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92 BACIA DO RIO PAQUEQUER Segmento Geológico-Geotécnico Biquinha (OAE ribeirão Santa Rita 64+925 ao km 71+075 OAE rio Paquequer) O segmento geológico-geotécnico Biquinha é composto por 7 maciços com certas particularidades geológico-geotécnicas que governam os mecanismos de ruptura predominantes de cada um. Trata- se de um segmento com seção meia-encosta com morros de gradientes médios a elevados para o lado direito (pista 1) e taludes de aterro ou natural em contato com a planície aluvionar ou margem do rio Paquequer para o lado esquerdo (pista 2). Os maciços são sub-segmentados entre os quilômetros: (1) km 64+925 ao km 65+800; (2) km 65+800 ao km 66+600; (3) km 66+600 ao km 67+090; (4) km 67+090 ao km 68+000; (5) km 68+000 ao km 69+195; (6) km 69+195 ao km 70+500; e (7) km 70+500 ao km 71+075. Na Figura 133 apresenta-se o segmento Biquinha e seus sub-segmentos. Figura 133 Aspectos morfológicos do segmento geológico-geotécnico Biquinha.

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BACIA DO RIO PAQUEQUER

Segmento Geológico-Geotécnico Biquinha (OAE ribeirão Santa Rita 64+925 ao km 71+075

OAE rio Paquequer)

O segmento geológico-geotécnico Biquinha é composto por 7 maciços com certas particularidades

geológico-geotécnicas que governam os mecanismos de ruptura predominantes de cada um. Trata-

se de um segmento com seção meia-encosta com morros de gradientes médios a elevados para o

lado direito (pista 1) e taludes de aterro ou natural em contato com a planície aluvionar ou margem

do rio Paquequer para o lado esquerdo (pista 2). Os maciços são sub-segmentados entre os

quilômetros: (1) km 64+925 ao km 65+800; (2) km 65+800 ao km 66+600; (3) km 66+600 ao km

67+090; (4) km 67+090 ao km 68+000; (5) km 68+000 ao km 69+195; (6) km 69+195 ao km

70+500; e (7) km 70+500 ao km 71+075. Na Figura 133 apresenta-se o segmento Biquinha e seus

sub-segmentos.

Figura 133 – Aspectos morfológicos do segmento geológico-geotécnico Biquinha.

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Os maciços 1 e 2 (km 64+925 ao km 66+600) apresentam línguas de páleo-tálus-colúvio no sopé de

escarpa rochosa. Essas línguas são estreitas e situam-se entre maciços em solo residual,

eventualmente capeados por colúvio pouco espesso. As Figuras 134 e 137 mostram os aspectos dos

relevos dos maciço 1 e 2. Na Figura 135 apresentam-se as cicatrizes de ruptura mobilizadas na

encosta, na porção residual e a montante do afloramento rochoso no topo. Dependendo do volume

de material deslizado a montante do topo rochoso e do seu impacto sobre o depósito de tálus-

colúvio pode haver ruptura com liquefação do depósito situado no sopé da escarpa (Figura 136).

Figura 134 – Sub-segmento maciço 1 (km 64+925 ao km 65+800). Presença de depósito de páleo-tálus-

colúvio no sopé do afloramento rochoso situado entre terrenos de pacote espesso de solo residual.

Figura 135 – Depósito de páleo-tálus-colúvio podem ser ativados pelo impacto de massa de solo a montante,

como por exemplo por meio de deslizamento do capeamento de solo acima do afloramente rochoso. Nos

pacotes espessos de solo a ruptura assume maior porte e, normlamente, ocorre na interface dos materiais de

diferentes propriedades mecânicas e hidráulicas.

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Figura 136 – Vistas lateral e frontal do depósito de páleo-tálus-colúvio. Deslizamentos na porção superior,

dependendo da força de impacto, podem colapsar o depósito no sopé do afloramento rochoso.

Figura 137 – Sub-segmento maciço 2 (km 65+800 ao km 66+600). Morro residual convexo com presença de

língua de tálus-colúvio no sopé do afloramento rochoso.

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A configuração geométrica do morro, superfície convexa e elevada altura, e o perfil geológico do

manto de alteração favorecem ocorrência de escorregamentos. Escalonamentos do talude podem ser

eficazes para estabilização de trechos colapsados, desde que a escavação remova o capeamento de

solo residual maduro e a superfície escavada seja protegida com revestimento apropriado. Na Figura

138 observa-se cicatriz de ruptura e reconformação de antiga ruptura.

Figura 138 – Cicatriz de ruptura e antiga ruptura de grandes proporções reconformada (talude escalanado

com implantação de sistema de drenagem superificial - km 66+175, pista 1).

Em linhas gerais, os maciços 3 e 4 (km 66+600 ao km 68+000, Figuras 139 e 142) mantêm o

mesmo padrão de comportamento. As curvaturas externas do rio Paquequer causam rupturas nos

taludes de jusante (Figuras 140 e 143). Os morros convexos são caracterizados por um pacote

espesso de solo residual, que quando rompem mobilizam rupturas rotacionais não muito profundas,

mas de grande porte (Figura 141), em função da elevada altura.

Figura 139 – Vista aérea do sub-segmento maciço 3 (km 66+600 ao km 67+090).

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Figura 140 – Ruptura em talude de jusante resultante de ersão fluvial atuante na curvatura externa do rio

Paquequer (km 66+930).

Figura 141 – Cicatriz de escorregamento pouco profundo de grandes proporções em encosta com focos

erosivos (km 66+650).

No sub-segmento 4 a encosta se afasta mais da rodovia (Figura 142) e escorregamentos para o lado

de montante (pista 1) não chegam a atingir a rodovia. Ocorrências são observadas nos contatos da

curvatura externa do rio Paquequer com o pé dos taludes de jusante em aterro ou terreno natural

(Figura 143).

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Figura 142 – Vista aérea do sub-segmento maciço 4 situado entre os quilômetros km 67+090 e km 68+000.

Figura 143 – Ruptura remontante em talude de jusante decorrente da ação da água na curvatura externa do

rio Paquequer. O solopamento da base do talude leva o talude ao colapso, inclusive estrutura de contenção

(muro de gabião), atingindo a pista de rolamento (km 67+435, pista 1). Tal situação poderia ter sido evitada

através da execução de enrocamento.

Nos maciços 5 e 6 (km 68+000 ao km 70+500) o vale do rio Paquequer é muito fechado encaixado

em forma de “V” com vertentes residuais proeminentes com amplitude topográfica de 200m, de

gradiente a elevado (Figura 144 e 149). Predominam os maciços rochosos recobertos por capa de

solo com espessura variável. As matrizes do manto de alteração variam entre solos finos argilosos

(nos topos) a solos com granulometria grosseira (solo residual jovem) e saprólitos. Entre os

quilômetros km 68+000 ao km 69+195 o vale é mais profundo em relação à plataforma da rodovia,

o que configura um talude de jusante muito alto e íngreme composto por rocha capeada por solo

com espessuras variáveis (Figura 145). A mesma característica pode ser observada nos taludes de

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montante. Entretanto, devido ao alívio de tensões promovido pela escavação da rocha, tem-se um

material fraturado com mergulho na direção da rodovia (Figura 146). O contato entre materiais de

diferentes propriedades quando saturado favorece a mobilização de ruptura (Figura 147). Diversas

cicatrizes de ruptura são observadas nos taludes de montante e jusante, predominando aquelas

resultantes de escorregamentos translacionais que ocorrem na interface solo-rocha (Figura 148).

Figura 144 – Relevo do sub-segmento maciço 5 (km 68+000 ao km 69+1950 caracterizado por vale fechado

encaixado em forma de “V” com encosta rochosa recoberta por camadas de solo com espessuras variáveis.

Figura 145 – Seção meia encosta escavada em rocha com desnível acentuado entre a plataforma rodoviária e

nível d’água do rio Paquequer. Verificam-se diversas cicatrizes de ruptura no taludes de montante e jusante.

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Figura 146 – Maciço em rocha fraturada com atitude desfavorável a estabilidade do talude e formação de

blocos e lascas de rocha. Notam-se ainda pontos de surgência nas fraturas das rochas.

Figura 147 – Deslizamento de capa de solo residual maduro sobre saprólito (km 68+735, pista 1).

100

Figura 148 – Escorregamento múltiplo retrogressivo translacional rotacional e escorregamento translacional

mobilizados pela redução de resistência ao cisalhamento na interface solo-rocha.

Ainda que a rodovia siga paralela ao vale encaixado em “V” do rio Paquequer, no sub-segmento

maciço 6 (km 69+195 ao km 70+500) o nível da plataforma é mais próximo do N.A. do rio

Paquequer, de maneira que os taludes de jusante são em solo e são mais afetados por erosões

fluviais que deflagram rupturas remontantes. Os maciços proeminentes são em rocha sã pouco

fraturada recobertos por capas de solo de espessuras variáveis (Figura 150) . Predominando os

escorregamentos na interface solo-rocha, que mobilizam solo e matacões de rocha de alturas

elevadas (Figura 151).

101

Figura 149 – Relevo do sub-segmento maciço 6 (km 69+195 ao km 70+500).

Figura 150 – Formas residuais proeminentes caracterizadas por escarpas rochosas recobertas camadas de

solo de espessuras variáveis.

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Figura 151 – Escorregamentos translacionais na interface solo-rocha mobilizando matacões de rocha e

deixando-os em condição precária de estabilidade.

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O sub-segmento maciço 7 (km 70+500 ao km 71+075 – Figura 152) é um compartimento de transição, em

que há rupturas por erosão fluvial nos taludes de jusante nos contatos com os meandros do rio Paquequer e

escorregamentos múltiplos retrogressivos translacionais rotacionais tendo origem na perda de resistência na

interface solo-rocha (Figura 153).

Figura 152 – Aspectos topográficos do sub-segmento maciço 7 (km 70+500 ao km 71+075).

Figura 153 – Rupturas: por erosão fluvial na curvatura externa do rio Paquequer (talude de jusante) e

translacional resultante da redução de resistência na interface solo-rocha.

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BACIA DO RIO PAQUEQUER

Segmento Geológico-Geotécnico Poço do Peixe (OAE rio Paquequer km 71+075 ao km

73+560)

O segmento geológico-geotécnico Poço do Peixe (Figura 154) é em perímetro urbano (edificações

para os dois lados) e apresenta seção meia encosta, com taludes de corte em morros para o lado da

esquerda (pista 2). Para o lado da direita (pista 1) os taludes de jusante são baixos ou simplesmente

nivelados com a rua lateral existente. O rio Paquequer, a direita da rodovia, passa afastado do corpo

estradal, havendo edificações entre o rio e bordo da rodovia. Não há, portanto, no segmento Poço do

Peixe rupturas nos talude de jusante. Os morros residuais convexo-côncavos interceptados pela

escavação da rodovia apresentam amplitude variando entre 60m e 160m, com gradientes médios.

Figura 154 – Relevo do segmento geológico-geotécnico Poço do Peixe. Perímetro urbano com edificações

para os dois lados. Rio Paquequer passa afastado da rodovia. Encostas compostas por solo residual com

eventuais afloramentos rochosos nas bases dos taludes.

105

Verifica-se que na contra encosta o rio do Albuquerque possui trechos de baixa declividade em cota

superior à plataforma rodoviária. Tal pode ser uma importante fonte de infiltração de água no

terreno. No km 71+795 notam-se surgências d’água nas fraturas da rocha que compõem o talude de

corte devida proximidade do rio do Albuquerque em relação à rodovia. O afloramento rochoso de

baixa altura situa-se na base da encosta, sendo composto por rocha alterada muito fraturada com

formação de blocos e lascas de rocha, que ficam em condições precárias de estabilidade. Verificam-

se cicatrizes de ruptura planares e em cunha (Figura 155).

Figura 155 – Afloramento de rocha alterada fraturada na base da encosta com surgência d’água nas fraturas e

com presença de blocos e lascas de rocha em condições precárias de estabilidade. Cicatrizes de ruptura

planares e em cunham denunciam a susceptibilidade de mobilização de escorregamentos (km 71+975).

106

BACIA DO RIO FISCHER

Segmento Geológico-Geotécnico Fischer 01 (km 73+560 ao km 76+510)

O segmento geológico-geotécnico Fischer 01 (Figura 156) é caracterizado pela presença de morros

residuais convexo-côncavos com amplitude variando de 100m a 200m, com gradientes médios a

elevados. As rupturas promovidas pelo rio Fischer se diferenciam em dois segmentos situados entre

o km 73+560 e km 75+000. Tem-se seção meia encosta com o rio Fischer margeando os dois lados

da rodovia: até o km 74+450 o rio passa a direita da pista 1 (Figura 157) e depois a esquerda da

pista 2 (Figura 158). No km 75+115 tem-se obra de arte especial (OAE) para transposição da

cascata do rio Fischer sob a rodovia. Os taludes da margem direita do rio Fischer (lado direito da

rodovia, pista 1) situados entre os km 73+560 e km 74+450 (transposição sob a rodovia - OAC)

apresentam altura pouco superior a 10m, sendo mais afetados pela presença de água subterrânea

(Figura 159), do que pela erosão fluvial, visto que nesse trecho o rio se desenvolve em baixa

declividade e por vezes passa afastado do pé do talude. Entre os km 74+450 e 75+115 o rio margeia

o lado esquerdo da rodovia (pista 2), onde os taludes de jusante são mais altos e por vezes muito

próximos à calha fluvial que possui elevada declividade e leito em assoalho rochoso. Assim, os

taludes de aterro ou natural da pista 2 são solicitados pela força da água no rio Fischer, que se soma

à sua configuração geométrica pouco segura (Figura 160). Já para o lado de montante não há muita

distinção. Notam-se cicatrizes de ruptura vegetadas e recentes com processo erosivo em evolução

(Figura 161). Soluções convencionais de estabilização por meio de operações de terraplenagem

interceptam o horizonte de solo residual jovem (material de granulometria mais grosseira e com

baixo intercepto de coesão) que precisam de tratamento especial em sua superfície para evitar

rupturas superficiais contínuas por perda de coesão (Figura 162).

Figura 156 – Topografia do segmento geológico-geotécnico Fischer 01.

107

Figura 157 – Seção meia encosta com rio Fischer situado à direita da pista 1. Detalhe do encontro dos rios

Fischer e Paquequer.

Figura 158 – Trecho em que o rio Fischer passa à esquerda da rodovia. O vale é mais profundo com

declividade acentuada. Os taludes de jusante da pista 2 são altos e sua base é afetada pela força da água do

rio Fischer.

108

Figura 159 – Mobilização de rupturas (trincas abertas com abatimento no pavimento, envolvendo

acostamento e pistas de rolagem) para o lado de jusante resultante, principalmente, pelas pressões de água

subterrânea oriunda da encosta de montante (km 73+730 e km 73+840).

109

Figura 160 – Ruptura remontante ocasionada pelo solopamento da base do talude em trecho que o rio Fischer

apresenta vale profundo (talude alto com base na margem da calha fluvial) e declividade elevada (km

74+720).

Figura 161 – Cicatriz de ruptura parcialmente vegetada com focos erosivos em processo de evolução (km

75+650). O escorregamento retrogressivo teve início no contato da matriz de solo com a superfície da rocha

afloramente na base do talude.

110

Figura 162 – Ruptura translacional. A solução de terraplenagem revela o perfil geotécnico. Devida à baixa

coesão do solo residual jovem (alteração) faz-se necessária a proteção da superfície do talude (km 75+650).

111

BACIA DO RIO FISCHER

Segmento Geológico-Geotécnico Fischer 02 (km 76+510 ao km 80+150)

O segmento geológico-geotécnico Fischer 02 situa-se em perímetro urbano do município de

Teresópolis, sendo suas encostas e taludes densamente ocupados por edificações e assentamentos

precários (Figuras 163 e 164). O rio Fischer passa canalizado. Trata-se de um segmento totalmente

marcado por intervenções antrópicas prejudiciais a estabilidade dos taludes, em que as geometrias e

condições de drenagem dos taludes são constantemente alteradas. Ainda que ocorra ruptura por

condicionante geológico-geotécnico (Figura 165), de maneira geral, os mecanismos de ruptura são

governados por essas intervenções. Ocorrem lançamentos de esgoto e deposição de lixos e detritos

no talude. Tem-se desagues inadequados ocasionando focos erosivos. Os taludes escavados são

praticamente verticais e sofrem erosões e rupturas. Ocorrem escavações nos taludes para

implantação de caminhos de acesso e de edificações. Verificam-se tubulações de esgoto com sinais

de vazamento. Nota-se vegetação fora do prumo. Para o lado de jusante (pista 2) predominam

escavações na base do talude que mobilizam rupturas rotacionais evidenciadas pelas trincas em

formato de meia lua com afundamento no pavimento. As Figuras 166 e 167 mostram as

intervenções típicas e seus efeitos na condição de estabilidade dos taludes.

Figura 163 – Topografia do segmento geológico-geotécnico Fischer 02.

112

Figura 164 – Uso ocupação das encostas e taludes do segmento Fischer 02 situado em perímetro urbano.

Figura 165 – Colapso de talude resultante de condicionantes geológica-geotécnica e climáticas (km 76+350).

Verificam-se rupturas mesmo após o retaludamento resultante da redução da coesão.

113

Figura 166 – Intervenções antrópicas típicas: escavações, sobrecarga de edificações, vazamento de esgoto,

desague inadequado e lixo.

114

Figura 167 – Intervenções típicas: escavações na base dos taludes de jusante para implantação de edificações

e caminhos de acesso. Verificam-se trincas e afundamentos no pavimento.

115

BACIA DO CÓRREGO MEUDON

Segmento Geológico-Geotécnico Meudon (km 80+150 ao km 83+050 / km 84+200)

O segmento geológico-geotécnico Meudon apresenta boa parte de sua área em perímetro urbano,

sendo suas encostas e taludes ocupados por edificações, assentamentos precários e condomínios

residenciais (Figura 168). O segmento Meudon (Figura 169) também envolve parte do segmento

geológico-geotécnico Serra do Cavalo (Figura 170). O córrego Meudon é canalizado e não afeta

diretamente os taludes. O segmento Meudon pouco se diferencia do Fischer 02 em termos de

agentes efetivos de instabilização dos taludes. A variável é o perfil geotécnico. Nota-se presença de

matacões na matriz de solo, alguns expostos pela erosão ou por escavação irregular e, por

consequência em condições precárias de equilíbrio (Figura 171). Em comum têm-se as intervenções

antrópicas que modificam as condições de estabilidade dos taludes, através de constantes alterações

nas geometrias e nas condições de drenagem dos maciços. Ainda que ocorra ruptura por

condicionante geológico-geotécnico (Figura 172), de maneira geral, os mecanismos de ruptura são

governados por essas intervenções. Ocorrem lançamentos de esgoto e deposição de lixos e detritos

no talude. Tem-se desagues inadequados ocasionando focos erosivos. Os taludes escavados são

praticamente verticais e sofrem erosões e rupturas. Ocorrem escavações nos taludes para

implantação de caminhos de acesso e de edificações. Verificam-se tubulações de esgoto com sinais

de vazamento. Para o lado de jusante (pista 2) predominam escavações na base do talude que

mobilizam rupturas rotacionais evidenciadas pelas trincas em formato de meia lua com

afundamento no pavimento. As Figuras 173 a 175 mostram as intervenções típicas e seus efeitos na

condição de estabilidade dos taludes. Ainda que tais intervenções sugiram que ocorram em áreas

com população de classe social menos privilegiada, também se verificam em condomínios de luxo

de Teresópolis (Figura 173).

Figura 168 – Uso ocupação do segmento Meudon.

116

Figura 169 – Segmento geológico-geotécnico Meudon muito influenciado pelas intervenções antrópicas do

perímetro urbano de Teresópolis (km 80+150 ao km 83+050).

Figura 170 – Segmento Meudon envolve parte do segmento geológico-geotécnico Serra do Cavalo (km

80+150 ao km 84+200). Destacado em vermelho o parte do segmento Meudon que envolve a Serra do

Cavalo (km 83+150 ao km 84+200).

117

Figura 171 – Intervenções antrópicas no sopé da Serra do Cavalo, tais como mudanças de geometria e das

condições de drenagem, expõem blocos de rocha parcialmente envolvidos pelo manto de alteração, que por

vezes se desprendem e atingem a rodovia (km 84+090).

Figura 172 – Instabilização de taludes de corte resultante de condicionantes geológico-geotécnicas e

climáticas. Verificam-se as rupturas rotacionais pouco profundas foram mobilizadas em talude que já havia

sofrido deslizamento (km 80+550).

118

Figura 173 – Escavações na base do talude de aterro ou natural realizadas em bairros menos privilegiados

(km 83+845 e km 84+085) e, também, em condomínios de alto padrão de Teresópolis (km 81+080). Nesse

último, inclusive há intervenção na drenagem (bueiro) e aterro no pé do talude que impede a saída de água

subterrânea, elevando o lençol freático (redução da segurança do talude ao deslizamento).

119

Figura 174 – Intervenções antrópicas em perímetro urbano do município de Teresópolis e obras de contenção

construídas para estabilização de taludes afetados por tais intervenções.

120

Figura 175 Intervenções antrópicas típicas: escavações, sobrecarga de edificações, vazamento de esgoto,

desague inadequado e lixo.

121

BACIA DO RIO PAQUEQUER

Segmento Geológico-Geotécnico Serra do Cavalo (km 84+200 ao km 85+950 OAE Represa

Guinle)

A área de influência do segmento geológico-geotécnico Serra do Cavalo (Figura 176) encontra-se

nos morros residuais situados no sopé da Serra do Cavalo na contra encosta da Serra do Mar (Serra

dos Órgãos). Sua morfologia é caracterizada por relevos de degradação em áreas montanhosas de

relevo acidentado, com vertentes predominantemente retilíneas a côncava-convexas, escarpadas e

topos de cristas alinhadas, aguçados ou levemente arredondados (Figura 177). Trata-se de um

trecho em seção meia encosta com talude de jusante para o lado esquerdo (pista 2). O talude de

montante é caracterizado por duas seções: (i) capa de solo sobre base rochosa com aumento de

espessura rumo a montante da encosta e (ii) manto de alteração pouco a muito intemperizado com

presença de blocos de rocha parcialmente imersos ou simplesmente apoiados (Figura 178). Ocorrem

quedas de blocos (Figura 179), ruptura de borda em aterros e escorregamentos do tipo translacionais

(Figura 180), principalmente associados à interface de materiais com diferentes propriedades

mecânicas e hidráulicas. Os afloramentos de rocha apresentam fraturas mergulhando na direção da

rodovia (Figura 181). Verificam-se pontos de surgências d’água e muita umidade na base do talude

de corte e na crista do talude de aterro ou natural (lado de jusante, pista 2 – Figura 182). Nos aterros

com taludes estendendo-se no sentido do fundo do vale do Paquequer, próximos às margens do

curso d’água, comumente ocorrem situações de risco geológico-geotécnico relacionado a trincas,

abatimentos, solapamentos, erosões e escorregamentos.

Figura 176 – Aspectos topográficos do segmento geológico-geotécnico Serra do Cavalo (km 84+200 ao

85+950 OAE Represa Guinle – destacado com linha vermelha pontilhada).

122

Figura 177 – Visão aérea do segmento Serra do Cavalo. Encosta íngreme com solos rasos na base do talude e

afloramentos rochosos com presença de fraturas e surgência d’água.

123

Figura 178 – Presença de blocos de rocha parcialmente imersos na matriz de solo ou simplesmente apoiados

no terreno.

124

Figura 179 – Quedas de blocos de rocha.

Figura 180 – Cicatriz de escorregamento translacional de solo raso sobre superfície inclinada do maciço

rochoso (km 84+1035, pista 1).

125

Figura 181 – Talude de corte com base em rocha alterada a pouco alterada, fraturada e recoberta por solos

residuais jovem e maduro (km 84+830, pista 1). A atitude das fraturas é desfavorável à estabilidade do

talude, mergulham na direção da rodovia e apresenta muita surgência d’água.

Figura 182 – Seção meia encosta com contribuição de água subterrânea oriunda da encosta de montante

(base da Serra do Cavalo), escorregamentos de borda no talude de margem do rio Paquequer (altura H>10m)

e indícios de movimentação – trincas e abatimentos (km 85+640, pistas 2).

126

Mudar a geometria do talude geralmente significa reduzir a altura do talude, ou reduzir seu ângulo,

e, quando for possível implantar esta medida, ela se constituirá, via de regra no meio mais barato de

melhorar a estabilidade do talude. No entanto, nem sempre é a medida mais efetiva, pois a redução

de altura, ou ângulo do talude, não só reduz as forças solicitantes que tendem a induzir a ruptura,

mas também reduz a tensão normal e, portanto a força de atrito resistente, que depende basicamente

da tensão normal atuante na superfície considerada.

No km 85+700 houve uma ruptura translacional bi-linear no talude de corte, inicialmente de

proporções relativamente pequenas. Na Figura 183 apesenta-se o início do processo de

instabilização. Observa-se o plano de ruptura interceptando o solo residual jovem. O projeto

original previa a execução de uma cortina ancorada e drenos profundos. Entretanto, optou-se por

outra solução que previa a reconformação do talude (suavização da inclinação do talude), muro ao

pé da encosta e drenagem superficial (Figura 184). Após período de fortes chuvas que ocorreram

em novembro de 2003 houve o colapso da solução adotada (Figura 185). Antes do acidente

observaram-se trincas e movimentos. O colapso envolveu um trecho com aproximadamente 30 m

de desnível e 60 m de extensão. Conforme apresentado na Figura 8, observou-se próximo à base

rocha aflorante e material escorregado oriundo de trechos situados acima.

Figura 183 – Início do processo de instabilizaçãono km 85+700.

127

Figura 184 – Solução adotada para estabilização do talude de corte do km 85+700: reconformação

(suavização da inclinação do talude), muro ao pé da encosta e drenagem superficial (fevereiro de 2003).

Figura 185 – Colapso da solução adotada (suavização do talude, muro de pé e drenagem superficial) para o

km 85+700 após período chuvoso.

128

Da experiência no km 85+700 fica o aprendizado. O próprio retaludamento, executado para

aumentar a estabilidade da massa, pode vir a reduzir não só as forças solicitantes, que tenderão a

induzir a ruptura, mas também a pressão normal atuante no plano potencial de ruptura e,

consequentemente, a força de atrito resistente. Nos horizontes de solo residual jovem, constituídos

por solo arenoso, de maior permeabilidade que o horizonte de solo residual maduro, irá se

desenvolver uma intensa rede de percolação de água, confinada pelo horizonte menos permeável de

posição superior. Disso resultará o aparecimento de subpressões devidas à percolação, agindo sobre

a parede constituída pelo horizonte de solo residual jovem (capeamento do manto de alteração),

além de uma parcela de pressões neutras resultantes do processo de ruptura. É possível observar, na

prática, que frequentemente a superfície de ruptura se estabelece ao longo de horizontes arenosos

mais permeáveis e que o horizonte menos permeável é deslocado como um todo, constituindo a

parte superior da massa escorregada. Deve-se entender que escorregamentos translacionais de solo,

em perfis de alteração como os da região, não se limitam ao transporte de materiais terrosos, mas

envolvem, regra geral, blocos rochosos, mais ou menos alterados, contidos em tais perfis de

alteração.