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1 BELÉM DO PARÁ E A AGRICULTURA URBANA: CARACTERIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIO ECONÔMICA Elvis Albert Robe Wandscheer Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS [email protected] Rosa Maria Vieira Medeiros Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS [email protected] Resumo O trabalho enfoca a agricultura urbana de Belém do Pará-PA. O enfoque da pesquisa contemplou as características e a organização sócio econômica. Assim, o objetivo do trabalho foi vislumbrar a Agricultura Urbana do Município. A metodologia utilizada foi a análise descritiva com abordagem qualitativa junto à amostra da população das áreas em estudo. A amostra foi aleatória e intencional. Os resultados encontrados demonstram diferenciações em função da área e das particularidades locais voltadas para a autonomia na produção, podendo estar mais ou menos atrelada a mercados e mantendo como principais produtos aqueles vinculados à tradição local. De forma geral, pode-se apontar a relevância da atividade num contexto tanto local quanto nacional e mundial de crescimento populacional no âmbito urbano. Palavras- chave: Agricultura Urbana. Belém do Pará. Atividade Produtiva. Dinâmicas socioeconômicas. Organização Espacial. Produção Agrária no Espaço Urbano. Introdução As inúmeras abordagens acerca do que se constitui enquanto urbano e rural por si só se constitui numa delimitação tênue, díspar e, portanto heterogênea em seus enfoques, sobre o qual repousa a ênfase política. Assim, [...] A cidade nasce, evolui e se consolida como sendo a base de uma estruturação espacial do Estado com a função de garantir aos grandes proprietários rurais, através de seu controle, e por, extensão da estrutura espacial nele baseada, o controle da condução do processo da diferenciação- hierarquização. Este papel da cidade explica a razão de ser legislada por critério estritamente político até hoje mantido: o de sede de município. Pouco importa sua estrutura funcional na ordem industrial dos nossos dias e pouco importa o seu tamanho [...] (MOREIRA, 1985, p. 159-160). Os debates e a imprecisão espacial do urbano tanto quanto a sua composição partem do fato de haver no país: “[...] um Brasil urbano (incluindo áreas agrícolas) e um Brasil agrícola (incluindo áreas urbanas) (SANTOS, 2008, p. 9)”. Neste sentido, observar o espaço rural unicamente como local de produção agropecuária, ou então, o urbano como sede de habitantes que se ocupam unicamente

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BELÉM DO PARÁ E A AGRICULTURA URBANA: CARACTERIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIO ECONÔMICA

Elvis Albert Robe Wandscheer Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS

[email protected]

Rosa Maria Vieira Medeiros Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS

[email protected] Resumo

O trabalho enfoca a agricultura urbana de Belém do Pará-PA. O enfoque da pesquisa contemplou as características e a organização sócio econômica. Assim, o objetivo do trabalho foi vislumbrar a Agricultura Urbana do Município. A metodologia utilizada foi a análise descritiva com abordagem qualitativa junto à amostra da população das áreas em estudo. A amostra foi aleatória e intencional. Os resultados encontrados demonstram diferenciações em função da área e das particularidades locais voltadas para a autonomia na produção, podendo estar mais ou menos atrelada a mercados e mantendo como principais produtos aqueles vinculados à tradição local. De forma geral, pode-se apontar a relevância da atividade num contexto tanto local quanto nacional e mundial de crescimento populacional no âmbito urbano. Palavras- chave: Agricultura Urbana. Belém do Pará. Atividade Produtiva. Dinâmicas socioeconômicas. Organização Espacial. Produção Agrária no Espaço Urbano. Introdução

As inúmeras abordagens acerca do que se constitui enquanto urbano e rural por si só se

constitui numa delimitação tênue, díspar e, portanto heterogênea em seus enfoques,

sobre o qual repousa a ênfase política. Assim,

[...] A cidade nasce, evolui e se consolida como sendo a base de uma estruturação espacial do Estado com a função de garantir aos grandes proprietários rurais, através de seu controle, e por, extensão da estrutura espacial nele baseada, o controle da condução do processo da diferenciação-hierarquização. Este papel da cidade explica a razão de ser legislada por critério estritamente político até hoje mantido: o de sede de município. Pouco importa sua estrutura funcional na ordem industrial dos nossos dias e pouco importa o seu tamanho [...] (MOREIRA, 1985, p. 159-160).

Os debates e a imprecisão espacial do urbano tanto quanto a sua composição partem do

fato de haver no país: “[...] um Brasil urbano (incluindo áreas agrícolas) e um Brasil

agrícola (incluindo áreas urbanas) (SANTOS, 2008, p. 9)”.

Neste sentido, observar o espaço rural unicamente como local de produção

agropecuária, ou então, o urbano como sede de habitantes que se ocupam unicamente

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com os setores secundário ou terciário, não condizem com realidades contemporâneas.

No contexto de tal realidade, um elemento que permeia debates ao encontro das

diversidades destes espaços consiste na prática da Agricultura Urbana. Conforme a

United Nations Development Programme (UNDP) destaca a relevância desta atividade

da seguinte forma:

Urban agriculture contributes significantly to the socio-economic development of towns and citis throughout the word. In several economies, particulary developing ones, it is one of the largest urban productive industries. In low-income cities, it is a prime generator of jobs (UNDP, 1996, p.3-4).

As práticas agrícolas, portanto, não são vinculadas a debates locais ou mesmo nacionais,

ocorrem em diversas partes do mundo e não precisam estar vinculados a políticas

públicas nem tampouco a organizações locais específicas. É dessa forma que o

fenômeno da Agricultura Urbana se constitui como manifestações complexas, permeado

de diversidades desde a sua potencialidade de aglutinar coletivos como se observa em

hortas, ou então, em produções individuais como no caso de feirantes que residem no

espaço urbano. Um fato que marca a atividade é a proximidade entre produtor e

consumidor, distâncias percorridas pelos produtos da colheita ao prato e a redução de

perdas que muitas vezes se observa na agricultura rural.

Assim: “Deveríamos indagar se a Agricultura Urbana é realmente o que chamamos, ou

queremos chamar assim, o que percebemos na realidade [...] uma cidade ou uma

metrópole e cultiva ou cria, processa e distribui uma diversidade de produtos

alimentares e não-alimentares, (re)utilizando em grande medida recursos humanos e

materiais (MOUGEOT, 2000, p. 7)”.

Diante da contextualização acima exposta, a problemática de pesquisa é definida de

acordo com a seguinte questão: Quais são os papéis e dinâmicas socioeconômicas

desenvolvidas pela atividade agrária em suas manifestações no espaço urbano de Belém

do Pará-PA?

Referencial Teórico

Em um mundo visto como uma totalidade em movimento, o espaço pode ser visto como uma forma-conteúdo, forma que não pode ser separada do conteúdo e vice-versa, confundindo objetos e ações, mediante uma intencionalidade, em um permanente movimento de dissolução e recriação do

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sentido, produzindo e reproduzindo o espaço como um híbrido (SANTOS, 2004, p. 24-25).

No Brasil e não raro, no mundo, o avanço da urbanização no final do século passado e

início do século XXI, tem levado a um decréscimo das populações rurais. Nesse

contexto, criam-se problemáticas crescentes no que tange a ocupação e renda, logo

buscam-se alternativas para os espaços rurais e urbanos, pois:

[...] a pobreza segue o mesmo rumo de crescimento: as previsões que apontam a duplicação em 30 anos, da população urbana mundial também indicam que o número de pobres dessas zonas deverá crescer a um ritmo muito maior. A falta de oportunidade nos meios rural e urbano, fazem com que a população busque novas alternativas para sobreviver (PESSOA, 2005, p. 5 apud PEREIRA, 2000, p.1).

A partir dessa busca, a preocupação voltada aos alimentos e diversificações na produção

aponta potenciais de inversão dos papéis das atividades rurais e urbanas. Assim, nas

áreas rurais, as tendências são para os empregos “não-agrícolas”, ao passo que nas áreas

urbanas e periurbanas, alternativamente passa-se a se fazer práticas agrícolas e

pecuárias, podendo vir a melhorar hábitos alimentares, além do aumento de produtos

disponíveis, proporcionando complementação das rendas domiciliares (PESSOA, 2005

apud PEREIRA, 2000).

Tão logo, torna-se cada vez mais comum o surgimento de atividades consideradas

exclusivas do meio rural, na zona urbana, e vice-versa, como é o caso da Agricultura

Urbana. Em vista desta realidade, vários locais têm residentes urbanos dedicam à

atividades agrícolas nos locais disponíveis (ou disponibilizados), estratégias que não

exclui, pelo contrário, se amplia em países em desenvolvimento. A prática da atividade

consiste, portanto, em estratégia que:

Os analistas das atuais tendências relacionadas com os sistemas de alimentação urbana revelam que, para suprir a segurança alimentar dos pobres urbanos não basta depender exclusivamente dos alimentos produzidos nas zonas rurais; é necessário que as cidades desenvolvam planos para aumentar a produção urbana e periurbana de alimentos. Considerando certas condições, como o espaçamento e a conservação da natureza (ZEEUW et al, 2000, p.13).

Para a United Nations Development Programme, a terminologia empregada abarca uma

série de elementos que agregariam as cidades uma série de benefícios, em contraposição

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a visões que não corroboram com a existência de agropecuária no âmbito urbano.

Assim, a

[…] urban agriculture is often perceived as archaic, temporary and inappropriate. Some consider it marginal at best, perhaps a constructive recreational activity or an aesthetic function that helps construtctive recreational activity or an aesthetic function that helps to beautify the "ugly" city. In facturban agricultura is a significant economic activity, central to the lives of tens of millions of people througout the world. It is a rapidly growing industry that is increasingly essential to the economic and nutritional security of urban residents and that has far-reaching economic, environmental and health implications (UNDP, 1996, p. 3).

Enquanto substantivo, a denominação “Agricultura Urbana” é compreendida enquanto

expressão física, tendo, no entanto, particularidades e sendo complexo em

características quando de sua manifestação. O termo se reporta a um fenômeno

relativamente novo enquanto política pública, mas de longa trajetória em vários locais,

principalmente quando prática daqueles migrantes do campo que passam a habitar as

cidades, ou ainda pela possibilidade de vivenciar experiências. Assim:

Deveríamos indagar se a Agricultura Urbana é realmente o que chamamos, ou queremos chamar assim, o que percebemos na realidade. Desta forma, a Agricultura Urbana é vista como aquela que está localizada dentro (intraurbana) ou na perifieria (peri-urbana) de um povoado, uma cidade ou uma metrópole e cultiva ou cria, processa e distribui uma diversidade de produtos alimentares e não-alimentares, (re) utilizando em grande medida recursos humanos e materiais, produtos e serviços que se encontram ao redor de dita zona, e por sua vez fornece recursos humanos e materiais, produtos e serviços em grande parte a essa mesma zona urbana (MOUGEOT, 2000, p. 7).

De acordo com Pessoa (2005, p. 53), as manifestações da prática se apresentam de

forma que:

[...] Normalmente as hortaliças e temperos aparecem em maiores quantidades, pois possuem ciclo mais rápido e são mais facilmente manejáveis, além de necessitarem de espaços menores. As rendas mais altas também são oriundas da venda de hortaliças e temperos, porque possuem maiores demandas nos centros urbanos, em especial, aquelas produzidas de forma natural.

Muitos órgãos, instituições e uma série de país “vêm apostando cada vez mais na

promoção das atividades primária entre os citadinos, sendo a população-alvo a mais

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desfavorecida economicamente, particularmente as mulheres [...] (MADALENO, 2002,

p. 2).

Um caráter relevante compete a características em potencial que a mesma apresenta,

uma vez em muitas situações agrega coletivos de pessoas em prol de um objetivo, neste

caso, a produção alimentícia. Exemplo dessa relação pode ser observadas nas atividades

que a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO)

denomina de Horticultura Comunal ou Coletiva.

Este tipo de agricultura é muito comum em áreas periurbanas perto de centros residenciais, sociais e/ou educativos, embora também seja encontrado em áreas intraurbanas, nos espaços comunitários dos bairros e zonas residenciais. Seu objetivo principal é a segurança alimentar, porém – quando o grupo se consolida – é possível começar a gerar excedentes para comercialização (FAO, 2009).

É também marcante os papéis sociais que a Agricultura Urbana é capaz de exercer,

conforme o Panorama da Agricultura Urbana no Brasil existem uma série de potenciais

que são capazes de incidir sobre a população, tendo em vista que

[...] as atividades de AUP têm para a promoção de políticas de respeito às condições étnicas e sócio-culturais e também de atenção a grupos considerados de condição vulnerável como mulheres, idosos, portadores de necessidades especiais, quilombolas, entre outros, partindo de uma perspectiva de respeito à diversidade social, equidade e promoção da governabilidade participativa (SANTANDREU e LOVO, 2007, p. 11).

A realidade nas últimas três décadas demonstra um cenário favorável a mesma,

apresentada conforme Madaleno (2002, p. 9) como:

Nos anos 80 do século XX a agricultura urbana conheceu um período de rápido crescimento e de grande notoriedade entre algumas nações de países em desenvolvimento. Este processo foi estimulado por certas organizações internacionais, que nessa década iniciaram ou incrementaram programas de cooperação com países pobres no sentido de se investigarem as características da agricultura praticada no meio urbano, de se expandirem as terras cultivadas e se apoiarem tecnicamente os pequenos produtores. Foi decisiva a transferência de conhecimentos adquiridos nos âmbitos científico e tecnológico, onde a agricultura começava a ser vista como atividade importante para o desenvolvimento sustentado.

Diante destes aspectos, comprova-se potenciais na atividade agropecuária nas cidades.

A mesma de forma geral e abrangente pode ser apresentada e caracteriza da seguinte

maneira conforme FAO (2009):

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A produção e/ou transformação de forma inócua de produtos agrícolas (hortaliças, frutas, plantas medicinais, plantas ornamentais, espécies florestais etc.) e pecuários (animais menores e maiores) nas áreas intra e periurbanas das cidades, para autoconsumo ou comercialização, aproveitando recursos, insumos e serviços urbanos (solo, água, resíduos, mão de obra, etc.) (FAO, 2009).

Indiferente a interpretações ou denominações difusas, o fato é que o termo “Agricultura

Urbana”, mesmo em contextos diferentes, e até mesmo objetivos por vezes distintos, o

seu exercício se encontra relacionado com necessidades no âmbito das cidades,

situando-se:

En un mundo con los precios de los alimentos en aumento y un clima cambiante, la Agricultura Urbana es una alternativa para mejorar los estilos de vida de las poblaciones más pobres y vulnerables. Los gobiernos locales pueden involucrarla en sus planes de desarrollo y de restablecimiento de áreas públicas y asentamientos ambientalmente degradados así como para la promoción de hábitos saludables y una mejor nutrición. De manera alterna, las familias que destinan pequeñas áreas de sus hogares como huertas familiares pueden obtener un suministro sostenible de alimentos limpios, seguros y a bajo costo, que genera ahorros, y que si incluye buenas prácticas agrícolas, incluso, la generación de ingresos (IZQUIERDO; GRANADOS, 2009, p.43).

A medida que não se pode mais negar o fenômeno da Agricultura no espaço urbano,

configura-se uma situação na qual observar rural e urbano como contraposição

anteriormente tidos assim, já não se ratifica no espaço. Estabelecem-se assim, desafios

de inter-relações que constantemente ofereçam alternativas que ofereçam oportunidades

de geração de ocupação e renda. Por fim, os resultados podem propiciem não apenas

potenciais econômicos, mas também benefícios ambientais, benefícios estes que

extrapolam a unidade familiar e contemplam uma porção muito maior da sociedade.

Metodologia

A metodologia utilizada consiste no uso do método de análise dedutivo. Particularmente

quanto ao método dedutivo “A premissa maior é uma afirmação universal

indiscutivelmente aceita por todos. A premissa menor é um caso particular da premissa

maior [...] (ALMEIDA, 1989, p.17)”. Inicialmente coletou-se dados de fontes

secundárias e documentais acerca do fenômeno e/ou relacionados ao mesmo, para então

posteriormente partir para a coleta de informações de fonte primária. A abordagem da

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pesquisa consistiu na utilização de metodologia qualitativa. As ferramentas qualitativas

se deram por meio de observação não participativa e entrevistas semi-estruturada. As

entrevistas, bem como a observação não participativa procuram: “[...] atender

principalmente finalidades exploratórias [...] é bastante utilizada para o detalhamento de

questões e formulação mais precisas dos conceitos relacionados [...] É uma forma de

poder explorar mais amplamente uma questão. (BONI e QUARESMA, 2005, p. 74)”. A

amostragem do tipo não-probabilística. Este tipo de amostra consiste em acidental e

intencional, no caso do presente estudo foi intencional por abordar os atores locais que

exercem a Agricultura Urbana. A coleta de dados em Belém de Pará se deu nos meses

de Novembro e Dezembro de 2011. O delineamento da análise da pesquisa caracterizar-

se-á como analítico-descritivo, de forma que as estratégias de pesquisa tiveram atuações

paralelas.

Conclusões

Os resultados preliminares permitem tecer as considerações a seguir. Em se tratando de

questões socioeconômicas, verificou-se duas situações, onde o tamanho da produção é

decisivo para elevar custos e geralmente área e ocupações. Os elementos centrais desta

relação produção e gastos se dão de acordo com as finalidades da produção, pois quanto

mais vinculadas ao mercado, maior é o grau de especialização e menor diversificação

dos cultivos. Estes casos de cultivos mais especializados vinculam-se a iniciativas de

agrovilas e assentamentos urbanos. Havendo maior direcionamento ao mercado

costuma-se verificar a demanda por produto(s) orgânico ou então produto que sirva de

matéria prima a um determinado produto industrial conforme observado na ilha de

Cotijuba, fornecedora da Priprioca para uma multinacional do ramo de perfumaria e

cosméticos.

As produções costumam se centrar em produtos típicos/culturais dos indivíduos, apenas

quando da inserção de produção especializada voltada a indústrias de maior porte, neste

caso observa-se a desistência de cultivos tradicionais como espécies frutíferas, temperos

e hortas em que plantava-se verduras e e algumas. Tal assertiva pode ser apresentada

através dos produtos lembrados por mais de 1/4 dos atores envolvidos indagados na

pesquisa, são eles: Açaí (45,2%), Macaxera (41,9%), Cupuaçu (35,5%) e Maxixe

(25,8%). Muito embora tenham sido estes quatro produtos que se destacaram entre os

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mais lembrados, outros produtos são relevantes no contexto do Município, conforme

pode-se observar no caso do Carirú, Côco e O Cheiro Verde. Diante desta perspectiva, a

agroindústria parece ser uma possibilidade latente e promissora, em que conste a

perspectiva de pequenas unidades, em escalas não muito amplas, pois a mão de obra

local não é abundante, as áreas têm limitações e a expansão de estabelecimentos poderia

comprometer a sustentabilidade produtiva e ambiental dos espaços.

Em que pese a questão da agricultura urbana partir da premissa do autoconsumo,

focando as possibilidades para a produção do núcleo familiar, observa-se em diversos

locais, sobretudo em áreas de maior extensão (muito embora grande parte em Belém do

Pará ocorra como área de preservação), não apenas a possibilidade como a necessidade

da obtenção de maior número de mercados, bem como que os mesmos sejam mais

perenes e rentáveis, podendo manter características de proximidade (atualmente

decorrente da venda direta ao consumidor, comumente turista que perpassa pelas

proximidades). Nos hábitos se observa a realidade decorrente do fato dos consumidores

locais ainda não terem visualizado de forma massiva a presença de produtos

convencionalmente produzidos, assim, os mesmos não são uma presença marcante.

Aspecto convergente a esta realidade se refere à desinformação que culmina em pouca

valorização do consumidor em relação aos produtos que lhes são ofertados. Destarte,

estes produtos merecem maior atenção por parte dos agentes públicos, privados

(envolvidos na comercialização), bem como dos atores locais envolvidos, pois a partir

de tal realidade poder-se-á valorizar produtos que respeitam preceitos ecológicos e não

utilizam adubos nem insumos químicos. A centralidade da produção orbita em torno de

práticas agrícolas.

A atividade extrativa se concretiza como prática mais efetiva e presente na maior parte

dos produtores, estando em mais de 96% das unidades produtivas visitadas e

corresponde a 100% dos casos quando em se tratando (ao menos) de parte do

autoconsumo. Uma problemática relevante que os indivíduos têm de conviver

diariamente se refere ao transporte, em se tratando de comunidades de baixo poder

aquisitivo e, sobremaneira quando se refere a ambientes insulares, o transporte marítimo

se constitui na única opção para a maior parte destes espaços. Por fim, cabe destacar que

o estágio atual da presente pesquisa se encontra em fase de início da interpretação dos

dados.

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Referências

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