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PATRÍCIA FERNANDES ALBEIRICE DA ROCHA AVALIANDO O NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM RELAÇÃO A SUA SAÚDE OCUPACIONAL PALMITOS – SC 2008

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PATRÍCIA FERNANDES ALBEIRICE DA ROCHA

AVALIANDO O NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS

TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM RELAÇÃO A SUA

SAÚDE OCUPACIONAL

PALMITOS – SC

2008

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC

CENTRO EDUCACIONAL DO OESTE - CEO

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PATRÍCIA FERNANDES ALBEIRICE DA ROCHA

AVALIANDO O NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS

TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM RELAÇÃO A SUA

SAÚDE OCUPACIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem – Ênfase em Saúde Pública.

Orientador: Professora Rita Maria T. Rebonatto Oltramari

PALMITOS – SC

2008

PATRÍCIA FERNANDES ALBEIRICE DA ROCHA

AVALIANDO O NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS

TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM RELAÇÃO A SUA

SAÚDE OCUPACIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do grau em

Bacharel, no curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado de Santa

Catarina.

Banca Examinadora:

Orientadora: ________________________________________________________

Enfermeira Especialista, Rita Maria Trindade Rebonatto Oltramari

Universidade do Estado de Santa Catarina

Membro: ________________________________________________________

Enfermeira Mestre Alisia Helena Weiss

Universidade do Estado de Santa Catarina

Membro: ________________________________________________________

Enfermeira Especialista Talita Turcato

Universidade do Estado de Santa Catarina

Palmitos – SC, 25/06/08

Dedico este trabalho à minha família, por todo apoio e credibilidade que sempre tiveram por mim.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família: Pedro, Raquel, Jéssica e Luís, pois mesmo tão distantes se

fizeram tão presentes.

Agradeço à Marina e à Flávia, minha tia e prima que se fizeram mãe e irmã durante

toda minha graduação.

À Marceli, por sempre me incentivar e acreditar em meu potencial.

Ao Flávio, por estar sempre presente em todos os momentos em que dele precisei.

A todos os professores que passaram por minha vida acadêmica, que acrescentaram

conhecimento para eu poder estar aqui. Em especial à minha Orientadora Rita, pela confiança

no meu trabalho e por seu bom humor durante esses meses.

Aos meus amigos, que muito somaram em minha vida pessoal, e que dividiram muitas

incertezas e medos, deixando meus problemas infinitamente menores.

Aos trabalhadores entrevistados, aos demais envolvidos da empresa em estudo, pela

colaboração e apoio.

“Sem trabalho, toda vida apodrece. Mas, sob um trabalho sem alma a vida sufoca e morre”.

ALBERT CAMUS

RESUMO

Adentrando no ramo da saúde do trabalhador, um estudo foi realizado através de abordagem qualiquantitativa com os trabalhadores de uma construtora no município de Chapecó, na região oeste do estado de Santa Catarina. A partir da percepção dos trabalhadores, foi buscado o conhecimento a respeito de sua saúde do ponto de vista ocupacional. A relevância deste trabalho se dá devido à necessidade de serem obtidos dados a respeito de doenças ocupacionais na construção civil, visto que esta área possui tal carência. Dá-se, também, pela escassez de relatos de assistência de enfermagem a estes trabalhadores. A saúde do trabalhador da construção civil será beneficiada através de novos dados e relatos de enfermagem, que constituem subsídios para o embasamento da implementação de atitudes de atenção primária. Os participantes dessa pesquisa demostraram ter um nível pequeno de conhecimento a respeito da sua saúde ocupacional e direcionam seus cuidados quase que exclusivamente para a prevenção de acidentes. Do seu ponto de vista, estão protegidos contra acidentes e doenças ocupacionais. Estão contentes com a profissão e vêem-se como pessoas saudáveis. Pelo observado, são indivíduos que possuem pouca percepção de seu corpo e pouco conhecimento a respeito do processo saúde-doença.

Palavras-chave: Enfermagem. Saúde do trabalhador. Construção civil.

ABSTRACT

Getting into the branch of the worker's health, a study was conducted through quantifiable approach with the workers of a construction in City of Chapecó, in the western region of the state of Santa Catarina. From the perception of workers, was sought knowledge about their health of the occupational point of view. The relevance of this work occurs because of the need to be obtained data about occupational diseases in construction, since this area has such lack. There are also reports of the shortage of nursing assistance to these workers. The health of the worker in the construction industry will benefit through new data and reports of nursing, which are subsidies for the basement implementation of attitudes of primary attention. The participants of this research demonstrated a small level of knowledge about their occupational health and direct their care almost exclusively to the prevention of accidents. In their view, are protected against accidents and occupational diseases. They are happy with the profession and see themselves as people healthy. For observed, are individuals who have little perception of his body and little knowledge about the health-disease process.

Keywords: nursing, health of worker, construction industry.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Funções dos trabalhadores na obra........................................................................24

Quadro 2 – Riscos físicos..........................................................................................................31

Quadro 3 – Riscos químicos.....................................................................................................31

Quadro 4 – Riscos biológicos...................................................................................................32

Quadro 5 – Riscos ergonômicos...............................................................................................32

Quadro 6 – Riscos de acidentes ...............................................................................................33

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição dos Trabalhadores quanto à Naturalidade.......................................... 44

Tabela 2 – Cor da Pele.............................................................................................................. 45

Tabela 3 – Satisfação Profissional............................................................................................ 45

Tabela 4 – Profissão dos Entrevistados.....................................................................................47

Tabela 5 – Profissões Anteriores a esta Empresa..................................................................... 49

Tabela 6 – Motivos que levam os trabalhadores a usar EPIs....................................................49

Tabela 7 – Doenças que possivelmente possam acometer-se................................................... 50

Tabela 8 – Precauções tomadas pelos trabalhadores................................................................ 52

Tabela 9 – Consumo de bebidas alcoólicas..............................................................................55

Tabela 10 – Opinião sobre a importância dos exames ocupacionais........................................ 56

Tabela 11 – Hospitalizações devido acidentes de trabalho.......................................................57

Tabela 12 – Vacinas...................................................................................................................58

Tabela 13 – Hospitalizações devido acidentes de trabalho.......................................................58

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Escolaridade...........................................................................................................46

Gráfico 2 – Tempo de Serviço.................................................................................................. 47

Gráfico 3 – Instrumentos utilizados pelos trabalhadores.......................................................... 48

Gráfico 4 – EPIs utilizados pelos trabalhadores....................................................................... 51

Gráfico 5 – Opinião sobre a periculosdade no ambiente de trabalho....................................... 52

Gráfico 6 – Opinião sobre a Existência de doenças Ocupacionais na Construção Civil.......... 53

Gráfico 7 – Opinião sobre acidentes de trabalho...................................................................... 54

Gráfico 8 – Acidentes ocorridos............................................................................................... 55

Gráfico 9 – Tabagismo..............................................................................................................57

Gráfico 10 – Doenças referidas pelos trabalhadores.................................................................58

LISTA DE ABREVIATURAS

CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CAPs Caixa de Aposentadorias e Pensões

CAT Comunicação de Acidente de Trabalho

CBO Classificação Brasileira de Ocupações

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

dB Decibel

DRT Delegacia do Trabalho e Emprego

DT Dupla Adulto

EPI Equipamento de Proteção Individual

IAPs Institutos de Aposentadorias e Pensões

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

MTB Ministério do Trabalhado e Emprego

NR Norma Regulamentadora

OMS Organização Mundial de Saúde

PAIR Perda Auditiva Induzida por Ruído

PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

SESMT Engenharia de Segurança do Trabalhado

SINDUSCON Sindicato das Indústrias da Construção Civil de Santa Catarina

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................................... 20

2.1 BREVE REVISÃO SOBRE A HISTÓRIA DA SAÚDE DO TRABALHADOR........ 202.2 SAÚDE DO TRABALHADOR.....................................................................................212.3 ENFERMAGEM DO TRABALHO.............................................................................. 222.4 A CONSTRUÇÃO CIVIL............................................................................................ 232.5 ERGONOMIA E A UTILIZAÇÃO DO CORPO PARA O TRABALHO ...................242.6 DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO....................................................... 25

2.6.1 Câncer Ocupacional................................................................................................262.6.2 Doenças relacionadas ao ruído............................................................................... 272.6.3 Dermatoses Ocupacionais.......................................................................................282.6.4 Pneumoconioses..................................................................................................... 282.6.5 Lombalgia...............................................................................................................29

2.7 RISCOS OCUPACIONAIS........................................................................................... 302.8 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI............................................332.9 ACIDENTE DE TRABALHO.......................................................................................342.10 NORMAS REGULAMENTADORAS........................................................................36

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...................................................................... 39

3.1 CAMPO DE ESTUDO...................................................................................................403.2 INVESTIGAÇÃO.......................................................................................................... 413.3 PROCEDIMENTO ÉTICO............................................................................................423.4 PARTICIPANTES DA PESQUISA.............................................................................. 433.5 COLETA DE DADOS................................................................................................... 43

4 APRESENTAÇÃO DA PESQUISA E ANÁLISE DOS DADOS.................................... 44

4.1 Caracterização da população estudada.......................................................................... 44

4.2 Informações sobre o Trabalho........................................................................................464.3 Caracterizando a população estudada em relação à segurança no trabalho................... 504.4 Caracterizado a população estudada em relação a saúde no trabalho ........................... 56

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM.............. 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................69

APÊNDICES............................................................................................................................74

ANEXOS.................................................................................................................................. 80

16

1 INTRODUÇÃO

A Saúde enquanto patrimônio do trabalhador é condição essencial e fundamental para

o convívio social, indissociável do trabalho, ferramenta primeira no desenvolvimento das

relações de produção. Baseado neste pressuposto este trabalho de conclusão de curso (TCC)

visa a discutir o conhecimento dos profissionais da construção civil frente aos riscos à saúde

do trabalhador, decorrente da atividade laboral, bem como o nível de conhecimento a respeito

dos acidentes e doenças de trabalho.

O presente trabalho tem um caráter primeiramente de pesquisa. Porém, também tem

caráter assistencial e educativo. Sabemos que os trabalhadores da construção civil geralmente

são de classe econômica baixa e com pouca escolaridade, o que amplia a nossa

responsabilidade com as orientações em saúde. Segundo Santana; Oliveira (2004), “a

construção civil é responsável por grande parte do emprego das camadas pobres da população

masculina, e também considerada uma das mais perigosas em todo o mundo, liderando as

taxas de acidentes de trabalho fatais, não-fatais e anos de vida perdidos.”

Nos últimos anos, a cidade de Chapecó progrediu significativamente. Segundo dados

colhidos do IBGE, em 2001 eram 146.967 habitantes, para 173.262 habitantes em 2006, tendo

um aumento de 26.295 habitantes em apenas cinco anos. Este crescimento alavancou a

indústria da construção civil no município, o que acarretou uma maior demanda de

profissionais desta área, aumentando, portanto, as possibilidades de acidentes e doenças

ocupacionais.

17

O trabalhador da construção civil está continuamente exposto a riscos de acidentes de

trabalho e à obtenção de doenças ocupacionais. Este trabalho busca analisar, através da

opinião dos trabalhadores, se estes possuem a informação a respeito dos riscos à saúde a que

estão submetidos, bem como as medidas necessárias para que esses riscos sejam minimizados.

Atualmente a saúde do trabalhador tem sido bastante debatida e e tem merecido

atenção especial, também por ser um conceito de Saúde Pública e ter uma abrangência em

todos os níveis sociais.

O trabalhador da construção civil está exposto continuamente a riscos físicos,

químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes, que podem resultar em seqüelas e, até

mesmo, óbitos. Segundo Sampaio (1998, p. 13) esses riscos se dão principalmente pela “falta

de controle do meio ambiente de trabalho, do processo produtivo e da orientação dos

operários.”

A saúde não deve ser vista como um valor e, sim, como um direito de todo cidadão,

independente de seu nível social, econômico ou cultural, sendo este previsto na lei orgânica

do SUS.

A indústria da construção civil mantém índices elevados de doenças ocupacionais e

acidentes de trabalho, como será descrito no decorrer do trabalho. Por ser um problema de

responsabilidade pública, a saúde do trabalhador na construção civil merece total atenção.

A relevância deste trabalho se dá devido à necessidade de se obterem dados a respeito

de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho na construção civil, visto que esta área possui

essa carência. Dá-se, também, pela escassez de relatos de assistência de enfermagem a estes

trabalhadores. Possivelmente, a carência destes dados se deva à alta rotatividade destes

empregados, ao alto grau de informalidade dos contratos de trabalho e à “sub numeração nos

registros ocupacionais que tornam difícil a identificação de populações definidas, ou o uso de

dados secundários, comuns na epidemiologia ocupacional.” (SANTANA; OLIVEIRA, 2004,

p. 798).

18

No “site” de artigos científicos Scielo, em novembro de 2007, ao buscar os descritores

“saúde”, “trabalhador”, “construção civil”, foram encontrados apenas oito artigos que tratam

diretamente da saúde dos trabalhadores nessa área. Desses artigos, apenas dois enfocam

aspectos epidemiológicos de acidentes de trabalho, onde são citados esses mesmos

trabalhadores. Com os descritores “enfermagem”, “trabalhador”, “construção, civil”, o

número de artigos encontrados se reduz para um.

Segundo Santana (2006), que realizou uma análise das dissertações e teses em saúde

do trabalhador no Brasil, o número de estudos sobre as profissões do setor primário da

economia e sobre os trabalhadores da construção civil é reduzido, mesmo sendo estas

profissões reconhecidas como as de maior risco para acidentes de trabalho fatais.

A saúde do trabalhador abrange a atenção primária também por ser um dos ramos da

saúde pública que consiste na prevenção de doenças e promoção da saúde. A partir de dados

obtidos através da ocupação dos trabalhadores, poderá se sistematizar uma implementação de

atitudes de atenção primária.

Os riscos durante a execução da obra são freqüentes, tornando indispensável a

orientação contínua dos funcionários quanto ao auto-cuidado e ao uso dos EPIs, temas que

serão abordados durante a entrevista.

Diante desse contexto, a presente pesquisa pretende abordar a temática Enfermagem,

saúde do trabalhador, construção civil, investigando o seguinte problema: qual o nível de

conhecimento dos trabalhadores da construção civil em relação à sua saúde

ocupacional?

O objetivo geral da pesquisa referiu-se a analisar qual o nível de conhecimento dos

trabalhadores da construção civil de uma empresa de Chapecó, a respeito de sua saúde

ocupacional. Os objetivos específicos contemplaram analisar as medidas de prevenção de

acidentes utilizadas pelos trabalhadores, descrever a opinião dos trabalhadores a respeito de

sua condição de saúde e comparar as informações coletadas da pesquisa com dados de outros

19

pesquisadores.

Para a realização dessa pesquisa foi elaborada uma entrevista semi-estruturada

(apêndice A), a qual foi aplicada a 15 trabalhadores da construção civil em uma empresa de

Chapecó, SC. Essa entrevista semi-estruturada continha 21 questões, que abordaram quatro

parâmetros: caracterização da população estudada, informações sobre o trabalho, segurança

do trabalho e saúde do trabalho.

A análise dos dados foi baseada na técnica da Análise da Enunciação, citada por

Minayo (2004), descrita nos procedimentos metodológicos. Foi analisada a opinião dos

trabalhadores, de acordo com os objetivos.

No primeiro capítulo do presente trabalho, que refere-se à introdução, foram

abordados o problema, os objetivos, a justificativa do trabalho e uma síntese da metodologia

para facilitar a compreensão por parte do leitor.

O segundo capítulo aborda a fundamentação teórica, onde são descritos temas

relevantes para a compreensão da pesquisa.

O terceiro capítulo descreve a metodologia utilizada para a realização desta pesquisa,

abordando o campo de estudo, a investigação, o procedimento ético, os participantes da

pesquisa e a coleta de dados.

O quarto capítulo refere-se à análise e discussão dos achados da pesquisa, onde os

dados são apresentados com gráficos ou tabelas, havendo uma comparação com obras de

outros autores.

O quinto capítulo refere-se às considerações finais e implicações para a enfermagem,

onde são expostas opiniões da autora deste TCC a respeito da pesquisa.

20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 BREVE REVISÃO SOBRE A HISTÓRIA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

O trabalho nasceu ao mesmo tempo em que surgiu o primeiro ser humano. Porém, a

relação entre trabalho e doenças ocupacionais começou a ser realmente analisada em meados

do século 17 (HAAG; LOPES; SCHUCK, 2001).

O médico Bernardini Ramazzini, conhecido como o pai da medicina do trabalho,

publicou em 1556, na Itália, a obra “De Morbis Artificum Diatriba”, que causou um certo

impacto na sociedade. Nela, o autor descreve uma série de doenças relacionadas acerca de

cinqüenta profissões diversas, tema que ainda não havia sido explorado. Anteriormente a esta

obra, existiam apenas alguns estudos relatando acidentes de trabalho entre mineiros e as

doenças mais comuns entre eles, além de aconselhamento em relação ao uso de máscaras na

extração de mercúrio e chumbo (Idem).

Cabe lembrar que o início do trabalho no Brasil estava baseado nos escravos trazidos

da África, que exerciam suas funções inicialmente na lavoura, enquanto a indústria quase não

existia no País. Com o início da industrialização, no século 19 (1800), antes da abolição da

escravatura, os escravos também trabalhavam em indústrias e, quando adoeciam, recebiam

atendimento médico (VIEIRA, 1995).

Com as duas Guerras Mundiais, a saúde do trabalhador começou a ter grande

importância para a economia nacional, baseada no capitalismo, pois os trabalhadores

necessitavam estar em boas condições físicas para assegurar o ritmo das fábricas (HAAG;

LOPES; SCHUCK, 2001).

21

Em 1923, através da Lei Eloy Chaves, instituíram-se as Caixas de Aposentadorias e

Pensões (CAPs) que eram financiadas pelos empregados, empresas e governo. Durante os

anos 30, as CAPs foram adicionadas aos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), que

eram autarquias centralizadas no governo federal, supervisionadas pelo Ministério do

Trabalho, Indústria e Comércio (MEDICE, [200-?]).

Durante os anos 40 e 50, a assistência médica prestada pelas CAPs e IAPs aos

trabalhadores formais, foi a única disponível. Alguns estabelecimentos filantrópicos,

geralmente mantidos pela Igreja Católica, prestavam cuidados de saúde a famílias pobres e

indigentes. Porém tanto CAPs quanto IAPs excluíam muitos trabalhadores, entre eles os

autônomos e rurais (Idem).

Nesta mesma época, os problemas de saúde causados pelo trabalho começaram a ser

estudados no Brasil. Em 1943 a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) entra em vigor,

protegendo legalmente os trabalhadores (HAAG; LOPES; SCHUCK, 2001).

Com a reforma previdenciária, nos anos 60, foram unificadas cinco dos seis IAPs num

único instituto, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que garantia o acesso à

saúde para o trabalhador e sua família, mediante uma contribuição de 8% do salário. Nesta

mesma época, também foi criado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)

(MEDICE, [200-?]).

A enfermagem do trabalho, por sua vez, tem sua origem na Inglaterra em meados do

século 19. A princípio, a enfermagem do trabalho era vista apenas como um simples serviço

de pronto-socorro, que não julgava necessário um profissional enfermeiro na equipe de saúde

(HAAG; LOPES; SCHUCK, 2001).

2.2 SAÚDE DO TRABALHADOR

O conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS) segundo Lopes apud

22

Rocha (2007), refere-se a um completo bem estar físico, social e mental, e não tão somente a

ausência de doenças. A saúde compreende uma harmonia entre o ser humano e o ambiente

físico, social e emocional. Especificamente, a saúde do trabalhador

é uma área da Saúde Pública que tem como objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e a saúde. Tem como objetivos a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e prestação da assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada, no SUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, p 17).

No entanto, para lidar com a saúde do trabalhador é necessário ter uma visão voltada

para a saúde coletiva e não para as doenças individualmente, não se preocupando com a

coletividade trabalhadora. O objetivo do profissional da área de saúde ocupacional é “zelar

pela manutenção da saúde do trabalhador.” (CARVALHO, 2001 p. 247).

2.3 ENFERMAGEM DO TRABALHO

A enfermagem do trabalho visa valorizar o ser humano, interferindo no processo de

trabalho-saúde-adoecimento, através de ações educativas e assistenciais. O enfermeiro do

trabalho oferece assistência e cuidados de enfermagem aos empregados, promovendo sua

saúde e cuidando contra riscos ocupacionais, atendendo os doentes e acidentados, visando o

seu bem estar físico e mental (HAAG; LOPES; SCHUCK, 2001).

Segundo a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, e o Decreto nº 94.406, de 09 de junho

de 1987 apud Haag; Lopes e Schuck (2001 p. 23) o enfermeiro “planeja, organiza, dirige,

coordena, controla e avalia a atividade de assistência de enfermagem, nos termos da

legislação reguladora do exercício profissional.” Portanto, as atividades do enfermeiro do

23

trabalho se constituem basicamente na assistência, administração, educação em saúde, de

integração e de pesquisa.

A enfermagem do trabalho envolve um conjunto de ações educativo-assistenciais, que

possuem como objetivo interferir no processo trabalho-saúde-adoecimento, buscando

valorizar e melhorar a qualidade de vida do ser humano (HAAG; LOPES; SCHUCK, 2001).

As atividades assistenciais envolvem cuidados e ações que “visam atender às

necessidades de proteção e recuperação da saúde dos trabalhadores.” As atividades

administrativas envolvem “planejamento, organização, direção, coordenação e avaliação”

tanto da equipe de enfermagem quanto das atividades realizadas pela mesma. As atividades de

educação em saúde estão relacionadas basicamente com a prevenção de doenças

ocupacionais, prevenção de acidentes de trabalho, orientação quanto a um estilo de vida

saudável, bem como a educação continuada para os membros da equipe de enfermagem. As

atividades de integração envolvem ações de participação na elaboração e desenvolvimento de

trabalhos com áreas afins, como de segurança industrial, meio ambiente e social. Também

englobam ações de intercâmbio técnico com instituições de saúde e atividades de consultoria.

As atividades de pesquisa constam da realização de estudos que contribuam para o

“aperfeiçoamento do conhecimento e prática profissional.” (HAAG; LOPES; SCHUCK,

2001, p. 24).

2.4 A CONSTRUÇÃO CIVIL

Segundo Sampaio (1998), a construção é uma das atividades mais antigas existentes,

sendo executada desde o tempo que o homem vivia em cavernas até a atualidade. Durante

todo esse período, a indústria da construção passou por inúmeras modificações, tanto na área

de projetos, materiais e equipamentos, quanto dos recursos humanos. O autor cita ainda as

grandes obras existentes em todo o mundo, que se tornaram inclusive símbolos de nações,

24

como a Cidade de Brasília, a Torre Eiffel, a Estátua da Liberdade, entre muitas outras.

Segundo a Norma Regulamentadora (NR) 4, em seu anexo I, quadro I, código 33.11,

as atividades de construção de edifícios comerciais, industriais, de serviços, residenciais, ou

de caráter cultural, educacional, esportivo, recreativo, entre outros, enquadram-se no grau de

risco 3.

Para que uma obra seja executada corretamente, existem vários tipos de profissionais

atuando, sempre coordenados pelo mestre de obras e pelo engenheiro responsável. Na

empresa em questão, os funcionários exercem as funções de pedreiro, servente de obras e

carpinteiro. A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) especifica as atividades e funções

exercidas por esses trabalhadores (ver quadro 1).

Pedreiro Organizar e preparar o local de trabalho na obra, construir fundações e estruturas de alvenaria. Aplicar revestimentos e contrapisos.

Servente de pedreiro Demolir edificações de concreto, de alvenaria e outras estruturas, preparar canteiros de obras, limpando a área e compactando solos. Efetuar manutenção de primeiro nível, limpando máquinas e ferramentas, verificando condições dos equipamentos e reparando eventuais defeitos mecânicos nos mesmos. Realizar escavações e preparar massa de concreto e outros materiais.

Carpinteiro Planejar trabalhos de carpintaria, preparar canteiro de obras e montar fôrmas metálicas. Confeccionar fôrmas de madeira e forro de laje, construir andaimes e proteções de madeira. Confeccionar estruturas de madeira para telhados. Escorar lajes de pontes, viadutos e grandes vãos. Montar portas e esquadrias. Finalizar serviços tais como desmonte de andaimes, limpeza e lubrificação de fôrmas metálicas, seleção de materiais reutilizáveis, armazenamento de peças e equipamentos.

Quadro 1 – Funções dos Trabalhadores na obra.

Fonte: Adaptado da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)

2.5 ERGONOMIA E A UTILIZAÇÃO DO CORPO PARA O TRABALHO

Lida apud Carvalho (2001 p. 106), define a ergonomia como “o estudo da adaptação

25

do trabalho ao homem.” Ainda segundo Carvalho (2001) a ergonomia possui como principal

objetivo a humanização do trabalho, humanização esta que é buscada através da adaptação

das condições de trabalho ao trabalhador, tentando proporcionar o máximo de conforto e

segurança, aliado à possibilidade de um desempenho mais eficiente.

No ramo da construção civil, o trabalhador exige muito de seu corpo para executar

suas atividades, visto que geralmente essas atividades exigem muito esforço físico. Em

contrapartida, durante a execução de algumas atividades, o trabalhador também pode ficar

muito tempo na mesma posição, ou trabalhar na mesma postura. Quando isso ocorrer, o ideal

é que haja uma pausa a cada uma hora, com 10 minutos para aliviar ossos, músculos, tendões

e articulações (CARVALHO, 2001).

Como já citado anteriormente, um dos grandes problemas dos trabalhadores da

construção civil é a dor lombar, ocasionada devido ao excesso de levantamento de peso e

também pela maneira que os objetos são levantados. Algumas dicas são valiosas para se

levantar peso, minimizando os riscos de lesões: para se levantar peso, o ideal é que se

utilizem as pernas como apoio, pois os músculos quadríceps das coxas são fortes, ao contrário

dos músculos das costas, que são fracos; os objetos devem sempre estar junto ao corpo; ao se

levantar, a pessoa deve contrair os músculos abdominais, o que ajuda a manter a estabilidade

da coluna vertebral; deve levantar-se estendendo os joelhos em um movimento suave; os

objetos devem ser levantados até a altura do tórax; a coluna jamais deve ser dobrada, pois a

partir daí podem ocorrer lesões (CARVALHO, 2001; SMELTZER; BARE, 2006).

2.6 DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO

Segundo a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de

Benefícios da Previdência Social Art. 20, as doenças profissionais e doenças do trabalho são

consideradas acidentes de trabalho. Tratam-se de doenças ocasionadas pelo exercício do

26

trabalho referente a determinada atividade ou desencadeada em função de condições especiais

em que o trabalho é realizado, relacionando-se diretamente a ele (PREVIDÊNCIA SOCIAL,

1991).

Schilling apud Ministério da Saúde (2001), refere que as doenças relacionadas ao

trabalho podem ser divididas em três tipos: trabalho como causa necessária; trabalho como

fator contributivo, mas não necessário; e trabalho como agravador da doença já estabelecida.

Nos últimos anos as doenças dificilmente estão vinculadas exclusivamente ao trabalho

(CARVALHO, 2001).

Os parágrafos abaixo tratam sucintamente das principais doenças relacionadas ao

trabalhador da construção civil.

2.6.1 Câncer Ocupacional

O câncer ocupacional ocorre devido à exposição do trabalhador a agentes químicos,

físicos ou biológicos que são classificados como carcinogênicos e estão presentes no ambiente

de trabalho (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

Segundo o Ministério da Saúde (2002) existem várias substâncias químicas usadas na

indústria que são consideradas fatores de risco de câncer para trabalhadores em diversas

ocupações. O câncer ocasionado por exposições ocupacionais geralmente atinge regiões do

corpo que estão em contato direto com essas substâncias, podendo ser a pele, aparelho

respiratório ou o aparelho urinário. Isso explica a maior freqüência de câncer de pulmão, de

pele e de bexiga relacionados à atividade laboral.

Segundo o Ministério da Saúde (2006), o cromo VI, que está presente na composição

do cimento é um agente químico e é considerado um carcinógeno ocupacional.

Como será debatido posteriormente, os trabalhadores da construção civil geralmente

são fumantes, de maneira ativa ou passiva, o que potencializa o efeito carcinogênico de

27

muitas substâncias. A poluição do ar no ambiente de trabalho está relacionada diretamente ao

câncer, já que os trabalhadores respiram esse ar por aproximadamente oito horas por dia.

Outro fator de risco diretamente relacionado aos trabalhadores da construção civil é a

exposição contínua ao sol, fator esse agravado pela pele de cor clara predominante no sul do

Brasil. Eles devem ser orientados sobre o uso de de roupas folgadas e de cor clara, sobre o uso

de bonés ou chapéus, além de serem encorajados a utilizar sempre o filtro solar

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

2.6.2 Doenças relacionadas ao ruído

Os trabalhadores da construção civil estão expostos continuamente ao ruído intenso,

este que por sua vez, está associado a várias manifestações sistêmicas, como elevação do

nível geral de vigilância, alteração da pressão arterial e da função intestinal, aceleração da

freqüência cardíaca e da freqüência respiratória, dilatação das pupilas, aumento do tônus

muscular, aumento da produção de hormônios tireoidianos e ao estresse (DIAS et al, 2006).

Segundo Dias et al (2006), além das manifestações sistêmicas, o trabalhador pode

desenvolver Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) e acúfeno, conhecido como zumbido.

Os Limites de Tolerância para ruído contínuo ou intermitente são normatizados pela

Norma Regulamentadora, NR, 15 (ver anexo A). A não observância desses limites sem a

proteção adequada pode ocasionar PAIR.

No entanto, as perdas auditivas possuem outros agentes causais além dos de origem

ocupacional. Essas causas podem estar independentes da exposição ao ruído e também

interagindo com ele, o que pode potencializar seus efeitos sobre a audição. Alguns elementos

podem ser citados, como alguns produtos químicos, vibrações e medicamentos

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

28

2.6.3 Dermatoses Ocupacionais

As dermatoses ocupacionais são definidas segundo Salim apud Carvalho (2001) como

alterações de pele, mucosas ou anexos que são causadas, agravadas ou condicionadas por algo

que seja utilizado na atividade profissional ou que exista no ambiente de trabalho.

Segundo o Ministério da Saúde (2006) as dermatoses podem ocorrer por causas diretas

ou indiretas. As causas diretas são agentes físicos, químicos e biológicos. As causas indiretas

dizem respeito a fatores predisponentes como idade, sexo, etnia, clima, antecedentes e

condições de trabalho.

Segundo o Ministério da Saúde (2006) as dermatites causam dor, queimação,

desconforto e reações psicossomáticas.

No caso do trabalhador da construção civil, a principal dermatite a que está exposto é a

causada pelo cimento, um agente químico irritante. Quando em contato com a pele, o

cimento, entre outras substâncias químicas, causa graves lesões inflamatórias, desde o

primeiro contato (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

O cimento possui características abrasivas, alcalinas e é altamente higroscópico, ou

seja, possui tendência em absorver água, produzindo ulcerações na pele. Essas ulceras podem

ser rasas ou profundas, dependendo do tempo de contato e da pressão exercida contra o

cimento, como no caso do mesmo estar no interior das roupas ou do calçado do trabalhador.

Em um primeiro momento, esse contato causa eritema intenso, após exulceração, ulceração e

até necrose (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

2.6.4 Pneumoconioses

As pneumoconioses são definidas pelo Ministério da Saúde (2006) como as doenças

pulmonares parenquimatosas que são causadas pela inalação de poeiras. O organismo não

29

consegue combater as poeiras com seus mecanismos de defesa imunológica. Uma

pneumoconiose ocorre quando essas partículas de poeira atingem as vias aéreas inferiores, em

quantidade suficiente para superar os mecanismos fisiológicos de depuração.

A pneumoconiose pode levar à insuficiência respiratória a longo prazo, dependendo do

tipo de exposição, da quantidade e das características das partículas de poeira inaladas

(CARVALHO, 2001).

Os sintomas da pneumoconiose são tosse, catarro, dispnéia e sibilos, que possuem

como fator agravante o tabagismo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

As ocupações que expõem os trabalhadores ao risco de inalação de poeiras que

causam pneumoconiose são relacionadas a diversos ramos de atividades, entre elas, a

construção civil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

2.6.5 Lombalgia

A lombalgia, ou dor lombar, é a segunda maior causa de consultas médicas, estando

atrás apenas das consultas decorrentes de doenças respiratórias das vias aéreas superiores

(SMELTZER; BARE, 2006).

Esta lesão pode acontecer devido a uma contratura na musculatura paravertebral, em

decorrência de esforço repetitivo, devido a um esforço físico agudo ou devido à compressão

radicular, que geralmente está associada ao aumento da pressão ou degeneração do disco

intervertebral. Este último, além de causar dor nas costas pode ocasionar também uma dor que

se irradia para o quadril, coxas, pernas e pés (CARVALHO, 2001).

Segundo Smeltzer; Bare (2006), a lombalgia pode aumentar devido à obesidade,

estresse e até depressão. A dor lombar ocasionada por problemas músculo-esqueléticos pode

piorar devido ao esforço físico intenso, pois os músculos abdominais e torácicos são muito

utilizados no levantamento de peso.

30

Geralmente a lombalgia possui um bom prognóstico, independente do tratamento

realizado. Duas medidas podem ser tomadas para evitar a dor lombar ou para minimizar seus

sintomas. Uma delas é não valer-se da força física humana para o levantamento excessivo de

cargas, mas sim de instrumentos ou máquinas que podem realizar o trabalho pesado sem

prejudicar o trabalhador. A outra é orientar os trabalhadores para que não fiquem muito tempo

na mesma posição, mesmo que a mesma pareça confortável. Essas soluções são de caráter

educativo, tanto para o trabalhador como para o empregador (CARVALHO, 2001).

Segundo Smeltzer; Bare (2006), a dor lombar, assim como outras doenças

musculoesqueléticas são as principais causas de incapacidade de pessoas em idade produtiva

do indivíduo, sendo uma lesão ocupacional comum.

Segundo Mendes (1988), a dor lombar é observada freqüentemente em trabalhadores

da construção civil, pois estes exercem atividades pesadas, com ritmo intenso e em condições

anti-ergonômicas. Essas dores afetam principalmente os que exercem a profissão de servente

de pedreiro.

2.7 RISCOS OCUPACIONAIS

Segundo Haag; Lopes; Schuck (2001), o tipo de ocupação do trabalhador e as formas

como ele executa sua atividade influem no desgaste da saúde e no adoecimento do

profissional. Cada profissão está exposta a riscos ocupacionais diferentes, de acordo com o

ambiente de trabalho.

Segundo Cezar et al, 1999, os riscos são classificados em: físicos, químicos,

biológicos, ergonômicos e de acidentes.

Os riscos físicos dizem respeito a todo agente físico que possa estar em contato com o

trabalhador (ver quadro 2).

31

RISCOS FÍSICOS CONSEQÜÊNCIAS

Ruído Elevação do nível geral de vigilância, alteração da pressão arterial e da função intestinal, aceleração da freqüência cardíaca e da freqüência respiratória, dilatação das pupilas, aumento do tônus muscular, aumento da produção de hormônios tireoidianos e ao estresse, perda auditiva induzida por ruído (Pair).

Vibrações Cansaço, irritabilidade, dores nos membros superiores e inferiores, dores na coluna, artrite, problemas digestórios, lesões ósseas e circulatórias, entre outras.

Calor Taquisfigimia, fadiga, irritação, intermação, prostração térmica, fadiga térmica, hipertensão, problemas digestórios, taquicardia.

Radiações não ionizantes Queimaduras, lesões na pele e nos olhos, problemas respiratórios.

Frio Alterações vasculares periféricas, doenças do sistema respiratório, queimaduras.

Umidade Afecções do sistema respiratório, quedas, doenças de pele e doenças circulatórias.

Quadro 2 – Riscos físicos.

Fonte: Adaptado de Cezar (1999).

Os riscos químicos dizem respeito a todo agente químico que possa estar em contato

com o trabalhador (ver quadro 3).

RISCOS QUÍMICOS CONSEQÜÊNCIAS

Poeiras incômodas ex: pó de madeira

Podem interagir com outros agentes nocivos potencializando seus efeitos.

Névoas, gases e vapores (produtos químicos em geral).

Podem ser irritantes para as vias aéreas superiores, como soda cáustica e cloro.

Quadro 3 – Riscos químicos.

Fonte: Adaptado de Cezar (1999).

Os riscos biológicos referem-se a vírus, bactérias, protozoários e parasitas que possam

32

entrar em contato com o trabalhador.

RISCOS BIOLÓGICOS CONSEQÜÊNCIAS

Vírus, bactérias e protozoários Podem estar presentes em excreções de animais ou humanos, causam doenças infectocontagiosas.

Parasitas Podem estar presentes em excreções de animais ou humanos, podem causar infecções cutâneas ou sistêmicas.

Quadro 4 – Riscos biológicos.

Fonte: Cezar (1999).

Os riscos ergonômicos referem-se a atividades ligadas ao trabalho que interfiram na

saúde do trabalhador. A ergonomia estuda fatores relacionados com o homem, as máquinas, o

ambiente, a organização, a informação e as conseqüências do trabalho para a saúde do

trabalhador (CARVALHO, 2001).

RISCOS ERGONÔMICOS CONSEQÜÊNCIAS

Esforço físico em excesso, exigências de postura,

levantamento e trasporte manual de peso

Fadiga, dores musculares, aumento da pressão arterial, fraqueza, úlceras, doenças nervosas, afecções da coluna vertebral

Ritmos excessivos, controle rígido da produtividade, ansiedade, responsabilidade, conflitos.

Fadiga, dores musculares, fraqueza, alterações do sono, libido e vida social, aumento da pressão arterial, cardiopatias, doenças nervosas, doenças do sistema digestório, entre outros.

Quadro 5 – Riscos ergonômicos.

Fonte: Cezar (1999).

Os riscos de acidentes referem-se a fatores externos que possam atingir o trabalhador.

Um acidente pode não gerar consequências, porém pode também por vezes ser fatal.

33

RISCOS DE ACIDENTES CONSEQUÊNCIAS

Arranjo físico inadequado Acidentes como quedas, cortes, perfurações, impactos com objetos.

Máquinas e equipamentos sem proteção

Acidentes como cortes, perfurações.

Ferramentas inadequadas ou defeituosas

Acidentes como cortes, perfurações.

Iluminação inadequada Acidentes como quedas, cortes, perfurações, impactos com objetos.

Eletricidade Acidentes como choque elétrico, incêndios, queimaduras.

Outras situações de risco que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes

Acidentes em geral.

Quadro 6 – Riscos de acidentes.

Fonte: NR 5 anexo IV (1993)

Assim, os riscos ocupacionais aos quais um trabalhador da construção civil está

exposto relacionam-se com o manejo de máquinas, equipamentos e ferramentas pérfuro-

cortantes, instalações elétricas, trabalho em grandes alturas, a utilização de veículos

automotores, posturas que não respeitam a ergonomia devido ao levantamento constante de

objetos pesados, além do estresse devido a transitoriedade e a alta rotatividade de

profissionais no canteiro de obras (SANTANA; OLIVEIRA, 2004).

2.8 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI

Os equipamentos de proteção individual consistem em meios ou dispositivos

utilizados por um trabalhador para prevenir possíveis riscos que possam ameaçar a sua saúde

ou segurança durante a realização de determinada atividade no trabalho (SASAKI, 2007).

Segundo Piza apud Oliveira; Pilon (2003) o EPI não evita acidentes, pois quem os

evita é o usuário desses equipamentos. Eles existem para evitar alguma lesão ou para diminuir

34

sua gravidade. Também possuem a função de proteger o corpo contra efeitos de substâncias

que possam causar doenças ocupacionais.

A Norma Regulamentadora de número 6 dispõe sobre os EPIs que devem ser

utilizados para proteção de cada área específica do corpo e de acordo com a função do

trabalhador. Na empresa concedente do campo para a pesquisa, os trabalhadores exercem as

seguintes profissões: carpinteiro, servente de obras e pedreiro.

Todos os trabalhadores em uma obra devem usar obrigatoriamente o capacete e o

calçado de segurança. O protetor auricular deve ser utilizado obrigatoriamente quando o

trabalhador estiver exposto a níveis de ruído acima dos Limites de Tolerância da NR 15 (ver

anexo A). O trabalhador também deve utilizar capa impermeável quando exposto a chuva ou

garoa. O cinturão de segurança do tipo pára-quedista deve ser utilizado quando o trabalhador

estiver acima de 2 metros de altura (SAMPAIO, 1998).

Segundo o autor supracitado, os EPIs para cada profissão, além dos EPIs citados

acima são: o carpinteiro que utiliza serra, deve usar obrigatoriamente a máscara descartável, o

protetor facial, e o calçado de segurança (a luva de raspa e o avental de raspa são de uso

eventual). O pedreiro, por sua vez, deve utilizar obrigatoriamente luva de PVC ou látex (para

uso eventual são indicados os óculos de segurança contra impacto, luva de raspa e botas

impermeáveis); o servente, em geral, deve utilizar os equipamentos correspondentes aos da

sua equipe de trabalho.

Pilon; Oliveira (2003), citam ainda que o uniforme já está sendo incorporado como

EPI em algumas empresas.

2.9 ACIDENTE DE TRABALHO

O trabalhador da construção civil está continuamente exposto ao risco de acidentes de

trabalho, que muitas vezes podem ser fatais. Acidente de trabalho é o que ocorre pelo

35

exercício do trabalho a serviço da empresa, ou pelo exercício do trabalho do segurado

especial, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, de caráter temporário ou

permanente, segundo o Artigo 19, Lei 8.213, de 24 de julho de 1991 (PREVIDÊNCIA

SOCIAL, 1991).

O acidente que ocorre no caminho entre a residência e o local de trabalho, chamado

acidente de trajeto, e a doença ocupacional, produzida ou desencadeada pelo exercício do

trabalho, também são considerados como acidentes do trabalho e são assegurados pela

previdência social. Porém, para que o acidente ou a doença seja considerado como acidente

do trabalho é necessária uma Perícia Médica do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social),

que fará o reconhecimento técnico entre o acidente e a lesão, a doença e o trabalho, a causa de

morte e o acidente (PREVIDÊNCIA SOCIAL, [200-?]).

Segundo Santana; Oliveira (2004), os principais acidentes que ocorrem durante a

execução das obras, registrados pelas Comunicações de Acidentes de Trabalho, as CATs, são

contusões, ferimentos corto-contusos e fraturas, atingindo principalmente os dedos das mãos.

Conforme consta na NR 18, para qualquer acidente de trabalho, deve ser encaminhada

a CAT, pelo correio, à FUNDACENTRO, para que se mantenham dados estatísticos. Vieira

(1995) lembra, ainda, que a CAT deverá ser emitida em seis vias, uma para o INSS, uma para

o segurado, uma para o Sindicato dos Trabalhadores, uma para a empresa, uma para o SUS e,

por fim, uma para a DRT/Ministério Público (Delegacia Regional do Trabalho).

Em um estudo realizado no Hospital Universitário de Ribeirão Preto, através da

análise de prontuários hospitalares, foi verificado que as quedas foram os maiores motivos de

internamento hospitalar por acidentes de trabalho com trabalhadores da construção civil,

sendo responsáveis por 37,3% dos acidentes registrados. Estas quedas ocorreram

predominantemente em escadas, muros e andaimes (SILVEIRA et al, 2004).

Segundo o autor supracitado, após as quedas, os acidentes encontrados diziam

respeito: ao contato com ferramentas, máquinas e aparelhos (16%); a acidentes de trajeto

36

(12,7%); a impactos por objetos (11,3%); a corpo estranho (8%); à agressão (4%); ao contato

com vidro (2,7%); à exposição à corrente elétrica (2,7%); a contato com fontes de calor

(1,3%); e outros (4%).

Os acidentes de trabalho que acontecem na construção civil geralmente envolvem os

membros superiores. Os trabalhadores utilizam diversos instrumentos, entre eles picaretas,

furadeiras, pregos, vidros e madeiras, objetos que facilmente causam ferimentos. Alguns

trabalhadores também são atingidos por objetos jogados ou que caíram, causando diversas

lesões (SILVEIRA et al, 2004).

O acidente de trabalho é custoso para o empregador, visto que este deve pagar

indenização ao acidentado nos primeiros quinze dias, e também por causa da diminuição da

produtividade na obra, devido à ausência ou debilidade de um profissional. Este é um forte

argumento para incentivar o empregador a realizar maiores investimentos em prevenção.

2.10 NORMAS REGULAMENTADORAS

A saúde do trabalhador está garantida por lei, com a legislação sobre Segurança e

Medicina do Trabalho, através das 32 Normas Regulamentadoras (NRs) as quais foram

aprovadas pela Portaria MTB (Ministério do Trabalhado e Emprego) nº 3.214, de 08 de junho

de 1978. Como objeto deste trabalho, pode-se citar a NR4, NR5, NR6, NR7, NR9, NR 15 e

NR18, especialmente.

Segundo Sasaki (2001), a NR 4, que possui como título Serviço Especializado em

Engenharia de Segurança do Trabalhado (SESMT), define regras para se calcular a

quantidade de componentes do mesmo. Esta NR é importante para esta pesquisa devido ao

anexo I, quadro I, o qual define o grau de risco para a indústria da construção civil. Através

do grau de risco e do número de funcionários existentes na empresa é calculado o número de

componentes para o SESMT.

37

A NR 5, que possui como título Comissão Interna de Acidentes (CIPA), possui como

objetivo a prevenção de acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho. Esta NR é

importante para a pesquisa devido ao anexo IV, o mapa de riscos, que define quais os tipos e

quais os riscos a que o trabalhador pode estar exposto em seu ambiente de trabalho (SASAKI,

2001).

Segundo o autor supracitado, a NR 6 possui como título Equipamentos de Proteção

Individual (EPIs). Nela está especificado cada EPI a ser utilizado, bem como a respeito da

responsabilidade da empresa em fornecer e realizar a manutenção do equipamento adequado

para seus funcionários. Também determina a obrigatoriedade de seu uso pelos trabalhadores.

Esta norma regulamentadora servirá como base para a orientação dos trabalhadores durante a

realização da consulta de enfermagem.

A NR 7, possui como título Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

(PCMSO). Este, por sua vez, possui como objetivo a promoção e preservação da saúde dos

trabalhadores. O PCMSO é obrigatório a todos os empregadores e instituições que tenham

grau de risco para acidentes de trabalho (Idem).

A NR 9, que possui como título Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA)

dispõe sobre esse programa, que por sua vez, possui como intuito a preservação da saúde e da

integridade física dos trabalhadores, através do reconhecimento, avaliação e controle de riscos

ambientais existentes ou que possam existir no ambiente de trabalho (SASAKI, 2007).

Ainda utilizando-se dos preceitos de Sasaki (2007), a NR 15, que possui como título

Atividades e Operações Insalubres, dispõe sobre essas atividades, determinando limites de

tolerância, parâmetros e as atividades consideradas insalubres. A NR 15 é importante para

esse trabalho devido ao seu anexo 1, o qual dispõe sobre os limites de tolerância para o nível

de ruído sem proteção no ambiente de trabalho (ver quadro 2).

Por fim, a NR 18, que possui como título Condições e Meio Ambiente de Trabalho na

Indústria da Construção, dispõe sobre as condições mínimas de segurança e conforto para os

38

trabalhadores da construção civil. Além disso, dispõe sobre as diretrizes de ordem

administrativa, planejamento e organização, que busquem implementar medidas de controle e

sistemas preventivos de segurança nas condições e ambiente de trabalho na indústria da

construção civil (Idem).

Desta feita, entende-se que o conhecimento acerca dessas normas regulamentadoras se

torna importante para poder averiguar as condições de trabalho dos indivíduos em questão.

Ao observar alguma possível irregularidade no ambiente de trabalho, tem-se um ponto de

partida para avaliar se isto está influenciando negativamente a saúde desses trabalhadores.

39

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualiquantitativa, que foi realizada

diretamente com os trabalhadores da construção civil de uma construtora de Chapecó – SC,

realizada por intermédio da aplicação de uma entrevista semi-estruturada.

A pesquisa foi realizada no mês de maio de 2008, com quinze trabalhadores da

empresa em questão.

A técnica de análise dos dados foi baseada na Análise da Enunciação, citada por

Minayo (2004, p. 206) que afirma que a comunicação não é um dado estático, mas “um

momento de criação de significados com tudo o que isso comporta de contradições,

incoerências e imperfeições.” Este estudo teve como base a comunicação, visto que não foi

aplicado questionário, mas sim uma entrevista semi-estruturada. Foram coletados dados

verbais e não-verbais, durante a entrevista.

Os dados posteriormente foram digitados em uma planilha eletrônica do software

BrOffice.org Calc, para a elaboração dos gráficos. A elaboração das tabelas foi feita no

software BrOffice.org Write.

Inicialmente o problema da pesquisa era: Como o acompanhamento e a visão da

enfermagem podem contribuir na melhoria da saúde e qualidade de vida do trabalhador da

construção civil? Seria realizado um processo de enfermagem com cada trabalhador, para

posteriormente avaliarmos se os mesmos estavam adoecendo por sua ocupação. Porém, em

vista do pouco tempo disponível após o retorno do projeto do comitê de ética e também por

gerar maior agilidade ao analisar os dados, optamos pela presente pesquisa.

40

3.1 CAMPO DE ESTUDO

A cidade de Chapecó está localizada na região oeste do estado de Santa Catarina, a

544 Km da capital do estado, Florianópolis. Faz divisa com os municípios de Nova Itaberaba,

Guatambu, Planalto Alegre, Paial, Xaxim, Arvoredo, Seara, Coronel Freitas e Nonoai.

(CAMARGO, 2008).

Chapecó foi fundada em 25 de Agosto de 1917. A colonização, em sua maioria, é de

origem italiana e alemã, constituída de descendentes de imigrantes que residiam no noroeste

do Rio Grande do Sul, que vieram para Chapecó nas últimas décadas (PIMENTA, 2000).

Também constituem a região, índios da etnia Caingangue, que residem em duas

aldeias, o Toldo Chimbangue e Condá (PIMENTA, 2000).

As atividades econômicas da cidade são as agroindustriais e agropecuárias, com

interesse econômico para todo o País. Chapecó é pólo regional, e devido a esse fator, atrai

todo o oeste catarinense para o seu comércio e serviços (PIMENTA, 2000).

Segundo dados coletados com o Sindicato das Indústrias da Construção Civil de Santa

Catarina (SINDUSCON - SC), que é uma entidade representativa das empresas do ramo da

construção civil, no município de Chapecó, existem 495 empregados cadastrados. Porém, este

número não pode ser utilizado como base, pois é um dado informado pelas empresas, que

geralmente não colocam o número exato de trabalhadores, devido à alta rotatividade destes.

Ainda devemos levar em consideração o grande número de trabalhadores informais. Segundo

o SINDUSCON, estima-se que o número de trabalhadores da construção civil no município é,

no mínimo, três vezes maior.

Segundo dados coletados no Ministério do Trabalho de Chapecó, através do Cadastro

Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), a movimentação de trabalho com os

empregados da construção civil, entre julho de 2006 e julho de 2007, foi de 1.637 admissões e

de 1.403 desligamentos. Esses dados refletem a grande rotatividade desses trabalhadores entre

41

as empresas.

A empresa concedente do campo de pesquisa presta serviços técnicos de engenharia e

está no mercado desde 2006. Atualmente conta com 21 funcionários, entre os trabalhadores

atuantes na obra, que são 19, e os atuantes no escritório, que concebem os projetos das obras

que serão executadas. Os trabalhadores da empresa em questão cumprem uma jornada de

trabalho de 44 horas semanais.

Paralelamente aos trabalhadores registrados na empresa, trabalham também quatro

equipes, que são de empresas terceirizadas e realizam as pinturas, os encanamentos, as

armações de ferro e as instalações elétricas. Portanto, os trabalhadores registrados realizam

atividades de escavação manual, concreto, alvenaria de tijolos, confecção de telhados, reboco

(de paredes, tetos, pisos), colocação de cerâmica (pisos e azulejos), muros de contenção, e

confeccionam formas para transformar em concreto armado (vigas e pilares), entre outras

atividades relacionadas às citadas anteriormente.

Atualmente, a empresa está com três obras em andamento, sendo três edifícios com

metragens de 1.040m², 1.302m² e 1.030m². A obra com menor metragem tem previsão de

término para julho de 2008. As outras duas têm seu término previsto para março de 2009.

3.2 INVESTIGAÇÃO

Faziam parte do corpo de funcionários 15 trabalhadores atuantes na execução das

obras, quando o projeto desta pesquisa foi elaborado. Como a amostra já havia sido

selecionada com até 100% dos trabalhadores, resolveu-se continuar com o mesmo número,

mesmo havendo mais trabalhadores contratados nesse período.

Como os trabalhadores estavam divididos nas três obras que estavam sendo

executadas pela empresa, os mesmos foram divididos em três grupos, com 5 trabalhadores em

cada obra.

42

Os quinze trabalhadores foram encaminhados pelo Mestre de Obras presente nas obras

durante as duas manhãs em que as entrevistas foram realizadas. O Mestre de Obras sempre

esteve presente na obra enquanto as entrevistas eram realizadas.

3.3 PROCEDIMENTO ÉTICO

Para atender à Resolução 196, de 10 de Outubro de 1996, que dispõe acerca das

Diretrizes para Pesquisas Envolvendo Seres Humanos, os trabalhadores foram identificados

apenas por números, para preservar sua identidade. Os entrevistados foram orientados de

maneira clara e simples a respeito dos objetivos, da coleta de dados e dos benefícios

decorrentes da participação na pesquisa. Foi explicado ao trabalhador que sua participação

seria espontânea, podendo ele se recusar a participar de alguma parte da entrevista ou da

pesquisa como um todo se assim julgasse conveniente. Após os devidos esclarecimentos,

todos os trabalhadores selecionados preencheram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) (apêndice B).

Receberam, também, todas as informações que julgaram necessárias em todos os

momentos de realização da entrevista. O critério utilizado para suspender ou encerrar a

pesquisa com determinado entrevistado foi a desistência do mesmo em participar.

O risco da pesquisa foi considerado mínimo, por não haver nenhum tipo de

procedimento técnico.

As entrevistas foram realizadas nos vestiários das três obras, ambiente que esteve livre

de interferências durante a coleta de dados. As entrevistas tiveram duração de

aproximadamente 20 minutos, com cada entrevistado. Nenhum indivíduo se negou a

participar da pesquisa.

43

3.4 PARTICIPANTES DA PESQUISA

Como já citado anteriormente, na empresa concedente do campo para a pesquisa, os

trabalhadores exercem as seguintes funções: carpinteiro, servente de obras e pedreiro.

Possuem idade entre 18 e 57 anos, sendo todos do sexo masculino.

3.5 COLETA DE DADOS

Em um primeiro momento foi elaborada uma entrevista-piloto, a qual foi aplicada com

um trabalhador no dia anterior à coleta de dados propriamente dita. Foi observada a

necessidade de alguns ajustes para que o roteiro de entrevista estivesse melhor adequado aos

trabalhadores em questão, e necessitou-se utilizar uma linguagem mais simples do que a

primeiramente proposta. Também foi observada a necessidade de se diminuir o número de

perguntas, além de torná-las mais objetivas.

Durante a entrevista foi abordada também a educação em saúde, enfatizando a

importância da vacina DT (dupla adulto) e sobre o uso de Equipamentos de Proteção

Individual (EPIs).

44

4 APRESENTAÇÃO DA PESQUISA E ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo possui como objetivo descrever os dados obtidos com as informações

extraídas das entrevistas. Algumas informações serão apresentadas de forma quantitativa,

sendo analisadas através de gráficos ou tabelas. Ao final deste capítulo serão apresentadas

algumas questões de maneira mais subjetiva.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA

Dos 15 trabalhadores entrevistados, encontramos idades entre 18 e 57 anos. Santana

(2004) cita que a idade predominante dos trabalhadores da construção civil está entre 10 e 65

anos e são do sexo masculino. Quanto à naturalidade, 11 (73,3%) são do Oeste de Santa

Catarina; 2 (13,35%) do RS e 2 (13,35%) do PR (ver tabela 1).

Tabela 1 – Distribuição dos Trabalhadores quanto à Naturalidade

Naturalidade Número %

Região Oeste de Santa Catarina 11 73,3

Rio Grande do Sul 2 13,35

Paraná 2 13,35

Total 15 100

Fonte: Extraído do instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Santana (2004) cita ainda que a maior parte dos trabalhadores da construção civil de

Salvador, BA, são de pele negra, somando 31% dos entrevistados da construção civil. Em

45

contrapartida, nesta pesquisa não havia nenhum trabalhador com a pele negra, sendo 11

(73,3%) de pele branca e 4 (26,7%) de pele parda.

Como já citado anteriormente, a região de Chapecó foi colonizada principalmente por

imigrantes italianos e alemães que anteriormente viviam na região noroeste do estado do Rio

Grande do Sul. A questão da pele negra, para a pesquisa de Santana (2004) é uma questão

social, situação esta que não vivemos no oeste de Santa Catarina, devido aos poucos negros

residentes aqui (PIMENTA, 2000).

Tabela 2 – Cor da Pele

Cor da Pele Número %

Branca 11 73,3

Parda 4 26,7

Total 15 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Quanto à satisfação profissional dos entrevistados, 12 (80%) estão satisfeitos com a

profissão, enquanto que 3 (20%) dizem estar insatisfeitos (ver tabela 3).

Tabela 3 – Satisfação Profissional

Satisfeito Número %

Sim 12 80%

Não 3 20%

Total 15 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Santana (2004) cita que 75,6% dos trabalhadores da construção civil entrevistados em

46

seu estudo possuem nível de escolaridade baixo, o que inclui os não-alfabetizados e os que

possuem ensino fundamental incompleto. Em nossa pesquisa, observou-se que 12 (80%) dos

entrevistados possuíam ensino fundamental incompleto, 2 haviam completado o ensino

fundamental e apenas 1 havia iniciado o ensino médio (ver gráfico 1). Nenhum dos

entrevistados está estudando atualmente.

Gráfico 1 – Escolaridade

Fonte: Extraído do instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

4.2 INFORMAÇÕES SOBRE O TRABALHO

O tempo médio de anos trabalhados na construção civil dos entrevistados é de 13,04

anos. O entrevistado com menor tempo de trabalho está trabalhando há 2 meses nesta área,

enquanto o trabalhador com mais tempo de serviço está trabalhando há 38 anos nessa área

(ver gráfico 2). Dos trabalhadores entrevistados, 6 (40%) trabalham há menos que cinco anos

na construção civil; 2 (13,33%) trabalham entre 5 e 10 anos; 1 (6,67%) trabalha entre 11 e 16

anos; 4 (26,67%) trabalham entre 17 e 22 anos; 1 (6,67%) trabalha entre 23 e 28 anos e 1

(6,67%) trabalha entre 35 e 40 anos na área em questão. O gráfico abaixo agrupa o tempo de

01

2

3

4

56

7

8

910

11

12

1314

15

0,00%

80,00%

13,33%

6,67%

0,00%

Escolaridade

Não alfabetizadoEnsino fundamental incompletoEnsino fundamental completoEnsino médio incompletoEnsino médio completoN

úmer

o de

trab

alha

dore

s

47

serviço a cada cinco anos trabalhados.

Gráfico 2 – Tempo de Serviço

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Dos trabalhadores entrevistados, 7 (46,66%) exercem a profissão de pedreiro; 7

(46,66%), a profissão de servente de obras; e 1 (6,68%), a profissão de carpinteiro (ver

tabela 4).

Tabela 4 – Profissão dos Entrevistados

Profissão dos Entrevistados Número %

Pedreiro 7 46,66

Servente de Obras 7 46,66

Carpinteiro 1 6,68

Total 15 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

01

23

4

56

78

910

1112

1314

15

40,00%

13,33%

6,67%

26,67%

6,67%

0,00%

6,67%

Tempo de serviço

Menos que 5De 5 a 10 anosDe 11 a 16 anosDe 17 a 22 anosDe 23 a 28 anosDe 29 a 34De 35 a 40 anos

Núm

ero

de tr

abal

hado

res

48

Em relação aos instrumentos utilizados para exercer a profissão, ocorre o seguinte: 10

trabalhadores utilizam a colher de pedreiro; 9, o martelo; 5, o nivelador; 3, a trena; 2, a

desempenadeira; 10, a pá; 7, o carrinho de mão; 11, a serra ou serrote; 5, a maquita; 3, a

enxada; 5, a picareta; 2, a cavadeira; 3, a furadeira; 2, o esquadro; e 4, trabalhadores que

citaram também outros objetos (ver gráfico 3).

Gráfico 3 – Instrumentos utilizados pelos trabalhadores

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

As profissões exercidas anteriormente por esses trabalhadores eram: coletor 1

(6,68%); magarefe, 1 (6,68%); entregador de materiais, 1 (6,68%); e operador de máquinas, 2

(13,36%). Ver tabela 5.

Dos trabalhadores entrevistados, 4 (26,6%) tiveram a construção civil como seu

primeiro emprego (ver tabela 5).

Ainda sobre a profissão anterior dos mesmos, 6 (40%) trabalhavam na agricultura.

01

23

45

67

89

1011

12

1314

15

11

10 10

9

7

5 5 5

4

3 3 3 3

2 2 2

Instrumentos utilizados

Serra/serroteColher de pedrei-roPáMarteloCarrinho de mãoPrumoMaquitaPicareta

OutrosNiveladorTrenaEnxadaFuradeiraEsquadroCavadeiraDesempenadeira

Núm

ero

de tr

abal

hado

res

49

Oliveira; Pilon (2003) citam que 32% dos entrevistados em sua pesquisa eram trabalhadores

rurais, enfatizando que esses trabalhadores são pessoas simples e sem qualificação para o

trabalho na construção civil, o que pode resultar em riscos maiores para acidentes e doenças

ocupacionais, devido à pouca informação desses trabalhadores. Ver tabela 5.

Tabela 5 – Profissões Anteriores a esta Empresa

Profissão Anterior Número %

Coletor 1 6,68

Entregador de Materiais 1 6,68

Magarefe 1 6,68

Operador de Máquinas 2 13,36

Construção Civil 4 26,6

Agricultura 6 40

Total 15 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Dos 4 trabalhadores que tiveram a construção civil como seu primeiro emprego, 2

(50%) começaram a trabalhar com 15 anos, e 2 (50%) já eram maiores de idade,

diferentemente dos dados obtidos por Santana (2004) que cita que dos seus entrevistados

70,1% começaram a trabalhar com menos de 14 anos. Ver tabela 6.

Tabela 6 – Idade que inciou a trabalhar na construção civil

Idade Número %

15 anos 2 50

18 anos ou mais 2 50

Total 4 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

50

Por tratar-se de uma pesquisa realizada em uma empresa, com todos os trabalhadores

possuindo carteira assinada e tendo seus direitos de trabalhadores assegurados, essa pesquisa

mostrou um aspecto diferente da pesquisa realizada por Santana (2004) em Salvador, onde a

maior parte dos trabalhadores entrevistados não possuíam registro de trabalho formal. Apenas

34,2% dos entrevistados por Santana possuíam carteira assinada, diferente da nossa amostra

em que 100% dos trabalhadores entrevistados possuem carteira assinada.

4.3 CARACTERIZANDO A POPULAÇÃO ESTUDADA EM RELAÇÃO À SEGURANÇA NO TRABALHO

Todos os trabalhadores referiram utilizar os Equipamentos de Proteção Individual

(EPIs). Questionados pelos motivos que os fazem usar esses equipamentos, 2 (13,33%) dos

trabalhadores entrevistados afirmaram usá-los apenas por obrigação achando desnecessário o

uso dos mesmos. Porém, em contrapartida, 13 (86,67) utilizam os EPIs para sua proteção e

segurança, mostrando que estão informados a respeito da importância do uso desses

equipamentos. Este dado foi analisado diferentemente por Oliveira; Pilon (2003) que afirmam

que 42% dos entrevistados usam os EPIs apenas porque a empresa exige, demonstrando

pouca informação a respeito de prevenção de riscos e autocuidado por parte desses

trabalhadores (ver tabela 7).

Tabela 7 – Motivos que levam os trabalhadores a usar EPIs

Motivos Número %

Obrigação 2 13,33

Proteção/Segurança 13 86,67

Total 15 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador, 2008.

51

Gráfico 4 – EPIs utilizados pelos trabalhadores

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador, 2008.

Questionados a respeito de sua opinião sobre os riscos de acidentes em seu ambiente

de trabalho: 7 (46,67%) entrevistados responderam que acham seu trabalho perigoso, 6 (40%)

responderam que não acham perigoso; e 2 (13,33%) responderam que acham pouco perigoso

(ver gráfico 5).

01

23456789

101112131415 15 15

9

7 7

6 6

4

3

2

EPIs Utilizados

CapaceteCalçado de segurançaLuva de latexProtetor auricularCinto Botas impermeáveisUniformeMáscara descartávelProtetor facialAvental de raspa

Núm

ero

de T

raba

lhad

ores

52

Gráfico 5 – Opinião sobre a periculosdade no ambiente de trabalho

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Questionados sobre a possibilidade de adoecer devido ao seu trabalho, 5 (33,33%)

trabalhadores responderam que sim, acham que podem adoecer devido a atividade laboral,

enquanto que 10 (66,67%) responderam que não, pois o trabalho nada interfere em sua saúde

(ver gráfico 6).

0

1

2

3

4

5

67

8

9

10

11

12

13

14

15

46,67%

40,00%

13,33%

Opinião sobre a periculosidade no ambiente de trabalho

Acham seu trabalho perigosoNão acham seu traba-lho perigosoAcham pouco pe-rigoso

Núm

ero

de tr

abal

hado

res

53

Gráfico 6 – Opinião sobre a Existência de doenças Ocupacionais na Construção Civil

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Dos 5 trabalhadores que acreditam que podem adoecer devido à atividade laboral, 3

(60%) referiram que podem ficar com tosse por causa da poeira, 2 (40%) afirmaram que

podem ficar com problemas auditivos e um entrevistado referiu que, além de prejudicar a

audição, seu trabalho pode também prejudicar a visão (ver tabela 8).

Tabela 8 – Doenças que possivelmente possam acometer-se

Doenças Número %

Tosse 3 60

Problemas auditivos/visuais 2 40

Total 5 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Quando questionados a respeito de acidentes de trabalho, todos referiram estar cientes

0123456789

101112131415

66,67%

33,33%

Opinião sobre a existência de doenças ocupacionais na construção civil

NãoSim

Núm

ero

de tr

abal

hado

res

54

que algum acidente pode ocorrer enquanto os mesmos estão trabalhando. Os trabalhadores

foram questionados também sobre os acidentes a que, acreditam eles, podem estar sujeitos

durante a atividade laboral. Dos 15 entrevistados, 13 referiram risco de quedas, 9 referiram

impacto por objeto, 6 referiram o risco de cortes, 1 referiu sobre o risco de perfurar-se com

algum corpo estranho e 1 referiu risco de choque elétrico. O número total de opiniões

corresponde a 30. Ver gráfico 7.

Gráfico 7 – Opinião sobre acidentes de trabalho

Fonte:Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Quando os trabalhadores foram questionados sobre os acidentes ocorridos durante o

período de trabalho ou de trajeto, todos afirmaram já terem sofrido algum tipo de acidente.

Destes trabalhadores, 11 (47,83%) se perfuraram com algum corpo estranho; 3 (13,04%)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13 43,33%

30,00%

20,00%

3,33% 3,33%

Opinião sobre acidentes de trabalho

QuedasImpacto por objetoCorpo estranhoChoque elétricoCortes

Núm

ero

de o

pini

ões

55

sofreram acidente de trajeto com moto; 5 (21,74%) já tiveram algum tipo de corte; 2

(8,70%) já sofreram quedas; e 2 (8,70%) sofreram impacto por objeto (ver gráfico 8). O

número total de acidentes ocorridos corresponde a 23. A porcentagem refere-se ao número

total de acidentes.

Gráfico 8 – Acidentes ocorridos.

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Os trabalhadores também foram questionados a respeito das precauções que tomam

para minimizar os riscos enquanto estão trabalhando. Dos 15 entrevistados, 4 (16,65%)

afirmaram utilizar os EPIs como forma de se proteger de riscos; 9 (37,5%) afirmaram que

sempre prestam atenção na atividade que estão executando; 1 (4,17%) afirmou que evita

riscos porque sempre trabalha tranqüilo; 1 (4,17%) afirmou que sempre se segura bem quando

está em altura; 1 (4,17%), entrevistado, afirmou que sempre conta com a sorte; 2 (8,33%)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

47,83%

21,74%

13,04%

8,70% 8,70%

Acidentes ocorridos

Corpo estranhoCortes diversosAcidente de trajetoQuedasImpacto por objeto

Núm

ero

de tr

abal

hado

res

56

afirmaram que tentam prever o que vai acontecer; 3 (12,5%) afirmaram que evitam ir a locais

que julgam perigosos; 1 (4,17%) afirmou que sempre presta atenção em objetos que possam

cair; 1 (4,17%) afirmou que faz proteção em andaimes; e 1 (4,17%) afirmou que cuida dos

colegas e pede para que seus colegas cuidem dele (ver tabela 8). Alguns trabalhadores

expressaram mais de uma opinião.

Tabela 9 – Precauções tomadas pelos trabalhadores

Precauções Número %

Uso de EPIs 4 16,65

Prestam atenção 9 37,5

Trabalha tranqüilo 1 4,17

Prevê os riscos 2 8,33

Evitam locais perigosos 3 12,5

Segura-se bem 1 4,17

Conta com a sorte 1 4,17

Presta atenção nos objetos 1 4,17

Faz proteção nos andaimes 1 4,17

Pede auxílio a colegas 1 4,17

Total de opiniões 24 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

4.4 CARACTERIZADO A POPULAÇÃO ESTUDADA EM RELAÇÃO A SAÚDE NO TRABALHO

Em relação a postura que trabalham, todos os entrevistados referiram trabalhar em pé,

alternando por vezes trabalhar agachado. 1 trabalhador referiu trabalhar até deitado por causa

da atividade exercida, em determinado momento.

Dos 15 entrevistados, 9 (60%) referiram ser fumantes, enquanto 6 (40%) não

declararam-se fumantes. Santana (2004) cita uma alta prevalência de fumantes entre os

57

trabalhadores da construção civil. Dos fumantes, 2 (22,2%) referiram sentir mais vontade de

fumar enquanto trabalham (ver gráfico 9).

Nenhum dos entrevistados afirmou ingerir bebidas alcoólicas enquanto trabalha,

assim como também 5 (33,33%) referiram ingerir álcool apenas nos finais de semana e em

pouca quantidade. Santana (2004) cita o alto consumo de bebidas alcoólicas por esses

trabalhadores, divergindo dos dados obtidos nessa pesquisa (ver tabela 9).

Tabela 10 – Consumo de bebidas alcoólicas

Consumo de bebidas alcoólicas Número %

Sim 5 33,33

Não 10 66,67

Total 15 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Gráfico 9 – Tabagismo

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

60,00%

40,00%

Tabagismo

FumantesNão-fumantes

Núm

ero

de tr

abal

hado

res

58

Os entrevistados foram questionados a respeito de seus problemas de saúde, sendo

que: 1 (6,67%) trabalhador referiu ser hipotenso; 3 (20%) afirmaram ser hipertensos; 1

(6,67%) referiu ter sensibilidade excessiva a luz; 1 (6,67%) referiu ter hérnia de disco; 1

(6,67%) referiu ter dor nas costas; 1 (6,67%) referiu ter dor nas pernas; e 1 (6,67%) referiu ter

varizes. O entrevistado que referiu ter dor nas pernas afirmou também possuir varizes. O

trabalhador que referiu hérnia de disco afirmou também ter dores nas costas e o trabalhador

que referiu sensibilidade excessiva à luz também referiu ser hipertenso. Dos entrevistados, 9

(60%) referiram não ter problema de saúde algum (ver gráfico 10). A porcentagem refere-se

ao número total de problemas de saúde, que corresponde a 17.

Gráfico 10 – Doenças referidas pelos trabalhadores

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Com relação aos exames ocupacionais realizados pela empresa, 14 (93,33%) acham

0123456

789

101112131415

9

3

1 1 1 1 1

Doenças referidas pelos trabalhadores

Nenhum problema de saúdeHipertensãoHipotensãoHérnia de discoLombalgiaDor nas pernas

Varizes

Núm

ero

de tr

abal

hado

res

59

esses exames importantes, enquanto 1 (6,67%) os acha desnecessários (ver tabela 10).

Tabela 11 – Opinião sobre a importância dos exames ocupacionais

Consumo de bebidas alcoólicas Número %

Importante 14 93,33

Sem importância 1 6,67

Total 15 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Quando questionados a respeito das vacinas, 12 (80%) afirmaram estar com suas

vacinas em dia, enquanto que apenas 2 (13,3%) referiram não estar com as vacinas em dia.

Apenas 1 trabalhador afirmou não se lembrar quando fez sua última vacina (ver tabela 11).

Tabela 12 – Vacinas

Vacinas Número %

Vacinados 12 80

Não vacinados 2 13,3

Não sabe 1 6,7

Total 15 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

Dos 15 trabalhadores entrevistados, 6 (40%) necessitaram atendimento hospitalar por

causa de algum acidente de trabalho. Destes, 1 foi hospitalizado duas vezes e outro 3 vezes

por acidente de trabalho. Dos entrevistados, 3 sofreram acidente de trajeto com moto, 3 por

perfuração com corpo estranho, 1 devido a queda do andaime e 1 por corte (ver tabela 12). O

trabalhador que esteve hospitalizado por 3 vezes o fez por perfuração por corpo estranho,

acidente de trajeto e por um corte profundo na mão. O trabalhador que esteve hospitalizado

por 2 vezes o fez por acidente de trajeto e por perfuração por corpo estranho.

60

Tabela 13 – Hospitalizações devido acidentes de trabalho

Acidentes Número %

Trajeto 3 37,5

Corpo estranho 3 37,5

Queda 1 12,5

Corte 1 12,5

Total de acidentes 8 100

Fonte: Extraído do Instrumento de coleta de dados sobre saúde do trabalhador (2008).

4.5 ANÁLISE DAS FALAS

A fala não é um dado estático, portanto, não é possível analisá-la precisamente. Junto à

fala existe uma série de fatores que a norteiam, inclusive por vezes há inverdade dos seus

locutores. Serão discutidas, agora, algumas falas selecionadas para ilustrar a opinião dos

trabalhadores em relação a sua qualidade de vida e sua saúde em geral, fatores que

influenciam fortemente o trabalho dos entrevistados.

A pesquisa qualitativa é entendida por Minayo (2004 p. 10) como aquela que

incorpora “a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações

e às estruturas sociais” como construções humanas significativas. Minayo cita ainda que a

pesquisa qualitativa consagra uma imprecisão, supondo uma afirmação da qualidade contra a

quantidade.

Como já citado anteriormente, a grande maioria dos entrevistados (12), está satisfeito

com sua profissão. O trabalhador se sente valorizado quando o trabalho lhe é prazeroso. Essa

valorização para consigo mesmo lhe dá “estrutura como pessoa e atende suas necessidades,

desde as de sobrevivência até as de auto-realização”. Quando um trabalhador está satisfeito

com sua profissão, a exerce com mais prazer e, conseqüentemente, trabalha melhor e com

mais cuidado, estando assim sujeito a menor risco de acidente ou doença ocupacional

61

(MOREIRA, 2006, p. 29).

Dos trabalhadores que se mostraram insatisfeitos, soube-se que a insatisfação seria

não pelas atividades executadas, nem tampouco pelo trabalho em si, mas por algumas

características do seu trabalho, como no caso do entrevistado de número 12, que não gosta de

sempre estar trabalhando em um local sujo. Foi transcrito de um trabalhador a seguinte fala :

...“gostaria de trabalhar em um local mais limpo. Tem muita sujeira na obra”... O

entrevistado explica, pois, o porquê de não estar satisfeito com sua profissão.

O entrevistado de número 05 afirma estar insatisfeito por ser servente de pedreiro,

sendo que seu objetivo profissional é ser pedreiro. Porém, sabe que, logo aprenderá o ofício

de pedreiro e quando houver oportunidade será promovido ao seu almejado cargo. Esta

opinião se apresentou da seguinte forma: ...“queria ser pedreiro”... afirma o entrevistado.

Nesta pesquisa encontramos informações que diferem com a pesquisa de Santana

(2004) nesse aspecto, pois Santana cita que a maior parte de seus entrevistados não gosta de

sua profissão. Estes, por sua vez, afirmaram inclusive que seu trabalho não possui valor

algum e que, por vezes, trabalham mais que animais. Estes dados podem ter sido divergentes

devido aos trabalhadores entrevistados nesta pesquisa possuírem carteira assinada e salário

fixo. Os profissionais pedreiro e carpinteiro possuem o salário de R$ 800,00 e os serventes de

obras recebem o salário de R$ 500,00. No sul do Brasil, percebe-se também uma menor

precarização do trabalho na construção civil do que em outras regiões do Brasil.

O entrevistado de número 15 mostra-se insatisfeito devido ao cansaço físico que sua

atividade lhe causa, impossibilitando que o mesmo consiga estudar no período noturno. O

mesmo expressa sua insatisfação através da seguinte fala: ...“gosto do meu trabalho (...)

queria estudar, só que fico muito cansado”...

Ao serem questionados a respeito das precauções tomadas para não acidentar-se, a

maioria (9 entre os 15 entrevistados) afirmou estar sempre atento aos acontecimentos no

ambiente de trabalhado, mostrando um conhecimento a respeito dos riscos existentes nas

62

obras. Por outro lado, alguns entrevistados demostraram pouco conhecimento ou cuidado a

respeito de sua saúde, atribuindo os acidentes como acontecimentos sem a possibilidade de

prevenção, fato esse que pode ser observado no caso do entrevistado número 05, que trabalha

há dois meses na construção civil, quando afirma contar com a sorte para evitar acidentes:

...“tenho sorte...” .

Pilon; Oliveira (2003) citam que em sua pesquisa foi observado que os trabalhadores

que estão atuando há mais tempo na profissão afirmam que os acidentes de trabalho apenas

acontecem com trabalhadores com menos experiência de trabalho em obras, e que com a

experiência que eles têm nunca irão sofrer um acidente. Isto porque conhecem os riscos que

existem no ambiente de trabalho. A presente pesquisa difere-se da supracitada, pois de acordo

com as respostas dadas, pode-se observar que a maior parte dos trabalhadores que não estão

cientes dos riscos a que estão sujeitos são os que trabalham há menos tempo, como o

afirmado pelo entrevistado de número 01: ...“eu uso o cinto e me agarro bem”.... que trabalha

há 2 anos na construção civil, demonstrado estar preocupado apenas em evitar quedas.

Na fala: ...“tento adivinhar o que vai acontecer”... (entrevistado número 13), que

trabalha há 4 anos na construção civil, observamos a questão de o trabalhador citado contar

com a sorte também, assim como o entrevistado de número 05, como se um fato “mágico”

estivesse envolvido nesta questão. Os acidentes podem ser prevenidos, porém não é possível

adivinhar o que irá acontecer.

Com a fala ...“eu cuido do outro para que ele me cuide também”... o entrevistado

número 03, que trabalha há 10 anos na construção civil, demostra cuidado com o colega de

trabalho, mostrando que existe cooperação entre os trabalhadores, fator de extrema

importância para todo trabalho em equipe.

Com relação ao uso dos EPIs, pode-se observar que os mesmos conhecem todos os

EPIs citados na entrevista, porém fazem o uso contínuo apenas do capacete de segurança e do

calçado de segurança.Entre os entrevistados, há um alto índice de conhecimento sobre o uso

63

dos EPIs, com 86,67% dos quinze trabalhadores. Embora desconhecendo os momentos

adequados do uso de cada EPI, deixando alguns equipamentos sem uso, a grande maioria

expressou a importância dos mesmos nas seguintes falas :

a) ...“uso para não cortar o dedo, para proteger o pé, a cabeça”... (entrevistado de

número 01).

b) ...“para se proteger do perigo” ... (entrevistado número 04).

c) ...“para segurança e saúde”... ( entrevistado número 09).

Pilon; Oliveira (2003, p. 2), afirmam que, devido à baixa formação do trabalhador da

construção civil, há uma grande dificuldade para esses trabalhadores reconhecerem os riscos

aos quais estão expostos. Cita ainda que os trabalhadores da construção civil “não encontram

respaldo protetivo adequado à sua saúde”. Embora a maioria dos entrevistados nesta pesquisa

tenha se mostrado informado a respeito da importância do uso dos EPIs, 13,33% dos quinze

entrevistados afirmou usar os EPIs apenas por obrigação, achando desnecessário o uso dos

mesmos, como afirmado pelos entrevistado número 11: ...“uso porque a empresa manda”...

O fato do trabalhador utilizar o EPI exclusivamente pela exigência da empresa, reflete

seu desconhecimento a respeito da função e real utilidade do EPI, ou ainda talvez uma

despreocupação com sua saúde, não considerando esta uma prioridade.

Entre os trabalhadores entrevistados, pode-se observar que os mesmos apenas

consideram problemas de saúde aquelas doenças consideradas “graves”, ou que necessitem de

medicação de uso contínuo, como no caso da hipertensão. O entrevistado número 11

responde que não tem nenhum problema de saúde, mas logo em seguida lembra-se que tem

varizes e que foi necessária até uma intervenção cirúrgica: ...“não (...) só tenho dor nas

pernas (...) eu também fiz uma cirurgia, pras pernas (...) varizes eu acho”... Este trabalhador

não refere-se às varizes como um problema de saúde, pois responde prontamente “não” ao ser

questionado se possui problemas de saúde.

Relacionado à questão do consumo de álcool, como já discutido anteriormente,

64

nenhum trabalhador afirma consumir bebidas alcoólicas durante o período de trabalho. Refere

ainda consumir quantidades reduzidas deste tipo de bebida apenas nos finais de semana.

Ilustrando esse fato, o entrevistado de número 14 afirma: “é... bebo um pouquinho no final de

semana”.

Segundo os responsáveis pelas obras, em uma conversa informal, esses trabalhadores

consomem muita bebida alcoólica nos finais de semana, por vezes até faltando o trabalho na

segunda-feira, devido à toxidade causada pelo álcool. Minayo (2004) cita que o discurso é um

momento de criação de significados, onde ocorrem imperfeições, incoerências e contradições.

O fato dos trabalhadores afirmarem que bebem pouco no final de semana, sendo que, os

relatos de seus supervisores são diferentes, provavelmente reflete uma questão psicossocial

da não aceitação do consumo de álcool em excesso, levando-os a não admitir o consumo em

demasia dessas bebidas para as entrevistadoras, que, como fato potencializador para intimidá-

los, pertencem à área da saúde. Talvez, se o contato das pesquisadoras com os entrevistados

fosse maior, eles admitiriam o consumo de bebidas. Entretanto, como este trabalho objetiva

analisar a opinião desses trabalhadores, os dados foram expostos quantitativamente com o

relato dos mesmos.

65

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM

Esta pesquisa deu-se por intermédio de uma entrevista realizada em uma empresa que

presta serviços técnicos de engenharia no município de Chapecó, SC. As considerações finais

são aplicáveis a essa população-alvo, não sendo generalizável a qualquer outro grupo de

trabalhadores, mesmo que da construção civil, pois limitou-se a 15 indivíduos participantes

em uma única realidade: com carteira assinada. Porém, esta pesquisa pode servir de base para

outras implementações com grupos de trabalhadores, todavia com a necessidade de adaptação

à realidade local.

Esta pesquisa mostrou-se positiva pois, quando comparada a outras pesquisas,

realizadas na área da construção civil em outros locais, como por exemplo o artigo de Santana

(2004), mostra que os trabalhadores entrevistados possuem mais conhecimento e motivação

para o trabalho que os de outras regiões. Essa comparação causou surpresa e, também na

mesma medida, satisfação.

Minayo (2004, p.114), cita que a “entrevista não é simplesmente um trabalho de coleta

de dados, mas sempre uma situação de interação na qual as informações dadas pelos sujeitos

podem ser profundamente afetadas pela natureza de suas relações com o entrevistador”.

Como toda pesquisa que possui como meio a palavra, este estudo mostrou-se de certa

maneira impreciso, assim como cita Morin apud Matos (2005), que refere-se à palavra como

uma fonte de de dados muito rica, porém, na mesma proporção, muito duvidosa.

Ao ouvir as falas dos trabalhadores durante as entrevistas, pode-se perceber vários

momentos de hesitação, silêncios, dúvidas, assim como cita Minayo (2004 p. 206) quando

afirma que a comunicação “se dá numa triangulação entre o locutor, seu objeto de discurso e o

66

interlecutor (...) ao se expressar, o locutor expressa seus conflitos básicos através de palavras,

silêncios, lacunas, dentro de processos, na sua maioria inconscientes”. A palavra dos

entrevistados é de extrema valia, e foi através delas, fielmente, que este estudo realizou-se.

Os trabalhadores da construção civil desta pesquisa demonstram ter um grau de

conhecimento baixo a respeito da sua saúde ocupacional como termo genérico, e direcionam

seus cuidados quase que exclusivamente para a prevenção de acidentes. De seu ponto de vista,

estão protegidos contra acidentes e doenças, e referem estar sempre atentos ao que acontece

no ambiente onde estão trabalhando.

Os trabalhadores em questão, acreditam trabalhar em um local seguro e livre de riscos

ocupacionais. Estão contentes com a profissão e vêem-se como pessoas saudáveis. Pelo

observado, são indivíduos que possuem pouca percepção de seu corpo e pouco conhecimento

a respeito do processo saúde-doença. Isso pode se dar por diversos fatores, entre eles:

a) pelo fato de serem homens: a cultura impõe de certa maneira que os homens

assumam comportamentos pouco saudáveis, impostos por uma masculinidade idealizada.

Deste modo, como valores da cultura masculina, estão presentes “noções de invulnerabilidade

e de comportamento de risco”. Como se preocupar-se com a saúde ou agir com cuidado

(conscientemente ou não) comprometesse de algum modo a masculinidade. Aliado a isso,

surge a dificuldade do homem em verbalizar as suas necessidades de saúde, pois a capacidade

de comunicação para o homem é dificultosa (FIGUEIREDO, 2004 p. 107; PEASE, 2000).

b) devido à baixa escolaridade: talvez devido ao pouco conhecimento a respeito do

funcionamento de seu corpo ou mesmo sobre a forma de identificar sinais e sintomas de

doenças, a baixa escolaridade afete a percepção do corpo e o conhecimento sobre o processo

saúde- doença. Marmot apud Giatti (2006) observou, em seu estudo, que trabalhadores com

menor qualificação mostravam uma pior percepção da própria saúde e diferenciais relativos a

hábitos de vida, e também havia uma maior prevalência de doenças cardiovasculares.

c) também podemos atribuir ao baixo nível de informação ou devido ao nível

67

socioeconômico baixo. Diversos estudos confirmam a associação positiva que existe entre

melhor nível socioeconômico e melhor condição de saúde. A saúde é influenciada pela

posição socioeconômica por meio de comportamentos, efeitos biológicos, fatores

psicossociais, recursos diferenciais para tratamento e acesso à prevenção de doenças

(GIATTI, 2006).

d) devido ao acesso restrito de medidas preventivas, ações de promoção em saúde ou

de prevenção de doenças não são realizadas especificamente para essa classe, ficando esta

responsabilidade para a empresa empregadora.

Recomenda-se que, para a população-alvo, sejam direcionadas algumas ações que

focalizem maiores medidas de prevenção de acidentes, sobre o uso de todos os EPIs e sobre

posturas ergonômicas, com execução de exercícios físicos que previnam dores devido à

postura exaustiva de trabalho dos mesmos. Isso poderia dar-se por intermédio de palestras

educativas, realizadas com uma certa freqüência. Esta capacitação poderia ser oferecida pela

empresa empregadora, pelo Ministério do Trabalho, ou pelo sindicato ou associação a que

estes trabalhadores pertencem.

No que diz respeito à escolaridade, o ideal seria um incentivo por parte dos

empregadores, com uma possível gratificação financeira para quem estivesse estudando; ou

com a criação de programas de redução de carga horária para os que gostariam de estudar.

Esse incentivo poderia partir também do Governo para com as empresas, diminuindo talvez a

carga tributária para as empresas que incentivassem seus funcionários ao estudo.

As ações de enfermagem para o trabalhador da construção civil não limitam-se apenas

ao trabalho em empresas, mas também a nível ambulatorial e hospitalar, visto que esses

trabalhadores são freqüentemente alvo de acidentes. Para a saúde pública existem as

possibilidades de promoção de atividades educativas para essa população, com o intuito de

diminuir a incidência de acidentes de trabalho.

Para se otimizar o atendimento hospitalar é de extrema importância que se conheça o

68

contexto histórico ao qual o indivíduo/paciente encontra-se inserido e, através disto, pode-se

traçar o nível social, econômico, cultural e político, entre outros.

Ao se conhecer a história do paciente, o conhecimento a respeito do processo saúde-

doença se amplia, possibilitando assim um atendimento mais eficaz a respeito das

necessidades básicas do indivíduo.

Para a enfermagem do trabalho, através de uma pesquisa, é possível conhecer a

realidade do ambiente de trabalho e das percepções dos trabalhadores, para a partir daí serem

planejadas atitudes para melhorar a qualidade de vida do trabalhador e também melhorar a

produtividade da empresa. Merchan-Hamann apud Rocha (2007) afirmam que “as ações de

promoção de saúde não devem ser implantadas universalmente”, devendo ser planejadas de

acordo com a realidade da coletividade em questão, planejamento este conseguido através do

estudo.

69

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74

APÊNDICES

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista

APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido

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APÊNDICE – A

ROTEIRO DE ENTREVISTAINSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS SOBRE SAÚDE DO TRABALHADOR

Instrumento N°: ___________________ Data: __/__/__

Entrevistador: ____________________ Número: ____________________

Pesquisa: Qual o nível de conhecimento dos trabalhadores da construção civil em relação a sua saúde ocupacional?

I - CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA

Local: Profissão do trabalhador:

Data de nascimento: Idade: Cor:

Naturalidade: Escolaridade:

II - INFORMAÇÕES SOBRE O TRABALHO

1. A quanto tempo está na construção civil? Quais foram suas ocupações anteriores?

2. Quais instrumentos você utiliza durante a realização do trabalho?

3. Está satisfeito com sua profissão/empresa ( ) sim ( ) não

4. O que você não gosta em seu emprego?

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III - SEGURANÇA NO TRABALHO

5. Você sabe o que é EPI? Você usa? Por que?

6. Quais EPIs você utiliza?

( ) capacete

( ) protetor auricular

( ) máscara descartável

( ) protetor facial

( ) avental de raspa

( ) calçado de segurança

( ) óculos de segurança contra impacto

( ) luva de raspa

( ) luva de PVC ou látex

( ) botas impermeáveis

( ) mangote de raspa

7. Você acha seu trabalho perigoso?

8. Quais os riscos ocupacionais que você acha que está exposto nesta obra?Você acha que pode ficar doente por causa de algo em seu trabalho?

9. Quais acidentes que você acha que podem acontecer enquanto você trabalha?

10. Que tipos de cuidados você toma para não adoecer ou acidentar-se durante o seu trabalho?

11. Você já sofreu algum acidente de trabalho ou de trajeto?

IV - SAUDE DO TRABALHO

12. Em que postura você trabalha a maior parte do tempo? (em pé, sentado, alternância, de cócoras – duração)

13. Você fuma? ( ) Sim ( ) Não ( ) Parou de fumar a quanto tempo?

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14. Se a resposta for sim: fuma enquanto trabalha?

15. O seu trabalho faz você sentir mais vontade de fumar? ( ) sim ( ) não

16. Você ingere bebidas alcoólicas enquanto trabalha?

17. Se sim, quantos copos e de qual bebida?

18. Você já realizou exames de saúde ocupacional? Você achou eles importantes?

19. Você tem algum problema de saúde? Qual?

20. Suas vacinas estão em dia? A quanto tempo realizou sua última vacina?

21. Você já foi hospitalizado alguma vez por causa de seu trabalho?

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APÊNDICE B

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINAUNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO –PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO –

PROPPGPROPPG

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISAEM SERES HUMANOS – CEPSH

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do Projeto: Avaliando o nível de conhecimento dos trabalhadores da construção civil em relação a sua saúde ocupacional.

O senhor está sendo convidado a participar de um estudo que fará uma análise das condições de saúde dos trabalhadores de construção civil através da realização de uma entrevista. Serão previamente marcados a data e horário para a realização das perguntas, utilizando um questionário. O senhor deverá ficar disponível para a realização da pesquisa durante cerca de 20 minutos. Estas medidas serão realizadas em seu ambiente de trabalho. Não é obrigatório responder a todas as perguntas.

A pesquisa será feita da seguinte maneira: serão coletados dados das pessoas participantes por meio de uma entrevista os quais serão analisados ao final da coleta de dados e, posteriormente, poderão ser utilizados em publicações de documentos científicos, como artigos, preservando sempre o anonimato do participante.

Os riscos destes procedimentos serão mínimos, pois não envolvem técnicas invasivas.A sua identidade será preservada pois cada indivíduo será identificado por um número.O benefício de participar deste estudo é a participação em um estudo científico que

visa proporcionar o conhecimento a respeito de doenças ocupacionais relativas ao trabalhador da construção civil, que pode gerar posteriormente melhores condições de trabalho para os profissionais. Também durante a entrevista serão realizadas orientações a respeito de assuntos pertinentes a sua saúde.

As pessoas que o estarão acompanhando serão: Patrícia Fernandes Albeirice da Rocha, estudante de graduação em enfermagem e Rita Maria Trindade Rebonatto Oltramari, professora responsável.

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O senhor poderá se retirar da pesquisa a qualquer momento.Solicitamos a sua autorização para o uso de seus dados para a produção de artigos

técnicos e científicos. A sua privacidade será mantida através da não-identificação do seu nome.

Agradecemos a sua participação e colaboração.

PESSOA PARA CONTATO Rita Maria Trindade Rebonatto Oltramari tel:49 - 33312667Patrícia Fernandes Albeirice da Rocha Tel: 49 - 84121117

TERMO DE CONSENTIMENTO

Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa e, que recebi de forma clara e objetiva todas as explicações pertinentes ao projeto e, que todos os dados a meu respeito serão sigilosos. Eu compreendo que neste estudo, as medições dos experimentos/procedimentos de tratamento serão feitas em mim.

Declaro que fui informado que posso me retirar da pesquisa a qualquer momento.

Nome por extenso _________________________________________________________ .

Assinatura _____________________________________ Chapecó, ____/____/____ .

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ANEXOS

ANEXO A – Limites de Tolerância para ruído contínuo ou intermitente (NR-15)

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ANEXO A

Limites de Tolerância para ruído contínuo ou intermitente (NR-15)

Nível de ruído dB Máxima exposição diária permissível

85 8 horas

86 7 horas

87 6 horas

88 5 horas

89 4 horas e 30 minutos

90 4 horas

91 3 horas e 30 minutos

92 3 horas

93 2 horas e 30 minutos

94 2 horas

95 1 hora e 45 minutos

98 1 hora e 15 minutos

100 1 hora

102 45 minutos

104 35 minutos

105 30 minutos

106 25 minutos

108 20 minutos

110 15 minutos

112 10 minutos

114 8 minutos

115 7 minutos

FONTE: Ministério da Saúde (2006).