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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA AZENAIDE AUGUSTO DE BARROS A POESIA NA SALA DE AULA JOÃO PESSOA-PB OUTUBRO DE 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA

AZENAIDE AUGUSTO DE BARROS

A POESIA NA SALA DE AULA

JOÃO PESSOA-PB OUTUBRO DE 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE LETRAS A DISTÂNCIA

Professora – Maria Alice Serrano e Sônia Brandão

AZENAIDE AUGUSTO DE BARROS

A POESIA NA SALA DE AULA

JOÃO PESSOA-PB OUTUBRO DE 2013

Artigo apresentado ao Curso de Letras a Distância, da Universidade Federal da Paraíba como requisito para obtenção do grau de Licenciado em Letras, orientado pela Profa. Dra. Maria Regina Baracuhy Leite.

Profª. Drª. Maria Regina Baracuhy Leite - Orientadora

A POESIA NA SALA DE AULA

Data da aprovação: _17/ 12/ 20013 Banca Examinadora _____________________________________________________ Profº Drº Maria Regina Baracuhy Leite _____________________________________________________

Profº Dr° Marluce Pereira da Silva

_____________________________________________________ Profº Drº Iara Martins

AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, a Deus pai todo poderoso, força Superior que rege e impulsiona minha vida, por se fazer sempre presente, iluminando e guiando os meus passos e me dando forças para jamais desistir diante dos obstáculos. À minha querida idolatrada mãe, que já não está entre nós, agradeço pela vida, pela preocupação e dedicação na construção do meu caráter e pelo incentivo constante que ela sempre me deu. Agradeço especialmente ao meu irmão Luiz, pelo auxílio, sendo para mim, um inestimável suporte durante este curso, pois deixou seu emprego em São Paulo para cuidar de mim. Depois da perda da minha querida mãe, ele é o meu tudo, meu pai, minha mãe, meu irmão, enfim, é meu anjo que cuida de mim. Amo-Te irmão. A minha irmã Celia, que compartilhou comigo angústias, tristeza, desafios, e conquistas, me apoiando em todo momento da minha vida. A minha ex- tutora amiga Suzete Estevão que me apoiou nas horas difíceis do curso. Ao ex-prefeito Hércules Pessoa e Ercilene Azevedo, porque estou concluindo este curso graças a eles terem trazido essa faculdade para Pitimbu. Aos meus colegas, do curso, que compartilharam comigo momentos de angústias, desafios e conquistas a cada dia. Às queridas e queridos professores de Letras e de Educação, que fizeram parte de minha formação no curso de Letras e que me incentivaram a continuar, mesmo diante das adversidades da vida. Em especial, ao professor Pedro e a professora, Keila (Tutora) e Lucienne Claudete Espindola, que me ajudaram muito no meu crescimento Acadêmico; À professora Maria Regina, que, com empenho, dedicação e competência, orientou-me neste importante trabalho. A todas e todos que contribuíram, diretamente ou indiretamente, para a realização dessa pesquisa, deixo aqui o meu abraço fraterno.

RESUMO

A leitura e a produção de texto são atividades indispensáveis ao processo ensino-aprendizagem, bem como para a inclusão dos indivíduos na sociedade. É por meio delas que se desenvolve a habilidade discursiva, a comunicação e a apropriação do conhecimento possibilitando, desta forma, transformá-lo e inová-lo.O presente estudo trata de uma análise da utilização do gênero textual poesia na prática da leitura e produção de texto em sala de aula. Para compreensão dos aspectos que envolvem o tema, foram abordadas questões sobre a literatura infantil e a poesia na escola; alguns aspectos históricos dos gêneros discursivos/textuais, sobretudo a poesia na escola. A metodologia de investigação envolveu a pesquisa bibliográfica por meio das obras de Bakhtin (2003), Bazerman (2005), Brasil (1979), Bezerra (2002), Coelho (2000), Jolibert (1994), Marcuschi (2002), MEC/Brasil (1998), Schneuwly (2004), Soares (1993), Todorov (1980) e Zilberman (2005) para fundamentar o assunto. A pesquisa exploratória descritiva foi realizada na quinta série do ensino fundamental da escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Durval Guedes no município de Acaú. Verificou-se que o professor se torna um mediador dos conhecimentos (do fazer literário), vez que ele é responsável por fazer a conexão entre o aluno e poesia. Portanto, é necessária a produção de atividades bem elaboradas e eficientes que solucionem problemas tanto de ensino como de aprendizagem.

Palavras-chave: Prática de Leitura. Gênero textual poesia. Ensino Fundamental.

INTRODUÇÃO

A leitura e a produção de texto são atividades indispensáveis ao processo ensino aprendizagem, bem como para a inclusão dos indivíduos na sociedade. É por meio delas que se desenvolve a habilidade discursiva, a comunicação e a apropriação do conhecimento, possibilitando, desta forma, transformá-lo e inová-lo. Trata-se de atividades que fazem parte do nosso cotidiano. Segundo Bakhtin (2003, p.279):

A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana (...) Cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos de gêneros do discurso.

Trabalhar os gêneros textuais na sala de aula possibilita ao aluno criar uma identidade própria na produção da escrita e desenvolvê-la de forma a passar uma mensagem. A variedade e a riqueza dos gêneros textuais são infinitas, pois são inesgotáveis as esferas da atividade humana, dentre as quais se inclui a leitura. A aprendizagem desta a partir dos gêneros é importante, porque os gêneros revelam a língua em uso, em funcionamento, com a qual o aluno certamente irá se identificar.

Este estudo se centrará no gênero discursivo poesia. Tal escolha se justifica pelo fato de o uso da poesia, nos processos da leitura e produção textual, possibilitar ao professor, diferente de alguns outros gêneros como o acadêmico (resumo, resenha, palestra, etc.), a associação com a música, com fortes raízes regionais e a valorização da cultura nordestina contribuindo, desta forma, para a aprendizagem do aluno, tendo o professor como facilitador deste processo.

Este trabalho tem como objetivo, analisar práticas pedagógicas que envolvam o gênero textual poesia no exercício da produção de textos por meio da discussão dos conceitos relativos ao tema e da funcionalidade do gênero poesia na prática de leitura em sala de aula, bem como da investigação de práticas pedagógicas que utilizem a poesia no exercício da leitura e da produção de textos.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho foi a pesquisa bibliográfica por meio de livros, revistas, estudos, Internet, entre outros para fundamentar e analisar os aspectos relativos ao tema.

A pesquisa exploratória descritiva foi utilizada para investigar a percepção dos alunos do ensino fundamental sobre o gênero poesia. A investigação foi realizada na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Durval Guedes no município de Acaú, com a aplicação de questionário semi-estruturado ao professor dos 25 alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental.

Os resultados foram apresentados em quadros seguidos de análises e em forma de considerações finais sobre o assunto, tendo como base as obras investigadas.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. A literatura infantil e a poesia na escola: alguns aspectos históricos

A história da literatura infantil se iniciou na Europa no século XVIII. Neste período, diante das transformações sociais, entre as quais as conquistas trabalhistas e a crescente urbanização provocada pelo êxodo rural, a criança passou a ser vista de forma diferente pela sociedade, que passou a respeitar a infância como uma fase de desenvolvimento e, foi a partir daí, que as obras literárias dedicadas às crianças começaram a surgir e foram se consolidando nos períodos seguintes (ZILBERMAN, 2005).

A literatura infantil na escola tem sua origem relacionada à educação da criança na sociedade moderna. A interface entre poesia e escola teve seu início marcado pelo conservadorismo da época, sendo os temas apresentados na literatura infantil, muitas vezes, relacionados aos valores morais, religiosos e cívicos. (ZILBERMAN, 2005).

Segundo Coelho (2000), a poesia infantil nasceu relacionada à tarefa educativa, tendo como intuito formar bons cidadãos, por isso a

poesia estava presente em festividades familiares e patrióticas, expressando sentimentalismo, ensinando valores e transmitindo conteúdos que deveriam ser imitados. Ainda segundo esse autor, até a década de 60, as poesias infantis não refletiam a realidade da vida das crianças e se moldavam pela perspectiva de transmitir a elas, os valores morais e cívicos considerados adequados pela sociedade. Somente a partir desta década surgiu a poesia, dando origem à sonoridade e à criatividade, o que permitiu resgatar as cantigas de rodas, de ninar, parlendas, entre outros.

As características modernistas baseadas na linguagem verbal, lúdica, visual, só atingiram a literatura infantil na metade do século XX, fazendo surgir o humor, a leveza, os ritmos, a universalidade, como características das obras literárias que passaram a levar em conta os aspectos do cotidiano (COELHO, 2000).

No Brasil, segundo Zilberman (2005), a poesia esteve presente desde o surgimento da literatura infantil no século XX. No entanto, somente na década de 20, ela aparece de forma expressiva nos livros dedicados às crianças, destacando técnicas literárias. Ainda segundo a autora, muitos poetas dedicaram trabalhos às crianças motivados pelo lúdico, pela relação entre escrever e brincar, propiciando a difusão da poesia na literatura infantil a partir da década de 80.

No final da década de 90, com a divulgação e a implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), o estudo dos gêneros discursivos foi visto como uma prática indiscutível para o aprimoramento das atividades comunicativas dentro e fora de sala de aula (MEC, 1998). Trata-se de uma forma de exercitar a prática social da leitura e da escrita no local onde o aluno deve desenvolver as competências comunicativas e é neste contexto que a poesia será tratada neste trabalho. 2.2. O gênero discursivo poesia

A palavra “poesia” advém do grego poiesis que significa criar, fazer. A poesia é considerada a forma de expressão linguística

relacionada à evocação das sensações, e emoções. É um gênero marcado por sons e ritmos que se unem de forma harmônica e, segundo diversos autores, seu surgimento está ligado à música.

Historicamente, a poesia sempre esteve presente em todos os momentos da humanidade, desde os cantos líricos de Homero na Grécia, mais tarde denominados de poesia lírica. Neste período a poesia promoveu o encontro entre a letra (o poema) e o som. Era marcada por longas narrativas feitas pelos trovadores, relatando fatos heroicos, a exemplo das obras Ilíada e Odisseia (SOARES, 1993).

Depois desse período, a poesia passou por momentos de transformação, nos quais o vínculo entre poema e som se tornou mais intenso, a música passou a ser escrita em pautas e a poesia a ser concebida por meios gramaticais, ganhando, mais tarde, fundamentos e regras próprias.

Conceitualmente, de modo geral, entende-se poesia e poema como sinônimos, entretanto, a definição técnica se faz diferente, sendo denominada poesia, o gênero de composição poética e poema, a obra deste gênero, ou seja, o texto onde se realiza a poesia.

[...] uma manifestação cultural, criativa, expressiva do homem. Não se trata de um 'estado emotivo', do deslumbre de um pôr-do-sol ou de uma dor-de-cotovelo; é muito mais do que isso, é uma forma de conhecimento intuitivo, nunca podendo ser confundido o termo poesia com outro correlato: o poema. Poema é o "objeto" poético, o texto onde a poesia se realiza, é uma forma, como o soneto que tem dois quartetos e dois tercetos, ou quatorze versos juntos, como é conhecido o soneto inglês. Um poema seria distinto de um texto ou estrofes. Quando essa nomenclatura definitiva é eliminada, passando um texto a ser apresentado em forma de linhas corridas, como usualmente se conhece a prosa, então se pode falar em poema-em-prosa, desde que tal texto (numa identificação sumária e mecânica) apresente um mundo mais "poético", ou seja, mais expressivo, menos referente à realidade. A distinção se torna por vezes complexa. (...) a poesia pode estar presente quer no poema que é feito com um certo número de versos, quer num texto em prosa, este adquirindo a qualidade poema-em-prosa (BRASIL, 1979, p.73).

No que se refere ao gênero, a palavra tem origem no latim Generu, que significa família; ou seja, agrupamento por

características comuns. Desta forma, entendem-se gêneros literários aqueles agrupados por características semelhantes (SOARES, 1993).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa definem gênero seguindo a perspectiva bakhtiniana, quando os designa como “[...] formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura” (MEC, 1998).

Bakhtin (2003, p. 261-262) afirma:

[...] todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana, o que, é claro, não contradiz a unidade nacional de uma língua. O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominados gêneros do discurso.

[...] em cada campo existem e são empregados gêneros que correspondem às condições específicas de dado campo; é a esses gêneros que correspondem determinados estilos. Uma determinada função (científica, técnica, publicística, oficial, cotidiana) e determinadas condições de comunicação discursiva, específicas de cada campo, geram determinados gêneros, isto é, determinados tipos de enunciados estilísticos, temáticos e composicionais relativamente estáveis (BAKHTIN, 2003, p. 266).

Baseado no pensamento do autor, pode-se considerar gênero discursivo como aqueles presentes em nossa vida cotidiana apresentando características sócio-comunicativas definidas pelo conteúdo composicional, tema e estilo.

Bakhtin (2003) afirma que o gênero discursivo pode ser primário e secundário. Para o autor, o primário é constituído por enunciados que têm relação imediata com a realidade como a conversação cotidiana, um bilhete, enquanto o gênero secundário requer uma elaboração estética

mais complexa como o romance, o conto, a crônica, o teatro, a poesia. Os gêneros primários e secundários, muitas vezes, se interpenetram, por exemplo, a réplica de uma conversa cotidiana em um romance. Desta forma, os gêneros secundários incorporam os primários e os transformam e, desta relação, nasce o principio do diálogo, da linguagem. Os gêneros discursivos existem em número infinito.

Quanto ao gênero discursivo poesia, objeto deste trabalho, Soares (1993), afirma que a primeira separação dessas obras foi realizada por Platão da seguinte forma: tragédia e comédia; poesia lírica ou ditirambo e poesia épica. Ele acreditava as características de cada gênero eram rigorosamente diferentes e que não havia influencia de um sobre o outro e esta concepção, assim como a divisão, foi aceita até o renascimento, quando os estudiosos e autores passaram a acreditar que os gêneros eram comunicantes. Daí o aparecimento de uma nova divisão do gênero poesia, mais adequados às formas de expressão, podendo ocorrer em prosa ou em verso e dividido em: lírica, marcado por expressar sentimentos pessoais; épico, que se vale da narrativa ou recitação para contar fatos épicos e dramático, caracterizado pelo fato da história ser contada pela fala dos personagens.

As características linguísticas da poesia se referem à forma da escrita em versos distribuídos de forma particular, caracterizada por linhas curtas agrupadas em estrofes que formam blocos circulados por espaços em branco que por vezes aparecem entre os versos. Dentre os recursos utilizados estão a rima e o ritmo. A rima é frequente, mas não é obrigatória. Caracteriza pela repetição de sons no final ou no interior dos versos, situando-se na mesma posição ou em posições diferentes no poema.

Enquanto o ritmo é o resultado do movimento que ocorre pela alternância das silabas tônicas e átonas, pela aliteração ou assonância, pela repetição de versos ou de palavras, pelo refrão e pelas rimas. Outras características são: o uso de trocadilhos com o uso de palavras de significados diferentes e a repetição de sons semelhantes ou iguais e as onomatopeias (SCHNEUWLY, 2004).

Por esta musicalidade, resultado das características descritas, a poesia é considerada por diversos autores como um gênero muito propício para o aprendizado e o desenvolvimento da leitura e da escrita na infância. “O poema infantil é um gênero textual cuja linguagem é fortemente entrelaçada com o imaginário em todas as dimensões dessa palavra” (JOLIBERT 1994, p. 8). Acredita-se que neste gênero, estão presentes o lúdico, a sonoridade e a estética capazes de estimular a criatividade, de divertir e entreter as crianças.

2.3 Os gêneros discursivos na escola

Atualmente, quando se trata do ensino de língua, o que se busca é uma prática escolar que coloque em primeiro plano a interação verbal desenvolvida por meio de textos orais e escritos, tratando-se da construção dessa interação nas práticas sociais. As discussões, estudos e produções destinadas ao ensino de língua apontam neste sentido, de um novo modo, ou modelo de conceber o produto da atividade verbal com base, principalmente, na obra de Mikhail Bakhtin.

Neste contexto, promover o estudo dos gêneros textuais na escola passou a ser visto e entendido como promover uma extensão do espaço destinado as relações sociais e do universo de textos orais e escritos que fazem parte do mesmo.

Não há dúvida que as teorias linguísticas representam ao longo da história uma busca pela compreensão da natureza humana, no entanto, quando se trata dos gêneros discursivos, o que se espera é a compreensão da linguagem com vistas à comunicação, à inter-relação notadamente pela linguagem verbal.

(...) os alunos, ao terminarem seus estudos, precisam estar aptos a produzir muitas e diferentes formas da escrita. Embora todas as formas da escrita que os alunos poderiam precisar sejam impossíveis de antecipar, os alunos precisam de habilidade e flexibilidade suficientes para se adaptar às situações variantes da escrita (BAZERMAN, 2005, p.16).

Essa discussão supõe a existência de um sujeito em contato com outro e a comunicação entre eles resulta em diferentes necessidades de

interação. Permeando essa ideia, Bakhtin (2000) considera que a variedade dos gêneros orais e escritos é infinita e vai se diferenciando, se moldando e se ampliando à medida que a esfera da atividade humana se amplia e se torna mais complexa com o uso de novas tecnologias.

Frente ao mundo contemporâneo, a escola torna-se responsável pelo desenvolvimento das competências comunicativas, por isso trabalha o reconhecimento dos gêneros textuais tendo em vista reconhecê-los e identificá-los em suas formas que, consistem, na verdade, em diferentes formas discursivas presentes na sociedade. Por esta característica, os gêneros encontram-se em constante mobilidade, adaptando-se aos momentos da sociedade.

A elaboração dos PCNs levou à mudança de posicionamento com relação à leitura e produção de textos em sala de aula. Até então, as atividades desenvolvidas pelos alunos eram baseadas em análises gramaticais desenvolvidas por meio de exercícios e situações pré-determinadas. A leitura era direcionada à identificação das rimas, estrofes e versos, levando muitas vezes, ao desinteresse do aluno em aprendê-la.

Atualmente o papel do professor em sala é bem mais amplo. Cabe a ele, oportunizar, por meio das práticas pedagógicas como o uso dos gêneros discursivos, a produção por parte dos alunos e o estímulo à leitura – conjunto fundamental para desenvolver a boa comunicação.

3 METODOLOGIA

A metodologia de desenvolvimento do trabalho é um caminho planejado para a produção do conhecimento. No presente estudo, ela envolveu a pesquisa bibliográfica para compreender os assuntos relativos ao tema e a pesquisa exploratória descritiva para investigar a percepção dos alunos do ensino fundamental sobre o gênero poesia.

Fachin (1993, p.102) descreve a pesquisa bibliográfica como: “o conjunto de conhecimentos reunidos nas obras, tendo como base fundamental conduzir o leitor a determinado assunto e à produção,

coleção, armazenamento, reprodução, utilização e comunicação das informações coletadas para o desempenho da pesquisa”.

A pesquisa exploratória possibilita maior familiaridade entre o pesquisador e o tema pesquisado. Neste sentido, o método passa a consistir num processo de sondagem que leva ao aprimoramento das ideias acerca do assunto.

A pesquisa descritiva possibilita descrever as características de uma população ou de um fenômeno e estabelece a relação entre as variáveis no objeto de estudo analisado.

Gil (1991 apud BENEZES, 2005) considera a pesquisa exploratória e a descritiva da seguinte forma:

a) Pesquisa exploratória: visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso; b) Pesquisa descritiva: visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento.

O universo da pesquisa de campo foi a turma do 6º ano do Ensino Fundamental da E.E.E F. M. Durval Guedes, no Município de Acaú, totalizando 25 alunos com idade entre 11 e 13 anos, tendo em sua amostra dados não probabilísticos, ou seja, uma amostra por acessibilidade que inclui os envolvidos no processo, os sujeitos, entendidos por Vergara (2006, p.53) como “[...] as pessoas que fornecerão os dados de que você precisa” e, neste caso, foi o professor de português dos 25 alunos da referida série.

A coleta dos dados será realizada nos dias 24 e 25 de outubro no horário da aula (das 7 às 12h), por meio da aplicação de um questionário semi-estruturado contendo 10 questões com a presença do pesquisador.

A pesquisa foi realizada durante as aulas de português, no momento da realização de uma atividade envolvendo a leitura e produção de textos com o gênero poesia. O desenvolvimento da atividade assim como a aplicação da pesquisa foi observado e fazem parte da análise dos resultados.

O tratamento dos dados será através da abordagem qualitativa, devido à necessidade de análises indutivas para investigar a percepção dos alunos. Para Silva e Benezes (2005, p.28), a pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.

A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados. Para embasar esta pesquisa, foi imprescindível levantar alguns dados sobre a prática da leitura de poesia em sala de aula para a formação de leitores competentes. Para tanto, foi de grande valia buscar informações através de questionário sobre o tema em questão, e para elucidar tal importância foi feita uma minuciosa análise sobre as informações obtidas. Como subsídio foi feita uma pesquisa de campo com o seguinte sujeito: Entrevistado Professor do 6º ano do Ensino Fundamental,

formado em Letras.

Tabela 1

Ao entrevistado foi aplicado um questionário contendo 10 questões referentes à leitura e a literatura em forma de poesia e a sua relação na aprendizagem dos educandos, bem como a contribuição da poesia para a formação do aluno leitor.

4 ANÁLISE DE DADOS

4.1 Atividades Literárias – O Gênero Poesia

A fim de verificar as práticas de leitura literária na sala de aula, foi aplicado um questionário com o professor de Língua Portuguesa do 6º ano do Ensino Fundamental. O questionário constou das seguintes perguntas:

Questão 01: Você faz uso da poesia em suas aulas de leitura?

Questão 02: Como você aplica as aulas de leitura com poesia?

Questão 03: Você acredita que a poesia ajuda na aprendizagem dos alunos?

Questão 04: Que contribuições a leitura de poesia pode trazer para a aprendizagem?

Questão 05: Onde são aplicadas as aulas de leitura de poesia?

Questão 06: Você gosta de poesia ou apenas é parte da grade curricular?

Questão 07: Você incentiva a prática de leitura poética em casa?

Questão 08: Qual o tipo de poesia mais trabalhada em sala de aula?

Questão 09: Quais elementos da poesia seus alunos já reconhecem?

Questão 10: Você incentiva seus alunos a escrever poesias?

Levando em consideração a resposta da primeira pergunta do professor: “Sim, pelo menos uma vez na semana, fazemos leitura poética em sala de aula, preferencialmente na 6ª feira, para descontrair”. Pode-se perceber que o professor vê a poesia como uma atividade para descontração, na verdade, como um dia de descanso, para a prática de uma atividade lúdica, devido a uma semana tão abarrotada de atividades obrigatórias.

Analisando a resposta da segunda pergunta do professor entrevistado: “Realizo atividades lúdicas envolvendo a prática de leitura (sarau), debates que enfoquem a fala, a escrita e o pensar literário, oferecendo oportunidades para o aluno expressar, indagar e expor suas opiniões”. Percebe-se que as atividades desenvolvidas por esse professor na prática de leitura poética dão espaço para o aluno expor suas opiniões, proporcionando ao aluno um pensar reflexivo, questionador, capaz de interpretar e buscar explicações. Para o entrevistado, a poesia deve ser trabalhada em atividades de literatura e recreação, bem como em todos os eixos visando principalmente desenvolver a criatividade, a criticidade e a imaginação dos alunos. A colocação do professor em relação à terceira pergunta foi a seguinte: “Sim, pois os alunos participam com bastante ânimo, interagindo mutuamente, dialogando sobre os textos, fazendo questionamento a respeito das leituras”. Nesse ponto de vista, segundo o professor, o aluno desenvolve as atividades buscando de forma natural o aprendizado, fazendo questionamentos, e sentindo prazer em descobrir o universo poético. Referindo-se à quarta pergunta, o professor respondeu que “são inúmeras as contribuições e a principal dentre elas é o espaço para o aluno interagir, fazendo participar de forma efetiva e crítica”. Analisando esse contexto, vê-se que o professor, promove um ambiente dialógico durante as aulas de leitura poética, beneficiando o desenvolvimento a criticidade, bem como a criatividade do aluno. Quanto à quinta questão, o professor assegura que: “Realizo minhas atividades ora na biblioteca, onde meus alunos podem ter acesso a qualquer livro que bem queiram, ora no pátio da escola, para um momento mais lúdico, mesmo”. Percebe-se, aqui, a interatividade do professor com seus alunos, a liberdade com a qual ele lida com a situação de tirar seus alunos da sala de aula, para a prática de uma aula mais descontraída. Na sexta questão, o professor entrevistado, afirma que “sim, que gosta de poesia e que mesmo que as aulas de leitura não fizessem parte da grade curricular, mesmo assim pelo menos uma vez a cada duas

semanas realizaria com seus alunos a prática de leitura poética”. O que se vê nessa resposta é um professor não só amante da poesia em si, mas amante da leitura. Um agente literário, que vê nessa prática uma fuga da realidade para um mundo de sonhos e fantasias, um mundo que é capaz de transportá-lo para as mais diversas histórias vividas. Com relação à sétima questão, o professor diz incentivar, sim, a leitura como uma prática que também pode e deve ser feita em casa, porém sabe da dificuldade de alguns alunos, pois nem todos têm livros de poesias em suas casas, resolvendo, então, recorrer aos empréstimos da biblioteca da escola. Nota-se que o professor entrevistado não desiste, diante das adversidades encontradas, mesmo assim ele persiste em incentivar a leitura, mostrando ao aluno que o fato de o mesmo não ter livros poéticos em casa não fará dele leitor apenas de sala de aula, pelo contrário o faz uso nesse momento do recurso de se ter uma biblioteca na escola, incentivando ao aluno a buscar sua própria literatura. Levando em consideração o que afirmado pelo entrevistado na oitava questão temos: “Pela facilidade na hora da leitura, e, principalmente, pela facilidade no entendimento do enredo do texto, prefiro trabalhar com poesia de cordel e com alguns sonetos”. O que se observa aqui é uma preocupação por parte do professor entrevistado, por se tratar de uma turma de 6º ano, ainda iniciantes na arte da poesia, o professor se atem a trabalhar com textos literários de maior facilidade na compreensão, assim, como também, textos de leituras mais prazerosas devido à cadência das rimas. De acordo a resposta da nona pergunta, o professor é enfático, “não trabalho poesia em sala de aula meramente para buscar seus elementos, para tornar esse dia de aula (a 6ª feira) mais prazeroso, mais divertido e menos cansativo. No entanto, alguns alunos já reconhecem quanto se trata de um texto com rimas ou não”. Nota-se que o professor, mesmo sem que, por sua parte, haja a cobrança, consegue atingir o objetivo não só da concentração na hora da leitura, mas da percepção quanto a alguns elementos, dentre eles a rima.

Veja-se o que diz o professor entrevistado quanto à décima pergunta: “Não de forma metódica, para ganhar pontos, estrelinhas, ou mesmo valendo notas, deixo-os à vontade para escrever quando, como e sobre o que quiserem, ou seja, o grande desafio aqui é escrever pelo prazer de escrever. E confesso, uma vez ou outra, acontece umas poesias bem interessantes”. Aqui, o que se vê são reforços positivos, a interação entre professor e aluno é clara, chegando ao ponto de não haver cobrança por determinadas atividades, no entanto, mesmo assim tais atividades fluem naturalmente deixando a todos muito satisfeitos.

Dessa forma, a escola tem uma grande parcela de responsabilidade para com o incentivo à leitura, cabendo promover hábitos nos adolescentes e crianças que irão tomar consciência que a leitura amplia o conhecimento, valorizando-o em seu cotidiano.

Durante a nossa vida temos a necessidade de adquirir conhecimento e uma boa parte dessa bagagem está na leitura que possibilita ao indivíduo uma posição crítica, para poder questionar nos devidos momentos, duvidar quando necessário e expor suas opiniões sem medo, pois a leitura permite uma certa interpretação do mundo a sua volta.

Diante dessa responsabilidade, cabe também aos profissionais de educação, uma melhor atuação em sala de aula, tratando o aluno como um sujeito interativo capaz de construir sua aprendizagem, que se dá no contexto entre aluno e professor, aluno/aluno, e com uma leitura interessante torna-se mais agradável. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A poesia na escola é uma forma atraente de aprendizagem e que gera conhecimento significativo. O principal questionamento dessa pesquisa foi referente à contribuição do gênero poesia na aprendizagem dos alunos do ensino fundamental. Para responder a essa indagação, recorreu-se a autores que primeiramente tratassem assuntos referentes à literatura. E em seguida, partiu-se para uma análise de dados a partir de uma pesquisa de campo.

Constatou-se que muito mais do que o professor, a instituição de ensino deve ser um espaço que proporcione momentos especiais à leitura, especificamente. Quando o todo tem um movimento direcionado para determinada finalidade, neste caso a leitura, os objetivos se realizam de fato. E fluem de forma natural e efetiva. Nesse prisma, o que se sabe é que o professor se torna um mediador dos conhecimentos (do fazer literário), ele é responsável por fazer a conexão entre o aluno e poesia. Para tal intenção é necessária a produção de atividades bem elaboradas e eficientes que solucionem problemas tanto de ensino como de aprendizagem. Durante o processo de pesquisa, com foco na questão da leitura poética prazerosa na escola, foi possível perceber que a leitura não precisa ser necessária para ser interessante. Pode-se afirmar isso porque ao longo da construção desta monografia a necessidade de ler muitos livros foi constante, porém não foram necessariamente leituras prazerosas. Sobretudo, esta pesquisa deixou clara que quando alguém tem de ler algo obrigatoriamente a leitura por si só perde seu encanto, é muito mais interessante a leitura desatrelada à obrigação de ler.. Ao construir este estudo não se buscou trazer “fórmulas mágicas” para fazer dos sujeitos, leitores instantâneos, como se em um encanto se formasse toda uma sociedade leitora. Ao contrário, o que se espera com esta monografia é oferecer possibilidades, práticas e maneiras de fazer, para nos aproximar do mundo da leitura. Em suma, acredita-se que ao possibilitar ao aluno que este crie a atitude de ler com prazer, independente do texto que se lê, porém de forma consciente e crítica, ele a fará espontaneamente, sem a considerar como uma tarefa árdua e difícil de realizar. Porém vale ressaltar que apesar dos estudos para essa pesquisa indicarem que o objetivo principal é a formação leitora do aluno, em sua maioria, há a investigação do professor e seu modo de ensinar de forma camuflada. Este estudo demonstra resultados comuns sobre a problemática do docente de Língua Portuguesa, ou seja, a leitura de textos poéticos existe, é fato, porém apesar de tudo sair “perfeitinho” o que se nota é que pouco ou de fato não há nenhuma abordagem quanto

ao conhecimento do texto poético (a título de estudo de seus elementos, não da prática textual), contudo verifica-se que em raros momentos demonstraram o que o aluno compreendeu, ou ainda, ao término da leitura como este chegou à determinada interpretação, ou qual o sentido daquele texto na sua vida social. Nada disso serve de questionamento para uma próxima aula. Ao contrário, a leitura poética é meramente leitura para descontração e favorecimento para aprendizagem de outros conteúdos curriculares. Em meio a tantas fantasias quanto à prática de leitura o sonho de Rubem Alves parece ser o mais coerente para pedagogicamente se alimentar, que seria o sonho de ver as escolas almejarem apenas uma única coisa, o prazer de ler, queria que essa fosse a primazia de todo e qualquer espaço formador. A partir disto é fácil acreditar que se esse sonho fosse real, a aprendizagem da leitura por prazer seria uma realidade e não uma mera utopia. REFERÊNCIAS

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