baudelaire e benjamin: a literatura como lugar...

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1 BAUDELAIRE E BENJAMIN: A LITERATURA COMO LUGAR DE MEMÓRIA Franciele do Couto Grabowski 1 1 Estudante do curso de especialização “Patrimônio, memória e gestão documental”, pela Universidade Tuiuti do Paraná. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4239591J3.

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BAUDELAIRE E BENJAMIN: A LITERATURA COMO LUGAR DE MEMÓRIA

Franciele do Couto Grabowski1

1 Estudante do curso de especialização “Patrimônio, memória e gestão documental”, pela Universidade Tuiuti do Paraná. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4239591J3.

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RESUMO: Este artigo tem como intuito discutir o papel que a literatura assumiu para

dois autores, aproximando-os: o poeta francês Charles-Pierre Baudelaire (1821-1867)

e o filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940). Admitindo que uma reflexão sobre

a literatura nos dois autores citados demandaria um trabalho que não poderia estar

contido integralmente neste artigo, devido à extensão e complexidade do assunto,

propõe-se uma análise mais pontual: a compreensão da literatura como um “lugar de

memória”, através da comparação entre os textos “Réflexions sur quelques-uns de mes

contemporains” (1861) e “Les miserables, par Victor Hugo” (1862), de Baudelaire, e

dois textos do teórico Walter Benjamin, “O narrador” (1936) e “Experiência e

pobreza” (1933). Em ambos o literato, ou narrador, é descrito como alguém que

permitiria à sociedade a possibilidade de uma experiência autêntica da vida moderna,

através de uma narrativa que permeasse a memória/rememoração da própria

contemporaneidade do autor. Assim, através das análises dos textos, pretende-se

refletir sobre a relação entre memória e experiência, relação esta que atualmente é

considerada em extinção, embora vista como necessária.

Palavras-chave: Literatura. Memória. Charles Baudelaire. Walter Benjamin.

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RÉSUMÉ: Cet article a comme objectif discuter la fonction que la littérature a assumé

pour deux auteurs, s'en approchent : le poète français Charles Baudelaire (1821-1867)

et le philosophe allemand Walter Benjamin (1892-1940). En supposant que la

réflexion sur la littérature par les deux auteurs exigent un travail qui ne pouvait pas

être entièrement contenue dans cet article, à cause de la extension et la complexité du

sujet, nous proposons une analyse plus spécifique: la compréhension de la littérature

comme un «lieu de mémoire", en comparant les textes "Réflexions sur quelques-uns

de mes contemporains" (1861) et "Les miserables par Victor Hugo" (1862),

Baudelaire, et deux textes du théorique Walter Benjamin, "La narrateur" (1936 ) et

"L'expérience et la pauvreté" (1933). Dans tous les textes lá le narrateur est décrit

comme quelqu'un qui permettrait à société la possibilité de vivre une expérience

authentique de la vie moderne par un récit qui imprégnait la mémoire/remémoration de

la contemporanéité de l'auteur. Ainsi, en analysant les textes, il est destiné à réfléchir

sur la relation entre la mémoire et l'expérience, une relation qui est maintenant

considéré comme en extinction, mais considéré comme nécessaire.

Mots-clés: Littérature. Mémoire. Charles Baudelaire. Walter Benjamin.

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1. INTRODUÇÃO

Constituir-se como indivíduo requer rememorar ações, fatos, pois funda-se

como princípio de nossa existência. Mas, diante do imperativo da memória na qual os

cientistas sociais proclamam uma tarefa ética do lembrar-se, muitas vezes no âmbito

individual há um desejo pelo esquecimento. Talvez, não propriamente um

esquecimento deliberado, na esfera psíquica, mas um esquecer que se presta a criação

individual perante a sociedade, aos pares. Através das relações, podemos ressaltar

aspectos de nossa existência, ou omitir outros. Certo é que isso não implica em uma

regra devido a questões simples: vínculos familiares e circuitos sociais de convívio,

por exemplo, corroboram para que nosso ser eternize-se em uma imagem, em um

determinado lugar e em um determinado tempo. Continuamente nos deparamos com

nosso passado, seja quando indagados sobre quem somos, ou durante autorreflexões,

que tendem a recuperar o repertório de nossa vida para nossa própria identificação aos

questionamentos do presente. Assim, este posicionar-se perante o mundo demanda

algo mais do que rememorar: como a história, a memória não deixa de ser uma

construção narrativa, conforme Sandra Jatahy Pesavento2.

Sobre a memória e o esquecimento o autor alemão Friedrich Nietzsche (1844-

1900) escreveu duas obras: II Consideração Intempestiva: Sobre a Utilidade e os

Inconvenientes da História para a Vida, escrito em 1874; e o segundo ensaio da

Genealogia da Moral, escrito em 1887. Neste último texto, o filósofo alemão analisou

as condições sociais nas quais a memória seria gerada, sustentando a hipótese de que a

memória não é um atributo ou capacidade isolada de um indivíduo, mas uma

construção social. Assim, toda memória é memória social, e Nietzsche afirmou que a

construção da memória decorre de um processo violento, uma vez que o homem

inicialmente age movido por forças espontâneas e impulsivas: as forças do

esquecimento. Em decorrência desta memória, enquanto atributo humano

desenvolvido através de marcas em seu corpo, o homem experiencia sentimentos que o

colocam em sofrimento consigo mesmo, como por exemplo: a consciência de culpa ou 2 PESAVENTO, Sandra Jatahy. Palavras para crer. Imaginários de sentido que falam do passado. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, Debates, 2006, p. 2. Disponível em: http://nuevomundo.revues.org/1499. Acesso em: 16 jul. 2012.

5

“má consciência” e o ressentimento3. Para Nietzsche, o excesso de memória paralisa a

vida. Mesmo que o filósofo não tenha postulado um esquecimento total, seria

necessário que a memória fosse suspensa, em determinados momentos, de forma

momentânea. Pois, ao esquecer, torna-se possível a alegria, a jovialidade, a afirmação

do tempo presente.

No texto da II Consideração Intempestiva, este problema é tratado a partir das

análises da história, aparecendo sob os termos do “histórico” e do “a-histórico”. Nesta

obra, Nietzsche realiza uma crítica ao historicismo de sua época, dominado pelo

racionalismo moderno, denunciando o excesso de conhecimento histórico como uma

doença da modernidade. O homem moderno volta-se para o excesso de conhecimento

histórico ao buscar compreender racionalmente o real, de modo a se afastar cada vez

mais, da ação e da vida. Ou seja, ao tomar a vida como o principal critério de

avaliação, Nietzsche pensa a hegemonia da ciência histórica como uma negação da

vida, segundo a qual o esquecimento seria um problema porque colocaria em risco a

razão, princípio fundamental do conhecimento. Contudo, diante desta necessidade do

lembrar-se, o homem nada criaria, porque está preso às grades da racionalidade que o

impele apenas à compreensão imediata do real. Daí o perigo da história para

Nietzsche: mumificar a vida. A história “compreende a vida só para conservá-la, não

gerá-la; por isto, ela sempre subestima o que devém porque não tem nenhum instinto

para decifrá-lo”4, impedindo o surgimento do novo enquanto tal. Nietzsche

diagnosticou no fim do século XIX os abusos da memória como um dos sintomas do

ressentimento. Por sua vez, Jeanne-Marie Gagnebin afirma que tanto em Nietzsche

como em teóricos como Freud, Adorno e Ricoeur, pode-se vislumbrar a defesa de um

lembrar ativo: elaboração e luto em relação ao passado, a fim de compreender e

esclarecer tanto o passado como o presente5.

A tensão entre memória e esquecimento pode ser analisada em uma

reportagem veiculada pela rede de notícias BBC News, acerca da emblemática

memória de guerra dos descendentes dos nazistas que durante a Segunda Guerra 3 NIETZSCHE, Friedrich W. Genealogia da Moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 50-51. 4 NIETZSCHE, Friedrich W. Segunda Consideração Intempestiva. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003, p. 29. 5 GAGNEBIN, Jeanne-Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006, p. 105.

6

Mundial foram responsáveis por atrocidades. O receio do passado fez calar alguns dos

filhos e netos de nazistas que participaram do holocausto judeu. Muitos desses

descendentes dos nazistas não compartilhavam a história de suas vidas pois sentiam

vergonha e uma mea culpa posta pela consanguinidade. Esses ou não possuíam acesso

à história de seus antepassados durante a Segunda Guerra Mundial, ou preferiam não

detalhar os fatos a fim de evitar os traumas e a condenação social. Por outro lado,

muitos desses descendentes retomaram o passado de suas famílias com o objetivo de

superar o trauma. Katrin Himmler, sobrinha-neta de Heinrich Himmler, escreveu o

livro The Himmler Brothers: A German Family History6, uma tentativa legar algo

positivo para o nome Himmler, e se distanciar do legado nazista7.

À parte dessa discussão sobre memória, este artigo objetiva uma reflexão mais

específica: a memória na literatura para o oitocentista Charles-Pierre Baudelaire, e o

novecentista Walter Benjamin. Apesar das diferenças entre os autores, o intuito será de

aproximá-los por meio da afirmação da literatura como lugar de memória, e

consequente espaço de experiência. Isso porque, percebe-se entre os escritos deles uma

semelhança ao instituir a escrita como um lugar no qual haveria uma potencialidade

para instigar a reflexão. Essa provocação à reflexão, contudo, não se resignou à relação

literatura e sociedade, de um modo direto e simplista, como se a escrita tivesse o

objetivo de ser uma cópia da realidade. Sobretudo para Baudelaire, haveria uma

potencialidade encerrada na arte justamente porque há uma equiparação entre o fazer

artístico e a crítica. Assim, e como ponto central, os escritores deveriam abarcar na

escrita uma reflexão sobre sua própria temporalidade, enquanto consciência da vida

contemporânea. A reflexão crítica do escritor para com o seu próprio tempo seria um

relato pautado, sobretudo, por meio da imaginação criadora, necessária para todo ato

criador, mas também por meio da memória – memória esta do seu próprio presente,

como uma testemunha ocular. Segundo Jeanne-Marie Gagnebin, Benjamin denotou

6 Há uma versão em português do livro, traduzido em Lisboa. Segue a referência: HIMMLER, Katrin. Os irmãos Himmler: história de uma família alemã. Lisboa: Caleidoscópio, 2008. 7 Conforme reportagem da BBC News, gravada em Março de 2012. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120523_nazistas_filhos_fn.shtml. Acesso em: 4 de Julho de 2012. Embora esta não seja a problemática do artigo, acredito que o exemplo é viável a medida que nos impõe rememorar a Segunda Guerra Mundial, fato emblemático e que ainda possui desdobramentos.

7

em Baudelaire escrita e consciência do tempo como dados indissociáveis da escritura8.

Este mesmo princípio pode ser vinculado aos textos teóricos de Benjamin, quando este

postula os conceitos de experiência. Em ambos percebemos uma reivindicação quanto

à constatação da fratura da memória na experiência.

A fim de aprofundar a discussão citada, propõe-se uma leitura comparada

entre dois textos de Baudelaire, “Réflexions sur quelques-uns de mes contemporains” e

“Les Miserables, par Victor Hugo”9, e dois textos de Benjamin: “O narrador”, e

“Experiência e pobreza”10. Reconhecido como o maior crítico literário das obras de

Baudelaire, o teórico alemão explicita uma defesa análoga à proposta do poeta francês,

ao discorrer sobre a perda da transmissão da experiência pela sociedade.

Assim, parte-se da ideia de que em Baudelaire e em Benjamin, a literatura

oferece uma perspectiva sobre a sociedade, além de partilhar experiências, insuflando

os leitores a crítica da sua própria realidade. Contudo, a memória em Baudelaire e em

Benjamin distancia-se de uma nostalgia pelo passado, pois refere-se a uma memória

advinda de uma experiência autêntica, uma memória reflexiva sobre as ações

temporalmente próximas do sujeito. A literatura propicia uma experiência que tende a

criar o sentido das coisas, afirmando-se pela reflexão, pela crítica, e instituindo uma

memória no intuito ser uma resposta àquilo que seria estéril da vida moderna. A

narrativa enseja a perpetuação e a disseminação daquilo que é dito, ou melhor, escrito.

A escrita plastifica o pensamento, e de certa forma, o conserva na eternidade. Os

textos tendem a ultrapassar fronteiras físicas e temporais, e conseguem alastrar-se

como uma inscrição que tende a perdurar, embora sua fragilidade mostre-se como uma

possibilidade imanente. A arte, em geral, tende a ser uma manifestação que objetiva

8 GAGNEBIN, Jeanne-Marie. Sete aulas sobre linguagem, memória e história. Rio de Janeiro: Imago, 1997, p. 141. 9 Utilizaremos os textos no original, publicados em: BAUDELAIRE, Charles. Oeuvres complètes de Charles Baudelaire, Volume: Quelques-uns de mes contemporains: L’Art romantique, Editeur M. Jacques Crépet, Paris, 1925. Utilizamos o texto em francês, mas há uma versão das obras completas de Baudelaire traduzida em português: BAUDELAIRE, Charles-Pierre. “Reflexões sobre alguns de meus contemporâneos”, IN: Poesia e prosa: volume único/Charles Baudelaire. (Org. por Ivo Barroso). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. 10 Para os textos de Benjamin, optamos por utilizar as versões traduzidas, publicadas em: BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura (Trad. Sérgio Paulo Rouanet). São Paulo: Brasiliense, 1985.

8

uma crítica à sociedade e as transformações desta. E neste artigo, em específico, por

meio de uma narrativa que assume uma potencialidade pois embasada na memória11.

Embora a problemática deste artigo proponha um ponto em comum entre os

dois autores, deve-se ressaltar algumas especificidades. Benjamin foi explícito ao

enfatizar a fragmentação da memória na sociedade da sua época - pós Primeira Guerra

Mundial, espectador da ascensão dos partidos nacionais-socialistas na Europa, e

perseguido no início da Segunda Guerra Mundial pelo fato de ser judeu. Já Baudelaire

protagonizou a ascensão do capitalismo e a latente mudança social parisiense

oitocentista.

Ainda que a discussão sobre a comparação entre história e literatura não seja

manifesta nas fontes analisadas, está latente nos atuais debates, principalmente entre os

historiadores. Conforme Ricoeur, a literatura assume um lugar de memória

privilegiado pois a escrita enseja não apenas a perpetuação de um tempo, apresentando

uma função cognitiva, conforme Ricoeur, mas antes instiga a reflexão do próprio

presente do qual se escreve1. Para Ricoeur, em Tempo e Narrativa (tomo III), história e

literatura trabalham com a narrativa, e recorrem às mediações imaginárias na

reconfiguração do tempo; daí a justificativa dos empréstimos tomados à literatura pela

história, pois ambas reconfiguram um passado. Na história, a reconfiguração é

legitimada pelos dados fornecidos pelo passado, além de critérios exigentes e

científicos do método, que lhes garantem credibilidade e verossimilhança. À literatura,

por sua vez, permite-se maior liberdade e amplitude, uma vez que não está

condicionada à exigência das fontes. Ambas, portanto, concorrem, pelo mesmo

processo narrativo, para a construção da memória, refigurando uma realidade12. E

11 Há, contudo, algumas ressalvas quanto a esta afirmação. Tanto Baudelaire como Benjamin, criticaram alguns movimentos artísticos. Baudelaire criticou o classicismo artístico da sua época, sobretudo Ingres; e Benjamin criticou algumas práticas artísticas definidas “burguesas”. Sobre isso, sugiro a leitura dos textos de crítica de arte de Baudelaire, sobretudo o ensaio “O pintor da vida moderna” (1863), e os textos “O autor como produtor” (1934) e o texto “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica” escrito entre 1935 e 1936. 12 RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. Tomo III. Campinas: Papirus, 1997. Embora tenha-se aludido à Ricouer, suas considerações sobre o entrecruzamento entre história e literatura possuem mais considerações. Inserimos esta passagem no artigo para pensar como tanto a narrativa histórica como a narrativa ficcional é relevante para um sentido de retratar o mundo, embora cada qual possua suas diferenças. Sobre essas, Ricoeur menciona a questão do referente e do significado, da imaginação, dos objetivos, e da constituição do fazer de cada narrativa, embora este fazer apresente muitas

9

nesse sentido, a narrativa de Baudelaire e Benjamin são sintoma e conhecimento de

uma época -, enquanto produto de uma experiência.

2. MEMÓRIA PARA BAUDELAIRE

A imagem disseminada do poeta Charles Baudelaire nos parece contraditória

ao afirmar que a narrativa tende à perpetuação. Tal incoerência pode ser resultado do

que Susan Buck-Morss afirmou quanto à Baudelaire ter vivido profundamente seu

posicionamento, contudo sob a “imagem petrificada”; um desassossego constante que

se torna resignação, e não se desenvolve13, mesmo que o poeta pretendesse interromper

o curso do mundo14. Seria esta vontade, motivada através do que Georges Bataille

denominou de “estado de alma obstruído do poeta”, que assumia e sofria sem defesa

uma fascinação incapaz de satisfazer15. Mais do que um estilo poético marcadamente

crítico às ideias cultuados da sua época, o poeta apresentou em seus textos alguns

direcionamentos que almejam na arte uma vista panorâmica da própria sociedade da

qual pertenceu.

Dentre alguns de seus direcionamentos, podem-se notar em Baudelaire critérios

para a compreensão da literatura, e da própria ideia de arte: a memória e a imaginação

criadora. Nos dois textos de crítica literária propostos neste trabalho, “Réflexions sur

quelques-uns de mes contemporains”, publicado na Revue Fantaisiste, em 15 de junho

de 1861; e “Les miserables, par Victor Hugo”, publicado em Le Boulevard, em 20 de

abril de 1862, os dois conceitos não são enfaticamente abordados, mas estão

subjacentes à defesa de um tipo ideal de escritor, segundo Baudelaire. Primeiramente,

cabe ressaltar o caráter e a estrutura das narrativas dos textos citados.

semelhanças. Assim, as obras de Paul Ricoeur oferecem considerações bem fundamentadas quanto à relação entre história e literatura. 13 BUCK-MORSS, Susan. Dialética do olhar. Walter Benjamin e o projeto das Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG; Chapecó/SC: Editora Universitária Argos, 2002, p. 240. 14 Ibid., p. 241. 15 BATAILLE. Georges. “Baudelaire”, IN: A literatura e o mal. Lisboa: Ulisseia, 1957, p. 65.

10

“Réflexions sur quelques-uns de mes contemporains” refere-se à escrita de 10

artigos sobre 10 autores contemporâneos de Baudelaire: Victor Hugo, Auguste

Barbier, Marceline Desbordes-Valmore, Théóphile Gautier, Pétrus Borel, Hégésippe

Moreau, Théodore de Banville, Pierre Dupont, Leconte de Lisle, Gustave Levavasseur.

Publicados em 1861, a encomenda possuía como objetivo a escrita de críticas

literárias. No entanto, a estrutura dos textos de crítica de Charles Baudelaire

diferencia-se sobremaneira dos textos atuais de crítica: os textos deste gênero na época

equivaliam à observação do “la méthode dont l’auteur s’est servi pour mettre en

lumière les vérités dont il s’est fait le serviteur”16. Assim, não encontramos nestes

textos críticos uma análise material, mais técnica e analítica da obra do artista. Antes,

para todos os literatos que Baudelaire dedicou um texto, houve a exaltação do escritor

quando na correspondência ao ideário artístico do poeta francês, sempre de modo a

reiterar as convicções artísticas essencias para aquilo que Baudelaire denominava

como arte.

Afim de esmiuçar a análise sobre esse ideário, cabe destacar alguns pontos

emblemáticos do contexto oitocentista parisiense do poeta. Sobre isso, escreveu Marco

Antônio de Menezes:

A sociedade até então “estável” vai, no século XIX, lançar abruptamente o indivíduo numa vida desprovida de valores. Este novo mundo que começa faz o homem sentir uma mistura de estupefação e horror, uma sensação de decadência, decomposição e morte. Há um grande desespero perante a vida, cujo sentido não se consegue perceber. É um clima sombrio, carregado de ódio e tristeza. Os homens vêem sua existência interior e exterior desmoronar e, ao mesmo tempo, não conseguem se localizar no novo mundo exterior. Esta perdição é a grande tragédia da época17.

O autor termina este trecho do artigo enfatizando o profundo desespero

imposto ao indivíduo por uma realidade do caos, que o força a adaptar-se aos novos

movimentos abruptos e irregulares. O caos emerge daí: cada pessoa movimentando-se,

16 Tradução livre da autora: “o método que o autor se serviu para trazer à luz as verdades de que se fez servidor”. Cf.: BAUDELAIRE, Charles-Pierre. “Les miserables, par Victor Hugo”, In: Oeuvres complètes de Charles Baudelaire, Volume: Quelques-uns de mes contemporains : L’Art romantique, Editeur M. Jacques Crépet, Paris, 1925, p. 399. 17 MENEZES, Marco Antônio. de. A dessacralização da vida e da arte no século XIX. História: Questões & Debates, Curitiba, Editora UFPR, n. 39, 2003, p. 222.

11

segundo uma individualidade racionalizada, mas integrando um espaço social comum.

Esta nova relação com o tempo e espaço experimentado por homens e mulheres do

contexto, lançou a sociedade no turbilhão emergente das novas condições sociais

impostas pela urbanização, tanto estrutural como psicológicas.

O poeta de Les fleurs du mal percebeu a contradição existente na sociedade -

as mudanças possibilitaram certa liberdade de locomoção nas ruas parisienses e nos

espaços públicos, todavia, sob um regime mais controlado de repressão velada e de

opressão política. Essa mobilidade, não obstante, deflagrou em situações conflituosas:

a possibilidade da observação de tudo por todos não garantia a acessibilidade. Sob uma

ordem capitalista, a liberdade de transitar pela cidade era aclamada como possível a

qualquer pessoa, mas efetivamente os espaços eram frequentados por classes mais

abastadas.

Essas mudanças, acarretadas por uma ordem econômica capitalista, impunham

ao indivíduo uma luta solitária, em diversas ramificações da vida. Para Walter

Benjamin, o século XIX está imbuído do espírito burguês: “As exposições universais

são os lugares de peregrinação da mercadoria como fétiche”18. Até mesmo a arte e o

artista estariam submetidos à economia capitalista, e Menezes destaca que esta

submissão da arte ao mercado teve como consequência a dessacralização da esfera

artística, o declínio do halo, da aura.

Baudelaire estava ciente de que a arte não estava mais na esfera do sagrado e

que ela poderia nascer em qualquer lugar, até mesmo nas ruas, em meio ao lixo e a

degradação. Ele reconheceu a transformação da palavra em mercadoria, e do poeta em

operário das letras. No entanto, essa constatação sobre o deslocamento do lugar da arte

não implicou em crítica. Ao invés de apresentar uma postura conservadora de

enaltecimento de um ideal sagrado desta, o poeta mostrou-se insatisfeito com a perda

de sentido imposto pela fragmentação do mundo. O sujeito histórico submete-se as

regras da dinâmica social, o que implica num “esvaziamento” crítico e em ausência de

revolta para mudanças estruturais. Se Bataille afirmou que Baudelaire viveu sob a

vontade perturbada pela impossibilidade de realização devido à situação histórica, o

18 BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo - Obras Escolhidas III. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 43.

12

estudioso Dolf Oehler encontra um Baudelaire mais vigoroso diante da vida, e da

defesa de suas verdades. A interpretação de Oehler sobre os escritos de Baudelaire

afirma que a resistência dele pode ser entendida como motim-de-um-homem-só,

constituindo o que denominou “estética antiburguesa”. Conforme Oehler,

a estética pressupõe que o artista/escritor oriente a sua estratégia do público inteiramente pela burguesia, no sentido de que esta é ao mesmo tempo destinatária – a obra será como que “maquiada” para ela – e alvo – se possível, sem que ela própria o perceba dentro da tradição da crítica literária à burguesia, tornando-se o agente secreto conspirador19.

Ou seja, para Oehler a escrita de Baudelaire propunha tensionar e incitar

sublevações, ainda que de forma menos direta como ocorria em determinadas

manifestações, panfletos políticos ou caricaturas satíricas como as de Daumier, ou

ainda como outros textos que se destinavam a ataques à realeza. No entanto, a

radicalização investida por Oehler é conveniente à figura de um Baudelaire demasiado

otimista e convicto dos objetivos e pretensões, propósito este que procuramos não

legitimar neste artigo20.

Ao discutir as contribuições desse autor para a compreensão da ideia de

modernidade, o norte-americano Marshall Berman destacou nos escritos de Baudelaire

as contradições líricas proporcionadas pela vida moderna. Essas contradições, segundo

ele, tiveram como consequência duas posturas distintas na escrita do poeta, intituladas

como pastoral e antipastoral, decorrentes do trauma que o fracasso de 1848

instaurou21.

19 OEHLER, Dolf. Quadros parisienses (1830-1848): estética antiburguesa em Baudelaire, Daumier e Heine. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 15. 20 Para Dolf Oehler a ironia que perpassa a obra de Baudelaire representa uma postura revolucionária político-social demasiadamente subjugada a uma proposta política. Ao avaliar o potencial social-revolucionário da modernidade Oehler subverte a estética de Baudelaire alusivamente a uma retórica emancipatória. No entanto, defendemos uma leitura mais aberta dessa ironia de Baudelaire, demonstrando a própria contradição e o conflito do poeta quando em vida. 21 Apesar da ênfase nas manifestações de 1848, não faremos uma reconstituição dos fatos, mas sim, propomos correlacionar como as ideias revolucionárias das décadas das décadas de 1830 e 1840 marcam a crítica na literatura de Baudelaire. Segundo Dolf Oehler haveria uma intrínseca relação entre modernidade literária e os auspícios políticos revolucionários de 1848, pois a literatura e os literatos estavam envolvidos com o sonho da revolução. Política e literatura uniram-se, e os literatos criticavam uma literatura que diziam ser conformista, a medida que estes literatos preocupavam-se apenas com sua própria lira. Cf.: OEHLER, Dolf. O velho mundo desce aos infernos: auto-análise da modernidade após o trauma de Junho de 1848 em Paris. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 14-16.

13

Segundo Berman, no prefácio “Aux bourgeois”, presente no texto Salon de

1846, Baudelaire fez uma resenha crítica das novas formas de arte do seu período,

construindo o que Berman denominou como uma imagem “pastoral” na celebração da

inteligência, da criatividade e da vontade dos burgueses, ressaltando seu desejo pelo

progresso. A “pastoral” de Baudelaire enaltece não só os atores dominantes da

modernidade, mas também a própria vida moderna, construída com imagens brilhantes

em que surgem como um espetáculo. O oposto dessa afirmação ocorreu após 1848,

com a visão “antipastoral”. Para Berman, esta mudança apresenta-se no ensaio de

Exposition Universelle (1855), no qual o progresso e a vida moderna são repudiados

pois suprimem a liberdade e desobriga os homens de deveres e responsabilidades. A

ideia de progresso passa a ser compreendida como um sintoma da decadência, pois

responsável pelo desencadeamento uma confusão entre a ordem material e a ordem

espiritual, fazendo com que o homem perca a noção das diferenças que separam os

fenômenos dos mundos físico e moral, natural e sobrenatural22.

Uma relação intensa com o contexto parisiense, tanto, que uma das temáticas

que percorre a totalidade da sua obra é a cidade: as ruínas daquilo que foi, e a ascensão

do novo primado. E mais, as relações sociais decorrentes das mudanças, muitas das

quais lhe causou um mal-estar. É nesse sentido que compreendemos a literatura, e a

própria arte, não como uma redenção para Baudelaire, mas como a possibilidade de

um apaziguamento através de um ato de resistência. O literato/artista moderno

representaria o “herói” baudelairiano, o decodificador da vida cotidiana sob as

aparências imagéticas. Diante da constatação de que as mudanças acarretaram uma

perda de experiência autêntica, o artista, embasado na atitude crítica, libertaria o

presente em imagens do “agora”; movimento este que por si, oferece aos indivíduos –

ao leitor, ao público, tão caros à Baudelaire – resistência à coação da modernidade do

século XIX na França.

O próprio conceito modernitè23, formulado por Baudelaire em seu texto Le

peintre de la vie moderne, abarca uma reflexão sobre sua própria temporalidade,

22 BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 130. 23 Este conceito é central para muitos estudos sobre Charles Baudelaire. Sobre isso, pode-se ler o trabalho monográfico da autora, intitulado “Baudelaire: um crítico de arte”, apresentado em 2010 na

14

enquanto consciência da vida contemporânea. A reflexão está pautada, sobretudo, por

meio da imaginação criadora, necessária em toda criação artística, mas também por

meio da memória. Segundo Jeanne-Marie Gagnebin, Benjamin percebe em Baudelaire

escrita e consciência do tempo como dados indissociáveis da escritura24. A

modernidade de Baudelaire implica na retomada do passado através da compreensão

histórica, interrompendo a imediatez do circuito de apreensão deste passado. Disso

decorre a importância do conhecimento do passado para a ruptura, ou melhor, para

ajustar a atualidade das condições existenciais25. Nesse sentido, podemos correlacionar

esta afirmação à renúncia de Baudelaire quanto à imitação da realidade na arte,

viabilizando nesta a sensação do novo através da atualização do passado para a

compreensão do presente, princípio próprio da concepção de arte do poeta.

Baudelaire atribuiu ao artista uma capacidade de observar tudo ao seu redor,

mas também de conseguir expressar-se. Segundo Michel Foucault a modernidade

proposta em Baudelaire não significa apenas a consciência da ruptura com a tradição,

uma consciência do tempo e a abertura para o novo, aceitando este movimento; mas

“assumir uma determinada atitude em relação a esse movimento; e essa atitude

voluntária, difícil, consiste em recuperar alguma coisa de eterno que não está além do

instante presente, nem por trás dele, mas nele”26. Interessa-o, antes de qualquer coisa o

questionamento do seu presente. Michel Foucault e Willi Bolle denotam pontos de

aproximação entre uma atitude moderna postulada por Baudelaire com a concepção do

Aufklarung em Kant. Bolle menciona que a poesia como autorreflexão reatualiza o

gesto crítico do Aufklãrung. O autor menciona como a modernitè em Baudelaire

fundamenta-se na atitude básica da crítica, um gesto autorreflexivo27.

Através da obra filosófica de Kant, o conceito de crítica adquiri, para a geração mais nova, um significado quase mágico. Deixando de ser uma atitude intelectual apenas julgadora, não produtiva, a “crítica”, para os

Universidade Federal do Paraná. Disponível em: http://www.historia.ufpr.br/monografias/2010/2_sem_2010/franciele_couto_grabowski.pdf. Acesso em: 17 jul. 2012. 24 GAGNEBIN, Jeanne-Marie. Baudelaire. Op. cit., 1997, p. 141. 25 Ibid., p. 77. 26 FOUCAULT, Michel. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. 2º ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005, p. 342. 27 BOLLE, Willi. Fisiognomia da metrópole moderna: representação da História em Walter Benjamin. 2º ed., São Paulo: Edusp, 2000, p. 158.

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românticos e a filosofia especulativa, significava: “produtividade objetiva”, “reflexão criativa”28.

Esse gesto autorreflexivo se definiria como uma resistência à desfragmentação

do mundo. Nesse sentido, a questão da memória mostra-se como fundamento para a

escrita, pois se basearia no testemunho do autor sobre seu próprio tempo, e por isso,

uma forma de resistir. A relação entre testemunho e narrativa, contudo, não implica na

defesa da preponderância histórica ou dos fatos em detrimento da literatura, e nem de

uma relação imbricada entre história e literatura. Pelo contrário. Há uma diferença

pontual entre as duas, e quando Baudelaire escreveu sobre o literato Victor Hugo,

reconheceu no poema épico deste, “La légende des siècles”, uma aproximação entre

história e poesia:

Excepté à l’aurore de la vie des nations, où la poésie est à la fois l’expression de leur âme et le répertoire de leurs connaissances, l’histoire mise en vers est une dérogation aux lois qui gouvernent les deux genres, l’histoire et la poésie; c’est un outrage aux deux Muses. Dans les périodes extrêmement cultivées il se fait dans le monde spirituel une division du travail qui fortifie et perfectionne chaque partie; et celui qui alors tente de créer le poëme épique, tel que le comprenaient les nations plus jeunes, risque de diminuer l’effet magique de la poésie, ne fût-ce que par la longuéur insupportable de l’oeuvre, et en même temps d’enlever à l’histoire une partie de la sagesse et de la sévérité qu’exigent d’elle les nations âgées29.

A memória para o poeta-crítico proporcionaria uma representação do mundo

capaz de fornecer as armas para o combate que se trava no plano humano ou, no plano

poético30. A memória possibilitaria uma decodificação dos signos do presente, pois o

ato de retomar o passado nos exige refletir sobre ele. Além desse olhar do artista sobre

o passado, haveria ainda o horizonte que o poeta denotou como “imaginação criadora”,

pois a arte implica no alcance do Belo. Conforme Baudelaire, o gênio artístico possuía

28 SCHLEGEL ap. BOLLE, op. cit. p. 158. 29 Tradução livre da autora: “Exceto na aurora da vida das nações, quando a poesia é ao mesmo tempo a expressão da alma destas e seu repertório de conhecimentos, a história posta em verso é uma derrogação das leis que governam os dois gêneros, a história e a poesia; é um ultraje às duas Musas. Nos períodos extremamente cultivados faz-se, no mundo espiritual, uma divisão de trabalho que fortalece e aperfeiçoa cada parte; e aquela que tenta criar o poema épico, tal como o compreendiam as nações mais jovens, arrisca-se a dimininuir o efeito mágico da poesia, quando mais não seja pela insuportável extensão da obra, e ao mesmo subtrair da história uma parte da sabedoria e da severidade que as nações maduras dela exigem”. Cf. BAUDELAIRE, Charles. Op. cit., p. 327. 30 Ibid., p. 68.

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uma sensibilidade espiritual que, “através da faculdade suprema da imaginação

intuísse “en dehors des méthodes philosophiques, les rapports intimes et secrets des

choses, les correspondances et les analogies”31.

A criação de um mundo novo e de uma nova sensação seria viável através da

imaginação, e Baudelaire associa esta faculdade ao ato religioso da criação. Ela

decompõe toda a criação e, com os materiais acumulados e dispostos segundo regras

cuja origem só pode ser encontrada nas profundezas da alma cria um mundo novo.

Para o poeta, através da imaginação a verdade seria atingida; mas isto requeria uma

execução precisa e rápida da composição afim de que nada se perdesse da impressão

da cena, recorrendo à memória para a execução da obra. Segundo Baudelaire, a

natureza atuava como se fosse um dicionário, e os pintores que obedecem à

imaginação procuram em seus dicionários os elementos que se harmonizam com suas

concepções32. A imaginação não dá aos objetos uma fisionomia completamente nova,

mas a contemplação relaciona-se com o sentir e o pensar do artista. E assim, uma

manifestação artística potencial consideraria o universo visível como um armazém de

imagens e de signos para os quais a imagem atribuiria um lugar e um valor relativos;

cabendo ao artista iluminar e atribuir sentido à sua composição. O imaginar não

representa incoerência, desordem, mas está imerso numa cadência que exalta a lógica

da criação. A imaginação constrói-se, se elabora até tornar-se um sistema que atribui

sentido à existência, e permite reunir as realidades dispersadas. Este seria o processo

intelectual, interior da criação, comprometido com o exterior, um olhar distanciado. O

artista seria o responsável por completar e reencontrar cada ideal no mundo da arte,

reconstituído e restituído pelo pincel ou pelo cinzel. Baudelaire insistiu que o artista

moderno seria aquele que conseguiria uma experiência autêntica com o mundo,

decifrando sinais e imagens, e libertando os objetos.

Escreveu Baudelaire no excerto “Le Palimpseste”, no livro Les Paradis

Artificiels:

31 Tradução livre da autora: “para fora dos métodos filosóficos, as relações íntimas e secretas das coisas, as correspondências e analogias”. Cf.: BAUDELAIRE, Charles. 1821-1867. As flores do mal: edição bilíngüe / Charles Baudelaire; tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. – 1ª edição especial -. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006 (40 anos, 40 livros), p. 85. 32 Ibid., p. 807.

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Qu’est-ce que le cerveau humain, sinon um palimpseste immense e naturel? Mon cerveau est um palimpseste et le votre aussi, lecteur. Des couches innombrables d’idées, d’images, de sentiments sont tombées successivement sur votre cerveau, aussi doucement que la lumière. Il a semblé que chacune ensevelissait la precedente. Mais aucune en réalité n’a péri33.

Assim, ao emular o funcionamento oculto da sociedade, o literato consegue

desmistificar as relações, cujo cunho testemunhal estético e crítico, conseguiria

traduzir a sociedade, valendo-se do seu olhar imbuído de memória.

3. MEMÓRIA PARA BENJAMIN

Reconhecido como o maior crítico literário das obras de Baudelaire, nos textos

“O narrador” e “Experiência e pobreza” o filósofo alemão Walter Benjamin explicita

uma discussão análoga à proposta de Baudelaire, ao vislumbrar mudanças quanto à

transmissão e o intercâmbio de experiências sociais.

O texto “O narrador” foi escrito entre 1928 e 1935, e publicado em 1936, pela

revista suíça Orient und Okzident34 como ensaio de apresentação do escritor russo

Nikolai Leskov. O pequeno ensaio “Experiência e Pobreza” foi publicado em 1933, e

basicamente diagnostica um declínio da experiência (em alemão Verfall der

Erfahrung35). Para Jeanne-Marie Gagnebin, os textos de Benjamin em 1930 são

relevantes para o que denomina de “arqueologia da modernidade”, e se relacionam

intimamente entre si devido ao contexto da escrita, o período entre guerras: Esta “arqueologia da modernidade” que os ensaios sobre Baudelaire e o livro inacabado das Passagens se propõem a descrever, Benjamin já tinha começado a fundamentá-lo em toda sua reflexão anterior a respeito do declínio da experiência no sentido pleno da Erfahrung, e, conjuntamente, do fim da narração tradicional. Esse tema, que o preocupa desde seus primeiros

33 Tradução livre da autora: “O que é o cérebro humano senão um palimpsesto imenso e natural? Meu cérebro é um palimpsesto e o seu também, leitor. Inúmeras camadas de ideias, de imagens, de sentimentos caem sucessivamente sobre seu cérebro, tão docemente como a luz. Pareceu que cada uma sepultava a precedente. Mas nenhuma, na realidade, pereceu.” Cf.: BAUDELAIRE, Charles-Pierre. Les Paradis Artificiels. Paris: Librio, 2005, p. 113. 34 Tradução livre da autora: Oriente e Ocidente. 35 Neste artigo será recorrente utilizarmos algumas expressões em alemão: Erfahrung (experiência autêntica), Erlebnis (experiência imediata), e Verfall der Erfahrung (declínio da experiência). Far-se-á uma discussão acerca desses conceitos no próprio corpo do artigo.

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escritos, torna-se no decorrer dos anos 30 [1930], uma parte inerente de sua reflexão sobre as transformações estéticas que chegam à maturação no início do século XX e subvertem a produção cultural, artística e política36.

Se em Charles Baudelaire podemos observar a preponderância da figura de

Victor Hugo como aquele que mais se aproximou do tipo ideal de literato, no texto “O

narrador” Benjamin exaltou o literato russo Nicolai Leskov37 como um exemplo do

extinto verdadeiro narrador.

Os dois ensaios de Benjamin aqui propostos partem daquilo que o filósofo

descreve como perda ou Verfall der Erfahrung, da experiência no sentido substancial

do termo, que repousa acerca da “possibilidade de uma tradição compartilhada por

uma comunidade humana, tradição retomada e transformada, em cada geração, na

comunidade de uma palavra transmitida de pai para filho”38. Diagnóstico essencial nos

dois textos: a perda de experiência acarreta o desaparecimento das formas tradicionais

de narrativa, e assim, a transmissibilidade da própria experiência. E isso decorre,

sobretudo, dos fatores históricos cujo processo iniciou com a Grande Guerra, pois a

vivência traumática dos sobreviventes não podia ser assimilada em palavras. Assim

como Baudelaire, o alemão reuniu reflexões oriundas do seu tempo: refletiu sobre o

desenvolvimento das forças produtivas e da técnica – organização capitalista da

sociedade -, e ainda sobre a memória traumática, a experiência do choque, e a

decorrente impossibilidade para a linguagem cotidiana e para a narrativa tradicional

assimilar esse choque.

Uma arte de narrar em extinção, sobretudo devido à perda do caráter de

experiência coletiva, do enfraquecimento/declínio da Erfahrung, como demonstra

36 GAGNEBIN, Jeanne-Marie. História e Narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva, 1994, p. 63. 37 Nikolai Semyonovich Leskov (1831-1895) nasceu na Rússia, na província de Oriol, no povoado de Gorókhovo, às margens do rio Volga. O texto de Leskov é mesmo carregado dessas experiências obtidas durante sua vida. Ele teve a oportunidade de viajar por quase toda a extensão do território russo e, com isso, conhecer muitos dos diferentes costumes das diferentes regiões. Leskov, ao escrever seus contos ou novelas, preocupa-se em manter a oralidade. Ele atribui ao camponês de sua novela, a fala mais próxima possível da de um camponês verdadeiro, mantendo os equívocos linguísticos. Do mesmo modo, um nobre, ou uma comerciante, falam como essas personagens costumam conversar realmente. Isso dá ao seu texto um tom diferenciado, ainda mais na época em que escreveu, na qual os escritores primavam pela beleza estética do texto. 38 GAGNEBIN, Jeanne Marie. Op. cit., 2006, p. 49.

19

Jeanne-Marie Gagnebin sobre as teses de Benjamin39. Para o autor, o problema da

narração está diretamente vinculado às mudanças e paradoxos da sociedade moderna,

mudanças estas que determinaram o aniquilamento da reciprocidade da experiência

entre os indivíduos e o fim do ato de aconselhar advindo dessa troca.

No entanto, embora os dois ensaios sejam contemporâneos, e inicie com

descrições quase literalmente semelhantes, Benjamin desenvolve consequências

diferentes em suas conclusões.

No texto “O narrador”, o autor afirmou que a verdadeira narrativa possui um

objetivo utilitário à medida que “o narrador retira da experiência o que ele conta: sua

própria experiência, ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à

experiência dos seus ouvintes”40. Dessa forma, a transmissão da experiência envolve o

aconselhamento por parte do narrador, sobretudo por intercambiar conhecimento. Os

conhecimentos transmitidos por meio da sabedoria agregada à narração dos eventos

pessoais tendem a retomar o passado e o reatualizar, no intuito de transmitir às novas

gerações um saber pertinente. Para Benjamin, haveria um circuito das experiências

através da narrativa: apropriação de experiência dos ouvintes quando na recepção da

narração, mas absorção de um conhecimento por parte do narrador/sábio, o qual

reestrutura a narrativa de acordo com a apropriação e a troca com seus ouvintes.

Segundo Walter Benjamin, o narrador recorre ao acervo de toda uma vida, tanto sua

como a dos outros. Outrora sinônimo de sabedoria e autoridade consolidada por meio

da transmissão de geração em geração, essa arte de narrar era própria de uma

organização coletiva, comunitária, ritualística e artesanal. E para exemplificar a

mudança não somente nas formas narrativas, mas também para refletir acerca do

processo de esfacelamento da experiência, Benjamin afirma que a narração - que

vigorava no solo de um tempo onde ainda tinha-se tempo para contar e ouvir histórias

- foi substituída pelo romance, cuja caracterização demonstra indivíduos isolados e

solitários. Se a narrativa embrenhada de um circuito de experiência foi substituída pela

ascensão do romance, este, por sua vez, foi substituído pela informação jornalística,

forma narrativa fragmentada e desconexa.

39 Ibid., p. 50. 40 BENJAMIN, Walter. Op.cit., 1985, p. 201.

20

Assim, em “O narrador”, como objetivo central o filósofo demonstra o

aniquilamento de uma experiência decorrente de uma mudança da narrativa. Mas,

como conclusão, formula uma exigência para esta constatação: a de que outra narrativa

deve continuar, mesmo entre as ruínas de uma tradição em migalhas. Há uma injunção

ética e política de não permitir que nada se perca com relação àquilo que a história

oficial não recorda41. Por outro lado, em “Experiência e pobreza”, a Erfahrung não é

mais possível, e as tentativas de restabelecer a transmissão não seriam mais do que

ilusões individualistas e privadas42.

Significativo não somente em “O narrador” e “Experiência e pobreza”, mas

em todo o conjunto filosófico benjaminiano, sobretudo nos escritos da década de 1930,

os conceitos de experiência são fundamentais para a discussão aqui proposta. Haveria

uma distinção entre duas modalidades de conhecimento, indicadas como Erfahrung e

Erlebnis:

Erfahrung é o conhecimento obtido através de uma experiência que se acumula, que se prolonga, que se desdobra, como numa viagem (e viajar, em alemão, é fahren). Erlebnis é a vivência do indivíduo privado, isolado, é a impressão forte, que precisa ser assimilada às pressas, que produz efeitos imediatos43.

Analisar a questão da Erfahrung em Walter Benjamin é contrapô-la à noção de

vivência, Erlebnis. Na esfera da vivência, saturada de eventos e sensações, resta ao ser

humano a capacidade de reagir a esses estímulos (reportando à noção de choque em

Freud). A memória (e seu correlato – o esquecimento) é imprescindível à experiência,

mas perante os choques, o ser humano só armazena suas vivências na camada mais

superficial da consciência, impossibilitando recursos para a experiência estética ou

poética, autêntica.

Nesse sentido, o declínio de experiências autênticas na modernidade é

reiterado no texto “Experiência e pobreza”. Embora um texto quantitativamente menor

que “O narrador”, Benjamin valeu-se nele de uma linguagem mais incisiva, e com

traços do que podemos denominar melancolia. Se em “O narrador” a problematização 41 GAGNEBIN, Jeanne-Marie. Op.cit., 2006, p. 54. 42 Ibid., p. 52. 43 KONDER, Leandro. Walter Benjamin: o marxismo da melancolia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 3. ed., 1999, p. 83.

21

ocorreu de modo a pensar sobre a narrativa, e a crescente perda de seu viés utilitário,

em “Experiência e Pobreza” Benjamin amplia a perspectiva e reflete sobre a “pobreza

de experiência”, embora inicie o texto por meio de uma história que exemplifica a arte

de narrar. Mas, o texto de 1933 irrompe numa crítica geral, e nisso, numa geração que

entre 1914 e 1918 viveu uma das mais terríveis experiências da história, conclama

Benjamin.

Sobressalta de ambos os textos do teórico alemão aqui problematizados, o

contexto alemão e europeu vivido por Benjamin. Ao definir a época de Baudelaire,

Benjamin define por afinidade sua própria. A reflexão sobre a experiência da Guerra

Mundial de 1914/18, pela qual passou a geração de Benjamin, este então com vinte e

poucos anos, e a crítica da restauração cultural e política que ele observou, na

Alemanha a partir de 1919, sob o nome emblemático República de Weimar, deixou

marcas profundas sobre sua existência e seus escritos.

Walter Benjamin se situa cronologicamente entre as duas grandes guerras.

Quando a Grande Guerra teve início, ele era um acadêmico de 22 anos na

Universidade de Berlim. Uma de suas primeiras conferências proferidas ocorreu em

1914, quando então era presidente da Freie Studentenschaft (Associação dos

Estudantes Livres), a qual se opunha aos estudantes de caráter nacionalista44.

O final do século XIX e a primeira década do século XX foram marcados, na

Europa, por um clima de confiança e otimismo. Os homens da época tinham a

sensação de que os europeus teriam o domínio definitivo sobre todos os continentes.

Havia uma aparência de tranquilidade, de esbanjamento, de crença no progresso. E

mesmo durante o período de guerra, conforme Sebastian Haffner45 havia um

esperança, sobretudo juvenil, como se o combate fosse uma competição esportiva, na

qual a excitação tornava-se a norma e o entusiasmo tinha a importância diária. A

guerra tinha a oferecer divertimento e emoções muito mais intensos do que qualquer

44 BOLLE, Willi. “Estilo de juventude e decadência”, In: Fisiognomia da metrópole moderna: representação da história em Walter Benjamin. 2. ed., São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000, p. 151. 45 Sebastian Haffner ap. CALDAS, Pedro Spinola Pereira. Antes de Auschwitz: Um Ensaio sobre memória e narrativa em Walter Benjamin e Erich Maria Remarque. Revista Eletrônica Cadernos de História: publicação do corpo discente do departamento de história da Universidade Federal de Ouro Preto, Ano II, n. 01, março de 2007, p. 2. Disponível em: http://www.ichs.ufop. br/ cadernosdehistoria /download/CadernosDeHistoria -03-14-Dossie.pdf. Acesso: 17 de julho de 2012.

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coisa que a paz poderia propiciar, e esta foi a experiência diária de estudantes entre os

anos de 1914 a 1918. Sobre isso, Pedro Caldas menciona que o excesso de entusiasmo

foi notado por Joseph Roth em crônicas sobre as ruas de Berlim na década de 192046,

onde a atmosfera possuía algo de arrebatador e auto-afirmativo. Procurava-se viver o

momento e afirmar o entusiasmo como um imperativo, no qual se teria a experiência

do absoluto. Mas, o então jovem Benjamin percebeu o descompasso entre os laços

ciência (discurso racional) e política (ação supostamente racional), assim como a

crença no progresso, sob uma ótica do culto à técnica, pois serviam forças

destrutivas47.

Com o fim da guerra, a Alemanha constitui-se em 1919 com a República de

Weimar. Nesse mesmo ano, também foi fundado o Partido dos Trabalhadores

Alemães, e em 1920 o nome foi alterado Partido-Nacional Socialista dos

Trabalhadores Alemães, e Adolf Hitler passou a ser seu principal membro. Em 1933

Hitler foi feito chanceler do Reich. O incêndio do Reichstag inaugura uma caça sem

precedentes aos comunistas e, também, aos judeus. Benjamin exila-se definitivamente

e viverá em Paris até sua morte, com frequentes mudanças de endereço para conseguir

quartos mais baratos e com várias estadias na Dinamarca (na casa de Brecht, também

exilado), em San Remo (na pensão de sua ex-mulher, Dora), e em Ibiza, onde a vida

era menos cara que em Paris.

Assim, o contexto do entre guerras na Alemanha influenciou sobremaneira

Benjamin e suas obras. Para Benjamin, como consequência da pobreza de experiência,

a arte de narrar compreendida como uma faculdade de intercambiar experiências, pelo

menos dentro do ideal de Leskov, foi esgotada. Assim, e até certo ponto, tanto em

Baudelaire como em Benjamin encontra-se uma relação entre literatura, experiência e

memória, de modo tal que a literatura passa a representar mais do que uma narrativa

descomprometida. Ela seria capaz de dar significado às experiências, ativar e

compartilhar uma memória – pautada na vivência - e oferecer sentido à existência. 46 Sebastian Haffner ap. CALDAS, Pedro Spinola Pereira. Antes de Auschwitz: Um Ensaio sobre memória e narrativa em Walter Benjamin e Erich Maria Remarque. Revista Eletrônica Cadernos de História: publicação do corpo discente do departamento de história da Universidade Federal de Ouro Preto, Ano II, n. 01, março de 2007, p. 4. 47 Em 1920 Ernst Jünger publicou Tempestades de aço. Diário de um Chefe de Comandos, no qual registrou a experiência do campo de batalha não como uma vivência elementar, mas como o horror. Cf. BOLLE, Willi. Op. cit., p. 211.

23

4. CONCLUSÃO

Apesar das diferenças entre os textos aqui analisados, denotamos uma

proximidade quanto à maneira como os escritos apresentam seus objetivos. Ou seja,

embora Baudelaire tenha escrito sobre literatos de sua época, de forma a apresentar

suas obras, a motivação de sua escrita incita qualquer artista a criticar sua própria arte.

E, para isso, o poeta oitocentista oferece as ferramentas imprescindíveis para uma

melhor execução da sua produção. Nessa elaboração teórica sobre arte, a escritura de

Baudelaire não apenas insufla a memória como central para a produção artística, mas

também a apresenta como um testemunho de sua época.

Dos textos de Baudelaire, Benjamin ressalta a ideia de que a arte era também

um ato de resistência, um protesto comum contra a sociedade48. A crítica que o autor

extrai ao analisar a postura teórica de Baudelaire é a de que enquanto forma temporal

da sociedade burguesa, a repetição se revela como o mito que funda a modernidade,

tempo da repetição do gesto e das ações no mundo do trabalho, que fragmenta nossa

experiência e nos exila da tradição. E por isso, a simples descrição da realidade social

não sugeriria a tomada de consciência dos indivíduos frente à perda de capacidades

essenciais. Por isso Baudelaire busca o “herói moderno”, que no seio da sociedade

derrubaria o véu e conseguiria ver e experimentar as coisas, não se detendo apenas nas

formas e indo além da experiência mecânica.

Embora haja uma diferença entre os textos de Benjamin, acreditamos que a

questão da memória está no cerne da discussão, mesmo que as conclusões dos textos

sejam até contraditórios, como referidas anteriormente. Sem se remeter ao passado

com nostalgia, a experiência para Benjamin orienta o presente e possibilita a recusa do

continuum da história, criando uma nova atitude estética, imbuída de consistência,

fundamentando a importância da reflexão crítica. O procedimento metodológico em

sua visão sobre história presta-se, segundo Benjamin, para a análise-crítica. Segundo

48 BENJAMIN, Walter ap. MENEZES. Op. cit., 2004, p. 65.

24

este a crítica não desperta uma consciência, mas instaura um saber. O olhar para o

“tempo-de-agora” incumbe ao crítico um olhar retrospectivo saturado de experiência e

orientado não só para a relevância do presente, mas antes, para a construção das

condições de emergência desse presente que, por si, não pode estar desvinculado da

memória – seja ela recente ou mais anterior. E é esta memória que tanto Baudelaire

como Benjamin inferiram como substancial para o nosso presente, tanto para

compreender ações, como para oferecer um horizonte para a resistência.

25

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