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As Divas na Cozinha

histórias e receitas das estrelas da música e do cinema

Evânio Alves

bolo de chocolate e de coco

Título original em português:

As Divas na Cozinha - Histórias e Receitas das Estrelas da Música e do Cinema

2ª Edição 2013 - Rio de Janeiro – Brasil

Copyright © Evânio Alves – Todos os direitos reservados

ISBN 978-85-911457-1-3

N˚ registro 569.223

Produção e publicação: Evânio Alves

Auxiliar de pesquisa, revisão, tradução e bibliografia:

Naira Álvares da Cunha

Designer gráfico: Evânio Alves e danielle martins (traço design)

Evânio Alves é escritor/pesquisador e visagista, natural de Minas Gerais e atualmente reside emIpanema Rio de Janeiro. É autor tambem do livro “As Divas no Brasil” lançado em 2010, que tem aversão francesa “Les Divas Européennes au Brésil” lançada em Paris em 2013. Para adquirirqualquer uma das obras do autor acesse o site www.espacodivas.com ou diretamente pelo e-mail:[email protected] ou pelos telefones: 21-25235299 e 21-94103008.

Nenhuma parte deste livro pode ser usada ou reproduzida de qualquer forma sem a préviaautorização do autor, exceto em breves citações feitas em jornais ou revistas.

Índice

Dedico a segunda edição deste livro a saudosa cadelinha Kika, que hoje mora no céu e que foi umadas melhores e mais deliciosas coisas que aconteceu em minha vida!

Ava Gardner - Bolo de Chocolate e Bolo de Coco . 8

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Audrey Hepburn - Spaghetti Pomodoro 14

Angela Lansbury - Pão de Tâmaras e Nozes 19

Bidu SayÃo - Sopa de Abobrinha com Curry 23

Bette Davis - Mistura Bandeira Vermelha 26

Brigitte Bardot - Batata Assada com Laranja 30

Barbara Stanwyck - Chow Mein de Atum 34

Clara Bow - Chartreuse de Frango 38

Dinah Shore - Pão de Cerveja 43

DOROTHY DANDRIDGE - Omelete Emocional 47

DALIDA - Salada Mexicana 52

DEBBIE REYNOLDS - Caçarola de Berinjela 57

DOLORES DEL RIO - Fudge de Nozes 61

DEBORAH KERR - Sopa Cremosa de Beterraba 65

DORIS DAY - Swinging Burgers da Doris ...................................................... 69

ELIZABETH TAYLOR - Frango ao Vinho ......................................................... 73

ELLA FITZGERALD -Tronco de Queijo Cheddar ........................................... 78

GERTRUDE STEIN E ALICE B. TOKLAS - Sopa Francesa de Cebola ............... 82

GINGER ROGERS - Tomates Verdes Fritos .................................................... 86

GRETA GARBO - Almôndegas Suecas ........................................................... ...91

GYPSY ROSE LEE - Caldo de Peixe Português .............................................. ....96

INGRID BERGMAN - Truta com Molho Cremoso ....................................... 101

JANE FONDA - Creme de Laranja com Calda de Framboesa ................... 105

JOAN CRAWFORD - Île Flotante e Bife com Molho Roquefort ................. 110

JOAN FONTAINE - Gumbo de Peixe Crioulo .............................................. 114

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JULIE ANDREWS - Supremo de Peito de Frango Assado ........................... 119

JOSEPHINE BAKER - Spaghetti à Bolonhesa ................................................ 123

JUDY GARLAND E LIZA - Torta Suprema e Batatas com Caviar ................ 128

JULIE LONDON - Enchiladas ......................................................................... 134

JANET LEIGH - Gâteau Doré .......................................................................... 138

KATHARINE HEPBURN - Brownies da Kate e Bolo de Passas ..................... 142

KIM NOVAK - Macaron Cítrico com Chocolate Branco ............................ 147

LAUREN BACALL - Sopa Francesa de Batatas e Agrião .............................. 151

LANA TURNER - Milk-Shake de Baunilha .................................................... 155

LENA HORNE - Feijão “bom de morder” ...................................................... 160

LORETTA YOUNG - Salada Chiffonade ......................................................... 165

LUCILLE BALL - Delícia Sino-americana ..................................................... 168

MAE WEST - Compota de Frutas .................................................................. 173

MARLENE DIETRICH - Schnitzel (filé de vitela) ........................................... 177

MARILYN MONROE - Recheio de Peru ......................................................... 188

MARY PICKFORD - Tortinhas de Geleia de Framboesa .............................. 186

MARIA CALLAS - Almôndegas de Berinjelas ............................................... 196

MYRNA LOY - Sopa Rápida de Galinha com Pimentão ............................. 195

MISTINGUETT - Tournedos com Patê de Foie Gras ................................... 199

NATALIE WOOD - Strogonoff de Carne ........................................................ 202

NORMA SHEARER - Sopa de Lentilha ........................................................... 206

RITA HAYWORTH - Bolo de Anjo .................................................................. 208

SHIRLEY MACLAINE - Crème Brûlée ............................................................ 213

SARAH BERNHARDT - Glacê de Chocolate e Cookies ................................ 218

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SOPHIA LOREN - Massa com Creme de Gorgonzola ................................. 223

VERONICA LAKE - Sopa de Cenoura e Maçã .............................................. 227

VIVIEN LEIGH - Filé de Linguado Véronique ............................................. 231

ZEZE MOTTA - Salada Granulada.................................................................. 236

ZSA ZSA GABOR - Goulash ........................................................................... 240

YVONNE DE CARLO - Êxtase Exótico de Frango ......................................... 244

EVÂNIO ALVES - Linguiças Carameladas e Torta de Café .......................... 248

Apresentação

bolo de chocolate e de coco

As Divas na Cozinha

Sempre que pensamos em divas logo imaginamos mulheres glamourosas usando casacos de vison,andando sobre tapetes vermelhos, se apresentando nos palcos e cinemas, ou distribuindo autógrafosem meio a uma multidão de fãs. Mas em momento algum passa pela nossa mente que estas grandesmulheres, que viviam a maior parte do tempo em frente aos holofotes, ou dando entrevistas, quandoestavam dentro de suas casas num momento de privacidade, iam para a cozinha preparar algumarefeição. Revelando-se assim mulheres normais e mortais, como qualquer outra dona de casa ouesposa.

Pois bem, fui vítima também desta ideia preconceituosa, ou não, de achar que as divas nãocozinhavam. Durante toda a pesquisa para conclusão do meu primeiro livro “As Divas no Brasil”lançado em 2010, quando me deparava com alguma parte que falava de Marlene Dietrich, RitaHayworth, Greta Garbo, Ava Gardner, Elizabeth Taylor ou qualquer outra na cozinha, me vinha estaquestão: Por que mulheres tão ricas, tão famosas e que viviam rodeadas de empregados para lhesservir iam para a cozinha?

Depois de muito analisar, acabei descobrindo que motivos variados levavam as divas até este cantotão especial da casa. Algumas iam por tradição, pois foram instruídas pelas mães desde cedo aaprender a cozinhar e mesmo depois de famosas fizeram questão de dar continuidade. Outras, decerta forma foram obrigadas a cozinhar quando chegavam sem dinheiro em Hollywood à procura dosucesso. Já outras, nascidas de berço ou não, não se interessavam pela arte da culinária e se viravamde outra forma. Indo um pouco mais profundo na questão, vi que algumas divas se metiam na cozinhapara aliviar tensões emocionais, caso de Marilyn e Dorothy Dandridge.

Enfim, os motivos são de fato variados. Mas não me contentando com a interessante variedade dashistórias que as levavam até a cozinha, não me dei por satisfeito e quis encontrar um motivo únicoentre elas. Foi então que, pegando uma carona na viagem de Woody Allen no filme “Meia Noite emParis”, retrocedi no tempo e marquei uma horinha com o mago de todas as respostas, o doutor Freud,

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para ver se ele me ajudava a encontrar a solução. Depois de muito tempo batendo papo com o mestreda psicanálise, recebi uma resposta curta e objetiva: “Olhe bem, caro amigo, nem eu te respondoesta. Mas de qualquer forma, para você não perder sua viagem até aqui, vai aí uma receitinha minha.Porém, confessando que não sou nada grato aos que dizem que respondo à todas as questões, não mepergunte por que vou para a cozinha pois também não saberei te responder.”

Fettuccine Libido

Freud, com sua ampla experiência em sexualidade, acreditava que esta receita deve ser preparadasomente por homens, ou quase homens, para ser mais claro, homossexuais. Pois ele afirma queapenas os homossexuais ostentam a combinação perfeita da simples libido masculina com acomplexíssima libido feminina. Mas acho que as mulheres também devem experimentar. Vai aí:

Cozinhe os fettuccines por cerca de 10 minutos, ou até o momento em que se mostrem mesmo aldente. No entretempo derreta um tablete de manteiga sem sal numa panelinha. Incorpore ¼ de xícarade farinha, mais ¼ de xícara de parmesão bem ralado. Lentamente, acrescente uma xícara de cremede leite previamente aquecido. Não pare de misturar. Numa outra panelinha, refogue 1/2 xícara deervilhas e algumas colheradas de presunto em cubinhos. Adicione ao molho de queijo e manteiga.Escorra a massa e lance ao molho.

Dica do mestre: No instante de servir, apresente o prato desmunhecadamente, se é que o advérbioexiste em seu idioma.

Evânio Alves

Ava Gardner

bolo de chocolate e de coco

As Divas na Cozinha

Embora seja difícil de imaginar, a estrela Ava Gardner (1922-1990), aquela que arrasou o coraçãode Humphrey Bogart com sua estonteante beleza selvagem em “A Condessa Descalça’ de 1954, tinhaum forte por cozinha, além dos homens. Não por menos, pois Ava cresceu na fazenda do pai nocondado de Johnston, acostumada com muita fartura e sentindo o cheiro dos deliciosos pratos que asua mãe, apelidada de Molly, preparava na cozinha.

Aliás, a educação de Ava na cozinha não foi de imediato. Naqueles tempos de infância, a prendadamãe Molly insistia com Ava para ajudá-la nos afazeres culinários, mas Ava, rebelde desde cedo, nãolevava a sério, nem queria pôr a mão na massa e saía da cozinha correndo para brincar com osmeninos. Porém, pouco tempo depois, Ava abandonaria a rebeldia e ficaria ao lado da mãe paraaprender a cozinhar.

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Mais tarde, assim que chegou em Hollywood, Ava não teve a ajuda da mãe e teria que se virar nacozinha. Ela e a irmã, como alternativa, viviam comendo hambúrguer num quiosque perto doapartamento alugado onde moravam. A irmã, sempre mais esperta, dizia a Ava para aceitar osconvites para jantar, principalmente de Mickey Rooney, com quem Ava se casaria pela primeira vez.

Ava aceitou o convite de Mickey e acabou em casamento. E como Sra. Rooney, ela achou que deveriaficar em casa fazendo o jantar para os dois, pois como uma menina do interior, acreditava queprenderia o marido pela boca. Porém, o badalado ator não se impressionou com a atitude de Ava econtinuou frequentando os restaurantes da moda que tanto gostava, com ou sem ela. Isto enquanto Avaficava em casa sonhando em acordar tarde e passar horas na mesa jantando ao seu lado. O romancenão durou muito tempo.

Logo viria o casamento com Artie Shaw, músico rico e culto, e ao contrário de quando se casou comMickey Rooney, Ava não quis dedicar-se à cozinha. Assim que se instalaram na mansão do músico,ele reclamou com rispidez que Ava não tomava conta da cozinha, exigindo que ela decidisse o menu,as compras, etc. Ava ainda não estava acostumada com a vida nova, sempre rodeada de muitosempregados e tendo que dar ordens e mais uma união se desenlaçaria em pouco tempo.

Depois aconteceu o tumultuado casamento com Frank Sinatra. Os dois adoravam viajar, sair paracomer e beber, e na maioria das vezes iam a restaurantes italianos e chineses, onde Ava gostava depedir pato com amêndoas ou frango xadrez. Em cada lugar do mundo em que iam Ava descobria suacomida preferida, como o atum fresco na Espanha, que a deixou fascinada.

Hospedados num hotel, depois de uma das muitas brigas escandalosas, Ava sumiu por um tempo.Quando voltou, Sinatra fez um sanduíche que ela nunca esqueceria. Fritou o pão francês na frigideiracom azeite, jogou ovos e depois de fritos, colocou no pão e entregou a ela com um copo de leite,dizendo que estava feliz em vê-la de volta. Com a boca cheia, Ava disse que também estava contentepor ter voltado. Entretanto, esta seria só mais uma das idas e vindas dos dois.

Além dos maridos, Ava teve vínculos culinários com os namorados. Howard Hugues, uma amizadecolorida que durou 20 anos, foi um deles. O milionário não a colocou na cozinha, mas a levava emseu avião para comer o churrasco que ela mais gostava, a quilômetros de Hollywood, mas a relaçãonão passaria disto.

Howard a levou para comer, mas Ava preferiu levar café da manhã no quarto para o galã ClarkGable. Em 1953, depois de filmar “Mogambo”, a imprensa insinuava um caso amoroso entre ela eGable. Eles juravam que não havia nada além de amizade. Porém, uma famosa jornalista chegou nacasa de Ava pela manhã para entrevistá-la e a estrela estava na cozinha fritando ovos e bacon para ogalã. A jornalista ouviu uma voz de homem e Gable saiu do quarto sorrindo e nu. Claro, foi parar nasmanchetes.

Fofocas à parte, Ava não cozinhava só para os maridos e namorados, ela cozinhou também para asua empregada. Quando Ava comprou sua primeira casa, ela contratou Reenie, sua cozinheira e fielamiga. As duas comiam e bebiam juntas e a funcionária viajava pelo mundo todo com ela, ocupandonos hotéis uma suíte igual à da famosa patroa. No dia de folga de Reenie, Ava botava o avental efazia o jantar para as duas, sem problema algum. E, detalhe, sempre algo especial.

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Ava nunca foi adepta de dietas, comia à vontade o que bem queria. Prova disto, em uma entrevista,ela disse ao jornalista que a única ginástica que fazia era correr de uma refeição para outra. Bom,mas com a chegada da idade ela teve que rever seus conceitos alimentares.

Quase nos anos 60, com um pouco mais de 45 anos, Ava foi morar em Londres, onde teve uma vidacalma até o fim, passando boa parte na cozinha. Pela primeira vez na vida, fazia uma rígida dieta deuma semana, comendo pouco e deixando de beber.

Essas dietas faziam Ava relembrar das delícias de sua mãe, principalmente dos bolos de chocolate ede coco feitos num dia muito especial e que Molly Gardner mandava para onde Ava estivessefilmando. Miss Gardner nasceu no dia 24 de dezembro de 1922 e neste dia sua mãe fez dois bolos,um de chocolate e outro de coco, bem branco, para, assim, comemorar o Natal e o nascimento dafilha. Essa tradição duraria para sempre, até a morte de Molly.

Por coincidência, no último ano da vida de Ava, fazendo 67, a empregada e amiga repetiu o ato damãe de sua patroa. Fez dois bolos, um de chocolate e um de coco branquíssimo, como no dia em queAva nasceu e sem saber que seria a última vez. Seguem as duas receitas dos bolos:

Bolo de Coco de Molly Gardner

Ingredientes:

2 tabletes de manteiga

2 xícaras de açúcar

4 ovos

3 1/2 xícaras de farinha com fermento

1 xícara de leite

1 colher de chá de baunilha

Para o recheio:

3 colheres de Karo (branco)

1 1/2 xícara de leite de coco

3 xícaras de açúcar

4 claras

2 cocos ralados ou dois pacotes de 50 gr cada

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Bater com a mão a manteiga (não congelada) com o açúcar até virar creme. Colocar os ovos, um decada vez e bater depois de cada ovo. Acrescentar a farinha, alternando com o leite e a baunilha.

Assar em forma bem untada com manteiga e farinha a 375º por 25 minutos. Testar com palito.

Preparo do recheio:

Cozinhar o açúcar, o Karo e o leite de coco juntos, até virar um creme e fazer um fio. Entornar ocreme nas claras bem batidas em neve e bater tudo até quase esfriar. Colocar o coco ralado. Depoisde frio, rechear o bolo que já deve estar partido ao meio e cobrir os lados e em cima do bolo.

Bolo de Chocolate da Molly Gardner

Ingredientes:

2 xícaras de farinha de trigo

1 1/4 colher de chá de fermento

1/4 colher de chá de sal

1/2 xícara de manteiga

1 xícara de açúcar

2 ovos

2 barras de chocolate amargo derretido e frio

3/4 xícara de leite integral

1 colher de chá de baunilha

1/3 xícara de água fervendo

Derreter o chocolate e deixar esfriar. Misturar o fermento, o sal e a farinha e peneirar. Bater amanteiga, acrescentando o açúcar aos poucos, até virar uma massa fofa. Bater bem os ovos e colocarna mistura de manteiga e açúcar. Acrescentar o chocolate derretido, alternar os ingredientes secos(que foram peneirados juntos) com o leite. Colocar a água fervendo e a baunilha, depois bater bem.Colocar numa forma bem untada. Assar a 375º mais ou menos 30 minutos. Testar com palito. Cobrircom “fudge” de chocolate com nozes.

Preparo do Fudge:

Misturar 6 colheres de sopa de chocolate, a mesma quantidade de açúcar e 1 ou 2 colheres de águapara amolecer. Tudo na panela no fogo acrescentando nozes bem picadas no fim.

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Evânio Alves

As Divas na Cozinha

No filme “Sabrina”, obra do talentoso diretor Billy Wilder, rodado em 1954, Audrey é filha de umacozinheira e prefere tentar suicídio do que abandonar o seu amor e ir aprender a cozinhar na França.Porém, o suícidio não é bem sucedido e Audrey não teve escolha a não ser embarcar para Paris amando do pai. Na escola de culinária na cidade luz, ela não só aprende a preparar um perfeito suflê equebrar de forma adequada os ovos, mas também se tornou uma sofisticadíssima dama. De volta paracasa ela provou que o curso foi válido ao preparar o mesmo suflê e mostrar sua habilidade com osovos a Humprey Bogart.

Bom, esta é a historia do filme, mas com exceção da tentativa de suicídio, na vida real, a habilidadede Audrey com a cozinha era bem parecida. De fato, ela adorava estar na cozinha sempre que podiapara preparar alguma receita. Quando ficava só em casa com o marido Mel Ferrer e o filho pequeno,Sean, toda noite ela não abria mão de fazer, com muito prazer, um jantar simples, mesmo que ela nemprovasse, pois vivia de dieta. E como Audrey era muito organizada em casa e não deixava nada aoacaso, quando ia filmar fora da cidade e os dois ficavam sozinhos, ela contratava uma cozinheira,mas não deixava de planejar o menu para durar meses.

Audrey aventurava-se a fazer de tudo na cozinha, mas o que ela gostava mesmo de preparar eramdoces com chocolate e bolos, para servir na hora do chá. Aliás, Miss Hepburn gostava muito mais depreparar as sobremesas do que a comida salgada. Ela era tão apaixonada por chocolate que uma vez,indo de navio para New York, comeu tantas barras que engordou 5 quilos em duas semanas.Chegando lá, fez questão de emagrecer 7 ou 8 quilos para compensar.

Bom, era bem assim a relação de Audrey com a comida, tudo ou nada. Ou, como ela mesma disse,uma relação de amor e ódio. Comia demais ou parava de comer. Era um caso típico de anorexianervosa, que nos anos 50 não era uma doença conhecida, por isso sua aparência sempre esbelta.

Miss Hepburn parava de comer por qualquer motivo, quando estava tensa, triste, grávida, filmandoou apaixonada. Dizia que não comia quando estava triste, porque sentia que estava alimentando atristeza. Comida para ela era associada à alegria, um luxo e não uma necessidade. E não comiamesmo durante dias, semanas e acabava ficando doente e tinha que passar um tempo numa clínica serecuperando da anemia. Em compensação, se estivesse bem, o que era muito raro, Audrey não paravade comer, sobretudo doces e mais ainda chocolate, sua paixão desde criança e o consolo de suainfância, segundo ela mesma.

Apesar de Audrey cozinhar dedicadamente para o marido, o casamento chegaria ao fim e depois dodivórcio o problema ficou mais grave. Chateada, ela realmente não conseguia comer nem umatorrada ou uma laranja sem sentir enjoo. Fazer comida para o filho, que ela gostava tanto, passou acausar náuseas insuportáveis. Mas as coisas melhorariam.

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Audrey casou-se pela segunda vez com o médico italiano Andrea Dotti, uns dez anos mais jovem queela e pelo menos no início foi feliz. Dedicou-se, segundo ela mesma, exageradamente a ser dona decasa e adorou. Recusou muitos convites para filmes importantes, que fizeram a fama de outrasestrelas para ficar em casa cozinhando para ele e o filho, mas desta vez ela também comia, porqueestava segura e tranquila. Porém não seria neste casamento que Audrey conseguiria fisgar o maridopela boca e ser feliz, dez anos depois a união acabaria.

Segundo Sean, sua mãe adorava massa, não tanto quanto o chocolate e comia quase todo dia. Mas nãocombinava com proteína. Comia macarrão e depois uma salada e não repetia. Comia pouca carne,frango e peixe, mas não era vegetariana. Era uma ótima cozinheira e acreditava na combinação decores no prato. Assim, por intuição, a refeição dela era sempre balanceada e na maioria das vezescolorida.

Como Audrey Hepburn adorava “brownies” e amava fazer doces de chocolate, segue sua própriareceita, que aliás, eu adoro:

Derreta 2 tabletes de chocolate amargo e 150 gr de manteiga numa panela forte. Misture 1 xícara deaçúcar. Acrescente 2 ovos e ½ colher de chá de baunilha. Depois ¼ de xícara de farinha e uma pitadade sal. Forma untada, forno a 325º por 40 minutos. Deixar esfriar e se deliciar. Fica ótimo comsorvete de creme.

A massa preferida de Audrey era o spaghetti al pomodoro. A que costumava fazer com frequênciapara o filho Sean. A receita era básica e demorava um pouco mais do que o molho de tomate pronto.Mas é muito saborosa, vale experimentar.

Spaghetti al Pomodoro

Ingredientes:

1 cebola pequena em cubinhos

2 dentes de alho picados ou fatiados

3 talos de aipo fatiados sem as folhas

2 cenouras médias cortadas finas

2 latas de tomates cozidos sem casca

1 molho de folhas de manjericão

1 pacote de spaghetti (de preferência um bom italiano)

2 colheres de azeite extra virgem de boa qualidade

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Sal e pimenta a gosto

Colocar o azeite numa panela média e aquecer. Colocar a cebola, o alho, o aipo e a cenoura. Deixarrefogar por 5 minutos. Acrescentar os tomates e metade do molho de manjericão com as folhasinteiras.

Deixar ferver e diminuir o fogo. Cozinhar por 45 minutos, mexendo de vez em quando paradesmanchar os tomates. Colocar sal e pimenta. Apagar o fogo, deixar descansar 15 minutos. Cozinhara massa al dente (ainda um pouco durinha no meio).

Para servir, colocar numa grande travessa ou em pratos individuais. Cobrir com muito parmesãofresco. Colocar o restante do manjericão cortado com tesoura para evitar que machuque ou escureça.Um fio de azeite de alta qualidade, se desejar.

Evânio Alves

Audrey Hepburn

spaghetti pomodoro

As Divas na Cozinha

A super simpática e talentosa Angela Lansbury (1925), atriz de cinema, teatro e televisão, sempreadorou cozinhar além de atuar. Não foi à toa que o destino se incumbiu de iniciá-la no cinema comocozinheira, aliás, de Ingrid Bergman e Charles Boyer, no filme “À Meia Luz” em 1944. Embora fosseo seu primeiro filme, Angela desempenhou tão bem seu papel doméstico que foi indicada ao Oscarde Melhor Atriz coadjuvante naquele ano.

Na vida real, Miss Lansbury também mereceu tal indicação, mas não como coadjuvante e sim comocozinheira destaque. Pois ela sempre foi muito eclética na cozinha, assim como era nos papéis quedesempenhava. Começou cozinhando de tudo, principalmente receitas complicadas e pesadas,embora saborosas. Mas como tudo que é bom tem seu preço, Miss Lansbury acabou descobrindo quetais comidas faziam mal para a sua saúde. Depois dos 40 anos, forçada a fazer uma dieta paraemagrecer, a estrela mudou totalmente o seu gosto culinário. Começou a preparar para as suasrefeições só saladas, sopas e pães, inclusive acabou se tornando mestra nesses pratos.

Depois da dieta, Angela ficou tão apaixonada por frutas e verduras, que decidiu fazer uma hortamaravilhosa em sua casa na Califórnia e todo dia colhia verduras e legumes do próprio quintal para

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as saladas especiais. A rotina na horta transformou a estrela hollywoodiana em uma especialista noassunto hortifruti, passou a entender de todas as verduras, ervas, até as mais raras. Diz ela em suasmemórias que em nenhum lugar o sabor é igual.

Com a dieta, Angela come frutas pela manhã, uma salada no almoço com torrada integral e queijocottage e sopa de noite, com um peixinho ou um pedaço de peito de frango, só cozido ou grelhado epreparado por ela. O muito que Miss Lansbury varia das saladas é quando come um doce, umchocolate de preferência mas só nas ocasiões especiais. Ou quando prepara um pão, aliás, ela adorasentir o cheiro do pão assando que se espalha pela casa, mas quem não gosta?

Miss Lansbury sentiu-se tão bem com a dieta e ganhou tanta energia que a adotou para sempre. E estapaixão resultou num livro sobre o assunto, ao qual deu o nome de “Positive Moves”. Nele Angelafala minuciosamente sobre frutas, legumes e verduras e também sobre os pães que adora fazer.Comenta também que o preferido da família era chamado de “Pão Poderoso da Angie”. Este é feitode vários grãos integrais e coisas maravilhosas, segundo ela, como passas e tâmaras. Leva mel epode-se colocar muitas coisas, como nozes, castanhas e frutas secas.

De fato os pães que Miss Lansbury faz são tão deliciosos que acabei adotando uma de suas receitaspara fazer sempre que recebo um amigo. Este é o meu preferido e não existe ninguém que tenhaprovado dele em minha casa que não tenha feito aquela cara de delícia e de quero mais. Segueabaixo:

Pão de Tâmaras e Nozes

2 colheres de manteiga sem sal

1 colher de chá de fermento

1 xícara mal cheia de água fervendo

1 xícara de tâmaras sem caroço picadas

2/3 xícara de nozes em pedaços

1 xícara de açúcar

1 gema de ovo

1 ¾ xícara de farinha

2 colheres de chá de baunilha

Cream cheese de morango (opcional)

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Pré-aquecer o forno a 325º. Untar bem uma forma de pão. Colocar a manteiga, o fermento, a águafervendo e as tâmaras numa tigela. Deixar esfriar. Misturar as nozes, açúcar, a gema, farinha ebaunilha. Colocar na forma e assar por 1 hora. Deixar esfriar 10 minutos e depois tirar do forno.Cortar e servir com cream cheese de morango e chá feito na hora.

Evânio Alves

Angela Lansbury

pão de tâmaras e nozes

As Divas na Cozinha

Bidu Sayão

Sopa de Abobrinha com CURRY

Infelizmente sabe-se pouco sobre a vida da soprano brasileira Bidu Sayão (1902-1999), tanto depalco como a pessoal. Até então, nenhum biógrafo aventurou-se a fazer uma biografia ampla daartista. Apesar de ser um nome respeitadíssimo, principalmente no exterior, na história do cantolírico. Sabe-se que Bidu tinha uma voz única, incomparável, que fez grande sucesso quando subia aopalco das maiores casas de Ópera.

Mas o que pouco sabemos é que Bidu, após décadas de convívio com o sucesso, retirou-se de cenapara levar uma vida íntima ao lado do marido e da mãe, isto em 1957, ainda jovem. A diva brasileirapassou então a curtir a vida doméstica na sua “casinha pequenina” em Lincolnville, no estado doMaine.

Bidu apelidara a sua casa de “casinha pequenina” porque era muito simplória, mas na realidadetratava-se de uma suntuosa mansão chamada “Bidu House”, construída entre verdadeiras muralhas depedra, um perfeito cenário hollywoodiano. O quintal era gigantesco, tinha pomposos jardins, riacho eficava de frente para o mar. Aliás, era na varanda desta fabulosa casa que Bidu adorava sentar-se aolado do marido e da mãe e apreciar a brisa marinha, que, a seu ver não era tão boa como a do Brasil,enquanto tomavam sopas ao entardecer.

Segue uma das receitas de sopa, por sinal deliciosa, que Miss Sayão adorava ir para a cozinharpreparar para o marido e a adorada mãe.

Sopa de Abobrinha com Curry

Ingredientes:

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2 abobrinhas médias

2 colheres de manteiga

1 colher de chá de curry em pó, ou a gosto

2 xícaras de caldo de galinha

1 cebola roxa pequena, cortada fina

Sal e pimenta a gosto

Salsa fresca picada

Preparo:

Cortar as pontas e lavar as abobrinhas, cortar fatias mais ou menos grossas. Numa panela, esquentara manteiga, colocar a abobrinha, tampar bem, cozinhar em fogo baixo até a abobrinha ficar macia,uns 10 minutos. Não deixar ficar corada. Jogar o curry em pó, misturar bem, colocar no processadorou liquidificador. Acrescentar o caldo de galinha e bater para misturar bem. Colocar numa tigela,misturar a cebola, o sal e a pimenta. Gelar.

Serve 4 pessoas.

Evânio Alves

locar numa tigela, misturar a cebola, o sal e a pimenta. Gelar.

Dicas de Bidu:

Para servir a sopa fria, colocar ½ xícara de iogurte e misturar bem. Na tigela de servir, colocar salsapor cima com uma pequena colherada de iogurte.

Para servir quente, melhor fazer na véspera e colocar na geladeira. Antes de servir, aquecer em fogobaixo e misturar ½ xícara de creme (tipo chantilly ou creme de leite). Bater o restante do creme emisturar de leve na sopa. É deliciosa quente.

Para congelar a sopa, é melhor que a abobrinha esteja muito fresca e macia. Congela muito bem atéum ano. Seguir a receita, mas colocar só uma xícara de caldo, sem iogurte ou creme. Quando forservir, descongelar, acrescentar uma xícara do caldo enquanto esquenta. Depois colocar o iogurte seservir fria ou o creme na sopa quente.

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As Divas na Cozinha

Bette Davis

Mistura Bandeira Vermelha

Durante a segunda guerra mundial, as estrelas de Hollywood tinham tarefas para ajudar a amenizar asituação. Algumas iam cantar nos campos de guerra, outras vendiam tickets para angariar fundos.Bette Davis (1908-1989), apesar de ser uma importantíssima estrela, não ficou fora da lista. Masdiferente das colegas, ela não embarcou para outros lugares, permaneceu em Hollywood e, com aajuda do ator John Garfield, fundaram a cantina para servir os soldados. A ideia era dar a elesdiversão, boa comida, relaxamento e a oportunidade de serem servidos por estrelas e isto sem pagarnada.

Em pouco tempo Bette angariou meio milhão de dólares em campanhas para fazer a cantina funcionare muitos artistas famosos ajudaram, como Dinah Shore, Rita Hayworth, Marlene Dietrich, HedyLamarr, Betty Grable, Ida Lupino, Olivia De Havilland e muitos outros. Dietrich não só contribuiucom o glamour mas deu um duro danado na cozinha, preparando pratos, lavando louças e servindo,isto quando não estava dançando com algum soldado, o que, aliás, muitas estrelas fizeram.

Fazer a comida não era nada fácil, pois se tratava de centenas de soldados, a maioria famintos eexaustos. Quando estava com a mão na massa, Miss Davis lembrava da época de estudante quandomorava numa pensão onde, para pagar a estadia, ficava na cozinha descascando uma enormequantidade de batatas e maçãs e lavando montanhas de pratos. Lembrava também da mãe cozinhandopara muita gente, na cozinha da sua casa, que estava sempre ocupada. Naqueles dias sua mãe faziapudim, torta de frutas e no domingo tinha sempre um grande almoço e depois Bette ajudava a servirbolos, tortas e sobremesas. Lembrava também quando ela mesma preparava seus cookies, que a mãe ensinou, para levar para a escola. E também quando tostava marshmallows nos anos deadolescência.

Com essas boas lembranças, o tempo foi passando e no segundo ano da cantina, o marido de MissDavis caiu repentinamente e morreu, foi a primeira grande perda da vida dela. Diante de tantosofrimento, foi a cantina que a animou a viver, e assim conseguiu dirigi-la por mais um ano. No diado velório do marido, fizeram comida especial e dedicaram um brinde de champagne, deixando umcopo cheio para ele.

A cantina durou de 1942 até 1945 e depois de fechada, Bette Davis sem esta ocupação e cansada defilmar, casou-se com Gary Merrill e foi viver numa casa de campo de três andares de frente para omar na Califórnia. Lá, ao lado da mãe Ruthy, sua eterna companheira, passou a ser dona de casa poropção, pois tinha sempre empregados por perto. As duas fizeram um jardim de rosas e capricharamna casa nova, principalmente na cozinha, onde, aliás, passavam a maior parte do tempo, na maioriadas vezes preparando batatas, o que ela gostava mais que de caviar. Como uma louca por cozinha,Bette dizia que era o coração da casa, um lugar para criação, para viver e brincar de casinha, umacoisa que ela nunca deixou de fazer.

A cozinha passou a ser o novo anfiteatro para Miss Davis e ela não queria sair de lá. Desde o

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primeiro casamento ela cozinhava e gostava de cuidar da casa, mas não com tanta dedicação. Acomida que ela e a mãe faziam cheirava pela casa toda. Neste tempo, três anos, que ela era apenasesposa e mãe, o casamento acabou. O marido não queria Bette na cozinha o tempo todo, pedia a elapara sair e perguntava como ela poderia manter sua íntegra sanidade mental trabalhando, limpandopratas, preparando jantar, em casa o tempo todo. Dizia ele: “Você não é uma empregada, você é BetteDavis, uma importante estrela de cinema”. Mesmo com a insatisfação do marido, manter a casa ecozinhar era a segunda natureza de Miss Davis, era o que a deixava verdadeiramente feliz. O maridofoi embora.

No final da vida, Miss Davis desenvolveu um gratificante relacionamento com a sua acompanhanteKathryn. Em suas memórias, Bette conta que para o primeiro encontro com a nova funcionária, ela fezum maravilhoso jantar, com frango assado, abobrinha e ervilhas. Claro que conquistou a enfermeira,e ela ficou por muito tempo com Miss Davis, até casar-se.

Muito exigente, Bette Davis procurou por vinte anos uma cozinheira, mesmo quando estava com aenfermeira. A dificuldade foi que, ao seu ver, as cozinheiras a enganavam, preparavam comidacongelada, o que ela odiava, e diziam ser feita na hora. Isto a irritava muito. Consequentementepreferia comandar sempre o fogão, mesmo idosa.

Segue uma receita simples, prática e deliciosa que Miss Davis adorava preparar em casa para osfilhos. No Brasil chamaríamos este prato de “mexido”, entretanto, Bette denominou de MisturaBandeira Vermelha:

Mistura Bandeira Vermelha

Ingredientes:

2 xícaras de carne moída cozida

3 xícaras de batatas cozidas (frias)

1 ½ xícara de beterrabas cozidas (frias)

Creme de leite para umedecer

Modo de fazer:

Picar as batatas e as beterrabas e reservar. Colocar a carne moída com alho amassado, cebola epimenta a gosto numa frigideira de ferro com manteiga.Mexer bem e espalhar por igual até cozinharcom a própria água. Acrescentar as batatas e as beterrabas e umedecer com creme de leite. Dourardevagar em fogo médio.

Servir com 1 ovo pochê em cima.

Nota: Para fazer o ovo pochê, ver capítulo da Greta Garbo.

Evânio Alves

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As Divas na Cozinha

Brigitte Bardot

Batata Assada com laranja

Ao vermos os filmes onde Brigitte Bardot (1934) aparece com tanta sensualidade enlouquecendo oshomens, não imaginaríamos que aquela ousadíssima francesa acabaria, na vida real, de certa forma,trocando os homens pelos animais. Pois foi isto mesmo que aconteceu. Bardot deixou muitoscandidatos literalmente chupando o dedão e foi viver com centenas de bichinhos de estimação na suacasa em St. Tropez, chamada de La Mandrague.

E ao contrário das outras atrizes que dedicavam o seu tempo indo para a cozinha preparar receitasespeciais para seus maridos ou namorados, Brigitte foi pilotar o fogão cozinhando especialmentepara a bicharada, seus verdadeiros amores. Sem radicalizar, Bardot cozinhou também para os seusmaridos, mas a preferência sempre foi dos bichinhos. Aliás, cada animalzinho tinha uma dietadiferente, e Bardot seguia com devoção o preparo de cada prato, mimando-os com suas preferências.

Por volta dos 50 anos, Brigitte passou a ter uma relação muito peculiar com a comida e a cozinha.Isto depois de “anos” sem comer, só tomando champagne, não por dieta, mas por causa de umagrande depressão devido a problemas com o filho e um câncer que vencera mas que deixou marcasprofundas. Apesar de tudo, a estrela francesa preparava o seu café da manhã, a única refeição quemantinha diariamente, e fazia as compras da casa, para os humanos e para os animais, todos os dias,tarefa que nunca deixava para os empregados.

Além das compras, muitas vezes, Bardot se incumbia também de ir para a cozinha, mesmo tendo umafiel empregada que também era a sua amiga nas horas de solidão. Sendo vegetariana, é claro, umalutadora na defesa dos animais, sua alimentação se baseia numa comida alegre e viva, na maioria dasvezes uma salada colorida de preferência preparada com todas as verduras do seu quintal.

Antes de descobrir as maravilhas da própria horta, quando tinha que oferecer um jantar em sua casa,Brigitte encomendava comida de algum restaurante bom da pequena cidade. Mas o que a deixavafeliz de verdade era ver a sua mesa de madeira instalada no jardim cheia de pratos simples daProvence aguardando os poucos amigos que frequentavam La Mandrague.

Esta mesa não era montada somente nos dias de visita, diariamente ela ficava posta com legumes,cebolas, cebolinha, alho, azeite, nozes, jarras de sangria, saladas de todos os tipos e cores, umaforma de pão feita em casa, uma maravilhosa travessa de queijos, com uvas e outras frutas, tomilhodo próprio jardim e ovos das galinhas criadas no quintal. Além de tudo isto tinha frutas vermelhas,principalmente morango e cereja para uma saudável sobremesa.

Apesar de preparar bons menus em casa para os convidados, Brigitte adorava sair para comer norestaurante que uns amigos abriram perto de sua casa. Lá ela cantava e dançava música cigana e sul-

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americana, principalmente Bossa Nova, e fazia um verdadeira bagunça na cozinha. Ela diz em suasmemórias que quando acabava o presunto, todos comiam sardinha em lata e batata chips. Mas, emcompensação, a bebida nunca acabava.

Embora fosse a estrela famosa, Brigitte ajudava em tudo que fosse preciso, na cozinha ou servindo asmesas onde sentavam amigos ou até mesmo clientes desconhecidos. Depois o mesmo restaurantevirou vietnamita, com uma cozinha excelente e foi muito frequentado. Ela adorava, era onde sentia-semais feliz, lugar que considerava ser a sua segunda casa.

Em suas memórias, Brigitte Bardot não se restringe a dizer que nunca precisou de ninguém paracozinhar para ela. Apesar de ter empregados, ela fazia suas compras e sua comida quando queria equando triste, não conseguia comer.

Segue uma das receitas vegetarianas da eterna musa Brigitte Bardot:

Batata Doce com Laranja

Ingredientes:

6 batatas doces cozidas5 colheres de suco de laranja1/2 colher de chá de casca de laranja ralada1/2 colher de chá de casca de limão ralada1 colher de gengibre ralado1 pitada de noz-moscada2 e 1/2 colheres de xarope de maple (caso não encontre, trocar por mel)Sal a gosto

Nozes ligeiramente torradas para enfeitar.

Modo de preparo:

Forno pré-aquecido a 350º. Descascar a batata e colocar num processador com todos osingredientes. Bater até ficar bem cremoso. Assar o purê uns 15 minutos, só até aquecer. Enfeitar comas nozes e servir quente.

Serve 6 pessoas.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

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Barbara Stanwyck

Chow Mein de Atum

Num dos melhores filmes noir que já vi, “Pacto de Sangue”, de 1944, Barbara Stanwyck (1907-1990) recebe Fred MacMurray na sala de sua casa para planejar o assassinato do seu marido. Nomomento em que MacMurray entrou, Miss Stanwyck estava preparando uma limonada. Após oferecera ele um copo, Fred disse preferir uma cerveja gelada. Sensualmente Barbara insinua que nunca sabeo que tem em sua geladeira e chama a empregada para se informar se tem a cerveja. A partir de entãotoda a negociação do crime já premeditado se desenrola entre Miss Stanwyck e Fred no meio decomidas no supermercado mais próximo.

Pois bem, no filme, Barbara Stanwyck orgulha-se em dizer que nunca sabe o que tem na suageladeira, deixando bem claro que jamais vai à cozinha. Porém, na vida real, a estrela se orgulhavaem dizer que todo mundo que a conhecia sabia que uma de suas maiores paixões (além de filmesclássicos e música) era cozinhar, principalmente assar. De fato, além de excelente atriz, Barbara eraótima para fazer coisas no forno e refeições a partir do zero. Ela se considerava, talvez, a verdadeiradona de casa feliz dos anos 50, simplesmente porque adorava passar horas na cozinha.

Miss Stanwyck não era muito fã de comidas já prontas, exceto as pizzas congeladas, até dizia quetodo mundo tinha seu prazer com culpa. As especialidades dela eram lasanhas, risoto, pão de canelae passas e tortas de frutas com a massa crocante. Ela confessava sem modéstia esse seu domculinário e costumava dizer que não estava se gabando, pois fazia com perfeição porque de fatoadorava cozinhar.Assim como demonstrou em “Pacto de Sangue” o desinteresse por cozinha, Barbarasomente desenvolveria este seu lado doméstico bem mais tarde. Até o casamento com o ator RobertTaylor, a famosa atriz não levava jeito para cozinha, ele é que gostava de cozinhar. E de fato Robertcozinhava muito bem. Mas quando solteiro sua mãe o mimava demais e fazia tudo para ele.Consequentemente Robert só expandiu seus dotes culinários quando estava casado com Barbara.

Em sua casa, Miss Stanwyck tinha uma cozinha moderna e bem equipada, além de espaçosa, poisadorava cozinhar com gente em volta. Ela gostava que os amigos participassem das tarefas dacozinha, tomando vinho e conversando sobre as receitas. De vez em quando redecorava tudo,comprava novos aparelhos domésticos, louça nova, mudava totalmente. Queria sempre cara novapara a cozinha, pois ficava muito tempo nela.

Os amigos que frequentavam a cozinha de Barbara, a maioria colegas de filmes, comentavam que elacozinhava muito bem e gostava de colecionar e trocar receitas, mas não as complicadas, preferia assimples. Diziam também que seus bolos e pães eram maravilhosos. Mas a receita dela que deixo aseguir não é de pães nem bolo, mas de uma pasta de atum que Miss Stanwyck adorava tanto quecedeu para ser publicada na revista Life nos anos 50, e que por sinal é deliciosa.

Chow Mein de Atum

Ingredientes:

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1 cebola média

¾ de xícara de pimentão verde

1 e ½ xícara de aipo fatiado

¼ de xícara de manteiga

1 xícara de água quente

1 colher de chá de sal

1 e ½ lata de atum sólido

1 lata de vegetais variados

1 e ½ colher de maisena

2 colheres de molho de soja

¼ colher de açúcar

Refogar 1 cebola média picada com ¾ de xícara de pimentão verde em tiras e 1 e ½ xícara de aipofatiado em ¼ de xícara de manteiga por 5 minutos até dourar, mexendo sempre.

Acrescentar 1 xícara de água quente, 1 colher de chá de sal, cobrir e cozinhar por mais 5 minutos.

Acrescentar 1 e ½ lata de atum sólido cortado em pedaços grandes e 1 lata de vegetais variados,ambos bem escorridos.

Fazer separado uma mistura de 1 colher de sopa de água fria, 1 e ½ colher de chá de maisena, 2colheres de chá de molho de soja e ¼ de colher de chá de açúcar. Jogar por cima e cozinhar mais 1minuto.

Servir com macarrão frito ou arroz branco.

Dica do autor: Caso goste coloque pimenta moída na hora, fica muito bom.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Clara Bow

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Chartreuse de Frango

Barbara Stanwyck

Chow Mein de Atum

A atriz de cinema mudo Clara Bow (1905-1965), quando não estava em frente às câmeras, bem quese aventurava pela cozinha. Mas não se pode dizer que ela era uma boa cozinheira. Clara veio deuma família muito pobre e com problemas psicológicos. Ainda quando criança, sua mãe foi internadacomo louca e Miss Bow teve que aprender a cozinhar para cuidar da alimentação do pai. Istoaconteceria até mesmo quando ela já fazia sucesso em Hollywood. Mas apesar do longo tempocozinhando, Clara só sabia fazer macarrão simples e pouquíssima outra coisa.

Muitas histórias aconteceram com Miss Bow na cozinha. Uma delas foi logo que chegou emHollywood e morava num bangalô com o pai. Um jornalista foi até a casa de Clara para entrevistá-lae ela o convidou para jantar, ele aceitou não sabendo que teria só macarrão. Após a entrevista Clarafoi à cozinha e voltou com um panelão de espaguete. Miss Bow sempre teve uma relação difícil como pai e nesta noite ele sentava-se também à mesa. Os dois começaram a se desentender e Claraatacou o pai jogando garfadas de macarrão nele e o pai retrucava da mesma forma. Por pouco ofamoso jornalista não foi atingido e ele saiu correndo da casa de Miss Bow.

Esta guerra de espaguetes aconteceria novamente com Clara, mas bastante tempo depois, quando elajá estava muito famosa e de certa forma recolhida dos filmes. Cansada da vida hollywoodiana, MissBow e o marido Rex foram viver numa fazenda. Clara sempre gostou de receber amigos para bate-papo, beliscar, ouvir jazz e jogar poker, e foi numa dessas noites que de repente, por centavosperdidos no jogo, ela começou a se desentender com o marido. Então Clara levantou-se, foi até acozinha, preparou o seu famoso e nada apetitoso macarrão, trouxe para a sala e começou a jogar nomarido, isto às gargalhadas e relembrando o tempo em que brigava assim com o pai. Os amigos jáestavam acostumados e riram muito.

Pelo jeito a temperamental Clara se divertia ao jogar comida na cara dos outros. Outra vez elaalmoçava com um dos muitos amantes que teve, num clube de propriedade de um rapaz chamadoHarry. Para agradá-la, Harry mandou fazer o famoso omelete que era a especialidade da casa.Sentados à mesa, Clara provou e não gostou. Por certo a estrela não estava bem com ele e pediu pararetirar o prato. O amante viu como grosseria da parte dela e começou a brigar. Clara pegou o prato eatirou o omelete bem na cara do moço.

O assunto comida para Clara parece estar sempre ligado a confusão. Como já disse, ela passou boaparte da vida comendo só macarrão, porque era o que sabia preparar. Como já era estrela famosa erica, seu agente tentou convencê-la a se mudar do bangalô alugado para uma casa elegante comjardineiro e uma cozinheira francesa. Clara ficou reticente mas acabou seguindo os conselhos doagente. Mas foi uma confusão só, pois os cozinheiros gastavam fortunas com os mantimentos e olhaque Clara mal comia em casa. Mas ela confiava tanto neles que quando estava deprimida ficava emcasa bebendo e jogando poker com eles, principalmente com a empregada que, aliás, andava de saltoalto o dia todo.

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No entanto parece que Clara foi feliz de fato quando se mudou para a fazenda com o marido Rex. Láno campo, no limite entre a California e Nevada, ela acordava as 8 hs e Rex já havia mandado oempregado fazer um café da manhã com presunto e ovos, bacon, feijão e pão de trigo feito em casa.Rex fazia questão que Clara tomasse leite fresco da vaca e comesse ovos da fazenda, em um mês elaengordou 10 quilos. Ele caçava e ela se recusava a comer o bichinho, chegou até a jurar virarvegetariana, porém, quando chegava a hora do jantar, tinha um ensopado de vitela feito no fogão àlenha e o cheiro fazia Clara mudar de ideia.

Disse ela que nessa época engordou tanto que passou de rainha dos filmes para “rainha do gado”.Nesse tempo ela nem aparecia em público.

Cansada de viver no mato, Clara voltaria para a civilização hollywoodiana, e assim como fizera como pai anos antes, ela abriria um restaurante com o marido. Quando abriu o negócio para o pai, narealidade ele a forçou a comprar o restaurante, onde o slogan era baseado no “sanduíche oficial deClara Bow” e foi um fracasso, pois devido à incompetência dele o estabelecimento fechou as portasem menos de um ano.

O novo investimento de Clara com Rex, chamado “It Café”, devido ao apelido dela, também nãosobreviveria muito, aliás, bem menos. Foi um sucesso quando inaugurou, ela prometeu à imprensaque estaria sempre presente supervisionando a comida, embora a sua especialidade fosse somenteameixa em calda. Porém, logo Clara descobriria que estava grávida e fechou o café.

Apesar de Clara cozinhar somente macarrão quando ia para a cozinha, às vezes ela se permitiavariar um pouco. Acho inclusive que Miss Bow deveria ter variado mais vezes, pois esta receita quedeixo aqui, Clara gostava de fazer e o resultado era sempre muito bom.

Chartreuse de Frango

Era um dos favoritos dela, para fazer como para saborear.

Ingredientes:

1 xícara de frango cozido e desfiado1 colher de chá de salsa picada1/2 colher de chá de cebola ralada1/4 de colher de chá de sal2 colheres de molho de tomate1 ovo batido2 xícaras de arroz cozido1 pitada de pimentaMolho de tomate para servir

Modo de fazer:

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Untar uma fôrma de pudim e “forrar” com 2 dedos de arroz. Encher o meio com o frango bemmisturado aos outros ingredientes e cobrir com arroz. O frango tem que ficar no meio, escondido peloarroz. Cobrir a fôrma e assar em banho-maria 45 minutos.

Servir com o molho de tomate em volta, não em cima.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Dinah Shore

Pão de Cerveja

Além de cantora premiada, Dinah Shore (1916-1994) foi atriz, mãe e uma excelente cozinheira. Elanão só punha a mão na massa, mas também colecionava receitas do mundo inteiro. E isto resultou emcompletos livros de culinária que vão da entrada à sobremesa, além de pães e biscoitos, incluindosaladas e sopas. Miss Shore sabia tudo de cozinha, inventava pratos deliciosos a partir de um únicolegume e fazia maravilhas com as sobras. Trocava receitas com as celebridades e as convidava parair cozinhar em seu programa de TV nos anos 70.

Para ajudar na cozinha de casa, Dinah teve uma cozinheira mais de vinte anos, com quemexperimentava as receitas e inventava outras. Ela adorava receber amigos para comer e aproveitavaa oportunidade para criar menus apropriados para os convidados. Segundo Dinah, Pauline, suaajudante, era a única cozinheira magra que ela conheceu, devia ser por correr tanto pela cozinha ouaté o mercado mais próximo à procura de ingredientes. Elas se divertiam na cozinha.

Dinah era fã das receitas tradicionais americanas, com frango e milho, conhecia bem a culinárianegra e a internacional com receitas super famosas como o ratatouille francês, os crepes e pratosfiníssimos com vitela ou frutos do mar.

Mas apesar do amplo conhecimento culinário, Dinah não gostava de jantares enormes, porqueacabava não se divertindo. Preferia os pequenos grupos de amigos que realmente curtiam umarefeição especial. Era uma especialista em pratos únicos que facilitam a vida da cozinheira, como oensopado, o strogonoff e as tortas salgadas. Além deles, só uma salada verde, pães e um sorvetecaseiro de sobremesa.

Em seus livros, Dinah incluiu receitas dietéticas e vegetarianas, que ela não adorava, mas dizia queatualmente ninguém mais quer ser gordo, o que é fato. Pena, porque Miss Shore adorava as receitaselaboradas de tortas e as simples de sorvetes caseiros. Mas sempre se preocupou com o equilíbrio

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das refeições, isto é, se o prato principal era delicioso e pesado, as outras coisas têm que ser leves ea sobremesa um sorvete cítrico, por exemplo.

Miss Shore dizia que apesar de ser uma colecionadora de receitas, fazia tudo por intuição, umapitada disso e 1 ou 2 colheradas daquilo. Portanto achou muito difícil organizar suas própriasreceitas para lançar seu cookbook, tendo que colocar tudo em medidas exatas. Mas se divertiuquando reuniu amigos com quem tinha afinidades culinárias, além da cozinheira, para experimentartodas as receitas. Quando o livro saiu, estavam todos enormes de gordos. Ela se divertiu contandoem suas memórias.

Dinah achava que para cozinhar bem era preciso ter imaginação e liberdade. Para ela nada era maischato que o bife ao ponto com vagem e purê de batata. Achava que o melhor era correr para omercado com uma amiga, voltar e inventar um jantar, com todos esperando na sala e o resultado serdelicioso e inesperado, com todos se divertindo, principalmente as cozinheiras. Para ela, um jantarfestivo em que a dona da casa fica tensa e não se diverte nada, não vale a pena!

Segue uma das receitas, por sinal mais prática impossível, de Miss Shore. Eu adoro este pão.

Pão de cerveja

Ingredientes:

3 xícaras de farinha com fermento

3 colheres de açúcar refinado

1 lata de cerveja não gelada

¼ xícara de manteiga ou margarina (derretida)

Forno pré-aquecido a 375º. Misturar a farinha, o açúcar e a cerveja numa tigela grande. Colocarnuma forma de pão untada e jogar a manteiga por cima. Assar de 45 a 50 minutos ou até um palitosair limpo. Não assar demais. Fica ótimo no dia seguinte torrado, no café da manhã.

Variação: pode acrescentar 1 colher de chá de canela, algumas passas e ¾ de xícara de nozes oucastanhas quebradas, colocados depois de misturar todos os ingredientes.

Evânio Alves

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As Divas na Cozinha

Dorothy Dandridge

Omelete emocional

Assim como Lena Horne, a estrela Dorothy Dandridge (1922-1965) foi uma beldade negra dos anos50. Miss Dandridge tinha uma beleza de virar a cabeça de todos os homens, negros ou brancos. Ealém de toda esta perfeição estética e carisma, Miss Dandridge era excelente cozinheira e gostava doofício.

No seu primeiro casamento, com o grande dançarino Harold Nicholas, Dorothy se empenhou nopapel de dona de casa. Decorou os cômodos com muito bom gosto, usando o branco em quase tudo ecozinhava todos os dias para o marido. Havia aprendido com a mãe a preparar a comida “negra”americana, chamada de “soul food”: mistura de verduras em que predomina a couve, salada debatata, frango frito, alguns pratos com quiabo e “chitlins”, intestino de porco.

Dorothy sofreu muito com o fim do primeiro casamento, do qual teve uma filha autista, na épocarotulada como “retardada” e sentiu-se culpada. A depressão da estrela começou aí. E fazer comidapara as pessoas queridas era uma forma de compensar as falhas, que ela achava que tinha.

Com a autoestima sempre baixa, Miss Dandridge cuidava da dieta e comia pouco para manter-sebela. Tinha horror de ficar gorda como a mãe, mas uma vez por semana ela se esbaldava. Foi assim avida toda. E não cozinhava nada que não fosse a “soul food”. O prato preferido dela era o “chitlins”,que ninguém comia se soubesse o que era. Então ela cozinhava antes, servia com paprika e salsapicada e todos achavam delicioso, até como entrada, com torradas. Muita gente sofisticada, comoGary Cooper e a esposa, comia na casa dela e adorava.

Às vezes Dorothy encontrava alguém que também gostava da “soul food”, como foi com KatrynGrayson, que era sulista. As duas saíam à procura de um bom restaurante que servisse aquelacomida. Geralmente achavam, mas se não, ela levava a amiga para sua cozinha e fazia mostarda(verdura), frango frito e pão de milho e passavam uma noite esplêndida, pois os seus mais felizesmomentos era quando estava cozinhando.

Depressiva, o alcoolismo não demoraria a aparecer e quando embriagada Dorothy tinha uma relaçãoestranha com a cozinha. Achava que as coisas sumiam, mesmo se não tivesse empregada. O fogãonão era o dela, a grelha de churrasco tinha mudado de lugar, etc. Ela ficava tão histérica que ligavapara os amigos contando esses detalhes, dizendo que alguém estava mexendo na cozinha dela. Comoresultado, não cozinhava e nem comia.

Quando encontrava ânimo, Dorothy ia aos restaurantes famosos, mas quase não comia. Bebia mais, éclaro, e beliscava. A não ser que o restaurante tivesse a “soul food”, mas sempre preferiu a cozinhadela, pois achava que ninguém fazia melhor. Tanto que toda vez que se casou, virou dona de casa,pois gostava de fazer suas especialidades para agradar os maridos. Exceto talvez para OttoPreminger, que não casou com ela e era muito rico e sofisticado. Mesmo assim, ela o surpreendiaalgumas vezes com a culinária sulista feita por ela.

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Ainda houve o casamento com Jack Denison, um aproveitador, que abriu um restaurante com odinheiro de Dorothy, como se fosse para ela e faliu. Já na lua de mel ele confessou que casou pelodinheiro. Deprimida, mesmo assim Miss Dandridge comprou uma casa nova, principalmente porcausa da cozinha enorme e uma linda sala de jantar com uma saleta ao lado. No novo lar, mesmo comempregados em casa, ela ia para a cozinha relaxar fazendo sua adorada “soul food”.

Quando Miss Dandridge esteve no Brasil em 1960, época em que chegou deprimida no Rio deJaneiro, ela preparou uma banana frita na cozinha da suíte cinco estrelas do Copacabana Palace. Nãoconsegui esta receita de Miss Dandridge, mas segue aqui uma outra deliciosa que ela adoravapreparar para os amigos mais íntimos em sua casa e inclusive era a que mandava para constar noscookbooks da sua época.

Omelete Emocional da Dorothy Dandridge

Molho:

4 fatias de bacon

1/2 xícara de cebola bem picada

1/2 xícara de pimentão verde

1/2 xícara de aipo picado

2 dentes de alho amassados

1 1/2 colher de extrato de tomate

1/2 k de carne moída

1/4 de linguiça de porco (1 pedaço)

1 colher de sal temperado

1/2 de colher de alho em pó

1 colher de pimenta chili em pó

2 colheres de sherry seco

Modo de preparo:

Fritar o bacon até ficar crocante. Tirar do fogo e repousar no papel toalha. Colocar os legumes e oextrato de tomate na mesma frigideira sem excesso de óleo e cozinhar em fogo baixo 15 minutos, atéos legumes ficarem macios. Acrescentar todos os ingredientes, menos o sherry. Cozinhar, mexendo de

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vez em quando, até a carne estar cozida. Colocar o sherry, o bacon frito e misturar. Reservar.

Nota: o molho pode ser preparado antes mas deve ser servido quente.

Omelete:

Fazer a omelete duas vezes. Usar 3 ovos de cada vez numa frigideira grande.

Ingredientes:

6 ovos

2 colheres de água fria

3/4 de colher de cebola com sal

1 pitada de pimenta

1 1/2 colher de manteiga

Misturar os ovos com água, cebola e pimenta numa tigela. Bater com garfo até ficar espumoso porcima. Derreter a manteiga numa frigideira. Quando fizer espuma, colocar os ovos. Amaciar a omeletepor cima com o garfo. Quando a borda estiver pronta e o meio cremoso ainda, dobrar a omelete emduas partes e virar para um prato. Servir com o molho. Ou espalhar metade do molho sobre a omeleteantes de dobrar. Enfeitar com salsa. Servir com um tomate assado.

Evânio Alves

Dorothy na cozinha do Copacabana Palace

As Divas na Cozinha

Dalida

Salada Mexicana

Nascida na Itália e criada no Egito, Dalida foi, além de atriz, talvez a cantora mais querida dosfranceses, depois de Piaf. A cozinha sempre esteve presente em sua vida. Na casa de seus pais emChoubra, Egito, quando alguém fazia um prato especial convidava os vizinhos. Nos domingos e diasde festa juntavam a comida e faziam uma grande mesa ao ar livre. A mãe de Dalida era italiana,cozinhava e costurava muito bem. Fazia sempre uma sopa árabe e um prato de feijão amassado comervas, que, aliás, a filha adorava.

Este hábito de ter sempre muita gente para comer seguiria Dalida junto com o sucesso musical. Na

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França e já famosa, ela receberia em sua casa com frequência muitos amigos para comer. Porém noprimeiro casamento da estrela, com o famoso produtor musical Lucien Morrice, ela convidou só osamigos íntimos para um jantar simples. E foi naquela noite que ela inventou o próprio bolo de seucasamento, denominado “suflê Dalida”, feito com morangos silvestres e três camadas de bolo.

Em sua primeira casa, Dalida deu atenção especial à decoração da sala de jantar, onde predominou oar antigo com muitas obras de arte. Alí ela iria receber muitas vezes, informalmente, os amigos ecolegas de trabalho para jantar. Geralmente a própria Dalida fazia a comida, na maioria das vezes amediterrânea, sua preferida. Ela aproveitava qualquer motivo para juntar-se ao fogão. Alguém ligavapara tratar de assunto profissional e ela logo convidava: “vem jantar comigo e conversamos”. Entãoia para a cozinha e fazia algo rápido que saía sempre maravilhoso. Geralmente uma grande saladagrega com bastante verdura e um bife grelhado.

Apesar de cozinhar muito, Dalida vivia de dieta. Normalmente comia uma maçã antes do jantar paradiminuir o apetite. Mais tarde ela inventou uma dieta que manteve até o fim da vida: chá bem docecom biscoitos pela manhã e nada no almoço, nem à tarde. O jantar seria normal, mas sem exageros.Adorava doces, mas parava de comer assim que um dos seus vestidos de Balmain ou Saint-Laurentficava apertado. Seguindo esta dieta, ficava impecavelmente atraente para subir aos palcos.

Em sua segunda casa, uma enorme mansão em Montmartre, Dalida continuou dando muitos jantares,para os quais, além dos amigos, convidava gente importante do mundo das artes e do cinemamundial. Nessas ocasiões sua mãe, a prima Rosy e ela preparavam todo o menu pessoalmente. O queacontecia também nas épocas de Natal e de Réveillon. Com toda a família em Paris, Dalida faziasempre questão de preparar a ceia, só para a família. Era a noite em que a famosa estrela maiscozinhava.

Como a família foi sempre ligada à comida, o irmão de Dalida, Orlando, comprou um famosorestaurante em Paris, “Le Coup de Frein”, que era frequentado pela badalada Brigitte Bardot entreoutros famosos. A especialidade da casa era italiana de cozinha refinada e Orlando dedicou aDalida. Lá ele servia as receitas preferidas da irmã e as paredes eram cobertas de suas fotos. Era umlindo lugar, com um jardim interno.

Domingo à noite, Dalida ia para a cozinha do restaurante fazer os pratos preferidos da família e ojantar era oferecido a todos os clientes presentes. Ela adorava essa farra e o restaurante foi seusegundo lar, como ela dizia, até o fim. Dalida chegava lá muitas vezes e ia direto para a cozinha fazero que queria comer, às vezes na companhia de Brigitte Bardot.

Quando conhecia alguém muito interessante, como foi o caso com Alain Delon e Arnaud Desjardins,na época o “guru” dos franceses, Dalida logo convidava para jantar. Fazia uma mesa linda, comflores e candelabros, mandava a cozinheira passear e preparava o jantar. Geralmente as saladasgregas enormes e coloridas e alguma carne grelhada ou assada. Além de cozinhar ela mesma servia.Quando levantava para ir à cozinha, encantava a todos com sua naturalidade em receber. Até opresidente Mitterrand jantava na casa dela, com a mesma informalidade. Uma vez ele ligou dizendo:“vou almoçar com você, quero comer frutos do mar!” e Dalida mandou alguém de casa sair correndopara comprar os ingredientes e quando o presidente chegou estava tudo pronto.

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Chegando aos 40 anos e já com sinais frequentes da depressão que a levaria ao suicídio, Dalidacomeçou a exagerar na dieta. Não comia o dia todo, até que tinha fome e pegava um pedaço de peitode frango e uma maçã na geladeira. Mesmo o jantar que ela mantinha sempre, passou a suprimir, oque custou caro à sua saúde e mais ainda ao seu equilíbrio emocional. Mais tarde seu irmão diria quequando Dalida deixou de gostar de comer e consequentemente de cozinhar, também parou de gostarde viver.

Segue uma das receitas de salada que Dalida amava fazer:

Evânio Alves

Salada Mexicana (versão vegetariana)

Ingredientes:

1 pacote de migalhas de pão de soja (de hamburguer)

1 cebola mal cortada

2 pimentas chili Serrano

1 alface romana lavada

2 xícaras de tomate cereja em metades

1/2 xícara de milho cozido

2 dentes de alho picados

1 abacate cortado em pedaços

1/2 xícara de queijo de soja vegetariano, ralado grosso (ou qualquer queijo branco, tipo Minas)

Aquecer uma panela média com azeite extra virgem em fogo médio e passar as migalhas de pãoalguns minutos. Colocar cebola e pimenta chili e dourar uns 8 minutos. Enquanto doura, podeacrescentar temperos como sal, pimenta caiena ou pimenta vermelha esmagada a gosto.

Numa tigela grande, misturar alface, tomate, milho, alho, abacate, queijo de soja e molho. Fazer umamistura de azeite, maionese, suco de limão, pó de curry e vinagre de maçã. Colocar tudo na saladeirae misturar bem. Colocar a mistura de pão por cima. Está completa! Você tem uma salada deliciosa,rica e picante! Aproveite!

Serve 4 pessoas.

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As Divas na Cozinha

Debbie Reynolds

Caçarola de Berinjela

Em suas memórias, a atriz Debbie Reynolds (1932), confessa que até os trinta anos de idade, omáximo que fazia na cozinha era um simples sanduíche. Não por menos, pois depois de ficar famosaao aparecer no filme “Cantando na Chuva” em 1952, ela teria uma cozinheira chamada Mary, quecuidaria de tudo na cozinha. Aliás, Mary ficaria com Debbie por mais de três décadas e as duas setornariam tão unidas que Debbie a levava até para a casa do namorado no fim de semana.

Porém, bem mais tarde, Debbie passaria a gostar muito de cozinhar e de desenvolver receitas. E estapaixão resultou em vários pratos publicados em seu website. Receitas, aliás, muito fáceis depreparar e de gosto bem variado. Tem assados, cookies, mexicanas e vegetarianas.

Mas bem antes de familiarizar-se com o fogão, a cozinha já era bastante especial a Debbie, desde asua infância. Nascida numa família pobre do Texas, viviam num rancho humilde, mas todos sentavamà mesa da cozinha para animados jantares. Comiam feijão todo dia, coelho quando caçavam e“enchiladas”, receita típica mexicana. No fim de semana comiam os ovos das galinhas do rancho elegumes da horta. Debbie lembra que a simplicidade familiar era tanta que na mesa não tinha umprato ou copo igual ao outro, mas a comida, apesar de escassa, era sempre muito saborosa.

Já em outro rancho, onde foram morar em Burbank, a comida seria mais farta. Havia uma fazendavinícola ao lado e os vizinhos davam baldes de uvas para a mãe de Debbie, que fazia geleia egelatina. De outra fazenda traziam cenouras e no rancho deles cresciam aspargos em grandequantidade.

Mas de todas essas comidas que marcaram a adolescência de Debbie, a primeira delícia que elalembra de ter provado foi um milk-shake na saída da escola. Ela usava o dinheiro da condução e ia apé para casa, mas não deixava de tomar o milk-shake que tanto gostava. A paixão de Debbie por estabebida foi tanta que, durante as crises da sua vida ela só comia pipoca e bebia milk-shake paraaliviar as tensões.

Mais tarde a cozinha teria outra serventia para Debbie. Para se preparar para um filme com TonyCurtis, ela pediu ao pai que fizesse no porão de sua casa uma cozinha igual à do estúdio. Lá ela ficoutreinando a cena, servindo café, suco, ovos e torradas e passando o texto, até se sentir à vontade. Estatécnica Debbie aprendeu com sua amiga Bette Davis.

Debbie relata também em seu livro os “apertos” que teve com a culinária. Uma vez na Europa, elaaceitou um convite para jantar com o Barão de Rothschild, que morava numa mansão espetacular. Ojantar foi maravilhoso, porém, como ela ainda não estava acostumada a tanto luxo, Debbie ficou todaatrapalhada na mesa. O garçom chegou trazendo uma bandeja com um salmão enorme e como

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convidada de honra ela teria que cortar. Sem noção, Debbie partiu o peixe ao meio, pensando:alguém vai querer a cabeça e o rabo? Logo em seguida Debbie foi se servir de batatas com creme etoda a tigela foi parar no seu colo, detalhe, ela estava grávida. Os garçons, afobadíssimos, correramcom toalhas para limpá-la e o Barão, para levantar o astral, disse que o bebê iria chamar-se “petitepomme”, que significa batatinha em português.

Segue abaixo uma das receitas que Debbie adorava preparar em casa para seus filhos.

Caçarola de Berinjela

Ingredientes:

½ kg de berinjela

Sal e pimenta

150 gr de queijo suíço em lascas

1 xícara de parmesão ralado

3 tomates médios fatiados

¼ de xícara de manteiga

1 xícara de molho de tomate

1 xícara de migalhas de pão temperadas

Descascar a berinjela e cortar em fatias redondas. Colocar numa tigela com 2 colheres de sal e águaaté cobrir. Repousar 20 minutos e escorrer.

Enquanto isso, pré-aquecer o forno a 350º e untar a forma ou pirex. Misturar os queijos numa tigela.Reservar 1/3 da mistura. Colocar em camadas a berinjela e metade dos tomates no pirex. Temperarcom sal e pimenta. Cobrir com a mistura de queijos. Repetir as camadas. Por último a berinjela epedacinhos de manteiga. Cobrir tudo com molho de tomate, as migalhas de pão e o restante do queijo.Cobrir com folha metálica e assar por 1 hora. Depois descobrir e assar mais 15 minutos até aberinjela ficar macia e o queijo dourado.

Serve 8 pessoas.

Evânio Alves

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As Divas na Cozinha

Dolores del Rio

Fudge de Nozes

A década de 20 em Hollywood ficou marcada pelas estrelas deslumbrantes e de fascinante belezaque brilhavam nas telas dos cinemas. Uma destas estrelas era a mexicana Dolores del Rio (1904-1983) que desembarcava na terra do “Tio Sam” para enfeitar a constelação cinematográfica. Porém,diferente de muitas outras atrizes estrangeiras que chegavam à procura de sucesso financeiro, Missdel Rio já era rica. Pois vinha de família tradicional do México e o seu pai era um bem sucedidobanqueiro.

Embora não fosse obrigada a cozinhar devido ao fato de sempre ter tido várias cozinheiras em casa,Dolores aprendeu com a mãe e avó a preparar as receitas mais finas e tradicionais do seu país.Portanto, em Hollywood a estrela latina só cozinhava por prazer e raramente, mas sabia fazer coisasmaravilhosas.

À medida que Dolores foi ficando famosa, a imprensa queria saber como era a sua vida em casa e oque fazia para manter-se sempre bela. Miss del Rio confessava que, assim como sua amiga MarleneDietrich, ela adorava cozinhar, e quanto à sua beleza, o segredo era dormir de 10 a 12 horas por dia,não tomar álcool, não comer alimentos gordurosos e uma vez por semana alimentar-se apenas decenouras, suco de laranja e limão. E dava certo.

A mexicana Dolores não gostava de cozinha só para cozinhar. Na sua belíssima mansão emHollywood, seu marido, o produtor e designer Cedric Gibbons, (responsável pelo desenho daestatueta do Oscar), mandou construir uma cozinha moderníssima para a esposa, que, por sinal, eraapaixonada pela arquitetura moderna.

A paixão de Miss del Rio pela cozinha foi repercutindo e abriram no Texas um restaurante com onome dela e a propaganda dizia que a estrela adorava alho e champignon e fazia misturas, tipoensopado ou uma sopa de peixe deliciosa que era servida lá no estabelecimento.

De fato Miss del Rio entendia muito de culinária, mas como era rica de nascimento e ficou muitomais rica ainda em Hollywood, raramente tinha chance de cozinhar. Mas era uma gourmet. Em suasentrevistas ela dá um conselho alimentar: comer bem, de tudo, não se privar de nada, mas nuncacomer demais e sempre sair da mesa de modo que ainda “caiba” um sorvete ou um docinho.

Dolores era contra dietas, dizia que temos que aproveitar os prazeres da mesa, o importante é nãoexagerar e se comer uma coisa maravilhosa hoje, mas um pouco pesada, amanhã comer frutas elegumes e pronto, nada mais. Seguindo esta filosofia Dolores chegou aos 70 anos sem ter ruga algumae ainda ocupando o status de um dos rostos mais belos de Hollywood.

Segue a receita de Miss del Rio:

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Fudge de Nozes

Ingredientes:

2 xícaras de açúcar granulado

1 barra de chocolate amargo

2 colheres de manteiga

1 xícara de creme de leite

½ colher de chá de sal

200gr de nozes

1 colher de chá de baunilha

Misturar o açúcar, chocolate, creme e o sal. Cozinhar em fogo moderado até a mistura ficar densa.Mexer para não deixar queimar. Tirar do fogo, colocar a manteiga, deixar derreter sem mexer. Deixarsobre uma panela de água fresca (não gelada) até ficar morno. Não deve esfriar de repente para nãoficar “açucarado”. Misturar bastante até engrossar. Acrescentar as nozes picadas e a baunilha ecolocar em forma ou prato e depois cortar em quadrados.

Rende mais ou menos 24 quadrados.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Deborah Kerr

Sopa Cremosa de Beterraba

No seu mais famoso filme, “A Um Passo da Eternidade” de 1953, a personagem da atriz DeborahKerr (1921- 2007) vivia perambulando ansiosa pela cozinha enquanto aguardava o infiel maridochegar. Na vida real, Miss Kerr passava também boa parte do tempo dentro da cozinha. Mas aocontrário do filme, o marido não estava para chegar, ele estava ao seu lado cozinhando. Aliás, narealidade era o marido de Deborah, o escritor Peter Viertel, quem mais cozinhava na casa, ele era umgourmet confesso.

Porém, antes de juntar-se com o escritor Peter com quem viveria até o fim, Deborah casou-se com

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Anthony Bartley. Após o matrimônio o casal mudou-se para uma pequena casa em Mayfield, naInglaterra, com seu cão da raça fox terrier. Os dois trabalhavam o dia todo e de noite preparavamalgo prático para jantar, tipo sanduíche, macarrão ou sopa. Deborah não tinha problema em ir para acozinha preparar as refeições, desde que fosse simples e fácil. Isto principalmente quando a famíliaaumentou com a chegada de dois filhos. Mas no início, quando muito cansados, iam a algumrestaurante pequeno e barato para evitar o fogão.

De fato, como não era expert na cozinha, Deborah só fazia pratos simples durante o primeirocasamento. Porém, mais tarde, com o segundo marido Peter, ela aprenderia a preparar receitas maissofisticadas, embora, como já disse, ele cozinhasse mais que ela. No começo dos anos 60, o casal eas duas filhas da relação anterior de Deborah foram morar numa belíssima casa nas montanhas daSuíça e lá tiveram uma verdadeira vida doméstica.

A paixão de Peter pela cozinha era tanta a ponto de ser chamado para o programa da Dinah Shore naTV para dar sua receita de tortilha espanhola. Era este prato que, com a companhia deDeborah, muitas vezes atuando como ajudante, Peter preparava para os famosos amigos que iamvisitá-los no campo. Duas estrelas que sentaram à mesa com eles foram a inacessível Greta Garbo, jáidosa e a reservadíssima Katharine Hepburn, que também saía pouquíssimo. Elas passavam dias comeles desfrutando da comida e do ar da montanha.

Lá Deborah, que havia acabado de fazer o filme “A Noite do Iguana” (ao lado da bela Ava Gardner)quando se mudou, preparava o café da manhã e a noite fazia sopas para ela, o marido e os doisfilhos. Isto além de cuidar pessoalmente do jardim, que adorava. Na sua cozinha Miss Kerr fez comoa sua avó paterna, pendurou sua enorme coleção de panelas de ferro na parede, tornando o lugar maisaconchegante e intimista. Alí, Deborah relembrava os doces maravilhosos que a avó fazia, como osmacarons, e os preparava com frequência.

Outro famoso hollywoodiano que estava sempre presente na casa de Deborah e Peter era o atorRobert Mitchum, que inclusive pilotava também o fogão e fazia os melhores “steaks” para a turma.Embora gostasse dos dotes culinários do amigo, Deborah se gabava ao reconhecer que o marido delaera o cozinheiro com mais imaginação. Ele gostava tanto de ficar inventando pratos, que saía sempreum banquete.

Sentada numa mesa de café da manhã num hotel, Deborah deu uma de sua últimas entrevistas e disseque o que mais gostava de comer era ovos Benedict, em casa ou em qualquer lugar do mundo.Inclusive era o que comia naquele momento.

Segue uma receita das sopas que Deborah adorava preparar nos alpes suíços:

Sopa Cremosa de Beterraba

Ingredientes:

1 beterraba

1/2 talo de aipo

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2 colheres de margarina light

1/4 xícara de farinha

2 xícaras de caldo de legumes

1/2 colher de chá de pimenta branca

1/4 xícara de creme de leite light

Descascar, cortar e cozinhar a beterraba. Lavar e ralar o aipo. Derreter a margarina numa panela,colocar a farinha e cozinhar alguns minutos. Acrescentar o caldo de legumes e deixar ferver. Colocara beterraba e o aipo e cozinhar em fogo baixo por 30 minutos, cobrindo a panela, não mais, ou a corestraga. Passar a sopa por uma peneira, mantendo a cor e a consistência. Temperar a gosto e colocaro creme. Cozinhar mais um pouco sem deixar ferver e servir quente.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Doris Day

Swinging Burgers

A cantora e atriz Doris Day (1924) sempre foi neurótica por cozinha, mas não para cozinhar e simpara inspecionar a limpeza do local. Esta mania Miss Day teve desde criança, quando, ao lado damãe, parava em alguma lanchonete para comer um simples sanduíche e tinha que entrar na cozinhapara ver se estava tudo limpo. Sem cerimônias, ela fazia o mesmo nas casas dos parentes e amigos.Era uma mania que a dominou a vida inteira e segundo ela, era culpa de sua descendência alemã.

A mãe de Doris cozinhava muito, mas a filha não aprenderia nada com ela. Pois Alma, como sechamava a mãe, era dona absoluta da cozinha, não gostava de intrusos perambulando pelo localprincipalmente durante o preparo das refeições e não compartilhava suas receitas com ninguém. Maistarde, Miss Day confessaria que não gostava de cozinhar por causa da mãe. Pois não via porquecompetir com a dona da cozinha, que mandava em tudo e sabia fazer de tudo.

Aproveitando o domínio doméstico da mãe, a popularíssima Doris Day muitas vezes convidavatodos os colegas atores para almoçar em sua casa. Dizia ela que a mamãe havia feito uma salada debatata, e que eles fariam os cachorros-quentes e poderiam cair na piscina. E assim faziam sempre.

Depois que Doris se casou, a sua mãe Alma foi morar com ela e o marido, e continuou metida nacozinha. Mesmo com a cozinheira por perto, era ela, Alma, quem mandava em tudo. A estrela atéaventurava-se a fazer bifes, hot-dogs e hambúrgueres, isto vez ou outra, mas na churrasqueira, queficava bem longe da cozinha, que ainda era o território da mãe.

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Com a presença de Alma na cozinha, Doris perdeu a chance de aprender a cozinhar com maestria.Quando foi fazer seu primeiro jantar, fez tanto spaghetti que dava para encher um tanque. E nãogostava de fazer o molho, pois raramente acertava e no fundo não gostava de molhos, por istoacreditava nunca acertar. Na realidade ela só gostava mesmo era de preparar um grande breakfast eno mais um churrasco, que também adorava.

No café da manhã, sua refeição preferida, Doris comia com disciplina, sempre pouca quantidade esaudável. Todos os dias tinha na mesa ovos, iogurte e queijo cottage (ricota). Tinha também pão, queela adorava a ponto de sair do sério, tanto que alguns amigos diziam que ela comia seis pãesfranceses de uma vez. De fato o café da manhã era a única refeição que Doris adorava preparar etambém saborear.

Durante o terceiro casamento de Doris, com Marty Melcher, tiveram uma cozinheira negra e sulista,com quem Miss Day se dava melhor na cozinha do que com a mãe. Foi o marido de Doris, aliás, quecontratou a cozinheira, porque não gostava de sua mulher na cozinha. Não porque queria preservá-la,pois na verdade, ele só queria explorá-la como estrela.

Mesmo com a ótima cozinheira em casa, Doris inspecionava tudo na cozinha e exigia o máximo delimpeza, para não perder a mania de perfeccionismo. Verificava se todos os alimentos estavam comoela gostava, pois não comia enlatados, congelados, nada que não fosse fresco e de procedênciaconhecida. Portanto, para Doris, comer na casa de amigos ou nos restaurantes era uma questão muitocomplicada.

Doris era capaz de cozinhar alguma refeição simples além do churrasco e do café da manhã, masconfessa que não gostava. Porém, se não aprovasse a comida de alguma ajudante, ela mesma ia parao fogão. Quando fez uma plástica complicada em 1984, teve uma enfermeira em casa, mas não gostoudela na cozinha. Dois dias depois, era Doris quem cozinhava para ela e a enfermeira.

Pelo fato de Doris adorar churrasco, o marido mandou construir uma grande churrasqueira naprimeira casa do casal. Recebiam família e amigos próximos para almoçar, todos ajudando. Com suamania de limpeza, ela não gostava de fazer almoços e jantares grandes na cozinha, era uma dasrazões de gostar de churrasco, pois sujava menos.

Como Doris adorava preparar churrasco, segue uma das suas receitas de hambúrguer, por sinaldeliciosa :

Swinging Burgers da Doris Day

Ingredientes:

½ quilo de carne moída

¾ colher de sal

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¼ colher de pimenta moída na hora

8 azeitonas recheadas, picadas

½ xícara de queijo cheddar em cubinhos

cebolinha verde picada a gosto

½ pimentão verde picado

1 colher de farinha de trigo

Preparo:

Colocar a carne numa tigela grande e temperar com sal e pimenta. Acrescentar os outros ingredientese misturar bem. Dividir em 4 partes.

Aquecer uma frigideira grande com um pouquinho de óleo e fritar os burgers só de um lado. Antes devirar, achatar um pouco. Dourar 5 ou 6 minutos.

Rende 4 hamburguers.

Dica do autor: usar uma frigideira para panquecas para facilitar a formação do hamburguer. Masantes é bom moldá-lo com as mãos, formando uma bola grande que será achatada na frigideira.

Estes burgers são uma delícia se servidos com arroz branco e fritas ou salada, caso queira umarefeição mais leve.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Elizabeth Taylor

Frango ao vinho

Que a atriz Elizabeth Taylor (1932-2011) era uma das mais belas de Hollywood e a única que tinhaolhos violetas todos sabemos. Mas o que pouco sabíamos até então é que ela era louca por comida ecomia despreocupada com a estética. Embora nem sejamos capazes de imaginá-la com este apetitevoraz ao vermos Liz tão bela em muitos filmes que fez, principalmente em “Gata em Teto de ZincoQuente” de 1958, ao lado do também belo Paul Newman.

Pois é verdade, Liz, como muitos a chamavam, não se preocupava com as curvas do corpo quandoestava fora de filmagem, comia à vontade. Aliás, era só para comer que a beldade hollywoodiana

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entrava na cozinha. Também nem precisava frequentar tanto este ambiente da casa, pois mantinha nasua folha de pagamento um bom cozinheiro que cuidava de todas as suas refeições, e também dosfilhos.

Ao contrário de muitas atrizes que viviam de dieta, Liz sempre comeu coisas nada saudáveis. O quemais consumia era “junk food”, hambúrguer e muito frango frito, o que era a sua paixão.Normalmente o café da manhã de Miss Taylor era algo assim: 4 hambúrgueres pequenos, 4 ovosfritos, uma pilha de panquecas com xarope de maple, café e suco. No almoço, até que pegava leve,era bife grande e muita salada. Antes de dormir, estando em casa, ainda mandava para dentro ovosmexidos com bacon empurrados com bastante champagne.

Este exagero causou à diva uma terrível úlcera e gastrite, além dos quilos que ganhou, claro. MasLiz mudava completamente sua rotina alimentar quando tinha que fazer algum filme. Evidentemente,pois nenhuma estrela, ainda mais quando a beleza é sua marca registrada, quer mostrar-se acima dopeso nas telonas. Era nesta hora que Liz entrava numa dieta rigorosa e ficava curvilínea novamente.Passava então a comer, de preferencia no jardim e cercada de seus quatro cachorros, somente doisovos cozidos com salada no almoço e no jantar um filé de frango grelhado com uma mini saladaverde. Assim conseguia rapidamente perder sete quilos em duas semanas. Mas quando acabava defilmar, Liz voltava a comer muito e nada saudável e a beber demais.

Mas como boa amante do garfo, Liz adorava receber em casa os amigos para jantar. Estas reuniões,na maioria das vezes, eram combinadas na última hora. Ela convidava, ou algum amigo ligava seauto-convidando e a empregada tinha que correr para a rua antes que as lojas fechassem para fazer ascompras. E para seu desespero, Liz queria sempre os ingredientes mais complicados. Mas no fimacabava sempre dando certo.

Embora não tivesse uma alimentação balanceada, Liz detestava a comida do refeitório daParamount. Quando em filmagens ela levava o almoço de casa e comia sozinha em seu camarim. Àsvezes comia com o amigo Montgomery Clift, que só era adepto de coisas saudáveis e naturais paramanter o corpo esbelto, o oposto dela. Muitas vezes Monty dizia que ela estava enorme de gorda eela ria...ria às gargalhadas e continuava comendo.

Devo corrigir-me. Antes de tornar-se rica, Liz cozinhou um pouco sim. Após separar-se do hoteleiromilionário Conrad Hilton, seu primeiro marido, ela renunciou a toda pensão e foi morar sozinha. Nasua nova casa, quando sua mãe ia visitá-la e era comum chegar e encontrar a filha na cozinha, namaioria das vezes batendo ovos para fazer rabanada para o jantar.

Outra ocasião em que Liz cozinhou foi durante o casamento com o mega produtor Mike Todd. Elenão gostava da badalação de Hollywood e só saíam no máximo duas vezes por semana para jantarfora. Ficavam em casa, faziam o café da manhã e churrasco de tarde para os filhos. Não tinhamempregados, faziam todo o trabalho de casa.

Para compensar, quando ficou rica-rica com o filme Cleópatra, onde teve o maior cachê do cinemaaté então, Liz se ausentou da cozinha e mandava vir comida de todo lugar do mundo: chili de LosAngeles, caranguejo da Flórida, salmão defumado de New York, filé mignon de Chicago, gumbo decamarão de New Orleans, costeletas de St. Louis, aspargos da França e massa (linguini) de Genova,

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Itália e se esbaldava comendo.

Depois que teve uma forte pneumonia, Liz declarou: “A comida é meu maior vício. Gosto de tudo queengorda. Mas ter uma pneumonia dupla é um modo garantido de perder peso. Como ainda estou fraca,me permito comer bastante no café da manhã e no jantar. Para o café, panquecas, ovos Benetict,linguiças, batatas bem passadas na manteiga e waffles. Às vezes, tudo isso! Para o jantar, tudo, debifes a pizzas e ainda como alguma coisa antes de dormir!”

O apetite voraz de Miss Taylor ficou tão famoso entre as colegas hollywoodianas que elas ficavamcom inveja. Caso de Shirley MacLaine que disse que no meio das atrizes cheias de frescuras paracomer algum pedacinho de bolo ou rosca doce, Liz não fazia cerimônia e comia o prato todo. De fatoela era sempre a única que não se importava com regime. Ava Gardner, sua amiga dos tempos daMetro, comentou que só Liz comia de verdade, como ela. Nunca viu Liz deixar de comer nada queela queria. Eram as duas únicas com apetite voraz!

Segue um dos frangos, nada light, que Liz adorava comer:

Frango em Vinho

Ingredientes:

1 frango inteiro cortado em 8 pedaços

4 colheres de farinha de trigo

4 colheres de óleo ou azeite

1 cebola pequena cortada em fatias finas

1 dente de alho picado

2 folhas de louro

1 colher de chá de sal

1 / 4 colher de chá de pimenta

1-1/2 copo de vinho branco Sauterne

2 colheres de sopa de salsa fresca picada

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Modo de preparo:

Coloque o frango, a farinha e o sal em um grande saco e agite até que os pedaços estejam revestidos.Aqueça o azeite em uma frigideira grande e pesada, coloque o frango e doure todos os lados, cercade 15 minutos. Combine o restante dos ingredientes em uma tigela pequena e despeje sobre o frango.Tampe e cozinhe em fogo brando por 1 hora ou até o frango ficar macio quando perfurado com umgarfo e o molho ficar claro. Retire as folhas de louro e decore o frango com salsa picada adicional.

Serve de 6 a 8 pessoas.

Detalhe: Liz gostava de fato deste frango, pois uma vez comeu tanto que engasgou com uma cocha eteve que ir para o pronto-socorro para se livrar do pedaço da ave.

Evânio Alves

Ella Fitzgerald

tronco de queijo cheddar

As Divas na Cozinha

A maioria dos cantores de jazz dos anos 50 recorriam ao vício das drogas para aliviar tensões,exemplo da inimitável Billie Holiday, que era viciada em heroína, o que inclusive a levou à morte.Este não foi o caso da sua colega musical, a outra diva Ella Fitzgerald (1917-1996), que também eraviciada, mas não em drogas e sim em comida.

E além de ser boa de garfo, Miss Fitzgerald cozinhava muito e bem e gostava de fazer para muitagente. Frequentemente ela reunia um grupo de amigos músicos e fazia um banquete em sua casa, namaioria das vezes todos dentro da cozinha e preparava tudo sozinha, ou só com um amigo ajudando.

Ella gostava de comida simples e farta, mas entendia de culinária em geral, tinha bom gosto esofisticação. Preparava receitas elaboradíssimas. Mas quando não comia em casa, Ella escolhia osmelhores restaurantes e os mais caros e se deliciava com os menus.

Como disse, Ella cozinhava de tudo, mas amava fazer receitas sofisticadas como: rolo de queijo (outronco), creme de mirtilo (blueberry) com iogurte, uma grande variedade de purês de batata, do maisclássico às variantes com queijo, bacon e até um bolo de chocolate com purê de batata. E entendiamuito da culinária negra.

A fama de Ella como jazzista é bem ampla, foram décadas de palco, mas a de cozinheira tambémandou fazendo notícia. Vários livros de cozinha, principalmente sobre comida dos negrosamericanos, citam receitas dela e dizem que Ella sabia tudo da culinária negra, tipo gumbos e todo

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tipo de feijão, ensopados que levam de tudo, como frango, linguiça e legumes (sempre com quiabo)ou de frutos do mar.

Talvez a obsessão de Ella por comida seja pelo fato de que tenha praticamente passado fome durantea sua infância. Aliás, Ella não deve ter tido quase nada para comer se levarmos em conta os lugaresonde morou quando criança. A pequena Ella viveu em péssimos colégios internos e mais tarde na ruamesmo, isto antes de se tornar a cantora número 1 do jazz.

Com a chegada da fama para Ella, veio a época da fartura e dos grandes jantares informais que eladava em sua casa. Como consequência ficou literalmente imensa de tanto comer. A jazzista até sepreocupava com o peso porque vivia no palco e tinha que manter uma certa aparência, o que namaioria das vezes não conseguia, pois para ela era impossível parar de comer freneticamente. Só nosanos 70, depois de passar por alguns problemas de saúde, como diabetes, Ella conseguiu diminuir agula e, de certa forma, reduziu o seu ritmo de cozinhar e, infelizmente também de viver!

Ella foi, sem dúvida alguma, uma expert na cozinha, sabia tudo e maravilhosamente bem, assimcomo fazia ao encantar os nossos ouvidos com canções maravilhosas. Segue uma receita de entrada“retrô” preferida de Miss Fitzgerald:

Tronco de Queijo Cheddar

Ingredientes:

1/2 quilo de queijo cheddar ralado

1 colher de mostarda de Dijon

1/2 colher de molho Tabasco

1/2 xícara de salsa fresca picada

1/2 xícara de pimentões verdes cortados em tiras finas

1/2 xícara de nozes picadas

Modo de fazer:

Colocar o queijo em tigela grande. Acrescentar mostarda, Tabasco, salsa e pimentão. Misturar bempara que fiquem distribuídos por igual, se precisar colocar mais mostarda e Tabasco. Colocar umplástico (filme) numa superfície lisa e limpa e pôr a massa de queijo. Enrolar a massa com ajuda dofilme, começando do lado perto de você. Formar um tronco. Remover cuidadosamente o plástico epassar o tronco nas nozes, apertando um pouco. Embrulhar novamente o tronco com o plástico erefrigerar por 1 hora, pelo menos. Cortar em fatias e servir com biscoitos crackers. (ou biscoitossalgados, integrais, etc).

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Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Gertrude Stein e Alice Toklas

Sopa Francesa de Cebola

A década de 20 foi uma importante época cultural na França. E para citar as riquezas artísticasdaquele tempo, não podemos esquecer de falar em duas mulheres fenomenais, Gertrude Stein e AliceB. Toklas. Elas foram, sem dúvida alguma, personalidades importantíssimas na história de Paris,principalmente de Montmartre, onde moravam. Miss Stein e Alice viveram juntas, como um casal,mais de três décadas, desde 1908 quando se conheceram até a morte de Gertrude. E nesse temporeceberam ilustríssimos convidados para jantar e discutir arte em sua casa.

Gertrude era a intelectual, escritora e crítica de arte, Alice era a sua eterna companheira, empresáriae cozinheira, uma não entendia do assunto da outra, mas se completavam. Enquanto Gertrudeescrevia, Miss Toklas cozinhava ou comandava as refeições a ser preparadas por uma cozinheiracontratada. Os mais finos pratos foram servidos a ilustres convidados como o bailarino russoNijinsky, o teatrólogo Jean Cocteau e os pintores Apollinaire, Matisse e Picasso, ou seja, o ápice daarte.

A fama chegou para Miss Stein depois de vários livros lançados, com um jeito inovador de escrever,e amigos cobravam dela a sua autobiografia. Porém, íntegra como sempre foi, Gertrude dizia que nãofaria suas memórias porque a sua vida não tinha nada de extraordinário para contar. Apaixonada porAlice, Gertrude resolveu então escrever sobre a vida da namorada. Foi então que nasceu a sua maispopular obra: “A Autobiografia de Alice B. Toklas”, onde, inclusive, Gertrude não deixou de falarsobre os dotes culinários da companheira, dos lugares onde iam à procura de boa gastronomia e dosjantares que faziam em casa, que, aliás, tinha altas paredes cobertas de obras assinadas porimportantíssimos pintores.

Na obra, Gertrude conta também sobre uma noite em que aguardava Picasso para jantar e ele estavaatrasado. Foi motivo de preocupação para ela, porque ele jamais se atrasava. Picasso acabouchegando depois do 1º prato, reclamando que sua mulher estava experimentando vestidos.

Outra noite, Gertrude avisou à sua cozinheira que Matisse iria chegar para o jantar, e ela então disseque faria ovos fritos para ele ao invés de omelete. Afirmou que gastava tudo igual mas demonstravamenos respeito e que ele iria entender o porquê. Esta fúria de Hélène foi porque Matisse tinha maniade chegar e perguntar o que tinha para o jantar e isto era uma grande falta de educação para osfranceses.

Após a morte de Gertrude, um jornalista pediu a Alice para fazer uma biografia da vida das duasjuntas e Alice não aceitou. Alegou que se Gertrude não quis contar suas memórias, porque ela faria?

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Foi então que Alice teve a ideia de escrever “O Livro de Cozinha de Alice B. Toklas”. O que nãodeixa de ser uma biografia de ambas, pois nele Alice conta histórias interessantíssimas sobre asvisitas célebres que recebiam para jantar em seu apartamento e de quebra dá as receitas quepreparava para os jantares intelectuais da Rue de Fleurus nº 27.

De muitas receitas que gosto do livro de Alice, escolhi esta que deixo abaixo. É excelente e chiquecomo entrada, principalmente se as louças forem francesas.

Sopa francesa de Cebola com Queijo Suíço

Você vai precisar de:

Cebola - manteiga - açúcar - pão francês - queijo suíço - caldo de carne - conhaque - sal e pimenta -queijo parmesão.

Colocar 4 cebolas fatiadas em 4 colheres de manteiga na frigideira. Espalhar 1 colher de açúcar emcima das cebolas. Depois de 10 minutos, elas estarão douradas e não marrons, tirar do fogo. Cortar opão francês em fatias, passar bastante manteiga e cobrir cada pedaço com 1 fatia de queijo suíço etorrar. Colocar as cebolas num pirex e jogar por cima 6 xícaras de caldo de carne quente (knorr oumaggi), 1/2 xícara de conhaque, sal e pimenta e as torradas. Colocar em forno moderado pré-aquecido 20 minutos. Servir quentíssima e jogar queijo parmesão por cima.

Miss Toklas disse que esta receita pode ser feita com sopa pronta, em pó ou de lata. Usando astorradas com uma fatia de queijo em cima. Acrescentar 1/2 xícara de conhaque para 1 pacote desopa. Mas, particularmente, prefiro com as cebolas.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Ao vermos a atriz, dançarina e cantora Ginger Rogers (1911-1995) dançando com Fred Astaire emalguns dos muitos filmes que fez, temos a ideia de que ela só fazia isso o dia todo. Mas não eraverdade, Ginger gastava bom tempo da sua preciosa vida dentro da cozinha, que inclusive, era umdos lugares em que mais gostava de ficar quando estava na sua magnífica casa com mais de vintecômodos em Beverly Hills.

Aliás, existem boas histórias relacionadas à cozinha ocorridas na vida de Miss Rogers. Umasalegres e outras nem tanto. Ainda antes de ficar famosa, quando viajou com a mãe para a Califórnia àprocura de sucesso, as duas ficaram em hotéis baratos que não tinham cozinha e nem era permitidocozinhar no quarto. Apesar da proibição, a mãe de Ginger levava uma mala que era uma verdadeira

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cozinha ambulante. Havia dentro uma chapa elétrica, um coador, talheres, dois pratos, sal, pimenta eaçúcar, para citar alguns itens.

Com o orçamento reduzido, era assim com a cozinha improvisada que as duas se viravam paracomer. Mãe e filha tomavam um bom café da manhã para aguentar o dia todo e de noite o jantar erana maioria das vezes sopa, chili em lata ou variavam com misto quente com leite.

Ginger tinha orgulho da praticidade da mãe na cozinha improvisada e adorava a comidinha feita nachapa, como ovos e hambúrguer. Para variar, uma vez por semana iam a um restaurante comer umbife com batata assada, o que não custava tão caro.

No início do casamento com Lew Ayres, Ginger, como tantas outras divas, queria ser a dona de casaimpecável. Começou a fazer jantares tão esplêndidos que ele saía do trabalho e ia correndo paracasa para comer. Mas uma vez Lew se deu mal. Ele havia caçado pássaros selvagens e levado doispara casa. Ginger achou parecido com pombos e resolveu cozinhar os bichos para fazer uma surpresaao marido. Ela caprichou nos temperos e colocou no forno, toda orgulhosa. De repente um cheirohorrível encheu a casa inteira e ela sem saber de onde vinha. Por fim lembrou dos pássaros e correupara a cozinha. Eram eles, os tais pombos! O marido riu muito, dizendo que aquelas aves não eramcomestíveis. Ginger assume em suas memórias que este foi o seu primeiro e único fracasso culinário.

Quando Ginger comprou sua bela casa de frente para o mar na Califórnia, ela mandou fazer umachurrasqueira numa parte do jardim com grandes árvores, onde gostava de receber os amigos paraum churrasco ou seu famoso spaghetti com molho de tomate, sua especialidade. As reuniões eramsempre informais, convidava muita gente, caso do brasileiro Jorginho Guinle, às vezes só parahambúrgueres e hot-dogs e depois jogavam tênis à noite.

Ginger gostava de provar comida exótica. Uma vez ela foi a um luau oferecido por amigos e adorouo peixe cru muito condimentado, o pernil assado na brasa e várias sobremesas de coco. Porém, naArgentina, depois de passar pelo Rio de Janeiro e se deliciar com o chiquérrimo menu doCopacabana Palace, onde provou a feijoada carioca, ela e o marido Jacques Bergerac foram a umgrande churrasco. O churrasqueiro argentino disse a ela que estava assando testículos de boi, que erauma iguaria do local. De repente Ginger alegou que a fome passou, ela só beliscou batata, azeitona ealface para disfarçar, pois achou a carne exótica demais para o seu gosto.

Aliás, um outro marido de Ginger, Jack Briggs, achava ela uma ótima cozinheira e se gabava aodizer que a esposa fazia o melhor molho de tomate que já comera. Ele gostava também dos ovos“não-mexidos” que ela inventou. Era assim: 2 ovos batidos com ¼ de xícara de leite. Colocava embanho-maria com tampa. Eles saíam parecendo um pudim e cada um colocava sal e pimenta em seuprato.

Ginger gostava de agradar os homens na cozinha, mas nem sempre eles a agradavam. Uma vez ela ea amiga Lucille Ball saíram para jantar com James Stewart e Henry Fonda. Foram dançar, sedivertiram mas não jantaram. Pois como os dois astros não tinham dinheiro para os lugares caros damoda de Hollywood, sem cerimônia levaram as duas para uma carrocinha de cachorro-quente.

Numa outra noite os espertalhões as convidaram para conhecer o apartamento que estavam

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dividindo. As duas acharam o convite muito romântico e chegando lá foram levadas dançando para acozinha, onde, para surpresa das estrelas, louças sujas de uma semana as esperavam. Já que osbonitões eram tão boa companhia, elas resolveram levar na esportiva e encararam as louças.

Ginger sempre quis um casamento que durasse para sempre. Pois cuidar do marido, cozinhar paraele e ser uma boa companheira eram tão naturais para ela como respirar. Infelizmente Miss Rogersnão conseguiu, mas teve o maior prazer em ir para a cozinha preparar deliciosos pratos para os cincomaridos que teve.

Aí vai uma deliciosa receita de Miss Rogers. Aliás, uma receita tipicamente americana queinclusive já foi nome de filme:

Evânio Alves

Ginger Rogers

Tomates Verdes Fritos

Tomates Verdes Fritos

Ingredientes:

4 tomates verdes

1/2 xícara de fubá

1/2 xícara de queijo parmesão ralado

3 colheres de farinha de trigo

1/2 colher de chá de sal

1/2 colher de chá de orégano

1/2 colher de chá de gengibre ralado

1 pitada de pimenta vermelha (em pó ou flocos)

2 ovos

1/4 xícara de azeite

Sal

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Preparo:

Cortar os tomates em fatias grossas, salgá-los e deixar 10 minutos repousando. Misturar fubá, queijoralado, farinha e temperos numa tigela. Em outra tigela, bater os ovos. Aquecer o azeite numafrigideira grande. Secar os tomates e mergulhá-los nos ovos e passar na mistura de fubá e farinha. Emseguida fritar até dourar, 3 a 4 minutos de cada lado. Secar com papel-toalha e está pronto.

As Divas na Cozinha

Greta Garbo

AlmÔndegas suecas

A sueca Greta Garbo (1905-1990) é considerada até hoje a atriz mais enigmática que já existiu emHollywood. Não por menos, pois a estrela abandonou as telas no auge do sucesso e nunca maisvoltou a filmar, nem sequer dar uma entrevista. Depois de dizer “I want to be alone”, frase que seriaseu marco, Garbo viveria praticamente enclausurada por quase cinquenta anos no seu luxuosoapartamento em Manhattan. Boa parte deste tempo, aliás, trinta anos, Garbo teria somente acompanhia da fiel empregada Claire, de quem se tornaria grande amiga.

Diferente da maioria das outras atrizes, Garbo não gostava de muitos empregados em casa. Sevirava só com a empregada. Nos dias úteis Claire ia às compras e preparava toda a alimentação daoutrora estrela, mas nos feriados e fins de semana, a própria Garbo preparava o seu almoço, que namaioria das vezes se resumia a ovos pochês e legumes frescos. Ela gostava deste menu porque erasimples prepará-lo, apesar de achar que não tinha gosto de nada. Mas, às vezes, para ficar maissaboroso, Greta acrescentava uma colherada de creme azedo por cima com sal, e costumava dizer aClaire que assim ficava melhor que com margarina.

Para o jantar, Garbo costumava cozinhar dois ovos, até ficarem bem duros e comia com legumes. Àsvezes pensava em fazer omeletes, mas achava que dava muito trabalho. O simples fato de ter queficar olhando e virando a entediava. Esta falta de habilidade com os ovos para preparar omelete foisomente na vida real, pois no delicioso filme “Ninotchka” de 1939, Garbo se sai muito bem no fogãopreparando omeletes para os seus três amigos russos, embora seu desejo fosse estar fazendo para oseu amor que havia ficado em Paris.

Mas voltando à real má desenvoltura de Garbo com os omeletes, ela dizia aos amigos que talvez umdia fizesse. Sabia que tinha que misturar os ovos numa tigela e depois jogar numa frigideira muitoquente, mas ficava desesperada só de pensar no processo. Porém, queria tentar, pois estava enjoadade ovos cozidos sempre, pois só variava quando fazia os pochês, o que achava muito simples depreparar. Só jogava os ovos numa frigideira com água fervendo, deixava lá e pegava o que subia naágua. Mas achava sem graça do mesmo jeito. Fazia sempre, comia puro, nem usava com torradas,gostava de vê-los escorregando no prato.

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Para passar o tempo, além de cozinhar, Garbo ajudava sua empregada com as tarefas de casa. Clairetinha artrite e muitas vezes a própria Garbo ficava com a parte pesada da limpeza, principalmente dacozinha. A estrela punha luvas de borracha, forrava a pia com toalhas de papel, espalhava cloro porcima e deixava de molho a noite toda para a pia ficar bem clara no dia seguinte. E ainda subia naescada para esfregar as janelas e trocar as lâmpadas. Isto ocupava bastante o tempo de Garbo, que narealidade, depois que abandonou as telas, não tinha ocupação alguma.

Garbo sempre manteve uma alimentação bem peculiar. Quando começou um romance com Mercedesde Acosta, ela se apaixonou por comida natural. Desde então, não abandonaria mais o hábito de fazersempre dieta. As duas famosas passavam finais de semana na casa de praia de Garbo e lá sealimentavam de frutas, legumes e carnes brancas como peixe e frango. O banquete vegetariano,preparado por elas, se resumia a hambúrguer vegetal feito de arroz integral e avelãs picadas,misturados com um ovo e frito em óleo de soja. De sobremesa tinham grapefruit grelhada recheadade melado.

Além de Mercedes, Garbo levou outros amantes à sua magnífica casa de praia. Lá a estrela passavahoras cozinhando deliciosos e saudáveis pratos para ela e o fotógrafo Cecil Beaton reporem asenergias que perdiam fazendo amor selvagem, inclusive na cozinha. Um dos pratos que Garbopreparava era massa, que, apesar de estar sempre de dieta, ela adorava, embora não se desse bemcom massas, o que não a impedia de às vezes comer um pouco. Naqueles dias quando sobravaespaguete Garbo punha numa folha de jornal e dava para os passarinhos no quintal. Adorava vê-loscarregando um fio de espaguete no bico enquanto voavam.

Embora viajasse pouco, com medo de ser reconhecida, Garbo ia a alguns países. Na França elapassava alguns dias na casa do amante Schlee. Ambos adoravam ir a um restaurante tradicionalcomer a reserva especial do queijo de cabra, o preferido de Garbo. Brincadeiras à parte, será queGreta gostava do queijo porque foi criada bebendo leite de cabra, como confessou no filme“Ninotchka”? Bom, mas apesar de saírem para jantar, Garbo e o amante compravam mantimentos namercearia e faziam muitas refeições no apartamento. Quando Schlee morreu a esposa mandou benzertoda a cozinha, principalmente a geladeira, pois ouvira dizer que Garbo tinha mania de ir à cozinhafrequentemente, abrir a geladeira e procurar coisas para beliscar.

Talvez esta mania de beliscar seja verídica, mas Garbo se esforçava para não quebrar sua rotinaalimentar, estivesse ela onde fosse. Uma vez, num set de filmagem, um técnico reclamou de umbarulho que estava atrapalhando a gravação. Após verificarem, descobriram que era Garbo queestava no seu camarim fazendo suco de frutas no liquidificador, por certo para não comer asguloseimas oferecidas pelo estúdio.

De fato Garbo era obcecada por alimentos saudáveis, era tão raro fazer frituras que nem sepreocupava em comprar panelas antiaderentes para a sua cozinha. Mas apesar desta paixão por dieta,algumas vezes ela se deixava levar pela gula e comia coisas “perigosas”. Garbo adorava damascosaustralianos e acreditava que faziam mal, mas comia alguns. Marrom glacê, peixe, sardinha em lata,tudo isto ela adorava mas não podia comer muito, pois seu estômago era peculiar, não fazia adigestão direito, mas vez ou outra ela cedia, mas só um pouco e raramente.

Outro prato que Garbo adorava comer e também fazer e que fugia da sua dieta era Almôndegas

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Suecas. Talvez ela tenha aprendido esta receita com sua mãe, que também adorava cozinhar. Segueabaixo, do jeitinho que Garbo fazia e que eu faço também e adoro:

Almôndegas Suecas

Ingredientes:

600gr de carne moída

2 colheres de cebola bem picadinha

1 colher de chá de sal

1/3 colher de chá de pimenta

1 1/4 xícara de leite

2 ovos (levemente batidos)

4 xícaras de corn flakes (flocos de milho)

1 xícara de leite (para o molho)

Modo de Preparo

Colocar a carne numa tigela e acrescentar a cebola, sal, pimenta, leite e os ovos. Fazer os corn flakesbem esmigalhados e colocar na mistura. Misturar tudo muito bem e formar as bolas. Passar nafrigideira com manteiga. Remover da frigideira. Colocar leite na manteiga em que a carne foi frita eentornar este molho nas almondegas.

Se servido com arroz com passas e uma salada, desce muito bem.

Serve 4 pessoas.

Dica do autor: juntar um pouco de azeite na manteiga para ela não queimar.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Gypsy Rose Lee

Caldo de Peixe Português

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A mãe de Gypsy, chamada Rose, era uma artista de Vaudeville e viajava pelas estradas do paíslevando uma turma de meninas para o seu show. A trupe vivia com pouquíssimo dinheiro e comidaera um problema, só comiam sardinha em lata com cream crackers ou pão dormido. Mas Rose davasempre um jeito e não deixava faltar nada para suas pequenas atrizes, nem que tivesse que roubar.Por exemplo, eram convidadas para um banquete e Rose ficava junto da mesa roubando pedaços deperu, de lagosta, de tudo que conseguisse, até encher de comida uma caixa de violão. Alegava queera para os cachorros mas era pra ela e as meninas. Gypsy, ainda adolescente, morria de vergonha.

Outra vez, num restaurante caríssimo, a mãe pediu aspargos, filé de linguado, filé mignon e outrascaras delícias, se esbaldaram. Na hora da sobremesa, um fabuloso sorvete com cerejas flambadas,ela pegou uma caixa de fósforos com uma barata morta dentro e disfarçadamente colocou o inseto nosorvete e chamou o garçom, fazendo-se de fina, sem nenhum escândalo. O truque deu certo e foramembora sem pagar, e mais, com o maitre pedindo desculpas e morto de vergonha.

Como a grana era mais que curta, durante estas viagens com o show, a mãe de Gypsy com todas ascrianças se hospedavam em hotéis muito baratos e a maioria deles não tinha cozinha. Apesar de serproibido cozinhar no quarto, a mama Gypsy improvisava uma cozinha atrás de uma cortina epreparava a comida. Foi assim que fez panquecas no dia de aniversario da pequena Gypsy, mas paraazar da turma, o gerente sentiu o cheiro e foi até o quarto e decretou a expulsão, mas a mãezonasempre arrumava uma confusão e era perdoada.

Quando tiveram finalmente uma casa, em Long Island, pobre mas para elas um luxo, Rose vibroucom a cozinha, de ladrilho antigo e o fogão quase moderno. Alí, ela fazia ensopado, geleias egelatinas para as filhas. Gypsy observava sua mãe cozinhando, mas futuramente, quando seinteressaria pela cozinha, não repetiria nenhuma receita da mãe.

Assim que começou a fazer sucesso nas telas e nos palcos, Gypsy passou a frequentar os melhoresrestaurantes, onde era recebida com entusiasmo pelos donos. Mas como sofria de úlcera e vivia dedieta especial baseada em leite e ovos, o cheiro das massas maravilhosas a incomodava. Mas tinhaprazer em ir assim mesmo.

No seu primeiro casamento com Bob Mizzy, Gypzy cozinhou pela primeira vez e até assavabiscoitos e tortas. Adorou ser dona de casa no início, mas durou pouco. Com ele morou numafazenda, criou galinhas e carneiros, plantou frutas e legumes, teve muitos cachorros e gatos. Decoroua casa maravilhosamente. Porém, o casamento a deixou infeliz, ele não aprovava a carreira dela.

Antes desta experiência, Miss Rose Lee nunca havia cozinhado, nem sequer feito compras demercado. Disse ao marido que não podia fazer as duas coisas, ser uma estrela e dona de casa aomesmo tempo e o casamento acabou.

Apesar de não se adaptar à cozinha nesta época, Gypzy não se incomodava em cozinhar para o filhoErik. Principalmente durante as viagens com os seus shows quando ela o levava num trailer pelaAmérica. Dentro do veículo a striper cozinhava com uma frigideira só e sem reclamar, pois afinalestava fazendo o que amava, embora estivesse ainda descobrindo.

No início dos anos 50, Gypsy casou-se com o artista plástico Julio de Diego e voltou a fazer o papel

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da dona de casa dedicada. Revistas mostravam fotos do casal na mesa, ela dizendo que cozinhavapara ele e jantavam juntos todas as noites.

Uma das especialidades que Gypsy mais gostava de fazer para os jantares com o marido espanhol erasobretudo peixe e coisas do mar, que aliás, havia aprendido a preparar com ele mesmo. E foi com eletambém que Gypsy aprendeu a pescar, e se tornou tão profissional no assunto que acabou ganhando omaior prêmio americano de pesca, em 1954. Uma foto dela segurando um peixe enorme foi parar nosjornais.

Na verdade era o marido quem cozinhava muito bem, ele fazia uma paella maravilhosa. De fato erao chef da cozinha, Gypsy era apenas uma ajudante que cortava os legumes. Ele decorou a cozinha doapartamento deles em New York com panelas de cobre penduradas, potes mexicanos nas prateleiras,alho e ervas secas e frutas por toda parte. E recuperou um enorme fogão a lenha.

Além de ter sido a precursora do striptease, Gypsy fez filmes, peças sérias, escreveu livros e foiuma das maiores colecionadoras de arte de seu tempo. Quase publicou um livro de receitas, não sesabe porque desistiu. Ia incluir as receitas que tiveram importância em sua vida, algumas boas parafazer num trailer, outras que aprendeu com o marido e outras que recolheu nas viagens pelo mundo.

Como Gypsy não lançou o seu cookbook revelando as delícias que fazia ao lado do marido, segueuma aqui:

Caldo de Peixe Português

Usar quantidades iguais de batata, tomate e cebola, cortadas bem finas. Colocar todos estesingredientes na panela de pressão com meia xícara de azeite e boa quantidade de água. Espalhar umacolher de salsa, 1 pitada de sal, pimenta branca a gosto, 1 colher pequena de alho picado e lascas debacalhau ou sardinha inteira. Cozinhar por 3 a 4 minutos. Reduzir a pressão, jogar água fria na tampapara abrir a panela. Pode servir frio ou quente.

Os pescadores portugueses preparam isto de manhã cedo no barco de pesca, em cima de um braseiro,com um saco de areia fazendo peso sobre a tampa da panela. Se a pesca for boa e sobrar peixe alémdos vendidos para o mercado, eles fazem com peixe. Se não, comem apenas os vegetais. Combinabem com qualquer peixe, marisco, ou filés de peixe enrolados, presos com palito.

Dica do autor: se você preferir um caldo mais consistente, deixar a pressão da panela sair sem levara torneira e pode até deixar uns minutinhos mais no fogo medio. Este prato é delicioso!

Evânio Alves

Gypsy na sua cozinha em Beverly Hills

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As Divas na Cozinha

Evânio Alves

Ingrid Bergman

Truta com molho cremoso

No filme “Notorius”, obra de Hitchcock de 1946, Ingrid Bergman (1915-1982) está no Rio deJaneiro acompanhada de Cary Grant. Sentados num bar na Cinelândia, ela confessa a Grant queprecisa urgente de uma cozinheira, pois detesta cozinhar. Mais tarde, seduzida pela beleza da vista deCopacabana, Alicia, o personagem de Ingrid, convida Grant, aliás, o personagem vivido por ele,para jantar e diz que exclusivamente naquela noite ela fará o jantar e vai para a cozinha assar umfrango. Mas só por aquela noite pois está enlouquecidamente apaixonada por ele.

Assim como no filme, por sinal excelente obra, na vida real Ingrid não se familiarizava muito com ofogão. Para ser mais sincero, ela não achava graça na cozinha toda. Ela detestava tanto cozinhar que,novamente como no filme, não se limitava a confessar isto aos amigos. Talvez tenha ficadotraumatizada por causa de sua rígida escola na Suécia, em que o curso de culinária era muitoexigente.

Mas uma coisa era certa, Miss Bergman adorava comer, como demonstrou ao ficar apaixonada porsorvete quando chegou na América em 1939 e pela massa na Itália. Ela achou uma delícia o sorveteamericano com calda quente, sendo capaz de comer quatro por dia em New York. Miss Bergman nãoestava fingindo ao confessar esta gula a um jornalista. Tanto era verídico este caso que o estúdio quea contratou quis faturar em cima do gosto dela pelo sorvete.

Apesar de não cozinhar, Ingrid nunca sentiu falta de nada para comer durante a sua infância, pois suamãe e sua madrasta cozinhavam muito bem. Mas depois que cresceu e casou-se as coisas mudaramum pouco. Claro que, como toda mãe, ela não escapou de fazer uma comidinha para os filhos, e atémesmo para os maridos, mesmo que fosse uma sopa de noite ou um café da manhã.

No seu primeiro casamento, com um bem sucedido dentista, o sueco Petter Lindstrom, com quem teveuma filha, Ingrid não precisava cozinhar, mas também quase não conseguia comer, pois elecontrolava a sua alimentação, de modo que ela saía da mesa ainda com fome. E para satisfazer-seMiss Bergman assaltava a geladeira de madrugada e comia tudo que encontrava.

Porém, em contrapartida, Ingrid compensou a limitação alimentar no segundo casamento com odiretor Rosselini, com quem teve três filhos, entre eles a atriz Isabella. Nessa relação tumultuada,Ingrid comia travessas de massa com carne ou peixe, doces e frutas de sobremesa, ficando,consequentemente, bem gordinha. Mas, assim como Elizabeth Taylor, ela não se preocupava com oganho de peso, sempre que necessário fazia um rígido regime, sem reclamar, para aparecer em algumfilme.

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Eram raras as vezes em que Ingrid se metia na cozinha. Quando chegaram a Hollywood, ela e omarido dentista faziam questão de receber os famosos: Gary Cooper, Clark Gable, Gregory Peck,Charles Boyer, Hitchcock e os grandes produtores, todos com suas esposas. Mas ela não seaventurava a ir para a cozinha pôr a mão na massa, encomendava um buffet de primeira qualidade.Porém, antes da comida chegar, Miss Bergman ficava aflita com os convidados e ia para a cozinhamontar uma grande bandeja com queijos e biscoitos salgados, para acompanhar o champagne e owhisky, isto na intenção de ajudar os serviçais. Mas depois de passar alguns apertos recebendo muitagente, Ingrid optou por reduzir sua lista, selecionando só meia dúzia de amigos mais íntimos.

Quando não recebia em casa, Ingrid visitava alguns dos seus famosos amigos. Ela adorava comer nacasa de Hitchcock, cuja esposa, Alma, segundo ela, era uma das melhores cozinheiras do mundo.Alma sempre oferecia as receitas a Ingrid, mas ela não aceitava alegando que não tinha tempo para irao fogão preparar nada. Durante essas visitas Ingrid sempre repetia o prato uma ou duas vezes, semcerimonia alguma. Revelando-se com um grande apetite para uma atriz de Hollywood, embora issonão aparecesse nas telas.

Apesar de Ingrid não gostar de cozinhar, ela as vezes se aventurava em preparar algum peixe. Segueuma receita dela especial para truta.

Truta com Molho Cremoso

Ingredientes:

4 trutas

Suco de 1 limão

600ml de creme de leite

Migalhas de pão

Fatias de limão

Salsa picada

Tomate em cubinhos

Modo de fazer:

Colocar a truta em um pirex, com sal e pimenta e suco de limão com 4 colheres de água. Assar emforno médio a 350º por 25 minutos. Tirar o peixe do pirex, colocar o molho numa panela com ocreme, deixar ferver até reduzir, sem tampa, em fogo alto. Colocar o peixe de volta no pirex com omolho por cima, espalhar as migalhas de pão e voltar ao forno até dourar.

Enfeitar com limão, salsa e tomate.

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Serve 4 pessoas

As Divas na Cozinha

Além de ativista social, sex symbol e premiada atriz, a estrela americana Jane Fonda (1937) é uma,pode-se dizer, exímia cozinheira. E esta paixão resultou num livro de culinária lançado por ela nosanos 90, recheado de deliciosas e saudáveis receitas. E ela não parou por aí, no momento MissFonda está preparando outro cookbook para breve, onde pretende colocar algumas receitasbrasileiras.

Pois bem, cozinhar para Miss Fonda significa sentir prazer em refeições deliciosas e que satisfaçamo apetite, sem a pressa distraída querendo chegar rápido ao final da refeição.

Jane aprendeu esta filosofia desde cedo com a convivência com o pai, o famoso ator Henry Fondaque, por sinal, adorava hortas e comidas saudáveis. Durante a sua infância Jane comeu frutas everduras frescas da estação, colhidas no quintal de casa. Ela foi criada na fazenda do pai e como eraépoca de guerra, ter uma grande horta em casa era patriotismo. Então a futura estrela cresceuacostumada com vegetais, com a criação de frangos e galinhas chocadeiras de ovos e até colmeiaspara colher mel.

Quando adulta e já famosa, Miss Fonda se orgulhava de reconhecer ruibarbo, aspargos e uma sériede outras verduras, devido à sua criação.

No entanto a bem sucedida família Fonda tinha sempre alguém que cozinhava para eles e a cozinhada casa jamais foi um lugar acolhedor, como Jane relata em suas memórias. Porém, apesar dapouquíssima experiência com a cozinha, Jane cozinhou quando, aos 24 anos, casou-se com o diretorfrancês Roger Vadim. Nesta época ela se achou virando uma fanática por cozinha e devorava livrosde culinária, inclusive leu “O Livro de Receitas de Alice B. Toklas”, considerado um clássico naárea e que é um dos meus favoritos.

Nesta fase da vida, devido à inexperiência doméstica, Miss Fonda sofria até para escolher um bife.Uma vez chegou a comprar carne de cavalo e foi Vadim quem percebeu na hora de comer. Foi nestaépoca também que recebeu a ex-esposa de Vadim, ninguém menos que Brigitte Bardot, para jantar emsua casa. Jane ficou muito nervosa, mas quem não ficaria, pois era Brigitte Bardot. Para esta noite,Jane preparou um Boudin Noir, mais conhecido como chouriço. Como Jane já era uma cozinheiraastuta, havia aprendido com os erros que cometera, o prato ficou bom e ninguém percebeu que elanunca tinha feito um chouriço antes em sua vida.

Outra “saia justa” que Jane teve na cozinha foi no dia do aniversário de 3 anos de sua filha. Elalevou horas preparando uma complicadíssima receita de bolo de trigo integral e na hora dosparabéns ela escorregou e o bolo, já enfeitado com as velinhas, espatifou-se todo no chão. Paraquebrar o constrangimento, os amigos saíram às pressas até a padaria mais próxima para comprar otradicional bolo de aniversário, que por sinal era maravilhoso também.

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O tempo de cozinheira de Jane duraria pouco. Pois nos anos 70 ela, além de atriz, começou atrabalhar na área de medicina esportiva e acabou ficando sem tempo para o fogão. Desde entãopassou a ter pessoas contratadas para cozinhar para si. Porém hoje, com mais de 70 anos de idade ejá aliviada do excesso de trabalho, Jane voltou a frequentar a cozinha com a mesma paixão de antes.Aliás, até um pouco mais, pois até mesmo receber um jornalista em casa para uma entrevista, é umbom motivo para ela correr ao fogão e preparar alguma receita especial, como: frango ao curry comarroz integral e couve de Bruxelas, um dos pratos que mais gosta de fazer. Isto Miss Fonda conta emseu mais recente livro de memórias “Prime Time”, lançado em 2012.

Como também gosto de cozinhar experimentei vários pratos do livro de receitas de Jane Fondachamado: “Receitas Deliciosas para uma Vida Saudável”. E foi dele que escolhi esta que deixo aqui.Já fiz esta sobremesa inúmeras vezes e não canso de fazê-la e meus amigos não cansam de comer ede pedir mais.

Creme de Laranja com Calda de Framboesa

Esta saborosa sobremesa, embora simples de fazer, exige um pouco mais de tempo. Será necessárioum pouco mais de 1 hora para o cozimento e mais 1 hora para esfriar. Portanto, deve ser preparadacom antecedência, pode até ser feita no dia anterior. Mas o sofisticado sabor valerá a espera.

1 e ½ xicara de leite desnatado

½ xícara de açúcar

2 colheres de chá de casca de laranja ralada fina

½ colher de chá de casca de limão também ralada fina

1 colher de chá de essência de baunilha

Uma pitada de sal

4 gemas

Você pode preparar os ingredientes já numa assadeira que levará ao forno, ou se preferir pode juntá-los numa vasilha comum e depois distribuir em potes refratários próprios para serem servidos. Nocaso de preparar já no recipiente que levará ao forno e depois à mesa, coloque o leite, o açúcar, asraspas de laranja e de limão, a baunilha, a pitada de sal e as gemas. Misture com velocidade atéconseguir uma consistência homogênea. Após batido, coloque para assar em banho-maria por

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aproximadamente 1h e10 minutos . Faça a prova do garfo ou palito para ver se sairá limpo. Nestecaso já está pronto. Deixe esfriar por aproximadamente 1 hora, depois acrescente a calda deframboesa por cima antes de servir.

Rende quatro porções.

Calda de Framboesa

2 ½ xícara de framboesas

2 colheres de sopa de açúcar de confeiteiro

2 colheres de sopa de água fria

2 colheres de chá de maisena

Preparo:

Passe as framboesas por uma peneira de malha fina em uma panela pequena, a fim de remover assementes. Coloque a panela com a polpa da framboesa sobre fogo médio, adicione o açúcar deconfeiteiro e cozinhe lentamente por 2 minutos. Em um pote pequeno com tampa, coloque a água e amaisena e bata para misturar bem. Adicione esta mistura às framboesas e deixe ferver lentamente,mexendo frequentemente até que a calda engrosse (aproximadamente 3 minutos). Retire do fogo edeixe esfriar antes de servir. Uma porção corresponde a 3 colheres de sopa.

Evânio Alves

Jane Fonda

Creme de Laranja com Calda de Framboesa

As Divas na Cozinha

Evânio Alves

Joan Crawford

Île Flotante e Bife com molho Roquefort

Se analisarmos os relatos de Cristina Crawford no seu polêmico livro “Mamãezinha Querida”, aatriz Joan Crawford (1905-1977), de quem era filha adotiva, não foi uma boa mãe, bem pelocontrário, era muito cruel. Mas uma coisa é certa, Joan foi uma das mais elegantes e respeitadasatrizes de Hollywood e por sinal adorava cozinhar e dar jantares refinados em sua mansão.

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Miss Crawford ficou tão famosa no quesito cerimonial que acabou criando o hábito de ensinar asamigas, também atrizes, como preparar um jantar perfeito. Para Crawford a comida tinha que ter umequilíbrio certo de cores e sabores, tudo deveria combinar, desde a entrada até a sobremesa e osvinhos. Acreditava ela que assim, com a comida boa, os convidados se animavam, falavam mais eficavam com um humor ótimo para aproveitar melhor a festa, o que é verdade.

Os jantares na casa de Miss Crawford eram uma experiência única para os selecionadíssimosconvidados, a maioria deles famosos atores e atrizes hollywoodianos. Apesar de ser expert emetiqueta relacionada a jantares e à vida social, Joan também gostava de cozinhar para os familiares.Nestas horas ela fazia as coisas mais simples como almôndegas, bifes e frango cozido com legumes.Ela costumava dizer que não havia uma mulher no mundo que não tivesse uma especialidade nacozinha, que, aliás, não só gostasse de preparar mas também de saborear.

Em sua autobiografia, Joan dá dicas sobre dietas da moda e afirma que raramente seguia. No seuconceito, toda mulher tinha que ter bom senso para saber o que a fazia engordar. Ela, por exemplo,tinha plena consciência do que não devia comer muito, como batatas, doces e queijos gordurosos.Quanto às batatas, não gostava de fato, exceto as “juliennes” de Paris, que fazia uma exceção e comiaum prato delas, com bastante sal.

No seu dia a dia Joan comia o que gostava, um pouco de tudo mas devagar, a ponto de saber pararde comer mesmo a maior delícia. Para ela, quem comia muito e rápido não sabia apreciar o sabor deum bom prato. Ela só comia em paz e se estivesse estressada ou com pressa deixava para jantar maistarde.

Assim Miss Crawford descreveu suas refeições: de manhã bem cedo, uma fruta e uma xícara de chá,nada mais. Um pouco mais tarde, um ovo mexido com bacon ou linguiça. O almoço era leve: umbifinho com dois tomates-cereja ou frango cozido (nunca frito) com legumes, sal e pimenta. O jantartambém era sempre leve, uma sopa de preferência, e como adorava ovos, tinha sempre algunscozidos na geladeira para caso tivesse fome de madrugada.

Quando estava atuando, Joan precisava de muita energia, por isso comia um pedaço de bacon ouuma almôndega no meio da filmagem, a qualquer hora. Ela conta que no filme “O Que TeráAcontecido a Baby Jane?” de 1962, onde a sua irmã vivida por Bette Davis é quem cuida das suasrefeições, ela parece estar comendo uma caixa inteira de bombons, mas de fato eram minialmôndegas para ficar com energia.

Joan adorava fazer peixe e discordava quando as pessoas diziam que fazia muita bagunça nacozinha. Ela achava simples, o preparo fácil e rápido. Por sinal, o prato preferido dela era filés delinguado e de salmão cobertos de sopa de champignon em pó, no forno e depois cobria com salsapicada e fatias finas de limão. Ela dá dicas: “Se colocar uma folha de alumínio em baixo, nem sujamuito o pirex”.

Joan gostava de fazer também sobremesas, embora não com muita frequência pois sabia que éperigoso para a estética. Segue uma de suas receitas preferidas:

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Île Flotante

Aquecer bem 1 xícara de leite, mas não ferver. Bater as gemas de 4 ovos com 4 colheres de açúcarrefinado e 2 colheres de chá de baunilha. Gradualmente jogar 1 xícara de leite quente na mistura.Colocar tudo numa panela e cozinhar até engrossar . Quando esfriar, arrumar fatias finas de pão-de-lócom geleia e a mistura por cima. Bater as claras de ovo até bem firmes, misturando nelas umpouquinho de geleia de groselha. Colocar colheradas do creme em cima das fatias de bolo e emcima, um pequena bola de geleia de groselha. Servir bem frio.

Nota: pode fazer com qualquer geleia vermelha: morango, cereja ou framboesa.

Para fazer o pão-de-ló, ver a receita de Janet Leigh.

Outra receita de Miss Crawford:

Bife com Molho Roquefort

1 bife alto

1 dente de alho

1 colher de queijo Roquefort

1/2 colher de mostarda

1 colher de manteiga

Misturar o queijo, mostarda e manteiga. Seque o bife com um pano úmido. Esfregue um dente de alhoamassado e tempere com sal e pimenta. Coloque na frigideira em fogo médio. Um pouco antes dobife pronto, espalhar o molho por cima, ainda no fogão.

Dica: Se fizer no forno, o segredo é a temperatura certa: pré-aquecido a 450 ou 500º. O tempo de 12a 15 minutos é o suficiente para 1 bife mal passado, 15 a 18 min para ao ponto e 20 a 30 minutospara bem passado.

As Divas na Cozinha

Além de ocupar o status de uma das louras preferidas de Alfred Hitchcock, a estrela Joan Fontaine(1917) era também amiga íntima do diretor. E como novidade para nós, quando Miss Fontaine nãoestava diante da câmera do mestre do suspense, ela frequentava a cozinha da casa dele e tambémcozinhava com sua esposa.

Em suas memórias, Miss Fontaine conta esses detalhes sobre a amizade com Hitchcock, mas nãodeixa de relatar boa parte da sua rotina diária em casa. Ela diz que na infância, na Califórnia, as

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pessoas, principalmente os seus pais, tinham como hábito ter pomar e horta em casa, onde plantavampêssegos, ameixas, frutas vermelhas, vagem, alface e tomate. Todas estas frutas e legumes eramcolhidas e levadas para uma grande mesa no jardim, onde a família gostava de almoçar e tomar caféda manhã, por sinal sempre fartas refeições.

Embora tivessem empregados, o pai e a mãe de Joan faziam questão de preparar tudo pessoalmentepara ela e Olivia de Havilland, sua irmã, que também se tornaria uma grande estrela hollywoodiana.Alguns dos pratos preparados e servidos por eles pela manhã, além de muitas frutas como morango,blueberry e pêssegos, era a típica refeição americana: linguiça frita, panquecas, waffles, vários tiposde pães e Finnan Haddie, peixe adorado também por Bette Davis.

De criança alegre, Joan Fontaine se tornaria uma glamourosa atriz de cinema. E quando começou adar jantares na sua mansão em Hollywood, não era mais a comida caseira dos pais que enfeitaria amesa e sim sofisticados menus preparados por seus cozinheiros. Mas nem sempre Miss Fontaine teriasorte com seus serviçais.

Ela conta que uma vez, juntamente com o marido, contrataram um cozinheiro finíssimo para que nãosaísse nada errado numa festa que ofereciam. Joan não sentiu firmeza no bem vestido chef e contra avontade dele, entrou na cozinha para inspecionar. Ao abrir a geladeira, notou que só havia umapequena mousse para servir centenas de convidados. Ciente de que seria a única sobremesa, e queiria passar vergonha, Miss Fontaine correu com o marido para um mercadinho próximo e compraramovos, açúcar, leite e baunilha para improvisar algo. Os dois fizeram duas imensas tigelas de ovosnevados, que foi o maior sucesso entre os convidados, com direito a distribuir a receita.

Em outra festa na casa de Joan, o azar com os serviçais continuaria. Tudo corria bem até quando ogarçom foi servir os convidados na beira da piscina, se desequilibrou e caiu na água com bandeja etudo. Solidários em não deixar Joan envergonhada, os amigos ilustres, vendo os canapésmaravilhosos boiando, se jogaram na piscina e comeram assim mesmo, inclusive o famoso e eleganteator David Niven.

Miss Fontaine conta também que ofereceu um jantar a um grupo de finos russos que não esqueceriajamais. Tudo começou bem ao servir vodka e caviar, mas na hora do brinde, um dos russos quebrou oseu cálice, como é costume para eles em seu país. Todos os outros então levantaram e quebraramtambém os seus copos, aliás, os de Joan. Ela ficou desesperada ao ver seus lindos cristais antigosque custaram centenas de dólares, espatifarem-se ao chão e sem nada poder fazer. Sem opção,acabou entrando na diversão e curtindo também, certa de que depois reporia os cristais.

Outra vez, vivendo na Europa, Joan Fontaine recebeu em sua casa para jantar a mais alta nobrezaeuropeia, incluindo o duque e a duquesa de Windsor. Embora receosa com sua falta de sorte comserviçais, ela chamou um grande chef, expert no assunto realeza para cuidar das comidas. Felizmentee por sorte, naquela noite saiu tudo perfeito e Joan contratou o chef. Mas mesmo assim, para outrasfestas, Miss Fontaine não deixou de planejar os jantares pessoalmente e, apesar da presença doexcelente funcionário, incumbiu o marido da tarefa de escolher os vinhos.

Para desconforto dos empregados, Miss Fontaine passava boa parte do dia na cozinha de sua casa. Ea presença constante dela pela cozinha não acontecia somente em dias de festa. Quando estava fora

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do set e em casa, ela fazia questão de sempre e com muito prazer, ir para o fogão preparar o café damanhã para suas duas filhas. Assim como faziam seus pais. E às vezes ainda fazia, para elas, umspaghetti com molho de tomate para o jantar, prato que, aliás, as filhas não cansavam de comer.

Segue uma receita que, embora popular na culinária negra no sul dos Estados Unidos, principalmenteem New Orleans, Joan Fontaine preparava e servia com todo requinte aos seus ilustres convidados,muitos deles estrelas famosas.

Gumbo de Peixe Crioulo

Para o molho:

2 lagostas grandes

1/2 kilo de camarão

1 cenoura grande cortada

2 talos de aipo cortados

1 cebola descascada e cortada

1 folha de louro

1 colher de chá de pimenta preta

1 lata de tomate cozido inteiro, escorrida

Para o Gumbo, 1ª parte

2 fatias de bacon

2 dentes de alho picados

2 talos de aipo cortados

2 cebolas vermelhas picadas

1 pimentão verde sem sementes e cortado

1 colher de salsa picada

Parte 2

1/2 k de linguado cortado em pedaços grandes

1/4 xícara de azeite

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1/2 xícara de extrato de tomate

1/2 xícara de vinho branco

1 colher de açúcar

1 pitada de açafrão

2 colheres de molho inglês

2 colheres de Tabasco

1 colher de chá de tempero para Gumbo em pó (se não encontrar não faz falta)

1/2 colher de chá de pimenta caiena

Suco de 2 limões

2 xícaras de quiabo

1 lata de mariscos

250gr de caranguejo

Jogar as lagostas numa panela grande com água salgada fervendo, 5 minutos. Colocar o camarão comcasca e ferver mais 4 minutos. Retirar o camarão e a lagosta da panela e descascar, reservar. Voltaras cascas para o caldo na panela e cozinhar em fogo baixo 40 minutos para ganhar mais sabor.Depois passar tudo por uma peneira, guardar o molho e descartar as cascas.

Para fazer o gumbo, fritar o bacon. Quando pronto, colocar o restante dos ingredientes da parte 1 efritar junto, uns 7 minutos. Acrescentar o linguado e o azeite mexendo uns 2 minutos. Colocar estamistura, a lagosta e o camarão na panela com o molho. Colocar o restante dos ingredientes da parte2. Cobrir a panela e cozinhar 20 minutos em fogo baixo.

Servir somente com arroz de preferencia branco.

Serve 10 pessoas.

Evânio Alves

Joan Fontaine

Gumbo de Peixe Crioulo

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As Divas na Cozinha

Evânio Alves

Julie Andrews

Supremo de peito de Frango assado

Durante boa parte da vida de Julie Andrews, “A Noviça Rebelde”, ela sempre gostou de umsanduíche estranho: batata bem amassada com muita manteiga no pão francês. Esse gosto veio dotempo da 2ª guerra, quando era ainda uma menina na Inglaterra e junto com a família só tinhambasicamente batatas e ovos na cozinha. Para revezarem com o sanduíche, um dia comiam a clara, nooutro a gema. Estranha divisão, Julie nunca entendeu porque a mãe não fazia ovos mexidos paratodos.

Dando glórias aos ovos, não tinham carne, manteiga, leite, queijo e nem açúcar. Se conseguiam umbife, era para dividir para a família toda. Frutas, como banana e pêssego eram raros, até décadasdepois para ela seriam um luxo. Esse racionamento rígido durou todos os anos da guerra e marcou ogosto culinário de Miss Andrews. Por isto, a estrela sempre valorizou todos os alimentos, passando apreferir comida simples, embora com toques criativos.

Acabada a guerra, a família mudou-se para uma casa grande, que tinha o nome de “The Old Meuse”,muito antiga. A cozinha era o lugar preferido da garota Julie: “era grande e quadrada, com um velhofogão a gás, uma pia muito antiga de louça e uma pequena copa ao lado para o café da manhã. Haviajanelas de vidro por toda parte e o chão era de tábuas de madeira”. Nessa época tinham um trailerpara viajar, onde a mãe “se virava” no fogão de duas bocas, enquanto rodavam pelo país.

Apesar de os dias terem melhorado um pouco para Julie, quando se casou com o cenógrafo efigurinista Tony Walton, ainda não tinham condições financeiras para arcar com uma empregada. Foientão que Miss Andrews pegou dicas preciosas para a cozinha com a esposa do porteiro do prédioonde moravam. Por exemplo, como lavar a louça rápido e fácil, muito importante para ela que nãotinha tempo, já comprometida com o cinema. Para facilitar fazia um jantar bem simples para ela eTony toda noite, no início do casamento. Nesta época, o pai deu a ela uma linda saladeira de madeiratrabalhada à mão, que Julie guardaria por toda a vida.

Com a companhia do marido Tony, Julie ia descansar numa ilha, Alderney, para eles um paraíso.Tinham um pequeno chalé com uma mini-cozinha e um fogão mais mini ainda e muito velho. Ela quisfazer um carneiro assado no domingo que, como era de se esperar, demorou mais de nove horas paraassar, naquele forno velho e lento.

Anos se passaram e Julie Andrews casou-se novamente, desta vez com o famoso diretor americanoBlake Edwards. Como esposa devota, Julie cozinhava para o marido e para Emma, sua filha doprimeiro casamento. Todos adoravam um jantar tranquilo em família, sempre em casa. Juliepreparava um jantar simples, como bife com batatas e uma salada verde, o que era bastante paradeixar todos contentes.

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Outro dos grandes prazeres de Julie era ir para a cozinha de madrugada preparar ovos com baconpara comer com pão francês. Mas esta aventura duraria pouco, pois, para a tristeza dela, depois dos60 anos foi proibida pelos médicos de comer este sanduíche, inclusive também o de batatas que tantoamava. Em troca a forçaram a uma dieta rica em proteínas e sem nenhum amido. O que eraincompatível com os sanduíches.

Julie ficou famosa ao aparecer nas telas de cinema e TVs do mundo todo em vários filmes que fez, amaioria deles musicais. Mas fez sucesso também quando aparecia em programas culinários dandosua receita preferida de Supremo de Frango, entre outras. Que na realidade é uma receita bastantefácil e deliciosa, que leva de diferente somente castanhas e o molho é feito de sopa de galinha emlata, com vinho branco.

Segue a receita:

Supremo de Frango

6 peitos de frango sem osso e sem pele

1 pitada de sal

1 pitada de pimenta branca

2 colheres de farinha de trigo

1 colher de óleo

2 latas de sopa de galinha

1 lata de castanhas em água

1/2 xícara de vinho branco

1/2 xícara de água

1 pouco de salsa picada

Cobrir o frango com a mistura de sal, pimenta e farinha. Jogar no óleo quente até dourar. Colocar nopirex em fileira e por cima jogar a água das castanhas. Misturar a sopa, vinho, água e colocar sobre ofrango. Espalhar a salsa. Assar sem cobrir a 350º, mais ou menos 60 minutos.

Serve 6 pessoas.

As Divas na Cozinha

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Josephine Baker

Spaghetti à Bolonhesa

Cansada de passar fome e tentar sucesso nos Estados Unidos, seu país natal, Josephine Baker (1906-1975) partiu com o grupo La Revue Nègre para a França em 1925. Beberam e comeram durante todaa viagem de navio que levava semanas. Chegando ao teatro em Paris, a farra de comes e bebescontinuaria por toda a noite. Era a abundância de comida chegando na vida da futura Pérola Negra.

Maurice Chevalier, já mega famoso naqueles dias, chegou ao ensaio levando caviar e torradas paratodos. Josephine tinha dezenove anos e provou caviar pela primeira vez naquela noite, e achouchiquérrimo. A paixão pela iguaria seria tanta que mais tarde Miss Baker descobriria que eraalérgica ao caviar, mas comeria assim mesmo.

Josephine estava deslumbrada com a culinária francesa, por sinal, tudo era novidade para ela. Nãopor menos, pois na sua infância pobre, Miss Baker só comia pão de milho com melado para nãopassar o dia com fome e casou-se precocemente aos treze anos, tentando melhorar de vida para ter oque comer. Para sua felicidade, no almoço do seu casamento foi servido leitão com macarrão e elaachou o máximo.

Antes de ir para a França, em tour pela América de trem, Josephine levava quilos de comida paranão correr o risco de passar fome como na infância. Sanduíches, costeletas, ovos cozidos, biscoitos,bananas e garrafas térmicas cheias de limonada, tudo ia na bagagem da futura diva dos cabarésfranceses. É até difícil imaginar como ela mantinha aquela cinturinha que enlouquecia os homens e asmulheres também.

Nessas viagens, Josephine aprendeu a gostar de caranguejo, que era moda naquele tempo. Comia-secom arroz, milho cozido e quiabo, um vegetal que ela ainda não conhecia, embora já fosse típicaentre os negros americanos.

O quiabo até que foi a novidade menos alarmante para a vedete. O mais estranho para ela foi oprimeiro jantar chique em Paris: “Imagine! Me trouxeram ostras e escargots! Os bichinhos estavamvivos! Eu pedi ao garçom para cozinhar, com medo de ficarem vivos dentro de mim!”

Espertalhona como sempre fora, na sua primeira hospedagem num hotel em Paris, Miss Baker logofez amizade com um garçom velhinho. O senhor passou a roubar um vidro da geleia especial do donodo hotel para a norteamericana comer no café da manhã. Os dois ficaram tão amigos que quandoJosephine abriu seu clube noturno em Montmartre - Chez Joséphine - ela convidou-o para ser chefedos garçons. Ele a conquistou literalmente pela boca.

Já no Brasil, em sua primeira visita ao país tropical, lugar de muita comida boa, Josephine ficoufascinada pelo Rio de Janeiro. Mas não somente pela cidade, pela comida carioca também. Em suasmemórias ela recomenda a todos a feijoada que comeu no restaurante da Confeitaria Colombo,seguida minuciosamente de descrição dos ingredientes: feijão preto, pão queimado, linguiças, porcodefumado e muito tempero. Segundo ela, uma maravilha. Miss Baker tinha o hábito de em todo lugaronde ia, experimentar a comida local e quanto mais exótica, achava melhor.

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A vida de Miss Baker seria de altos e baixos financeiros e, nos tempos de glória, embora rodeada deempregados, Josephine cozinhava sempre que precisava, ou queria. O prato predileto que a levavapara o fogão era massa, o tradicional spaghetti. O macarrão dela era tão famoso que todos quecomiam adoravam e repetiam até sobrar uma pequena quantidade na panela. Além do macarrão, quedevorava à vontade, Josephine adorava chocolate e só comia os melhores do mundo. Em Paris osseus favoritos eram feitos pela Marquesa de Sevigné, para ela não havia nada melhor.

No auge da fama em Paris, morando num verdadeiro castelo, Josephine fazia a ceia de Natal econvidava os ricos e famosos. Como ela mesma dizia, la crème de la crème, e todos iam, poisninguém recusava um convite da mais famosa vedete negra da França. A ceia era suntuosa comdiversas opções de comida e Miss Baker dizia ter feito tudo sozinha: “Fiz para vocês um perurecheado com ostras”.

Menu especial à parte, era de se duvidar que Miss Baker fizesse tudo pessoalmente, pois se tratavade muita comida. Segundo as memórias do seu filho Jean-Claude Baker, ela encomendava tudo dosmelhores restaurantes de Paris. Mas, enfim, ninguém sabia a verdade.

Mas uma coisa era certa, em dias não tão especiais, Josephine convidava os amigos íntimos paracomer e cozinhava para eles com muito prazer. Não deixava de fazer a sua massa preferida maslevava também ao forno um peixe com champignons. Gostava também de fazer um especial linguadoà francesa, com manteiga e vinho branco, coberto de mini-cebola, salsa, champignon, camarão ealcaparras. Todos ficavam babando até serem servidos.

Colocando as frescuras de diva à parte, era normal um amigo chegar no castelo de Josephine e serrecebido por ela com roupas informais, mandá-lo entrar e dizer que estava na cozinha fazendo pão.Ela mesma dizia adorar o pão que fazia: “Venha para a cozinha que eu faço um almoço para nósenquanto o pão está assando”. Assim era Josephine Baker.

Depois de fazer muitas besteiras financeiras, Miss Baker perdeu o famoso castelo onde morava.Antes de ser despejada, ela era obrigada a cozinhar e até mesmo lavar a louça, pois nenhumempregado, sem receber pagamento havia meses, ia ajudá-la. Mas como vida difícil para Josephineera como água com açúcar, ela não se incomodava em ir para a cozinha preparar comida para todos.Na maioria das vezes acabava sendo sempre o seu tão famoso macarrão, que aliás, de tão apaixonadaque era pelo prato, em plena madrugada levantava e ia para a cozinha preparar e comia um pratãosozinha. Então segue aqui a tão famosa receita de Miss Baker:

Receita de Spaghetti à la Josephine Baker

200 gr de carne moída magra

200 gr de carne de porco moída

200 gr de carne de vitela moída

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4 colheres de extrato de tomate

1 cebola picada

1 talo de aipo picado

Cebolinha picada

1 cenoura picada

1 colher de alho picado

2 xícaras de caldo de vitela (opcional)

1 xícara de vinho tinto

½ xícara de azeite

1 pitada de noz-moscada

1 pitada de flocos de pimenta chili

1 pacote de fidelini ou spaghetti

Salsa

Sal e pimenta a gosto

Passar a cebola, o alho, o aipo, a cenoura e a cebolinha no óleo quente até tudo ficar transparente.Acrescentar as carnes e cozinhar por 2 minutos, mexendo para não grudar. Em seguida colocar oextrato de tomate e misturar bem. Depois colocar o vinho e o caldo de vitela e cozinhar em fogobaixo 15 minutos. Acrescentar sal e pimenta, flocos de chili e noz–moscada. Misturar bem a massacom o molho e cobrir com salsa. Está pronto.

Nota do autor: Caso você não coma carne de porco e vitela, pode trocar por peru, que fica muito bomtambém.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

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Judy Garland e Liza Minelli

Torta Suprema do Pastor – Batatas Assadas com Caviar e Vodka

A cantora e atriz Judy Garland (1922-1969) carregou o vicio do álcool e das drogas por durante boaparte da sua vida. Isto desde adolescente quando fez “O Mágico de Oz” em 1939 e experimentou suasprimeiras pílulas. Mas Judy teve outro vício também, não tão prejudicial à saúde como o álcool e osbarbitúricos, aliás, bem mais ameno, que era o chocolate.

Durante toda a sua vida Miss Garland foi declaradamente apaixonada por chocolate. Comiaincontrolavelmente. Mas tinha uma vantagem, dividia esta paixão com os amigos. Quando começouno cinema, ainda uma adolescente e um doce de menina, ela levou uma imensa caixa de chocolatespara toda a equipe. Era época de Natal e Judy chamou todo o elenco para o seu trailer, abriu a caixae ofereceu, dizendo que infelizmente não podia dar uma lembrancinha para cada um além daqueledoce. Todos ficaram encantados com ela.

Naqueles dias Judy ainda não sabia cozinhar. Apesar de sua mãe ser uma cozinheira maravilhosa,ela não gostava de ensinar a ninguém seus dotes culinários, até mesmo a filha. Judy confessaria isto auns amigos na mesa da cozinha da sua casa, durante uma das muitas reuniões que fez em volta dofogão. Judy disse também que o que ela aprendeu da arte de cozinhar foi entrando na cozinhadisfarçadamente para fazer uma torrada e ia olhando o que a mãe fazia. E essas espiadas valeram apena, pois futuramente Judy seria capaz de preparar um jantar para 36 pessoas e teria mais orgulhodisso do que de qualquer outro talento que possuía, até mesmo atuar.

Apesar do desenvolvimento na cozinha, comida para Judy era assunto complicado. Ela não podiacomer muita coisa, senão engordava demais, não gostava de comer em público, pois se achava feiacomendo e não podia comer três horas antes de um show e nem muitas horas depois. Por causa dosremédios que tomou durante toda sua vida adulta, Miss Garland passava dois dias sem comer edepois acordava louca de fome e era uma fome específica, tinha que comer purê de batatas e omarido e os assistentes que se virassem para fazer ou comprar. Ou acordava e pedia uma vitelaOrloff com batatas à parisiense e aipo, salada de endiva com alho, pão de alho e um pedaço dequeijo brie com cerejas como sobremesa. Tudo isso tinha que vir de um restaurante específico, queentregava em casa.

Nos momentos de crise emocional, Judy não queria comer. Então, John Meyer, músico com quemviveu alguns anos, tentava obrigá-la a ingerir alguma coisa. Ele fazia um jantar gostoso e a chamavapara a mesa. Para irritá-lo, Judy então pegava três batatas e começava a fazer malabarismo, até astrês caírem no chão. Em seguida pegava o creme de espinafre e jogava no cabelo dele. Em respostaele pegava o molho do frango e espalhava no rosto dela e assim iam brincando até a comida acabar,morrendo de rir. Muitas vezes a cena acontecia na frente das visitas, que aliás, eram deixadas na salasem jantar enquanto eles iam para a cozinha, rindo como crianças.

Na época de crise financeira, depois de passar uma vida difícil em hotéis baratos de New York,Judy e John resolveram ficar uns tempos em Boston, na única casa que ela tinha. Ele, como adoravacozinhar, notou logo que a cozinha não estava equipada. Fizeram uma lista de compras: 4 pratos etalheres, 4 copos, jogo americano para 4, potinhos para sal e pimenta, 2 panos de prato, escorredor

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de louça, prateleira para temperos, 2 panelas grandes, 1 tigela para salada, bandeja, saca-rolha etabletes de chocolate. Como a grana estava curta, compraram tudo por menos de 8 dólares!

Embora faltassem os utensílios, a cozinha era grande. Tinha uma mesa de madeira com tampo defórmica no meio com quatro cadeiras, um fogão e geladeira que eram modernos. Numa parede todade janelas de vidro havia um sofá azul, feio e pesado. Era nesta cozinha que Judy revelava seusmomentos de dona de casa. Fazia uma grande panela de feijão com linguiça e couve de Bruxelas,parecido com uma feijoada. Ou fazia um ensopado de carne com legumes delicioso ou um bolo dechocolate.

Judy tinha suas receitas preferidas como a Torta Suprema do Pastor, que embora seja complicada depreparar, é uma delicia. Era uma das especialidades. Uma vez a descreveu num artigo de jornal,dizendo: “É linda...ela sai do forno parecendo um bolo de aniversário, toda fofa e deliciosa. Masvocê precisa se dar bastante tempo”.

Torta Suprema do Pastor

2 quilos de perna de cordeiro, com osso

2 peitos grandes de frango

1 lata de caldo de galinha

1 lata de caldo de carne

3 colheres de endro fresco e fatiado fino (mini pepinos em conserva)

1/2 colher de chá de sal

1/8 colher de chá de pimenta moída na hora

1 lata de sopa cremosa de champignon

2 colheres de chá de molho inglês

1/2 colher de chá de cebola ralada

1 xícara de água

1/2 xícara de leite

2 colheres de manteiga

2 1/2 xícaras de flocos de batata (para fazer purê instantâneo, pode substituir por purê mesmo)

1 xícara de creme chantilly

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1 colher de cebolinha picada

1/2 colher de chá de cominho ou gergelim

Sal e pimenta moída na hora a gosto

Assar a perna de cordeiro no forno a 300º por 2 horas e 15 minutos. Deixar esfriar um pouco. Tirar apele, gordura e cartilagens. Moer no moedor de carne, não muito fina. Enquanto o cordeiro estáassando, preparar o frango. Cozinhar em panela fechada com os caldos de galinha e de carne, emfogo baixo, por 45 minutos ou até ficar macio. Deixar esfriar um pouco. Reservar o caldo. Tirar apele e o osso. Moer no moedor de carne, igual ao cordeiro.

Numa tigela grande misturar o cordeiro moído e o frango, endro, sal e pimenta. Misturar bem com asmãos. Numa pequena tigela misturar a sopa de champignon com 1 xícara do caldo de galinha, omolho inglês e a cebola. Juntar à mistura da carne e misturar bem. Untar 2 formas e colocar a metadeda mistura em cada uma, apertando bem. Numa panela misturar a água e 1 xícara do caldo reservado.Deixar ferver e tirar do fogo. Acrescentar leite e manteiga. Colocar os flocos de batata e mexer atéficar leve e fofo. Colocar o creme, cebolinha, semente de gergelim, sal e pimenta. Cobrir as formascom esta mistura. Assar a 450º por 20 a 25 minutos. Deixar dourar. Reservar a 2ª forma para repetirou cobrir bem e congelar.

Cada forma serve 8 a 12 pessoas.

A cantora e atriz americana Liza Minelli (1946), como todos sabem é filha de Judy Garland e assimcomo a mãe, ela também se aventura pela cozinha. Quando casou-se nos anos 70 com o diretor JackHaley, Liza não se incomodava em ser taxada de ultrapassada ao dizer que se orgulhava de estarcasada com o homem mais maravilhoso da terra. Ela e o marido ficavam muito tempo em casa vendoTV e Liza adorava cozinhar para ele, pois cozinhar, para ela, sempre foi sinônimo de ser mulher eesposa. E de fato deveria ser, pois Liza casaria mais duas outras vezes e continuaria cozinhando paraos maridos e não deixando de ser a brilhante atriz/cantora que sempre foi. Liza é apaixonada porvodka e esta sua receita tem de fato a sua cara:

Batatas Assadas na Casca com Caviar e Vodka

Ingredientes:

4 batatas compridas para assar

4 colheres de manteiga sem sal

Sal e pimenta moída na hora

1 xícara de creme tipo chantilly

1/4 xícara de caviar

45 ml de vodka

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Como fazer:

Pré-aquecer o forno a 425º. Lavar bem e secar as batatas. Esfregar manteiga na casca, um pouquinho.Assar por 1 hora e 1/2 ou até o centro ficar cozido e a casca crocante. Cortar a batata ao comprido etirar um pouco da parte do meio. Colocar 1/2 colher de chá de manteiga com 1 pitada de sal epimenta fresca. Encher com o creme. Cobrir com 1 colher de caviar e gotas de vodka. Servirimediatamente como entrada ou como canapé.

Nota: pode servir de acompanhamento no jantar, tirando toda a batata, temperando com sal, pimenta emanteiga e depois colocar na casca e voltar a assar, antes de acrescentar o creme, o caviar e a vodka.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Evânio Alves

Julie London

Enchiladas

Ao ver um vídeo da encantadora Julie London (1926-2000) cantando “Cry me a River” em algumnight club de luxo em New York, é difícil imaginar que aquela loira de voz suntuosa e corpocurvilíneo, desceria do palco e mal aguardava a hora de chegar em casa para jantar com a família.Detalhe, jantar que ela mesma havia preparado.

Pois é, fora do palco e longe dos flashes, em sua casa na Califórnia, Miss London cozinhava e muitobem. Na realidade ela gostava tanto de pilotar um fogão que chegava ao ponto de ser impulsiva.Sempre que tinha uma intuição de fazer alguma coisa, ela esquecia as mãos impecavelmentemanicuradas e corria para a cozinha e fazia um monte de pratos, sem limite.

Julie cozinhava de acordo com o seu apetite. Havia dias em que não ligava a mínima para prepararcomida alguma, nem tampouco comer. Já em outros, fazia variedades e comia spaghetti ou chili empleno café da manhã. Nestas horas, assustado, o marido de Julie, o pianista e compositor BobbyTroup, nem ficava no mesmo lugar onde a esposa estava sentada comendo desse jeito selvagem.Apesar da comilança, Julie nunca teve problemas de peso. Sempre manteve-se esbelta. Elaacreditava que se dava à falta de sono, pois dormia pouco.

Mesmo com tantos compromissos em sua agenda, que além dos palcos incluía também TV e cinema,Miss London conseguia tempo para cozinhar para os seus cinco filhos e o marido, com frequência.Julie não se afobava se tivesse que cozinhar três vezes por dia para eles. Cozinhava de tudo, mas oque ela mais gostava de fazer era o café da manhã, embora dependesse do humor e do apetite comque acordava. Uma coisa era certa, o bacon crocante não podia faltar, pois era o que mais gostava na

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cozinha.

Para reaproveitar a gordura do bacon, Julie usava para fritar os ovos, que eram os preferidos detoda a família. Ela detestava o gosto da manteiga queimada, por isto usava sempre óleo para fazer osovos. Inclusive usava também para preparar molho de bacon colocando farinha na gordura, depoisum pouquinho de leite e pimenta moída na hora e cozinhando até engrossar. Ela fazia também molhode presunto do mesmo jeito, que, aliás, era o preferido do marido e das crianças também. Este molhodelicioso Julie servia com biscoitos tipo crackers, pois detestava biscoitos à base de bicarbonato, ousobre waffles, que ela mesma fazia.

Julie, que se considerava uma cozinheira do tipo sulista, aprendeu a cozinhar olhando sua mãe nacozinha. Desde criança Miss London sempre ajudou a mãe e a tinha como uma cozinheiramaravilhosa. Mas havia um problema, que era tentar fazer os pratos dela, pois sua mãe nunca seguiauma receita, fazia por intuição.

Depois de abandonar a carreira nos anos 70, Julie decidiu ser mãezona. A sua casa era tudo que elasempre sonhara. Cada cômodo tinha uma decoração diferente, um era moderno, outro no estiloRegência e o outro Georgiano. Ela só lamentava que a sua cozinha fosse muito pequena e que o fogãofosse elétrico. No fundo Miss London gostava mesmo de cozinhar era no fogão a gás, como estavaacostumada desde sempre.

Durante toda a sua vida Julie acreditou que deveria comer mais proteínas, mas acabava semprecomendo o que bem queria. Era assim, de repente ela tinha desejo de comer alface murcha ou sopade batata e corria para a cozinha e fazia. “O verdadeiro segredo é colocar meia colher de manteigana panela com as batatas e a cebola e não amassar demais a batata, ela deve ter pedaços”, explicouJulie a uma revista americana.

Como já disse, Julie London cozinhava de tudo, mas preferia aventurar-se na cozinha mexicana. Oque era a sua paixão. Ela adorava principalmente a típica pimenta vermelha. Muitas vezes fazia omenu todo mexicano: margaritas e guacamole de entrada e depois feijão frito e enchiladas.

Uma vez interrogada sobre se era uma boa cozinheira Miss London respondeu: “O que importa é quemeu homem adora o que eu cozinho”.

Segue sua receita preferida de Enchiladas. Experimente fazê-la com um fundo musical de Julie, éassim que faço e fica bem melhor.

Enchiladas

Ingredientes:

12 tortillas de milho (panquecas feitas com fubá)

1 lata de molho de enchiladas (se não encontrar substituir por molho de tomate)

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2 xícaras de cebolas raladas ou 1 cebola bem picada

150 gr de queijo cheddar ralado

100 gr de queijo mussarela ralado

½ xícara de azeitona preta picada

Fazer antes as panquecas do modo tradicional. Misturar todos os ingredientes numa tigela formandoum molho. Rechear cada panqueca com este molho. Colocá-las cuidadosamente numa travessa. Jogaro restante do molho por cima, salpicar com o mussarela e enfeitar com azeitonas e pedaços docheddar. Levar ao forno e assar a 350º uns 25 minutos, ou até o queijo dourar e fazer bolhas.

Serve 4.

Nota: as panquecas e o molho se encontram em lojas especializadas em comida mexicana ou emsupermercados que tenham importados. O molho pode ficar mais “quente” com tabasco, pó depimenta chili ou molho quente Louisiana.

As Divas na Cozinha

Janet Leigh

Gâteau Doré

Em suas memórias a atriz Janet Leigh (1927-2004) revela que a sua vida foi de muito trabalho, mastambém de muita diversão. Os amigos sempre apareciam na sua casa e de Tony Curtis para umchurrasco à beira da piscina. Entre eles, Elizabeth Taylor, Natalie Wood, Shirley MacLaine, DorisDay, Rock Hudson, Frank Sinatra, Lauren Bacall e Humprey Bogart.

Toda esta turma que se juntava sempre nos fins de semana na casa de Janet fazia a maior bagunça, enão deixavam de levar os filhos. Nesses encontros todos organizavam uma cozinha comunitária, ondese metiam a cozinhar, cada um com a sua receita. Era uma verdadeira farra.

Janet adorava preparar os churrascos, pois a cozinha sofisticada nunca foi o seu forte, como diz emseu livro “There Really was a Hollywood”. Ela diz também que não se incomodava em cozinharalguma coisa para a família, desde que fosse simples e fácil, tipo panquecas e bife.

Mis Leigh sempre comeu de modo simples, pois tinha o estômago sensível. Até mesmo nos melhoresrestaurantes do mundo, como o Tour D´Argent ou o Maxim’s, que ela adorava e até levava as filhas

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pequenas, ela mantinha-se dentro de sua dieta e bebia pouco, somente um cálice de champagne ouvinho branco seco. Assim Janet não fez grande extravagancia quando esteve no Rio de Janeiro ou emParis experimentando os pratos locais.

Quando Janet montou sua primeira casa ao casar-se com Tony Curtis, ela se preocupou em arrumar acozinha. Até foi ao mercado comprar alimentos, mas esqueceu dos pratos e das panelas. Foi a amigaMarge Champion que resolveu a situação para ela. Convidou todas as amigas para um chá de panelae avisou: nada de frescuras, nada de prata, só panelas mesmo! Janet conta que as amigas, ElizabethTaylor, Ava Gardner, Vera-Ellen, Arlene Dahl e Shelley Winters levaram a sério e ofereceram tudoque havia de mais prático e moderno, coisas que ela nem conhecia. E foi assim que sua cozinha foidevidamente equipada.

No aniversário de dez anos de casamento de Janet e Tony, eles deram uma super festa, a maior davida deles. Na época ela já tinha muita experiência em receber e foi até eleita a “Hostess do Ano”. Afesta, para duzentos e cinquenta convidados, tinha uma orquestra e pista de dança ao lado da piscina.E entre outras coisas, toda a decoração combinava sutilmente com o vestido dela, assinado por EdithHead, o maior nome da moda em Hollywood naquela época, um luxo só!

Com o segundo marido, Robert Brandt, com quem viveu até o fim, Miss Leigh teve uma vida menosglamourosa e bem mais tranquila, continuando com a tradição de churrasco e saladas para os amigosmais íntimos. Esse casamento durou mais de vinte anos e Janet foi muito feliz.

Uma vez, a atriz e também amante da cozinha Dinah Shore, uma das amigas que frequentavam a casados Curtis, pediu a Janet uma de suas receitas preferidas para publicar no seu cookbook. Janetescolheu esta abaixo e disse que apesar do nome sofisticado, é realmente o velho bolo branco, dotipo que vai bem com sorvete feito em casa.

Segue a receita:

Gâteau Doré

Ingredientes:

½ xícara de manteiga

1 xícara de açúcar

2 xícaras de farinha de trigo

3 colheres de fermento

4 ovos - só as gemas

½ xícara de leite

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Modo de preparo:

Forno pré-aquecido a 350º ou médio. Bater bem a manteiga, colocar o açúcar, continuar batendo,acrescentar as gemas e bater de leve, uma colher de chá de baunilha, misturar bem, acrescentar oleite alternando com a farinha e o fermento misturados. Bater mais um pouco e colocar em formauntada, assar de 35 a 45 minutos. Servir inteiro ou em camadas.

Nota: se preciso acrescentar um pouco mais de leite para chegar no ponto da massa, 1 xicara talvez.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Katharine Hepburn

Brownies da Kate e Bolo de Passas

A cozinha foi um lugar de tristes e alegres momentos na vida da premiada atriz Katharine Hepburn(1907-2003). Talvez a sua maior tristeza foi no momento da morte do seu grande amor SpencerTracy. Na última noite juntos Kate dormia num quarto ao lado e Spencer, já muito doente, levantou-sede madrugada para buscar uma xícara de chá na cozinha, como de costume. Kate costumava deixaruma chaleira com água fervendo em fogo baixo durante toda a noite, para caso tivessem vontade detomar chá de madrugada. Preocupada, Kate levantou-se e foi até a cozinha. Antes de abrir a porta elaouviu um barulho de louça se espatifando no chão e em seguida um forte estrondo, era Spencercaindo morto no chão ao lado do fogão.

Sim, esta foi a mais triste história ocorrida com Kate numa cozinha. Mas lá na mansão de Fenwick,sua casa de verão, Miss Hepburn teve momentos gloriosos neste canto especial da casa. Fenwick eraum lugar fantástico, onde ela não era alguém especial, e sim ela mesma. Na mansão, que aliás, Katedividia com o irmão Dick, existia uma cozinha e uma dispensa, Dick não gostava da dispensa e entãomandou derrubar a parede e virou uma cozinha imensa com duas pias duplas, isto para surpresa deKate quando viu pela primeira vez, mas ela gostou também.

Na cozinha havia um fogão grande com dois fornos e seis bocas. No passado o fogão pertencera aoex-marido de Kate, Luddy, aliás o único marido que teve e com quem viveu pouco tempo. Luddymorreu e Kate sempre gostou do fogão dele, então ela comunicou aos filhos dele que gostaria de ficarcom o fogão. Não deram resposta e então o irmão de Kate foi lá na casa uma hora sem avisar e comonão havia ninguém em casa simplesmente ele pôs o fogão na caminhonete e levou para casa. Katedisse que os filhos devem ter ficado assustados quando chegaram e não viram o fogão.

Desde então toda a comida da casa passou a ser feita neste fogão que ficava entre duas grandes

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janelas ao lado das duas pias. Além dele, a cozinha tinha prateleiras, um relógio francês antigo,várias panelas e relíquias antigas que ficavam penduradas na parede de tijolos pintados de branco.Havia ainda duas geladeiras, uma grande do Dick e outra menor de Kate. Na parte de Kate ficavauma prateleira com louças e na de Dick, que por sinal era bem maior, ficava uma mesa redonda comcadeiras e uma luminária Tiffany, o centro do império dele.

Para Kate a cozinha era o coração da casa. Lá o seu irmão reunia a família e amigos. E Kate, juntocom o seu braço direito a secretária Phyllis, que aliás fazia de tudo, até cozinhava, apesar de teremcozinheira, recebia os pouquíssimos convidados na copa e de lá ouviam o papo de toda gente nacozinha, era como se fosse um restaurante movimentado.

De férias em Fenwick, a rotina de Kate era praticamente a mesma todo dia. Acordava as 5hs damanhã, preparava o seu próprio café generoso: frutas, ovos, bacon, fígado de frango, torrada, geleia ecafé e voltava para a cama de onde ficava lendo e observando a paisagem marítima pela janela. Oirmão Dick ia frequentemente para a cozinha e fazia muita comida quando Kate estava para chegar deférias. Era uma festa quando chegava, todo mundo comendo muito e falando alto.

Quando foi atuar em “O Milho está Verde” em 1979, todo o elenco ficou hospedado numa fazenda decamponeses. Lá, Kate comeu um bolo fantástico de uvas passas, feito pela dona da casa. Ela pediu areceita e passaria a fazer com frequência em sua casa. Segue a receita:

Bolo de Passas

3 xícaras e ¼ de farinha de trigo com fermento

340 gramas de margarina

1 xícara e ¾ de uvas passas

1 xícara de açúcar granulado

2 ovos misturados com um pouco de leite

1 colher de sopa de açúcar mascavo

Misture a margarina com a farinha. Acrescente os ingredientes secos. Adicione os ovos e o leite.Misture, coloque a massa numa forma untada. Salpique açúcar mascavo sobre o bolo. Coloque naparte de cima do forno a 200 graus durante 15 minutos. Reduza o calor para 160 graus e asse pormais 1 hora e 45 min, ou até o palito sair limpo.

Após a morte de Spencer, Kate alugou novamente o chalé na casa do diretor George Cukor, seugrande amigo, onde havia vivido discretamente muitos anos com Spencer. No chalé ela ficaria maispróxima das memórias ao lado do amado. O chalé não tinha cozinha e Kate usava à vontade a cozinhade Cukor, mas evidentemente não podia ter uma cozinheira na casa dele, pois ele já tinha uma.

Foi dividindo a cozinha que Kate cozinhou para Tracy durante todos os anos que viveram naquelechalé. Spancer adorava bife e ela aprendeu a fazer o melhor do mundo especialmente para agradá-lo.

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Ele gostava de comida sofisticada de vez em quando e comprava coisas finas e vinho bom e Katebrincava dizendo que ele ia comer bolo de carne, a coisa mais simples, mas feito com carne damelhor qualidade. E de fato Miss Hepburn fazia coisas maravilhosas com carne. Quase sempre ocasal jantava no chalé, para ter mais privacidade e era ela que cozinhava.

Voltando a morar no chalé, desta vez sozinha, Kate entrava e saía da cozinha de Cukor várias vezespor dia, a começar pelo breakfast, refeição favorita dela, que preparava pessoalmente e gostava decomer sozinha, isto depois de Spencer. De tarde fazia brownies e cookies para o chá. Uma vezprocurou os ingredientes para fazer o famoso brownie e não achava a manteiga. Cukor disse que teriaem algum lugar pois a cozinheira dele era boa e não ia deixar a casa sem manteiga. Logo encontraramum pote cheio mas era com sal, e Kate alegou que não servia, que o seu brownie levava uma pitadade sal, mas não a quantidade que tinha na manteiga. Então ela perguntou pelos brownies que haviafeito na véspera e Cukor confessou que comera todos. Com desejo de comer chocolate naqueleinstante, Kate resolveu abrir uma caixa de bombons maravilhosos que tinha comprado para ele. Eassim foi feito. Ambos saíram comendo bombons e levando o cachorro para passear e Kate dizendoque Cukor devia providenciar a manteiga sem sal, pois no dia seguinte ela iria fazer os brownies.

Segue a tão famosa receita de Kate:

Brownies de chocolate com nozes de Kate

1 tablete de manteiga sem sal (ou 8 colheres)

2 barras de chocolate amargo

1 xícara de açúcar

2 ovos

1/2 colher de chá de baunilha

1/4 xícara de farinha de trigo

1/4 de colher de chá de sal

1 xícara de nozes picadas

Derreter juntos a manteiga e o chocolate em banho-maria. Tirar a panela do fogo. Misturar a xícarade açúcar, os ovos e a baunilha, bater bem. Misturar a farinha, o sal e as nozes. Assar numa formaquadrada ou retangular, forno a 325º, mais ou menos 40 minutos. Pode ser cortado em quadradosdepois de frio ou comer direto da forma. Fica mais bonito colocar os quadrados empilhados numbelo prato, para as pessoas se servirem com a mão. Se quiser mais sofisticado, colocar num pratopequeno com uma bola de chantilly em cima e um pouquinho de raspas de chocolate.

KIM NOVAK

Ao vermos a bela Kim Novak (1933) nos muitos filmes que fez, não imaginamos que aquela loura

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estonteante era apaixonada por doces, principalmente fudge e cookies. Detalhe, a diva não gostavasomente de comê-los, apreciava também ir para a cozinha prepará-los com suas próprias mãos.

Como tudo que é bom tem seu preço, a gula por doces acabava dando uns quilinhos a Kim. Tanto que,quando o renomado produtor Harry Cohn resolveu transformá-la numa estrela para substituir asensualíssima Rita Hayworth na Columbia, Kim teve que fazer uma dieta rigorosa e emagrecermuitos quilos. Na realidade Miss Novak gostava tanto de doces, tendo como preferido o chocolate,que chegava a se importar pouco com comida.

A paixão de Kim era tanta que no seu primeiro Natal em Hollywood, ela passou a noite em casafazendo formas e mais formas de fudge de chocolate para presentear os amigos. Isto porque ela nãotinha dinheiro para comprar presentes, mesmo que fosse uma simples lembrancinha. Então ela cortoudelicadamente o fudge em quadradinhos, embrulhou em papel bonito e distribuiu para todos oscolegas no estúdio. Harry Cohn, desaforado como sempre, jogou o presente de volta para eladizendo: “Eu não como esta porcaria, coma você!” Kim jamais esqueceria tal grosseria.

Algum tempo depois, já estando com a situação financeira bem melhor, Kim resolveu quebrar o geloentre ela e Harry, convidando-o para jantar em sua casa. Achando que não cozinhava bem osuficiente para agradá-lo, ela não quis correr o risco de decepcioná-lo de novo indo para a cozinha.Pediu comida de um restaurante chique, mas disse a ele que ela mesma havia feito tudo pessoalmente.Ele adorou o menu que foi servido e no dia seguinte no estúdio não parava de elogiar os dotesculinários de Kim, o que ela achou hilário, enquanto torcia para que não descobrissem a verdade.

Kim Novak sempre foi tida como a atriz rebelde de Hollywood, tanto que sua biografia leva o nomede “Reluctant Goddess”. Uma das provas disto é que diante dos muitos ilustres convites que recebia,ela sempre preferia ir a uma drugstore tomar café com torta de maçã do que comparecer a um belojantar de Réveillon com toda Hollywood presente. Muitas vezes, quando acabavam de fazer um filmee a equipe se reunia para comemorar, ela ficava em seu camarim tomando uma sopa fria com algumsanduíche trazido de casa.

Mas esporadicamente Kim fazia uma exceção e ia à casa de algum famoso. Caso do dia em que foi aosuntuoso jantar que Zsa Zsa Gabor ofereceu a Porfírio Rubirosa, considerado o playboy maissensacional da década. Outra vez ela sofreu para comparecer a um jantar em sua própria homenagemna espetacular casa de Hitchcock. A estrela ficou tão nervosa com o evento que chegou atrasadademais, o que foi uma grande gafe aos olhos dos rigorosos anfitriões.

Kim era muito insegura quando se tratava dos seus dotes culinários. Costumava dizer a todos que nãosabia cozinhar, o que não era verdade, pois várias vezes um amigo ligava para pôr o papo em dia eela dizia: “Não posso falar agora, estou cozinhando. Venha para cá e jante comigo, assim poderemoscomer e conversar à vontade”. E diziam os amigos, principalmente Sammy Davis Jr, que o jantarpreparado por ela era sempre ótimo.

Talvez fosse mesmo pois Kim teve muitos namorados que elogiavam sua maestria na cozinha, mas elacustou muito a saber para quem iria cozinhar como esposa. Era contra o casamento e mais aindacontra o divórcio. Finalmente num impulso de paixão casou com o ator inglês Richard Johnson e logose arrependeu. Uma das primeiras brigas foi sobre a cozinha do apartamento dele em Londres. Ele

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queria reformar e modernizar a cozinha mínima e ela queria só colocar mais uma prateleira. Disse auma amiga: “Se ele quer mudar tudo, então que cozinhe também”. Kim não pôs a tão desejadaprateleira na cozinha, mas também não demorou a abandoná-lo.

A harmonia de um relacionamento viria para Kim na sua casa espetacular nas montanhas daCalifórnia que compraria bem mais tarde. Lá, de frente para o mar, ela começou a pintar, a passarhoras na cozinha preparando seus doces favoritos e ficava semanas sem ver ninguém, só com apresença dos cavalos que adora. Finalmente encontrou o amor de sua vida, o famoso veterinárioRobert Malloy, quase dez anos mais jovem, com quem se casou e foi muito feliz. A casa é umverdadeiro zoológico e os dois adoram fazer jantares na maravilhosa cozinha antiga onde conversam,riem e fazem também doces.

Segue uma das deliciosas receitas de Kim.

Macaron Cítrico com Chocolate Branco

Ingredientes:

100 gr de coco

400 gr de chocolate branco picadas

2/3 xícara de açúcar

6 colheres de farinha

¼ colher de chá de sal

Claras de 4 ovos

2 colheres de chá de casca de limão ralada

1 colher de chá de essência de amêndoa

1 barra de chocolate meio amargo derretida

Modo de fazer:

Forno pré-aquecido a 325º. Numa tigela grande colocar o coco, chocolate branco, açúcar, farinha esal. Depois as claras em neve, essência de amêndoas e casca de limão. Misturar bem. Numa formagrande e untada, colocar colheradas cheias, distantes umas das outras uns 2 dedos. Assar 20 minutosou até as beiradas estarem douradas. Tirar imediatamente do forno, deixar esfriar e cobrir com ochocolate meio amargo derretido.

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Dica do autor: ao invés das colheradas você pode também fazer bolinhas com as mãos e para variarcom a cobertura, corte os macarrons ao meio e use o chocolate derretido como recheio. Mas dequalquer forma que faça, estes macarons são deliciosos.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Evânio Alves

Lauren Bacall

Sopa francesa de batatas

Todo o mundo se encantou quando a bela Lauren Bacall (1924) apareceu pela primeira vez na telados cinemas no filme “Uma Aventura na Martinica” de 1944. Mas quem fisgou a estrela, de fato, foi oator Humphrey Bogart, que, apesar de ser casado, separou-se e levou a mocinha para casa. Junto comLauren, Bogart levou também a sua antiga cozinheira. Isto para não perder tempo deixando aquelabeldade na cozinha, enquanto poderiam estar juntos em outros cantos da casa.

Com a presença constante da cozinheira que permaneceu na casa do casal até a morte de Bogart,Bacall não teve necessidade de frequentar muito a cozinha e consequentemente não criou intimidadecom o fogão. Embora o desejo não faltasse, pois antes de se casar com Bogart, os dois foram visitaruma linda fazenda e Lauren gostou da vida doméstica. Ela ficou encantada com a fartura de comidamaravilhosa, muitos ovos, leite, manteiga, carne e três refeições servidas por dia. Bacall imaginouque ia se casar lá, virar uma fazendeira carregando um balde de leite e cozinhando para muita gente,mas isso não aconteceu. Ainda bem, senão a estrela não teria tido tempo para fazer belos filmes paranós.

Brincadeiras à parte, apesar de não gostar de cozinhar, Bacall sempre foi expert em apreciarsabores. Quando casou-se pela segunda vez, bem mais tarde, no México, ela ficou feliz com oalmoço depois da cerimônia. Sua comida preferida sempre fora a mexicana e naquele dia haviatacos, enchiladas, huevos rancheros, tudo regado a tequila. Tendo se esbaldado com as guloseimas danoite anterior, na manhã seguinte Lauren resolveu fazer o café da manhã, o que, até então, estava forada sua rotina. Bacall ficou tão empolgada com sua atitude doméstica que ligou para uma amiga econtou tudo com todos os detalhes.

Ao contrário de Miss Bacall, seu segundo marido gostava de cozinhar e ia frequentemente para acozinha com os filhos dela. Lauren achava ótimo que os filhos tivessem uma vida familiar, mas,

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apesar do marido ser um mestre-cuca, o casamento foi um desastre e chegou ao fim.

Lauren Bacall afirma em suas memórias que comida é coisa básica em casa e cria laços e tradição,dando sentido à vida familiar. Ela gostava quando os filhos apareciam (já adultos e fora de casa) eesperavam encontrar aquela comidinha que eles gostavam quando crianças. Uma vez, o filho Steve,já rapaz, reclamou que ela não era uma mãe como as outras que ficavam na cozinha. Bacall ficoupreocupada, mas tentou explicar a ele que ficar em casa fazendo cookies não faz de ninguém uma boamãe.

Depois de todos os filhos de Bacall terem criado independência, ela passou a viver sozinha. E, seantes, que poderia cozinhar para eles ela não fez, sozinha não viu porque fazer para si só. Econsequentemente, por mais de vinte e cinco anos, Lauren fez uso de delicatessen, onde tinha prazerem comprar salmão defumado, cream cheese com cebolinha, saladas de repolho e de ovos, além detodos os frios e sanduíches. No seu ponto de vista, New York é a melhor cidade para se encomendarcomida pronta e deliciosa, de todo lugar do mundo.

Quando em visita ao Canadá, Lauren Bacall assumiu o seu fraco por cachorro-quente e Tim Bits(bolinha de massa doce, tipo sonho). Ela considera os de Toronto, francamente melhores que os deNew York. No banco de trás do seu Rolls Royce, ela se deliciava comendo alguns enquanto passeavapela cidade, sem ninguém saber que era a famosa estrela hollywoodiana que estava ali dentro.

Mas quando em casa, o almoço preferido de domingo de Bacall é salmão cortado finíssimo, ou algumpeixe branco defumado, cream cheese com cebolinha e pão de gergelim com alho. Mas confessa quenunca come um prato enorme de comida.

Quando Bacall teve sua primeira residência perto de New York, onde morou quinze anos, a casa eragrande, com um jardim lindíssimo, mas com uma cozinha mínima. Apesar de não cozinhar, elasempre gostou de cozinha grande e bem equipada. Pois adorava sentar numa cozinha confortável paratomar chá e conversar, ou fazer um café da manhã básico para os filhos, quando menores.

Pensando sempre em ampliar a cozinha, Bacall acabou fazendo prateleiras, colocou lindos potes,pendurou as panelas na parede, enfim, o lugar pequeno ficou aconchegante e com estilo e não tevemais necessidade de ser ampliada. Naturalmente Bacall passou a ficar grande parte do dia nacozinha, não cozinhando, mas sempre mudando, enfeitando, acrescentando ou tirando alguma coisa.Sentia que ali era o coração da casa, mesmo que pequeno.

Outra paixão de Lauren Bacall na culinária, além da comida mexicana e fast foods de New York, sãoos cafés de Paris. Na sua opinião, e de quase todo o planeta, é a cidade mais bela do mundo e ondesentia-se em casa, desde a primeira vez que lá esteve. Ela chegava, ia direto ao Café Alexandre epedia um chocolate quente, e isto, por si só, já valia por toda a viagem.

E foi em Paris que Bacall se encantou pela receita que vem a seguir. Foi pela razão simples e lógicaque, quando a provou pela primeira vez num restaurante na primeira viagem à Paris, ela ficouencantada e pediu a receita.

“Foi uma época feliz, como é sempre em Paris, então passo a receita esperando que o sabor da

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cidade das castanheiras será sentido por todos que provarem a Potage Cressonière.”

Potage Cressonière (Sopa de Agrião)

Ingredientes:

1 kilo de batata

1 colher de chá de sal

1 litro de leite (um pouco menos)

1 molho de agrião

½ xícara de manteiga

Preparo:

Descasque as batatas, corte em quartos, cozinhe em água com sal até ficarem macias. Escorrer eamassar como purê. Acrescentar o leite fervendo e o sal. Enquanto as batatas cozinham, lavar ecortar as folhas do agrião grosseiramente. Colocar na sopa e cozinhar por mais 5 a 6 minutos. Tirardo fogo e acrescentar a manteiga. Servir numa sopeira.

Serve de 6 a 8 pessoas

As Divas na Cozinha

Evânio Alves

Lana Turner

Milk-Shake de Baunilha

Pode-se dizer que a vida pública da estrela Lana Turner (1921-1995) foi uma das mais turbulentas deHollywood. Principalmente depois do escândalo que sucedeu quando sua filha Cheryl Crane matou oseu amante, a propósito, com a própria faca de cozinha que ele havia comprado. Mas não fica sónisto. A vida de Lana na cozinha também foi muito tumultuada, cheia de emoções.

Quando se casou com o clarinetista Artie Shaw, seu primeiro casamento, Lana teve poucosmomentos de alegria. Pois, como ela mesma confessa em suas memórias, Artie era um “grosso”. Aúnica vez que viu Artie se divertindo foi quando, depois de um show que fizeram num night club,convidaram o amigo Phil Silvers, ator, para jantar na casa deles. Quando chegaram lá, Lana notouque os rapazes acenderam um cigarro estranho, ela logo percebeu que era maconha. Eles oferecerame ela recusou. Na hora da “larica” (fome desesperada causada pela maconha), Lana os levou para a

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cozinha. Esfomeados, os dois nem esperaram que ela preparasse algo, abriram o armário e pegaramcomidas enlatadas tipo feijão, vagens, pêssegos, picles e comeram tudo com rápidas colheradas eriam sem parar. Lana ficou assustada.

Outro dia, quando Miss Turner voltou cansada do estúdio, encontrou Artie e dois amigos esperandopara jantar. Como não havia nada pronto em casa, Lana resolveu ir à cozinha preparar um spaguettipois era mais rápido. Quando Lana levou a comida à mesa, Artie cheirou e disse que estava umaporcaria. Furioso, ele pegou o pirex, espatifou no chão e ordenou, em voz alta, que ela limpasse tudoimediatamente. Ao certo não estavam na onda da maconha.

Outra vez, Artie estava no banho e pediu a Lana um suco de laranja. Lana estava decorando textomas mesmo assim, foi para a cozinha e preparou o suco. Quando foi entregá-lo, a porta do banheiroestava emperrada, Artie ficou furioso e culpou a esposa pelo acontecido. Quando conseguiu sair,Artie passou por Lana aos gritos, ignorando o suco em sua mão e ordenou que ela engraxasse os seussapatos. Claro, o casamento acabou logo, pois Artie queria que Lana fosse sua empregada e nãoesposa.

Divorciada de Artie, Lana casou-se com Stephen Crane, chegaram até a abrir um restaurante juntos,mas a relação duraria pouco e logo ela casaria com o milionário Bob Topping. Para a cerimônia,Bob encomendou um banquete extraordinário preparado por maîtres franceses de primeiríssimalinha. Fizeram as iguarias mais exóticas imagináveis. Pequenos rios e lagos onde nadavamverdadeiros peixinhos dourados que tinham a margem feita de caviar, canapés, salmão e filés delinguado. Um verdadeiro luxo.

Outra complicada situação aconteceria a Lana na cozinha. Quando estava divorciada por mais umavez, ela resolveu tirar férias em Palm Springs, na casa de praia do amigo Frank Sinatra. Para não irsozinha, Lana levou um amigo. E levou também um panelão de frango frito, costelas e saladas,preparados pelo seu cozinheiro mexicano. Na mansão de Frank, enquanto estavam na sala, ainesperada Ava Gardner entrou de repente e juntou-se à turma.

Depois de se divertirem na piscina, foram todos comer na linda cozinha. Lana pôs as comidas emcima do balcão e de repente chegou o também inesperado Sinatra, todo nervoso e começou a brigarcom Ava, lá mesmo na cozinha. A briga se estendeu até o quarto onde estavam as coisas de Lana e elae o amigo ficaram dentro da cozinha em pânico, e resolveram sair de lá correndo, detalhe, famintos esem os pertences. Pararam numa lanchonete vagabunda e ficaram pensando se a briga já haviaacabado e Lana disse ao amigo que a única coisa que ela queria era estar comendo aquele deliciosofrango frito que deixaram para trás.

Quando Lana juntou-se a Fred May e foram morar em Malibu, ele apresentou a ela uma outra Lanaque ela não conhecia. Com o novo marido ela foi para um rancho nas montanhas e sem maquiagem norosto e cabelos ao vento, passavam boa parte do dia pescando. Lana já havia tido experiência com apesca com Bob, mas foi com Fred que ela aprendeu de verdade a fisgar um peixe. Só não conseguialimpar os bichinhos, tinha nojo e Fred ficava com esta parte e Lana fritava.

Desde criança Lana adorava milk-shake e coca-cola. Quando adolescente gastava o dinheiro doalmoço tomando uma coca e quando podia, um milk-shake. Naturalmente, comendo porcarias, ela

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vivia aumentando de peso. E para completar ela adorava um bar, sempre teve um caprichado em casaonde recebia os amigos. Acabou se tornando uma especialista em drinks, conhecia todos, inventavaoutros.

Miss Turner não gostava de dar jantares formais, nem pequenos, mas à vezes estava a noite em casacom um amigo, sentada no tapete da sala tomando vodka e batendo papo, e de repente ela ia para acozinha e fazia um franguinho frito, que adorava, com uma salada e era uma delícia. Era assim queela cozinhava, sempre informalmente.

Segue uma receita de shake, que Lana adorava preparar em seu bar:

Milk-Shake de Baunilha

Ingredientes:

1 xícara de sorvete de baunilha

2 colheres de chá de raspas de chocolate branco

1/3 xícara de calda de chocolate branco (ver nota)

1/3 xícara de mirtilos (blueberry) - substituir por uns 6 morangos: 3 amassados e 3 cortados ao meiopara enfeitar

1/3 colher de chá de cardamomo em pó

3/4 xícara de leite desnatado

Creme chantilly para a cobertura

Modo de fazer:

Misturar o sorvete, as raspas de chocolate, a calda e os blueberrys, o cardamomo e o leite. Batertudo no liquidificador até ficar bem cremoso. Colocar num copo alto com o chantilly e os morangospor cima, caso vá usar.

Nota: Para fazer a calda de chocolate branco, esquentar 1 colher de leite com 3 colheres dechocolate branco em pedacinhos até derreter.

As Divas na Cozinha

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Engana-se quem pensa que a diva negra Lena Horne (1917-2010) brilhava só no palco quandosoltava a sua incomparável voz. A estrela era um sucesso também no fogão. Aliás, a paixão de Lenapor cozinha veio desde pequena, mas só aprenderia cozinhar de fato, quando adulta e já casada.

Na infância quando voltava da escola e chegava em casa, Lena ia correndo para a cozinha que eragrande e antiga. Para seu deleite, no fogão, que era a lenha, havia sempre alguém fazendo um pão demilho e em cima da mesa de madeira não faltava uma maçã e um chocolate Hershey à sua espera. Erao seu lugar favorito da casa, o mais aconchegante, onde ela estudava e lia os livros que foramimportantes na sua vida.

Lena conta em suas memórias que na sua casa da infância havia muitas frutas, goiaba, sapoti (frutanativa da América Central), manga e figo. Diz também que adorava os chitlins, uma comida afro-americana feita de intestino de porco que demora o dia inteiro para cozinhar, uma iguaria. Ela contaainda que a sua mãe, muito chique, não cozinhava nada. Nunca era vista na cozinha e a avó, quequase só falava francês, nem chegava perto também. E que naquela cozinha enorme quase nunca sepreparava um grande almoço caseiro e cheiroso entre os familiares.

Mas apesar de não gostar de cozinhar, a mãe de Lena tinha preferência pela culinária sulista clássica.Achava que Deus havia inventado o quiabo, ao seu ver uma verdura divina. Preferia quando cozidona hora, firme, numa tigela com manteiga, sal e pimenta por cima. Também gostava da coalhada dosul, fria e com açúcar, ostras e mariscos e mostarda (verdura) desde que alguém fizesse, não ela. Dacozinha “branca”, a mãe de Lena gostava do biscoito de polvilho, batata-doce, costeletas e fricassêde frango com vegetais, geralmente aspargos e espinafre, os mais comuns. Lena cresceu comendoessas delícias e acabou herdando o mesmo gosto culinário da mãe.

Por sorte, o segundo marido da mãe de Lena cozinhava divinamente. Assim a cozinha não ficavadesprovida de bom cozinheiro. Ele fazia amizade com os comerciantes do bairro e trazia tudo debom para casa, além de conhecer temperos que faziam a comida comum virar deliciosa. Lena nuncaesqueceu de tudo que o padrasto fazia no fogão. Por causa dele ela adorava alho, que ele colocavademais em tudo, tanto que Lena saía de casa cheirando a alho e provocava inveja no pessoal doCotton Club, que sentia que ela comia bem.

Aliás, era com o salário que recebia no Cotton Club, onde iniciou a sua carreira artística comocantora, que Lena passava na mercearia e comprava feijão preto, carne de porco salgada e o legumeda estação, em geral repolho, e levava para o padrasto preparar.

No primeiro casamento de Lena, com Louis Jones, com quem teve dois filhos, ela não teve muitasorte. Ele queria a esposa perfeita e Lena ainda não havia aprendido a cozinhar, já que as mulheresda família achavam que uma esposa nobre e inteligente não ficava na cozinha. Depois da primeiranoite juntos, Louis acordou e pediu para Lena fazer o café, ela confessou que não sabia. Assustado, omarido teve que ensinar alguma coisa simples para ela fazer: pão de milho, costeletas de porco etorta de maçã.

Para o marido, negro culto e de família boa, uma mulher negra tinha que cozinhar muito bem e mantera casa impecável. Coisas estranhas para Lena, também negra de boa família e boa educação. Ocasamento acabou mal. Nesse tempo Lena cuidava das crianças, de noite dava o jantar que ela

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própria já fazia e ia trabalhar, na época no famoso Café Society. Para os filhos ela fazia uma comidaprática e fácil e tinha orgulho de finalmente poder “se virar” na cozinha.

O segundo marido, Lennie Hayton, músico, com quem viveu mais de vinte anos, era um bomcozinheiro. Preparava uma salada maravilhosa, esfregando alho na saladeira de madeira com todorequinte. Comia e bebia sempre do melhor e ensinou Lena a pilotar um fogão com maestria. Elapassou a cozinhar para todos, principalmente para os filhos com alegria, sempre algo sofisticado edelicioso e não pararia mais.

O primeiro jantar que deram como casal, inaugurando a casa nova, encomendaram 4 dúzias delagostas, que vieram de avião do Maine. Preparam os bichinhos com capricho. Com boa comida ebebida, a festa durou até o dia seguinte.

Recebiam sempre, informalmente, os amigos chegavam sem avisar. Gente da música, dança e cinema.Ava Gardner vivia lá, era vizinha e as duas muito amigas se trancavam na cozinha. Lennie fez um barem casa, com tudo que havia de melhor. Sábado e domingo faziam a “hora do cocktail”. Compraramum livro com receitas de drinks e fizeram todos, de A a Z. Então os amigos chegavam para ver qualera o drink do dia e ficavam para a noite. Ela adorava amigos, bebidas, comidinhas e boa música.

Para Lena a comida negra americana parecia muito com a refinada da Europa. Por exemplo, comiammuito coelho, como na França. E quando em viagens pela Europa, ela vivia procurando conhecer asespecialidades locais. Procurava nos mercados, como o famoso Les Halles em Paris, os ingredientespara preparar comida do sul de seu país. Encontrou lá o “gumbo filé” (molho de folhas de sassafrás),básico para fazer comida negra. Depois ia para a casa de algum amigo fazer o prato para todos.

Na Flórida ela comprava peixe de um homem que vendia de porta em porta e fazia com ervas, alho,cebola e às vezes camarão. Já no Rio de Janeiro, Lena provou e apaixonou-se pela farinha. Elagostou tanto que comparou a farinha brasileira com a polenta italiana. Achava que a pobreza estavamais perto da “haute cuisine” que a comida da classe média. Para quem teve uma mãe que nãocozinhava nada, Lena acabou desenvolvendo boa relação com a cozinha.

Segue um dos pratos preferidos de Lena que embora simples é delicioso.

Feijão “bom de morder”

Ingredientes:

2 xícaras de feijão preto

5 xícaras de água

1 colher de chá de sal

1/2 xícara de azeite

2 dentes de alho grandes amassados

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1 cebola fatiada fina

8 tomates pequenos descascados e cortados

Pimenta escura moída na hora a gosto

Pedaços de presunto cru

Limpar o feijão com cuidado e deixar de molho durante a noite. Escorrer. Colocar o feijão e opresunto numa panela grande com água cobrindo o feijão (uns dois dedos). Acrescentar sal, cobrir ecozinhar 1 h e 30 min, até ficar bom de morder (ou 20 mintos na pressão). Enquanto isso, preparar omolho: numa frigideira esquentar 2 colheres de azeite. Passar a cebola e o alho até ficarem macios.Colocar os tomates. Cozinhar devagar até fazer um caldo grosso. Quando o feijão estiver cozido,jogar este molho por cima e cozinhar até ferver. Colocar 1 fio de azeite por cima e pimenta a gosto.Servir com o presunto para completar a refeição.

Nota de Lena: carne de porco salgada ou osso de presunto dão um gosto defumado delicioso. Numaversão sem carne, use ervas como coentro, folha de louro, tomilho ou salvia para dar sabor. Opresunto dá um sal natural sem precisar acrescentar muito sal e pimenta. Cozinhe com seus sentidos egosto!

Serve 6 pessoas.

Evânio Alves

Lena Horne

Feijão “bom de morder”

As Divas na Cozinha

Loretta Young

Salada Chiffonade

Em suas memórias, a atriz Loretta Young (1913-2000) descreve uma tensa história doméstica vividapor ela logo que casou-se pela segunda vez. Miss Young e Tom, seu marido, tinham planejado umjantar para os amigos mais queridos em sua casa. Era um acontecimento muito importante na vida deLoretta. Pois havia sido até então uma anfitriã informal, como era na casa dos seus pais, onde a suamãe fazia a hospitalidade parecer muito simples. Sempre tinha lugar para mais um na mesa e comidana geladeira para mais um prato. Não faziam uma grande produção, e de alguma forma, sempre querecebiam, era divertido e ninguém ficava com fome.

Mas quando Loretta teve que enfrentar a situação como a anfitriã famosa que já era em Hollywood,

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ela foi fundo nos seus sonhos de perfeição e acabou trabalhando como um cão dias e dias antes doevento para no final, não se dar por satisfeita.

Como os dias informais haviam acabado para ela, naquele momento Loretta sentiu que precisava serperfeita ao receber os famosos amigos. Sua mesa tinha que ser linda e sofisticada, o menu teria queestar perfeito e fantástico. A temperatura e safra dos vinhos tinham que ser corretos para cada etapado jantar. Os convidados tinham que estar perfeitamente sentados e ela deveria saber os drinkspreferidos de cada um e a marca de cigarro que eles gostavam.

Loretta correu durante dias, toda afobada, checando infinitas vezes tudo: toalhas de mesa,porcelanas, cristais, o florista, o armazém, o açougueiro, a adega, etc. Chegada a hora de se arrumar,Miss Young estava com tanto medo, igual ao dia em que fez o seu primeiro grande papel no cinema,que aliás, foi no filme “Ambiciosa” em 1947. Mas, ciente de que ninguém sabia que ela estavanervosa, Loretta foi checar, mais uma vez, toda a comida a ser servida.

Por um instante Miss Young ouviu o seu marido chamá-la. Ele perguntou se ela pretendia mudar deroupa antes que os convidados chegassem, pois já estava em cima da hora. Afobada, Loretta saiucorrendo para se trocar. Ela acabava de se vestir quando a campainha tocou e, nervosa como estava,ela mesma abriu a porta, nem esperou pela empregada. E daquele momento crucial até o fim da festa,Loretta passou a ficar mais atenta a todos os detalhes.

No final da noite, tudo acabou bem. Loretta sabia que havia sido uma festa bonita e tranquila. Osconvidados se comportaram com todas as boas maneiras que possuíam. Às onze e meia ela e omarido já estavam sós, todo mundo já havia ido embora. Loretta tinha certeza que tudo havia dadocerto, mas achava que talvez fosse um pouco cedo para uma festa maravilhosa já pertencer aopassado. Enquanto o marido arrumava umas garrafas atrás do bar, ela vagava pela sala silenciosa ase questionar o porquê. Foi então que perguntou ao marido se havia sido uma boa festa.

Friamente Tom somente respondeu que a comida estava sensacional e que tudo havia corridoperfeitamente. Diante da fria resposta do marido, Loretta presentiu que ele não estava sendoverdadeiro e que não conseguia dizer que não havia sido a melhor festa de sua vida. Foi então queela perguntou o que deu errado. Loretta preparou-se para ouvir o que ela tinha deixado de fazer certo.Então Tom veio para perto dela, levou-a ao sofá e apagou o sorriso falso do rosto. Ele a olhou diretono olho e disse: “Você foi o que deu errado na festa, Loretta”.

Miss Young começou a protestar mas pensou melhor ao se lembrar de que ela havia pedidosinceridade ao marido. Ele continuou dizendo que ela estava tão ansiosa, que deixou de ser elamesma. Que ficara em cima dos convidados o tempo todo e não ouviu ninguém. Parecia umadedicada e remota organizadora de festas, mas nem um pouco divertida. Concordou que estava certofazer tudo o mais perfeito possível, mas quando a festa começa, essas coisas são apenas o cenário.As pessoas fazem a festa. E a maioria gosta que a dona da casa esteja presente também. Afirmou quea única coisa que loretta esquecera, foi de ir para a sua própria festa!

Diante da sinceridade do marido e grata por ela, Loretta não aguentou segurar o nó na garganta e aslágrimas de fracasso rolaram pelo seu rosto. Tom ignorou o desespero da esposa e pegou um cálicede champagne para ela. Em seguida colocou uma música e levantou o seu cálice para o alto dizendo:

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“A você, madame”. Não resistindo ao belo sorriso do marido, Loretta deu um sorrisinho, fez umareverência e também levantou o seu copo: “A você, meu senhor”. Os dois se abraçaram, dançaram,começaram a rir e de repente começou a verdadeira festa!

Loretta não gostava somente de cuidar precisamente dos detalhes das festas que dava, ela também sedivertia na cozinha. Segue uma de suas receitas preferidas:

Pão de Nozes

Ingredientes:

2 xicaras de nozes moídas

2 xícaras de crackers moídos ou bem picados

Leite (aproximadamente 1 xícara)

2 ovos

Sal a gosto

Modo de fazer:

Acrescentar as nozes aos biscoitos crackers (quebrados, para virar quase uma farinha). Colocar sal agosto, misturar bem. Colocar os ovos bem batidos e mexer tudo, junto com um pouco de leite parafazer uma massa bem firme e consistente. Colocar em forma para pão untada e assar devagar emforno médio, 1 hora ou 1 ½.

Nota do autor: na receita original de Loretta, ela não colocou fermento, porém, ao experimentar nãodeu certo. O pão não cresceu e ficou muito duro. Ao fazê-lo usando 10 gr de fermento biológico,cresceu na medida certa e ficou delicioso.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Lucille Ball

Delícia Sino-americana

A comediante americana Lucille Ball (1911-1989) foi criada para ser a dona de casa perfeita, paraassim prender o marido em casa. O que não funcionaria com ela. Consequentemente Lucy aprendeu acozinhar quando adolescente, como toda mocinha da sua época. Sem falar que desde criança, era sua

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obrigação na cozinha lavar os pratos, o que ela achava uma tarefa triste. Se não lavasse direito, tinhaque recomeçar até o serviço ficar bem feito.

À procura de novos horizontes, Lucy foi para New York. Na gigantesca metrópole ela arranjoutrabalho como modelo e nesta época, vivia só de café e donuts por falta de dinheiro e ficou tão magraque até para modelo era demais. Como alternativa, Lucy aprendeu com as colegas a aceitar convitespara jantar e “esticar” ao máximo a comida, levando para casa um pão com manteiga, uma fatia derosbife e quem sabe até um docinho, claro, sem que o garçom visse.

Quando casou-se com o produtor de televisão Desi Arnaz, as coisas melhoraram. E Lucy quis ser aperfeita dona de casa para agradá-lo. Fez uma lista de tudo que o marido gostava, para aprender asreceitas e preparar. E não eram as preferidas dela, carne cozida e frango frito, que adorava. Masafinal quem cozinhava melhor era Desi e fazia de paixão.

Como prova disto, na primeira casa dos dois juntos Desi construiu uma imensa churrasqueira à modacubana. E lá, ele reunia sempre um grupo de amigos para jantar e fazia seu famoso molho de tomate,que todo mundo em Hollywood queria provar.

Num desses encontros aconteceu uma hilária cena com o cubano Desi. Ele chegou sorridente na salacheia de convidados, com um caldeirão gigantesco de spaghetti com o seu famoso molho, avisandoem espanhol que o jantar estava servido. De repente o fundo do caldeirão soltou-se e todo omacarrão foi ao chão, sobre um tapete de cor creme. Para não deixar o anfitrião mais constrangido,na mesma hora os convidados pegaram seus pratos e foram servir-se do macarrão todo espalhadosobre o tapete e fizeram a festa.

Apesar do marido ser o cozinheiro da casa, mesmo assim Lucy fazia quitutes para ele e os doisfilhos, sempre na intenção de agradar. Mas cada vez mais sem graça, porque ele, de fato, era o “chef”da família e fazia um grande espalhafato de seus dotes culinários. Principalmente quando a casaestava cheia de amigos para jantar informalmente ou quando passavam o dia todo fazendo churrasco.Além disso, mesmo que Lucy caprichasse, as refeições em família nunca “prenderam” seu marido emcasa.

Mais tarde ela e Desi compraram um sítio que tinha de tudo: horta de alcachofra e abobrinha, umpomar cheio de frutas e até porcos e galinhas. Chegaram até a vender os ovos para os vizinhos, todosestrelas famosas. Cultivavam lá o suficiente para alimentar sua família e a dos empregados. Mas estafeliz fase de vida durou pouco para Lucy. Por exigências do trabalho de ambos não conseguiramviver lá e mais tarde tiveram que vender.

Mudaram-se para Hollywood e a casa era sempre cheia, como o marido gostava. Porém Lucysempre quis uma vida mais tranquila, que só conseguiria realmente no segundo casamento com GaryMorton, que tornou-se produtor da série “I Love Lucy!” Aliás, foi através desta série, onde Lucyaparecia sempre cozinhando, que ela ganhou grande repercussão no quesito cozinha, chegou até alançar um cookbook com receitas que ela colecionava do mundo todo onde ia com suasapresentações.

Segue uma das gostosas receitas da maravilhosa comediante Lucille:

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Delícia Sino-americana (chinesa e americana)

Como disse Lucy: “Este prato é servido com molho picante, que cozinha devagar numa grande panelavermelha. É um daqueles molhos que melhora com o tempo, como muitos vinhos e poucas mulheres”.

4 colheres de manteiga

2 dentes de alho amassados

2 porções de cebolinha picada

2 talos de aipo, picados

1 pimentão grande, cortado

1 lata de nozes

1 lata de broto de feijão

1 pacote de ervilhas

1 lata grande de champignon misto

1/2 xícara de maisena

6 xícaras de água

1/2 xícara de caldo de carne

molho de soja a gosto

4 bifes tipo filé mignon, cortados em tiras

Derreter a manteiga numa frigideira. Colocar o alho, a cebola, o aipo e o pimentão, mexendo sempre.Enquanto isso, dissolver a maisena em pouca água fria. Ferver o restante da água numa chaleira,colocar a maisena dissolvida e mexer. Colocar os legumes neste molho, com todos os ingredientesmenos a carne. Cozinhar em fogo baixo 30 minutos. Colocar a carne e cozinhar mais 10 minutos.Servir com arroz. Para 10 pessoas.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

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Mae West

compota de frutas

A norteamericana Mae West (1893 - 1980) é considerada a atriz mais “picante” e ousada que jáexistiu em Hollywood. Na maioria dos filmes em que atuou, além de devorar todos os homens quecruzavam seu caminho, Mae fumava e bebia incontrolavelmente. Porém, na vida real Miss West eratotalmente diferente dos personagens que vivia. Ela nunca bebeu e nem fumou e ainda especulavamque fosse assexuada. Isto, além de ter uma alimentação regradíssima, onde só comia coisassaudáveis, pois preocupava-se muito com a saúde.

Pois bem, apesar de Mae ser considerada acima do peso se comparada a outras atrizes de sua época,talvez ela seja a única atriz que, de fato, tenha seguido uma rígida dieta durante toda a vida. Mas paraser sincero, Mae era até bem “cheinha” para não dizer “gordinha”, embora afirmasse sempre nãocomer quase nada além de frutas.

Mas indiferente da estética, além de atriz e sex symbol, Miss West escreveu vários livros. Em umdeles, mais precisamente na sua autobiografia, a estrela assume que nunca cozinhou em toda a suavida, porque simplesmente nunca quis aprender e nem teve tempo. Mas de fato cozinhar nãocombinava com Mae, pois ela vivia literalmente como uma diva dentro do seu glamourosoapartamento em Hollywood todo pintado de branco e dourado e com “dezenas” de empregadasandando pela casa. Talvez a estrela nem entrasse em sua cozinha.

Porém, quando criança, Mae adorava perambular pela cozinha da sua mãe, que aliás, tinha um arfrancês. Diferente de Mae, sua mãe gostava de cozinhar, pode-se dizer que era uma cozinheiramaravilhosa, e isto dava-se ao fato de ela fazer tudo de bom humor. Porém, Mama West nunca tentouensinar Mae a cozinhar, nem tampouco ela quis aprender.

Para Mae, comer e cozinhar eram coisas totalmente diferentes. Ela estava ocupada demais tentandofazer carreira e não podia aprender a cozinhar com a mãe ao mesmo tempo. E mais tardeconscientizou-se que a mãe não a ensinou os dotes culinários porque na realidade ela mesma queriasair correndo da cozinha, pois era uma mulher muito fina e combinava mais com outros cantos dacasa.

Apesar de assumir que nunca cozinhou, amigos de Mae contam que ela adorava ir ao mercado,escolher tudo de melhor, muitas frutas e legumes frescos. Pois só comia o que fazia bem, tinhacuidado até exagerado com a alimentação. Tanto que mantinha as paredes e os tetos do apartamentoquase todos cobertos de espelhos para controlar-se e não sair de forma.

Miss West dizia que comia com os olhos. No seu conceito a comida tinha que estar bonita ou elaperdia o apetite. Gostava de tudo fresco e feito na hora, como a sua mãe fazia e pratos lindamentedecorados em louças maravilhosas, de preferência as que herdou da mãe.

Uma amiga conta que Mae no fim da vida não abria mão de uma mesa sofisticada, à luz de velas,então ficava difícil convidá-la para um jantar de Ação de Graças, principalmente com a família toda,que era sempre uma alegre bagunça.

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Para Mae era fundamental seguir dieta, cuidar da saúde, fazer exercícios e descansar bastante paramanter a juventude e beleza até tarde. Era rígida em termos de dieta, que jurava ter feito a vidainteira e só nas festas, muito raramente, comia um pedacinho de doce. Todos os dias comia frutas elegumes e quando radicalizava não comia carne, apenas o caldo da carne depois de cozida. Nãocomia nada que não tivesse valor nutritivo e nada frito, jamais. Nem qualquer gordura, se pudesseevitar.

Nas festas e grandes jantares Mae só beliscava. Fazia exercícios todos os dias e afirmava quedesenvolveu seus famosos peitões com ginástica e por isso nunca ficaram flácidos. Bebia litros deágua, leite e comia ovos frutas e legumes todos os dias. Algum peixe e frango cozido e quandoprecisava de muita energia e sentia-se fraca, comia um bife com salada crua. Nada de massa, comopães e macarrão, a não ser nas exceções.

Mae sempre defendeu a tese de que somos aquilo que comemos. Era contra comer uma refeiçãointeira quando tensa ou cansada, pois se ficasse mal do estomago só ficaria mais tensa. Tudo issoMae aprendeu com a mãe, que era bela e cuidava-se muito, uma mulher finíssima, que ela sempreteve como modelo. Mae jamais relaxou com esses cuidados, por isso, segundo ela, envelheceu bem,sem perder a saúde e a beleza, embora não fosse considerada bonita, mas com certeza foi a atriz maisousada e caliente que Hollywood já teve.

Como Mae quase nada comia, segue a sua tão eficaz dieta matinal:

Dieta matinal da Mae West

Ingredientes:

1 maçã grande

2 peras grandes

1 banana grande

2 ou 3 amêndoas raladas ou moídas

Passas

Leite

Mel

Juntar as frutas, colocar as amêndoas por cima. Se quiser, cortar a maçã em fatias, misturar compassas e cobrir com um xarope feito de amêndoas, mel e leite.

(para 1 pessoa)

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Evânio Alves

As Divas na Cozinha

Marlene Dietrich

Schnitzel (filÉ de vitela)

Uma vez, conversando com o renomado escritor Ruy Castro sobre as divas na cozinha, ele comentouque o seu amigo Raymundo Magalhães Jr., biógrafo da República Velha, acadêmico e colega dele naredação da “Revista Manchete” nos anos 70, disse que, pessoalmente, Dietrich era a anti-Marlene,que ela gostava na realidade era mesmo de cozinhar macarrão para os amigos em seu apartamentonos anos 40. Macarrão este que, aliás, ele, Raymundo, cansou de comer em companhia da diva,dentro da própria cozinha dela.

E durante minha pesquisa para conclusão deste livro, constatei que esta informação é verdadeira,pois Marlene Dietrich (1901-1992) era mais apaixonada por cozinha do que propriamente pelaprofissão de atriz. Tanto que cozinhou para todos os seus amores, homens e mulheres. E tem mais,esta paixão secreta da diva nasceu muito cedo em sua vida, desde sua infância lá na Alemanha.

Pois bem, a mãe de Dietrich a obrigou a aprender cozinhar desde pequena, como era prática dasfamílias aristocráticas da Alemanha. E antes de ir para a escola, Marlene já sabia fazer geleias,principalmente a de damasco, que era a sua preferida, e sabia fazer também diversas sopas. Umpouco maior a futura “Blue Angel” já preparava molhos e algumas receitas da culinária alemã, issoantes de completar 6 anos de idade.

Pouco antes de atingir a maioridade, Marlene foi estudar música, e lá na escola ela convidava ascolegas para comer goulash em seu quarto, detalhe, preparado por ela mesma. Nessa idade Dietrichjá era capaz de transformar restos de comida da véspera num jantar realmente especial. Ela sempredetestou desperdício na cozinha, reaproveitava tudo. Segundo Gerda, sua amiga com quem dividia oquarto, Dietrich era um verdadeiro talento culinário.

E de fato o era, tanto que depois de ter iniciado no cinema, Miss Dietrich abandonaria a carreirapara casar-se e ser dona de casa. Foi quando teve sua filha, Maria Sieber. Marlene então ficou emcasa cuidando do marido e da criança, sem babá e sem cozinheira, fazendo tudo. Mas como toda divanasce para brilhar, logo abandonaria o fogão e voltaria para o cinema para fazer dezenas de filmesimportantes.

Apesar de casada, Dietrich teve casos com os homens e mulheres mais famosos da época, como JeanGabin, Maurice Chevalier, o jovem Eddie Fischer e o escritor Erich Maria Remarque, para citarapenas alguns. Como já disse, ela cozinhava para todos eles. Era de praxe Dietrich, no início doromance, convidar o novo amor para um jantar íntimo feito por ela. E se o mocinho não se saísse bemno garfo, nada feito, pois segundo a diva, um homem que não gosta de comer tem alguma coisa muito

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errada.

Para Jean Gabin, na realidade o seu verdadeiro amor, foi que Dietrich mais cozinhou. Aliás, ela nãosó cozinhava para ele e seus amigos franceses, mas montou uma casa para ele com todos os detalhese o paparicava como se fosse uma criança. De fato ela adorava esse papel de mãezona, dizia que foicriada para isso. E se o namorado ficasse doente, melhor ainda, aí que ela cuidava mesmo, fazendosopinhas e tudo mais.

De avental, Dietrich preparava o cozido preferido de Gabin, o repolho recheado, favorito tambémde Jean Renoir, enfim, era a cozinheira de todos os franceses que passavam por Hollywood, enquantovivia com Gabin. Quando chegava alguma visita para o amado, ela deixava esperando na sala edizia: “estou fazendo um ragout para meu Jean, daqui a pouco ele chega”.

Orson Welles, um dos visitantes da casa do casal, declarou que ver Dietrich de avental cozinhandopara Jean Gabin foi o choque da vida dele! E, dizia ele também que Gabin não ligava a mínima paraos dotes culinários de Dietrich, ele queria era a estrela mais famosa do mundo e não a hausfrau!(dona de casa em alemão).

Engana-se quem acha que Dietrich cozinhou somente para os seus amores. Quando tornou-se avó, elafoi cuidar do neto, sua nova paixão, embora meio contra a vontade da filha. Além de paparicar oneto, Marlene mantinha a cozinha da filha impecável e fazia comida alemã para toda a família. Emais, como era maníaca por limpeza, ela já chegava limpando a casa toda e ainda lavava os panos etoalhas. A filha não gostava, se sentia criticada, mas Marlene se saiu bem, aliás, ela saiu na capa darevista Life como a avó mais glamourosa do mundo.

Marlene confessaria que para ela cozinhar era a melhor terapia ocupacional que existia. E que erauma alegria ver as pessoas queridas saboreando aquilo que ela preparava. Prova deste amor é queela cozinhava de tudo, adorava fazer ensopado de carne tipo goulash, cozinhando lentamente. Faziaovos mexidos com mais uma gema e mexendo bem devagar com o garfo. Dizia ficar ótimo. Tinhareceitas rápidas e práticas como de atum frito no próprio óleo mais um pouquinho de azeite, comcebola picadinha, salsa e creme, para quem gosta. Depois servia com torradas, acompanhado devinho branco ou cerveja. Dizia que fazia tudo a olho, não sabia as medidas nem a quantidade certapara 2 ou 4 pessoas, mas afirmava que suas receitas eram simples e muito boas e que sempre davamcerto. O que é verdade.

Além de ter sido uma grande estrela, Dietrich era realmente um talento na cozinha! Segue uma dasreceitas preferidas dela, uma tradicional alemã que Dietrich costumava preparar na casa da filha.

Schnitzel

Como já dizia Marlene Dietrich, se você consegue fazer charme para o seu açougueiro a fim deconseguir carne de vitela bem rosada, então conseguirá fazer schnitzels. Peça ao açougueiro paracortar bifes não muito grossos da melhor parte da coxa (o filé da vitela, também chamado frincandó).Você deve bater, posteriormente, para afinar mais. Mas não até despedaçar a carne, apenas bata.

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Preparo:

Bater um ovo com garfo, para misturar a gema com a clara. Adicione sal e uma pitada de pimenta empó. Coloque numa travessa larga. Ponha migalhas de pão ou farinha de rosca em outra. Tempere asmigalhas com um pouco de sal e pimenta. Não esqueça que já colocou sal no ovo.

Ponha bastante manteiga ou óleo numa frigideira que possa conter confortavelmente os schnitzels.Coloque os pratos em que irá servir debaixo de água quente corrente para aquecê-los. Se preferirpode usar um aquecedor elétrico.

Dê o último retoque nos vegetais que pretende servir. Bote um pedaço de papel absorvente num lugarvazio de sua mesa de cozinha. Pode precisar dele. Dê uma olhada para ver se seu convidado ouconvidados estão prontos para o jantar ou se já terminaram a entrada. Só então acenda o fogo sob afrigideira. Não de uma vez.

Ponha o primeiro schnitzel no ovo. Vire-o delicadamente. Leve-o até o prato com as migalhas, vire-ovarias vezes até as migalhas cobrirem toda a carne. Sua manteiga agora deve estar dourada.

Coloque cuidadosamente os schnitzels na manteiga quente. Aumente o fogo. Isso fará as migalhas seagarrarem e lhes dará corpo. Baixe o fogo para médio após um minuto. Vire os schnitzels e frite ooutro lado da mesma maneira.

Enquanto o outro lado está fritando, enxugue os pratos e coloque-os em fila. Quando levantar cadaschnitzel, a crosta não deve estar encharcada e pingando. Mas, se estiver, deixe-o por um segundo,sim, isso mesmo, no papel absorvente.

Não despeje no schnitzel a manteiga que sobrou na frigideira. Um verdadeiro schnitzel vienense deveser seco. Ponha um quarto de limão num prato e um ramo de salsinha, se o tiver à mão.

Se servir algum vegetal que tenha suco, não o coloque no mesmo prato. Isso umedecerá seu schnitzel,e ele deve ficar seco. Mas não ralhe com quem colocar tudo no mesmo prato. Contanto que o sirvaseco, a sua consciência ficará tranquila. Eles mandam neles mesmos.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

A imagem da sensualíssima Marilyn Monroe (1926-1962) sempre esteve relacionada ao rótulo deloura burra. Mas de burra, no meu conceito, a estrela americana não teve nada. Além de ser boa atriz,amante de poesia e possuir a magia de fazer amor com a câmera, a mais sexy loirinha dos anosdourados de Hollywood dedicava boa parte de seus momentos íntimos à arte de cozinhar.

Quando Marilyn casou-se com o dramaturgo Arthur Miller e foram morar em New York, o casalcontratou uma cozinheira tradicional para cuidar da comida. Mas não seria com esta nova funcionáriaque Marilyn aprenderia dotes culinários. Alguns dias depois chegaria na casa do casal uma jovem

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para cuidar da roupa de Miss Monroe e as duas simpatizaram de imediato.

A nova contratada, chamada Lena, era italiana e Marilyn não perdeu tempo em perguntar se ela sabiacozinhar. Lena respondeu que sim e apesar da moça não estar ali para cozinhar, Marilyn arrastou-apara a cozinha. Após declarar-se ser apaixonada por massas, a estrela pediu a Lena para prepararuma lasanha, o que consolidou, a partir de então, uma verdadeira e instantânea amizade entre patroa eempregada.

Na cozinha, enquanto a nova funcionária cozinhava, Marilyn conversava longamente com ela sobrecomida. Miss Monroe confessou a Lena que lamentava nunca ter aprendido a cozinhar direito, poisnos muitos lares em que havia passado durante a sua infeliz infância, o muito que fazia na cozinha eralavar pilhas de pratos e cuidar da limpeza pesada.

Marilyn disse também não saber nem esquentar a comida sem queimar e declarou que gostaria deaprender a cozinhar como Lena. O que, de certa forma aconteceria, pois quando Arthur Millerrecebia visitas, Marilyn servia drinks diferentes e petiscos gostosos que ela mesma preparava emminutos na cozinha. Isto para impressionar o marido e ser vista como uma boa dona de casa, a que,infelizmente, jamais ela conseguiria dedicar-se totalmente.

Nos dias seguintes, enquanto Arthur Miller ficava trancado no escritório trabalhando em suasconceituadas peças, a companhia de Marilyn seria a fiel Lena. Atenta aos movimentos da nova amigacom os temperos, Marilyn confessaria que antes de ser famosa, ela e a tia, sem dinheiro, compravamum saco de pão dormido na padaria por 25 centavos e às vezes era o que comiam a semana inteiracom leite. Acrescentou que quando conseguiu trabalho, levava sempre essa tia e toda a família parajantar em bons restaurantes, mas que, no fundo, gostaria de preparar ela mesma um belo jantar paraeles.

Com a presença de Lena em casa, Marilyn ficou mais feliz, apesar de estar muito mal no casamentocom o dramaturgo. Lena relatou mais tarde que, quando deprimida, a sua patroa quase não saía dacama e o seu café da manhã era um Bloody Mary, três ovos pochês e algumas torradas, isto todos osdias. Em seguida ela começava a tomar champagne e só parava de noite, para dormir novamente.

Nesses momentos de profunda crise emocional, Marilyn não seguia uma rotina alimentar, ora comiademais, ora de menos. Às vezes recusava um belo prato no jantar e ia dormir. Depois acordava“morta de fome” e comia dois pratos ou mais, e dizia: “Lena, não me deixe engordar!”.

Ainda segundo Lena, um dia Marilyn não comeu nada, só tomou champagne. Em compensação, no diaseguinte ela “mandou para dentro” os três ovos com torrada, três hambúrgueres, três pratos de fritas,dois milk-shakes de chocolate, um grande pedaço de vitela, duas porções de beringela à parmegianae quatro potinhos de pudim de chocolate. Tudo isto sozinha na cama e acompanhado de champagne.Lá do seu quarto, aos gritos e rindo, Marilyn dizia para Lena: “Eu vou ficar tão gorda que não vão mechamar para fazer filme nenhum!”.

Com muito prazer, Lena fazia os pratos preferidos de Marilyn, vitela “picatta” e fettucini Leon,sempre para mais gente que ela convidava para jantar, pois detestava comer sozinha. Lena tambémpreparava bife cozido para o café da manhã e uma boa salada de almoço, era o que Marilyn gostava

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todos os dias quando ficava em casa. Quando estava feliz, Marilyn também pedia de repente a Lena:“Faz um pimentão recheado pra mim, por favor!” Quando não podia beber, tomava litros de chá. Etoda noite se vestia bem para jantar em casa, como se fosse a um restaurante chique.

Além de Lena, Marilyn teve outra companheira de cozinha. Embora pouca gente saiba, Miss Monroeteve uma irmã chamada Berniece e era para ela que a estrela ligava quando estava tentando lembrarde alguma receita esquecida: “...lembra daquela de torta de figo? Eu queria fazer para nãodesperdiçar uns que tenho aqui.” A irmã não lembrava de nada, e então Marilyn dizia que iriainventar uma outra receita com os figos. Outra hora, Marilyn ligava aflita para Berniece para dizerque tinha cortado a mão fatiando presunto e a irmã se divertia com as desastrosas aventurasculinárias da famosa estrela.

Nos últimos dias da estrela e cozinheira juntas, Marilyn morava na Califórnia e passava uns dias emNew York. Ela confessaria a Lena que morria de fome na Califórnia, que não confiava nosempregados, suspeitava que eram todos espiões de seu analista. Lena então toda noite fazia umamassa gostosa com vitela para ela. Na última vez que se falaram, pelo telefone, Marilyn queria queLena fosse à California organizar uma festa de lasanha para o aniversário de seu novo namorado. Namanhã seguinte, domingo, Lena recebeu a notícia da morte de Marilyn.

Segue uma receita que Marilyn adorava fazer. Aí vai:

Recheio de Peru

Ingredientes:

300 gr de pão ou 1 pão de forma sem casca

250 gr de fígado ou coração de peru ou galinha

250 gr de carne moída

1 colher de óleo

4 talos de aipo picados

1 cebola grande picada

2 xícaras de salsa crespa

2 ovos cozidos picados

1 ½ xícara de passas

1 xícara de parmesão ralado

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1 ¼ xícara de nozes e castanhas (mistura)

2 colheres de chá de orégano

2 colheres de chá de alecrim

2 colheres de chá de tomilho

3 folhas de louro

1 colher de caldo de galinha, sem sal e sem alho

1 colher de sal “kosher”

1 colher de pimenta

Colocar o pão numa tigela grande com água fria, quinze minutos. Escorrer o excesso de água e cortaro pão em pedacinhos. Ferver o fígado ou coração em água com sal e picar bem miúdo. Numafrigideira com óleo, fazer a carne moída bem picadinha. Numa tigela grande, colocar o pão, o fígado,a carne, o aipo, a cebola, a salsa, os ovos, as passas, o parmesão e as nozes. Mexer de leve com asmãos. Misture em outra tigela alecrim, orégano, tomilho, louro, caldo de galinha, sal e pimenta.Espalhar a mistura sobre o recheio e mexer de novo com as mãos. Provar e ajustar o sal. Colocar nageladeira, coberto, até usar como recheio de peru ou cozinhar separado para servir comoacompanhamento de aves.

Evânio Alves

Marilyn Monroe

Recheio de Peru

As Divas na Cozinha

Evânio Alves

Mary Pickford

TortINHAS de Geleia de Framboesa

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Nos anos dourados de Hollywood existiram banquetes badaladíssimos oferecidos pelas ricas efamosas atrizes. Um destes banquetes acontecia na glamourosa casa de Mary Pickford (1892-1979)conhecida como a mansão Pickfair. Tudo de mais sofisticado era servido aos importantíssimosconvidados que compareciam de black tie. Champagne francês, caviar, lagosta vinda de maresdistantes, tudo isto escolhido a dedo pela milionária estrela do cinema mudo, Miss Pickford.

Porém, antes de tornar-se uma estrela famosa e casar-se com o renomado ator Douglas Fairbanks,Mary não vivia rodeada de fartura. Muito pelo contrário, ela teve uma infância muito difícil e commuita necessidade. Na época era normal passar fome por causa da guerra mas este não foi o casodela, foi pela morte de seu pai.

Como alternativa de sobrevivência, a mãe, viúva, alugou um quarto da casa, fazia costuras ebordados e tudo que pudesse para sustentar os três filhos. Mary acostumou-se com esta limitação enunca foi uma comilona. Disse que passava pelos banquetes de Hollywood e de sua própria casacomo um fantasma. Ficava chocada com o marido, Douglas Fairbanks, que comia feito um bárbaro,mandava para dentro uma galinha inteira com ossos, cabeça e tudo.

Nos glamourosos dias da mansão Pickfair, com cozinheiros e muitos empregados perambulando pelacozinha, Mary não cozinhava nem tampouco opinava, quem mandava era Douglas. Porém, no seucasamento anterior a estrela chegou a pilotar o fogão, pois era necessário. Mary acordavadiariamente as 5 hs para fazer o café da manhã para o seu primeiro marido, que era alcoólatra. Ànoite preparava um jantar simples sem problemas, mas como na verdade não gostava de comer, eranatural que também não gostasse de cozinhar.

Mesmo não gostando do fogão, Mary admirava o talento culinário de sua mãe que aproveitava aágua dos legumes, mesmo de lata, acrescentava farinha, manteiga, às vezes um pouco de leite oucreme e fazia uma sopa nutritiva e deliciosa. Apesar de admirar esse talento da mãe e de teraprendido a cozinhar com ela, embora pouco, Mary e seus irmãos ficaram muito marcados pela faltade comida na infância e não só comiam muito pouco e várias vezes tiveram anemia, mas também nãotinham gosto pela culinária.

Mary dizia que as pessoas que tiveram uma infância muito pobre se entendem e tem algo muito forteem comum, como ela e Chaplin. E que quando adultos, tem duas reações opostas: ou não apreciam acomida, como ela, ou comem demais para compensar a privação que passaram quando crianças.

A única coisa que Miss Pickford comia muito e com prazer era sorvete. Ela era capaz de acabar comum pote inteiro sem sentir-se “cheia”, como acontecia com os outros alimentos. Até o fim da vidaadorava um sorvete e quanto mais natural e caseiro, melhor. Por isso, nas poucas vezes que ia acozinha, ela gostava de fazer sorvetes, com uma fruta, açúcar e um pouco de creme.

Na casa dela com Fairbanks a mesa era posta impecavelmente toda noite para quinze pessoas,porque nunca se sabia quantos convidados teriam para jantar. Em cima da hora eles chamavamamigos, colegas de estúdio, família e sempre muita gente divertida. Um jantar comum em Pickfair erauma entrada de patê, um filé de linguado com molho tártaro, depois filé de frango e uma grandesalada de alface. Depois sorvete, provavelmente.

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Em noites assim as brincadeiras rolavam sempre. Douglas escondia-se embaixo da mesa e derepente latia e mordia as pessoas, dava um susto e depois gargalhada geral. Sem esquecer que elestambém recebiam a nobreza europeia, reis e príncipes, a nata da intelectualidade e os grandes nomesdo cinema. Aí a comida era a melhor que existia, da entrada grandiosa às sobremesas francesas. Algojamais visto em outra casa.

Ninguém recusava um convite para jantar em Pickfair em companhia de Einstein, Scott Fitzgerald e orei da Espanha e depois do jantar dançavam até de manhã. Mary e Douglas fizeram uma promessa dejantar sempre juntos, mesmo que só os dois, e conseguiram cumprir durante toda sua vida em comum,mais precisamente até a morte de Douglas.

Segue uma receita que Miss Pickford aprendeu com a mãe:

Tortinhas de Geleia de Framboesa

Dizia Mary: “São tão simples que eu mesma sempre faço!”

Ingredientes:

200 gr de queijo branco ou cream cheese

200 gr de manteiga

200 gr de farinha

Geleia de framboesa

Modo de fazer:

Misturar todos os ingredientes, exceto a geleia, fazendo uma massa e cortar em quadrados bem finos.Encher o centro do quadrado com a geleia e virar os cantos, fazendo um envelope. Assar em fornomoderado até ficar levemente dourado.

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As Divas na Cozinha

Dona de uma das vozes mais belas do canto lírico e considerada a maior soprano de todos ostempos, Maria Callas (1923-1977) tinha outro dom além de cantar. Era apaixonada por cozinha. Enaturalmente, quando estava em casa, a diva da ópera dedicava dias inteiros ao fogãoexperimentando novas receitas, sobretudo de doces, o que a encantava.

Callas se esforçava para ser uma boa cozinheira, mas muitas vezes, diferente de quando estava nopalco, ela errava a mão. Isto acontecia ou por que a receita não estava exata, ou por que mudara osingredientes ou a quantidade deles. Mas, nessas horas, como a cozinha lhe proporcionava semprebom humor, Callas ria e tentava outra vez até acertar. Foi o caso principalmente quando estavapreparando ostras à moda de Casanova, um prato afrodisíaco que o seu verdadeiro amor, Onassis,adorava.

Além de cozinhar, Maria Callas gostava de deixar a sua cozinha muito bem equipada. Viviacomprando utensílios decorativos além de panelas, louças, talheres, tudo que aparecia de novidadeela não se questionava em adquirir. Outra mania de Callas era colecionar infinitas receitas. Amaioria delas a diva recortava das revistas femininas e outras ela escrevia de próprio punho emguardanapos de restaurantes quando gostava de um prato e pedia ao garçom para ditar. Todas essasreceitas Callas guardava cuidadosamente num caderno especial.

O passatempo gastronômico da diva suprema funcionou tanto que Callas chegou a ter centenas dereceitas arquivadas neste caderno especial. Boa parte das receitas foi publicada num livro que levouo nome de “A Paixão Secreta de Maria Callas”. Esta obra foi lançada por um amigo íntimo em 2007,trinta anos após a morte da diva.

Antes de tornar-se amante de Onassis, Callas gostava de impressionar o marido Meneghini com seusdotes culinários. Não por menos, pois inclusive, Callas havia conhecido Meneghini numa mesa derestaurante. Tanto que quando iam para a casa da sogra em Verona, a diva não perdia tempo emdescobrir o que o marido comera na adolescência. As duas passavam quase o dia inteiro na cozinhatrocando e experimentando receitas. Era nessas horas que Callas aproveitava para aprender a fazeros pratos típicos da região, como a carne cozida com mocotó e croutons, pato com polenta ebacalhau.

Com tanta paixão pela arte de cozinhar, Callas acabou se tornando boa de garfo. De gosto bemvariado, ela era louca por carnes e de preferência bem cruas. Uma vez Callas comeu um bife tãogrande num restaurante famoso em Milão, que todo mundo olhava espantado para ela. No dia a dia,além da carne, Callas comia grandes quantidades de massas, queijos e doces e naturalmenteengordou muito.

Inclusive, em 1951, época em que Callas visitou o Brasil e jantou no restaurante Villa Fiora em SãoPaulo, ela estava muito acima do peso. Para ser mais exato, a diva estava realmente gorda, a pontode ter problemas de circulação nas pernas. Callas vivia tentando emagrecer com exercícios,massagens e até remédios, pois parar de comer era difícil demais para ela que vivia na cozinhapreparando coisas deliciosas.

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Quando foi realmente obrigada a perder peso, para uma temporada importante da Ópera, Callaspassou a comer só saladas, não bebia e dispensava a sobremesa. Esta dieta era um verdadeirosacrifício para ela. Mas no fundo valia a pena, pois com toda esta disciplina alimentar ela conseguiaemagrecer, mas logo acabava engordando novamente. Até que, depois de um ano de dieta intensiva,Callas emagreceu de vez e tornou-se a figura elegante que foi até o fim da vida, vestindo sempreChanel e outros grandes estilistas. Mas mesmo carregando mais um título, de mulher elegante,cozinhar e comer bem eram as grandes paixões de Maria Callas, claro, além de cantar.

Segue uma receita que Callas adorava preparar para o seu grande e não correspondido amor,Onassis:

Almôndegas de Berinjelas

4 berinjelas

Leite

Sal

1 ovo

Farinha de rosca bem fina

Molho de tomate

2 colheres de miolo de pão francês

2 colheres de parmesão

1 colher de chá rasa de noz-moscada

Óleo

Cozinhe as berinjelas cortadas em tiras finas, em água com um pouco de sal. Numa tigela média,acrescente o miolo do pão, que já deve ter sido umedecido no leite e espremido para retirar oexcesso. Junte também o parmesão, o sal, a noz-moscada, um pouco de farinha de rosca e o ovointeiro. Com as mãos forme almôndegas uma por uma e vá colocando-as cuidadosamente em outrorecipiente com farinha de rosca. Nesta altura uma quantidade de óleo já deve estar aquecendo numafrigideira. Passe-as na farinha de rosca e frite uma por uma no óleo fervente. Não esqueça depreparar um recipiente com papel toalha para recebê-las após fritas.

Estas almôndegas devem ser servidas com molho de tomate:

Numa panela com uma colher rasa de manteiga, doure um dente de alho. Acrescente cebola picada elogo em seguida despeje o molho de tomate. Após ferver, acrescente água e deixe ferver por mais uns

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dez minutos até ficar suculento. Depois de pronto espalhe por cima das almôndegas, de forma queelas não fiquem totalmente submersas. Está pronto para ser servido.

Evânio Alves

Maria Callas

Almôndegas de Berinjelas

As Divas na Cozinha

Myrna Loy

Sopa rápida de galinha com pimentão

Embora Myrna Loy (1905-1993) seja classificada como uma das mais sofisticadas atrizes dos anosdourados de Hollywood, ela foi criada com muita simplicidade numa fazenda no estado de Montana.A avó materna da pequena Myrna era a típica mulher da época, tocava piano, fazia geleia, assavabiscoitos e cultivava flores no jardim. A mãe dela cozinhava, mas detestava. Portanto tiveram quecontratar um cozinheiro chinês para ajudar nas refeições, coisa fina naqueles dias. Nas ocasiõesespeciais, era o pai que cozinhava, trazia caranguejo congelado de Chicago e outras delícias.

Quando casou-se pela primeira vez, com Arthur Hornblow, inglês e produtor em Hollywood, Myrnadava atenção à casa e às preferências culinárias dele. Tinha um cozinheiro, mas planejava o menu dojantar, às vezes cortando receitas de revistas para ele preparar. Nas noites de folga do cozinheiroMiss Loy chamava um grupo de amigos e cada um fazia sua especialidade. Era uma farra na cozinhae acabava sempre sendo ótimo. Myrna dizia que era a assistente do chef, que era maravilhosa paradescascar batatas, lavar alface e cortar cenouras, e só.

Mais tarde o casal mudou-se para uma casa enorme perto de Hollywood onde havia um pomar cheiode frutas, o que Myrna adorava, pois lembrava, um pouco, a infância na fazenda. Na horta tinhamtambém cenoura, alface e vagem. Nesta casa Myrna e seu marido recebiam sempre os colegas docinema para jantar. Aproveitando as verduras e frutas do pomar, um contratado cozinheiro russopreparava o menu, que incluía “borscht”, sua especialidade, e cordeiro assado. Toda Hollywoodqueria comer na casa de Myrna Loy, que sabia receber com muita elegância.

No cinema algumas vezes Miss Loy fez o papel da dona de casa dedicada, fiel ao marido e que iapara a cozinha fazer o jantar dele, era perfeita nesses papéis. Tanto era que brilhou em “Os MelhoresAnos de Nossas Vidas” de 1948 ao representar a fiel e apaixonada esposa que dispensa a empregadae fica cuidando da casa, principalmente das refeições, durante os anos em que o marido fica naguerra. Porém, na vida real, a estrela até tentou ser a esposa perfeita, embora não cozinhasse, mas

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não conseguiu abalar a frieza dos quatro maridos que teve. Todos os casamentos de Myrna acabariamem divórcio.

Em sua vida de estrela, Myrna fez muitas viagens difíceis, para filmar ou levar uma peça de teatro aoutros estados. Com o ator mexicano Ricardo Montalbán passou por muitas cidades. Nessas estradasprecisavam comer, mas não havia restaurantes e se viravam onde estavam. Cansaram de tanto comerfrango frito no jantar, o que era prático, sem falar as vezes que comiam coisas horrivelmentegordurosas em paradas de caminhoneiros. Myrna passou por tudo, até um hotel cheio de baratas, massempre com classe e bom humor. Era um exemplo de elegância para toda a equipe.

Em seu livro autobiográfico Myrna Loy conta tudo isto. E fala também sobre as festas maravilhosasque deu, como um jantar chinês com 40 pratos que foi um luxo. Fala também sobre os amigos quecozinhavam muito bem em sua casa, e ficavam todos bêbados, sem saber o que estavam bebendo.Conta sobre os jantares com um dos maridos que adorava a culinária francesa. Diz que foi com eleque ela conheceu quase todos os restaurantes franceses de Paris e da América. De tanto que comeuchegou até a cansar da comida francesa e optar pelo gosto mais simples.

E é simples, além de muito fácil de preparar, a receita que deixo da Myrna Loy:

Sopa Rápida de Galinha com Pimentão

Ingredientes

1 lata de sopa de galinha (ou feita em casa)

1 pimentão em fatias finas

2 peitos de frango cozidos e cortados em tiras

Chantilly

Modo de fazer

Esquentar a sopa de galinha com as tiras de frango. Temperar com sal e pimenta. Colocar a sopa emtigelas individuais. Cobrir com uma bola de chantilly e enfeitar com as tiras de pimentão.

Serve 4 a 6 pessoas.

Evânio Alves

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Mistinguett

Tournedos com patê de foie gras

As Divas na Cozinha

Assim como a maioria das divas do tempo da francesa Mistinguett (1875-1956), ela teve umainfância marcada pela pobreza e naturalmente por pouca comida. A sua mãe tinha uma loja decolchões e Miss teve que aprender a cozinhar ainda quando criança, para preparar as refeições dopessoal de casa e também para os que trabalhavam na loja. Isto além de ter que lavar a louça e aindair à escola. Ou seja, uma infância nada agradável.

Como se não bastasse tanto trabalho, ao chegar à adolescência, a mãe de Miss, seguindo o conselhodas freiras do colégio, fez ela passar uma semana comendo só ostras e caldo de fígado e fazendocompressas de espinafre em seu peito. Na intenção de passar o “assanhamento” da adolescência. Oque de nada adiantaria, pois Miss seria da pá virada.

Por sorte de Miss a adolescência chegou e já em Paris, ela conseguiu trabalho como corista doCasino de Paris. Como não tinha dinheiro suficiente, ela morava numa espelunca com muitos amigos,aliás, rapazes que se alternavam em sua cama. Para comer, essa turma roubava suprimentos das lojasda rua, garrafas de leite dos vizinhos, ficava devendo na padaria, ou seja, faziam de tudo.Dependendo do que conseguiam, Miss ia para o velho e pequeno fogão e fazia um ensopado paratodos. Pelo menos a sopa era garantida. Amigos de Miss, que depois se tornaram famosos, ainda selembravam da sopa que ela fazia toda noite, depois do espetáculo.

Miss também ficou famosa e rica e comprou uma mansão nos arredores de Paris. Passou então aconvidar todo mundo para jantar, mas não caviar e champagne, nem nos salões da casa que elamantinha fechados a sete chaves, dizia que eram só para impressionar os repórteres. Ela recebiatodos os convidados em sua cozinha velha e úmida, sem cerimonia alguma. Como nos tempos depobre, ela servia um sopão e água mineral e olhe lá. Quem quisesse algo mais requintado tinha quetrazer de casa. Além disso, todos eram obrigados a lavar seus pratos, pois ela alegava que já havialavado muitos na infância. A louça era a mais pobre possível e bebida e cigarro eram proibidos.Ainda assim a casa vivia cheia.

Miss sempre foi muito econômica, para não dizer pão-dura. Até nos seus melhores tempos, comquatro carros na garagem, ela só ia ao mercado de bicicleta, isto todos os dias, até depois dos setentaanos de idade. E mais, só comia em restaurantes se fosse convidada, se não, ficava em casa ecozinhava alguma coisa simples. Numa determinada fase, ela até contratou um cozinheiro, masmandava em tudo e controlava todas as compras.

Nos anos 20 Miss abandonou a sua bela casa durante um longo tour pela América do Sul, qunadoesteve se apresentando no Brasil. Como não deixou dinheiro suficiente para abastecer a cozinha dacasa, alguns dos muitos animais que tinha no quintal foram comidos pelos empregados,

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principalmente os porcos. Nessa época o cozinheiro foi embora, porque Miss deixou quase todos oscômodos da casa trancados, como de costume e ele ficou limitado à cozinha vazia e ao quintal.

Durante este tour, Miss relata em suas memórias que no Brasil ela comeu tutu de feijão, que chamoude purê de feijão preto, e também vatapá, que denominou “ensopado de peixe”, que era o orgulho dosbrasileiros. Queria provar a carne de jacaré, mas não teve tempo e gostou do ensopado de tartaruga.Esta turnê de Miss foi um fracasso e ela voltou para a França sem dinheiro algum e não tinha maiscomo alimentar os animais, a não ser com restos de comida, quando havia. Então roubava frutas elegumes do vizinho, que, por sorte dela, fingia que não via.

Além do Brasil, Miss andou experimentando pratos na Itália durante viagens com seu show. Semcautela alguma, ela reclamou num programa de rádio que os italianos não sabiam fazer spaghetti,alegou que os franceses faziam melhor, o que provocou descontentamento dos seus fãs italianos.Incógnita, entrou num concurso culinário de massas e até ela ficou surpresa quando ganhou o 1ºprêmio.

Poucos dias antes de morrer, Miss recebeu o filho e amigos e sentou com os empregados da casapara uma bela e farta ceia de Natal, que foi silenciosa e triste, pois todos sabiam que era adespedida. Foi a última ceia de Miss e talvez a única vez que teve tanta comida à disposição em suacasa.

Embora Miss tenha sido uma cozinheira econômica, a sua receita é até bem sofisticada. Segueabaixo. Eu adoro!

Tournedos com Patê de Foie Gras

6 bifes Tournedos

30 gr cenoura sem a parte do meio

15 gr de cebola

30 gr de presunto cru magro

1 pitada de tomilho

1 copinho de champagne

Algumas colheres de vinho branco

3 a 4 colheres de caldo de carne

1 pouquinho de salsa bem picada

60 gr de manteiga para o caldo

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125 gr de foie gras

Fazer a seguinte mistura: cenoura, cebola, presunto, tomilho, tudo muito bem picado e completar com1 folha de louro.

Acrescentar o champagne, vinho branco, caldo de carne e um pouquinho de salsa. Cozinhar a misturana manteiga em fogo brando, 1/2 hora. Ligar o molho com 60 gr de manteiga e o foie gras passadopor 1 peneira.

Temperar o tournedos e passar rapidamente na manteiga em fogo alto. Colocar no prato com o molhopor cima.

Sirva com uma travessa de batata macaire (batata na jaqueta, frita com casca e temperos) ousubstituir por batata sautée.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

No início da carreira e do casamento com o ator Robert Wagner, a estrela Natalie Wood (1938-1981), aquela do filme musical “West Side Story” de 1961, gostava de reunir com frequência osamigos de maneira informal. Todo fim de semana fazia churrasco no quintal da sua casa. Nessasfestas havia muita bebida, risos, brincadeiras que duravam o dia e a noite toda, uma bagunçadeliciosa onde todos se esbaldavam. Nessa época Natalie ainda não gostava dos jantares formais,mas passaria a gostar.

Já no segundo casamento dela com RJ, as festas sempre cheias continuariam, mas com uma diferença,os novos convidados de Natalie seriam os famosos de Hollywood. Ou seja, uma certa formalidadeseria necessária, tornando assim as festas menos divertidas, isto segundo a irmã Lana Wood. Comoaconteceu no grande jantar oferecido a Laurence Olivier. Naquela noite Natalie queria ser a hostessmais perfeita e planejou tudo obsessivamente, deixando loucos todos os empregados. Ela usou osseus mais finos cristais e pratarias que eram divinos e serviu alguns pratos da culinária russa, paramanter a tradição de família, pois eram descendentes de russos.

Ambos, tanto Natalie quanto RJ adoravam a casa cheia e era raro um fim de semana sem festa.Muitas vezes ela ia dormir e a festa rolava até de manhã e RJ, que bebia mais que todos, era o últimoa ir dormir. Natalie adorava vinho branco, mas o terceiro copo que bebia a derrubava, conta aindaLana. Então ela ia calmamente se deitar e dizia para os amigos ficarem à vontade e se divirtirem. Etodos ficavam, inclusive RJ que fazia questão de levar à porta o ultimo convidado.

No dia a dia, Natalie tinha uma cozinheira ótima, mas cuidava de tudo na cozinha. A refeição dasfilhas e de RJ tinha que ser exatamente como eles gostavam. Prestava a maior atenção nos legumes deRJ para que não cozinhassem demais. E que o jantar estivesse pronto sempre na hora certa. SegundoLana, Natalie era um pouco obsessiva na cozinha e a cozinheira, antiga e maravilhosa, vivia no limiteda paciência. Quando Natalie queria fazer uma especialidade sua, como o strogonoff de carne, acozinheira virava auxiliar, descascando e cortando batatas, sempre furiosa! Quando estava em casa,

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Natalie controlava a cozinha totalmente e às vezes ela mesma fazia tudo. Lana dizia que operfeccionismo exagerado da irmã manifestava-se principalmente na cozinha.

Abaixo, a receita de strogonoff preferida de Natalie Wood:

Strogonoff de Carne

Ingredientes:

1 quilo de carne (filé mignon) cortado em tiras finas

¾ de xícara de manteiga

3 cebolas médias picadas

½ pimentão picado

250gr cogumelos em lata

1 xícara de molho de tomate

½ xícara de água

¾ de xícara de sherry (pode substituir por licor não muito doce)

1 xícara de creme chantilly

2 colheres de sopa cheias de farinha de trigo

Sal e pimenta a gosto

Preparo:

Numa tigela passar os pedaços de filé na farinha. Em seguida, numa panela, dourar rapidamente coma metade da manteiga em fogo médio. Tirar a carne da frigideira e colocar a manteiga restante.Acrescentar os cogumelos e as cebolas picadas. Mexer por alguns minutos. Em seguida colocar acarne, o sal e o pimentão, acrescentar o molho de tomate, o sherry (licor) e água. Deixar ferverdevagar em fogo médio. Cobrir e cozinhar em fogo baixo até a carne ficar macia – mais ou menos 1hora, talvez menos. Daí esta pronto. Antes de servir, colocar o creme chantilly e mexer.

Servir com arroz branco salpicado de passas acompanhado de batata sautée.

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Evânio Alves

Natalie Wood

Strogonoff de carne

As Divas na Cozinha

Evânio Alves

Norma Shearer

Sopa de Lentilha

Considerada uma das mais elegantes e sofisticadas estrelas de Hollywood, além de bela, NormaShearer (1902-1983) teve uma infância muito feliz e com muita fartura no Canadá. Porém, o pai faliue a família teve que mudar-se para uma casa pequena e triste e passaram por privações,principalmente na cozinha.

Quando ainda jovem, Norma foi para New York morar com uma tia dona de um pensionato. Noquarto com outras moças tomavam café, pão dormido com geleia e só. Para o almoço comiam nolugar mais simples que havia por perto, sempre beringela, que era o mais barato de todos os pratos.Quando jantavam no quarto era tudo enlatado, salsicha, sopas, o mais pobre possível.

No início da sua carreira no cinema, Norma casou-se com o renomado produtor Irving Thalberg,com quem teria dois filhos e a partir de então, a sua vida mudaria da água para o vinho. Irving, sendoo “cabeça” da MGM era muito rico e como foram morar com a mãe dele, Norma livrou-se doserviço doméstico, não precisando nem entrar na cozinha. Além de que ela achava a sograinsuportável, mandona e não permitia que Norma, mesmo se quisesse, desse palpite nas refeições.

Muito paparicada pelo marido e já vencedora de um Oscar por sua atuação em “A Divorciada” de1930, no estúdio as outras estrelas e astros tinham inveja de Miss Shearer. Principalmente do café damanhã que era farto em ovos, bacon, geleias, torradas, pães especiais e chá. Todos estavam meio dedieta e ela esbaldando-se, passava um tempão tomando o seu breakfast.

Viúva de Irving e rica, aos quarenta anos, Norma Shearer casaria-se com Martin Arrouge, uminstrutor de esqui vinte anos mais jovem do que ela. Neste segundo casamento, a ex-estrelahollywoodiana, possivelmente também não cozinhou porque tinham uma vida muito confortáveldevido à sua situação financeira que a possibilitava de ter empregados.

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Uma coisa é certa, Miss Shearer gostava de comer bem e escolhia os menus para os jantares em suacasa a dedo e tomava conta de tudo. Sempre teve bons cozinheiros e empregados ao seu redor,mordomo, chauffeur, até uma criada para cuidar da roupa dela, além da babá para os dois filhos, etc.

Assim que casou-se pela segunda vez, a bela Norma Shearer abandonaria as telas do cinema epassaria a viver somente para o marido e os filhos que teve com Irving. Infelizmente não sabemos aocerto se ela chegou a cozinhar nesse período, com a chegada da idade, pois, também infelizmente,Miss Shearer não escreveu suas memórias.

Segue uma receita de sopa que Norma Shearer forneceu certa vez para à revista “Photoplay StarRecipes” (1928).

Sopa de Lentilha

Coloque 2 xícaras de lentilhas com um quilo de carne de porco salgada (cortada em pedaços) e muitacebola cortada em uma panela com 2 litros de água fria. Ponha no fogo, adicione sal e pimenta equando começa a ferver, uma pitada de bicarbonato - não muito. Depois disso, a sopa deve ferverlentamente por 3 horas. Sirva com croutons fritos na manteiga.

As Divas na Cozinha

A vida da estrela norte-americana Rita Hayworth (1918-1987) virou de fato um conto de fadasdepois que apareceu no filme “Gilda” em 1948. Todo mundo viu e vê até hoje. Então, naturalmente, abeldade não se aventuraria pelas cozinhas das mansões onde moraria, uma vez que estaria 24 hscercada de empregados para servi-la. Porém, mais tarde, Miss Hayworth se interessaria pela arte decozinhar. Mas, por mais que se esforçasse, Rita não faria tanto sucesso pilotando o fogão, como faziaem frente às cameras.

Antes de tornar-se a eterna Gilda, Miss Hayworth casou-se com o respeitado diretor Orson Welles.Rita não cozinhou para ele, mas atuaria bem como dona de casa. Grávida de cinco meses, ela deu oseu primeiro jantar para mais de cem ilustres pessoas, e apesar de não pôr a mão na massa, Ritasupervisionou e escolheu tudo, desde a comida, a montagem da mesa, os cristais e até as flores.Pode-se dizer que isto já seria um treino para a sua vida ainda mais glamourosa que estaria por vir.

O casamento com Welles acabou e menos de um ano depois Rita casou-se com o principe Ali Khane viveria mais ainda como uma princesa. Na noite do casamento, que aconteceu na mansão dele perto

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de Cannes, toda a realeza da Europa compareceu, inclusive a do Brasil, o príncipe de Orleans eBragança. A fartura em comida e bebida servida foi total, tudo vindo de Paris, inclusive os garçons,os cozinheiros e o bolo que pesava 55 quilos. Os nobres convidados consumiram, com muitaelegância, é claro, centenas de garrafas de champagne, whisky e conhaque. Isso sem falar nas“toneladas” de caviar, salmão, lagosta à parisiense, aves de Grasse, saladas primavera e incontáveispotes de sorvete de abacaxi.

No dia a dia, o menu de Miss Hayworth seria bem similar ao do seu casamento. Ali Khan mandavavir tudo dos melhores restaurantes de Paris, detalhe, todos os dias. Ele até montou uma cozinhasofisticadíssima para ela com tudo de melhor, também vindo de Paris, toda a louça de Limoges,panelas, prataria, toalhas de renda da Bélgica. Mas o lugar serviria mais para enfeite. Porém, mesmocom tanta especiaria fina em sua volta, Rita sempre gostou de comida simples, principalmente fastfood americana e a tradicional culinária mexicana. Quando chegou da Europa com Ali, ela disse quesó queria comer um hot-dog bem americano e mais nada. Estava cansada da comida finíssima damansão do marido. Tanto luxo não salvaria o casamento de conto de fadas.

Na união seguinte, desta vez com o cantor argentino Dick Haymes, as coisas seriam bem diferentespara Rita. Cheios de problemas e principalmente para fugir dos processos contra o marido, o casalfoi viver num chalé no Lago Tahoe. As coisas por lá, principalmente na cozinha, não andavam muitobem. Contou um casal amigo que Rita os chamou para jantar e chegando lá, não havia jantar algum,nada para comer, as panelas estavam literalmente vazias. Isto, mesmo com as duas filhas em casa.

No último casamento, com James Hill, Rita desejou muito ser a dona de casa ideal que não fora nasuniões anteriores. Mas no fundo ela não tinha verdadeira aptidão para isso. Hill fez sua parte, aceitoumorar com as duas filhas dela, o que deixou Rita muito feliz, e até lhe deu um livro de culinária,esperando que a inclinação doméstica da esposa incluísse a cozinha. Mas o cookbook não ajudoumuito. Até que Rita tentava, mas o muito que conseguia fazer era um simples café da manhã, umasopa ou salada de noite. Muitas vezes tinham convidados e aí Rita se metia na cozinha para fazer ojantar. Às vezes dava certo, mesmo que simples ficava gostoso, mas não era sempre.

Uma vez, recebendo dois amigos do estúdio para jantar, Rita e Hill começaram a discutir feio. Elefoi atrás dela na cozinha e ouviu-se um barulho de panelas e louças caindo no chão. Hill tinha jogadotodo o jantar que ela fizera com tanto sacrifício nas paredes e no chão da cozinha. Isto para o espantodos amigos. Mesmo assim, recebiam muitas vezes os amigos íntimos e ela fazia questão de preparara comida. Foi a época em que ela mais tentou se adaptar à vida doméstica e ter uma vida familiarequilibrada.

Nessa época a revista americana Photoplay publicou um grande artigo sobre Miss Hayworth e suavida familiar. Dizendo que ela estava exagerando no papel de dona de casa e que ninguém queria vera glamourosa Rita fazendo mingau de aveia para as filhas ou pendurando a roupa da família no varal.Em retrospecto, Rita disse que era esposa, mãe e atriz e todos esses papéis eram naturais eimportantes para ela.

Segue uma das receitas que Rita adorava fazer para o café da manhã das filhas. Embora um simplesbolo, tem o seu diferencial.

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Bolo de Anjo

Ingredientes:

1 xícara de farinha de trigo

1 1/2 xícara de açúcar de confeiteiro - dividido em 2 partes

1 1/2 xícara de claras (9 ou 10 ovos)

1 colher de chá de sal

1 colher de chá de creme de tártaro (substituir por vinagre ou gotas de limão)

1 colher de chá de baunilha

Modo de preparo:

Peneirar a farinha 4 vezes com metade do açúcar. Bater as claras até virar espuma, salpicar sal evinagre ou limão e continuar batendo até as claras ficarem duras mas não secas. Colocar o resto doaçúcar, 1 colher de cada vez, mexendo com colher grande. Colocar a baunilha e depois a mistura defarinha, 2 colheres de cada vez, mexendo sempre para não “quebrar” as claras. Assar em fôrma debolo untada no fogo baixo, 1 hora ou até o palito sair limpo. Deixar esfriar e tirar da forma.

Serve 12 pessoas.

Evânio Alves

Rita Hayworth

Bolo de anjo

As Divas na Cozinha

Shirley MacLaine

CrÊme BrÛlée

A estrela Shirley MacLaine (1934) tem uma filosofia diferente com a comida. Para ela é como umestado mental. Pois acredita que o que fazemos com a nossa alimentação reflete o que temos denatural e de condicionado. Se Shirley quer entender como as pessoas têm prazer, observa o que elascomem. Se quer entender o potencial de criatividade, observa como elas cozinham. Ou seja, Shirley

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analisa as pessoas pelo que comem e que cozinham. Uma boa tática de observação.

É muito sobre esta filosofia que Shirley fala em seu mais recente livro de memórias, “I’m Over AllThat: And Other Confessions” lançado em 2011. Ela conta que em sua vida a cozinha sempre foiligada aos seus relacionamentos, tanto com maridos e namorados como também com amigos. Com oamigo Daniel, que morreu cedo de aids, ela cozinhava sempre, trocavam receitas, experimentavamnovas, ele adorava cozinhar em companhia de Shirley e ela também.

Quando Miss MacLaine e o amigo não exploravam a cozinha de casa, iam a algum restaurante muitoespecial. Daniel ensinou muitas receitas boas a Shirley, que, inclusive, ela faz até hoje para matar assaudades do amigo. A amizade dos dois não ficava só no fogão. Um dia ele remodelou toda a cozinhadela, para desespero da cozinheira que ela tinha na época. Shirley acrescenta que o relacionamentodos dois era fabuloso, cheio de amor, céus estrelados, comida e humor.

Já com o namorado russo, que Miss MacLaine chamava de Vassy, um homem culto que adoravacozinhar, ela aprendeu a fazer comida russa, com beterraba, alho e repolho e também a beber vodka.Eles passavam noites na cozinha de sua casa preparando coisas deliciosas para jantar à luz de velas.Ele era um eterno romântico e o relacionamento acontecia em torno da cozinha, gerando sempre bonspapos.

Shirley teve o privilégio de iniciar sua carreira no cinema sendo dirigida pelo renomado AlfredHitchcock no filme “O Terceiro Tiro” em 1955. Porém, a relação de Shirley com o mestre dosuspense não tinha a ver com o cinema, mas sim com a comida. Foi com ele que Shirley aprendeu acomer demais. Tomavam cafés da manhã e jantares enormes, com sete pratos e uma sobremesamaravilhosa. E claro, foi engordando durante a filmagem e só percebeu depois. Porém, Shirleydescobriu a tempo que o peso fazia parte da imagem dele, mas não dela. Na realidade Shirley nuncateve problemas sérios de peso até os 50 anos. Desde então passou a ter mais cuidado com aalimentação.

Fora do ambiente de trabalho e da companhia dos amigos, Miss MacLaine mantinha também umarelação gastronômica com os familiares. Apesar da agenda lotada de compromissos, ela dava sempreum jeito de ir comer com eles. Numa destas visitas Shirley notou que o pai, já idoso, mantinha ovelho costume de tomar um copo de leite com baunilha e um grande pedaço de bolo de chocolateantes de dormir. Ela relembra também que foi num destes dias que ele a fez provar uma sopa deervilha, que detestava e então passou a gostar.

Outra vez a mãe ofereceu um jantar a Shirley e mesmo sendo uma noite comum, colocou na mesa oscristais, pratas e a melhor porcelana da casa, herança de família. Serviu salada e carne fatiada combatata e cenoura cobertas com manteiga derretida e de sobremesa uma deliciosa torta de abóbora. Ojantar era bonito e saboroso, para Miss MacLaine foi emocionante ver a mãe tão idosa manter atradição.

Entre os mais de cinquenta filmes que fez ao longo da vida, Shirley correu muito para atingir seusobjetivos. Quase não sobrava tempo para fazer de forma correta e tranquila as suas refeições, àsvezes passava o dia todo beliscando besteiras que a produção disponibilizava para o elenco. Hojeuma das coisas que ela não dispensa é um bom jantar, além de cinema e teatro. Seja em algum

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restaurante específico, onde ela vai até sozinha, ou em casa, com amigos compartilhando o prazer decozinhar e de comer algo especial.

De fato a comida foi sempre muito importante na vida de Shirley. Tanto que, além de falar muito noassunto em suas memórias, ela lançou livros sobre o tema. Segue uma receita de suas receitas, porsinal deliciosa.

Aliás, vale dizer que esta é a sobremesa preferida de Shirley e a que mais gosta de fazer para seusconvidados. Ela teve a coragem de fazer porque a sua cozinheira francesa, chamada MarieTremaudant, fazia com grande facilidade e depois colhia os elogios. E eu sempre fui louco para fazermas não sabia como caramelizar o açúcar por cima sem o maçarico e Shirley nos ensina um ótimotruque aqui.

Evânio Alves

Crème Brûlée

Ingredientes:

5 gemas

2 colheres de açúcar

4 colheres de chá de baunilha

2 xícaras de creme tipo chantilly

5 colheres de chá de kirsch (ou qualquer licor vermelho)

3 colheres de rum escuro

5/6 gotas de essência de amêndoas

Açúcar mascavo fino para cobrir

Numa tigela, colocar as gemas e o açúcar branco. Bater com batedor de metal e reservar. Colocar ocreme e a baunilha numa panela média. Cozinhar em fogo médio até ferver, deixar ferver mais 2minutos. Misturar muito bem o creme com os ovos na tigela reservada. Depois colocar o kirsch, rume essência de amêndoas. Colocar tudo numa panela limpa e cozinhar em fogo médio mexendosempre. Quando a mistura estiver no ponto exato, vai grudar numa colher de prata. Teste até chegarao ponto certo. Se cozinhar demais vai fazer bolinhas. O gosto é o mesmo mas o creme liso é melhor.

Colocar nos potes de pudim, como os “grès” da França. Deixar na geladeira até esfriar bem. Quando

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frio, jogar por cima um pouquinho do açúcar mascavo fino, cobrindo o creme. Colocar os potinhosnuma forma cercados de cubos de gelo. Depois colocar no forno rápido para que o açúcar derretamas não queime. Leva um minuto para o açúcar caramelizar. Tirar do fogo e deixar esfriar. Nãocolocar na geladeira até servir.

O gelo é colocado antes do forno para que o creme não cozinhe mais e nem derreta.

As Divas na Cozinha

Evânio Alves

Sarah Bernhardt

Glacê de Chocolate e Cookies Bernhardt

O teatro e a cozinha sempre tiveram uma importância muito grande na vida da divina Sarah Bernhardt(1844-1923). Antes mesmo de subir aos palcos e tornar-se famosa, a estrela francesa já brilhava nacozinha. Tanto que para ela tudo se resolvia na mesa do jantar, fosse pedidos de casamento, decisõesde família, peças, filmes, contratos, ou até mesmo separações.

Como disse, antes de ficar famosa e rica, Sarah cozinhava muito bem, como uma francesa do seutempo. Mas assim que possível teve uma ou duas cozinheiras em casa para fazer jus à vida de diva.Ela tratava suas serviçais com muita exigência, porém, sendo sempre justa. Chamava-as de“madame” e lhes dava todo crédito, mas na verdade era ela quem mandava em tudo na cozinha.

Quando estava sozinha em casa, Sarah comia um caldo de carne com torradas à noite, mas erararíssimo jantar sem companhia. Gostava de reunir os amigos mais íntimos para jantares pequenos ecaprichados. Porém, quando se tratava de interesse profissional, o menu mais simples que fazia erauma entrada de patê de foie gras, depois um peixe cozido com lentilhas, pão caseiro e um creme delaranja de sobremesa. Isto servido sempre com champagne. Foi assim quando recebeu CharlesChaplin, Douglas Fairbanks e sua esposa Mary Pickford. Enfim, Sarah jantava bem de qualquer jeito,fosse em casa ou nas festas e restaurantes.

Quando não queria fazer comida em casa, Sarah mandava vir os mais finos pratos dos requintadosrestaurantes, mesmo para ela sozinha. Fazia muito isso se não tivesse uma cozinheira boa nomomento ou por capricho mesmo, pois era hábito dela frequentar os melhores restaurantes do mundo,como o Ritz em Paris e o Alexandria em Los Angeles. E era convidada também para as festas nasmais sofisticadas residências, desde marajás, reis e presidentes até a nata de Hollywood, caso damansão Pickfair onde os maiores nomes do cinema desfilavam impecavelmente.

Sarah usava a cozinhava de maneira estratégica. Quando queria conquistar alguém, fazia ela mesmaum jantar. Quando queria agradar um amigo doente, mandava a sua cozinheira fazer um consomê comtorradas. Como disse, o jantar era sempre a forma de estreitar ou até de romper um relacionamento e

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ela vestia-se especialmente para este momento, mesmo se estivesse só.

Mas só é o que menos ficava, pois alguns “candidatos” até fizeram o jantar para Sarah, o que aencantava e ela acabava aceitando o pedido de casamento ou pelo menos se tornavam grandesamigos.

A decoração da casa de Sarah era tida como demodê, cafona, pois tinha no mesmo ambiente umapeça de raro valor ao lado de uma que custou uma pechincha num brechó. Mas na sua cozinha nãofaltava nada, comprava tudo que era necessário para facilitar e dar conforto à cozinheira, mesmo quetivesse que mudar tudo. Comprava todas as novidades em utensílios, panelas e aparelhos. Inclusivemandou fazer uma bancada na cozinha para facilitar a vida da sua cozinheira francesa, coisa que nemexistia ainda naquele tempo.

Durante a guerra, tempos difíceis de racionamento até mesmo para os ricos, Sarah sempre deu jeitode arranjar comida, ainda que tivesse que pedir às autoridades. Ela chegou até a comer carne decavalo, mas bem temperada (dizia ela), era muito boa, mas fome não passava. Até frutas e osingredientes mais difíceis ela conseguiu. Afinal de contas, cozinha e comida eram coisas muitoimportantes na vida da Divina Sarah!

Seguem duas receitas da primeira grande diva de todos os tempos:

Glacê de Chocolate

Ingredientes:

150 gr de manteiga sem sal

1 colher de Karo

300 gr chocolate amargo ou meio-amargo

Colocar chocolate, manteiga e Karo em banho-maria com 5 colheres de água. Mexer até derreter.Não cozinhe demais. Tire o glacê do banho-maria e deixe de lado até derreter mais, mexendo umavez ou duas até ficar perfeitamente macio. Mexa com espátula ou colher de pau. Só mexer, não bater.Use o glacê de 88 a 90º. (isto é, usar antes de esfriar, ainda bem morno).

Cookies Bernhardt

Os cookies de Sarah Bernhardt, ou macarrons, com base de amêndoas tem recheio de chocolate e sãocobertos com chocolate derretido, resultando num cookie com jeito de trufa e com uma levecrocância.

Ingredientes para o recheio:

250 gr de chocolate amargo em pedaços

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1/2 xícara de açúcar

1/2 xícara de água

4 gemas levemente batidas

Ingredientes para os cookies:

250 gr de pasta de amêndoas

1/4 xícara de açúcar

1 clara batida

Algumas gotinhas de essência de amêndoa

1 pitada de sal

Ingredientes para a cobertura:

150 gr de chocolate meio-amargo em pedaços

2 colheres de óleo

Como fazer o recheio:

Derreter o chocolate em banho-maria. Tirar do fogo, deixar esfriar. Numa panelinha misturar água eaçúcar mexendo até ficar claro, 5 minutos. Tirar do fogo. Colocar as gemas em banho-maria batendouns 2 minutos, até esquentar. Na batedeira misturar tudo, o chocolate por último, até ficar fofo, uns 3minutos. Refrigerar até ficar firme, uns 45 minutos. Pré-aquecer o forno a 350º. Colocar papel tipomanteiga numa forma e deixar de lado.

Como fazer os cookies:

Na batedeira com pás misturar pasta de amêndoas e açúcar. Bater bem. Coloque a clara, essência deamêndoa e o sal e misture bem. Transferir para a forma de assar, com distancia de dois dedos entreum e outro. Assar até ficar firme e dourado nas beiradas, uns 12 minutos. Tirar do forno para esfriar.Os cookies podem ser guardados em pote fechado até 1 semana.

Cortar ao meio os cookies e colocar o recheio no meio com ajuda de um saco plástico com umburaquinho. Levar à geladeira por 1 hora, para o recheio ficar firme.

Como fazer a cobertura:

Derreter o chocolate em banho-maria. Colocar o óleo vegetal e deixar esfriar até ficar morno. Tiraros cookies da geladeira e colocar a cobertura com uma colher. Deixar esfriar.

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Serve 6 pessoas.

As Divas na Cozinha

Sophia Loren

Massa com Creme de Gorgonzola

Além de brilhante e premiada atriz de cinema, a bela italiana Sophia Loren (1934) é uma exímiacozinheira. Como reconhecimento desta sua paixão, ela chegou até a ganhar prêmios pelo seudesempenho como mestre-cuca.

Miss Loren cozinhou desde criança, quando instruída pela mãe. Mas o registro deste seu segundotalento veio quando ela, por necessidade de repouso para não perder o seu filho durante umagestação de risco, ficou trancafiada espontaneamente num hotel em Genebra. Sem o que fazer paravencer a ociosidade, Sophia convocou sua ajudante de cozinha para juntas brincarem deexperimentar vários pratos. A brincadeira resultou em muitas receitas anotadas que acabariam sendoo primeiro livro de cozinha da diva, o segundo viria anos depois.

Em um desses livros, Sophia diz que todas as mulheres de sua família cozinhavam muito bem, natradição napolitana. Faziam a melhor massa com o famoso molho de tomate, além de peixes eassados maravilhosos. Comenta também que o almoço de domingo em sua casa era sempre umaalegria e uma comilança que só acabava de noite. A avó cozinhava porque era uma mulher de seutempo e ensinou as filhas e as netas. Sua cozinha era inesquecível. Já a mãe dela queria ser atriz decinema e não tinha orgulho de seus dotes culinários, mas cozinhava divinamente também. A irmã,dona de casa com muitos filhos e netos, segundo ela, é a melhor cozinheira da família.

Mas Sophia não fica para trás neste quesito. Mesmo já atriz famosa, quando não estava filmando eficava em casa, em sua maravilhosa “villa” em Roma, ela cozinhava para o marido e os dois filhos.Isto apesar de ter uma cozinheira excelente, chamada Lívia, que ela considerava como pessoa dafamília. As duas na cozinha faziam o que havia de melhor! Ela conta que seus filhos nasceram emGenebra, Suíça, e ela fazia todo Natal lá, com as receitas da família e outras que foram seacrescentando. Como os meninos adoram carne, ela colocou no menu as almôndegas da Lívia, pratopredileto deles e também frango, coelho e um maravilhoso rosbife.

Além dos almoços em família, ocorridos geralmente na enorme cozinha, era fato conhecido emRoma que Sophia dava muitos jantares em sua “villa” e que ela fazia tudo, com ajuda de Lívia. Alémda fartura em iguarias, em sua casa era produzido um vinho branco maravilhoso, parecido com oFrascatti, comum em toda aquela região. Ela orgulhava-se de oferecer um jantar todo feito em casa,da entrada à sobremesa, incluindo o vinho personalizado.

Aliás, por falar em sobremesa, Sophia afirma que fazer um doce para alguém é uma declaração deamor. Defende ela que você pode comprar uma torta para o aniversário de seu filho, mas nada é igual

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ao bolo que você mesma faz, mesmo que não fique tão saboroso quanto o da doceria. Ela é adepta dobolo branco com bastante manteiga e uma torta divina de ricota, coisas fáceis de fazer, mas queencantam. O seu preferido é um creme à base de ovos que se come com frutas vermelhas. Só isso,mas faz um lindo prato de sobremesa.

Miss Loren também gosta de preparar peixe, principalmente bacalhau. Diz que é preciso ficar amigado peixeiro para conseguir sempre o melhor, para fazer com perfeição uma salada de bacalhau comtomate cereja e azeitona preta. Diz também que o bacalhau é muito apreciado na Itália e pode serfeito da maneira mais simples à mais elaborada. Suas receitas de peixes vão da sardinha à lagosta,incluindo um belo atum fresco com molho de ovos.

“Cozinhar se aprende cozinhando”, disse a diva. “É preciso aprender as regras para depoisconseguir improvisar com liberdade e imaginação. Não seja escravo das receitas, medidas e pesos.Deixe sua intuição e principalmente seu amor guiar você. É assim que se faz a boa cozinha, que une afamília em volta da mesa e mantém vivas as tradições de sua terra”.

Segue uma das inúmeras receitas maravilhosas de massa que Sophia Loren adora fazer:

Massa com Creme de Gorgonzola

O Gorgonzola é um queijo magnífico de textura cremosa que fica muito bom nesta receita. Existemalgumas opções deste queijo, mas Sophia recomenda o Gorgonzola Dolce (doce) para este molho,mas o picante, mais comum, também é ótimo. Assim como também ela recomenda usar o rigatoni ou otalharim largo, pois o molho envolve muito bem qualquer uma dessas massas. Diz ela brincando queesta receita é uma “fast food” italiana.

Para 6 porções

250 a 300 gr generosas de gorgonzola

2 colheres de manteiga sem sal

1 pequeno talo de aipo, mal cortado

½ cebola, mal cortada

Sal e pimenta moída na hora

½ xícara de creme de leite

1 xícara de leite

1 gema de ovo cozida (opcional)

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1 punhado de salsa bem picada

2 dentes de alho, sem casca

1 pacote de rigatoni ou talharim largo fresco.

Colocar o queijo, manteiga, aipo, cebola, alho e uma pitada de pimenta no liquidificador ouprocessador. Fazer uma pasta cremosa. Quando a mistura estiver bem batida, acrescentar o creme, oleite e a gema, a salsa e sal a gosto. Bater até ficar bem macio. Enquanto isso, cozinhar a massa aldente e em seguida cobrir com o molho e misturar bem.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

No meu conceito, a encantadora atriz Veronica Lake (1922-1973), considerada uma das maioresbeldades dos filmes noir dos anos 40, teve uma das vidas mais trágicas de Hollywood. Mas emcontrapartida, Miss Lake foi uma mulher que se realizou na cozinha. E como este livro não é parafalarmos de tristezas e sim de alegrias, vamos enfatizar a felicidade dela ao lado do fogão.

Em sua autobiografia, Veronica não limitou-se a dizer que adorava cozinhar. Prova desta paixão éque ela e os quatro maridos que teve raramente comiam fora, preferindo sempre as refeiçõespreparadas por ela em casa. Apesar de ter prazer em ir para a cozinha fazer saborosas receitas paraos amados, todos os casamentos de Veronica chegariam ao fim. E encontrando-se solteira, Miss Lakedava badaladas festas na cozinha da sua casa. Os encontros ficaram tão famosos que Veronica passoua ser reconhecida em Hollywood como a rainha da festa de cozinha.

Diante da popularidade das guloseimas servidas, os astros e estrelas ficavam ansiosos esperando porum convite de Miss Lake. Paulette Godard e Howard Hughes eram figurinhas constantes na cozinhada sensual Veronica. Os homens se divertiam com os petiscos e as mulheres botavam avental eajudavam a servir informalmente. Estas festas duravam quase a noite toda e a turma de famosossomente ia embora quando o sol estava para raiar por trás dos conhecidos letreiros de Hollywood.

Todos os amigos de Veronica sabiam da sua paixão pela culinária. Assim, aproveitavam asoportunidades para agradá-la com iguarias. Quando esteve internada após quebrar a perna, umnamoradinho levava torta de cereja e o seu licor preferido ao hospital. O namoro acabou quandoVeronica descobriu que ele levava as mesmas guloseimas para outra atriz, Joan Fontaine, quandotambém estava adoentada. Nesta mesma época, o magnata Onassis enviava carnes e bons vinhos parao leito de Miss Lake, coisas raras naquele tempo de guerra.

Quando em visita à casa de praia de um amigo que morava em Connecticut, Veronica passava a maior

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parte do tempo na cozinha. Lá ela adorava cozinhar lagosta com algas marinhas e enquanto o pratoficava pronto, Miss Lake batia papo com os amigos na varanda, tomava drinks e sentia a brisa do marbalançando os seus tão belos cabelos platinum blonde que outrora haviam lhe dado fama ao lado deAlan Ladd. Aos domingos ela rejeitava o convite para ir à igreja e ia preparar panquecas comfrutinhas catadas no quintal. As crianças adoravam as guloseimas de Miss Lake e diante dos elogios,ela afirmava ser a rainha dos blueberries, que, aliás, adorava.

Os bons tempos passaram rápido na vida de Veronica e sem nenhum filme para fazer, ela teve quetrabalhar como garçonete no bar de um hotel. Tirando proveito da experiência ruim, a estrela tornou-se uma expert em preparar drinks e sanduíches. Foi neste bar que Miss Lake conheceu o seu grande eúltimo amor e o conquistou com um sanduíche de presunto e queijo suíço, típico americano,preparado por ela. Os dois viveram bons momentos juntos e mais tarde, quando o namorado ficoudoente, Miss Lake preparava comidas especiais de dieta para ele, embora o moço preferisse ossaudosos sanduíches da primeira noite.

No final de sua vida, Veronica teve de morar de favor na casa de uma amiga. E lá nesta casa, porvontade própria, ela cozinhava para muita gente. Na festa de Natal ela fez o peru, mas bebeu muito ebrigou com a amiga e acabou queimando o braço no forno quente quando ia retirar o peru.Enfurecida, ela largou tudo e foi “encher a cara” no boteco da esquina. No dia seguinte, a amigainformou que todos os convidados adoraram o peru. Miss Lake ficou muito feliz, pois acreditava noseu poder de fisgar as pessoas pela boca, e reatou com a sua melhor amiga.

Também em suas memórias Veronica afirma com muita certeza que um dia faria o seu livro dereceitas. Ela também comenta que com o mercado tão cheio de corriqueiros livros de cozinha, o delaseria muito bem aceito. Pois não daria receitas bobas de como aproveitar batatas fritas, não seriaexótica nem étnica e não se especializaria em mil receitas de chocolates em gotas. “Vou ser simples efrugal com pratos fáceis para fazer mesmo que você esteja bêbada ou cansada ou ambos”.

Infelizmente e por vias do destino, Miss Lake não chegou a fazer o seu tão desejado cookbook, masdeixou várias receitas espalhadas pelas casas de amigos por onde pernoitava. Segue um dos pratosque ela adorava preparar.

Sopa de Cenoura e Maçã

Ingredientes:

8 xícaras de caldo de galinha

2 xícaras de maçãs verdes descascadas e cortadas

3 xícaras de cenouras picadas

½ xícara de creme de leite light

Como fazer:

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Colocar o caldo numa panela grande. Acrescentar as maçãs e cenouras. Deixar ferver. Cobrir apanela, baixar o fogo e deixar cozinhar 1 hora ou até a cenoura ficar macia. Amassar um pouco ecolocar o creme de leite. Servir quente ou fria. Enfeitar com fatias de maçã.

Evânio Alves

Veronica Lake

sopa de cenoura e maçã

As Divas na Cozinha

Vivien Leigh

Filé de Linguado Véronique

As festas dadas em Hollywood nos anos 50 pelas grandes estrelas eram famosas nas manchetes domundo todo. Mas nenhuma se igualava às magníficas recepções na mansão Tickerage na Inglaterra,onde vivia o casal Vivien Leigh (1913-1967) e Laurence Olivier.

Nos mais de vinte quartos de Tickerage, Miss Leigh recebia ilustres hóspedes todo fim de semana,inclusive a realeza. Além dos muitos quartos a gigantesca casa era equipada com celeiro, chiqueiro,galinheiro, horta, pomar, jardim de rosas e estufa, de onde colhiam boa parte dos alimentos paralevar à cozinha.

Com tanto luxo ao seu redor, era natural que Vivien não fosse para a cozinha com frequência, ouquase nunca. Para os afazeres domésticos Miss Leigh tinha vários empregados sempre à suadisposição. Eram uma cozinheira, um mordomo e uma arrumadeira vindos de Portugal, um jardineiroe um motorista. Apesar de toda elegância, cultura e convívio com a alta sociedade, Vivien muitasvezes tomava o chá da tarde com o jardineiro e sua mulher. Era amiga dos empregados e adorada poreles.

Numa das requintadas recepções, os ilustres convidados de Vivien foram o diretor Orson Welles, oator Rex Harrison, a atriz e escritora Lilli Palmer e mais uns cinco outros famosos. Drinks foramservidos na impecável biblioteca antes de uma hora da manhã e a seguir o mordomo anunciou que ojantar estava servido. A mesa como sempre estava impecável, com guardanapos de renda com asiniciais V e L, finos cristais, prataria de primeira, as melhores louças francesas e inglesas e lindasrosas do jardim. A entrada foi azeitona com sardinha recheada, com vinho branco Riesling. Era opetisco preferido de Vivien, ela comia sempre, e dizia que poderia viver só comendo isso!

Naquela noite, quando acabou o primeiro prato, um peixe especial, ninguém aguentava mais comer,de tão farto que fora. A seguir veio codorna recheada e às 2:30 a comida continuava chegando.

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Afinal veio a sobremesa: crème brûlée com champagne francês. Depois, café com vinho do porto. Aessas horas, os hóspedes já estavam com sono, depois de tanto comer e beber e Vivien não querialevantar da mesa! Afinal foram dormir, exaustos e cheios. Mas logo pela manhã bem cedo a copeiraapareceu trazendo mais comida, ovos pochês, torrada integral, pão francês quente, mel, geleias, sucode laranja e café fresquíssimo.

Em outras noites, quando o jantar não acabava tão tarde, Vivien reunia os que ainda estavamacordados e ia para a cozinha fazer ovos mexidos com bacon regados a brandy, talvez seja este oúnico momento em que a fina estrela cozinhava com as próprias mãos. Alguns achavam que era muitagordura para aquela hora, mas Vivien adorava. Mas na “era da austeridade”, como ela chamava a 2ªguerra, tinham o privilégio de comer o que quisessem, principalmente os legumes da horta, moussesde peixe e frutas da casa. Só a carne até para eles era praticamente impossível.

Depois de muitas alegres noites na mansão e muitas brigas também, Vivien separou-se de LaurenceOlivier e foi morar com o ator Jack Merivale. O novo casal instalou-se num apartamento em Londres,onde viveria até o fim de Vivien. Toda manhã ela comia torradas com mel, suco de laranja e café, queJack levava na cama. Não gostava tanto de chá como a maioria dos ingleses, apesar de ter nascidoem Darjeeling, terra de um dos melhores chás da Índia. Mas não deixava de sempre convidar osamigos para o chá da tarde.

Miss Leigh era cheia de manias. Depois do breakfast, ela passava uma hora na cozinha arrumando asflores que todo dia chegavam, dizendo que a empregada não tinha jeito para isso. Quando almoçavaem casa, preferia maionese de salmão e salada crua. Não bebia muito vinho, apesar de ser umaconhecedora, sempre gostou mais de gim-tônica. Gostava de almoçar fora, só com um grupo deamigas íntimas. Adorava fazer compras, não só roupas chez Dior, mas comprava também guloseimasespeciais e requintadas para comer e coisas bonitas para a casa.

Ao contrário do lorde Laurence Olivier, que jamais punha os valiosos pés na cozinha, Jack Merivalegostava de cozinhar e gastava bom tempo diário no fogão. Quase toda noite o ator preparava umasopa para ele e Vivien. E mesmo quando ela não queria jantar Jack sentava à mesa e tomava sozinhoum pote antes de dormir. Foi assim na noite em que encontrou Vivien caída no chão do quarto, mortaaos 53 anos, de tuberculose.

Abaixo segue uma das receitas dos muitos e requintados pratos que eram servidos por Vivien namansão Tickerage durante os suntuosos jantares. Inclusive, este prato era um dos favoritos pelosclientes no restaurante que Vivien abriu numa pequena cidade da França depois que afastou-se davida artística.

Filé de Linguado Véronique

6 a 8 filés de linguado fresco

¾ xícara de vinho branco seco

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2 colheres de manteiga sem sal

2 colheres de farinha de trigo

12 lagostins ou 4 lagostas em pedaços

1 colher de cebola pequena picada

½ xícara de caldo de peixe (pode ser knorr)

½ xícara de creme de leite

Uvas verdes sem sementes

Salsa

Suco de limão

Preparar antes com sal os lagostins ou a lagosta e deixar à parte. Colocar as uvas numa panelinhacom o vinho e cozinhar rapidamente. Em seguida colocar os filés numa panela ou frigideira grande erasa com manteiga e espalhar a cebola por cima. Colocar as uvas com o vinho, o caldo de peixe, sale pimenta a gosto e se desejar, suco de limão ou uma pitada de tomilho e salsa.

Cobrir a panela e deixar ferver por no máximo seis minutos, não exceder este tempo. Tirar os filés docaldo e colocar numa forma ou pirex em lugar quente, enquanto o molho fica pronto. Engrossar comfarinha misturada com manteiga ou gemas de ovo, se preferir (se usar gemas, só colocar no final,depois do creme e da manteiga e não deixar ferver). Mexer bem e acrescentar o creme de leite atéatingir o ponto desejado. Deixar o molho ferver mais uma vez (se usar farinha), cobrir os filés com omolho, colocar as uvas, que foram escorridas, em volta dos filés, depois os lagostins ou pedaços delagosta. Colocar no forno bem quente para grelhar rapidamente, apenas até atingir um tom dourado.Observar com cuidado.

Serve 6 a 8 pessoas.

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Evânio Alves

As Divas na Cozinha

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A bela estrela negra Zezé Motta (1948) ficou famosa por interpretar importantes papéis no cinema,na televisão e no teatro, entre eles a inesquecível Chica da Silva. Ao longo de sua vida, Zezéacumulou boas lembranças dos momentos de infância passados dentro da cozinha de sua casa. Houvecoisas boas e não tão boas assim. Nascida num dos morros do Rio, Zezé teve que abandonar a casada mãe aos seis anos de idade e ir morar num orfanato. Pois a família era muito humilde e às vezesfaltava até o que comer, embora nunca faltasse alegria.

Mas como felicidade não mata fome, Zezé recorda também que um dia não havia o que jantar em casae a mãe, habilidosa como sempre fora, pegou todas as sobras que havia na geladeira, jogou na panelae fez uma sopa com tudo junto. Este prato acabou ganhando o nome de “sopa de entulho”, que porsinal ficou saborosa e passou a constar sempre no cardápio da família.

Durante a sua infância, Zezé não fez só comer. Quando morou num orfanato, foi assistente de cozinha,função de quase todas as meninass residentes e ela não ficou de fora. Era tarefa de Zezé lavar aslouças, descascar batatas e cuidar de todos os alimentos que chegavam. Mas Motinha, apelido queganhou lá no orfanato, sempre pôs a mão na massa com muito amor, até parecia pressentir seu longorelacionamento com a cozinha.

Do orfanato, Zezé foi morar com uma tia. E foi lá que ela se esbaldava com os deliciososbiscoitinhos de anjo que a tia fazia com frequência. Mas aprontar mesmo foi na cozinha da casa damãe. Astuta como sempre foi, num daqueles momentos que queremos comer algo especial e nãosabemos o que, Zezé foi ao armário da cozinha e não encontrando nada tão especial, pegou uma latade leite moça fez um furinho quase imperceptível e bebeu tudo. Preocupada com o sermão quelevaria da mãe quando descobrisse, Zezé teve a precaução de encher, pelo furinho minúsculo, a latacom água e recolocar no mesmo lugar. Descoberto o segredo, a mãe de Zezé a interrogou sobre quemhavia bebido o leite condensado e Motinha jurou de dedos cruzados que não havia sido ela. Furiosapor estar sendo passada para trás, sua mãe balançou a lata, naquele momento cheia de água, e disse afilha para nunca mais subestimar a sua inteligência. Claro que Zezé levou umas boas palmadas.

Como diz o velho ditado “Não há tempestade que dure para sempre”, a situação financeira da famíliaMotta melhorou com o trabalho de costureira da mãe e mudaram-se para o Leblon. Na nova casa,Zezé ficou incumbida de preparar a refeição de toda a família, isto enquanto a mãe saía para costuraras roupas das madames cariocas. Nesses dias Zezé aprendia a fazer principalmente as comidastriviais, como: arroz, feijão, macarrão e carnes. Apesar de ser uma tarefa designada, Zezé tinhaenorme prazer em executá-la, pois a cozinha era um lugar da casa que sempre a interessou muito.

O primeiro casamento chegou e Zezé, sem condições financeiras para pagar uma empregada, teve quedividir as tarefas domésticas com o marido e pôr em prática o que aprendera com a mãe. Enquantoele limpava a casa ela cozinhava ou vice versa. Com o passar do tempo, a fama de atriz trouxeglórias e Zezé pôde se dar o luxo de contratar uma cozinheira, passando assim a frequentar commenos assiduidade a sua cozinha, a não ser para abrir a geladeira e pegar uma garrafa de vinho ouuma cerveja, bebidas que ela tanto gosta.

Outro motivo, além de pegar bebidas, que leva Zezé a passar mais tempo na cozinha, ou até mesmo apilotar o fogão, é quando está apaixonada. Aí sim, a premiada atriz vira uma exímia cozinheira. Epara o seu mais recente namorado, o artista plástico Sérgio César e que por sinal é carnívoro

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confesso, Zezé aprendeu a preparar um dos seus menus preferidos: Filé ao molho madeira com farofade alho e cebola.

De fato, Zezé prepara a comida com amor, pois é vegetariana e come somente peixe, mas como elamesma diz: “para uma paixão, sempre vale o sacrifício”.

Segue uma das receitas preferidas de Miss Motta, que aliás, foi retirada do seu livro de cozinha:“Nossas Receitas da Vida”, que Zezé lançou em 1998 em parceria com o amigo Paulo Siqueira, seucompanheiro de garfo.

Salada Granulada

Ingredientes:

50 gr de grão de bico cozido

50 gr de feijão mulatinho cozido

50 gr de feijão fradinho cozido

50 gr de arroz selvagem cozido

50 gr de arroz integral cozido

50 gr de trigo para kibe amolecido

50 gr de alcaparras

50 gr de azeitonas sem caroços cortadas em rodelas

1 pepino grande cortado em cubinhos

1 tomate picado

1 cebola picada, 1 pimentão picado

1 molho de salsa e cebolinha picado

4 colheres de sopa de azeite

Sal a gosto

O preparo é muito simples. Misture todos os ingredientes, que já devem estar cozidos al dente, esirva com folhas de agrião. Simples e delicioso assim!

Evânio Alves

Zezé Motta

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salada granulada

As Divas na Cozinha

Zsa Zsa Gabor

Goulash

A curvilínea Zsa Zsa Gabor (1917) sempre adorou mais os homens que a cozinha. A prova disto éque se casou nove vezes e na sua opinião, toda mulher tinha que ter pelo menos três maridos na vida,não para alimentá-los, claro, mas para ter boas histórias para contar. Miss Gabor nunca foi do tipodoméstico que pilota fogão. Ao invés de ir para a cozinha sujar as delicadas mãos com tempero, elasempre preferiu se cobrir de diamantes e Dior, dos pés a cabeça, e sair para jantar nos melhoresrestaurantes do mundo, de preferência os de Paris e acompanhada de homens maravilhosos emilionários, pois assim o jantar desceria melhor, já dizia ela.

Dona de muito bom gosto, Miss Gabor sempre gostou de comida refinada e champagne caríssimo edetestava qualquer menu comum ou fast food americano, que ela nem passava perto. Mas quandoestava muito apaixonada e um pouco mais em casa, nesse caso gostava de fazer uma comidinha paraagradar os tantos maridos que teve. Porém fazia comidas chiques, nada trivial, de preferência asreceitas saborosas e picantes do seu país. Principalmente Goulash e linguiça muito apimentada, tudocom bastante paprika. Isso quando ela achava que o homem merecia, senão, arrastava ele para umrestaurante bem caro.

Aliás, vale dizer que os colegas hollywoodianos da época adoravam as guloseimas que Zsa Zsatrazia do seu país, e para agradar, muitas vezes ela distribuía as linguiças picantes para os amigosque gostavam de fazer churrasco em casa, caso de Gary Cooper que encomendava sempre.

Apesar de achar que ele merecia, para o marido que Zsa Zsa mais amou, o ator George Sanders, queinclusive a fez sofrer muito por paixão, ela quase não cozinhou, pois não tinham uma vida doméstica.Exceto quando dava algum jantar em casa para amigos, ela fazia todo o menu baseado na culináriahúngara, gostava de manter a tradição de família. Neste caso ligava para sua mãe e pedia algumasreceitas. Aliás, a mãe de Zsa Zsa também não era do tipo caseiro, também era expert em fisgarmilionários, mas nascida em família aristocrática, conhecia bem a cozinha de seu país, por isto tinhaas receitas.

Zsa Zsa sempre foi muito polêmica e quando esteve presa dois dias em Los Angeles, por causa deuma briga com um policial, foi da comida horrível da cadeia que ela mais reclamou. Serviramhamburguer quase preto, purê de batata murcho, cenoura e ervilha que, segundo ela, nem tiveram otrabalho de cozinhar. Algum amigo levou frios para ela, mas não permitiram que recebesse. Será quepreferiu ficar com fome?

Com o último marido chamado Fréderic, Zsa Zsa optou por abandonar o luxo de Hollywood e viver

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num rancho, cercada dos animais que ela tanto adorava. Foi então que a estrela abandonou os finosrestaurantes e passou a gostar de comer em casa, e naturalmente acabou se dedicando um pouco maisà cozinha e preparando pratos sempre à moda húngara. Segue abaixo a preferida receita picante deZsa Zsa e que ela se esbaldava preparando.

Como dizia a própria Zsa Zsa quando dava esta receita a alguma amiga, este é o prato que ela usavapara agarrar um homem. E se ela quisesse se livrar dele era só parar de fazer. É um dos pratosnacionais da Hungria e é tão bom que mesmo que você sirva caviar na mesma noite, seus convidadosvão ficar loucos com o Goulash.

Antes leia o recadinho de Zsa Zsa:

“Queridas, é preciso servir o Goulash com um bom vinho tinto. Na Hungria a gente serve com Bull´sBlood Wine (Sangue de Boi). E cuidado, porque vai mexer com o sangue do seu homem também! Fique olhando ele devorar o prato e saiba que você será a sobremesa! Aproveite!”

Goulash do Drácula

Ingredientes:

2 cebolas vermelhas fatiadas

2 k de carne de porco cozida

2 k de carne bovina cozida

2 linguiças húngaras (ou polonesas)

2 1/2 k de sauerkraut (salada de repolho azedinha)

1 punhado de sementes de alcaravia

Paprika húngara vermelha

2 xícaras de creme chantilly

Azeite ou manteiga

Sal e pimenta a gosto

Salsa fresca

1 garrafa de vinho tinto

Pegue uma panela bem grande. Corte a cebola bem fina e passe na manteiga ou azeite até ficar

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transparente. Colocar o porco e a carne. Temperar com sal, pimenta e 3 colheres de paprika (Zsa Zsadizia que se você não usar a paprika húngara nem deveria fazer este prato). Vire a mistura de carne ecozinhe 10 minutos. Coloque mais paprika e as sementes de alcaravia. Coloque a garrafa de vinhoaos poucos. Continue cozinhando para evaporar o álcool. Lave e escorra 2 1/2 k de sauerkraut numapeneira. Coloque na mistura de carne e deixe cozinhar por mais 2 horas. Corte a linguiça e coloquena panela. Coloque bastante paprika para o caldo ficar vermelho. Cubra e cozinhe mais 15 minutos.Coloque 1 xícara de creme. Ajuste os temperos a gosto. Sirva em tigelas de sopa com 1 pouquinho decreme e salsa enfeitando.

Serve 10 americanos famintos ou 8 húngaros fazendo dieta.

Evânio Alves

As Divas na Cozinha

A bela atriz Yvonne De Carlo (1922-2007), conhecida também por ter vivido “Lyly Monster” na TVnos anos 60, saiu do Canadá ainda garotinha e foi para a Califórnia à procura do sucesso. Assim quechegou à cidade com a mãe, as duas passaram fome e moraram em apartamentos péssimos semcozinha. A mãe de Yvonne logo conseguiu emprego de garçonete num restaurante simples emHollywood, que recebia muita gente do cinema. Ela ganhava pouco, mas pelo menos levava paracasa hamburgers e batata frita, que já dava para o jantar.

Sempre que a mãe chegava em casa após o trabalho, contava várias historias para Yvonne. Enquantodevoravam os sanduíches, ela dizia quais atores e atrizes comiam demais, quem gostava de talsorvete e quem enchia o prato de pimenta. Ela era esperta, fez amizades e um dia entrou com Yvonnenum restaurante da moda que apresentava shows e conseguiu um teste para a filha. Yvonne foiaprovada e sua carreira começou a partir daí. Ganhava bem para a época e as duas puderam parar deter medo de passar fome e mudar para um apartamento com cozinha.

No Florentine, onde Yvonne começou a dançar e cantar, a comida era cara demais e segundo ela, erasomente bife e batata, enquanto nos restaurantes mais chiques serviam camarão, lagosta e caviar. Masa futura estrela de “Os Dez Mandamentos” tinha direito a jantar lá, portanto comia melhor que emcasa e não dava trabalho para a mãe, que ficava com a tarefa de preparar as refeições enquanto afilha se concentrava na carreira.

Yvonne diz em suas memórias que, infelizmente, quando se é pobre a gente só pensa em comida. Láela diz também que a melhor dieta, a mais eficaz, é um caso de amor catastrófico. Miss De Carloemagreceu muito quando terminou seu romance com o milionário Howard Hughes, assim como suaamiga Ava Gardner perdeu muito peso quando terminou o casamento com Artie Shaw, que tambémfoi caso de Yvonne.

Quando casou-se com o dublê Bob Morgan e teve dois filhos, foi a chance de Miss De Carlo ser umadona de casa, como ela sempre sonhou, mas apareceram filmes que não pôde recusar ou a carreira

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acabaria. Por isso perdeu a chance de realizar seu sonho doméstico. Mais tarde a vida estava maisconfortável ainda, ela tinha empregados e nunca precisou fazer as tarefas de casa, principalmentecozinhar. E também por falta de tempo não decorou a casa nem equipou a cozinha, coisas que tantogostaria de fazer.

Porém, depois que aposentou-se do cinema, já senhora idosa, Miss De Carlo virou uma verdadeiradona de casa e passou a cozinhar muito para os filhos. Tanto que após a sua morte, o seu filho Bobreuniu suas anotações de comida e pretende lançar o Cookbook Lily, com as receitas próprias deYvonne De Carlo escritas à mão para ensopados, petiscos e cocktails.

Quando Yvonne esteve visitando o Rio de Janeiro em 1960, ela revelou a um jornalista da revistaManchete que o seu prato preferido e que ela mais gostava de preparar e mais ainda de comer eraFrango à Havaiana. Depois de fornecer a receita, Yvonne demonstrou muito interesse emexperimentar a culinária brasileira e pediu desculpas à editora de culinária da revista por estarabrindo concorrência.

Durante a mesma entrevista cedida à Manchete à bordo de um navio no alto mar carioca, Miss DeCarlo deu outra receita, mas esta de brincadeirinha, ou não, segue aí:

Receita da Plena Felicidade

Um homem bom que tenha 1,80 ou 1,90m de altura, bem humorado, de natureza fiel, dois filhos (depreferência meninos e se possível uma menina), uma casa confortavelmente mobiliada, com terra ejardins, um cachorro Poodle, um pequeno círculo de amigos e boa saúde. Misturar tudo isto, colocarde molho e não deixar passar do ponto.

Segue a receita de frango que Miss De Carlo deu aos brasileiros:

Êxtase Exótico de Frango (ou frango à havaiana)

Ingredientes:

1 frango cortado em 10 pedaços

5 colheres de óleo

1 talo de aipo

1/4 de xícara de repolho chinês fatiado

1 lata de legumes chop suey em pedaços

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1/2 lata de abacaxi em pedaços pequenos (escorrido, reservar a calda)

2 colheres cheias de maisena

1 1/2 xícara de água

1/4 colher de chá de gengibre em pó

2 colheres de chutney em pó

1 1/2 colher de chá de sal

1/2 colher de chá de pimenta branca

3 colheres de molho de soja light

1/4 xícara de sherry

Preparo:

Temperar o frango com sal e pimenta. Aquecer o óleo numa panela holandesa (tipo forte, como a deferro) e fritar o frango até dourar. Cobrir o frango com aipo, repolho, legumes chop suey e abacaxi.Tamparr a panela e cozinhar em fogo baixo 25 minutos.

Numa tigela, misturar gengibre, chutney e a Maisena. Em outra tigela misturar a calda de abacaxi,água, molho de soja e sherry e gradualmente misturar com os ingredientes secos mexendo atédissolver a Maisena. Colocar a mistura na panela, sobre o frango. Tampar e cozinhar mais 10minutos.

Servir com arroz branco bem quente.

Serve 4 pessoas.

Yvonne de Carlo

Êxtase Exótico de Frango

As Divas na Cozinha

Evânio Alves

linguiças carameladas e Torta de café

Sei que não sou um “divo” e aliás, ainda estou longe de ser, mas como autor deste livro me achei no

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direito de usar um cantinho dele para mim. Pois além de ser um eterno apaixonado pelas divas,também gosto muito de cozinhar.

Embora não seja um expert na cozinha, a minha história com comida vem desde cedo. Pois, assimcomo a maioria das pessoas que gostam de ir para o fogão, aprendi a cozinhar com os meus pais.Nascido numa família muito humilde na cidade do interior no Vale do Jequitinhonha em MinasGerais, meus pais me diziam que todo ser humano tem a obrigação de saber cozinhar para quandonão tiver mais a mãe para fazê-lo, saber se virar sozinho.

E foi com esta filosofia, de sobrevivência, que aprendi a preparar as minhas refeições básicas. Eesta filosofia ficou cravada na minha mente, eu achava que todo o mundo tinha, de fato, que sabercozinhar para se virar. Mas ao longo da vida vi que meus pais não tinham tanta razão assim, poismuitos motivos levam as pessoas até a cozinha e na maioria das vezes não é por sobrevivência e simpor puro prazer em preparar alguma refeição para receber amigos, alguém especial, ou somente parasi, quando estamos a fim de experimentar algum prato diferente.

Deixo aqui uma receita de petisco que gosto muito. Gosto dela por vários motivos, primeiro porqueé algo simplíssimo de preparar e serve para quando recebemos aqueles amigos tão íntimos que nemcostumam avisar que estão chegando para um bate-papo. E também porque aprendi a fazê-la nummomento muito especial. Quando fui passar um final de semana na casa de campo de umas amigas eenquanto batíamos papo ao lado da piscina bebendo cerveja, uma delas me ensinou a preparar.

Linguiças carameladas

Os ingredientes são pouquíssimos: uma quantidade de linguiça de porco ou de frango fina e umagarrafa de sidra. Detalhe, não queira incrementar fazendo com champagne, tem que ser aquela sidrabem baratinha que tem em qualquer mercado, por causa do açúcar que tem na composição.

Para preparar coloque a linguiça inteira dentro de uma frigideira, de preferência anti-aderente, cubracom a sidra e deixe fervendo até secar todo o líquido. Quando notar que ficou caramelizada, é sóretirar da frigideira, picar em pedaços e servir. Vai bem com cerveja, vinho, whisky ou qualquerbebida e claro, fica melhor numa roda de amigos.

Devo confessar que além de ter aprendido a cozinhar com os meus pais, aprendi muito com as divas,quando fui para o fogão preparar todas as receitas deste livro, pois seria difícil falar sobre um pratose na realidade não tivesse a menor noção de como fazê-lo. Testei carinhosamente todas as receitas eacabei descobrindo o sabor especial de cada uma, mas entre tantas, teve uma em especial que gosteimuito e, não querendo desfazer das outras, acabei adotando esta como a minha preferida, desobremesa. Para todos os amigos que servi não teve um que não tenha pedido bis e lambido oslábios.

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Porém, como a diva dona da receita, Constance Collier (1878-1955) é bem das antigas e não tãopopular assim, não consegui material para dedicar um capítulo somente a ela. Segue aqui a suadeliciosa torta:

Torta de Café

Ingredientes:

½ xicara de café forte

18 marshmallows (ou 150 gr )

½ colher de chá de sal

½ colher de chá de baunilha

2 xícaras de creme chantilly

½ xicara de nozes picadas

1 bolo de coco

Modo de fazer:

Colocar ½ xícara de café forte (liquido sem açúcar) e 18 marshmallows em banho-maria. Cozinharaté derreter. Tirar do fogo e bater na batedeira rotativa. Acrescentar ½ colher de chá de sal e ½colher de chá de baunilha. Deixar esfriar até engrossar como xarope. Bater rapidamente por uminstante e colocar 2 xícaras de creme chantilly bem batido, bater até misturar tudo por igual e ficarbem cremoso. No fundo de um pirex ou travessa, colocar um bolo de coco bem amassado, como sefosse uma massa de uns três dedos. Molhar com café forte até ficar úmida, mas não demais. Colocara mistura cremosa por cima e deixar na geladeira.

Quando servir, enfeitar com nozes picadas por cima.

Evânio Alves

Fim

Bibliografia

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Alice B. Toklas – Aromas and Flavors of Past and Present. NY, The Lyons Press, 1996

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Berniece Baker Miracle – My Sister Marilyn – A Memoir of Marilyn Monroe. Chapel Hill, NorthCarolina, Algonkin Books, 1994

Bette Davis – The Lonely Life. NY, G.P. Putnam’s Sons, 1962

Brigitte Bardot – Le Carré de Pluton. Paris, Ed. Grasset, 1999

Bruno Tosi – A Paixão Secreta de Maria Callas. SP, Editora Mercuryo, 2007

Catherine Rihoit – Dalida. Paris, Ed. Plon, 2005

Charlote Chandler – Mae West – She Always Knew How. NY, Simon and Schuster, 2009

Christine Schwartz Hartley – Specialités de la Maison. NY, HarperCollins Books, 2010

David Kaufman – Doris Day – The Untold Story of the Girl Next Door. London, VirginBooks,Random House, 2008

David Stenn – Clara Bow – Runnin’ Wild. NY, Doubleday Publishing, 1988

Debbie Reynolds and David Patrick Columbia – Debbie – My Life. NY, W. Morrow and Co., 1998

Diana Maychick – Audrey – An Intimate Portrait. London, Sidgwick and Jackson Publishers, 1993

Dinah Shore – Someone’s in the Kitchen with Dinah. NY, Doubleday Publishing, 1971

Dinah Shore – The Dinah Shore Cookbook. NY, Doubleday Publishing, 1983

Dinah Shore – The Celebrity Cookbook. Los Angeles, Price, Stern and Sloan Publishers, 1966

Donald Bogle – Dorothy Dandridge – A Biography. NY, Amistad Press, 1997

Donald Spoto - A Passion for Life – The Biography of Elizabeth Taylor. NY, HarperCollins Books,1995

Donald Spoto – Notorious – The Life of Ingrid Bergman. NY, HarperCollins Books, 1997

Donald Spoto – Blue Angel – The Life of Marlene Dietrich. NY, Doubleday Publishing, 1992

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Eileen Considine-Meara – At Home with Kate – An Intimate Portrait of Katharine Hepburn. N.Jersey,John Wiley and Sons, 2007

Eileen Whitfield – Mary Pickford – The Woman who Made Hollywood. Lexington, KentuckyUniversity Press, 1997

Elaine Willingham and Steve Cox – Cooking in Oz. Nashville, Cumberland House Publishing, 1999

Elizabeth Taylor – By Elizabeth Taylor – An Informal Memoir. NY, Harper and Row Publishers,1964

Emily W. Leider – Myrna Loy – The Only Good Girl in Hollywood. Berkeley, University ofCalifornia Press, 2011

Eric Braun – Deborah Kerr. NY, St. Martin’s Press, 1977

Gail Lumet Buckley – The Hornes – An American Family. NY, Alfred A. Knopf Publisher, 1980

Gavin Lambert – Natalie Wood - A Life. London, Faber and Faber, 2005

Ginger Rogers – My Story. NY, HarperCollins Books, 1991

Giovanni Battista Meneghini – My Wife Maria Callas. NY, Farrar, Straus and Giroux, 1982

Gloria Swanson – Swanson on Swanson – An Autobiography. NY, Random House, 1984

Gypsy Rose Lee – Gypsy – A Memoir. Berkeley, Cal., Frog Books, 1957

Helen Dunn – Celebrity Recipes. NY, Grayson Books, 1958

Hugo Vickers – Loving Garbo. London, Pimlico Books, Random House, 1994

James Gavin – Stormy Weather – The Life of Lena Horne. NY, Atria Books, 2009

James Hilman and Charles Boer – O Livro de Cozinha do Dr. Freud. RJ, Editora Paz e Terra, 1986

James Kotsilibas and Myrna Loy – Being and Becoming. NY, Alfred A. Knopf Publisher, 1987

James Robert Parish e Jack Ano – Liza! An Unauthorized Biography. NY, Pocket Books, 1975

Jane Ellen Wayne – Lana – The Life and Loves of Lana Turner. NY, St. Martin’s Press, 1995

Jane Fonda – Prime Time. NY, Ebury Publishing, 2011

Jane Fonda – Receitas Deliciosas para uma Vida Saudável. SP, Editora Três, 1996

Janet Leigh – There Really was a Hollywood- An Autobiography. NY, Doubleday Publishing, 1984

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Jean-Claude Baker and Chris Chase – Josephine – The Hungry Heart. NY, Random House, 1993

Jeff Lenburg – Peekaboo – The Story of Veronica Lake. NY, St. Martin’s Press, 1983

Jeffrey Robinson – Bardot – An Intimate Portrait. NY, Donald I. Fine, Inc., 1994

Joan Crawford – A Portrait of Joan. NY, Doubleday and Co., 1962

Joan Fontaine – No Bed of Roses – An Autobiography. NY, Berkeley Books, 1978

Joan Wester Anderson – Forever Young – The Authorized Biography of Loretta Young. Allen, Texas,Thomas More Publishing, 2000

Joanne Hershfield – The Invention of Dolores del Rio. Minneapolis, University of Minnesota Press,2000

John Kobal – Rita Hayworth – Portrait of a Love Goddess. NY, Berkeley Books, 1977

John Meyer – Heartbreaker – My Life with Judy Garland. London, W.H. Allen and Co., 1987

Joséphine Baker e Jo Bouillon – Josephine Baker. Buenos Aires, América Norildis Editores, 1977

Julie Andrews – Home – A Memoir of my Early Years. NY, Hyperion Books, 2008

Katharine Hepburn – Me – Stories of my Life. NY, Alfred A. Knopf Publisher, 1991

Lana Turner – Lana – The Lady, The Legend, The Truth. NY. E.P. Dutton, Inc., 1982

Lana Wood – Natalie – A Memoir of her Sister Lana Wood. NY, E.P. Putnam’ s Sons Publishers, 1984

Lauren Bacall – By Myself and then Some. NY, HarperCollins Publishers, 2005

Lauren Bacall – Now. NY, Alfred Knopf Publisher, 1974

Lawrence Quirk – Norma – The Story of Norma Shearer. NY, St. Martin’s Press, 1988

Lee Server – Ava Gardner – Love is Nothing. NY, St. Martin’s Press, 2006

Lena Pepitone and William Stadiem – Marilyn Monroe – Confidential. NY, Simon and Schuster, 1979

Luciana Avedon e Jeanne Molli - The Beautiful People’s Diet Book. NY, Saturday Review Press/E.PDutton and Co., 1973

Lucille Ball – Love, Lucy. NY, G.P. Putnam’s Sons Publishers, 1996

Mae West – Goodness had Nothing to Do with It. NY, Avon Book Division, Hearst Corporation, 1959

Marlene Dietrich – Marlene D. RJ, Editora Nórdica, 1984

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Mary Pickford – Sunshine and Shadow – An Autobiography. NY, Doubleday Publishing, 1971

Mistinguett – Toute ma Vie. Paris, Ed. Julliard, 1954, 2 volumes

Mistinguett – Queen of the Paris Night. London, Elek Books, 1954

Noralee Frankel – Stripping Gypsy – The Life of Gypsy Rose Lee. Oxford, Oxford University Press,2009

Peter Harry Brown – Kim Novak – Reluctant Goddess. NY, St. Martin’s Press, 1986

Richard Stirling – Julie Andrews – An Intimate Biography. NY, St. Martin’s Press, 2007

Robert Gottlieb – Sarah – The Life of Sarah Bernhardt. New Haven, Yale University Press, 2010

Sarah Bernhardt – My Double Life – The Memoirs of Sarah Bernhardt. NY, Suny Press, 1999

Sarah Key – The I Love Lucy Cookbook. NY, Abbeville Press, coleção Hollywood Hotplates, 1994

Sean Hepburn Ferrer – Audrey Hepburn – An Elegant Spirit. NY, Atria Books, 2003

Shirley MacLaine – I’m Over All That and Other Confessions. NY, Simon and Schuster, 2011

Shirley MacLaine – My Lucky Stars – A Hollywood Memoir. NY, Bantam Books, 1995

Shirley MacLaine and Dinah Shore – The New Celebrity Cookbook. NY, Price, Stern and SloanPublishers, 1973.

Sophia Loren – Sophia Loren’s Recipes and Memories. NY, GT Publishing, 1998

Sophia Loren – Na Cozinha com Amor. RJ, Bloch Editores, 1971

Stanley Buchtal and Bernard Comment (editores) – Fragments – Poems, Intimate Notes, Letters byMarilyn Monroe. NY, Farrar, Straus and Giroux, 2010

Stuart Nicholson – Ella Fitzgerald. RJ, Editora José Olympio, 1997

Taylor Pero and Jeff Rovin – Always, Lana. NY, Bantam Books, 1984

Veronica Lake and Donald Bain – Veronica – The Autobiography of Veronica Lake. NY, The CitadelPress, 1971

Warren G. Harris – Sophia Loren – A Biography. NY, Simon and Schuster, 1978

William Emboden – Sarah Bernhardt. London, Studio Vista, 1974

Yvonne De Carlo and Doug Warren – Yvonne – An Autobiography. NY, St. Martin’s Press, 1971

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Zezé Motta e Paulo Siqueira – Nossas Receitas. RJ, Editora Razão Cultural, 1998

Zsa Zsa Gábor and Gerold Frank - My Story Written for me by Gerold Frank. NY, The WorldPublishing Company, 1960

Ava Gardner (Museum) Cookbook – não publicado

ABC de Marlene Dietrich. RJ, Editora Marco Zero, coleção Tempo Livre, 1985

Dolores del Rio – Publicação do Festival Internacional de Cinema de San Sebastian, Espanha, 1976

The Artist’s Art of Cooking. Amsterdam, Phonogram International, 1980

The Metropolitan Opera Cookbook . NY, Stewart, Tabori and Chang Publishers, 1988