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O Supremo Tribunal Federal (STF) indiciou 40 acusados de envolvimento em crimes de corrupção durante a crise política de 2005, denominada pela mídia corporativa de mensalão. Fizeram grande estardalhaço, como verdadeiros paladinos da moralidade, inclusive procurando identificar os desvios dos acusados com toda a esquerda brasileira. No entanto, não foi esse o tratamento dado ao “mensalão tucano” conduzido pelo ex- governador de Minas Gerais e hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB) que, em breve, deve ter 70 membros do seu governo denunciados. O silêncio da mídia também R$ 2,00 São Paulo, de 6 a 12 de setembro de 2007 www.brasildefato.com.br Ano 5 • Número 236 Uma visão popular do Brasil e do mundo Circulação Nacional V ale e mensaleiros: punição aos que lesam o patrimônio público Mesmo com crescimento econômico, há nos Estados Unidos 5 milhões de pobres a mais do que havia no ano 2000. Em 2006, 36,5 milhões viviam na pobreza. Somente os 5% mais ricos do país vi- ram sua renda aumentar nes- se período. Pág. 11 Estados Unidos: cinco milhões a mais de pobres Numa clara briga de peixes grandes da elite política e eco- nômica, o senador Renan Ca- lheiros (PMDB-AL) – conhe- cido por suas práticas oligár- quicas e nefastas, revidou as denúncias da revista Veja que podem levar à sua cassação. A publicação da editora Abril foi a primeira a afirmar que o se- nador teria utilizado recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão alimentícia e o aluguel à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Renan, então, divulgou entre parlamentares relató- rio do conselheiro-diretor da Agência Nacional de Teleco- municações (Anatel), Plínio Renan revela negociata entre o Grupo Abril e a Telefônica Aguiar Júnior, que atesta irregularidades na venda da emissora a cabo TVA, da Abril, para a espanhola Tele- fônica. A mídia corporativa fez que não era com ela e a direita institucional lançou seus cães de guarda no Parla- mento para impedir a criação de uma CPI que apurasse as denúncias. O fato é que o epi- sódio fortalece o Dia Nacional de Mobilizações por Controle Público sobre as Concessões de Rádio e TV, previsto para acontecer em 5 de outubro, data de vencimento de diver- sas concessões, inclusive as das cinco emissoras próprias da Rede Globo. Pág. 8 O projeto de Lei do Gás, aprovado pela Comissão Especial criada na Câmara dos Deputados irá restringir a atuação da Petrobras no setor energético. Represen- tantes de sindicatos de pe- troleiros advertem que entre as repercussões para o povo brasileiro estão o aumento do preço do gás natural para consumo da sociedade, além da redução dos investimen- tos em gasodutos. Pág. 7 Projeto de lei propõe elevar preço do gás ao consumidor O 3º Congresso do Partido dos Trabalha- dores (PT) aprovou o apoio ao plebiscito que questiona a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Os participantes também discu- tiram a questão de uma candidatura própria para 2010. Esses dois pontos não eram de in- teresse da cúpula petista, mais próxima ao Pa- PT aprova apoio ao plebiscito da Vale lácio do Planalto, que sinaliza preferir debater uma candidatura de partidos da base aliada. O apoio ao plebiscito foi quase unânime, mas figuras do bloco hegemônico, como o ex-minis- tro José Dirceu, afirmam que não pretendem reestatizar a Vale e nem orientam os militantes a votar “sim” ou “não” na consulta. Pág. 3 O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, será interme- diador de um possível acordo entre os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucio- nárias da Colômbia (Farc) e o governo de Álvaro Uribe, principal parceiro político- militar de George W. Bush na América do Sul. O manda- tário venezuelano negociará para que as Farc libertem 46 reféns em troca da soltura de seus integrantes presos pelo Estado colombiano. Pág. 9 Hugo Chávez media conflito na Colômbia é notório no que diz respeito ao plebiscito popular que questiona a fraudulenta privatização da Companhia Vale do Rio Doce, comandada, em 1997, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, que entregou a antiga estatal ao capital privado por um valor 30 vezes inferior ao seu patrimônio. Para o jurista Fábio Konder Comparato, FHC cometeu um crime de lesa-pátria. Portanto, deve ser julgado e condenado. É isto o que espera toda a sociedade brasileira: punição exemplar de todos os que entregam o país ao capital estrangeiro e/ou lesam o patrimônio público. Págs. 2, 4 e 5 Um dos principais direto- res de fotografia do cinema brasileiro, o arquiteto Mário Carneiro, faleceu no dia 1º, ví- tima de câncer. Duas semanas antes (14 de agosto), ele con- cedeu entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, na sua resi- dência no Rio de Janeiro. Car- neiro conta como entrou para o cinema, onde trabalhou com Glauber Rocha, Paulo Sarace- ni e Joaquim Pedro de Andra- de, dentro outros. “O cinema, eu tenho a impressão de que era uma coisa tão forte, na- quela época, que não tinha muito como escapar”, filosofa Carneiro. Pág. 12 A última entrevista do fotógrafo Mário Carneiro João Zinclar Milhares de brasileiros participam do plebiscito popular Wilson Dias/ABr Presidente do Senado, Renan Calheiros, apresenta denúncias contra Grupo Abril e Telefônica Xavierra Morador de rua de Nova York, Estados Unidos Douglas Mansur 3º Congresso Nacional do PT, que aconteceu em São Paulo, reuniu cerca de mil delegados Mauricio Scerni

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São Paulo, de 6 a 12 de setembro de 2007 www.brasildefato.com.brAno5•Número236 R$ 2,00 Circulação Nacional Mesmo com crescimento econômico, há nos Estados Unidos 5 milhões de pobres a mais do que havia no ano 2000. Em 2006, 36,5 milhões viviam na pobreza. Somente os 5% mais ricos do país vi- ram sua renda aumentar nes- se período. Pág. 11 Morador de rua de Nova York, Estados Unidos 3º Congresso Nacional do PT, que aconteceu em São Paulo, reuniu cerca de mil delegados Xavierra

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O Supremo Tribunal Federal (STF) indiciou 40 acusados de envolvimento em crimes de corrupção durante a crise política de 2005, denominada pela mídia corporativa de mensalão. Fizeram grande estardalhaço, como verdadeiros paladinos da moralidade, inclusive procurando identificar os desvios dos acusados com toda a esquerda brasileira. No entanto, não foi esse o tratamento dado ao “mensalão tucano” conduzido pelo ex-governador de Minas Gerais e hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB) que, em breve, deve ter 70 membros do seu governo denunciados. O silêncio da mídia também

R$ 2,00

São Paulo, de 6 a 12 de setembro de 2007 www.brasildefato.com.brAno 5 • Número 236

Uma visão popular do Brasil e do mundoCirculação Nacional

Vale e mensaleiros: punição aos que lesam o patrimônio público

Mesmo com crescimento econômico, há nos Estados Unidos 5 milhões de pobres a mais do que havia no ano 2000. Em 2006, 36,5 milhões viviam na pobreza. Somente os 5% mais ricos do país vi-ram sua renda aumentar nes-se período. Pág. 11

Estados Unidos:cinco milhões amais de pobres

Numa clara briga de peixes grandes da elite política e eco-nômica, o senador Renan Ca-lheiros (PMDB-AL) – conhe-cido por suas práticas oligár-quicas e nefastas, revidou as denúncias da revista Veja que podem levar à sua cassação. A publicação da editora Abril foi a primeira a afirmar que o se-nador teria utilizado recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão alimentícia e o aluguel à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Renan, então, divulgou entre parlamentares relató-rio do conselheiro-diretor da Agência Nacional de Teleco-municações (Anatel), Plínio

Renan revela negociata entre o Grupo Abril e a TelefônicaAguiar Júnior, que atesta irregularidades na venda da emissora a cabo TVA, da Abril, para a espanhola Tele-fônica. A mídia corporativa fez que não era com ela e a direita institucional lançou seus cães de guarda no Parla-mento para impedir a criação de uma CPI que apurasse as denúncias. O fato é que o epi-sódio fortalece o Dia Nacional de Mobilizações por Controle Público sobre as Concessões de Rádio e TV, previsto para acontecer em 5 de outubro, data de vencimento de diver-sas concessões, inclusive as das cinco emissoras próprias da Rede Globo. Pág. 8

O projeto de Lei do Gás, aprovado pela Comissão Especial criada na Câmara dos Deputados irá restringir a atuação da Petrobras no setor energético. Represen-tantes de sindicatos de pe-troleiros advertem que entre as repercussões para o povo brasileiro estão o aumento do preço do gás natural para consumo da sociedade, além da redução dos investimen-tos em gasodutos. Pág. 7

Projeto de leipropõe elevar preço do gásao consumidor

O 3º Congresso do Partido dos Trabalha-dores (PT) aprovou o apoio ao plebiscito que questiona a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Os participantes também discu-tiram a questão de uma candidatura própria para 2010. Esses dois pontos não eram de in-teresse da cúpula petista, mais próxima ao Pa-

PT aprova apoio ao plebiscito da Valelácio do Planalto, que sinaliza preferir debater uma candidatura de partidos da base aliada. O apoio ao plebiscito foi quase unânime, mas figuras do bloco hegemônico, como o ex-minis-tro José Dirceu, afirmam que não pretendem reestatizar a Vale e nem orientam os militantes a votar “sim” ou “não” na consulta. Pág. 3

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, será interme-diador de um possível acordo entre os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucio-nárias da Colômbia (Farc) e o governo de Álvaro Uribe, principal parceiro político-militar de George W. Bush na América do Sul. O manda-tário venezuelano negociará para que as Farc libertem 46 reféns em troca da soltura de seus integrantes presos pelo Estado colombiano. Pág. 9

Hugo Chávezmedia confl itona Colômbia

é notório no que diz respeito ao plebiscito popular que questiona a fraudulenta privatização da Companhia Vale do Rio Doce, comandada, em 1997, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, que entregou a antiga estatal ao capital privado por um valor 30 vezes inferior ao seu patrimônio. Para o jurista Fábio Konder Comparato, FHC cometeu um crime de lesa-pátria. Portanto, deve ser julgado e condenado. É isto o que espera toda a sociedade brasileira: punição exemplar de todos os que entregam o país ao capital estrangeiro e/ou lesam o patrimônio público. Págs. 2, 4 e 5

Um dos principais direto-res de fotografia do cinema brasileiro, o arquiteto Mário Carneiro, faleceu no dia 1º, ví-tima de câncer. Duas semanas antes (14 de agosto), ele con-cedeu entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, na sua resi-dência no Rio de Janeiro. Car-neiro conta como entrou para o cinema, onde trabalhou com Glauber Rocha, Paulo Sarace-ni e Joaquim Pedro de Andra-de, dentro outros. “O cinema, eu tenho a impressão de que era uma coisa tão forte, na-quela época, que não tinha muito como escapar”, filosofa Carneiro. Pág. 12

A última entrevista do fotógrafo Mário Carneiro

João Zinclar

Milhares de brasileiros participam do plebiscito popular

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Presidente do Senado, Renan Calheiros, apresenta denúncias contra Grupo Abril e Telefônica

Xavierra

Morador de rua de Nova York, Estados Unidos

Douglas Mansur

3º Congresso Nacional do PT, que aconteceu em São Paulo, reuniu cerca de mil delegados

Mauricio Scerni

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LEIO CUIDADOSAMENTE todos os dias as opiniões sobre Cuba das agências tradicionais de imprensa, incluindo aquelas dos países que formaram parte da URSS, as da República Popular da China e outras. Chegam a mim, também, notícias de órgãos da imprensa latino-americana, espanhóis e de toda Europa.

O quadro é cada vez mais incerto diante do temor de uma recessão prolongada como a dos anos que se seguiram a 1930. O governo dos Estados Unidos recebeu dia 22 de julho de 1944 os privilégios, outorgados em Bretton Woods, de ser a potência militar mais poderosa. Assim, puderam passar a emitir o dólar como moeda internacional de câmbio.

A economia desse país estava intacta depois da guerra, em 1945, e dispunha de quase 70% das reservas de ouro do mundo. Nixon decidiu unilateralmente, em 15 de agosto de 1971, suspen-der a garatia em ouro por cada dólar emitido.

Com isso, fi nanciou a matança no Vietnã em uma guerra que custou 20 vezes mais o valor real de reservas de ouro que pos-suía.

Desde então, a economia dos Estados Unidos se mantém as custas dos recursos naturais e arrochos em todo o resto do mun-do. A teoria do crescimento contínuo da inversão e do consumo, aplicada pelos mais desenvolvidos nos países onde a imensa maioria é pobre, rodeada por luxos e desperdícios de uma exígua minoria de ricos, não só é humilhante, mas também destrutiva.

Esse saque e suas desastrosas conseqüências são as causas da rebeldia crescente dos povos, ainda que muitos poucos conhe-çam a história e os fatos. As inteligências mais dotadas e cultiva-das se incluem na lista de recursos naturais e estão tarifadas no mercado mundial de bens e serviços.

O que ocorre com os super-revolucionários da chamada extre-ma esquerda? Alguns o são por falta de realismo e o agradável prazer de sonhar coisas doces. Outros não têm nada de sonhado-res, são especialistas na matéria, sabem o que dizem e para quem dizem. É uma armadilha bem armada em que não se deve cair. Reconhecem nossos avanços como quem concede esmolas. Ca-recem realmente de informação? Não. Posso lhes assegurar que estão absolutamente informados.

Em determinados casos, a suposta amizade com Cuba lhes permite estar presentes em numerosas reuniões internacionais e conversar com quantas pessoas do exterior ou do país que dese-jam, sem bloqueio algum de nosso vizinho império, localizado a somente 90 milhas da costa cubana. O que aconselham à Revo-lução? Puro veneno. As fórmulas mais típicas do neoliberalismo. Fazem parecer que o bloqueio não existe, parecendo mais uma invenção cubana.

Subestimam a mais colossal tarefa da Revolução, sua obra edu-cacional, o cultivo massivo das inteligências. Sustenta a necessida-de de pessoas capazes de viver realizando trabalhos simples e rús-ticos. Subestimam os resultados e exageram os gastos em investi-mentos científi cos. Ou algo pior: se ignora o valor dos serviços de saúde que Cuba presta ao mundo, que na realidade, com modestos recursos, a Revolução desnuda o sistema imposto pelo imperialis-mo, que carece de pessoal humano para fazer algo similar.

Não se pode prescindir de algumas empresas mistas, porque controlam mercados que são imprescindíveis. Mas também não se pode inundar com dinheiro um país sem vender sua soberania.

Os super-revolucionários que receitam tais medicamentos igno-ram de forma deliberada outros recursos verdadeiramente decisi-vos para a economia, como é a produção crescente de gás, que já purifi cado se converte em uma fonte inestimável de electricidade sem afetar o meio ambiente e gera centenas de milhões de dólares a cada ano. Da Revolução Energética promovida por Cuba não se diz uma palavra. Chegam ainda mais longe: vêem na produção de cana, um cultivo que se manteve em Cuba com mão-de-obra semi-escrava, uma vantagem energética para a ilha, capaz de contra-atacar aos elevados preços do Diesel que alimentam os automóveis dos Estados Unidos, Europa Ocidental e outros países desenvolvi-dos. Se estimula o instinto egoísta dos seres humanos, enquanto os preços dos alimentos duplicam e triplicam.

Ninguém tem sido mais crítico do que eu de nossa própria obra revolucionária, mas jamais me verão esperar favores ou perdões do pior dos impérios.

3 de setembro del 2007.

Fidel Castro Ruz é presidente de Cuba

Editor-chefe: Nilton Viana • Editores: Jorge Pereira Filho, Marcelo Netto Rodrigues • Subeditor: Luís Brasilino • Repórteres: Beto Almeida, Claudia Jardim, Dafne Melo, Eduardo Sales de Lima, Igor Ojeda, Pedro Carrano, Renato Godoy de Toledo, Tatiana Merlino • Fotógrafos: Alícia Peres, Alderon Costa, Anderson Barbosa, César Viegas, Douglas Mansur, Flávio

Cannalonga (in memoriam), Gilberto Travesso, Jesus Carlos, João R. Ripper, João Zinclar, Leonardo Melgarejo, Luciney Martins, Maurício Scerni, Renato Stockler, Samuel Iavelberg, Ricardo Teles • Ilustradores: Aldo Gama, Kipper, Latuff, Márcio Baraldi, Maringoni • Editor de Arte: Rodrigo Itoo • Pré-Impressão: Helena Sant’Ana • Revisão: Geraldo Martins de Azevedo Filho • Jornalista responsável: Nilton Viana – Mtb 28.466 • Administração: Valdinei Arthur Siqueira • Programação: Equipe de sistemas • Assinaturas: Salvador José Soares • Endereço: Al. Eduardo Prado, 342 – Campos Elíseos – CEP 01218-010 – Tel. (11) 2131-0800 – São Paulo/SP – [email protected] • Gráfi ca: FolhaGráfi ca • Conselho Editorial: Alípio Freire, Altamiro Borges, Antonio David, César Sanson, Frederico Santana Rick, Hamilton Octavio de Souza, João Pedro Ba-resi, Kenarik Boujikian Felippe, Leandro Spezia, Luiz Antonio Magalhães, Luiz Bassegio, Luiz Dallacosta, Marcela Dias Moreira, Maria Luísa Mendonça, Mario Augusto Jakobskind, Milton Viário, Nalu Faria, Neuri Rosseto, Pedro Ivo Batista, Ricardo Gebrim, Temístocles Marcelos, Valério Arcary • Assinaturas: (11) 2131- 0812/ 2131-0808 ou [email protected] Para anunciar: (11) 2131-0815

A ÚLTIMA semana trouxe para o centro da cena o ex-presidente tu-cano Fernando Henrique Cardoso na condição de réu em processo movido contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, e os políticos e empresários envolvidos nos dois escândalos acunhados de “mensalões”.

A volta à cena do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sen-tado no banco dos réus aconteceu graças à campanha e plebiscito pela reestatização da Companhia Vale do Rio Doce. O ex-presidente tucano é acusado e colocado na condição réu, como responsável pelas irregularidades que permi-tiram que a empresa pública fosse vendida ao Bradesco por um preço quase 30 vezes inferior ao valor do seu patrimônio. Nessa negociata, embora o Bradesco apareça como o comprador da Vale, supõe-se que essa instituição fi nanceira seja ape-nas testa-de-ferro de algum grupo estrangeiro.

Em entrevista ao Jornal Sem Ter-ra, em março de 2001, referindo-se à privatização e desnacionalização das empresas públicas durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o jurista Fábio Konder Comparato já comentava: “Essa (a entrega do país ao estrangeiro) é uma ação infi nitamente mais

danosa que todas as corrupções. O sujeito que se apossa de dinheiro público, ele comete um crime, mas é um crime de efeitos limitados, nós sabemos quanto foi retirado do povo e tornado propriedade parti-cular. Mas a alienação, a submissão do país ao estrangeiro é um crime de conseqüências incalculáveis, de modo que, se um dia, o que eu es-pero, nós viermos a ter um governo de reconstrução nacional, é indis-pensável que todos esses homens, se ainda estiverem em vida, que eles sejam processados perante um tribunal popular e condenados à indignidade nacional. Se eles já ti-verem morrido, os atos deles serão julgados e a memória deles deve ser marcada com esta condenação de indignidade nacional”.

No caso dos “mensalões”, por sua vez, a volta à cena se deveu a duas iniciativas de instâncias ofi ciais da República. Primeiro, o indicia-mento, pelo STF, dos 40 políticos e empresários com distintos laços com o Partido dos Trabalhadores (PT), acusados de participar de um esquema de corrupção com a utili-zação de verbas públicas. Segundo,

o anúncio da Procuradoria da Re-pública de que até o dia 10 de se-tembro deverá apresentar denúncia contra o senador e ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ba-seada no Relatório da Polícia Fede-ral a respeito do escândalo conhe-cido como “mensalão do PSDB”, ou “mensalão tucano”. O escândalo atinge 70 personalidades políticas e empresariais com distintos laços com o Partido da Social Democra-cia Brasileira (PSDB), acusadas de envolvimento em práticas seme-lhantes àquelas que recaem sobre os petistas. Segundo comentam os que tiveram acesso ao relatório, quase a totalidade do primeiro es-calão do governo do senador Edu-ardo Azeredo está envolvida e será denunciada. Depois do “mensalão do PSDB”, será a vez das investiga-ções da Lista de Furnas – que pode devastar as hostes tucanas.

De acordo com o histórico dos dois processos, o “mensalão tuca-no” teria precedido e servido de modelo e canal para os petistas – o que não faz destes, menos responsáveis. Um escândalo não pode servir de cortina de fumaça

para esconder o outro, como tem a grande mídia procurado encobrir as mazelas dos tucanos às custas de uma superexposição dos petistas. A isonomia é um princípio basilar da democracia. Por isso, entendemos que, garantidos o pleno direito de defesa dos acusados, a lei deve ser cumprida com rigor em todos os ca-sos, sem exceções. A consolidação e aprofundamento da democracia em nosso país depende disso.

Ao mesmo tempo, o senador ala-goano Renan Calheiros, do Partido do Movimento Democrático Brasi-leiro – PMDB, presidente do Sena-do, acusado de fraudes e corrupção, prolonga sua agonia, denunciando que a Agência Nacional de Teleco-municações (Anatel) teria aprovado uma operação ilegal de compra da TVA, operadora de TV a cabo de propriedade do grupo Abril, pela transnacional espanhola Telefônica, em um negócio de cerca de R$ 1 bilhão. Com isso o senador desfecha um contrataque contra a revista Veja (do grupo Abril), que vem sen-do seu principal inquisidor e algoz.

O fato é que, trocando em miú-dos, nos vemos frente a um quadro

dos mais preocupantes: altos repre-sentantes de três dos maiores parti-dos políticos do país, envolvidos em crimes contra o patrimônio público, protagonistas de escândalos inde-fensáveis que arrastam as siglas a que estão fi liados e que dirigem, bem como as instituções que repre-sentam (sobretudo o Congresso Na-cional), ao descrédito e ao desprezo da maioria da população. Essa des-moralização dos partidos políticos e das instituições, sabemos de sobra, são sempre o caldo político mais propício às aventuras totalitárias, aos “salvadores da pátria” e outros energúmenos nem sempre farda-dos. Por tudo isso, é necessária to-da intransigência.

Não esqueçamos, por fi m, que, enquanto membros desses três par-tidos que se construíram a partir da oposição à ditadura, acendendo a esperança junto ao povo, nos brin-dam com tão lamentável espetácu-lo, o PFL – hoje travestido de DEM, o grande fi ador da ditadura e dos seus escândalos encobertos a gol-pes de baionetas e patas de cavalos, mexe-se incólume em cena, com ares de vestal.

A propósito, a quantas anda a apuração dos crimes de que foi acusado o deputado pefelista Anto-nio Carlos Magalhães Neto, vulgo “Grampinho”?

Em defesa da democracia

de 6 a 12 de setembro de 20072

O Brasil como problemaNOS ÚLTIMOS dias, dois prestigia-dos economistas de esquerda, coin-cidentemente, apontaram o governo de Luiz Inácio Lula da Silva como res-ponsável por travar a marcha rumo à construção do Banco do Sul.

Com isso, afi rmaram que, por detrás das declarações favoráveis à integra-ção regional, jogam papéis relevantes os interesses vinculados às trans-nacionais – que tentam bloquear as melhores intenções encabeçadas por Venezuela e Equador, e apoiadas por boa parte dos países sul-americanos.

O peruano Oscar Ugarteche, em artigo entitulado “Brasil versus Ban-co do Sul”, foi muito explícito em afi rmar que o que falta é somente vontade política, já que os problemas técnicos estão resolvidos e o banco já conta inclusive com um estatuto: “A maior resistência do governo brasilei-ro à arquitetura regional é querer que o Banco do Sul fi nancie a Integração de Infraestrutura Regional Sulameri-cana (IIRSA). O governo Lula colocou no centro de sua política regional esse conjunto de obras que buscam fo-mentar o comércio Pacífi co-Atlântico, para por os recursos naturais de mo-do mais barato e rápido nos mercados do chamado primeiro mundo.

Na realidade, o Brasil não neces-sita de um banco regional que tenha um papel de desenvolvimento, uma vez que já possui seu próprio banco, o Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES), que conta com mais recursos para investir na região do que o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Por isso, como assinala Ugarteche, o governo brasileiro está procuran-do frear o lançamento do banco que aconteceria em julho na Venezuela. A conclusão, segundo o economista, é que “opor-se à arquitetura fi nanceira latino-americana é fazer um serviço ao status quo, ao Tesouro estadunidense e às instituições fi nanceiras de Washing-ton, delibitadas e desprestigiadas”.

“Potência global”O belga Eric Toussaint, presidente

do Comitê para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo, assegurou em entrevista que o “Brasil não apóia a iniciativa do Banco do Sul porque não precisa dele para seus projetos de potência econômica”. Entretanto, o governo Lula participa formalmente da iniciativa “já que se esse banco se concretizar, o Brasil não poderá fi car ausente porque poderia perder uma parte do peso dominante que tem”. Enquanto os governos de Hugo Chá-vez, Rafael Correa e Evo Morales que-rem acelerar o andamento do Banco do Sul, o “Brasil trata de reduzir a velocidade”, conclui Toussaint.

O tema não é menor e não depende da vontade pessoal, senão de estraté-gias de larga duração. O Brasil quer ser a potência global da América do Sul e, para isso, necessita conquistar a hegemonia regional. A IIRSA é uma das ferramentas, já que o principal benefi ciado na região será a burgue-sia paulista, por uma via dupla: se assegura a rápida circulação de mer-

Os super-revolucionários

cadorias até o Norte e o grosso das empresas construtoras dessas gigan-tescas obras de infraestrutura serão brasileiras. Mas a IIRSA não é uma criação de Lula, senão do governo anterior, de Fernando Henrique Car-doso. Lula se limita a continuá-la e a aprofundá-la.

É necessário, então, compreender a estratégia do Brasil. Em um recente livro, Samuel Pinheiro Guimarães (De-safi os brasileiros na era dos gigantes, Contraponto, 2006), o número dois da diplomacia do Itamaraty explica os objetivos de longo prazo de seu país: “O ascenso brasileiro à condição de grande potência não deve ser conside-rado uma utopia, senão um objetivo nacional necessário. Sua não-reali-zação corresponderia ao fracasso em enfrentar os desafi os que tem adiante e, por isso, aceleraria o ingresso em um período de grande instabilidade (e eventuais confl itos internos)”.

Um dos principais “desafi os” se relaciona com a distribuição da ri-queza, já que o Brasil é considerado o “campeão mundial da desigualdade”. Agrega que a América do Sul “é a re-gião-chave para a estratégia mundial do Brasil”.

Burguesia brasileiraA clareza do diplomata permite

compreender o tipo de integração que busca o Brasil. A burguesia brasileira opera da mesma forma como fazia a Europa com o Brasil. A burguesia brasileira opera da mesma forma co-mo faziam os europeus na aurora do imperialismo: para não se ver forçada a uma distribuição da riqueza neces-sitou expandir-se até às regiões mais pobres em que podia obter lucros. Não é isso o que estão fazendo as elites brasileiras, cujas empresas do-minam proporções importantes das forças produtivas e dos recursos na-

turais da Bolívia, Uruguai, Paraguai, Equador e Argentina?

É certo, como aponta Ugarteche, que a oportunidade é agora já que o governo de George W. Bush está debi-litado, e não pode se opor a uma in-tegração latino-americana, autônoma da área do dólar. Não será a primeira vez que uma nação deste continente fará o jogo do império. Mas seria a primeira ocasião em que um gover-no que se proclama de “esquerda” contribuiria para reforçar os laços de dependência.

Por isso, o debate aberto se faz prio-ritário. Os governantes da região, por razões diplomáticas elementares, não podem apontar com o dedo aos gover-nantes de outros países. Mas nós não podemos nem devemos dissimular a existência de dois caminhos opostos e contraditórios.

Certamente a situação no Brasil é muito difícil, sobretudo para os mo-vimentos sociais que são a única es-querda realmente existente. A opção pelo etanol feita por Lula ao receber, em março, George W. Bush, equivale a dar aos EUA sinal verde para que as transnacionais avancem sobre a Amazônia e em áreas de agricultura familiar. Por isso, chama a atenção que intelectuais europeus como To-ni Negri, em visita a diversos países da região, mantenha a tese de que os governos progressistas apontam na mesma direção já que fortalecem o multilateralismo. Isso é fato, mas pressupõe uma visão eurocêntrica. Neste momento, neste continente, o verdadeiro multilateralismo passa por impulsionar uma integração capaz de desafi ar a hegemonia estadunidense, não de reforçá-la.

Raúl Zibechi é jornalista, editor de Políti-ca Internacional do Semanário Brecha,

do Uruguai

editorial

debate Raúl Zibechi crônica Fidel Castro

Subestimam a mais colossal tarefa da Revolução, sua obra educacional, o cultivo massivo das inteligências

Gama

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de 6 a 12 de setembro de 2007 3

PT militante constrange o ofi cial

brasil

90% dos delegados aprovaram apoio ao ple-biscito da Vale

QuantoRenato Godoy de Toledoda Redação

A JÁ esperada vitória do ex-Campo Majoritário não ofus-cou a demonstração de força do pensamento de esquerda entre a militância do Partido dos Trabalhadores, em seu 3º Congresso, realizado entre os dias 31 de agosto e 2 de se-tembro, em São Paulo (SP).

Apesar da orientação de membros da tese “Construin-do um novo Brasil” (CNB, o ex-Campo Majoritário), al-guns assuntos que não inte-ressavam ao governo foram colocados em pauta no con-gresso, que contou com cerca de mil delegados e 2 mil ob-servadores e convidados.

Os militantes petistas, mes-mo aqueles ligados ao CNB, demonstraram no Congresso, em plenário ou em conver-sas informais, que não admi-tem a possibilidade de apoiar um nome não petista para as eleições de 2010. As informa-ções dos bastidores político de Brasília, dão conta de que Lula prefere um candidato da base aliada para 2010. Es-pecula-se que Nelson Jobim (PMDB) e Ciro Gomes (PSB) fi guram entre os preferidos do Palácio do Planalto.

“Se o candidato não for do PT, não faremos campanha” foi uma das frases mais ou-vidas nos bastidores do con-gresso. No fi nal, a resolução sobre as eleições foi enigmá-tica: o “PT apresentará uma candidatura a presidente a ser construída com outros partidos”.

Plebiscito da ValeTal como na questão elei-

toral, os quadros do CNB mais próximos ao Palácio do Planalto procuraram evitar o tema do plebiscito acerca do leilão da privatização da Companhia Vale do Rio Do-ce (CVRD).

No entanto, no sábado (dia 1º), cerca de 90% dos delega-dos aprovaram apoio ao ple-biscito organizado pelos mo-vimentos sociais. No momen-to da votação, o presidente do partido, Ricardo Berzoi-ni, não estava presente na a Mesa.

Em plenário, dirigentes do CNB, como o presidente da CUT, Artur Henrique, e João Felício, ex-presidente da cen-tral e secretário sindical do partido, chamaram a militân-cia para participar do plebis-cito. Do lado de fora do ple-nário havia uma urna, onde os militantes votavam.

Para Valter Pomar, secre-tário de Relações Interna-cionais do partido e membro da Articulação de Esquerda, a vitória do plebiscito da Va-

O “Socialismo Petista” foi um dos três grandes temas abordados no congresso – “PT: Concepção e funciona-mento” e “O Brasil que queremos”, foram os demais. A resolução vencedora foi a apresentada pela tese “Cons-truindo um novo Brasil”, assim como nos demais te-mas. Nessa resolução, a extinção da propriedade pri-vada não faz parte do projeto socialista. Marco Aurélio Garcia, assessor-especial da Presidência da República, explicou que o mercado é importante em diversos mo-mentos. Como exemplo, Garcia lembrou da Nova Polí-tica Econômica (NEP) que Lênin instaurou na Rússia devastada pela guerra civil após a Revolução de 1917. Para alcançar esse socialismo, não estão previstas rup-turas, mas sim o aprofundamento da ética republicana e da revolução democrática, que o governo Lula já pro-move, segundo a tese. (RGT)

da Redação

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, confi rmou que um projeto de lei que restringe o direito de greve no serviço público está prestes a ser concluído. Ber-nardo acredita que a militância do PT e da CUT não deve rechaçar o projeto. “Ela deve reagir com nor-malidade porque a greve é um di-reito, mas não pode ser uma regra. Tem greve que dura 90, 100 dias ou até mais”, criticou.

O ministro, que iniciou sua traje-tória política no movimento sindi-cal bancário, confi rmou que junta-mente à restrição do direito de gre-ve, a Convenção 151 da OIT, que garante a negociação coletiva no serviço público, deve ser enviada ao Congresso.

“Um absurdo”A reação de “normalidade” pre-

vista pelo ministro não é confi rma-da quando se questiona João Felí-cio, secretário sindical do PT. “Não tive acesso a esse texto fi nal, mas o que eu vi, meses atrás, era uma ex-crescência, um absurdo”, posicio-nou-se Felício que, tal como Ber-nardo, foi signatário da tese “Cons-truindo um Novo Brasil”.

O texto a que Felício se refere – que não deve ser muito diferente do fi nal – prevê, entre outras coi-sas, que dois terços da categoria têm que estar presentes na assem-bléia para legitimar uma greve. Um

POLÍTICA Grupo majoritário venceu nos grandes temas, mas militância pautou temas que desagradam o Planalto

exemplo prático mostra que essa lei representaria a proibição do direito de greve: a Apeoesp, sindicato dos professores do ensino ofi cial de São Paulo, categoria de Felício, conta com 150 mil fi liados. Portanto, os professores teriam que reunir 100 mil pessoas, de todo o Estado, para defl agrar uma paralisação.

“Isso é uma intervenção do Es-tado na autonomia do sindicato. Estão querendo tirar o direito dos mais prejudicados de, ao menos, espernear”, considerou.

Desafi osO sindicalista acredita que o cen-

tro do debate não deve estar na restrição às greves, mas na amplia-ção de direitos dos trabalhadores, como o direito à negociação cole-tiva. “Acho que o Brasil precisa de mais greves, tem que aumentar a revolta dos trabalhadores peran-te o capital que nunca ganhou tan-to”, defendeu.

Como exemplo do aumento da ex-ploração, Felício lembra da situação dos cortadores de cana. “Um gran-de sonho meu é que haja uma revol-ta dos cortadores de cana. Quer si-tuação mais precária do que a des-sa categoria? Os usineiros ganham muito e não querem dividir os lu-cros, esse sim é um problema neste país, não as greves. Tem que parar de culpar as vítimas”, sustentou.

Corte de gastosNo Congresso do PT, sindicalis-

tas da CUT também lembraram da importância da derrubada do Pro-jeto de Lei Complementar (PLP) 01, que limita os gastos com pes-soal no serviço público em 1,5% ao ano, mais o reajuste da infl ação.

“Os conservadores estão queren-do impor a agenda derrotada nas eleições de 2006, na questão do PLP 01 e do direito de greve”, de-clarou Artur Henrique, presidente da CUT. (RGT)

le foi uma demonstração do caráter essencialmente de es-querda do partido. “A aprova-ção do apoio ao plebiscito foi uma demonstração de que o petismo é de esquerda. A re-solução já tinha sido aprova-da no congresso estadual de São Paulo por unanimidade, com o apoio de todas as cor-rentes, inclusive de dirigentes que assinavam a tese ‘Cons-truindo um Novo Brasil’”, afi rmou Pomar, para quem a decisão não foi constrange-dora para ninguém.

Porém, o ex-ministro-che-fe da Casa Civil, José Dirceu, declarou no programa “Canal Livre”, da Rede Bandeiran-tes, que não defende a rees-

tatização da Vale, pois esta é uma empresa “bem sucedida”. “O PT aprovou o apoio ao ple-biscito, acho que as entidades têm o direito de realizar es-sa consulta. O partido apóia a iniciativa, mas não orienta os seus militantes a votar de uma forma ou de outra”, garantiu. Essa visão também foi defen-dida pelo presidente Ricardo Berzoini, para quem a anula-ção do leilão de privatização deve fi car a cargo da Justiça.

Dois PTsPara além das divergências

entre as correntes internas do partido, fi caram evidentes no congresso diferenças dentro do próprio CNB. Questionado

pelo Brasil de Fato se exis-tem “dois PTs” – um ofi cial e outro militante –, Valter Po-mar respondeu que esse é um processo natural nas organi-zações de esquerda. “Entre 1945 e 1947, também havia ‘dois’ partidos comunistas. Um era o da direção, que re-comendava apertar os cintos. Outro era o da base, que fazia greve nas fábricas. Portanto, não há nada de novo nesta disjuntiva”, constatou.

Socialismo?

da Redação

Setores mais próximos ao presiden-te evitaram tocar em temas polêmicos como a crise política de 2005 e a políti-ca de superavit primário. Já as corren-tes da esquerda do partido fi zeram crí-ticas à política econômica e ao espaço dado aos partidos conservadores den-tro do governo.

“Não podemos esquecer que o presi-dente do Banco Central, Henrique Mei-relles, foi eleito deputado federal pelo PSDB, pratica altos juros e dá continui-dade à hegemonia do capital fi nancei-ro. Temos que combater os conserva-dores que estão dentro do governo”, in-dicou Valter Pomar, que também lem-brou que as rádios comunitárias conti-nuam sofrendo repressão comandada pelo ministro das Comunicações e “ex-Rede Globo”, Hélio Costa.

Sem ProerEnquanto a esquerda petista defen-

deu o fi m da continuidade do ajuste fi scal, o presidente Lula, em discurso para os delegados ao congresso, fez a apologia de seu governo e analisou a situação do capital fi nanceiro durante seu mandato.

“Às vezes me dizem: ‘no seu gover-no, os bancos estão ganhando demais’. E estão mesmo, mas deixa ganhar. Me-lhor do que o outro governo, em que os bancos quebravam e tinha que fazer o Proer (programa que cedeu recursos aos bancos que estavam em falência) e gastava muito mais dinheiro público”, defendeu Lula.

Numa mesa em que os movimentos sociais fi zeram uma saudação aos de-legados, a presidente da UNE, Lúcia Stumpf, sustentou o “Fora, Meirelles” como uma bandeira essencial para os movimentos. (RGT)

Política econômica é alvo de críticasSegundo Valter Pomar, governo dá continuidade à hegemonia do capital fi nanceiro

“Isso é uma intervenção do Estado na autonomia do sindicato. Estão querendo tirar o direito dos mais prejudicados de, ao menos, espernear”, criticou João Felício

Greve de servidores está em xequeProjeto que restringe o direito de greve está quase pronto, afi rma ministro

Realizado entre os dias 31 de agosto e 2 de setembro, em São Paulo, o 3º Congresso do PT contou com cerca de mil delegados e 2 mil observadores e convidados

Paulo Bernardo, ministro do Planejamento

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de 6 a 12 de setembro de 20074

brasil

Política de direita leva destacadas lideranças petistas ao tribunalPOLÍTICA STF indicia 40 suspeitos acusados de crimes como lavagem de dinheiro durante a crise política de 2005

Tatiana Merlinoda Redação

O RECENTE indiciamento pelo Supremo Tribunal Fe-deral (STF) de importantes integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) – acu-sados de crimes como la-vagem de dinheiro – traz à tona a discussão a respeito do que levou o partido, que sempre defendeu a ética na política, a se envolver em práticas de corrupção.

Para o fi lósofo Leandro Konder, um dos fundado-res do partido, nos últimos anos os dirigentes petistas, ávidos para chegar ao po-der, foram se afastando das bases e passaram a assumir

Relatório preparado pela Polícia Federal so-bre mensalão do PSDB deve ser apresentado pela Procuradoria Geral da República até o dia 10. A denúncia é contra o senador Eduardo Aze-redo (PSDB-MG), acu-sado de praticar o cri-me de peculato na ver-são inicial do “valerio-duto”. A pena pode ser de até 12 anos de prisão mais multa.

Conforme investi-gação da Polícia Fede-ral concluída em julho de 1998, o empresário Marcos Valério de Sou-za usou contas bancárias de suas empresas para girar um caixa-dois, ali-mentado com dinheiro público e privado, que teria benefi ciado a frus-trada campanha de Aze-redo para se reeleger go-vernador de Minas Ge-rais e também a de alia-dos do tucano.

No relatório da inves-tigação, a PF afi rma que Valério montou uma metodologia nova para lavar dinheiro destina-do a políticos: toma em-préstimos em bancos, repassa o dinheiro para o interessado e, na ho-ra de pagar a dívida, usa recursos que recebe por meio de contratos com o poder público e também com empresas privadas. O texto atinge 70 perso-nalidades políticas e em-presariais. Quase a tota-lidade do primeiro esca-lão do governo de Azere-do está envolvida e será denunciada. (TM)

A mídia corporativa transformou-se, no governo Lula, numa espécie de guardiã da ética na política. Mas não era bem assim que ela se comportava com os escândalos envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Confi ra abai-xo alguns dos principais casos de corrupção dos oito anos (1995-2002) de governo tucano:

– Sivam: Logo no início da gestão de FHC, denúncias de cor-rupção e tráfi co de infl uências no contrato de 1,4 bilhão de dólares para a criação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) derrubaram um ministro e dois assessores presiden-ciais. Mas a CPI instalada no Congresso, após intensa pressão, foi esvaziada pelos aliados do governo e resultou apenas num relatório com informações requentadas ao Ministério Público.

– Pasta Rosa: Pouco depois, em agosto de 1995, eclodiu a crise dos bancos Econômico (BA), Mercantil (PE) e Comercial (SP). Através do Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro (Proer), Fernando Henrique benefi ciou com R$ 9,6 bilhões o Banco Econômico numa jogada política para favorecer o seu aliado Antonio Carlos Magalhães. A CPI instalada não du-rou cinco meses, justifi cou o “socorro” aos bancos quebrados e nem sequer averiguou o conteúdo de uma pasta rosa, que trazia o nome de 25 deputados subornados pelo Econômico.

– Precatórios: Em novembro de 1996 veio à tona a falcatrua no pagamento de títulos no Departamento de Estradas de Ro-dagem (DNER). Os benefi ciados pela fraude pagavam 25% do valor desses precatórios para a quadrilha que comandava o esquema, resultando num prejuízo à União de quase R$ 3 bi-lhões. A sujeira resultou na extinção do órgão, mas os aliados de FHC impediram a criação da CPI para investigar o caso.

– Compra de votos: Em 1997, gravações telefônicas colocaram sob forte suspeita a aprovação da emenda constitucional que permitiria a reeleição de Fernando Henrique. Os deputados Roni-von Santiago e João Maia, ambos do então PFL do Acre, teriam recebido R$ 200 mil para votar a favor do projeto do governo. Eles renunciaram ao mandato e foram expulsos do partido, mas o pedido de uma CPI foi bombardeado pelos governistas.

– Desvalorização do real: Num nítido estelionato eleitoral, o governo promoveu a desvalorização do real no início de 1999. Para piorar, socorreu com R$ 1,6 bilhão os bancos Marka e FonteCidam – ambos com vínculos com tucanos de alta plumagem. A proposta de criação de uma CPI tramitou durante dois anos na Câmara Federal e foi arquivada por pressão da bancada governista.

– Privataria: Durante a privatização do sistema Telebrás, gram-pos no BNDES fl agraram conversas entre Luis Carlos Mendonça de Barros, ministro das Comunicações, e André Lara Resende, dirigente do banco. Eles articulavam o apoio a Previ, caixa de previdência do Banco do Brasil, para benefi ciar o consórcio do banco Opportunity, que tinha como um dos donos o tucano Pérsio Arida. A negociata teve valor estimado de R$ 24 bilhões. Apesar do escândalo, FHC conseguiu evitar a instalação da CPI.

– CPI da Corrupção: Em 2001, chafurdando na lama, o gover-no ainda bloqueou a abertura de uma CPI para apurar todas as denúncias contra a sua triste gestão. Foram arrolados 28 casos de corrupção na esfera federal, que depois se concen-traram nas falcatruas da Sudam, da privatização do sistema Telebrás e no envolvimento do ex-ministro Eduardo Jorge. A imundice no ninho tucano novamente fi cou impune.

– Eduardo Jorge: Secretário-geral do presidente, Eduardo Jor-ge foi alvo de várias denúncias no reinado tucano: esquema de liberação de verbas no valor de R$ 169 milhões para o TRT-SP; montagem do caixa-dois para a reeleição de Fernando Henrique; lobby para favorecer empresas de informática com contratos no valor de R$ 21,1 milhões só para a Montreal; e uso de recursos dos fundos de pensão no processo das privati-zações. Nada foi apurado.

A corrupção no governo tucanouma postura “oportunis-ta”. “Com a idéia de acumu-lar poder, usaram os instru-mentos que tinham. O dese-jo de poder é algo muito de-licado”, diz .

Konder, hoje fi liado ao Partido Socialismo e Liber-dade (Psol), acredita que, ao longo dos anos, o PT passou a priorizar a luta institucio-nal em detrimento das lutas populares, mas não assu-miu essa escolha. “A direção optou por mentir ao rea-fi rmar ideais que estavam sendo visivelmente abando-nados na prática, inclusive neutralizando sua esquerda interna”, analisa.

Para ele, a atual crise que o governo vive hoje é re-sultado direto das opções e alianças políticas feitas pa-ra a sua composição. “A es-querda não pode fi ngir que não tem um compromis-so fi losófi co com um hori-zonte socialista, mesmo que ele esteja longe. Não adian-ta sustentar isso programa-ticamente, mas abrir mão na prática, como o PT fez”, critica.

Partido da ordem De acordo com o soció-

logo Francisco de Oliveira, professor de Sociologia da Universidade de São Pau-lo (USP), na história da es-querda mundial, os anti-gos partidos socialdemocra-tas levaram pelo menos 100 anos para se transformar em partidos da ordem. “O PT levou três anos, desde a Carta ao Povo Brasileiro (de 2002)”, sentencia.

Segundo Oliveira, a chega-da ao poder “é uma espécie de desastre, expõe a fratura, não é o momento da trans-formação. A fratura ocorreu com a Carta ao Povo Brasi-leiro. Aí, os problemas cria-dos pela organização buro-crática fi caram expostos. O

PT é uma formidável máqui-na burocrática”.

Já o advogado Plinio Ar-ruda Sampaio, também fun-dador do PT e hoje no Psol, idenfi ca a raiz do erro do partido na “ânsia de chegar ao poder sem condições de exercer o poder. Ele aban-donou a luta política direta e renunciou ao socialismo”.

Efeitos colaterais De acordo com Valter Po-

mar, secretário de Relações Internacionais do PT, a par-tir de 1995, o partido ado-tou e passou a implementar uma estratégia de centro-es-querda, “que tinha uma sé-rie de efeitos colaterais, en-tre eles as alianças com par-tidos de direita e a promis-cuidade do PT com hábitos e práticas típicas dos parti-dos conservadores. O resto é conseqüência. No entan-to, ele aponta que o partido é uma instituição que, co-mo todas as as outras ins-

tituições brasileiras, inclu-sive a igreja, os movimen-tos sociais e os meios de co-municação, está sujeita a ter em seu interior pessoas que descumprem a lei. O que me espanta é que as pessoas se espantem com isso”.

Além disso, Pomar acre-dita que o STF julgou o caso com um rigor imenso, “que faltou em toda sua atuação anterior. O único motivo para haver esse imenso ri-gor é o fato de que, entre os 40 indiciados, havia petis-tas”, denuncia. Pomar tam-bém lamenta o fato de que nenhum dos indiciados te-ve o direito da presunção da inocência. “Desde o primei-ro dia, todos foram coloca-dos no mesmo saco e con-siderados culpados e con-denados. O resultado dessa ‘execução precoce’, promo-vida pela mídia e pela oposi-ção, é que hoje não há mais o que dizer, não há mais o que prejudicar”, lamenta.

Mensalão tucano

Após cinco dias de sessões, o STF acolheu denún-cias contra todos os 40 acusados pelo Ministério Pú-blico Federal de envolvimento com o esquema de com-pra de votos em troca de apoio político conhecido co-mo mensalão. No entanto, o que o STF decidiu foi ape-nas contra quem serão abertos processos e a que cri-mes os acusados responderão. O julgamento fi nal, so-bre a culpa em si, é uma segunda etapa e pode demo-rar até seis anos.

Os 40 acusados foram transformados em réus, entre eles os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushi-ken (Comunicação) e Anderson Adauto (Transportes), além dos deputados federais petistas José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP), o ex-tesoureiro, Delúbio Soa-res, e o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira.

Os últimos a se tornarem réus foram o publicitário Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes, que res-ponderão por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A dupla é acusada de receber dinheiro do “valerioduto” e enviar para contas no exterior de forma ilegal. (TM)

40 são declarados réus, não culpados

Ministros do Supremo Tribunal Federal durante julgamento que decidiu investigar denúncias do Ministério Público Federal contra 40 acusados de envolvimento no caso do mensalão

STF decidiu contra quem serão os processos e a que crimes responderão

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10 bilhões de toneladas de minério de ferro sumiram do edital do leilão

Quanto

Fernando Henrique no banco dos réusPRIVATIZAÇÃO Dez anos depois, mais de 100 ações questionam o leilão que entregou a Companhia Vale do Rio Doce

brasil

Eduardo Sales de Limada Redação

ABREM-SE as cortinas. “Mensaleiros” são acusados e achincalhados perante o “pú-blico” brasileiro. O presiden-te Lula diz que eles não são culpados, tampouco inocen-tes; ainda que não tenha ha-vido julgamento. Mas a mí-dia corporativa já os julgou. Faltam julgar, porém, frau-des de um passado recente, como a entrega, em 1997, da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) ao capital privado.

“A venda da Vale foi uma grosseira ilegalidade”, atesta o jurista Fábio Konder Com-parato. Segundo Compara-to, a Companhia foi vendi-da por um preço (R$ 3,3 bi-lhões) quase trinta vezes in-ferior ao seu valor patrimo-nial (R$ 90 bilhões). “Se es-se fosse um contrato privado, ele seria anulado pelo dispo-sitivo do código civil e pode-ria ser considerado também um crime”, explica.

Para se chegar aos fanta-siosos R$ 3,3 bilhões, mui-tos expedientes suspeitos ti-veram que ser usados. Por conta disso, já existem 104 ações populares questionan-do na Justiça a legalidade do leilão. Dentre os réus desses processos, aparecem o ex-presidente Fernando Hen-rique Cardoso, a União e o Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e So-cial (BNDES).Lebre por gato

Algumas das irregularida-des da venda, como a subva-lorização das reservas mine-rais da Companhia, são evi-dentes. Em maio de 1995, a Vale informou ofi cialmen-te à Securities and Exchan-ge Commission (SEC), órgão responsável pela fi scalização do mercado de ações estadu-nidense, que suas reservas de minério de ferro nas minas do Sistema Sul, todas locali-zadas em Minas Gerais, to-talizavam 7,918 bilhões de to-neladas. Já no edital de ven-da da empresa (item 6.5.1), o Sistema Sul aparece com ape-nas 1,4 bilhão de toneladas, ou seja, 6,518 bilhões de to-neladas a menos.

A Vale informou também à SEC que as reservas minerais

da Redação

“Esse plebiscito não é de brincadeiri-nha, que nós só queremos colocar me-do na Vale; nós queremos ela de vol-ta”, atesta João Paulo Rodrigues, in-tegrante da direção nacional do Movi-mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Para o advogado Plínio Arruda Sam-paio, a campanha é fundamental “por-que trata de um patrimônio do país que foi usurpado, entregue, no sentido lite-ral da palavra, ao capital estrangeiro, ao capital privado”. Já dom Demétrio Va-lentini, bispo de Jales e membro da Co-missão Episcopal para o Serviço da Cari-dade, da Justiça e da Paz da CNBB, con-clui: “É preciso recuperar a dimensão pública de uma empresa como a Vale. Independente de seu estatuto jurídico, ela tem uma fi nalidade pública inaliená-vel porque lida com as riquezas do sub-solo que pertence ao povo brasileiro”.

Esses são alguns dos argumentos das 60 entidades da sociedade civil de todo o Brasil que promovem, até o dia 9, um plebiscito sobre a anulação do leilão de privatização da Vale. Mais do que acom-panhar o voto, o militante terá a oportu-nidade de explicar o que signifi cou todo o processo de privatização àquelas pessoas que desconhecem o assunto. O resulta-do será entregue aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário no dia 25.

do complexo de Carajás, situa-do no Pará, eram de 4,970 bi-lhões de toneladas. No edital, essas reservas foram estima-das em 1,8 bilhão de tonela-das – 3,170 bilhões de tonela-das a menos.

Ou seja, praticamente 10 bilhões de toneladas em re-servas de minério de ferro su-miram do edital.

EntregaSegundo o advogado Plínio

Arruda Sampaio, a Vale foi entregue em um leilão cheio de dúvidas. “Para se ter uma idéia, a fi rma que fez o edi-tal da licitação era associada à maior mineradora do mundo. É uma vergonha”, lamenta. Autor de uma das ações popu-lares, o jurista Eloá Cruz acres-centa, lembrando a Lei de Lici-tação, que “não pode haver ne-nhum vínculo entre avaliador e comprador”. Entretanto, o Banco Bradesco participou do consórcio de avaliação de ven-da, para mais tarde tornar-se acionista da companhia.

“O que o FHC fez foi selar a capitulação da elite brasileira diante do colonialismo”, sen-tencia Sampaio. E essa capi-tulação pode apresentar no-vas etapas. Segundo Fábio Konder Comparato, tendo em vista o alto grau de “pa-triotismo” dos diretores da Bradespar (empresa ligada ao Bradesco e que tem 17,4% do capital votante sobre as ações ordinárias da Valepar), ao receber uma oferta pela CVRD, ela nunca iria dizer: “não, eu não posso vender is-so; isso é importante para o futuro da nação brasileira”. “Será possível que nós vamos aceitar essa submissão pa-ra o futuro do país simples-mente porque em um deter-minado momento um gover-no desafi nado resolveu aban-donar esse trunfo?”, questio-na Comparato.

CrimesO jurista cita, no mínimo,

dois crimes que foram prati-cados no processo de priva-tização da Vale. A Lei federal nº 1.521/51 considera crime de “usura real”, num contra-to entre duas partes, alguém obter um lucro patrimonial abusando da premente ne-cessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte.

“Ele (povo) foi tratado co-mo uma espécie de menor impúbere, incapaz, ou, então, de alienado mental. O Esta-do brasileiro atuou como um mau tutor, o detentor de pá-trio poder que trabalha contra o seu fi lho. Mas, se nós tomar-mos isso sob o aspecto públi-co, a coisa fi ca muito mais gra-ve porque a alienação foi feita sem consulta ao povo e, pior, sem a apresentação de um in-teresse legitimamente justifi -cável”, pondera Comparato.

O segundo crime está pre-visto na Lei nº 8.666/93, que trata das licitações públicas. “É necessário que o órgão es-tatal apresente uma justifi ca-tiva completa, que o interesse público seja devidamente jus-tifi cado, na expressão da lei, no artigo 17”, explica o juris-ta, que se indigna ao relem-brar a justifi cativa apresenta-da pelo governo para “doar” a Vale: “A de que a alienação se enquadrava no Plano Nacio-nal de Desestatização (PND). E nem uma palavra a mais”.

RevanchismoMas, para Comparato, não

se trata de saber quem é o cri-minoso. Trata-se de saber por qual razão todo o sistema pú-blico brasileiro funciona con-tra o interesse popular, con-tra o interesse nacional. “É claro que, uma vez anulada a alienação da CVRD, é pre-ciso fazer uma auditoria séria e um exame profundo de to-das as decisões que levaram a essa falsa venda. E aí, pro-vavelmente, vamos examinar qual foi o papel pessoal do ex-presidente. Mas o fundamen-tal não é uma espécie de vin-gança particular ou pessoal, o fundamental é defender o povo. Nosso sistema público não defende o interesse na-cional”, complementa. (Co-laborou Pedro Carrano, de Curitiba – PR)

da Redação

A Companhia Vale do Rio Doce foi constituída em 1942. Sua receita havia crescido de R$ 198 milhões por ano, no início dos anos de 1970, para R$ 5,5 bilhões em 1995. Ela foi privatizada, em 1997, por R$ 3,3 bilhões, pouco mais da metade do que lucra hoje em apenas três meses (R$ 5,8 bilhões entre abril e junho). Para tanto, o edital que serviu de base para o leilão da privatização subdimen-sionava grosseiramente quase tudo o que a Vale tinha na época e omitia boa parte dos minérios que a empre-sa explorava: titânio, calcário, dolomito, fosfato, estanho/cassiterita, granito, zinco, grafi ta, nióbio.

O jurista Fábio Konder Comparato acrescenta que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso “abriu mão” des-se patrimônio da Vale num momento em que a China ini-ciava um espetacular avanço no sentido da produção de aço. “Hoje, 30% da produção de ferro da CVRD é entre-gue à China”, afi rma Comparato. Para ele, se a Vale es-tivesse sob controle estatal, o governo brasileiro poderia negociar condições menos desastrosas para a importação de bens chineses, que operação que tem se revelado pre-judicial à pequena e média indústria brasileira.

Um dos principais motivos alegados para a privatização das empresas estatais no governo FHC era o pagamento da dívida pública. As empresas foram vendidas, mas a dí-vida, tanto externa quanto interna, aumentou exponen-cialmente. Dados de Ivo Lesbaupin, fi lósofo e sociólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), reve-lam que a dívida externa passou de 148 bilhões de dóla-res para 248 bilhões de dólares, entre 1995 e 2002, e a dí-vida interna decuplicou, passando de R$ 62 bilhões para R$ 662 bilhões, no mesmo período.

E, no governo Lula, o Brasil permanece imobilizado pela dívida. “Em 2006, pagou R$ 157 bilhões de dívida pública, enquanto a renda média do brasileiro de 1995 a 2005 dimi-nuiu 20%. Isso signifi ca que uma semana de pagamento de juros correspondeu a todos os gastos de educação pública durante todo o ano de 2006, e que um mês de pagamento de juros corresponde a todo o orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) de 2006”, ilustra Comparato. (ESL)

Patrimônio tomado dapopulação brasileira

Dom Demétrio anseia, antes de tudo, que o Poder Judiciário se po-sicione diante da questão da legali-dade do leilão. Para o jurista Fábio Konder Comparato, é “inacreditável” que a Justiça brasileira leve mais de dez anos para julgar 104 ações popu-lares. “É vergonhoso que o Ministé-rio Público não tenha ele próprio to-mado a iniciativa de pedir a anulação dessa falsa venda”, afi rma.

Amigo ou...O Congresso do PT, realizado entre

os dias 31 de agosto e 2 de setembro, aprovou o apoio ao plebiscito da Vale. Mais de 90% dos delegados presentes votaram a favor. Mas o presidente Lu-la ainda não sinalizou sua verdadeira posição. “Sabemos que o governo, de um modo geral, continua sendo nosso amigo. Mas o que é mais grave é que

ele fi cou muito mais amigo dos nossos inimigos”, admite João Paulo Rodri-gues, que arremata, “isso demonstra a difi culdade de agradar gregos e troi-nanos num momento como esse. En-tão vamos querer saber a opinião de-le (Lula), se vai fi car ao lado da classe trabalhadora, que votou no plebiscito, ou do Bradesco (que controla grande parte das ações da Companhia Vale do Rio Doce)”.

Para dom Demétrio, o governo de Lula ainda está muito condicionado ao poderio fi nanceiro internacional, “a tal ponto que quase inviabiliza po-líticas públicas no Brasil”. Para ele, o plebiscito é um exercício democrático de pressionar o presidente. “É salutar para qualquer governo ser interpelado pela cidadania. Sem uma manifestação direta da cidadania, toda a democracia é manca”, completa. (ESL)

“Então vamos querer saber a opinião dele (Lula), se vai fi car ao lado da classe trabalhadora, que votou no plebiscito, ou do Bradesco (que controla grande parte das ações da Vale)”, avisa João Paulo Rodrigues, do MST

Plebiscito cobra posição da Justiça e do presidente Lula sobre leilãoPoder Judiciário e governo se omitem a respeito da legalidade da venda

A Valepar tem 52,3% das ações ordinárias da Vale, o que lhe concede o controle e a escolha do conselho de administração do con-glomerado minerador. Porém, tem 32,5% das ações totais da Compa-nhia, sendo que o capi-tal estrangeiro, atual-mente, detém 41%.

Para entender

Fernando Henrique Cardoso

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Votação ocorre por todo o país; na foto, Campinas

João Zinclar

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Retórica políticaA defesa do socialismo, na América Latina, impli-

ca necessariamente na inclusão dos trabalhadores do campo e da cidade nas lutas políticas, na redu-ção das desigualdades, na conquista da justiça po-pular, na ampliação do acesso aos serviços públicos e aos direitos fundamentais e no combate direto contra as políticas neoliberais, a exploração capi-talista e as investidas do imperialismo. Fora isso, o que existe é retórica e conciliação.

Desastre trabalhista - 1Praticamente desativada

nos governos FHC, a fi s-calização do Ministério do Trabalho continua completa-mente inoperante para impe-dir as ilegalidades praticadas pelas empresas contra os trabalhadores, especialmen-te porque os sindicatos de muitas categorias também deixaram de atuar na mobili-zação e na defesa de direitos e benefícios. O desrespeito tem sido generalizado.

Desastre trabalhista - 2Em categorias profi ssio-

nais regulamentadas, como a dos jornalistas, a falta de fi scalização do Ministério do Trabalho é tão grande que as empresas utilizam mão-de-obra não habilitada em troca de salários aviltantes, abusam de estágios ilegais, não registram em carteira, não pagam horas extras e nem os adicionais previstos na CLT. Os sindicatos da categoria dormem em berço esplêndido.

Rebaixamento salarialDe acordo com relatório da

Organização Internacional do Trabalho, órgão da ONU, de cada 10 empregos criados em 2006, na América Latina, sete foram no setor informal; no Brasil, graças à informali-dade, 27% dos trabalhadores (22 milhões de pessoas) ga-nham menos de dois dólares por dia (R$4,00) e não têm condições de se sustentar com o que ganham. É a mise-rabilidade forçada.

Contramão paulistaUma das medidas apro-

vadas pelo Ministério da Educação para melhorar o conteúdo do ensino médio – a exigência de sociologia e fi losofi a – foi rejeitada pelo Conselho Estadual de Edu-cação de São Paulo. Se essa rejeição não for derrubada pelo Conselho Nacional de Educação, a rede paulista de escolas públicas poderá fi car sem essas disciplinas no cur-rículo. É o atraso do atraso!

Serra quer regularizargrilagem no Pontal

saiu na agênciawww.brasildefato.com.br

Disparidade judicialEm evidência no caso do

“mensalão”, que envolve gen-te graúda e recursos acima dos R$ 50 milhões, o Supre-mo Tribunal Federal deverá julgar em breve o recurso de Elisângela Kuhn da Silva, do Rio Grande do Sul, que foi condenada a dois anos de re-clusão e pagamento de multa pela tentativa de furto de dois botijões de gás, um cheio e outro vazio, no valor de R$ 85,00. E foi só tentativa.

Corrida eleitoralO calendário para as elei-

ções municipais de 2008 já está em vigor: o dia 5 de outubro é a data limite para fi liação partidária, fi xação de domicílio eleitoral e registro dos estatutos dos partidos no TSE; o primeiro turno será no dia 5 de outubro de 2008 e, nos municípios com mais de 200 mil, o segundo turno acontecerá no dia 26 de outubro. O que estará em disputa nessas eleições?

Projetos suspeitosNão é mera coincidência o

fato de vários Estados, inclu-sive o Mato Grosso do Sul e o Rio Grande do Sul, terem aprovado leis parecidas para regulamentar a exploração e preservação de sítios arqueo-lógicos situados em seus ter-ritórios, mesmo sabendo que essa questão é da competên-cia exclusiva da União, atra-vés do Iphan. A suspeita é de que algumas mineradoras inspiraram tais projetos.

Proteção judicialRéu em inúmeros proces-

sos de corrupção passiva e formação de quadrilha, o empresário Paulo Maluf ganhou ação contra o jornal O Estado de S. Paulo, que o chamou de “corrupto”, “incompetente” e “irrespon-sável” durante sua gestão na Prefeitura de São Paulo. O Tribunal de Justiça con-denou o jornal a pagar uma indenização de 50 salários mínimos. Está proibido cha-mar Maluf de “corrupto”!

1 milhão de hecta-res devolutos no Estado de São Paulo

Quanto

TRANSPOSIÇÃO

brasil

Chile

Uma manifestação de servidores públicos, traba-lhadores e estudantes levou cerca de 4 mil pessoas às ruas de Santiago do Chile, no dia 29 de agosto. Os manifestantes exigiam mudanças na política econô-mica neoliberal da presidente Michelle Bachelet. Se-gundo os manifestantes, Bachelet mantém a mes-ma política econômica do regime do ditador Augus-to Pinochet. Cerca de 700 pessoas que participaram dos protestos foram presos pela polícia.

A Vale é NossaO plebiscito pela anulação

do leilão de privatização da Companhia Vale do Rio Do-ce tomou as ruas do país. Os movimentos que organizam a consulta pretendem le-var o resultado ao presiden-te da República, Luiz Iná-cio Lula da Silva. A assesso-ria de imprensa da Vale e do BNDES, que foi responsá-vel pelo programa nacional de desestatização, não qui-seram se pronunciar sobre o tema.

ConsumoEm abril, o cigarro passou

a comprometer mais de 1% do orçamento familiar dos brasileiros, enquanto itens como arroz e feijão utiliza-ram apenas 0,85%. A in-formação foi constatada em pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil existem cerca de 30 milhões de fumantes que consomem 142 bi-lhões de cigarros por ano.

fatos em foco Hamilton Octavio de Souza

Ana Maria Straubede São Paulo (SP)

O PROJETO de lei (PL) que pretende regularizar a pos-se de áreas com mais de 500 hectares na região do Pontal do Paranapanema (SP) já foi aprovado em todas as comis-sões da Assembléia Legisla-tiva de São Paulo (Alesp).

Na prática, o PL 578/2007, apresentado pelo governa-dor José Serra em junho, dá a posse das áreas públicas gri-ladas aos seus exploradores. Como contrapartida, pede que cada “proprietário” re-passe ao Estado de 15 a 25% da área regularizada. Essas áreas, segundo o projeto, se-riam destinadas a programas de reforma agrária. E resta ainda ao grileiro a opção de adquirir esta parte da terra ao invés de entregá-la, mediante pagamento que pode ser efe-tuado em até seis anos.

Apesar da tentativa do go-vernador de evitar que o PL seja discutido, a partir do pedido de tramitação com urgência, pessoas e entida-des envolvidas com a ques-tão agrária na região do Pon-tal, no extremo Oeste de São Paulo, tentam promover de-bates em torno da questão. Duas audiências públicas fo-ram organizadas, em Presi-dente Prudente (SP) e Brasí-lia (DF), e outra deve aconte-cer na Comissão de Agricul-tura da Alesp nos próximos dias. A realização dessa au-diência deve segurar a vota-ção em plenário do PL até o fi m do mês.

ArgumentosPara o geógrafo e professor

da Universidade de São Pau-lo (USP), Ariovaldo Umbeli-no de Oliveira, o principal ar-gumento contrário ao projeto é a dilapidação do patrimô-nio público, com a entrega de

Mariana Martins e Maria Luisa Mendonça

de Recife (PE)

A caravana em defesa do rio São Francisco e do se-mi-árido passou, no dia 28 de agosto, por Recife (PE), após visitar outros seis Es-tados brasileiros. Doze pes-soas formam a comitiva que está viajando o país em bus-ca de diálogo com o poder público e com a sociedade sobre os impactos da pro-posta de transposição.

Na opinião dos organiza-dores da caravana, a obra benefi ciaria quase que ex-clusivamente o grande capi-tal e não resolveria o “pro-blema” da falta de água no semi-árido. “A seca não exis-te necessariamente por falta de água, mas por concentra-ção. A transposição do São Francisco é a mais elabora-da obra da indústria da se-ca”, disse Ruben Siqueira, da Comissão Pastoral da Ter-ra (CPT), na fala de abertu-ra do debate, que aconteceu na Universidade Federal Ru-ral de Pernambuco e contou com a participação de 200 pessoas entre estudantes, professores e técnicos admi-nistrativos.

Desde o último dia 19, a caravana percorre várias ci-dades do país, dentre elas cidades que seriam supos-tamente benefi ciadas pe-la transposição. A passagem

por algumas cidades, segun-do Tomás Machado, presi-dente do Comitê de Bacias do São Francisco, ajudou a comprovar que o projeto da transposição benefi ciaria lo-cais que não têm escassez de água, mas sim negócios pre-datórios como o cultivo do camarão, que consome cerca de 50 mil litros de água pa-ra a produção de um quilo do pescado, e para irrigação da cana-de-açúcar, que teve sua plantação expandida para a produção de etanol.

Na lutaPara João Suassuna, da

Fundação Joaquim Nabuco, que compõe a caravana, o governo federal precisa abrir diálogo com a sociedade. “O governo só foi capaz de mi-nimamente dialogar quan-do dom Luiz Cappio fez uma

greve de fome (de 11 dias, en-tre outubro e novembro de 2005)”, recorda.

Enquanto o diálogo não vem, os movimentos sociais fazem a sua parte. Entre o fi m de junho e o começo de julho, foi montado um acampamen-to na região de Cabrobó (PE), próximo ao ponto de capta-ção das águas do eixo Norte na transposição, para impe-dir o início da obra. No en-tanto, após negociação com o Exército, os militantes deixa-ram a área pacifi camente.

Já no território Truká, também em Cabrobó, indí-genas, trabalhadores sem-terra e comunidades quilom-bolas ocupando um canteiro das obras há cerca de quatro meses. Para o representante do povo Truká, Marcos Sa-barú, o projeto é ilegal por-que viola direitos fundamen-

tais dos indígenas. “A trans-posição começa e termina em terras indígenas e nin-guém chegou para pergun-tar o que a gente achava dis-so. Nós do baixo São Francis-co já não temos mais peixes, pois 90% da pesca desapare-ceu. O rio está doente, mas é ele que mata a sede do nosso povo”, protesta.

Uma vida pelo rioOutra importante contri-

buição da caravana foi a do pescador alagoano Antônio dos Santos, conhecido como Toinho Pescador. “Criei no-ve fi lhos tirando o sustento do rio. Meu patrão e meu pai eram o São Francisco. Peixe no São Francisco tinha em abundância que caia em ter-ra. Hoje meus fi lhos não têm como pescar. Trabalham na cidade e o que ganham não dá para sustentar a famí-lia. O desmatamento para o agronegócio está matando o rio. Os agrotóxicos estão aca-bando até com os passari-nhos. A natureza acaba e só fi ca a fome”, descreve.

O pescador lembra que faz 12 anos que o rio não tem cheia e que portanto não te-ria condições de passar por uma transposição. “O rio me deu muita coisa, hoje tenho que retribuir. A forma que eu vejo de fazer isso é lutar con-tra a transposição e unir for-ças para revitalizar, para re-fl orestar as margens do rio que foram devastadas”.

Caravana em defesa do São Francisco Enquanto governo dá a entender que obras já começaram, movimentos resistem

A região do Pontal do Paranapanema fi cou conhecida nacionalmente como palco de intensas disputas. Durante o primeiro mandato de Adhemar de Barros (1947-1951), muitos hectares foram loteados em processos fraudulen-tos. Em sucessivos governos, as terras públicas do Pontal foram divididas entre poderosos e, apesar de todas as ir-regularidades envolvidas nesses processos, muitos títulos de posse foram reconhecidos. Os movimentos que lutam pela terra no Pontal reivindicam que essas áreas devolu-tas sejam arrecadadas pelo Estado. Além de manter uma imensidão de áreas improdutivas, os grileiros e latifundiá-rios exploram para fi ns privados terras públicas, que de-veriam ser destinadas à reforma agrária. Atualmente, há 20 mil acampados à espera de terras na região. (AMS)

Histórico de irregularidades

áreas imensas a grileiros. Ele estima que há pelo menos 1 milhão de hectares devolutos no Estado de São Paulo.

Já o deputado estadual Raul Marcelo (Psol-SP), coorde-nador da Frente Parlamen-tar em Defesa da Refor-ma Agrária, avalia que o PL 578/2007 é uma clara ten-tativa de inviabilizar a refor-ma agrária na região. “Serão 300 mil hectares regulariza-dos, o sufi ciente para assen-tar 15 mil famílias”, afi rma.

Ele acredita que não será vantajoso para o grileiro ce-der parte da área regulariza-da ao Estado já que as terras

serão valorizadas pelo possí-vel aumento do cultivo de ca-na para produção de agro-combustíveis.

ConcentraçãoO vereador Antônio Edílson

Borges (PT), que apresentou na Câmara Municipal de Teo-doro Sampaio uma moção de repúdio ao PL, contraria a vi-são de desenvolvimento dos partidários da regularização dos grilos, ao afi rmar que a reforma agrária é fundamen-tal para a economia local. “No ano 2000, o orçamento do município era de aproxima-damente R$ 800 mil. Hoje,

com a solidifi cação de alguns assentamentos, nosso orça-mento aumentou para cerca de R$ 2 milhões. Isso só foi possível com a ajuda dos pe-quenos agricultores.

Laércio Lima, do Movi-mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), lembra que existem famí-lias acampadas há mais de 10 anos na região e diz temer que a regularização atraia empresários do agronegócio para plantar cana para a pro-dução de etanol.

Quem está a favor do pro-jeto, declara que sua aprova-ção vai servir para pacifi car o Pontal. É o caso de Gusta-vo Ungaro, diretor-executi-vo do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), que acredita que o objetivo da lei é por fi m aos confl itos jurídicos que se protelam pe-la região.

Implicações jurídicasPorém, Raul Marcelo an-

tecipa um novo confronto na Justiça. Segundo deputado, o PL 578/2007 é inconstitu-cional, pois faz com que o go-verno abra mão de um bem público sem licitação. Segun-do o artigo 37 da Constitui-ção Federal, não é possível ao particular adquirir pro-priedade de imóveis públi-cos meramente pela posse. A única maneira de um par-ticular adquirir a proprieda-de de bem outrora público é através da compra, pela mo-dalidade licitatória leilão.

Ariovaldo Umbelino obser-va que áreas públicas não es-tão sujeitas à aquisição por usucapião ou posse. As terras que estão nas mãos de grilei-ros não podem ser desapro-priadas, mas sim arrecada-das pelo Estado para fi ns pú-blicos, mediante o pagamen-to de benfeitorias.

Muitas áreas que seriam regularizadas se encontram em processo de arrecadação atualmente. Esses processos serão interrompidos caso o PL seja implantado.

TERRA Projeto apresentado pelo governador paulista propõe dar a posse de terras públicas a grileiros

No região, existem cerca de 20 mil acampados

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Antes de Pernambuco, caravana passou por seis Estados

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completavam 28 anos da Lei de Anistia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que o governo seguirá empe-nhado para contar a história do Brasil do jeito que ela real-mente aconteceu. Sobre os arquivos da ditadura que ain-da não foram abertos, Lu-la disse que Dilma Rousse-ff (Casa Civil) “é responsável por isso” e que grande par-te desses arquivos militares já foi para o Arquivo Nacio-nal. No entanto, familiares de mortos e desaparecidos e en-tidades de direitos humanos reclamam que o governo não cumpriu a promessa de abrir os arquivos. Segundo eles, es-sa seria a única forma de bus-car os restos mortais de todos os desaparecidos.

Crimes de Estado Já o Exército reagiu à di-

vulgação do documento ma-nifestando que se opõe à re-visão da lei que impede mili-

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ENERGIA

Pelo direito à verdade e à justiçaDITADURA Entidades de direitos humanos, historiadores e juristas pedem abertura de arquivos militares e questionamento da Lei de Anistia

brasil

Bruno Terribasde São Paulo (SP)

O gás natural fi cará mais ca-ro para o consumidor brasilei-ro. Esse é o impacto previsto por representantes de sindi-catos de petroleiros e da Asso-ciação dos Engenheiros da Pe-trobras que criticam o proje-to de lei do gás, aprovado pela Comissão Especial criada na Câmara dos Deputados para analisar a questão.

O projeto tem como obje-tivo regulamentar no país o transporte, a estocagem, o processamento e a comer-cialização de gás natural. O texto aprovado, de auto-ria do deputado João Maia (PR-RN), restringe a atua-ção da Petrobras no setor do gás para favorecer a partici-pação de grupos privados. O projeto parte do pressuposto de que a atual legislação con-fere à estatal privilégios, co-mo permitir que atue de ma-neira monopolista no uso de sua malha própria de 5,4 mil quilômetros de gasodutos. O discurso das empresas priva-das, sobretudo as transna-cionais, é de quer “maior se-gurança contratual” e trará

Tatiana Merlino da Redação

O LANÇAMENTO do livro Direito à Memória e à Ver-dade trouxe à tona, mais uma vez, o debate a respeito da ne-cessidade de abertura dos ar-quivos militares e sobre con-trovérsias na interpretação da Lei de Anistia, de agosto de 1979. A publicação, orga-nizada pelo ministro da Se-cretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, e pelo presidente da Comis-são de Mortos e Desapareci-dos Políticos, Marco Antônio Barbosa, é o primeiro docu-mento ofi cial do Estado bra-sileiro que relata as atrocida-des cometidas pela ditadura civil-militar (1964-1985) con-tra seus opositores.

A interpretação dos inte-ressados no acobertamento dos crimes cometidos por mi-litares e civis é de que a Lei de Anistia teria caráter “recípro-co”, ou seja, se estenderia pa-ra além dos perseguidos po-líticos do período da ditadu-ra. Esse entendimento, domi-nante até hoje, é contestado por entidades e movimentos de defesa dos Direitos Huma-nos, juristas e historiadores.

De acordo com Maria Apa-recida de Aquino, professora de História Contemporânea da Universidade de São Pau-lo (USP), uma parte signifi -cativa dos arquivos dos Doi-Codis e dos centros de infor-mação continuam preserva-dos e precisam ser revela-dos. “A sociedade brasileira tem o direito de ter acesso a esses documentos e de saber o que os órgãos de repressão foram capazes de fazer na-quele período”. Para ela, a questão é de justiça, e não de “revanchismo”, acrescentan-do que o acesso aos arqui-vos seria importante inclu-sive para a instituição mili-tar, que poderia tirar “seus monstros do armário”.

“Única verdade” Na ocasião do lançamento

do livro – resultado do tra-balho de 11 anos da Comissão Especial sobre Mortos e De-saparecidos Políticos –, dia 29 de agosto, data em que se

“A exemplo do Chile e da Argentina, devemos exigir que crimes cometidos em nome do Estado sejam investigados e seus responsáveis punidos”, defende o advogado Hélio Bicudo

mais investimentos em gás natural no país.

Uma das mudanças é que a Petrobras não terá o controle de toda a cadeia de produção. Hoje, a estatal extrai o hidro-carboneto e, por meio de seus gasodutos, o transporta até uma refi naria. Após o bene-fi ciamento, o gás é entregue para as distribuidoras esta-duais de gás – muitas delas, privatizadas – que comercia-lizam o produto para a indús-tria, por exemplo. O projeto estabelece que a Petrobras terá de pagar uma taxa para ser autorizada a transportar o gás extraído até a sua pró-pria refi naria.

Para o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), úni-co integrante da Comissão a votar integralmente contra o relatório de Maia, “houve um lobby da Abegas (Associação Brasileira das Empresas Dis-

tribuidoras de Gás Canali-zado) para instituir uma ló-gica privatizante para o se-tor, além de inconstituciona-lidade na medida”, denuncia. Para ele, a legislação existen-te já tem dado resposta à de-manda, com o crescimento de oferta de 13% ao ano de 1980 a 1984. Atualmente, a partici-pação do gás na matriz ener-gética nacional é de 9,5%, em 2006. Deputados da base aliada e da oposição do DEM e do PSDB foram favoráveis ao projeto.

Outro prejuízo aos interes-ses nacionais é apontado por Abílio Tozini, diretor do Sin-dicato dos Petroleiros do Rio

de Janeiro: “A Petrobras terá que pagar à empresa distri-buidora do Estado para po-der usar o gás que ela própria produz, transporta e conso-me. Isso confi gura mero enri-quecimento sem causa”.

“As repercussões para o povo brasileiro serão o gás natural mais caro para con-sumo da sociedade, além da redução dos investimentos em gasodutos no país, ser-vindo somente para transfe-rir arbitrariamente renda do consumidor de gás para o se-tor privado”, adverte Paulo Metri, conselheiro do Clube de Engenharia.

Outra alteração prevista pelo projeto é de que a Agên-cia Nacional de Petróleo (ANP) precisará lançar mão de licitações para concessão de utilização de novos gaso-dutos, e não apenas emitir autorizações como faz ho-je. Haverá duas exceções, no entanto: quando o duto for oriundo de um acordo inter-nacional ou quando atender a apenas um único usuário.

Até o fechamento desta edição, ainda havia possibili-dade de reversão do envio do projeto para o Senado. Para que a discussão fosse levada ao plenário da Câmara, se-ria necessário que se conse-guissem assinaturas de 10% dos parlamentares da Câma-ra – 52, em um prazo de duas sessões, ou até o dia 5 (quar-ta-feira).

Projeto favorece grupos privados no manejo do gás naturalTexto aprovado por comissão da Câmara limita atuação da Petrobras sob alegação de que a empresa é privilegiada

“A Petrobras terá que pagar à empresa distribuidora do Estado para poder usar o gás que ela própria produz, transporta e consome. Isso confi gura mero enriquecimento sem causa”, denuncia sindicalista

de São Paulo (SP)

Criada sob pretexto de promover a “regulação, a con-tratação e a fi scalização” do setores industriais que explo-ram petróleo, a Agencia Nacional de Petróleo, Gás Natu-ral e Biocombustíveis (ANP) tem servido como defensora dos interesses dos grupos privados. Segundo Dalton Fran-cisco dos Santos, geólogo da Petrobras e diretor do Sindi-cato dos Petroleiros de Alagoas e Sergipe, “quando o mo-nopólio estatal do petróleo foi quebrado, em 1997, foi cria-da a ANP, com a fi nalidade de montar o balcão de leilão das reservas de hidrocarbonetos (petróleo e gás) das ba-cias sedimentares brasileiras”. Na sétima rodada de lici-tações, por exemplo, a empresa argentina “Oil M&S” arre-matou duas bacias com blocos de área equivalente ao ter-ritório da Inglaterra (12 mil km²).

O engenheiro Paulo Metri, co-autor do livro Nem to-do Petróleo é Nosso, aponta outros responsáveis pela en-trega a grupos privados de reservas energéticas estraté-gicas: o Ministério das Minas e Energia (MME) e o Con-selho Nacional de Pesquisa Energética (CNPE), pelo fato de serem ambos os responsáveis pelas autorizações para as rodadas de leilões. De 1999 até hoje, a ANP promoveu sete leilões envolvendo 582 blocos, em aproximadamen-te 300 mil km². A 8ª rodada foi suspensa judicialmente e a 9ª está marcada para 27 e 28 de novembro deste ano. Os movimentos sociais preparam mobilizações para bar-rar o leilão. (BT)

ANP: atuação em defesa de interesses privados

ra lidar com seus crimes de Estado que, em tese, estariam todos justifi cados. Há a idéia de que, como foram pratica-dos pelo Estado, são lícitos e pode-se passar uma borracha em cima deles”. Apesar disso, acredita ela, a iniciativa da Comissão signifi ca que o país está “se debruçando contra sua própria tradição”.

Erro de interpretação O livro, editado pela Secre-

taria Especial de Direitos Hu-manos, também discute a te-se, levantada por juristas, de que mesmo se a Lei de Anis-tia tivesse absolvido os cri-mes cometidos pelos agentes

do Estado, eles continuaram cometendo um crime ao não revelar onde estão os corpos das vítimas, confi gurando-se no que se chama de “cri-me continuado”. “É um dever moral iniciar uma ação penal contra os culpados por essa ocultação de cadáver”, afi rma o jurista Fábio Konder Com-parato.

Para Hélio Bicudo, advo-gado e presidente da Funda-ção Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos, a Lei de Anistia foi mal interpreta-da porque “não é uma lei de duas mãos”. “Ela não é para aqueles que mataram e tor-turaram em nome do Estado, mas para proteger os que fo-ram torturados e eliminados injustamente pela ditadura militar”, explica.

Para Bicudo, o Brasil deve-ria seguir os passos de outros países da América Latina, que levaram seus torturadores ao banco dos réus. “Ainda es-

tamos muito atrás de países que já realizaram um ajuste de contas com o seu passado ditatorial. A exemplo do Chile e da Argentina, devemos exi-gir que crimes cometidos em nome do Estado sejam inves-tigados e seus responsáveis punidos”.

tares de serem responsabili-zados por crimes cometidos durante a ditadura. “A Lei da Anistia, por ser parâmetro de conciliação, produziu a indis-pensável concórdia de toda a sociedade, até porque fa-tos históricos têm diferentes interpretações, dependendo da ótica de seus protagonis-tas. Colocá-la em questão im-porta em retrocesso à paz e à harmonia nacionais, já alcan-çadas”, registrou nota do Alto Comando do Exército.

Para a professora Maria Aparecida de Aquino, a rea-ção não poderia ser diferen-te numa sociedade que, “por tradição, tem difi culdade pa-

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Painel integrante da exposição Direito à Memória e à Verdade, realizada na Câmara dos Deputados

Sessão na Câmara dos Deputados em homenagem ao 27º aniversário da Lei de Anistia, em 2006; à direita, Câmara Municipal de São Paulo na campanha pela anistia, em 1978

Capa do livro Direito à Memória e à Verdade

Reprodução

Reprodução

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CAMPANHA

As operações ilegais do Grupo Abril e da Telefônica com a Anatel

brasil

TELECOMUNICAÇÕES Relatório de conselheiro da Anatel aponta que empresas montaram artifício para driblar a lei

Mayrá Limae Jorge Pereira Filho,

de Brasília (DF)e São Paulo (SP)

EM MEIO à campanha do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para manter seu mandato, uma denúncia gra-ve veio à tona: a Agência Na-cional de Telecomunicações (Anatel) aprovou uma opera-ção ilegal de compra da TVA, operadora de TV a cabo per-tencente ao grupo Abril, pela transnacional espanhola Te-lefônica, em um negócio de cerca de R$ 1 bilhão.

Os detalhes desse processo foram revelados pelo próprio senador, que divulgou entre os parlamentares um relató-rio do conselheiro-diretor da Anatel, Plínio Aguiar Júnior, afi rmando que as empresas se utilizaram de um artifí-cio para burlar a Lei do Ca-bo e dar o controle efetivo da TVA à Telefônica. Essa legis-lação limita a participação es-trangeira no controle de em-presas operadoras de TV por assinatura.

O documento interno da Anatel foi usado como trun-fo por Renan para contra-gol-pear o grupo Abril, que edi-ta a revista Veja. A publica-ção fez a primeira das de-núncias contra o senador: te-ria utilizado recursos da em-preiteira Mendes Júnior pa-ra pagar pensão alimentícia e o aluguel à jornalista Mônica Veloso, com quem tem um fi -lho. Outras denúncias vieram à tona e, hoje, Renan pode ter seu mandato cassado em um processo de quebra de decoro parlamentar.

Não resta dúvidas de que a briga é de peixes grandes da elite política e econômi-ca. Após a denúncia do sena-dor – conhecido por suas prá-ticas oligárquicas e cujo cur-rículo coleciona pérolas co-mo ter sido base de apoio de Fernando Collor de Melo, Fer-nando Henrique Cardoso e, agora, do presidente Lula –, os aliados do político alagoen-se iniciaram uma movimen-tação na Câmara dos Depu-tados para criar uma Comis-

Mayrá Limade Brasília (DF)

A Coordenação dos Movi-mentos Sociais (CMS) rea-lizou no último dia 24, em São Paulo, o Seminário so-bre Concessões de Rádio e TV. O objetivo foi “construir propostas de gestão pública que tenham a participação ativa da sociedade civil nos critérios das concessões, re-novações e outorgas de rá-dios e TV’s”.

O principal encaminha-mento do encontro foi o apontamento do dia 5 de outubro como Dia Nacio-

nal de Mobilizações por Controle Público sobre as Concessões de Rádio e TV. A data foi escolhida por ser o dia de vencimento de di-versas concessões, inclusive as das cinco emissoras pró-prias da Rede Globo (São Paulo, Rio de Janeiro, Bra-sília, Belo Horizonte e Reci-fe). Esperam-se atividades e atos públicos que deba-tam o tema proposto.

De acordo com o mem-bro do Coletivo Intervozes, João Brant, o processo em

si de renovação das con-cessões de rádio e televisão é completamente absurdo. “Não há fi scalização, não

são Parlamentar de Inquérito (CPI). Um dos defensores da proposta, o deputado federal Wladimir Costa (PMDB-PA), argumenta que é fundamental saber as conseqüências e as circunstâncias em que a ope-ração de compra da TVA pe-la Telefônica foi aprovada pe-la Anatel. “Existem fortes in-dícios que houve falcatruas”, afi rmou o parlamentar. Para ser ratifi cado, o negócio ago-ra depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A operaçãoAs suspeitas sobre a com-

pra da TVA pela Telefônica partem de uma restrição da legislação. A Lei do Cabo de-termina que as operadoras de TV por assinatura sejam con-troladas por brasileiros, que devem possuir no mínimo 51% das ações que dão direito a voto. Aparentemente, o ne-gócio entre o grupo Abril e a Telefônica segue a lei.

Se o negócio for concretiza-do, a transnacional espanho-la, através da empresa Na-vytree, fi cará com 86,7% do capital total da Comercial Ca-bo (TV a Cabo de São Paulo). No entanto, das ações com di-reito a voto, a Telefônica fi ca-rá com 19,9% de participação. Já na TVA Sul (TV a cabo em Curitiba, Foz do Iguaçu, Flo-rianópolis e Camboriú), a Te-lefônica terá 91,5% do capital total, sendo 49% das ações com direito a voto.

O expediente usado pelo grupo Abril e pela Telefôni-ca para infringir a lei brasilei-ra – segundo o conselheiro da Anatel – foi a assinatura de um Acordo de Acionistas da

Comercial Cabo e da TVA Sul. O acerto defi ne simplesmente que as deliberações do Con-selho de Administração e da Assembléia Geral depende-rão de uma “Reunião Prévia” nas quais participam e votam todos os acionistas, inclusive os que possuem as ações que não dão direito a voto.

Ou seja, quem de fato será a instância máxima de decisões da operadora de TV a cabo é a “Reunião Prévia”, na qual ca-da acionista independente te-

rá poder de voto. Desta for-ma, a Telefônica se torna in-dispensável para a tomada de decisões de assuntos co-mo o plano de negócios, pla-nejamento empresarial, defi -nição de políticas econômicas fi nanceiras. Já o grupo Abril seria apenas o acionista “la-ranja” – como afi rmou o pró-prio Renan. “O artigo 7° da Lei n° 8.977, de 6 de janeiro de 1995 (Lei do Serviço de TV a Cabo) não estaria sendo ob-servado, uma vez que seu ob-jeto é assegurar que as deci-sões em concessionárias de TV a Cabo sejam tomadas ex-clusivamente por brasileiros, o que não ocorrerá no pre-sente caso”, diz o relatório de Aguiar Júnior.

O conselheiro-diretor da Anatel ainda diz que fi ca cla-ro quem terá o “poder de diri-gir, de forma direta ou indire-ta, interna ou externa, de fa-to ou de direito, individual-mente ou por acordo, as ati-vidades sociais ou o funcio-namento da empresa”, já que a “Telesp (Telefônica) pos-suirá 86,7% do capital total da prestadora. A Telesp será, portanto, a grande fonte de recursos fi nanceiros da pres-tadora, inclusive nas situa-ções de necessidade de apor-te de capital”.

O relatório também reve-la que o Acordo de Acionis-tas da Comercial Cabo deixa a cargo da Telefônica o geren-ciamento da parte de teleco-municações. “A Holding Ge-ral é concessionária de ser-viços de telefonia fi xa comu-tada na cidade de São Paulo e uma das maiores empresas de telecomunicações do país, contando portanto com alto nível de experiência no ge-renciamento e operação de redes de comunicação, bem como de infra-estrutura de comunicação”, cita o Acordo.

Lei do Cabo restringe participação estrangeira, mas o grupo Abril seria o acionista “laranja” em benefício da empresa espanhola

de Brasília (DF)

Os compromissos políticos dos políticos conservadores e dos meios de comunicação corporativos fi caram evidentes na repercussão da denúncia contra o grupo Abril e a trans-nacional Telefônica. O DEM (PFL) e o PSDB se levantaram em defesa da empresa que publica a revista Veja. “Não po-demos aceitar que o Parlamento brasileiro seja utilizado de maneira maquiavélica, manipuladora, oportunista e irres-ponsável para fazer uma vendeta política contra uma re-vista do porte e da importância da revista Veja”, discursou o líder do DEM na Câmara, deputado Onix Lorenzoni. Pa-ra o partido, a CPI tem o objetivo de “atentar contra a de-mocracia”. O PSDB, segundo informações da assessoria de imprensa de seu líder, deputado Antônio Carlos Panuzzio, também cerrou fi leiras contra a CPI.

Coincidentemente, ou não, são justamente esses os partidos que o grupo Abril, através da Veja, apóia qua-se de maneira política-partidária em suas edições se-manais. A revista trouxe também, na edição da última semana de agosto, uma tentativa de resposta às acusa-ções, usando a linguagem jornalística – supostamente isenta e independente, pelos manuais do grupo Abril. A reportagem “O ataque da corrupção” acusa a criação da CPI de ser uma “vendeta” com a “clara intenção de in-timidar não apenas a Abril, mas “toda a imprensa inde-pendente do país”. Não por acaso, apesar de o conteúdo da denúncia feita pelo senador confi gurar desrespeito à legislação brasileira, as principais publicações impres-sas e os telejornais silenciaram diante dos fatos.

A opção editorial contraria até mesmo a Consultoria Jurídica da Câmara que, segundo o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), já deu parecer confi rmando que há, sim, um fato determinado para a instauração das investigações. Para ser instalada a CPI, basta Chi-naglia ler em plenário o requerimento pedindo a CPI, o que pode ocorrer em qualquer momento. Até o momen-to já foram reunidas 182 assinaturas favoráveis à comis-são, 21 a mais que o necessário. (ML e JPF)

DEM e PSDB em defesa da Veja; mídia corporativa

Pelo controle público das concessões de rádio e de TVMovimentos sociais planejam ações para 5 de outubro, quando vencem diversas concessões, inclusive de cinco emissoras próprias da Rede Globo

“Esse modelo protege o oligopólio e o monopólio. Entrar nesse debate das concessões é colocar um enfrentamento contra o predomínio do grande capital”, avalia João Brant

há participação popular, há a demora; no caso das rádios Fms, levam sete anos para o processo ser concluído. Exis-tem casos que, em 10 anos, o processo não é completado, o que possibilita que esses veículos funcionem mesmo que irregularmente”.

Segundo ele, hoje as con-cessões funcionam como ins-trumentos de manutenção da “barbárie” na comunica-ção brasileira, na qual predo-mina o interesse comercial em detrimento do público. “Esse modelo protege o oli-gopólio e o monopólio. En-trar nesse debate das conces-sões é colocar um enfrenta-mento contra o predomínio do grande capital. A socie-dade se apropriar do que já era para ser dela. Na prática, o que não era para ter dono foi privatizado numa lógica de capitanias hereditárias, passando de pai para fi lho”, explicou Brant.

Para o pesquisador sê-nior do Núcleo de Estudos de Mídia e Política da Uni-versidade de Brasília, Vení-cio Artur de Lima, o grande problema é a falta de trans-parência dessas transações. “Esse é um setor de interes-se público. O próprio cadas-

tro de concessionários de rá-dio e TV que estava no Mi-nistério das Comunicações e entrou no ar em novembro de 2003, de repente desapa-receu. Nem acesso às empre-sas concessionárias e os seus sócios não existem. É um bu-raco negro”, explicou.

Pelo negócio com o grupo Abril, a Telefônica assumi-rá também 100% das ações da Lightree, que presta ser-viços de MMDS (microon-das). Nesse tipo de serviço, a legislação não prevê limi-tes à participação de capital estrangeiro.

Renan Calheiros mostra no telão do Plenário reportagem com a denúncias contra a Editora Abril

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de 6 a 12 de setembro de 2007 9

INTEGRAÇÃO

Chávez negocia acordo humanitárioamérica latina

COLÔMBIA Com aval de Álvaro Uribe e das Farc, presidente venezuelano trabalha por acerto entre guerrilha e governo colombiano

da Redação

O PRESIDENTE Hugo Chá-vez (Venezuela) colocou em prática uma nova cartada di-plomática com a qual se opõe à estratégia dos Estados Uni-dos na América Latina. O ve-nezuelano se ofereceu para intermediar um acordo com entre guerrilheiros das For-ças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o gover-no de Álvaro Uribe, principal parceiro político-militar de George W. Bush na região.

A situação de Uribe é frá-gil, apesar de ter sido reelei-to há um ano. A Colômbia vi-ve, hoje, uma sucessão de es-cândalos. Integrantes do alto escalão de seu governo estão sendo processados pela Jus-tiça por manterem víncu-los e favorecerem narcotra-fi cantes e grupos paramilita-res. O esquema favoreceria o governo de Uribe e contaria, ainda, com a participação de transnacionais como a esta-dunidense Chiquita Brands (veja edição 215 do Brasil de Fato).

Uribe, por sua vez, compro-metido com suas alianças po-líticas com setores conserva-dores, não tem obtido suces-so em tentar emplacar uma medida que garantia impu-nidade para os paramilitares em troca da entrega de armas. Em julho, a Corte Suprema da

da Redação

Representantes dos gover-nos de Cuba, Nicarágua e Ve-nezuela se reuniram no dia 3, em Manágua, capital da Ni-carágua, para discutir o pro-jeto do Banco da Alternati-va Bolivariana para as Amé-ricas (Alba). “Estamos esta-belecendo uma nova arquite-tura fi nanceira regional que não estará necessariamente vinculada a condicionamen-tos atualmente impostos nas relações fi nanceiras interna-cionais”, assegurou o minis-tro nicaragüense da Fazen-da, Alberto Guevara.

A proposta é que o novo or-ganismo seja uma alterna-tiva frente a outras institui-ções ditas multilaterais, co-mo o Fundo Monetário In-ternacional (FMI) e o Banco Mundial. Segundo Guevara, todos os países-membros vão ter uma participação igualitá-ria na nova instituição que, por sua vez, será regida pelo princípio da complementari-dade. Guevara acrescentou que a proposta elaborada em Manágua será apresentada ao Conselho de Ministros da Al-ba e, depois, aos presidentes das quatro nações.

O ministro nicaragüense afi rmou também que o Banco da Alba terá como prioridade

Stella Callonide Buenos Aires (Argentina)

O triunfo de Hermes Binner nas elei-ções da província (Estado) de Santa Fé, quarto maior distrito eleitoral do país, entrou para a história política argenti-na como a primeira vez que o Partido Socialista (PS) obteve um governo em seus 114 anos de vida. Além disso, as previsões são de que o resultado terá repercussões nas eleições presidenciais marcadas para outubro.

Mesmo que a governadora da pro-víncia de Terra do Fogo, Fabiana Ríos, também pertença ao PS, seu triunfo foi resultado de uma aliança com Argenti-na por uma República de Iguais (ARI). Em Santa Fé, o peronismo abandona-rá o poder após 24 anos de governos ininterruptos, embora a Binner tam-bém tenha tido apoio de peronistas, comunistas, seguidores de ARI e ou-tras forças.

Atualmente deputado por Santa Fé, Binner tem também boa relação com o presidente Néstor Kirchner. A expec-tativa é que parte de seus eleitores vote em outubro na candidata Cristina Fer-nández de Kirchner. O presidente fez campanha para o candidato peronista Rafael Bielsa antes dos comícios, mas não se opôs a Biner.

da Redação

Organizações de direitos humanos do Uruguai lançaram, no dia 4, uma cam-panha para anular a Lei de Caducida-de, que impede a abertura de processos judiciais sobre os crimes cometidos du-rante a ditadura militar (1973-1985).

Com a iniciativa, a Coordenação Na-cional para a Anulação da Lei de Cadu-cidade pretende reunir as 250 mil assi-naturas necessárias para ativar o siste-ma de reforma constitucional por meio de um referendo, número equivalen-

“Chávez poderá jogar um papel político importante nisso e também na busca de saídas políticas que a Colômbia requer”, avaliou Raúl Reyes, principal porta-voz das Farc

contribuir para o desenvolvi-mento econômico e social dos países da região. A nova insti-tuição fi nanceira estará aber-ta para a incorporação de ou-tras nações latino-america-nas e do mundo.

A criação do organismo su-pranacional foi acertada em junho passado em Caracas, durante encontro dos repre-sentantes dos governos de Venezuela, Cuba, Nicarágua e Bolívia. Guevara prevê que os aspectos fundamentais do novo banco já estejam con-solidados antes do fi nal des-te ano. Bolívia, o quarto mem-bro da iniciativa de integração criada em novembro de 2004, não participou da reunião no país centro-americano, mas o governo de Evo Morales segue sendo informado dos acordos.

Em Manágua, os repre-sentantes dos países discu-tem questões como a fonte dos recursos da nova entida-de bancária. Parte dessas re-ceitas virão dos lucros gera-dos pela venda de petróleo ve-nezuelano a algumas nações da região. Cada país defi nirá suas prioridades de desen-volvimento econômico e so-cial, como energia água, saú-de, pequena e média produ-ção e, depois, submeterá ao banco os pedidos de fi nan-ciamento. (Prensa Latina – www.prensalatina.com)

Países discutem criação do Banco da Alba até o fi nal deste ano

ARGENTINA

Socialista vence eleição pela 1ª vezBinner é eleito governador de Santa Fé, o quarto maior distrito eleitoral do país

O ex-deputado Óscar González, se-cretário-geral do PS, avalia que o triun-fo de Binner deve ser visto como “uma mensagem da sociedade ao governo e aos setores políticos, já que se demons-tra que há cada vez maior tendência a não acompanhar formais tradicionais políticas nem modalidades clientelistas e caudilhistas”.

O governador eleito de Santa Fé tor-na-se, assim, uma certa referência polí-tica em um país onde a atomização das

forças é maior o do que nunca. De acor-do com González, os resultados eleito-rais em Córdoba evidenciam também uma mudança no cenário político para o futuro do país. Nessa província, há de-núncias de que fraudes no processo elei-toral favoreceram o candidato do pe-ronismo, Juan Schiaretti, contra Luis Juez, que liderou uma aliança de setores progressistas e da esquerda indepen-dente. Schiaretti venceu com diferença de apenas um ponto percentual.

As eleições nessas duas províncias mostraram também que os partidos tradicionais fi caram divididos em peda-ços, como o peronismo e a União Cívica Radical. Santa Fé e Córdoba são funda-mentais para as eleições presidenciais, junto com a Província e a Cidade Autô-noma de Buenos Aires. O governador eleito de Santa Fé terá, agora, o desa-fi o de repartir espaços entre os setores políticos que integraram a Frente Pro-gressista que o apoiou. “A província vo-tou por uma mudança ética, moral e de igualdade”, afi rmou Binner.

“Nem Santa Fé ou Córdoba, depois do ocorrido, parecem deixar sombras sobre a candidatura de Cristina”, inter-pretou analista do diário argentino Cla-rín. “Nas duas províncias, fi cou claro outra vez o ponto de repulsa e ruptura ao sistema tradicional de partidos”. (La Jornada – www.jornada.unam.mx)

URUGUAI

Campanha contra a impunidade de colaboradores da ditadura é lançadaObjetivo é reverter lei que proíbe processos e condenações de militares e policiais

te a 10% do padrão eleitoral. Um dos principais articuladores da campanha, o advogado Oscar López Goldaracena, apontou que o projeto de reforma cons-titucional pretende “remover a impu-nidade da cultura nacional” como par-te de uma promoção de direitos huma-nos. “Essa reforma de iniciativa popu-lar começa sem prejuízo de que o Parla-mento anule essa lei por simples maio-ria de votos”, acrescentou.

Em 22 de dezembro de 1986, após a queda da ditadura, o Parlamento apro-vou a lei de Caducidade da Pretensão Punitiva do Estado, com os votos dos

legisladores dos partidos Blanco y Co-lorados (conservadores) e a oposição da Frente Amplio, agora no governo. A norma impede que sejam processa-dos ou condenados militares e poli-ciais que cometeram seqüestros, tortu-ras, violações, assassinatos, ocultamen-to de cadáveres e outros crimes entre 1973 e 1985. A campanha das organiza-ções de direitos humanos tem como le-ma a frase: “Pela anulação da Lei de Ca-ducidade e para quebrar a impunidade que esta lei consagra. Nunca mais ter-rorismo de Estado”. (Prensa-Latina – www.prensalatina.com)

Justiça considerou que a Au-todefensas Unidas de Colom-bia (AUC) não tinha motiva-ções políticas, mas sim crimi-nais, negando benefícios co-mo reduções de pena. Os ma-gistrados entenderam que os paramilitares não poderiam ser julgados por sedição (in-surreição), como pretendia Uribe, já que não tinham le-vantado armas contra o Es-tado, mas sim para defendê-lo. Uribe respondeu afi rman-do que tentará aprovar uma lei no Congresso revertendo com esse objetivo.

Soma-se a esse cenário o fracasso do Plano Patriota – continuidade do também Plano Colômbia. Os milhões de dólares despejados pe-lo governo dos Estados Uni-dos com a fi nalidade declara-da de acabar com as Farc não geraram os resultados pro-metidos. A guerrilha segue controlando territórios co-lombianos, sem maiores bai-xas. Já as incursões dos mi-litares colombianos têm pro-vocado mais repercussões negativas ao governo, com denúncias de violações de di-

reitos humanos e massacres de comunidades.

Em meio aos sucessivos desgastes na sua política de enfrentamento com as guerri-lhas, o presidente Álvaro Uri-be aceitou a oferta do vene-zuelano para intermediar um acordo humanitário. No dia

31 de agosto, após uma reu-nião de sete horas em Bogotá, ambos anunciaram que Chá-vez poderia receber represen-tantes das Farc na Venezuela para discutir a questão. Uri-be espera obter a libertação de um grupo de 46 reféns; já os guerrilheiros querem que o governo colombiano solte seus prisioneiros.

Presos nos EUALogo após o encontro com

Uribe, Chávez se reuniu com advogados de dirigentes das Farc presos nos Estados Uni-dos e afi rmou que sua liberta-ção é um “dos temais mais es-pinhosos” da agenda. Um dos interlocutores do venezuela-no nesse encontro foi Rami-

ro Orjuela, advogado do co-mandante Ricardo Palmera (Simón Trinidad) e de Anayi-be Rojas.

Palmera foi negociador das Farc na tentativa dos diálo-gos de paz entre 1999 e 2002. Depois, foi preso no Equador, enviado à Colômbia e extra-ditado aos Estados Unidos, onde está incomunicável há 3 anos. A acusação contra o guerrilheiro é de conspi-rar para o seqüestro de três estadunidenses. Já Anayi-be foi extraditada aos EUA sob a acusação de colaborar com o narcotráfi co por ser integrantes das Farc. Em ju-lho, foi condenada a 16 anos e meio de prisão na primeira sentença condenatória contra

um rebelde colombiano emi-tida por um tribunal dos Es-tados Unidos.

No domingo (2), Chávez anunciou no programa “Alô, Presidente” que enviou uma mensagem para a principal liderança das Farc, Manuel Marulanda (Tirofi jo), e que esperava retorno. “Marulan-da, tomara que eu esteja con-versando logo com o enviado que você escolher. Tenho fé que dialogando teremos uma saída para este tema do inter-câmbio humanitário e oxalá se encontre um caminho para a paz da Colômbia, um acordo histórico de paz, o caminho da nossa unidade”, acrescentou.

No dia 3, foi a vez de as Farc se manifestarem. Em

entrevista exclusiva ao jor-nal mexicano La Jornada, o porta-voz dos guerrilhei-ros, Raúl Reyes, elogiou o presidente Hugo Chávez: “é um homem afável, que sen-te a dor do povo e trabalha por soluções, um bolivaria-no íntegro e antiimperialis-ta”. Reyes expressou que a guerrilha está otimista com as perspectivas de negocia-ção e afi rmou que o prestígio de Chávez no continente aju-dará a resolver o problema do intercâmbio humanitá-rio. “Ele poderá jogar um pa-pel político importante nisso e também na busca de saídas políticas que a Colômbia re-quer”, avaliou.

O guerrilheiro manifes-tou que as Farc são favorá-veis a uma solução para es-se impasse, mas que não ob-teve acolhida por parte de Uribe, que se negou a nego-ciar um acordo humanitá-rio. O governo colombiano argumentava que negociar com os guerrilheiros signifi -caria legitimá-los. Na entre-vista, Reyes cogita que pos-sa ocorrer, futuramente, um encontro entre Marulanda e Chávez, no Palácio Mirafl o-res. “Será um encontro his-tórico que se necessita para o bem de toda a região e, parti-cularmente, para o povo co-lombiano, vítima das políti-cas do atual governo”, decla-rou. O guerrilheiro acrescen-tou que, resolvida a questão do intercâmbio humanitário, o desafi o será a paz da Co-lômbia. “A saída política é a solução para os problemas de nosso país. Não é certo que a solução seja ampliar a guer-ra, como apregoa o gover-no de Álvaro Uribe”. (Com Agências internacionais)

Chávez cumprimenta o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe

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Hermes Binner, do Partido Socialista

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de 6 a 12 de setembro de 200710

Cerca de 800 mil pessoas da etnia tutsi e de hutus contrários ao massa-cre conduzido pelo governo foram assassinados no cur-to período de 100 dias

Quanto

Ruanda pede extradição de cinco entre os mais procurados genocidas

áfrica

SOMÁLIA

MASSACRE Governo ruandês, que aboliu a pena de morte, solicita que o Canadá envie ao país homens acusados de participarem como “cérebros” do genocídio de 1994

da Redação

O GOVERNO de Ruanda soli-citou ao Canadá, no dia 30 de agosto, a extradição de cin-co responsáveis pelo genocí-dio ocorrido em 1994 no pa-ís africano, quando o regime hutu que estava no poder ar-quitetou e apoiou – utilizan-do-se de civis e milícias – o assassinato, em cem dias, de cerca de 800 mil pessoas da etnia tutsi e de hutus contrá-rios ao massacre conduzido pelo governo.

Os cinco homens são iden-tifi cados como alguns dos mais procurados da lista da Interpol e da Justiça ruande-sa, que acreditam que se en-contram em território cana-dense. São eles: o acadêmico Leon Mugesera e os ex-polí-ticos Pierre Celestin Halin-dintwali, Evariste Bicamum-paka, Gaspard Ruhumuliza e Vincent Ndamage. Eles são acusados de terem instigado ou organizado o genocídio.

“Eles deveriam ser pre-sos para responderem a es-sas acusações. Não há moti-vos para que se permita que eles transitem livremente e se

da Redação

Sem resultados concretos, foi encerrado no dia 30 de agosto o Congresso de Re-conciliação da Somália, rea-lizado em Mogadíscio, capital do país. Cerca de 1.300 de-legados, entre eles represen-tantes de clãs tribais, ex-líde-res rebeldes e dirigentes polí-ticos, participaram, durante um mês e meio, do encontro, que tinha como objetivo pôr fi m à disputa pelo poder en-tre os diversos clãs e ao con-fl ito entre a União das Cortes Islâmicas (UCI) e o governo de transição.

Desde 1991, quando o di-tador Mohamed Siad Barre foi deposto, a Somália vive sem um governo forte, sen-do palco de confrontos entre os clãs. Em 2004, foi instala-do, com o apoio da ONU, um governo de transição, critica-do por não ter força nem re-presentatividade.

Entre junho e julho de 2006, grupos islâmicos radi-cais, reunidos na União das Cortes Islâmicas (UCI), toma-ram o controle da capital Mo-gadíscio e do Sudeste do país. Ao restaurarem a segurança, ganharam apoio popular pa-ra suas ações. Quando a UCI passou a atacar Baidoa, a sede do governo interino, a Etió-pia – com medo da infl uência do grupo na sua população de língua somáli – atendeu o pe-dido do presidente e, com o apoio dos EUA e da Inglater-ra, enviou tropas à Somália para ajudar no combate aos rebeldes. Em dezembro, vá-

benefi ciem do Estado de bem-estar social do governo cana-dense enquanto sejam sus-peitos de assassinato”, afi r-mou Jean Bosco Muntangana, porta-voz dos promotores de Ruanda. Segundo ele, o Ca-nadá tem sido lento, mas vem cooperando quando se trata de lidar com suspeitos de par-ticiparem do genocídio.

CurrículoBicamumpaka, que era um

político em nível municipal, é acusado de fornecer armas e machadinha à milícia Inte-rahamwe. Halindintwali, ex-diretor de serviços públicos, é suspeito de ser um líder des-

sa milícia, responsável por organizar e participar de en-contros de planejamento do genocídio, além de fornecer combustível e transporte aos milicianos e matar uma famí-lia inteira.

Ndamage também é acu-sado de ser líder de uma mi-lícia, além de proferir dis-cursos convocando para os assassinatos, participar de diversos ataques, realizar

rias cidades, inclusive a capi-tal, foram retomadas.

Em fevereiro, a UCI voltou a se reagrupar e a realizar ata-ques às forças governamen-tais, sendo novamente conti-das, com a ajuda do Exército etíope, no fi nal de abril.

DesânimoAlguns dos participantes do

Congresso se mostraram de-sanimados com seus efeitos concretos. “Estivemos reuni-dos por 45 dias e não sei exa-tamente qual foi o resultado. Só sei que falamos das nossas disputas e que ninguém admi-tiu suas culpas”, disse um an-cião de um dos clãs somális.

Em discurso na cerimônia de encerramento, o presiden-te do governo de transição, Abdullahi Yusuf, convocou a UCI a baixar as armas e acei-tar a democracia: “é supreen-dente que ainda haja gente que utiliza as armas para con-seguir seus objetivos. Desejo que as abandonem e que con-sigam o apoio da população através das urnas”, disse.

A UCI não foi representada no Congresso. Seus apoiado-res afi rmaram que o objetivo do encontro não era de fato pôr fi m ao confl ito, e sim an-gariar recursos da comuni-dade internacional para se-guir a luta contra os grupos islâmicos. Estes, por sua vez, se preparam para seu reu-nir ainda em setembro em Asmara, capital da vizinha Eritréia. Especula-se que tentarão se unir para lutar contra a presença das forças etíopes no país. (Com agên-cias internacionais)

da Redação

Soweto, periferia da cidade de Joa-nesburgo, na África do Sul, foi pal-co de violentos confrontos entre seus moradores e a polícia, no dia 3. A po-pulação local protestava contra as pre-cárias condições de vida em que se en-contra.

As forças de sergurança atiraram com balas de borracha e jatos d’água, enquanto os manifestantes utilizavam pedras como armas. Sete pessoas fo-ram presas, e um homem morreu no incidente, atropelado por uma van. Um líder comunitário afi rmou à im-prensa que os habitantes de Sowe-to continuam sem água, eletricidade e sistema de esgoto. “Nós ainda usa-mos o mato como banheiro”, disse. Si-lumko Radebe, organizador do Fórum Antiprivatização, disse que um dos manifestantes foi preso enquanto con-cedia entrevista no local do protesto.

Os moradores da área dizem que de-cidiram protestar depois que as autori-dades do governo local se recusaram a se reunir com eles para discutirem su-as demandas. Só após os confrontos, a prefeitura de Joanesburgo resolveu en-viar uma equipe à região para avaliar a situação e descobrir o motivo das ma-nifestações.

A população de Soweto reclama que mais de uma década depois do fi m do

apartheid (em 1994) e da promessa de prosperidade, ainda vive na extre-ma pobreza. Desde 2003, a economia sul-africana vem crescendo seguida-mente. Em 2006, o índice foi de 5,5%. No entanto, metade da população vive abaixo da linha da pobreza, enquan-to o desemprego ofi cial fi cou, no ano passado, em 25, 5%.

DiscriminaçãoMesmo com o fi m do regime de se-

gregação, os negros continuam so-frendo discriminação estrutural. A ta-xa de desemprego dessa camada é de 30,5%, enquanto entre os brancos é de 4,5%.

Por isso mesmo, os protestos em So-weto não são as primeiras demonstra-ções de desgaste da relação entre a po-pulação pobre e negra do país com o

CNA, partido no poder. Surgido no contexto da luta contra o apartheid, o movimento que teve Nelson Man-dela como grande ícone vem perden-do o apoio popular nos últimos anos ao adotar medidas neoliberais.

Em junho, centenas de milhares de servidores públicos do país, reunidos em torno do Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos (Cosatu), aliado tradi-cional do CNA, fi caram em greve por um mês, exigindo, entre outras coisas, aumento salarial. Os grevistas apon-tavam a queda do padrão de vida dos trabalhadores, que seria conseqüência da reestruturação neoliberal do setor público, com privatizações, terceiriza-ção e encolhimento nos investimentos e quadro de funcionários.

O governo diz que o processo de providenciar novas moradias em ou-tra área à população de Soweto está em andamento. Desde 1994, 1,6 mi-lhão de casas foram construídas e 9 milhões de pessoas passaram a ter acesso à água, mas o defi cit nesses se-tores permanece alto. (Com agências internacionais)

Termina congresso de reconciliação de fachada em MogadíscioEncontro para pôr fi m aos confl itos não contou com a presença de grupos islâmicos, protagonistas dos mais recentes confrontos com o governo

ÁFRICA DO SUL

População pobre protesta contra condições de vida na célebre SowetoMoradores da periferia de Joanesburgo ainda vivem sem água, eletricidade e sistema de esgoto, mesmo mais de dez anos após o fi m do apartheid

Os protestos em Soweto não são as primeiras demonstrações de desgaste da relação entre a população pobre e negra do país com o CNA, partido no poder, surgido no contexto da luta contra o apartheid, e que teve Nelson Mandela como grande ícone

30,5% é a taxa de desempre-go entre os negros, enquanto entre os brancos é de 4,5%

Quanto

“Acreditamos haver, hoje, centenas de suspeitos no Canadá, uma vez que tiveram assegurados livre movimento e, possivelmente, vistos, em 1994 e 1995, ao se autoproclamarem refugiados”, alerta porta-voz dos promotores de Ruanda

inúmeros estupros e matar 30 crianças.

Ruhumuliza, integrante do governo interino durante o genocídio, é acusado de aju-dar a planejar o massacre, in-citar a população civil a matar e participar dos esquadrões da morte que eliminaram crí-ticos do governo. Já Musege-ra é acusado de realizar dis-cursos antitutsis, alimentan-do o ódio contra eles.

Muntangana diz que exis-tem muito mais pessoas en-volvidas no genocídio vi-vendo atualmente no Cana-dá. “Acreditamos haver, ho-je, centenas deles no Canadá, uma vez que tiveram assegu-rados livre movimento e, pos-sivelmente, vistos, em 1994 e 1995, ao se autoproclamarem refugiados”, alerta. Ele afi r-mou também que muitos dos suspeitos vivem sob nomes

falsos, difi cultando o traba-lho das autoridades que ten-tam rastreá-los.

PedidoO Canadá retomou, no dia

4, o julgamento de Desire Munyaneza, submetido à no-va lei local que trata de cri-mes contra a humanidade e crimes de guerra. Ele é acu-sado de assassinato, estupro e pilhagem, durante os mas-sacres de 1994. O governo ru-andês diz preferir que todos os acusados pelo genocídio sejam julgados no país, mas, se isso não for possível, que pelo menos as nações que os abrigam os julguem por con-ta própria.

O presidente de Ruanda, Paul Kagame pediu um maior empenho da comunidade in-ternacional para levar ao tri-bunal os responsáveis pe-lo genocídio, no momento em que recebia, em Roma, na Itália, um prêmio de Di-reitos Humanos por abolir a pena de morte em Ruanda. A medida foi tomada, em par-te, como forma de encorajar a extradição ao país dos organi-zadores da matança.

Ruanda, em conjunto com outros países africanos, além da União Européia, assinaram uma resolução da Assembléia Geral da Organização das Na-ções Unidas (ONU) que con-voca para uma moratória mundial das execuções. (Com agências internacionais)

Dentro do Memorial do Genocídio, bandeira fi ncada mostra localização geográfi ca que Ruanda ocupa no mapa-mundi

“Township” de Soweto, periferia de Joanesburgo, África do Sul

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anos de idade permaneceu 2 pontos abaixo do que o esta-belecido em 2001.

Seguro-saúdeO presidente também op-

tou por fazer uma breve e li-geira referência a outro dado terrível no informe do Cen-so difundido semanas atrás: 47 milhões de estaduniden-ses carecem de seguros-saú-de, o que implica que não têm acesso a quase nenhum siste-ma de saúde neste país.

O departamento de estatís-ticas informou que o núme-ro de estadunidenses sem se-guro-saúde aumentou 2,2 mi-lhões entre 2005 e 2006. Es-sa tendência tem se intensifi -cado nos últimos anos com a disparada dos custos de saú-de, com a redução ou elimina-ção de seguros que as empre-sas ofereciam aos seus traba-lhadores, entre outros fatores.

Pior ainda, o número de me-nores de idade sem seguro au-mentou 600 mil entre 2005 e 2006, alcançando um total de 8,6 milhões de crianças.

Rico pra cachorroComo divulgou o jornal

New York Times ao analisar os dados, o único segmento da população cuja renda em 2006 foi superior a de 2000 foram os lares dos 5% mais ri-cos do país, para todos os de-mais segmentos foram infe-

riores. “Tomado no total, os novos dados sobre renda e pobreza se intercalam de ma-neira consistente com o pa-drão dos últimos cinco anos, quando o crescimento econô-mico da nação há fl uído qua-se exclusivamente aos ricos e aos extremamente ricos, dei-xando pouco para todos os demais”, opinou o Times em editorial semanas atrás.

de 6 a 12 de setembro de 2007 11

8,6 milhões de crianças nos Estados Unidos não possuem seguro-saúde

Quanto

Crescimento para “gringo” verEUA Mesmo com crescimento econômico, são 5 milhões a mais de pobres do que havia há seis anos, 47 milhões não tem seguro médico

internacional

David Brooksde Nova York (EUA)

NOS ESTADOS Unidos, há hoje 5 milhões a mais de po-bres do que havia há seis anos, e a renda média é de mil dólares inferior a que ha-via no ano 2000, mas tam-bém existem notícias positi-vas: um cachorro herdou 12 milhões de dólares.

Semanas atrás, a história de ricos e pobres ganhou con-tornos quase patéticos com duas notícias.

O governo federal anun-ciou que, apesar da diminui-ção da porcentagem de lares que vivem na pobreza depois de cinco anos de crescimen-to econômico, o fato é que em 2006 (os dados mais re-centes), 36,5 milhões de esta-dunidenses viviam na pobre-za – 5 milhões a mais do que no ano 2000.

Também se informou que a empresária multimilioná-ria de hotéis Leona Helmsley, que faleceu na semana pas-sada, deixou de herança ao seu pequeno cachorro maltés (seu nome é “Trouble”, con-fusão em inglês) 12 milhões de dólares, e zero a dois de seus quatro netos (ela tam-bém deixou 100 mil dólares ao seu chofer).

Discurso vazioO departamento de estatíti-

cas divulgou que, no ano pas-sado, houve um acréscimo de 0,7% na renda média nacio-nal, atingindo um total de 48 mil e 201 dólares. Além disso, registrou uma redução no nú-mero de lares pobres.

Essas notícias positivas fo-ram ressaltadas pelo presi-dente George W. Bush como prova de que suas políticas econômicas estavam funcio-nando e que não deveriam ser modifi cadas. “Quando mante-mos baixos os impostos, limi-tamos o gasto público, e aber-

de Nova York (EUA)

Nos Estados Unidos, os imigrantes no momento somam 15% da força de trabalho, e o número de trabalhado-res imigrantes assalariados aumen-tou 30% durante os últimos 10 anos, segundo novos dados emitidos pe-lo Instituto de Políticas de Migração (MPI, em sua sigla em inglês).

Ano passado, 19,74 milhões de imi-grantes estavam empregados nos Es-tados Unidos, um incremento de 66% desde 1996. Os imigrantes aumenta-ram sua presença de 10,8 (14,30 mi-lhões) para 15.3% (23,15 milhões) do total da força de trabalho nesse perío-do, conforme números obtidos pelo

projeto Fonte de Informação de Mi-gração, do MPI. A análise se realiza com dados do censo federal.

Novo sangueAo mesmo tempo, dos 15,36 mi-

lhões de sindicalizados em 2006, 12% eram imigrantes. Quase um em cada 10 assalariados era membro de um sindicato em 2006. De fato, os núme-ros confi rmam o que muitos suspeita-vam, o novo sangue do sindicalismo estadunidense são os imigrantes: o

MARROCOS

Trinta e oito emigran-tes clandestinos da África Subsaariana que estavam a bordo de uma embarcação em direção às Ilhas Caná-rias, da Espanha, foram so-corridos pela Marinha Real Marroquina em alto mar, quando o barco apresenta-va avarias. Alguns dias an-tes, 69 pessoas haviam si-do resgatadas nas mesmas condições.

Marinha resgata 38 africanos em alto mar

Os trabalhadores do sis-tema de saúde de Guiné-Bissau realizaram uma greve de três dias para rei-vindicar o pagamento de sete meses de salários atra-sados. Os trabalhadores da Marinha daquele pa-ís também podem realizar uma greve de três dias para reaver oito meses de salá-rios atrasados.

Trabalhadores em greve por salários atrasados

GUINÉ-BISSAU

A organização Anis-tia Internacional divul-gou uma carta denuncian-do que, dez anos após o fi m da ditadura militar, a Gua-temala vive uma situação de permanente violação de Direitos Humanos dos po-bres, indígenas e mulheres. Em meio às campanhas eleitorais, a organização pede ao futuro presidente que puna os responsáveis pelas matanças que con-tinuam a ocorrer no país e que revele os arquivos se-cretos da ditadura.

Anistia Internacional faz pedido a futuro novo presidente

GUATEMALA

Neste mês de setem-bro, teve início o proces-so eleitoral em Cuba que será concluído no começo de 2008 com a definição da nova configuração dos principais órgãos executi-vos do país. É a primeira vez que o processo ocor-re com a ausência do pre-sidente Fidel Castro, afas-tado desde julho de 2006. De acordo com a lei cuba-na, a atividade de propa-ganda se limita à divul-gação das biografias dos candidatos.

Processo eleitoralcomeça e vai atéinício de 2008

CUBA

O presidente estaduni-dense, George W. Bush, fez uma breve visita sur-presa ao Iraque, no dia 3, e declarou que pode redu-zir o número de soldados no país se for mantido o atual nível de segurança. Dois dias antes, os jornais divulgaram que o número de civis mortos no Iraque alcançou 1.773 em agosto – 7% a mais do que o nú-mero de mortos em julho. Já o Exército dos EUA re-gistrou 81 baixas, segun-do a página na internet icasualties.org, que con-tabiliza a quantidade de vítimas das forças invaso-ras no Iraque.

Bush faz visita surpresa e acenareduzir soldados

IRAQUE

A empresária multimilionária de hotéis Leona Helmsley deixou de herança ao seu pequeno cachorro maltés 12 milhões de dólares, e zero a dois de seus quatro netos

ta a nossa economia (...) to-dos os estadunidenses se be-nefi ciam. Os dados do depar-tamento de estatíticas difun-didos hoje confi rmam que a maioria dos nossos cidadãos estão melhores nessa econo-mia. Com uma continuação no crescimento de renda e mais estadunidenses saindo por si mesmos da pobrezam declarou Bush.

Mas o que deixou de men-cionar é que esses modestos avanços fi zeram quase nada para apagar o principal fei-to de sua gestão em maté-ria econômica: que depois de cinco anos desde a última re-cessão econômica, quase na-da do crescimento econômico benefi ciou a imensa maioria dos estadunidenses. De fato, a renda dos estadunidenses com trabalho em período in-tegral foi mais de 1% inferior em 2006 do que em 2005, e a renda média de lares enca-beçados por menores de 65

Mas não há por que se pre-ocupar tanto, já que a senho-ra Helmsley deixou uma boa parte de sua fortuna calcula-da em 4 bilhões de dólares (a revista Forbes a colocou no número 369 de sua lista de mais ricos do mundo) a obras de caridade. Mas Trouble, seu cachorrinho, tem tudo para viver o resto de sua vida como milionário e descansar eternamente, quando mor-rer, ao lado de sua benfeitora no mausoléu de luxo.

Para tanto, o testamen-to de Helmsley estabelece um fundo de 3 milhões pa-ra manter o mausoléu (com restritas ordens sobre co-mo fazê-lo). O cachorro foi o maior benefi ciado da família com seus 12 milhões de dóla-res: Helmsley deixou somen-te 10 milhões a seu irmão, e 5 milhões por cabeça a dois de seus netos, mas com con-dições que têm de seguir, so-bretudo uma visita anual a tumba de seu defunto mari-do, e outros dois netos que fi -caram sem nada.

Pelo que parece, terá que se modifi car o signifi cado daqui-lo que consideramos uma “vi-da de cachorro”. (La Jornada – www.jornada.unam.mx)

De fato, os números confi rmam o que muitos suspeitavam, o novo sangue do sindicalismo estadunidense são os imigrantes

Imigrantes se sindicalizam mais e já somam 15% da força de trabalho dos Estados UnidosSindicatos parecem ter revivido, apesar de o país ter apenas 15 milhões de trabalhadores sindicalizados

número de imigrantes sindicalizados aumentou 30% desde 1996. O núme-ro de sindicalizados nascidos nos Es-tados Unidos despencou 9%.

Apesar disso, os sindicatos con-tinuam em crise com uma redução em números totais de sindicaliza-dos. De 16,27 milhões em 1996 a 15,36 milhões em 2006.

Essa queda, junto ao incremen-to em termos absolutos na sindicali-zação dos imigrantes, fez com que a proporção de imigrantes nos sindica-tos aumentasse de 8,9% em 1996 pa-ra 12,3% em 2006. Assim, os imigran-tes sindicalizados são 2,04 milhões. No entanto, os sindicatos continua-ram reduzindo suas fi leiras na por-centagem da força de trabalho duran-te a última década a somente um pou-co mais de 10% no total.

Embora tenha sido registrado um notável incremento na sindicalização dos imigrantes, o fato é que hoje so-mente 10,3% de todos os trabalhado-res imigrantes são representados por um sindicato (comparado aos 13,7% dos nascidos nos EUA). Mas os in-dicadores são evidência para aque-les que argumentam que, em gran-de medida, o futuro dos sindicatos (igual que em suas origens) está nas mãos dos imigrantes. (DB) (La Jor-nada – www.jornada.unam.mx)

30% foi o aumento do número de imigrantes sindicalizados desde 1996, enquanto o número de sin-dicalizados nascidos nos Estados Unidos despencou 9%

Quanto

Sem-teto em Nova York; somente os lares dos 5% mais ricos dos EUA viram sua renda aumentar nos últimos anos

Músicos mexicanos tocam dentro de vagão de metrô de Nova York

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de 6 a 12 de setembro de 200712

A última entrevista de Mário Carneirocultura

Um dos melhores fotógrafos do cinema brasileiro, Mário Carneiro, morreu no Rio de Janeiro, no sábado, 1º de setembro, aos 77 anos

Mário Carneiro (Mario Au-gusto de Berredo Carneiro) foi um dos fotógrafos mais importantes do cinema bra-sileiro. Filho de diplomata, nasceu em Paris (França) aos 26 de junho de 1930, e fale-ceu no Rio de Janeiro no sá-bado, 1º de setembro, vítima de um câncer. Foi sepultado no Cemitério São João Batis-ta, em Botafogo, zona Sul do Rio. Admirador da cinemate-ca francesa, Mário Carneiro começou sua carreira no Cinema Novo. Foi arquiteto, artista plástico, cineasta, (di-retor de fotografi a, roteirista, produtor, diretor, montador) e também responsável pela fotografi a, montagem e di-reção de cerca de 250 fi lmes comerciais, com prêmios em Nova York e Cannes. Parti-cipou de dezenas de fi lmes. (Veja box ao lado)

Quem foi

NA TERÇA-feira, 14 de agos-to, José Marinho, professor do Departamento de Cine-ma e Vídeo da Universidade Federal Fluminense – UFF e ator, e o fotógrafo Maurício Scerni foram à casa de Má-rio Carneiro, no Rio de Janei-ro, para entrevistá-lo. Mário já vinha doente havia algum tempo – câncer, e viria a fale-cer duas semanas depois, no sábado, 1º de setembro.

Considerado um dos mais importantes fotógrafos do ci-nema brasileiro, Mário – lei-tor e admirador do Brasil de Fato – transitou em vá-rias áreas da sua profi ssão: foi montador, produtor, ro-teirista e diretor. Esta foi sua última entrevista.

José Marinhodo Rio de Janeiro

exclusivo para Brasil de Fato

José Marinho – Mário, onde você nasceu, onde viveu sua infância e adolescência...Mário Carneiro – Eu nas-ci na França em 1930, porque meu pai estava com uma bol-sa de estudos lá, de química. Eu e minha irmã nascemos em Paris, mas voltamos para cá, quando eu estava com dez meses e, aí, fi camos morando no Brasil normalmente. Eu tinha dupla nacionalidade, porque meu pai queria mui-to que eu fosse também fran-cês – como bom positivista, ele prezava muito Augusto Comte...mas eu precisei op-tar pela brasileira, porque era época da guerra da Indochi-na, na França... eu não ia en-trar numa gelada dessas.

Perfeito. E a infância e a adolescência no Rio de Janeiro? Você foi um menino traquina?

Eu fui um menino normal-mente traquinas. Não cha-mava a atenção nem por uma coisa, nem por outra... Por-que eu era muito tímido, não é? Eu era gago... Tinha pro-blemas com os adultos, o mundo adulto me deixava um pouco em pânico... Tudo por causa de pai, que fi cou lon-ge... Fui criado sem pai, mui-to tempo...Então, desenvol-vi esses defeitos de um me-nino que cresce sem presen-ça paterna.

E a história de suas namoradas?

A história das minhas na-moradas parece assim um li-vro daqueles que se encon-trava antigamente. Desde os dezesseis anos eu me vi sem-pre apaixonado e apaixonan-te. Sempre uma moça gostan-do de mim e eu gostando de-la. E isso ia-se dando pela vida afora, coisa que eu dou graças a Deus. Nunca tive preocupa-ções, nem dor de corno, nem provoquei dores brabas. Tan-to que as minhas ex-mulheres, todas, gostam de mim…

Você tem uma cultura erudita, fala um pouco de latim, fala muito bem fracês. E essa erudição veio do colégio Andrews?

Não. Esse latim, salpica-do, vem do meu tio Ivan Lins, que era um grande latinista. Quando nós éramos peque-nos, ele resolveu dar umas aulas de latim para a gente. Foi muito bom, porque te dá uma base para a língua, um conhecimento real de onde vem a nossa lingua.

E a sua entrada no cinema, nas artes plásticas, na Arquitetura... Como é que começou isso aí tudo?

A Arquitetura, eu consi-dero infl uência de meu pai. Quando ele chegou ao Brasil em 1942 , depois de ter sido preso pelos alemães duran-te a guerra, eu estava pintan-do... querendo virar pintor. Meu pai disse: ”Mas, pin-tor é uma coisa muito... fui amigo de vários pintores, to-dos mortos de fome, na ida-de adulta!” E citava o Décio Villares um pintor positivis-ta fabuloso, de imenso talen-to, mas que viveu sempre de dar aula para umas moças. E, então, fi cavam essas pesso-as supertalentosas e subem-

pregadas. Faziam quadros de vez em quando… Isso entris-tecia meu pai infi nitamente, e ele dizia: “Não, meu fi lho, se-ja arquiteto. Você vê o Lúcio Costa, o Oscar Niemeyer, es-sa geração brilhante brasilei-ra.” Era a época exatamente em que estavam despertando esses valores todos na cultura brasileira, os valores do Mo-dernismo. Le Corbusier tinha vindo, feito o desenho para o Ministério da Educação. Com aquele clima, não foi difícil fi car seduzido pela idéia de, além de fazer pintura, ter um escritório de Arquitetura – que era uma garantia a mais para o meu ganha-pão. E as-sim eu fi z.

E depois, como chegou ao cinema?

A Arquitetura foi a primeira ruptura com a pintura, e o ci-nema... eu tenho a impressão de que era uma coisa tão for-te, naquela época, que não ti-nha muito como escapar. Ti-nha cineasta para todo lado. A a gente se reunia na casa de Sarah – eu, Joaquim Pedro de Andrade, Paulo César Sa-raceni , o Davi Neves. Enfi m, toda a nossa geração aparecia por lá. Eu às vezes fazia fi lmi-nhos na França: ganhei uma câmera Paillard Bolex, de meu pai, quando fi z 23 anos, e essa câmera me permitiu fa-zer meus primeiros fi lmes de amador. O primeiro que fi z , montando com um certo cui-dado, chamado “Boneca”, in-felizmente, sumiu. Eu me queixo sempre desse desapa-recimento. Eu gostava desse fi lminho. Vinícius de Moraes viu esse fi lme e disse: “Mario-zinho, não adianta você que-rer pintar e fazer gravura, não. Você vai fazer cinema. Você tem um talento enorme para isso!” Então, era hora de fazer cinema. Vinícius tinha sofrido muito com essa von-tade de fazer cinema – sem conseguir. Então, quando ele viu que a situação estava me-lhor para o cinema – ele dei-xou o fi lho dele, Pedro, como meu aprendiz – “Mariozinho, você cuida dele, é uma pessoa muito boa, é ótima, é mal-hu-morado...”

Você fez um fi lme com Fernando Cony Campos, sobre a obra do Niemeyer, e também foi amigo do Lúcio Costa...

Bom, essas são as conse-qüências naturais das ami-zades do meu pai, não é? So-bretudo o Lúcio! Eu estava na França, tinha uns vinte e pou-cos anos, e Lúcio apareceu... Eu já conhecia as fi lhas dele, do Rio, não é?, Helena e Maria Elisa. Nós éramos amigos. E, na França, eu conheci doutor Lúcio – era muito simpático – e papai contava as histórias do doutor Lúcio, porque ele tinha um temperamento meio difí-cil, não era pessoa de convívio muito fácil, não. Quando que-ria uma coisa, ele cobrava, e a amizade dele com Le Corbu-sier era um ponto fundamen-tal na construção da Casa do Brasil, plano que era do Lúcio e foi desenvolvido por Le Cor-busier. Mas esse projeto criou muita área de incompreensão entre os dois.

A Casa do Brasil é uma idéia do teu pai, não é?

Não. Papai acompanhou desde o início, mas não era uma idéia dele, não. Mas ele adorou, achava fundamen-tal, e por isso se jogou com muito empenho. E conse-guiu que o Lúcio fi zesse o projeto. Então, ele foi segui-do nesse projeto, e um sonho dele era deslindar essas bri-guinhas que surgiam duran-te a construção. O fato de o ponto de vista de Le Corbu-sier não ser igual ao dele, fi ngir que não tinha entendi-do o desandar da coisa, en-fi m... rusgas de arquitetos. Mas aí isso tudo foi contor-nado, a Casa do Brasil foi fei-ta, até hoje é uma coisa mui-to bonita..

E o Oscar Niemeyer?Com o Oscar, foi o seguin-

te: naquelas conversas com meu pai, fi cou estabelecido que à tarde, eu trabalharia num escritório de Arquitetu-ra. Eu estava no 2º. ano, não tinha vivência de Arquitetura para enfrentar o escritório do Oscar. Mas o Oscar achou óti-mo. Ele disse “Se você já sou-besse, era muito chato. Você vinha, fazia aquela pose de... desenho direitinho, ia fi can-do... Geralmente, isso não dá certo. E eu vi, assim que você chegou, já com tudo, e já se vê que não é arquiteto: é pintor, é o que quiser. Mas arquite-to, não vai ser…” E assim pas-sei seis meses no escritório do Oscar, depois saí , mas fi quei muito amigo do Oscar.

Depois, você fez um fi lme com Fernando Cony Campos sobre a obra do Niemeyer.

É. Nós fi zemos esse fi lme na França, porque eu estava lá com Hileana para fazer a luz do fi lme do Paulo César Sa-raceni, o “Natal da Portela”. Depois chegaram em Paris o Fernando Cony Campos e Eloá, Luís Abramo e a mu-lher. Levando máquina 16 mm, tudo para fazer o fi lme do Oscar. Conseguimos fazer o fi lme todo... 50 mil dóla-res. Mas, na Europa, esse di-nheiro não é tanto como pa-rece. Seis pessoas! O fi lme foi fi cando interessante. Mas o Oscar tem uma visão do que é feito com ele, diferente. Ele gosta de tudo arrumadinho, ele detesta que se mostre uma arquitetura com gente dentro... Ele gosta de maque-tes. O mundo ideal para o Os-car seria um mundo de ma-quetes. E ele se atirou contra o fi lme, começou a dizer que ele estava barrigudo, depois começou a achar ruins meus planos feitos lá na França, na sede do Partido Comunista, e, assim, ele foi criando uma situação esquisita. Fernando e eu demos uma limpada no material, Mas em vez de um rolo bom, levaram uma parte muito ruim que o Oscar, infe-lizmente, detestou…

Mário, você tem quantos fi lhos ou fi lhas, netos...

Do meu casamento com Marília Carneiro, tive duas fi -lhas, Beatriz e Maria Isabel... sendo que Maria Isabel mor-reu com 27 anos num desatre. Dela, tenho um neto, que ho-je está com 26 anos, fazendo a PUC, fazendo mestrado. A Be-atriz tem duas meninas: a Ni-na, que está com 10 anos, e a Juju, que está com seis meses

– Julieta. As duas são lindas. Quando casei com a Hileana, a grande paixão de minha vida — minha mulher há vinte cin-co anos, a família dela come-çou a fazer parte da minha fa-mília. Então, tem Clarisse, mi-nha enteada muito querida, e suas duas fi lhas, Clara e Lia. São maravilhosas, minhas ne-tas até debaixo d’água. Agar-ram o avô, vovô pra cá, vovô pra lá. Não querem saber de outra coisa. Eu sou padrasto de uma e avô das outras. Então, tenho uma família grande.

E a vida boêmia? Você sabe que eu sempre

fui um boêmio mais ou me-nos tranqüilo. Nunca fui um boêmio muito agitado. Mas eu gostava muito de um fi m de noite. A gente saía por aí tomando uísque, encon-trava um, depois encontra-va outro... Esse tipo de coi-sa eu gostava muito. Nunca fui um boêmio como o Paulo César, boêmio de bar, não é? Eu sempre gostei de beber em casa, receber os amigos em casa, tomar uísque bom sem pagar uma fortuna. E, então, eu era boêmio “do lar”...

Diga uma coisa sua, uma frase bonita, alguma coisa...

Bonito é a gente estar vivo aqui até essa hora, numa boa. É uma grande alegria. E “ta-mos aí” para ver o que vai dar.

Quer dizer uma frase de um poeta?

Uma só. Eu gosto muito de poetas, mas não sei nem uma frase defi nitiva de nenhum. Eu gosto muito de Manuel Bandeira. “Em face de Ca-ronte, a pavorosa imagem do barqueiro da morte olhava em desafi o...” (Segundos de silêncio; risadas atônitas.)

Peraí, como é que é, mesmo?

[Repete]. É alguém que toma a barca da morte. A poesia se chama “A Barca da Morte”.

Isso é do Bandeira?!Bandeira.

“Em face de Caronte...”Caronte, o grego, lá...A pessoa olhava, encarava

a Morte.

Belíssima frase.É isso.

Mário, muito obrigado. Desculpe a gente te incomodar até esta hora.

É um prazer.

É que nós fi zemos isso porque gostamos de você.

Eu sei, Marinho. Imagine só: vocês não iam fi car até esta ho-ra aqui sem gostar de mim....

(Colaboram Nathalia Scer-ni e Hileana Menezes Car-neiro)

“Arraial do Cabo” – Curta metragem – co-realizador, co-produtor, co-roteirista com Paulo César Saraceni, diretor de fotografi a, seleção musical da banda sonora, montador.

“Porto das Caixas” – Longa metragem – di-retor de fotografi a (direção de Paulo César Saraceni).

“Garrincha Alegria do Povo” – Longa me-tragem – diretor de fotografi a e co-produtor (Joaquim Pedro de Andrade).

“O Padre e a Moça” – Longa metragem – diretor de fotografi a e cenógrafo (Joaquim Pedro de Andrade).

“Todas as Mulheres do Mundo”– Longa me-tragem – diretor de fotografi a (Domingos de Oliveira).

“Capitu” – Longa metragem – diretor de fo-tografi a (Paulo César Saraceni).

“A Casa Assassinada”– Longa metragem – diretor de fotografi a, montador e co-pro-

Filmografi a Alguns dos principais trabalhos de Mário Carneiro

dutor (Paulo César Saraceni).

“Gordos e Magros” – Longa metragem – co-produtor, roteirista e diretor.

“Di Cavalcanti” – Curta metragem – diretor de fotografi a (Glauber Rocha).

“Enigma de Um Dia” – Curta metragem20 min – diretor de fotografi a (Joel Pizzini).

“Memorial de Maria Moura” – Minissérie –16 epsódios – TV Globo – diretor de foto-grafi a (Denise Saraceni).

“Memória do Corpo, Ligia Clark” – Vídeo 25 min – diretor e roteirista.

“Iberê Camargo… Pintura, Pintura…” – Curta metragem – 16mm – roteiro, direção e fotografi a.

“Desejo” – Minissérie – 12 epsódios – TV Globo – direção de fotografi a (Wolf Maia).

“Viajante” – Longa Metragem – 1h40m – direção de fotografi a (Paulo Cezar Saraceni).

No alto, de pé, Mário Carneiro durante fi lmagem de “Garrincha”; abaixo, cena de “O Padre e a Moça”

Div

ulga

ção