balanço historiográfico sobre as insurgências de …...o balanço historiográfico que...

22
657 Balanço historiográfico sobre as insurgências de africanos(as) e afrodescendentes contra a escravidão em América Paola Vargas Arana 1 Resumo: Nesse texto apresentamos um balanço historiográfico sobre os estudos das insurgências africanas e da diáspora para enfrentar a escravidão em América. Iniciamos por um percorrido histórico, aproximando as distintas tendências e países, para concluir que o debate entre o processo de criolização versus o de africanização das culturas da diáspora em América atualmente foi superado por novas alternativas e enfoques interpretativos. Entre os enfoques mais recentes analisamos 1) o conceito do mundo atlântico como eixo para entender a formação dos fenómenos socioculturais da diáspora; 2) a cooperação cada vez mais profunda entre os estudos da história da África e a história da diáspora em América; e 3) a relevância das histórias individuais de vida para interpretar os contextos históricos específicos tanto na África quanto na América, que contribuíram para forjar as identidades e culturas da diáspora. Palavras-Chave: Resistências da Diáspora africana em América. Mundo Atlântico. Histórias de vida de africanos no mundo atlântico. Resistências contra a escravidão em América. Abstract: This article presents a historiographical synthesis on the studies of the insurgencies led by Africans and the diaspora to face slavery in America. We begin with a historical journey, approaching different trends and countries, to conclude that the debate between creolization versus Africanization in the construction of the diaspora cultures in America has now been surpassed by new alternatives and interpretive approaches. Among the most recent approaches we analyze 1) the concept of Atlantic world as an axis to understand the shaping of the diaspora as a sociocultural phenomenon. 2) Then we explain the advancement of a deeper cooperation between the studies of African history with the researches of the diaspora histories in America. 3) We analyze the relevance of individual life-histories studies, of individual who contributed to forge identities and cultures on the diaspora; and how these life histories serve to interpret broader socio-historical contexts in both Africa and America. Keywords: Resistances of the African Diaspora in America. Atlantic World. Life histories of Africans in the Atlantic world. Resistance against slavery in America. 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História Social PPGHIS da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, bolsista CNPq, endereço eletrônico [email protected]

Upload: others

Post on 19-Jul-2020

19 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

657

Balanço historiográfico sobre as insurgências de africanos(as) e afrodescendentes contra

a escravidão em América

Paola Vargas Arana1

Resumo: Nesse texto apresentamos um balanço historiográfico sobre os estudos das

insurgências africanas e da diáspora para enfrentar a escravidão em América. Iniciamos por

um percorrido histórico, aproximando as distintas tendências e países, para concluir que o

debate entre o processo de criolização versus o de africanização das culturas da diáspora em

América atualmente foi superado por novas alternativas e enfoques interpretativos. Entre os

enfoques mais recentes analisamos 1) o conceito do mundo atlântico como eixo para entender

a formação dos fenómenos socioculturais da diáspora; 2) a cooperação cada vez mais

profunda entre os estudos da história da África e a história da diáspora em América; e 3) a

relevância das histórias individuais de vida para interpretar os contextos históricos específicos

tanto na África quanto na América, que contribuíram para forjar as identidades e culturas da

diáspora.

Palavras-Chave: Resistências da Diáspora africana em América. Mundo Atlântico. Histórias

de vida de africanos no mundo atlântico. Resistências contra a escravidão em América.

Abstract: This article presents a historiographical synthesis on the studies of the insurgencies

led by Africans and the diaspora to face slavery in America. We begin with a historical

journey, approaching different trends and countries, to conclude that the debate between

creolization versus Africanization in the construction of the diaspora cultures in America has

now been surpassed by new alternatives and interpretive approaches. Among the most recent

approaches we analyze 1) the concept of Atlantic world as an axis to understand the shaping

of the diaspora as a sociocultural phenomenon. 2) Then we explain the advancement of a

deeper cooperation between the studies of African history with the researches of the diaspora

histories in America. 3) We analyze the relevance of individual life-histories studies, of

individual who contributed to forge identities and cultures on the diaspora; and how these life

histories serve to interpret broader socio-historical contexts in both Africa and America.

Keywords: Resistances of the African Diaspora in America. Atlantic World. Life histories of

Africans in the Atlantic world. Resistance against slavery in America.

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História Social – PPGHIS da Universidade Federal do Rio de

Janeiro – UFRJ, bolsista CNPq, endereço eletrônico [email protected]

Page 2: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

658

O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado

que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS da UFRJ, cujo objetivo é analisar as insurgências

conduzidas pelos africanos nos séculos XVI e XVII, na colônia hispânica de Nova Granada.

A ênfase da tese é mostrar que os povos africanos não perderam suas culturas quando

chegaram na América, pois aqui as reconstruíram com novos elementos, e essa força cultural

lhes permitiu lutar contra os interesses dos escravistas e forjar suas próprias culturas. A

pesquisa faz parte dos estudos sobre as resistências que os africanos e seus descendentes

criaram na diáspora2 americana para combater a escravidão, os quais começaram desde o

início do século XX tanto na academia do Caribe, como nos Estados Unidos e Brasil.

Iniciamos este percorrido com dos pesquisadores brasileiros, Flavio Gomes e João José Reis,

cujo livro Liberdade por um fio de 1996, incluiu os estudos brasileiros daquela que

consideram foi a resistência mais típica contra a escravidão, isto é, a formação de grupos de

africanos e seus descendentes, nos denominados palenques, quilombos, cumbes ou marroon

communities, dependendo da região da América onde essas organizações territoriais

existiram.3 De acordo com Gomes e Reis, esse fenômeno foi estudado desde o surgimento

dessas organizações territoriais, uma vez que há registros coloniais que detalham tais

resistências, com ênfase na compreensão do seu funcionamento e nas dificuldades para

erradicá-las. Durante o período de vigência da escravidão, essas narrativas foram enquadradas

na história militar e procuraram exaltar o poder exercido pelas autoridades coloniais.4 Por

2 No presente texto, estudaremos a historiografia das resistências contra a escravização; portanto, não

discutiremos o conceito da diáspora africana por resultar igualmente amplo. No entanto, é importante salientar

que a definição da noção da diáspora africana foi debatida pelo menos desde a década de 1960. Atualmente a

ideia mais aceita de diáspora africana refere-se à dispersão da população africana em todo o mundo, em

momentos diferentes da história, dos quais surgiu uma auto-identificação com o continente africano tanto por

parte das afrodescendentes, como das pessoas africanas que moram fora da África. Essa auto-identificação

refere-se à consciência de que existem laços culturais, linguísticos e históricos com o continente africano, bem

como o reconhecimento de que, a nível global, injustiças similares foram e são cometidas contra pessoas

africanas e seus descendentes de pele escura. Entre os trabalhos relevantes sobre o conceito de diáspora africana,

podemos destacar: HALL, Stuart. Cultural identity and diaspora. In: RUTHERFORD Jonathan, Identity:

community, culture, difference. Lawrence & Wishart, 1990, p. 222-237; GILROY, Paul. The black Atlantic:

Modernity and double consciousness, Harvard University Press, 1993; INIKORI, Joseph E.; HARRIS, Joseph

E.; JALLOH, Alusine; PALMER, Colin A.; CHAMBERS, Douglas; GRADEN, Dale T. The African Diaspora,

Arlington: University of Texas, 1996. La temática es tan amplia que actualmente se pueden encontrar balances

sobre el uso y definición del concepto, por ejemplo en: OLANIYAN, Tejumola, SWEET James H. The African

Diaspora and the Disciplines, Indiana University Press, 2010; MANN, Kristin. Shifting paradigms in the study

of the African diaspora and of Atlantic history and culture, Slavery and Abolition, v. 22, n. 1, p. 1-2. 2001;

BOYCE DAVIES, Carole. Encyclopedia of the African Diaspora: Origins, Experiences, and Culture, 3 volumes,

California: ABC-CLIO, 2008. 3 REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.

9. 4 REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.

11.

Page 3: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

659

tanto, para os autores, as análises sobre as resistências africanas datam do início mesmo da

colonização.

Outra possível origem desses estudos é sugerida por Kim Butler. A autora propõe que,

uma vez que a legalidade da escravização foi erradicada globalmente e na medida que a mídia

se expandia, as pessoas africanas e afrodescendentes criaram uma consciência da necessidade

de enfrentar a causa comum das atrocidades históricas e contemporâneas cometidas contra

elas. A autora afirma que na passagem do século XIX para o XX, a lógica da raça na

exploração de corpos negros (black bodies) foi mais do que evidente em ambos os lados do

Atlântico; por exemplo, na construção do Canal do Panamá por pessoas exclusivamente

afrodescendentes, a qual ocorreu simultânea com a execução das barbáries da exploração da

borracha pelos belgas no Congo, com a partilha da África, o linchamento de afrodescendentes

nos Estados Unidos, à instalação do apartheid na África do Sul, e à substituição de

trabalhadores afrodescendentes por imigrantes europeus nas Américas.5

Nos Estados Unidos e no Caribe, essas evidências contribuíram para a articulação de

uma causa comum por parte dos afrodescendentes que exigiam a participação igualitária

(rightful share) como cidadãos, pois, apesar de suas contribuições para a construção dos

estados americanos, as pessoas de pele escura continuaram sendo marginalizadas.6 A autora

considera que foi a partir desta consciência que chama de Pan-Africanista, da qual emergiu a

elaboração de um primeiro corpus historiográfico das lutas, posições e demandas da diáspora

africana. Nos Estados Unidos, este tema forjou uma historiografia significativa da diáspora,

das obras de W. E. B. Du Bois,7 George Washington Williams,

8 Carter G. Woodson

9 e

George Haynes.10

No caso do Caribe, a autora destacou a contribuição de Marcus Garvey e

outros ativistas que somaram ao reconhecimento da resistência da diáspora e devem ser

levados em consideração no processo de formação da historiografia da diáspora contra a

5BUTLER Kim D. Clio and the Griot: The African Diaspora in the Discipline of History, In: OLANIYAN,

Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana University Press, 2010, p. 23. 6 BUTLER Kim D. Clio and the Griot: The African Diaspora in the Discipline of History, In: OLANIYAN,

Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana University Press, 2010, p. 23. 7 DUBOIS, W. E. B. The study of the Negro problems. The Annals of the American Academy of Political and

Social Science, v. 11, n. 1, p. 1-23, 1898. DUBOIS, W. E. B. The Souls of Black Folk, Modern Library, 1903. 8WILLIAMS, George Washington. History of the Negro Race in America from 1619 to 1880, GP: Putnam's

Sons, 1882. FRANKLIN, John Hope. George Washington Williams: A Biography. Duke University Press, 1998. 9 WOODSON, Carter Godwin. The Negro in our history. Associated Publishers, 1922. WOODSON, Carter G.;

WESLEY, Charles H. The story of the Negro retold. Wildside Press LLC, 2008 [1935]. 10

BUTLER Kim D. Clio and the Griot: The African Diaspora in the Discipline of History, In: OLANIYAN,

Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana University Press, 2010, p. 24-

25.

Page 4: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

660

exploração.11

Kristin Mann compartilha a ideia de Butler de que o surgimento de

interpretações históricas das lutas da diáspora emergiu de intelectuais africanos(as) e

afrodescendentes, embora essa origem não tenha sido suficientemente reconhecida nos

círculos acadêmicos. Para sustentar sua afirmação, a autora também destaca o trabalho de W.

E. B. Du Bois e Carter G. Woodson nos Estados Unidos como pioneiros e enfatiza que, até a

década de 1970, as ideias destes intelectuais afro-americanos tiveram pouco impacto na

produção de conhecimento por parte do establishment acadêmico branco.12

Simultaneamente, no Brasil, as lutas dos militantes esquerdistas e do movimento negro

foram inspirados pelos quilombos forjados por africanos e afrodescendentes durante o período

da escravidão. De acordo com Gomes e Reis, isso pode ser verificado nas décadas de 1920 e

1930, quando as organizações negras recordavam nas suas lutas, as lutas do quilombo dos

Palmares, por exemplo, “o Centro Cívico Palmares, fundado em 1927, forneceria líderes e

idéias para a Frente Negra Brasileira na década seguinte.”13

Ao mesmo tempo, emergiram

intelectuais marxistas como Aderbal Jurema, que interpretaram as revoltas escravizadas como

episódios da luta de classes. A partir da década de 1930, as reflexões acadêmicas sobre as

organizações territoriais criadas pelos africanos e seus descendentes que fugiram da

escravidão, avançaram com os estudos de Nina Rodrigues, Artur Ramos ou Edison Carneiro,

desde uma perspectiva culturalista. Em particular, Edison Carneiro combinou as pesquisas

com o ativismo contra a perseguição policial das religiões da matriz africana, em particular do

Candomblé. Esta tarefa foi retomada a partir da década de 1940 por Roger Bastide,14

quem

associou a formação dos quilombos e religião do Candomblé como resistências contra a

aculturação que os escravizados foram pressionados nas senzalas.15

Entre os anos 1960 e 2000, Abdias do Nacimento propôs um conceito mais amplo de

quilombo, como uma criação identitária da luta afro-brasileira contra as injustiças do sistema

escravo e a subsequente exploração laboral desse setor da população no período pós-abolição.

Sua produção influenciou não apenas as abordagens das ciências sociais brasileiras, mas

também ultrapassou fronteiras, tornando-se um dos ícones das lutas pan-africanas até o

11

BUTLER Kim D. Clio and the Griot: The African Diaspora in the Discipline of History, In: OLANIYAN,

Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana University Press, 2010, p. 38. 12

MANN, Kristin. Shifting paradigms in the study of the African diaspora and of Atlantic history and culture.

Slavery and Abolition, v. 22, n. 1, 2001, p. 4. 13

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. P.

12. 14

BASTIDE, Roger. Les religions africaines au Brésil: vers une sociologie des interpénétrations de civilisations.

Presses universitaires de France, 1960. BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia (rito Nagô). Brasiliana, 1961. 15

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. P.

11.

Page 5: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

661

período contemporâneo.16

No caso do Haiti, Jean Prince-Mars entre os anos 1920 e 1950

estudou a tradição oral e a importância da religião Vodu;17

e, em Cuba, a obra de Fernando

Ortiz estudou etnograficamente as diferentes facetas das culturas afro-cubanas desde o início

do século XX até sua morte no final da década de 1960.

Resumindo, de acordo com Reis, Gomes, Mann e Butler, do movimento negro afro-

brasileiro, assim como dos movimentos emancipatórios do Caribe e dos intelectuais afro-

americanos do início do século XX, surgiram perspectivas importantes para entender o papel

dos africanos e afrodescendentes nas resistências contra a escravidão e injustiças do pós-

abolição. No entanto, até a década passada foi a obra de Melville Herskovits de 1941, The

Myth of the Black Past, a mais relevante para a interpretar os tipos de respostas culturais

geradas pela diáspora africana na América.18

Kristin Mann menciona que na década de 1920

Herskovits começou a estudar que "os vestígios das culturas africanas que haviam sobrevivido

nas Américas e, ao longo de sua longa carreira, promoveu apaixonadamente a ideia de que

tradições, atitudes e comportamentos institucionalizados foram mantidos no Novo Mundo,

tanto na vida secular como religiosa." 19

Centenas de estudos começaram a emergir nas Américas utilizando a perspectiva de

análise de Herskovits. No caso dos Estados Unidos, o trabalho de Joseph E. Holloway

destacou que sobrevivências africanas foram procuradas em comunidades isoladas,

especialmente na Flórida, Geórgia e Carolina do Sul.20

No caso do Brasil, de acordo com

Gomes e Reis, na década de 1960, R. K. Kent e Eugene Genovese construíram uma visão

restauradora, argumentando que os quilombos procuraram recriar estados africanos prístinos

no Brasil.21

No caso do México, Luis Aguirre Beltrán, entre os anos 1950 e 1980, estudou os

refúgios territoriais, bem como a medicina e a magia africanas que sobreviviam entre dos

afromexicanos.22

No caso da Colômbia, os estudos pioneiros de Rogerio Velásquez, publicados entre

1950 e 1980, reconstruíram as particularidades etnográficas dos grupos afrodescendentes,

assim como as resistências e rebeliões históricas na região do Pacífico colombiano.

16

DO NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista. Vozes, 1980. 17

PRINCE-MARS, Jean. Ansi parla l’oncle Port-au-Prince e Paris: Imprimerie de Compiègne, 1928. 18

HERSKOVITS, Melville Jean. The myth of the Negro past. Beacon Press, 1990 [1941]. 19

“MANN, Kristin. Shifting paradigms in the study of the African diaspora and of Atlantic history and culture.

Slavery and Abolition, v. 22, n. 1, 2001, p. 4. 20

HOLLOWAY, Joseph E. Africanisms in American Culture, Indiana University Press, 1990, p. 3. 21

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.

11. 22

AGUIRRE BELTRAN, Gonzalo. La población negra de México, 1519-1810. Estudio etno-histórico, México:

Ediciones Fuente cultural, 1946.

Page 6: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

662

Adiantando as linhas de pesquisa que mais tarde se consolidaram em Colômbia sobre os laços

entre a história da África e da diáspora colombiana, Velásquez afirmou

sociólogos y antropólogos dicen que, identificados los pueblos negros hasta donde ello sea

posible, vendrán los enlaces de complejos y de acciones, el descubrimiento de rasgos

culturales entre los grupos del Nuevo Mundo y los que demoran todavía en las zonas donde

salieron los abuelos. Tras los nombres de los esclavos se podrá –tarde, quizás- desembocar

en la razón de ser de tantos neoafricanos que viven en el continente sin alcanzar su propia

ruta.23

Com relação à região do Caribe colombiano, nas décadas de 1950 a 1970, Aquiles

Escalante dedicou-se ao estudo do palenque de San Basilio, das formas tradicionais de

mineração e elaborou ensaios e artigos sobre máscaras de madeira africanas e sua possível

relação com as do Carnaval de Barranquilla. Ademais, o autor discutiu a influência das

línguas do tronco linguístico Banto nas culturas afrodescendentes da Costa Atlântica

colombiana, e estudou o significado do lumbalú, que é o ritual funerário do palenque de San

Basilio.24

Por outra parte, no Brasil, desde a década de 1950, contemporâneo com o

fortalecimento de partidos comunistas e socialistas em América Latina, se tornaram comuns

os estudos sobre a rebelião das pessoas escravizadas associadas aos movimentos de esquerda

e ao movimento negro. Em 1959 Clóvis Moura, apresentado um amplo leque de fontes

primárias, publicou uma interpretação marxista de Palmares, com o objetivo de combater a

concepção de Gilberto Freyre, iniciada em 1930, que no Brasil haveria relações escravas

harmoniosas. Análises como essa fizeram parte da chamada "escola paulista" que buscou

enfatizar a coisificação da pessoa escravizada ocorrida no marco do escravismo brasileiro.

Outros autores desta tendência foram Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso,

Otavio Ianni e, num período posterior, Luís Luna, José Alípio Goulart e Décio Freitas. A

ênfase do período foi entender as táticas de guerrilha dos quilombos e sua relação com outros

movimentos políticos. Por sua vez, os quilombos eram representados como sociedades

alternativas livres marginalizadas e isoladas; onde os quilombolas careceriam da consciência

de classe suficiente para alcançar o sucesso na luta.25

23

VELÁSQUEZ, Rogerio. Fragmentos de historia, etnografía y narraciones del Pacífico colombiano negro,

Bogotá: Instituto Colombiano de Antropología e Historia, 2000, p. 15. 24

ESCALANTE, Aquiles. Notas sobre Palenque de San Basilio, In: Divulgaciones etnológicas, IV, Barranquilla:

Universidad del Atlántico, 1954. ESCALANTE, Aquiles, El negro en Colombia, Tesis de sociología, Bogotá:

Universidad Nacional de Colombia, 1964. ESCALANTE, Aquiles. Minería del hambre. Condoto y la Chocó

Pacifico, Barranquilla: Tipografia Dovel, 1971. 25

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996,

p.13.

Page 7: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

663

Na década de 1970, o trabalho de Leslie B. Rout sobre africanos e afrodescendentes

nas colônias espanholas americanas dedicou todo um capítulo às rebeliões e resistências dos

escravizados. A autora enfatizou a análise da crueldade dos castigos, a legislação punitiva

colonial e as estratégias de contra-ataque que os quilombos exerceram frente às perseguições

de colonialistas e escravistas.26

No caso do Caribe, também na década de 1970, houve um

boom nos estudos sobre resistências e formação de quilombos, cuja ênfase foi o estudo das

conspirações contra o sistema escravista que aconteceram em várias ilhas, embora somente foi

bem sucedida no Haiti.27

Por outro lado, no mesmo período, houve estudos das rebeliões no

Caribe que tentaram traçar as linhas étnicas na formação dos quilombos, contribuindo com

um caráter mais culturalista para o debate.28

No caso da Colômbia, a década de 1970 representou o fortalecimento dos estudos

sobre palenques, particularmente com três autores, María del Carmen Borrego Plá, Roberto

Arrázola e Orlando Fals Borda. Os dois primeiros dedicaram-se à exploração das fontes

disponíveis no Archivo Geral de Indias de Sevilha (AGI) relativas à formação e perseguição

dos palenques do Caribe colombiano entre os séculos XVI e XVII. As narrativas levantadas

no AGI das perseguições e negociações entre escravos, coroas e palenqueros, contém extensas

descrições de caráter etnográfico acerca da organização e funcionamento dessas organizações

criadas pela diáspora africana, a ponto de continuar sendo exploradas atualmente por

pesquisadoras como Jane Landers ou Maria Cristina Navarrete. E enquanto Roberto

Arrázola29

dedicou-se à transcrição dos documentos, Borrego Plá gerou os primeiros mapas

de localização dos palenques e construiu uma narrativa sequencial dos fatos em relação com

as perseguições exitosas e falidas, e a reconstrução de novos palenques em outras áreas.30

O

trabalho de Fals Borda foi de caráter multidisciplinar e marxista, e tratou o caso dos palenques

26

ROUT Leslie B. The African Experience in Spanish America: 1502 to the present day, Cambridge, CUP

Archive, 1976, p. 101. Otro autor de los años de 1970 que destaca porque buscó vincular la historia de las

resistencias en ambos lados del atlántico a partir del uso del modelo de Hobsbawn y del marxismo fue Ronald

Chilcote, CHILCOTE, Ronald H. Protest and Resistance in Angola and Brazil: Comparative Studies, University

of California Press, 1972. 27

GASPAR, David Barry. The Antigua slave conspiracy of 1736: a case study of the origins of collective

resistance. The William and Mary Quarterly: A Magazine of Early American History, 1978, p. 308-323.

SHERIDAN, Richard B. The Jamaican slave insurrection scare of 1776 and the American Revolution. The

Journal of Negro History, 1976, vol. 61, no 3, p. 290-308. GASPAR, David Barry. Runaways in Seventeenth-

Century Antigua, West Indies. Boletín de estudios latinoamericanos y del Caribe, 1979, no 26, p. 3-13.

HANDLER, Jerome S. Slave revolts and conspiracies in seventeenth-century Barbados. Nieuwe West-Indische

Gids/New West Indian Guide, 1982, vol. 56, no 1/2, p. 5-42. 28

KOPYTOFF, Barbara. The development of Jamaican maroon ethnicity. Caribbean Quarterly, 1976, vol. 22, no

2-3, p. 33-50. SCHULER, Monica. Ethnic slave rebellions in the Caribbean and the Guianas. Journal of Social

History, 1970, p. 374-385. 29

ARRÁZOLA Roberto, Palenque, primer pueblo libre de América, Bogotá: Ediciones Hernández, 1970. 30

BORREGO PLÁ, María del Carmen. Palenques de negros en Cartagena de Indias a fines del siglo XVII.

Sevilla: Escuela de Estudios Hispano-Americanos, 1973.

Page 8: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

664

numa zona geoestratégica da Colômbia, denominada depressão Momposina, limite sul da

região Caribe, início da região montanhosa dos Andes. Essa é uma região esquecida pelo

Estado, onde o investimento político e social é praticamente ausente e onde a luta secular pela

terra, de acordo com o autor, teria começado pela formação de núcleos territoriais autónomos

a partir da fugas dos escravizados africanos no século XVI. O autor explorou os arquivos da

cidade de Mompox, notadamente o Cartório 1, e fez referência a documentos relativos à

perseguição dos palenques e às concessões de terras que a Coroa e a Governação de Santa Fé

deram aos espanhóis de linhagem, entre os séculos XVI e XVIII.31

Na década de 1970, Richard Price e Sidney Mintz desenvolveram um modelo em que

enfatizaram a inovação e a adaptação da diáspora, em vez da retenção direta de africanismos

na formação das culturas afrodescendentes nas Américas. O livro The Birth of African-

American Culture: An Anthropological Approach, publicado em 1976, argumentou que, nas

Américas, houve um desenvolvimento de culturas híbridas crioulas por parte dos

afrodescendentes.32

O ensaio significou uma inflexão nas análises sobre a maneira como a

memória social poderia ter funcionado a fim de recriar culturas próprias nas Américas por

parte das pessoas africanas e afrodescendentes durante o período da migração escravista.

Diferente do que é comumente escrito sobre o ensaio, Mintz e Price não negaram que os

afrodescendentes teriam sido influenciados por princípios culturais profundos das sociedades

africanas. No entanto, para os autores, a retenção de tradições culturais africanas específicas

resultava improvável, porque as pessoas escravizadas teriam vindo de regiões muito

diferentes da África. Em segundo lugar, os autores advertiram que a ideia de que, na América,

as pessoas africanas retiveram completamente as culturas africanas, poderia levar a negar-lhes

o impacto significativo e criativo que aqui manifestaram.33

Para Mintz e Price, as pessoas

africanas na diáspora usaram as ferramentas e memórias disponíveis de suas matrizes

africanas, não como sobrevivências passivas, mas como elementos que, na América, eles

transformaram através da sua capacidade de resiliência. Portanto, sugeriram que os estudos da

diáspora se concentrassem nos processos de desenvolvimento das culturas afro-americanas,

examinando os diferentes tipos de combinações e misturas que acabariam por gerar culturas

31

FALS BORDA, Orlando. Mompox y Loba, Historia doble de la costa, tomo 1, Bogotá: El Ancora editora,

2002 [1979]. 32

MINTZ, Sidney Wilfred; PRICE, Richard. The birth of African-American culture: An anthropological

perspective. Beacon Press, 1992 [1976]. 33

MINTZ, Sidney Wilfred; PRICE, Richard. The birth of African-American culture: An anthropological

perspective. Beacon Press, 1992 [1976], p. X.

Page 9: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

665

americanas crioulas.34

No caso do Brasil, essa perspectiva teve um impacto, pois, de acordo

com Gomes e Reis, durante a década de 1980, a busca das retenções africanas foi

interrompida e, embora houvesse poucos estudos sobre quilombos no Brasil, estes destacaram

pela exploração de novas fontes, escritas e orais, e pela busca das relações quilombolas com

outros grupos sociais.35

No caso da Colômbia, o contexto do novo constitucionalismo (1991) que reconheceu a

diversidade sociocultural desse país dois autores estimulou os estudos sobre afrodescendentes.

Desde a perspectiva da criolização, Peter Wade pesquisa sobre a população afrocolombiana, a

partir das noções de raça e etnia negras que o autor interpreta como identidades mestiças.

Nas suas palavras, os africanismos, bem como qualquer outra origem dessas culturas não é de

interesse, pois o foco dos seus estudos é a discriminação que essa população tem sofrido na

história da Colômbia. Por tanto, sua obra analisa os processos de branqueamento, a

elaboração de uma identidade nacional e às resistências culturais na música, moda e formas de

fala características dos grupos negros da Colômbia; aspectos que, segundo Wade,

possibilitaram a geração de identidades regionais, também de natureza mestiça e não-

afrodescendente, por parte desse setor.36

Na mesma linha de Wade, Eduardo Restrepo estuda

as culturas daqueles que o autor denomina negritudes colombianas.37

Além disso, Restrepo

produz análises críticas sobre os argumentos e fontes utilizadas pelos intelectuais que lideram

a tendência das sobrevivências africanas na Colômbia. Mais tarde, neste texto, retornaremos

as críticas relevantes que Restrepo fez nesse respeito.38

De forma crítica, consideramos que a

produção de ambos os autores representa uma interpretação conjuntural, pois, ao descartar

completamente a existência de vínculos culturais entre a África e a Colômbia, omite questões

relativas à história de longa duração das expressões e memórias socioculturais. Em outras

palavras, ao excluir qualquer influência das histórias anteriores à formação do Novo Mundo

moderno, também suprime a pergunta sobre como essas culturas que existiam na África,

América e Europa poderiam ter impactado a formação sociocultural Colômbia.

No caso dos Estados Unidos, Linda Heywood e John Thornton, apresentam em seus

estudos a perspectiva da criolização. O livro de John Thornton, “África e os africanos: na

34

MINTZ, Sidney Wilfred; PRICE, Richard. The birth of African-American culture: An anthropological

perspective. Beacon Press, 1992 [1976], p. X y XI. 35

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. P.

14. 36

WADE, Peter. Blackness and race mixture: the dynamics of racial identity in Colombia, JHU Press, 1995. 37

RESTREPO, Eduardo. Etnización de la negridad: la invención de las "comunidades negras" como grupo

étnico en Colombia. Popayán: Editorial Universidad del Cauca, 2013. 38

RESTREPO, Eduardo. Entre Arácnidas Deidades y Leones Africanos: contribución al debate de un enfoque

afroamericanista en Colombia. Revista Tabula Rasa, n 1, 2003.

Page 10: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

666

formação do mundo atlântico”, publicado em 1998, aprofundou a história do tráfico de

escravizados nos dois lados do Atlântico, tomando em consideração os processos que

ocorreram na África Central e os processos americanos a onde essas pessoas foram

introduzidas. Para interpretar as contribuições africanas e afrodescendentes nas Américas,

Thornton partiu da tese de Mintz e Price, observando que, embora os africanos transmitiram

suas culturas africanas na América, houve transformações culturais, estéticas e religiosas

necessárias devido às peculiaridades de novo contexto e à exploração que aqui sofreram.39

O

conceito de criolização apresentado pelos autores refere-se estritamente ao processo de

europeização dos povos africanos, pelo fato de que eles vieram para a América falando

português, vestidos ne moda europeia e praticando o catolicismo. Este modelo não é

satisfatório para James Sweet, pois os autores omitem a criação de culturas próprias e não

somente europeizadas por parte das pessoas africanas, e o fato de que os africanos também

exerceram influência nas culturas atlânticas europeias. Porém, o aspecto mais débil do livro

segundo Sweet, é a interpretação de que a europeização facilitou aos escravizados sua

integração no meio colonial americano e que aqueles com maior domínio da cultura europeia

e do catolicismo, alcançavam a liberdade mais facilmente e rapidamente se sentiram

confortáveis no mundo dos colonialistas europeus.40

Retomando o debate, a partir da publicação de Mintz e Price, a tendência da

criolização se opôs àquela das retenções africanas proposta por Herskovits. Assim, no início

dos anos 80, foi desencadeado um debate apaixonado que persiste até a atualidade. No

entanto, novos paradigmas interpretativos que estudaremos nesse texto, bem como as variadas

tipologias documentais reveladas nas últimas décadas, demoliram a oposição entre ambas as

tendências, uma vez que demonstraram, por uma parte, que a retenção poderia ter ocorrido

simultânea e sem oposição à criolização. Por outra parte, estudos recentes demonstraram que

ambas as tendências possuíam um profundo desconhecimento da história da África, o que

gerou fissuras em suas interpretações. Herskovits tinha uma ideia estática das culturas

africanas e, portanto, as retenções que ele defendeu não incorporaram os processos históricos

de transformação da África, onde as máscaras, danças, tambores e línguas provavelmente não

fossem idênticas às do passado. No caso da criolização de Mintz e Price, os autores haviam

superestimado as diferenças culturais existentes na África, o que lhes impediu ver que, nas

regiões onde os africanos foram capturados, havia aspectos culturais em comum; tais como

39

THORNTON, John. A África e os africanos: na formaçāo do mundo Atlântico, ,1400-1800, Rio de Janeiro:

Ed. Elsevier, 2004 [1998], p. 279 40

Review by: James H. Sweet of Central Africans, Atlantic Creoles, and the Foundation of the Americas, 1585-

1660 by Linda M. Heywood and John K. Thornton, NWIG: New West Indian, v. 83, n. ½, 2009, pp. 124-127.

Page 11: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

667

estruturas linguísticas semelhantes e compreensíveis, o uso do tambor, ou o culto dos

ancestrais.41

Por esta razão, a relevância do estudo das estreitas ligações entre as culturas e as

histórias dos continentes africano e americano continuam em vigor, e, no presente, foram

pontuadas com maiores detalhes documentais e conhecimento preciso da história da África. A

existência da criolização das culturas em certas áreas e contextos não é descartada, mas

atualmente esse fenômeno busca ser explicado com base sólida nas histórias regionais de

longo prazo, no tipo de tráfico e nas origens específicas das pessoas africanas que aí

chegaram.

Quanto aos estudos recentes de retenções africanas, destacamos o trabalho de Maureen

Warner-Lewis, 2003, que é capaz de mostrar conclusivamente a gama de práticas culturais,

incluindo práticas arquitetônicas, musicais, políticas, linguísticas e religiosas em África que

estão presentes nos diferentes países que compõem o Caribe.42

No caso da Colômbia, os

estudos de africanismos foram liderados entre as décadas de 1980 e 2010 por Nina S. de

Friedemann, Luz Adriana Maya Restrepo e Jaime Arocha. Nina S. de Friedemman dedicou

suas pesquisas ao estudo das culturas palenqueras, às expressões africanas nos carnavais

colombianos do Caribe e do Pacífico, e às análises linguísticas com ênfase nas retenções de

Bantu nas línguas crioulas afrocolombianas. Os estudos linguísticos os fez lado a lado com

Germán de Granda43

e Carlos Patiño Roselli,44

e foram recentemente continuados por Armin

Schwegler.45

Seu trabalho consistiu principalmente em ensaios curtos onde sugeriu hipóteses

comparativas entre expressões culturais específicas da Colômbia - máscaras, rituais, toques de

tambor - e expressões culturais particulares da África. Mais do que provar com fontes

41

Kristin Mann destaca dois autores que estudam o culto dos antepassados como uma das práticas mais

difundidas entre os afro-americanos; prática que promoveu um senso de unidade entre os afro-americanos. Esses

autores explicam esse fenômeno pela estreita relação com os antepassados que existe em muitas das culturas da

África Central e Ocidental. STUCKEY, Sterling. Slave Culture: Nationalist Theory and the Foundations of

Black America, New York: Oxford University Press, 1987), pp. 3–97; CREEL, Margaret. ‘A Peculiar People’:

Slave Religion and Community-Culture among the Gullahs, New York: New York University Press, 1988,

pp.308–22. 42

WARNER LEWIS, Maureen. Central Africa in the Caribbean: Transcending Time, Transforming Cultures,

University of West Indies Press, 2003. En el caso de Estados Unidos, de manera reciente Jason Young estudió

las prácticas rituales africanas que sobrevivieron a la travesía atlántica en el sur de ese país, YOUNG, Jason R.

Rituals of Resistance: African Atlantic Religion in Kongo and the Lowcountry South in the Era of Slavery,

Baton Rouge: Louisiana State University Press, 2007. 43

DE GRANDA, Germán, Algunas observaciones morfológicas y etimológicas sobre vocabulario de origen

bantú en el habla criolla de San Basilio de Palenque, Bolívar, Colombia. En Revista de dialectología y

tradiciones populares, 29, p. 435-441, 1973. DE GRANDA, Germán. Estudios sobre un área dialectal

hispanoamericana de población negra: las tierras bajas occidentales de Colombia. Instituto Caro y Cuervo, 1977. 44

FRIEDEMANN, Nina S.; PATIÑO ROSELLI, Carlos. Lengua y sociedad en el Palenque de San Basilio.

Bogotá: Instituto Caro y Cuervo, 1983. 45

SCHWEGLER, Armin. "Chi ma nkongo": lengua y rito ancestrales en El Palenque de San Basilio, Frankfurt:

Vervuert, 1996. SCHWEGLER, Armin. 18 Bantu elements in Palenque (Colombia). In African Re-Genesis:

Confronting Social Issues in the Diaspora, p. 204, 2006.

Page 12: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

668

documentais, os estudos etnográficos de Friedemann deixaram sugestões bem argumentadas

para aqueles que posteriormente estudaram as culturas afrocolombianas.46

Os estudos de Luz

Adriana Maya são de natureza histórica e procuram encontrar aspectos africanos nas práticas

mágico-religiosas realizadas por homens e mulheres africanas e afrodescendentes em

Cartagena durante o século XVII. Maya utiliza a documentação do Oficio da Inquisição, em

particular os Processos de Fé e as Relações de Causas daqueles que foram acusados de

feitiçaria e heresia. Para a autora,

donde los inquisidores solo veían pactos con satanás y prácticas demoníacas, había en

realidad una particular forma de resistencia a la esclavitud, una forma de cimarronaje

simbólico. […] Sus estrategias se enraizaban en los modos de expresión de la corporalidad

africana, la cual fue resignificada en el contexto católico, y enriquecida con ciertas

adopciones de los saberes de los pueblos indígenas.47

De acordo com Maya, os suportes materiais foram aqueles que sofreram maiores

impactos destrutivos devido à deportação da África e à empresa evangelizadora; estes

"cumpriram a função de ser veículos de comunicação necessários para reviver a memória e

treinar as novas gerações nela."48

Por tanto, máscaras ou instrumentos musicais tiveram de ser

reconstruídos na América através de mecanismos de adoção e resignificação. Embora a autora

proponha a existência de um vínculo entre essas práticas e "veículos de comunicação" com a

África, de acordo com Pablo Gómez, Maya e outras intelectuais dedicadas ao estudo de

julgamentos inquisitoriais, restringiram seus exames ao papel social desempenhado pelos

curandeiros e curandeiras africanas que foram representados como bruxas e hereges pelos

poderes coloniais. No entanto, eles não passaram a estudar quais eram suas práticas de cura.

Portanto, para entender as práticas exercidas por essas pessoas, Gómez sugere fazer uma

contextualização das práticas médicas indígenas, africanas e europeias, no quadro mais amplo

do mundo atlântico. Finalmente, Gómez problematiza que, para provar os vínculos entre as

práticas africanas e aquelas da diáspora na Colômbia, Maya utiliza obras etnográficas dos

séculos XIX e XX, e não as fontes primárias africanas do século XVII e pouquíssima

historiografia sobre as regiões de onde foram deportados os africanos para a Colômbia. Nesse

sentido, a pesquisa de Maya sofre daquela falência mais convincente sobre a perspectiva de

46

FRIEDEMANN Nina S. Palenques: Refugios Cimarrones de Africanía en América, In: LAVIÑA, Javier de.

Esclavitud y rebeldía en América. Esclavos rebeldes y cimarrones. Madrid: Fundación Hernando de Larramendi,

S.F. Friedemann, Nina S. de. Ma ngombe: guerreros y ganaderos en Palenque, Bogotá: C. Valencia Editores,

1987. 47

MAYA RESTREPO, Adriana. Brujería y reconstrucción de identidades entre los Africanos y sus

descendientes en la Nueva Granada, Siglo XVII, Bogotá: Ministerio de Cultura, 2005, p. 1. 48

MAYA RESTREPO, Adriana. Brujería y reconstrucción de identidades entre los Africanos y sus

descendientes en la Nueva Granada, Siglo XVII, Bogotá: Ministerio de Cultura, 2005, p. 2.

Page 13: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

669

Herskovits, a de pensar as culturas africanas como entidades estáticas que poderiam ser

comparadas sem uma precisão temporal.49

No caso da Colômbia, outros três autores contemporâneos estudam as resistências

africanas: Maria Cristina Navarrete, Jane Landers e Anthony Mcfarlane. Navarrete dedicou

sua carreira ao estudo sistemático de palenques forjados no Caribe colombiano entre os

séculos XVI e XVII. Embora no início suas investigações fossem dedicadas às estratégias de

perseguição dos fugitivos e quilombolas pelo estado colonial; atualmente suas pesquisas

apresentam análises sociais e culturais dos palenques, detalhando a organização política e as

crenças religiosas, a partir das evidências etnográficas que é possível encontrar nas fontes, e

que ligariam essas práticas com aquelas existentes nas regiões de proveniência dos

escravizados na África.50

Essa mesma ênfase pode ser encontrada nos escritos recentes de

Jane Landers; autora que começou sua carreira estudando a sociedade forjada por africanos e

afrodescendentes na Flórida durante o período do imperialismo espanhol e que mais

recentemente se aventurou nos estudos dos palenques caribenhos colombianos.51

O trabalho

de Anthony McFarlane abordou os estudos de palenques na Colômbia no século XVIII,

49

GÓMEZ ZULUAGA, Pablo Fernando. Bodies of encounter: health, illness and death in the early modern

African-Spanish Caribbean. Vanderbilt University, tesis sem publicar, 2010, p. 11. Outros autores que

recentemente se aventuraram em estudos sobre a resistência de africanos e afrodescendentes em Nova Granada

são OVIEDO, María Fernanda Cuevas. Reniego y resistencia de los esclavizados y sus descendientes en la

Nueva Granada, durante el siglo XVII, Tesis Doctoral sin publicar. Bogotá: Universidad de los Andes, 2002.

Sobre la familia, huida y la cultura como resistencia, MENESES PIÑEROS, José Francisco. De Domingo Biohó

a Domingo Criollo: prácticas de libertad, prácticas libertarias y ejercicio del poder en los cimarrones y palenques

de la sierra de María durante el siglo XVII. Tesis de Licenciatura en Historia, Sin publicar, Bogotá: Universidad

Javeriana, 2010. Un bablance historiográfico sobre los estudios de palenques neogranadinos en CASTAÑO,

Alen. Palenques y Cimarronaje: procesos de resistencia al sistema colonial esclavista en el Caribe Sabanero

(Siglos XVI, XVII y XVIII), Revista CS, n. 16, p. 61-86, 2015. 50

NAVARRETE, María Cristina. Nuevos aspectos en la historia de los palenques y los cimarrones del Caribe

neogranadino, siglos xvi y xvii, In SERNA Juan Manuel de la (dir.) De la Libertad y la Abolición. Africanos y

Afrodescendientes in Iberoamérica, México: Centro de estudios mexicanos y centroamericanos, 2010.

NAVARRETE, María Cristina. "Por haber todos concebido ser general la libertad para los de su color"

construyendo el pasado del palenque de Matudere. Historia Caribe, n. 13, p. 7-44, 2008. NAVARRETE, María

Cristina. Cimarrones y Palenques en el Siglo XVII, Cali: Universidad del Valle, 2003. NAVARRETE, María

Cristina. Génesis y desarrollo de la esclavitud en Colombia siglos XVI y XVII, Cali: Universidad del Valle,

2005. NAVARRETE, María Cristina. Prácticas religiosas de los negros en la colonia: Cartagena, siglo XVII,

Cali: Universidad del Valle, 1995. NAVARRETE, María Cristina. San Basilio de Palenque, Memoria y

Tradición: Surgimiento y Avatares de Las Gestas Cimarronas en el Caribe Colombiano, Cali: Universidad del

Valle, 2008. NAVARRETE, María Cristina. De reyes, reinas y capitanes: los dirigentes de los palenques de las

sierras de María, siglos XVI y XVII. Bogotá: Fronteras de la Historia, v. 20, n. 2, 2015. 51

LANDERS, Jane. Black Society in Spanish Florida, University of Illinois Press, 1999. LANDERS, Jane.

Founding Mothers: Female Rebels in Colonial New Granada and Spanish Florida. Journal of African American

History, v. 98, n. 1, p. 7-23, 2013. LANDERS, Jane. The African landscape of Seventeenth century Cartagena

and its hinterland. In: CANIZARES-ESGUERRA, Jorge; CHILDS, Matt D.; SIDBURY James. The Black

Urban Atlantic in the Age of the Slave Trade, University of Pennsylvania Press, 2013, p. 148-162. LANDERS,

Jane. Conspiradores esclavizados en Cartagena en el siglo XVII, In: MOSQUERA, Claudia; PARDO, Mauricio;

HOFFMANN, Odile. Afrodescendientes en las Américas. Trayectorias sociales e identitarias a 150 años de la

abolición de la esclavitud en Colombia. Bogotá: UN-ICANH-IRD-ILSA, 2002, p. 181-194.

Page 14: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

670

começando com a pesquisa documental de um período pouco explorado ainda.52

Finalmente,

uma visão da história de um membro de um palenque colombiano pode ser encontrada no

trabalho de Alfonso Cassiani Herrera.53

No caso do Brasil, podemos falar de uma profusão de obras contemporâneas sobre as

resistências dos escravizados a partir da década de 1990; entre eles, vários são incluídos no

livro Liberdade por um fio, como Stuart Schwartz, Mary Karash, Marcus de Carvalho ou

Carlos Magno Guimarães. Também estão Marisa de Carvalho Soares, que estuda as

particularidades das práticas religiosas da diáspora; Roquinaldo Ferreira, que tem concentrado

seus estudos na diáspora da África Central e a história da resistência desenvolvida na região

central do continente africano,54

e mais recentemente Alexandre Marcussi, que estudou as

práticas de cura dos escravos de Minas Gerais no século XVIII e sua relação com as práticas

de cura existentes na África Central no mesmo período. É de realçar o fato de o autor utilizar

fontes primárias tanto da África como da América.55

Também estão as pesquisas de Silvia Hunold Lara, que estudou a documentação da

repressão sofrida pelo quilombo dos Palmares, a criação da figura do castigador: capitão-do-

mato56

e, mais recentemente, aprofundou as características étnicas, sociais e culturais, bem

como o caráter político das negociações realizadas por Palmares.57

Dois outros proeminentes

autores no estudo dos quilombos e das resistências lideradas pelos africanos e seus

descendentes no Brasil são, exatamente, Flavio Gomes e João José Reis.58

Flavio Gomes

estudou a documentação referente aos quilombos do Rio de Janeiro, sobretudo daqueles

localizados perto das fazendas açucareiras, demonstrando que esses quilombos não estavam

52

MCFARLANE, Anthony. Cimarrones y Palenques en Colombia: Siglo XVIII, Historia y Espacio, n. 14 Cali,

junio 1991. Mientras tanto, María Teresa Arcila y María Teresa Gómez que han incursionado en los estudios de

los palenques del siglo XVIII en la región antioqueña de Colombia ARCILA, María Teresa; GÓMEZ, Lucella.

Libres, cimarrones y arrochelados en la frontera entre Antioquia y Cartagena: Siglo XVIII, Bogotá: Siglo del

Hombre Editores, 2009. 53

CASSIANI HERRERA, Alfonso. Palenque Magno: resistencias y luchas libertarias del Palenque de la Matuna

a San Basilio Magno 1599-1714, Cartagena: Icultur, 2014. 54

FERREIRA, Roquinaldo. Slaving and Resistance to Slaving in West Central Africa. In: ELTIS David;

BRADLEY Keith; ENGERMAN Stanley L.; CARTLEDGE Paul (Org.) Cambridge: The Cambridge World

History of Slavery: Volume 3, AD 1420-AD 1804. Cambridge University Press, 2011, p. 111-131. 55

SOARES, Mariza de Carvalho. O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro, no século XVIII. Rio

de Janeiro: Topoi, v. 3, n. 4, p. 59-84, 2002. MARCUSSI, Alexandre Almeida. Cativeiro e cura: experiências

religiosas da escravidão atlântica nos calundus de Luzia Pinta, séculos XVII-XVIII. Tesis Doctoral.

Universidade de São Paulo, (Sem publicar), 2015. 56

LARA, Silvia Hunold. Do singular ao plural, Palmares, capitães-do-mato e o governo dos escravos. In REIS

João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.81-109 57

LARA, Silvia Hunold. Palmares and Cucaú: Political Dimensions of a Maroon Community in Late

Seventeenth-Century Brazil. En conference ‘American Counterpoint: New Approaches to Slavery and Aboliton

in Brazil, 12th Annual Gilder Lehrman Center, Yale University, New Haven, CT., 2010. 58

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. P.

12.

Page 15: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

671

isolados, e, ao contrário, mantiveram relações e negociações constantes com a estrutura social

que os cercava, incluindo as fazendas escravocratas.59

Por outro lado, João José Reis tem uma

extensa obra sobre as resistências individuais e coletivas realizadas pelos africanos no Estado

da Bahia. Também estudou as expressões culturais que foram forjadas nos cantos de trabalho

urbanos organizados etnicamente pelos africanos na cidade de Salvador, de acordo com os

serviços específicos que cada etnia africana dominava.60

Também estudou quilombos rurais

como o Oitizeiro composto de quilombolas e coiteros livres e escravizados, que forjaram

"relações de produção complexas que transformariam o lugar em um celeiro próspero de

mandioca, transformadas em farinha e vendidas no mercado regional."61

Reis também estudou

as grandes resistências urbanas como a revolta dos Malés em 1935 na cidade de Salvador,

livro no qual aprofunda a relação dessa revolta com a jihad que ocorreu simultaneamente na

região africana do Sudão, e de onde veio uma população escravizada Haussa e Yoruba

significativa para a cidade de Salvador, justamente no período do levante dos Malés.62

Mais

recentemente, Reis dedicou-se às histórias de vida dos africanos que praticavam as religiões

de matriz africana em Salvador, como o sacerdote Domingos Sodré, líder religioso do

candomblé no século XIX;63

ou e a vida de Alufá Rufino, livro escrito juntamente com Flavio

Gomes e Marcus Carvalho.64

O aprofundamento de Reis na história africana para explicar os tipos de resistências criada nas

Américas pelos africanos e seus descendentes, bem como seus estudos das histórias de vida

individuais dos africanos na América, permite abordar três das principais tendências

contemporâneas nos estudos da diáspora africana em nosso continente.

A primeira tendência destaca a importância de uma cooperação cada vez mais

profunda entre os estudos da história africana para compreender a história da diáspora na

América. De acordo com Mann, a superação a dicotomia criolização versus africanização teve

um ponto de progresso com o projeto liderado por Paul Lovejoy, Elisée Soumonni e Robin

59

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.

19. 60

REIS, João Jose. African nations in Nineteenth-Century Salvador. In CANIZARES-ESGUERRA, Jorge;

CHILDS, Matt D.; SIDBURY James. The Black Urban Atlantic in the Age of the Slave Trade, University of

Pennsylvania Press, 2013, p. 63-84. 61

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.

20. 62

REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835. São Paulo: Companhia

das Letras, 2003. REIS, João José. Resposta a Paul Lovejoy. Topoi, Revista de História, Rio de Janeiro, vol. 16,

no 30, p. 374-389, 2015. 63

REIS João José, Domingos Sodré, um sacerdote africano: escravidão, liberdade e candomblé na Bahia do

século XIX, São Paulo, Companhia das Letras, 2008. 64

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, CARVALHO Marcus J. M. de. El alufá Rufino: tráfico,

esclavitud y libertad en el Atlántico negro (c. 1822-c. 1853), São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Page 16: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

672

Law, que em 1996, propuseram que os estudos da diáspora começassem em África e

seguissem o caminho de os escravizados para as Américas, pois eles teriam levado sua cultura

em sua história pessoal para as regiões onde chegaram.65

O projeto buscou fortalecer os

vínculos entre os estudos da história da África como os da história da diáspora, por considerar

que, ao compreender as experiências dos povos africanos e suas histórias de vida antes da

escravidão, é possível revelar como as vidas particulares dos africanos deportados

influenciaram a diáspora cultural, social e politicamente. Não é a mesma abordagem de

Herskovits que buscou sobrevivências africanas desconectadas do seu contexto histórico

temporal, e sim de colocar as influências africanas em contextos históricos específicos e

interpreta-las como parte de uma experiência histórica em constante mudança.66

Desde então,

houve um aumento nos estudos sobre as resistências dos africanos na América, os quais

buscam conectar os detalhes cada vez mais profundos da história das regiões da África de

onde foram retiradas pessoas durante o período de tráfico escravista, com suas histórias nas

Américas. A segunda tendência, revela a necessidade de colocar o surgimento do mundo

atlântico como o eixo para a formação dos fenômenos socioculturais americanos, incluindo as

resistências contra a escravidão, que foram forjadas desde o início da modernidade em ambos

os lados deste oceano. O conceito de mundo atlântico é de longa data e, no caso da diáspora,

foi influenciado por autores como Paul Gilroy e Stuart Hall, que se concentraram suas

análises na forma como as identidades negras foram formadas pela incorporação de

elementos criados no contexto atlântico e com a lembrança de como seria a vida na África.67

São, portanto, estudos que defenderam mais a tendência para a criolização do que para a

africanização.

Mais recentemente, Jorge Cañizares Esguerra junto com James Sidbury, fizeram

propostas de vanguarda que permitem refletir sobre as implicações da formação do mundo

atlântico. Para esses autores, as regiões de ambos os lados do Atlântico, especialmente os

portos, foram ambientes onde gestou-se uma etno-gênese sociocultural. Dado o movimento e

a instalação de pessoas de origem africana, americana e europeia, os intercâmbios sociais

65

LAW, Robin; LOVEJOY Paul; SOUMONNI, Elisée, ‘The Development of an African Diaspora: The Slave

Trade of the “Nigerian” Hinterland, 1650–1900’, paper presented at the UNESCO ‘Slave Route Project’

conference, Cabinda, Angola, 4–6 April 1996, pp.2–3. (p. XIV, Africa respondió más que influenció el mundo

exterior) LOVEJOY Paul E. Transformations in Slavery: A History of Slavery in Africa, Cambridge University

Press, 2011. 66

MANN, Kristin. Shifting paradigms in the study of the African diaspora and of Atlantic history and culture.

Slavery and Abolition, v. 22, n. 1, 2001, p. 5. 67

HALL, Stuart. Cultural identity and diaspora. In: RUTHERFORD Jonathan, Identity: community, culture,

difference. Lawrence & Wishart, 1990, p. 222-237. GILROY, Paul. The black Atlantic: Modernity and double

consciousness. Harvard University Press, 1993.

Page 17: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

673

deram origem a novas culturas e até etnias, em espaços poliglotas onde nasceram novas

línguas crioulas, novas formas de autoridade, resistências e religiosidades.68

De acordo com

Canizares e Sidbury, esse processo aconteceu, não só na América, mas também na África,

porque muitas pessoas capturadas foram deslocadas para outras regiões da África e nunca

cruzaram para a América; e onde quer que eles se instalaram, recriaram suas memórias

culturais nutrindo com elas os novos contextos socioculturais. Eles citam o caso dos

retornados Ioruba para a Serra Leoa durante o período da abolição; esses retornados

introduziram nessa região da África o culto dos Orixas que não existiam antes da chegada; lá,

portanto, houve uma etno-gênese, pois esse culto não reproduziu os rituais e crenças da região

da Nigéria ou do Benim, mas sofreu modificações e inovações relacionadas ao novo contexto.

Para James Sweet, embora o modelo de etno-gênese seja relevante para pensar sobre o mundo

atlântico, chama a atenção para o fato de que os autores omitem a violência que este

surgimento cultural significou para pessoas africanas e afrodescendentes que, no final, tinham

sua liberdade impedida no marco da escravidão moderna.69

Finalmente, consideramos que

uma das contribuições mais vanguardistas e de relevância é o estudo das histórias de vida

individuais daqueles africanos e afrodescendentes que enfrentaram a escravidão, através dos

quais é possível analisar um contexto histórico e sociopolítico mais amplo. Como

mencionamos acima, entre os principais autores desta tendência está João José Reis, que

aproveita todos os detalhes expressos nas fontes escritas para aproximar o contexto em torno

da pessoa africana estudada. Além disso, quando encontra evidências de que as práticas que

exercia na América podem estar relacionadas com as culturas de origem na África, Reis passa

a narrativa para esse continente, e se concentra no estudo de fontes africanas na procura de

compreender de onde veio tal prática e em que contexto sociopolítico foi expressada.

Terminamos este artigo analisando o trabalho de James Sweet, que também abraçou o

projeto de estudar histórias de vida de africanos no âmbito do mundo atlântico. Seu trabalho

recente sobre Domingos Alvares, um médico tradicional africano que é sequestrado na região

de Ouidah e embarcado no porto de El Mina para o Brasil. Domingos é primeiro escravizado

em Recife e depois no Rio de Janeiro; e mais tarde, é capturado e conduzido pelo Oficio da

68

CANIZARES-ESGUERRA, Jorge; CHILDS, Matt D.; SIDBURY James. The Black Urban Atlantic in the

Age of the Slave Trade, University of Pennsylvania Press, 2013, p. 63-84. CAÑIZARES-ESGUERRA, Jorge;

SIDBURY, James. Mapping Ethnogenesis in the Early Modern Atlantic. The William and Mary Quarterly, v.

68, n. 2, p. 181-208, 2011. Otro autor que viene incursionando en los estudios de las religiosidades atlánticas de

matriz africana y sus vínculos con la historia de África es Nicolau Parés, PARÉS, Luis Nicolau. A formação do

candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia, São Paulo: Editora Unicamp, 2006. PARÉS Luis Nicolau,

SANSI Roger, Sorcery in the Black Atlantic, University of Chicago Press, 2011. 69

SWEET, James H. The Quiet Violence of Ethnogenesis. The William and Mary Quarterly, v. 68, n. 2, p. 209-

214, 2011.

Page 18: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

674

Inquisição para Portugal. Esta é uma das obras mais interessantes para entender a formação

das culturas africanas na diáspora americana, pois Sweet mostra como as práticas medicinais

que Domingos havia aprendido em Ouidah, onde provavelmente nasceu e cresceu, foram

ensinados pelo médico no Rio de Janeiro, onde forjou vários terreiros religiosos e medicinais

Mina. Como Reis, a fim de compreender mais profundamente a vida desse sujeito africano, as

contribuições diretas que fez da sua cultura africana no Brasil, bem como as estratégias que

ele usou para combater a escravidão; Sweet aproveita as descrições das práticas rituais que

encontra nos julgamentos inquisitoriais contra Domingos e atravessa o Atlântico oferecendo

informações historiográficas pontoais sobre as culturas em torno de Ouidah e sobre o contexto

sociopolítico do tráfico nessa região.70

Bibliografia

HERSKOVITS, Melville J. The Myth of the Negro Past, Boston MA: Beacon Press, 1990

[1941].

HALL, Stuart. Cultural identity and diaspora. In: RUTHERFORD Jonathan, Identity:

community, culture, difference. Lawrence & Wishart, 1990, p. 222-237.

GILROY, Paul. The black Atlantic: Modernity and double consciousness. Harvard University

Press, 1993.

MINTZ, Sidney Wilfred; PRICE, Richard. The birth of African-American culture: An

anthropological perspective. Beacon Press, 1976.

FERREIRA, Roquinaldo. Slaving and Resistance to Slaving in West Central Africa. In:

ELTIS David; BRADLEY Keith; ENGERMAN Stanley L.; CARTLEDGE Paul (Org.)

Cambridge: The Cambridge World History of Slavery: Volume 3, AD 1420-AD 1804.

Cambridge University Press, 2011, p. 111-131.

CURTO, José C. Struggling Against Enslavement: The Case of José Manuel in Benguela,

1816-20. Canadian Journal of African Studies/La Revue canadienne des études africaines, v.

39, n. 1, p. 96-122, 2005.

YOUNG, Jason R. Rituals of Resistance: African Atlantic Religion in Kongo and the

Lowcountry South in the Era of Slavery, Baton Rouge: Louisiana State University Press,

2007.

MAYA RESTREPO, Adriana. Brujería y reconstrucción de identidades entre los Africanos y

sus

descendientes en la Nueva Granada, Siglo XVII, Bogotá: Ministerio de Cultura, 2005.

SWEET, James H. Resenha do livro: HEYWOOD Linda M. e THORNTON John K. Central

Africans, Atlantic Creoles, and the Foundation of the Americas, 1585-1660, NWIG: New

West Indian Guide, v. 83, n. ½, p. 124-127, 2009.

70

SWEET, James H. Mistaken identities? Olaudah Equiano, Domingos Alvares, and the methodological

challenges of studying the African diaspora. The American Historical Review, v. 114, n. 2, p. 279-306, 2009.

SWEET James H. Domingos Álvares, African Healing, and the Intellectual History of the Atlantic World,

University of North Carolina Press, 2011. Otros dos autores que ha incursionado en la tendencia de las biografías

atlánticas de africanos son José Curto y Martin Lienhard, ver CURTO, José C. Struggling Against Enslavement:

The Case of José Manuel in Benguela, 1816-20. Canadian Journal of African Studies/La Revue canadienne des

études africaines, v. 39, n. 1, p. 96-122, 2005. LIENHARD, Martin. Disidentes, rebeldes, insurgentes: resistencia

indígena y negra en América Latina: ensayos de historia testimonial, Madrid: Iberoamericana Editorial, 2008.

Page 19: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

675

CAÑIZARES-ESGUERRA, Jorge; SIDBURY, James. Mapping Ethnogenesis in the Early

Modern Atlantic. The William and Mary Quarterly, v. 68, n. 2, p. 181-208, 2011.

MANN, Kristin. Shifting paradigms in the study of the African diaspora and of Atlantic

history and culture. Slavery and Abolition, v. 22, n. 1, p. 1-2. 2001.

STUCKEY, Sterling. Slave Culture: Nationalist Theory and the Foundations of Black

America, Oxford University Press, 2013.

LANDERS, Jane. Founding Mothers: Female Rebels in Colonial New Granada and Spanish

Florida. Journal of African American History, v. 98, n. 1, p. 7-23, 2013.

NAVARRETE, María Cristina. Nuevos aspectos en la historia de los palenques y los

cimarrones del Caribe neogranadino, siglos xvi y xvii, In SERNA Juan Manuel de la (dir.) De

la Libertad y la Abolición. Africanos y Afrodescendientes in Iberoamérica, México: Centro de

estudios mexicanos y centroamericanos, 2010.

SWEET, James H. Mistaken identities? Olaudah Equiano, Domingos Alvares, and the

methodological challenges of studying the African diaspora. The American Historical

Review, v. 114, n. 2, p. 279-306, 2009.

PARÉS Luis Nicolau, SANSI Roger, Sorcery in the Black Atlantic, University of Chicago

Press, 2011.

SWEET, James H. The Quiet Violence of Ethnogenesis. The William and Mary Quarterly, v.

68, n. 2, p. 209-214, 2011.

REIS, João José. Resposta a Paul Lovejoy. Topoi, Revista de História, Rio de Janeiro, vol. 16,

no 30, p. 374-389, 2015.

RESTREPO, Eduardo. Entre Arácnidas Deidades y Leones Africanos: contribución al debate

de un enfoque afroamericanista en Colombia. Revista Tabula Rasa, n 1, 2003.

MARCUSSI, Alexandre Almeida. Cativeiro e cura: experiências religiosas da escravidão

atlântica nos calundus de Luzia Pinta, séculos XVII-XVIII. Tesis Doctoral. Universidade de

São Paulo, (Sem publicar), 2015.

LARA, Silvia Hunold. Palmares and Cucaú: Political Dimensions of a Maroon Community in

Late Seventeenth-Century Brazil. En conference ‘American Counterpoint: New Approaches

to Slavery and Aboliton in Brazil, 12th Annual Gilder Lehrman Center, Yale University, New

Haven, CT., 2010.

NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista.

Vozes, 1980.

MCFARLANE, Anthony. Cimarrones y Palenques en Colombia: Siglo XVIII, Historia y

Espacio, n. 14 Cali, junio 1991.

NAVARRETE, MARÍA CRISTINA. "Por haber todos concebido ser general la libertad para

los de su color" construyendo el pasado del palenque de Matudere. Historia Caribe, n. 13, p.

7-44, 2008.

REIS, João Jose. African nations in Nineteenth-Century Salvador. In CANIZARES-

ESGUERRA, Jorge; CHILDS, Matt D.; SIDBURY James. The Black Urban Atlantic in the

Age of the Slave Trade, University of Pennsylvania Press, 2013, p. 63-84.

LANDERS, Jane. The African landscape of Seventeenth century Cartagena and its hinterland.

In: CANIZARES-ESGUERRA, Jorge; CHILDS, Matt D.; SIDBURY James. The Black

Urban Atlantic in the Age of the Slave Trade, University of Pennsylvania Press, 2013, p. 148-

162.

LANDERS, Jane. Conspiradores esclavizados en Cartagena en el siglo XVII, In:

MOSQUERA, Claudia; PARDO, Mauricio; HOFFMANN, Odile. Afrodescendientes en las

Américas. Trayectorias sociales e identitarias a 150 años de la abolición de la esclavitud en

Colombia. Bogotá: UN-ICANH-IRD-ILSA, 2002, p. 181-194.

CHILCOTE, Ronald H. Protest and Resistance in Angola and Brazil: Comparative Studies,

University of California Press, 1972.

Page 20: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

676

LOVEJOY Paul E. Transformations in Slavery: A History of Slavery in Africa, Cambridge

University Press, 2011.

REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835. São

Paulo: Companhia das Letras, 2003.

WARNER LEWIS, Maureen. Central Africa in the Caribbean: Transcending Time,

Transforming Cultures, University of West Indies Press, 2003.

FALS BORDA, Orlando. Mompox y Loba, Historia doble de la costa, tomo 1, Bogotá: El

Ancora editora, 2002 [1979].

ROUT Leslie B. The African Experience in Spanish America: 1502 to the present day,

Cambridge, CUP Archive, 1976.

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia

das Letras, 1996.

LIENHARD, Martin. Disidentes, rebeldes, insurgentes: resistencia indígena y negra en

América Latina: ensayos de historia testimonial, Madrid: Iberoamericana Editorial, 2008

ARRÁZOLA Roberto, Palenque, primer pueblo libre de América, Bogotá: Ediciones

Hernández, 1970.

OLANIYAN, Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana

University Press, 2010.

BUTLER Kim D. Clio and the Griot: The African Diaspora in the Discipline of History, In:

OLANIYAN, Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana

University Press, 2010, p. 21-52.

VELÁSQUEZ, Rogerio. Fragmentos de historia, etnografía y narraciones del Pacífico

colombiano negro, Bogotá: Instituto Colombiano de Antropología e Historia, 2000.

ARCILA, María Teresa; GÓMEZ, Lucella. Libres, cimarrones y arrochelados en la frontera

entre Antioquia y Cartagena: Siglo XVIII, Bogotá: Siglo del Hombre Editores, 2009.

BORREGO PLÁ, María del Carmen. Palenques de negros en Cartagena de Indias a fines del

siglo XVII. Sevilla: Escuela de Estudios Hispano-Americanos, 1973.

NAVARRETE, María Cristina. Cimarrones y Palenques en el Siglo XVII, Cali: Universidad

del Valle, 2003.

NAVARRETE, María Cristina. Génesis y desarrollo de la esclavitud en Colombia siglos XVI

y XVII, Cali: Universidad del Valle, 2005.

NAVARRETE, María Cristina. Prácticas religiosas de los negros en la colonia: Cartagena,

siglo XVII, Cali: Universidad del Valle, 1995.

NAVARRETE, María Cristina. San Basilio de Palenque, Memoria y Tradición: Surgimiento

y Avatares de Las Gestas Cimarronas en el Caribe Colombiano, Cali: Universidad del Valle,

2008.

NAVARRETE, María Cristina. De reyes, reinas y capitanes: los dirigentes de los palenques

de las sierras de María, siglos XVI y XVII. Bogotá: Fronteras de la Historia, v. 20, n. 2, 2015.

LANDERS, Jane. Black Society in Spanish Florida, University of Illinois Press, 1999.

OVIEDO, María Fernanda Cuevas. Reniego y resistencia de los esclavizados y sus

descendientes en la Nueva Granada, durante el siglo XVII, Tesis Doctoral sin publicar.

Bogotá: Universidad de los Andes, 2002.

FRIEDEMANN Nina S. Palenques: Refugios Cimarrones de Africanía en América, In:

LAVIÑA, Javier de. Esclavitud y rebeldía en América. Esclavos rebeldes y cimarrones.

Madrid: Fundación Hernando de Larramendi, S.F.

MENESES PIÑEROS, José Francisco. De Domingo Biohó a Domingo Criollo: prácticas de

libertad, prácticas libertarias y ejercicio del poder en los cimarrones y palenques de la sierra

de María durante el siglo XVII. Tesis de Licenciatura en Historia, Sin publicar, Bogotá:

Universidad Javeriana, 2010.

Page 21: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

677

CASTAÑO, Alen. Palenques y Cimarronaje: procesos de resistencia al sistema colonial

esclavista en el Caribe Sabanero (Siglos XVI, XVII y XVIII), Revista CS, n. 16, p. 61-86,

2015.

DE GRANDA, Germán, Algunas observaciones morfológicas y etimológicas sobre

vocabulario de origen bantú en el habla criolla de San Basilio de Palenque, Bolívar,

Colombia. En Revista de dialectología y tradiciones populares, 29, p. 435-441, 1973.

DE GRANDA, Germán. Estudios sobre un área dialectal hispanoamericana de población

negra: las tierras bajas occidentales de Colombia. Instituto Caro y Cuervo, 1977.

FRIEDEMANN, Nina S.; PATIÑO ROSELLI, Carlos. Lengua y sociedad en el Palenque de

San Basilio. Bogotá: Instituto Caro y Cuervo, 1983.

SCHWEGLER, Armin. "Chi ma nkongo": lengua y rito ancestrales en El Palenque de San

Basilio, Frankfurt: Vervuert, 1996.

SCHWEGLER, Armin. 18 Bantu elements in Palenque (Colombia). In African Re-Genesis:

Confronting Social Issues in the Diaspora, p. 204, 2006.

FRIEDEMANN, Nina S. de. Ma ngombe: guerreros y ganaderos en Palenque, Bogotá: C.

Valencia Editores, 1987.

CASSIANI HERRERA, Alfonso. Palenque Magno: resistencias y luchas libertarias del

Palenque de la Matuna a San Basilio Magno 1599-1714, Cartagena: Icultur, 2014.

SWEET James H. Domingos Álvares, African Healing, and the Intellectual History of the

Atlantic World, University of North Carolina Press, 2011.

REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, CARVALHO Marcus J. M. de. El alufá Rufino:

tráfico, esclavitud y libertad en el Atlántico negro (c. 1822-c. 1853), São Paulo: Companhia

das Letras, 2010.

SOARES, Mariza de Carvalho. O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro, no

século XVIII. Rio de Janeiro: Topoi, v. 3, n. 4, p. 59-84, 2002.

INIKORI, Joseph E.; HARRIS, Joseph E.; JALLOH, Alusine; PALMER, Colin A.;

CHAMBERS, Douglas; GRADEN, Dale T. The African Diaspora, Arlington: University of

Texas, 1996.

BOYCE DAVIES, Carole. Encyclopedia of the African Diaspora: Origins, Experiences, and

Culture, 3 volumes, California: ABC-CLIO, 2008.

HOLLOWAY, Joseph E. Africanisms in American Culture, Indiana University Press, 1990.

AGUIRRE BELTRAN, Gonzalo. La población negra de México, 1519-1810. Estudio etno-

histórico, México: Ediciones Fuente cultural, 1946.

PRINCE-MARS, Jean. Ansi parla l’oncle Port-au-Prince e Paris: Imprimerie de Compiègne,

1928.

DUBOIS, W. E. B. The study of the Negro problems. The Annals of the American Academy

of Political and Social Science, v. 11, n. 1, p. 1-23, 1898.

DUBOIS, W. E. B. The Souls of Black Folk, Modern Library, 1903.

WOODSON, Carter Godwin. The Negro in our history. Associated Publishers, 1922.

WOODSON, Carter G.; WESLEY, Charles H. The story of the Negro retold. Wildside Press

LLC, 2008 [1935].

BASTIDE, Roger. Les religions africaines au Brésil: vers une sociologie des interpénétrations

de civilisations. Presses universitaires de France, 1960.

BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia (rito Nagô). Brasiliana, 1961.

MINTZ, Sidney Wilfred; PRICE, Richard. The birth of African-American culture: An

anthropological perspective. Beacon Press, 1976.

ESCALANTE, Aquiles. Notas sobre Palenque de San Basilio, In: Divulgaciones etnológicas,

IV, Barranquilla: Universidad del Atlántico, 1954.

ESCALANTE, Aquiles, El negro en Colombia, Tesis de sociología, Bogotá: Universidad

Nacional de Colombia, 1964.

Page 22: Balanço historiográfico sobre as insurgências de …...O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS

678

ESCALANTE, Aquiles. Minería del hambre. Condoto y la Chocó Pacifico, Barranquilla:

Tipografia Dovel, 1971.

WADE, Peter. Blackness and race mixture: the dynamics of racial identity in Colombia, JHU

Press, 1995.

GASPAR, David Barry. The Antigua slave conspiracy of 1736: a case study of the origins of

collective resistance. The William and Mary Quarterly: A Magazine of Early American

History, 1978, p. 308-323.

SHERIDAN, Richard B. The Jamaican slave insurrection scare of 1776 and the American

Revolution. The Journal of Negro History, 1976, vol. 61, no 3, p. 290-308.

GASPAR, David Barry. Runaways in Seventeenth-Century Antigua, West Indies. Boletín de

estudios latinoamericanos y del Caribe, 1979, no 26, p. 3-13.

HANDLER, Jerome S. Slave revolts and conspiracies in seventeenth-century Barbados.

Nieuwe West-Indische Gids/New West Indian Guide, 1982, vol. 56, no 1/2, p. 5-42.

KOPYTOFF, Barbara. The development of Jamaican maroon ethnicity. Caribbean Quarterly,

1976, vol. 22, no 2-3, p. 33-50.

SCHULER, Monica. Ethnic slave rebellions in the Caribbean and the Guianas. Journal of

Social History, 1970, p. 374-385.

GÓMEZ ZULUAGA, Pablo Fernando. Bodies of encounter: health, illness and death in the

early modern African-Spanish Caribbean. Vanderbilt University, tesis sem publicar, 2010.

THORNTON, John. A África e os africanos: na formaçāo do mundo Atlântico, ,1400-1800,

Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2004 [1998].

HEYWOOD, Linda M.; THORNTON, John K. Central Africans, Atlantic creoles, and the

foundation of the Americas, 1585-1660. Cambridge University Press, 2007.

CREEL, Margaret. ‘A Peculiar People’: Slave Religion and Community-Culture among the

Gullahs, New York: New York University Press, 1988, pp.308–22.

LAW, Robin; LOVEJOY Paul; SOUMONNI, Elisée, ‘The Development of an African

Diaspora: The Slave Trade of the “Nigerian” Hinterland, 1650–1900’, paper presented at the

UNESCO ‘Slave Route Project’ conference, Cabinda, Angola, 4–6 April 1996, pp.2–3.

FRANKLIN, John Hope. George Washington Williams: A Biography. Duke University Press,

1998.

WILLIAMS, George Washington. History of the Negro Race in America from 1619 to 1880:

Negroes as Slaves, as Soldiers, and as Citizens; Together with a Preliminary Consideration of

the Unity of the Human Family, an Historical Sketch of Africa, and an Account of the Negro

Governments of Sierra Leone and Liberia. GP Putnam's Sons, 1882.