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Página 1 de 15 NOTÍCIAS FISCAIS Nº 3.433 BELO HORIZONTE, 1º DE NOVEMBRO DE 2016. “Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um.” Fernando Sabino TOTAL DE CPF NA CERTIDÃO DE NASCIMENTO SUPERA A MARCA DE UM MILHÃO .............. 2 SAIBA MAIS SOBRE O AUMENTO DO VALOR DAS MULTAS DE TRÂNSITO, EM VIGOR A PARTIR DE HOJE ............................................................................................................................................. 2 DECISÃO DEFINITIVA IMPEDE COBRANÇA ........................................................................................... 5 TJ-PB IMPEDE DETRAN DE EXIGIR ICMS PARA REGISTRO DE VEÍCULO ..................................... 6 REGIME DE COBRANÇA DE ISS DE SOCIEDADES DE ADVOGADOS TEM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA................................................................................................................................................. 7 IMPOSTO DE RENDA PODERÁ INCIDIR SOBRE BENS RECEBIDOS POR DOAÇÃO OU HERANÇA .......................................................................................................................................................... 8 ENTRAM EM VIGOR NORMAS DE CONTABILIDADE PÚBLICA QUE FACILITARÃO O CONTROLE SOCIAL ........................................................................................................................................ 9 CVM LIDERARÁ COMITÊ DA IOSCO DE POLÍTICAS PARA EDUCAÇÃO E PROTEÇÃO DO INVESTIDOR .................................................................................................................................................. 11 FERIADO SUSPENDE PRAZOS PROCESSUAIS NO STF ...................................................................... 11 SAIBA QUAIS SÃO OS DIREITOS DO TRABALHADOR TEMPORÁRIO ......................................... 12 UM REMÉDIO PARA O JUDICIÁRIO ........................................................................................................ 14

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NOTÍCIAS FISCAIS Nº 3.433 BELO HORIZONTE, 1º DE NOVEMBRO DE 2016.

“Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada

um.”

Fernando Sabino

TOTAL DE CPF NA CERTIDÃO DE NASCIMENTO SUPERA A MARCA DE UM MILHÃO .............. 2

SAIBA MAIS SOBRE O AUMENTO DO VALOR DAS MULTAS DE TRÂNSITO, EM VIGOR A PARTIR DE HOJE ............................................................................................................................................. 2

DECISÃO DEFINITIVA IMPEDE COBRANÇA ........................................................................................... 5

TJ-PB IMPEDE DETRAN DE EXIGIR ICMS PARA REGISTRO DE VEÍCULO ..................................... 6

REGIME DE COBRANÇA DE ISS DE SOCIEDADES DE ADVOGADOS TEM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA ................................................................................................................................................. 7

IMPOSTO DE RENDA PODERÁ INCIDIR SOBRE BENS RECEBIDOS POR DOAÇÃO OU HERANÇA .......................................................................................................................................................... 8

ENTRAM EM VIGOR NORMAS DE CONTABILIDADE PÚBLICA QUE FACILITARÃO O CONTROLE SOCIAL ........................................................................................................................................ 9

CVM LIDERARÁ COMITÊ DA IOSCO DE POLÍTICAS PARA EDUCAÇÃO E PROTEÇÃO DO INVESTIDOR .................................................................................................................................................. 11

FERIADO SUSPENDE PRAZOS PROCESSUAIS NO STF ...................................................................... 11

SAIBA QUAIS SÃO OS DIREITOS DO TRABALHADOR TEMPORÁRIO ......................................... 12

UM REMÉDIO PARA O JUDICIÁRIO ........................................................................................................ 14

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Total de CPF na certidão de nascimento supera a marca de um milhão

Fonte: Receita Federal. Em 31/10/2016 os cartórios de registro civil superaram a marca de 1 milhão de Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) emitidos junto com as Certidões de Nascimento. O serviço de emissão das certidões simultaneamente com número de inscrição no CPF foi implementado em 1º/12/2015, por meio de convênio entre a Receita Federal (RFB) e a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). O Serviço já está em funcionamento em 3.954 cartórios em todo o País. Os dados do recém-nascido ou da pessoa a ser registrada são inseridos e validados junto à base da RFB de forma on-line e, imediatamente, o número do CPF é gerado e impresso na certidão de nascimento. Além da gratuidade e de proporcionar comodidade ao cidadão – que obtém em um só lugar, por meio de solicitação única, dois documentos indispensáveis ao exercício da cidadania –, o novo serviço reduz riscos de fraudes e de problemas causados por homônimos. Ademais, o serviço atende demanda da população mais carente, que necessita do número de inscrição no CPF para que seus filhos tenham acesso aos benefícios sociais proporcionados pelo Poder Público.

Saiba mais sobre o aumento do valor das multas de trânsito, em vigor a partir de hoje

Fonte: Estado de Minas. Motoristas que cometerem infrações de trânsito terão de pagar uma conta ainda mais amarga a partir de hoje, quando começa a valer a Lei 13.281/2016, sancionada em maio pela então presidente Dilma Rousseff, que prevê aumento geral no valor para todos os tipos de multas (leves, médias, graves e gravíssimas). As penalidades por infrações leves passam de R$ 53,20 para R$ 88,38. Já as médias partem dos atuais R$ 85,13 para R$ 130,16. O custo das condutas consideradas graves muda de R$ 127,69 para R$ 195,13, e o das gravíssimas, de R$ 191,54 para R$ 293,47. As pontuações na carteira não mudam. Na capital mineira, o primeiro lugar do ranking nos seis primeiros meses do ano ficou com o excesso de velocidade, até 20% acima do limite. A maior diferença no valor das infrações será com relação ao uso do celular ao volante. A cada hora, quatro motoristas são flagrados pelas autoridades de trânsito em Belo Horizonte desrespeitando a lei. O valor da penalidade, neste caso, vai mais do que triplicar, saltando dos atuais R$ 85,13 para R$ 293,47. Das infrações previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), cinco eram punidas com sanção de R$ 1.915,40, o teto estipulado pela legislação, considerando a multa-base para uma infração gravíssima multiplicada por 10 devido ao nível de risco da infração. A partir de hoje, essas condutas – dirigir sob efeito de álcool, disputar pega, promover competições nas vias sem autorização, usar o veículo para demonstrar manobras ou arrancadas bruscas e forçar passagem entre veículos que transitam em sentidos opostos – passarão a custar aos infratores R$ 2.934,70.

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Para o mestre em transportes e consultor técnico da empresa de consultoria Locale Trânsito e Transporte Paulo Monteiro, o órgão mais sensível do corpo humano é o “bolso”, mas somente aumentar o valor da multa não resolve. “Se o condutor tiver a convicção de que não vai ser multado, ele vai continuar cometendo a infração. Pouca influência terá o valor da multa, uma vez que ele não se sentirá motivado a respeitar as regras de trânsito”, avalia. A educação para o trânsito, juntamente com a fiscalização, segundo ele, possibilitará o entendimento da real importância do respeito às regras de convivência no espaço viário. Para o consultor em transporte e trânsito Osias Baptista Neto, não há como mensurar se o reajuste das infrações vai ajudar ou não na melhoria da segurança do trânsito. Para ele, a medida transmite um sentimento de que isso vai ser resolvido, mas é preciso uma nova cultura responsável. “O motorista vai olhar que as multas estão mais caras e vai pensar em tomar mais cuidado, pois vai pesar mais no bolso. Infelizmente, ele deveria pensar em tomar mais cuidado por colocar a sua vida e a de outras pessoas em risco”, diz o especialista. “A pessoa não corre porque tem radar. Não é porque correr é perigoso e pode causar a morte. Então, as pessoas estão andando devagar em determinados lugares, como na Avenida Antônio Carlos, é porque está cheio de radar. Não é porque qualquer acidente que ele tenha na Antônio Carlos a 80km/h, como atropelar uma pessoa, essa pessoa certamente vai morrer”, interpreta. Mas ele acredita que a mudança provocará um impacto positivo. “É claro que as pessoas vão começar a pensar em tomar mais cuidado”, reforça Neto. Segundo o especialista, há quase duas décadas o Código de Trânsito definia o valor das multas em Unidades Fiscais (Ufir). Quando em 2000 o Ufir foi extinta por causa do Plano Real, quase todas as infrações tiveram o mesmo valor mantido até 2016. Agora, segundo ele, além do reajuste do valor, algumas tiveram a severidade aumentada, passando de média para leve e de leve para grave, algumas com a taxação cinco ou dez vezes maior. Embriagado atropela quatro Um motorista de 32 anos foi detido após atropelar quatro pedestres que participavam de uma festa, na noite de domingo, no Bairro Cruzeiro, em Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo a Polícia Militar (PM), o homem estava embriagado. Duas passageiras do carro também se feriram. O acidente ocorreu por volta das 20h na Rua Doutor Eduardo Aimoré Jones, onde era realizado um pagode. Conforme a PM, o motorista assumiu que havia bebido em uma festa de família. Ele alegou ter perdido o controle da direção sem o funcionamento do freio. O veículo atingiu um poste e, em seguida, as vítimas – dois homens e duas mulheres, atendidos num hospital local. O condutor foi retirado do local por uma pessoa não identificada, depois de ser agredido por populares. Mais tarde, se apresentou à PM. Teste do bafômetro apontou 0,46 miligramas de álcool por litro de ar expelido. Ele foi autuado e teve a CNH recolhida. Sem dinheiro para pagar a fiança de R$ 4 mil, foi levado para o Presídio de Nova Lima. Mais seis radares nas estaduais

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(foto: Arte EM) As estradas mineiras continuam a adotar radares controladores de velocidade. Mais seis passam a funcionar hoje. Um deles está na MG–10, entre o posto da Polícia Militar (PM) e o entroncamento com a rodovia MG-424, em Vespasiano, na Região Metropolitana de BH. Há 40 radares fixos nas rodovias estaduais e previsão de instalação ou religamento de 393 equipamentos até dezembro. Na MG-010, a velocidade máxima permitida é de 100 km/h

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para veículos leves e 80km/h para os de carga. Os outros cinco radares foram fixados na MG-447, em Ubá, na Região da Zona da Mata, três na MG-158, em Passa Quatro, Sul de Minas. O último vai operar na mesma rodovia, na altura de Itanhandu. A velocidade permitida para os veículos nestes trechos é de 40km/h. dos que iniciam a fiscalização hoje, 13 são do tipo controlador eletrônico de velocidade e oito são redutores eletrônicos de velocidade. Eles fazem parte dos 240 que estavam parados havia dois anos.

Decisão definitiva impede cobrança

Fonte: Valor Econômico. A Justiça Federal em Pernambuco concedeu liminar a uma empresa do setor de óleo e gás contra uma prática adotada pela Receita Federal: a exigência de tributo de contribuinte com decisão judicial transitada em julgado contra o pagamento. No caso, a companhia defende a tese da "CSLL coisa julgada", que ainda será analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em repercussão geral. A decisão favorável à empresa e que afastou a cobrança de CSLL transitou em julgado em 1992, de acordo com o processo. A União entrou com ação rescisória para limitar os efeitos da decisão ao ano de 1989. A rescisória foi julgada improcedente em 2002 e também transitou em julgado. O fato não impediu a Receita Federal de autuar a companhia, o que a levou à esfera administrativa. Com decisão contrária do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), o contribuinte recorreu à Justiça. A liminar, que impede a cobrança de valores do ano de 2008, foi concedida pela juíza Nilcéa Maria Barbosa Maggi, da 5ª Vara Federal de Pernambuco. A discussão, conhecida pelos tributaristas como "CSLL coisa julgada", interessa às empresas que, após a edição da lei que instituiu a contribuição (Lei nº 7.689, de 1988), propuseram ações judiciais contra a cobrança. Mesmo depois de decisões favoráveis que transitaram em julgado, algumas companhias foram autuadas pela fiscalização - parte depois de decisão do STF em 2007. Ao julgar a ação direta de inconstitucionalidade (Adin), o STF entendeu que a norma é constitucional. Em 2011, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) avaliou processo similar a favor das empresas, em recurso repetitivo. O Supremo ainda deverá decidir, em duas repercussões gerais, os limites da garantia da coisa julgada em matéria tributária. De acordo com o relator de uma delas, ministro Edson Fachin, deverá ser discutida a vigência e a aplicabilidade da Súmula 239. O dispositivo afirma que "decisão que declara indevida a cobrança do imposto em determinado exercício não faz coisa julgada em relação aos posteriores". Na liminar, porém, a juíza Nilcéa Maria Barbosa Maggi considerou que a súmula não se aplicava ao caso concreto. Ela destacou que, antes mesmo do STF julgar a constitucionalidade da lei, a empresa já tinha duas decisões transitadas em julgado contrárias à cobrança. "O entendimento posterior do STF não tem o condão de alterar ou afastar os efeitos da coisa julgada, sob pena, inclusive, de negar validade ao próprio controle difuso

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anteriormente realizado no caso concreto, afetando seriamente a segurança jurídica", afirma a juíza na liminar. O Carf tem julgado a tese da "CSLL coisa julgada" de forma desfavorável aos contribuintes, segundo a advogada do caso Alessandra Gomensoro, do escritório Mattos Filho Advogados. Na liminar, a empresa pediu a suspensão da exigibilidade do crédito tributário e também a abstenção de inscrição em dívida ativa, de execução fiscal e outros atos como inclusão em registro de inadimplentes. "Imagina ter que garantir um valor sobre um tema em que o STJ já se manifestou e a Procuradoria-Geral da República já deu parecer favorável. Temos várias manifestações, mas o Carf continua julgando de forma desfavorável ao contribuinte", afirma Alessandra. A autuação chega a R$ 300 milhões. O advogado Alessandro Mendes Cardoso, do Rolim, Viotti & Leite Campos, tem muitas ações referentes a essa tese. Cardoso afirma que, desde 2011, já pediu cinco liminares semelhantes e obteve decisões favoráveis para impedir a exigência de créditos tributários após decisões do Carf. "A polêmica só será definida quando o STF julgar a repercussão geral”, afirma. Para o advogado Fabio Calcini, do Brasil Salomão & Matthes Advocacia, embora o STF ainda vá julgar o tema, já definiu que a declaração de inconstitucionalidade ou constitucionalidade não altera a coisa julgada, que deve ser objeto de impugnação específica por ação rescisória. "Somente seria possível eventual cobrança pelo Fisco caso tenha obtido êxito em ação rescisória, afirma. Procurada pelo Valor, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) não retornou até o fechamento da edição.

TJ-PB impede Detran de exigir ICMS para registro de veículo

Fonte: Valor Econômico. O Tribunal de Justiça da Paraíba (TJ-PB) impediu o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PB) de exigir o recolhimento de diferencial de alíquota de ICMS para o registro e licenciamento de um carro adquirido em São Paulo. A liminar foi concedida pelo desembargador José Ricardo Porto, que considerou a cobrança "inapropriada e coercitiva". O pedido foi ajuizado por um morador de João Pessoa, que retirou o veículo, um Porsche Cayenne zero quilômetro, na capital paulista. Na volta ao seu Estado, ao tentar registrar o veículo, foi surpreendido com a cobrança, sem que houvesse qualquer lançamento tributário, de acordo com seu advogado, Eduardo Perez Salusse, do escritório Salusse Marangoni Advogados. O diferencial de ICMS foi exigido com base na Emenda Constitucional nº 87, de 2015, que estabeleceu a repartição de ICMS em operações interestaduais. Porém, de acordo com Salusse, a norma não se aplicaria ao caso, uma vez que o carro foi adquirido por consumidor final e retirado em São Paulo, e o Detran-PB não poderia exigir o tributo, "fazendo as vezes da Secretaria da Fazenda do Estado”.

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"O Detran-PB não tem competência para exigir o ICMS. E, além disso, eventual diferença de imposto seria de responsabilidade do fornecedor do veículo", afirma Salusse. "É um meio de cobrança não previsto em lei. É uma coação." Para o registro de veículo, segundo o advogado, basta a apresentação de nota fiscal, conforme determina o artigo 122 do Código de Trânsito Brasileiro. A argumentação foi acatada pelo desembargador. Segundo ele, "ao exigir o pagamento prévio da parcela complementar do ICMS a fim de viabilizar o registro e a licença do veículo do agravante, a autoridade coatora está, aparentemente, exercendo função que não lhe compete". Além disso, acrescenta o magistrado na decisão, há meios previstos em lei para a exigência das obrigações fiscais. Procurado pelo Valor, o Detran-PB informa, por meio de nota, que "o impedimento da emissão do certificado de registro e licenciamento de veículo (CRLV) deu-se em função do bloqueio efetuado pela Receita Estadual, pois ICMS não é de competência do Detran". E acrescenta no texto que "é preciso que o veículo esteja quite com a Secretaria Estadual da Receita (SER) para que o documento seja liberado". Após a liminar, o veículo foi registrado e licenciado. Para o advogado Julio de Oliveira, do escritório Machado Associados, foi uma exigência "totalmente ilícita", passível de indenização por danos morais. "É um absurdo", afirma o advogado, acrescentando que já é pacífico nos tribunais superiores que esse tipo de sanção política não pode ser adotada pelo Estado. "Não tem razão de exigir de pessoa física. E, caso fosse devido, deve-se sempre usar o meio regular de cobrança."

Regime de cobrança de ISS de sociedades de advogados tem repercussão geral reconhecida

Fonte: STF. O Supremo Tribunal Federal (STF) vai decidir se é constitucional lei municipal que estabelece impeditivos à submissão de sociedades profissionais de advogados ao regime de tributação fixa ou per capita em bases anuais, modalidade de cobrança estabelecida pelo Decreto-Lei 406/1968, que foi recepcionado pela Constituição da República de 1988 com status de lei complementar. A matéria é abordada no Recurso Extraordinário (RE) 940769, que teve repercussão geral reconhecida pelo Plenário Virtual. No caso dos autos, a seccional do Rio Grande do Sul da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS) ajuizou mandado de segurança coletivo contra o Fisco de Porto Alegre (RS) pedindo que as sociedades de advogados inscritas no município continuem a recolher o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) sob o regime de tributação fixa anual. Segundo a entidade, o decreto municipal que trata do regime tributário para essas sociedades afronta as normas federais sobre o assunto. Pede na ação que o município se abstenha de tomar qualquer medida fiscal coercitiva contra as sociedades profissionais de advocacia atuantes no município, em especial a autuação delas por falta de recolhimento do imposto sobre serviços calculado sobre os seus respectivos faturamentos. Em primeira instância, foi concedido o pedido. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) deu provimento à apelação, por entender que a legislação municipal não extrapolou

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da lei complementar nacional, pois aquela apenas evitaria o abuso de direito do contribuinte em raríssimas hipóteses. Segundo o acórdão, as normas que estabelecem a tributação do ISSQN pelo preço dos serviços para as sociedades de advogados, tem por escopo coibir excepcional hipótese de abuso de direito, “caso em que não há falar em justo receio a legitimar a concessão de mandado de segurança preventivo impetrado pela OAB/RS, em defesa das sociedades de advogados nela registradas, em regular funcionamento”. Manifestação Ao propor o reconhecimento da repercussão geral do tema, o ministro Edson Fachin observou que a questão constitucional suscitada diz respeito à competência tributária de município para estabelecer impeditivos à submissão de sociedades profissionais de advogados ao regime de tributação fixa ou per capita em bases anuais prevista no artigo 9º, parágrafos 1º e 3º do Decreto-Lei 406/1968, que foi recepcionado pela ordem constitucional vigente com status de lei complementar nacional. Segundo o relator, a repercussão geral se configura pois se trata de conflito federativo instaurado pela divergência de orientações normativas editadas pelos entes municipal e federal. O ministro destaca, ainda, a multiplicidade de leis e disputas judiciais sobre o mesmo tema em diversos entes federativos. “Nesse sentido, o princípio da segurança jurídica densifica a repercussão geral do caso sob a ótica jurídica, ao passo que a imperatividade de estabilização das expectativas pelo Estado-Juiz preenche a preliminar de repercussão na perspectiva social. Na seara política, a repartição de competências e receitas tributárias no bojo do federalismo fiscal também se faz relevante”, salienta o relator. A manifestação do ministro pelo reconhecimento da repercussão geral foi seguida por maioria no Plenário Virtual.

Imposto de Renda poderá incidir sobre bens recebidos por doação ou herança

Fonte: Portal de Notícias do Senado Federal. Bens adquiridos por doação ou herança poderão vir a sofrer a incidência de Imposto de Renda, caso seja aprovado o Projeto de Lei do Senado (PLS) 300/2016. Atualmente isento de imposto, esse valor será taxado, segundo a proposta, se estiver acima de R$ 5 milhões, ficando isento do imposto apenas se o seu beneficiário for o cônjuge ou o companheiro do doador. De iniciativa do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), o projeto aguarda relatório da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Na justificativa do projeto, o autor explica que a proposta tenta corrigir a tributação do Imposto de Renda, que “peca pela má distribuição da carga tributária”. Fernando Bezerra Coelho argumenta que diversos estudos apontam que os pobres sofrem mais com a carga tributária do que a população de renda mais alta. “De acordo com o Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada], os trabalhadores brasileiros que ganham o equivalente a até dois salários mínimos trabalham 197 dias por

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ano para pagar impostos. Já os que ganham mais de 30 salários mínimos destinam 106 dias por ano ao pagamento de tributos”, justifica o senador. Segundo ele, é preciso adotar medidas que permitam “instituir uma maior progressividade do sistema tributário nacional, de modo que os contribuintes de maior renda paguem proporcionalmente mais impostos, fazendo valer os comandos constitucionais”. Se for aprovado na CAE, o projeto pode seguir direto para a Câmara dos Deputados, a menos que haja recurso para votação em Plenário, subscrito por pelo menos nove senadores.

Entram em vigor normas de contabilidade pública que facilitarão o controle social

Fonte: CFC. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) publicou as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC TSP) 01, 02 e 03. Junto com a Estrutura Conceitual, publicada no princípio de outubro, formam as primeiras normas convergidas para as regras internacionais. O CFC é o órgão normatizador da contabilidade no País, e há alguns anos vem trabalhando no processo de convergência das normas aplicadas ao setor público. Em 2008, publicou as dez primeiras normas inspiradas nas regras internacionais, e em 2011, mais uma. No final do ano passado, o CFC retomou as atividades do Grupo Assessor das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (GA/NBC TSP) e estabeleceu um calendário para a convergência das 34 normas internacionais hoje em vigor. Neste mês, além das três publicadas hoje, também foi publicada a Estrutura Conceitual, no dia 4. O vice-presidente técnico do CFC, Zulmir Breda, destaca que essas três primeiras foram escolhidas porque tratam de temas estratégicos para as entidades públicas, porque tratam de receita. “Começamos com essas três, que têm repercussão importante na vida do gestor e do cidadão. Até o fim do ano, publicaremos mais duas. Estamos seguindo o cronograma estabelecido pelo grupo”, estimou Breda, que é o coordenador do GA/NBC TSP. Até 2021, todas as normas devem ser convergentes. A NBC TSP 01 trata do registro das receitas de transações sem contraprestação, tais como os tributos e as contribuições devidos pelo cidadão. A norma reitera que esse registro deve ser feito pelo regime de competência, que pressupõe o registro das transações quando da ocorrência do fato gerador, independentemente do efetivo recebimento – por exemplo, no caso do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), o ente federado deve registrar a receita no ato da emissão do carnê com a identificação do devedor. Outro ponto reafirmado pelas novas normas corresponde à separação entre as informações de cunho orçamentário e patrimonial. “A contabilidade brasileira é regida pela Lei nº 4.320/64, cuja interpretação, sob o ponto de vista do orçamento, prevê que os registros das receitas orçamentárias sejam feitos pelo regime de caixa, ou seja, quando da entrada do recurso nos cofres dos entes. Desde o início da internacionalização da contabilidade pública, em 2008, os aspectos relacionados à contabilidade patrimonial presentes na Lei nº 4.320/64 foram revistos e, além disso, os normativos reforçaram a aplicação do regime de competência. A NBC TSP

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01 detalha esse registro”, afirma o representante do CFC no board da Federação Internacional de Contadores (Ifac, na sigla em inglês), Leonardo Nascimento. A entidade é a responsável por emitir as normas internacionais voltadas ao setor público. Nascimento afirma que a mudança colabora com o efetivo controle social e com a qualidade da informação provida pelos gestores. “O cidadão saberá, efetivamente, o quanto o município, o Estado e a União estão onerando a sociedade. O gestor, por sua vez, terá um controle preciso de quanto tem a receber, quanto há em caixa e, assim, poderá planejar investimentos em uma base mais real.” Segundo ele, a maior dificuldade na mudança da forma de registro está na operacionalização. “Alguns sistemas ainda não estão preparados para fazer o registro dessa forma, mas o Plano de Implantação dos Procedimentos Contábeis Patrimoniais da Secretaria do Tesouro Nacional, que entrou em vigor este ano, prevê esse desafio, a ser vencido de forma gradual”, avalia Nascimento, também coordenador-geral de Normas de Contabilidade Aplicadas à Federação da Secretaria do Tesouro Nacional (STN). A NBC TSP 02 trata do registro das receitas com contraprestação, que são aquelas recebidas pelo Estado por um serviço público ou produto de valor proporcional prestado ao cidadão. Por exemplo, as taxas e os aluguéis. “Boa parte dessas receitas já era registrada pelo regime de competência e passou por alterações, porque deve ser compatibilizada com a prática observada no setor privado e com o tratamento das receitas abrangidas pela NBC TSP 01”, afirma. Já a NBC TSP 03 define como devem ser registrados as provisões, os ativos e os passivos contingentes. Há receitas que podem ser contestadas, por exemplo, créditos tributários. Em muitos casos, essas receitas não podem ser registradas como ativos, mas sim como ativos contingentes. A norma define as situações em que isso ocorre e como registrá-las. Há ainda uma escala de expectativa de realização, com conceitos de certa, provável e remota para registros dos ativos e passivos. Está em discussão no Congresso um projeto de lei que altera as regras da contabilidade pública, o PLP 295/2016. Ele pretende substituir a Lei 4.320/64 e, em sua versão atual, afirma textualmente que o padrão a ser utilizado para a elaboração da contabilidade pública são as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. Hoje, os entes devem observar o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP), elaborado pela STN com base em tais normas. “O MCASP funciona como um filtro. A partir das normas, o manual é desenvolvido com as diretrizes de como se deve fazer. Ainda não é possível observar a integralidade das normas, devido às desigualdades regionais, mas as NBCs são importantes porque funcionam como uma meta. Todos sabem que elas podem não ser adotadas completamente hoje, em razão do próprio processo gradual de convergência, mas serão num futuro próximo”, destaca Breda. O próximo MCASP será publicado em novembro, já em conformidade com as novas normas editadas neste ano. O ente federado que não seguir as normas do MCASP na elaboração da sua contabilidade pode ter vedada a possibilidade de obter o aval da União para a contratação de operações de crédito ou recebimento de transferências voluntárias da União. Muitos Tribunais de

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Contas também utilizam o MCASP na hora de avaliar as contas dos respectivos entes, e podem responsabilizar os gestores que não o observarem. Para conferir as novas normas, consulte o site do CFC (NBC TSP 01, NBC TSP 02 e NBC TSP 03) ou o DOU (aqui).

CVM liderará comitê da IOSCO de políticas para educação e proteção do investidor

Fonte: CVM. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) presidirá, pela segunda vez consecutiva, o Comitê de Investidores de Varejo (Comitê 8 ou C8) da Organização Internacional das Comissões de Valores (IOSCO). José Alexandre Vasco, superintendente de proteção e orientação aos investidores da Autarquia, foi eleito pela organização para mandato de dois anos. O Comitê foi instituído em 2013 com a finalidade de conduzir o trabalho da organização em educação financeira e de investidores, assessorando o Board da IOSCO em temas emergentes relacionados à proteção dos investidores de varejo, além de executar projetos nessa área. Em janeiro de 2016, a CVM foi eleita para a presidência do C8 para completar mandato que se encerrou em outubro, após reunião do Board, em Hong Kong. Nesse período, foi estabelecido novo direcionamento estratégico para o Comitê e iniciados três novos projetos, dois já aprovados pelo Conselho da IOSCO. O primeiro foca na proteção de investidores em situação de vulnerabilidade, em função de condições relacionadas ao envelhecimento (liderado pela Financial Conduct Authority – FCA, do Reino Unido), e o segundo na aplicação de insights comportamentais em programas de educação do investidor (sob liderança da CVM). Ter um papel de liderança na educação financeira é um dos objetivos estratégicos da Autarquia até 2023. O intuito é contribuir para melhor compreensão pelos investidores dos benefícios e dos riscos associados aos produtos financeiros. Com a participação no Comitê, a CVM mantém-se alinhada às práticas internacionais, fortalecendo o desenvolvimento do mercado de capitais.

Feriado suspende prazos processuais no STF

Fonte: STF. Os prazos processuais no Supremo Tribunal Federal (STF) estão suspensos desde esta segunda-feira (31) e voltarão a ser contados no dia 3 de novembro (próxima quinta-feira). A suspensão está prevista na Portaria nº 180, de 20 de setembro de 2016, editada pelo diretor-geral do STF, Eduardo Silva Toledo. A portaria transferiu as comemorações alusivas ao Dia do Servidor Público (28 de outubro) para o dia 31, dispondo que neste dia e também nos dias 1º e 2 de novembro não haverá expediente no Tribunal, conforme prevê o inciso IV do artigo 62 da Lei 5.010, de 30 de maio de 1966.

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Os prazos que se iniciam ou se encerram nesses dias ficam automaticamente prorrogados para o dia 3 de novembro.

Saiba quais são os direitos do trabalhador temporário

Fonte: Época Negócios. Natal, Dia das Mães, Páscoa, Dia das Crianças, Dia dos Namorados. Essas datas aumentam o movimento no comércio e muitos empregadores, para dar conta do recado, contratam trabalhadores temporários. Há também, ao longo do ano, companhias que buscam temporários para cobrir férias ou licença de um funcionário. Mas, apesar de ser comum, ainda há muita dúvida sobre como funciona o trabalho temporário. Para garantir que todos os seus direitos estão sendo cumpridos, o profissional precisa conhecê-los. Época NEGÓCIOS conversou com especialistas e mostra como funciona um contrato de trabalho temporário. Quando é permitido contratar temporários? A legislação trabalhista prevê duas situações em que é possível haver a contratação de temporários. Uma delas é quando ocorre um acréscimo extraordinário de trabalho, como no período das compras natalinas ou na época de produção de chocolate para a Páscoa. As empresas também ficam autorizadas a contratar temporários quando é preciso substituir provisoriamente um funcionário da empresa que está afastado, como é o caso de férias e licença maternidade, por exemplo. Nessas circunstâncias, o temporário pode inclusive começar a trabalhar antes do afastamento do funcionário regular. “A empresa pode optar por iniciar o contrato algumas semanas antes da saída do funcionário, para que ele se familiarize com o trabalho. Da mesma forma, o contrato pode perdurar após o retorno do funcionário efetivo, para que o temporário possa repassar o que foi feito durante o período de afastamento”, diz Alex David, gerente de contas corporativas da consultoria Randstad. Quais são os direitos trabalhistas de um temporário? O trabalhador temporário tem direito a todos os benefícios que são assegurados aos profissionais com carteira assinada. Isso inclui pagamento de horas extras, adicional noturno, vale transporte, descanso semanal remunerado, 13º salário proporcional ao tempo de serviço e férias, também proporcionais ao período trabalhado. “O trabalhador temporário não goza de férias, porque não chega a atingir um ano de trabalho, mas tem direito a receber em valor as férias proporcionais a cada mês trabalhado, com o acréscimo de um terço”, afirma David. Sobre o salário, a lei determina que o temporário tem direito à “remuneração equivalente à recebida pelos empregados de mesma categoria da empresa”. É garantido, em qualquer hipótese, o recebimento do salário mínimo regional. Além disso, o trabalhador temporário recebe 8% do seus proventos a título de FGTS. Junto à Previdência, o trabalhador temporário também tem todos os direitos garantidos, como auxílio-doença, desde que se respeite a carência mínima exigida para o pagamento dos benefícios. O tempo trabalhado como temporário também conta como tempo de contribuição para a aposentadoria.

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Qual o período máximo de contratação temporária? O limite depende do motivo da contratação. Se o funcionário for contratado por causa de um acréscimo extraordinário de trabalho, o prazo inicial é de até 90 dias, podendo ser prorrogado por mais 90 dias. Já se a empresa contratou o temporário alegando uma necessidade transitória de substituição, o período inicial de trabalho é de até seis meses, podendo ser prorrogado por mais três. O que é descontado na folha de pagamento? Os descontos serão os mesmos dos empregados contratados pela CLT. O trabalhador terá registro em carteira de trabalho, na condição de temporário, e recolherá Imposto de Renda e INSS. O empregado também tem direito a receber FGTS – e pode sacar 100% do valor depositado enquanto era temporário quando o contrato terminar. Quem pode contratar temporários? Uma empresa não pode contratar diretamente um funcionário temporário. Isso pode ser caracterizado como terceirização de atividade fim da empresa, o que é proibido pela legislação brasileira em vigor. Por isso, é necessária a intermediação de uma empresa prestadora de serviço. Essa empresa intermediária precisa ter um cadastro específico junto ao Ministério do Trabalho (MTE) para poder fazer a contratação temporária. Ela fará os requerimentos necessários no site do MTE, e o pedido de contratação temporária ou de prorrogação do contrato pode ser aceito ou não. O empregado será registrado pela empresa prestadora de serviço — não pela companhia onde ele irá, de fato, trabalhar. Ela é chamada nesse caso de empresa tomadora. No entanto, a relação de subordinação é entre a empresa tomadora e o empregado. “É um contrato de prestação de serviços, no qual a prestadora se compromete a fornecer o trabalhador qualificado para a posição. Quem vai pagar diretamente o funcionário é a empresa prestadora de serviço”, explica o advogado trabalhista Eduardo Antonio Bossolan, sócio do Crivelli Advogados Associados. Um temporário pode ser efetivado? Sim. Um funcionário que trabalhou como temporário pode ser efetivado por uma empresa. “É uma oportunidade para o temporário mostrar serviço durante determinado período. Para a empresa, é uma possibilidade de oxigenar a própria equipe”, diz David. Segundo ele, a taxa média de reaproveitamento de mão de obra de temporários no Brasil fica entre 15% e 25%. Rompimento de contrato Caso o contrato seja rompido por parte do empregador, o trabalhador temporário não terá direito à multa de 40% sobre o FGTS depositado, como no caso dos efetivos. Também não cabe pagamento de aviso prévio no contrato de trabalho temporário. Contudo, há uma polêmica jurídica em torno do pagamento de uma eventual multa ao trabalhador, caso a empresa decida encerrar o contrato antes do previsto. Há decisões pelo pagamento de indenização — normalmente correspondente a 50% do que o funcionário viria a receber até o fim do contrato, mas há também casos em que a Justiça decide pelo não pagamento.

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Por outro lado, se o trabalhador quiser romper o contrato antes do prazo determinado, não terá que pagar nenhum tipo de multa.

Um remédio para o Judiciário

Por Luciano Velasque Rocha para o Valor Econômico. Está em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) o julgamento de questão cuja importância política, econômica e jurídica é difícil de exagerar. Trata-se da discussão sobre a existência de dever do Estado de fornecer medicamentos à população, retratada em dois recursos que envolvem remédios de alto custo e que não integram a lista do Sistema Único de Saúde (o primeiro recurso) e a liberação de medicamentos não registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (o segundo). Para além das peculiaridades dos dois casos e dos votos já proferidos pelos ministros Marco Aurélio Mello, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, o que está verdadeiramente em jogo é saber qual tamanho deve ter o Estado brasileiro - especificamente até onde vão os deveres do Poder Público frente à sociedade no que diz respeito à concretização do direito fundamental social à saúde, previsto no art. 6º da Constituição Federal. Como a implementação daquele direito (e de quase todos os outros) gera custos para os cofres públicos, a questão sobre quanto de Estado devemos ter caminha de mãos dadas com a pergunta sobre quanto de Estado podemos ter. Direitos não nascem em árvores, como já se escreveu. Não é só: em um país que assiste à crescente polarização do debate político, que olha com desconfiança as soluções intermediárias e passa a se entrincheirar nos extremos do Estado máximo e do Estado mínimo, a questão a ser decidida pelos ministros do STF tem quase que um componente sociopedagógico. O próprio fato de a questão ter chegado ao STF é sintomático: diferente do Poder Legislativo e do Poder Executivo, que têm maior liberdade de escolha de sua pauta decisória, o Poder Judiciário é o único impedido de tomar a decisão de não decidir, o que aqueles que militam na área jurídica conhecem como proibição do "non liquet". De fato: os representantes do Poder Executivo têm alguma margem de manobra na decisão sobre investir em saneamento básico e não em infraestrutura, por exemplo. Todavia, os conflitos submetidos ao Poder Judiciário devem necessariamente ser solucionados, ainda que a solução a lhes ser dada seja uma não solução (prescrição de direitos, não preenchimento de requisitos formais na ação judicial etc). Assim, o conflito social não enfrentado pelos Poderes Legislativo e Executivo desemboca naturalmente naquele Poder que não pode deixá-lo sem resposta - ainda que a resposta não seja necessariamente a melhor, já que o Poder Judiciário é tradicionalmente aparelhado para julgar conflitos do tipo se/então (se presentes as condições "x", então deve ser aplicada a norma "y") e muito pouco acostumado a julgar causas com vistas a atingir determinado fim, como definir políticas públicas de saúde, por exemplo. Em resumo, ainda que não por vocação, é o Poder Judiciário que decidirá sobre se e em quais condições a população deve receber medicamentos gratuitamente.

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A questão está longe de ser simples, justamente porque as soluções extremas ou são antijurídicas (medicamento nenhum) ou são inviáveis política e economicamente (todos os medicamentos). A dificuldade está em saber se é possível a fixação de regra geral e - caso seja - quais devem ser as condições cujo preenchimento autorizará o fornecimento do remédio. Embora árduo o tema, é possível fazer aproximações gradativas rumo à solução. Um primeiro elemento que bem pode servir de guia ao julgador é a expressão "tanto Estado quanto Constituição" (HÄBERLE), ou seja, a extensão do direito fundamental social à saúde deve ser aquela passível de justificação frente ao texto constitucional - e nem um centímetro a mais. Como entre nós a saúde sobressai como direito constitucional e mesmo dentre esses ocupa posição de destaque, por estar incluída no rol dos direitos fundamentais (art. 6º, CF), está clara a impossibilidade de amesquinhar a garantia com que deve contar a população quando o assunto é saúde pública. Em segundo elemento vamos encontrar no princípio que os alemães conhecem há várias décadas como "Unterma verbot", ou seja, a proibição de que a um direito fundamental seja dada proteção insuficiente. Isso implica identificar as condições sob as quais o ato de negar remédio de alto custo a um paciente que não consegue adquiri-lo implica proteger de forma deficiente o direito à saúde de que se ocupa o art. 6º, CF. Mais do que a solução concreta, a importância do caso é simbólica: o julgamento definirá se e em quais situações o Poder Judiciário pode ser a arena adequada para a análise de pedidos que impliquem definição de políticas públicas em maior ou em menor medida. Em uma época na qual o Estado começa a despertar de seus sonhos de onipresença, em que as garantias constitucionais devem ser interpretadas com largueza, mas também com responsabilidade, uma extrapolação indevida das funções do Poder Judiciário por meio da futura decisão do STF no caso poderá impor à sociedade brasileira mal para o qual talvez não haja remédio. O boletim jurídico da BornHallmann Auditores Associados é enviado gratuitamente para clientes e usuários cadastrados. Para cancelar o recebimento, favor remeter e-mail informando “CANCELAMENTO” no campo assunto para: <[email protected]>.