b-095 diego emanuel campos oliveira

Upload: geografia-de-costa-rica

Post on 07-Apr-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    1/16

    1

    Anlise ambiental das ilhas do Apara e Itauc, municpio de So Sebastio, So

    Paulo, Brasil.

    Oliveira, Diego Emanuel Campos; Campos, Fausto Pires de; Furlan, Sueli ngelo.

    Gegrafo. Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias

    Humanas (FFLCH), Universidade de So Paulo (USP) - Brasil. E-mail:

    [email protected]

    Bilogo. Instituto Florestal, Secretaria do Meio Ambiente de So Paulo (SMA) - Brasil.

    Gegrafa. Departamento de Geografia, FFLCH, USP - Brasil.

    RESUMO

    Muitos stios de reproduo de aves marinhas insulares na costa do Estado de So Paulo,

    apesar de serem pontos crticos para a conservao ambiental, no so protegidos

    integralmente, estando expostos a ameaas que incluem desde o furto de ovos das aves

    e incndios criminosos a maus tratos fauna e flora local.

    O presente trabalho realizou a anlise ambiental de duas ilhas costeira s recentemente

    protegidas pela legislao ambiental que constituem colnias de aves marinhas

    ameaadas de extino no litoral paulista (Itauc e Apara, no municpio de So

    Sebastio), e comparou-as com outra abrangida por unidade de conservao da naturez a

    desde 1977 (Ilha da Prainha, no Parque Estadual da Ilhabela).

    A partir dos levantamentos e observaes em campo e da pesquisa bibliogrfica,

    verificou-se que as ilhas que no so protegidas sofrem grandes perturbaes na flora e

    nas colnias de aves marinhas (Sterna hirundinacea , Thalasseus sandvicensis

    eurygnatha e Thalasseus maximus, sendo que T. maximus procria exclusivamente no

    Estado de So Paulo e tambm considerada ameaada segundo a lista federal).

    Observou-se que aps a criao de uma unida de de conservao necessrio odesenvolvimento da gesto e do manejo e uma fiscalizao rigorosa e efetiva.

    Palavras-chave: Biogeografia, ilhas, aves insulares, conservao, So Paulo.

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    2/16

    2

    Introduo

    A Biogeografia Insular originou grande parte das pesquisas na rea ambiental,

    especialmente no que diz respeito ecologia e biogeografia histrica. A Teoria do

    Equilbrio de Biogeografia Insular TEBI trouxe uma enorme contribuio nesse sentido,

    dando a base necessria para novos estudos de caso e pesquisas empricas.

    Nota-se, contudo, que pequenos fragmentos de floresta tropical em ambientes

    insulares diminutos tendem a ser preteridos quando se pensa em reas prioritrias para

    conservao. Nesse sentido, decidiu-se conhecer melhor esses ambientes, para que a

    teoria pudesse ser pensada na prtica, produzindo conhecimento cientfico sobre

    pequenas ilhas do litoral paulista.

    Seguindo os preceitos bsicos da TEBI, foram escolhidas ilhas que se encontram

    em latitudes semelhantes, todas prximas costa atlntica sudeste do Brasil, de tamanho

    reduzido, e que se constituem em reas de pouso ou nidificao de aves insulares

    marinhas. Tambm se mostrou necessrio um ambiente de controle, para servir de

    parmetro para a pesquisa. Dessa forma, foram escolhidas duas ilhas recentemente

    protegidas, Itauc e Apara, em So Sebastio, e a Ilha da Prainha, pertencente ao

    Parque Estadual da Ilhabela litoral nordeste do Estado de So Paulo - Brasil.

    Para a anlise e comparao das ilhas foi utilizado mtodo de avaliao ambiental.

    Sua adoo tem como propsito possibilitar a comparao entre as ilhas objeto de

    estudo, sem pretender eleger uma delas como prioritria para conservao.

    Torna-se fundamental, portanto, apreciar a vegetao das ilhas e sua relao com

    o entorno; conhecer as aves que habitam o litoral paulista e, especialmente, aquelas que

    so vistas com maior frequncia em pouso ou nidificando nas ilhas objeto de estudo; e

    apreciar o histrico do processo de criao de unidades d e conservao no litoral

    paulista. Espera-se, assim, contribuir para o enriquecimento do conhecimento acerca das

    ilhas desse estado.

    Objetivo

    O objetivo principal da pesquisa foi realizar a anlise ambiental de duas pequenasilhas costeiras recentemente protegidas pela legislao ambiental que constituem

    colnias de aves marinhas ameaadas de extino ou quase ameaadas de extino no

    litoral paulista: Itauc e Apara, municpio de So Sebastio.

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    3/16

    3

    Justificativa

    O estudo da biogeografia de ilhas, relativamente recente, se tornou importante ao

    favorecer a compreenso dos processos biolgicos nos fragmentos florestais e,

    consequentemente, das implicaes dos processos antrpicos, como desmatamentos,

    fragmentao de habitats e extermnio da fauna (FURLAN, 1997).

    A criao das Estaes Ecolgicas Tupinambs1 e dos Tupiniquins2 nos anos 1980

    consistiu de iniciativa pioneira no Estado de So Paulo - Brasil. Essas Unidades de

    Conservao protegem algumas formas insulares de porte mdio que contm fragmentos

    de Mata Atlntica e, ao mesmo tempo, abrangem seu entorno marinho no raio de 1km, a

    partir da linha da costa, caracterizando -o como parte integrante a ser administrada

    (OLIVEIRA et al., 2007).

    Em 1993 foi criado o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, que abrange um

    retngulo com cerca de 5.000ha de mar. Essa nova determinao legal demonstrou uma

    mudana substancial no tipo de preocupao vigente desde a criao dos parques

    estritamente insulares da Ilha do Cardoso (1962), da Ilhabela (1977 ) e da Ilha Anchieta

    (1977). Esses parques no abrangem a transio do territrio protegido para ambientes

    aquticos e esto sob a administrao de um rgo cuja tradio institucional

    preponderantemente para pesquisa em produo florestal 3.

    Ao longo de todo o litoral paulista existe um total de 142 formas insulares das quais

    cerca de 104 so exclusivamente marinhas, entre ilhas, ilhotas e lajes. Esses ambientes

    insulares carecem de um plano de estudos da representatividade dos ecossistemas

    abrangidos.

    preciso ampliar os estudos que permitam a sistematizao e o planejamento

    geral da conservao das ilhas paulistas, assim como o estabelecimento de medidas e

    indicadores confiveis para o gerenciamento dos ecossistemas marinhos. Na contramo

    dessas iniciativas, os agentes de degradao do litoral atuam em larga e rpida escala,

    deixando um quadro preocupante de danos e poluio.

    Existem no litoral paulista apenas oito Unidades de Conservao (UCs) da

    natureza da categoria de proteo integral que abrigam ambientes marinhos ou1 A Estao Ecolgica Tupinambs foi criada pelo Decreto 94.656, de 20 jul. 1987.2 A Estao Ecolgica dos Tupiniquins foi criada pelo Decreto 92.964, de 22 nov. 1986.3 Em 29 de dezembro de 2006, por meio do Decreto 51.453, foi criado o Sistema Estadual de Florestas,SIEFLOR. Assim, a Fundao para a Conservao e Produo Florestal do Estado de So Paulo(Fundao Florestal) passou a responsabilizar-se pela gesto das unidades pblicas de conservao eproduo do Estado de So Paulo, incluindo o controle, a administrao e a gesto financeira, operacional etcnica das unidades do SIEFLOR. Por sua vez, o Instituto Florestal de So Paulo (IF) passou a serresponsvel pelo controle, administrao e custeio de atividades relacionadas ao desenvolvimento deprojetos de pesquisa nessas mesmas unidades, cabendo ao IF a gesto de parcerias com instituies depesquisa ou de financiamento para os programas e projetos desenvolvidos.

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    4/16

    4

    apresentam divisas com o mar (sem considerar o trecho costeiro do Parque Estadual da

    Serra do Mar em Picinguaba). Elas compreendem apenas 35 formas insulares, o que

    denota baixa representatividade destes ecossistemas.

    Ao considerarmos as aves insulares como bioindicadoras, as trs ilhas estudadas

    nesta pesquisa encontram-se entre os ambientes mais ameaados do litoral paulista. O

    seu estudo poder contribuir para o aprimoramento da rede de UCs no Estado de So

    Paulo4.

    Materiais e Mtodos

    Foram utilizados, para o desenvolvimento desta pesquisa, mapas em diversas

    escalas, fotografias areas e imagens de satlite disponveis e compatveis com as reas

    de estudo, alm da bibliografia pesquisada sobre ilhas. Em campo foram necessrios

    instrumentos de pesquisa (GPS, bssola, binculos, mquina fotogrfica, tesoura de

    poda, prancheta e papel, barbante, fita mtrica etc.) que auxiliaram na realizao dos

    levantamentos ambientais.

    Tendo em vista a caracterizao da rea de estudo e o cumpr imento dos objetivos

    desta pesquisa, as trs ilhas mencionadas foram pesquisadas em campo para coleta de

    dados primrios dos habitats. As visitas tiveram a durao de um ou mais dias,

    dependendo das condies do tempo e de navegao. Nessas visitas, as ilhas foram

    circundadas via martima e percorridas a p em toda sua extenso.

    A anlise ambiental das ilhas foi feita com base na utilizao de mtodo que

    investiga caractersticas fsicas, biolgicas e histricas dos ambientes. Para tanto, serviu

    como referncia para esta pesquisa o trabalho realizado por Vieitas (1995), procurando

    demonstrar a importncia da conservao desses ambientes. Em seu trabalho, Vieitas faz

    uso de 3 sistemas para analisar diversos critrios: Tans, Knutson e Ubatuba. Na presente

    pesquisa utilizado apenas o ltimo, que se mostra mais apropriado por ter sido

    desenvolvido especificamente para as ilhas do municpio de Ubatuba (SP), cujas

    caractersticas principais se assemelham s das ilhas dos municpios de So Sebastio e

    Ilhabela, uma vez que os trs municpios localizam-se em rea geomorfolgicasemelhante o litoral nordeste de So Paulo.

    Diferentemente do que se costuma buscar ao fazer uso de um sistema de anlise

    ambiental, no se tem o propsito de determinar reas prioritrias para conservao no

    presente trabalho. Mesmo porque a rea de estudo compreende apenas trs ilhas, um

    4 Duas espcies encontradas nessas ilhas so consideradas ameaadas de extino, de acordo com a listado IBAMA de 2003, e uma terceira tem status de quase ameaada e apresenta populaes pequenas (DEn 53.494, 2008).

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    5/16

    5

    nmero bem menos expressivo do que as 23 ilhas que foram objeto de estudo de Vieitas

    (1995). Sendo assim, sero feitas as anlises sugeridas, mas com o objetivo de

    demonstrar a importncia de se conservar as trs ilhas estudadas.

    No Sistema Ubatuba procurou-se padronizar critrios, adotar uma escala nica e

    estabelecer a equivalncia das unidades de valor. Foram utilizados critrios biolgicos,

    fsicos, culturais ou de uso humano e estado de conservao, cujos pesos esto

    embutidos nos valores e refletem sua importncia relativa. De acordo com esse sistema,

    devem ser feitas trs anlises distintas: anlise biolgica e fsica; anlise do estado de

    conservao; anlise cultural e de uso humano (BIODIVERSITY SUPPORT PROGRAM

    apudVIEITAS, 1995).

    Como proposto por Aseredo (2007) em sua pesquisa recente sobre as ilhas de So

    Sebastio, os critrios avaliados foram separados em duas anlises distintas: uma

    biolgica e fsica e outra do estado de conservao, evitando a anlise cultural e de uso

    humano, uma vez que se trata de ilhas pequenas, sem presena de populao residente.

    A seguir so apresentados os critrios utilizados em cada uma das anlises realizadas,

    juntamente com o valor correspondente a cada item.

    Anlise Biolgica e Fsica

    Utilizada para a valorao das ilhas de acordo com caractersticas fsicas e

    biolgicas como tamanho, facilidade de acesso, diversidade de fisionomias vegetais

    naturais e ocorrncia de espcies raras ou ameaadas.

    Tabela 1 Tamanho da ilha

    Tamanho Valor Tamanho Valor

    0,0 - 05 ha 01 50,1 100 ha 06

    5,1 - 10 ha 02 100,1 500ha 08

    10,1 - 50 ha 04 > 500 ha 10

    Tabela 2 Acessibilidade s ilhas

    Acesso (distncia da costa e facilidade de acesso ilha) Valor

    Muito Fcil Ilha com praia 01

    Fcil Ilha prxima, sem praia e com acesso muito fcil pelo costo 03

    Difcil Ilha relativamente prxima, com acesso difcil pelo costo 05

    Muito Difcil Ilha distante, com acesso muito difcil pelo costo 08

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    6/16

    6

    Tabela 3 Diversidade de fisionomias vegetais naturais

    Diversidade de fisionomias vegetais naturais Valor

    Muito Baixa 1 fisionomia 02

    Baixa 2 fisionomias 05

    Intermediria 3 fisionomias 07

    Alta 4 fisionomias ou mais 10

    Tabela 4 Presena de aves nidificando

    Presena de aves nidificando* Valor

    Presena 05

    Ausncia 01

    * Ninhos, mesmo que vazios, tambm sero

    considerados.

    Tabela 5 Ocorrncia de espcie rara ou ameaada

    Ocorrncia de espcie rara ou ameaada Valor

    Ocorre 03

    No ocorre 00

    Anlise do Estado de ConservaoUtilizada para a valorao das ilhas de acordo com caractersticas relacionadas ao

    seu estado de conservao, como o grau de alterao antrpica, o grau de ameaa e a

    porcentagem de habitats originais remanescentes.

    Tabela 6 Grau de alterao antrpica

    Grau de alterao antrpica (presena de vestgios de

    ocupao humana e alteraes visveis na vegetao)Valor

    Nulo Alterao no detectada 10Baixo Algum lixo, fezes, fogueira 07

    Intermedirio reas alteradas de pequena extenso,

    espcies introduzidas06

    IntermedirioTrilhas, reas alteradas de maior extenso,

    espcies introduzidas05

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    7/16

    7

    AltoTodos os itens acima e presena de

    construes em uso02

    Tabela 7 Grau de ameaaGrau de ameaa (existncia de ameaas aos ambientes

    naturais da ilha e intensidade da perturbao)Valor

    Grande Ilha particular 10

    Grande Ilha ocupada de domnio pblico 09

    Moderado Ilha particular 08

    Moderado Ilha de domnio pblico 07

    Pequeno Ilha particular 06

    Pequeno Ilha de domnio pblico 05

    Pequeno Destruio improvvel 04

    Tabela 8 Porcentagem de habitats originais remanescentes

    Porcentagem de habitats originais remanescentes

    ou com alteraes no visveisValor

    Grande (em torno de 90 a 100%) 10

    Intermediria alta (75 a 90%) 08

    Intermediria (50 a 75%) 06

    Baixa (25 a 50%) 04

    Muito baixa (at 25%) 02

    *Avaliao feita com base em fotos areas e observaes em

    campo.

    Conforme o mtodo proposto, os valores obtidos em cada uma das anlises

    devero ser somados e os resultados, inseridos em uma matriz de integrao quepermitir verificar as ilhas prioritrias para a conservao.

    rea de Estudo - litoral de So Paulo

    O litoral paulista pode ser dividido em duas reas distintas, de acordo com sua

    morfologia: o sul, com a presena de depsitos marinhos e fluvio-lagunares quaternrios,

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    8/16

    8

    com extensa plancie entre as escarpas da Serra do Mar e o oceano; e o norte, com

    embasamentos metamrficos pr-cambrianos e Serra do Mar prxima ao oceano.

    Uma subdiviso do litoral paulista em quatro unidades possvel levando -se em

    considerao o avano dos embasamentos pr-cambrianos em direo ao mar (SUGUIO;

    MARTIN, 1978):

    I Cananeia-Iguape,

    II Itanham-Santos,

    III Bertioga-Ilha de So Sebastio,

    IV Ilha de So Sebastio-Ubatuba.

    O Litoral Norte compreende as unidades III e IV, onde no existem ilhas ocenicas,

    apenas ilhas costeiras (Vieitas, 1995).

    O litoral do Estado de So Paulo apresenta, de acordo com a classificao de

    Kppen, o clima do tipo tropical na maior parte de sua extenso, com temperatura mdia

    superior a 18 C no ms mais quente do ano. A precipitao anual varia entre 1600 e

    2000 mm, sendo que no ms mais seco esse valor no inferior a 60 mm. Com veres

    excessivamente midos, esse tipo climtico no apresenta inverno seco, apenas uma

    reduo dos ndices pluviomtricos. Observa-se, no entanto, que a presena da Serra do

    Mar influencia o clima no litoral, uma vez que os ventos midos acabam por formar as

    chamadas chuvas orogrficas na face voltada para o oceano.

    As Florestas Ombrfilas Densas5 Montana e Submontana recobrem

    aproximadamente dois teros (22.458ha) da rea vegetada do municpio de So

    Sebastio (34.604,4ha). A vegetao secundria dessas florestas ocupa

    aproximadamente 20% do municpio (7.010,2ha). A Floresta Ombrfila Densa de Terras

    Baixas e sua vegetao secundria ocupam uma pequena parte de So Sebastio

    (1.806,5ha). Esto presentes tambm formaes arbreas e arbustivas-herbceas sobre

    sedimentos marinhos recentes (3.328,4ha). As formaes vegetais sobre terrenos

    marinhos lodosos ocupam uma rea muito pequena (1,4ha). importante salientar que a

    maior parte do municpio de So Sebastio est inserida no Parque Estadual da Serra do

    Mar, o que contribui para a conservao da Mata Atlntica (INSTITUTO FLORESTAL,2007).

    Localizao Das Ilhas

    Devido aos critrios utilizados para a seleo das formas insulares a serem

    pesquisadas, no presente trabalho concentrou-se a pesquisa no Litoral Norte paulista

    5 As Florestas Ombrfilas Densas so genericamente denominadas Mata Atlntica.

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    9/16

    9

    (Mapa 1). As ilhas do Apara (unidade III), de Itauc e da Prainha (unidade IV)

    localizam-se dentro do permetro formado pelo quadriltero entre as coordenadas

    234940S e 235111S e 452502W e 453231W (Tabela 9). Foram escolhidas ilhas

    pequenas, que so justamente as menos conhecidas e menos estudadas, apresentam

    maior fragilidade e so importantes ambientes para aves marinhas.

    Mapa 1 Localizao da rea de estudo.

    Tabela 9 Localizao das ilhas do Apara, de Itauc

    e da Prainha

    Ilha Latitude Sul Longitude OesteApara**, do 234940 453231

    Itauc*, de 234952 452634

    Prainha**, da 235111 452502

    Fonte: * Dados coletados em campo; ** Google Earth.

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    10/16

    10

    As ilhas que abrigam colnias de aves marinhas no litoral paulista apresentam

    dimenses e distncia da costa variadas. A Ilha da Prainha, em Ilhabela, a menor

    delas, com cerca de 80m de comprimento e 0,23ha de rea. A ilha de Itauc, na Praia

    de Baraqueaba, em So Sebastio, a mais prxima da costa, localizada a poucos

    metros do costo rochoso.

    As Aves do Litoral Paulista

    No litoral do Estado de So Paulo possvel encontrar seis espcies de aves

    marinhas que utilizam algumas das 142 formas insulares para alimentao, reproduo e

    abrigo. Dados de 2004 estimam em 24.000 indivduos a populao total de aves neste

    litoral, somando representantes de Fregata magnificens, Sula leucogaster, Larus

    dominicanus, Thalasseus maximus, T. sandvicensis eurygnatha e Sterna

    hirundinacea , alm de espcies migrantes visitantes das quais no h estimativas

    populacionais.

    Situao Atual das Ilhas

    As ilhas possuem apenas costes rochosos em seu entorno, muitas vezes

    ngremes, o que dificulta, mas no impede o acesso s mesmas. A Ilha da Prainha

    guarda uma vegetao diversa e grande concentrao de ninhos. A Ilha de Itauc

    apresenta rea considervel (0,5ha) e vegetao expressiva, bem como ninhos de Sterna

    hirundinacea (trinta-ris-de-bico-vermelho ). A Ilha do Apara apresenta no somente

    rea expressiva (1ha), como tambm possui ao seu redor uma laje e trs rochedos.

    A seguir so apresentadas as principais caractersticas destas ilhas (Tabela 10) e a

    estimativa de indivduos maduros das aves que as frequentam (Tabela 11).

    Tabela 10 Dados bsicos das ilhas objeto de estudo, que funcionam como ninhais

    para aves marinhas

    Dados

    Ilhas

    Municpio rea

    (ha)

    Distncia

    da costa(km)

    Localizao Legislao

    de proteoL

    atitudeS

    L

    ongitude W

    Prainha Ilhabela 0,23 2,64 2351 4525 T; PE

    Itauc So Sebastio 0,50 0,10 2350 4527 T; APA

    Apara So Sebastio 1,00 0,12 2350 4533 T; APA

    T: Tombamento CONDEPHAAT - SP, Resoluo 40/85; PE: Parque Estadual; APA:

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    11/16

    11

    rea de Proteo Ambiental Marinha.

    Fonte: Campos et al. (2004), modificada.

    Tabela 11 Estimativa de indivduos maduros nas ilhas

    objeto deste estudo, que constituem stio de reproduo de

    aves marinhas

    Aves

    Ilhas

    Sterna

    hirundinacea

    Thalasseus

    sandvicensis

    eurygnatha

    Thalasseus

    maximus

    Prainha 600 150 02

    Apara 500 50

    Itauc 800

    SOMA 1.900 200 02

    Fonte: Campos et al. (2004), modificada.

    Anlise Ambiental

    Tendo em vista o sistema proposto por Vieitas (1995) para a anlise ambiental de

    ilhas do municpio de Ubatuba, que foi adaptado para este trabalho, apresentaremos a

    seguir os resultados alcanados. A anlise fsico-biolgica apresentada na Tabela 12 e

    a do estado de conservao na Tabela 13. Conforme explicado anteriormente, os

    resultados obtidos com as anlises foram comparados em uma matriz de integrao(Tabela 14), que pretende identificar, por meio de uma anlise rpida, as ilhas mais

    importantes para conservao.

    Tabela 12 Anlise Biolgica e Fsica das ilhas do Apara, Itauc e Prainha

    Ilha Tamanho AcessoDiversidade

    de fisionomias

    Aves

    nidificando

    Espcies raras/

    ameaadasTotal

    Apara 1 5 5 5 3 19

    Itauc 1 3 7 5 3 19Prainha 1 3 7 5 3 19

    Legenda

    Tamanho da ilha 0 - 5 ha: 1 50,1 100 ha: 6

    5,1 - 10 ha: 2 100,1 500 ha: 8

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    12/16

    12

    10,1 - 50 ha: 4 > 500 ha: 10

    Acessibilidade

    s ilhas

    Muito Fcil - ilha com praia: 1

    Fcil - ilha prxima, sem praia e com acesso muito fcil pelo

    costo: 3

    Difcil - ilha relativamente prxima, com acesso difcil pelo

    costo: 5

    Muito Difcil - ilha distante, com acesso muito difcil pelo costo:

    8

    Diversidade de

    Fisionomias

    Vegetais

    Naturais

    Baixa - 1 fisionomia: 2

    Intermediria - 2 fisionomias: 5

    Intermediaria - 3 fisionomias: 7

    Alta - 4 fisionomias ou mais: 10

    Presena de

    Aves Nidificando

    Presena: 5

    Ausncia: 1

    Ocorrncia de

    Espcie Rara ou

    Ameaada

    No Ocorre: 0

    Ocorre: 3

    Tabela 13 Anlise do Estado de Conservao das ilhas do Apara, Itauc e Prainha

    IlhaGrau alterao

    antrpica

    Grau ameaaHabitats

    originais (%)

    Total

    Itauc 7 9 10 26

    Apara 5 9 2 16

    Prainha 7 7 10 24

    Legenda

    Grau de

    alterao

    antrpica

    Alterao No Detectada: 10

    Baixo: algum lixo, fezes, fogueira: 7

    Intermedirio: reas alteradas de pequena extenso, espciesintroduzidas: 6

    Intermedirio: trilhas, reas alteradas maior extenso, espcies

    introduzidas: 5

    Alto: todos os itens acima e presena de construes em uso: 2

    Grau de Grande, Ilha Particular: 10

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    13/16

    13

    Ameaa Grande, Ilha Ocupada (ou com visitao intensa) de Domnio

    Pblico: 9

    Moderado, Ilha Particular: 8

    Moderado, Ilha de Domnio Pblico: 7

    Pequeno, Ilha Particular: 6

    Pequeno, Ilha de Domnio Pblico: 5

    Pequeno, Destruio Improvvel: 4

    Porcentagem

    de Habitats

    Originais

    Remanescentes

    Grande (em torno de 90 a 100%): 10

    Intermediria Alta (75 a 90%): 8

    Intermediria (50 a 75%): 6

    Baixa (25 a 50%): 4

    Muito Baixa (at 25%): 2

    Tabela 14 Importncia das Ilhas para Conservao em So Sebastio e Ilhabela

    Biolgicos/

    Fsicos

    Estado de

    conservao

    Alto valor

    (22 a 31 pontos)

    Valor intermedirio

    (13 21 pontos)

    Baixo valor

    (4 12 pontos)

    Aparentemente intacto

    (29 a 30 pontos)

    Relativamente estvel(26 28 pontos)

    Itauc

    Vulnervel

    (21 25 pontos)Prainha

    Ameaado

    (16 20 pontos)Apara

    Crtico

    (10 15 pontos)

    Legenda

    Ilhas prioritrias para conservao

    Ilhas com importncia intermediria para conservao

    Ilhas de baixa prioridade para conservao

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    14/16

    14

    Considerando o mtodo utilizado (Sistema Ubatuba), conclui -se que a Ilha de

    Itauc, entre as trs, a mais importante para conservao seguida das Ilhas da

    Prainha e do Apara. Todas, no entanto, apresentam valores intermedirios no que diz

    respeito aos aspectos biolgicos e fsicos analisados. A diferena entre as Ilhas de

    Itauc e da Prainha pode estar no fato de a segunda ser menos vulnervel, uma vez

    que ela j se encontra dentro de uma categoria de proteo mais restritiva que Itauc

    o que no garante, por si s, a sua preservao. Por outro lado, era esperado que a Ilha

    do Apara fosse considerada a menos prioritria entre as trs, tendo em vista seu atual

    estado de conservao (ameaado).

    Seguindo os critrios adotados, foi possvel perceber que a Ilha do Apara, mesmo

    apresentando o acesso mais difcil entre as trs, no foi poupada da alterao dos

    ambientes originais e, hoje, apresenta uma diversidade de fisionomias menor que Itauc

    e Prainha. A presena de aves nidificando e a ocorrncia de espcies raras ou

    ameaadas algo comum entre as ilhas estudadas.

    No que diz respeito ao estado de conservao das ilhas, verificou -se que as ilhas

    apresentam, de forma geral, um baixo grau de alterao antrpica, com espcies

    introduzidas apenas na Ilha do Apara. A ilha menos ameaada justamente a da

    Prainha, provavelmente por estar inserida em uma Unidade de Conservao. Os habitats

    originais remanescentes recobrem mais de 90% das Ilhas de Itauc e da Prainha,

    situao bastante diferente da encontrada na ilha do Apara, onde a vegetao sofreu

    alteraes significativas em sua composio florstica. A ocorrncia de incndio e a

    interveno antrpica fizeram com que sua vegetao original fosse bastante

    descaracterizada.

    Como j destacamos em outros momentos, a determinao de prioridade para

    conservao em um universo de trs ilhas analisadas no o objetivo desse trabalho. No

    entanto, preciso destacar que o uso de um sistema inadequado pode interferir

    negativamente na pesquisa. Para citar um exemplo, o Sistema Tans entende que o

    tamanho mnimo adequado para a conservao 10ha e considera como valor de uso opotencial da ilha para educao ambiental, possibilitando o acesso por vrios grupos ou

    escolas. Sendo o nosso objetivo pensar a conservao de ambientes insulares de at

    1ha, logo concluiremos que esse sistema no adequado nossa realidade. Por isso

    importante que o pesquisador tenha em mente os objetivos a serem alcanados. S

    assim ele estar apto a avaliar os parmetros a serem utilizados na anlise ambiental.

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    15/16

    15

    Como ressalta Vieitas (1995), o fato de determinada ilha ter sido considerada

    prioritria para conservao no significa que esforos conservacionistas no devam ser

    dirigidos para outras ilhas. Ressalta-se tambm o fato de no ter sido utilizada a

    terminologia no prioritria, mas somente baixa prioridade ao tratar da necessidade de

    conservao.

    No entanto, concordamos com Vieitas (Op. cit.) quando ela afirma que o processo

    de seleo de reas prioritrias para conservao deve sempre utilizar mais de um

    sistema de seleo (Knutson, Tans, entre outros). De acordo com seu raciocnio, somente

    assim possvel julgar, ao observar os resultados finais, a necessidade de considerar

    apenas um ou vrios desses sistemas, pois as concluses podem variar bastante

    dependendo dos critrios utilizados e do peso que cada um ter no balano final da

    anlise.

    Consideraes Finais

    A presente pesquisa mostrou a importncia da pesquisa e da conservao de

    pequenas ilhas do litoral paulista, especialmente daquelas que abrigam ninhais de aves

    marinhas insulares.

    As ilhas do Apara e de Itauc esto inseridas em reas de Proteo Ambiental

    marinhas, que so unidades de uso sustentvel e caracterizam -se por no proteger

    integralmente esses ambientes.

    No podemos esquecer que a criao de uma unidade de conservao apenas o

    incio de um longo trabalho. Aps a sua implantao, necessrio desenvolver um plano

    de gesto e manejo da rea, bem como estruturar uma fiscalizao rigorosa.

    O uso do Sistema Ubatuba possibilitou pensar a importncia de preservar

    ambientes insulares de propores reduzidas que so fundamentais para a reproduo de

    aves marinhas. Percebemos, contudo, que os critrios utilizados para seleo de reas

    prioritrias para conservao devem variar de acordo com os objetivos pretendidos. Como

    vimos, muitas vezes so priorizadas ilhas de grande extenso que permitem a educao

    ambiental, o que no o objetivo da conservao das ilhas ora estudadas.Prope-se, portanto, que sejam pensados mtodos especficos para a anlise

    ambiental de ilhas de pequeno porte. Sugere -se, inclusive, que trabalhos mais especficos

    a respeito da relao entre as ilhas e entre essas e o continente sejam realizados.

  • 8/6/2019 B-095 Diego Emanuel Campos Oliveira

    16/16

    16

    Referncias Bibliogrficas

    ASEREDO, Silvana. Estudos para a criao de Unidades de Conservao da Natureza

    nos ambientes insulares marinhos do municpio de So Sebastio . So Sebastio,

    2007.

    CAMPOS, F. P.; PALUDO, D.; FARIA, P. J. & MARTUSCELLI, P. Aves insulares

    marinhas, residentes e migratrias, do litoral do Estado de So Paulo. In: Aves

    marinhas insulares brasileiras: bioecologia e conservao (ed. J.O. BRANCO). Editora

    da UNIVALI, Itaja, S C. p. 57-82. 2004.

    FURLAN, S. A. As ilhas do litoral paulista: turismo e reas protegidas. In: DIEGUES, A.

    C. (org.). Ilhas e sociedades insulares. So Paulo: NAPAUB-USP, 1997. p. 37 a 66.

    IBAMA, Lista das Espcies da Fauna Brasileira Ameaada de Extino . Anexo Instruo

    Normativa n3, de 27 de maio de 2003, do Ministrio do Meio Ambiente. Braslia:

    MMA. 2003.

    INSTITUTO FLORESTAL. Inventrio florestal da vegetao natural do Estado de So

    Paulo: Regies Administrativas de So Jos dos Campos (Litoral), Baixada Santista e

    Registro. So Paulo: Secretaria de Estado do Meio Ambiente: Imprensa Oficial do

    Estado de So Paulo, 2007.

    OLIVEIRA, R.C.R.; ASEREDO, S.; CAMPOS, F.P. CAMPOS, F.R.; FRANCINI, C.L.;

    HAYASHI, A.T. P. Diagnstico Ambiental e Propostas de Proteo para Ilhas

    Costeiras do Sudeste Brasileiro, Estado de So Paulo, Brasil. II Congreso

    Latinoamericano de Parques Nacionales y otras reas Protegidas . Bariloche, 2007.

    SUGUIO, K.; MARTIN, L. INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON COASTAL EVOLUTION

    ON QUATERNARY, So Paulo, 1978. Formaes quaternrias marinhas do litoral

    paulista e sul fluminense. So Paulo, The Brazilian National Working Group For The

    IGCP, Project 61 / IG-USP / Sociedade Brasileira de Geologia, 1978. 55p.

    VIEITAS, Claudia de Figueiredo. Anlise ambiental das Ilhas da Regio de Ubatuba (SP)

    e Proposta de Manejo para a Ilha do Mar Virado . Dissertao (Mestrado em Cincia

    Ambiental) Universidade de So Paulo: So Paulo, 1995. 130 p.