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Avaliação da Qualidade Visual da Paisagem no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro-SC: uma aplicação metodológica focada no uso público e na valorização turística. Paulo dos Santos Pires 1 . Universidade do Vale do Itajaí, SC Márcio Soldateli 2 . Caipora-Cooperativa para a Conservação da Natureza, Florianópolis-SC RESUMO Considerando que a paisagem em sua dimensão visual possui uma importância primordial na formação da imagem de destinos turísticos e na motivação da demanda, associado ao seu caráter de indicador de primeira mão do estado de conservação da natureza e da qualidade do ambiente, este trabalho tem por objetivo mostrar a aplicação de uma metodologia de avaliação da qualidade visual paisagem, a qual pode ser definida como método indireto de avaliação da qualidade visual por componentes. A avaliação ocorreu em um ponto de observação localizado no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro-SC e o resultado obtido, de acordo com os indicadores de qualidade visual utilizados, foi o de que as cenas observadas possuem uma diversidade visual predominantemente grande; um grau de naturalidade que variou de superior a média-superior; um nível de singularidade que variou de grande a razoável potencial de atratividade; e detratores visuais caracterizados como conjuntos de pequenas a médias intrusões visuais. Palavras-chave: Turismo; Uso Público; Paisagem; Qualidade Visual; Parque Estadual da Serra do Tabuleiro-SC. 1Graduado em Engenharia Florestal pela UFSM-RS e doutor em Ciências (Área de Geografia Humana) pela USP-SP. Docente e pesquisador da Universidade do Vale do Itajaí junto aos Cursos de Mestrado em Turismo e Hotelaria; Doutorado em Administração e Turismo e Graduação em Turismo e Hotelaria. É, também, consultor ad hoc da Fundação O Boticário de proteção da natureza. [email protected] 2 Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (1995); Especialista em Gerenciamento de Projetos; e mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (1999). Atualmente é membro da Caipora-Cooperativa para a Conservação da Natureza, consultor e gerente de projetos na área de Turismo e Meio Ambiente, com mais de 10 anos de atuação principalmente no uso público em Unidades de Conservação, ecoturismo, turismo de aventura e educação ambiental. [email protected]

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Avaliação da Qualidade Visual da Paisagem no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro-SC: uma aplicação metodológica focada no uso público e na

valorização turística.

Paulo dos Santos Pires1. Universidade do Vale do Itajaí, SC

Márcio Soldateli2. Caipora-Cooperativa para a Conservação da Natureza, Florianópolis-SC

RESUMO

Considerando que a paisagem em sua dimensão visual possui uma importância primordial na formação da imagem de destinos turísticos e na motivação da demanda, associado ao seu caráter de indicador de primeira mão do estado de conservação da natureza e da qualidade do ambiente, este trabalho tem por objetivo mostrar a aplicação de uma metodologia de avaliação da qualidade visual paisagem, a qual pode ser definida como método indireto de avaliação da qualidade visual por componentes. A avaliação ocorreu em um ponto de observação localizado no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro-SC e o resultado obtido, de acordo com os indicadores de qualidade visual utilizados, foi o de que as cenas observadas possuem uma diversidade visual predominantemente grande; um grau de naturalidade que variou de superior a média-superior; um nível de singularidade que variou de grande a razoável potencial de atratividade; e detratores visuais caracterizados como conjuntos de pequenas a médias intrusões visuais.

Palavras-chave: Turismo; Uso Público; Paisagem; Qualidade Visual; Parque Estadual da Serra do Tabuleiro-SC.

1Graduado em Engenharia Florestal pela UFSM-RS e doutor em Ciências (Área de Geografia Humana) pela USP-SP. Docente e pesquisador da Universidade do Vale do Itajaí junto aos Cursos de Mestrado em Turismo e Hotelaria; Doutorado em Administração e Turismo e Graduação em Turismo e Hotelaria.É, também, consultor ad hoc da Fundação O Boticário de proteção da natureza. [email protected]

2 Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (1995); Especialista em Gerenciamento de Projetos; e mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (1999). Atualmente é membro da Caipora-Cooperativa para a Conservação da Natureza, consultor e gerente de projetos na área de Turismo e Meio Ambiente, com mais de 10 anos de atuação principalmente no uso público em Unidades de Conservação, ecoturismo, turismo de aventura e educação ambiental. [email protected]

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1. Introdução

A apropriação da paisagem como objeto de abordagem ou como unidade de estudo por uma

ampla gama de interesses profissionais e acadêmicos, inclui obviamente, a área do Turismo, dada a

importância da paisagem enquanto indicador privilegiado da experiência de viagem do turista, na

medida em que este, de acordo com Rodrigues (1992:75) “busca na viajem a mudança de ambiente,

o rompimento com o cotidiano, a realização pessoal, a concretização de fantasias, a aventura e o

inusitado e que quanto mais exótica for a paisagem mais atrativa será para o turista.”

Como a paisagem se constitui em um recurso da maior importância para o turismo, o seu

estudo, ou mais precisamente a avaliação de sua qualidade estética/visual, é de particular interesse

para o planejamento desta atividade (CERRO,1993). Caracterizar e analisar/avaliar tal qualidade

identificando os aspectos diferenciais de uma dada porção do espaço com atributos naturais ou

valores antrópicos é potencializá-lo, enquanto recurso, para o desenvolvimento do turismo. Para

tanto, os estudos da paisagem despontam como uma área do conhecimento com inerente condição

para o aporte metodológico à avaliação do potencial turístico de regiões, destinos e atrativos. Neste

sentido, o presente trabalho3 expõe a avaliação da qualidade visual da paisagem em uma Unidade de

Conservação Estadual de Santa Catarina, ou seja, o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro –PEST,

uma Unidade de Conservação Estadual administrada pela Fundação do Meio Ambiente de Santa

Catarina-FATMA, localizado na região da Grande Florianópolis ( Figura 1) e, portanto, na esfera de

influência direta de um dos principais pólos de atração turística do sul do Brasil.

3 A Avaliação da Qualidade Visual da Paisagem no PEST constituiu um dos objetivos do projeto de pesquisa “Mapeamento de Trilhas e dos Impactos Ambientais Negativos nos Atrativos Naturais do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, Santa Catarina, Brasil: adaptações e aplicações metodológicas”, coordenado pelo Prof. ............................. e financiado pela FAPESC (Convênio: nº AAG 10.412/2005-4 / SPP: fctp 836/052). Proponente: Universidade do Vale do Itajaí. Intervenientes: Fundação do Meio Ambiente – FATMA e Cooperativa para Conservação da Natureza – CAIPORA.

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Figura 1: Localização geográfica do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro-SC, Brasil

O crescimento e o desenvolvimento sócio-econômico desordenado da região de entorno do

PEST, geraram conflitos no que tange ao uso e conservação de seus recursos naturais a atributos

cênicos. Especialmente em relação ao turismo, os principais problemas são a especulação

imobiliária, o atual modelo turístico presente na parte litorânea, bem como, a crescente e

desordenada procura pelas áreas naturais do PEST para a prática de atividades recreativas e do

turismo de aventura.

2. Marco teórico-metodológico

Para FONT (1989) há uma rica diferenciação do território expressa pela diversidade da

paisagem e a imagem mais utilizada para difundir uma determinada região ou centro turístico é

precisamente a sua paisagem, seja ela a expressão de espaços naturais ou humanizados. (idem,

1992). Já na esfera acadêmica e profissional, de acordo com Pires (2007), a paisagem adquire

interpretações e acepções próprias do matizamento disciplinar contido na esfera da arte, das ciências

exatas, das geociências, e das ciências sociais, podendo exprimir-se em três grandes dimensões

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conceituais, que segundo Jordana (1992), são a dimensão ecológica, a dimensão cultural e a

dimensão estética/visual. Destas, a dimensão estética ou visual é a mais primitiva e a mais intuitiva

e está relacionada com os aspectos sensitivos e perceptivos do ser humano que, ao valorá-la, lança

mão de um juízo de valor intrinsecamente subjetivo. Dessa forma, com a definição de que

“paisagem é a porção de espaço da superfície terrestre apreendida visualmente” (IGNÁCIO et al.,

1984:40), têm-se uma idéia plena e ao mesmo tempo sucinta de seu significado. Como toda

paisagem possui uma qualidade intrínseca à sua própria existência, à qual se agrega uma qualidade

constatada no processo de sua percepção pelo observador, pode-se definir qualidade visual de uma

paisagem como sendo “o grau de excelência de suas características visuais, constituindo no mérito

para não ser alterada ou destruída e para a conservação da sua essência e estrutura atual”

(IGNÁCIO et al., 1984:38).

Neste sentido, o aumento da qualidade visual de uma paisagem normalmente se dá quando

no território por ela abarcado se verificam ocorrências como: a maior movimentação do relevo ou

de irregularidades topográficas; a diversidade de usos do solo advinda das atividades humanas;

ocorrências de obras de arte da engenharia e da arquitetura; ocorrência de vistas panorâmicas ou de

grande alcance visual; ocorrência de vistas fechadas (fundos de vales, vales profundos e estreitos,

como os cânions; a presença de cobertura vegetal, especialmente do tipo arbórea; a ocorrência de

superfícies d’água e de margens com traçado naturalmente irregular; a ocorrência de episódios

atmosféricos e meteorológicos (nascer/pôr do sol, neve, nebulosidade,...); e a presença de fauna

nativa. (Adaptado a partir de LAURIE, 1970,76; LITTON, 1972; BOMBIN, 1989). A qualidade

visual poderá ser potencializada diante do estado de conservação da integridade, da originalidade ou

da autenticidade de tais ocorrências, sejam elas naturais ou culturais.

Para Laurie (1976), a avaliação da qualidade visual da paisagem enfoca geralmente um

exercício comparativo, gerando uma tendência subjetiva. Este subjetivismo provém da própria

educação recebida, atitudes afetivas e gostos adquiridos, que se manifestam quando um indivíduo

percebe uma paisagem e emite um juízo de valor sobre a mesma. Jordana (1992) assume que a

tarefa de valoração da paisagem não é fácil, uma vez que esta é conseqüência da relação entre um

espaço visual e o observador. Comenta, ainda, que a percepção da paisagem, a partir de estímulos

recebidos do meio, é um ato criativo, condicionado a fatores inerentes ao próprio indivíduo, a

fatores educativos e culturais e a fatores emotivos, afetivos e sensitivos.

Na mesma linha de pensamento, Lucas (1990) admite a dificuldade em comparar a

qualidade das paisagens, uma vez que a análise se dá em função da observação e julgamento

individual, influenciado pelos instintos de comportamento, emoções, educação, cultura e

experiências. No entendimento de Bombin et al. (1989), para a valoração é necessário o concurso

de uma série de fatores plásticos e emocionais, com seus correspondentes juízos de valor,

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estabelecendo uma tripla problemática, por um lado, a qualidade intrínseca da paisagem, por outro,

a resposta estética que produz no indivíduo e, finalmente, a atribuição de um valor. Por sua vez,

Bernaldez (1981) observa que o estudo da paisagem liga o enfoque científico, abstrato e

quantitativo e o aspecto da cultura empírica e sensorial. Em síntese, os métodos baseados,

sobretudo, em juízo de valor de profissionais e de especialistas, podem ou não ser combinados com

outros métodos que consideram as percepções e preferências pessoais do público e, ainda, ser

complementados com o advento de determinadas técnicas estatísticas a fim de conferir um caráter

mais quantitativo ou mensurável aos resultados obtidos. Assim, a aplicação dos métodos de estudos

da paisagem, permite a aferição da qualidade dos atrativos, definindo a sua vocação turística e

proporcionando uma melhor fundamentação para a tomada de decisões no processo de

planejamento do turismo. (CERRO, 1993).

A acepção de qualidade visual de uma paisagem induz à apresentação da idéia decorrente de

detração da qualidade visual da paisagem, pela qual uma atividade é considerada detratora da

qualidade visual da paisagem quando a intrusão visual decorrente da sua presença, passa a incidir de

forma negativa diretamente sobre a natureza e composição dos seus componentes físicos dotados de

expressão visual. Portanto, a intrusão visual decorrente do estabelecimento de atividades humanas

numa determinada paisagem, caracteriza o impacto visual destas atividades, passando a se verificar

as modificações visuais que acarretarão na mudança do nível de qualidade pré- existente. (PIRES,

1993).

2.1 Principais classificações metodológicas no campo dos estudos da paisagem

Cerro (1993) considera que apesar da grande quantidade de métodos existentes, eles

podem ser agrupados em três enfoques básicos: os estudos de consenso; a avaliação por

componentes; e os estudos de preferências. Bernáldez (1981) ao abordar as alternativas para a

valoração da paisagem apresenta a classificação proposta por Penning-Rowsell (1974) que divide os

métodos de valoração da paisagem em duas grandes categorias: métodos independentes dos

usuários da paisagem (realizados por especialistas); métodos dependentes dos usuários da paisagem.

Finalmente Ignacio et al. (1984) classifica o universo metodológico, no tocante à avaliação da

qualidade visual da paisagem, em: métodos diretos; métodos indiretos e métodos mistos de

avaliação da qualidade visual.

3. A avaliação da qualidade visual no PEST

O método aplicado na presente análise, pode ser enquadrado nas seguintes classificações:

método de avaliação da paisagem independente dos usuários (BERNÁLDEZ, 1981); método

indireto de avaliação da qualidade visual da paisagem (IGNÁCIO et al., 1984); método de

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avaliação da paisagem por componentes (CERRO, 1993). É, portanto, um método subjetivo cujos

critérios internos se baseiam em juízo de valor profissional a partir do conhecimento e da

experiência de quem o adota e o utiliza.

3.1 Procedimentos metodológicos

Os indicadores de qualidade visual adotados para a análise da paisagem foram: diversidade;

naturalidade; singularidade; e detratores. Os critérios internos de avaliação para cada indicador e

seu detalhamento são apresentados nos Quadros 1, 2, 3, 4, 5, a seguir.

Componentes da Paisagem Características Visuais

Relevo Forma/volume, linha, espaço, escala/dimensão

Solo / Rocha Forma, textura, linha, cor

Vegetação Forma, textura, linha, cor

Água Forma, linha, cor, espaço, escala

Atividades Humanas Forma, textura, linha, cor, espaço, escala

Quadro 1: Componentes e características visuais para o indicador Diversidade visual

Gradiente de Modificação da Paisagem Natural Classificação- Paisagem natural sem alterações visíveis.- Paisagem natural pouco alterada. Naturalidade Superior (S)

- Paisagem predominantemente natural com alterações pequenas a moderadas. Naturalidade Média-Superior (MS)

- Paisagem tipicamente rural (campestre, cultivada, colonial).- Paisagem urbana/peri-urbana com entorno predominantemente natural. Naturalidade (M)

- Paisagem peri-urbana misturada com elementos da paisagem rural.- Paisagem urbana/peri-urbana com presença de elementos naturais em seu entorno.- Paisagem urbana com expressiva presença de áreas verdes (arborização de rua, bosques, parques/praças).

Naturalidade Média-Inferior (MI)

- Paisagem urbana com poucos elementos naturais ou áreas verdes. Naturalidade Inferior (I)

Quadro 2: Gradiente de modificação da paisagem e classificação para o indicador Naturalidade

Presença na paisagem de componentes e/ou suas propriedades visuais com atributos tais como

unicidade, raridade, grandiosidade, excepcional beleza

Grande amplitude visual (paisagem extremamente panorâmica)

Ocorrência de fenômenos atmosféricos notáveis tais como nascer e pôr do sol, arco-íris, nuvens e

nebulosidade, neve, geada

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Paisagem natural sem alterações e/ou Presença observável de fauna

Paisagem natural sem alterações e/ou Presença observável de fauna

Presença na paisagem de ocorrências ou aspectos ecológicos, geográficos ou ambientais de relevância

educativa ou científica

Ocorrência de interesse histórico ou cultural que possuam expressão visual

Quadro 3: Atributos e ocorrências considerados:para o indicador Singularidade

A partir da constatação de tais atributos e ocorrências, adotou-se os seguintes critérios de classificação:

• Grande potencial de atratividade turística em nível nacional e internacional (Gr)

• Razoável potencial de atratividade turística em nível estadual a sub-nacional (Rz)

• Limitado potencial de atratividade turística em nível sub-estadual (regional) (Lm)

Mineração de superfície; Desmontes de encostas/áreas de empréstimo/escavações

Traçado de estradas e caminhos nas encostas em desarmonia com a topografia natural; Terrenos com erosão

Cursos e superfícies d’ água poluídos e assoreados;

Margens de rios, lagos e lagunas erodidas e desprovidas de vegetação natural

Desflorestamentos/queimadas

Avanço de edificações e elementos de urbanização sobre a linha natural da costa.

Quadro 4: Possíveis intrusões decorrentes de atividades humanas que caracterizam os Detratores

Verificada a ocorrência de intrusões as mesmas foram classificadas da seguinte forma:

- Pequena intrusão (PI)

- Conjunto de pequenas intrusões (Cj-PI)

- Média intrusão (MI)

- Conjunto de médias intrusões (Cj-MI)

- Grande intrusão (GI)

- Conjunto de grandes intrusões (Cj-GI)

O procedimento de análise da qualidade visual da paisagem para cada um dos indicadores

adotados considerou toda a amplitude lateral das vistas observadas, unificando dessa forma a

seqüência das vistas acessíveis ao observador em uma única avaliação, tendo em conta que na

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prática a experiência visual do observador é exatamente o resultado do conjunto de todas as vistas

por ele observadas, onde se agregam todos os seus componentes e elementos visuais constituintes.

A apresentação do resultado dos registros para cada indicador de qualidade visual, da análise da

paisagem é estruturada em um quadro síntese, cujo cabeçalho modelo é o seguinte:

Quadro 5: Cabeçalho modelo para o registro dos resultados de qualidade visual

Observação Indicadores de Qualidade

Visual

Nº Ponto de Observação Vista Observada Diversidade Naturalidade Singularidade

Os resultados deste quadro são acompanhados de uma análise descritiva das classificações

atribuídas às vistas observadas em cada um dos pontos de observação e para cada indicador de

qualidade visual.

3.2 A aplicação do método e análise dos resultados no ponto de observação do Morro da

Guarda

A análise da qualidade visual da paisagem foi efetuada de acordo com os instrumentos e

procedimentos anteriormente mencionados. Devido às limitações de espaço, e como a presente

abordagem dá mais prioridade ao processo metodológico do que à totalidade dos resultados obtidos,

os resultados serão apresentados apenas para uma única vista − e não para todas as vistas avaliadas

de fato − e em apenas um dos três pontos de observação efetivamente escolhidos dentro da área de

estudo4. Neste sentido, será apresentado no item a seguir o resultado da análise da paisagem no

ponto de observação da “Pedra do Urubú” e, na sequência, uma síntese da qualidade visual da

paisagem observada a partir deste mesmo ponto.

3.2.1 A qualidade visual da paisagem no ponto de observação da Pedra do Urubu no Morro da Guarda (Guarda do Embaú, Palhoça), com vista da Praia da Guarda do Embaú, Rio da Madre (Palhoça) e conjunto orográfico pertencente ao PE da Serra do Tabuleiro

O nível geral de destaque do indicador diversidade para a cena observada foi classificado

como grande. No componente relevo a extensão espacial (vista da linha do horizonte no mar e), a

dominância visual da serra e Ilha dos Corais e o contraste das linhas delimitadoras da orla da Praia

da Guarda e das margens do Rio da Madre determinaram a natureza deste destaque. Já no

4 A análise completa para os três pontos de observação está contida no relatório original do projeto de pesquisa.

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componente solo a natureza do destaque foi o contraste e a extensão visual da faixa de areia branca

da praia, dadas pela sua textura fina, cor clara e definição da linha de praia (água/terra). As dunas do

Siriú, embora no plano de fundo, também evidenciaram tais características. A vegetação alcançou

grande destaque pelas características visuais textura, cor e espaço por dominância visual e extensão.

O componente água representada pelo mar aberto e sua amplitude e pelo Rio da Madre, disposto

quase que paralelamente á linha de costa antes da sua desembocadura no oceano, obteve destaque

grande a ilimitado praticamente em todas as características visuais A natureza deste destaque na

cena observada foi proporcionada ora pela extensão, ora pela dominância ora pelos contrastes

visuais. Já as atividades humanas alcançaram níveis pequenos de destaque de algumas ocorrências

tais como uma área de empréstimo nas encostas da serra, uma área urbanizada (Garopaba) ao fundo

da Praia da Gamboa e a vista da cidade de Paulo Lopes no plano de fundo da cena, cuja natureza foi

o contraste destes com o entorno predominante mente natural. O Quadro 7 a seguir ilustra o

preenchimento dos dados referentes ao ponto de observação considerado ilustrando, a título de

exemplo, apenas o componente “Relevo”.

Ponto de Observação

Pedra do Urubu / Morro da GuardaCena:

Praia da Guarda do Embaú / Foto nº

10 a

13Guarda do Embaú / Palhoça Rio da Madre / Praia. Formação de bandas especialmente da Praia e do Rio

Componente Características Visuais

Nível do DestaqueIlimitado ( I ); Grande (G); Moderado (M); Pequeno (P); Nenhum (N)

Natureza do Destaque Contraste (C); Dominância (D); Extensão (E)

Planos de Observação1º Plano (PP); 2º Plano (SP); 3º Plano (TP); Plano de Fundo (PF)

Relevo

Forma / Volume G D TP Ilimitado na linha de horizonte do marLinha G C SP Morros

Espaço G / I E SP / TPRio da Madre / Praia. Formação de bandas especialmente da Praia e do Rio

Escala / Dimensão G D TP Serra - Ilha dos Corais na Orla

Quadro 6: Preenchimento dos dados referentes ao relevo em um ponto de observação

O indicador naturalidade apresentou nível médio-superior (predominante) a superior no

segundo e terceiro planos de observação correspondentes à planície costeira e ao mar. No plano de

fundo da planície costeira e encostas da serra, verificou-se o nível médio de naturalidade, devido à

presença das atividades humanas já mencionadas anteriormente.

O nível do indicador singularidade foi classificado como grande devido ao cenário natural

integrando os elementos rio/restinga/praia/dunas fixas/ mar em sua amplitude, harmonia, força e

beleza. Os detratores visuais na cena ocorreram todos no plano de fundo, classificando-se como

pequenas e conjunto de pequenas intrusões visuais, com destaque para a área de empréstimo na

encosta da serra, a área urbana de Garopaba e a Praia da Gamboa. O Quadro 8 a seguir ilustra o

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preenchimento dos dados referentes ao ponto de observação considerado ilustrando em relação aos

indicadores “naturalidade”, “detratores” e “singularidade”.

Ponto de Observação

Pedra do Urubu / Morro da Guarda Cena Foto nº

Naturalidade

(S; MS; M; MI; I)

Primeiro Plano

Segundo Plano S / MS Mar / Planície

Terceiro Plano S / M Mar / Fundo da planície e encostas montanhosas

Plano de Fundo

Detratores(PI; Cj-PI;

MI; Cj-MI; GI; Cj-GI)

Primeiro Plano

Segundo Plano

Terceiro Plano PI / Cj. PI Área de Empréstimo / Praia da Gamboa ao fundo da praiaCj. PI Área urbana de Garopaba

Plano de Fundo

Singularidades

(Gr; Rz; Lm)

Primeiro Plano

Segundo Plano GR Conjunto rio / restinga / praia / mar

Terceiro Plano GR Beleza cênica / amplitude visual / harmonia / forca

Plano de Fundo

Quadro 7: Preenchimento dos dados referentes a naturalidade, detratores e singularidade.

As figuras 2, 3, 4 e 5 a seguir mostram as quatro vistas representativas do ponto de

observação da Pedra do Urubú no Morro da Guarda, município de Palhoça.

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Figura 2: Planície costeira e encostas da Serra do Tabuleiro

Figura 3: Praia da Guarda e Rio da Madre

Figura 4: Foz do Rio da Madre no Oceano Atlântico Figura 5: Costão do Morro da Guarda e Ilha dos Corais

3.2.2 Síntese da qualidade da paisagem no ponto de observação com base nos indicadores de

qualidade visual

A partir das classificações finais dadas a cada um dos indicadores de qualidade visual

analisados em cada uma das vistas consideradas em cada ponto de observação, cujo registro dos

resultados é feito em um quadro final (ver modelo no Quadro 6), é apresentada uma síntese da

qualidade da paisagem. A título de exemplo, apresenta-se a seguir apenas o resultado do ponto de

observação da Pedra do Urubu no Morro da Guarda que foi o seguinte: Diversidade visual ⇒

grande (predominante) a moderada; Naturalidade ⇒ superior a média-superior; Singularidades ⇒

de grande a razoável potencial de atratividade; Detratores visuais ⇒ conjuntos de pequenas a

médias intrusões visuais.

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4. Considerações Finais

A metodologia desenvolvida para a análise da paisagem através dos indicadores de

qualidade visual está fundamentada no campo de conhecimento dos Estudos da Paisagem. Ao

contemplar o campo do turismo, a análise da paisagem fornece subsídios ao processo de

planejamento turístico, mais especificamente nas fases de inventário e diagnóstico de recursos

turísticos, tanto em escala municipal quanto regional. A metodologia pode, também, vir a integrar o

processo de diagnóstico ambiental rápido no que diz respeito exatamente à paisagem em seu

aspecto visual.

Como o objetivo nesta ocasião foi o de expor a aplicabilidade de um procedimento de

análise visual da paisagem, e devido às limitações de formatação estabelecidas, adotou-se apenas

um ponto de observação localizado no PEST, no total de três pontos de observação cujas vistas

foram efetivamente analisadas no decorrer do projeto de pesquisa original. Neste caso, portanto, o

resultado da análise e da classificação dos indicadores de qualidade visual será a base de

informações para subsidiar os gestores do uso público da área quanto ao aproveitamento dos pontos

de observação (pontos proeminentes das trilhas e as vistas que deles se observam), em programas de

interpretação ambiental dirigidos ao público visitante. Uma outra possibilidade a partir das

informações geradas na descrição dos indicadores de qualidade visual, é a de utilizar determinados

aspectos nelas contidos para a elaboração e divulgação de material informativo com conteúdo

motivacional (folheteria, livretos, encartes, cartazes) dirigido aos potenciais visitantes da área,

sejam eles da própria população local ou turistas.

A metodologia desenvolvida neste estudo é aberta ao aperfeiçoamento e está sujeita a

permanente revisão, o que de fato vem ocorrendo desde aproximadamente treze anos, quando das

primeiras experiências de adaptação do arcabouço metodológico contido nos campo dos estudos da

paisagem, ao contexto do turismo, particularmente em municípios e localidades no litoral e no Vale

do Rio Itajaí, em Santa Catarina. Não obstante, ao longo deste período, tem-se verificado uma

insipiente atividade de pesquisa e produção nesta área por parte da academia no Brasil, e tal fato

tem gerado uma constante inquietação quanto à pertinência e à importância da inclusão dos estudos

da paisagem em sua dimensão visual/estética no campo do turismo.

Com isso, doravante, pretende-se aprofundar a investigação em relação a esta inquietação,

no sentido de contemplar pesquisas e estudos desenvolvidos fora do país voltados para esta vertente

de abordagem. Neste sentido, através de um levantamento bibliográfico apenas parcial, já foi

possível identificar estudos nesta área, a exemplo de Jacobsen (2007), que faz uma revisão dos

métodos de percepção da paisagem por turistas, baseada em fotografias, assim como Perez (2002),

que verificou a percepção e as preferências da paisagem rural de Extremadura na Espanha, através

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do mesmo recurso fotográfico. Entretanto, em meio ao universo de estudos da paisagem existentes

na literatura, também se verificou que será necessário discernir e especificar aqueles estudos que

adotam a paisagem como categoria de análise em contextos diversos no âmbito do planejamento

ambiental e das ciências sociais, daqueles estudos cuja especificidade contempla o turismo como

contexto temático, os turistas enquanto sujeitos e os destinos turísticos como objeto de abordagem.

5. REFERÊNCIAS

BERNALDEZ, F. G. Ecologia y paisaje. Madrid: H. Brume Ediciones, 1981.

BOMBIN, E..M. M. El paisaje. BOMBIN, Madrid, 1987. 87p.

CERRO, F. L. Técnicas de evaluacion del potencial turístico. Madrid: MCYT, 1993 (Serie libros Turisticos)

IGNACIO, C. F. et al. Guia para Elaboracion de Estúdios del Médio Físico: contenido y metodologia. 2. ed. Madrid: CEOTMA. 1984. (Serie Manuales; 3).

JACOBSEN, J. K. S. Use of landscape perception methods in tourism studies: a review of photo-based research approaches. Tourism Geographies, U.K., v.9, Issue 3, p.234-253, 2007.

L LITTON JR., R. B. Aesthetic dimensions of the landscape. In: KRUTILLA, J.V. (ed.) Natural Environments: Studies in Theoretical and Applied Analysis. Baltimore: John Kopkins, p. 263 – 291, 1972.

LAURIE, J. C. Objetives of landscape evaluation. Landscape Reserch Group. (s.l). 1970.

LAURIE, M. An introduction to Landscape Architeture. New York: Americam Elsevier, 1976.

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