaculdade de percepção ocular elevada ao mais altográu, e de um fino espirito de observação extremamenteexercitado pala constante pratica do desenho applicadoá fiel reproducção imitativa das apparencias.

Considerada assim, corno deve ser, na sua mais ele-vada importancia artistica, ella reveste-se do accentuadocaracter de disciplina technica, do mais subido valor iu-trinseco, que só poderá ser estudada, produzindo sazo-nados fructos, para a educação do artista, n'urna aula depaizagem, onde se façam amplos estudos de cópia dasbellezas e encantos visiveis da natureza, em pleno are sob a esclarecida direcção de um pintor que, conhe-cendo todos os recursos praticas e segredos da arte, amagia das côres, as leis do seu contraste e harmonia, atransparencia e demais propriedades das tintas, tenhamostrado saber, manejando destramente o pincel e apalheta., reproduzir fielmente a opulenta e copiosa va-riedade de effei tos ad mira veis que a na tureza offerecesem cessar á nossa contemplação; e por esse modo, tendoproduzido telas reveladoras do seu talento e mestria,haja adquirido a justa reputação que o approxime danomeada de fiel e eloq uente interprete das bellezas dacreação, como o foram Poussin e Claude o Lorreno, ecomo se faz indispensavel, em proveito do bom ensino

Page 35: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 31 -

da arte, áquelle que tenha de iniciar o novel artista nosmysterios mais secretos e na magia da fascinadora per-spectiva aerea.

Isto posto.t torna-se evidente qne o facto de convertera actual aula de desenho e pintura de paizagem, flores eanimaes, n'uma aula de perspectiva aerea applicada,como acima tenho indicado, nada tem de extraordinario eanormal, porquanto é o facto mais natural, mais logicoe mais consentaneo com as conveniencias do ensino ar-tistico, que se nos pode deparar de si mesmo, satisfazendoas condições de uma necessidade indecliuavel , na ela-boração de um plano racional de organização systema-tica de estudos proveitosos á boa educação artistica .Esse facto ..,não pode pois na realidade importar u'u matransformação ou transmutação inconveniente, visto queelle se resume n'uma melhor e mais acertada especifica-ção do objectivo dos estudos dessa aula, assim reorg ani-zada, na esphera dessa ampliação, de perfeito aCCOl'o.Ocom as mais imperiosas exigencias de uma ins trucçãoartistica orientada pelo espi ri to da nossa epoc ha.

Indaguem os agora se esta i nnovação, que q ua ndomuito poderá ser considerada como que s6 trazendo umasimples alteração nos Estatutos vigentes da Academia,deverá ser decretada isoladamente sem dependencia al-guma de modificação u'outras aulas, ou se convem ecumpre aproveitar o favoravel ensejo para melhorar oactual systerna de ensino tão vicioso e deficiente, se-guido na Academia das Bellas Artes,

Do modo mais ex.presso e doutrinal já o disse o illustree celebre mestre fiorentino, Leonardo de Vinci : « SempreIa pratica deve essere edificata S0pra Ia buona theorica,della quale Ia prcspettiva é guida e porta: e seuzaquella niente si fa bene, cosi di pitturacome in ogn'altraprofessione.» Esta verdade que tem atravessado mais detres seculos.illuminando muitas gerações de artistas semque até hoje nenhum a houvesse contestado, está plena-mente evidenciando que, em ma ter ia de ensino de de-

Page 36: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 32-

senho e pintura, será um grande erro querer divorciarem absolu to o estudo da perspectiva aerea do da perspe-ctiva linear, assim como cuidar deste sem lhe fornecer anecessaria base scienrifica, porquanto o primeiro, que épratico, depende essencialmente do segundo, que apre-senta sempre uma feição theorica ; do mesmo modo queeste depende a seu turno e necessariamente da base in-dispensavel que lhe fornece certa somma de conheci-mentos seientificos de geometria e optica .

E com offeiro, a pratica está constantemente de-monstrando do modo mais evidente que ninguem pódechegar á perfeita comprehensão da admiravel harmoniados tons estudados na perspectiva aerea, se não tiver deantemão adquirido o muito delicado e perfeito senti-mento da apparencia das formas e de todas as gradaçõesque são graphicamente ensinadas pela perspectiva li-near ; assim como nenhum conhecimento positivo deperspectiva geometrica se pode adquirir sem conheci-mentos preliminares de optica e geometria.

A perspecti va linear ou geometrica, mesmo quandoseja considerada sob o ponto de vista technico de appli-cação ás bellas artes, devendo, pelas proprias condiçõesde sua essencia scientifica, ser ensinada por quem bemconheça a geometria descriptiva e a optica experimentale appl icada, pode ser bem estudada sobre livros espe-ciaes e muito melhor em exercicios escolares feitos naaula com o auxilio do lapis, pois, como diz sentenciosa-mente o sabia professor De La Gournerie: « Le crayon asa logique: il montre les difficultés, et acliêve les expli-cations » ; mas em caso algum o seu estudo dispensa oestudo previo da base propedeutica e essencial, consti-tuida por um certo numero de informações scientificas,que são absolutamente indispensaveis á sua bôa intelli-gencia e á sua pratica racional, no dominio das artesdo desenho.

Esta outra verdade irrefutavel que, na sua maisampla latitude, é sustentada com a mais perseverante

Page 37: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 33-

convicção e o maior app.go, por Herbert Spencer, essa in-dividualidade philosophica mais portentosa do presenteepocha, tem, desde que F, Bacon, o eminente pensador,a procla mou na sua monumental-De dignitate et aug-mentis scientiarum - por tal modo conquistado gradu-almente as intelligencias, que hoje exerce a mais pode-rosa influencia na alta orientação dos espíritos, levandoa parte esclarecida da sociedade á convicção de que todaa instrucção deve firmar-se n'uma base essencialmentescien ti fica,

Commungando nas mesmas crenças e idéas pedag o-g'icas desse illuminado auctor do mais bello livro de pro-pagando e nova ca techese na evolução do pensamento,eu penso qrre, em relação ás bôas normas de um adian-tado systema de educação ar tistica , adaptado ás condi-ções da nossa Academia, a segunda cadeira de mathe-maticas a pplicadas deve passar a ser urna aula de ins-trucção theorico pratica, onde se ensine, sob um pontode vista scientifico,mas de immediata applicação ás artesdo desenhe, os elementos de optica geometrica, a parteelemeu tar da g'eometria descriptiva, a geometria per-spectiva com suas applicações ás sombras geometricas,ea perspectiva linear,

E para que os estudos theoricos feitos nessa aula,quese deverá denuminar-aula de perspectiva linear-,sejamrealmente proveitusos aos qu~ a cursarem, é indispensa-vel que esses estudos sejam precedidos do estudo feito naactual primeira cadeira de mathematicas applicadas,que, pOt' motivos e razões analogas, me parece indispen-savel que passe a ser uma aula de mathematica, onde seestude do mesmo modo que na aula de que acabo de meoccupar ou na aula de perspectiva linear, a arithmeticaelementar e noções de algebra, elementos de geometriaplana e no espaço applicada ás artes,e noções de mecha-nica a pplicada .

Desta sorte o alumno que se matricular no primeiroanno da Academia estudara, cursando esta aula de ma-

5

Page 38: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 34-

thematica, não certas noções scientificas mais ou menosabstractas,ás quaes elle, por havel-as estudado sem lhesconhecer a appl icação ou como se as houvesse appren-dido de cór, se refira inconsciente no que tenha a fazermais tarde na sua carreira artistica, muitas vezes commais prejuízo do que vantagem propria, porquanto,como ha muito disse o illustre Montaigne : « Sçavo ir parcraur n'est pas sçavoir » ; mas sim o alumno ahi adqui-rirá sua util bagagem constituida de conhecimentos sei-entificos basilares, aprendendo a conhecer,não só as pro-posições geraes e fundamentaes, como tambem e princi-palmente suas relações com a arte, ficando assim, comodizem os sabios professores E_ Brücke, da universidadede Vierma, e H_ Helmholtz, da universidade de Berlim,senhor e pleno possuidor do inestimavel laço que develigar a sciencia ao saber artístico.

Demais, assim convenientemente preparado, passaráa estudar, no segundo anno, com a conveniente orienta-ção, a sciencia das apparencias ou a perspectiva linear,na sua parte geometrica applicadas ás artes do desenho,applicação que se faz indispensavel aos estudos artisti-cos que tem a fazer; e irá.n'urn terceiro anno academico,completar o estudo da perspectiva em seus grandes de-senvolvimentos praticos, com o estudo essencialmenteartistico da perspectiva pratica e com o da perspecti vaaerea applicada ao desenho e pintura de paisagem.

Por este modo, esse alumno terá adquirido em tresannos uma solida e real instrucção technica, que muitose avantajando á instrucção que a Academia pode fOI'-

necer actualmente com o seu deficiente plano de ensino,o habilitará a prog-redir, fazendo rapidos progressos ecolhendo os melhores fructos, em seus estudos acaderni-cos, seja qual fôr o ramo de bellas artes a que vote suaactividade, seu talento e sua applicação intellectual.

Mas, para que o estudo, organizado sobre as basesque indico n'este plano de ensino que estou desenvol-vendo, não seja mystificado e reduzido a pouca ou ne-

Page 39: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 35-

nhuma prod uctibilidade.são necessarias certas condiçõesessencias, en tre as q uaes so bresahem a ind ispensa velvig ila ncia para que os professores bem observem osprogrammas adoptados pela Congregação; e q ue alemdisso o matriculando tenha ligitima entrada na Acade-mia, mostrando possuir a sufficiente educação preparato-ria, que não se d-everá limitar, como até agora tem sido,a saber duvidosamente ler, escrever e a mal conhecer apratica das quatro operações sobre numeres inteiros;mas sim que alem de se mostrar realmente preparadonesses limitados conhecimentos preparatorios,saiba maisa pratica do desenho geometrico elementar,

A exigencia deste pequeno accrescimo de materiapreparatçria não tem hoje nada de extraordinario e deextemporaneo, porquanto o Lyceo de Artes e Officios jáministra em não pequena escala o ensino do desenhoelementar, que tambem já é ensinado em muitos estabe-lecimentos de instr ucção secundaria, e deve-se, com todoo fundamento,esperar que comece a ser dentro em poucoensinado, nas escolas do 1.0 gráu, o desenho linear,graças á bem intencionada e mui louvavel portaria doMinisterio do Imperio, recentemente expedida, mandan-do que desde já fosse posta em execução a disposição doart. 23 do regulamento annexo ao Decreto n. 6479, de18 de Janeiro de 1877 .

Demais cumpre não dissimular a verdade, deixandode dizer com franq ueza que a Academia das Bellas Artesnão póde, na actualidade, continuar a ensinar o dese-nho geometrico, que em todo o mundo civilizado é con-siderado e tido como sendo materia rudimentar e ele-mentarissirna, só propria das pequenas escolas de in-strucção primaria, sem correr o risco de desempenharum papel que não lhe é proprio, e que a amesquinha,fazendo ao mesmo tempo que ella, assim prej udicando oseu alto ensino da arte, forneça um corpo de delicto quedepõe de modo irrecusavel contra a elevação e progressodo ensino artistico no paiz.

Page 40: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 36 -

"Devia para!' aqui; mas seja-me permittido, em atteu-ção á magnitude do objecto, dizer mais algumas pala-vras para bem expender a minha opinião sobre o pre-sente assurnpto,a que não se pode deixar da ligar sumrnointeresse.

Comprehende-se que toda a reforma que importe umareorganização do ensino da Academia e q ue possa serrealizada sem augmento próximo ou remoto de despezapublica, o Governo a pode fazer sem dependencia deprevia auctorização legislativa; e entendo que desdeque fiq ue pro vado que dessa reorganização do ensinopode provir vantagem,que contribua por qualquer modopara o aperfeiçoamento e a elevação em qualquer gráu,do nível intellectual do mesmo ensino artistico,está essareforma no caso de ser decretada pelo Governo,q ue tantose desvela pela instrucção nacional e a quem a Academiadas Bellas Artes deve tão assignaladas provas de pro-tecção e solieitude paternal.

Pensandu assim, já se vê que me devo considerarobrigado a completar a demonstração que tenho emvista fazer das vantagens que o ensino artistico pode edeve colher do desen vol vimento do ensino da perspecti-va, dando-se ao plano de estudos a fórma que tenho tos-camente esboçado.i E o que fica exposto relativamente aesse ensino, ainda não é tudo que se faz necessario aoescopo didactico em que tenho empenhado as minhascogitações .. Proseguirei, pois, nesse intuito, dizendo que haveria

grande acerto em ser restabelecida a aula de gravur-a demedalhas e de pedras preciosas, visto q ue não é possi velad mi ttir que possa haver uma academia de bellas artesbem organizada e que portanto bem possa preencher seusaltos fins no classico ensino da arte, sem uma aula es-pecial em que se ensine tudo o q ne fôr relati vo aos pro-cessos technicos usados na pratica dessa bella arte dodesenho, a qual tem o seu valor intrínseco enaltecidopela rigorosa verdade contida uo apophthegma do emi-nente sabia Diderot: «La gravure tue le peintre qui n'est

Page 41: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 37 -

que coloriste.» E de facto, n'uma Academia, onde func-ciona uma aula em qlle se ensina, com a maior elevaçãomental, a historia das bellas artes, a esthetica e archeo-logia sem exclui!' a glyptograpb ia, não é possível deixarde existir uma aula de gravura sobre metaes e pedraspreciosas, comprehendendo a gravura em medalhas, querepresen ta a gravura moderna, em que se transformou ainvenção do ourives fiorentino Maso Fíniguerra, e ag lyptica, legitima representante da g ravura antiga, quenos fornece nos primorosos trabalhos munetarios de Syra-cusa, devidos á pericia dos gravadores Eveneto e Simon,as mais maravilhosas producções da arte humana, osq uaes na abalizada opinião de 'I'urgan, se não são su-periores, eg ualarn por certo ás mais bellas esta tuas daGrecia e aos mais bellos trabalhos de Miguel Angelo e deBenvenuto.e

Essa arte irman congenere da esculptura, sendo umadas mais in teressan tes applicações artísticas do desen ho,tem, no grande movimento artístico determinado pelacivilização, contribuido poderosamente para o progressodas bellas artes, fornecendo o meio facil e seguro, de fielreprod ucção artistica dos desenhos, dos q nadros, das es-tituas e dos baixos relevos; assim como tem auxiliadoo desenvolvimento industrial que se prende a certassciencias e artes, e concorrido efficazmen te para o pro-gress» intellectual, facilitando o que é relativo á im-pressão da musica e escripta, as cartas topographicas,hydrographicas, geographicas e celestes, os planos dearchitectura e os papeis pintados.

Não se deve, pois, deixar de ensinar dessa arte liberala sua parte mechanica e a sua parte artistica, n'um cursode gravura que abranja todas as suas modalidades, comexclusão da xylographia por ser arte accentuadamente jindustrial e quasi rnechanica, e portanto inteiramente oude todo imprópria de uma academia de bellas artes;curso esse instullado u'u m a aula que deve fazer parteessencial do plano de ensino artistico ou do cyclo aca-dernico em que se estudem todas as manifestações esthe-ticas das bellas artes.

Dizer-se que essa. aula de gravura, que me parece in-

Page 42: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- :38 -

dispensavel restabelecer como existia ou nas condiçõesem que proponho que seja restabelecida, pode sem incon-veniente ser substituida , na Academia das Bellas-Artes,por uma aula de xylographia, é a meu vê!' tão grandeabsurdo como se fosse proposto dispenar as aulas de de-senho de figura e de modelo vivo, substituindo-as poruma aula de photographia onde os alumnos se habili-tassem a manipular os reactivos chimicos e a usar dosapparelhos photographicos, que libertassem os artistasda necessidade em que rigorosamente estão de desenharpor sentimento.

Presumindo que seja restabeleci da a aula de gravuraem medalhas e pedras preciosas, passarei a expôr a dis-tribuição das aulas pelos diversos annos, e o seu grupa-mento em series que permittam systematizar o ensino,creando cursos especiaes de conhecimentos artisticos,como me parece iudispensavel aos creditos da propriaAcademia e ás conveniencias de uma bôa organização deestudos academicos,

As aulas da Academia devem ser distr-ibuídas, na se-guinte ordem, por seis anuos de estudos:

10 A~XO

Aula de mathematica ; aula de desenho figurado.

20 ANNO

Aula de perspectiva linear ; aula de anatomia; aula de modelovivo.

30 ANNO

Aula de perspectiva aerea e paizagem : aula de physiologia daspaixões; aula de pintura h istorica ,

4e AN~O

Aula de desenho de ornatos; aula de gravura em medalhas epedras preciosas.

50 A;O;/NO

Aula de esculptura de ornatos; aula de estatuaria.

60 ANNO

Aula de architectura ; aula de hístoría das bellas artes; estheticae archeologia.

Estas quatorze aulas, regidas por doze professores, deverão sergrupadas, formando seis séries, e cada serie um curso artistíco deestudos es peciaes, do modo seguinte:

Page 43: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 39-

1- SERIE - Curso .Ie pintura historica.

Aula de mathematica ; aula de desenho figurado; aula de perspe-ctiva linear; aula de anatomia; aula de modelo vivo; aula de perspe-ctiva aer ea e paizagem; aula de physiologia das paixões; aula depintura historica; aula de historia das bellas-artes ; esthetica e ar-cheologia:

2- SERrE - Curso (Ie architectura

Aula de mathematica : aula de desenho figurado; aula de perspe-ctiva linear; aula de desenho de ornatos. aula de architectura ; aulade historia das bellas artes; esthetica e archeologia.

3- SERrE - Curso de paizagem

Aula de mathernatica ; aula de desenho figurado: aula de perspe-ctiva linear; aula de modelo vivo; aula de anatomia; aula de perspe-ctiva aerea e paizagem ; aula de história das bellas artes; esthetica earcheo logia.

4- SERrE - Curso de estatmuoia

Aula damatherr.atica ; aula de desenho figurado; aula de perspe-ctiva linear; aula de modelo vivo; aula de anatomia ; nula de physio-logia das paixões; aula de estatuaria ; aula de historia das ballasartes; esthetica e archeologia .

5- SERrE - Clll'SO (Ie escllll)tura

Aula de mathematica ; aula de desenho figurado; aula de perspe-ctiva linear; aula de desenho de ornatos ; aula de esculptura de or-natos; aula de história das bellas artes; esthetica e archeologia.

6-. SERrE - CUl'SOde gl'avul'a.

Aula de mathsmatica ; aula de desenho figurado; aula de perspe-ctiva linear; (aula de desenho de ornatos ;) aula de gravura em me-dalhas e pedras preciosas; aula de historia das bellas artes; esthettcae archeo logia.

Sendo preciso estabelecer uma conveniente e determi-nada gradação no estudo destas materius.devem ellas serestudadas em cada curso na ordem em que estão indica-dos na respectiva serie.

Entendo, entretanto, que deverá ser permittido a fre-quencia de qualquer aula da Acãdemia sempre que o cur-sista amador ou ouvinte, não se proponha a completarum curso academico nem aspire aos premios e recornpen-sas offíciaes.

A estes mesmos cursistas avulsos,amadores ou ouvin-tes, não se deverá exigir condição alguma para a pri-meira admissão, embora elles possam ter direito aos pre-

Page 44: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 40 -

mios de animação, instituidos com caracter meramenteparticular.

Devera ser permittido a qualquer individuo extranhoou não á Academia, instituir esses premios particularesde animação, HOS quaes tamhem deverão ter direito osalumnos dos cursos acaderr.icos.

Deste modo se conciliarão facilmente as exigenciasproprias da rigorosa concessão dos premies offlciaes, comuma certa somma de liberdade de frequencia que torne,sem g r-a v ame e detrimen to das con ven iencias geraes, aAcademia das Bellas Artes accessivel a todas as nascentesaptidões artísticas, seja qual for o grau de desenvolvimen-to meu.al do individuo que se proponha a aproveitar, se-gundo sua vontade e propria vocação, a instrucção Hca-demica.

Esta reforma, que fica assim esboçada em seus traçosessenciaes, im portando apenas uma reforma parcial, poisque não passa de urna nova org-anização que se limita amodificar, embora mui profundamente, o ensino da Aca-demia, poderá ser posta em execução sem prejuizo algumpara aq uelles que actualmente cursam as aulas da mesmaAcademia, e sem aug mento de despesa de qualquer espe-cie, porquanto não ha accrescimo de pessoal docente quefica representado pelo mesmo numero de professores.

Cumpre aqui explicar que a actual aula de anatomiae physiolcg ia das paixões é, no presente plano de ensinopor mim organizado, dividida, como dispõe expressa-mente a ultima parte do art. 1° do Decreto n , 2424, de 25de Maio de 1859, que não está revogado. Dessa divisãoresultam duas aulas, das quas a de anatomia está collo-cada no segundo anno, e a de physiolog ia das paixões,no terceiro: ambas devem continuar a ser regi das porum mesmo professor.

A aula de modelo vivo, que muito conviria a bem daunidade e do aperfeiçoamento do ensino,que fosse reg idaexclusivamente por um só professor; o qual reunisse álonga pratica desse magisterio, tão especial quão impor-tan te na escala dos estudos artisticos, todos os precisosrequisitos e aptidões indispensaveis, continuará, paraque não seja augmentado o pessoal docente e consequen-

Page 45: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 41 -

temente a despesa. a ser regida como dispõe a ultimaparte do art. 2° do mesmo Decreto.

Devo accrescen tal' que as Secções de que tratam osarts. 3.° 4.° e·5.0 do Titulo 2°, dos Estatutos da Acade-mia, promulgados pelo Decreto n . 1603 de 14 de Maio de1855, devem coutin uar a subsistir com a mesma organi-zação: assim como deverão continuar a ser mantidassem a menor alteração todas as demais disposições regu-lamentares daqueIles Decretos, que não digam respeito áorg-anização do plano de estudos.

Talvez se pense,não por certo depois de reflectir sobreo que aqui tenho affirmado,mas quando se queira resolverde prompto e prejulg ando-se sem maior exame da impor-tancia e difficuldade da questão, que talvez bastassedecretar a substituição de uma aula por outra, para quetudo ficasse do melhor modo arranjado.

Eu, porem, pedirei licença para dizer que a decreta-ção do acto que tivesse por fim principal immediatosubstituir pura e simplesmente a cadeira de xylographiapela de sombras e perspectiva, não trur ia vantagem al-guma ao ensino da Academia, porquanto, mutilaria ape-nas o actual plano de estudos academicos, deixando-o,depois de mais uma vez truncado, subsistir apathico eindolente com todas as suas deficiencias e lacunas,contraas q uaes tão justas queixas se tem levantado de envoltacom muito injustas incriminações ecensuras infundadas.

Terminando este tosco trabalho, em que externo asminhas ideias e minhas convicções, fecho-o com as con-clusões seguintes, que, baseadas nas razões expostas nocorpo deste parecer, resumem a minta opinião:

L' Não ha vantagem alguma em substituir a cadeirade xylographia pela de sombras e perspectiva.

2.' Deve-se, a bem do aperfeiçoamento do ensino daAcademia das Bellas-Artes, dar ao ensino da perspe-ctiva linear e da perspectiva aeres , todo o maxirno desen-volvimento compativel com a presente e imperiosa limita-ção dos meios orçamentários ; e para isso ser conseguidoconvém converter a actual aula de paizagem n'uma aulade perspectiva aesea applicada, como ácima ficou indi-

6

Page 46: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

42"-

cada, devendo ser desta importantissima aula encar-regado um pintor eximio, que, por seus quadros ma-gistraes, tenha conquistado a reputação e celebridade denotoria aptidão profissional, e assim se tenha tornadodigno da alta distincção de ser contractado ou nomeadopara a regencia dessa aula de mui elevada importanciaespecial.

3". Convém, a bem do desenvolvimento do ensino, doscreditos e do prestigio artistico da Academia, restabelecera aula de gravura em medalhas fl pedras preciosas.

4.' Convém exigir,do proximo futuro auno em diantecomo condição de primeira matricula, o conhecimento dodesenho geometrico elementar, alem dos escassos pre-paratorios até hoje exigidos.

5.' Cumpre dar ao ensino da Academia a organizaçãoque fica acima indicada, decretando as alterações neces-sariss á installação de seis cursos distinctos de especiaeshabilitações artísticas.

•...

Tenho, como me cumpria, com a necessaria franquezae sem reservas mentaes que me fizessem dissimular efaltar á lealdade,emittido o meo parecer; V. Ex-. ,porém,e a Congregação resolverão informar ao Governo Impe-rial, sobre este objecto, como julg-arem accertado em seumelhor juizo, alto criterio e sabe:loria.

Deos Guarde a V. Ex.'

Rio de Janeiro, 21 de Juneiro de 1886.

m=. Ex=. Sr. Conselheiro Antonio Nicoláo Tolentiuo ,

Dig.mo Director da Academia das BeIlas Artes.

ERNESTO GOMES MOREIRA MAU ..

Page 47: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

toA

nn

o

Qu

ad

rod

eDl.on

stra

t.iv

oli

acO

lup

osi

Cão

dos

CUI~!!Õ08

••o

An

uo

e .~ ~ ~ ".<:: ~

c .<:: ~ ., ~

1-=e ., :::;~

<.><:l '"'"

~.~ ..- ~ 20 2° 20 2' 2° 2'

20A

nll

o

=1=

es .~ s '" ""1 2' 2" 2'

c .~ ~ .s se 'tl c ~

30

An

uo

e

""---'1-

~~I__

~~

c 'tl tl .. ~ ""'!::.

denominação

dos

CURSOS

l'Série-Curso

depintura

historica

I'I'

2-Série-Curso

dearchitectnra

....

I'1o

3'Série-Curso

depaizagem

."....

I'I'

4-Série-Curso

deestatuaiia

......

l'I'

5-Série-Curso

deesculptura

..".

1o[o

6-Série-Curso

degravura

..."..,I'

I'

2' 20 2'

30 Ro..

e ';;' ~ '"

<::I '" ~~ <:l'"

<:l""

.,<:l

....('-~ _...

<><:l "'". ~ ..'" se c, C:=_'I-=====-I~

3'•

2'30

..

I

16'

Au

uo

10- I

4'

ORDEM

DAS

SÉRIE';

;;; ;>.

.<:: c, 3" 30

, ., ~<:l ~.;;

~1; ~- ii:

4'

An

no

'"<::I

.~~

'tl.,

<:l..

s<::I

cc

~;:l

<.>].

<::I

<:í...

'<::<::1

'"~

~~

;::"

<::I

~:§

s"'.

c5...

.,~

<>.<::

.,",c

ee.,

<.>til

~til

til

.. -.:_____

I~

~~I

____

2'3'•

4' 4' 40 4. 40

3''

203'•

OB;:;ER

VAÇAO.-

Osignal

•indica

aaula

especial

docurso,

aula

cujo

estudo

oalunino

tem

defazerpelo

menos

emdous

annos,

salvocaso

excepcionalajuizoda

Congr€gação.-

E.G

.Mor

eira

Mai

a.

Page 48: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

(

\

Page 49: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

I a SERIE

Tabella demonstrativa do tempo neressal'ioaos cursos

Curso de pintura historica

1° Anno - Aula de mathernatica ; aula de desenhofigurado.

2° Anno - Aula de perspectiva linear; aula de ana- -tomia ; aula de modelo-vivo.

3° Anno - Aula de perspectiva aer ea e paizagem;aula de physiologia das paixões; aula de pinturahistorica ,

4° Anno - Aula de pintura historica (continuação);aula de historia das bellas artes, esthetica e ar-cheologia.

2a SERIE

Curso de architectur a1° Anno - Aula de mathematica ; aula de desenho

figurado.2° Anno - Aula de perspectiva linear; aula de de-

senho de ornatos.3° Anno - Aula de architectura .4° Anno - Aula de architectura (continuação);

aula de historia das bellas artes, esthetica e ar-cheologia.

Page 50: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

- 46

3a SERIE

Curso de paitagem

1° Anno - Aula de mathematica ; aula de desenhofigurado.

2° Anno - Aula de perspectiva linear; aula de ana-tomia e aula de modelo vivo.

3° Anno - Aula de perspecti va aerea e paizagem.4° Anno - Aula de perspectiva aerea e paizagem

(continuação) ; aula de história das bellas artes,esthetica e archeologia.

4a SERIE

Curso de estatuaria

1° Anno - Aula de rmthernatica ; aula de desenhofigurado.

2" Anno - Aula de perspectiva linear; aula de ana-tomia ; aula de modelo vivo.

3° Anno - Aula de physiologia das paixões; aulade estatuaria.

4C) Anno - Aula de estatuaria (continuação); aulade historia das bellas artes. esthetica e archeo-logia.

5a SERIE

Curso de esculptur a

L ° Anno - Aula de mathematica; aula de desenhofigurado.

2° Anno - Aula de perspectiva linear; aula dedesenho de ornatos.

3° Anno - Aula de esculptura de ornatos .. 4° Anno - Aula de esculptura de ornatos (conti-

nuação) ; aula de historia das bellas artes, esthe-tica e archeologia .

Page 51: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

E. G. MOREIRA MATA.

- 47 -

6a SERlE

Curso de grQl'Ura

1° Anno - Aula de rna thernatica ; aula de desenhofigurado.

2° Anno - Aula de perspectiva linear; aula de de-sen ho de ornatos.

3° Anno - Aula de gravura em medalhas e pedraspreciosas.

4° Anno - Aula de gravura em medalhas e pedraspreciosas (continuação); aula de historia dasbellas artes, esthetica e archeologia.

Observação - Esta tabella demonstrativa refere-seao tempo minirno . Quando o alumno não estiver ha-bilitado no estudo da materia da aula especial do cursoou no da de qualquer outra aula do mesmo curso, po-derá repetir o estudo por mais um, dous ou tres armos-

---

Page 52: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

Page 53: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 54: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 55: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 56: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 57: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 58: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 59: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 60: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 61: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 62: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 63: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 64: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 65: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

t

Page 66: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 67: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 68: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

..

Page 69: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 70: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

I--

Page 71: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

I

Page 72: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 73: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

\

Page 74: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 75: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha

\

Page 76: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 77: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 78: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 79: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 80: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 81: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 82: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 83: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 84: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 85: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 86: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 87: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha
Page 88: Biblioteca Digital de Obras Raras: Página inicialgeometl'ica das sombras e perspectiva linear, bastaria dizer que foi nessa fonte crystalina que um moço talen- toso, que já dispunha