bahá'u'lláh e a nova era

323

Upload: mauricio-neubson-medeiros-goncalves

Post on 21-Jul-2015

99 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

BAHULLHEA

NOVA ERA

UMA INTRODUO F BAH

BAHULLHEA

NOVA ERACONSTRUINDO UMA CIVILIZAO PACFICA E GLOBAL,UM DESAFIO HUMANIDADE

J. E. Esslemont

Ttulo original em ingls: Bahullh and the New Era 1984 EDITORA BAH DO BRASIL Caixa Postal 1085 13800-973 Mogi Mirim SP www.editorabahaibrasil.com.br ISBN: 978-85-320-0170-2 1 edio: 1928 2 edio: 1939 3 edio: 1946 4 edio: 1952 5 edio: 1962 6 edio: 1975 7 edio: 1984 8 edio: 1996 9 edio: 2001 10 edio: 2007 Traduo: Hyram Faria Ribeiro e Leonora S. Armstrong Reviso: Coordenao Nacional Bah de Traduo e Reviso do Brasil Capa: Gustavo Pallone de Figueiredo Impresso: Prisma Printer Grfica e Editora Ltda., Campinas SP

SUMRIOIntroduo ix 1 AS BOAS NOVAS 1 O Maior Acontecimento da Histria 1; O Mundo em Transformao 3; O Sol da Retido 4; A Misso de Bahullh 5; Cumprimento das Profecias 6; Provas de Autenticidade 8; Dificuldades na Investigao 10; O Propsito do Livro 11. 2 O BB: O PRECURSOR 12 O Bero da Nova Revelao 12; Infncia e Juventude 14; Declarao 15; A Disseminao do Movimento Bb 15; Outras Declaraes do Bb 16; Aumentam as Perseguies 17; Martrio do Bb 18; Tmulo no Monte Carmelo 19; Escritos do Bb 20; Aquele que Deus Tornar Manifesto 21; Ressurreio, Paraso e Inferno 22; Ensinamentos Sociais e ticos 22; Paixo e Triunfo 23. 3 BAHULLH: A GLRIA DE DEUS 25 Nascimento e Infncia 25; Preso por Ser Bb 26; Exlio em Bagd 28; Dois Anos no Deserto 29; Oposio dos Mulls 30; Declarao em Ridvn, Proximidades de Bagd 32; Constantinopla e Adrianpolis 32; Cartas aos Reis 33; Priso em Akk 35; Restries Abrandadas 36; Abrem-se os Portes da Priso 37; Sua Vida em Bahj 40; Ascenso 43; Bahullh como Profeta 43; Sua Misso 49; Seus Escritos 51; O Esprito Bah 52. 4 ABDUL-BAH: O SERVO DE BAH 54 Nascimento e Infncia 54; Mocidade 55; Casamento 57;

Centro do Convnio 58; Renova-se a Priso Rigorosa 59; Comisses Turcas de Investigao 62; Viagens ao Ocidente 63; Regresso Terra Santa 65; Haifa Durante a Guerra 67; Sir Abdul-Bah Abbs, K.B.E. 68; ltimos Anos 68; O Falecimento de Abdul-Bah 69; Escritos e Discursos 71; Posio de Abdul-Bah 72; Exemplo de Vida Bah 74. 5 QUE UM BAH? 76 A Vida Bah 76; Devoo a Deus 77; Busca da Verdade 78; Amar a Deus 80; Desprendimento 82; Obedincia 84; Servio 85; A Disseminao dos Ensinamentos 86; Cortesia e Reverncia 87; Olhos que No Vem o Pecado 89; Humildade 90; Veracidade e Honestidade 92; Auto-Realizao 93. 6 ORAO 95 Conversao com Deus 95; A Atitude Devocional 96; A Necessidade de um Mediador 98; A Orao Indispensvel e Obrigatria 99; A Orao Congregacional 101; Orao, a Linguagem do Amor 102; A Salvao das Calamidades 103; A Orao e a Lei Natural 105; Oraes Bahs 106. 7 SADE E CURA 109 O Corpo e a Alma 109; A Unidade de Toda a Vida 109; A Vida Simples 110; lcool e Narcticos 111; Divertimentos 111; O Asseio 112; Efeitos da Obedincia aos Mandamentos Profticos 112; O Profeta como Mdico 114; A Cura por Meios Materiais 114; A Cura por Meios No-Materiais 116; O Poder do Esprito Santo 117; Atitude do Paciente 118; Aquele que Cura 120; Como Todos Podem Ajudar 122; A Idade urea 123; Como Usar a Sade 124. 8 A UNIDADE RELIGIOSA 125 O Sectarismo no Sculo Dezenove 125; A Mensagem de Bahullh 127; Pode-se Transformar a Natureza Humana? 127; Primeiros Passos para a Unidade 129; O Problema da Autoridade

130; A Revelao Progressiva 132; Infalibilidade dos Profetas 134; O Manifestante Supremo 135; Uma Nova Situao 137; A Plenitude da Revelao Bah 138; O Convnio Bah 139; Nenhum Clero Profissional 141. 9 A VERDADEIRA CIVILIZAO 143 Religio A Base da Civilizao 143; Justia 144; Governo 146; Liberdade Poltica 149; Governantes e Sditos 150; Nomeao e Promoo 151; Os Problemas Econmicos 152; Finanas Pblicas 153; Partilha Voluntria 154; Trabalho para Todos 154; A tica da Riqueza 155; Nenhuma Escravido Industrial 156; Legados e Heranas 158; Igualdade entre Homens e Mulheres 159; As Mulheres e a Nova Era 161; A Rejeio dos Mtodos Violentos 162; Educao 163; As Diferenas Inatas de Natureza 164; Aperfeioamento do Carter 165; Artes, Cincias e Ofcios 166; Tratamento aos Criminosos 166; Influncia da Imprensa 168. 10 O CAMINHO DA PAZ 169 Conflito versus Concrdia 169; A Paz Suprema 170; Preconceito Religioso 171; Preconceitos de Raa e de Ptria 173; Ambies Territoriais 175; Idioma Universal 176; Liga Universal das Naes 179; O Arbitramento Internacional 181; Limitao de Armamentos 183; A No-Resistncia 183; A Guerra Justificvel 185; Unidade do Oriente e Ocidente 187. 11 VRIAS LEIS E ENSINAMENTOS 189 A Vida Monacal 189; Casamento 190; Divrcio 192; O Calendrio Bah 192; Assemblias Espirituais 194; As Festas Bahs, Aniversrios e Dias de Jejum 196; Festas 197; Jejum 198; Reunies 199; A Festa de Dezenove Dias 201; Mashriqul-Adhkr 201; A Vida aps a Morte 203; Cu e Inferno 205; A Unidade dos Dois Mundos 207; A Inexistncia do Mal 210.

12 A RELIGIO E A CINCIA 213 Conflito Devido ao Erro 213; Perseguio aos Profetas 214; A Aurora da Reconciliao 216; Busca da Verdade 217; O Verdadeiro Agnosticismo 218; O Conhecimento de Deus 219; As Manifestaes Divinas 220; A Criao 221; A Evoluo do Homem 223; Corpo e Alma 225; A Unidade do Gnero Humano 226; A Era da Unidade 227. 13 PROFECIAS CUMPRIDAS PELA F BAH 229 Interpretao da Profecia 229; A Vinda do Senhor 230; Profecias Referentes a Cristo 231; Profecias sobre o Bb e Bahullh 232; A Glria de Deus 234; O Ramo 235; O Dia de Deus 237; O Dia do Juzo 237; A Grande Ressurreio 238; A Volta de Cristo 241; O Tempo do Fim 243; Sinais no Cu e na Terra 245; A Maneira de Sua Vinda 248. 14 PROFECIAS DE BAHULLH E ABDUL-BAH 252 O Poder Criador da Palavra de Deus 252; Napoleo III 255; Alemanha 256; Prsia 257; Turquia 258; Amrica 260; A Grande Guerra 262; Distrbios Sociais do Ps-Guerra 263; A Vinda do Reino de Deus 267; Akk e Haifa 269. 15 RETROSPECTO E PERSPECTIVA 271 O Progresso da Causa 271; O Bb e Bahullh como Profetas 273; Uma Perspectiva Gloriosa 274; A Renovao da Religio 275; Necessidade de uma Nova Revelao 276; A Verdade para Todos 276; A ltima Vontade e Testamento de Abdul-Bah 277; O Guardio da Causa de Deus 280; As Mos da Causa de Deus 282; A Ordem Administrativa 283; A Ordem Mundial de Bahullh 292. Eplogo Bibliografia 301 305

INTRODUOConheci os ensinamentos bahs pela primeira vez em dezembro de 1914, conversando com amigos que haviam se encontrado com Abdul-Bah e que me emprestaram alguns folhetos. Logo fui atrado por seu alcance, beleza e poder. Tive a impresso de que preenchiam as grandes necessidades do mundo moderno mais plena e satisfatoriamente de que qualquer outro ensinamento religioso que eu j havia encontrado impresso esta que estudos subseqentes vieram a aprofundar e confirmar. Ao buscar conhecimentos mais completos sobre o Movimento, encontrei considervel dificuldade em obter a literatura que desejava, e cedo concebi a idia de colocar num livro a essncia daquilo que eu havia aprendido, a fim de facilitar seu acesso a outras pessoas. Quando a comunicao com a Palestina foi reaberta aps a guerra, escrevi a Abdul-Bah e anexei uma cpia dos nove primeiros captulos do livro, cujo esboo estava ento quase terminado. Recebi uma resposta muito gentil e animadora, e um convite cordial para visit-Lo em Haifa e comigo levar o manuscrito inteiro. O convite foi por mim aceito com prazer, e no inverno de 1919-1920 tive o grande privilgio de passar dois meses e meio como hspede de Abdul-Bah. Em diversas ocasies durante esta visita, Abdul-Bah conversou comigo sobre o livro, dando vrias sugestes valiosas para aperfeio-lo, e props que assim que eu tivesse revisado o manuscrito, este seria inteiramente traduzido para o persa a fim de que Ele pudesse ler na ntegra e alterar ou corrigir onde fosse necessrio. A reviso e traduo foram feitas como sugerido, e AbdulBah encontrou tempo em meio a Seus inmeros afazeres para corrigir cerca de trs captulos e meio (Captulos 1, 2, 5, e parte do 3) antes

x

INTRODUO

de Seu falecimento. motivo de grande pesar para mim que AbdulBah no pode completar a correo do manuscrito, pois assim o valor do livro seria aumentado extraordinariamente. O manuscrito inteiro foi, entretanto, cuidado-samente revisado por um comit da Assemblia Nacional Bah da Inglaterra, que tambm aprovou a sua publicao. Sou muito grato pelo valioso apoio prestado pela srta. E. J. Rosenberg, sra. Claudia S. Coles, Mrz Lutfullh S. Hakm, sr. Roy Wilhelm e sr. Mountfort Mills, e por muitos outros amveis amigos, na preparao deste trabalho. Quanto transliterao dos nomes e palavras rabes e persas, o sistema adotado neste livro o recomendado por Shoghi Effendi para aplicao em todo o mundo bah. J. E. Esslemont Fairford, Cults, by Aberdeen

BAHULLHEA

NOVA ERA

Captulo 1

AS BOAS-NOVASO Prometido de todos os povos do mundo j veio. Todas as naes e comunidades aguardavam uma Revelao, e Ele, Bahullh, o proeminente Instrutor e Educador de toda a humanidade.Abdul-Bah

O Maior Acontecimento da Histria Ao estudarmos o que registram as pginas da histria acerca da evoluo do homem, torna-se evidente que o fator principal nesse progresso o advento, de tempos em tempos, de homens que ultrapassam as idias aceitas em seu tempo, e tornam-se descobridores e reveladores de verdades at ento desconhecidas entre o gnero humano. O inventor, o pioneiro, o gnio, o profeta estes so os homens de quem depende primordialmente a transformao do mundo. Como diz Carlyle:A verdade clara, muito clara, pensamos, que... um homem dotado de uma Sabedoria superior, de uma Verdade espiritual ainda no conhecida, mais forte no apenas do que dez homens que no a possuem, nem do que dez mil, e sim, mais forte do que todos os homens que no a tm; sobressaise entre eles com um poder realmente etreo e anglico, como se possusse uma espada do prprio arsenal do cu, a que nenhum escudo e nenhuma torre de bronze, afinal, resistir.Signs of the Times

2

BAHULLH E A NOVA ERA

Na histria da cincia, da arte, da msica, vemos abundantes exemplos desta verdade, mas em domnio algum salienta-se mais nitidamente a suma importncia do grande homem e de sua mensagem que na histria da religio. Atravs de todos os tempos, sempre que a vida espiritual do homem degenera e a corrupo moral predomina, aparece Aquele mais admirvel e misterioso dos homens, o Profeta. S, contra o mundo, sem pessoa alguma que O possa ensinar ou guiar, ou at compreender perfeitamente, ou participar de Sua responsabilidade, Ele surge entre os homens como um vidente entre cegos, proclamando Seu evangelho de verdade e retido. Entre os Profetas, alguns se sobressaem com uma proeminncia especial. De tempos em tempos, um grande Revelador Divino um Krishna, um Zoroastro, um Moiss, um Jesus, um Muhammad surge no Oriente como um Sol espiritual para iluminar as mentes obscurecidas dos homens e despertar suas almas adormecidas. Seja qual for nossa opinio sobre a grandeza relativa desses Fundadores de religio, devemos admitir serem Eles os fatores mais potentes da educao humana. Esses profetas so unnimes em declarar que as palavras por Eles proferidas no so Suas, mas que constituem, sim, uma Revelao por Seu intermdio, uma Mensagem Divina da qual so apenas os Portadores. Em Seus discursos encontram-se tambm inmeras promessas e referncias a um grande Educador Mundial destinado a aparecer na plenitude dos tempos, Aquele que h de continuar a levar fruio a tarefa por Eles comeada, estabelecendo um reino de paz e justia na Terra e unindo em uma s famlia todas as raas, religies, naes e tribos, para que haja somente um rebanho e um Pastor, e todos, do menor ao maior, possam conhecer e amar a Deus. A vinda desse Educador da Humanidade, no fim da era, deve certamente ser o maior acontecimento da histria. E a F Bah proclama ao mundo as boas-novas de que esse Educador, de fato, j veio, e que Sua Revelao foi transmitida e escrita, podendo assim ser estudada por qualquer pesquisador sincero, que o Dia do

AS BOAS NOVAS

3

Senhor j alvoreceu e o Sol da Justia tornou-se visvel. At agora apenas alguns, nos cumes das montanhas, avistaram o Orbe glorioso, mas seus raios j esto iluminando o cu e a terra e, em breve, Ele h de aparecer acima das montanhas, brilhando em todo seu esplendor sobre as plancies e os vales, dando vida e guiando a todos. O Mundo em Transformao evidente a todos que o mundo, no sculo dezenove e na primeira parte do sculo vinte, passou pelos tormentos da morte de uma velha era e pelas dores do nascimento de uma nova. Os velhos princpios do materialismo e egosmo, os velhos preconceitos e animosidades de seita e ptria esto perecendo, desacreditados, entre as runas por eles causadas, e em todos os cantos do globo vemos sinais de um novo esprito de f, de fraternidade, de internacionalismo, que est rompendo os velhos grilhes e ultrapassando as fronteiras antigas. Transformaes revolucionrias, sem precedentes em sua extenso, tm ocorrido em todos os setores da vida humana. A velha era no morreu ainda. Empenha-se num duelo de morte com a nova. Males h em quantidade, gigantescos e terrveis, mas esto sendo expostos, investigados, desafiados e combatidos com novo vigor e nova esperana. Nuvens h em abundncia, grandes e ameaadoras, mas j a luz as rompe, iluminando a estrada do progresso e revelando os obstculos e armadilhas que obstruem o caminho frente. No sculo dezoito era diferente. Quase nenhum raio de luz diminua a treva espiritual e moral que amortalhava o mundo. Era como a hora mais escura que precede a alvorada, quando as escassas lmpadas e velas ainda acesas pouco fazem alm de tornar visvel a escurido. Carlyle, em sua obra Frederick the Great, assim fala do sculo dezoito:Um sculo que no tem histria, e pouca ou nenhuma pode ter. Um sculo to opulento em falsidades acumuladas... como

4

BAHULLH E A NOVA ERA nenhum outro anterior! To falso se tornara que j no tinha conscincia de o ser; to saturado e impregnado de falsidade at os ossos que, de fato, atingira o ponto culminante e uma Revoluo Francesa teve de lhe pr termo.... Concluso esta bem apropriada, penso eu com gratido, para um sculo como esse. Pois havia, mais uma vez, necessidade de uma Revelao Divina aos inertes e frvolos seres humanos para que se no baixassem completamente condio do smio.Frederick the Great, Livro 1, Captulo I.

A poca atual, em comparao com o sculo dezoito, a aurora aps a noite tenebrosa, ou a primavera que segue o inverno. O mundo sente o impulso de uma vida nova e vibra de novas esperanas e novas idias. O que h poucos anos parecia um sonho irrealizvel agora um fato. O que parecia ser para um futuro muito distante j faz parte da vida prtica. Voamos nos ares e fazemos viagens submarinas. Enviamos mensagens ao redor do mundo com a rapidez do relmpago. Em poucas dcadas temos visto milagres numerosos demais para serem mencionados. O Sol da Retido Qual a causa desse sbito despertar no mundo inteiro? Os bahs acreditam que seja em conseqncia de uma grande efuso do Esprito Santo por intermdio do Profeta Bahullh, nascido na Prsia em 1817 e falecido na Terra Santa em 1892. Bahullh ensina que o Profeta, ou Manifestante de Deus, o Portador de Luz ao mundo espiritual, assim como o Sol o portador de luz ao mundo natural. Do mesmo modo que o Sol material brilha sobre a Terra, fazendo crescer e desenvolver os organismos materiais, tambm o Sol da Verdade, atravs do Manifestante Divino, brilha sobre o mundo da alma e do corao, educando os pensamentos, a moral e o carter dos homens. E assim como os raios do Sol material tm uma influncia que penetra nos

AS BOAS NOVAS

5

mais escuros e sombrios recantos do mundo, dando calor e vida at a seres que nunca viram o prprio Sol, assim tambm a emanao do Esprito Santo, atravs do Manifestante de Deus, exerce uma influncia sobre a vida de todos, inspirando as mentes receptivas at em lugares e entre povos que desconhecem em absoluto o nome do Profeta. O advento do Manifestante como a vinda da primavera. um dia de Ressurreio em que os espiritualmente mortos adquirem uma vida nova, a realidade das religies divinas renovada e restabelecida dia em que aparecem novos cus e uma nova terra. No mundo da natureza, entretanto, a primavera causa no s o crescimento e o despertar de uma vida nova como tambm a destruio e remoo da velha e gasta; pois o mesmo Sol que faz brotarem as rvores e abrirem as flores causa tambm a decomposio das coisas mortas e inteis, dissolve o gelo e a neve do inverno, e liberta as inundaes e tempestades que limpam e purificam a Terra. O mesmo sucede no mundo espiritual. O brilho do sol espiritual causa idntica agitao e mudana. Assim, pois, o Dia da Ressurreio tambm o Dia do Juzo, dia em que as corrupes e imitaes da verdade, as idias antiquadas e os costumes obsoletos so descartados e destrudos, em que o gelo e a neve do preconceito e da superstio, que se acumularam durante o inverno, so dissolvidos e transformados, e energias h muito tempo congeladas e presas so libertas para inundar e ressuscitar o mundo. A Misso de Bahullh Clara e repetidamente declarou Bahullh ser Ele o Educador e Instrutor de todos os povos, h muito tempo esperado, o intermedirio de uma emanao de Graa maravilhosa que haveria de transcender todas as emanaes anteriores, na qual todas as antigas formas de religio se uniriam, semelhantes aos rios que se incorporam ao oceano. Lanou Ele um alicerce que forma uma base firme para a unidade no mundo inteiro e para a inaugurao daquela era gloriosa

6

BAHULLH E A NOVA ERA

de paz na terra e boa vontade entre os homens, predita pelos profetas e celebrada pelos poetas. Busca da verdade, unidade do gnero humano, unificao das religies, raas e naes, unio do Oriente e do Ocidente, reconciliao entre a religio e a cincia, eliminao dos preconceitos e das supersties, igualdade entre o homem e a mulher, estabelecimento da justia e retido, criao de um supremo tribunal internacional, unificao dos idiomas, educao compulsria estes e muitos outros ensinamentos similares, a pena de Bahullh revelou durante a ltima metade do sculo dezenove, em inmeros livros e epstolas, das quais diversas foram dirigidas aos reis e governantes do mundo. Sua mensagem, de incomparvel clareza e alcance, mostra uma harmonia extraordinria com os sinais dos nossos tempos e com nossas necessidades. Jamais foram os novos problemas com os quais o homem se defronta to gigantescos e complexos como agora. E em nenhum tempo as solues propostas foram to numerosas e to contraditrias. Nunca se sentiu to extensa e urgentemente a necessidade de um grande Instrutor mundial. E nunca, talvez, esperou-se to confiante e universalmente pela vinda deste Instrutor. Cumprimento das Profecias Escreve Abdul-Bah:Quando Cristo apareceu, h vinte sculos, embora tivessem os judeus esperado com ansiedade Sua vinda e rezado todos os dias com lgrimas nos olhos: Deus, apressa a Revelao do Messias, ao alvorecer o Sol da Verdade, porm, eles O negaram, levantaram-se contra Ele com a maior inimizade, e afinal, crucificaram Aquele Esprito Divino, o Verbo de Deus, e O denominaram Belzebu, o malfeitor assim como nos diz o Evangelho. O motivo disso, disseram, era que A Revelao de Cristo, segundo o claro texto do Tor, ser atestada por certos sinais e, enquanto estes no aparecerem,

AS BOAS NOVAS

7

quem pretender ser o Messias ser apenas um impostor. Entre esses sinais figura o seguinte: O Messias h de vir de um lugar desconhecido, mas todos ns conhecemos a casa deste homem em Nazar, e pode alguma coisa boa vir de Nazar? O segundo sinal que Ele governar com basto de ferro, isto , dever agir com a espada, mas este Messias nem sequer tem um bculo de madeira. Outra condio que se sentar no trono de Davi e estabelecer a soberania de Davi. Ora, longe de ser entronizado, este homem nem possui uma esteira sobre que se sentar. A promoo de todas as leis do Tor outro sinal; entretanto, este homem anulou essas leis, nem guardou o sbado, embora diga claramente o texto do Tor que qualquer um que se diga Profeta, realize milagres mas no guarde o sbado, deve ser morto. Outro sinal este: durante Seu reinado, a justia ser to adiantada que a retido e as boas aes atingiro at o reino animal a serpente e o rato ocuparo o mesmo abrigo, a guia e a perdiz o mesmo ninho, o leo e a gazela habitaro o mesmo pasto, e o lobo e o carneiro bebero da mesma fonte. Agora, porm, a injustia e a tirania chegaram a tal ponto que O crucificaram! Outra condio que, nos dias do Messias, os judeus havero de prosperar e triunfar sobre todos os povos do mundo, mas esto agora vivendo na maior humilhao, escravizados, no Imprio dos Romanos. Como pois, poder este ser o Messias prometido no Tor? Assim fizeram objeo quele Sol da Verdade, apesar do fato de ser esse Esprito de Deus realmente o Prometido do Tor. Por no haverem, entretanto, compreendido a significao desses sinais, crucificaram o Verbo de Deus. Agora os bahs sustentam que todos esses sinais apareceram na Manifestao de Cristo, embora no no sentido em que os judeus os entenderam, sendo alegrica a descrio no Tor. Entre os sinais figura, por exemplo, o da soberania. Dizem os bahs que a soberania de Cristo era celestial, divina, eterna, e no uma soberania como a de Napoleo, a qual se desvanece em pouco tempo. H quase dois mil anos

8

BAHULLH E A NOVA ERA estabeleceu-se essa soberania de Cristo, at agora ela permanece e, por toda a eternidade, esse Ser Divino ser enaltecido sobre um Trono imperecvel. De igual modo, manifestaram-se todos os outros sinais, mas os judeus no os compreenderam. Embora quase vinte sculos hajam passado desde o aparecimento de Cristo em esplendor divino, no entanto, os judeus ainda esperam a vinda do Messias, achando que tm razo e que Cristo era falso.Escrito por Abdul-Bah para este captulo.

Tivessem os judeus se dirigido a Cristo, Ele lhes teria explicado o verdadeiro sentido das profecias a Seu respeito. Aproveitemos ns o seu exemplo e, antes de decidirmos que as profecias relativas Manifestao do Instrutor dos ltimos Dias no tenham sido cumpridas, vejamos o que o prprio Bahullh escreve sobre a interpretao delas, pois devemos admitir serem muitas das profecias expresses lacradas, e o Verdadeiro Educador o nico que pode quebrar o selo e mostrar o verdadeiro sentido encerrado nas palavras. Muito escreveu Bahullh explicando as profecias da Antigidade, porm no as apresenta como prova de ser Ele Profeta. O sol sua prpria prova para todos aqueles dotados do poder da percepo. Quando nasce, no necessitamos de predies antigas para convencermo-nos de seu brilho. assim quando aparece o Manifestante de Deus. Se todas as profecias antigas cassem em esquecimento, continuaria Ele a ser Sua prpria prova, plena e concludente, para todos aqueles cujos sentidos espirituais estivessem aguados. Provas de Autenticidade A ningum Bahullh pediu para aceitar cegamente Suas asseres e sinais. Ao contrrio, antes de tudo, nos Seus ensinamentos fez enfticas advertncias contra a cega sujeio autoridade e exortou a todos que abrissem seus olhos e ouvidos e fizessem uso do prprio

AS BOAS NOVAS

9

juzo, independente e destemidamente, a fim de certificarem-se da verdade. Aconselhou Ele a mais completa investigao, jamais Se ocultando, e apresentou, como provas supremas de Sua condio de Profeta, Suas palavras e aes, e os efeitos destas na transformao do carter e da vida do homem. As mesmas provas foram estabelecidas pelos Seus grandes predecessores. Disse Moiss:Quando o tal profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra se no cumprir, nem suceder assim, esta palavra que o Senhor no falou: com soberba a falou o tal profeta: no tenhas temor dele.Deuteronmio, 18:22.

Cristo estabeleceu Sua prova com igual clareza, usando-a em apoio a Sua prpria pretenso. Disse Ele:Acautelai-vos, porm, dos falsos profetas, que vm at vs vestidos como ovelhas, mas interiormente so lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda a rvore boa produz bons frutos, e toda a rvore m produz frutos maus.... Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.Mateus, 7:15-20.

Nos captulos seguintes tentaremos mostrar, pela aplicao destas provas, se justificvel ou no a pretenso de Bahullh de ser Profeta; se o que Ele disse de fato aconteceu, e se os Seus frutos foram bons ou maus; em outras palavras, se esto sendo cumpridas Suas profecias e estabelecidos Seus ensinamentos, e se o trabalho de Sua vida contribuiu para a educao e o adiantamento da humanidade e a elevao da moral, ou se aconteceu o contrrio.

10Dificuldades na Investigao

BAHULLH E A NOVA ERA

H, naturalmente, dificuldades no caminho daquele que busca a verdade a respeito desta F. Como todas as grandes reformas morais e espirituais, a F Bah tem sido muito mal interpretada. Sobre as terrveis perseguies e sofrimentos por que passaram Bahullh e Seus discpulos, amigos e inimigos esto em perfeito acordo. Sobre o valor do Movimento, entretanto, e o carter de seus Fundadores, as afirmaes dos que crem e dos que negam so inteiramente contraditrias. justamente como no tempo de Cristo. Quanto crucificao de Jesus e s perseguies e martrio de Seus adeptos, historiadores cristos e judeus esto de acordo, mas enquanto aqueles que acreditam em Cristo dizem haver Ele cumprido e desenvolvido os ensinamentos de Moiss e dos outros profetas, os que negam declaram que Ele infringiu as leis e mandamentos, sendo por isto digno de morte. Na religio, como na cincia, a verdade revela os seus mistrios somente ao humilde e reverente pesquisador que estiver pronto a pr de lado qualquer preconceito ou superstio a vender tudo o que possui a fim de poder comprar a prola de grande preo. Para que compreendamos a F Bah em sua plena significao, devemos iniciar seu estudo em esprito de sinceridade e desinteressada devoo verdade, perseverando no caminho da busca e dependendo da orientao divina. Nos Escritos de seus Fundadores poderemos encontrar a chave-mestra que nos abrir os mistrios desse grande despertar de esprito, e o critrio final de seu valor. Infelizmente, tambm aqui h dificuldades no caminho do pesquisador que no conhea o persa nem o rabe, pois so estes os idiomas em que se encontram os ensinamentos. Apenas uma pequena parte foi traduzida para o ingls, e grande parte dessas tradues muito deixa a desejar, no s em exatido como em estilo. A despeito, porm, da imperfeio e da insuficincia das narrativas histricas e tradues, as grandes verdades essenciais que constituem as bases macias e

AS BOAS NOVAS

11

firmes desta F sobressaem-se como montanhas entre as nvoas da incerteza*. O Propsito do Livro Nossa inteno, nos captulos que seguem, ser mostrarmos, tanto quanto possvel, imparcialmente e sem preconceito, os fatos notveis da histria e, mais especialmente, dos ensinamentos da F Bah, de maneira a tornar possvel aos leitores a formao de um juzo inteligente quanto sua importncia e, talvez, induzi-los a investigar mais profundamente este assunto por si prprios. A busca da verdade, entretanto, por importante que seja, no tudo a que se deva dedicar a vida. A verdade no uma coisa morta que, quando encontrada, deva ser posta num museu rotulada, classificada, a exibida e deixada, seca e estril. algo vital, que deve criar razes no corao do homem e dar frutos em sua vida, para que ele possa atingir a plena recompensa de sua busca. O verdadeiro objetivo, pois, de disseminar-se o conhecimento de uma Revelao proftica, que os que se tornam convictos da sua verdade venham a praticar seus princpios, a viver a vida e difundir as boas-novas, apressando desse modo o advento do dia abenoado em que a Vontade de Deus seja feita assim na terra como no Cu.

*Existem agora as incomparveis tradues feitas por Shoghi Effendi dos Escritos de Bahullh e de Abdul-Bah, do persa e do rabe. Estas, juntamente com seus considerveis escritos prprios que tratam da histria da F, das exposies e implicaes de suas verdades fundamentais e do desenvolvimento de sua Ordem Administrativa, tornam a tarefa do pesquisador infinitamente mais fcil nos tempos atuais do que no tempo do dr. Esslemont.

Captulo 2

O BB: O PRECURSORO Opressor* sujeitou morte o Bem-Amado dos mundos para extinguir a luz de Deus entre o povo e para priv-lo do manancial da vida eterna nos dias de teu Senhor, o Benvolo, o Mais Generoso.Bahullh. O Chamado do Senhor das Hostes, pp. 119-20.

O Bero da Nova Revelao A Prsia, bero da Revelao Bah, j ocupou um lugar sem igual na histria do mundo. Nos dias da sua primitiva grandeza era uma verdadeira rainha entre as naes, no rivalizada em civilizao, em poder ou esplendor. Deu ao mundo grandes reis e estadistas, profetas e poetas, artistas e filsofos. Zoroastro, Ciro e Dario, Hfis e Firdaws, Sad e Omar Khayym so apenas uma pequena parcela de seus inmeros filhos ilustres. Era insupervel a habilidade dos seus artfices; seus tapetes eram inigualveis, suas cutelarias inimitveis, sua cermica de fama mundial. Em toda parte do Oriente Prximo e Mdio deixou traos de sua grandeza antiga. No obstante, nos sculos dezoito e dezenove achava-se num estado de deplorvel degradao. Sua antiga glria parecia irremediavelmente perdida. Seu governo tornara-se corrupto e suas condies financeiras eram extremamente crticas; alguns de seus governantes eram incapazes, outros de uma crueldade monstruosa. Seu clero era intolerante e seu povo ignorante e supersticioso. A maioria pertencia a uma seita muulmana, denominada xiita, mas existia tambm um nmero considervel de zoroastrianos, judeus e*X Muhammad. Hoje: Ir. Uma das duas grandes faces xiita e sunita nas quais o Isl foi subdividido pouco

O BB: O PRECURSOR

13

cristos, de seitas diversas e antagnicas. Todos se diziam adeptos de sublimes instrutores que os exortavam a adorar a um Deus nico e a viver em amor e unio, mas, no obstante, evitavam-se uns aos outros mostrando dio e escrnio, e cada seita julgando as demais como impuras, como ces ou pagos. Havia amaldioamento e execrao em grau assustador. Era perigoso um judeu ou um zoroastriano andar nas ruas num dia chuvoso, pois se a sua roupa molhada tocasse um muulmano, este se considerava poludo e o outro talvez pagasse com a vida a ofensa cometida. Quando um muulmano recebia pagamento de um judeu, zoroastriano ou cristo, antes de pr o dinheiro no bolso tinha que lav-lo. Se um judeu via um filho dar um copo dgua a um pobre mendigo muulmano, arremessava-lhe o copo das mos, pois a maldio e no a bondade era o quinho do infiel! Os prprios muulmanos estavam divididos em vrias seitas entre as quais ocorriam freqentemente lutas amargas e violentas. Os zoroastrianos participavam menos dessas recriminaes mtuas, preferindo viver em comunidades separadas, sem nenhum contato com seus compatriotas de outros credos. As condies sociais, tanto quanto as religiosas, haviam chegado a um estado de desesperada decadncia. A educao era negligenciada; as cincias e artes ocidentais eram consideradas contrrias religio. A justia era uma farsa. As estradas nenhuma segurana ofereciam aos viajantes; prevaleciam a pilhagem e o roubo. A falta de saneamento era lamentvel. Apesar de tudo isso, porm, a luz da vida espiritual no estava extinta na Prsia. Aqui e ali, em meio ao mundanismo e superstio prevalecentes, ainda podiam-se encontrar algumas almas santas, e muitos coraes nutriam o ardente desejo de conhecer a Deus, semelhantes aos coraes de Ana e Simeo antes do aparecimento de Jesus. Muitos esperavam ansiosamente um prometido Mensageiro de Deus, confiantes de que o Seu advento estava prximo. Tal era o estado de coisas na Prsia quando o Bb, Arauto de uma nova era, despertou a ateno de todo o pas com a Sua Mensagem.depois da morte de Muhammad. Os xiitas sustentam que Al, o genro de Muhammad, foi o primeiro legtimo sucessor do Profeta, e que somente seus descendentes so os califas verdadeiros.

14Infncia e Juventude

BAHULLH E A NOVA ERA

Mrz Al Muhammad, que depois assumiu o ttulo de Bb (isto , Porta) nasceu em Shrz, no sul da Prsia, em 20 de outubro de 1819 (primeiro dia de Muharram, 1235 d.h.). Era um Siyyid, isto , um descendente do Profeta Muhammad. Seu pai, um conhecido negociante, morreu pouco depois de Seu nascimento, ficando Ele aos cuidados de um tio materno, comerciante em Shrz, que O criou. O Bb aprendeu a ler na infncia, recebendo a educao elementar usual.* Aos quinze anos entrou no comrcio, primeiro com Seu tutor, depois com outro tio que morava em Bshihr, nas costas do Golfo Prsico. Quando jovem, distinguia-Se pela grande formosura pessoal e o encanto de Suas maneiras, como tambm por Sua piedade excepcional e nobreza de carter. Era infalvel na observncia das oraes, jejum e outros ritos da religio muulmana, e no somente obedecia ao p da letra, como vivia o esprito dos ensinamentos do Profeta. Casou-Se com cerca de vinte e dois anos de idade. O filho nascido deste casamento morreu quando ainda criana, no primeiro ano do ministrio do Bb.*Sobre este ponto observa um historiador: A crena de muitas pessoas no Oriente, entre os adeptos do Bb (agora bahs) especialmente, que o Bb no recebeu instruo alguma, mas que os mulls, a fim de rebaix-Lo aos olhos do povo, diziam que sabedoria to profunda e to grandes conhecimentos como os possudos por Ele s poderiam ser atribudos instruo que recebera. Depois de profundas pesquisas sobre a veracidade deste assunto, encontramos evidncias que demonstram que durante Sua infncia Ele freqentou por um curto perodo de tempo a casa do Shaykh Muhammad (tambm conhecido por bid), onde aprendeu a ler e escrever o persa. Foi a isto que o Bb referiu-Se quando escreveu no livro de Bayn: Muhammad! Meu professor!... Mas o que interessante notar que este Shaykh, Seu professor, tornou-se um dedicado discpulo do prprio aluno, e o tio do Bb, Hj Siyyid Al, tambm veio a ser adepto sincero, sendo martirizado por ser bb. A compreenso destes mistrios dada queles que buscam a verdade, mas sabemos que a educao recebida pelo Bb foi apenas elementar e que qualquer sinal extraordinrio de grandeza e conhecimento por Ele manifestado era inato e procedente de Deus.

O BB: O PRECURSOR

15

Declarao Ao atingir Seu vigsimo quinto ano de idade, atendendo ao mandamento divino, Ele declarou que Deus, o Excelso, O escolhera para a misso de ser o Bb. No livro Narrativa de um Viajante, p. 4, lemos:Entretanto, o que pretendeu pelo termo Bb foi que Ele era o canal de graa de um grande Ser ainda atrs do vu da Glria Aquele que era o possuidor de incontveis e ilimitadas perfeies atravs da vontade de Quem, Ele movia-Se, e pelo vnculo do amor de Quem, Ele apegava-Se.

A crena na iminente apario de um Mensageiro Divino prevalecia naqueles dias, principalmente entre uma seita conhecida como os shaykhs, e foi a um distinto membro desta seita, chamado Mull Husayn Bushr, que o Bb primeiro declarou Sua misso. A data exata desta declarao, segundo o Bayn, uma das obras do Bb, foi a vspera do quinto dia do ms de Jamdyul-Avval 1260 d.h.*, isto , 23 de maio de 1844 d.C., duas horas e onze minutos depois do pr do sol. Abdul-Bah nasceu durante a mesma noite, no se tendo verificado, porm, a hora exata. Aps alguns dias de ansiosa investigao e estudo, Mull Husayn tornou-se firmemente convencido de que o Mensageiro de h muito esperado pelos xiitas aparecera de fato. Seu ardente entusiasmo por esta descoberta cedo foi partilhado por vrios de seus amigos. Dentro de pouco tempo a maioria dos shaykhs aceitou o Bb, tornando-se conhecidos por bbs; e logo a fama do jovem Profeta comeou a alastrar-se rapidamente por todo o pas. A Disseminao do Movimento Bb Os dezoito primeiros discpulos do Bb foram denominados Letras do Vivente, sendo Ele prprio a dcima nona. Estes*d.h. depois da hgira (isto , a fuga de Muhammad de Meca a Medina em 622 d.C.).

16

BAHULLH E A NOVA ERA

discpulos Ele os enviou as diferentes partes da Prsia e do Turquesto para anunciarem o Seu advento, enquanto Ele prprio empreendeu uma peregrinao Meca, l chegando em dezembro de 1844 e declarando abertamente a Sua misso. Ao regressar a Bshihr, causou grande agitao por haver-Se proclamado o Bb. O fogo de Sua eloqncia, o prodgio de Seus escritos rpidos e inspirados, Sua extraordinria sabedoria e conhecimento, Sua coragem e Seu zelo de reformador despertaram entre Seus discpulos o maior entusiasmo, excitando porm, um grau correspondente de alarme e inimizade entre os ortodoxos muulmanos. Os doutores xiitas denunciaram-No com veemncia e persuadiram o governador de Frs, chamado Husayn Khn, um tirano fantico, a empreender a supresso da nova heresia. Comeou ento para o Bb uma longa srie de encarceramentos, deportaes, interrogatrios diante de tribunais, aoites e indignidades, que s terminaram com Seu martrio em 1850. Outras Declaraes do Bb A hostilidade que Ele provocara com a declarao de ser o Bb, redobrou quando o jovem Reformador procedeu em seguida proclamao de ser Ele prprio o Mihd (Mahdi), cuja vinda Muhammad predissera. Os xiitas identificaram esse Mihd como o dcimo segundo imame*, que segundo suas crenas desaparecera misteriosamente de entre os homens havia cerca de mil anos. Acreditavam que ele ainda estivesse vivo e devesse reaparecer no mesmo corpo, e interpretaram em seu sentido material as profecias relativas ao seu domnio, sua glria, s suas conquistas, e aos sinais de seu advento, justamente como fizeram os judeus no tempo de Cristo com referncia s profecias similares sobre o Messias. Esperavam que ele aparecesse com uma soberania terrestre e um exrcito numeroso, e que declarasse sua revelao fazendo ressuscitar os mortos, etc. Por no haverem aparecido esses sinais, os xiitas rejeitaram o Bb com o mesmo escrnio feroz que os judeus*O imame dos xiitas o divinamente ordenado sucessor do Profeta, a quem devemtodos os fiis obedecer. Onze pessoas, sucessivamente, ocuparam o lugar de Imame, tendo o primeiro sido Al, o primo e genro do Profeta. A maioria dos xiitas afirma

O BB: O PRECURSOR

17

mostraram para com Jesus. Os bbs, por outro lado, interpretaram figurativamente muitas das profecias. Consideravam a soberania do Prometido como aquela do Galileu Homem das Tristezas uma soberania mstica; como espiritual a Sua glria, e no terrena; Suas conquistas como sendo sobre as cidades dos coraes dos homens; e encontraram provas abundantes da declarao do Bb em Sua vida e ensinamentos maravilhosos, em Sua f inabalvel, Sua convico invencvel, e em Seu poder de ressuscitar espiritualmente aqueles que estavam nas sepulturas do erro e da ignorncia. O Bb, entretanto, no Se limitou ao ttulo de Mihd. Ele adotou o ttulo sagrado de Nuqtiyil ou Ponto Primordial. Este fora o ttulo aplicado ao prprio Muhammad pelos Seus discpulos. Mesmo os imames eram de importncia secundria em relao ao Ponto, de Quem recebiam sua inspirao e autoridade. Ao assumir este ttulo, o Bb, semelhantemente a Muhammad, entrou na srie dos grandes Fundadores de Religio e por isso foi considerado pelos xiitas um impostor, do mesmo modo que acontecera com Seus predecessores, Moiss e Jesus. Ele inaugurou at um novo calendrio, restaurando o ano solar e indicando o ano de Sua prpria Declarao como incio da Nova Era. Aumentam as Perseguies Em conseqncia destas declaraes do Bb e da alarmante rapidez com que pessoas de todas as classes, ricas e pobres, doutas e ignorantes, aceitavam entusiasticamente Seus ensinamentos, as tentativas de supresso tornavam-se cada vez mais impiedosas e resolutas. Lares eram pilhados e destrudos. Mulheres agarradas e levadas embora. Em Teer, Frs, Mzindarn e outros lugares executaram grande nmero de adeptos. Muitos eram decapitados, enforcados, arremessados das bocas de canhes, queimados ou retalhados. A despeito de todas estas tentativas de represso, porm, o Movimento progredia, ou melhor, atravs desta mesma opresso, a firmeza dos adeptos aumentava, pois em tudo isto viram oque o dcimo-segundo Imame, por eles denominado o Imame Mihd, enquanto ainda criana, desapareceu numa passagem subterrnea em 329 d.h., e que no devido tempo aparecer, vencer os infiis e inaugurar uma era de felicidade.

18

BAHULLH E A NOVA ERA

cumprimento literal de muitas profecias a respeito da vinda do Mihd. Assim, numa tradio mencionada por Jbir, tida pelos xiitas como autntica, lemos:Ele encerrar a perfeio de Moiss, a preciosidade de Jesus, e a pacincia de J; em seu tempo, seus santos sero humilhados e suas cabeas sero trocadas como presentes, como o foram as dos turcos e dos deylamitas; eles sero mortos e queimados; e haver medo, temor e consternao; a terra ser tinta pelo seu sangue e suas mulheres cairo em prantos; so estes, de fato, meus santos.New History of the Bb, traduzida pelo professor E. G. Browne, p. 132.

Martrio do Bb Em 9 de julho de 1850*, o prprio Bb, que contava ento trinta e um anos de idade, caiu vtima da fria fantica dos Seus perseguidores. Com um jovem e devotado discpulo, de nome q Muhammad Al, que havia pedido insistentemente que lhe fosse permitido compartilhar do Seu martrio, foi o Bb conduzido ao cadafalso do velho largo do quartel de Tabrz. Aproximadamente s dez horas da manh, foram amarrados por baixo dos braos e dependurados de tal modo que a cabea de Muhammad Al repousava no peito do seu querido Mestre. Um regimento de soldados armnios foi formado e recebeu ordem de fogo. Os estampidos logo se fizeram ouvir, mas quando a fumaa se dissipou, constatou-se que o Bb e Seu companheiro estavam ainda vivos. As balas haviam apenas decepado as cordas pelas quais estavam suspensos, de modo que haviam cado ao cho, ilesos. O Bb seguiu para um cmodo prximo, onde foi encontrado conversando com um de Seus amigos. Ao meio-dia, mais ou menos, foram outra vez suspensos. Os armnios, que haviam considerado o resultado dos seus disparos um milagre, recusaram-se a atirar novamente, de modo que um outro regimento de soldados teve que ser trazido ao cenrio.*Sexta-feira, 28 de Shabn, 1266 d.h.

O BB: O PRECURSOR

19

Desta vez os tiros surtiram efeito. Os corpos de ambas as vtimas foram crivados de balas e horrivelmente mutilados; seus rostos, porm, permaneceram quase intactos. Com este ato vil, o largo do quartel de Tabrz tornou-se um segundo Calvrio. Os inimigos do Bb vibraram com o triunfo culposo, pensando que a odiada rvore da F Bb estivesse agora cortada pela raiz, e que sua destruio completa seria fcil! Pouco durou, porm, seu triunfo! No compreenderam que jamais a rvore da verdade poderia ser derrubada por um machado material. Mal poderiam imaginar que o prprio crime por eles perpetrado foi o meio de dar maior vigor Causa. O martrio do Bb realizou Seu desejo h muito nutrido e inspirou em Seus adeptos um zelo mais intenso. Tal era o ardor de seu entusiasmo espiritual, que os mais amargos ventos da perseguio outro efeito no surtiram seno o de lhe aumentar a intensidade. Quanto mais se esforavam por extinguilas, mais alto subiam as chamas. Tmulo no Monte Carmelo Aps o martrio do Bb, Seus restos mortais, com os de Seu devotado companheiro, foram atirados beira do fosso fora dos muros da cidade. Na noite seguinte alguns bbs conseguiram remov-los, meia-noite e, depois de guardados durante muitos anos em depsitos secretos na Prsia, foram finalmente levados com grande perigo e dificuldade para a Terra Santa. L esto agora enterrados, num tmulo lindamente situado no declive do Monte Carmelo, no distante da Caverna de Elias e apenas a poucas milhas do lugar onde Bahullh passou os ltimos anos de vida e onde jazem agora Seus restos mortais. Entre os milhares de peregrinos que de todas as partes do mundo vm prestar homenagem no Tmulo Sagrado de Bahullh, nenhum deixa de oferecer uma prece tambm no Santurio de Seu devotado Precursor, o Bb.

20Escritos do Bb

BAHULLH E A NOVA ERA

Volumosos foram os Escritos do Bb, e a rapidez com que, sem estudo ou premeditao, Ele fez esmerados comentrios, exposies profundas ou preces eloqentes, era tida como uma das provas da Sua inspirao divina. Pode-se resumir do seguinte modo o contedo de Seus vrios Escritos:Alguns destes so comentrios e interpretaes dos versculos do Alcoro; outros so oraes, sermes e aluses ao verdadeiro significado de certas passagens; enquanto outros so exortaes, admonies, dissertaes sobre os diversos ramos da doutrina da Unidade Divina, demonstraes da especial misso proftica do Senhor das coisas existentes (Muhammad), e (conforme compreendemos) encorajamentos para o aperfeioamento do carter, desprendimento dos estados mundanos e dependncia das inspiraes de Deus. Mas a essncia e significado das Suas composies eram os elogios e descrio daquela Realidade que claramente foi Seu nico objetivo e propsito, Seu Bem-Amado e Seu anelo*. Pois, Ele considerou Sua prpria vinda como Aquele arauto das boas-novas, e considerou Sua verdadeira natureza como sendo meramente um meio para manifestar as maiores perfeies dAquele Ser. E realmente, Ele no cessava dia e noite de celebr-Lo nem por um nico instante, mas costumava dizer a todos os Seus seguidores que deveriam esperar Sua vinda. De tal maneira que Ele declara em Seus Escritos: Eu no sou seno uma letra desse poderosssimo livro, uma gota de orvalho desse oceano ilimitado, e quando Ele aparecer, a Minha verdadeira natureza, os Meus mistrios e enigmas, se tornaro evidentes, e o embrio desta religio se desenvolver atravs dos graus da sua existncia e sua evoluo, e atingir a posio da mais perfeita forma, e se adornar com o manto do Louvado seja Deus, Criador por excelncia... e to inflamado estava o Bb com a chama de*Bahullh. Alcoro, 95:4. Alcoro, 23:14.

O BB: O PRECURSOR

21

Bahullh que a comemorao dEle era a vela luminosa de Suas noites escuras na fortaleza de Mk, e a lembrana dEle era o melhor dos companheiros nas dificuldades da priso de Chihrq. Por meio disso, o Bb obteve grande elevao espiritual. Com Seu vinho inebriava-Se e na lembrana dEle, o Bb regozijava-Se.Abdul-Bah. Narrativa de um Viajante, pp. 43-45.

Aquele que Deus Tornar Manifesto Compara-se s vezes o Bb a Joo Batista, mas a Sua Misso no foi meramente a de arauto ou precursor. O Bb foi em Si um Manifestante de Deus, o Fundador de uma religio independente, embora limitada em tempo a um curto perodo de anos. Os bahs acreditam que o Bb e Bahullh foram Co-Fundadores da sua F, sendo as seguintes palavras de Bahullh testemunho desta verdade: Que to breve perodo tenha separado esta mais poderosa e admirvel Revelao e Minha prpria Manifestao anterior, um segredo que nenhum homem pode desvendar e um mistrio que mente alguma pode penetrar. Sua durao havia sido preordenada, e ningum jamais descobrir sua razo, a no ser que, e no antes de informar-se do contedo do Meu Livro Oculto. Em Suas referncias a Bahullh, porm, o Bb mostrou uma humildade absoluta, declarando que, no dia de Aquele que Deus tornar manifesto:Ouvir e recitar um nico versculo dEle melhor do que recitar mil vezes o Bayn [isto , a Revelao do Bb].O Bb citado por E. G. Browne em: A Travellers Narrative, p. 349.

Ele julgava-Se feliz em suportar qualquer aflio, se assim procedendo, pudesse, ainda que no mnimo grau, aplainar a senda para Aquele que Deus tornar manifesto, Aquele que era, dizia Ele, a fonte nica da Sua inspirao e o objeto nico do Seu amor.

22Ressurreio, Paraso e Inferno

BAHULLH E A NOVA ERA

Constituem uma parte importante dos ensinamentos do Bb as Suas explicaes dos termos ressurreio, juzo final, paraso e inferno. Entende-se pelo termo ressurreio, diz Ele, o aparecimento de uma nova Manifestao do Sol da Verdade. A ressurreio dos mortos significa o despertar espiritual dos que dormem no tmulo da ignorncia, negligncia e luxria. O Dia do Juzo Final o Dia da nova Manifestao, quando as ovelhas pela aceitao ou rejeio Sua Revelao, sero separadas das cabras, pois as ovelhas conhecem a voz do Bom Pastor e O seguem. Paraso a felicidade de conhecer e amar a Deus, como revelado por Seu Manifestante, atingindo assim a mais alta perfeio de que o homem capaz, e aps a morte obtendo entrada no Reino de Deus e na vida eterna. Inferno simplesmente a privao desse conhecimento de Deus, com o conseqente insucesso em atingir a perfeio divina, e a perda do Favor Eterno. Ele declara definitivamente que estes termos no tm nenhuma outra verdadeira significao a no ser esta, e que as idias prevalecentes sobre a ressurreio do corpo fsico, um cu e um inferno materiais, e outras coisas semelhantes so meros produtos da imaginao. Ensina que h vida aps a morte, e que o progresso no caminho para a perfeio ilimitado. Ensinamentos Sociais e ticos O Bb, em Seus Escritos, exorta Seus discpulos a distinguirem-se pela cortesia e pelo amor fraternal. Os ofcios e as artes teis devem ser cultivados. A educao elementar deve ser geral. Nesta nova e maravilhosa Dispensao, agora em seu incio, a mulher h de ter mais completa liberdade. O tesouro pblico ter que prover ao pobre os meios de subsistncia, porm sendo estritamente proibida a mendicncia, bem como o uso de bebidas alcolicas.

O BB: O PRECURSOR

23

O princpio orientador do verdadeiro bb deve ser o amor puro, sem a esperana de recompensa ou o medo de punio. Assim diz Ele no Bayn:Adora a Deus de tal modo, que se a recompensa da tua adorao a Ele fosse o fogo, nenhuma alterao sofreria a tua adorao. Adorar a Deus por medo indigno do limiar da Sua santidade.... Assim tambm, se a tua contemplao estiver no Paraso, e se tua adorao na esperana de alcan-lo, fizeste da criao de Deus Sua co-participante.Bbs of Persia II, por professor E. G. Browne, J.R.A.S., vol. XXI, p. 931.

Paixo e Triunfo Estas palavras que acabamos de citar revelam o esprito que animou a vida inteira do Bb. Conhecer e amar a Deus, espelhar Seus atributos e preparar o caminho para Sua prxima Manifestao estas foram a meta e o objeto nico do Seu ser. Para Ele a vida no tinha terrores, nem a morte aguilho, pois o amor expulsara o medo, e o prprio martrio no era seno o enlevo de sacrificar Seu todo aos ps do Seu Bem-Amado. Como extraordinrio que esta pura e bela Alma, este inspirado expositor da Verdade Divina, este fervoroso amante de Deus e de Seus semelhantes fosse to odiado e finalmente morto pelos ditos religiosos de Sua poca! Seguramente, nada, a no ser um preconceito irrefletido ou proposital, poderia cegar os homens ao fato de aqui haver, em verdade, um Profeta, um Santo Mensageiro de Deus. Grandeza e glria mundanas, Ele no as possua, mas qual a maneira de se dar provas de Poder e Domnio espirituais, a no ser pela capacidade de dispensar qualquer auxlio material e triunfar sobre toda a oposio terrena, ainda mesmo a mais potente e virulenta? Como pode o Amor Divino ser demonstrado a um mundo descrente, seno pelo seu poder de resistir at o fim aos golpes da calamidade e aos dardos da aflio, ao dio dos inimigos e perfdia

24

BAHULLH E A NOVA ERA

dos falsos amigos, levantar-se sereno sobre todos eles e, sem consternao e ressentimento, ainda perdoar e abenoar? O Bb resistiu e o Bb triunfou. Milhares sacrificaram, em dedicao Sua Causa, todas as possesses e a prpria vida, como prova da sinceridade do seu amor por Ele. Bem poderiam os reis invejar Seu poder sobre o corao e a vida dos homens. E, alm disso, Aquele que Deus tornar manifesto apareceu, confirmou as declaraes de Seu Precursor e aceitou a Sua devoo, fazendo-O partcipe da Sua Glria.

Captulo 3

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS tu que esperas, no mais te demores, pois Ele j veio. V o Seu Tabernculo e a Sua Glria nele encerrada. a Glria Antiga com uma nova Manifestao.Bahullh

Nascimento e Infncia Mrz Husayn Al, que depois adotou o ttulo de Bahullh (isto , Glria de Deus), era o filho mais velho de Mrz Abbs de Nr, um vizir ou ministro de Estado. Sua famlia era rica e distinta, tendo muitos de seus membros ocupado cargos importantes no governo e nos servios civil e militar da Prsia. Ele nasceu em Teer, capital da Prsia, entre a alvorada e o nascer do sol no dia 12 de novembro de 1817*. Nunca freqentou colgio ou escola, sendoLhe dada em casa a pouca instruo que recebeu. No obstante, mesmo quando criana mostrou grande sabedoria e conhecimentos admirveis. Quando Bahullh ainda era moo, Seu pai morreu, deixando-O responsvel pelos irmos mais jovens e pela direo das extensas propriedades da famlia. Sobre os primeiros anos da vida de Bahullh, Seu filho mais velho, Abdul-Bah, contou uma vez ao autor deste livro o seguinte:Desde criana, era extremamente bondoso e generoso. Gostava muito da vida campestre e passava grande parte de Seu tempo*2 de Muharram, 1233 d.h.

26

BAHULLH E A NOVA ERA nos jardins ou nos campos. Ele tinha um extraordinrio poder de atrao, que por todos era percebido. Sempre havia muitos que se aglomeravam ao Seu redor. Ministros e pessoas da corte O rodeavam, e crianas tinham-Lhe grande afeio. Quando contava apenas treze ou quatorze anos de idade, tornou-Se clebre pelos Seus conhecimentos. Discorria sobre qualquer assunto e resolvia qualquer problema que Lhe era apresentado. Em grandes reunies, Ele tratava de vrios assuntos com os ulems (os mulls mais eminentes) e explicava intrincadas questes religiosas. Todos O ouviam com o maior interesse. Quando contava vinte e dois anos de idade, Bahullh perdeu o pai e, como era costume na Prsia, o governo quis que ocupasse o cargo do Seu pai no Ministrio. Bahullh, entretanto, recusou. O Primeiro Ministro ento disse: DeixeO. Tal posio no Lhe digna. Ele tem em vista algum ideal mais elevado. No O posso entender, mas estou convencido de que est destinado a alguma carreira elevada. Seus pensamentos no so iguais aos nossos. Deixe-O.

Preso por Ser Bb Quando, em 1844, o Bb declarou Sua misso, Bahullh, ento em Seu vigsimo stimo ano, abraou intrepidamente a Causa da nova F, da qual cedo foi reconhecido como um dos mais poderosos e destemidos expositores. J por duas vezes havia Ele sido preso por ser adepto da Causa e, em certa ocasio, sofrido a tortura da bastonada, quando, em agosto de 1852, houve um acontecimento de terrveis conseqncias para os bbs. Sdiq, um jovem adepto do Bb, ficara to afetado pelo martrio do seu querido Mestre, de que fora testemunha ocular, que perdeu o uso da razo e, com intuito de vingar Sua morte, armou uma cilada para o x e disparou uma pistola contra ele. Em vez de usar uma bala, porm, carregou a arma com pequenos gros de chumbo, e embora tivessem alguns atingido o x, nenhum

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS

27

ferimento grave houve. O jovem arrancou o x do seu cavalo, mas foi imediatamente preso pelos guardas de Sua Majestade e assassinado no mesmo momento. Injustamente a responsabilidade desse ato foi atribuda ao inteiro grupo dos bbs e houve, em conseqncia, um horrvel massacre. Oitenta foram mortos logo em Teer com torturas as mais revoltantes, e muitos outros, inclusive Bahullh, aprisionados. Tempos depois, Bahullh escreveu:Pela retido de Deus! Ns no estvamos de modo algum ligados quele ato perverso e Nossa inocncia foi inequivocamente estabelecida pelos tribunais. Ainda assim, eles Nos prenderam e de Nyvarn, que era ento a resistncia de Sua Majestade, conduziram-Nos a p e acorrentados, com a cabea nua e os ps descalos, ao calabouo de Teer. Um homem brutal, acompanhando-Nos a cavalo, arrancou Nosso chapu, enquanto ramos apressados por uma tropa de carrascos e oficiais. Fomos condenados a quatro meses em um lugar imundo alm de qualquer comparao. Quanto ao calabouo no qual este Injustiado e outros similarmente injustiados foram confinados, uma escura e estreita cova seria prefervel. Aps Nossa chegada fomos primeiro conduzidos ao longo de um corredor negro como breu, do qual descemos trs ngremes lances de escadas at o local de confinamento a Ns designado. O calabouo estava envolto em densas trevas e Nossos companheiros de priso contavam cerca de cento e cinqenta almas: ladres, assassinos e salteadores. Embora apinhado, no havia outra abertura seno a passagem pela qual entramos. Pena alguma pode descrever aquele local, lngua alguma descrever seu cheiro terrvel. Aqueles homens, em sua maioria, no tinham roupas nem lenis sobre os quais deitar-se. Somente Deus sabe o que Nos aconteceu naquele lugar sumamente ftido e lgubre! Dia e noite, enquanto confinado naquele calabouo, Ns meditamos sobre os atos, a condio e a conduta dos bbs,

28

BAHULLH E A NOVA ERA imaginando o que poderia Ter levado um povo de to altos princpios, to nobre e tal inteligncia, a perpetrar ato to audacioso e ultrajante contra a pessoa de Sua Majestade. Este Injustiado, por isso, decidiu erguer-se aps ser libertado da priso e assumir, com o mximo vigor, a tarefa de regenerar este povo. Certa noite, em um sonho, estas excelsas palavras fizeramse ouvir: Em verdade, Ns Te faremos vitorioso por Ti mesmo e por Tua pena. No Te lamentes por aquilo que Te sucedeu, nem tenhas medo, pois ests em segurana. Em breve Deus erguer os tesouros da terra homens que Te ajudaro por Ti mesmo e por Teu Nome, meio pelo qual Deus revivificou o corao daqueles que O reconheceram.Epstola ao Filho do Lobo, pp. 37-38.

Exlio em Bagd Durante os quatro meses desse encarceramento terrvel, Bahullh e Seus companheiros continuaram dedicados, cheios de entusiasmo e no maior contentamento. Quase diariamente, um deles era torturado ou trucidado e os outros lembrados de que a prxima vez poderia ser a sua. Quando os carrascos vinham buscar um deles, aquele cujo nome era chamado danava, literalmente, com jbilo, beijava as mos de Bahullh, abraava seus demais companheiros de crena e ento apressava-se, com nimo e alegria, para o lugar do martrio. Foi provado concludentemente que Bahullh nenhuma parte tomara na conspirao contra o x, e o ministro russo atestou a pureza do Seu carter. Ele estava, alm disso, to doente, que se receava a Sua morte. Em lugar, pois, de sentenci-Lo morte, o x ordenou que fosse exilado a Irq-i-Arab, na Mesopotmia, e para l, quinze dias depois, Bahullh seguiu acompanhado de Sua famlia e grande nmero de amigos. Sofreram penosamente com o frio e com outras durezas na longa jornada de inverno, e chegaram a Bagd em um estado de quase completa destituio.

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS

29

Assim que Sua sade permitiu, Bahullh comeou a ensinar queles que pediam esclarecimentos sobre a F e a animar e exortar os adeptos; e em pouco tempo a paz e a felicidade reinavam entre os bbs*. Tal estado de coisas, entretanto, pouco durou. Um irmo de Bahullh por parte do pai, Mrz Yahy, conhecido tambm por Subh-i-Azal, chegou a Bagd e logo depois comearam a surgir divergncias secretamente instigadas por ele, assim como semelhantes divises sucederam entre os discpulos de Cristo. Essas divergncias (que mais tarde, em Adrianpolis, tornaram-se abertas e violentas) eram muito penosas para Bahullh, cujo nico ideal na vida era a promoo da unidade entre os povos do mundo. Dois Anos no Deserto Cerca de um ano aps Sua vinda a Bagd, Bahullh partiu s, para o deserto de Sulaymnyyih, levando nada mais que uma muda de roupa. Sobre este perodo, Ele escreve no Kitb-i-qn o seguinte:Nos primeiros dias aps a Nossa chegada nesta terra, percebendo os sinais dos iminentes acontecimentos, decidimos retirar-nos antes que se realizassem. Fomos ao deserto, onde, afastados e ss, tivemos por dois anos uma vida completamente solitria. Nossos olhos vertiam lgrimas angustiosas e do Nosso corao dilacerado surgia um oceano de agnicos pesares. Muitas noites no tivemos com o que Nos sustentar; muitos dias Nosso corpo no encontrou repouso. Por Aquele que tem o Meu ser entre Suas mos! No obstante essas chuvas de aflies e calamidades incessantes, Nossa alma estava envolta de xtase e todo o Nosso ser mostrava uma alegria inefvel. Pois em Nossa solido no estvamos cientes do prejuzo ou benefcio, sade ou doena, de qualquer pessoa. Inteiramente ss, comungvamos com Nosso esprito, esquecidos do mundo e de tudo o que*Isto foi no comeo do ano de 1853, ou nove anos depois da Declarao do Bb, cumprindo assim certas profecias do Bb concernentes ao ano nove.

30

BAHULLH E A NOVA ERA nele existe. No sabamos, porm, que o enredo do destino divino excede ao mais vasto dos conceitos mortais, e o dardo de Seu decreto transcende o mais audaz dos planos humanos. Ningum pode escapar aos enredos que Ele arma nenhuma alma pode libertar-se, a no ser pela submisso Sua Vontade. Pela justia de Deus! Nossa retirada no contemplava regresso; Nossa separao no esperava nenhuma reunio. O nico propsito de Nossa retirada foi evitar que Nos tornssemos motivo de discrdia entre os fiis, fonte de distrbios entre Nossos companheiros, meio de prejuzo para qualquer pessoa, ou causa de tristeza para algum corao. Alm dessas, nenhuma inteno acaricivamos; fora dessas, nenhum propsito tivemos em vista. E no obstante, cada um maquinava segundo seu prprio desejo e se entregava sua v fantasia, at a hora em que veio da Fonte mstica a ordem de que voltssemos para o lugar donde havamos vindo. Rendendo Nossa Vontade Sua, submetemo-nos Sua injuno. Qual a pena que possa descrever o que foi visto por Ns ao regressarmos? Passaram-se dois anos, durante os quais Nossos inimigos maquinaram assdua e incessantemente a fim de Nos exterminar, assim como todos atestam.O Kitb-i-qn, pp. 152-153.

Oposio dos Mulls Aps o regresso desse retiro, Sua fama tornou-se maior do que nunca, e de toda parte iam a Bagd muitas pessoas desejosas de v-Lo e ouvir Seus ensinamentos. Judeus, cristos, zoroastrianos e muulmanos interessavam-se pela nova mensagem. Os mulls (doutores muulmanos), entretanto, assumiram uma atitude hostil e tramaram persistentemente a Sua queda. Certa ocasio um deles foi enviado para entrevist-Lo e fazer-Lhe algumas perguntas. O emissrio achou as respostas de Bahullh to convincentes e Sua sabedoria to admirvel, embora evidentemente no adquirida por

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS

31

meio de estudos, que se viu obrigado a confessar ser Ele, em entendimento e sabedoria, incomparvel. Entretanto, a fim de que os mulls que o haviam enviado admitissem ser Bahullh, de fato, um Profeta, pediu-Lhe que fizesse um milagre como prova. Bahullh expressou Sua boa vontade em aceitar a sugesto, sob certas condies, declarando que forneceria a prova desejada, ou seno, permitiria ser declarado impostor, se os mulls concordassem a respeito do milagre a ser realizado e assinassem e selassem um documento pelo qual se comprometessem, caso fosse o milagre levado a efeito, a confessar a validez da Sua misso e a cessar sua oposio a Ele. Tivesse sido o objetivo dos mulls descobrir a verdade, esta era, sem dvida, sua oportunidade; mas sua inteno era outra. Queriam de qualquer modo uma deciso a seu prprio favor. Tinham medo da verdade, e assim recusaram o desafio audaz. O embarao que isso lhes causou, porm, apenas instigou-os a maquinar novas conspiraes para a extino da F oprimida. O cnsul-geral da Prsia em Bagd os apoiou e mandou repetidas mensagens ao x, alegando estar Bahullh, mais do que nunca, prejudicando a religio maometana, e ainda exercendo uma influncia maligna na Prsia, devendo Ele, pois, ser exilado para algum lugar mais distante. Nesta crise, quando os governos iranianos e turcos, instigados pelos mulls, reuniam os seus esforos para a extirpao do Movimento, Bahullh manteve Sua calma e serenidade caractersticas, animando e inspirando os Seus discpulos, e escrevendo palavras imperecveis de guia e consolo. Abdul-Bah conta como nesse tempo Bahullh freqentemente ia passear ao longo das margens do Tigre, donde voltava com uma expresso alegre, escrevendo em seguida algumas daquelas jias lricas de sbios conselhos, As Palavras Ocultas, que tm trazido consolo e alvio a milhares de coraes aflitos e magoados. Por alguns anos s existiam poucos exemplares manuscritos de As Palavras Ocultas, os quais tiveram de ser cuidadosamente escondidos para que no cassem nas mos dos numerosos inimigos, mas esse pequeno livro agora, provavelmente, a mais conhecida de todas as obras de Bahullh,

32

BAHULLH E A NOVA ERA

sendo lido em todos os cantos do globo. O Kitb-i-qn outra obra de Bahullh muito conhecida, escrita mais ou menos no mesmo perodo, por volta do fim de Sua estada em Bagd (18621863). Declarao em Ridvn*, Proximidades de Bagd Aps muitas negociaes, a pedido do governo iraniano, foi assinada pelo governo da Turquia uma ordem chamando Bahullh a Constantinopla. Essa notcia causou grande consternao entre Seus discpulos. Afluram casa de seu bem-amado Mestre, a tal ponto que a famlia, enquanto a caravana se preparava para a longa jornada, acampou por doze dias no jardim de Najb Psh, fora da cidade. Foi durante estes doze dias (21 de abril a 2 de maio de 1863, isto , dezenove anos aps a declarao do Bb) que Bahullh deu a vrios dos Seus adeptos as boas novas de ser Ele prprio o Predito pelo Bb, o Escolhido de Deus, o Prometido de todos os Profetas. O jardim onde foi feita essa memorvel Declarao veio a ser desde ento conhecido pelos bahs por Jardim de Ridvn, e os dias que Bahullh ali passou so comemorados com a Festa do Ridvn, anualmente celebrada no aniversrio desses doze dias. Durante aqueles dias, em vez de tristeza ou desalento, Bahullh mostrou o maior contentamento, dignidade e poder. Seus discpulos tornaram-se alegres e entusiasmados, e grandes multides vieram prestar-Lhe seus respeitos. Todas as notabilidades de Bagd, inclusive o prprio governador, vieram prestar suas homenagens ao Prisioneiro que iria partir. Constantinopla e Adrianpolis A viagem a Constantinopla durou de trs a quatro meses, sendo o grupo composto por Bahullh, membros de Sua famlia e vinte e seis discpulos. Ao chegarem em Constantinopla ficaram prisioneiros numa pequena casa que muito mal os comportava. Mais*Pronuncia-se Rezvn.

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS

33

tarde conseguiram alojamentos um pouco melhores, mas decorridos quatro meses foram transferidos novamente, desta vez para Adrianpolis. Embora durasse poucos dias, a viagem a Adrianpolis foi a mais terrvel que realizaram. Durante quase todo o tempo a neve caa pesadamente e, como estavam desprovidos de roupas apropriadas e de alimentos, seus sofrimentos foram extremos. No primeiro inverno em Adrianpolis, Bahullh e Sua famlia, composta de doze pessoas, foram acomodados numa pequena casa de trs cmodos, sem conforto e infestada de ratos e insetos. Na primavera obtiveram alojamento mais confortvel. Aqui passaram mais de quatro anos e meio, e Bahullh recomeou a ensinar, congregando ao Seu redor um grupo numeroso. Anunciou publicamente Sua misso e foi entusiasticamente aceito pela maioria dos bbs, que da em diante tornaram-se conhecidos por bahs. Uma minoria, entretanto, sob liderana do meio-irmo de Bahullh, Mrz Yahy, fez-Lhe violenta oposio, e uniu-se aos antigos inimigos, os xiitas, com quem planejou Sua queda. Seguiram-se grandes distrbios e, por fim, o governo turco baniu a ambos, bbs e bahs, de Adrianpolis, exilando Bahullh e Seus adeptos para Akk, na Palestina, onde chegaram, segundo Nabl*, em 31 de agosto de 1868, enquanto Mrz Yahy e o seu grupo foram mandados a Chipre. Cartas aos Reis Nesse perodo, Bahullh escreveu Sua famosa srie de cartas ao sulto da Turquia, a muitas das cabeas coroadas da Europa, ao papa e ao x da Prsia. Mais tarde, em Seu Kitb-i-Aqdas, dirigiuSe a outros soberanos, aos governantes e presidentes da Amrica, aos dirigentes da religio em geral e a todo o gnero humano. Anunciou a todos Sua misso, exortando-os a dedicar suas energias ao estabelecimento da verdadeira religio, de um governo justo e da paz internacional. Em Sua carta ao x, Ele pleiteou com veemncia a causa dos oprimidos bbs e pediu para ser levado presena*Narrador da histria dos primeiros anos da F, contada em Os Rompedores da Alvorada. Nabl foi participante de algumas das cenas que descreve e conheceu pessoalmente muitos dos primeiros crentes. O Aqdas, Kitb-i-Aqdas, O Livro de Aqdas e O Livro Mais Sagrado, todos referem-se ao mesmo livro.

34

BAHULLH E A NOVA ERA

daqueles que haviam instigado sua perseguio. Desnecessrio dizer que no se satisfez esse pedido. Bad, o jovem e devotado discpulo que entregou a carta de Bahullh, foi preso e martirizado com terrveis torturas, sendo-lhe aplicados ao corpo tijolos de barro quente! Na mesma carta Bahullh faz a mais comovente descrio de Seus prprios sofrimentos e anseios:Tenho visto, x, no caminho de Deus, o que olhos jamais viram nem ouvidos ouviram. Meus conhecidos Me repudiaram e Meus caminhos se estreitaram. A fonte do bemestar secou-se e as folhas do caramancho da tranqilidade murcharam. Quo numerosas as tribulaes que choveram, e que em breve chovero sobre Mim. Sigo adiante, com a face volvida para Aquele que o Onipotente, o TodoGeneroso, enquanto atrs de Mim desliza a serpente. Meus olhos tm derramado lgrimas at ensopar Meu leito. Minha tristeza no por Minha prpria causa, entretanto. Por Deus! Nunca passei por uma rvore sem que Meu corao no lhe tivesse dirigido estas palavras: Oxal fosses cortada em Meu nome, e Meu corpo sobre ti crucificado, na vereda de Meu senhor!, pois vejo o povo vagando desatento e inconsciente em seu estupor embriagado. Elevaram s alturas suas paixes e diminuram seu Deus. Parece-Me que tomaram Sua Causa por zombaria e a consideram uma brincadeira e um passatempo, acreditando o tempo todo que agem bem, e que habitam com segurana na cidadela da proteo. No obstante, o assunto no como eles insensatamente imaginam: amanh vero aquilo que hoje esto habituados a negar! Dentro em breve, os expoentes da riqueza e do poder Nos baniro da terra de Adrianpolis para a cidade de Akk. De acordo com o que se diz, a mais desoladora cidade de todo o mundo, a de mais feio aspecto, mais detestvel por ser a metrpole das corujas, dentro de cujos arredores nada se pode*A fim de serem sepultados dois daqueles que morreram, Bahullh deu Seu prprio tapete para que, com o produto da sua venda, se atendesse s despesas do sepultamento, mas, em lugar de usarem o dinheiro para esse fim os soldados lanaram mo dele e jogaram os cadveres num buraco feito na terra. (Abul-Husayn vrih Tafti, historiador persa.)

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS

35

ouvir, salvo o eco de seu lamento. L resolveram aprisionar este Servo, para que se fechem, diante de Nossas Faces, as portas da tranqilidade e do conforto, e para nos privarem de cada benefcio deste mundo, ao longo do restante de nossos dias. Por Deus! Embora a fadiga Me abata e a fome Me consuma, a rocha dura seja Meu leito e as feras do deserto Minhas companheiras, no Me queixarei, mas, sim, sofrerei pacientemente, como sofreram aqueles dotados de constncia e firmeza, atravs do poder de Deus, o Rei Eterno e Criador das naes, e agradecerei a Deus sob todas as condies. Pedimos que, por Sua bondade exaltado seja Ele Pedimos que, por Sua bondade exaltado seja Ele atravs deste encarceramento, Ele livre das cadeias e correntes os pescoos dos homens e os leve a volverem-se, com face sincera, para a Face dAquele que o Potente, o Generoso. Prontamente, Ele responde a quem O invoca, e prximo est de quem com Ele comunga. Imploramos, ademais, que Ele faa desta tribulao sombria uma proteo para o Templo de Sua Causa, e a proteja do ataque das espadas afiadas e das adagas pontiagudas. A adversidade tem sempre dado origem exaltao de Sua Causa e glorificao de Seu Nome. Tal tem sido o mtodo de Deus levado a cabo nos sculos e eras passadas.Abdul-Bah. Narrativa de um Viajante, pp. 111-112.

Priso em Akk Naquele tempo Akk (Acre) era uma cidade-priso para onde eram mandados os piores criminosos de toda parte do Imprio Turco. A chegando, aps uma penosssima travessia martima, Bahullh e Seus adeptos uns oitenta a oitenta e quatro, incluindo homens, mulheres e crianas foram encarcerados no quartel do exrcito. Estava extremamente sujo e sombrio. No havia camas nem conforto de espcie alguma. O alimento era to ruim e insuficiente que, depois de algum tempo, os presos imploraram permisso para comprar sua prpria comida. Durante os primeiros dias as crianas

36

BAHULLH E A NOVA ERA

choravam continuamente e era quase impossvel dormir. Malria, disenteria e outras doenas cedo se manifestaram, e todos, com exceo de dois, caram vtimas. Trs faleceram, e os sofrimentos dos sobreviventes eram indescritveis*. Essa priso rigorosa durou por mais de dois anos e, durante este perodo a nenhum dos bahs era permitido transpor os umbrais da porta da priso, a no ser no caso de quatro homens que saam diariamente sob cuidadosa vigilncia para comprar alimentos. Durante o encarceramento no quartel, visitas aos presos eram estritamente proibidas. Vrios bahs da Prsia fizeram todo o caminho a p, a fim de verem seu querido Lder, mas no lhes foi permitido adentrar as muralhas da cidade. Costumavam ir a uma plancie alm do terceiro fosso, donde podiam ver as janelas do compartimento de Bahullh, que a eles Se mostrava numa das janelas. Depois de fit-Lo distncia, voltavam em prantos para seus lares, mas inflamados com um novo entusiasmo pelo sacrifcio e dedicao. Restries Abrandadas A priso foi por fim mitigada. Houve mobilizao das tropas turcas e o quartel foi requisitado para os soldados. Bahullh e Sua famlia foram transferidos para uma casa nas imediaes e Seus adeptos foram acomodados numa estalagem na cidade. Bahullh permaneceu por mais sete anos confinado nessa casa. Num pequeno quarto prximo quele que Lhe foi designado, treze pessoas de Sua famlia, de ambos os sexos, tiveram que se acomodar como melhor puderam! No incio de sua permanncia nesta casa, sofreram excessivamente em conseqncia da insuficiente acomodao, alimentao inadequada e falta das comodidades usuais da vida. Depois de certo tempo, porm, alguns quartos adicionais foram postos sua disposio, podendo eles assim viver com relativo conforto. Depois que Bahullh e Seus companheiros deixaram o quartel, visitas eram-lhes permitidas, e gradativamente as severas

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS

37

restries impostas pelas ordens imperiais foram sendo relaxadas mais e mais, embora de vez em quando novamente impostas por algum tempo. Abrem-se os Portes da Priso Mesmo durante a pior poca de encarceramento, os bahs no desanimaram e sua serena confiana jamais foi abalada. Enquanto ainda no quartel de Akk, Bahullh escreveu a alguns amigos: No tenhais medo. Estas portas abrir-se-o. Minha tenda ser erguida no Monte Carmelo e o maior contentamento ser alcanado. Esta declarao foi uma grande fonte de consolo para Seus adeptos e, no devido tempo, foi literalmente cumprida. A histria de como se abriram as portas da priso melhor contada nas palavras de Abdul-Bah, traduzidas pelo Seu neto, Shoghi Effendi:Bahullh amava a beleza e o verdor dos campos. Um dia Ele fez a seguinte observao: H nove anos no vejo o verdor dos campos. O campo o mundo da alma, a cidade o mundo do corpo. Ao saber indiretamente destas palavras, compreendi que Ele desejava ir ao campo e eu estava certo que seria bem sucedido em qualquer tentativa de satisfazer esse Seu desejo. Havia em Akk, nesse tempo, um homem chamado Muhammad Psh Safwat, que nos fazia muita oposio. Ele tinha um palcio chamado Mazraih, a cerca de seis quilmetros e meio ao norte da cidade, um lugar muito aprazvel, cercado por jardins e com gua corrente. Fui fazer uma visita a esse psh. Disse-lhe: Pash, deixastes vazio o vosso palcio e estais vivendo em Akk. Ele retrucou: Sou invlido, no posso deixar a cidade. Se for para o campo ficarei s, privado da companhia de meus amigos. Enquanto no estiverdes morando l e a casa estiver desocupada, alugai-a para ns, disse-lhe eu. A princpio surpreendeu-se com a proposta, mas logo consentiu. Arrendei a propriedade por um preo muito baixo, cerca de cinco libras esterlinas anuais,

38

BAHULLH E A NOVA ERA paguei-o por cinco anos e assinei um contrato. Enviei trabalhadores para fazer alguns reparos na casa, tratar do jardim e construir um banheiro. Tambm havia preparado uma carruagem para o uso da Abenoada Beleza*. Um dia, resolvi ir ver o lugar. No obstante as reiteradas ordens contidas em sucessivos firms [ordem emanada de um soberano ou autoridade muulmana] proibindo a nossa passagem alm dos muros da cidade, sa pelo porto da cidade. Soldados estavam de guarda, mas no fizeram nenhuma objeo; ento fui diretamente ao palcio. No dia seguinte sa novamente, acompanhado de alguns amigos e oficiais, sem sermos molestados ou barrados, embora os guardas e sentinelas estivessem a postos em ambos os lados dos portes da cidade. Em outra ocasio, convidei os oficiais e notabilidades de Akk para um banquete, que eu havia preparado, sombra dos pinheiros de Bahj, e noite todos regressamos cidade juntos. Um dia, fui Santa Presena da Abenoada Beleza e disse: O palcio de Mazraih est pronto para Vs, como tambm uma carruagem para Vos conduzir at l. Bahullh recusou-Se a ir, dizendo-me: Sou prisioneiro. Mais tarde, pedi-Lhe outra vez, mas recebi a mesma resposta. Pela terceira vez voltei Sua presena, mas Ele ainda disse No!, e eu no ousei insistir mais. Havia, entretanto, em Akk, um certo Muhammadan Shaykh, homem bem conhecido e de muita influncia, que tinha uma grande afeio por Bahullh e a quem Ele concedia muitos favores. Chamei esse shaykh e expus-lhe a situao. Eu disse: Vs sois ousado. Ide hoje noite Sua Santa Presena, ajoelhai-vos diante dEle, seguraiLhe as mos e no O deixeis enquanto no vos prometer sair da cidade!... Ele era rabe... foi diretamente a Bahullh e sentou-se perto de Seus joelhos. Tomando as mos da Abenoada Beleza e beijando-as, perguntou: Por que no deixais a cidade? Sou prisioneiro, disse Bahullh. Deus nos livre!, respondeu o shaykh, Quem tem o poder de Vos

*Jaml-i-Mubrak (literalmente, Abenoada Beleza), ttulo freqentemente aplicado a Bahullh pelos Seus adeptos e amigos.

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS

39

fazer prisioneiro? Vs Vos tendes conservado na priso. Foi Vossa prpria vontade ser encarcerado e agora Vos imploro a sair e ir ao palcio. Est bonito e verdejante. As rvores esto lindas, e as laranjas parecem bolas de fogo! Assim que a Abenoada Beleza dizia, Sou um prisioneiro, no pode ser, o shaykh tomava Suas mos e beijava-as. Por uma hora inteira esteve a implorar. Finalmente Bahullh disse, khayl khub (muito bem) e, assim, a pacincia e a persistncia do shaykh foram recompensadas*. Ele veio com grande alegria dar-me as boas novas do consentimento de Sua Santidade. A despeito do estrito firm de Abdul-Azz que me proibia de encontrarme ou de ter qualquer relacionamento com a Abenoada Perfeio, tomei a carruagem no dia seguinte e O levei at o palcio. Ningum fez qualquer objeo. Durante dois anos Bahullh permaneceu nesse fascinante e encantador lugar. Foi ento decidido que nos mudssemos para uma outra casa em Bahj. Por causa de uma epidemia, irrompida em Bahj, o dono da casa, com toda a famlia, havia-se retirado com pavor, disposto a cedla gratuitamente a qualquer pretendente. Alugamos a casa por um preo muito baixo, e a foram as portas da majestade e da verdadeira soberania completamente abertas. Embora nominalmente um prisioneiro (pois os severos firms do sulto Abdul-Azz nunca foram anulados), Bahullh mostrava de fato tal nobreza e dignidade em Seu porte e Sua vida, que todos Lhe tinham grande reverncia e os governantes da Palestina invejavam-Lhe a influncia e o poder. Governadores e mutasarrifs, generais e altos funcionrios do lugar solicitavam-Lhe humildemente a honra de serem admitidos Sua presena pedido a que raramente Ele acedia. Em uma ocasio, um governador da cidade implorou este favor porque havia recebido de autoridades superiores a ordem de ir, acompanhado de certo general, visitar a Abenoada Perfeio. Sendo satisfeito o pedido, foram; e o general, que era europeu e um homem muito corpulento, ficou to*Khayli khb lngua persa. Shaykh Aly-i-Mir era o mutf de Akk.

40

BAHULLH E A NOVA ERA impressionado com a majestosa presena de Bahullh que permaneceu ajoelhado prximo porta. Tal foi o constrangimento de ambos os visitantes que somente depois de repetidos convites feitos por Bahullh, foram induzidos a fumar o narguil* oferecido. Mesmo assim, apenas o tocaram com os lbios e ento, pondo-o de lado, cruzaram os braos e sentaram-se numa atitude de tal humildade e respeito que deixou pasmos todos aqueles que estavam presentes. A amorosa reverncia dos amigos, a considerao e o respeito que Lhe eram mostrados por todos os oficiais e pessoas proeminentes, a onda de peregrinos e outros em busca da verdade, o esprito de devoo e servio evidente por toda a parte, o semblante majestoso e augusto da Abenoada Perfeio, a eficcia de Seu mando, o nmero de Seus zelosos adeptos tudo isto testemunhava o fato de que na realidade Bahullh no era um prisioneiro e, sim, um Rei dos Reis. Dois soberanos dspotas Lhe faziam oposio, dois poderosos e autocrticos governantes, mas mesmo enquanto encarcerado em suas prises, Bahullh dirigiu-Se a eles em termos os mais austeros, como se fosse um rei dirigindo-se aos seus sditos. Mais tarde, a despeito dos severos firms, Ele continuou a viver em Bahj como um prncipe. Muitas vezes dizia: Em verdade, em verdade, a priso mais vil foi convertida num Paraso de den. No se testemunhou tal coisa, certamente, desde a criao do mundo.

Sua Vida em Bahj Tendo nos primeiros anos de durezas mostrado como se deve glorificar a Deus, embora num estado de pobreza e ignomnia, Bahullh nos Seus ltimos anos de vida em Bahj, mostrou como se deve glorificar a Deus, sob uma condio de honra e afluncia. As ofertas de centenas de milhares de devotados adeptos colocaram Sua disposio vastos cabedais que Lhe coube administrar. Apesar*Cachimbo largamente usado pelos turcos, hindus e persas composto de um fornilho, um tubo, e vaso cheio de gua perfumada que o fumo atravessa antes de chegar boca.

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS

41

de ter-se descrito a Sua vida em Bahj como realmente majestosa no mais elevado sentido da palavra, no se deve imaginar, porm, que fosse caracterizada por esplendor material ou extravagncia. A Abenoada Perfeio e Sua famlia viviam com a maior simplicidade e modstia; o gasto com luxo egosta era coisa desconhecida naquele lar. Perto de Sua casa os adeptos prepararam um jardim que denominaram Ridvn, no qual Ele passava muitos dias consecutivos ou mesmo semanas, dormindo noite numa pequena cabana. De vez em quando Ele ia mais longe fazendo vrias visitas a Akk e Haifa e, mais de uma vez, armou Sua tenda no Monte Carmelo, como Ele predissera enquanto ainda encarcerado no quartel de Akk. A maior parte do tempo de Bahullh era dedicada prece e meditao, revelao dos Livros Sagrados e Epstolas e educao espiritual dos amigos. A fim de Lhe dar toda a liberdade que essa grande obra reclamava, Abdul Bah encarregou-se dos demais afazeres, incumbindo-se at mesmo de receber os mulls, poetas e membros do governo. Todos estes ficavam encantados e contentes ao conhecerem Abdul-Bah, e inteiramente satisfeitos com Suas explicaes e palestras. E, embora no houvessem encontrado o prprio Bahullh, tornavam-se plenos de sentimento de amizade por Ele, atravs do relacionamento com Seu filho, pois a atitude de Abdul-Bah fazia-os compreenderem a posio de Seu pai. O eminente orientalista, o falecido professor Edward G. Browne, da Universidade de Cambridge, visitou Bahullh em Bahj, em 1890, e registrou suas impresses, como segue:...O meu guia parou por um momento enquanto eu tirava os sapatos. Ento, com um rpido movimento de mo, retirouse e, enquanto eu passava, reps as cortinas; e encontrei-me numa ampla sala, em cujo fim achava-se um baixo div, havendo do lado oposto porta duas ou trs cadeiras. Embora vagamente suspeitasse para onde ia e com quem haveria de estar (pois nenhuma informao clara me fora dada), passaram-se um ou dois segundos antes que eu, palpitante de admirao e reverncia, tomasse finalmente conscincia

42

BAHULLH E A NOVA ERA de que a sala no estava deserta. No canto onde o div tocava a parede, sentava-se uma maravilhosa e venervel figura, coroada de um taj de feltro, do tipo usado pelos dervixes (mas de altura e feitio no comuns), ao redor do qual estava enrolado um pequeno turbante branco. Jamais posso esquecerme da fisionomia daquele a quem olhava, embora no possa descrev-la. Aqueles olhos penetrantes pareciam ler-nos a prpria alma; poder e autoridade residiam naquela testa larga, enquanto as linhas profundas na fronte e rosto indicavam uma idade que os cabelos pretos de azeviche e a barba que, em indistinguvel magnificncia, quase tocava a cintura, pareciam desmentir. No me foi preciso perguntar em presena de quem eu estava, enquanto curvei-me diante daquele que o objeto de uma devoo e um amor que os reis poderiam invejar e os imperadores almejar em vo! Uma voz cheia de dignidade e brandura convidou-me a sentar e ento prosseguiu: Louvado seja Deus por haveres alcanado!... Vieste ver um prisioneiro e exilado... S desejamos o bem do mundo e a felicidade das naes; no obstante, consideram-Nos instigador de discrdia e sedio, merecedor de cativeiro e banimento.... Que todas as naes tornem-se uma na F e todos os homens venham a ser como irmos; que os laos de afeio e unidade entre os filhos dos homens sejam fortalecidos; que cesse a diversidade de religio, e as diferenas de raa sejam anuladas que mal h nisto?... E assim h de ser: essas lutas infrutferas, essas guerras ruinosas ho de passar e a Paz Mxima h de chegar... Vs, na Europa, no precisais disso tambm? No o que Cristo predisse?... Vemos, entretanto, vossos reis e governantes gastarem seus tesouros mais livremente com meios de destruio da humanidade do que com aquilo que poderia conduzi-la felicidade... Estas lutas, esta carnificina e discrdia devem cessar e todos os homens serem como uma famlia... Que o homem no se vanglorie pelo amor a sua ptria e, sim, pelo amor a sua espcie...

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS

43

Se bem posso record-las, tais foram as palavras que, alm de muitas outras, ouvi de Beh*. Que aqueles que as lem, julguem por si mesmos se o propagador de tais doutrinas merece morte e encarceramento, e se mais provvel que o mundo ganhe ou perca com a sua difuso.A Travellers Narrative, p. 39.

Ascenso Assim passou Bahullh, simples e serenamente, o outono da Sua vida na terra, at que, aps um ataque de febre, expirou, em 29 de maio de 1892, com a idade de setenta e cinco anos. Entre as ltimas Epstolas por Ele reveladas, figura Sua Vontade e Testamento, escrita de Seu prprio punho. Nove dias aps Sua morte os selos foram rompidos pelo Seu filho mais velho na presena dos membros da famlia e de alguns amigos, e o seu contedo, curto mas notvel, foi revelado. Por este Testamento, Abdul-Bah foi constitudo o representante de Seu pai e o expositor de Seus ensinamentos, e a famlia e demais parentes de Bahullh e todos os adeptos foram instrudos a dirigirem-se a Ele e obedecer-Lhe. Isso constituiu uma barreira contra o sectarismo e dissenso, e uma garantia unidade da Causa. Bahullh como Profeta importante ter-se uma idia clara de Bahullh como Profeta. Seus discursos, como os dos outros Manifestantes Divinos, podem ser divididos em duas classes: uma, em que Ele escreve ou fala simplesmente como um homem a quem Deus encarregou de levar uma mensagem humanidade, e outra, em que as palavras so proferidas como se viessem diretamente de Deus. No Kitb-i-qn, Ele diz:

*Bahullh.

44

BAHULLH E A NOVA ERA Nas pginas precedentes j designamos dois graus para cada um desses Luminares oriundos das Auroras da santidade eterna. Um deles, o grau da unidade essencial, j explicamos. Nenhuma distino fazemos entre eles. (Alcoro, 2:136) O outro o grau da distino e pertence ao mundo da criao e s suas limitaes. Neste sentido, cada Manifestante de Deus tem uma individualidade distinta, sua Misso definitivamente prescrita, uma Revelao predestinada e limitaes especialmente designadas. Cada um deles conhecido por um nome diferente, caracterizado por um atributo especial, cumpre uma certa Misso e lhe confiada uma Revelao distinta. Assim mesmo como Ele diz: A alguns dos Apstolos Ns fizemos exceder aos outros. A alguns Deus falou e a alguns elevou e enalteceu. E a Jesus, Filho de Maria, demos sinais manifestos e Ns O fortalecemos com o Esprito Santo... por causa desta diferena em seu grau e sua misso, que as palavras que provm desses Mananciais do conhecimento divino parecem divergir. No fora isso, e todas as suas palavras aos olhos daqueles iniciados nos mistrios da sabedoria divina seriam, na realidade, apenas expresses de uma mesma Verdade. Como a maioria dos homens no soube apreciar esses graus aos quais nos referimos, sente-se, portanto, confusa e atnita diante das afirmaes to divergentes pronunciadas por Manifestantes que so, essencialmente, um e o mesmo. Assim, pois, quando aquelas Essncias da existncia so consideradas do ponto de vista de sua unidade e seu sublime desprendimento, os atributos de Deidade, Divindade, Suprema Unicidade e Mais ntima Essncia, lhes tm sido e so aplicveis, j que todas permanecem no trono da Revelao divina, estabelecidas sobre o assento da Ocultao divina. Com seu aparecimento, a Revelao de Deus se manifesta, e atravs de seu semblante, a Beleza de Deus se revela. Assim que se tm ouvido os acentos do prprio Deus pronunciados por esses Manifestantes do Ser Divino.

BAHULLH: A GLRIA DE DEUS

45

Vistos luz de seu segundo grau o grau da distino, da diferenciao, das limitaes, caractersticas e normas temporais eles manifestam servitude absoluta, extrema beleza e abnegao completa. Assim como Ele diz: Sou o servo de Deus. Sou apenas um homem como vs... Se qualquer um dos Manifestantes de Deus Aqueles que a tudo abrangem declarasse: Sou Deus!, Ele certament