efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por agrotóxicos

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS DÉBORA CANDIDA DA SILVA EFEITOS TÓXICOS E GENÉTICOS OCASIONADOS POR AGROTÓXICOS CRICIÚMA, AGOSTO DE 2005

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Estudos clínicos, citogenéticos e toxicológicos em trabalhadores rurais expostos a pesticidas em Botucatu, mostraram freqüências de aberrações cromossômicas significativamente mais altas no grupo exposto quando comparado ao grupo de controle. Embora usassem vestuário protetor contra névoa de pesticidas, o qual incluía calças de borracha, botas, luvas, máscara e chapéu, os resultados clínicos revelaram que os trabalhadores foram contaminados (BREGA,1998). Pag 38

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Page 1: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO

DE RECURSOS NATURAIS

DÉBORA CANDIDA DA SILVA

EFEITOS TÓXICOS E GENÉTICOS OCASIONADOS POR

AGROTÓXICOS

CRICIÚMA, AGOSTO DE 2005

Page 2: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

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DÉBORA CANDIDA DA SILVA

EFEITOS TÓXICOS E GENÉTICOS OCASIONADOS POR

AGROTÓXICOS

Monografia apresentada à Diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Gestão de Recursos Naturais Orientador: Prof. M.Sc. Claus Tröger Pich

CRICIÚMA, AGOSTO 2005

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A Deus, e a todos aqueles que nunca

desistiram de buscar seus sonhos.

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3

AGRADECIMENTOS

Ao professor M.Sc. Claus Tröger Pich, pela

orientação, paciência e amizade.

Aos meus pais, Edy e Lourdes, pela presença

constante na minha caminhada.

Ao meu querido Leandro Vieira, pela atenção e

carinho.

A todos os amigos, colegas e familiares que

direta ou indiretamente, contribuíram para a

realização deste trabalho.

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4

“É inconcebível que o Criador tenha colocado

seres tão diversos sobre a Terra, cada um tão

admirável em seu meio, tão perfeito em seu

papel, somente para permitir ao Homem, sua

obra-prima, destruí-los para sempre”.

Autor desconhecido

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RESUMO

Com este trabalho, através de uma revisão bibliográfica, objetivou-se avaliar efeitos genéticos e toxicológicos ocasionados por agrotóxicos. Os agrotóxicos estão presentes nos mais diferentes contextos do dia-a-dia. O impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana é um problema que tem merecido atenção da comunidade científica em todo o mundo, sobretudo nos países em desenvolvimento. A avaliação deste impacto implica no conhecimento e na visualização da importância e magnitude relativa de cada uma das vias de contaminação, seja, ocupacional, ambiental ou alimentar. Estudos consultados demonstraram que os agrotóxicos possuem a capacidade de apresentarem efeitos toxicológicos, mutagênicos, carcinogênicos e teratogênicos aos seres vivos, sendo de efeito acumulativo na cadeia alimentar afetando praticamente todos os sistemas biológicos por onde passa. Os gastos em saúde pública decorrente das contaminações por agrotóxicos são elevados e totalmente assumidos pelo Estado e pela sociedade. No Brasil, seguindo-se a estimativa proposta pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que indica que para cada caso registrado de intoxicação por agrotóxicos outros 50 casos de intoxicação ocorreram sem notificação ou com notificações errôneas. Os aspectos relacionados ao controle dos agrotóxicos são diversos e envolvem questões políticas, sociais, econômicas e técnicas. A legislação é um dos fatores essenciais para o controle dessas substâncias e geralmente reflete a evolução dessas questões na sociedade. Nesse sentido, a Lei dos Agrotóxicos se encontra em constante processo de implantação e vem passando por modificações e complementações, com a edição de novas portarias e decretos de regulamentação.

Palavras-chave: Agrotóxicos; Legislação; Toxicidade; Mutagênese; Seres Vivos.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo DL50 .................... 18

Page 8: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 08

2 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................... 10

2.1 Toxicidade......................................................................................................... 10

2.1.1 Ambiental ....................................................................................................... 13

2.1.2 Técnicas de medida e monitoramento......................................................... 15

2.1.3 Toxidade em agrotóxicos ............................................................................. 15

2.2 Genotoxicidade................................................................................................. 18

2.2.1 Monitoramento genético ambiental ............................................................. 21

2.2.2 Populações naturais e laboratorial ............................................................. 24

2.2.3 Populações humanas, residenciais e ocupacionais .................................. 26

2.3 Genotoxicidade dos agrotóxicos .................................................................... 28

2.3.1 Principais grupos de agrotóxicos ................................................................ 29

2.3.1.1 Inseticidas ................................................................................................... 29

2.3.1.2 Fumigantes.................................................................................................. 30

2.3.1.3 Rodenticidas ............................................................................................... 30

2.3.1.4 Herbicidas ................................................................................................... 31

2.3.1.5 Fungicidas .................................................................................................. 31

2.3.2 Genotoxicidade dos agrotóxicos no ambiente natural .............................. 32

2.3.3 Genotoxicidade dos agrotóxicos nos seres humanos............................... 35

2.4 Aspectos legais ................................................................................................ 43

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 51

REFERENCIAS........................................................................................................ 53

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1 INTRODUÇÃO

No século XIX as primeiras substâncias tóxicas foram utilizadas com fins

agrícolas. Estas eram venenos a base sais inorgânicos, produzidos em laboratório,

tais como Arsênico, Tálio, Cobre, Enxofre, e obtidos a partir da natureza. Eram

solúveis em água e se precipitavam com substâncias alcalinas e orgânicas. Às

pessoas envenenadas, recomendava-se que tomassem leite, assim o produto podia

ser vomitado, pois se precipitava no estômago.

Afirma que antes de 1940, a piretrina, a rotenona e a nicotina, todos derivados de plantas, tinham uso limitado a jardins domésticos de flores. Todos se degradavam rapidamente. A proteção dependia de vários sais inorgânicos de arsênico, cobre, chumbo e zinco mais enxofre, misturas limo - enxofre e algumas pulverizações de óleos. Após a Segunda Guerra Mundial surgiram os inseticidas à base de Hidrocarbonetos clorados e herbicidas (ESTORER, 1998 apud CAÍRES, 2002, p. 106).

Depois da segunda guerra mundial os agrotóxicos começaram a ser

usados em escala mundial. Vários serviram de arma química nas guerras da Coréia

e do Vietnã, como por exemplo, o Agente Laranja, desfolhante que dizimou milhares

de soldados e civis. Os países que tinham a agricultura como principal base de

sustentação econômica, como África, Ásia e América Latina, sofreram fortes

pressões de organismos financiadores internacionais para adquirir essas

substâncias químicas. A alegação era de que os agrotóxicos garantiriam a produção

de alimentos para combater a fome. Com o inofensivo nome de “defensivos

agrícolas”, eles eram incluídos juntos com adubos e fertilizantes químicos nos

financiamentos agrícolas. Sua utilização na agricultura nacional em larga escala

ocorreu a partir da década de 70 (CAIRES, 2002).

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Algo como 305 milhões de quilos de pesticidas entram anualmente no meio ambiente do Terceiro Mundo. Na medida em que esses pesticidas são aplicados em excesso, ou de maneira esbanjadora, acentuam desnecessariamente os problemas do meio ambiente (ESTORE, 1986 apud CAIRES, 2002, p.106).

Para Seizi (1996, p. 73) o homem vive em confronto permanente com os

inimigos que ele próprio criou. É o caso das substâncias químicas, dentre quais se

destacam os agrotóxicos.

Na situação atual, na qual necessitamos dos agrotóxicos para manter

nossos estoques de alimento dentro do modelo econômico em que vivemos e ao

mesmo tempo tendo a consciência de que são agentes que podem provocar

enormes prejuízos ao meio ambiente e desta forma podem comprometer a produção

de alimentos das futuras gerações, vem crescendo o interesse pelo controle

biológico e a agricultura orgânica, livre de agrotóxicos e seus efeitos nocivos.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Para melhor compreensão da temática referente aos efeitos dos

agrotóxicos sobre seres vivos, os vários aspectos serão abordados em ordem

crescente objetivando proporcionar uma visão abrangente da temática.

2.1 Toxicidade

A ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações de

substâncias químicas com o organismo chama-se de Toxicologia, isto é, o estudo

dos efeitos danosos de substâncias químicas em organismos vivos, fornece a base

de dados científicos na qual se apóia a avaliação de risco de efeitos adversos para a

saúde (PAUMGARTTEN, 1993).

A história da Toxicologia acompanha a própria história da civilização, pois,

desde a época mais remota, o homem possuía conhecimento sobre os efeitos

tóxicos de animais e de uma variedade de plantas tóxicas. O poder aniquilador de

venenos era freqüentemente, utilizado como instrumento de caça ou como arma

contra inimigos (SEIZI, 1996).

Um dos documentos mais antigos, o Papiro de Ebers (1500 a.C.), registra

uma lista de cerca de 800 ingredientes ativos incluindo metais do tipo chumbo e

cobre, venenos de animais e diversos vegetais tóxicos. Com a seqüência de

observações, e de experimentos, o método científico e sistemático, a Toxicologia

chega ao século XX e caracteriza-se pelo grande avanço tecnológico no campo de

síntese química. Milhares de novos compostos foram sintetizados para diversos fins,

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tais como farmacêuticos (fármacos, excipientes), alimentares (conservantes,

corantes, flavorizantes), agrícolas (praguicidas, herbicidas). O contato do homem

com esses agentes tem provocado inúmeros casos de intoxicação (LARINI, 1997).

A intoxicação inicia-se sempre com a exposição do organismo ao agente toxicante, que geralmente sofre absorção por variadas vias e atinge o sistema circulatório; o sangue e a linfa se encarregam de transportá-lo aos diversos tecidos e órgãos, onde o agente tóxico exerce sua atividade causando-lhes alterações bioquímicas ou fisiológicas, detectáveis pelos sinais e sintomas ou dados laboratoriais de diagnóstico (SEIZI, 1996, p. 29).

Entende-se por agente tóxico ou toxicante a entidade química capaz de

causar dano a um sistema biológico, alterando seriamente uma função ou levando-o

à morte, sob certas condições de exposição.

A propriedade de agentes tóxicos de promoverem injúrias às estruturas biológicas, através de interações físico-químicas é chamada toxicidade. Portanto, a toxicidade é a capacidade inerente e potencial do agente tóxico de provocar efeitos nocivos em organismos vivos, sendo sua ação tóxica a maneira pela qual um agente tóxico exerce sua atividade sobre as estruturas teciduais (SEIZI, 1996, p. 5).

Podemos designar o termo Xenobiótico, a essas substâncias químicas

estranhas ao organismo, na qual não possuem papel fisiológico conhecido,porém

todas as substâncias químicas tóxicas produzem seus efeitos alterando as

condições fisiológicas e bioquímicas normais das células. O equilíbrio das taxas de

absorção e eliminação dos xenobióticos tem um papel importante na prevenção de

danos no DNA, sendo assim, a habilidade de metabolizar e eliminar os xenobióticos

pode ser considerada uma das primeiras linhas de defesa dos organismos

(HATAGIMA, 2002).

O sistema biológico entra em contato com essas substâncias através de

vários meios, como em recintos fechados, fábricas e armazéns, os trabalhadores

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podem ser expor longamente às diferentes substâncias, por exemplos metais,

inseticidas, herbicidas etc.

As diferenças fisiológicas e bioquímicas existentes entre as espécies

animais determinam também variação de seletividade de ação de xenobióticos. Na

agricultura, por exemplo, usam-se pesticidas seletivos para combater certos fungos

e insetos, sem causar danos significativos a outras espécies vivas, assim como na

medicina, os antibióticos são úteis pela toxicidade seletiva que eles possuem sobre

os microorganismos causadores de patologia (MELO, 1998).

A toxicidade seletiva de certos inseticidas, usados em forma de spray,

reside no fato de os insetos absorverem maior quantidade do agente do que o

homem, através de sua maior área de superfície de contato em relação a sua massa

corporal.

Uma substância altamente tóxica promoverá um efeito tóxico quando

empregada em pequenas quantidades, enquanto que substâncias de baixa

toxicidade necessitam de altas doses para promoverem um efeito tóxico. A

exposição é função da dose (ou concentração) do agente químico envolvido e do

tempo de interação com o organismo. A exposição implica na interação do agente

químico com o organismo de modo a poder exercer o seu efeito a nível celular. Um

dos maiores problemas na definição do nível de exposição tolerável está em se

estabelecer o que deve ser considerado como dano ou efeito adverso. Um efeito

adverso é definido como uma alteração anormal, indesejável ou nociva após

exposição a substâncias potencialmente tóxicas. Pode-se dizer que a morte é o

efeito adverso mais drástico que pode ocorrer. Porém, efeitos adversos de menor

gravidade incluem alteração no consumo de alimentos, variação no peso corpóreo

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ou de órgãos, alterações anatomopatológicas ou simplesmente de níveis

enzimáticos (LARINI, 1997).

Os organismos vivos apresentam capacidade de responder a variações

externas, de modo a manter sua função normal. Este processo conhecido como

homeostasia permite que os organismos vivos através de modificações bioquímicas,

morfológicas e de seus mecanismos fisiológicos se adaptarem às condições

adversas de exposição sem manifestação de toxicidade. Entretanto, essa

capacidade é limitada e quando os mecanismos de adaptação são sobrepassados

manifesta-se o efeito tóxico (TORTORA, 2000).

2.1.1 Ambiental

A toxicologia ambiental pode ser conceituada como a área onde se

estudam os efeitos nocivos causados em organismos vivos pelas substâncias

químicas presentes no meio ambiente.

O ramo da Toxicologia em que se estudam os efeitos tóxicos provocados pelas substâncias químicas sobre os constituintes dos ecossistemas, animais (homem), vegetais e microorganismos, num contexto integrado, chame-se Ecotoxicologia (SEIZI, 1996, p. 98).

Assim na toxicologia ambiental estudam-se os efeitos tóxicos em

determinada espécie biológica, principalmente o homem, enquanto na

Ecotoxicologia estuda-se o impacto das substâncias químicas sobre as populações

das diversas espécies que constituem os ecossistemas.

Com o aumento de relatos sobre danos na camada de ozônio, mudanças

climáticas globais, liberações acidentais de dejetos e gases radioativos industriais,

aumento do nível de nitrogênio no ambiente e vazamentos de óleos e etc., tem

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despertado o interesse da comunidade científica e das agências regulatórias em

relação à detecção, conhecimento e controle sobre os agentes ambientais

responsáveis por danos à saúde humana e a sustetabilidade dos ecossistemas.

Na década de 40 se descobriu que certos contaminantes ambientais eram responsáveis pela redução da fertilidade na vida selvagem, em que o fim de muitas populações naturais eram explicadas pela exposição a xenobióticos. Exemplos bem conhecidos na América do Norte incluem o Falcão Peregrino, a Águia de cabeça Branca e o Pelicano Marrom (ERDTMANN, 2003, p. 72).

A toxicologia Ambiental-selvagem tem pesquisado a ligação entre a

exposição do ambiente a agentes e seus efeitos nas populações e ecossistemas,

analisando assuntos como problemas reprodutivos, declínios populacionais,

toxicidade aguda e a disposição de contaminantes na cadeia trófica. A comunidade

científica como um todo reconhece que a saúde humana depende da saúde

ambiental, e que a contínua degradação pode por em perigo a qualidade de vida.

Estudos demonstram, por exemplo, que muitos agentes químicos agem no sistema endócrino e que, nas últimas décadas, a viabilidade espermática humana declinou em torno de 50% em países industrializados. Tais achados tornam evidente o impacto de certos agentes na vida selvagem e na saúde humana (ERDTMANN, 2003, p. 72).

Os impactos causados por agentes tóxicos no ambiente e na saúde

humana muitas vezes não podem ser estudados e medidos diretamente. Esses

estudos são feitos com técnicas de análise de risco, onde determina os possíveis e

prováveis riscos de substâncias perigosas, avaliando a sua importância e quais as

propriedades para o combate e eliminação dos mesmos (NUNES, 1998).

Efeitos desfavoráveis à saúde humana e em ecossistemas são algumas

vezes difíceis de se identificar e determinar, mesmo quando se observa, ainda fica

difícil reconhecer quais os elementos do ambiente que estão associados a eles.

Page 16: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

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2.1.2 Técnicas de medida e monitoramento

Para se conhecerem os efeitos tóxicos de uma substância é necessário

proceder a testes toxicológicos. Estes testes são seguidos de técnicas realizadas em

laboratórios, com o uso de animais. A monitoração visa estimar a biodisponibilidade

do agente tóxico, assegurando ao indivíduo exposto ocupacionalmente uma saúde

plena durante toda sua vida laboral (OLIVEIRA-SILVA, 2001).

No Brasil, Conselho Nacional de Saúde, estabelece cinco tipos de ensaios

de toxicidade: aguda, subaguda, crônica, teratogenia e embriotoxicidade e estudos

especiais (LARINI, 1997).

Assim, esse conjunto definido de testes deve ser realizado para cada nova

substância a ser utilizada ou produzida em larga escala, geralmente acima de 1

tonelada/ano. Entretanto dependendo do uso da substância, do efeito tóxico

produzido por estruturas análogas a substância química, bem como do efeito tóxico

produzido pela substância em si, pode definir quais os testes que devem ser

realizados em situações específicas (SEIZI, 1996).

2.1.3 Toxidade em agrotóxicos

Segundo a Embrapa com a promulgação da Lei 7.802, em 11 de julho de

1989, regulamentada pelo Decreto 4.074, de 4 de janeiro de 2002, pode-se dizer

que o Brasil deu o passo definitivo no sentido de alinhar-se às exigências de

qualidade para produtos agrícolas em âmbito nacional e internacional. A

classificação dos agrotóxicos é apresentada no parágrafo único do art. 2°, sendo

classificados de acordo com a toxicidade em: classe I - extremamente tóxico (faixa

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vermelha); classe II - altamente tóxica (faixa azul); classe III - medianamente tóxica

(faixa amarela) e classe IV - pouco tóxica (faixa verde).

Os agrotóxicos introduzidos no ambiente natural podem interagir tanto no

meio abiótico como, no biótico, dependendo da cadeia alimentar, da disponibilidade,

e persistência do contaminante na água, no solo, no ar e especialmente de suas

características físicas e químicas.

Os estudos em toxicologia de agrotóxicos são qualitativos e quantitativos

em relação aos efeitos tóxicos sobre os organismos. Os efeitos tóxicos podem incluir

tanto a letalidade (mortalidade) e efeitos sub-letais, como alterações no crescimento,

desenvolvimento, reprodução, respostas farmacocinéticas, patologia, bioquímica,

fisiologia e comportamento. Os efeitos podem ser expressos através de critérios

mensuráveis como o número de organismos mortos, porcentagem de ovos chocos,

alterações no tamanho e peso, porcentagem de inibição de enzima, incidência de

tumor, dentre outros. A exposição é o contato/reação entre o organismo e o

composto químico, sendo que os fatores mais importantes relacionados à exposição

são: o tipo, duração e freqüência da exposição e a concentração do agente químico

(LARINI, 1997).

A duração e a freqüência da exposição dos organismos ao agente químico

também afetará a toxicidade. Na exposição aguda, os organismos entram em

contato com o composto químico num evento único ou em eventos múltiplos que

ocorrem num pequeno período de tempo, geralmente variando de horas a dias. Nas

exposições agudas onde o agente químico é rapidamente absorvidas normalmente

os efeitos são imediatos, embora seja possível a produção de efeitos retardados

similares àqueles resultantes de exposição crônica. Na exposição crônica

normalmente os organismos são expostos a baixas concentrações do agente tóxico

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17

que é liberado continuamente ou com alguma periodicidade num longo período de

tempo (semanas, meses ou anos). Exposição crônica a compostos químicos pode

também induzir a efeitos rápidos e imediatos, como os efeitos agudos, em adição

aos efeitos que se desenvolvem lentamente (SEIZI, 1996).

A toxicidade depende da suscetibilidade dos organismos ao composto

químico. Diferentes espécies possuem suscetibilidades diferentes de acordo com

seu aparato metabólico, de acordo com seus hábitos alimentares, seu

comportamento, fase de desenvolvimento, dentre outros aspectos. Indivíduos jovens

ou imaturos geralmente são mais suscetíveis aos agentes químicos do que adultos,

provavelmente em função das diferenças no grau de desenvolvimento dos

mecanismos de detoxificação. Organismos estressados em função de exposição

prévia a outros toxicantes também podem ser mais suscetíveis aos compostos

químicos, cenário comum na realidade dos ecossistemas, pois normalmente há a

presença simultânea de diferentes produtos (MELO, 1998).

Os agrotóxicos são classificados, ainda, segundo seu poder tóxico. Esta

classificação é fundamental para o conhecimento da toxicidade de um produto, do

ponto de vista de seus efeitos agudos. No Brasil, a classificação toxicológica está a

cargo do Ministério da Saúde.

O Quadro 1 regulamentado pela Lei Federal nº7802, relaciona as classes

toxicológicas com a "Dose Letal 50" (DL50), comparando-a com a quantidade

suficiente para matar uma pessoa adulta.

Page 19: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

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Quadro 1 - Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo DL50

GRUPOS DL50 Dose capaz de matar uma

pessoa adulta

Extremamente

tóxicos

£ 5mg/Kg 1 pitada - algumas gotas

Altamente tóxicos 5-50 algumas gotas -1 colher de chá Medianamente tóxicos 50-500 1 colher de chá - 2 colheres de sopa Pouco tóxicos 500-5000 2 colheres de sopa- 1 copo Muito pouco tóxicos 5000 ou + 1 copo - litro Fonte: TRAPÉ, 1993. 2.2 Genotoxicidade Erdtmann (2003, p. 26) ao abordar sobre genotoxicidade afirma que: [...] a genotoxicidade é o setor da genética que estuda os processos que alteram a base genética da vida, quer seja em sua estrutura físico-química, o DNA (ácido desoxirribonucléico), processo este classificado de mutagênese; quer seja na alteração do determinismo genético ao nível celular ou orgânico, identificados respectivamente como carcinogênese e teratogênese. A mutagênese, a carcinogênese e a teratogênese são especialidades agrupadas em uma área de estudo porque um mesmo processo ou produto pode produzir os três efeitos. Mutagênese refere-se à propriedade que as substâncias químicas apresentam de provocar modificações no material genético das células, de modo

Page 20: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

19

que estas sejam transmitidas às novas células durante a divisão. A mutação é

definida como sendo qualquer alteração do DNA, são mudanças repentinas que

ocorrem nos genes, sendo o processo pelo qual um gene sofre uma mudança

estrutural. Ela tem um efeito dualístico, é destrutiva, desagregadora, mas sem a

mutação a vida não poderia variar e evoluir, adaptando-se a uma gama

extremamente ampla de ambientes e condições. As mutações convencionalmente

são classificadas em: mutações gênicas, que se refere a mudanças de uma ou

poucas sub-unidades, os quatro nucleotídeos do polímero do DNA por substituição,

perda ou ganho destas sub-unidades, alterando geralmente o funcionamento de

apenas um gene; e mutações cromossômicas, nesta não haveria uma alteração na

composição dos nucleotídeos, mas uma reorganização na estrutura dos polímeros

de dupla hélice do DNA, os cromossomos, por translocação, inversão ou mesmo

ganho ou perda de parte maior destes cromossomos. Na maioria das vezes os

resultados das mutações são maléficos, incluem malformações, câncer,

envelhecimento e morte, mas todos os organismos, dos mais simples aos mais

complexos têm a capacidade de detectar e corrigir erros/mutações que ocorrem em

seu DNA, para controlar as mutações estão de prontidão sistemas de reparação do

DNA que corrigem a maior parte destes erros (ERDTMANN, 2003).

O sistema de reparação, assim como tudo o que se refere à vida, está sob

controle da seleção natural, e é ela quem estabelece a taxa de mutação apropriada

para cada espécie, a que estiver fora de um padrão aceitável, se extingue. Mutações

de menos não dão condições para a espécie se adaptar às variações ambientais,

mutações demais produzem uma carga insuportável, a espécie provavelmente terá

morbidade, malformações, letalidade e infertilidade superiores a seus concorrentes

(MARQUES, 2003).

Page 21: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

20

A carcinogênese ou oncogênese é um processo anormal, não controlado,

de diferenciação e proliferação celular, inicialmente localizado, mas que pode ser

disseminado pelo organismo provocando a sua morte. Este processo pode ser

identificado desde o início, quando alterações moleculares do DNA são sucedidas

por alterações bioquímicas e fenotípicas das células, num contínuo em direção a

malignidade. Portanto existem diferentes alterações relacionadas ao câncer:

moleculares, das organelas subcelulares, celulares dos órgãos e do organismo.

Todavia, como condição clínica, o câncer só pode ser evidenciado em organismos

multicelulares, como são os animais de laboratório e o homem. Neste sentido,

somente os ensaios que utilizam organismos superiores têm condições de reproduzir

por completo o fenômeno neoplásico. A neoplasia não é uma doença, mas um

sistema de doenças, decorre de uma falha no sistema de regulação de crescimento

celular. O câncer resulta de uma falha no sistema de controle genético, celular que

sofreram uma alteração no seu DNA, ou receberam uma ordem através de um

estímulo externo para se multiplicar, começam a se dividir desmensuradamente,

usando as energias e nutrientes do organismo em seu próprio benefício, produzindo

ao final falência da organização, ou seja, a morte (CASE, 2002).

Teratogênese é a disgenesia de órgãos fetais, que se evidencia de forma

estrutural e/ou funcional.São produtos ou processos que alteram o crescimento

normal do organismo, fatores mutagênicos atuando nos primeiros estágios das

divisões celulares, ou que destroem significativo número de células. Na espécie

humana as manifestações da ação de um agente teratogênico podem ser agrupadas

nas seguintes classes: morte do concepto ou infertilidade, malformações, retardo de

crescimento intra-uterino e deficiências funcionais incluindo o retardo mental

(ERDTMANN, 2003).

Page 22: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

21

2.2.1 Monitoramento genético ambiental

A presença de substâncias potencialmente tóxicas no ambiente impõe

que a exposição à qual os indivíduos estão sujeitos seja avaliada sistematicamente.

As medidas preventivas destinadas a este fim são conhecidas como procedimentos

de monotorização.

O Comitê misto constituído pela comissão da Comunidade Européia

(CCE), Occupational Safety and Health Administration (OSHA) e o National Institute

for Occupacional Safety and Health (NIOSH) definiram a monitoração como uma

“atividade sistemática, contínua ou repetitiva, relacionada à saúde e desenvolvida

para implantar medidas corretivas sempre que se façam necessárias” (SEIZI, 1996,

p. 37).

A monitoração ambiental foi definida, em um seminário realizado em

Luxemburgo, em 1980, como “a medida e avaliação de agentes no ambiente para

estimar a exposição ambiental e o risco à saúde por comparação dos resultados

com referências apropriadas” (SEIZI, 1996, p.137).

A monitoração biológica, definido pelo comitê misto CCE/OSHS/NIOSH, é

a “medida e avaliação de agentes químicos ou de seus produtos de

biotransformação em tecidos, secreções, ar exalado ou alguma combinação destes

para estimar a exposição e o risco à saúde quando comparada com uma referência

apropriada” (SEIZI, 1996, p. 138).

Monitoramento em seu sentido real significa medir de forma contínua uma

variável em um determinado período de tempo. E o biomonitoramento ou

monitoramento biológico significa obter medidas através de algum organismo

biológico, seja ele como um todo ou através de um determinado tecido

Page 23: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

22

(BOLOGNESI, 2003).

Para Erdtmann (2003, p.167) existem três principais situações que levam

a um biomonitoramento,

[...] (1) onde existem razões para se acreditar que espécies nativas estão ameaçadas; (2) quando há implicações para a saúde humana quanto ao consumo de organismos potencialmente afetados; (3) quando existe o interesse de conhecer a qualidade ambiental.

Muitas substâncias químicas potencialmente prejudiciais, tanto naturais

como de origem antropogênica, são liberadas no ambiente constantemente, assim

tem crescido muito o interesse em se biomonitorar ecossistemas terrestres e

aquáticos quanto à exposição a esses agentes danosos.

O monitoramento ambiental em prioridade o que se diz respeito a

organismos expostos a poluentes (biomonitores), utilizando testes em sistemas

biológicos (biomarcadores), propiciam promissoras ferramentas para reconhecer

poluentes capazes de causar dano à saúde humana e ao ambiente. È intrigante

estabelecer ligações diretas entre efeitos ecológicos e a saúde humana, o uso de

espécies da fauna nativa como sentinela de problemas ambientais é a base

conceitual para esta conexão (BOLOGNESI, 2003).

Há muitos contaminantes presentes em nosso ambiente que afetam

organismos de forma direta, sendo de efeito agudo e de rápida detecção, podendo

causar distúrbios fisiológicos, problemas no desenvolvimento e/ou diminuindo o

tempo de vida. Alguns desses agentes exógenos podem afetar o DNA dos

organismos induzindo tumores e/ou mutações genéticas. Os efeitos tóxicos dos

poluentes de efeito crônico, devido à complexidade que podem apresentar, são de

difícil detecção e não são diretamente observados, estes efeitos podem vir a ser

detectados muitos anos depois da exposição, dificultando a associação com os

Page 24: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

23

agentes causadores (CASE, 2000).

Portanto, existe uma necessidade crítica de se avaliar os efeitos

biológicos das misturas químicas. Sistemas biomarcadores e organismos testes

cuidadosamente selecionados ou apropriadamente modificados podem proporcionar

monitoramento mais rápido e econômico da toxicidade de misturas complexas às

quais estamos expostos.

Vários são os parâmetros biológicos que podem estar alterados como

conseqüência da interação entre o agente químico e o organismo. Entretanto,

apenas alguns dentre eles são usados como indicadores biológicos, ou seja, que se

relacionam proporcionalmente à intensidade da exposição e/ou à intensidade de

efeitos (CASTRO, 2003).

Os indicadores biológicos podem ser de dois tipos: de dose interna ou de

exposição e de efeito.

Indicadores biológicos de dose interna refere-se à quantidade do

toxicante ligado ao seu sítio alvo, ou seja, a dose verdadeira. Como raramente pode-

se avaliar diretamente esta dose, ela estimada diretamente através dos indicadores

biológicos de dose interna, que podem apresentar diferentes significados: a)de dose

verdadeira, para avaliar a quantidade do toxicante metabolicamente ativo, fixado nos

sítios críticos de ação; b) de exposição, cuja medida permite avaliar se o indivíduo

está ou não exposto a um agente tóxico; c) de armazenamento ou de depósito, para

avaliar a medida do toxicante no órgão ou tecido do qual, uma vez depositado, será

difícil e lentamente liberado. A maioria dos indicadores biológica de dose interna

reflete apenas a exposição, ou seja, a quantidade absorvida do xenobiótico pelo

organismo (LARINI, 1997).

Indicadores biológicos de efeito são utilizados em monitoração biológica,

Page 25: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

24

na prevenção de intoxicações ocupacionais, estes bioindicadores devem indicar

efeitos ainda considerados não-nocivos, ou seja, não associados com alterações

funcionais das células.

É importante enfatizar que um mesmo indicador biológico pode ser usado

na prevenção, detecção precoce ou diagnóstico da intoxicação por dado xenobiótico,

uma vez que seus níveis vão aumentando proporcionalmente à intensidade de

efeitos, como é o caso da carboxiemoglobina em exposição ao monóxido de

carbono. Os valores de referência de indicadores biológicos são utilizados como

parâmetros para interpretação de resultados de valores obtidos em indivíduos

expostos ocupacionalmente aos agentes químicos (SIQUEIRA, 1997).

2.2.2 Populações naturais e laboratorial

Em estudos com animais pode-se ter um controle mais adequado de

condições de exposição em combinação com testes invasivos como

histopatológicos, funcionais e moleculares, utilizando-se estes como marcadores

biológicos (SILVA, 1998).

Biomonitores, também conhecidos por organismo sentinela, vem sendo

utilizado há muito tempo para alertar as pessoas sobre ambientes perigosos. Pode-

se considerar a observação de animais nativos ou domésticos envenenados como

indicadores iniciais da potencialidade do ambiente em causar danos à saúde

humana. Muitos tipos de organismos são utilizados como sentinelas para se avaliar

possíveis efeitos de riscos naturais ou de origem antropogênica. Em ambientes

aquáticos, moluscos, vermes bentônicos, esponjas, anfíbios e peixes têm sido

utilizados como biomonitores de toxicidade de poluentes. Plantas particularmente a

Page 26: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

25

Tradescantia Allium cepa e Vicia faba, têm sido utilizados para avaliação da poluição

presente tanto na água quantos na atmosfera, em Cubatão (SP) a Tradescantia foi

utilizada em estudos, para averiguar a genotoxicidade de poluentes do ar. Espécies

de mamíferos vivendo próximos ao homem também têm sido usados como

biomonitores. As espécies selvagens são utilizadas como bioindicadores do risco

ecológico, enquanto que animais domésticos são mais úteis na avaliação de risco à

saúde humana. Para avaliação de exposição crônica tem se observado o uso de

roedores nativos (GUIMARÃES, 1999).

Em estudos com camundongos selvagens (Musmusculus) foi demonstrado haver associação entre a proximidade a áreas industriais e o aumento de danos genotóxicos em células de medula óssea, bem como aumento no número de troca de cromátides irmãs e de micronúcleos (ERDTMANN, 2003, p. 171).

Outro exemplo de animais nativo no biomonitoramento é os Tuco-tucos,

estes demonstraram sensibilidade suficiente na detecção de danos ao DNA

causados por exposição ao carvão e exaustão de automóveis, através dos testes de

micronúcleo e Ensaio Cometa, foi possível avaliar a genotoxicidade sem o sacrifício

dos animais, possibilitando um biomonitoramento em longo prazo, comparando-se

as respostas por sexo, idade e estação do ano, em Butiá e Candioto (RS) utilizou-se

a espécie C. toquartus para identificar a genotoxicidade do carvão daquela região

(SILVA, 2000).

Dentre os bioindicadores amplamente utilizados tem-se a

carboxiemoglobina, as atividades colinesterásicas no plasma e em eritrócitos, os

níveis de enzima e intermediários da biossíntese da heme, além de proteínas ou

enzimas em urina (SOARES, 2003).

Page 27: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

26

2.2.3 Populações humanas, residenciais e ocupacionais

A espécie humana tem atravessado sua evolução sendo exposta a uma

infinidade de genotóxicos pela ingestão de alimentos e bebidas, e pela inalação de

fumaças e irradiações diversas do meio ambiente. Hoje em dia, o enfoque sobre o

problema relativo a danos de saúde por exposição química está dirigidos aos

agentes químicos produzidos ou concentrados, e de uso intensivo, pelo homem.

Contaminantes atmosféricos depositados no solo e na água participam também, via

ingestão de alimentos e da água, do conjunto de substâncias que podem afetar a

saúde humana.

Os limites de Exposição Ocupacional propostos pela ACGIH são os TLV’s

(Threshold Limit Values), e refere-se às concentrações de substâncias dispersas na

atmosfera que representam condições sob as quais supõem-se que quase todos os

trabalhadores possam estar expostos dia-após-dia sem apresentar efeitos adversos

à saúde. Os principais tipos de TLV´s são: a) TLV-TWA (Time Weight Average) – É a

concentração média ponderada pelo tempo de exposição para jornada de 8 h/dia, 40

h/semana, à qual praticamente todos os trabalhadores podem se expor,

respectivamente, sem apresentar efeitos nocivos. b) TLV-STEL (Short Time

Exposure Limit) – É a concentração pela qual os trabalhadores podem se expor por

um curto período, sem apresentar: irritação, alterações teciduais crônicas ou

irreversíveis; narcose suficiente para aumentar o risco de acidentes, alterar a

capacidade de autodefesa ou diminuir a eficiência no trabalho. O tempo máximo de

exposição aos valores do STEL é de 15 min, podendo ocorrer no máximo, 4 vezes

durante a jornada, sendo o intervalo de tempo entre cada ocorrência de, pelo

menos, 60 minutos. Os TLV-STEL são estabelecidos para as substâncias que

Page 28: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

27

apresentam efeitos nocivos agudos, prioritariamente aos efeitos crônicos. c) TLV-C

(ceiling) – É a concentração máxima permitida que não pode ser ultrapassada em

momento algum durante a jornada de trabalho. É geralmente indicada para

substâncias de lata toxidade e reduzido limite de exposição (LARINI, 1997).

Os limites de exposição ocupacional da Norma Regulamentadora nº 15,

no Brasil (Portaria nº 3751), são chamados de limite de tolerância (LT), compilados

das tabelas do TLV-TWA, referem-se às concentrações médias máximas que não

devem ser ultrapassadas numa jornada de 48 h/semana. Como não se especifica o

modo de se fazer a média, algumas vezes é realizada simplesmente a média

aritmética das concentrações medidas no dia. No Brasil também existem os limites

de tolerância valor teto, compilado dos valores dos TLV-C, com a mesma

significação. Os valores do TLV-STEL não constam da NR-15, propondo-se para o

controle de flutuações de concentrações acima do valor médio do LT os fatores de

desvio, pelos quais se deve multiplicar os LT para se conhecer qual a variação

permitida. Estes fatores são estabelecidos de acordo com a concentração, em ppm

ou em mg/m3, do LT do xenobiótico.

A exposição ocupacional existe a partir do nível de ação, ou seja,

concentrações superiores ao nível de ação indicam que há exposição e os

trabalhadores devem ser submetidos à monitoração ambiental e biológica. Segundo

a legislação brasileira e recomendações internacionais, NA= LEO 2. Para produtos

industriais como solventes, fumos, metálicos, asfixiantes, etc., que tem em sua

composição agentes tóxicos de mesmo efeito, deve-se realizar um somatório das

medidas padronizadas, ou seja, a média (u) do agente dividida pelo respectivo limite

de exposição ocupacional (LEO): µ1/LEO+µ2/Leo+...µa/LEO≥1 se esta somatória for

Page 29: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

28

inferior a 0,5 não há exposição, se superar 0,5 há exposição, se superar 1,0 há

exposição excessiva (LARINI, 1997).

As técnicas utilizadas para monitoramento de efeitos genotóxicos são

variadas, estudos citogenéticos podem ser usados para monitorar populações

expostas a uma série de clastógenos ambientais e ocupacionais, com técnicas que

incluem aberrações cromossômicas, troca de cromátides-irmãs e micronúcleos.

Para o monitoramento humano a técnica de micronúcleos em sangue periférico

parece ser a mais eficaz. No estado do Rio Grande do Sul, estudos genotóxicos

foram realizados evidenciando a freqüência de micronúcleos na mucosa esofágica,

relacionando-o com determinados hábitos como fumo, mate e álcool (DIETZ, 2000).

Ao se analisarem os resultados da monitoração biológica é necessário

levar-se em conta o fato de que numerosos fatores fisiológicos, patológicos e hábitos

individuais podem influenciar os níveis de indicadores, independentemente da

exposição. Entre esses fatores destacam-se: dieta, sexo, idade, hábito de fumar,

consumo de bebidas alcoólicas e uso de fármacos (BREGA, 1998).

2.3 Genotoxicidade dos agrotóxicos

A genotoxicidade está entre os mais sérios dos possíveis danos causados

por produtos químicos agrícolas e merece atenção especial devido à natureza

geralmente irreversível do processo e ao longo período de latência associado à sua

manifestação. A monitoração biológica, com análise de marcadores em tecidos e

líquidos corporais de indivíduos expostos, apesar de laboriosa e de alto custo,

constitui instrumento importante nessa avaliação e pode contornar as incertezas

Page 30: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

29

envolvidas na interpretação de resultados obtidas em experimentos realizadas com

animais e extrapoladas para o homem (NUNES, 1998).

2.3.1 Principais grupos de agrotóxicos

Os agrotóxicos são inclusos como Pesticida, sendo esta uma classificação

genérica que inclui inseticidas, fumigantes, rodenticidas, herbicidas, fungicidas. Nos

EUA mais de 453 milhões de Kg de pesticidas são vendidos, e no restante do

mundo são vendidos 4,5 vezes este valor a cada ano. Os herbicidas são vendidos

nas maiores quantidades seguidos de inseticidas e fungicidas. Estes compostos são

produzidos com a única finalidade de destruir alguma forma de vida (GILMAN,

1996).

2.3.1.1 Inseticidas

Compostos organoclorados são compostos de estruturas cíclicas, bastante

lipofílicos e altamente resistentes aos mecanismos de decomposição dos sistemas

biológicos, possuindo efeito tóxico acumulativo aos organismos. Da metade da

década de 40 até a metade da década de 60, estes compostos foram utilizados em

programas de saúde para o combate a malária. Atualmente são proibidos para uso

agrícola na maioria dos países; entretanto, em alguns outros, são ainda utilizados

para controle de vetores de doenças e como preservantes para madeira. Os

principais compostos organoclorados com atividade inseticida estão incluídos nos

grupos: a) Hexaclorocicloexano e isômeros; b) DDT e análogos; c) Ciclodienos; d)

Dodecacloro e clordecone (SEIZI, 1996).

Page 31: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

30

Compostos organofosforados são compostos ésteres fosfóricos, sendo os de

maior uso na atividade agropecuária os compostos derivados das estruturas

fundamentais dos ácidos fosfórico, tionofosfórico e ditionofosfórico. São facilmente

oxidados transformando-se nas correspondentes formas oxons, de toxicidade mais

elevada. Quando armazenados de modo inadequado sofrem isomerização, com a

formação de compostos de maior toxicidade. Estes compostos não persistem no

ambiente e possuem um potencial carcinogênico extremamente baixo, entretanto

têm uma toxicidade muito alta em mamíferos, pois inibem a enzima

acetilcolinesterase, provocando um acúmulo de acetilcolina nos tecidos nervosos

gerando diversos danos como parada cardíaca e outros, mas não possuem efeitos

acumulativos nos organismos (GRISOLIA, 2005).

2.3.1.2 Fumigantes

Estes compostos são usados para controlar insetos, roedores e

nematódeos do solo. Eles exercem ação pesticida na forma gasosa e são usados

porque podem penetrar em áreas de curto modo inacessíveis. Também são

utilizados para proteger alimentos estocados, possuem ação tóxica e carcinogênica.

Os principais compostos são: a) cianeto de hidrogênio, b) acrilonitrila, c)

dissulfeto de carbono, d) tetracloreto de carbono, e) cloropicrina, f) dibrometo de

etileno, g) óxido de etileno, h) brometo de metila, e fosfina (GILMAN, 1996).

2.3.1.3 Rodenticidas

Estes são pesticidas usados para exterminar roedores, podendo ser

utilizado como iscas e colocados em lugares inacessíveis, a probabilidade de sua

Page 32: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

31

contaminação do ambiente é muito menor de que a de outros pesticidas. O problema

toxicológico criado pelos rodenticidas é, portanto, de ingestão primariamente

acidental ou suicida. Os principais compostos são: a) Varfarina, b) Cila vermelha, c)

fluoroacetato de sódio, d) Estricnina, e) fósforo, f) fosfeto de zinco, e tálio (GILMAN,

1996).

2.3.1.4 Herbicidas

Aumentou muito nas ultimas duas décadas a produção e o uso de

substâncias químicas para a destruição de ervas daninhas. Os herbicidas hoje

excedem os inseticidas nas quantidades usadas e valores de vendas. Alguns

compostos possuem toxicidade muito baixa em mamíferos, outros são altamente

tóxicos e podendo ser carcinogênicos. Há um aumento na preocupação quanto aos

efeitos dos herbicidas na saúde devido ao desvio da aplicação agrícola para as

fontes de água potável. Os principais compostos são: a) compostos clorofenoxi, b)

dinitrofenóis, c) metano aeseniato de sódio, d) alaclor e acetoclor, e) grupo das

triazinas, f) ácido 2,4 – diclorofenoxiacético, g) glifosato, e trifenil hidróxido de

estanho (PRIMEL, 2005).

2.3.1.5 Fungicidas

Os fungicidas são comercializados em grande escala e indicado para uma

ampla variedade de culturas que vão desde hortaliças até cereais, por isso sua

descarga no meio ambiente tem aumentado gradativamente. A grande maioria

desses compostos é altamente tóxica, demonstrando em alguns estudos efeitos

Page 33: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

32

carcinogênicos. Os principais compostos são: a) mancozeb, b) trifenil hidróxido de

estanho, c) benomyl, d) carbendazim, e) captan, e folpet (GRISOLIA, 2005).

2.3.2 Genotoxicidade dos agrotóxicos no ambiente natural

Há três vias impactantes pelo uso de agrotóxicos, a ocupacional e

alimentar que serão comentadas no ítem 2.3.4, a ambiental comentada a seguir.

A via ambiental, por sua vez, caracteriza-se pela dispersão/distribuição

dos agrotóxicos ao longo dos diversos componentes do meio ambiente: a

contaminação das águas, através da migração de resíduos de agrotóxicos para

lençóis freáticos, leitos de rios, córregos, lagos e lagunas próximos; a contaminação

atmosférica, resultante da dispersão de partículas durante o processo de

pulverização ou de manipulação de produtos finamente granulados (durante o

processo de formulação) e evaporação de produtos mal-estocados; e a

contaminação dos solos.

A contribuição da via ambiental é de fundamental importância para o

entendimento da contaminação humana por agrotóxicos. Acredita-se que um maior

número de pessoas estejam expostas através desta via, em relação à via

ocupacional. Entretanto, o impacto resultante da contaminação ambiental é, em

geral, consideravelmente menor que o impacto resultante da via ocupacional

(MOREIRA, 2002).

Musumeci (1992 apud FLORES, 2004) afirma que, os pesticidas atingem o

solo não só pela incorporação direta na superfície, como também através do

tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas, no controle de fungos

patogênicos no solo, ou pela eliminação de ervas daninhas por herbicidas. Esses

Page 34: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

33

compostos podem, ainda, atingir o solo de forma indireta, pela pulverização das

partes verdes dos vegetais e pela queda de frutos ou folhas que receberam

aplicação de agrotóxicos. Uma vez no solo, podem ser transportados em grandes

quantidades, pelas águas das chuvas, que levam a cobertura vegetal e parte do

solo, atingindo, principalmente, águas superficiais como rios e lagos. Os pesticidas

podem também se infiltrar no solo, atingindo as águas subterrâneas e ser

encontrados em poços utilizados para abastecimento de água para uso doméstico

ou para dessedentação de animais.

Segundo Topos (1999 apud FLORES, 2004) hoje, existem evidências de

que consideráveis quantidades de pesticidas atingem o mar. Segundo a Academia

de Ciências dos Estados Unidos, cerca de 25% da produção mundial de

organoclorados chega a este ecossistema. Sabe-se que a principal rota de entrada

dos organoclorados no oceano, DDT (diclorodifeniltricloroetano) e Aldrin, é a

atmosfera. Estimativas têm indicado que a poeira transportada pelos ventos

apresenta até 150 mgDDTg-1, enquanto as demais fontes possíveis de

contaminação do oceano, no total, contribuem com apenas 1 mgDDT g-1. Existem,

porém, evidências de que quantidades maiores estejam entrando na cadeia

alimentar dos oceanos. Os níveis de organoclorados na água dos oceanos têm

causado sérios problemas ecológicos como, por exemplo, o fracasso da reprodução

da truta-do-mar, na Laguna Madre, no Texas, e da águia-marinha, no Báltico. Além

disso, pode-se encontrar golfinhos contaminados com DDT, desde o litoral paulista

até regiões da Antártida (CAMPANILLI, 2005).

Os estudos com anfíbios demonstram claramente a fragilidade dos

ecossistemas aquáticos às contaminações por agrotóxicos. Os girinos de diferentes

Page 35: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

34

espécies de anfíbios têm apresentado muita sensibilidade na detecção de

contaminantes químicos em recursos hídricos importantes (GRISOLIA, 2005).

Peixes que vivem em canais de irrigação agrícola contaminados por

agrotóxicos tornam-se resistentes a vários inseticidas simultaneamente. Quando

esses peixes são transferidos para um lago com águas limpas e se reproduzem

naturalmente, verifica-se que seus descendentes apresentam o mesmo padrão de

resistência aos inseticidas. Um estudo feito com o inseticida toxafeno evidenciou que

essa resistência chega a aumentar cerca de quarenta vezes em relação a uma

população-referência. Estudos realizados com isozimas como marcadores genéticos

demonstraram que nessas populações houve perda de heterozigozidade. Muitos

estudos com isozimas e outros marcadores moleculares, com populações naturais

expostas a contaminantes ambientais mutagênicos, mostraram diferenças

significativas na sua estrutura genética em relação a uma população-referência

(BELFIORI, 2001).

Nas aves, o DDE, metabólito do DDT, tem sido indicado como responsável

pela deficiência na formação da casca dos ovos. Como conseqüência, as cascas

são freqüentemente frágeis e não resistem até que ocorra a eclosão natural dos

ovos. Esse efeito diminuiu drasticamente a população de águias, falcões e açores,

na década de 80, no ecossistema mundial (SOLOMONS, 1989).

Estudos realizados em bovinos na Itália demonstraram que os pesticidas

testados induzem qualquer um stress oxidativo ou um efeito mutagenico nesta

espécie (LIOI, 1998).

Na Turquia outros estudos utilizando Drosophila Melanogaster, onde

diversas concentrações de inseticidas foram testadas, estas espécies apresentaram

mutações em suas asas (SARIKAYA, 2004).

Page 36: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

35

2.3.3 Genotoxicidade dos agrotóxicos nos seres humanos

Os agrotóxicos são substâncias que, apesar de serem cada vez mais

utilizadas na agricultura, podem oferecer perigo para o homem, dependendo da

toxicidade, do grau de contaminação e do tempo de exposição durante sua

aplicação.

Anualmente, três milhões de pessoas são contaminadas por agrotóxicos

em todo o mundo, sendo 70% desses casos nos países em desenvolvimento, onde

o difícil acesso às informações e à educação por parte dos usuários desses

produtos, bem como o baixo controle sobre sua produção, distribuição e utilização

são alguns dos principais determinantes na constituição dessa situação como um

dos principais desafios de saúde pública. Os países em desenvolvimento são

responsáveis por 20% do mercado mundial de agrotóxicos, entre os quais o Brasil se

destaca como o maior mercado individual, representando 35% do montante, o

equivalente a um mercado de 1,1 bilhão de dólares americanos (ou 150.000 t/ano).

De acordo com estimativas do Ministério da Saúde, para cada evento de intoxicação

por agrotóxicos notificados, há outros 50 não notificados, o que elevaria o número da

contaminação/ano para 365.300 casos. Os números impressionam, principalmente

quando se considera a forte pressão exercida pela indústria internacional,

responsável pela produção e distribuição de agrotóxicos, sobre o mercado

consumidor brasileiro. Tal fato, aliado às dificuldades na assistência do homem do

campo por parte do poder público ajuda a estabelecer uma situação de risco

extremo à saúde desses trabalhadores (PERES, 2001).

Os níveis sócio-cultural e socio-econômico refletem no comportamento

diário dos agricultores, o baixo percentual de indivíduos que lêem os rótulos das

Page 37: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

36

embalagens pode ser explicado pelos níveis de escolaridade encontrados na

comunidade. Mesmo dentro deste grupo é de se esperar que os textos não sejam

perfeitamente interpretados, tanto pelo nível de escolaridade quanto pelo teor

técnico das informações contidas nos rótulos, que cria uma série de barreiras à

comunicação sobre o uso, os cuidados e os efeitos sobre a saúde e o ambiente

(OLIVEIRA-SILVA, 2001).

A saúde humana pode ser afetada pelos agrotóxicos diretamente, por

meio do contato direto do organismo com estas substâncias, ou ainda indiretamente,

por intermédio do desenvolvimento de algum fator impactante como resultado do uso

desses agentes químicos.

Segundo afirma Moreira (2002), sobre as três vias principais responsáveis

pelo impacto direto da contaminação humana por agrotóxicos, a via ocupacional,

se caracteriza pela contaminação dos trabalhadores que manipulam essas

substâncias. Esta contaminação é observada tanto no processo de formulação

(mistura e/ou diluição dos agrotóxicos para uso), quanto no processo de utilização

(pulverização, auxílio na condução das mangueiras dos pulverizadores - a "puxada" -

descarte de resíduos e embalagens contaminadas, etc.) e na colheita (onde os

trabalhadores manipulam/entram em contato com o produto contaminado). Embora

atinja uma parcela mais reduzida da população (os trabalhadores - rurais ou guardas

de endemias, por exemplo - que manipulam estes produtos em seu processo de

trabalho), esta via é responsável por mais de 80% dos casos de intoxicação por

agrotóxicos, dada à intensidade e à freqüência com que o contato entre este grupo

populacional e o produto é observado.

A via alimentar caracteriza-se pela contaminação relacionada à ingestão

de produtos contaminados por agrotóxicos. O impacto sobre a saúde provocado por

Page 38: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

37

esta via é, comparativamente, menor, devido a diversas razões, tais como: a

concentração dos resíduos que permanece nos produtos; a possibilidade de

eliminação dos agrotóxicos por processos de beneficiamento do produto (cozimento,

fritura, etc.); o respeito ao período de carência, etc. Esta via atinge uma parcela

ampla da população urbana, os consumidores. A via ambiental foi citada no item

anterior.

Um estudo realizado em Dourados uma microrregião crítica do Estado do

Mato Grosso do Sul, indicou ocorrências de tentativa de suicídio, seja por ingestão

de agrotóxicos pela população rural ou por causas diversas, sendo provável que,

esta alta prevalência esteja relacionada com a exposição dos trabalhadores rurais

aos agrotóxicos (PIRES, 2005).

Em Minas Gerais, nos municípios da Zona da mata Mineira, foi realizado

um estudo utilizando como indicador o nível da enzima colinesterase no sangue, os

resultados foram alarmantes, 50% dos trabalhadores rurais estavam intoxicados, em

termos de atividade da colinesterase sangüínea. A inibição da colinesterase por

meio dos compostos fosforados ou carbamatos provoca o acúmulo de acetilcolina, e

o organismo passa a apresentar umas séries de manifestações (efeitos muscarínios,

efeitos nicotínicos, efeitos centrais) (SOARES, 2003).

Diferentes estudos sobre a ação dos organoclorados têm revelado

freqüência elevada de aberrações cromossômicas em indivíduos ocupacionalmente

expostos. Por exemplo, Hashimoto (1990 apud NUNES 1998), participante de um

estudo epidemiológico em trabalhadores encarregados da aplicação de praguicidas

para combate a endemias, realizou uma investigação citogenética em 20 indivíduos-

controles e em 29 indivíduos expostos a diversos compostos por períodos superiores

a 20 anos. Seus resultados mostraram que a freqüência de células com aberrações

Page 39: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

38

cromossômicas estruturais instáveis ou estáveis foram significativamente mais

freqüentes no grupo exposto.

Em nível molecular, um estudo realizado em culturas de células de sangue

periférico provenientes de indivíduos com leucemia mieloblástica, foi verificado que a

inibição da proliferação celular e da indução da diferenciação pelo organoclorado

heptacloro é acompanhada por um decréscimo na expressão aparente do gene

NRAS, medida pela quantidade total de RNAm sintetizada. As conseqüências de tal

decréscimo causado pelo heptacloro, seja por supressão na taxa de transcrição ou

por degradação de RNAm, não são conhecidas. De qualquer modo, esse achado é

interessante, dado que o gene NRAS faz parte de uma família de protoncogenes

que estão envolvidos no desenvolvimento e progressão de diferentes tipos de

neoplasias (CHUANG, 1991).

Estudos clínicos, citogenéticos e toxicológicos em trabalhadores rurais

expostos a pesticidas em Botucatu, mostraram freqüências de aberrações

cromossômicas significativamente mais altas no grupo exposto quando comparado

ao grupo de controle. Embora usassem vestuário protetor contra névoa de

pesticidas, o qual incluía calças de borracha, botas, luvas, máscara e chapéu, os

resultados clínicos revelaram que os trabalhadores foram contaminados

(BREGA,1998).

Em um estudo realizado na Espanha, foram analisadas 134 amostras de

tecido adiposo humano, avaliando a possível presença de organoclorados. Dentre

os compostos investigados, o DDE e o BHC apresentaram níveis médios elevados

de 1.870,0 µg L –1 e 240,0 µg L –1, respectivamente. A elevada concentração

determinada para o DDE pode ser devida ao fato de este composto ser o último e

mais estável metabólito do DDT. Os resultados expostos comprovaram a afinidade

Page 40: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

39

dos pesticidas organoclorados pelas gorduras, mostrando a evidente e crescente

contaminação através da cadeia alimentar (COSTABEBER, 1999).

Os jovens em fase de desenvolvimento são particularmente sensíveis à

exposição aos organoclorados. A exposição pré-natal a organoclorados persistentes,

além de poder prejudicar o sistema reprodutivo, durante a fase de desenvolvimento,

pode causar uma série de outros efeitos adversos à saúde, como: óbito fetal e

aborto espontâneo, diminuição de peso e tamanho do recém-nascido, depressão do

sistema imunológico e redução da resistência óssea (GREENPEACE, 2005).

A presença de diferentes tipos de agrotóxicos no leite materno, especialmente os derivados de compostos clorados, pode atuar negativamente num período crítico do desenvolvimento do sistema neurológico da criança sob amamentação, causando prejuízos irreversíveis, como doenças neurológicas e retardo mental (GRISOLIA, 2005, p. 53).

O aparecimento de resíduos de pesticidas no leite de vaca pode ocorrer

mediante rações e pastagens contaminadas, ou tratamento dos animais com

pesticidas para combater ectoparasitas quando aplicados em desacordo com as

normas preconizadas pelas boas práticas agropecuárias. A contaminação do leite

materno pode ocorrer, principalmente pela ingestão de alimentos com resíduos de

pesticidas pelas mulheres em diferentes fases da vida (CISCATO, 2004).

No estado do Minnesota (EUA) demonstrou que os aplicadores de

agrotóxicos geram uma quantidade estatisticamente maior de crianças com

anomalias congênitas ao serem comparados com cidadãos dos centros urbanos do

mesmo Estado. De acordo com as culturas predominantes na região, os agrotóxicos

mais usados são 2,4 – D, trifluralina, bentazon, bromoxinil, cianazina e dicamba.

Esse estudo demonstrou também que nas áreas de maior uso dos herbicidas

clorofenoxiacéticos (2,4-D) ocorre também os maiores índices de nascimentos com

Page 41: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

40

malformações. No estado do Iowa também se obteve uma correlação diretamente

proporcional entre a contaminação da água potável por atrazina e o excesso de

nascimentos de crianças com defeitos cardiovasculares e urogenitais (GARRY et al,

1996).

Estudos realizados na China em espermatozóides humanos

demonstraram alterações significativas nos cromossomos (YANKAI XIA, 2005).

Resultados de um estudo epidemiológico, com delineamento ecológico

explorando dados de exposição a pesticidas durante os anos oitenta, em estados

brasileiros selecionados e distúrbios reprodutivos observados nos anos noventa,

demonstraram coeficientes de correlação moderados e elevados para a maioria dos

indicadores dos desfechos analisados; infertilidade e câncer do testículo, mama,

próstata e ovário. Apesar das limitações inerentes aos estudos ecológicos quanto ao

estabelecimento de relações de causa-efeito, os resultados observados estão em

concordância com as evidências, apoiando uma possível associação entre a

exposição a pesticidas e os distúrbios reprodutivos analisados (KOIFMAN, 2002).

Na população da Filândia, o declínio crescente na proporção de homens

tem sido atribuída à quimicalização ambiental. Um estudo sobre as proporções

sexuais ao nascimento feito pelos finlandeses, que cobriu o período entre 1751 a

1997, demontrou estatisticamente que a presença de fatores ambientais como

pesticidas e desreguladores hormonais, associada a um intenso processo de

industrialização, foi responsável por esse declínio no nascimento de homens em

relação ao de mulheres. De 1751 a 1920, a proporção de nascimentos masculinos

foi ligeiramente maior que a de femininos. Entre a primeira e a Segunda Grande

Guerra, esse processo inverteu-se. Nenhum dos outros parâmetros investigados,

como idade paterna, idade materna, diferenças entre os casais, ordens de

Page 42: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

41

nascimento, etc., puderam explicar tal inversão. Os pesquisadores verificaram que

em outros países industrializados e bastante poluídos quimicamente esse processo

também vem ocorrendo. É claro que esses dados se referem aos poluentes

ambientais como um todo e não exclusivamente a uma classe de substância química

(VARTIAINEN, 1999 apud GRISOLIA, 2005, p. 91).

Outra forma de contaminação humana por agrotóxicos é a absorção pela

via respiratória, que ocorre principalmente em indivíduos que trabalham na aplicação

dessas substâncias sob a forma de pulverização ou nebulização. Nos casos de

intoxicação aguda, esses compostos possuem uma ação tóxica prevalente no

sistema nervoso, devido à sua grande lipossolubilidade. O sítio primário da ação

tóxica faz-se na fibra nervosa e no córtex motor do Sistema Nervoso Central (SNC).

Ressalta-se que, devido à exposição a esses praguicidas ocorrem alterações do

traçado eletrencefalográfico. Em doses elevadas, não habituais pela exposição

ocupacional, esses compostos são também dotados de atividade hepatotóxica e

atuam provocando hepatomegalia e sucessiva necrose centro-lobular. No caso do

hexaclorobenzeno (BHC) e lindane, aparecem primeiramente as convulsões isoladas

e, em alguns casos, convulsões ocasionais acompanhadas de cefaléia, náuseas,

vômitos, vertigens e distúrbios clônico-musculares. A lesão do SNC pode ser

observada por alteração eletrencefalográfica (NUNES, 1998).

No Estado da Califórnia, foi realizada uma análise de correlação em

diferentes condados para se verificar a incidência de câncer relacionada à exposição

aos agrotóxicos. Esse Estado mantém um registro de todos os casos de câncer em

sua população desde de 1988. Para a grande maioria da população californiana, os

coeficientes de correlação ficaram próximos de zero, com exceção de dois grupos

étnicos, os negros e os hispânicos. Sabe-se que tradicionalmente os negros e os

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42

hispânicos são a grande força de trabalho agrícola naquela região. Nessas

populações foram encontrados os seguintes índices: homens hispânicos: leucemia x

captan, r = 0,46; homens negros: câncer de próstata x captan, r = 0,49. Os autores

observaram que esses valores estavam muito altos nesses grupos em relação à

população californiana em geral; entretanto, estavam coerentes com a ocupação

desses homens e com o padrão de exposição, o qual ocorre em maior nível no Vale

de São Joaquim, que tem a maior área agrícola da Califórnia. Os hispânicos estão

engajados nas culturas de vinhas, frutas, hortaliças e melão. Os negros estão mais

engajados na cultura do algodão, que é mais preponderante no Vale Central. Os

menores índices das correlações foram encontrados na população branca, e isto

não é de surpreender, pois ela está completamente ausente nessas atividades que

envolvem o contato com agrotóxicos. Homens brancos: leucemia x captan, r = 0,14 e

câncer de próstata x captan, r = 0,06. O coeficiente de correlação ( r ) mede a

relação entre duas variáveis. Há correlação positiva se grandes valores de ambas as

variáveis estão associados, e se valores pequenos analogamente também estão

juntos. Há correlação negativa se os valores grandes de uma variável vão com

valores pequenos da outra. Se as variáveis são independentes, então r = 0. se há

uma correlação linear entre as variáveis, então r = 1. Assim, a magnitude do

coeficiente r mostra o grau de correlação. Esse estudo mostrou que para as

populações negras e hispânicas da Califórnia há uma forte associação entre a

exposição ao captan e a incidência de leucemias e de câncer de próstata sendo

estas doenças genéticas. Entretanto, como toda avaliação epidemiológica, os

resultados devem ser interpretados com cautela, pois nem sempre uma correlação

positiva está associada a causa-efeito (MILLS, 1998 apud GRISOLIA, 2005, p. 188).

Page 44: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

43

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente três

milhões de pessoas são intoxicadas por ano em decorrência da utilização de

agrotóxicos. Dessas, 220 mil morrem e 750 mil adquirem doenças crônicas. Além

dos prejuízos causados diretamente aos seres humanos, a maioria dos defensivos

agrícolas provoca alterações no meio ambiente, algumas com alcance ainda não

mensurado.

2.4 Aspectos legais

A proteção ambiental é encontrada nas mais antigas civilizações, pois a

ação predatória do homem sobre a terra é tão antiga quanto a sua existência.

A evolução do Direito Ambiental no Brasil e a respectiva proteção do meio

ambiente têm como ponto de partida as primeiras leis de proteção ambiental de

Portugal. Este país, assim como os demais, vinha protegendo seus recursos naturais

da predação e da degradação, assim sendo, quando o Brasil foi descorbeto já existia

uma significativa legislação de proteção ambiental. Essa legislação era bastante

evoluída. Desde então a legislação ambiental vem se desenvolvendo, e na fase

colonial brasileira, pode ser considerado como o período embrionário de nosso atual

Direito Ambiental (CARLI, 2004).

O Brasil possui boas leis ambientais. O problema é que a maior parte não

é cumprida de maneira adequada, principalmente quando se refere a agrotóxicos, na

qual possui uma legislação específica que regulamenta seu uso em todo território

nacional, a Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989:

Page 45: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

44

O presidente José Sarney, dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - A pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, serão regidos por esta Lei. Art. 2º - Para os efeitos desta Lei, consideram-se: I - agrotóxicos e afins: a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; b) substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento; II - componentes: os princípios ativos, os produtos técnicos, suas matérias-primas, os ingredientes inertes e aditivos usados na fabricação de agrotóxicos e afins. Art. 3º - Os agrotóxicos, seus componentes e afins, de acordo com definição do art. 2º desta Lei, só poderão ser produzidos, exportados, importados, comercializados e utilizados, se previamente registrados em órgão federal de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura. § 1º - Fica criado o registro especial temporário para agrotóxicos, seus componentes e afins, quando se destinarem à pesquisa e à experimentação. § 2º - Os registrantes e titulares de registro fornecerão, obrigatoriamente, à União, as inovações concernentes aos dados fornecidos para o registro de seus produtos. § 3º - Entidades públicas e privadas de ensino, assistência técnica e pesquisa poderão realizar experimentação e pesquisas, e poderão fornecer laudos no campo da agronomia, toxicologia, resíduos, química e meio ambiente. § 4º - Quando organizações internacionais responsáveis pela saúde, alimentação ou meio ambiente, das quais o Brasil seja membro integrante ou signatário de acordos e convênios, alertarem para riscos ou desaconselharem o uso de agrotóxicos, seus componentes e afins, caberá à autoridade competente tomar imediatas providências, sob pena de responsabilidade. § 5º - O registro para novo produto agrotóxico, seus componentes e afins, será concedido se a sua ação tóxica sobre o ser humano e o meio ambiente for comprovadamente igual ou menor do que a daqueles já registrados, para o mesmo fim, segundo os parâmetros fixados na regulamentação desta Lei. § 6º - Fica proibido o registro de agrotóxicos, seus componentes e afins: a) para os quais o Brasil não disponha de métodos para desativação de seus componentes, de modo a impedir que os seus resíduos remanescentes provoquem riscos ao meio ambiente e à saúde pública; b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil;

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45

c) que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas, de acordo com os resultados atualizados de experiências da comunidade científica; d) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo com procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica; e) que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com animais, tenham podido demonstrar, segundo critérios técnicos e científicos atualizados; f) cujas características causem danos ao meio ambiente. Art. 4º - As pessoas físicas e jurídicas que sejam prestadoras de serviços na aplicação de agrotóxicos, seus componentes e afins, ou que os produzam, importem , exportem ou comercializem, ficam obrigadas a promover os seus registros nos órgãos competentes, do Estado ou do Município, atendidas as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis que atuam nas áreas da saúde , do meio ambiente e da agricultura. Parágrafo único - São prestadoras de serviços as pessoas físicas e jurídicas que executam trabalhos de prevenção, destruição e controle de seres vivos, considerados nocivos, aplicando agrotóxicos, seus componentes e afins. Art. 5º - Possuem legitimidade para requerer o cancelamento ou a impugnação, em nome próprio, do registro de agrotóxicos e afins, argüindo prejuízos ao meio ambiente, à saúde humana e dos animais: I - Entidades de classe, representativas de profissões ligadas ao setor; II - Partidos políticos, com representação no Congresso Nacional; III - Entidades legalmente constituídas para a defesa dos interesses difusos relacionados à proteção do consumidor, do meio ambiente e dos recursos naturais. § 1º - Para efeito de registro e pedido de cancelamento ou impugnação de agrotóxicos e afins, todas as informações toxicológicas de contaminação ambiental e comportamento genético, bem como os efeitos no mecanismo hormonal, são de responsabilidade do estabelecimento registrante ou da entidade impugnante e devem proceder de laboratórios nacionais ou internacionais. § 2º - A regulamentação desta Lei estabelecerá condições para o processo de impugnação ou cancelamento do registro, determinando que o prazo de tramitação não exceda 90 (noventa) dias e que os resultados apurados sejam publicados. § 3º - Protocolado o pedido de registro, será publicado no Diário Oficial da União um resumo do mesmo. Art. 6º - As embalagens dos agrotóxicos e afins deverão atender, entre outros, aos seguintes requisitos: I - devem ser projetadas e fabricadas de forma a impedir qualquer vazamento, evaporação, perda ou alteração de seu conteúdo; II - os materiais de que forem feitas devem ser insuscetíveis de ser atacados pelo conteúdo ou de formar com ele combinações nocivas ou perigosas; III - devem ser suficientemente resistente em todas as suas partes, de forma a não sofrer enfraquecimento e a responder adequadamente às exigências de sua normal conservação; IV - devem ser providas de um lacre que seja irremediavelmente destruído ao ser aberto pela primeira vez. Parágrafo único - Fica proibido o fracionamento ou a reembalagem de agrotóxicos e afins para fins de comercialização, salvo quando realizados nos estabelecimentos produtores dos mesmos. Art. 7º - Para serem vendidos ou expostos à venda em todo território nacional, os agrotóxicos e afins ficam obrigados a exibir rótulos próprios, redigidos em português, que contenham, entre outros, os seguintes dados: I - indicações para a identificação do produto, compreendendo: a) o nome do produto; b) o nome e a percentagem de cada princípio ativo e a percentagem total dos ingredientes inertes que contém;

Page 47: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

46

c) a quantidade de agrotóxicos, componentes ou afins, que a embalagem contém, expressa em unidades de peso ou volume, conforme o caso; d) o nome e o endereço do fabricante e do importador; e) os números de registro do produto e do estabelecimento fabricante ou importador; f) o número do lote ou da partida; g) um resumo dos principais usos do produto; h) a classificação toxicológica do produto; II - instruções para utilização, que compreendam: a) a data de fabricação e de vencimento; b) o intervalo de segurança, assim entendido o tempo que deverá transcorrer entre a aplicação e a colheita, uso ou consumo, a semeadura ou plantação, e a semeadura ou plantação do cultivo seguinte, conforme o caso; c) informações sobre o modo de utilização, incluídas , entre outras: a indicação de onde ou sobre o que deve ser aplicado; o nome comum da praga ou enfermidade que se pode com ele combater ou os efeitos que se pode obter ; a época em que a aplicação deve ser feita ; o número de aplicações e o espaçamento entre elas, se for o caso; as doses e os limites de sua utilização; d) informações sobre os equipamentos a serem utilizados e sobre o destino final das embalagens; III - informações relativas aos perigos potenciais, compreendidos: a) os possíveis efeitos prejudiciais sobre a saúde do homem, dos animais e sobre o meio ambiente; b) precauções para evitar danos a pessoas que os aplicam ou manipulam e a terceiros, aos animais domésticos, fauna, flora e meio ambiente; c) símbolos de perigo e frases de advertência padronizados, de acordo com a classificação toxicológica do produto; d) instruções para o caso de acidente, incluindo sintomas de alarme, primeiros socorros, antídotos e recomendações para os médicos; IV - recomendação para que o usuário leia o rótulo antes de utilizar o produto. § 1º - Os textos e símbolos impressos nos rótulos serão claramente visíveis e facilmente legíveis em condições normais e por pessoas comuns. § 2º - Fica facultada a inscrição, nos rótulos, de dados não estabelecidos como obriga-tórios, desde que: I - não dificultem a visibilidade e a compreensão dos dados obrigatórios; II - não contenham: a) afirmações ou imagens que possam induzir o usuário a erro quanto à natureza, composição, segurança e eficácia do produto, e sua adequação ao uso; b) comparações falsas ou equívocas com outros produtos; c) indicações que contradigam as informações obrigatórias; d) declarações de propriedade relativas à inocuidade, tais como "seguro" , "não venenoso", "não tóxico"; com ou sem uma frase complementar, como: "quando utilizado segundo as instruções"; e) afirmações de que o produto é recomendado por qualquer órgão do Governo. § 3º - Quando, mediante aprovação do órgão competente, for juntado folheto complementar que amplie os dados do rótulo, ou que contenha dados que obrigatoriamente deste devessem constar, mas que nele não couberam, pelas dimensões reduzidas da embalagem, observar-se-á o seguinte: I - deve-se incluir no rótulo frase que recomende a leitura do folheto anexo, antes da utilização do produto; II - em qualquer hipótese, os símbolos de perigo, o nome do produto, as precauções e instruções de primeiros socorros, bem como o nome e o endereço do fabricante ou importador devem constar tanto do rótulo como do folheto.

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47

Art. 8º - A propaganda comercial de agrotóxicos, componentes e afins, em qualquer meio de comunicação, conterá, obrigatoriamente, clara advertência sobre os riscos do produto à saúde dos homens, animais e ao meio ambiente, e observará o seguinte: I - estimulará os compradores e usuários a ler atentamente o rótulo e, se for o caso, o folheto, ou a pedir que alguém os leia para eles, se não souberem ler ; II - não conterá nenhuma representação visual de práticas potencialmente perigosas, tais como a manipulação ou aplicação sem equipamento protetor, o uso em proximidade de alimentos ou em presença de crianças; III - obedecerá ao disposto no inciso II do § 2º do artigo 7º desta Lei. Art. 9º - No exercício de sua competência, a União adotará as seguintes providências: I - legislar sobre a produção, registro, comércio interestadual, exportação, importação, transporte, classificação e controle tecnológico e toxicológico; II - controlar e fiscalizar os estabelecimentos de produção, importação e exportação; III - analisar os produtos agrotóxicos, seus componentes e afins, nacionais e importados; IV - controlar e fiscalizar a produção, a exportação e a importação. Art. 10 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal, nos termos dos artigos 23 e 24 da Constituição Federal, legislar sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como fiscalizar o uso, o consumo, o comércio, o armazenamento e o transporte interno. Art. 11 - Cabe ao Município legislar supletivamente sobre o uso e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins. Art. 12 - A União, através dos órgãos competentes, prestará o apoio necessário às ações de controle e fiscalização, à Unidade da Federação que não dispuser dos meios necessários. Art. 13 - A venda de agrotóxicos e afins aos usuários será feita através de receituário próprio, prescrito por profissionais legalmente habilitados, salvo casos excepcionais que forem previstos na regulamentação desta Lei. Art. 14 - As responsabilidades administrativas, civil e penal, pelos danos causados à saúde das pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, a comercialização, a utilização e o transporte não cumprirem o disposto nesta Lei, na sua regulamentação e nas legislações estaduais e municipais, cabem: a) ao profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida; b) ao usuário ou a prestador de serviços, quando em desacordo com o receituário; c) ao comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou em desacordo com a receita; d) ao registrante que, por dolo ou por culpa, omitir informações ou fornecer informações incorretas; e) ao produtor que produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes do registro do produto, do rótulo, da bula, do folheto e da propaganda; f) ao empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equipamentos adequados à proteção da saúde dos trabalhadores ou dos equipamentos na produção, distribuição e aplicação dos produtos. Art. 15 - Aquele que produzir, comercializar, transportar, aplicar ou prestar serviço na aplicação de agrotóxicos, seus componentes e afins, descumprindo as exigências estabelecidas nas leis e nos seus regulamentos, ficará sujeito à pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, além da multa de 100 (cem) a 1.000 (mil) MVR. Em caso de culpa, será punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, além da multa de 50 (cinqüenta) a 500 (quinhentos) MVR.

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48

Art. 16 - O empregador, profissional responsável ou o prestador de serviço, que deixar de promover as medidas necessárias de proteção à saúde e ao meio ambiente, estará sujeito à pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, além de multa de 100 (cem) a 1.000 (mil) MVR. Em caso de culpa, será punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, além de multa de 50 (cinqüenta) a 500 (quinhentos) MVR. Art. 17 - Sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis, a infração de disposições desta Lei acarretará , isolada ou cumulativamente, nos termos previstos em regulamento, independente das medidas cautelares de embargo de estabelecimento e apreensão do produto ou alimentos contaminados, a aplicação das seguintes sanções: I - advertência; II - multa de até 1.000 (mil) vezes o Maior Valor da Referência - MVR, aplicável em dobro em caso de reincidência; III - condenação de produto; IV - inutilização de produto; V - suspensão de autorização, registro ou licença; VI - cancelamento de autorização, registro ou licença; VII - interdição temporária ou definitiva de estabelecimento; VIII - destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, com resíduos acima do permitido; IX - destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, nos quais tenha havido aplicação de agrotóxicos de uso não autorizado, a critério do órgão competente. Parágrafo único - A autoridade fiscalizadora fará a divulgação das sanções impostas aos infratores desta Lei. Art. 18 - Após a conclusão do processo administrativo, os agrotóxicos e afins apreendidos como resultado da ação fiscalizadora serão inutilizados ou poderão ter outro destino, a critério da autoridade competente. Parágrafo único - Os custos referentes a quaisquer dos procedimentos mencionados neste artigo correrão por conta do infrator. Art. 19 - O Poder Executivo desenvolverá ações de instrução, divulgação e esclarecimento, que estimulem o uso seguro e eficaz dos agrotóxicos, seus componentes e afins, com o objetivo de reduzir os efeitos prejudiciais para os seres humanos e o meio ambiente e de prevenir acidentes decorrentes de sua utilização imprópria. Art. 20 - As empresas e os prestadores de serviços que já exercem atividades no ramo de agrotóxicos, seus componentes e afins, têm o prazo de até 6 (seis) meses, a partir da regulamentação desta Lei, para se adaptarem às suas exigências . Parágrafo único - Aos titulares do registro de produtos agrotóxicos que têm como componentes os organoclorados será exigida imediata reavaliação de seu registro, nos termos desta Lei. Art. 21 - O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias, contado da data de sua publicação. Art. 22 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 23 - Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, em 11 de julho de 1989; 168º da Independência e 101º da República.

A legislação brasileira sobre os agrotóxicos, apresenta os mesmos

requintes de modernidade das legislações dos países europeus, dos Estados Unidos

e do Canadá, as quais prevêem a proibição de um agrotóxico que apresente

características de carcinogenicidade, mutagenicidade e teratogenicidade, que

Page 50: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

49

provoquem distúrbios hormonais ou danos no aparelho reprodutor e cujas

características causem danos ao meio ambiente. Passados quinze anos de vigência

dessa lei, nenhum agrotóxico no Brasil sofreu nenhum tipo de restrição por

apresentar as características antes citadas. Nos processos de registro ou renovação

de registro de determinado agrotóxico, as empresas devem apresentar um dossiê

toxicológico e ecotoxicológico completos. Nesse dossiêe devem constar testes de

toxicidade aguda, crônica, de metabolismo animal, vias de biodegradação, tipos de

resíduos gerados, persistência no meio ambiente, mobilidade no solo, toxicidade

para organismos do solo e aquáticos, entre outros. O processo de registro completa-

se após as avaliações de eficácia agronômica pelo Ministério da agricultura, de

toxicidade à saúde humana pelo Ministério da saúde e de pelicurosidade ao meio

ambiente pelo Instituto Brasileiro do meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (Ibama), sendo o Ministério da Agricultura o órgão registrante. Até hoje

nenhuma empresa enviou, em seus dossiês, testes positivos para as característcas

mutagenicidade, carcinogenicidade e teratogenicidade que possam comprometer o

processo de registro de seus produtos e provavelmente nunca o enviarão, podendo-

se assim verificar muitos casos de contradição entre os resultados dos testes

contidos nesses dossiês e os dados que se encontram na literatura científica

internacional (GRISOLIA, 2005).

O não cumprimento da Lei reflete em gastos com a saúde pública

decorrentes das elevadas contaminações por agrotóxicos, que são assumidos pelo

Estado e pela sociedade. No Brasil, seguindo-se a estimativa proposta pela

Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que indica que para cada caso

registrado de intoxicação por agrotóxicos outros 50 casos de intoxicação ocorreram

sem notificação ou com notificações errôneas, podemos inferir que, em 1993, os 6

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50

mil casos notificados indicam a ocorrência de 306 mil casos de intoxicação por

agrotóxicos. Segundo o Guia de Vigilância Epidemiológica (1998) do Ministério da

Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) despende, aproximadamente, R$150,00

para recuperar cada paciente vítima de intoxicação por agrotóxico. Assim sendo,

podemos estimar as despesas médicas para o atendimento dos intoxicados de 1993

em cerca de 46 milhões de reais. Esses gastos poderiam ter sido bastante reduzidos

se as medidas de controle e de vigilância fossem mais ativas, o que demandaria

maiores investimentos governamentais. No entanto, a comercialização de

agrotóxicos no Brasil, que no ano de 1998 movimentou mais de 2,5 bilhões de

dólares no País, está, desde 1992, isenta do Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços (ICMS). Deste modo, os recursos que poderiam ser

arrecadados pelos estados são perdidos, ficando a União responsável por cobrir

todos os outros gastos referentes ao controle e reparação dos danos decorrentes do

uso de agrotóxicos, tal como os dispensados para a saúde do trabalhador,

montagem de equipes e funcionamento dos poucos e saturados laboratórios clínicos

e de análise de resíduos de agrotóxicos existentes no Brasil. Se, ao contrário, os

agrotóxicos fossem taxados em 12% de ICMS, como ocorre com a maioria dos

alimentos brasileiros, a arrecadação gerada, algo em torno de um bilhão de reais por

ano, seria suficiente para cobrir essas despesas e financiar pesquisas de tecnologias

mais limpas que a agroquímica (SOBREIRA, 2003).

Trabalhar com agrotóxicos implica em obediência a um conjunto de leis,

normas e técnicas que visam garantir a segurança do trabalhador, a saúde do

consumidor e o equilíbrio do meio ambiente.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização dos agrotóxicos no meio rural brasileiro tem trazido uma série

de conseqüências tanto para o ambiente como para a saúde do trabalhador rural.

Em geral, essas conseqüências são condicionadas por fatores intrinsecamente

relacionados, tais como o uso inadequado dessas substâncias, a alta toxicidade de

certos produtos, a falta de utilização de equipamentos de proteção e a precariedade

dos mecanismos de vigilância. Esse quadro é agravado pelo baixo nível

socioeconômico e cultural da grande maioria desses trabalhadores.

O baixo percentual de indivíduos que lêem os rótulos das embalagens

pode ser explicado pelos níveis de escolaridade encontrados na comunidade.

Mesmo dentro deste grupo é de se esperar que os textos não sejam perfeitamente

interpretados, tanto pelo nível de escolaridade quanto pelo teor técnico das

informações contidas nos rótulos, que cria uma série de barreiras à comunicação

sobre o uso, os cuidados e os efeitos sobre a saúde e o ambiente.

A agricultura e a preservação ambiental junto do desenvolvimento

sustentável, assim devem caminhar lado a lado. Não obstante tenham os produtos

químicos utilizados na lavoura desempenhada um papel de transcendental

importância no desenvolvimento econômico do Brasil e do mundo, o custo ambiental

deste desenvolvimento é extremamente negativo.

O uso excessivo e indiscriminado de agrotóxicos, principalmente em

países em desenvolvimento, deve-se: à ausência de uma política pública séria de

registro, controle e fiscalização da comercialização e do uso; ao descumprimento da

legislação; à venda livre de produtos com elevada toxidade e/ou contaminantes

Page 53: Efeitos tóxicos e genéticos ocasionados por  agrotóxicos

52

ambientais; dá grande pressão comercial por parte das empresas produtoras e

distribuidoras; à ausência de uma política de gestão ambiental e de qualidade de

vida; à falta de consciência quanto à necessidade de preservar os finitos recursos

naturais.

Mesmo quando bem usados, de acordo com os padrões legais

recomendados, os agrotóxicos produzem efeitos secundários. Seu uso continuado

em grande escala ocasiona danos às vezes irreversíveis à saúde humana e ao meio

ambiente.

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REFERÊNCIAS

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