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AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE
ECONÔMICA DE UMA USINA DE
PNEUS INSERVÍVEIS DA CIDADE DE
VITÓRIA DA CONQUISTA/BA
Euclides Santos Bittencourt (UFBA )
CRISTIANO HORA DE OLIVEIRA FONTES (UFBA )
Salvador Avila Filho (UFBA )
ADONIAS MAGDIEL SILVA FERREIRA (UFBA )
Alana Louise Alves Santos (UFBA )
O presente trabalho propõe realizar a análise da viabilidade
econômica de uma usina de reciclagem de pneus inservíveis recolhidos
pela logística reversa, pós-consumo, da cidade de Vitória da
Conquista. O empreendimento funciona há cerca de cinco anos e foi
fomentado inicialmente pelo banco Desenbahia, no programa de
crédito cidade limpa. Em função do pagamento da primeira parcela e
amortização do investimento inicial, cuja carência foi de cinco anos, o
empreendimento foi submetido a uma nova análise da viabilidade
econômica. As sinalizações deste estudo, notadamente a obtenção dos
indicadores de desempenho econômico do empreendimento após cinco
anos de operação, serviu de suporte para uma melhor planificação e
tomada decisões assertivas em relação aos negócios. Foram utilizadas
técnicas e métodos da análise de custos onde foi realizada a
identificação dos custos fixos e variáveis do negócio. A partir dos
dados obtidos criaram-se três possíveis cenários, provável, pessimista
e otimista. Com a aplicação das técnicas e métodos mencionados foi
possível realizar o cálculo das projeções de fluxos de caixa futuros, de
acordo com os indicadores econômicos, Valor Presente Líquido (VPL),
Taxa Mínima de Atratividade (TMA), Taxa Interna de Retorno (TIR) e
o Retorno Sobre o Investimento (ROI). Subjacente aos indicadores
econômicos explicitados também foram realizadas avaliações dos
demonstrativos dos resultados dos cinco períodos da pré-operação. Os
resultados dos cenários demonstraram que o empreendedor precisa ter
cautelas nos exercícios futuro devido ao peso do investimento inicial
nas amortizações. As receitas financeiras aportadas na venda do
material triturado da usina foram determinantes para a comprovação
da viabilidade do empreendimento.
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João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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Palavras-chave: Logística Reversa, Indicadores Econômicos, Tomada
de Decisão
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1. Introdução
A sociedade moderna depare-se com questões socioambientais que não mais permitem
prorrogação em seu prazo de solução (Andrade, 2007). Entre os problemas a serem
resolvidos, está o descarte de pneus inservíveis.
O descarte final do pneu inservível pode ocasionar sérios prejuízos aos municípios, seja na
forma inadequada do descarte; armazenamento; depósito de água que pode ser foco para
doenças como a dengue, zika, chikungunya; ou a eliminação através de queima a céu aberto
que contamina o solo e o ar; ou a criação de depósitos clandestinos. Diante deste cenário,
eleva-se a importância de conhecer mais profundamente as formas viáveis tanto
ecologicamente como economicamente, de aproveitamento dos pneus inservíveis, como
maneira de diminuir o descarte inadequado dos mesmos.
Este trabalho tem objetivo de avaliar a viabilidade econômica de uma usina de pneus
inservíveis de acordo com os dados históricos de coleta de pneus inservíveis do aterro
sanitário de Vitória da Conquista e das condições de pré-operação de uma usina de trituração
de pneus inservíveis montada há cinco anos. Por se tratar de uma simulação econômica, onde
algumas informações foram obtidas de fontes secundárias, também, serão testados os dados
coletados por meio de uma exaustiva análise de indicadores econômicos de acordo com a
visão de três cenários: provável, pessimista e otimista.
A justificativa para ações como esta se baseia nas experiências no sul e sudeste do Brasil.
Segundo Motta (2008), a empresa Borcol, fabricante de tapetes automotivos recicláveis,
inaugurou no Brasil o maior centro de trituração de pneus inservíveis da América Latina, com
capacidade de triturar de quatro a seis toneladas por hora de pneus inservíveis. O investimento
foi feito pelas quatro maiores fabricantes de pneus do Brasil: Goodyear, Pirelli, Bridgestone e
Michelin, no valor de US$ 1 milhão. A usina tem capacidade para reciclar 16.128 toneladas
por ano, foi feito um investimento de US$ 3.200.000,00 na usina.
2. Referencial teórico
2.1. Conceitos sobre reciclagem e logística reversa
A reciclagem é definida como reprocessamento dos resíduos num processo de produção para
o fim original ou para outros fins (Portaria CONAMA 15/96, de 23 de janeiro de 1996). Esse
trabalho seguirá as referenciais da agência de pesquisa IBIS: O setor de reciclagem abrange
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estabelecimentos primariamente voltados para (1) a operação de plantas para a separação e
triagem de materiais recicláveis provenientes dos resíduos sólidos não perigosos e/ou (2) para
a operação de plantas onde materiais recicláveis misturados, como papel, plástico, latas de
bebida, e metais, são separadas em categorias distintas (IBIS, 2007).
2.2. Logística reversa
A reutilização de produtos e materiais não é um fato novo (Correia; Xavier, 2013). A
reciclagem de metais, plásticos e papéis são processos realizados já há algum tempo e são
mais vantajosos economicamente do que a simples disposição final.
Entretanto, com a crescente preocupação com o meio ambiente, a importância do reuso vem
tomando maiores proporções. Ao invés de fluxo único (direto) dos materiais, a ideia de ciclo
ou reciclo está cada vez mais difundida na literatura sobre a temática.
Assim, a oportunidade de reutilização de materiais deu origem a um novo fluxo de materiais,
partindo do consumidor e chegando ao fornecedor. O gerenciamento desse caminho inverso
dos materiais secundários, quando comparado ao fluxo direto da cadeia de suprimentos, é
chamado de logística reversa (Fleischmann et al., 1997).
Para Leite (2003) a logística reversa pode ser definida hoje como a “área da logística
empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes,
do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo
produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas
naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros”.
Fleischmann et al. (1997), afirmam que os interesses ambientais e econômicos estão
interligados, porém tudo depende da viabilidade econômica para reaproveitamento. Como
exemplo, o aumento do custo de disposição dos produtos faz crescer o interesse de redução do
lixo, ao mesmo tempo em que a conscientização ambiental do consumidor faz despertar novas
áreas de investimento. Desse equilíbrio de interesses nasce à expressão “economia circular
sustentável”.
2.3. Fluxo reverso de materiais
Outra categoria presente no fluxo reverso dos materiais são os bens de pós-venda. Por
diversos motivos esses produtos retornam à cadeia de suprimentos: término de validade,
estoques excessivos no canal de distribuição, consignação ou problemas de qualidade. Esses
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produtos dos mercados secundários produtos podem parar nos mercados de materiais
“sucata”, nas reformas, desmanches, reciclagem dos produtos e de seus materiais constituintes
e disposição final (Mason, 2002).
O fluxo reverso origina-se em diferentes momentos da distribuição direta, ou seja, do
consumidor final para o varejista ou entre membros da cadeia de distribuição direta.
Do ponto de vista estratégico empresarial, uma referência construtiva, estima-se que a
logística reversa movimentará nos EUA cerca de 35 bilhões de dólares, ou 0,5% do PIB do
país (Lagarinhos; Tenório, 2013).
2.4. Distribuição do canal reverso
O canal de distribuição reverso pode derivar-se fluxo direto dos materiais, pode ser um canal
totalmente independente ou constituir-se por uma combinação desses dois fluxos.
O maior problema da distribuição reversa é o nível de integração entre o canal direto e o
reverso (Fleischmann et al., 1997). Com o intuito de gerar uma distribuição eficiente, as
decisões devem variar de acordo com: (i) Atores do canal de distribuição reverso; (ii) Funções
e alocações no canal de distribuição reverso e (iii) Relação entre o canal de distribuição direto
e reverso.
A distribuição reversa pode ocasionalmente passar pelo canal direto, pela rede de distribuição
inicial, entretanto, mesmo que os atores do processo sejam os mesmos, isso é difícil de
ocorrer, pois em relação às rotas a coleta e a distribuição requererão diferentes manuseios. A
Figura 1 mostra um esquema de distribuição direta e reversa combinados.
Figura 1 - Integração entre fluxo direto e reverso
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Fonte: Adaptado de Fleischmann et al. (1997)
2.5. Reciclagem de pneus inservíveis
A reciclagem de pneus inservíveis de acordo com Morais (2009) torna-se uma das alternativas
para evitar que produtos degradem ainda mais o ambiente. Sabe-se que um terço do lixo
doméstico do Brasil é fruto da cadeia de consumo, onde as embalagens são mais
representativas. O país possui elevados níveis de poluição do meio ambiente, desmatamento e
outros problemas ambientais. Em 2008 foram produzidos em torno de 60 milhões de pneus no
país e destes, a metade foi descartada no mesmo ano. Para agravar, boa parte desse material
secundário é descartado em locais impróprios, como terrenos baldios, acarretando em graves
anos ao meio ambiente.
No Brasil, alguns procedimentos e metas para pneumáticos inservíveis foram estabelecidos,
entre outros, quanto a responsabilidades, prazos e quantidades para coleta e disposição final,
por meio das Resoluções CONAMA nº 258/99 e 301/02, regulamentadas pela Instrução
Normativa nº 8/02 do IBAMA.
Em 2015, a Reciclanip (2015), entidade sem fins lucrativos criada pela indústria nacional de
pneus para cuidar exclusivamente da coleta e destinação de pneus inservíveis em todo o país,
coletou e destinou de forma ambientalmente correta 451,7 mil toneladas de pneus, o
equivalente a 90,3 milhões de unidades de pneus de carros de passeio. Nos últimos cinco
anos, a entidade superou a meta de reciclagem estabelecida pelo Ibama. No ano passado, o
IBAMA divulgou o Relatório de Pneumáticos – Resolução Conama 416/09, em que atesta
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que a indústria nacional de pneus cumpriu 106,98% da meta de coleta e destinação de pneus,
superando-a em 6,98%. Os importadores de pneus, por outro lado, cumpriram apenas 77,9%,
aquém do estipulado pelo órgão ambiental.
Desde 1999, quando começou a coleta e a destinação de pneus inservíveis pelos fabricantes
nacionais de pneus, 3,57 milhões de toneladas de pneus inservíveis foram coletados e
destinados adequadamente, o equivalente a 713,4 milhões de unidade de pneus de passeio.
Desde então, os fabricantes de pneus já investiram R$ 804,8 milhões no programa até 2015
(RECICLANIP 2015).
Outra forma bastante usual para destinação final de pneus inservíveis, após serem triturados
ou picotados, é a sua utilização como combustível alternativo para o processo produtivo da
indústria de cimentos. Além disso, o pó gerado na recauchutagem e os restos de pneus moídos
podem ser aplicados na composição de asfalto de maior elasticidade e durabilidade, além de
atuarem como elemento aerador de solos compactos.
Alguns exemplos de medidas de minimização são a redução na fonte geradora, o reuso dos
materiais e a reciclagem, que visam à ampliação do ciclo de vida do produto, reduzindo a
extração de recursos naturais, bem como maximizando a vida útil dos aterros sanitários
(D'ALMEIDA ; VILHENA, 2000).
a) Pavimentos para estradas - O pó gerado na recauchutagem e os restos de pneus moídos
podem ser aplicados na composição de asfalto de maior elasticidade e durabilidade,
além de atuarem como elemento aerador de solos compactos.
b) Contenção de erosão do solo - Fazendo barreiras na contenção de erosão, deslizamento
de terra nas estradas e nas cidades, quebras mares e etc.
c) Fabrica de cimento - na incineração de pneus nos fornos indústrias e o pó queimando
pode ser usado na composição dos cimentos.
d) Fabricas - pisos industriais, Sola de Sapato, para-choque de carros e etc.
e) Equipamentos para Playground e esportes e etc.
f) Artesanato - na moldura, cadeiras, vasos, objeto de decoração e etc.
g) Compostagem - O pneu não pode ser transformado em adubo, mas, sua borracha
cortada em pedaços de 5 cm pode servir para aeração de compostos orgânicos.
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Este trabalho mostra sinteticamente as algumas alternativas de uso dos pneus inservíveis após
beneficiamento em usina de trituração, mas está pautado na avaliação econômica dos
processos de beneficiamento dos materiais secundários. O valor dos materiais secundários é
perfilado, na medida em que se agregam melhorias e foco na aplicação.
Indicadores econômicos como: Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR)
e Payback Descontado são usualmente usados nas avaliações determinísticas. O Valor
Presente ou Present Value é um conceito matemático que indica o valor atual de uma série
uniforme de capitais futuros, descontados a uma determinada taxa de juros compostos, por
seus respectivos prazos (WERNKE, 2000).
3. Estudo de caso
O estudo de caso foi realizado na cidade de Vitória da Conquista. A cidade hoje tem cerca de
300000 habitantes e uma população flutuante de 1milhão habitantes, que se deslocam
diariamente para vários propósitos. Na atualidade, a principal atividade econômica é
representa pelo setor do comércio e serviço. O principal deles são os serviços médicos da
região, entre outras necessidades educacionais, bem como os serviços comerciais tradicionais,
devido ao polo logístico ter sido instalado recentemente.
Nesse sentido, soma-se a melhoria da qualidade de vida, estimulada pelas políticas de créditos
que fez o PIB municipal crescer cerca de 500% durante 20 anos (1994 a 2014).
Especificamente, o consumo de pneus segundo uma pesquisa realizada no aterro sanitário,
aumenta numa taxa de 20% ao ano, assim como a formação de pneus inservíveis aumentou na
mesma proporção. Os pneus inservíveis são acondicionados em local apropriado no aterro
sanitário para o descarte e posteriormente distribuição conforme logística reversa pós-
consumo.
Os pneus inservíveis são destinados para usinas de trituração para diversos fins. Na cidade de
Vitória da Conquista, os pneus inservíveis são triturados para complementação na
pavimentação asfáltica entre outros fins.
Considerando a necessidade de avaliar a viabilidade econômica do empreendimento que está
em pré-operação desde 2011 com investimento do banco Desenbahia, os resultados que
seguem representam as simulações dos dados reais da coleta de pneus na cidade. Algumas
informações foram levantadas de fontes secundárias, mas não é intenção desse ensaio esgotar
as descobertas e simulações.
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3.1. Premissas
O projeto foi estimulado no programa de investimento do BIRD para saúde pública e geração
de emprego. O projeto foi concebido a fundo perdido, onde o empreendedor (empresário) tem
renuncia fiscal e a participação de capital próprio atinge o percentual de até 5% do
investimento total, pagamento da primeira parcela de amortização do financiamento após
cinco anos. A primeira parcela do pagamento é igual ao valor (percentual) do capital próprio
empregado.
Os seguintes aspectos foram considerados na análise do investimento:
Investimento inicial em 2011 foi de R$ 1 434 000,00.
Investimento parcial nos anos de 2012, 2013, 2014 e 2015 foi de cerca de R$
400000,00.
Investimento total perfazendo o montante de R$ 3 077 776,89.
Amortização do investimento inicial:
a. Carência de 5 anos;
b. Pagamento da primeira parcela em 2016;
c. Parcela de amortização mensal igual ao recurso próprio de 2,37% (R$ 34 000,00);
d. Após 10 anos de amortização, o investimento inicial será majorado conforme
índice de correções do contrato.
e. O saldo devedor será pago em mais 10 anos;
f. O projeto tem horizonte de 25 anos.
3.2. Resultados
Para dar consistência a avaliação de viabilidade econômica foi realizada ajustes nas planilhas
de investimento por falta de informações consistente do empreendimento. Dados importantes
da época do investimento não estavam disponíveis no escritório da usina de trituração. Os
dados quantitativos de investimentos foram aportados conforme segue:
a) Investimento inicial de cerca de R$ 1400000,00 com 5 anos de carência para
amortização da primeira parcela e captação parciais de cerca de R$ 400000,00 para
compensar perdas de faturamento inicial devido a depreciação de equipamentos
dinâmicos (correia transportadora, esteiras e motores elétricos).
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b) Os fluxos de caixas a seguir dos cenários, figuras 2, 3 e 4, mostram os saldos anuais
após compensação entre o custo do investimento e a receita de venda dos pneus
inservíveis triturados.
Figura 2 - Fluxo de caixa dos cenários provável
O investimento foi captado em 2010, o marco zero do fluxo de caixa. O recurso aportado
capitalizado em um determinado banco para minimizar as perdas monetárias o investimento
inicial que estava dependo do projeto básico para iniciar o desembolso do caixa do projeto. Os
cenários provável, pessimista e otimista têm o mesmo comportamento, no entanto os preços
de vendas e as compensações no fluxo de caixa exibem valores distintos.
Figura 3 - Fluxo de caixa do cenário Pessimista
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INDICADORES PROVÁVEL PESSIMISTA OTIMISTA
Lucro Bruto (R$/ano) 1499400,23 1163805,62 1834994,83
Lucro Liquido (R$/ano) 1229175,09 902796,35 1555553,83
Lucratividade (%) 32,36 31,26 33,04
Rentabilidade (%) 39,94 29,33 50,54
Ponto de Equilibrio (R$) 420137,00 593226,15 310358,97
ROI (%) -56,90 -68,35 -45,46
VPL (R$) 373068,02 -299654,34 1045790,37
TMA (% a.a.) 10,66 10,66 10,66
TIR (% a.a.) 0,35 -0,10 0,86
Figura 4 - Fluxo de caixa do cenário Otimista
Considerando a simulação dos três cenários, o cenário otimista apresenta melhores condições
de amortização do investimento inicial e parcial por ano. Os resultados dos indicadores
econômicos indicam uma tendência de recuperação de capital (payback) no horizonte de 10
anos, dada a complexidade de funcionamento de uma usina de trituração de pneus inservíveis.
A logística reversa pós-consumo é o principal “gargalo” do sistema produtivo devido à falta
de integração entre os fluxos diretos e reversos.
3.4. Indicadores econômicos
A análise dos indicadores econômicos adotados na simulação expressão diferentes
compreensões dado aos cenários provável, pessimista e otimista, ver tabela 1. A síntese da
análise aponta que o cenário otimista reúnem as melhores condições que vão nortear uma
tomada de decisão assertiva.
Tabela 1 – Indicadores econômicos por cenário
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O retorno sobre o investimento em todos os casos ainda depende da capacidade da usina de
trituração gerar um valor agregado de receitas por meio de venda, entretanto um volume
maior de pneus inservíveis deverá ser retirado da sociedade para viabilizar o negócio. Os
valores descontados, ou seja, descontando na TMA, em todos os cenários, ainda apontando
que o melhor VPL é do cenário otimista (R$ 1045790,37). O investimento inicial para esse
tipo de empreendimento mesmo com o tempo de carência de pagamento da primeira parcela
de 5 anos, reúnem inúmeras incertezas devido as variáveis não controláveis, tal como as
questões culturais e consciência ambiental.
Todavia, desconsiderando a TMA e verificando os ganhos agregados pela TIR, os cenários
provável e otimista mostram, respectivamente, TIR de 35% e 86%. O retorno demorará, mas é
promissor o investimento se a sociedade entender a importância da logística reversa como
política pública. Os indicadores de lucratividade e rentabilidade mostram que os ganhos são
positivos contabilmente, porém, no curto o ponto de equilíbrio das receitas para cobrir os
custos fixos, depende da margem de contribuição, isto é, os preços nominais, em condições de
superar o pagamento dos custos fixos e a depreciação das máquinas e equipamentos (R$
18000,00/ano), que são vetores importantes no longo prazo para retorno param aos
investidores (empreendedores). O controle dos custos fixos faz parte da estratégia da usina de
trituração de pneus. Os gráficos abaixo, figura 5 e 6 apresentam o comportamento dos
indicadores econômicos.
Figura 5 - Comportamento dos indicadores econômicos monetários (R$)
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Figura 6 - Comportamento dos indicadores econômicos relativos (%)
Os indicadores econômicos demonstram que, do ponto de vista monetário e relativo (%) o
melhor comportamento figura 5 e 6, o cenário otimista apresenta valores monetários que
determinam boas projeções, apesar do retorno sobre investimento ainda não ser favorável
(ROI -45,46%). O projeto será viabilizado em um menor espaço de tempo comparado com
outros cenários. Os indicadores econômicos determinísticos (relativizados) também
expressam esta tendência. No entanto, o sucesso do empreendimento depende do retorno
sobre o investimento que ainda é incipiente em termos de ganho agregado para pagamento
e/ou amortizações das parcelas do investimento total. Na ótica da taxa interna de retorno
(TIR) o cenário otimista apresenta um retorno implícito de 86% que seria muito interessante
para o negócio. No cenário provável, a TIR é de 35%, também muito interessante para o
projeto. A TIR zera o VPL (saldo do investimento).
Enfim, os indicadores econômicos apresentam uma tendência favorável, principalmente no
VPL do cenário otimista, que explicita ganhos nos valores presentes do fluxo, descontando a
TMA. Os números indicam que o empreendedor poderá a ampliar o negócio mesmo no
cenário provável (o presente), caso a coleta de pneus inservível seja integrada ao fluxo direto
para de viabilizar o investimento. O comportamento dos cenários mostra a mesma tendência
na percepção monetária, entretanto, o que está implícito são os resultados da logística reversa.
Quanto maior a coleta, menor serão os custos operacionais da usina de trituração. O gráfico,
figura 7, aponta essa tendência.
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Figura 7 - Tendência dos cenários
Os resultados orientam o empreendedor a atentar para os cenários, assim como ter controle
efetivo dos processos, no âmbito administrativo e no âmbito operacional, desde a logística
reversa e as políticas públicas de coleta de pneus junto à autoridade pública do município.
Evidentemente, o resultado econômico virá no longo prazo após amortização total do
investimento. A empresa pagará a primeira parcela do investimento inicial no ano de 2016 e
para tais fins deverá olhar com mais rigor os critérios dos indicadores de lucratividade e
rentabilidade. A margem de contribuição é outro ponto para compreensão do empreendedor.
Os custos variáveis deverão acompanhar o faturamento do empreendimento. Esses índices são
importantes no curto prazo.
4. Considerações finais
Os resultados da simulação para avaliação da viabilidade econômica da usina de trituração em
pré-operação após cinco anos representa uma ferramenta de apoio à tomada de decisão
assertiva sobre a viabilidade econômica do projeto.
Conclui-se que o investimento é economicamente viável para o empreendedor desde que o
mesmo tenha incentivo e renúncia fiscal conforme teve no período de pré-operação. O custo
do investimento inicial contabilmente é uma oportunidade e ao mesmo tempo se o
empreendimento não tiver capacidade de geração de caixa no curto prazo.
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Além da questão econômica que é importante, essa atividade tem uma função positiva para o
município, porque irão dar subsídios as políticas públicas na mitigação de foco de doenças
tropicais.
Os indicadores econômicos apontam que os resultados serão positivos no longo-prazo, após o
pagamento do investimento inicial e amortização das parcelas de investimento aportado ano a
ano na carência do projeto.
Existem espaços para outras usinas de trituração de pneus, algo importante que irá agregar
valor para o mercado secundário dos pneus inservíveis e pedagogicamente a sociedade dará
mais importância no trato desse artefato, uma vez que o valor econômico do artefato estará
explicito.
Os grandes produtores e importadores seguem as normas regulamentadas pelo CONAMA,
mas ainda é insuficiente sua ação, porque o mapeamento dos pneus na sociedade ainda é
difuso, ou seja, porque são múltiplos consumidores e poucos fabricantes. Isso para logística
reversa é muito complicado, e é necessário a integração do fluxo direto (pneu novo para o
consumo) e o fluxo reverso (pneus inservíveis retornáveis).
Os incentivos sugere que novos métodos de análise econômica devam ser empregados na
análise econômica do uso de pneus inservíveis, tais como: empregar técnicas estocásticas ou
outras análises (como por exemplo, teoria das opções reais).
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Hered de Souza. 2007. Pneus inservíveis: alternativas possíveis de reutilização. Disponível em <
http://tcc.bu.ufsc.br/Economia293475.
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 307, de 05 de julho de 2002. Estabelece
diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial da União,
Brasília, D.
______ - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 348, de 16 de agosto de 2004. Altera a
resolução CONAMA no 307 de 5 de julho de 2002, incluindo amianto na classe de resíduos perigosos. Diário Oficial da União, Brasília, DF.
______ - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 431, de 25 de maio de 2011. Altera o art. 3º da
Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA,
estabelecendo nova classificação para o gesso. Diário Oficial da União, Brasília, DF.
______ - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 448, de 19 de janeiro de 2012. Altera os arts. 2º,
4º, 5º, 6º, 8º, 9º, 10 e 11 da Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA. Diário Oficial da União, Brasília, DF.
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CORREIA, H.L. & XAVIER, L.H. Sistemas de Logística Reversa: Criando Cadeias de Suprimento
Sustentáveis. São Paulo: Editora Atlas S.A. – 2013.
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