baudelaire e o poema do haxixe

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Comparao com As Portas da Percepo e Cu e Inferno, de Aldous Huxley

Quase toda a crtica moderna concorda que Baudelaire inventou uma nova estratgia da linguagem. Erich Auerbach observou que sua poesia foi a primeira a incorporar a matria da realidade grotesca linguagem sublimada do romantismo. Nesse sentido Baudelaire criou a poesia moderna, concedendo a toda realidade o direito de ser submetida ao tratamento potico. Revolucionrio em seu prprio tempo. Revela-se, de um lado, o herdeiro do romantismo negro de Edgar Allan Poe e Grard de Nerval, e de outro o poeta crtico que se ops aos excessos sentimentais e retricos do romantismo francs.

O poema do Haxixe faz parte da obra Parasos Artificiais, uma obra especulativa e confessional. O ttulo do livro parte do conceito do autor de que o homem busca satisfaes momentneas para fugir da mediocridade existencial a que a grande maioria estava condenada, mesmo que o despertar daquele fugaz momento de xtase tivesse horrveis conseqncias.

interessante notar que, em sua descrio sobre os efeitos do consumo de drogas, Baudelaire permeia seus textos com inmeras expresses de cunho religioso, como "graa", "elevao", "foras espirituais" e "anglico". Segundo ele, o que cada um procura ao se valer de determinado entorpecente atingir o Nirvana, um estado de absoluta plenitude transcendental. De acordo com o escritor, o viciado termina por descobrir nas drogas "uma fonte de alegrias mrbidas", mesmo que recorrer a elas seja um paraso artificial, construdo ao custo da debilidade fsica e psquica do usurio.

Ainda ostentando um tom religioso, Baudelaire, que durante anos recorreu aos entorpecentes a fim de estimular sua inspirao, concluiu que deveria existir alguma espcie de "gnio malfico" que explicasse a inclinao do homem para cometer certos atos e pensamentos repentinos (conceito este que ainda reapareceria em diversos outros trabalhos do autor). A obra parcialmente inspirada nas Confisses de um comedor de pio (1822), de Thomas De Quincey; e nos Dirios ntimos -- que contm Fuses (notas escritas por volta de 1851) e Meu corao desnudo --, cuja primeira edio completa foi publicada em 1909.

Aborda as drogas, primeiro, de forma generalizada, e trata tambm da postura do homem do sculo XIX perante sua utilizao. Em seguida, ele particulariza, descrevendo o haxixe desde a sua origem, sem descuidar sequer de comentar a etimologia da palavra. "O teatro de Serafim", terceiro captulo do livro, traz uma ilustrao dos efeitos do haxixe por intermdio de trs narrativas que Baudelaire chama de anedotas. Essas narrativas correspondem s trs fases do efeito da droga.

1 fase: alegria alternadamente lnguida e pungente 2 fase: apaziguamento, frescor nas extremidades, sentidos apurados, possibilidade de parania. 3 fase: fome, sede, sonolncia, alucinaes que causam grande interesse pelos ambientes. De se notar que a ltima fase nada mais que o tema da "correspondncia entre as artes", carssimo a Baudelaire, e que serviu de base para a gerao de simbolistas franceses que o sucederam.

Depois de comentar de forma extraordinria a obra que escreve, o autor discute por fim a moral. Baudelaire troca ento as anedotas por um personagem nico, criado por ele para melhor explicar a questo moral: um indivduo viciado em haxixe que acredita ser Deus! Jean-Paul Sartre situou-o como prottipo de uma escolha existencial que teria repercusses no sculo XX, enquanto a crtica centrada nas relaes histricas, como a de Walter Benjamin, dedicou-se a examinar sua conscincia secreta de uma relao impossvel com o mundo social.

Publicado em 1954, descreve sua experincia com a mescalina, um alcalide extrado do peiote, um cacto mexicano. O ttulo da obra provm de uma clebre citao do poeta William Blake, "se as portas da percepo estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como : infinito. Baseado neste conceito, Huxley assume que o crebro humano filtra a realidade, no permitindo que todas as imagens e percepes que de fato existem cheguem at ele. Se tal fato no ocorresse, o processamento de tamanha informao seria simplesmente insuportvel.

Segundo o autor, as nicas formas de atenuar a existncia deste filtro e vivenciar o mundo como ele realmente seriam atravs do consumo de drogas, de prticas de jejuns prolongados e auto-flagelao e de perodos prolongados de silncio e isolamento. Com o intuito de verificar esta teoria, Huxley passa a ingerir, sob orientao mdica, doses de mescalina, LSD, psilocibina, entre outros entorpecentes. Sob o efeito destes txicos, sua principal impresso a de que os objetos do nosso cotidiano perdem a sua funcionalidade, passando a existirem "por si mesmos".

O espao e as dimenses tornam-se irrelevantes, pois a percepo se alarga de uma forma espantosa e humilhante, j que o ser humano assim percebe sua incapacidade de assimilar tantas impresses. Desse modo, Huxley elabora uma cartografia das reas no-mapeadas da conscincia humana, tratando da descoberta de uma tradio arcaica que a droga tornaria visvel: a semelhana entre a mente do homem e a realidade substancial do cosmos.

Ensaio posterior a As portas da Percepo, tambm trata da ingesto de mescalina, sob o ponto de vista de meio de conhecer antpodas da mente (reas desconhecidas, inconsciente). A mescalina altera a percepo, tornando conscientes coisas que o crebro ignora em seu estado normal por serem inteis a sobrevivncia (interfere, possivelmente, no sistema enzimtico, diminuindo a eficincia do crebro como vlvula reguladora de informaes percebidas).

Citao da obra Dirio de uma Esquizofrnica, como descrio do inferno na experincia visionria: existencialismo aterrador, claridade eltrica e implacvel, percepo muito apurada, sensao de estar ais presa ao corpo e condio. O exemplo utilizado para traar um possvel paralelo entre os efeitos de droga e os sintomas da esquizofrenia, especulando que o desequilbrio qumico que h em ambos os casos fosse semelhante. Mudanas na percepo: luzes e cores intensificadas, ampliao dos valores (significado puro), geometria (enxerga-se desenhos dentro de desenhos). Nos antpodas da mente estamos quase livres de linguagem e conceitos.

Componentes comuns nas experincias visionrias: pedras preciosas, vidro, paisagens. Interpretao em termos teolgicos e traduo artstica da experincia visionria.

Uso de drogas procura de uma espcie de paraso Busca do homem por diferentes percepes Temas/termos teolgicos Ligao do uso de drogas e da experincia visionria com a arte

FONTES: Coelho, Jacinto do Prado, DICIONRIO DE LITERATURA, 3. edio, 4. volume, Porto, Figueirinhas, 1979 Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicaes Ltda. Beatrix Algrave Bruno Fischer Dimarch O Gtico e as Sombras: comunicao no comunicada Programa de Ps-graduao em comunicao e semitica PUC-SP Leonardo Martinelli de Campos Mattos (Mestrando do Curso de Teoria Literria) Las Vegas na cabea e o Estranho Freudiano http://www.traca.com.br/?mod=LV153243&origem=resul tadodetalhada