avaliação nutricional: conceitos e identificação do risco
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Avaliação Nutricional: conceitos e identificação do risco nutricional
Escola de Artes, Ciências e Humanidades-Disciplina Nutrição e Fonoaudiologia no envelhecimento
Docente: Prof. Assoc. Sandra Maria Lima Ribeiro
Roteiro da aula
• Definições de estado nutricional e avaliação nutricional
• Definição e avaliação do risco nutricional: relação com avaliação de função
• Rápida descrição de métodos objetivos de avaliação do estado nutricional
Condições do organismo no que diz respeito ao estado de energia e nutrientes
Ingestão de alimentos
Processos digestivos e absortivos
Metabolismo
Estado Nutricional
Estado Nutricional
É o estado de saúde de uma pessoa, em termos dos nutrientes na dieta e no corpo.
Avaliação nutricional é um caminho a se percorrer para definir o Estado Nutricional
Estado Nutricional Saúde
Gibson R. Principles of nutritional assessment. 2005
Risco nutricional
Possibilidade de desenvolver má nutrição no futuro ou no
percurso da internação/institucionalização
*Escalas, valores e testes para identificar pacientes
em risco. Não há consenso, o que dificulta a elaboração
de recomendações
ESPEN, 2003
A avaliação do risco nutricional permite intervenções nutricionais (ou multidisciplinares), o que possibilita:
• Melhorar ou pelo menos prevenir comprometimentos de funçõesfísicas e mentais
• Reduzir o número ou a severidade de complicações de doenças ou de tratamentos
• Acelerar a recuperação e reduzir o tempo de internações
• Diminuir gastos com tempo de internação ou outras prescrições
Risco Nutricional1.Rastreio utilizando índices simples
- Medidas antropométricas (peso, altura, peso usual, IMC, porcentagem do peso em relação ao peso ideal, dobras cutâneas, circunferências, etc.)
Valores bioquímicos [Albumina (mais utilizado), capacidade de ligação de ferro, transferrina, contagem de linfócitos, contagem de células brancas, nitrogênio urinário, creatinina urinária, marcadores inflamatórios, etc.)
Características de índices individuais- estudos mostraram baixas sensibilidade, especificidade e poder preditivo.
Risco nutricional2. Rastreio multiparâmetro
• Fórmulas combinando diferentes medidas
• Há mais estudos de sensibilidade, especificidade e valor preditivo (embora ainda haja questionamentos sobre os testes estatísticos aplicados)
• Tendência- utilização de escalas de rastreio de risco, ou combinação de avaliações subjetivas
Avaliação Subjetiva Global
#Método essencialmente clínico#Percepção do avaliador experiente#Boa correlação com medidas objetivas
Detsky et al, 1987
Classificação
1-17 pontos= Bem nutrido17-22 pontos= Desnutrido moderado>22 pontos: Desnutrido grave
Região bicipital
Avaliação Subjetiva
Região tricipital
Região clavicular
Região do
quadricepsAdutores da mão
Sinais e Sintomas que podem complementar a avaliação subjetiva
Cabelos OlhosDentes, gengivas
e línguaAspecto geral da
pele
Unhas Ossos e músculosSistemas internos (FC, PA, digestão, estado mental)
* Material Complementar
Mini-avaliaçãonutricional (MAN)
#Desenvolvida e validada para idosos, em ambiente ambulatorial, hospitalar e institucional
# O risco em idosos é aumentado em relação ao adulto jovem (15 a 60%)
# Evidencias BRASPEN (2019): todo idoso deve ter o rastreio nutricional na admissão
# Versões longa e curta
Risco nutricional3. Rastreio a partir de testes funcionais
• Má nutrição de energia e proteínas- associado com perda da função imune, fraqueza muscular, fadiga, mobilidade reduzida, e disfunção cognitiva
• A avaliação funcional tem sido cada vez mais utilizada em pacientes hospitalizados e em instituições de longa permanência
• Quem executa e como executa esses testes?
• Diferentes contextos: ambulatório, hospital e instituições de longa permanência
• Escolha dos testes de acordo com as possibilidades• Avaliação de sarcopenia- avaliação objetiva e subjetiva• Avaliação das atividades da vida diária
Sarcopenia. Rápidocomentário(aulas profs. Ruth e Luciano)
Avaliação da sarcopenia-Algoritmo
Sarcopenia. Escala de Rastreio- SARC-F
Malmstrom TK, Morley JE. J Am Med Dir Assoc. 2013 (14): 531-532
Barbosa-Silva TG et al. J Am Med Dir Assoc. 2016(12):1136-1141.
Sarcopenia- Definição e critérios mais recentes
• Cruz-Jentoft et al. Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis. Age Ageing. 2019;48(1):16-31.
Definição Operacional da Sarcopenia. 2019
Sarcopenia Provável- identificada pelo Critério 1Diagnóstico de sarcopenia- confirmação com os Critérios 1 e 2Se foram preenchidos os critérios 1, 2 e 3, a sarcopenia é considerada severa
1- Baixa força muscular2- Baixa massa muscular (quantidade) e baixa qualidade muscular3- Baixa performance física
Quando investigar a sarcopenia?
• Primeira consulta/visita/avaliação
• Identificação de “suspeita de sarcopenia”: relatos de quedas, sensação de fraqueza, velocidade da marcha reduzida, dificuldade de levantar de uma cadeira, perda de peso ou redução da massamuscular
• (Cruz-Jentoft et al, 2019)
Critério 1. Baixa força muscular
OU Teste de sentar e levantar de uma cadeira (número máximo em 30s)
Força de preensão manual (Dinamômetro)
Ponto de corte para preensão
palmar, de acordo com o
IMC
Fried et al, 2001; Haidar et al, 2004
Critério 2. Baixa massa muscular (quantidade)
DEXA (DXA)= dual energy X-ray absorptiometry
Kim J et al AmJ Clin Nutr 2002; 76: 378-83; Baumgartner RN et al. Am J Epidemiol 1998; 147: 755-763; Delmonico et al. J Am Geriatr Soc. 2007 ;55(5):769-74. Newman et al. J Am Geriatr Soc. 2003 ;51(11):1602-9.
Diferentes cálculos e diferentes classificações
Exemplo: Massa magra apendicular (MMA)/altura 2
Exemplo de classificação (Newman et al, 2003):Homens: 7,23kg/m 2
Mulheres: 5,67 kg/m 2
Bioimpedância ElétricaAlguns exemplos de equações específicas para estimativa da massa
muscular em idosos
SMM Tengvall (kg)= -24,021 + (0,33 x Ht) + (-0,031 x R) + (0,083 x Xc) + (1,58 x sex) + (0,046 x BW)
• SMM= massa muscular esquelética, Ht= altura (cm), Sex= 0 homem e 1 mulher; BW= peso corporal)
SMM Janssen (kg)= (Ht2/R x 0,401) + (3,825 x sex) + (-0,071 x idade) + 5,102
Homem= 1 Mulher =0; Idade em anos
Bosaeus I et al. Clinical Nutrition 2013 (in press); Janssem et al. JAGS 2002; 50:889-896; Janssen et al. Skeletal muscle cutpoints associatedwith elevated physical disability risk in older men and women. Am J Epidemiol. 2004;159(4):413-21.
Mulheres: Sarcopenia severa: ≤ 5.75 kg/m2; Moderada: 5.76-6.75 kg/m2; Normal : ≥ 6.76 kg/m2
Homens:Sarcopenia Severa: ≤ 8.50 kg/m2; Moderada: 8.51-10.75 kg/m2; Normal : ≥ 10.76 kg/m2;
Exemplo de classificação com base no NHANES (Janssen et
al, 2004
Circunferência da panturrilha Considerada uma medida antropométrica sensível da massa muscular em idosos
(WHO 1995)
A circunferência da panturrilha não pode ser usada para
predizer a sarcopenia, mas fornece informações importantes
sobre incapacidades relativas à musculatura e função física
Circ. Panturrilha < 31cm apontou ser um valor relacionado à
perda de capacidades
EWGSOP2= recomendação do uso da CP como “proxy”
Rolland et al. Sarcopenia, calf-circumference and physical function of elederly women: a cross
sectional study. J Am Ger Soc 2003; 51: 1120-1124
Critério 3. Performance Física
Homens Mulheres
Altura (cm) Tempo gasto para
andar 4,6 metros
Altura (cm) Tempo gasto para
andar 4,6 metros
≤ 173 ≤ 7 segundos ≤ 159 ≤ 7 segundos
≥ 173 ≤ 6 segundos ≥ 159 ≤ 6 segundos
Em ritmo normalmente adotado no dia-a-dia, sem apoioou auxílio de bengalas e andadores
Velocidade da marcha
Fried et al, 2001
Outras possibilidades (com mais tempo, mais recursos)
• SPPB (Short physical performance battery)
• TUG (timed up and go)
• Marcha 400m
Avaliação da sarcopenia-Algoritmo
Pontos de corte para os testes propostos pelo consenso europeu (EWGSOP2).
Cruz-Jentoft et al, 2019
Funcionalidade-OMS- Classificação internacional de funções,
incapacidades e saúde (CIF,2001)
• Determinantes da incapacidade funcional- Interação dinâmica entre condições de saúde, doenças, traumas e agravos, além dos fatores ambientais, culturais, socioeconômicos e pessoais
• Incapacidade- definição multidimensional associada ao declínio funcional
• Inabilidade ou limitação para a execução dos papéis sociais e de atividades cotidianas laborais, familiares de entretenimento de forma independente.
Alves, Leite e Machado, 2008.
Funcionalidade-Atividades
básicas da vida diária
Kats et al. JAMA 1963; 185: 914-9
Funcionalidade-Atividades
instrumentaisda vida diária
Lawton MP, Brody EM. Gerontology1969; 9:179-86
AvaliaçãoObjetiva do Estado nutricional
Avaliação do consumo alimentar
Métodos de acordo com as condições do paciente
Recordatório 24h
História alimentar
Avaliação do consumo no hospital (quantidade, qualidade, avaliação das sobras
QFA
Avaliação Antropométrica-ajustes para a prática clínica
• Peso e estatura- nem sempre se pode avaliar da forma “tradicional”
• Peso corporal- Camas balança
Estimativas a partir de medidas são maisutilizados
Equações propostas para a estimativa da massa corporal
Chumlea, Roche & Steinbaugh. Anthropometric approaches to the nutritional assessment of the elederly. IN: Munro & Danford(Eds). Nutrition, Aging and theelderly. New York: Plennum Press, 1989; WHO World Health Organization (1995). Physical Status: the use and interpretation of anthropometry. Report of a WHO Expert Committee. WHO Technical Report Series 854: 375-409.
Equações preditivas de estatura de idosos ou pessoas sem possibilidade de serem medidos em pé.
.
Chumlea WC et al. Stature prediction equations for elderly non-Hispanic white, non-Hispanic black, and Mexican-American persons developed from NHANES III data. J Am Diet Assoc. 1998;98(2):137-42.
Obs: Estas fórmulas substituem as publicações anteriores de Chumlea, WC; Roche, AF; Steinbaugh, ML. J.Am.Geriat. Soc. 1985; 33:116; Chumlea, WC; Guo, S. J.Gerontol. 1992; 47:197
IMC é um bom indicador de risco?
Demanda espontânea em ambulatório de geriatriaSeguimento de 5a; 575 ♀; 60-94a; 109>80a (18,9%);RR com a mortalidade global e por DCV (obesidade global (IMC) e obesidade central (CA e RCQ)
Cabrera et al. Relação do índice de massa corporal, da relação cintura quadril e da circunferência abdominal com a mortalidade em mulheres: seguimento de 5 anos. Cad Saúde Pública 21(3): 767-775, 2005.
RCQ associada à mortalidade apenas quando se excluiu > 80 anosA idade por si só é fator de riscoCA= pouca associação com mortalidadeAlto IMC não foi associado com mortalidadeBaixo IMC= associados com mortalidade
Curva de sobrevivência de grupo de pacientes de acordo com o nível de IMC.
Fonte: LANDI F. et al; Body mass index and mortality among older people living in the
comunity. JAGS 47:1072-76, 1999).
IMC é um bom indicador de risco?
CLASSIFICAÇÃO DO IMC – Adultos jovens (não idosos)
IMC CLASSIFICAÇÃO Risco de doenças
crônicas
< 18,5 Baixo peso Baixo risco
18,5- 24,9 Eutrofia Sem risco
> 25 Sobrepeso
25-29,9 Pré obesidade Risco aumentado
30-34,9 Obesidade Classe I Moderado
35-39,9 Obesidade classe II Grave
>40 Obesidade classe III Muito Grave
OMS, 1997
Projeto SABE: recomendação OPAS
• < 23kg/m2 = baixo peso
• 23-28kg/m2= peso normal
• 28-30kg/m2= sobrepeso
• >30kg/m2= obesidade
Lebrão ML, Duarte YAO. Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS/OMS, SABE - Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento - O Projeto Sabe no Município de São Paulo: uma abordagem inicial. 1a ed. São Paulo: Athalaia Bureau, 2003.
IMC
Estudos sugerem pontos diferenciados, pela controvérsia da gordura corporal
Gordura visceral e risco de doenças crônicas: abordagem em idosos
• Medidas antropométricas relacionadas:• Relação cintura/quadril;
• Circunferência do abdômen (ou da cintura)
Bray,1988; Garrow,2000; Lean et al, 2000
Tomografia computadorizadaL4-L5
Snijer et al. Int J Epidemiol 2006; 35:83-92.
Circunferência do abdômen
Fonte: Garrow (2000).
88 cm 80 cmMulheres
102 cm 94 cmHomens
Risco
Substancialmente
Aumentado
Risco
aumentado
Considerações Finais- questões para reflexão
• Qual a Importância da avaliação da identificação do risco nutricional e do estado nutricional?
• Qual a importância do gerontólogo conhecer esses conceitos?
• Como o gerontólogo poderia colaborar nesse sentido?