banco de idéias nº 48 set/out/nov 2009 - capa: "o consumo de tóxicos no brasil"

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    ndice

    CONSELHODE ADMINISTRAO Arthur Chagas DinizElcio Anibal de Lucca

    Alencar BurtiPaulo de Barros Stewart

    Jorge Gerdau JohannpeterJorge Wilson Simeira Jacob

    Jos Humberto Pires de ArajoRaul Leite LunaRicardo Yazbek

    Roberto Konder BornhausenRomeu Chap Chap

    CONSELHO EDITORIAL Arthur Chagas Diniz - presidente

    Alberto OlivaAlosio Teixeira Garcia

    Antnio Carlos Porto GonalvesBruno MedeirosCndido Jos Mendes PrunesJorge Wilson Simeira Jacob

    Jos Luiz CarvalhoLuiz Alberto Machado

    Nelson Lehmann da SilvaOctavio Amorim Neto

    Roberto FendtRodrigo Constantino

    William Ling

    Og Francisco Leme eUbiratan Borges de Macedo

    (in memoriam)

    DIRETOR / EDITOR Arthur Chagas Diniz

    JORNALISTARESPONSVELLigia Filgueiras

    RG n 16158 DRT - Rio, RJ

    PUBLICIDADE/ ASSINATURAS:E-mail: [email protected]

    Tel: (21) 2539-1115 - r. 221

    FOTOSGrupo Keystone, Wikipedia

    e AGJB.

    INSTITUTOSLIBERAIS

    BRASLIASCLN 107 - Bl. B - sala 20670743-520 - Braslia - DFTelefax: (61) 3447-3149

    E-mail: [email protected] GERAIS

    E-mail: [email protected]

    RIODE JANEIRORua Maria Eugnia, 167 - Humait

    22261-080 - Rio de Janeiro - RJTel/Fax: (21) 2539-1115E-mail: [email protected]

    Internet: www.institutoliberal.org.br

    RIO GRANDEDO SULAv. Ipiranga, 6681 - Prdio 96B, conj. 107TECNOPUC - 90619-900 - Porto Alegre - RS

    Telefax: (51) 3332-2376E-mail: [email protected]: www.il-rs.com.br

    SO PAULOE-mail: [email protected]

    ESPECIAL 14

    POLTICA

    A EROSO TICADO LEGISLATIVOMarli Nogueira

    MATRIADE CAPA

    CONSUMODE TXICOSNO BRASIL...Ricardo Vlez Rodrguez

    SOCIEDADE

    A REVOLUO CULTURAL SOCIALISTARodrigo Constantino

    9

    15

    5

    LIVROS

    O BOM, O MAUEO FEIOUma viso liberal do fato

    O CONSENSODE WASHINGTONOscar Roberto Jnior

    26

    Think Tank - A Revista da Livre-Iniciativa

    Ano XIII - no 48 - Set/Out/Nov - 2009

    Expediente

    DESTAQUE 19

    A ATUALIDADEDE MENCKENpor Rodrigo Constantino

    REALIZAO

    BANCODE IDIAS uma publicao do Instituto Liberal. permitida areproduo de seu contedo editorial, desde que mencionada a fonte.

    Nesta Edio

    NOTASPROJETODE LEI

    COMPLEMENTARN 463/09

    CLSSICOS LIBERAISENTREOS CUPINSEOS HOMENSOG F. LEME - POR ROBERTO FENDT

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    EditorialSua opinio da maior impor-tncia para ns. Escreva paraBanco de Idias.

    Leitores

    Envie as suas mensagens paraa rua Rua Maria Eugnia, 167 -Humait - Rio de Janeiro - RJ -22261-080, ou [email protected].

    SET/OUT/NOV- 2009 - N 48 4

    o momento em que estamosredigindo este Editorial, a Po-lcia Federal divulga informaessobre o gigantesco volume de re-cursos financeiros que captadopor igrejas evanglicas, enviado aparasos fiscais e finalmente apli-cado em negcios no Brasil. Comisso, o Senado e seus escndalosvo perder a primazia no notici-rio. Tem sido constante, ao longoda era Lula, a divulgao parcialde informaes sobre casos laten-tes visando afastar o interesse da

    mdia e, consequentemente, dosleitores do noticirio que no be-neficie os atuais donatrios do pas.

    Entre os articulistas desta edi-o, a juza Marli Nogueira avaliaa eroso tica do legislativo. Elatorna evidente a queda moral dosocupantes do Poder Legislativo,mostrando que o afastamento en-tre governantes e governados ge-rou uma lassido moral que trans-formou os ocupantes de cargosexecutivos e legislativos em interme-

    dirios de verbas federais e esta-duais. A ocupao de cargos exe-cutivos feita por indicao doslegisladores, que passam a se com-prometer em aprovar contas e pro-jetos do governo. A juza conclui que lamentvel o comportamentoatico de nossos polticos, malba-ratando os esforos que toda anao faz para crescer.

    O que fazer diante do consu-mo macio de entorpecentes? Oprofessor da UFJF, Ricardo VlezRodrguez, analisa o avano do tr-

    fico no Brasil a partir da decisodos principais cartis de transformaro Brasil no apenas em um gran-de consumidor (o que j ), comotambm em produtor e distribuidorde drogas. Descriminalizar a dro-ga no uma soluo e j foi ten-tada, sem xito, em outros pases,como Holanda e Sua. Soluesesto mais prximas daquelas usa-das pela cidade de Medeln naColmbia, j copiadas em algu-mas cidades brasileiras.

    A Amrica Latina, afirma Ro-drigo Constantino, caminha a pas-sos largos rumo ao socialismo, ten-do como principal exemplo aVenezuela de Hugo Chvez. A re-voluo bolivariana, graas atento aos elevados preos do pe-trleo, ocupou posies inima-ginveis alguns anos atrs. O au-tor v nos escritos de AntnioGramsci o resumo da tomada dopoder pelos socialistas, sem a ne-cessidade de revolues armadas.O que torna a estratgia gramscista

    to perigosa exatamente o fatode ela apodrecer os pilares demo-crticos, subvertendo seus valores ecorroendo esses mesmos pilares. Apreocupao com a apatia moraldo Congresso brasileiro um peri-goso elemento nessa construo.

    O economista Oscar RobertoJnior, em fins de 2006, fez um exa-me detalhado do que ocorreu naAmrica depois do que se con-vencionou infelizmente chamar deConsenso de Washington. As re -

    comendaes do encontro e asaplicaes recomendadas, apesardas crticas socialistas, trouxeramextraordinrios benefcios a inme-ros pases da Amrica. Apenas oresultado das privatizaes e a san-gria evitada so notveis no Brasil.Oscar chama a ateno para a Valedo Rio Doce, a Embraer, a conces-so de rodovias e um sem-nmerode outras privatizaes que criaramempregos em grande escala.

    Em NOTAS estamos avaliandoo Projeto de Lei Complementar

    que institui o Fundo Nacional deCompensao Tributria, com a fi-nalidade de compensar perdas es-taduais e municipais decorrentesda desonerao do Imposto deRenda.

    O Livro dos Insultos a obraresenhada por Rodrigo Constantinona ltima pgina desta edio, que acompanhada pelo Sumrio dolivro Entre os cupins e os homens,um extraordinrio trabalho do sau-doso professor Og Leme.

    NSr. editor

    Sou um empresrio de mdioporte que produz motores eltricos.Os problemas que tenho encon-trado para expanso so rela-cionados ao imposto, especial-mente o ICMS, o PIS e o IPI. Umaempresa de consultoria localrecomendou-me expandir a pro-duo e, com isso, diminuir oscustos administrativos que incidemsobre cada unidade produzida.Ora, isto o contrrio do que vemocorrendo no Brasil, onde o PIBcresce, mas a fatia dos impostosdestinados a pagar a burocraciaaumenta, apesar do permanentecrescimento do PIB. Afinal, eco-nomia de escala funciona?

    Heitor Fazzamelo CunhaFlorianpolis - SC

    A economia de escala fun-ciona, sim. Se voc se expandir,voc continuar a ter um diretorcomercial, um financeiro, algumencarregado de recursos hu-manos, enfim, toda uma estrutura

    administrativa cujo custo por uni-dade produzida vai ser menor emfuno do nmero de motoresproduzidos. O que acontece noEstado que o governo lulistaemprega um nmero cada vezmaior de assessores em cargos deconfiana para premiar sindi-calistas e petistas de um modogeral. No se pode nem alegarque se tem uma sade pblicamais eficiente e que o nvel daeducao fundamental melhorou.Em tese, ns poderamos terimpostos bem menores do que os

    40% do PIB que hoje pagamos.Eu diria que no seria absurdopensar em uma carga tributriada ordem de 25% do PIB.

    V em frente, expanda-se, eno tome o governo brasileirocomo paradigma.

    O editor

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    Amrica Latina caminha apassos largos rumo ao so-cialismo, tendo como principalexemplo a Venezuela de HugoChvez. So 15 pases com go-vernos alinhados ao Foro de SoPaulo, cuja meta resgatar naregio aquilo que se perdeu noleste europeu. A revoluo boli-variana vai se alastrando pelocontinente, turbinada pelos petro-dlares venezuelanos. No Brasilencontrou alguns obstculos ins-

    titucionais mais slidos, o que noimpediu algum progresso na metasocialista. No possvel com-preender corretamente o fen-meno sem levar em conta aquesto cultural, a verdadeirarevoluo arquitetada no campodas ideias. E quando se fala emrevoluo cultural, o nome deGramsci merece destaque.

    Nascido na Itlia em 1891,Antonio Gramsci foi um marxistaintelectual, membro do Partido

    Socialista Italiano. Gramsci eraum simpatizante da revoluobolchevique de 1917, e foi umdos fundadores do Partido Co-munista Italiano. Preso peloregime fascista de Mussolini, elecomea a escrever notas napriso que mais tarde se tornaroos Cadernos do Crcere. O temacentral presente em seus escritosser sua estratgia de tomada dopoder, distinta do modelo le-ninista. Para Gramsci, o assalto

    Sociedade

    A revoluo cultural socialistaRodrigo Constantino

    Economista e escritor

    A

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    Sociedade

    ao poder de Lnin no seria omtodo adequado nos pasesocidentais. A estratgia gramscistade transio para o socialismocontar com aspectos maisgraduais, alterando a cultura parapermitir a conquista final do poderpelas classes subalternas. Estatem sido a receita praticada na Amrica Latina nas ltimas d-cadas, com resultados claramentepositivos do ponto de vista dosmarxistas.

    Fazendo sua parte na tentativade esclarecer melhor esse fen-meno, o general Srgio Augustode Avellar Coutinho escreveu olivroA Revoluo Gramscista noOcidente, que faz um didticoresumo da concepo revo-lucionria de Gramsci. Conformeo prprio autor afirma, o obje-tivo do livro tentar traduzirGramsci, decodificar seu pensa-mento. Esta uma valiosa con-tribuio para a causa da li-berdade, justamente porque aestratgia gramscista de tomadado poder parece eficaz e est emestgio avanado na regio.Conhecer melhor o inimigo fundamental para combat-lo deforma eficiente. E quem noentender melhor a amplitude dofenmeno, que se alastra eminmeros aspectos culturais,ficar impotente diante do avanosocialista, do caminho da servi-do, como dizia Hayek.

    Muitos preferem acreditarinclusive no bito da ideologiasocialista depois da queda do

    Muro de Berlim e da UnioSovitica. Doce iluso! O mori-bundo apenas recuou um pouco,fez algumas plsticas superficiais,mudou a embalagem, mas con-tinua bastante vivo. As ideias deGramsci serviram justamentepara esta mudana ttica, para aadaptao dos socialistas novarealidade. Mas a meta continuaa mesma: conquistar o poder ecriar o novo homem e o novomundo, onde a necessidade

    coisa do passado burgus, asclasses desaparecem e todosvivem felizes para sempre. Podeparecer incrvel para alguns queessa utopia ainda possa con-quistar tantos adeptos. Mas bastaum olhar mais atento em voltapara constatar que isso fato: osocialismo ainda encanta muita

    gente. E com os instrumentosestratgicos fornecidos porGramsci, o perigo aumenta expo-nencialmente.

    Como explica o general AvellarCoutinho, o conceito de socie-dade civil central entre ascategorias desenvolvidas porGramsci. Trata-se de um espaosocial pblico onde as pessoas seorganizam em aparelhos volun-trios privados para exercer ahegemonia. Seria o lugar onde

    as classes subalternas so cha-madas a desenvolver suasconvices, a formar o consensoe a lutar por um projeto hege-mnico mais avanado. Essahegemonia, por sua vez, seria acapacidade de influncia e dedireo poltica e cultural de umgrupo social. O grupo dirigenteseria justamente aquele que tema hegemonia, ou seja, que temcapacidade de influir e de orientara ao poltica, sem uso da coer-

    o. O que torna a estratgiagramscista to perigosa exata-mente o fato de ela apodrecer ospilares democrticos de dentroda prpria democracia, subver-tendo seus valores e corroendoesses pilares.

    Democracia, etimologica-mente falando, quer dizer go-verno do povo. No pensamentogramsciano a burguesia no-povo. Portanto, a democraciaseria o governo do proletariado edos camponeses, excluindo osburgueses. Os gramscistas falamem democracia radical ou

    radicalismo democrtico parase referir a esse modelo. Bastalembrar que o presidente Lulachegou a afirmar que na Vene-zuela de Chvez havia um ex-cesso de democracia. Essadeturpao da ideia de demo-cracia til para a causa socia-lista, pois eles podem falar emsocialismo democrtico, distan-ciando-se no imaginrio populardo regime ditatorial adotado naUnio Sovitica. Isso garante o

    respaldo de legalidade, evitandoassim eventuais resistncias ereaes da sociedade.

    Alm disso, Gramsci defendeo pluralismo das esquerdas,admitindo as alianas dos par-tidos e das organizaes de

    Antonio Gramsci (1891-1937)

    A Revoluo Gramscista no Ocidente,de Srgio Augusto de Avellar Coutinho.

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    Sociedade

    massa, principalmente para en-fraquecer e neutralizar as trin-cheiras burguesas. Como explicao autor, ele admite at alianas

    com partidos adversrios emcertas circunstncias que contri-buam para o xito do movi-mento. Esse pragmatismo, umaherana maquiavlica, ajuda amanter a imagem democrticatambm, em relao ao modelode partido nico dos bolche-viques. O partido, o modernoprncipe, realizar as transfor-maes radicais que estabele-cero o socialismo aps a fase daluta hegemnica, que ter criado

    o clima adequado para a revo-luo, subvertendo os valorestradicionais da sociedade bur-guesa e condicionando toda apopulao para o socialismo.

    Na estratgia gramscista, opapel dos intelectuais orgnicos crucial. O novo intelectual no apenas um orador eloquente,mas um dirigente que orienta,influencia e conscientiza asmassas. O grupo de luta deve lutartambm pela assimilao e

    conquista ideolgica dos intelec-tuais tradicionais. Estes teroparticipao consciente ou in-consciente, podendo assumir opapel de intelectual orgnico porconvencimento e adeso, ou poringenuidade, acomodao ou atpor capitulao. Para Gramsci,todos os membros do partido, emtodos os nveis, so intelectuais.Eles devem realizar na sociedadecivil uma profunda transformaopoltica e cultural, amestrando

    as classes burguesas tambm,levando-as a aceitar as mudanasintelectuais e morais como partede uma natural e moderna evo-luo da sociedade. Para tanto,eles contam com o apoio dosorganismos privados, comosindicatos e organizaes no-governamentais.

    Ser criado na sociedade umnovo senso comum, que irdestruir a capacidade individualde bom senso. Alguns velhos

    conceitos podem ser preservadosse forem instrumentais, bas-tando aprimor-los para contri-burem tambm para a formao

    da nova mentalidade. Os meiosde comunicao social (imprensa,rdio e televiso) sero os prin-cipais canais de difuso do novosenso comum. Alm destes, osetor editorial, a ctedra, o magis-trio, a expresso artstica e o meiointelectual tradicional sero impor-tantes veculos dessa transfor-

    perdem o seu valor funcional etico perante a sociedade civil.Sero utilizadas tticas comodenuncismo, isolamento, cons-

    trangimento e inibio, patru-lhamento, penetrao ideolgicae infiltrao de intelectuais. Trata-se de uma batalha longa, queexige pacincia, mas que cria ascondies necessrias para atomada do poder.

    O uso das crises a favor domovimento tambm faz parte dasestratgias de tomada do poder.As crises econmicas no pro-vocam imediatamente a criseinstitucional, mas permitem a

    difuso de certas ideias e pen-samentos que se podem enca-minhar para um subsequenteagravamento da crise. Comodisse Roberto Campos, os co-munistas sempre souberamchacoalhar as rvores paraapanhar no cho os frutos. Eacrescentou: O que no sabem plant-las. O fato que oscomunistas sempre exploraram ascrises para expandir sua ideologiae tentar conquistar mais poder. As

    classes subalternas podem seapresentar como nica soluoinstitucional. O presidente Lula jusou esse argumento em relaoaos invasores do MST, alegandoser o nico capaz de conversarcom o movimento. Alm disso, acrise parlamentar pode repre-sentar uma oportunidade interes-sante de tomada do poder, poismantm todas as aparncias defidelidade ao jogo poltico demo-crtico.

    O objetivo final de Gramsci o comunismo, abolindo o Estadoe as classes. O meio defendidopara isso a concentrao ab-surda de poder no Estado am-pliado. A ingenuidade de quemleva a srio esse tipo de coisa realmente espantosa. Ignoram oalerta de Lord Acton, de que opoder corrompe, e o poderabsoluto corrompe absoluta-mente. Para chegar liberdade,vo antes criar uma ditadura

    mao. Assim como a estratgiaatribuda a Goebbels no nazismo,os argumentos sero repetidos adnauseam atravs de uma or-questrao.

    O sistema defensivo da bur-guesia dever ser neutralizado.

    Entre as principais instituies-alvo esto os partidos polticos, oparlamento, a classe empresarial,a Igreja, as foras armadas, oaparelho policial e a famlia.Como explica o autor, o em-preendimento de neutralizao complexo e conduzido peloamplo trabalho psicolgico,poltico e ideolgico que realiza oesvaziamento do moral do ele-mento humano das organizaesburguesas, de tal modo que elas

    O objetivo finalde Gramsci o

    comunismo,abolindo o Estado

    e as classes. Omeio defendidopara isso aconcentrao

    absurda de poderno Estado ampliado.A ingenuidade dequem leva a srio

    esse tipo de coisa realmenteespantosa.

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    totalitria, e esperar que os todo-poderosos simplesmente decidamabrir mo de todo esse poder.Para abolir as classes, vo criar

    uma enorme classe privilegiada,a nomenklatura, e aguardar omomento em que esses privi-legiados resolvam acabar comtodos os privilgios. Que tipo deobservador medocre da naturezahumana poderia aceitar taispremissas? No toa que ocomunismo parece uma novareligio, dependente da f acimada lgica. Um paraso terrestre oferecido, prometendo o fim dasnecessidades, enquanto os

    intermedirios demandam maisque o dzimo: a submisso com-pleta do indivduo!

    Ao trmino do livro, o general Avellar Coutinho oferece algunssinais do avano da estratgiagramscista no Brasil que nopodem fugir dos olhares maisatentos. Os mais jovens nonotam a mudana culturalporque no conheceram os va-lores antigos, e os mais velhosencaram as modificaes como

    naturais ou espontneas,ignorando a penetrao culturalbem conduzida pelos intelectuaisorgnicos. Em primeiro lugar,

    temos o conceito de politi-camente correto, que passou adominar qualquer debate eofuscar a livre opinio ou inde-

    pendncia intelectual. Trata-se desocializao da opinio, e opatrulhamento ideolgico umapoderosa arma nesse sentido. Alm disso, o conceito de le-galidade est sendo substitudopelo de legitimidade, esvaziandoas normas e leis em troca dasreivindicaes justas. Invadirterras ou saquear estabeleci-mentos passa a ser um ato le-gtimo, pois representa um passona luta pela justia social.

    Existem outros exemplos,como o ataque aos valoresfamiliares tradicionais, o usomanipulado da questo racialpara negar a tolerncia multir-racial burguesa, o uso dosdireitos humanos como pro-teo ao criminoso, identificadocomo vtima da sociedadeburguesa, enquanto a vtima real tratada com indiferena por seridentificada geralmente comoburgus privilegiado, a satani-

    zao do bandido de colarinhobranco, identif icado comoburgus corrupto e fraudador dopovo, a utilizao da opinio

    pblica como critrio de verdademaior que a prpria lgica, o usoda ecologia como projeto superiorao desenvolvimento econmico ou

    mesmo o ecoterrorismo paraatacar o progresso capitalista, etc.Em suma, o projeto de con-

    quista do poder pelos comunistas,calcado nas contribuies deGramsci, parece estar em umestgio bem avanado na Amrica Latina. Hugo Chvez,Rafael Correa, Evo Morales etantos outros governantes voconquistando cada vez maispoder. Mesmo o governo Lulaconseguiu avanos nessa direo,

    sem falar das tentativas fracas-sadas como o Ancinav, ConselhoNacional de Jornalismo, etc. Oprprio Lula teria dito que dirigeum fusca enquanto Chvez dirigeuma Ferrari rumo ao socialismo.Mas a meta a mesma. O pior que, por se tratar de umaverdadeira revoluo cultural,suas razes so profundas edificilmente sero revertidasrapidamente. A luta pela liberdadeser rdua. Mas algo precisa ser

    feito. Como teria dito Confcio, melhor acender uma pequenavela do que praguejar contra aescurido.

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    A eroso tica do legislativoMarli Nogueira

    Juza do Trabalho em Braslia, ps-graduada em Direito Constitucional pela UnB ediplomada pela Escola Superior de Guerra

    virou rotina. Perdemos ocontrole sobre a avalanche

    de escndalos que nossos po-lticos se dedicam a protagonizar.Eles so tantos e to variados quese torna um equvoco afirmar queo brasileiro no tem memria. que no h memria suficiente

    para armazenar todos os es-cndalos que, volta e meia, nosdeixam at mesmo atordoados,sem saber em que e em quem acreditar.

    Como se no bastassem osescndalos sobre o mensalo, aquesto das ambulncias, ossanguessugas, as passagensareas distribudas com o dinheirodos contribuintes, os marajs daPetrobras, os planos de sadevitalcios para os distintos sena-

    dores e tambm para os servi-dores do Senado, entre tantosoutros, assistimos agora ao caso

    rumoroso envolvendo o Senadoem atos secretos, gratificaesdadivosas a funcionrios, nomea-es de apadrinhados e atmesmo a existncia de passagenssecretas, como se o Senado fosseum daqueles velhos castelosmedievais cheios de labirintossecretos, em que os soberanos seescondiam de seus inimigos,tramavam os prximos ataquescontra seus desafetos ou guar-davam os tesouros pilhados em

    suas guerras.Mais do que indignao, con-tudo at porque a indignao, fora de tanto ser experi-mentada, parece um sentimentoesgotado, que j no vale maisnada , devemos procurar asrazes que levam a esse estadode coisas e as consequncias quedelas possam advir. Como im-possvel esmiu-las todas nessepequeno espao, importa refletirpelo menos sobre algumas delas.

    Durante sculos governantes egovernados viviam muito prximosuns dos outros, frequentando os

    mesmos ambientes, falando amesma linguagem e cultivando osmesmos valores. Seja na plisgrega, seja nas cidades romanas(apenas para citar algumas dasmais antigas civilizaes), ohomem escolhido para umafuno pblica era conhecido detodos aqueles que ficariam su-jeitos s suas decises. Sabia-seonde ele morava, quem eram seuspais, quem era sua mulher, quan-tos filhos ele tinha, com quem se

    relacionava, o que costumavacomer e vestir, qual era o tamanhodo seu patrimnio e de seu co-nhecimento sobre as neces-sidades dos governados. Dessaforma, era possvel um maiorcontrole dos governantes pelosgovernados, sendo praticamenteimpossvel que os primeiros prati-cassem atos dos quais os se-gundos no ficassem cientes. Eesse controle produzia, sem d-vida, uma exigncia de que os

    ...a virtude no nasce dasriquezas, mas da prpria virtude

    vm, aos homens, as riquezas etodos os outros bens, tantoprivados como pblicos.

    (Plato, in Apologia de Scrates)

    J

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    Poltica

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    Poltica

    governantes procurassem se pau-tar por uma conduta tica, sobpena de carem em desgraapopular. E, ainda assim, no

    foram poucos os exemplos dosque se desviaram desse norte,com consequncias nefastas parao seu povo.

    Com o decorrer do tempo, en-tretanto, essa proximidade foi seperdendo, fruto da enorme ex-ploso demogrfica gerada apartir da Revoluo Industrial edos avanos tecnolgicos pro-movidos pelo capitalismo, propi-ciando vida mais longa e demelhor qualidade para todo

    mundo, o que acabou por cul-minar na completa dissociaoentre governantes e governados,diminuindo sensivelmente o graude certeza sobre o carter da-queles que passariam a ditar asregras de seu pas e, consequen-temente, o controle sobre suasaes. O poder poltico ficou,assim, apartado do povo, em quepese ao da mdia, muitas vezesat mesmo comprometida comaqueles que exercem o poder. Hojetemos, de um lado, os que exercemo poder poltico e, de outro, oscidados, havendo entre ambas ascategorias uma distncia todescomunal que j no maisvivel saber quem quem.

    Cientes disso, os polticos nose pejam de, cada vez mais, seenvolver em atos de improbidade,cientes de que ser extremamentedifcil apanh-los em todos eles.E, quando isso ocorre, sabem queh ainda a forte chance de semanterem impunes, sequer sendoobrigados a devolver todo odinheiro desviado ou a pagarpelos seus crimes at mesmo coma cadeia, como ocorre em pasesdesenvolvidos.

    De outro lado, o cidado,percebendo a facilidade com quese pode ficar rico da noite para odia no exerccio de uma atividadepoltica, esfora-se por ingressarnela, ainda que tenha plenaconscincia de sua total falta de

    preparo. por essa razo que,aberto o certame eleitoral, vemosdesfilar na televiso os maisvariados tipos de oportunistas,

    muitos deles com passagens pelapolcia. igualmente equivocado,portanto, afirmar que o brasileirono sabe votar. Como todaescolha envolve um conhecimentosobre as opes oferecidas, esendo desconhecido por completoo perfil dos candidatos para amaioria dos cargos eletivos, o votoj no passa de um jogo lotrico,com os eleitores honestos atirandoa esmo para ver se acertam emalgum decente.

    O fato agravado, ainda, pelaforte centralizao do poder, adespeito de, em nossa Consti-tuio, declararmo-nos um pasfederativo. Fica fcil, por isso, agirsem tica e se lixando para a opi-nio pblica, como recentementeafirmou um de nossos parla-mentares. Enquanto isso, au-menta na sociedade o sentimentode impotncia e de frustrao, aponto de fazer com que os jovenshonestos nem queiram maisingressar na atividade poltica.Esse desprezo pela poltica noscondena ao antema contido noalerta de Plato: se os bons noquiserem governar, tero desubmeter-se ao governo dosmaus, advertncia repetida por

    Edmund Burke cerca de 2 milanos depois, sintetizada na c-lebre frase para que os mausvenam, basta que os bons nofaam nada.

    Muito contribuiu, ainda, paraesse estado de ausncia de regrasde conduta a gradativa destrui-o de todos os valores que for-jaram a civilizao ocidental, osquais foram perdendo terrenopara o hedonismo exacerbado,como se apenas a autossatisfaomaterial fosse suficiente para seviver em paz consigo mesmo.Como as pessoas no se sentemmais na obrigao de prestarcontas sociedade, tambm ospolticos experimentam o mesmoconforto. Embora se fale tanto nanecessidade de transparnciados atos pblicos, na verdade elaser de pouca valia para alteraro ambiente vergonhoso de nossapoltica. Enquanto houver amenor possibilidade de alteraodos dados a serem divulgados,seja no momento de sua cap-tao, seja no de seu registro, sejano de sua divulgao, a trans-parncia no poder ser tomadacomo sinnimo de probidade. Averdadeira probidade consiste noautopoliciamento diuturno, na-quela velha obsesso pelo agircorretamente, e no na propa-gao de dados que de forma

    Durante sculos governantes e governados viviam muito prximos uns dos outros.

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    Poltica

    alguma servem para assegurar-nos da lisura com que forampraticados.

    A imoralidade governamentalsempre acaba jogando sobre osombros de todos ns as suasconsequncias. Na mesma medi-da em que o Legislativo ouqualquer um dos Poderes seafunda em um lamaal de escn-dalos, os demais Poderes, noimunes ao mesmo mal, tambmse desvirtuam. A turbulnciagerada pelos escndalos passa adesviar o rgo pblico de suasfunes precpuas, gerando umaperda de tempo e de dinheiro (donosso dinheiro) para a propaladaapurao dos fatos. Somos,assim, obrigados a suportar umacarga tributria cada vez maior, afim de bancar no apenas acorrupo dos polticos, comotambm o faz-de-conta das in-vestigaes, seja na esfera admi-nistrativa, seja no mbito judicial.No toa que falta sempredinheiro para a educao, asade, a segurana...

    Deixando o Legislativo decumprir sua misso consti-tucional, para ficar cuidando deCPIs de toda espcie, transfor-mando-se em uma imensadelegacia de polcia, e para de-dicar-se s reunies das comis-ses de tica (que, na verdade,jamais conseguem punir exem-plarmente o parlamentar faltoso),a to decantada harmonia entreos poderes desaparece, abrindo-se espao para um dos mais abo-minveis desvios da democracia:a invaso de competncias.Como resultado, o Executivopassa a legislar a todo instante,quer por meio de medidas pro-visrias cujas matrias, na maiorparte das vezes, nem ostentamqualquer carter de relevncia ouurgncia (art. 62/CF), quer porinstrues normativas, portarias eoutros atos ministeriais que sinfernizam a vida dos empre-srios, nicos a promover ariqueza do pas ( preciso no

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    esquecer que o governo nadaproduz e, portanto, no gera ri-quezas). Sem falar, claro, na suaforte contribuio para o agra-

    vamento do problema quandocoloca em postos-chave da m-quina estatal pessoas sem preparoalgum, deflagrando uma batalhainsana pela disputa de cargos,preferencialmente aqueles do-tados de oramento milionrio,mas sem que se veja a adequadadestinao desse oramento.

    jamais pretenderam estabelecer,seja criando novas leis no vcuode regras que o prprio Legislativodeixou de aprovar. Perde-se,

    portanto, o clima de segurana,indispensvel para o desenvol-vimento. E por mais que seapregoe que a economia brasi-leira vai muito bem, obrigado,resta a certeza de que nossodesempenho econmico seriasignificativamente mais expressivo,atraindo muito mais investimentosexternos, caso pudssemos asse-gurar aos investidores estran-geiros que eles iro pisar em solofirme e confivel.

    Ademais, tambm a indepen-dncia do Poder Judicirio sedeteriora, na medida em queesforos sempre sero feitos parapression-lo a fim de livrar po-lticos aliados de eventuais con-denaes. Se tal no ocorresse,certamente nossas cadeias j es-tariam lotadas s de assaltantesdo Estado.

    Verificando-se tal desordempoltica no somente na esferafederal, como tambm nas 27Unidades da Federao e nosquase 6 mil municpios brasileiros embora estes ltimos nopossuam Poder Judicirio , odesequilbrio entre os Poderes nopoderia ser maior. Um crculovicioso se instala, tornando quaseimpossvel a no-perpetuaodessa engrenagem em constanteatrito. A democracia abre lugar demagogia e, pois, oclocracia. Apar de todas essas consequnciasque a falta de tica acarreta, umaoutra, provavelmente a maisterrvel, se faz sentir de imediato:o pssimo exemplo dado aoscidados, principalmente aos maisjovens, que passam a entenderque se os grandes podemroubar o dinheiro pblico, semque nada lhes acontea, tambmeles podem cometer os maishediondos crimes impunemente.Mas como nem todos contamcom o mesmo apadrinhamento,muitos acabam envolvidos em

    A independncia entre osPoderes tambm fica prejudicadaporque o Executivo, igualmentedesviado de suas atribuies,volta-se para aes de salvamentodo Legislativo, no por um desejode coloc-lo no caminho certo,mas apenas com vistas a garantira intocabilidade de sua basealiada e, assim, obter apoio paraseus projetos de governo (oudesgoverno). Passa a haver, dessemodo, uma interferncia de umPoder em outro, violando osagrado princpio da ntidatripartio de Poderes.

    O Judicirio, por seu turno,tambm se arvora de legislador,seja interpretando de formaabusiva aquilo que as leis escritas

    A imoralidade

    governamentalsempre acaba jogando sobre

    os ombros de todosns as suas

    consequncias. Namesma medida emque o Legislativo

    ou qualquer umdos Poderes se afunda emum lamaal de

    escndalos.

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    questes judiciais e, por conse-guinte, encontrando pior sorte emsuas aes (e l vai mais di-nheiro!). J os integrantes das

    classes mais altas escoram-se nacerteza da impunidade, baseadosna rede de relacionamentos desua famlia e na facilidade depoderem contar com bons ad-vogados. Alastra-se, ento, osentimento de injustia, e o ci-dado, em vez de respeitar oEstado, passa a odi-lo ou, nomnimo, a assumir uma posturade indiferena causada por umforte sentimento de impotnciadiante de tantos desmandos.

    Mesmo as associaes declasse, como a OAB e a ABI, quetiveram forte participao na vidanacional em tempos idos, atual-mente j no conseguem mudaro rumo dos acontecimentos. Suasmanifestaes no passam, hoje,de um aglomerado de palavrasvs que nenhuma repercussodecisiva tero no desfecho denossas crises polticas ou noresgate dos valores civilizacionais.

    Lamentavelmente, por falta deinstruo resultado de um ab-soluto e contnuo descaso com aEducao muita gente tende aenxergar o Estado como umaentidade alheia, uma res nullius,de onde o dinheiro brota espon-taneamente e aos borbotes, e deonde as decises boas ou ms podem ser tomadas sem quesoframos as suas consequncias.A maioria das pessoas no se dconta de que essa entidade cha-mada Estado nada tem de etreo,constituindo, ao contrrio, asoma de todos ns, que neladepositamos as nossas espe-ranas (e o nosso suadssimo di-nheiro), o que nos d todo odireito de exigir, em contrapartida,o trabalho profcuo e honesto dosque se propem a nos governar.

    Esquecem-se, os desavisados,de que democracia no significaapenas o funcionamento rotineirodas instituies nem a existnciade eleies peridicas. Para que

    o esprito democrtico se faasentir realmente necessrio queas instituies cumpram o seupapel de forma responsvel eeficaz, sob pena de se ter umademocracia meramente formal,sem qualquer contedo dignodesse nome.

    Inadmissvel o argumento deque sempre foi assim ou de queos problemas que acabamos deapontar ocorrem em todos oslugares. Se alm do aperfei-oamento tecnolgico o homemno buscar o aperfeioamento deseu arcabouo tico e moral, denada adiantaro os artifcioscriados para control-lo porquesua vida estar sempre ameaadapor todos aqueles que, sendoresponsveis pelo uso da m-quina estatal, mas sem moralalguma, no hesitaro em us-lacontra quem estorvar os seusintentos.

    interessante observar quetodos aqueles que a todo instantevociferam contra os golpescontra a democracia (vide Hon-duras) so os primeiros a admitir,complacentemente, o maior detodos os golpes: a traio daconfiana de seu povo e o rouboacintoso de seu dinheiro.

    Lembremos a advertncia de Aristteles em seu clebre tica

    para Nicmaco: Tanto a virtudecomo o vcio esto em nossopoder. Com efeito, sempre queest em nosso poder o fazertambm o est o no fazer, esempre que est em nosso podero no tambm o est o sim; demodo que, se est em nossopoder o realizar quando belo,tambm o estar quando ver-gonhoso, e, se est em nossopoder o no realizar quando belo, tambm o estar, do mes-mo modo, no realizar quando vergonhoso.

    No h a menor desculpa,portanto, para a crescente faltade tica que domina os Poderesda Repblica, constituda dehomens feitos, plenamenteresponsveis por seus atos. Estneles e no em qualquer outrapessoa, instituio ou mecanismode controle o agir certo e o agirerrado. Da mesma maneira comoest em ns todos ns exigirque suas promessas de campanhasejam plenamente cumpridas, e onosso trabalho, respeitado.

    Porque profundamente la-mentvel que o comportamentoatico de nossos polticos joguepelo ralo grande parte de tudoaquilo que os brasileiros, comtanto sacrifcio, conseguem pro-duzir a cada dia.

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    No h desculpa para a crescente falta de tica que domina os Poderes da Repblica.

    Poltica

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    que est de melhor aconte-cendo no pas a discusso

    sobre privatizaes nos principaisaeroportos brasileiros. A priva-tizao empreendida no governoanterior (Fernando Henrique Car-doso) trouxe extraordinrios bene-

    fcios para o pas nas reas de si-derurgia, telefonia, minerao eespecialmente Vale do Rio Doce,que transformaram setores croni-camente deficitrios em gerado-res de lucros, divisas e empregos.Uma boa administrao dos ae-roportos brasileiros, com o apri-moramento da infraestruturaaeroporturia vital ao desenvol-vimento do turismo e do transpor-te areo. Dos principais aeropor-tos brasileiros, apenas 10 so ren-

    tveis. O prprio aeroporto San-tos Dummont continua deficitrio,apesar de seu enorme volume detrfego.

    importante que o modelode privatizao seja aquele queoferea maior segurana aos in-vestidores, com isso elevando ovalor do negcio. Para a realiza-o em 2014, da Copa do Mun-do de Futebol, a privatizao fator-chave.

    Senado brasileiro tem parti-cipado de um festival de hor-

    rores sem fim. Desde a revelaoda existncia de mais de 10 milfuncionrios, 183 diretorias e apromulgao de 623 atos secre-tos, a situao moral de Sarney

    ficou insustentvel. O diretorAgaciel Maia, compadre do pre-sidente do Senado, e Joo CarlosZogbi, diretor financeiro da casa,ambos nomeados pelo amapa-maranhense, se viram postos emsituao delicada. Agaciel pelaposse no declarada de um im-vel milionrio estimado em R$ 5milhes, e Zogbi porque seu filhointermediava emprstimos consig-nados a funcionrios da casa. Ofestival de irregularidades pareceno ter fim. Estimulado por Lulla

    e com seu apoio integral, o caci-que resiste renncia ou a qual-quer tipo de afastamento. Reapa-receram no Senado vozes como asde Renan Calheiros e FernandoCollor. Sarney acusado de impro-bidade administrativa, nepotismoe falta de decoro parlamentar.O responsvel pelo Conselho detica, o suplente Paulo Duque, semqualquer exame rejeitou todas asrepresentaes.

    destituio de Lina MariaVieira da Secretaria da Re-

    ceita Federal, meses aps ter sidoescolhida para o cargo porGuido Mantega, Ministro da Fa-zenda, causou espcie. Funcion-ria de carreira, petista de cartei-

    rinha, Lina Vieira perdeu o cargosem qualquer justificativa, mas ogoverno vazou, informalmente, aexplicao de que teria ela perdi-do o cargo pela queda da arre-cadao. Ora, a arrecadaocaiu porque a atividade econ-mica caiu, e o prprio governo foiagente dela ao reduzir alquotasincidentes sobre diferentes produ-tos com nfase para automveis,para a linha branca e para ma-teriais de construo. Seria mui-to mais honesto atribuir sua que-da a choques de natureza con-tbil que teve com a Petrobras,que mudou seu regime duranteo exerccio, ou mesmo a falta deagilidade que Lina no teriadado aos inquritos abertos naReceita Federal referentes ao gru-po empresarial titulado por Fer-nando Sarney, rebento do fami-gerado Senador. Dilma nega tertido o encontro com a ento se-cretria da Receita Federal.

    O O A

    EspecialUma viso liberal do fato

    LinaVieira

    JosSarney

    AeroportoSantos Dummont

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    Ricardo Vlez RodrguezCoordenador do Centro de Pesquisas Estratgicas Paulino Soares de Sousa, da UFJF.

    nossa sociedade tradicional-mente assumiu a atitude

    ambgua das famlias de classemdia com filhos narcodepen-dentes: tenta negar o problema.At ontem, era comum enxergara ndoa nos outros: os colom-bianos eram os produtores dasdrogas da morte. Os americanose europeus, os consumidores.Mas a situao hoje de tal forma

    grave que no h como tapar osol com a peneira. O Brasil contacom 890 mil usurios de drogas.A violncia decorrente do narco-trfico bateu s nossas portas, etemos de pensar em soluespara o problema. No adiantamais repassar o problema para osoutros.

    Em face dessa problemtica,desenvolverei quatro itens: I A

    situao do Rio, precursora, nosanos 80 e 90, da crise brasileiraatual. II Deciso estratgica dosnarcotraficantes: tornar o Brasilprodutor, consumidor e exportadorde cocana. III Quadro nacionalde violncia decorrente da pro-duo, do consumo e da comer-cializao de entorpecentes. IV O que fazer diante do consumomacio de entorpecentes?

    A

    Matria de Capa

    Consumo de txicos no Brasil: causase equacionamento do problema

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    Matria de Capa

    I ASITUAODO RIO,PRECURSORA, NOSANOS 80 E90, DACRISEBRASILEIRAATUAL.

    O Rio de Janeiro antecipou-se,no Brasil, violncia do narco-trfico. Roberto Campos assimtipificou, no ano de 1996, a criseda cidade, sugada pelo turbilhode decadncia econmica, vio-lncia, desemprego, medo eperda de esperana: A Guana-bara sofre de um crculo vicioso eda sndrome do medo. umatrgica causao circular. O de-semprego provoca a margina-lidade; a marginalidade gera a

    violncia; a violncia afasta in-vestidores e agrava o desem-prego; e o desemprego fomentaa marginalidade. Os investidoresnacionais vivem sob a ameaa dosequestro ou tm de pagar tributoa traficantes e pseudo-sindicalistaspara diminuio de roubos.[Roberto Campos O Rio sob osigno do atraso e da violncia,Carta Mensal, n 491, 1996].

    O quadro atrs desenhadono perdeu atualidade, embora setenham passado treze anos. verdade que houve, no Rio, duasmudanas: de um lado, a entradados dlares da explorao pe-trolfera na bacia de Campos, naltima dcada; de outro, o atualgoverno estadual decidiu darcombate aberto aos traficantesnos morros onde eles se tornaramfortes. Mudou a situao de vio-lncia e insegurana para oscidados? No. Por dois motivos:

    primeiro, as divisas do petrleono foram canalizadas para in-vestimentos de longo curso, quemelhorassem as condies devida da grande faixa da popu-lao situada nos subrbios; men-cionemos dois itens esquecidos:transporte ferrovirio e sadepblica.

    Segundo, o Estado do Rio noefetivou uma clara poltica desegurana pblica, aliada ainvestimentos em servios sociais

    (como foi feito em cidades co-lombianas) nas reas carentes. Osucesso obtido no Morro DonaMarta soa mais como exceo, no

    contexto violento das mil e tantasfavelas que cercam a cidade, ondea polcia encena o entra-e-sai quefortalece o poder dos bandidos.O governador Cabral, que seinspirou no exemplo de Medelln,deixou pela metade a obra ini-ciada. Da por que a violncia no

    o Brasil no organograma deproduo/consumo/exportaode txicos.

    Os narcotraficantes tinham,

    na dcada passada, lucros anuaisde aproximadamente US$500bilhes. Esses ganhos hoje socalculados em US$320 bilhes.Seria ingnuo pensar que osprodutores de narcticos tivessema mentalidade do quitandeiro daesquina. Muito pelo contrrio,planejavam friamente os seusnegcios. O jornalista AmauriMello [Crime a futuro, O Globo,13/06/2003] lembrava que, em1989, a mfia italiana estava

    interessada em incrementar osnegcios do narcotrfico noBrasil, diante do combate queestavam sofrendo, da parte dosEstados Unidos e dos governoslocais, os cartis andinos da coca.Segundo Amauri, que trabalhouna Europa, policiais italianostiveram uma srie de conversasnaquele ano com jornalistaslatino-americanos (entre os queele se encontrava) acerca dasltimas pesquisas dos rgos desegurana da Itlia em relaoaos negcios do narcotrfico.

    Os mafiosos delinearam umapoltica de penetrao no Brasil,a fim de tender com o nosso pasuma cabea de ponte para onarcotrfico internacional. Eis,segundo o testemunho de Amauri,as linhas mestras dessa poltica:1) Estimular associao comnegcios em reas de massapopulacional carente; 2) reco-

    mendar atividades que gerassemgrandes volumes de notas, como,por exemplo, vender material deconstruo nas tais reas. Ouparticipar de transporte coletivo. Alm da facilidade de justificarmovimento de dinheiro, tambmestabeleceria uma simpticarelao com a vizinhana... 3)participar do Poder Legislativo defora para dentro, vereana empequenas cidades isoladas nasregies de fronteira e avanar

    diminui, ao passo que na cidadecolombiana literalmente des-pencou.

    II DECISOESTRATGICADOSNARCOTRAFICANTES: TORNARO

    BRASIL

    PRODUTOR

    ,CONSUMIDOR

    E

    EXPORTADORDECOCANA.

    Foi uma cruel coincidncia oRio ter mergulhado no caos deviolncia e decadncia que acabade ser ilustrado? Aparentemente,sim. Mas, examinadas as coisasmais de perto, no. Alm do fatordesagregador representado pelo socialismo moreno de Brizola,houve uma deliberao do crimeorganizado no sentido de incluir

    Alm do fatordesagregador

    representado pelosocialismo moreno

    de Brizola, houveuma deliberao

    do crimeorganizado no

    sentido de incluiro Brasil no

    organogramade produo/

    consumo/exportaode txicos.

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    Matria de Capa

    com representao federal,dando preferncia s regies comcorredores para a pasta de coca;4) Estimular o jogo (naquele

    perodo discutia-se muito areabertura de cassinos no Brasil);5) criar chefes brasileiros.

    III QUADRONACIONALDEVIOLNCIADECORRENTEDA

    PRODUO, CONSUMOECOMERCIALIZAODE

    ENTORPECENTES.

    Os noticirios policiais revelamque os principais pontos dessapoltica da morte foram cumpridos

    risca. Resultado: o Brasil , hoje,importante consumidor de nar-cticos, alm de se ter convertidoem centro de refino de cocana ede exportao de entorpecentespara Estados Unidos e Europa. Aeleio do chefe cocalero EvoMorales, na Bolvia, garantiu aexportao de pasta de coca parao Brasil, notadamente para oEstado de So Paulo. Estatsticaspoliciais informam que, em 2008,foram apreendidos, no aeroportode Guarulhos, 200 quilogramasde coca [SBT, Consumo dedrogas no Brasil, noticirionacional de 9/7/09]. Aplicandoclculo utilizado pela DEA, nosentido de que so apreendidos10% das drogas que circulam,teramos que pelo aeroportomencionado saram, num ano,

    duas toneladas de cocana parao exterior. Dados preocupantesso revelados, igualmente, pelaspolcias de outros Estados, como

    Rio de Janeiro, Esprito Santo, RioGrande do Sul, Minas Gerais,Bahia, etc., em relao sapreenses de drogas destinadasao consumo externo. O Brasil seconverteu, como previam os ma-fiosos, em importante corredor deexportao de drogas para omundo.

    Pior: o nosso pas virou con-sumidor. O Brasil est trilhandocaminho inverso daquele do res-tante do mundo no consumo de

    cocana. Conforme informavarecentemente o Relatrio Mundialsobre Drogas - 2009, da Organi-zao das Naes Unidas, en-quanto Europa e EUA reduziramo consumo nos ltimos anos, oBrasil um dos cinco pases da Amrica do Sul que registraramaumento no nmero de usuriosde drogas, sendo que 890 milbrasileiros consomem cocana(0,7% da populao em 2007),quando seis anos antes o ndiceera de 0,4% [Cf. Csar Maia,Exblog, 25/06/2009].

    O jornalista americano JonLee Anderson, que veio ao Brasilrecentemente para escrevermatria sobre consumo de drogasno Rio para a prestigiosa revistaThe New Yorker, em entrevistaconcedida na Festa Literria de

    Paraty, no incio de julho, afirmou:Eu fui a favelas em que noaparecia polcia desde 2003. Hmil favelas no Rio. Eu acho que a

    situao do trfico no vistacomo uma calamidade nacional.E, no meu ponto de vista, o queo Rio : uma calamidade nacional.H gangues fora de controle emmuitos territrios. (...) O Estadono est funcionando, e os crimi-nosos sabem disso. Os criminososesto se tornando mais fortes,perderam todo o respeito pelasleis e pela sociedade [Jon LeeAnderson, Calamidade nacio-nal. Entrevista a Andr Miranda,

    O Globo,8/7/09, 2 Caderno,p. 1 e 4].

    IV O QUEFAZERDIANTEDOCONSUMOMACIODE

    ENTORPECENTES?

    Vrias providncias saltam vista: em primeiro lugar, necessrio pressionar, nos forosinternacionais, os principais pasesconsumidores de narcticos paraque se engajem na diminuio doconsumo de entorpecentes. Oatual governo americano pareceter aberto os olhos para essarealidade. Em visita Colmbia,realizada em maro deste ano,a Secretria de Estado HillaryClinton declarou: A nossa insa-civel demanda por drogas ilegaisimpulsiona o narcotrfico. A

    No Rio de Janeiro, o Dona Marta soamais como exceo no contexto

    violento das mil e tantas favelas quecercam o estado.

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    nossa incapacidade para evitar ocontrabando de armas causa amorte de policiais, soldados e civis.Sinto fortemente que temos co-responsabilidade [Insaciableconsumo Editorial. El Colom-biano, Medelln, 30/3/2009].

    Em segundo lugar, primor-dial restabelecer o primado do

    Estado no comando da socie-dade. Duas providncias soessenciais: a, restabelecer acredibilidade da Justia, medianteuma legislao mais dura paracom os criminosos; b, reformulara representao poltica no Con-gresso e nas Assemblias Legis-lativas estaduais; hoje a popu-lao no possui instrumentospara cobrar, dos seus represen-tantes, responsabilidade em faceda sua misso. As reformas po-

    ltica e eleitoral so inadiveis.Somente assim poderemos teruma legislao penal acorde comas exigncias da nossa sociedade.

    Em terceiro lugar deve haver,no seio da sociedade, um debateamplo acerca da necessidade delimitar o consumo de drogas. Aquesto da liberao das mesmastem-se mostrado uma soluoinvivel. Nos pases onde houveuma poltica nesse sentido, comona Holanda, os efeitos perversos

    do trfico fizeram-se sentir comtoda a sua crueza e passaram aafetar ao resto da sociedade. Algosemelhante tinha acontecido naSua, com a abertura, em Zu-rique, de reas restritas para oconsumo livre de drogas. Algosemelhante aconteceu na Es-panha, com as polticas liberaisdos anos 80. No se trata decriminalizar sumariamente osusurios, mas eles devem serenquadrados nas suas responsa-bilidades como dependentesqumicos, ajudando-os a superara dependncia.

    Em quarto lugar, devem serformuladas polticas realistasdesegurana pblica, centradas naidia de preservar os direitosbsicos dos cidados vida, liberdade e s posses. Ora, esses

    direitos hoje se encontram seria-mente ameaados nas nossascidades. evidente que essaspolticas no devem ser apenasrepressivas. Mas elas devem sercomplementadas com polticassociais que ajudem as comuni-dades a se protegerem da culturada violncia. importante co-nhecer a fundo o exemplo decidades como Bogot e Medelln,que encontraram na maciamodernizao da educao e da

    cultura instrumentos eficazes paradesenvolver o ambiente da paz.

    Em quinto lugar, devem serreformuladas as polticas sociais

    de mbito nacional, como oprograma bolsa-famlia. Naforma em que este est sendodesenvolvido pelo atual governono redime as populaes ca-rentes, somente lhes dando umauxlio temporal que as tornacaudatrias do favor oficial. Oideal seria adaptar esses pro-gramas de uma forma que tirasseos carentes da sua situao depenria, integrando-os ao pro-cesso produtivo. Temos um exem-

    plo importante de polticas sen-satas nesse terreno na forma comque o governo colombiano co-locou em funcionamento o pro-grama bolsa-escola (inspiradono exemplo brasileiro), mas aper-feioado de forma a colocar asfamlias carentes no caminho daeducao bsica dos filhos, dacapacitao para o mercado detrabalho dos chefes de famlia eda integrao dessas famlias sociedade.

    Em sexto lugar, incorporar oitem reduo do consumo dedrogas aos j existentes, paraavaliar o desempenho dos go-vernos municipais nas cidadesbrasileiras onde foi introduzido oprograma Como Vamos, rea-lizado inicialmente em Bogot eMedelln. As cidades brasileirasque hoje participam desseMovimento (denominado RedeSocial Brasileira por Cidades

    Justas e Sustentveis) so asseguintes: Belm (PA), BeloHorizonte (MG), Braslia (DF),Curitiba (PR), Florianpolis (SC),Goinia (GO), Holambra (SP),Ilha Bela (SP), Ilhus (BA),Januria (MG), Maring (PR),Niteri (RJ), Perube (SP), PortoAlegre (RS), Recife (PE), Salvador(BA), Ribeiro Bonito (SP), Rio deJaneiro (RJ), Santos (SP), So Lus(MA), So Paulo (SP) Terespolis(RJ) e Vitria (ES).

    Matria de Capa

    O Brasil um dos cinco pases da Amrica do Sul que registraram aumentono nmero de usurios de drogas.

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    Destaque

    O Consenso de WashingtonOscar Roberto Jnior

    Professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e consultor na rea de cenrios econmicos

    Venezuela, Equador e Paraguai.O que sugeriu o Consenso deWashington e, de fato, foi aplicadono Brasil trouxe extraordinriosbenefcios ao pas.

    O Editor

    O CONFLITOIDEOLGICO

    o campo da Cincia Poltica,os termos direita e esquerda

    surgiram na Revoluo Francesa(1789-1799). Como se sabe,essas acepes tiveram origem naConveno Nacional, em 1792,porque os deputados conserva-

    dores (girondinos) sentaram-se direita da mesa de trabalho e osradicais jacobinos esquerda.Naquele perodo os jacobinos,junto com os proletrios urbanos(sans-cullotes ), assumiram a

    liderana da Revoluo e pren-deram seus opositores, os giron-dinos.

    Em 1793 e no ano seguinte o chamado perodo de terror, omovimento se radicalizou sob ocomando de Robespierre. Houveexecues em massa, e as sen-tenas de morte atingiram tam-bm os revolucionrios consi-derados traidores ou acusados deconspiraes. Essa onda de terror

    N

    O economista Oscar RobertoJnior em fins de 2006 desen-volveu um trabalho crtico emrelao ao chamado Consensode Washington. A expressoalimentou o desejo, entre boaparte dos latino-americanos, deacreditar ou fingir acreditar que as reformas eram projetadaspelos Estados Unidos em funoexclusiva de seus prprios inte-resses e impostas pelas instituiesfinanceiras internacionais, sedia-das em Washington e sob seucontrole. Essa tese foi abertamenteexplorada pelos governos po-pulistas, entre eles os do Brasil,

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    Destaque

    respingou no prprio Robespierre,que foi executado na guilhotina.Com a sua morte chegou ao fima supremacia do grupo jacobino,

    isto , os girondinos instalaram nopoder a alta burguesia at ocomando ser entregue a Napo-leo Bonaparte.

    Este trabalho foi iniciado apre-sentando a origem dos termosdireita e esquerda como umaespcie de convite reflexo sobreo maniquesmo que sempre existiuentre as duas correntes e quese acentuou a partir de 1945,com o fim da Segunda GuerraMundial.

    Para aqueles que defendiam alinha de atuao sovitica, o maldo mundo teve sua gnese noscorredores e salas do poder deWashington. E para o outro lado,naturalmente, o mal era repre-sentado pelos mesmos ambientesdo Kremlin.

    Talvez essa seja uma das pos-sveis explicaes para a enormerejeio que o Consenso deWashington sofreu nos quatrocantos do mundo, havendo nela,

    portanto, um forte vis ideolgicoe no tcnico.Como diz Jonh Williamson1:

    Desde o incio, a expressoConsenso de Washington pro-vocou controvrsia. Um dosdebatedores do meu trabalho,Richard Feinberg, argumentouque ela deveria ter sido chamadaconvergncia internacional,porque (i) a mudana no pen-samento econmico que elaresumia era de mbito mundial,

    em lugar de confinado aWashington; e (ii) a extenso doacordo ficava muito aqum doconsenso. claro que Feinbergestava correto em ambos ospontos, mas era tarde demaispara mudar o nome de marca.Mais adiante o professor co-menta: A expresso alimentou odesejo de acreditar que asreformas eram projetadas pelosEstados Unidos em funo dosseus prprios interesses e impostas

    pelas instituies financeirasinternacionais sediadas emWashington e sob seu controle,notadamente o FMI e o Banco

    Mundial, e talvez tambm o BancoInteramericano de Desenvol-vimento. Qualquer pessoa com omais leve trao de antiame-ricanismo poderia ser convencidaa espumar de indignao dianteda idia de que Washington estavaprocurando impor seus interesses

    e, com isso, segundo se esperava,seria fcil recrut-la para a causada antirreforma. 2

    O CONSENSO

    definido como convergnciados governos de diferentes pasesem torno das polticas recomen-dadas pelo governo americano eagncias internacionais, como oFundo Monetrio Internacional eo Banco Mundial. A expresso foicunhada pelo economista inglsJohn Williamson, numa con-ferncia do Institute for Interna-tional Economics, em Washin-gton, em 1989. Na ocasio osEstados Unidos preparavam-se

    para lanar o Plano Brady (donome do ento secretrio doTesouro, Nicholas Brady) pararefinanciar a dvida dos pases

    pobres.3

    Seus dez pontos principais so:(i) o controle do dficit fiscal; (ii)privatizaes; (iii) a priorizao dogasto pblico; (iv) e a expansoda base a ser tributada; (v) oabandono do controle da taxa dejuros, uma vez que ela deveria serdeterminada pelo mercado; (vi) adiminuio do controle sobre ocomrcio exterior e tambm (vii)sobre os investimentos diretosestrangeiros; (viii) a desregula-

    mentao, a qual extinguiria asleis e regras que restringem acompetio entre as empresas domercado; (ix) a garantia peloEstado (sistema judicirio) dodireito de propriedade privada; e finalmente (x) uma taxa decmbio para pases subdesen-volvidos que aumentasse e di-versificasse as exportaes, por-tanto, aumentasse a competi-tividade dos produtos nacionaisno exterior. Isto , uma taxa de

    cmbio monitorada pelas auto-ridades monetrias, no pelasforas do mercado. Destaca-se,todavia, que esse item foi motivode divergncias internas naequipe do Consenso. (Williamson,1992)

    O CENRIOECONMICONOBRASIL: UMARPIDAABORDAGEM

    Na ocasio em que o Con-senso foi discutido e apresentado

    ao mundo, no final dos anos1980 e incio dos anos 1990, aeconomia brasileira enfrentavamais um ciclo de planos eco-nmicos e crises que na verdade a deixava cada vez mais de-bilitada. O cenrio de caosdurante aqueles fatdicos anosgerava moedas e pacotes eco-nmicos (como eram chamadasna poca as medidas de corre-o dos rumos) que eram apre-sentados populao como a

    Na ocasio emque o Consenso

    foi discutido eapresentado aomundo, no final dosanos 1980 e inciodos anos 1990, a

    economia brasileiraenfrentava mais um

    ciclo de planoseconmicos e crisesque na verdade

    a deixava cadavez maisdebilitada.

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    Destaque

    quintessncia da poltica eco-nmica. Em pouco tempo, porm,uma nova moeda surgia (ou umaantiga era ressuscitada) e com elavinha a reboque mais um plano.Um dos inmeros exemplos dodescontrole pode ser exposto daseguinte forma: em 1986, o go-verno substituiu o cruzeiro pelo

    cruzado. Em 1989, o cruzadopelo cruzado novo. Um ano de-pois ressurgiu o cruzeiro, que deulugar, em 1993, ao cruzeiro real.E, com o plano do mesmo nome,em 1994, o real. (Banco Centraldo Brasil)

    O governo Sarney (1985-1990) foi inaugurado com oPlano Cruzado, um programade corte da inflao lastreado em:(i) congelamento de preos deprodutos e servios; (ii) conge-

    lamento do salrio mnimo e dossalrios, pela mdia de seu valordos ltimos seis meses; (iii)alterao da unidade do sistemamonetrio, de cruzeiro paracruzado, com valor correspon-dente a mil unidades de cruzeiro;(iv) criao do seguro-desem-prego; (v) cmbio fixo, com ocruzado valorizado, entre outrostpicos.4

    Por falta de conhecimentotcnico e pela fora do marketing

    poltico, os brasileiros acreditaramque seria possvel manter ospreos congelados por um longoperodo e que essa situao,portanto, os beneficiaria. Assimsendo, nos primeiros meses de1986 o plano foi recebido comenorme entusiasmo, mas, com opassar do tempo, a realidade veio

    tona: congelar preos im-possvel em uma economiaaberta, principalmente no setor deservios. Consequentemente, pro-dutos desapareceram das prate-leiras, as reservas internacionaisbaixssimas provocaram uma mo-ratria parcial da dvida externa eo nvel geral de preos trouxe devolta o processo inflacionrio.

    Criou-se, ento, mais um pla-no emergencial. Dessa vez, deu-se a ele o nome do ministro que

    substitura o anterior: Plano Bres-ser (em referncia a Lus CarlosBresser Pereira, substituto deDlson Funaro). Preos e salriosforam congelados por 90 dias.Em seguida, sofreram ajustesmensais e depois seguiram as leisdo mercado. Moeda valorizada,taxa alta de juros e corte dasdespesas pblicas eram outrosdos seus componentes.

    A inviabilidade de tais medidas,somada moratria e a presses

    populares, fez com que o governodo presidente Sarney encerrasseo ano de 1989 com uma novamoeda, o cruzado novo, e com

    inflao de 1.362,61%! Ou seja,aps trs ministros da Fazenda,dois planos e todos os custosimpostos ao Pas, o Brasil con-tinuava na estaca zero.

    Por sinal, sobre fixao depreos h uma interessante ob-servao do austraco Mises.Escreveu ele na dcada de 1950:Em geral, os governos recorremao controle de preos depois deterem inflacionado a oferta demoeda e de a populao ter

    comeado a se queixar do cor-rente aumento de preos (...) Oprimeiro exemplo famoso o casodo imperador Diocleciano. Nasegunda metade do sculo III, osimperadores romanos dispunhamde um nico mtodo financeiro:desvalorizar a moeda corrente pormeio de sua adulterao. Nessapoca primitiva, anterior in-veno da mquina impressora,at a inflao era primitiva.Envolvia o enfraquecimento do

    teor da liga metlica com que secunhavam as moedas, especial-mente as de prata. O governomisturava prata quantidadescada vez maiores de cobre (...) Aconsequncia dessa adulteraodas moedas e do aumentoassociado da quantidade dedinheiro em circulao foi umaalta dos preos, seguida deum decreto destinado a control-los. (...) A consequncia foi adesintegrao do Imprio Ro-

    mano e do sistema de diviso dotrabalho. 5Enfim, sabe-se desde o Imprio

    Romano que o tabelamento depreos no resolve problemaalgum. uma medida incua doponto de vista econmico e que,portanto, atende polticos po-pulistas que esperam aprovaorpida do povo em detrimento dofuturo.

    O primeiro presidente eleitopelo povo desde 1960, Fernando

    No Brasil os governos Sarney, Collor e FHC foram marcados por diversos pacotes econmicos.

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    Collor de Mello (1990-1992),inaugurou seu governo com maisum conjunto de medidas quedeveriam resolver os problemas

    enfrentados pelo Brasil. Mais umavez, a nao foi vtima de umplano sem p nem cabea, omalfadado Plano Collor. Apre-sentado com a tpica empfia doeleito, abrangia as seguintesmedidas: (i) reintroduo do cru-zeiro (extinto no Plano Cruzado);(ii) criao de uma srie detributos; (iii) sequestro dos ativosem depsito vista e na cadernetade poupana a partir do equi-valente a US$ 1200 (da poca);

    (iv) aplicaes com lastro emttulos pblicos e privados (open/over) foram limitadas ao equi-valente a US$ 600 ou 25%,prevalecendo o maior limite, entreoutras operaes. (O governocomprometeu-se a devolver essescruzados bloqueados em cru-zeiros em 12 prestaes iguais esucessivas, a partir de setembrode 1991. Os recursos confis-cados seriam corrigidos moneta-riamente e acrescidos de juros de

    6% a.a. at a data da primeiradevoluo.) (v) privatizaes, (vi)extino de autarquias; (vii)cmbio flutuante; (viii) congela-mento dos preos de bens eservios, entre outras medidas.

    Como resultado, o Brasil en-trou em um processo de estag-flao, com mais de um milhode desempregados e a inflaoalcanando o patamar de 20%mensais.

    Com esse cenrio, o governo

    viu-se obrigado a criar o PlanoCollor II. Seu objetivo maior eracortar despesas pblicas e o fimda correo monetria, isto , adesindexao da economia.(Sandroni, 2005)

    Apesar de tudo, a inflaochegou a 2.863,90% (1990) e429,76% (1991). O ProdutoInterno Bruto caiu 5,05% no pri-meiro ano do governo Collor ecresceu 1,03 no segundo (BancoCentral). O escndalo de corrup-

    o daquele perodo defenestrouo presidente do poder, dandolugar ao vice-presidente, ItamarFranco.

    NOCAOSBRASILEIRO, OCONSENSODE WASHINGTON

    O Consenso foi criado e apre-sentado ao mundo como men-cionado antes no final dos anos1980 e incio dos anos 1990. Ouseja, em uma ocasio em que asautoridades brasileiras estavamdesbussoladas quanto aos rumosda economia, a ponto de trans-formar a sociedade em uma

    espcie de laboratrio ondeplanos eram testados a um custoelevadssimo para todos. Ainflao destrua a transparnciadas contas pblicas, o plane-jamento estratgico das empresase cobrava um altssimo preo dabase da pirmide social maissuscetvel perda do poderaquisitivo.

    O Pas se transformara em umcassino derivado da emisso dettulos pblicos. ( sabido que a

    especulao d ao mercado li-quidez, mas, naqueles anos, aespeculao se sobreps produ-o e ao investimento.)

    Ora, os termos do Consensonunca foram aplicados em seuconjunto, portanto a crtica ge-neralizada se torna absurda.Pontos h, claro, que deviam serreestudados e reanalisados, oprprio professor Williamson disseisso. Por essa razo que a crticaideologizada se torna oca, sem

    sustentao.ASSUGESTESDO

    CONSENSOEO BRASIL

    Em relao aos gastos p-blicos: (i) o controle do dficitfiscal; (ii) a privatizao; (iii) darprioridade ao gasto pblico; e (iv)a expanso das base a ser tribu-tada.

    Para Williamson, essas medi-das seriam justificadas, pois go-

    vernos de pases subdesenvol-vidos deveriam gastar menos, aomesmo tempo em que deveriamdirecionar o gasto para reas que

    tivessem um retorno econmicomaior e fossem efetivas emmelhorar a distribuio de renda(os governos deveriam direcionaros recursos gastos em inves-timentos nas empresas estatais eem subsdios para reas desade, educao e investimentosem infraestrutura). Alm disso,como forma de aumentar osrecursos para financiar essesgastos o autor indica que osgovernos deveriam expandir a

    base tributria. Essa ltimamedida, por sua vez, no apenasaumentaria os recursos dispo-nveis para o investimento pblico,mas tambm aumentaria aigualdade horizontal na tributaosem contudo desestimular aeconomia, ou melhor, apenar osmais ricos. (Williamson, 1992)

    Em uma referncia aos go-vernos brasileiros mais recentes,todos, sem exceo, ampliaramos gastos dando pouco valor s

    restries oramentrias que seimpem a uma nao que sediz sria.

    O governo Lula (2003-2006),por exemplo, recebeu do presi-dente Fernando Henrique Car-doso (1995-2002) uma cargatributria altssima, correspon-dente a aproximadamente 36%do Produto Interno Bruto, e aelevou a pouco mais de 38%. Fezisso para manter gastos de custeioem detrimento dos investimentos

    em infraestrutura, programassociais com forte conotaoassistencialista (Bolsa Famlia),uma vez que acompanham poucoas famlias que dele participame, sem dvida, para se reelegernaquele ano. O que, de fato,aconteceu.

    Sobre o Bolsa Famlia, im-portante destacar que o tema no novo. Um dos mais brilhantesrepresentantes do monetarismono sculo XX, Milton Friedman,

    Destaque

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    props o imposto de rendanegativo, que nada mais que atransferncia de dinheiro direta-mente para o bolso dos pobres,

    em vez de programas pelos quaiso Estado fornece produtos eservios para aliviar a pobreza. NoBrasil, porm, foi determinado queas famlias beneficiadas com oprograma devessem ter crianasna escola e seguir com rigor ocronograma de vacinas. Sabe-seque os recursos tm sido liberadossem o necessrio acompanha-mento. (Como distribuio derenda um dos itens do Con-senso, o tema se torna expressivo

    tambm nesse paper.)Com dficit nominal (aqueleque contabiliza o servio da dvida,alm de todas as despesas dogoverno) de 2,8% do PIB, dvidainterna de um trilho e quarentae dois bilhes de reais (emoutubro de 2006)6 e frequentesdficits nas contas da Previdncia,Braslia est armando uma bom-ba-relgio para um futuro pr-ximo. E, vale lembrar, para manteresse gap contbil os tcnicos do

    Banco Central julgam necessriooperar com a maior taxa de jurosreais do mundo, a saber: Brasil,9,3%; Turquia, 6,8%; Israel,

    5,6%; China, 4,7%; EUA, 4,0%.(Taxas ao ano/outubro 2006.Fontes: Banco Central e UptrendConsultoria Econmica)

    Dvida alta, gasto excessivocom juros e baixo crescimentoeconmico so os fatores queexcluem o Brasil do grupo dospases classificados de grau deinvestimento, segundo a diretorade risco soberano da agnciaStandard and Poors (S&P), LisaSchineller. E continua: Um pas

    com essa classificao tem melhoravaliao da sua economia epassa a ter acesso a grandesfontes de financiamento, comoos fundos de penso norte-ame-ricanos. 7

    Na Amrica Latina somente oChile e o Mxico receberam ograu de investimento. Issoocorreu porque, entre outrostpicos, ambos reduziram brus-camente seu dficit pblico.

    Em poucas palavras, desen-

    volvimento econmico se dtambm via investimento privado,e o Brasil se transformou em umanao nada acolhedora a essesetor. Vejamos: (i) poucas ativi-dades econmicas remuneram nonvel de juros cobrado no Brasil;(ii) a taxa de juros alta se refletena taxa de cmbio, sendo umcomponente da valorizao exces-siva do real; (iii) por no sermosinvestment grade deixamos dereceber poupana externa a

    preos competitivos; (iv) a cargatributria sobre o faturamento dasempresas corresponde a 34% doPIB (a total, como foi dito, chegaa aproximadamente 38%), e oretorno em infraestrutura baixs-simo. Todos esses itens apenam oempreendedor e tm sua origemno emprego dos recursos pblicos(o governo gasta mal) e no dficitpblico (e gasta muito).

    Interromper a sangria dascontas nacionais um com-

    portamento sensato para quemquer ver o Brasil melhor, portantono h nada de novo na reco-mendao do Consenso de

    Washington. preciso entenderque Estados perdulrios geramcrises e misria, no riqueza edesenvolvimento.

    Se o Brasil tem errado nocampo do dficit pblico, houveacertos nas privatizaes. Acre-dito, porm, que mais organi-zaes deveriam ser privatizadas,como o Banco do Brasil, Petro-bras, Sabesp, presdios, etc.

    O economista Andr FrancoMontoro disse o seguinte a

    respeito do assunto: A questodas privatizaes voltou ao debatepoltico, sendo apresentada porseus crticos como um grandeprejuzo para o Brasil. E quemprivatiza seria um vendilho dopatrimnio nacional, manco-munado com poderosos gruposfinanceiros. Ser isso verdadeiro?Quem foi prejudicado e quem foibeneficiado com as privati-zaes? E continua: Primeiro, osetor siderrgico (Cosipa, CSN,

    Aominas, etc.). At sua privati-zao essas empresas geravamgrandes prejuzos e exigiamaportes do governo federal decerca de US$ 1 bilho por ano.Aps as privatizaes o setor setornou um dos mais eficientes domundo, a ponto de os EstadosUnidos tomarem medidas prote-cionistas contra as empresasbrasileiras.8

    Em outro artigo do mesmojornal, a ex-presidente da CSN,

    Maria Slvia, diz: Para ilustrar, oprejuzo consolidado das em-presas siderrgicas em 1992 foide US$ 260 milhes, enquantoseu lucro consolidado em 2005foi de US$ 4 bilhes. (...) Nasiderurgia foram investidos US$16 bilhes, aps a privatizao,em proteo ambiental, quali-dade e modernizao, prepa-rando o setor para um novo ciclode expanso da capacidade. AVale do Rio Doce investir US$ 4,6

    Destaque

    Milton Friedman props o imposto derenda negativo.

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    bilhes em 2006, mais de dezvezes o valor investido em 1997.Sem mencionar a aquisio damineradora canadense de nquelInco, por US$ 18 bilhes. (...) AVale, que tinha 11 mil funcionriosem 1997, em 2006 tem 44 milempregados diretos e 93 milindiretos. Alm disso, seus investi-mentos podero criar mais 33 milempregos diretos entre 2005 e

    2010, alm do mesmo nmero deempregos indiretos, ou seja, 66mil novos empregos. Do setorsiderrgico, a autora passa paratelecomunicaes. Vejamos: Abase de clientes de telefones celu-lares cresceu mais de 1.300%, desete milhes em 1998 para cercade 100 milhes atualmente. 9

    Podemos acrescentar lista atelefonia fixa, a Embraer, estradase bancos e, sem exceo, todosgeraram resultados favorveis aos

    acionistas e aos consumidores.Isto , mais uma vez argumentoscontra as privatizaes, principal-mente se envolverem capitalestrangeiro, tm como objetivopreservar empregos daqueles quevivem custa dessa irmandadechamada Estado e/ou uma fortecor ideolgica. No Manual doPerfeito Idiota Latino-Americanoest escrito: Agrada-nos serineptos com a conscincia limpa.Temos prazer mrbido em nos

    sentirmos vtimas de algumaexplorao. Praticamos um maso-quismo imaginrio, uma fantasiade sofrimento. No porque apobreza latino-americana sejairreal ao contrrio, bastantereal para as favelas de Lima e doRio de Janeiro, ou os casebres deOaxaca mas porque gostamosde culpar algum malvado pornossas carncias. 10

    Outro ponto do Consensorefere-se diminuio do controleexercido pelo Estado sobre omercado. A saber: (v) o abandonodo controle da taxa de juros, aqual passaria a ser determinadapelo mercado; (vi) a diminuio docontrole sobre o comrcio exteriore tambm (vii) sobre os inves-timentos diretos estrangeiros e,por fim (viii) a desregulamentaoque extinguiria as leis e regras querestringem a competio entre

    empresas no mercado.Talvez o item principal seja o quediz respeito ao comrcio exteriore liberdade das empresas. Amais completa classificao deabertura e liberalizao daseconomias nacionais o ndice deLiberdade Econmica (ILE) ela-borado pela Herigate Foun-dation11. A metodologia consistena classificao das economiasnacionais numa escala numricade um a cinco. O ndice leva em

    conta 50 variveis independentes,distribudas por 10 fatores deliberdade econmica: comrcio,carga fiscal, interveno gover-namental, poltica monetria,investimento estrangeiro, bancose finanas, salrios e preos,direito de propriedade, regulaoe mercado informal. O valor finaldo ndice a mdia aritmticaentre as notas atribudas aos dez

    fatores.Segundo o clculo, as eco-nomias mais abertas do mundoso: Hong Kong (1,28), Cin-gapura (1,56), Irlanda (1,58),Luxemburgo (1,60), Reino Unido(1,74), Islndia (1,74), Estnia(1,75); Dinamarca (1,78), Es-tados Unidos (1,84) e Austrlia(1,84). O Brasil ocupa a 89posio (dados de 2006), comvalor de 3,08, isto , esse nvel denota implica uma economia

    predominantemente fechada,atrs apenas das economiasfechadas, quando o ILE seencontra entre 4 e 5, como Cuba(4,10) e Venezuela (4,16). (Fonte:Jornal Valor Econmico)

    Estudos internacionais apon-tam forte correlao entre osgraus de abertura econmica e osnveis de desenvolvimento hu-mano e de liberdade poltica. Essequadro um dos fatores quedeixam ntida a 69 posio do

    Destaque

    O ndice de Liberdade Econmica (ILE) apontou, em 2006, Hong Kong como a economia mais aberta do mundo.

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    Pas no IDH, considerado mdiodesenvolvimento humano. Umareflexo interessante sobre o temaliberdade econmica e mercado

    internacional expressa nasseguintes palavras: Se o mercadointernacional coisa de gigantesque esmagam os fracos, por queIsrael, Andorra, Mnaco, Lie-chtenstein, Taiwan, Cingapura,Hong Kong, Luxemburgo Sua,Curaao, Grande Caim eDinamarca esto entre as naesmais ricas (e menores) do mun-do? (Manual do perfeito idiotalatino-americano, pp 67/68)

    Vinod Thomas, economista do

    Banco Mundial, diz: Mesmolevando-se em conta o grandetamanho do Brasil e de seumercado interno, a parcela maisrecente de cerca de 30% emrelao ao PIB de exportao eimportao de bens e servios relativamente baixa, comparada parcela de 50% na China.12

    No final dos tpicos, o Con-senso de Washington sugere aparticipao do Estado: (ix) agarantia do direito de propriedade

    privada se d via Estado, atravsdo Sistema Judicirio e; (x) maisimportante para os pasessubdesenvolvidos ter uma taxa decmbio que aumente e diversifiqueas exportaes (e assim aumentea competitividade dos produtosnacionais no exterior) do que umataxa de cmbio determinada pelomercado.

    Como o Consenso foi pro-posto principalmente para paseslatino-americanos, talvez tenha

    faltado aos seus criadores areflexo de que nos anos 1980 e1990 um dos mais preocupantesproblemas de parte expressiva daregio entre eles o Brasil tenhasido a inflao, portanto pro-gramas com forte foco na ex-portao, com moeda nacionalartificialmente desvalorizada,provocariam ainda mais inflao,dada a retrao nos nveis deimportao. Outro tpico a serdestacado o nacionalismo

    existente nessas naes. Em ou-tras palavras, a queda nas im-portaes, devido ao encareci-mento dos produtos estrangeiros,

    reduziria bruscamente a com-petitividade dos nossos produtose, consequentemente, a penetra-o deles em mercados concor-renciais.

    Concluso: este trabalho notem como objetivo uma abor-dagem tcnica sobre o conjuntode medidas proposto pelo Con-

    Destaque

    KUCZYNSKI, Pedro-Pablo &WILLIAMSON, John. Depois doConsenso de Washington: Reto-mando o Crescimento e a Reforma naAmrica Latina. So Paulo, EditoraSaraiva, 2004.

    SANDRONI, Paulo. Dicionrio deEconomia do Sculo XXI, Rio deJaneiro, Editora Record, 2005.

    MISES, von Ludwig.As seis lies,Rio de Janeiro, Instituto Liberal, 1979.

    MONTANER, Carlos Alberto &MENDOZA, Plnio Apuleyo; Manualdo Perfeito Idiota Latino-Americano,Rio de Janeiro, Editora BertrandBrasil, 2000.

    THOMAS, Vinod. O Brasil visto pordentro, Rio de Janeiro, Jos OlympioEditora, 2005.

    1 O economista ingls JohnWilliamson trabalhou no Ministrio daFazenda (The Exchequer) da Inglaterrae no Fundo Monetrio Internacional.Foi professor do Instituto de Tecno-logia de Massachusetts e da Univer-sidade Princeton. Durante quatro anostambm lecionou na PUC-Rio. Nosltimos anos, se dedicou ao Institutode Economia Internacional, em Wa-shington.

    2 Kuczynski Pedro-Pablo; William-son, John. Depois do Consenso de

    Washington: Retomando o cresci-mento e a reforma na Amrica Latina.Editora Saraiva, 2004. pp 285, 286

    3Notas para um dicionrio bra-sileiro de poltica,Revista Veja, Edio1626, de 1/12/1999.

    4 Maiores detalhes sobre os planosCruzado, Bresser e Collor: Sandroni,Paulo; Dicionrio de Economia doSculo XXI. Rio de Janeiro, EditoraRecord, 2005.

    5 Mises, von Ludwig;As seis lies ,Rio de Janeiro, Instituto Liberal, 1979.

    6 Fonte: Banco Central.7Baixo crescimento atrasa reclassi-

    ficao do Pas. O Estado de SoPaulo, 28/11/2006.

    8

    Montoro Filho, Andr Franco;Quem tem medo das privatizaes,O Estado de So Paulo, 4/11/2006.

    9 Marques, Maria Slvia Bastos; Pri-vatizao - a verdade dos nmeros,O Estado de So Paulo, 25/10/2006

    10 Montaner, Carlos Alberto;Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano. Rio de Janeiro, EditoraBertrand Brasil, 2000 (pp77)

    11 Um think-tank estadunidense espe-cializado em pesquisa e anlise de po-lticas pblicas.

    12 Thomas, Vinod; O Brasil visto pordentro, Rio de Janeiro, Jos OlympioEditora, 2005, p40.

    senso de Washington. Tem, sim,como escopo mostrar que nelasno h nada do imperialismo deWashington, como gostam dedizer aqueles que deram a ele uma

    forte conotao ideolgica. Umcenrio econmico protago-nizado pelo corte dos gastospblicos e, na melhor das hi-pteses, supervit nominal, como dinheiro pblico bem empre-gado, empresas privadas agres-sivas, alm do mercado aberto erespeito aos contratos, o idealpara hospedar investimentos nosentido mais abrangente do ter-mo. Ou seja, aquilo que precisa-mos para crescer.

    Como o Consenso

    foi propostoprincipalmentepara pases latino-americanos, talveztenha faltado aosseus criadores areflexo de quenos anos 1980 e

    1990 um dos maispreocupantes

    problemas de parteexpressiva da regio entre eles o Brasil tenha sido a inflao.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICASE NOTAS

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    Livros

    A atualidade de MenckenResenha de O Livro dos Insultos, de H. L. Mencken, Ed. Companhia das Letras - SP - 1988

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    A democracia a arte e a cincia deadministrar o circo a partir da jaulados macacos. (H. L. Mencken)

    enry Louis Mencken foi umiconoclasta difcil de ser

    reduzido a algum rtulo simplista.O Nietzsche americano nopoupava ningum de sua cidapena. Todos eram ridicularizadospor ele, que considerava o homemmdio um grande idiota e covarde.A obra O Livro dos Insultos, pu-blicada em 1988 no Brasil, recebeagora uma segunda edio, comtraduo de Ruy Castro. Trata-se deuma verdadeira metralhadoragiratria, com especial valor na erada ditadura do politicamente cor-reto. Apesar de escritos na dcadade 1920, seus artigos parecembastante atuais. A idolatria queObama despertou, por exemplo,seria material farto para a ironia deMencken.

    Vejamos, por exemplo, essaafirmao: A civilizao torna-se

    cada vez mais histrica e babonae, especialmente sob a democracia,tende a degenerar num mero bate-boca entre dementes. O nicoobjetivo da prtica poltica, porexemplo, manter o povo alar-mado (e, portanto, clamando porser conduzido em segurana) poruma galeria interminvel de capetase papes, todos, claro, imagi-nrios. Como ler essas linhas e nopensar na histeria com o aqueci-mento global, que tomou conta dahumanidade? Como ignorar opnico frequente com epidemias,como a SARS, a vaca louca, a gripesuna? At mesmo a crise econmica utilizada para alastrar pavor nosleigos, passando-se logo em se-guida o chapu dos impostos econcentrando mais poder nos gover-nos. Num mundo habitado porcovardes, os charlates fazem a festa.

    Os ataques de Mencken aogoverno jamais perdero validade.Ele disse: Todo governo, em essn-cia, uma conspirao contra o

    homem superior: seu objetivo per-manente oprimi-lo e maniet-lo.Como ler isso e ignorar o que sepassa no Brasil, onde a medio-cridade alada ao patamar dedeus? A meritocracia tem seus diascontados num pas onde a amizadecom os governantes vale mais quequalquer coisa para subir na vida.

    Mencken acrescenta: Para ogoverno, qualquer idia original um perigo potencial, uma invasode suas prerrogativas, e o homemmais perigoso aquele capaz depensar por si prprio, sem ligarpara os tabus e supersties emvoga. Experimentem fazer declara-es contra o consenso da manadahoje em dia para ver a reao daturba! Se algo mudou desde ostempos de Mencken, com certezano foi para melhor nesse sentido.

    Revolues polticas quase

    nunca realizam nada de verdadeiromrito; seu nico efeito indiscutvel enxotar uma chusma de ladrese substitu-la por outra, escreveuMencken. Se considerarmos a che-gada do PT ao poder uma revo-luo, tais palavras no servemcomo uma luva? Nem mesmo todosos ladres foram enxotados, poismuitos simplesmente mudaram delado e se aliaram ao novo governo.Os caudilhos nordestinos, antesalvos dos mais terrveis ataques

    morais dos petistas, agora sotodos membros do governo, bei-jando as mos do presidente Lulae seus camaradas. Para Mencken,o governo ideal de qualquerhomem dado reflexo, de Aris-tteles em diante, aquele quedeixe o indivduo em paz umgoverno que praticamente passedespercebido. Mas ele era realistao suficiente para saber que esseideal levar uns vinte ou trintasculos para se concretizar, depen-dendo de homens to covardes que

    necessitam do governo como umaespcie de pai.Os ataques ao governo conti-

    nuam: Todo governo compostode vagabundos que, por umacidente jurdico, adquiriram oduvidoso direito de embolsar umaparte dos ganhos de seus se-melhantes. No Brasil, essa parte jchega a praticamente metade detudo gerado pelos indivduos. Emum pas onde o discurso pattico depagar impostos para comprar

    cidadania ainda encontra forteeco, o alerta de Mencken no po-deria ser mais til: O homem in-teligente, quando paga os seusimpostos, no acredita estarfazendo um investimento prudentee produtivo de seu dinheiro; aocontrrio, sente que est sendomultado em nome de uma srie deservios que, em sua maior parte,lhe so inteis e, s vezes, atprejudiciais. Num pas onde ogoverno financia at invasores depropriedade privada, poderamos

    dizer que Mencken foi bondosodemais em sua anlise.Para finalizar, demonstrando o

    carter atemporal da percepo deMencken, um sucinto resumo dasituao atual brasileira: Todohomem decente se envergonha dogoverno sob o qual vive. E no verdade?

    H

    porRodrigo ConstantinoEconomista e escritor

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