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Awêre para Kisele “Que tudo dê certo para aqueles que ainda não têm nome”. Painel das Bases Julho 2013

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A ideia do Painel das Bases surgiu como um contraponto ao painel de Alto Nível da ONU sobre a Agenda de Desenvolvimento pós-2015: pessoas que sabem o que é a miséria e que conhecem na prática o resultado de políticas e programas de desenvolvimento precisam ser ouvidas. Mas logo no início do processo entendemos que, mais do que ouvidas, deveriam realmente indicar os rumos a serem tomados, tendo reconhecida a incrível capacidade que têm de resistir e gerar VIDA aonde tudo parece conduzir à morte. Essa constatação teve implicações diretas sob a forma e o conteúdo do processo. Não podia ser mais uma “consulta” utilizando os padrões, conceitos e definições em voga na comunidade internacional. Se queremos que pessoas diversas, que não se conhecem, que nem sempre encontram na palavra falada seu meio de expressão e que em muitos casos não estão habituadas ao ritmo de reuniões formais e discussões conceituais, devemos estar prontos para repensar nossas práticas.

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Awêre para Kisele

“Que tudo dê certo para aqueles que ainda não têm nome”.

Painel das Bases

Julho 2013

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Organização e Realizalição:

Painelistas: Ben Hur Alves Flores | Claudia Barroso da Silva | Jamopoty Tupinambá | Maria Antonieta Guido da Silva | Maria Arlete Maciel Furtado | Pamela Souza | Potyra Tê Tupinambá | Rafael Nascimento Miranda - Fei-jão | Raquel Monteiro Florentino | Raull Santiago | Robson Borges da Silva

Coordenação e facilitação:Alan Brum | Mariana GuerraRegistro e documentação:Eduardo Simas | Lana Souza | Pamela SouzaLogística:Carolina Guerra | Helcimar LopezRedação do documento:Eduardo Simas

Design e diagramação:Gustavo L. AlvesDesenho da capa:Ruam Florentino MonteiroRevisão:Eliane Simas

FIcha Técnica:

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Awêre para Kisile

A ideia do Painel das Bases surgiu como um contraponto ao painel de Alto Nível da ONU sobre a Agenda de Desenvolvi-mento pós-2015: pessoas que sabem o que é a miséria e que conhecem na prática o resultado de políticas e programas

de desenvolvimento precisam ser ouvidas.

Mas logo no início do processo entendemos que, mais do que ouvidas, deveriam realmente indicar os rumos a serem tomados, tendo reconhecida a incrível capacidade que têm de resistir e gerar VIDA aonde tudo parece conduzir à morte.

Essa constatação teve implicações diretas sob a forma e o conteúdo do processo. Não podia ser mais uma “consulta” utilizando os padrões, conceitos e definições em voga na comunidade internacional.

Se queremos que pessoas diversas, que não se conhecem, que nem sempre encontram na palavra falada seu meio de expressão e que em muitos casos não estão habituadas ao ritmo de reuniões formais e discussões conceituais, devemos

estar prontos para repensar nossas práticas.

Não só dar a liberdade e as condições necessárias para que cada um possa falar, ouvir, sorrir, dançar, entender e se manifestar, mas que essas manifestações sejam realmente tomadas em conta como produtoras de um conhecimento

fundamental para a vida.

Busca no Youtube: Movimento ATD Quarto Mundo BrasilFacebook: http://facebook.com/tasabendo

• Preâmbulo

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Documento final – Painel das Bases

Com isso em mente, a equipe de facilitação, composta por representantes do Grupo Sócio-cultural Raízes em Movimento e do Movimento ATD Quarto Mundo , começou a pensar em potenciais painelistas a partir das redes e relações de confiança já existentes tomando em conta algumas questões objetivas: história pessoal de exclusão e resistência; a necessidade de refletir a diversidade regional e cultural do país; pouco tempo de preparação; contato pessoal através de parceiros. Não construímos um perfil ideal de painelista, mas fomos es-tudando caso a caso

• Articulando

A partir daí começamos a fazer os convites e cada caso foi um processo diferente. Em alguns o convite foi pessoal, em outros atra-vés do grupo ou coletivo no qual a pessoa participa. Dos convites realizados duas pes-soas não tinham disponibilidade nas datas. As outras duas ausências aconteceram em cima da hora. Alex Maciel, de Belo Horizon-te do Movimento Nacional de População de Rua sofreu um acidente no dia da viagem e não pode comparecer. Já Edson Gomes, do Verdejar Sócioambiental, o primeiro a aceitar o convite, acabou desistindo pois na semana do encontro surgiu uma oportuni-dade de trabalho remunerado que ele es-perava há bastante tempo. Esse é mais um dos obstáculos enfrentado por aqueles que lutam por melhorias para a sociedade mas

que não têm garantida uma renda ou forma de trabalho que lhes permita participar em momentos como esse, importantes tanto para o crescimento pessoal como do forta-lecimento coletivo. Teria sido ótimo contar com as perspectivas desses dois participan-tes. Dessa vez não possível, mas sabemos que continuam dentro do círculo de alianças do Painel.

Outro processo interessante foi a construção da equipe de apoio, considerando logística, facilitação, documentação e tradução, feita a partir dos colaboradores do Raízes em Mo-vimento e do Movimento Quarto Mundo e cada um trouxe também muito entusiasmo e outras perspectivas que ajudaram a com-por todo o quadro do painel.

Ver mais sobre Raízes em Movimento e Movimento ATD Quarto Mundo na pág. 45

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Awêre para Kisile

• Facilitadores

Mariana GuerraMe formei em Comunicação Social no Rio de Janeiro e desde de 2001 tenho tido riquís-simas experiências com pessoas vivendo em grande pobreza e exclusão social. Em 2004 conheci o Movimento ATD Quarto Mundo e pouco depois me uni a ele, passando pelo Peru, Bolívia e França. Hoje participo da re-presentação deste Movimento no Brasil.

Alan Brum Pinheiro Sou fundador e secretário executivo do Insti-

tuto Raízes em Movimento. Atualmente também sou pesquisador do Laboratório Territorial de Manguinhos - LTM FioCruz. Já fui professor do programa de Educação de Jovens e Adul-tos no Complexo do Alemão, fundador e promotor do Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia, coordenador do Centro Nacional de Formação Comunitária e gerente técnico do trabalho social do PAC no Complexo do Alemão. Sou um ativista radical da De-mocracia Participativa Local.

Ver mais sobre Raízes em Movimento e Movimento ATD Quarto Mundo na pág.????

A Pamela Souza e o Raull Santiago, por exemplo, haviam sido convidados para apoiar na documentação, mas ao compartilharem um pouco sobre suas histórias de vida e seus pen-samentos durante as apresentações, foram convidados pelos facilitadores a integrar oficial-mente o painel e chegamos assim ao número final de 11 painelistas.

Uma vez definidos os painelistas e a equipe, os contatos por e-mail e telefone, tanto pontuais entre organizadores e painelistas, quanto e-mails coletivos começaram a criar o clima de diálogo e preparar o ambiente para o encontro.

Essa etapa contou também com a visita de um dos membros da equipe a comunidade do Céu do Mapiá no Estado do Amazonas para conhecer a Arlete e a realidade em que vive. Essa visita foi fundamental para compreender como realmente vivemos em realidades muito distintas. O ideal teria sido realizar ainda outras visitas, mas não houve tempo hábil, assim que optamos pela realidade sobre a qual tínhamos menos elementos.

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Documento final – Painel das Bases

Antonieta Guido da SilvaComponente da Associação Comuni-tária do Bairro do Guamá, em Belém do Pará, da qual sua mãe foi fundado-ra, Antonieta milita por direitos e de-senvolvimento humano com projetos e programas sociais, educacionais, cultu-rais e esportivos com crianças, jovens, adultos e idosos. Para ela compartilhar os saberes é a grande chave para construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Para nós, o trabalho com o jovem é fundamental. Foi através da educa-ção, das artes plásticas e cênicas que passamos a trabalhar com as escolas mais vulneráveis do bairro. Investi-mos na cultura do Boi Bumbá na pro-moção da paz.

Arlete FurtadoNascida e criada na Floresta Nacional do Purus-AM, Arlete é uma defen-sora da natureza e da harmonia na convivência de todos estes seres que fazem parte dela. Hoje ela trabalha num projeto chamado Jardim da Na-tureza fazendo artesanato com crian-ças, jovens e senhoras, resgatando o conhecimento local e fortalecendo a região. Leva com ela a importância da educação popular e comunitária, além de estar em busca das pessoas mais isoladas da sua região, seja por questões geográficas, de transporte ou por preconceitos.

Eu comecei esse movimento na Amazônia com o Chico Mendes... Sou muito grata a esse homem por-que foi aí que despertei, comecei a dar valor a Amazônia (…) Comecei a participar e a entender, saber dessas palavras: cooperativismo, associa-ção, e agente começou a ver que só através desse movimento da união é que a gente consegue as coisas.

• Painelistas

Ben Hur FloresNo sul do Brasil, nas periferias da cida-de de Pelotas-RS, Ben Hur reúne “uma grande família” de crianças e adoles-centes com o objetivo de mostrar que eles são a transformação que eles querem ser. Os Anjos e Querubins nas-ceu há mais de 10 anos com a certeza que é através da arte e da educação que poderemos exercer plenamente nossa cidadania.

A gente é fruto do que a gente faz, do que a gente escolhe. Por isso, nosso trabalho é especifico na arte, com musica e teatro. Não consigo ver uma sociedade mudada sem a construção de uma educação de qualidade.

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Awêre para Kisile

Claudia Barroso da Silva Cláudia vive em Petrópolis-RJ com seu marido, filhos e netas. É componente do grupo Raio de Luz e integrante da Associação Brasil pela Dignidade. É ar-tesã, costureira e bordadeira. Participa dos projetos aprendendo e ensinando o que sabe. É um exemplo de que o saber, o conhecimento, está na vida e deve ser compartilhado. Sua força de vontade e esperança de mudança é o que a move em construir um futuro me-lhor para a sua família e para o próximo.

Eu acredito que vale a pena lutar pela vida, pelos direitos. Não só os meus direitos e da minha família, mas pelo direito do próximo. Minha luta é por direitos iguais, para que todos te-nham um futuro mais digno. Todos têm que ter esta oportunidade.

Feijão -Rafael Nascimento MirandaÉ componente do Centro de Defesa dos Direitos Humanos desde que nas-ceu, o que o motivou a fundar o Grupo de Cultura Afro KISILE em Jacaraipe, Serra-ES. Nasceu e cresceu dentro de di-ferentes movimentos sociais e tem uma forte convicção de o mundo precisa de amor para transformar-se e acabar com todas as formas de preconceito.

Não tem como fingir não olhar ou não querer entender uma realidade, que grita na nossa cara, ao nosso re-dor, não tem como ficar apenas na sua área de conforto, sem se envolver em outras questões, reais e urgentes.

Jamopoty TupinambáMaria Valdelice na certidão de nasci-mento, seu nome indígena é Jamopo-ty, que quer dizer florescer. Jamopoty é Cacique do povo Tupinambá de Oli-vença/ Ilhéus-BA e é o próprio exem-plo de uma governança horizontal, que vive com o seu povo e conhece de dentro a realidade que representa. Hoje, a luta continua sendo pela de-marcação de terras e pelas seguranças básicas para uma vida digna e justa para o povo indígena.

Quando a gente se depara com ou-tros problemas, a gente vê que os nossos problemas são todos iguais. E só se encontrando, transmitindo as nossas necessidades, que a gente vê que a necessidade é a mesma, tanto do índio que está lá no Sul da Bahia, como das pessoas que estão moran-do nas favelas.

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Documento final – Painel das Bases

Pamela SouzaMora no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, mas é cidadã do mundo. Criadora do projeto Art Complex, que tem como objetivo criar um meio de sustentabilidade alternativa através da confecção de roupas e acessórios com recicláveis e é integrante do coletivo Ocupa Alemão. Desde sua infância via e vivia injustiças que hoje a fazem mi-litar pela igualdade social e dignidade dos mais oprimidos.

Na verdade, temos que acreditar sem-pre. Eu sou uma pessoa muito positi-va, sempre fui, sempre tive esperança, apesar de às vezes a desesperança querer bater na minha porta, mas eu espanto ela. Eu sempre tive esperança de mudar, e é maravilhoso quando a gente encontra pessoas com esse mesmo sentimento de mudança, nos fortalece a continuar, e nos fortalece a acreditar ainda mais.

Potyra Tê Tupinambá Participa da associação Thydêwá e veio da Aldeia Itapoã, terra indígena Tupinambá de Olivença, Ilhéus-BA. Potyra entrega sua vida e seus co-nhecimentos para defender os povos indígenas e para comunicar, informar e tirar as vendas dos olhos a fim de criar uma sociedade baseada nos di-reitos humanos e na vida.

A minha fortaleza vem dos meus antepassados e a nossa luta de hoje é em honra aos milhares dos nossos parentes que foram brutalmente assassinados e resistiram para que nós hoje estivéssemos aqui! Deve-mos isso a eles!

Raquel Florentino Monteiro A sorridente petropolitana (Petrópolis-RJ), é componente do grupo Raio de Luz e da Associação Brasil pela Digni-dade e busca no seu dia a dia, com o amor de sua família e com o seu tra-balho, lutar por dignidade e por poder expressar os direitos do povo, seme-ando agora para que as gerações fu-turas possam estar livres de todas as formas de exclusão social.

Faço parte de uma família que foi marcada pela exclusão em todos os sentidos, mas nunca desistimos. Minha mãe nos ensinou que nunca podemos nos conformar com nos-so presente estado, pois se tivermos força de vontade poderemos ser me-lhores. Devemos olhar para o alvo e lutar, então, todos os obstáculos se-rão vencidos. Minha mãe nunca teve medo das suas decisões darem erra-do e sim de não tentar. Por isso não tenho medo de tentar mudar o mundo.

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Awêre para Kisile

Raull Santiago “Formado pelo que aprendo nas práticas da realidade, é através de minhas vivências que escrevo minhas teorias”.

Ativista social, músico, poeta, cyberativista, fotógrafo e escritor, entre outros, Raull vive no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. Ele oferece toda a sua habilidade, saber e dinamismo para mobilizar e agir coletivamente pelos direi-tos humanos, educação, cultura e pela democratização da informação. Para ele a palavra é acreditar.

Robson BorgesFundador e Coordenador da Cooperativa Eu Quero Liberda-de (Rio de Janeiro-RJ), que tem como objetivo a geração de trabalho e renda através da coleta seletiva, transformação e comercialização de recicláveis. Conhece por experiência própria as injustiças sociais e as mazelas que levam uma pessoa ao sistema penitenciário. A partir desta experiência, entrou na militância pela libertação das categorias margi-nalizadas, tais como: egressos do sistema penal, dependen-tes químicos e população em situação de rua.

Resíduos transformando outros tipos de resíduos e levan-do qualidade de vida para uma população. Eu sou apai-xonado por isso, eu me transformei nessa caminhada, vejo a possibilidade de transformar muita gente, mas eu sou um só (…) é uma luta árdua mas estamos aí lutando e acredito que vamos mostrar que é possível.”

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Documento final – Painel das Bases

Esta é a mensagem do Painel das Bases que se reuniu em julho, na cidade do Rio de Janeiropara deliberar sobre a agenda de desenvolvimento da ONU para depois de 2015.

• Mensagem

Awêre para Kisile “Que tudo dê certo para os que ainda não têm nome.”

A Roda

A vida roda, o mundo roda, tudo eu tenho, tudo tu tens na Gaia.Mas, nada chega como direito?! Parecendo favor?!Até você?! Parceiro, amigo, companheiro.Que na arte de inverter o olhar; sinto cheiro do povo no ar; luta diária da alegria e dor; sabor da vida, trabalho e amor; resiliência no frio e no calor; na fé do credo, meu senhor, minha senhora!Levo agora mais bagagem. Conhecimento e fortalecimentoGovernanças dos direitos de viver,das bases ao poder.

Maria Antonieta Guido da Silva

Nós caboclos, ribeirinhos, negros, jovens, favelados, índios, homens e mulheres, seres humanos, reunidos na Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, no mês de julho de 2013, enviamos nossa mensagem para o Planeta buscando tocar principalmente àqueles que

tem o poder de decisão sobre as políticas que irão afetar nossas vidas e a nossa Mãe Terra a partir de 2015.Analisando as políticas e programas desenvolvidos a partir dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e as propostas do Painel de Alto Nível para a definição da agenda de desenvol-vimento pós-2015, não identificamos aí nossa visão de mundo e nem os anseios dos nossos irmãos e irmãs. Reconhecemos, no entanto, alguns indicativos com os quais concordamos, mas que na prática não produzem o efeito almejado.

Awêre: Palavra Tupinambá que significa “Que dê tudo certo” Kisile: palavra em Banto que significa: Aqueles que ainda não têm nome

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Awêre para Kisile

Sentimos que nesse rumo, continuamos desenvolvendo um plano de morte para o planeta e para todos os seus habitantes. Mas não estamos parados, desde nossos Territórios diversos lutamos pela VIDA e apresentamos aqui alguns elementos que consideramos necessários para um PLANO DE VIDA GLOBAL.No plano de vida global, tudo esta interligado. Um depende do outro, a pessoa humana, a natureza, os organismos governamentais, todos são parte de um todo.Para se efetivar o plano de vida global é necessário que cada povo possa construir seus próprios planos de vida locais. É necessário respeitar e garantir a interação desses planos de vida com os planos de vida da Mãe Terra, possibilitando condições de vida digna e integrada à natureza e a sua preservação. Entendemos como dignidade a plena realização dos direitos humanos e as seguranças básicas em termos de moradia, garantia à terra, saúde, alimentação, educação, transporte e lazer.As formas de governo e organização devem refletir realmente as vontades e aspirações do povo, reconhecendo nele os diferentes papéis na sociedade, potencializando as diversas formas de saberes, sempre respeitando e garantindo as diversidades e mobilização comunitária, e as formas justas, igualitárias e sustentáveis de produção e circulação econômica, em todos os segmentos desde as frentes de trabalho à produção artística local na perspectiva de promoção da vida e o acesso livre e consciente à informação, garantindo em especial a interação social às pessoas que vivem isoladas. Entendemos que a família precisa ser fortalecida como espaço primordial de formação integral da criança, para a construção de uma sociedade cidadã onde todos possam viver seus planos de vida dignamente.

Obstáculos e bloqueios - Planos de mortePara que o PLANO DE VIDA GLOBAL possa acontecer de fato precisamos tirar de cena o mo-delo atual que mais parece pertencer aos tempos arcaicos, onde a publicidade impera e as ações entram apenas no campo das utopias, onde deixamos de viver e passamos a sobreviver fazendo assim a humanidade caminhar para um PLANO DE MORTE.Entendemos como PLANO DE MORTE este interesse inverso às demandas da sociedade, impul-sionado por interesses POLÍTICOS e ECONÔMICOS que se reproduz e se fortalece através das amarras desse sistema que não permitem vislumbrar alternativas.A dependência política e econômica do sistema gera a exploração do trabalho, fazendo com que baixos salários e enorme carga horária não deixam espaço para investimento pessoal, apoio familiar, lazer, entre outras. Entre as diversas estratégias desse plano de morte, estão os atravessadores econômicos, po-líticos e sociais que impedem ou dificultam as relações diretas, tanto na formulação e imple-mentação de políticas públicas, como na garantia dos direitos humanos e nos ciclos produtivos voltados para a satisfação de necessidades básicas. As instituições e esferas que deveriam ser uma prioridade e zelar pelos direitos básicos se tor-nam ineficazes devido às condições sempre muito precárias, faltando investimento e atenção justamente nos espaços legalmente constituídos para a defesa dos direitos fundamentais.

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Documento final – Painel das Bases

O sistema administrativo e burocrático dos Estados está montado para favorecer os interesses de uma pequena parcela da população, criando dificuldades e impedimentos para a grande maioria. O não cumprimento da constituição e muitas de suas leis, junto com a falta de informação da população causa o descrédito, sendo que muitas vezes estas leis são aplicadas de forma diferenciada conforme o poder econômico, grau de instrução, local de moradia, entre outras, prejudicando a construção de uma vida digna. Muitas vezes as políticas e programas voltados para combater os males sociais acabam gerando maiores problemas por estarem completamente descoladas da realidade de quem enfrenta estes problemas. A realidade mostra ainda que pessoas e grupos engajados em lutas sociais muitas vezes acre-ditam que a única possibilidade de desenvolvimento, ou mesmo sobrevivência, é fazer parte do sistema, se corrompendo e deixando de lado suas ideologias e convicções, enfraquecendo seus verdadeiros objetivos de luta.Todo esse plano de morte está permeado de múltiplas formas de violência (física, psicológica, institucional, social, ambiental), violando integralmente os Direitos Humanos e aprisionando a população ao medo e aos preconceitos por achar que a solução para a violência se resolve com mais violência. Os Planos de Morte têm gerado um alto grau de desumanização, matando o amor entre as pessoas, fazendo com que o “ter” seja mais importante que o “ser”.

Caminhos para vida

Devido a tantos bloqueios e obstáculos para se construir um Plano de Vida global que acolha as mais diferentes formas de vida, aqueles que acreditam no ser humano e na natureza, não se calam e realizam ações concretas para enfrentar o plano de morte desse sistema político e econômico que beneficiam poucos e excluem muitos.

Partindo dessa realidade, trazemos algumas propostas:• AEducaçãoPopulartrazcomoobjetivoincluir,capacitareconscientizarhomensemu-lheres dentro de suas diversidades culturais, tratando assim o diferente de forma diferente, que possa de forma holística aprender e ensinar de acordo com sua realidade local. Principalmente utilizando a cultura artística em suas mais derivadas formas como um processo transformador social, econômico, político, educativo e espiritual. Trabalhando dessa forma a educação popular torna-se a base essencial para um verdadeiro processo de transformação.• Asformasjustas,igualitáriasesustentáveisdeprodução,geraçãodetrabalhoedis-tribuição de renda devem servir como modelo para um novo sistema econômico. As iniciativas de cunho sócio ambiental, baseadas na cooperação e na solidariedade, devem receber todo o incentivo em termos de recursos, técnicas e meios necessários para o seu desenvolvimento, visando a revitalização, manutenção e preservação do ambiente em que se vive.• Construçãodenovasaliançasentrepessoas,grupos,associações,cooperativas,mo-vimentos, órgãos de governo, agências internacionais, empresas e universidades, que tenham realmente o compromisso com o estabelecimento de um PLANO DE VIDA GLOBAL integrado.• Articulaçãoentrediferenteslutasebandeirasviabilizandoainteraçãoentrediferentescategorias e localidades identificando caminhos de resistência na luta por direitos.

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Awêre para Kisile

• Asformasdegovernoeorganizaçãodevemserconstituídasapartirdosprocessosenecessidades reais da população, democratizando o acesso à informação e conhecimento dos direitos básicos. Estas formas devem se basear nas experiências de auto-gestão dos diferentes territórios, respeitando as diversidades regionais, sociais e culturais dos povos.• Aconstruçãodealternativascoletivasnosterritórios,frenteàinoperânciadosistema,deve ser tomada como ponto de partida fundamental para a implementação de políticas públi-cas estruturantes que atendam realmente os interesses da população considerando e respeitan-do sua diversidade. Exemplos fortes são a auto-demarcação de terras indígenas e quilombolas e os movimentos urbanos de luta por moradia.• ArealizaçãodessaspropostasquecompõemoPLANODEVIDAGLOBALdevecami-nhar com a valorização da solidariedade nas relações humanas, superando a desumanização produzida pelo sistema consumista e revigorando o amor no coração de cada ser humano. A união e interação harmônica na diversidade são base para o bem-comum.

Sabemos que não se esgotam aqui as iniciativas necessárias para que possamos reverter esse caminho de morte e entrar num verdadeiro PLANO DE VIDA GLOBAL.

Por último, gostaríamos de dizer que o monitoramento autônomo, por parte das bases, de políticas e ações de governo, em especial daquelas que venham a ser incluídas na Agenda de Desenvolvimento pós-2015, é essencial e deve ser facilitado, estimulado e apoiado em todos os níveis. .

Com esse propósito decidimos que esse Painel das Bases, de ALTÍSSIMO nível, não irá se dissol-ver, mas ao contrário, se fortalecer para continuar contribuindo com o nosso olhar.

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Documento final – Painel das Bases

E foi assim, com o objetivo principal de encontrar-se, de que as pessoas pudessem se conhecer, interagir, dialogar e se forta-lecer, que os painelistas e as equipes de facilitação, documentação e logística estiveram juntos durante quase uma semana.

O local foi escolhido de acordo com a disponibilidade, localização, preço e condições necessárias para uma imersão com aco-modações, espaço de reunião, área externa e alimentação. Ainda que com uma certa rigidez com relação aos horários, serviu perfeitamente ao propósito. A equipe da casa sempre atenta e acolhedora fez com que todos nos sentíssemos em casa.

A proposta de facilitação era de oferecer elementos para a reflexão, mas de uma maneira flexível, deixando espaço para o que pudesse surgir e com muito respeito à palavra de cada um. O programa enviado aos participantes era simples e aberto, com alguns marcos delimitando a reflexão. Essa abertura foi fundamental para que a criatividade existente no grupo pudesse se manifestar plenamente.

• O encontro

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Awêre para Kisile

Algumas expectativas...

“Expectativa de dias melhores. De união entre todos os povos. Para nós, juntos e fortes, conseguirmos um futuro melhor. Unidos vencere-mos as desigualdades.”

“Que essa troca de experiências seja criadora de novas ideias de transformação.”

“Que gere muitos frutos.A começar em nós.”

“Aprendizagens e socialização.”

A chegada de cada participante, aco-modação na casa e primeiros mo-mentos de interação mostraram que seria uma semana excelente. Cada pessoa vinha trazendo suas questões e seu interesse pela luta do outro e desde o primeiro momento começa-ram trocas e diálogos. Cada um re-cebeu ainda uma pasta com material a ser usado durante o encontro e, de maneira bem pessoal, a equipe se ocupou em ver se todos estavam bem instalados e se tinham tudo o que precisavam.

Para começar a entrar no clima e en-tender um pouco com o que vinham para o encontro, os facilitadores fize-ram uma rápida reunião para explicar algumas coisas e pediram a todos, painelistas e equipe que escrevessem em pedaços de papel suas expectati-vas e preocupações.

....e preocupações

”Ser um evento isolado.”

“Que os nossos problemas sejam maiores do que nossas possibilidades.”

“Que saiamos da mesma maneiraque entramos.”

• Chegada – 29 junho

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Documento final – Painel das Bases

Começamos o dia com uma caminhada no jardim e, apro-veitando o bom ambiente criado no dia anterior, realizamos algumas dinâmicas de apresentação pessoal e outras que permitiram conhecer o contexto de onde cada um vinha, conhecendo um pouco as diferentes realidades, o lugar, a sua comunidade e suas lutas diárias. Assim, mais do que conhecer a cada um, pudemos imaginar o ambiente e re-alidade em que cada um vive. Viajamos por todo o Brasil, conhecendo paisagens, pessoas, problemas e resistências. Tomamos quase o dia todo com as apresentações e isto foi fundamental para o bom desenvolvimento da semana.

“Nos Andes nascem 5 grandes rios, eu conheço três, o Ma-deira, que lá é o Madre de Dios, o Juruá e o Purus, onde eu habito. Esses grandes rios são importantes porque eles enriquecem as terras de várzea. A gente planta nas praias, daí a gente tira a macaxeira, tira o milho, tira o jerimum, tira a batata-doce”. Arlete

“Sobre o Complexo do Alemão e as favelas do Rio, eu acho que elas são lindas. É uma coisa que eu me identifico, que eu amo, é de onde eu vim. As utopias estão entrelaçadas com as esperanças, com as lutas das pessoas. A gente sabe ainda não chegou onde queremos, mas sabemos que é possível”. Raull

“Eu moro na comunidade do Morro dos Anjos (Petrópo-lis). Lá agora tem projetos sociais com as crianças, tam-bém com adolescentes e o nosso grupo, Raio de Luz, que trabalha com as mulheres. Lá na comunidade é bem tranquilo também de se morar. Como toda comunidade também tem seus problemas né?” Claúdia

Conhecendo um pouco da visão de cada um sobre seu lugar rapidamente começamos a fazer relação com nossas his-tórias e nossas comunidades. E isso vinculou as histórias, trazendo um sentimento de unidade.

Encerrando essa etapa, conversamos um pouco mais sobre a proposta do Painel das Bases e os objetivos do nosso en-contro, ressaltando o valor individual de cada um e a impor-tância de sermos partícipes nos processos de construção de agendas e programas que afetam nossas vidas.

Com isso iniciamos a discussão sobre o conteúdo, come-çando pela revisão de alguns conceitos que encontramos pela frente.

• Dia 1 – 30 junho

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Awêre para Kisile

Os facilitadores abriram com uma sim-ples provocação:

O que é “Desenvolvimento”para você?

É algo que vem de dentro pra fora mesmo. As pessoas de lá (de sua comunidade) começarem a se unir. ClaúdiaÉ todos poderem viver dignamente nesse planeta. Potyra Desenvolvimento é liberdade de ex-pressão. É dar condição do ser hu-mano continue vivendo no seu habi-tat. Que se ele quiser sair que seja por livre e espontânea vontade. ArleteDesenvolvimento pro nosso povo é a demarcação da terra. Jamopoty

Cada um teve a oportunidade de ex-pôr sua visão e trocar com os demais. Em seguida abordamos as visões cor-rentes na comunidade internacional a partir da definição de “desenvolvi-mento econômico” da ONU que abrange os seguintes itens:

Crescimento econômico; Desenvol-ver o potencial científico/tecnológico; Aumentar o grau de alfabetização; Aumento do nível de instrução em ge-ral; Melhoria nas condições sanitárias; Diminuição do índice de mortalidade infantil; Aumento da expectativa de vida; Nível de industrialização; Dimi-nuição da dependência externa.

Como contraponto foi feita a seguinte pergunta: Vocês acham que existem outros tópicos que deveriam ser con-siderados para alcançar uma melhor qualidade de vida?

• Revendo conceitos

Itens indicadospelos painelistas:

- Moradia e habitação- Mobilidade viária- Acesso à informação- Respeito às diversidades culturais- Participação

O interessante é que enquanto os critérios da ONU sobre “desenvolvi-mento econômico” (colocado como principal ferramenta para enfrentar a desigualdade nos países) são muito pontuais e ligados à produção, renda e consumo, os elementos colocados espontaneamente pelos painelistas sobre o desenvolvimento “esperado” estão todos ligados à garantia de direitos fundamentais, respeito à dignidade de todos.

De acordo com o grupo, o próprio termo “desenvolvimento econômico” não daria conta de expressar o que buscamos. Então o que? “Desenvolvi-mento sustentável”?

Começou, então, uma ampla discus-são e muitos questionamentos sobre as definições de desenvolvimento in-clusive dentro do sistema das Nações Unidas. Disso passamos para uma análise do próprio sistema ONU e sua complexidade e contradições. Diversas “ONUs” (direitos humanos, desenvolvi-mento, meio ambiente, etc) mas que a “ONU econômica”, acaba tendo uma predominância sobre as demais.

Ser ouvido é que é o problema (…) morre todo mundo sem saber o que é isso (…). Como é que nossa voz vai chegar lá? Jamopoty

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Documento final – Painel das Bases

Tem sempre alguém lá no alto mandando em tudo. A gente aqui embaixo não manda em nada. (…) Tem que recomeçar da estaca zero. Cláudia

Cara, estamos com a faca e o queijo na mão! A oportunidade que a gen-te tá tendo (de contribuir para o tex-to da ONU) . Se eles vão aprovar ou deixar de aprovar... a gente sabe que aqui no Brasil tem um grupo que tá dizendo isso aqui... Ben Hur

Estamos criando desenvolvimentos alternativos e não uma alternativa ao desenvolvimento. A ONU já utiliza e propõe o “desenvolvimento susten-tável”, mas é isso o que queremos ou existe uma alternativa? Mariana

Exigimos o cumprimento dos direi-tos humanos. (…) Que o humano esteja acima do econômico. Potyra

O que a gente já faz já é nossa se-mente pro mundo. Já é um ponto que a gente não depende de deci-sões superiores dessa lógica que está estabelecida. A gente tem estratégias e lógicas locais, que é possível cons-truir um mundo novo. Alan

A gente vai perceber que a gente nunca começa do zero.(...) Nós já es-tamos numa estrada. Antonieta

Essa reflexão nos ajudou a questionar a maneira como utilizamos palavras e definições que não representam o que realmente queremos ou que pelos me-nos possuem significados em disputa.

Painel de Alto Nível de Pessoas Eminentes sobre a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015

Criado em 2012 a pedido do Secretário-Geral da ONU e formado por 27 pessoas entre chefes de Estado, ministros e especialistas em desenvolvimento, o painel publicou em 2013 o seu relatório “A Nova Parceria Global: erradicar a miséria e transformar as economias atra-vés do desenvolvimento sustentável”.

Esse relatório apresenta como “5 grandes mudançastransformadoras” que devem ser alcançadas:

1. Não deixar ninguém para trás;

2. Colocar no o desenvolvimento sustentável no centro;

3. Transformar as economias para a geração de emprego ecrescimento inclusivo;

4. Construir a paz e instituições efetivas, responsáveis eabertas a todos;

5. Criar uma nova parceira global.

Fonte: http://www.post2015hlp.org/

Compartilhando as iniciativas de cada pessoa e grupo entramos na reflexão so-bre o que verdadeiramente queremos para nossas vidas e como apresentamos isso através das nossas ações e com as nossas palavras.Depois desse diálogo, os facilitadores apresentaram um pouco do histórico dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio chegando até a construção da agenda pós-2015 e o tra-balho do painel de Alto Nível com ênfase nas “5 mudanças transformadoras” .

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Awêre para Kisile

Resumo do dia:

Cada um sofreu um pouco com a intervenção do outro, numa lapidação saudável, trocada. E a gente está com uma afinidade construtiva, acho que a gente vai apren-der muito um com o outro e no final a gente vai ter um encaminhamento muito saudável.Robson

Veja mais no YouTube: Painel das Bases Robson. youtube.com/watch?v=sZIR4xjjRxQ

Desde o princípio, vimos que há vínculos entre as “5 grandes mudanças” e que seria difícil trabalhar ponto por ponto de maneira isolada. Como falar de “não dei-xar ninguém pra trás” sem falar de desenvolvimento, economia, paz ou parceria global? Optamos então por ampliar e aprofundar o nosso entendimento sobre o mundo que queremos, analisando os conceitos e a interconexão das mudanças apontadas pelo Painel de Alto Nível.

A facilitação finalizou a reunião pedindo que cada um pensasse sobre a proposta de trabalho pra que a gente pudesse construir juntos a agenda e propôs então que a cada dia um dos painelistas fizesse um pequeno vídeo resumindo as atividades.

Encerramos o dia com uma roda, proposta pela Potyra, aonde cada um canta-va as vogais do seu próprio nome. No início cada um cantava num ritmo e tom diferente. Mas, todos abraçados, girando e cantando juntos, foi fazendo com que encontrássemos um tom e um ritmo harmônicos. Desenvolver a escuta ao outro, saber encontrar seu espaço sem esmagar o outro e construir algo juntos foram elementos de aprendizados nesta dinâmica. Juntos nós podemos rapi-damente construir uma coisa bonita e harmônica. Potyra

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Documento final – Painel das Bases

O dia começou com uma roda de cantos Tupinambá puxa-da pela Cacique Jamopoty e pela Potyra. Saudando o sol e a lua elas convidam a todos para trabalhar.

Para entrar na primeira mudança proposta pelo Painel de Alto nível: “Não deixar ninguém pra trás”, fizemos uma rodada de reflexão.

Pergunta motivadora:

O que significa o termo“miséria” para você?

Miséria pra mim não como é o que o governo passa pra gente: ‘Miséria é o Estado de uma pessoa pobre’. Eu não acho isso, eu já passei por um momento de pobreza , bem difícil (…), e eu nunca me achei que eu tava na mi-séria, nunca me achei uma miserável.(...) Acho que essa palavra miséria não se enquadra nisso, porque miséria é alguém que não tem algo de bom para oferecer, alguma coisa para somar com o seu grupo. Raquel

Quando se trata de pessoa, a palavra, ela não se aplica (...) Usam essa palavra pra garantir recursos. Acho que não passa por ai porque a gente trabalha com o ser humano e o ser humano tem sempre algo a oferecer. Antonieta

• Dia 2 - 1 de julho

Eu nunca parei pra pensar nessa palavra (...) Eu fortaleci o sentimento de que a miséria, ela pode ser sim um vazio interior, uma incapacidade de se situar, de entender a sua vida, aceitar uma realidade, militar e lutar dentro dela. Eu consegui fazer um retrospecto aqui, eu já fui miserável (…) não tinha resiliência, não compreendia, achava que tava colocado numa situação que não era minha, que não era pra mim, e era a minha realidade (…) filho de camponês que migrou, buscando trabalho num grande

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Awêre para Kisile

centro, queria o quê? Queria berço de ouro? Queria carro, moto? (…) A gente começou numa situação muito hu-milde aqui no Rio, casinha de tapume, de madeira, aque-le banheiro no quintal com sumidouro, lá no Morro dos Mineiros, aí descemos, moramos na grota numa palafita, que tinha naquela grota ali, que as vezes chovia enchia, a água subia pra cima das pontes e varria tudo. Gente des-cia por aquele ralo. Ahn? Quantas pessoas a gente não perdeu ali? Eu comecei a me achar no direito de querer arrancar as coisas dos outros na marra. Aquela coisa de não estar enquadrado a um determinado quadrado, você chegar na escola todo mundo tem uma condição e você ter uma outra, todo mundo viver de uma forma e você viver de uma outra. Robson

Eu meio que fiz uma viagenzinha também. Acho que a miséria é uma questão muito mais pessoal. Que eles acabaram usando isso como um termo técnico (…) para classificar um estado de espírito. Que pobreza, extrema, todo mundo teve. Quem nunca passou fome aqui?(...) Eu por exemplo eu chegava na escola de manhã (emocio-nado) e a minha primeira refeição era no bar da escola, na merenda da escola. Às vezes o cara passa uma situ-ação de dificuldade mesmo, que a gente não consegue enxergar que um vizinho, um cara do lado pode te dar uma palavra e resolver a tua vida. (…). Eu tive uma pro-fessora, que eu vivia metido em rosca (briga) dentro da escola, eu tinha mania de achar que eu podia mexer com

todo mundo. (…). Aí ela veio e me deu um basta: eu te-nho uma proposta pra te fazer: quer fazer teatro? Eu digo: Teatro, ah quero. Então tá, eu vou te pagar um curso. Ela pagou do bolso dela (…) eu podia até nem fazer, nem dar continuidade no negócio. A partir do momento de uma pessoa chegar e dizer assim ó: eu vou pagar, vou inves-tir em ti, entendeu? Acreditar no teu potencial. Até lá eu era um miserável. Eu me sentia um miserável. Então não é tanto a força da palavra é mais um estado de espirito do cara, beleza? Existem os dois lados da mesma moeda: tem o lado daquele que se sente na situação de miserá-vel e o olhar daquele que consegue enxergar coisas num moleque, um dom que ele tem e que ele mesmo não te-nha percebido. Ben Hur

Se por um lado ressaltou-se as dificuldades enfren-tadas pelos que vivem em situação real de pobreza e exclusão e os meios pelos quais ela se reproduz, por outro ficou bem forte o tom preconceituoso e pejo-rativo na classificação de “miserável” como alguém que não tem nada para oferecer, que é tão forte que a própria pessoa acaba acreditando nisso.

Leia o relatório completo em: http://www.ohchr.org/Documents/Issues/EPoverty/GuidingPrinciplesinPortuguese.pdf

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Documento final – Painel das Bases

Temos que gritar para a sociedade, gritar para o mundo que nós não queremos ser tratados como miseráveis. Nós somos trabalhadores, somos lutadores, somos guerrei-ros, não somos miseráveis. Potyra

Para ampliar o debate, foi lida também a definição de ex-trema pobreza contida nos Princípios Orientadores sobre Extrema Pobreza e Direitos Humanos e a facilitação levan-tou a seguinte questão: se existem efetivamente pessoas que vivem nessas condições e não haveria uma identidade comum? Sem uma identidade comum, como assumir uma luta coletiva?

Os Princípios Orientadores sobre Extrema Pobreza e Direi-tos Humanos foram adotados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2012. Com base em padrões e nor-mas internacionais de direitos humanos, estes Princípios Orientadores indicam as primeiras diretrizes para as polí-ticas globais com foco na específico nos direitos humanos das pessoas que vivem na pobreza. Eles servem como uma ferramenta prática para os formuladores de políticas para garantir que as políticas públicas (incluindo os esforços de erradicação da pobreza) alcançar os membros mais pobres da sociedade, o respeito e a defesa dos seus direitos. Tam-bém orientam a que se tomem em conta os obstáculos sociais, culturais, econômicos e estruturais significativos enfrentados por essas pessoas. em gozo dos direitos hu-manos enfrentados por pessoas que vivem na pobreza. Source: http://www.ohchr.org/EN/Issues/Poverty/Pages/DGPIntroduction.aspx

Princípios Orientadores

Os Princípios Orientadores sobre Extrema Pobreza e Direitos Humanos foram adotados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2012. Com base em padrões e normas internacionais de direitos humanos, estes Princípios Orientadores indicam as primeiras diretrizes para as políticas globais com foco na específico nos direitos humanos das pesso-as que vivem na pobreza. Eles servem como uma ferramenta prática para os formuladores de políti-cas para garantir que as políticas públicas (incluin-do os esforços de erradicação da pobreza) alcançar os membros mais pobres da sociedade, o respeito e a defesa dos seus direitos. Também orientam a que se tomem em conta os obstáculos sociais, culturais, econômicos e estruturais significativos enfrentados por essas pessoas. em gozo dos direitos humanos enfrentados por pessoas que vivem na pobreza.

Source: http://www.ohchr.org/EN/Issues/Poverty/Pages/DGPIntroduction.aspx

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Com isso, colocou-se também a questão da miséria para além da questão econômica, para a visão de um povo que, por gerações e gerações, vive em condições de exclusão e é tratado como inferior, mesmo em países considerados ricos ou desenvolvidos e que existem políticas estruturadas que reproduzem essas situação.

Essa diversidade de perspectivas sobre a miséria, ajudou cada um a ampliar sua própria visão e preparar para entrar na visão dos programas de governo.

Em 2010 o governo brasileiro definiu como miséria ou extrema pobreza a situação de lares ou famílias com renda mensal de menos de 70 reais per capital; e po-breza a situação daqueles com renda mensal per capita entre 70 e 140 reais, em todo território nacional.

Essa “linha da miséria” continua sendo o parâmetro que define o público-alvo e mede o resultado dos pro-gramas de erradicação da miséria agora concentrados no Plano Brasil sem Miséria, criado também em 2010.

Plano Brasil sem MisériaCoordenação: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à FomeOrçamento estimado: 20 bilhões de reais por ano

3 eixos principais e seus respectivos programas:

1. Garantia de renda

1.1 Bolsa-família1.2 BPC – Benefício de prestação continuada

2. Inclusão produtiva2.1 Rural:- Assistência técnica;- Fomento;- Acesso a mercados públicos e privados - Água e Luz para todos- Bolsa verde

2.2 Urbano- Qualificação profissional- Catadores de materiais recicláveis

3. Acesso a serviços3.1 Área de educação- Brasil alfabetizado- Mais Educação

3.2 Área de Saúde- Unidades básicas de Saúde- Brasil Sorridente- Saúde da Família- Olhar Brasileiro- Distribuição de Medicamentos- Rede Cegonha- Saúde na Escola

3.3 Área de Assistência Social e Segurança Alimentar- CRAS – Centro de referência em assistência social- Banco de Alimentos- Cozinhas Comunitárias

A miséria na visão de programas de governo no Brasil

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Documento final – Painel das Bases

A partir daí, começamos a olhar para a definição de mi-séria nos programas de governo, a linha de extrema po-breza como os que ganham menos de 70 reais por mês e os programas de governo. Os facilitadores apresentaram as linhas gerais do Plano Brasil sem Miséria pedindo para os painelistas pensarem sobre como acontecem os programas na prática.

Na sequência, divididos em 3 grupos, os painelistas buscaram reproduzir em imagens sua visão sobre os programas de erra-dicação da miséria e o que deveria realmente ser feito.

Antes de voltar para as apresentações dos grupos a An-tonieta animou o grupo com uma linda roda de carimbó (estilo tradicional do Norte de país). Na parte da tarde co-meçamos com a apresentação dos grupos.

Pergunta motivadora:

Como fazer para não deixar ninguémpra trás? Para que ninguém mais

seja visto como miserável?

Apresentação dos grupos - cartazes:

Grupo 1: Potyra, Raull e Raquel

“No Plano Brasil sem Miséria, como diversos outros pla-nos, a gente interpretou que é apenas mais uma escada onde um ou poucos vão se beneficiar e as maiorias con-tinuarão dentro desse nome: miséria. (…) Essa escada é constituída de pessoas, a gente vai dando caminho pra esses caras, através da alienação, da falta de interesse, das dificuldades... Para construir um Brasil para todos, para o povo todo, como um só pensando na evolução do país, a gente precisava derrubar isso tudo. Esse olho ele representa o povo acordando, abrindo o olho. A gen-te partiu desse princípio, de refazer a partir do ser. Mudar esse sistema, tirar essa característica de representativida-de, tirar de certa forma o poder. (...)Acabar com a escada humana pra que um só chegue ao topo, que o topo não exista, que o topo seja as bases”. Raull.

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“Nossa proposta é: do jeito que está não dá mais. (…) Em vez de existirem escadas, que exista uma linha reta, onde nós todos somos iguais, podemos dialogar igual, onde exista uma gestão compartilhada... que as pessoas par-ticipem”. Potyra.

“O Cacique em sua tribo ele é respeitado, mas porque que ele é respeitado? Porque ele conhece cada índio, cada fa-mília, cada criança, ele sabe a necessidade de cada um, por isso (…) ele consegue manter a ordem, a paz, que tudo possa andar de uma forma harmônica dentro da sua aldeia. (…) Se o governo, as autoridades, entrassem com a verba, com as finanças, com o que a gente não pode dar, o povo entrar com as sugestões, porque só a gente sabe o que a gente precisa , juntos nós consegui-ríamos dar as soluções. Mas não tem esse encontro. Se seguisse esse exemplo (do Cacique) a nossa governança seria muito melhor, seria a solução.” Raquel.

Grupo 2: Cláudia, Jamopoty, Pamela eRobson

“Decidimos criar uma pirâmide (…) que fala sobre as necessidades em escalas diferentes, e a gente criou uma ordem aqui: (...) e aí quando você consegue chegar nesse ponto, você tem moradia, você tem alimentação, você tem educação, pra você pros seus filhos e você tá traba-lhando, de repente você começa a entrar num novo pro-cesso, que é a possibilidade de realizações (…) só depois de sanar estas necessidades básicas é que posso realizar uma parte dos meus sonhos”. Robson

“Na verdade é a necessidade mais prioritária. Por exem-plo, eu tenho uma vontade de fazer aula de percussão, to-car um instrumento e quando eu recebo um salário que é aquele “mixuruca”... eu até faço planos, mas (…) não dá para concretizá-los.” Pamela

“E aí você tem prioridades pra se manter de pé, então desenhamos essa pirâmide. E vimos aqui algumas ima-gens de políticos na frente de uma favela. A gente olhou e teve uma visão, que miséria é uma série de coisas: falta de conhecimento, não poder se alimentar... mas, come sta imagem do político, tivemos um outro entendimento so-bre miséria também, que é espaço de promoção de uns, que alguém se promove com a miséria ou com a dor ou a necessidade do outro”. Robson

“Tem muitos desdobramentos, cada um com um concei-to sobre miséria. Eu escrevi miséria aqui na internet e apa-receu muito assim, imagens de africanos, pessoal muito desnutrido... a gente desdobrou outros conceitos dor, hu-milhação, necessidade, morte, fome...” Pamela

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Documento final – Painel das Bases

“A miséria em relação a uma das necessidades básicas, você não tem moradia, aí te leva a uma condição que impede as outras. Se você não tem nem lugar pra morar como é que eu posso cobrar que você não seja uma pessoa miserável com relação a educação, acesso a informação?”. Robson

“A gente estava pensando; o que a gente poderia com-plementar a constituição para sanar essas necessidades. E a gente viu que não seria um complemento, mas cum-primento das leis (…).Novas políticas públicas que ga-rantam os direitos e que tornem esses direitos imutáveis. Que na verdade a gente tem alimentação, moradia, mas de uma forma super-hiper precária e, que isso fosse uma coisa que não pudesse faltar... que fosse até um crime, e a gente não teria que brigar por esses direitos. Com a fis-calização e envolvimento direto do povo no processo de desenvolvimento dessa constituição.” Pamela

“Se a gente fala em moradia, a gente fala em direito à terra. Não só pros povos indígenas, também para outras classes sociais que lutam pelo direito à terra. Se tiver a ter-ra, aí pode ter educação e saúde. A educação pro povo indígena deveria ser diferenciada, mas isso é só na teoria, na prática não é (...) A gente tem que mudar muita coi-sa, mas primeiramente tem que mudar em nós. Nós, lá nas bases temos que mudar muita coisa. Porque as vezes meu prato tá cheio e eu não me incomodo que o outro não tenha. Então acho que a gente precisa mudar nos-so pensamento e é isso que a gente tá construindo aqui pra que a gente lá nas bases e seja respeitada pelos go-vernantes. Porque eu vejo muita coisa acontecer nos po-vos indígenas que se decide em Brasília, com o povo que mora em brasília, mas não decide com o índio que mora lá nas aldeias, que tem as necessidades, que não tem uma boa alimentação, que não tem a terra demarcada, que não tem estrada, que tem todas as dificuldades, que morrem de malária, que morrem desnutridos, que são assassinados e todas as coisas que acontecem com os povos indígenas da Bahia e do Brasil (…). A gente quer um Brasil diferente”. Jamopoty

Grupo 3: Antonieta, Arlete, Ben Hur e Feijão

“Diferente do outro grupo, a gente acha que a arte é uma necessidade básica também. Você não deveria ter que sa-nar outras necessidades para só depois realizar seu sonho de tocar um instrumento.

A gente também questionou muito a forma como esses projetos chegam pra gente. Por que eles chegam como uma forma de fazer uma certa alimentação da miséria. Tipo as-sim: eu quero resolver simplesmente o processo de miséria, mas eu não quero resolver a dignidade dessa pessoa. E aí a Arlete acabou colocando uma coisa que foi muito interes-sante (...) são vários brasis diferentes. O Brasil da Arlete não é igual ao meu Brasil, que não é igual ao do Ben Hur que não é igual ao da Antonieta. As realidades são diferentes. Então, como que você faz uma bolsa-família aonde você vai dar 70 reais, (...) mas uma botija de gás é 90 reais (na comunidade da Arlete). Então, o miserável no Amazonas não é o mesmo miserável que tem aqui no Sudeste (…).” Feijão

“Como questão de solução, seria o processo de educação, mas não o processo de educação que o governo coloca pra gente e sim o processo de uma educação popular. Uma educação que é negada, por exemplo, quando a Arlete coloca como que eles trabalham com educação lá que é eu pegar e ensinar o menino a fazer o artesanato e ao mesmo tempo ele está fazendo matemática (...)Então a gente acabou fazendo esse desenho, aonde o povo se reúne em volta de uma educação popular onde ele possa buscar os seus outros amigos, que na verdade vivem jus-tamente sob essa questão que o governo fica tentando fazer esses beneficiamentos. Na verdade, buscar, vamos colocar assim, os vários brasis miseráveis, pra dentro dessa

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Awêre para Kisile

educação popular pra onde a gente possa fazer realmente um processo de transformação (…). E a gente quer que a arte venha plantada nesse processo junto com a gente”. Feijão

“Esses elementos da arte, o quanto eles são importantes e vem consolidar e sistematizar o ensino que o aluno pre-cisa. Que ele vai pra escola e se ele tiver só a aula, história, geografia, sem fazer uma relação com o dia a dia dele... acaba caindo nisso. Como a Arlete coloca, que a escola que foi construída lá (Céu do Mapiá-AM), ela foi construí-da a partir da iniciativa daquelas pessoas... que queriam o quê? A partir da arte, contar as continhas: aqui tem 20... então você faz uma relação de cultura popular com o sistema e você consegue tirar essa venda do povo e ele consegue perceber que toda essa carga organizada pelo sistema não me atende por completo”. Antonieta

“A arte politiza e educa” Feijão

“Essa história da educação popular, ela não abrange apenas a arte. A arte é apenas mais um instrumento utilizado a ser-viço dessa educação popular. Aí já vem outros companhei-ros que estão fazendo trabalhos dentro do esporte, dentro do sistema cooperativo... A ideia é fazer com que essa educa-ção, crie na comunidade o que eu vejo acontecer com aque-las pessoas que se aproximam dos projetos, que é um senso crítico, que ele comece a questionar, não ficar mais apenas só recebendo a informação e não perguntando: mas porque que tem que ser desse jeito?” Ben Hur

Na sequência, o filme “A História das Coisas” (The Story of Stuff) nos ajudou a entrar no tema de desenvolvimen-to sustentável. Foi apresentado o texto base do Painel de Alto Nível para esse tema “Colocar o desenvolvimen-to sustentável no centro”, e depois cada um falou um pouco das suas ações individuais e coletivas que já realizam.

Entre as atividades apresentadas está a auto demarcação de terras dos índios Tupinambá, o processo de mobilização de jovens em coletivos como o Ocupa Alemão, o trabalho com crianças e adolescentes no Morro dos Anjos, e tam-bém as ações cotidianas de resistência para criar nossos fi-lhos, apoiar nossa família, os vizinhos e para nosso próprio desenvolvimento pessoal.

Em seguida, inspirados no Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, os painelistas foram divididos em dois grupos e con-vidados a utilizar a expressão corporal para apresentarem

uma imagem sobre suas ações cotidianas por um mundo melhor. Como a Arlete, que apresentou o artesanato com sementes de árvores como forma de conscientização sobre a floresta: “Sabendo que estou fazendo esse trabalho não só pela minha comunidade, mas para o mundo.”

No momento de pensar nas suas ações, alguns painelistas tiveram dificuldades em reconhecer suas ações cotidianas como parte de uma questão global. Sentiam que o que fa-ziam era insignificante. No final da dinâmica, propusemos que as ações que fossem complementares, se juntassem, e assim, as ações individuais acabaram se somando forman-do uma única imagem de ação coletiva.

O interessante foi ver a reação dos painelistas ao percebe-rem que estão em atividades bem distintas e que enquan-to alguns estão diretamente envolvidos em associações e em alguns casos conseguem tirar dali sua fonte de renda, outros ainda precisam buscar seu sustento em outras ati-vidades, mas cada dia que saem de casa para trabalhar, é uma maneira de mostrar sua resistência e a busca por um futuro melhor para a sua família. Para esses foi também uma descoberta perceber como suas ações cotidianas são fundamentais para a criação de um mundo melhor.

À noite, de maneira informal, assistimos 3 documentários: um sobre Belém do Pará, outro sobre o trabalho da Arlete na Floresta Amazônica e o último sobre o evento “Circulan-do” no Complexo do Alemão.

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Documento final – Painel das Bases

Resumo do dia:

“O que é miséria? O que a gente entende por miséria? Foi bastante rico o diálogo, enriqueceu, me fez refletir. Eu nunca tinha refletido sobre o que é miséria. Eu pensei numa miséria coletiva, onde as pessoas que não param para refletir a sua situação e que não se indignam é que estão na miséria”. Potyra Veja mais no YouTube: Painel das Bases Potyra http://www.youtube.com/watch?v=6FhRcITgIjc

“Nós tivemos ali um momento de teatro, com expressão corporal e cada um pôde expressar. E nós vimos que juntos, nós somos muito, muito mais fortes, e isso é uma coisa que nós devemos levar pra quele dia que a gente está mal, que a gente acha que a gente está sozinho, que a gente não vai vencer. Nós juntos, mesmo cada um na sua cidade, estaremos juntos, somos fortes e vamos vencer juntos. Um é o esteio do outro, um é o suporte do outro, pra gente pode caminhar e chegar nesse nosso objetivo maior, que é vencer juntos, não deixar ninguém pra trás, conseguir fazer do nosso Brasil, um lugar melhor.” Raquel Veja mais no YouTube: Painel das Bases Raquel http://www.youtube.com/watch?v=-3d3PAEyn6o

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Awêre para Kisile

Depois da dinâmica matinal, entramos no tema da “eco-nomia”, mas não pelo lado estritamente financeiro, mas olhando para a essência da palavra, inspirados pela origem grega de “organizar a casa” ou “administrar o lar”. Ou seja, como organizamos os diferentes aspectos da nossa vida, incluindo os modos de produção e consumo, que estão interligados. Para abrir a discussão a Potyra apresentou o conceito de “plano de vida”:

“Nós temos um planeta e estamos vivendo como si tivésse-mos 8 pra viver. É um plano de morte. Esse consumismo, a poluição, esses governos que só pensam no lucro (…), o poder e o dinheiro valem mais do que as vidas humanas. Mas nós, que estamos nas nossas bases, sabemos o que é bom pra gente. Vamos deixar um pouco de lado esse as-sistencialismo, essa dependência do Estado, essas bolsas-familia... E a gente montar nosso plano de vida, o que a gente quer pra nossa comunidade (…). Vamos viver as nossas vidas sem tá precisando dessas coisas que inventa-ram aí. Eu penso na essência da comunidade indígena. Ela se auto-gere, ela se auto-sustenta... Tudo nosso é na roda, a vida indígena é feita em roda: é o ciclo da natureza, é o ci-clo do nascimento. A gente fica cego e não consegue ver os ciclos, mas tá ali perto. Se a gente observa a gente conse-gue ver. O contato com a natureza, preservando a natureza, tirando da natureza o nosso sustento e fazendo os nossos planos de vida. Esquecer os planos de morte: destruição da natureza, destruição do ser humano, polícia atirando gás lacrimogêneo, atirando bomba de efeito moral, e a gente tentar viver a vida em harmonia com nossos grupos, nossos pequenos grupos familiares.

• Dia 3 – 2 de julho

Não tô falando pra abandonar a vida lá fora... mas se você consegue rasgar essas amarras que nos prendem ao sis-tema, a gente consegue ter uma vida melhor (…) Vamos dentro das nossas comunidades projetar o que a gente quer de futuro pra gente sem dependência. (…). Cada um vai saber, cada grupo vai ter sua forma, vai ter seu plano de vida. Esquece o governo, vamos fazer nós mesmos”. Potyra

Para ilustrar ainda mais essa ideia, Jamopoty apresentou o exemplo da Aldeia Itapoã, na Bahia, aonde há 8 anos, 100 famílias decidiram ocupar um terreno de 250ha que era utilizado como um lixão dos condomínios de luxo e onde, inclusive, eram jogados corpos de pessoas que eram assassinadas. Era então um local sujo e que inspirava medo nos vizinhos. Com o tempo eles foram limpando, plantan-do, construindo e hoje moram 73 famílias. Além de casas, tem uma escola e uma casa de farinha, tudo feito e ge-rido pela comunidade, inclusive na produção e divisão de produtos como abacaxi, mandioca, piaçava, peixe e outros. Um exemplo interessante para ver como uma ação coletiva pode revitalizar um local que estava marcado por um pro-cesso de morte e ao mesmo tempo melhorar a qualidade de vida das pessoas.

A partir desse e de outros exemplos levantados, o grupo começou um diálogo explorando as diferentes formas de organização da vida tanto em termos de convivência comu-nitária, como em termos de formas coletivas de produção entrando em temas como associativismo e cooperativismo.

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Documento final – Painel das Bases

Essa discussão levou a uma reflexão também sobre os obstá-culos e barreiras que dificultam a realização desses projetos, impossibilitando o acesso a determinados serviços e progra-mas de governo, sobretudo para os mais pobres. Muitos desses obstáculos não estão explícitos na legislação ou regulamentos mas na prática impedem o acesso aos serviços que, em tese, deveriam dar prioridade aos mais pobres.

Entre os diferentes obstáculos citados estão:- a burocracia inadequada à realidade específica;- a falta de formação formal e não reconhecimento do sa-ber informal;- a obrigatoriedade de comprovar residência;- a corrupção em diferentes níveis;- as distancias e falta de meios de locomoção;- tempo de espera;- falta de estrutura básica de atendimento;- o analfabetismo;- falta de documentos;- discriminação;- humilhação;- falta de informação clara e acessível;- custos decorrentes com transporte, alimentação, etc...Barreiras que, na verdade, decorrem de violações anterio-res dos direitos dessas pessoas e que comprometem grave-mente a possibilidade de aceder a esses direitos no futuro.

O conhecimento trazido pela Raquel, a partir de algumas vivências pessoais recentes, foi bastante esclarecedor. Ao tentar inscrever sua família no programa “Cesta Cheia”, de distribuição de alimentos da prefeitura de Petrópolis, ela teve seu pedido negado sob alegação de que eles moram numa área nobre, a qual o programa não cobre: “Eles diziam pra gente: imagine só o caminhão da Cesta Cheia parando ali naquela rua onde só tem casarões”.

Foram então tentar o programa Bolsa-família, visto que ela mora com a mãe, que por questões de saúde não pode tra-balhar e os 3 irmãos que estavam na escola. A resposta foi a mesma: “esse programa não atende as áreas nobres, só as áreas carentes”. Entre estas respostas contaram diversas idas e vindas aos órgãos responsáveis o que significa gas-tos com transporte, dias sem trabalhar, para se submeter a um tratamento humilhante. “Diante disso eu falei: não, não quero mais, não vale a pena a gente passar por tanta humilhação”. Importante ressaltar que em nenhum ponto do regulamento desses programas existe esse critério de local de moradia.“Eu falei pra eles: é uma área nobre, mas se você subir essas escadarias, lá na última casa tem uma moça que mora lá com cinco filhos e a casa dela é um barraco que não tem banheiro e ela tem que usar o do vizinho. Se vo-cês vierem na minha casa, que é uma área nobre de ca-sas lindas, históricas, a minha casa fica num beco lá trás e não é nada bonita, nem nobre e nem histórica. A nossa vida ali não é assim.” Raquel

Teve ainda negado o pedido de aposentadoria de sua mãe que há tempos não tem condições de trabalhar, por ques-tões de saúde, e já não sai de casa sozinha, sob a alegação de que ela estaria apta “ah, mas ela tá andando, não tá torta...”. Ao mesmo tempo, não consegue atenção médica adequada para que possa se tratar.

Para finalizar, um dia ela recebe um telefonema da escola avisando que iriam tirar seu irmão da lista do Bolsa-Família porque seu irmão estava faltando às aulas: “Bolsa-família? Mas eu nunca nem recebi.”, mas segundo a escola havia 2 anos que ele estava inscrito e que o dinheiro estava sendo pago! Então quem estava recebendo o dinheiro? Até hoje não se sabe e para sua família não chegou nada.

À luz dessa reflexão foram colocadas algumas ações e alternativas para eliminar ou superar essas barreiras baseadas no fato de que, como lembrou Alan: “O espaço público é nosso. Nós é que temos que estar ali”, no sentido de que as instâncias públicas não deveriam ser alheias a população e que é necessário encontrar os caminhos para se apropriar desses espaços e fazer valer os direitos. O grupo se solidarizou também propondo ações de apoio e acompanhamento.

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Awêre para Kisile

Depois de um rápido intervalo retornamos com o Robson apresentando seu trabalho com cooperativas que encaixou bem com o tema e com a reflexão trazida por diferentes painelistas sobre como organizar maneiras alternativas e sustentáveis de produção econômica.

“Independência ou morte!*” Quem é que tá do lado da independência? Grande elite! Não depende da educação que é ofertada pro povo, não depende do sistema público de saúde... Quem é que tá do lado da morte? Nós que dependemos dessa educação que eles nos ofertam que é uma parada de servidão que te ensina a dizer sim senhor, não senhor...” Robson

Ben Hur propos uma dinâmica de percussão que envolvia bastante bastante concentração mas ao mesmo tempo com muita leveza e diversão. Foi interessante ver como o “ não deixar ninguém pra trás” era forte, pois a dinâmica só foi encerrada quando todos puderam fazer, mesmo aqueles que precisaram de mais ajuda.

Em seguida ele compartilhou um pensamento, o de ver a arte também sob o aspecto de uma produção econômica, num sentido bem amplo, que envolve tanto gerar ren-da para o artista, e profissionais envolvidos, permitindo, inclusive, que ele possa seguir nessa atividade, mas que

também tem um potencial mobilizador e organizador da vida coletiva, dinamizando as relações e trazendo melho-rias para a comunidade. Que a sustentabilidade também pode ser alcançada através da arte, mas não através de uma “economia da cultura”, que vende a arte como um produto, “arte não é produto”, mas deveria ser um caminho de desenvolvimento possível para os que querem.

Essa introdução abriu uma reflexão sobre os diversos em-pecilhos que fazem com que os sonhos sejam inviabilizados ainda na infância fazendo por causa da necessidade ime-diata de buscar sua subsistência.

Cruzando fronteiras e unindo bandeiras

Aprofundando no que cada um trazia de seus territórios, os facilitadores propuseram a seguinte dinâmica:

Primeiro, cada um deveria escrever num papel uma única palavra ou um desenho: “Se você fosse hoje pra rua, qual é a sua bandeira?”

Foram duas rodadas. Na primeira, escreviam ou desenha-vam livremente sua bandeira. Como a maioria representou temas muito amplos, voltamos a pedir que fizessem uma segunda bandeira mais específica:

* Grito atribuído à D. Pedro I, filho do rei de Portugal, em 1822, marcando o fim da era colonial e o inicio do Império no Brasil, tendo ele como imperador.

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Documento final – Painel das Bases

Concluída essa parte, os facilitadores distribuíram linhas e explicaram: “agora, com base nas bandeiras e no que você conheceu do outro durante a semana, cada um vai indicar primeiramente duas pessoas com as quais você acha que sua luta está diretamente relacionada”

Potyra começou escolhendo Robson e Raull. Ben Hur: Feijão e Antonieta, e assim por diante foram formando as cone-xões. Em seguida cada um explicou brevemente o porque de suas ligações.

Exemplos:

Me liguei com o Feijão, por causa da arte. Me liguei com a Jamopoty pela questão da demarcação da terra. Arlete

Me liguei com a Arlete por causa do artesanato, que ela faz, e com o Robson pelo trabalho com reciclagem e pela força de vontade de correr atrás do objetivo dele. Cláudia

Com a Arlete pela questão da arte, me impressionou mui-to o trabalho com a linha do tucum e com a Antonieta, que eu me identifiquei muito, pelo trabalho com os jovens. Pamela

Na discussão final, olhando para a teia que se formou com as diferentes conexões, foi consenso de que foi difícil es-colher só duas pessoas, porque na verdade se identificam

Quem?

Ben Hur

Cláudia

Robson

Raquel

Arlete

Feijão

Pamela

Jamopoty

Raull

Antonieta

Potyra

Primeira Bandeira

Inclusão realIgualdadeVidasAcessoIgualdadeVidaIgualdadeDemarcação jáIgualdade ser realidadeCriança e adolecenteIgualdade

Segunda bandeira

Arte Sustentável

Acesso aos direitos

Transformação

Direitos

Concientização ecológica

Dignidade e direitos humanos

Acesso aos direitos

Demarcação já

Desmocratização da informação

Direitos e deveres

Acesso aos direitos

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Awêre para Kisile

Encerrada a reunião, a Arlete apresentou o seu trabalho com as sementes, mostrando diversas variedades e expli-cando sua origem, usos, as lendas, os hinos e todo ritual em torno das sementes trazendo a força da floresta para dentro da nossa roda.

com as lutas de todos e que todos querem encontrar ca-minhos para seguir fortalecendo e expandindo essa rede. Vários comentários então foram feitos sobre as dificuldades e possibilidades de caminhos futuros para o grupo.O Feijão colocou então como que ele chegou sem saber exatamente o que seria o encontro e se ele teria seu lugar ali, e que agora ele entendia seu papel e se dava conta da própria luta, no Grupo de Cultura Afro Kisile – Kisile, no idio-ma Banto, quer dizer: “aqueles que ainda não têm nome”. E assim ele via também seu papel na continuidade, permitir a participação daqueles que nunca estão presentes.

“A gente vê que a gente cria um laço que a gente não consegue ficar sem o outro. Eu não sei muito como vai ser a forma de se encontrar novamente (…) As soluções são várias e a gente tem que ter essa necessidade (…) que outros possam estar aqui também com a gente, acom-panhando com a gente esse processo, fazer esse grupo crescer, multiplicar...” Feijão

Finalizando a discussão o grupo viu que seria importante, sem prejudicar outras conexões possíveis, definir pelo me-nos um encaminhamento para continuidade do painel em si, enquanto uma responsabilidade do grupo. No sentido de avaliar e monitorar o que acontecerá com as propos-tas realizadas por esse painel tanto no âmbito das nego-ciações da ONU, como no impacto na vida e na luta de cada um. Portanto, sem definir exatamente de que forma e entendendo as dificuldades, principalmente em termos de recursos, o grupo decidiu que o trabalho não pode parar e que então o painel não irá se dissolver e juntos buscaremos a forma e os meios de continuar. Um primeiro passo seria dentro de 6 meses ou 1 ano, poder avaliar os resultados desse encontro.

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Documento final – Painel das Bases

• Dia 4 - 03 julho

Resumo do dia:

“Nós iniciamos o dia hoje com uma dinâmica muito boa, nos revitalizando com relação ao corpo, a mente, o espirito e ven-do que é possível a gente fazer alguma coisa. E com uma aná-lise da economia, do que é essa economia do que nos temos como projeto de vida e com a retomada das experiências de cada organização que representa que esta aqui representada, buscando compreender como cada um dos presentes vem se revitalizando, vem se reconhecendo, se identificando nessa perspectiva de desenvolvimento humano. De como nós po-demos nos confrontar com os desafios, com dificuldades, e que essas dificuldades dos sistemas a gente pode se recuperar, se encontrar, e ir para outro patamar onde a gente possa se revitalizar, como por exemplo da cooperativa”. Antonieta

Veja mais no YouTube: Painel das Bases Antonietahttp://www.youtube.com/watch?v=Qrgfn-jR0qY

“Na parte da tarde, a gente fez uma brincadeira, que na ver-dade acabou sendo uma lição de vida; Que as teias ficam sempre amarradas na gente né... Então a partir das teias na qual a gente teve esse envolvimento, a gente viu a impor-tância de ser um grupo permanente, a necessidade da gente se encontrar como base, a base tem uma movimentação, onde só quem entende essa base são justamente as pessoas que estão dentro dessa base. Pra gente há uma grande importância esse processo de continuação. Querer continuar é uma proposta de que a base, ela precisa se afirmar, a base ela precisa está dentro desse processo de construção”. Feijão

Veja mais no YouTube: Painel das Bases Feijão http://www.youtube.com/watch?v=M6c6YxpwFLc&feature=youtu.be

Hoje foi o dia de dar um respirada, passear, encontrar com ou-tras pessoas, ligar pra casa. Sair um pouco do ambiente do encontro, até para poder interiorizar melhor a experiência.

O roteiro? Praia de manhã visita ao Complexo do Alemão e ao Raízes em Movimento na parte da tarde. No Raízes, os pai-nelistas também tiveram a oportunidade de se comunicar por telefone com suas comunidades para transmitir o que estavam vivendo e assim, refletir melhor sobre estes dias.

Foi também o dia para que a equipe de facilitação e a equi-pe de documentação se reunissem para rever o conteúdo das discussões dos primeiros dias e organizar o processo de construção da mensagem final.

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Awêre para Kisile

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Construindo a mensagem

Conforme o programa, o dia de hoje seria dedicado à cons-trução da mensagem pública do painel com base no que foi discutido. A proposta era de que todo o processo fosse feito coletivamente.

Seria um dia muito intenso que exigiria bastante esforço de cada um e o Ben Hur propôs começar com uma dinâmica do lado de fora que nos deu a energia e concentração que precisávamos.

Voltando à sala de reunião a primeira tarefa foi ler em con-junto os resumos dos dias anteriores para poder relembrar tudo o que vivemos, para logo em seguida analisar a pro-posta de trabalho e a estrutura básica da mensagem.

O desenrolar da semana permite observar como a mensa-gem foi sendo gerada a cada dia e se construiu como um fruto natural do processo de reflexão.

Entendendo o processo vemos como esse co-nhecimento que está ali na mensagem nasce da realidade cotidiana de cada um, de suas di-ficuldades, de seus sonhos, esperanças e cami-nho de atuação.

A mensagem não foi formada simplesmente por análises e propostas, mas por vidas. Os obstáculos, conhecemos bem, são as dificulda-des que enfrentamos a cada dia. As propostas de superação e realização de um verdadeiro plano de vida, é a resistência cotidiana.

O fio condutor da mensagem seria a ideia de “plano de vida”, conforme apresentado pela Potyra, e a estrutura bá-sica seria:• Introduçãoouapresentação–Planodevida global x plano de morte• Elementos essenciais desse plano devida• Obstáculosqueenfrentamosnarealiza-ção desse plano• Propostasealternativasparasuperaçãodesses obstáculos e realização de um plano de vida global

• Dia 5 – 04 julho

Num primeiro momento formamos 3 grupos, onde cada um construiria as bases para cada um dos seguintes ítens:

- Plano de vida;- Obstáculos;- Alternativas e soluções.

Voltando à plenária, projetamos numa tela o fruto deste trabalho em grupos e então definimos juntos quais os pon-tos que não poderiam faltar na mensagem final. Analisa-mos cada tema incluído pelos grupos e ainda houve alguns acréscimos:

• Planodevida

- Seguranças básicas em termos de moradia, garantia à terra, saúde (saneamento básico e olhar humano para o dependente químico), alimentação, educação, transporte e lazer - resiliência- Valorização das diferentes formas de saber, cultura e expressão- Respeito e garantia à diversidade + atuação cotidiana pró-ativa - Governança- Formas de produção e circulação econômica – em to-dos os segmentos, desde as frentes de trabalho à produ-ção artística local valorizando a vida.- Acesso livre e consciente à informação - Garantir a interação social em especial às pessoas que vivem isoladas- Família ser fortalecida como espaço primordial de for-mação integral da criança.

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Awêre para Kisile

• Obstáculos,bloqueios:planosdemorte

- Intermediários – (econômicos, políticos)- Fragilidade de instâncias de defesa de direitos- Poder dos interesses econômicos - Burocracia inadequada: a falta de burocracia específica em alguns casos e o excesso de burocracia para outros. Administração que não contempla a diversidade. - Falta de informação- Falta de cumprimento da constituição - leis- Exploração do trabalho e dependência do sistema- Corrupção/cooptação- Violência (física, psicológica, institucional e social)- Desumanidade, falta de amor entre as pessoas e entre as pessoas para com a terra- Desigualdade de forças entre as instituições e as pessoas

• “Estratégias/caminhos”

- integração das diferentes lutas ex: Remoção nas fave-las, luta dos indígenas pela sua terra, a situação do cabo-clo na Amazônia.- Educação popular integrada à realidade local- Arte como processo transformador – social, econômico, político, educativo, espiritual...- Formas igualitárias alternativas de produção, geração de renda e distribuição - Crédito (recurso) a todo e qualquer tipo de organização de iniciativa sócioambiental (reciclagem, artesanato, pe-queno produtor, etc etc etc)- Solidariedade nas relações humanas para superar a de-sumanidade.- Formas de resistência no acesso à terra e à moradia (ex: auto-demarcação da terra).

- Auto-gestão das nossas vidas- Formas de organizações horizontalizadas- União, harmonia, das diferenças pelo bem comum.- Democratizar o acesso ao conhecimento dos direitos básicos - Monitoramento das políticas e programas – ex: Painel das Bases!

Depois os grupos foram misturados em 3 novos grupos. A ideia era que em todos os grupos houvesse pelo menos um integrante de cada grupo anterior. A orientação era tomar o que estava sendo dito em tópicos e transformar em texto, valo-rizando o conteúdo decidido em plenária. E assim, começamos a redigir o texto de cada um dos pontos da mensagem.

Finalmente, na parte da tarde, compusemos a equipe de re-dação final do texto com pelo menos um representante de cada grupo, junto com a equipe de documentação e facili-tação. Os painelistas que organizar a estrutura e preparar a apresentação do evento público.O trabalho de redação tomou bastante tempo já que traba-lhamos ponto por ponto, palavra por palavra, com base no

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Documento final – Painel das Bases

que haviam feito os grupos. O título, Awêre para Kisile, veio da música composta pelo Raull, durante o painel que reuniu a palavra Tupi “awêre” (que tudo dê certo) com a palavra banto “Kisile” (os que ainda não têm nome). O poema “A Roda” foi composto pela Antonieta e o grupo decidiu que deveria entrar na abertura da mensagem.Com tudo isso o trabalho extrapolou o tempo destinado e continuamos após o jantar. Foi muito interessante ver que, apesar do cansaço, ninguém saiu dali. Ao contrário, quando o outro grupo terminou a preparação do evento, se juntou ao grupo de redação para contribuir na finalização da mensagem.

E foi com muita alegria que, já depois das 9 horas da noite, o texto final foi projetado na tela, lido em voz alta e aplau-dido por todos! Mas o trabalho não havia acabado, o vídeo, que seria apresentado no dia seguinte como uma surpresa para os painelistas foi finalizado na madrugada.

Assim como a música “Awêre para Kisile” composta pelo Raull e executada por outros painelistas e membros da equipe, continuou sendo ensaiada. Para ouvir:

Para marcar o fim do nosso encontro, já que muitos iriam retornar a suas casas após o evento no dia seguinte, en-tregamos os “certificados” aos painelistas, junto com uma cópia em cd de todas as fotos, vídeos apresentados e textos utilizados. E, finalmente, cumprido o dever só restava cele-brar e preparar para o dia seguinte.

Ver: You Tube – Awêre para Kisile - Painel das Bases / Brasil https://www.youtube.com/watch?v=smx3aQ4m_vILink Audio: https://soundcloud.com/participate2015/awere-ground-level-panel

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Awêre para Kisile

• Dia 6 – 05 julho

Saímos bem cedo da Casa Regina Celi levando todo o ma-terial necessário, para poder preparar a sala e receber os convidados.

O evento começou às 10:00 e foi realizado no auditório do Clube de Engenharia no Centro da Cidade do Rio de Janei-ro, através da parceria com o IBASE. Foi realizado conforme programado pelo próprio grupo, respeitando as caracterís-ticas do mesmo.

Alan foi apontado como mestre de cerimônia e a abertura foi feita pela Cacique Jamopoty, que é também uma au-toridade representante do povo. E apesar deste papel de não ter tido nenhum destaque durante o Painel, diante de outras autoridades ele foi respeitado. E assim, a primeira palavra foi da Cacique que fez a roda Tupinambá com o intuito de preparar os corpos e espíritos para trabalhar. Ma-riana deu um panorama geral sobre Painel e introduziu o vídeo de 8 minutos, que apresentava como foi a semana e quem eram os painelistas. Para eles foi uma surpresa e ficaram muito emocionados com o resultado.

Em seguida a mensagem “Awêre para Kisile” foi lida pela Arlete e pelo Robson, com o intuito de unir a leveza e a emoção da Arlete com a força e a contundência do Robson. Foram então convidados à mesa os interlocutores presen-tes: Angelica Goulart, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos; Gustavo Peres, coordenador da UPP Social; Ita-mar Silva, diretor do IBASE – Instituto Brasileiro de Aná-lises Sócio-Econômicas e Davi Amen, presidente do Insti-tuto Raízes em Movimento. Cada um falou a partir da sua perspectiva, mas em geral exaltando a iniciativa, a força da mensagem e a importância de encontros como este, fa-zendo a relação com as manifestações que neste momento ocorriam em todo o país.

Abriu-se o espaço para que os painelistas pudessem intera-gir com os convidados e ainda houve tempo também para algumas intervenções do público presente.

Outra roda de oração e agradecimento foi feita pela Caci-que Jamopoty, que, desta vez, convidou todos os presentes. Para finalizar nosso conjunto musical apresentou a música “Awêre para Kisile” levantando toda a plateia e fechando o evento com chave de ouro.

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Documento final – Painel das Bases

Como encerramento do encontro houve um almoço de confraternização entre painelistas e equipe. Momento de relaxar, celebrar a semana e... se despedir. Para alguns, pois outros foram para um estúdio cedido por um amigo para gravar a versão oficial de Awêre para Kisile!

Algumas considerações sobre o processo

Finalizado esse relatório, o vídeo final e demais produtos desse encontro, começará a etapa de avaliação aprofun-dada do processo para entender o real impacto na vida de cada participante, de suas comunidades e no processo de definição da agenda de desenvolvimento nas nações unidas.

No entanto, é possível constatar diversas reações positivas dos participantes, painelistas e equipe, e de pessoas que leram a mensagem, ouviram a música e assistiram ao vídeo inicial. É possível então destacar alguns pontos que foram fundamentais e que definiram tanto a forma do encontro:

- A disponibilização dos meios necessários em termos de recursos financeiros, materiais e humanos;- A liberdade e o apoio dados pela equipe do programa Participate;- O número limitado de participantes;- A forma de seleção dos painelistas e a preparação que permitiu a integração entre os painelistas;- O foco no encontro e no diálogo e não no produto final;- A proposta de um programa aberto que foi sendo cons-truído ao longo do processo;- A diversidade do grupo de painelistas em vários sentidos. Cada um, dentro das suas características foi fundamental para o processo;- A integração de atividades artísticas como parte integran-te do processo de construção de conhecimento;- Os momentos informais animados pela espontaneidade de cada um;- Acima de tudo a excepcional qualidade humana desse grupo, tanto dos painelistas, como toda a equipe que tra-balhou no processo.

Com relação ao desenrolar das reflexões e a construção da essência da mensagem final, podemos destacar alguns mo-mentos-chave:

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Awêre para Kisile

- O conceito de plano de vida;- a tomada de consciência sobre a diversidade do grupo;- a noção de que unidos nossas ações são grande e comple-mentares; - A identificação dos obstáculos que impedem a garantia de direitos;- A união de diferentes “bandeiras” e a identificação de uma luta comum.

Sobre a infuência nas esferas governamentais – Advocacy

Mesmo com todos os esforços para trazer representantes dos governos municipal, estadual e federal à apresentação da mensagem, não contamos com a presença do tanto de autoridades que gostaríamos. Este ponto nos questio-na bastante sobre o interesse do Estado em participar em diálogos abertos e construtivos com a sociedade civil, es-pecialmente com aqueles que sofrem exclusão. A cidade do Rio de Janeiro vivia um período de grandes manifesta-ções nas ruas e os governos se diziam abertos ao diálo-go. Mas, quando convidados, não compareciam. Também nos questiona sobre o impacto que uma mensagem como esta, vinda “das bases”, tem na comunidade internacional e vemos que os caminhos para chegarem até a ONU são completamente desconhecidos pela massa da sociedade e mesmo para quem os conhece é bastante difícil aceder. Depende de muitos esforços de lobbying presencial em NY ou Genebra e a maioria das associações brasileiras não pos-suem meios para isso. Sendo assim, nos sentimos excluídos também das esferas que se dizem abertas à sociedade civil.Avaliações pessoais:

Antonieta: O painel ele não só deu conta, mas ele ex-trapolou, ele tocou, foi emotivo, foi produtivo. O painel ampliou a visão de cada um, quem sair agora, sai outra pessoa. Porque as ideias se fizeram, as ideias se postaram e hoje a gente não pode mais deixar isso pra trás. Que não seja uma coisa pontual, mas seja uma coisa conti-nua, formativa, educativa, e que a gente consiga triplicar isso em outras pessoas, pra elas virem também pra roda.

Ben Hur: A gente realmente se sentiu parte de uma construção de uma coisa que a gente sabe que não vai ser bom apenas para o nosso País, vai ser bom para os outros Países também, para as comunidades de outros países. Eu fiz tantas anotações nesse encontro, achando pontos em comum e pontos que podiam ser somados em todas as ações que estão acontecendo nesse País afo-

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ra que se elas forem reunidas numa estratégia de ação que seja a nível nacional, eu tenho certeza que assim como tem acontecido hoje no Brasil quando a popula-ção se mobilizou, a gente consegue se fazer ouvir e fazer respeitar que o que é mais importante.

Jamopoty: A experiência melhor assim, eu já sou uma re-presentante do povo que ando muito, mas nunca tive assim uma experiência assim... como eu falo, uma experiência as-sim dessa diversidade de pessoas, conhecimento, de proble-mas. Então eu acho assim, vou levar a melhor coisa, é mostrar pra base que também temos pessoas que lutam também para o território, por saúde, por educação, por tudo.

Pamela: Maravilhoso as pessoas, os facilitadores, as pes-soas envolvidas nesse processo, levaram isso com muita fluidez, fluiu muito bem. acabou que o cronograma fluiu de uma maneira muito mais abrangente, muito mais aberta, dando liberdade de pensamento, de expressão, as dinâmi-cas maravilhosas. Para além do que a gente tem como questões, para além do que a gente tem como pensamento, como ideia, mas, a mente para agente conseguir pensar melhor

Raull: É preciso estarmos todos unidos e o painel tá sen-do uma experiência única, através dessas trocas de vi-vências e experiências pra repensar a minha própria vida. Dentro do painel... Eu quero sair aqui do painel com uma metodologia de vida além do que eu já tenho, pensando a frente. Porque eu saio muito mais rico dentro de todas essas trocas e de conhecimentos, sobre diferentes formas de vivências no Brasil.

Robson: As coisas tem sido planejadas assim em cima da hora, e isso é legal porque o grupo teve possibilidade de in-tervir, de repente levantar com uma energia, e levantar uma coisa e ser aceito por quem está ali organizando. Mas eu vi isso, eu vi autonomia da galera falar “Não, vamos seguir hoje por aqui? / Vamos seguir por ali?” É uma parada que as vezes tá muito latente, as pessoas querem colocar pra fora e aí os organizadores também começar a trabalhar aquilo e através daquilo chegar onde se queria chegar, entendeu? Cavando, explorando uma ideia, a necessidade de realidade de cada um, eu acho que isso foi legal, essa autonomia possibilita uma construção mais saudável.

Cláudia: Eu fui convidada pra este evento e foi muito importante pra mim, pois é uma oportunidade única da gente interagir, pessoas que eu nunca vi que vivem qua-se a mesma experiência de vida que eu, e compartilhar a gente tá sendo muito unido, tem muita união entre to-dos. Eu nunca imaginei que fosse participar de um evento como este. O que eu vou levar daqui é uma experiência fora do comum. A união, o carinho de todos, a confrater-nização. A gente aqui faz tudo junto. Eu nunca compar-tilhei dessa forma nem com as pessoas onde eu moro e aqui é muito aconchegante. Aqui a gente viu que é todo mundo igual, não tem diferença diferenças de cor, de et-nia, de nada. Somos todos iguais, sem preconceitos.

Arlete: O painel está sendo ótimo. Os facilitadores fazem toda uma dinâmica, eles falam o meu linguajar.. Ainda é muita coisa na minha cabeça pra mim assimilar né, mas vou levando muita, assim, uma força dos jovens que es-tão nesse painel, que sofrem como esse pessoal do povo do Alemão, mas tem sua alegria, tem sua mensagem de amor, a gente vê que no coração os jovens ainda tem muito amor.

Potyra: Eu acho o painel super válido, a gente conversar sobre políticas públicas, por melhorias, projetar juntos o melhor pra nós, pras nossas bases, não só as bases que estão aqui representadas, mas pra todas as minorias do Brasil, todo mundo passa pelos mesmos problemas. Me fortaleceu, com certeza enquanto militante social indíge-na pra estar buscando direitos, percebi que a nossa luta é única. Não existe a luta indígena, a luta do povo da fa-vela, a luta do povo da periferia, o povo das matas, não! É uma luta só, é contra o sistema, o sistema que quer nos matar e a gente tem que buscar nossas vidas, unidos.

Raquel: Eu achei muito interessante ter sido chamada para esse encontro e superou todas as minhas expecta-tivas. Conheci realidades aqui que me impressionaram bastante e me fizeram ver as coisas por outro ângulo. A cada dia nós fomos nos enchendo de informações, de co-nhecimento e de novas possibilidades. O painel foi mui-to harmônico, um completava o outro. A estrutura nos possibilitou a estar com a mente aberta pra poder pensar melhor a nossa realidade pra poder conhecer a realidade do outro.

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Awêre para Kisile

Feijão: Foi uma semana muito especial. Passei estes dias com pessoas incríveis, com experiências incríveis e pensa-mentos incríveis, onde a gente juntou uma carga de emo-ções, de forças e de positividade para construir planos de um mundo melhor. Pra mim foi um dos momentos mais fortes que e já vivi na vida, de estar com pessoas que acre-ditam no ser humano, que acreditam na vida e na força de transformação. Me surpreendeu ao chegar aqui, que durante uma semana, nós fizemos parte do processo de construção do painel. Essa construção coletiva, igualitá-ria. Foi incrível e aprendi muito a como trabalhar em gru-po de maneira horizontal.

Agradecimentos finais: ao Antonio Garcia, da Narrativas Visuais que registrou e produziu toda a parte audio-visual do encontro, à Clara Ferraz que traduziu e permitiu a comunicação rápida com o pessoal da Participate na Inglaterra, ao IBASE pelo apoio ao evento público, a todas as associações e grupos que esti-veram representados neste encontro, à delegação regional para América Latina e Caribe do Movimento ATD Quarto Mundo, aos membros da Participate, a todos os fornecedo-res e companheiros que apoiaram o evento, ao Marcellus pela disponibilidade, paciência e atenção com todos, à casa Regina Coeli pela maravilhosa acolhida, a todos os presen-tes na apresentação final da mensagem e às autoridades que representaram as esferas governamentais e da socie-dade civil e a todos os amigos que trabalharam perto ou longe para este encontro acontecer.

Conheçam as outras produções doPainel das Bases – Awêre para Kisile

Vídeo de apresentaçãoPortuguês:

https://www.youtube.com/watch?v=smx3aQ4m_vIEnglish:

https://www.youtube.com/watch?v=qEWrLcir6TsFrançais:

https://www.youtube.com/watch?v=0ivmoFl00TM

Vídeo final

http://youtu.be/1KkVduXmSQU

Música Awêre para Kisile:https://soundcloud.com/participate2015/

awere-ground-level-panel

Mensagem final onlinePortuguês:

English: http://www.participate2015.org/wp-content/uploads/2013/08/

Brazil-GLP-Communique-FINAL.pdf

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Documento final – Painel das Bases

Anexo:

Ações concretas de mudança:O que já fazemos nos territórios?

• Grupo Raio de Luz, ONG Brasil pela Dignidade –Petrópolis, RJ

“Porque assim, igual a gente: no início precisamos passar por um caminho, que começa numa grande escuridão. Alguns vão até desistir, mas outros vão falar: Vamos lá, naquele meio tem uma luz! E aí a gente vai andando e vai achar a luz. Todos nós temos nossos direitos e, po-demos estar lá longe, no escuro, afastados de tudo, como uma aldeia de índios, mas todos temos direitos. Quando a gente se encontra e fala, a gente pode ser um raio de luz.” Esta foi a inspiração para criar um grupo na comunidade do Caxambu para poder refletir, falar e agir juntos para mudar as situações difíceis. Cláudia e Raquel fazem parte deste grupo, que desperta a consciência, respeita a palavra e o conhecimento de cada um e constrói coletivamente novas alternativas. www.brasilpeladignidade.org.br/

• Centro de Def. dos Direitos Humanos e Grupo e Cult. Afro Kisile – Serra, ES

Feijão é militante do Centro de Defesa de Direitos Humanos de Serra - “lutar pelas questões de di-reitos humanos” A entidade surgiu há 30 anos em um muito de muitos conflitos sobre a questão da terra e formação das periferias no Espirito Santo. “O defensor dos direitos humanos não é defensor de bandido, ele é o defensor da dignidade humana em todos os sentidos.”Feijão também é um dos fundadores do Grupo de Cultura Afro Kisile que trabalha o lado preventivo dos direitos humanos e desenvolvem várias ações nessa área cultural afro. Em 95 foi montado cursinho de pré-vestibular popular. Aos poucos as mulheres foram criando grupos de artesanato, arte, música, dança. “A gente vai pra dentro das periferias, vai pra dentro das escolas, trabalhar essa questão de consciência negra, trabalhar essa questão de cultura afro”. http://outros300.blogspot.com.br/2012/01/serra-cultura-afro-em-jacaraipe.htmlCooperativa Eu Quero Liberdade – Rio de Janeiro, RJRobson é fundador e atual presidente da Cooperativa de Reciclagem Eu quero Liberdade, que tem como objetivo principal buscar alternativas de inclusão social dos egressos na sociedade e no mercado de trabalho de maneira solidária, participativa e sustentável, através da colabo-ração com o meio-ambiente, (com a coleta seletiva do lixo) e a comercialização dos recicláveis para geração de trabalho e renda a seus integrantes. Os projetos e resultados destas parcerias descreveremos nos próximos encontros.http://cooperliberdade.blogspot.com.br/

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Awêre para Kisile

• Associação Comunitária do Bairro do Guamá – Balém, PA

Fundada em 1969, tem como objetivo ajudar e promover o desenvolvimento integral da co-munidade, através de trabalhos voltados à família, infância, adolescência e a idosos carentes. A associação realiza projetos de saúde, educação, sociais, esportivos, culturais, de bem estar e outros de interesse da comunidade. Antonieta está lá desde sua fundação acreditando que o resgate da cultura tradicional e a educação são as chaves para a transformação.

• Anjos e Querubins – Pelotas, RS

Ben Hur é fundador dos Anjos e Querubins, que atua na área das Artes (Teatro,Dança e Música). A entidade cultural fundada no dia 17 de agosto de 2003, veio dar uma identidade ao Projeto Anjos e Querubins que já acontecia desde 2001 nos loteamentos Getúlio Vargas e Pestano na Zona Norte da cidade de Pelotas/RS com crianças e adolescentes. A percussão e o teatro realizados neste gru-po, mostra a excelente qualidade profissional e novos horizontes que as crianças podem alcançar.http://anjosequerubins.blogspot.com.br/

• Povo Tupinambá de Olivença – Bahia, BA

A Terra indígena Tupinambá de Olivença está situada nos municípios de Ilhéus, Buerarema e Una, no estado da Bahia e é ocupada tradicionalmente por 7.000 Tupinambá de Olivença. Jamopoty é uma das Caciques deste povo que hoje em dia está sofrendo muito, por causa do processo de Demarcação de nossas terras. Passa o tempo e a demarcação não acontece. Muitos conflitos têm ocorrido, muitos lideres indígenas estão sendo presos injustamente. Mas nós Tupinambás, continuamos a lutar pela garantia de nossos direitos. E é desta forma, cui-dando do meio ambiente e nas praticas de nossa cultura tradicional que nosso povo continua a resistir em nosso território.http://www.indiosonline.net/ha-historia-do-povo-tupinamba-de-olivenca-que-nao-esta-nos-li-vros/

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Documento final – Painel das Bases

• Jardim da Natureza – Céu do Mapiá, AM

Arlete vive na Floresta Amazônica desenvolvendo trabalhos de conscientização ecológica, educação e valorização dos saberes locais. Unindo tudo isso, foi criado um projeto de artesanato usando os re-cursos da floresta de forma consciente. Sua comunidade, Céu do Mapiá hoje é um exemplo de ação coletiva e autônoma. Entre as tantas iniciativas da comunidade, Arlete participou com outros mo-radores da criação da escola da comunidade que possui uma proposta adequada à realidade local. http://www.idacefluris.org.br

• Thydêwá - Bahia, BA

Potyra é uma Tupinambá muito engajada na defesa de seu povo e também parte da Thydêwá, que nasce alquimicamente através do compromisso de várias pessoas, vindas de diferentes culturas e conhecimentos, com o objetivo de promover a consciência planetária e realizar ações em favor de toda vida, em favor da Mãe Terra. Suas atividades começaram em 2000. Entre os projetos, estão Oca digital, Memórias – Índios na visão dos índios, Esperança da Terra e o Índios online, entre outros projetos. O Índios on line, por exemplo, visa “facilitar o acesso à informação e comunicação para diferentes povos indígenas, estimular o dialogo intercultural. Promover-nos a pesquisar e estudar nossas culturas. Resgatar, preservar, atualizar, valorizar e projetar nossas culturas indígenas. Promover o respeito pelas diferenças. Conhecer e refletir sobre a nossa situação atual . Salvaguardar os bens imateriais mais antigos desta terra Brasil. Disponibilizar na internet arquivos (textos, fotos, vídeos) sobre os nossos povos para Brasil e o Mundo. Complementar e enriquecer os processos de educação escolar diferenciada multicultu-ral indígena. Nos qualificar para garantir melhor nossos direitos”.www.thydewa.org e www.indiosonline.net/

• Ocupa Alemão

O Ocupa Alemão é um coletivo composto por jovens que acreditam num novo mundo possí-vel, em que a favela é reconhecida como parte da cidade, podendo propor soluções para as demandas da mesma. É uma luta pelo direito à cidade e pela democracia dos acessos que acontece pela imensa vontade de mudar o mundo”. Entre estes jovens estão Pamela e Raull. As iniciativas do Ocupa Alemão tentam resgatar o caráter público dos territórios da favela, através da criação das chamadas bibliotecas livres, espaços de troca de saberes administrados pelos próprios moradores, incorporando a arquitetura e a geografia da comunidade. “No processo de atuação dentro do Complexo do alemão partimos do conceituou horizontal de conhecimento. Os jovens trabalham não mais como ONGs e sim COLETIVOS, a partir disso surgiu o OCUPA ALEMAO, com diversos jovens que tem na sua militância algo comum, das varias partes das comunidades do entrono que englobam o COMPLEXO de favelas. Jovens de diversas caracte-rísticas e talento. Ocupamos os espaços, becos e vielas da favela provocando seu imaginário, propondo soluções para as demandas existentes na comunidade, através de intervenções esté-ticas no próprio território”.https://www.facebook.com/OcupaAlemao

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Awêre para Kisile

• Raízes em Movimento

Nós, do Instituto Raízes em Movimento, temos como missão promover o desenvolvimento hu-mano, social e cultural do Complexo do Alemão e demais comunidades por meio da participa-ção de atores locais como protagonistas desses processos, tendo como foco o fortalecimento e ampliação do capital social dessas comunidades. Nascido em outubro de 2001, no Complexo do Alemão – Região da Leopoldina, Zona Norte do Rio de Janeiro, o Instituto Raízes em Movimento surge a partir de um grupo formado por jovens e universitários moradores da área ou envolvidos em trabalhos sociais na região.www.raizesemmovimento.org.br

• Movimento ATD Quarto Mundo

O Movimento ATD (Ação de Todos pela Dignidade) Quarto Mundo tem como objetivo garantir o acesso dos mais pobres ao exercício dos seus direitos e de avançar juntos para a erradicação da extrema pobreza. Reconhecemos as pessoas que vivem nesta situação como atores de pro-fundo conhecimento e protagonistas de mudanças; trabalhamos para sensibilizar a opinião dos cidadãos e obter mudanças políticas; promovemos o diálogo e a cooperação entre os diferentes atores sociais. Em todas as suas ações, são postos em prática dois princípios essenciais:•Pensareagircomaspessoasemsituaçãodegrandepobreza,oquepermiteestabeleceremconjunto as condições de uma verdadeira participação.•Nãodeixarninguémpratrás.www.atd-fourthworld.org e www.unheard-voices.org

• Partcipate

A iniciativa Participate produz evidencia de alta qualidade das realidades da pobreza no nível de base, trazendo as perspectivas dos mais pobres para o debate do pós-2015.Participate tem como objetivo:•Trazerasperspectivasdaquelesemsituaçãodepobrezaparaprocessosdecisórios;•Firmarapesquisaparticipativadentrodoprocessoglobaldecriaçãodepolíticas;•Utilizarpesquisarcomosmaispobrescomobaseparaadvocaciacomentidadesdecisórias;•Garantirquepessoasmarginalizadastenhamumpapelchavenacobrançadasentidadesdeciso-ras do processo pós-2015;•Gerarconhecimento,compreensãoerelaçõesparaobemcomumglobal.Participate é co-conveniado pelo Instituto de Estudos do Desenvolvimento e Beyond 2015, mas a iniciativa só é possível devido à energia, competência e visão das inúmeras organizações que estão financiando e auxiliando a pesquisa participativa.Participate é financiado pela governo do Reino Unido.www.participate2015.org

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