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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo

Redação: José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Margarida Duarte,Rui Jorge Martins, Sónia Neves.

Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.

Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.:218855472; Fax: 218855473. [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial:Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08-11 - A despedida de Bento XVI12-17 - Entrevista: D. Jorge Ortiga18-39 - Pontificado em revista40 - Opinião: D. Manuel Linda42 - A semana de: Rui Martins VI

44 - Cinema46 - Multimédia48 - Estante50 - 50 Anos do Vaticano II52 - Agenda54 - Liturgia56 - Programação religiosa57 - Por estes dias58 - Fundação AIS

Foto da capa: LusaFoto da contracapa: Agência Ecclesia

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Bento XVI

Legado teológico

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O PapaMarcas em Portugal [ver+]

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Gravidade e inovação de um passo

Paulo Rocha, AgênciaECCLESIA

Não se alcança nestes dias o horizonte dadecisão de Bento XVI. Sabe-se, por enquanto,que a sua atitude é uma grande mensagem, umcapítulo central do legado que deixa à IgrejaCatólica e um gesto que expressa a suapersonalidade e a perceção acerca da missão decada batizado, incluindo a do Papa, nummomento específico da história.Se as encíclicas, os livros, as homilias, asmensagens e tudo o que foi dizendo eescrevendo ao longo do pontificado vai merecerreleituras e estudos detalhados, muito mais estegesto pela sua “gravidade e inovação”.As palavras são do próprio Bento XVI e forampronunciadas em português na sua últimaaudiência na Praça de S. Pedro, em Roma.“Dei este passo com plena consciência da suagravidade e inovação, mas com uma profundaserenidade de espírito”, disse Bento XVI após terrecordado o seu estado de espírito quando foieleito Papa, no dia 19 de abril de 2005,nomeadamente o “peso grande” que lhe caíasobre os ombros.É esse mesmo realismo que permite a Bento XVIdar este passo. E ter prometido, já em ambientede pré-conclave, obediência “incondicional” aofuturo Papa, depois de ter tomado a decisão“mais justa” para o bem da Igreja.Bento XVI comunicou a renúncia ao pontificadono dia 11 de fevereiro.

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Depois, no decorrer da agenda jáassumida, foi explicando os motivose o contexto em que tomou essaopção e as consequências queespera para a vida da Igreja, queliderou até ao último dia defevereiro. E são essas palavras queinteressa manter por perto quandose procura interpretar um gesto queintroduz rutura na forma deentender e exercer o ministério deser o sucessor de Pedro nocontexto atual.Assim, as sensações e as emoçõesprovocadas por este momento deviragem na história têm de sergeridas na consciência de cadapessoa: a dos crentes, interessadosem contribuir para que a Igreja sejacada vez mais de Cristo; e a detodos os cidadãos, cativados poruma instituição que, nasua origem e identidade, tem por fimúnico propor a felicidade a todos.A isso nos ensina também o Papaque resigna. A decisão que tomouparte da sua consciência, depois dea “ter examinado repetidamente” ede o ter feito “diante de Deus”.Nesse diálogo, entre a consciênciae Deus, num ambiente espiritualfundamentado e seduzido peloexemplo de Cristo, encontra-se osegredo para decisões acertadas,voltadas não tanto para o

bem próprio, antes para o bem detodos, o único capaz de geraralegria.Uma convicção afirmada até aoúltimo momento. No seu últimotweet, Bento XVI escreveu, dizendode si e desafiando todos: “Possaisviver sempre na alegria que seexperimenta quando se põe Cristono centro da vida”.

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A última bênção de Bento XVI Bento XVI à varanda de Castel Gandolfo

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“Gostaríamos que o Governo fossemais firme perante osrepresentantes da troika e quesoubesse, em nome do povo, dizerque já não há lugar para exigir maissacrifícios”, declarações de EugénioFonseca, presidente da CáritasPortuguesa à Agência ECCLESIA. “Houve momentos em que as águasestavam agitadas e o ventocontrário, como em toda a históriada Igreja, e o Senhor parecia dormir,mas sempre soube que nessa barcaestá o Senhor e sempre soube quea barca da Igreja não é minha, nãoé nossa, mas é sua e a não deixaafundar”, Bento XVI na últimaAudiência geral do seu pontificado a27 de fevereiro de 2013

“Acho que Deus nos vai perdoartudo, as asneiras que fizemos, asincertezas, uma cretinice ou outra.Acho que Deus nos vai perdoartudo. Só não nos vai perdoar nãotermos sido nós próprios”, PadreJosé Tolentino Mendonça ao jornalSol “Grândola vila morena, terra dafraternidade, o povo é quem maisordena, dentro de ti ó cidade (…) ” –Canção do compositor Zeca Afonsoentoada nos últimos dias comoforma de protesto contra o atualGoverno

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Renúncia: «Novidade»assumida com «serenidade»A renúncia de Bento XVI aopontificado, que hoje se concretiza,foi assumida pelo próprio como uma“novidade” e é um facto virtualmentesem precedentes na história daIgreja Católica.“Dei este passo com plenaconsciência da sua gravidade etambém novidade, mas com umaprofunda serenidade de espírito”,disse o Papa, em italiano, na última audiência pública dopontificado, esta quarta-feira.A Igreja Católica não tinha visto

qualquer Papa resignar desde 1415,com a abdicação de Gregório XII esegundo o jornal do Vaticano,‘L’Osservatore Romano’, “areconstrução histórica dos casos emque um pontificado foi interrompidoantes da morte do Papa conduz apouquíssimas figuras e em nenhumcaso a uma situação como a que severificou com a decisão de BentoXVI”, anunciada no último dia 11.

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Obediência incondicional ao futuroPapaBento XVI prometeu a suaobediência “incondicional” aopróximo Papa durante um encontrocom várias dezenas de cardeais noúltimo dia de pontificado. "Entre vós,entre o Colégio Cardinalício, estátambém o futuro Papa, ao qual jáhoje prometo a minha incondicionalreverência e obediência”, disse.O Papa manifestou a sua “alegria”por encontrar-se com os mais de140 cardeais presentes no Vaticano.“Quero dizer-vos que continuarei aestar por perto com a oração, especialmente nos próximos dias,para que sejais plenamente dóceisà ação do Espírito Santo na eleiçãodo novo

Papa: que o Senhor vos mostreaquele que é desejado por Ele",desejou.Entre os presentes contavam-se ostrês cardeais portugueses: D. JoséSaraiva Martins, prefeito emérito daCongregação para as Causas dosSantos; D. Manuel Monteiro deCastro, penitenciário-mor da SantaSé; D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa.Bento XVI retomou passagens dasua intervenção na última audiênciapública do pontificado: “Nestes oitoanos vivemos com fé momentosbelíssimos de luz radiante nocaminho da Igreja, juntamente commomentos em que algumas nuvensse adensaram no céu”.

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O Papa nunca está só

O Papa despediu-se dos fiéis comuma audiência pública na Praça deSão Pedro e declarou que não sesentiu “só” ao longo dos anos emque viveu a “alegria e o peso” dopontificado, deixando palavras deagradecimento ao “mundo inteiro”.“Gostaria de agradecer do fundo docoração às várias pessoas de todoo mundo que nas últimas semanasme enviaram sinais comoventes deatenção, de amizade e de oração.Sim, o Papa nunca está só,experimento-o agora de novo de ummodo tão grande que toca ocoração”, revelou.Bento XVI explicou que a suarenúncia se aplica ao “exercício

ativo do ministério” do Papa, semimplicar um regresso à“privacidade”. “Não regresso à vidaprivada, a uma vida de viagens,encontros, visitas, conferências”,declarou, perante mais de 150 milpessoas.Segundo o Papa, “amar a Igrejasignifica ter a coragem de fazerescolhas difíceis, sofridas, tendosempre diante de si o bem da Igrejae não a si próprio”.“Houve momentos em que as águasestavam agitadas e o ventocontrário, como em toda a históriada Igreja, e o Senhor parecia dormir,mas sempre soube que nessa barcaestá o Senhor e sempre soube quea barca da Igreja não é minha, nãoé nossa, mas é sua e a não deixaafundar”, acrescentou.

Obrigado pelo vosso amor e ovosso apoio! Possais viversempre na alegria que seexperimenta quando se põeCristo no centro da vida.(Última mensagem de Bento XVI)

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Simplesmente um peregrino

“Sou simplesmente um peregrinoque inicia a última etapa da suaperegrinação nesta terra”: Comestas palavras se despediu BentoXVI do pontificado iniciado em 2005,numa intervenção com pouco maisde dois minutos proferida desde avaranda do palácio apostólico deCastel Gandolfo, arredores deRoma, propriedade da Santa Sé.O futuro Papa emérito mostrou-se“feliz” à chegada a este local, vindodo Vaticano, de onde tinha partidoem helicóptero, sobrevoando aPraça de São Pedro, às 17h07 deRoma (menos uma em Lisboa).“Quero ainda com o meu coração,com o meu amor, com a minha

oração, com a minha reflexão, comtodas as minhas forças interiores,trabalhar para o bem comum, para obem da Igreja e da humanidade”,acrescentou, ao som das palmasdos presentes e dos sinos.Bento XVI, de 85 anos, concedeuuma bênção aos presentes, “dofundo do coração”, convidandotodos a avançar "juntos no Senhor,pelo bem da Igreja e do mundo".“Obrigado, boa noite, obrigado atodos vós”, foram as palavras finaisdo pontificado, por volta das 17h41locais.O momento final do pontificado deBento XVI é assinalado pela partidada Guarda Suíça e o encerramentodos portões da residência pontifícia.Este é o único sinal visível do inícioda Sé vacante – período entre amorte/renúncia de um Papa e aeleição do seu sucessor -, no qual ogoverno da Igreja é confiado aoColégio dos cardeais.

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As marcas de Bento XVI em Portugal

D. Jorge Ortiga, arcebispo deBraga, foi o anfitrião de BentoXVI em Portugal, entre os dias11-14 de maio de 2010, nacondição de presidente daConferência EpiscopalPortuguesa Agência ECCLESIA (AE) - Comocomeçou a visita de Bento XVI aPortugal?D. Jorge Ortiga (JO) - Tudocomeçou com um ato de coragem ede fé. Pedimos ao Santo Padre queefetuasse esta visita pastoralsituando-a no âmbito dos 90 anosdo Santuário de Fátima.

Quisemos também colocar a Igrejaportuguesa em movimento para quese pudesse acolherverdadeiramente o Santo Padre,num período muito complexo econturbado da história da Igrejamundial.Pretendíamos também proporcionar-lhe um momento de alegria e até dedescanso, na oportunidade que iriater de contactar com multidões defiéis que o acolhessem com toda aespontaneidade, como de facto veioa acontecer.O convite surgiu igualmente daconvicção de que o Santo Padrenos poderia ajudar na aplicação deum programa pastoral que vínhamosa realizar após a última visita “adlimina” [deslocação dos bisposportugueses ao Vaticano para falarcom o Papa sobre

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as dioceses e a Igreja em Portugal,de 3 a 12 de novembro de 2007], oque também se concretizou.No discurso de saudação queproferi na visita “ad limina”,enquanto presidente daConferência Episcopal Portuguesa,fiz uma referência aos 90 anos [dasaparições da Virgem Maria na Covada Iria] e disse que a mensagem deFátima, entre outras características,tinha uma dimensão de apelo àconversão, que se estende tambémà Igreja. Na resposta o Santo Padredisse que a Igreja em Portugal teriade se reorganizar e adaptar-semuito mais à realidade do ConcílioVaticano II [1962-1965]. Recordoque alguma comunicação social, naminha maneira de ver, nãoentendeu bem esta posição deBento XVI. O que é certo é que nósa assumimos como uma dasconsequências a extrair da visita “adlimina”.A vinda do Santo Padre ao nossopaís foi muito importante porqueconstituiu um estímulo ao processo“Repensar a Pastoral em Portugal”,que a Igreja estava a fazer naquelaépoca e que continua atualmente.

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AE - Além do processo “Repensar aPastoral da Igreja em Portugal” queefeitos da visita de Bento XVI sefazem sentir hoje?JO - Creio que as principaiscoordenadas estão no discurso quefez aos bispos de Portugal [Fátima,13 de maio de 2010], quandoapelou a uma maior consciênciamissionária e nos pediu um laicadoadulto, integrado na Igreja eimplicado na transformação domundo.Em Lisboa o Papa falou dapresença dos cristãos nasrealidades terrestres e no Portovoltou a insistir na mesma questão,sublinhando que não podemosperder a capacidade de estarmospresentes no mundo, não impondomas propondo com ousadia ecoragem.No encontro no Centro Cultural deBelém [Lisboa, 12 de maio], que foimaravilhoso, o Papa salientou que éimportante não olhar para as coisaspenúltimas mas para as últimas,tendo também pedido ao mundo dacultura a coragem de não apenasfazer coisas belas mas de fazer davida uma experiência bela. Pensoque estes apelos são realidadesque não nos deixaram de marcar.

Um aspeto que me impressionouneste Papa foi o sentido deproximidade. Ele, que eraconsiderado uma pessoa muitoafastada, soube estar presente esentiu em Portugal uma experiênciatranquilizante e de profunda alegria.Pareceu-me que o Santo Padreestava preocupado quando chegouao nosso país. Não esqueçamosque na viagem de avião para Lisboaele disse que o mal também existedentro da Igreja, uma expressãomaravilhosa que muita gente nãoentende mas que é a grandeverdade. Por isso ele trazia todoesse peso. Quando partiu dePortugal creio que levou aconsolação pelo facto de se terencontrado com um povo que nãose envergonhou de dizer “Nósamamos o Sucessor de Pedro, nóstestemunhamos a nossa fé e anossa comunhão”. AE - Surpreendeu-o o acolhimentoque Bento XVI recebeu emPortugal?JO - Nunca tivemos medo. Aliás,tenho de dizer que dentro daorganização nunca fizemos grandepublicidade. Claro que procurámosmobilizar as nossas comunidadesmas não

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sentimos receio. O povo portuguêssempre teve, e tem, um amor muitogrande ao Papa, seja ele qual for.Hoje reconhecemos que Bento XVIfoi uma figura ímpar, que deixouficar a sua marca na história daIgreja. AE - Como descreve Bento XVI?JO - Parece uma pessoa tímidamas, no contacto, verificamos quenão o é. Ele é um intelectual, algointrovertido,

mas muito próximo e muitoconhecedor da realidade, não sódoutrinal mas também das dioceses,como pude verificar durante a visita“ad limina”. Esta conjugação entre ointelectual e a realidade concreta éfundamental, e o mesmo se diga dasíntese entre fé e ciência que BentoXVI procurou realizar. Por isso temosde dar graças a Deus pelo Papaque tivemos.

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AE - Que momentos mais osensibilizaram durante a visita deBento XVI a Portugal?JO - Um dos problemas com quenos defrontámos foi o facto de muitagente ter pretendido que houvesseum encontro específico para osjovens. Chegámos à conclusão quenão era possível, assim como a idaa Braga, que eu inicialmentepretendia que estivesse noprograma. Depois pensámos que oencontro em Lisboa poderia ser, demodo muito particular, para ajuventude, mas acabou por ser paratoda a população. Mas o que osjovens fizeram na presença doSanto Padre foi maravilhoso.Recordo especialmente amanifestação

espontânea junto da Nunciatura e asimplicidade e espontaneidade doPapa, quando pediu, numalinguagem própria dos jovens, parao deixarem descansar.Conservo também um episódio quemanifesta o temperamento de BentoXVI e que significa muito para mim.Quando ele saiu do Centro Culturalde Belém, de carro, deparou-se,junto à estrada, com um grupo decrianças acompanhado de religiosaseeducadoras. O Papa saiu da viaturapara estar um pouco com ascrianças, deixando-lhes uma palavrade alento e de coragem, num gestomuito espontâneo e natural quetambém constituiu um sinal paraquem pensava

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que ele era de outro mundo.Recordo igualmente os encontrosem Fátima com os agentes daPastoral Social, com os sacerdotese os padres, bem como com osbispos, a quem deixou umamensagem marcante. Talvez aindanão tenhamos sido capazes decolher todos os frutos da sementeque ele aqui deixou. AE - D. Jorge Ortiga é atualmentepresidente da Comissão Episcopalda Pastoral Social e MobilidadeHumana; que orientações deixadaspor BentoXVI no discurso que fez a este setorcontinuam a ser hoje prementes?JO - Bento XVI deixou um apelo às

instituições ligadas à Igreja para quemantivessem a preocupação pelaexcelência mas sem perder a suaidentidade. Que não fossem umasimples associação filantrópica masuma experiência de fé. Sãoprioridades que a Igreja devecontinuar a assumir: procurarempenhar-se na qualidade e natransparência, num serviço que sejasinal do amor de Cristo e não meraassistência paternalista de respostaocasional. Não se trata deproselitismo mas da simplicidade enaturalidade de um amor que nãose fica pelas obras que se oferecemmas que se expressa, sobretudo, noespírito que se vive.

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O legado teológico de Bento XVI

Henrique Noronha Galvão

A formação do legado teológico de Bento XVIestende-se desde o período pré-conciliar em queJoseph Ratzinger colaborou no renovamentomoderno da Teologia, abrange a época em quedecorreu o concílio Vaticano II para o qualcontribuiu como “perito”, e conclui-se no tempoda receção da doutrina conciliar, em que ainterpretou dando-lhe, nos últimos anos, amarca do seu magistério papal.No seu conjunto, é vasta e diversificada areflexão deste teólogo nascido na Baviera, umaregião da Alemanha que, segundo afirmou, éaberta à influência de outras culturas, tendodesenvolvido a sua teologia em diálogo comautores de outras nacionalidades. Sobretudoprocurou sempre enraizar o seu pensamento nahistória e na tradição, colocando embora a suagrande capacidade intuitiva ao serviço das maisprementes questões da atualidade.Como professor de Teologia Fundamental,refletiu sobre os pressupostos racionais da fé; aoensinar Teologia Dogmática clarificou uma sólidavisão do mistério cristão em todos os seusaspetos; enquanto pregador nunca deixou deexplorar o alcance da doutrina para aespiritualidade; no tempo em que teve aautoridade do ministério, primeiro episcopal edepois papal, fez questão de salvaguardar com oseu magistério o que é fundamental para aexistência cristã e sua inserção no mundo.

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A caridade que é o nome de Deuse que somos chamados a imitar, aesperança que nos salva, a fécomo porta que nos dá acesso aomistério cristão, encontraram nomagistério de Bento XVI o lugarcentral que lhes pertence na vida eno testemunho cristão.Numa intervenção durante umadas reuniões do círculo dosantigos alunos de Bento XVI, ocardeal Schönborn fazia notar que,se o ministério episcopal e papal aque Joseph Ratzinger foi chamado,poderia fazer temer que assimperdesse disponibilidade para ainvestigação e reflexão teológica, ocerto é que, dessa forma,sobretudo a partir do momento emque chegou a Roma, se encontrouno centro das grandes questõesda Igreja universal, o que deu novafecundidade ao seu pensamento.O facto de ter sido Prefeito daCongregação para a Doutrina daFé, ao mesmo tempo que presidiaà Comissão TeológicaInternacional, pô-lo em contactocom as sensibilidades de todos oscontinentes e regiões. E se a

necessidade de enfrentar situaçõesproblemáticas muitas vezes lhe trouxeincompreensões e momentosdesagradáveis, foi através delas queteve ocasião de exercitar a suacapacidade de discernimento.Também a presidência da ComissãoPontifícia Bíblica lhe proporcionou umestudo aprofundado da maneira deler e interpretar a Sagrada Escritura,“como que a alma da sagradateologia” ( DV 24), o que conferiumais autoridade ao método usado nasua obra sobre Jesus Cristo, com quequis coroar a sua produção teológica.

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Bento XVI e a Bioética

Daniel Serrão

1. A Bioética foi, durante os anos setenta e partede 80, mal vista nos círculos católicos romanos.Diziam os que se opunham a uma participaçãodos Dicastérios, em especial do da saúde, quetudo o que a Bioética proclamava era já doutrinado Magistério e, portanto, era inútil estar aconsiderá-la como algo novo. Ou eram erros quesó deveriam suscitar críticas.Foi João Paulo II, com a criação de umaAcademia para a Vida - na realidade umaAcademia de Bioética - e Monsenhor ElioSgreccia, com a publicação do seu celebrado“Manual de Bioética”, já com edição emportuguês (Principia), que vieram alterar esteestado de coisas.2. Bento XVI encontrou esta situação e deu-lhedesde o princípio a maior atenção. Tal como oseu antecessor, recebeu em Audiência privada,todos os anos, os membros desta Academia, àqual tenho a honra de pertencer, interessando-se sobre os trabalhos e proferindo um discursocom as orientações para a reunião do anoseguinte. Na notícia que todos os anos publicona BROTERIA dou conta desse texto Papal e decomo ele mostra o empenhamento do Papa naBioética, pois não são textos formais e de meradiplomacia mas reflexões sempre muito diretas.No discurso de 2011, por exemplo, disse ”Naconsciência, o Homem na sua integridade - inteligência emotividade e vontade - realiza aprópria vocação ao bem, de tal modo que aopção do bem ou do mal nas situaçõesconcretas da existência

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acaba por marcar profundamente apessoa humana em cada uma dasexpressões do seu ser. Com efeito,o homem inteiro permanece feridoquando o seu agir se realizacontrariamente ao preceito da suaprópria consciência”. O tema destaAssembleia Plenária da Academiatinha sido o do trauma pós-abortamento e Bento XVI chamou aatenção para a delicadeza ecomplexidade das decisõeshumanas que não devem seranalisadas de forma superficial numesquema apenas dicotómico de bome mau.3. Na Encíclica “Caritas in Veritatae”,publicada em 2009, o capítulo V étodo ele baseado em conceitos debioética, não apenas como ética de

cuidados de saúde mas comoBioética global, na aceção que lhedeu Van Potter. Princípios deBioética, como o da solidariedade eda justiça, são expressamentecitados; e quando escreve “Denatureza espiritual, a criaturahumana realiza-se nas relaçõesinterpessoais”, está a apelar a umaética dialogal que é a base da boarelação médico/doente. Noutropasso desta Encíclica, ao tratar dedesenvolvimento humano, usa oprincípio ético da justiça, comoequidade, para pugnar pela atençãoprivilegiada aos que pouco ou nadapossuem.Penso, assim, poder afirmar que aBioética esteve sempre presente nareflexão Papal sobre os problemashumanos.

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Um Papa do diálogo O jornalista e antigo diretor doSemanário ‘Expresso’ HenriqueMonteiro diz que o pontificado deBento XVI fica marcado pelaforma decidida como o Papacriticou a decadência dentro daIgreja e favoreceu o diálogo inter-religioso. Agência Ecclesia (AE) – Quais sãoos momentos chave que serãolembrados deste pontificado dequase oito anos?Henrique Monteiro (HM) – Aencíclica sobre o amor, de 2005,penso que é uma encíclica notáveldo ponto de vista filosófico. Ficatambém a condenação firme que oPapa fez dos abusos sexuais e dapedofilia, e uma coisa muitoimportante que ele disse: que osinimigos da Igreja estão dentro enão fora, pela primeira vez houveum responsável que assumiu que oproblema é da Igreja e que deve serresolvido pela Igreja.Em terceiro lugar, e parece-me quetalvez seja o seu legado maisimportante, os passos que ele

deu para um melhor diálogo entreas diversas correntes, não só docristianismo como até com ojudaísmo, com o islamismo e comoutras crenças.Penso que o Papa percebeu muitobem que o grande inimigo dacivilização é o relativismo moral, eque todas as crenças, e estou afalar de religiões que se possamconsiderar antigas e sérias,comungam desse principio antirelativista, que devia serdesenvolvido por todas as pessoasque creem em alguma coisa.Ele, que sempre foi um homemligado à filosofia e ao pensamentoracionalista, entendeu isso muitobem e vai deixar esse legado. AE –Em 2005, o Papa começa porter uma homilia exatamente sobre orelativismo.HM – Era uma preocupação jáantiga, mas ele deu-lhe um corpoteórico muito importante, porquehoje quando olhamos para umasociedade, nomeadamente noOcidente, no geral confunde-se atolerância, principio que eu achoque todas as pessoas civilizadasdefendem, com a igualdade detodas as teorias.

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Não é isso que é a tolerância, atolerância é saber conviver com asoutras pessoas, em plano deigualdade.E confunde-se o pluralismo, umanecessidade de qualquer sociedadeevoluída, de se poderem expressartodas as opiniões, com o facto detodas as opiniões serem todasiguais, quando não é disso que setrata.O que interessa é que todospossam expressar as suaspreferências, mas que haja umaconsensualização social sobre ofacto de existirem valores maisimportantes do que outros, como ajustiça, a verdade, a paz, queobviamente não são valores iguais àinjustiça, à inverdade e à guerra.

AE – Pode dizer-se que Bento XVIdeixa uma marca no diálogo com omundo secular?HM – Penso que sim, penso que oanterior Papa, João Paulo II, umhomem muito carismático e popular,conseguiu ter algum sucesso naEuropa, mas teve principalmente umsucesso enorme fora da Europa.Com Bento XVI aconteceu ocontrário, ele conseguiu fazer comque alguns intelectuais dentro daEuropa olhassem para a Igreja deoutra forma, porque ele própriotambém olhou para algunsintelectuais dentro da Europa,mesmo aqueles não católicos, comoaliados num combate mais vasto,sobre o problema do relativismo.

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Breves apontamentos

João Aguiar Campos,Diretor do SecretariadoNacional dasComunicações Sociais daIgreja

O pontificado de Bento XVI nasceu sobre o signoda desconfiança e dos preconceitos de todosconhecidos. Por isso, mesmo quando os seusatos e palavras começaram a desmentir quantocada um julgava saber, os juízos já formatadosnão se diluíram de todo. Basta, aliás, consultarmeia dúzia de recortes ou extratos de noticiáriosradiofónicos ou televisivos para encontrarmos,colados à sua pessoa, rótulos depreciativos. Noentanto, desde os primeiros instantes do seupontificado, o Papa quis deixar clara a vontadede respeitar os profissionais da comunicaçãosocial. Assim o declarou em 23 de abril de 2005,discursando perante os representantes dosmedia reunidos em Roma -- afirmando ter comomodelo o diálogo aberto e sincero de João PauloII. Mas também desde logo deixando claro que«para que os instrumentos de comunicaçãosocial possam prestar um serviço positivo aobem comum, é preciso uma contribuiçãoresponsável de todos e de cada um».Bento XVI nunca quis uma comunicaçãodesencarnada. Pelo contrário, reivindicouperante os responsáveis dos meios decomunicação social da igreja italiana (em 2 dejunho de 2006) um trabalho jornalístico que váalém do abstrato ou puramente intelectual, paraestar atento «aos numerosos aspetos da vidaconcreta de um povo, aos seus problemas,necessidade e esperanças»; defendendopermanente diálogo entre fé e cultura. Uma eoutra, indubitavelmente marcadas pelas novastecnologias e suas

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consequências antropológicas.«O papel que os instrumentos decomunicação assumiram nasociedade é já considerado parteintegrante da questãoantropológica, que surge comodesafio crucial do terceiro milénio»-- escreveu o Papa na Mensagempara o Dia Mundial daComunicações Sociais de 2008.Exortou, por isso, à necessidade deuma reflexão em torno destamatéria, dentro e fora da Igreja.Logicamente, à AssembleiaPlenária do Conselho Pontifíciopara as Comunicações Sociais pôs,em fevereiro de 2011, perguntasclaras: «Que desafios coloca à fé eà teologia o chamado pensamentodigital? Quais as suas perguntas eexigências?». É que, como lembrana Mensagem para o Dia Mundialdas Comunicações Sociais/2013,«a cultura das redes sociais e asmudanças e estilos dacomunicação colocam sériosdesafios àqueles que querem falarde verdade e de valores», tendoem conta a sua vocação de fatoresde desenvolvimento humano.Porque nada

disto se consegue, porém, semesforço, Bento XVI defendeu anecessidade de «educar-se emcomunicação». O que, no seu pontode vista, implica «aprender a escutar,a contemplar, para além de falar»(Mensagem de 2012). É que«também na era digital, cada um vê-se confrontado com a necessidadede ser pessoa autêntica e reflexiva»(Mensagem 2011).Difícil? Exigente? Pois sim. Nada,porém, pode servir de piedosadesculpa para os que temem osriscos; porque o mandato é evidente:«Ide por todo o mundo e proclamai oEvangelho a toda a criatura» (Mt16,15). Sem descurar meios elinguagens.

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A Cáritas no pontificado de BentoXVI

Eugénio FonsecaPresidente da CáritasPortuguesa

“Fé, Esperança e Caridade”. As virtudesfundamentais que regem a vida cristã foramevidenciadas por Bento XVI durante o seupontificado de uma forma quase “exuberante”.No encalce da convicção paulina, o Santo Padrediz-nos que a maior virtude do cristão éprecisamente a caridade. E citou, variadíssimasvezes, os escribas bíblicos João e Tiago paradeixar bem claro que a fé não é credível se nãofor sustentada por ações operativas da caridade.Se a fé não se traduz em obras de caridade, nema esperança o tem como fundamento, para nadaserve porque está ferida na sua essência.Reconhecido como um homem racionalista emuitas vezes apontado por ser excessivamentedogmático e até mesmo intransigente nocumprimento de normas, surpreende de formaparticular ao evidenciar na sua primeira cartaencíclica a importância incontornável do amorpara a realização plena de cada ser humano epara a autenticidade das comunidades cristãs.Com esta opção marcou o itinerário fundamentaldo seu pontificado. Deus Caritas Est é uma cartabreve mas de grande profundidade depensamento. Bento XVI conjuga, nestedocumento, aspetos filosóficos com aspetosoperativos e não se “esquivou” às diferentesdimensões do amor humano (DCE, 3). No primeiro capítulo e para que o ágape nãofique apenas ao nível da teoria, o Papa assumeaspetos tão

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objetivos como a afirmação de quea Caridade necessita de serorganizada e de ter competênciasprofissionais, mas sem descuidar aimportância da “formação docoração”, porque Deus habita ocoração dos homens. (DCE, 31-a)Apesar disto, e no meu entender,mais do que a Deus Caritas Est, é aencíclica Caritas in Veritate que ficacomo um tesouro que Bento XVIdeixa não apenas à Igreja mas àHumanidade. Neste documento oSanto Padre deixa uma nova visãosobre o amor que é aplicado aohomem concreto deste tempo ecomo fator determinante para atransformação da atual civilização.Neste texto, o “amor” passa daesfera pessoal/humana/eclesialpara a dimensão, ainda poucopenetrada, da economia, do social,da política, da cultura e doambiente. Para percebermos aimportância desta encíclica no atualcontexto, deixo a referência aonúmero 48: “…os projetos para umdesenvolvimento integral nãopodem integrar os vindouros, masdevem ser animados pelasolidariedade e a justiça entre as

gerações, tendo em conta osdiversos âmbitos: ecológico, jurídico,económico, político, cultural”.Bento XVI não quis finalizar o seumandato sem deixar orientaçõesnormativas com a publicação dacarta apostólica sob a forma demotu próprio Intima EcclesiaeNatura sobre o serviço da caridade,segundo a qual as comunidades sedevem organizar para tornar maiseficiente o testemunho da caridade,nomeadamente, que o “Bispofavoreça, em cada paróquia da suacircunscrição, a criação de umserviço de «Cáritas» paroquial ouanálogo, que promova também umaação pedagógica no âmbito de todaa comunidade educando para oespírito de partilha e de caridadeautêntica”.Desejo muito que, como noutrasáreas da ação pastoral, se procurea fidelidade à missão do Sucessorde Pedro. Só assim a Igrejaconseguirá ser timoneira nocaminho em direção à viragemcivilizacional que o mundo reclama.

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Cúria Romana, mito e realidade Os “escândalos” trazidos a público pela divulgação na

imprensa de documentos reservados do Papa, nofamoso caso ‘vatileaks’, contaminaram em grandeparte a leitura do trabalho de Bento XVI na conduçãodos órgãos centrais de governo da Igreja Católica, aCúria Romana, passando a imagem de “ovelha entrelobos” ou do “Papa só” perante as lutas de poder que,alegadamente, dominariam os corredores do PalácioApostólico.Eleito Papa aos 78 anos de idade, Joseph Ratzingersurgia aos olhos da opinião pública como umconhecedor das realidades da Santa Sé e mesmocomo a sua principal referência, em termos deautoridade, após o final de pontificado de João Paulo IIter sido marcado pela doença.A Bento XVI era pedida a “reforma” da Cúria Romana,uma expressão indefinida que terá, sem qualquerdúvidas, as interpretações próprias da sensibilidadede cada católico que se preocupe com a condução daIgreja. No geral, o Papa manteve a estrutura queherdou de João Paulo II – viria a abdicar da intençãoinicial de fundir os Conselhos do diálogo inter-religiosoe da cultura – e criou um novo ‘ministério’ para a novaevangelização, particularmente virado para o Ocidentesecularizado e descristianizado.Outra tarefa que envolveu a Cúria foi o tratamento deacusações de abusos sexuais sobre menorescometidos por membros do clero ou em instituições daIgreja. O Papa introduziu novidades introduzidas emrelação às Normas precedentes para tornar maisrápidos os procedimentos, como a possibilidade deproceder "por decreto extrajudiciário", ou deapresentar ao Papa, em circunstâncias particulares,os casos mais graves.

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Em julho de 2012, após o impactoprovocado pela prisão do seuex-mordomo, Bento XVI reunia-secom os responsáveis dos váriosdicastérios para ouvirconsiderações e sugestões queajudassem a “reestabelecer o tãodesejado clima de serenidade e deconfiança no que toca aos trabalhosda Cúria Romana”. Um esforço queparece estar por concluir e quedeixará uma tarefa particularmenteimportante para o seu sucessor.O Papa agradeceusistematicamente a colaboração dosvários organismos da Santa Sé, emparticular ao seu secretário deEstado, cardeal Tarcisio

Bertone, muitas vezes debaixo defogo por causa do que classificoucomo “críticas injustas”.Bento XVI reuniu-se várias vezes, àporta fechada, com os principaisresponsáveis da Cúria e encontrou-se anualmente com todos os seuscolaboradores mais próximos, naaltura do Natal, para um momentode balanço da vida da Igreja norespetivo ano.Em 2012, como “testamento” para ofuturo Papa, Joseph Ratzingeridentificou “três campos de diálogo”para a Igreja: os Estados, asociedade e as religiões.

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Uma renúncia em linha com opontificado O bispo do Porto considera que arenúncia de Bento XVI aopontificado deve ser lida na linhado que foi o atual pontificado,iniciado em abril de 2005,marcado pela “humildade” e“simplicidade” do Papa. Agência Ecclesia (AE) - Na suaopinião, quais foram os momentoschave deste pontificado de oito anosde Bento XVI?D. Manuel Clemente (MC) – Osmomentos chave começaram com asua própria eleição, porque tambémpara ele pareceu um tanto ouquanto inesperada, tinha 78 anos,assumir as funções que assumiunaquela altura terá sido umasurpresa para ele, para a Igreja epara o mundo.Uma surpresa que ele ultrapassoupositivamente muito depressa, nainauguração do seu pontificado, nahomilia que fez, naquela definiçãoda fé, do que é ser cristão, que elelogo ali apresentou e que depois o

acompanhou durante todos estesanos.Ele dizia que não é propriamenteuma ideia, uma formalidadequalquer, mas é a adesão a umapessoa viva,concreta, ou seja, à pessoa deJesus Cristo, e isto creio que é ocerne do seu pontificado.Eu creio que Bento XVI, com muitainteligência, sabedoria e clareza,deixou tudo mais definido, nosentido cristão do termo, da adesãoà pessoa de Jesus Cristo, no tirartodas as consequências daquilo queJesus de Nazaré disse e fez.Também não foi por acaso que oPapa pontuou a sua última parte dopontificado com três livrosdedicados a Jesus de Nazaré,aquela que foi verdadeiramente aafeição principal do seu pontificado.Com muita profundidade e commuita adequação até pessoal, elepercebe das próprias palavras deJesus Cristo que na Igreja se hápoder é só paraservir, e quando não se pode servir,deixa-se esse poder.Este último ato da renúncia vainesse sentido, da adequação àmensagem

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de Jesus Cristo, e a Igreja não temmais nada para fazer, isto já é muitopara fazer. AE – A renúncia de Bento XVI foium ato que surpreendeu tudo etodos mas que, ao mesmo tempo,mostra muito a sua humidade. Podeser considerado um exemplo?MC – Vem muita na sequência doque está atrás, ele apresentou-secomo um humilde servidor da Igreja,aquando da sua eleição, e creio queessa nota

da humildade foi patente mesmoquando nós nos abeirávamos dele.Ainda durante a última reunião doSínodo dos Bispos em outubro(2012), durante aquelas trêssemanas na aula sinodal, erasempre essa humildade quetransparecia, no fundo asimplicidade dos homens sábios einteligentes que sabem que o queimporta verdadeiramente é amensagem que transportam, nocaso a pessoa de Jesus Cristo.

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Fragilização da palavra

José Maria Silva Rosa

Hoje, dia 28 de fevereiro de 2013, às 20:00h, oPapa Bento XVI, depois de “ter consultado a suaconsciência perante Deus, por várias ocasiões”,renuncia formalmente ao cargo. O presente nãopensa. Por isso, em cima do acontecimento, não épossível avaliar o cabal significado e a importânciadeste gesto absolutamente inédito na história daIgreja. Sim, inédito: nunca nenhum Papa (ClementeI, em 97; Ponciano, em 235; Silvério, em 537; BentoIX, em 1045, Celestino V, em 1294, e Gregório XII,em1415) renunciou nas condições em que BentoXVI o faz.Quando o teólogo Joseph Ratzinger, em 19 de abrilde 2005, chegou à Sé de Pedro, vindo de umalonga Prefeitura no ex-Tribunal do Santo Ofício(desde 1981), no âmbito do qual o tratamento dedossiers quentes como o de H. Küng, K. Rahner,Ch. Curran, L. Boff, entre outros, lhe valera, porparte dos ‘media’, o título pejorativo de “God'sRottweiler” ou “Pastor alemão”, todas as perspetivasapontavam para um Pontificado marcado peloconservadorismo moral e o zelo pela purezatradicional da Fé, em total continuidade com opontificado “moralista” de João Paulo II. É possívelque muitos, ainda hoje, ainda avaliem o seupontificado tão-só por este viés: o modo comoabordou o preservativo, o aborto, ahomossexualidade; a abertura para com oslefebvrianos e a Sociedade São Pio X; a‘venerabilidade’ de Pio XII, as missas em latim, etc.,etc. Não é que não tenham razão. Mas, em meuentender, seria de uma parcialidade intolerável nãoatender outros gestos e palavras

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que, na longa duração, farão deBento XVI um Papa profético.Noto o facto de o Papa tercontinuado a escrever e publicartextos como teólogo JosephRatzinger, sujeitando a sua leitura àapreciação crítica dos seus pares.Esta deliberada fragilização da suapalavra atalhou cerce umatendência para a infabilização, oumesmo ‘papolatrização’ de qualquerpalavra papal, que se acentuara naapoteose mediática do pontificadoanterior. Entre o Pastor e o Doutor,mesmo no caso do Papa, há umasadia tensão e diferença que nãodeve ser anulada. E aqui Bento XVIretoma uma antiga e salutartradição. Considero este um doshorizontes hermenêuticos maisfecundos deste pontificado, nosentido do futuro diálogo entre a fée a razão de uma desejáveldessacralização da instituição papal.Claro que Bento XVI não abdica deque o primado de Pedro seja o doprimado da caridade na verdade,contra o grassante relativismo pós-nietzscheano; mas nem todos viramque isso não dependia de qualquerepistemologia demodée, mas sim dasua fé em Jesus de Nazaré. BentoXVI é um cristão verdadeiro, um

sincero homem de Deus, e isso ésempre de admirar, mormente emalguém tão longamente rodado naslides da cúria…Poder-se-ia referir a qualidadeteológica, filosófica, social das suas(apenas!) três Cartas Encíclicas:Deus é Amor (2005); Salvos naEsperança (2007) e A caridade naVerdade (2009). Não muitas, maspalavras de primeira água.Precisava-se disso. Depois mereceser sublinhada o desassombroevangélico com que tratou o cancroda pedofilia na Igreja. Ninguém maispode escudar-se no silêncio porcausa dos superiores interesses dainstituição. E hoje, às 20:00h, umgesto crítico-profético e ummomento histórico: quando tantossó querem o poder, abdicarlivremente do poder papal, eis a‘caritas in veritate’ que, lá no maisíntimo da sua consciência, Bento XVIachou que poderia e deveria prestarà Igreja que ele ama. Oxalá, atravésdos cardeais brevemente reunidos,ela aproveite a graça, o kairós, ovento oportuno deste gesto quehoje lhe é dado. “Spiritus ubi vultspirat.” Também em Roma.

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O Papa pertence a todose todos lhe pertencem

Padre Tiago Freitas,patiodosgentios.com

Quando Bento XVI terminou a catequese da suaúltima audiência geral, não era claro se tinha feitoum comentário ao texto bíblico de S. Paulo ou se,por outro lado, havia incarnado o espírito dogrande apóstolo dos gentios. As semelhanças eramevidentes demais para serem ignoradas: o estilocoloquial e afetuoso do discurso, a releitura do seuministério paterno à luz da cruz de Cristo, oreconhecimento das suas fragilidades e a análiseda identidade da Igreja. Pessoalmente, e talvez atodos os que ali estiveram presentes, pareceu-nosescutar algumas passagens íntimas do seu diárioespiritual.A grande inclusão do seu discurso – que inicioucom «agradeço-vos por terem vindo» e terminoucom um simples «obrigado!» – deu o tom de açãode graças e de despedida ao momento. Palavrasrecebidas calorosamente e retribuídas na justamedida. A cada duas ou três frases, Bento XVI erainterrompido pelos aplausos e pelas bandeiras queespelhavam a criatividade dos povos. Lembro-mede um particular curioso. A dada altura assisti a umdiálogo improvisado (não real) com a assembleia.Ao meu lado, um homem gritava «Resta con noi» –fica connosco – e o Santo Padre afirmava um«sempre» e «para sempre». «Não abandono acruz, mas permaneço de um modo renovado juntodo Senhor crucificado».Encontro emotivo? Talvez. Verdadeiro? Certamente.Verdadeiro porque Bento XVI apresentou a suaalma com uma transparência desconcertante. Apalavra que mais

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vezes repetiu foi «sinto» (algoparadoxal para quem foirepetidamente rotulado de frio edistante). Sentia alegria, confiança eo apoio familiar das «pessoassimples» que lhe escreviam naqualidade de «irmãos e irmãs». Comverdade afirmou «nunca me sentisó». Sentiu também o peso da cruz,da idade, das forças. Sentiu quedevia justificar uma vez mais o seugesto «difícil», «grave» e «novo».Fê-lo, todavia, com serenidade deespírito e consciente que a «barcada Igreja não é minha,

não é nossa, mas é Sua [Cristo]».Porventura este foi o últimotestemunho público de Bento XVI: «aconsciência é o centro mais secretoe o santuário do homem, no qual seencontra a sós com Deus, cuja vozse faz ouvir na intimidade do seuser» (GS 16). E, por isso, naoração, no confronto com Cristo ena sua íntima consciência tomou adecisão «mais justa, não para opróprio bem, mas para o bem daIgreja». Igreja essa que agora seabre novamente à voz do Espírito.

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Obrigado Bento XVI

Não tenho qualquer competênciapara analisar o pontificado do PapaBento XVI. Não sou um teólogo, nemum entendido ou especialista. Soujovem e sou leigo. Mas gosto doPapa como se gosta muito dealguém da nossa família, como segosta de um avô. A minha visãoparte dessa predisposição,totalmente parcial.Festejei a eleição do Papa em 2005com muito entusiasmo. Passadosuns meses já estava no meio de ummilhão de jovens nas JMJ deColónia para ouvir frases assim,diretas ao coração: Quem faz entrarCristo na própria vida nada perde,nada absolutamente nada do quetorna a vida livre, bela e grande.Mais tarde, tive a sorte de viver umano em Roma, e de ouvir o Papavárias vezes, em audiências eMissas. É difícil esquecer a Basílicade São Pedro às escuras na VigíliaPascal, iluminada apenas com a luzdas velas, e ouvir a voz fina doPapa a rezar. Vi-o na varanda doPalácio em Castel Gandolfo, entrecentenas de jovens, num encontrode internacional das Equipas deJovens de Nossa Senhora.

Mas a experiência que mudou aminha forma de olhar para o Papa epara a Igreja, chamou-se «EuAcredito». Durante cinco meses,vários jovens de diferentesmovimentos prepararam umaproposta para os jovens quequeriam estar com o Papa na suavisita a Portugal em 2010.Começámos por ser seis numa sala,e acabámos 11mil a atravessar ocentro de Lisboa para ir à Missa noTerreiro do Paço. E o que marcoumais não foi o número de jovenscatólicos, nem a forçaimpressionante da Igreja vibrante ejovem. Foi antes ver como nosunimos à volta do nosso Papa.Como podemos estar juntos, fazercoisas extraordinárias, quandoapontamos para uma coisa maiorque nós. O Papa foi o sinal maisforte que precisamos de estar juntose unidos.Em 2011, tivemos ainda o privilégiode ir a Roma agradecer ao Papa asua vinda, e entregar em mãos, umlivro e t-shirt do «Eu Acredito».Esses momentos marcaram pelasimplicidade e humildade, destehomem enorme.

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João Valentim com Bento XVI

Ao longo dos anos, a transparênciae clareza das suas mensagens eencíclicas, iluminaram os nossoscaminhos e decisões. E por fim,neste final de pontificadosurpreendente, voltamos a aprendercom a sua coragem e humildade.Foi uma grande honra ter este Papaà frente da nossa Igreja. Não

esqueceremos as suas palavrasditas no calor de Madrid, nas JMJ de2011: O mundo necessita dotestemunho da vossa fé; necessita,sem dúvida, de Deus.Por isto e tanto mais, no último diado seu pontificado, vamos juntar-nos de novo para dizer apenas isto:Obrigado Bento XVI.

João Valentim

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Bento XVI, o escritor

O responsável pela edição departe da obra literária de BentoXVI em Portugal acredita queJoseph Ratzinger traçou uma“marca indelével” nopensamento teológicocontemporâneo e que o Papaemérito “vai voltar a escrever. Agência Ecclesia (AE) – Bento XVI éum teólogo reconhecido que deixaem muitos livros o seu legado.Henrique Mota (HM) – Dizem osperitos – eu sou apenas o editor de23 livros de Joseph Ratzinger, BentoXVI - que ele deixará uma marcaindelével entre os teólogos dosséculos XX e XXI, nomeadamenteatravés da sua obra final, os trêslivros sobre Jesus de Nazaré, quese comportam como uma novacristologia, uma nova proposta deleitura, de estudo, de análise eoração sobre a pessoa de JesusCristo.

AE – Quando Bento XVI visitouPortugal, teve oportunidade deacompanhar de perto esta visita.Tem algum episódio que recordemais, como é que viveu aquelesdias?HM – Naqueles dias trabalhei noapoio essencialmente aos jornalistasque vinha na comitiva papal, emligação estreita com a sala deimprensa da Santa Sé. Foram diasde muito trabalho que culminaramnum encontro com o Santo Padre,durante o qual fui apresentado a eletambém como editor dos seus livros.Recordo a boa disposição e abonomia com que comentou “Ohcoitado”, como se ser editor dosseus livros fosse uma coisaproblemática. Pelo contrário, paramim foi sempre uma grande alegriapoder publicar grande parte da obraque ele escreveu, desde a primeiraintrodução ao cristianismo,verdadeiramente o seu primeirolivro, ainda numa fase inicial do seuensino da teologia, até agora aoterceiro volume de “Jesus daNazaré”.

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AE – Verdade, amor e caridade,serão as palavras com que o Papaserá lembrado?HM - Sim, essas com certeza, masjulgo também com muitas outras, eunão tentaria reduzir aquilo queprecisa de ser explicado a umadefinição de algumas palavras,porque ficarão outras de fora, comoa complacência, o sorriso, asimpatia, a amizade, o rigor, afidelidade, tantas, tantas, tantas. AE – Quanto ao futuro, espera eperspetiva que ele volte a escrever,depois da da sua renúncia?HM – Eu respondo duas coisasdiferentes: seguramente que o Papavai escrever, não tenho nenhuma

competência especial para dizer istomas estou absolutamenteconvencido disso até por aquilo quesei dos momentos de tranquilidadede Bento XVI que são, além de tocarpiano, estudar teologia e escreversobre teologia.Ao mesmo tempo que vai rezar mais,vai também ter mais coisas paraescrever, mas não tenho a certezade que esses textos venham a serpublicados nem na sua vida nem navida do seu sucessor.Não acharei estranho que essestextos fiquem guardados, lacrados,para publicação num outromomento, quando não houverqualquer risco de interferência nopontificado do seu sucessor.

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Em louvor do Papa que me nomeou

D. Manuel Linda, BispoAuxiliar de Braga

O homem não é só racionalidade. De vez emquando, «como sal na comida», não ficará maluma pitada de emoção. Um registo mais pessoal,ternurento e até sentimental, quanto mais nãoseja, pode adocicar o discurso cerebral, que émarca da Igreja. Mesmo que disso não nosdemos conta.Vem isto a propósito do facto inusitado daresignação de Bento XVI. Recordo, com nostalgia,o dia 21 de setembro de 2010. Os cento e dezbispos «jovens» ou de recente nomeação, queestávamos em Roma para a reflexão do início doministério, fomos por ele recebidos. Quandochegou a vez de o cumprimentar, agradeci-lhe avisita pastoral que, no anterior mês de maio,havia realizado a Portugal. Nesse momento, comas suas mãos envolveu as minhas e pronunciouas palavras que se me gravaram para sempre:“Indimenticabile, indimenticabile!” (Inesquecível,inesquecível).Ripostei que também tinha sido inesquecível paraPortugal. E com a ternura de um avozinho, pediu-me: “Reza à Senhora de Fátima pelo bom êxitoapostólico da viagem à Inglaterra”. Todossabíamos, de facto, que esta, a iniciar passadospoucos dias, seria mais uma visita «de alto risco».E que, graças a Deus, também se saldou por umenorme êxito.

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Pois, nestes dias que correm,quando o nome de Bento XVI será,porventura, o mais pronunciado àescala mundial, para sintetizar osquase oito anos do seu ministériopetrino, à minha mente aflorasempre uma palavra:“Indimenticabile”. Inesquecívelporque ensinou aos de dentro arezar a fé e porque convidou osracionalistas a serem racionais.Inesquecível porque recordou àIgreja que continua a haver«pecados que bradam ao Céu» eporque instigou o mundo a tornar-se pátria dos valores e não dairracionalidade. Inesquecívelporque não deixou que os crentesse fechassem em ghetto, masindicou a via da colaboração comoo único caminho andável.Inesquecível porque estendeupontes ecuménicas e de diálogointer-religioso e a todos convidou aque nos sentíssemos participantesda mesma natureza humana,mesmo antes de nos crermosreligiosos. Inesquecível porquesoube ver nas artes e no altopensamento lugar de encontro coma «Beleza sempre antiga e sempre

nova». Enfim, inesquecível porque,com a coragem da sua resignação,soube colocar os interesses da Igrejaacima de tradições, falsas prudênciase mistificações ideológicas.Por tudo isto e por aquilo que aspalavras não conseguem exprimir, asingeleza de um testemunho: “Tu seistato indimenticabile, Santo Padre.Grazie!” (Tornaste-te inesquecível,Santo Padre. Obrigado).

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Dias de perplexidade,esperança e purificação

Rui Martins, AgênciaECCLESIA

- Um dos sinais de que a cultura cristã está adesaparecer do mapa de Portugal é amenorização política a que se tem votado oaumento constante do desemprego, o problemasocial mais grave com que o país se confronta. Aguerra ao défice, à dívida e aos juros mata aesperança e deixa cada vez mais pobres aodeus-dará.A intervenção da Igreja no apoio a quem maisprecisa de comer e vestir, bem como naapresentação de propostas que visam a criaçãode trabalho e a distribuição mais justa da riqueza,tem contribuído para que a herança docristianismo se mantenha viva. Entre hoje edomingo decorre o peditório nacional da Cáritas,uma das instituições que não quer gerir apobreza dos pobres mas aposta em libertar ospobres da pobreza.Pena é que a Igreja nem sempre seja coerentecom os seus princípios: esta semana foidespedida mais uma jornalista na Logomedia,cooperativa católica que durante anos asseguroua produção dos programas “Ecclesia” e “70X7”,hoje confiada a uma empresa externa. - As acusações sobre o bispo D. Carlos Azevedolevantam suspeitas sobre comportamentos,silêncios e conspirações. Na imprensa e najustiça, em Portugal e no estrangeiro, recorda-see revela-se o passado alegadamente sombrio depadres e cardeais.

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- As palavras de Bento XVI na últimaaudiência geral mostraram um Papaafetuoso e confiante no futuro deuma Igreja que, quando enraizadaem Cristo, resiste às águas agitadasque sempre fizeram parte da suahistória. A serenidade com que oPapa se despediu é um sinal deesperança para os católicos, querapidamente se parecem terrecomposto do choque da renúncia. - “A neve pôs uma toalha caladasobre tudo”, escreve Alberto Caeiro,enquanto Augusto Gil conta que ela,“branca e leve, branca e fria”, “pôs

tudo da cor do linho”. “Assim como achuva e a neve descem do céu, enão voltam mais para lá, senãodepois de empapar a terra, de afecundar e fazer germinar, para quedê semente ao semeador e pãopara comer, o mesmo sucede àpalavra que sai da minha boca: nãovoltará para mim vazia, sem terrealizado a minha vontade e semcumprir a sua missão”, diz Deus pelapalavra de Isaías. E no salmo sobreo arrependimento mais conhecidoda Bíblia lemos, ouvimos e rezamosuma súplica: “Purifica-me com ohissope e ficarei puro/ lava-me eficarei mais branco do que a neve”.

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ZARAFA

Em 1820, Alexandria procura obter oapoio dos franceses na defesa daameaça de invasão pelos turcos.Entre os esforços diplomáticosenviados, inclui-se Zarafa, umapequena e exótica girafa que o Paxádo Egito pretende oferecer a CarlosX, Rei de França. Para tal,encarrega Hassan, Princípe doDeserto, do seu transporte.Assustada, fora do seu habitat,Zarafa está prestes a deixar a mãe.Mas não está só. Consigo viaja otambém pequeno Maki, um meninosudanês cheio de coragem decididoa escapar da escravidão a queparecia condenado e a cumprir apromessa de salvar Zarafa docativeiro. Do Egito a França, Maki eZarafa embarcam então numaextraordinária e perigosa aventura acaminho da liberdade que lhespertence por condição!

Baseado em factos verídicos, quecorrespondem ao empreendimentodiplomático de Muhammad Ali juntode Carlos X no início do séc XIX, emque se incluiria uma bela e vistosagirafa admirada por muitos e capazde influenciar a tendência da modaparisiense, ‘Zarafa’ estreia estasemana em cinema como uma dasprimeiras propostas para crianças àbeira de férias (da Páscoa).Projeto encabeçado pelosrealizadores Rémi Bezançon e Jean-Christophe Lie, este último comcréditos firmados no departamentode animação de filmes como ‘AsTriplettes de Belleville’ ou ‘Tarzan’,surge como um delicioso misto deaventura, fábula e manifesto peloinalienável direito à liberdade, sejaele humano ou animal, contra aescravatura ou o cativeiro.

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Contrariando a força propulsora do3D, que hoje preenche a maioriados ecrãs de cinema, sobretudo noque se refere a propostas para osmais novos, esta co-produção deorigem belga e francesa, comargumento assinado por Bezançone Alexandre Abela, vence econvence numa muito cuidadaversão a duas dimensões.Visualmente atraente, com uma boa

gestão narrativa e todos osingredientes necessários a umaempolgante e inspiradora aventura(amizade, esperança, coragem,redenção), eis aqui uma propostacinematográfica divertida e de valor,para crianças e jovens viverem eaprofundarem... bons valores!

Margarida Ataíde

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Cáritas Portuguesa online http://www.caritas.pt/

Decorre entre 24 de fevereiro e 3 de março a semananacional da Cáritas, este ano sob o tema: "Fécomprometida: cidadania ativa". Esta organização quefaz parte da Confederação Mundial - CaritasInternationalis - atua em mais de 162 países e é uma“instituição oficial da Conferência EpiscopalPortuguesa, que tem como objetivo servir deplataforma para a ação social da Igreja, junto dos maisdesfavorecidos”.Ao digitarmos o endereço www.caritas.pt somosinformados sobre as ações de solidariedade que estãoa decorrer, bem como as principais notícias dasatividades que ocorreram ou irão ser implementadas.Na opção “quem somos”, podemos conhecer maissobre a Cáritas Portuguesa, objetivos, história ecorpos sociais e ainda perceber um pouco melhora ação da Cáritas em Portugal. Nomeadamente épossível saber que a sua rede é constituída por 20Cáritas diocesanas e por grupos locais de atuação deproximidade, com a colaboração de profissionais evoluntários.

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Caso queira saber tudo sobre ascampanhas de solidariedade emPortugal e no mundo, que se“destinam a ajudar os mais pobresque sofrem, quer por desastresnaturais ou catástrofes humanas”,basta clicar em “campanhas”.No item “projeto”, obtemos maisdados sobre os programas que sãodesenvolvidos nos mais variadoslocais, junto dos mais carenciados,na luta contra a exclusão, naformação de agentes, nasensibilização para odesenvolvimento. Tudo isto são“temas que se cruzam nestesprojetos, sempre em parcerias comatores locais, privados ou públicos”.Esta instituição católica apoia ecolabora nas diversas iniciativaspromovidas pelas mais distintasassociações / agentes dasociedade. Seja na colaboraçãocom as instituições de apoio aosimigrantes, seja na assistência emsituações de emergência, por outrolado assume ainda aresponsabilidade de facilitar

a formação de todos os quepraticam e animam a pastoral dacaridade e ainda, promove e suportaparcerias de voluntariado. Paraconhecer tudo isto e muito maisbasta aceder a “ações em parceria”.Por último, sugerimos que passepelo espaço “como colaborar”, ondefica a conhecer formas decooperação com esta organizaçãocatólica.Fica então lançado o repto para quevisite o sítio e colabore com estainstituição porque, em época decrise instalada no nosso país,“edificar o Bem Comum é uma tarefade todos e de cada um”.

Fernando Cassola Marques

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Nenhum desejo é irrelevante

«Somos movimento, somos fluir,somos alternância. Somos gente emacontecimento. Temos ainda paraaprender uma suavidade no olharsobre nós próprios e sobre osoutros.» Excerto do mais recente livro domonge Carlos Maria Antunes«A multiplicidade, a dispersão etambém as contradições dos nossosdesejos fazem apelo a um processode reconciliação. E quando se dizreconciliação, de nenhum modo sepretende dizer – nem faria sentido –marginalização de algum sentimentoque nos habite. É importante afirmá-lo, porque existe uma tentaçãocomum de separar bons e mausdesejos.Aliás, não o fazemos só com osnossos desejos. Gastamos uma boaparte da nossa energia a traçarfronteiras. Somos herdeiros de umavisão dualista do mundo e de nóspróprios, geradora de tantosofrimento. Quantos de nós nãocarregámos, ou ainda carregamos,com o peso de um sentimento ou de

um desejo que consideramos comomau?O moralismo é uma das pioresameaças a uma sã espiritualidade.Não deixa espaço à indagação,fecha todas as possibilidades dedescoberta, destrói a autonomia e aconsequente liberdade do sujeito,pois apresenta-se a priori como umasentença definitiva, interiorizadaacriticamente como reflexo de umdeterminado contexto cultural.Deveríamos ser maisperscrutadores atentos da vida doque catalogadores.Somos movimento, somos fluir,somos alternância. Somos gente emacontecimento. Temos ainda paraaprender uma suavidade no olharsobre nós próprios e sobre osoutros. Não terá sido esse o olharde Jesus ante a mulher adúltera (Jo8,3-11)? Ele baixa os olhos, inclina-se para o chão, sabe que somos póda terra. Recusa-se a julgar e acondenar. «Quem estiver sempecado que lhe atire a primeirapedra!» – diz, criando assim umespaço de autointerrogação,

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convidando a um peregrinar da leipara o coração, possibilitando quecada um se confronte com a suaprópria contradição. Ninguém saicondenado; todos partem, incluindoa mulher, num processo dereconstrução, que só o amor tornoupossível.»Carlos Maria Antunes, in Só o Pobrese faz Pão, Paulinas Editora 2013,pág. 26 Título: Só o Pobre se Faz PãoSubtítulo: Entrecruzar jejum,interioridade e compaixãoAutor: Carlos Maria AntunesEditora: Paulinas EditoraColeção: Poéticas do Viver Crente –série Linhas de RumoDireção e Coordenação: JoséTolentino MendonçaPáginas: 128Formato: 14x1,2x21 cmPVP: 9,90€CB: 5603658156881ISBN: 97898967329361ª Edição: 18 fevereiro 2013

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II Concílio do Vaticano:Teimosia ou intuição de fé?

Quando o II Concílio do Vaticano começou “a mexercom a vida da Igreja e a impressionar o mundo”, obispo de emérito de Portalegre-Castelo Branco, D.Augusto César, andava por terras de missão, emMoçambique. Segundo se ouvia da ComunicaçãoSocial, a iniciativa era devida, para uns, “à teimosia”do Papa João XXIII e, para outros, “à sua intuição defé”.Numa conferência, na última Semana de Estudossobre a Vida Consagrada e intitulada «A Igreja à luzdo Concílio. Olhar retrospetivo», D. Augusto Césardisse aos participantes que pela “continuidade do queveio a acontecer”, não se duvida que “foi mesmo pelasua intuição de fé”.Como a fé “tem outro modo de pensar”, o preladoreferiu que o II Concílio do Vaticano ganhava “alento edava sinais dum discernimento amplo e bemponderado”. Segundo o orador, a Igreja pôs-se aolhar para “sim mesma e para a missão que lhe foraconfiada” e também para o mundo “que se mostravagrávido de desejos incontidos, de promessasambiciosas e de outras aventuras”.Apesar de ter 50 anos de vida, para o bispo eméritode Portalegre-Castelo Branco, o II Concílio doVaticano continua “vivo” e os cristãos ainda não oaprofundaram “suficientemente”, disse à AgênciaECCLESIA.

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A respiração do Concílio deu azo “aexcessos e a sonhosdescontrolados”, à semelhança dequem viaja nas “auto-estradas, comânsia de chegar depressa e longe…deixando no esquecimento aspessoas que moram ao lado oupara além das bermas protegidas”,acentuou e exemplifica:“celebrações improvisadas oumesmo desprovidas de verdadeiraunção espiritual; uma certa empatiaem relação à moda; algum desafetopelo sagrado e, ainda, algumasedução pela autonomia laica,contagiando o interior da família e acomunidade”.Apesar dos excessos, D. AugustoCésar frisa também que esteacontecimento convocado por JoãoXXIII e que teve o seu início emoutubro de 1962, despertou umentusiasmo “fecundo pela Palavrade Deus… pela Doutrina Social daIgreja… pela celebração da féconscientemente assumida… porum ardor apostólico exercitado aoperto e ao longe… e pela oraçãomais assídua, que fecundava todaesta sementeira”.Este bispo que foi tambémmissionário em África revelou que,naquele

continente, desenvolveram-se trêsaspectos “achados maisimportantes: o catecumenatoassumido e praticado comresponsabilidade, em muitasmissões; a formação de catequistasfeita em centros apropriados e oconselho pastoral dos anciãos queestimulava a vivência comunitária ea boa prática dos sacramentos”.Em relação à Europa, D. AugustoCésar – nascido em Celorico deBasto (Braga), em 1932 - apontatambém algumas áreas onde asdirectivas do II Concílio do Vaticanoforam notórias: catequese dainfância (só agora se vairecuperando a catequese dosadultos); ministérios laicais eordenado (nestes, valorizando odiaconado permanente), a liturgiamais participada e atraente (à contada música sacra bem cuidada) e,ainda, uma certa acção social atentaàs pessoas mais necessitadas dasparóquias.

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março 2013Dia 01* Guarda - Seia (Salão paroquial daIgreja Nova de São Romão)-Conferência «Redescobrir o IIConcílio do Vaticano hoje» porManuel Braga da Cruz. * Évora - Alámos (Centro Pastoralda Sagrada Família) - ConferênciaQuaresmal sobre «Viver a Fé noDeus de Nosso Senhor JesusCristo» por D. Manuel MadureiraDias. * Bragança - Início do segundosemestre do Instituto Diocesano deEstudos Pastorais.* Setúbal - Almada (Auditório doExternato Frei Luis de Sousa)-Colóquio sobre «Fé comprometida.Cidadania ativa» com MargaridaNeto de Francisco Sarsfield Cabrale integrada na Semana da Cáritasde Setúbal.

* Setúbal - Biblioteca municipal - Apresentação do filme «O Cônsulde Bordéus - Aristides de SousaMendes» seguido de debateintegrado na Semana da Cáritas deSetúbal.* Setúbal - Lavradio, Corroios eSetúbal - Tenda da partilha pararecolha de bens alimentares parafamílias carenciadas e integrada naSemana da Cáritas de Setúbal. * Fátima - Casa da Dores - Reuniãodos secretariados diocesanos dapastoral juvenil com o DepartamentoNacional. (01 e 02)* Porto - Colégio de Nossa Senhorado Rosário - Encontro «Maria InvictaIII - A fé em movimento» promovidopelas Equipas Jovens de NossaSenhora. (01 a 03)* Bragança - Macedo de Cavaleiros(Convento de Balsamão) -Retiro deQuaresma sobre «Um convite parauma autêntica e renovadaconversão» orientado pelo padreBasileu Pires. (01 a 03)* Leiria - Visita pastoral de D.António Marto às comunidadescatólicas da cidade de Leiria. (01 a10)

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Dia 02* Aveiro - Museu de Aveiro - Noitecultural sobre «O transcendentepresente» com a presença de EmíliaNadal e Gonçalo M. Tavares. * Braga - Sé - Lançamento do livro «P´ra além das noites sem luar» dePaulo Abreu com apresentação deD. António Moiteiro. * Setúbal - Peddy Paper relacionadocom a Semana Cáritas e com afigura de Aristides Sousa Mendes. * Fátima - Casa da Dores - IEncontro de Voluntários das JMJ doRio. * Funchal - Paróquia da Nazaré(18h15m) - Conferência Quaresmalsobre «A Fé dos Mártires do séculoXX» pela irmã Zélia Prior. * Coimbra - Ançã (Centro Paroquial)- Conferência sobre «A Fé rezada»pelo padre Carlos Delgado. * Braga - Centro Pastoral de SantoAdrião - Ação de formação relativaao «Projecto + Próximo»subordinado à temática “AcçãoSocial na Paróquia”. * Portalegre - Abrantes - Diadiocesano da família sobre«Família, embrião da fé e daevangelização».* Braga - Inauguração do NúcleoMuseológico do Carmo integrada nojubileu dos 360 anos da fundaçãodos carmelitas descalços em Braga.

* Lisboa - Peniche (Centrointerpretativo de Atouguia da Baleia)- Encerramento da exposição«Restaurando o passado: arte sacraem Atouguia da Baleia».* Lisboa - Igreja da Senhora daSaúde (10h00m) - Visita à MourariaJesuíta dos sécs XVI e XVII orientadapelo padre João Caniço.* Braga - Inauguração do núcleomuseológico do Carmo integrada nojubileu dos 360 anos da fundaçãodos Carmelitas Descalços em Braga.* Lisboa - Cascais (CentroComunitário da Boa Nova) - Jornadae festival da Juventude da vigarariade Cascais. * Évora - Vila Viçosa - Peregrinaçãodiocesana de acólitos.* Lisboa - UCP (Sala de Exposições)- Sessão sobre «Católicos epartidos políticos em Portugal noséculo XX: O Centro CatólicoPortuguês e os partidos democratascristãos na Revolução» integrado noSeminário de História ReligiosaContemporânea e promovido peloCentro de Estudos de HistóriaReligiosa. * Portugal acolhe o Ícone de NossaSenhora de Czestochowa(Polónia). (02 a 07 de abril)

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Ano C - 3º Domingo da Quaresma

Se não vosarrependerdes…Convertei-vos!

Conversão é o dinamismo que marca a liturgia daPalavra deste terceiro domingo da quaresma.No monte Horeb, Deus revela-se a Moisés, chama-oe envia-o em missão para conduzir o povo àsalvação, em permanente peregrinação deconversão. São Paulo, aludindo a esta caminhada,avisa-nos que o mais importante não é ocumprimento de ritos externos e vazios, mas aadesão verdadeira a Deus, a vontade de aceitar asua proposta de salvação e de viver com Ele numacomunhão íntima.No Evangelho, Jesus convida-nos a umatransformação radical da existência, a uma mudançade mentalidade, a um recentrar a vida de forma queDeus e os seus valores passem a ser a nossaprioridade fundamental. Se isso não acontecer, anossa vida será cada vez mais controlada peloegoísmo que leva à morte.Se não vos arrependerdes… é interpelaçãoinsistente e constante que Jesus faz às nossas vidas,desde o início da sua pregação. Ele apela àconversão radical a partir das profundas raízes donosso ser, onde habita o Coração de Deus. Aconversão é fonte de vida, pois faz voltar para Deus.A pessoa é como a figueira plantada no meio davinha: pode ser que, durante anos, não dê frutos.Mas Deus, como o vinhateiro, tem paciência econtinua a esperar. Deus vai ainda mais longe: dá-nos os meios para a conversão. Jesus não apela

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somente à conversão, mas propõe-nos o caminho a empreender paraamar a Deus e amar os irmãos. Apaciência de Deus não é umaatitude passiva, mas uma solicitudepara que vivamos. Paciência econfiança estão profundamenteinterligadas: Deus crê em nós, crêque podemos mudar a nossaconduta passada, voltando-nospara Aquele de quem por vezes nosafastámos.Convertei-vos! Um monge doOriente compara o crente a umacasa. Se sou um batizado, generosoe comprometido, então dou a Cristoa chave da porta das traseiras paraque ele entre na minha casa comoíntimo, como Ele quer. Se O deixarentrar pela

porta da frente, quando outrosestão na casa, então ficaremos porgestos de delicadeza e conversasde rotina. Nesta imagem, é à portadas traseiras da nossa casa queCristo vem bater. Sobretudo duranteos quarenta dias da Quaresma enesta terceira etapa da caminhadapara a Páscoa, somos chamados acontinuar a repensar a nossaexistência e a acolher o dom daconversão. Deus propõe-nos alibertação da escravidão dosegoísmos e dos pecados, para queem nós se manifeste a vida emplenitude, que só pode ser vida deDeus em nós.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 - Transmissãoda missa da dominical da Sé deSantarém 12h15 - 8º Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h30Domingo, dia 03 - Dia daCáritas: pessoas e estruturasque possibilitam asolidariedade. RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 04-Entrevista. Manuel Braga daCruz analisa o pontificado deBento XVI;Terça-feira, dia 05 -Informação e rubrica sobre oConcílio Vaticano II.Quarta-feira, dia 06 -Informação e rubrica sobre Doutrina Social da IgrejaQuinta-feira, dia 07 - Projeto Rota das Catedrais na Séde Santarém e rubrica "O Passado do Presente", comD. Manuel ClementeSexta-feira, dia 08 - Apresentação da liturgia pelopadre Armindo Vaz e frei José Nunes. Antena 1Domingo, dia 03, 06h00 - Proposta de Espiritualidade -Santuário do Cristo Rei, Almada Segunda a sexta-feira, dia 04 a 08 de março, 22h45 -Propostas de aprofundamento e formação cristã

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Termina hoje o pontificado do Papa Bento XVI, após a

sua renúncia no dia 11 de fevereiro. O Papa eméritovai ficar a residir num antigo mosteiro de clausura noVaticano mas a sua primeira residência será em CastelGandolfo, arredores de Roma.A Igreja vive um período de Sé vacante e aguarda-seo início do Conclave, a reunião de cardeais para novaeleição do Papa. No próximo domingo celebra-se o Dia Nacional daCáritas. Todas as coletas das eucaristias deste diarevertem a favor desta Instituição de solidariedadedependente da Conferência Episcopal Portuguesa.Segundo registos internos da Cáritas, mais de 56 milfamílias solicitaram apoio à instituição em 2012 e, anível individual, foram declarados mais de 158 milpedidos de ajuda em território nacional. A peça de teatro “Irmã Lúcia – uma oração” éapresentada este domingo no Centro Pastoral PauloVI, em Fátima, pelas 16h00, com entrada gratuita.Trata-se da homenagem a uma das testemunhas dasaparições da Virgem Maria ocorridas em Fátima noano de 1917.O monólogo é produzido pelo grupo “Cassefaz”eresulta da adaptação do primeiro volume das‘Memórias da Irmã Lúcia’, O Instituto Universitário Justiça e Paz, em Coimbra,promove esta segunda-feira mais uma sessão doprojeto ‘Tecer a Espiritualidade com Arte e Reflexão’(TEAR), que visa juntar personalidades com diferentesposições relativamente à fé e à religião. Desta vez otema vai ser dedicado à Justiça, com intervenções deLaborinho Lúcio, ex-ministro da pasta, e Patrícia Reis.

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Etiópia: o rio que anuncia a visita do bispo

Quanto custa a felicidade?

Poucas comunidades se mobilizamtanto para receber o seu bispocomo Poul, na Diocese deGambella, na Etiópia. Ninguém faltapara abraçar “o amigo” que chegade barco.Às vezes, há lugares tão minúsculosque é impossível encontrá-los nosmapas. São insignificantes até nacartografia. É como se nãoexistissem. Um desses lugareschama-se Poul, na Etiópia. Temmeia dúzia de palhotas, caminhosintransitáveis e um rio que é fontede vida. Sem ele, aqueles terrenosseriam inférteis e não permitiriam amagra agricultura que alimenta aspopulações locais. Mas é um rioingrato. Na época das chuvas, assuas correntes arrastam tudo,destroem as culturas e isolam aspopulações. São quatro meses demartírio. Nesse período, a aldeia dePoul torna-se ainda mais frágil, masos que lá vivem sabem que o bispoirá visitá-los. E é sempre um alvoroço

quando alguém vislumbra, ao longe,a silhueta do pequeno barco. É obispo, “o amigo”, que se fez acaminho para estar junto dos seus.Quando ele chega é um diaespecial. Poul, tal como Gambella, adiocese de D. Angelo Moreschi, épobre como o resto do país, aEtiópia. Sempre que o bispo vaiàquelas paragens, repete-se oalvoroço. Os mais velhos recebem-no com a distinção que só os chefestribais merecem. O bispo das bolachasNa aldeia de Poul não háelectricidade nem torneiras nasparedes. A água que se bebe irrigaos campos, serve para lavar aroupa, para tudo. Traz vida etambém doenças. O único edifícioda aldeia que está a ser construídoem tijolo vai albergar a futura capelae centro comunitário. É o início deum tempo novo. O bispo, sempreque vai a Poul, lembra-se dos maisnovos e

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leva-lhes bolachas. Para aquelascrianças é um sabor de sobremesa,um luxo. A aldeia sabe que foi aIgreja que ali fez construir ummoinho para que os grãos de trigose transformassem em alimentos.Sem a Igreja, ali, em Poul, tudo seriamais difícil. O centro comunitário e acapela fazem parte dos projectosapoiados pela Fundação

AIS em África. Mesmo os lugaresmais minúsculos, como Poul, naEtiópia, são sempre visíveis aosolhos de Deus. Esta pequena obrapode mudar a vida de dezenas depessoas, tirá-las da miséria. Afinal,quanto custa a felicidade?Saiba mais em: www.fundacao-ais.pt

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Agradeço-vos o respeito e a compreensão com queacolhestes a minha decisão. Continuarei a acompanhar ocaminho da Igreja, na oração e na reflexão, com a mesmadedicação ao Senhor e à sua Esposa que vivi até agora equero viver sempre.(Bento XVI, audiência geral de 27 de Fevereiro de 2013)

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