avaliaÇÃo qualitativa dos riscos em abatedouro de bovinos (tcc) ufmt

43
UNIVERSDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO (títulos centralizados , fonte 14) (oito espaços simples, fonte 12) AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (letras maiúsculas, fonte 16, negrito, centralizado) (oito espaços simples, fonte 12) VALDIR DE JESUS SANTOS (letras maiúsculas, fonte 14, negrito, centralizado) (seis espaços simples, fonte 12) ORIENTADOR PROF. DR. MÁRCIO DE LARA PINTO (letras maiúsculas, fonte 14, negrito, centralizado) (10 espaços simples, fonte 12) Cuiabá, MT, janeiro de 2010 (fonte 14)

Upload: karlosalbuquerque

Post on 15-Feb-2015

375 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

1

UNIVERSDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E

TECNOLOGIA ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO

TRABALHO (títulos centralizados , fonte 14)

(oito espaços simples, fonte 12)

AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS

(letras maiúsculas, fonte 16, negrito, centralizado) (oito espaços simples, fonte 12)

VALDIR DE JESUS SANTOS (letras maiúsculas, fonte 14, negrito, centralizado)

(seis espaços simples, fonte 12)

ORIENTADOR PROF. DR. MÁRCIO DE LARA PINTO (letras maiúsculas, fonte 14, negrito, centralizado)

(10 espaços simples, fonte 12)

Cuiabá, MT, janeiro de 2010 (fonte 14)

Page 2: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

2

UNIVERSDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E

TECNOLOGIA ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO

TRABALHO (títulos centralizados , fonte 14)

(oito espaços simples, fonte 12)

AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS

(letras maiúsculas, fonte 16, negrito, centralizado)

(seis espaços simples, fonte 12)

VALDIR DE JESUS SANTOS (letras maiúsculas, fonte 14, negrito, centralizado)

(seis espaços simples, fonte 12) Monografia apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho.

(Itálico, negrito, letras minúsculas, fonte 12, nesta posição).

(três espaços simples, fonte 12) ORIENTADOR: PROF. DR. MÁRCIO DE LARA PINTO

(letras maiúsculas, fonte 14, negrito, centralizado) (oito espaços simples, fonte 12)

Cuiabá, MT, janeiro de 2009

Page 3: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

3

(um espaço simples, fonte 12) UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

(fonte 14, negrito, centralizado)

FOLHA DE APROVAÇÃO (fonte 12, negrito, centralizado)

AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE

BOVINOS (fonte 12, negrito, em letras maiúsculas)

VALDIR DE JESUS SANTOS

: (fonte 12, negrito, em letras maiúsculas)

Monografia defendida e aprovada em 20 de janeiro de 2010, pela comissão julgadora:

_______________________________

Orientador Prof. Dr. MÁRCIO DE LARA PINTO (UFMT)

______________________________

Examinadora Profa. MS. LUCIANE C. DURANTE (UFMT)

____________________________

Examinadora Profa. Dra. MARTA CRISTINA DE J. A. NOGUEIRA (UFMT)

Page 4: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

4

DEDICATÓRIA (Fonte 14, negrito)

A Deus por suas benção em minha vida, Ao amor da minha vida Lucimara, pelo seu amor dedicação e compreensão, Aos meus pais Maria Angelina e Waldenor, Aos meus irmãos Walter, Eliane e Elizabeth pelo amor e motivação, Ao apoio da minha amiga Diles e família e Em memória da minha avó Brasilina.

Page 5: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

5

AGRADECIMENTOS

• Ao Prof. Dr. Márcio de Lara Pinto, pela sua orientação, apoio e paciência e pelo trabalho e inovações desenvolvido no curso de especialização;

• A Profa. MSc. Luciane Cleonice Durante, pelo grande trabalho realizado

neste curso de especialização;

• Profa. Dra. MARTA CRISTINA DE J. A. NOGUEIRA, pela sua contribuição no meu trabalho.

• A todos os professores do Curso de Especialização em Engenharia de

Segurança do Trabalho da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia da Universidade Federal de Mato Grosso, onde transmitiram seus conhecimentos;

• Ao Cesário e aos técnicos Bosco, e Lúcio pela dedicação e orientação na

realização do curso;

• À Liór pela colaboração nos serviços da secretaria que nos auxiliou para o desenvolvimento deste trabalho;

• A todos os colegas e em especial á Lucilena, á Iris e ao Welton que, direta ou

indiretamente, contribuíram com o aumento da minha experiência profissional devido a nossa convivência durante o curso.

• Ao Sr Cláudio, diretor da unidade frigorífica, e ao Dr Jones Pereira, médico

veterinário da inspeção estadual.

Page 6: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

6

SUMÁRIO

Página LISTA DE FIGURAS .............................................................................................. i LISTA DE QUADROS ...........................................................................................ii RESUMO .............................................................................................................. iii ABSTRACT ........................................................................................................... iv 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1 1.1 PROBLEMÁTICA ......................................................................................... 1 1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 1 1.3 OBJETIVOS ................................................................................................... 2 1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 2 1.3.2 Objetivo Específico ......................................................................................... 2 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 3 2.1 DEMANDA POR ALIMENTOS .................................................................... 3 2.2 PRODUÇÃO DE ALIMENTOS ..................................................................... 4 2.3 ZOONOSES ................................................................................................... 4 2.4 PERIGO E RISCO .......................................................................................... 5 2.5 ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS (APR) ............................................... 7 2.5.1 Etapas Básicas na APR ................................................................................... 7 2.6 REGULAMENTO .......................................................................................... 8 2.7 ABATEDOURO DE BOVINOS ................................................................... 10 2.8 DAS ZOONOSES ......................................................................................... 11 2.8.1 Brucelose ...................................................................................................... 11 2.8.2 Carbúnculo hemático .................................................................................... 14 2.8.3 Carbúnculo Sintomático; ............................................................................... 16 2.8.4 Febre Aftosa ................................................................................................. 17 2.8.5 Tuberculose .................................................................................................. 19 3. MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................... 21 3.1 ÁREA DE ESTUDO ..................................................................................... 21 4. APRESENTAÇÃ E ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................... 24 4.1 IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS ÁREAS DE RISCO BIOLÓGICO ... 24 4.2 AVALIAÇÃO PRELIMINAR DE RISCO .................................................... 27 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 30 6. RECOMENDAÇÕES ................................................................................. 31 7. BIBLIOGRAFIAS ...................................................................................... 32

Page 7: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

i

LISTA DE FIGURAS

Página Figura 1: Abatedouro irregular ........................................................................... 11 Figura 2: Abatedouro em péssimas condições de higiene ................................. 11 Figura 3: Rejeitos em local inadequado .............................................................. 11 Figura 4: Animal acometido pelo carbúnculo hemático....................................... 14 Figura 5: Trabalhador infectado Bacillus anthracis ............................................. 16 Figura 6: Pústula malíguina ................................................................................ 16 Figura 7: Criança com aftas provocadas pela febre aftosa ................................... 18 Figura 8: Sequelas da febre aftosa....................................................................... 19 Figura 9: Município de Primavera do Leste e a Unidade Frigorífica .................... 21 Figura 10: Unidade frigorífica visitada ................................................................. 22 Figura 11: Fluxograma da linha de abate de bovinos. ........................................... 23 Figura 12: Setor de sangria .................................................................................. 24 Figura 13: Setor de descouro ................................................................................ 25 Figura 14: Evisceração ......................................................................................... 25 Figura 15: Agente de inspeção protegido com luvas ............................................. 26 Figura 16: Inspeção dos rins................................................................................. 26 Figura 17: Lavagem de cabeça ............................................................................. 27 Figura 18: Lavagem de carcaça (risco de queda) .................................................. 27

Page 8: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

ii

LISTA DE QUADROS

Página Quadro 1. Rebanho efetivo no estado de Mato Grosso em 2005. ........................ 4 Quadro 2. Animais abatidos e peso total das carcaças nos meses de janeiro a

junho de 2009. ................................................................................... 4 Quadro 3. Identificação dos agentes ambientais. .............................................. 29

Page 9: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

iii

RESUMO

SANTOS, V. J. Avaliação Qualitativa dos Riscos em Abatedouro de

Bovinos, (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho.) – Curso de

Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, UFMT, 2010, 39f.

Como instrumento necessário na prevenção de acidentes e doenças do

trabalho, a análise dos riscos que estão expostos os trabalhadores, tem como objetivo

levantar e avaliar todos os pontos de perigo e o grau de risco em um ambiente de

trabalho, que envolve os riscos físicos, químicos e biológicos, de maneira a tornar o

posto de trabalho o mais seguro possível. Desta forma as unidades abatedoras de

bovinos possuem um tipo de risco que ainda é pouco estudado e divulgado, que está

relacionado às zoonoses, que são doenças de origem animal, mas que podem ser

transmitidas ao homem, por envolver microorganismos que podem sofrer

modificações genéticas e se tornarem agentes nocivos ou mais agressivos

principalmente no caso dos vírus, bactérias. Apesar de não ter sido constatado ou

informado casos de contaminação na unidade frigorífica em questão, o risco não

pode ser descartado, havendo também a necessidade de se corrigir algumas

irregularidades constatadas no ambiente de trabalho como riscos físicos, ergonômico

e biológico.

Palavra chave: Zoonoses, Abatedouro de Bovinos, Magarefes

Page 10: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

iv

ABSTRACT

SANTOS, V. J. Qualitative Assessment of Risk in Cattle Slaughterhouse

(Specialization in Safety Engineering Work.) - Specialization in Engineering Safety,

UFMT, 2010, 39f.

As a necessary tool in the prevention of accidents and occupational diseases,

the analysis of risks faced by workers, aimed to inventory and evaluate all the points

of danger and risk in a work environment that involves risks physical, chemical and

biological, in order to make the workplace as safe as possible. Thus the units

slaughterer of cattle have a kind of risk that has been little studied and disseminated,

which is related to zoonoses, are diseases of animal origin, but can be transmitted to

humans, because they involve microorganisms that can undergo genetic changes and

become harmful agents or more aggressive especially in the case of viruses, bacteria.

Despite not having been observed or reported cases of contamination in the

refrigeration unit in question, the risk can not be ruled out, there is also a need to

correct some irregularities in the work environment and physical hazards, ergonomic

and biological.

Keyword: Zoonoses, Slaughterhouse for cattle, butchers

Page 11: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

1

1. INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMÁTICA

Desde os primórdios da existência humana, uma das principais fontes de

proteína da base alimentar provinha da carne de animais silvestres e, atualmente,

devido à mudança dos hábitos e em maior volume, de animais domesticados, como o

bovino, suíno, ovino, caprino, de aves e peixes.

Para atender a demanda mundial pela proteína da carne, com qualidade e em

escala industrial, houve a necessidade da padronização das unidades frigoríficas e de

abatedouros, devido ao grande volume de produção que o mercado passou a exigir.

No entanto, com relação à matéria prima, mesmo com a aplicação dos planos de

rastreabilidade e de fiscalização pelos órgãos federais, estaduais e municipais, ainda

há certa dificuldade em se garantir, que os animais destinados ao abate, estão cem

por cento livres de doenças ou infecções, devido aos mesmos serem provenientes de

vários criadores e regiões diferentes. Ainda com relação às infecções, estas na

maioria das vezes são detectadas ou confirmadas, através de análises laboratoriais o

que se tornaria inviável aplicá-las em todos os animais a serem abatidos. A inspeção

ante-mortem e post-mortem, são os meios mais rápidos e baratos de se averiguar a

saúde do animal a ser abatido. Nesta última porém, apresenta certo agravante, que é a

exposição dos trabalhadores que entram em contato direto com a carne, sangue,

vísceras, fezes, urina, secreções vaginais ou uterinas, restos placentários, líquidos

amnióticos, fetos abortados de animais infectados com doenças de caráter zoonótico,

que são aquelas de origem animal, mas que podem ser transmitidas ao homem,

através do contato direto ou indireto, pela ingestão da carne, leite ou subprodutos de

animais doentes. Desta forma esta é uma importante área de estudo da saúde e

segurança do trabalhador.

1.2 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho tem por objetivo identificar os riscos de exposição dos

magarefes, que são os trabalhadores que lidam com a manipulação da carne em

abatedouro de bovinos, com relação aos agentes etiológicos zoonóticos mais

Page 12: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

2

relevantes em uma unidade frigorífica de abate de bovinos de pequeno porte, devido

à grande variedade de espécies de agentes etiológicos existentes e dos novos que

surgem a cada época devido às variações ambientais e das características que muitos

microorganismos possuem de se modificarem geneticamente como os vírus e

bactérias, podendo se tornar patogênicas ao homem.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

a) O objetivo geral deste trabalho é avaliar os riscos em um abatedouro de

bovinos de pequeno porte.

1.3.2 Objetivo Específico

Apresentam se como objetivos específicos;

a) Identificar a presença dos riscos biológicos em que os magarefes estão

expostos; b) Identificação das principais áreas de riscos em um abatedouro de bovinos

de pequeno porte;

Page 13: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 DEMANDA POR ALIMENTOS

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU, 2001). A população mundial, que hoje é de 6,1 bilhões de pessoas, deverá

chegar a 9,3 bilhões em 2050, um crescimento de 50% e que deverá

ocorrer, principalmente, nos países em desenvolvimento, que

concentrarão, em 2050, 85% da população mundial. Segundo as

projeções, o crescimento global se dará a uma taxa de 1,3%, o que

significa um aumento de 77 milhões de pessoas a cada ano. Publicado e

disponível no site

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/11122001onu.shtm e

acessado em 10/10/09.

No Brasil, os últimos resultados do Censo Demográfico divulgados pelo

IBGE (2000 e 2007) registraram uma população 169.799.170 e 183.987.291

(milhões de habitantes) respectivamente com um crescimento de 1,21% no período.

Nos municípios de Mato Grosso a população recenseada e estimada no ano de 2007,

foi de 2.854.642 (milhões de habitantes).

Em virtude deste contínuo aumento da população mundial, conseqüentemente

a demanda pelo consumo de alimentos também é crescente, e como parte integrante

das necessidades alimentares, a proteína animal é um dos principais itens

constituintes na base alimentar do homem independente da sua classe social.

Segundo um estudioso da área (BITTMAN 2007), “O total mundial de fornecimento de carne foi de 71 milhões de

toneladas em 1961. Em 2007 estimou-se a produção em 284 milhões de

toneladas. O consumo per capita mais do que dobrou desde aquele

período. (No mundo em desenvolvimento, isso cresceu duas vezes mais

rápido, dobrando nos últimos 20 anos). Espera-se que o consumo

mundial de carne dobre novamente até 2050, o que um especialista,

Henning Steingield, das Nações Unidas, diz que resultará em um

crescimento implacável da produção de gado". Publicado no New York

Times por (BITTMAN, 2007) e disponível no site

www.query.nytimes.com/search/sitesearch?query=+Mark+Bittman e

acessado em 25/09/2009.

Page 14: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

4

2.2 PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,

(quadros 1 e 2), mostra o rebanho efetivo no estado de Mato Grosso no ano de 2005,

o número de animais abatidos e peso total das carcaças, estes últimos dados oriundos

de estabelecimentos sob inspeção federal, estadual ou municipal, do primeiro

semestre do ano de 2009.

Quadro 1: Rebanho efetivo no estado de Mato Grosso em 2005

Ano Bovino (Mil

cabeças)

Suíno (Mil

cabeças)

Frango (Mil

toneladas)

Caprino (Mil

cabeças)

Ovino (Mil

cabeças) 2005 207.157 34.064 9.336 10.307 15.588

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal.

Quadro 2: Animais abatidos e peso total das carcaças nos meses de janeiro a junho de 2009

Número de cabeças abatidas (mil cabeças)

Peso total das carcaças (tonelada)

Bovinos 13.334 3.129.383 Suínos 14.913 1.428.189 Frangos 2.292.325 4.787.085 Caprino --- --- Ovino --- ---

Fonte - IBGE/DPE/COAGRO - Pesquisa Trimestral do Abate de Animais.

Apesar do processo de produção de alimentos e da comercialização destes

produtos possuírem variáveis de crescimento e retração, de uma maneira geral

quando são analisados anos anteriores, tem-se um crescimento contínuo na produção

e comercialização destes alimentos para atender a população consumidora.

2.3 ZOONOSES Segundo (ACHA & SZYFRES, 2001) zoonoses são enfermidades

transmissíveis, comuns aos homens e nos animais e se apresentam em dois grupos

onde no primeiro grupo, os animais desempenham um papel essencial na presença da

infecção na natureza, ficando o homem como um hospedeiro acidental. No segundo

grupo, tanto os animais como o homem em geral, contraem a infecção a partir das

mesmas fontes de contaminação, tais como solo, água, animais invertebrados e

plantas, no entanto animais não desempenham um papel essencial no ciclo de vida do

Page 15: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

5

agente etiológico, mas pode contribuir em graus variados para a distribuição e

transmissão real de infecções. O autor expõe ainda os diversos tipos de agentes

etiológicos responsáveis pelo desenvolvimento da infecção como: bactérias, fungos,

vírus, helmintos e rickéttsias. Segundo fontes de pesquisas de organizações como

Organização Panamericana da Saúde (OPAS), Organização das Nações Unidas para

Agricultura e Alimentação (FAO), Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE),

existem mais 140 tipos de zooneses que são transmissíveis ao homem, no entanto,

ainda há muitas dificuldades com relação à identificação das infecções que podem

ser confundidas com outras doenças, das vias de contaminação, com o registro e

subnotificação de casos positivos.

Outra questão muito importante com relação às zoonoses é pelo fato de serem

doenças causadas principalmente pelos vírus, fungos e bactérias onde se deve ter

uma preocupação especial com estes microorganismos devido as suas características

de sobrevivência, evolução, transmissibilidade e patogêneicidade.

2.4 PERIGO E RISCO

A definição de perigo na engenharia de segurança do trabalho, Pinto (2009) é

dada, pela probabilidade ou possibilidade de ocorrer um acidente ou doença do

trabalho seja por agentes ambientais físicos, químicos, biológicos ou ergonômicos

sendo desta forma extremamente importante a sua identificação e análise do risco,

onde este é definido em função da sua intensidade e do tempo que o trabalhador está

exposto.

As NRs são normas regulamentadoras estabelecidas pela Secretaria de

Segurança e Saúde no Trabalho – SSST e que tem o objetivo de coordenar, orientar,

controlar e supervisionar todas as atividades relacionadas à segurança e medicina do

trabalho. Como parte integrante da série, a NR 9 estabelece o Programa de Prevenção

de Riscos Ambientais (PPRA) apresentando no item 9.1.5 algumas definições quanto

à natureza do risco e dos agentes causadores tais como: “9.1.5 consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e

biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua

natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes

de causar danos à saúde do trabalhador.

Page 16: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

6

9.1.5.1 Consideram-se agentes físicos as diversas formas de energia a

que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações,

pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes,

radiações não ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-som.

9.1.5.2 Consideram-se agentes químicos as substâncias, compostos ou

produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas

formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que,

pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser

absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão.

9.1.5.3 Consideram-se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos,

parasitas, protozoários, vírus, entre outros. (Texto dado pela Portaria

SSST n.º 25, 29 de dezembro de 1994)”

Com relação aos animais destinados a alimentação humana, que

possivelmente possam estar com algum tipo de afecção zoonótica, no âmbito da

segurança e saúde do trabalhador, de uma maneira geral não está correlacionada

somente aos magarefes expostos aos riscos de contaminação pelos agentes

etiológicos zoonóticos. Havendo também a presença de um perigo que envolve toda

cadeia produtiva, desde a manipulação pelos criadores, médicos veterinários que

entram em contato direto com a pele no animal, fezes, urina, secreções vaginais ou

uterinas, restos placentários, líquidos amnióticos, fetos abortados de animais

infectados, ou através da ingestão da carne, leite ou subprodutos de animais doentes.

Nestes últimos, podendo afetar de uma maneira preocupante a saúde da população

consumidora em geral, principalmente os imunodeprimidos, crianças idosos e

pessoas debilitadas, por estes motivos foram criados programas de fiscalização da

qualidade, procedência e sanidade dos animais, bem como sobre as condições

higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para os estabelecimentos

elaboradores e industrializadores de alimentos de origem animal. “São considerados riscos biológicos: vírus, bactérias, parasitas,

protozoários, fungos e bacilos.

Os riscos biológicos ocorrem por meio de microorganismos que, em

contato com o homem, podem provocar inúmeras doenças. Muitas

atividades profissionais favorecem o contato com tais riscos. É o caso das

indústrias de alimentação, hospitais, limpeza pública (coleta de lixo),

laboratórios, etc.

Entre as inúmeras doenças profissionais provocadas por microorganismos

incluem-se: tuberculose, brucelose, malária, febre amarela. Para que essas

Page 17: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

7

doenças possam ser consideradas doenças profissionais, é preciso que haja

exposição do funcionário a estes microorganismos.

São necessárias medidas preventivas para que as condições de higiene e

segurança nos diversos setores de trabalho sejam adequadas... As principais

vias envolvidas num processo de contaminação biológica são a via cutânea

ou percutânea (com ou sem lesões - por acidente com, arranhões e cortes),

a via respiratória (aerossóis), a via conjuntiva e a via oral...

- O conhecimento dos riscos pelo manipulador;

- A formação e informação das pessoas envolvidas, principalmente no que

se refere à maneira como essa contaminação pode ocorrer, o que implica no

conhecimento amplo do microrganismo ou vetor com o qual se trabalha;

- O respeito das Regras Gerais de Segurança e ainda a realização das

medidas de proteção individual;

- Uso do avental, luvas descartáveis (e/ou lavagem das mãos antes e após a

manipulação), máscara e óculos de proteção (para evitar aerossóis ou

projeções nos olhos) e demais Equipamentos de Proteção Individual

necessários. (ODA, 1998) disponível no site,

http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/lab_virtual/riscos_biologicos.html

acessado 18/01/2010

2.5 ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS (APR)

Segundo Lambert (2009), com relação a Análise Preliminar de Riscos (APR). consiste no estudo, durante a fase de concepção ou desenvolvimento

prematuro de um novo sistema, com o fim de se determinar os riscos que

poderão estar presentes na fase operacional do mesmo.

Trata-se de um procedimento que possui especial importância nos casos

em que o sistema a ser analisado possui pouca similaridade com

quaisquer outros existentes, seja pela sua característica de inovação, ou

pioneirismo, o que vale dizer, quando a experiência em riscos no seu uso

é carente ou deficiente. A APR é uma revisão de problemas gerais de

segurança no ambiente de trabalho.

2.5.1 Etapas Básicas na APR

Os seguintes passos podem ser seguidos, no desenvolvimento de uma APR: 1) REVER PROBLEMAS CONHECIDOS

Page 18: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

8

Revisar a experiência passada em sistemas similares ou análogos, para a

determinação de riscos que poderão estar presentes no sistema que está

sendo desenvolvido.

2) REVISAR A MISSÃO

Ou seja, os objetivos, as exigências de desempenho, as principais

funções e procedimentos, os ambientes, os ambientes onde se darão as

operações.

3) DETERMINAR OS RISCOS PRINCIPAIS

Quais serão os riscos principais, com potencialidade para causar direta e

imediatamente lesões, perda de função, danos a equipamentos, perda de

material.

4) DETERMINAR OS RISCOS INICIAIS E CONTRIBUINTES

Para cada risco principal detectado, elaborar as Séries de Riscos,

determinando-se os riscos iniciais e contribuintes.

5) REVISAR OS MEIOS DE ELIMINAÇÃO OU CONTROLE DOS

RISCOS

Elaborar uma revisão dos meios possíveis, procurando as melhores

opções compatíveis com as exigências do sistema.

6) ANALISAR OS MÉTODOS DE RESTRIÇÃO DE DANOS

Devem ser considerados os métodos possíveis mais eficientes na

restrição geral de danos, no caso de perda de controle sobre os riscos.

7) INDICAR QUEM LEVARÁ A CABO AS AÇÕES CORRETIVAS

Indicar claramente os responsáveis pelas ações corretivas, designando as

atividades que cada unidade deverá desenvolver.

A Análise Preliminar de Riscos deverá ser sucedida por análises mais

detalhadas ou específicas, logo que forem possíveis. Deve ser lembrado

que para sistemas bem conhecidos, nos quais há bastante experiência

acumulada em riscos, a APR pouco adiciona. Nesses casos, a APR pode

ser “colocada em by-pass”, sendo imediatamente iniciadas as outras

técnicas. Ressalta-se, entretanto, a sua reconhecida utilidade, no seu

domínio de aplicação. (LAMBERT, 2009).

2.6 REGULAMENTO

Com o crescente aumento do processo de industrialização para o

beneficiamento de produtos de origem animal, como forma de disciplinar orientar e

fiscalizar esta atividade foram criados leis e normas através do MINISTÉRIO DA

AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO, como o Decreto Nº. 30.691 - de 29 de

Page 19: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

9

março de 1952 que aprova o novo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de

Produtos de Origem Animal – RIISPOA, que deve ser aplicado em todo o território

nacional com relação à inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal,

e determina conforme: Art. 2º - Ficam sujeitos a inspeção e reinspeção, previstos neste

Regulamento, os animais de açougue, a caça, o pescado, o leite, o ovo, o

mel e a cera de abelhas e seus subprodutos derivados.

§ 1º - A inspeção a que se refere o presente artigo abrange, sob o ponto

de vista industrial e sanitário a inspeção "ante" e "post mortem" dos

animais, o recebimento, manipulação, transformação, elaboração,

preparo, conservação, acondicionamento, embalagem, depósito,

rotulagem, trânsito e consumo de quaisquer produtos e subprodutos,

adicionados ou não de vegetais, destinados ou não à alimentação

humana.

Através PORTARIA Nº 368 de 04 de setembro de 1997, criou-se também o

regulamento técnico sobre as condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de

elaboração ou fabricação para estabelecimentos elaboradores/ industrializadores de

alimentos para consumo humano. Boas Práticas de Fabricação pode ser definida

como “as operações realizadas pelo estabelecimento, incluindo, no mínimo, os

requisitos sanitários dos edifícios, a manutenção e higienização das instalações, dos

equipamentos e dos utensílios, o controle da água de abastecimento, o controle

integrado de vetores e pragas urbanas, controle da higiene e saúde dos manipuladores

e o controle e garantia de qualidade do produto final” (BRASIL, 2004).

Ainda com relação ao Decreto Nº. 30.691, onde no título VII, que fala sobre

inspeção industrial e sanitária de carnes e derivados, capítulo I, enumera uma série de

afecções que devem ser observadas e diagnosticadas na inspeção "ante-mortem",

como uma forma de evitar que animais doentes sejam encaminhados para o abate

com o risco de contaminar os magarefes e toda produção com doenças contagiosas,

causando danos a saúde do trabalhador e a economia. Art. 116 - É proibida a matança em comum de animais que no ato de

inspeção "ante-mortem", sejam suspeitos das seguintes zoonoses:

1 - Artrite infecciosa; 2 - Babesioses; 3 - Bruceloses; 4 - Carbúnculo

hemático; 5 - Carbúnculo sintomático; 6 - Coriza gangrenosa; 7 -

Encéfalomielites infecciosas; 8 - Enterites septicêmicas; 9 - Febre aftosa;

10 - Gangrena gasosa; 11 - Linfangite ulcerosa; 12 - Metro-peritonite;

Page 20: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

10

13 - Mormo; 13-A – Para tuberculose; 14 - Pasteureloses; 15 -

Pneumoenterite; 16 - Peripneumonia contagiosa (não constatada no

país); 17 - Doença de Newcastle; 18 - Peste bovina (não existente no

pais); 19 - Peste suína; 20 - Raiva e pseudo-raiva (doença de Aujezsky);

21 - Raiva; 22 - Tétano; 23 - Tularemia (não existente no país); 24 -

Tripanossomíases; 25 - Tuberculose.

A inspeção “ante-mortem” é a principal ferramenta da linha de produção de

abatedouro, pois é nesta fase que pode ser identificado e diagnosticado uma série de

doenças e anomalias antes que o animal seja encaminhado para o abate, evitando

assim uma série de transtornos que estas doenças podem causar.

2.7 ABATEDOURO DE BOVINOS

Os abatedouros são unidades industriais que podem ser de pequeno, médio ou

de grande porte, projetados dentro de padrões estabelecidos por normas de inspeção

federal, de boas praticas de fabricação, de sanidade animal e de segurança do

trabalho, com a finalidade de abater, processar e armazenar animais destinados a

alimentação humana.

A exposição dos trabalhadores ao risco de contágio de agentes zoonóticos é

extremamente preocupante em abatedouros clandestinos ou sem inspeção municipal,

estadual ou federal, pondo em risco não só a saúde dos trabalhadores bem como da

população consumidora, onde esta problemática não são casos raros como na Figura

6 de uma abatedouro interditado pelo juiz Mhegbel Abdalla Tannus Ferreyra, da 4ª

Vara da Fazenda Pública de São Luis do Maranhão, determinou a interdição e

fechamento do matadouro (Figura 1) em atendimento à Ação Civil Pública, do

Ministério Público do Estado, publicado no jornal eletrônico (BADAUEONLINE,

2008), disponível no site www.badaueonline.com.br/2008/6/25/Pagina32338.htm

publicado em 25 de junho de 2008, acessado em 14 de dezembro 2009.

Page 21: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

11

Figura 1: Abatedouro irregular Fonte: jornal badaueonline, 2008

Outro exemplo é de um abatedouro em péssimas condições de funcionamento

(Figura 2 e 3) interditado pela Procuradoria Regional do Trabalho da 19ª Região –

Alagoas, devida as péssimas condições de trabalho e de higiene no processo de abate,

publicado no jornal eletrônico (Informativo, 2008), e disponível no site

www.prt19.mpt.gov.br/informativo/2008/set/30m, publicado em 30 de setembro de

2008, e acessado em 14 de dezembro de 2009.

Figura 2: Abatedouro em péssimas condições de higiene Fonte: Jornal eletrônico Informativo, 2008

Figura 3: Rejeitos em local inadequado Fonte: Jornal eletrônico Informativo,

2008

2.8 DAS ZOONOSES

2.8.1 Brucelose

A brucelose é uma doença zoonótica infecciosa, o agente causador trata-se de

uma bactéria do gênero Brucella onde atualmente existem seis espécies diferentes,

podendo ter como hospedeiro várias espécies de animais domésticos e silvestres

inclusive o homem entre elas estão a: B. abortus (bovinos); B. melitensis (caprinos);

Page 22: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

12

B. suis (suínos); B. canis (caninos); B. ovis (ovinos) e B. neotomae (rato do deserto,

Neotomae lepida). Todos estes agentes já foram diagnosticados na espécie humana

com exceção da B. ovis e B. neotomae, (MANUAL TÉCNICO, 2006).

Considerada como uma importante zoonose infecciosa, de distribuição

mundial, causada pelo gênero Brucella sp, a brucelose é um sério problema de saúde

pública segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS estima-se que a cada ano

surgem cerca de 500 mil novos casos de brucelose humana, afetando principalmente

pessoas envolvidas com o manuseio de animais infectados.

Os trabalhadores de abatedouros, por estarem em contato direto com muitos

animais, principalmente com o sangue, vísceras e secreções durante as operações do

abate e evisceração, são o grupo de risco mais acometido pelo gênero da Brucela que

é transmissível ao homem.

O governo do estado do Tocantins de acordo com a Secretaria Estadual da

Saúde, Superintendência de Vigilância e Proteção à Saúde, Coordenação de

Informação de Vigilância em Saúde e o Núcleo de Vigilância e Informação em

Saúde divulgou uma nota técnica n.º 001/2008. Onde em maio de 2008 foram

notificados doze (12) casos, em trabalhadores de um frigorífico em Araguaína - TO.

Com o agravante que a brucelose humana é subdiagnosticada, estima-se de que para

cada caso diagnosticado, existem outros 25 que não foram identificados.

Dados publicados em uma revista científica eletrônica de medicina

veterinária - issn 1679-7353, da faculdade de medicina veterinária e zootecnia de

garça/famed, em 2007. Onde foi realizado um levantamento de ocorrência de

enfermidades infectocontagiosas e parasitárias de um frigorífico no município de

Xinguara - PA, que recebe animais para abate do município de São Felix do Xingu-

PA no período de outubro de 2003 a maio de 2004. Dos 8.277 bovinos abatidos, 68

(0,82%) apresentavam-se infectados com brucelose e 111 (1,34%) com tuberculose,

totalizando 179 animais doentes (REVISTA CIENTÍFICA 2007).

A contaminação do homem pela bactéria da brucelose pode ocorrer

facilmente de várias formas como: através do contato direto, ingestão carne ou leite

contaminado, inalação de aerossóis ou poeira e materiais biológicos oriundo de

animais infectados como carne, sangue, sêmen, fezes, urina, secreções vaginais ou

Page 23: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

13

uterinas, restos placentários, líquidos amnióticos, fetos abortados e produtos lácteos

não pasteurizados principalmente queijo fresco. (MANUAL TÉCNICO, 2006).

De acordo com pesquisadores, a bactéria da Brucella pode permanecer ativa

por mais de mês mesmo após o abate, instalada na carne, vísceras, medula espinhal e

gânglios linfáticos, prolongando o seu tempo de vida ainda mais se refrigerada ou

congelada. Outra forma de contaminação indireta do homem pela Brucela é através

da água de cisternas e poços contaminados por excrementos de animais doentes, bem

como verduras que são consumidas cruas e que foram irrigadas com água

contaminadas ou adubadas com esterco de animal infectado. Pode ocorrer, também, a

contaminação de médicos veterinários tratadores e laboratoristas ao entrarem em

contato com animais doentes sem as devidas precauções.

No ser humano, os quadros clínicos mais graves são provocados pela B.

melitensis, decrescendo em gravidade quando a doença é decorrente da infecção por

B. suis e, assim, sucessivamente para a B. abortus e B. canis. (MANUAL TÉCNICO,

2006).

A doença em sua fase crônica pode comprometer vários órgãos e tecidos,

onde os principais sintomas são: fadiga em atividades físicas, mal-estar, perda

ponderal, febre, sudorese com odor de palha azeda, sopro cardíaco, exantema,

exoftalmites uvéite, sinais neurológicos focais, icterícia, tosse, esplenomegalia,

hepatomegalia, adenopatias, cefaléia, adinamia, anorexia, dor abdominal, alteração

do transito intestinal, dor testicular, humor depressivo, alteração do sono, orquite,

epididimite. Em mulheres, podem ainda apresentar casos de salpingite, cervicite e

abcesso pélvico. Há ainda outras complicações que pode advir como: Ósteo-

articulares, encefalite, meningite, neurite periféricas, artrite supurativa, endocardite

vegetativa, e endocardite bacteriana subaguda, que se não diagnosticada e tratada

pode levar ao óbito e infecções no aparelho geniturinário podendo causar redução da

potência sexual. (TOCANTINS, 2008), nota técnica n.º 001/2008 publicada pela

Secretaria Estadual da Saúde, Superintendência de Vigilância e Proteção À Saúde,

Coordenação de Informação de Vigilância em Saúde, Núcleo de Vigilância e

Informação em Saúde do Estado de Tocantins. Em geral, o tratamento é feito pela

administração de uma associação de antibióticos por seis semanas (MANUAL

TÉCNICO, 2006).

Page 24: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

14

2.8.2 Carbúnculo hemático

A taxonomia da Bactéria pertence ao filo Firmicutes, à classe Bacilli, à

ordem Bacillaceae, ao género Baccilus e à espécie Bacillus anthracis (COHN,

1872) apud (FIQUEIRAS et al, 2008, p 1)1, disponível no site eletrônico,

www.esac.pt/abelho/MicroAmbiental/trabalhos_alunos/20707015_25_35_Bacillus_a

nthracis.pdf, acessado em 02/10/2009.

O carbúnculo hemático provocado pelo Bacillus anthracis, pode afetar qualquer

espécie de animal, inclusive o homem, a sua evolução é provocada por uma infecção

aguda podendo levar a morte. Segundo Gomes (2009), professor da FAVET-

UFRGS, referente a um trabalho publicado e disponível no site

www.ufrgs.br/labacvet/pdf/bacillus200901.pdf acessado em 02/10/2009, os animais

mais acometidos pela doença são: bovinos, ovinos e mais raramente eqüinos e

caprinos. O agente etiológico é um bacilo aeróbio, Gram positivo, imóvel, capsulado

e formador de esporo denominado Bacillus anthracis, mantendo-se como parte da

flora bacteriana normal encontrada em solos alcalinos.

Fica evidenciado por tanto que a forma mais comum da contaminação é pela

via oral, principalmente devido a animais carbúnculosos que são enterrados sem a

averiguação das causas da morte ou sem serem cremados, onde acabem infectando o

local, pois os esporos dos bacilos podem permanecer no solo por muitos anos,

tornando a vacinação o único meio seguro de evitar a enfermidade, para os animais

acometidos pela infecção apresenta uma evolução rápida levando a morte (Figura 4)

(GOMES, 2009).

Figura 4: Animal acometido pelo carbúnculo hemático Fonte: Tassinari (1994)

1 Cohn, 1872 apud Figueiras et al, 2008, P 1

Page 25: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

15

Em trabalho realizado por Figueiras et al (2008/2009) do Instituto Politécnico

de Coimbra, Escola Superior Agrária de Coimbra, Microbiologia Ambiental,

apresenta as principais formas da contaminação do homem pelo Bacillus anthracis e

os principais sintomas causados pela doença. Onde a manifestação clínica da

infecção ocorre na forma cutânea, gastrointestinal e respiratória, sendo esta ultima a

forma mais grave devido a grande fragilidade dos pulmões. As principais vias de

contaminação do homem pelo bacilo pode ocorrer através da ingestão da carne, no

manuseio de animais e solos contaminados e no contato direto com sangue, vísceras

e outro fluidos na indústria frigorífica, principalmente devido ao grande número de

pequenos cortes ou perfurações que ocorrem pelo manuseio diário das ferramentas de

trabalho como facas e ganchos, deixando uma porta aberta a entrada do

microorganismo que pode penetrar no corpo, após dias de incubação, desenvolvendo

uma infecção na forma cutânea.

No Brasil, além da falta de registros de casos, existem duas situações

agravantes com relação à identificação de uma doença. Primeiro é a falta de

conhecimento e a falta de investigação do fato acometido e, segundo, a

subnotificação ou o não registro de casos conhecidos. Um trabalho realizado por um

médico veterinário e professor da PUC Rio Grande do Sul, expõe que, “Langenegger

(1994), apud Tassinari (1994)2 considera o carbúnculo hemático como uma doença

rara no Brasil apresentando-se de forma esporádica no Vale do Paraíba até o Rio de

Janeiro e sul de Minas Gerais, no nordeste no Rio Grande do Norte e na região da

Campanha e da Fronteira-oeste do Rio Grande do Sul”.

No entanto em 1994, identificou a morte de 784 animais durante surtos da

enfermidade em 13 propriedades no município de Uruguaiana em um período de 4

anos, com maior incidência nos meses de março a junho, tendo a infecção se

transmitido a 5 trabalhadores rurais (Figuras 5 e 6) (TASSINARI, 1994), publicado e

disponível no site,

www.webrural.com.br/webrural/artigos/pecuariacorte/sanidade/carbunculoh.htm,

acessado em 02/10/2009.

2 Langenegger (1994), apud Tassinari (1994)

Page 26: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

16

Figura 5: Trabalhador infectado Bacillus anthracis

Fonte: Tassinari (1994) Figura 6: Pústula malíguina

Fonte: Tassinari (1994)

2.8.3 Carbúnculo Sintomático;

Carbúnculo sintomático e edema maligno compreendem o grupo das

mionecroses, clostridioses altamente fatais O agente etiológico causador do

carbúnculo sintomático segundo trabalho cientifico publicado por Assis et al, (2005),

na revista eletrônica Ciência Rural, Santa Maria, de jul-ago, 2005 ISSN 0103-8478,

disponível no site www.scielo.br/pdf/cr/v35n4/a34v35n4.pdf, acessado em 15/10/09 “São bactérias anaeróbias do gênero Clostridium, que afetam o tecido

muscular e subcutâneo de ruminantes e outras espécies animais

(STERNE & BATTY, 1975). Em bovinos, o carbúnculo sintomático é

uma infecção “endógena” não contagiosa produzida pelo Clostridium

chauvoei. Em contraste, o edema maligno nas diferentes espécies

animais susceptíveis, é uma doença “exógena”, relacionada com a

presença de feridas na pele, podendo ser causada pelo C. chauvoei,

Clostridium septicum, Clostridium sordellii, Clostridium novyi tipo A e

Clostridium perfringens tipo A (GYLES, 1993). Existem duas formas de

manifestação do carbúnculo sintomático nos bovinos. A forma clássica,

de ocorrência mais freqüente e que afeta principalmente a musculatura

esquelética, e a visceral, raramente encontrada, afetando principalmente

o coração (UZAL et al., 2003a). Essa forma ainda não foi relatada no

país. A real patogenia do carbúnculo sintomático em bovinos, tanto o

clássico como o visceral, é ainda incerta. Na forma clássica, a hipótese

corrente é que os esporos presentes no intestino são veiculados por

macrófagos até musculatura onde permanecem em latência. Traumas nas

Page 27: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

17

grandes massas musculares, criam um ambiente de baixo potencial de

óxido-redução, propiciando a germinação dos esporos e a conseqüente

produção de toxinas. (ASSIS et al, 2005)

Da mesma forma que do Carbúnculo Hemático, o Sintomático é transmitido

ao homem através da ingestão da carne, no manuseio de animais e solos

contaminados e no contato direto com sangue, vísceras e outros fluidos de animais

infectados.

2.8.4 Febre Aftosa

A febre aftosa é uma doença contagiosa causada por um vírus com

desenvolvimento rápido e agudo que afeta animais biungulados (de casco partido)

selvagens e domésticos como: bovinos, bubalinos, ovinos, caprinos e suínos. De

incidência mundial, a febre aftosa é fiscalizada por instituições federais e

organizações mundiais, pelo fato da moléstia afetar significativamente a economia

devido à necessidade de ter que sacrificar todo o rebanho onde são identificados

focos da doença, além das restrições comerciais que são impostas a estas regiões. A

febre aftosa é considerada uma zoonose, apesar de casos raros são transmissíveis aos

humanos, seus principais sintomas caracteriza-se por febre e formação de vesículas

na cavidade bucal e espaços interdigitais. “O vírus pertence à família Picornaviridae, gênero aphthovirus. Seu

genoma é constituído por uma única molécula de RNA (...). São

conhecidos 7 sorotipos antigênica e imunogênicamente diferentes: O, A,

C, SAT 1, SAT 2, SAT 3 e Ásia 1. No Brasil foram identificados 03

tipos: A, O e C. O agente apresenta grande tendência a mutações que

originaram numerosos subtipos e centenas de cepas diferentes, mas com

certo grau de proteção cruzada. O aparecimento de novos subtipos em

uma região leva a falhas de imunidade das vacinas utilizadas e como

consequência, podem aparecer surtos. Estas diferenças genéticas entre os

agentes de doenças são o motivo pelo qual se impõem barreiras

sanitárias para evitar que o vírus seja trazido junto com animais,

produtos e subprodutos importados, mesmo que sejam agentes de

doenças já existentes no País. (PITUCO, 2009)”

Como a maior parte das doenças causadas por vírus, a transmissão da

infecção ocorre através das secreções e excreções como saliva, leite, sêmen, urina,

fezes e outros fluidos de animais contaminados. Da mesma forma que o contato

Page 28: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

18

direto com as secreções, subprodutos de animais contaminados, os ferimentos

cutâneos são umas das portas de entrada do vírus para o desenvolvimento da doença.

“Os títulos mais altos do vírus se encontram no líquido das vesículas e no epitélio das

lesões de animais doentes” (PITUCO, 2009).

Estudos mostram que apesar da febre aftosa ser uma zoonose, ainda há

poucos registros da infecção no homem sendo este um hospedeiro acidental, no

entanto as crianças (Figura 7) são as mais susceptíveis devido ao seu sistema

imunológico ainda não estar totalmente desenvolvido. “Na fase inicial observa-se

febre, dor de cabeça, anorexia. A vesícula primária aparece no local de penetração do

vírus e logo se generaliza, com formação de aftas secundárias na boca, mãos, e pés.

Quando não há contaminação bacteriana secundária, o paciente se restabelece em

cerca de duas semanas”. (PITUCO, 2009).

Figura 7: Criança com aftas provocadas pela febre aftosa Fonte: (PITUCO, 2009)

Apesar da febre aftosa não ser fatal para o homem, pode provocar algumas

sequelas que podem ser irreversíveis, como um caso divulgado em uma reportagem

de Carlos Alberto do Jornal do povo de Três Lagoas, disponível no site eletrônico

www.jptl.com.br/?pag=ver_noticia&id=14327, acessado em 15/11/2009, de uma

senhora de 69 anos com deformações na face e na arcada dentária devido à sequelas

por ter contraído a doença ainda na infância (Figura 8).

Page 29: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

19

Figura 8: Sequelas da febre aftosa Fonte: jornal do povo – Três Lagoas

.

2.8.5 Tuberculose

A tuberculose é uma doença infecciosa crônica causada pela Mycobacterium

bovis. E acomete vários tipos de animais como bovinos, bubalinos, suínos, caprinos,

ovinos, animais domésticos de estimação (cães e gatos), animais silvestres e também

o homem. (MELO, 2008).

Assim como outros agentes zoonóticos a bactéria da tuberculose é transmitida

entre os animais principalmente por via oral e respiratória sendo a contaminação do

homem ocasionada pela ingestão de leite e derivados contaminados, via cutânea e

por via respiratória.

A ocorrência no rebanho depende do tipo de exploração e sistema de manejo.

Nos bovinos a tuberculose caracteriza-se pelo desenvolvimento progressivo de lesões

granulomatosas, que podem se localizar em qualquer órgão, causando redução do

tempo de vida produtiva, crescimento mais lento ou mesmo perda de peso e

diminuição na produção de leite (MELO, 2008).

A principal dificuldade de detecção da infecção causada no homem pela

Mycobacterium bovis, é que inicialmente os seus sintomas podem ser confundidos

com outras doenças comuns, a pessoa infectada pode ter um mal estar ou sintomas

como tosse associada a uma gripe. A tosse pode produzir uma pequena quantidade de

expectoração verde ou amarela pela manhã. A quantidade de expectoração aumenta

habitualmente à medida que a doença progride. Finalmente, a expectoração pode

Page 30: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

20

surgir raiada de sangue, embora não seja freqüente encontrá-lo em grandes

quantidades (MANUALMERCK, 2009), disponível no site eletrônico biblioteca

médica online, http://www.manualmerck.net/, acessado em 29/11/2009

Page 31: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

21

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisas bibliográficas e de

artigos científicos dos principais tipos de agentes etiológicos zoonóticos que afeta o

rebanho bovino e que pode ser transmitido ao homem. É de suma importância

mencionar que o desenvolvimento deste trabalho foi realizado em forma de uma

Analise Preliminar de Risco (APR), identificando os riscos ambientais presentes na

unidade frigorífica.

As pesquisas de campo foram realizadas através de registros fotográficos, de

informações obtidas com o agente chefe da inspeção estadual, e de observações do

ambiente de trabalho dos magarefes em um frigorífico de pequeno porte com

inspeção estadual, localizado no município de Primavera do Leste – MT (Figuras 9 e

10) de uso misto, onde se abate atualmente cerca de 80 a 100 cabeças de bovinos e

cerca de 60 a 80 cabeças de suínos por dia, sendo o abate feito em dias alternados.

Figura 9: Município de Primavera do Leste e a Unidade Frigorífica

3.1 ÁREA DE ESTUDO O trabalho de campo realizado na unidade frigorífica (Figura 10) teve como

objetivo, através de observações visuais, avaliar os riscos existente no ambiente de

trabalho dos magarefes durante o processo de abate, com enfoque principal no

contato dos trabalhadores com o sangue e vísceras dos animais abatidos.

Page 32: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

22

Figura 10: Unidade frigorífica visitada

Na Figura 11, está representado o fluxograma da linha de abate do frigorífico

com a identificação do processo que vai desde a recepção e inspeção do animal,

processamento e armazenamento do produto final onde:

a) Recepção e inspeção ante mortem – os animais são recebidos e

examinados por agentes da inspeção para diagnosticar possíveis sintomas

aparentes característicos de doenças ou anomalias.

b) Em caso de reprovação os animais são encaminhados para, abate em

separado, com aprovação parcial ou total da carcaça, ou para crematório

em caso de reprovação total.

c) Insensibilização – os animais são encaminhados ao chamado abate

humanitário, onde este é atordoado com uma martelada na cabeça, através

de uma pistola com ar comprimido, deixando o animal inconsciente.

d) Sangria – após o atordoamento é feito o corte da barbela do pescoço e a

secção das grandes veias do pescoço do animal, para que escoe todo o

sangue ocorrendo desta forma a morte pela falta de oxigenação do

cérebro.

e) Esfola – processo pelo qual é retirado o couro do animal.

f) Evisceração – após o descouro, é feita a abertura da pança do animal e

retirado todas as vísceras ficando apenas os rins para inspeção.

g) Inspeção post mortem – etapa pela qual o agente de inspeção, realiza o

exame para averiguação de qualquer tipo de anomalia que o produto

possa apresentar.

Page 33: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

23

h) Resfriamento e Armazenamento – etapa final, onde o produto é resfriado

e armazenado.

i) Triparia e Bucharia – área onde é processado as tripas e o bucho do

animal.

j) Graxaria – setor onde é feito o cozimento de todos os rejeitos, para a

produção de farinha para ração de não ruminantes.

Figura 11: Fluxograma da linha de abate de bovinos.

Recepção e Inspeção ante mortem

Animais aptos para o abate

Animais não aptos para o abate

Observação e Exame Clínico

Observação e Exame Clínico

Insensibilização

Abate em Separado

Abate Necropsia

Sangria

Esfola

Evisceração

Crematório

Inspeção post mortem

Aprovação

Resfriamento

Condenação

Graxaria (Terceirizada)

Cremação

Vísceras

Triparia e Bucharia

Graxaria (Terceirizada)

Armazenamento

Page 34: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

24

4. APRESENTAÇÃ E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS ÁREAS DE RISCO BIOLÓGICO

Como pode ser observado na Figura 12, a sangria é o setor onde o magarefe

está mais exposto, onde após efetuar o corte da barbela e das grandes veias do

pescoço do animal, o magarefe fica exposto a uma grande quantidade de sangue do

animal que entra em contato com a pele, olhos, boca e mucosas do trabalhador.

Além do risco de levar uma patada de animais mal insensibilizados.

Figura 12: Setor de sangria

Apesar de não ter muito contato com o sangue, no setor de descouro (Figura

13), o magarefe deve estar muito atento a tumores, melanomas malignos, entre outras

doenças que afetam a pele do animal, para que estas não sejam cortadas podendo

contaminar o trabalhador e o produto. Pode ser observado também sérios problemas

ergonômicos com relação a má postura, devido a um pé direito inadequado ficando

os animais quase arrastando no chão, forçando o magarefe trabalhar curvado.

Page 35: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

25

Figura 13: Setor de descouro

Assim como o sangue, o contato direto com vísceras, fezes e outros fluidos

do animal, sem equipamentos de proteção aliados a falta de boas práticas de

fabricação e higiene, também apresentam grande risco ao trabalhador em caso de

animais contaminados ou doentes. Na Figura 14, o magarefe faz a abertura da pança

do animal e efetua a retirada das vísceras com a mão e sem a utilização de luvas de

proteção

Figura 14: Evisceração Outro profissional que apesar de não participar do processo produtivo e que

também está exposto ao risco de contágio pelas zoonoses, é o agente da inspeção

(Figura 15), pois este fica encarregado de examinar aprovar ou reprovar o produto e

fazer a retirada tumores, abscessos entre outras anomalias, que podem ser retirados

sem a reprovação total da carcaça, mas que se cortados inadequadamente podem e

entrar em contato com a pele, olhos e mucosas do agente além de contaminar

também o produto.

Page 36: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

26

Figura 15: Agente de inspeção protegido com luvas

Em setores importantes como a área de inspeção (Figura 16) bem como em

toda unidade frigorífica, também pode ser constatado a falta de uma iluminação

adequada, com relação aos índices de luminosidade, devido a utilização de luz

natural.

Figura 16: Inspeção dos rins No setor de abate é bem visível o grande consumo de água para lavagem das

carcaças, e onde também podem ser constatados interruptores inadequados (Figura

17), para o acionamento da bomba compressora de água, havendo sérios riscos de um

acidente com choque elétrico devido à umidade do setor.

Page 37: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

27

Figura 17: Lavagem de cabeça Ainda no setor de lavagem de carcaça, também foi observado além da

iluminação e de interruptores inadequados, o risco de queda (Figura 19) devido a

grande freqüência de subida e descida do trabalhador que tem o acúmulo de função,

que é de lavar e empurrar as carcaças para a câmara fria.

Figura 18: Lavagem de carcaça (risco de queda)

4.2 AVALIAÇÃO PRELIMINAR DE RISCO No Quadro 03, é apresentada uma avaliação preliminar de riscos dos postos

de trabalho na unidade frigorífica dos principais riscos observados em que os

trabalhadores estão expostos, bem como os Equipamentos de Proteção Individuais

(EPIs) recomendados.

Page 38: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

28

LINHA DE PRODUÇÃO

TIPO DE AGENTE

DESCRIÇÃO DO AGENTE

EPIs RECOMENDADOS

Recepção e Inspeção ante mortem

Físico Biológico Ergonômico

Lida com animais bravos, doentes, moribundos ou acidentados; Esforço físico; Má postura; Trabalho a céu aberto

Capacete; Bota impermeável; Touca frigorífica; Uniforme adequado

Insensibilização Físico Ergonômico

Movimento repetitivo; Má postura; Ruído;

Capacete; Protetor auricular; Touca frigorífica; Bota impermeável;

Sangria Físico Biológico Ergonômico

Cortes; Patada de animais mal atordoado; Sangue de animais contaminados; Umidade; Má postura; Movimento repetitivo; Ruído;

Capacete; Protetor auricular; Óculos de proteção; Touca frigorífica; Luva de látex; Mangotes em PVC; Bota impermeável; Avental impermeável;

Esfola Físico Biológico Ergonômico

Cortes; Sangue de animais contaminados; Má postura; Movimento repetitivo; Risco de queda; Ruído;

Capacete; Protetor auricular; Touca frigorífica; Luva de aço; Luva de látex; Bota impermeável; Proteção coletiva;

Evisceração Físico Biológico Ergonômico

Cortes; Sangue e outros fluidos de animais contaminados; Má postura; Movimento repetitivo; Risco de queda Ruído;

Capacete; Protetor auricular; Óculos de proteção; Touca frigorífica; Luva de látex; Mangotes em PVC; Bota impermeável; Avental impermeável; Proteção coletiva;

Inspeção post mortem

Físico Biológico Ergonômico

Cortes; Sangue e outros fluidos de animais contaminados; Má postura; Movimento repetitivo; Ruído;

Capacete; Protetor auricular; Óculos de proteção; Touca frigorífica; Luva de látex; Bota impermeável;

Triparia Físico Biológico Ergonômico

Cortes; Sangue e outros fluidos de animais contaminados; Umidade; Má postura; Movimento repetitivo; Ruído;

Capacete; Protetor auricular; Óculos de proteção; Touca frigorífica; Luva de látex; Mangotes em PVC; Bota impermeável; Avental impermeável;

Bucharia Físico Biológico Ergonômico

Cortes; Sangue e fezes de animais contaminados; Umidade; Má postura; Esforço repetitivo; Ruído;

Capacete; Protetor auricular; Óculos de proteção; Touca frigorífica; Luva de látex; Mangotes em PVC; Bota impermeável; Avental impermeável;

Page 39: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

29

LINHA DE

PRODUÇÃO TIPO DE AGENTE

DESCRIÇÃO DO AGENTE

EPIs RECOMENDADOS

Resfriamento Físico Ergonômico

Baixa temperatura; Má postura; Esforço físico, Ruído;

Capacete; Protetor auricular; Luva térmica impermeável; Japona para câmara fria; Touca térmica; Bota térmica impermeável;

Armazenamento Físico Ergonômico

Baixa temperatura Má postura; Esforço físico; Ruído;

Capacete; Protetor auricular; Japona para câmara fria; Touca térmica; Bota térmica;

Quadro 3: Identificação dos agentes ambientais.

Portanto observa-se no Quadro 3, que além da necessidade de se aplicar a

utilização dos EPIs, deve ser feito um monitoramento das condições do ambiente de

maneira a tornar o posto de trabalho o mais adequado possível.

Page 40: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

30

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na literatura e nos trabalhos científicos consultados, pôde ser

constatado através dos registros fotográficos na unidade frigorífica dos riscos que os

trabalhadores estão expostos aos agentes físicos, ergonômicos e biológicos, com

relação a este ultimo que é o enfoque principal deste trabalho. É visível e presente o

risco de contaminação do trabalhador por agentes etiológicos zoonóticos, devido ao

freqüente contato com o sangue, carne, vísceras e outros fluídos de animais que

possam estar doentes. Principalmente quando estas infecções são causados por vírus

fungos e bactérias, onde estes microorganismos tem como principal característica, se

desenvolverem predominantemente em células de organismos vivos, podendo

infectar o homem através das mucosas, pele e de pequenos ferimentos provocados

por instrumentos de trabalho ou não.

Apesar de não ter sido constatado ou informado casos de contaminação na

unidade frigorífica em questão, o risco não pode ser descartado, havendo também a

necessidade de se corrigir algumas irregularidades constatadas na Análise Preliminar

de Riscos, referente à área de estudo. Um fato importante a destacar, está relacionado

às dificuldades encontradas no desenvolvimento de pesquisas em empresas privadas,

devido ao seu resguardo em fornecer informações ou livre acesso as suas instalações

com o receio da divulgação de informações que possam comprometer o nome do

empreendimento. Estudos como os relacionados às zoonoses, ainda são muito

escassos, no entanto abrem diversas linhas de pesquisas voltadas a segurança e saúde

do trabalhador ainda a serem abordadas.

Page 41: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

31

6. RECOMENDAÇÕES

A prevenção é a melhor maneira de se evitar qualquer tipo de transtorno no

ambiente de trabalho e a utilização dos Equipamentos de Proteção Individual e os

Equipamentos de Proteção Coletivos, são ferramentas essenciais para a prevenção e

diminuição dos impactos causados por possíveis acidentes. Bem como o

mapeamento e identificação dos riscos, treinamento dos funcionários, com relação a

sua atividade, higiene pessoal e do posto de trabalho. Todos estes elementos, são

ações que seguidas corretamente acompanhados de uma jornada de trabalho

adequada, tende a levar os riscos de acidentes ou doenças do trabalho ao menor

possível.

Page 42: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

32

7. BIBLIOGRAFIAS ACHA, P. N. y SZYFRES B. Zoonosis y Enfermedades Transmisibles Comunes al Hombre y a los Animales.. Edita: Organización Panamericana de la Salud, 2001. ISBN: 92-75-31580-9, 398 p, Volumen I: bacteriosis y micosis ALVIM, N. C. Incidência e destino de carcaças de bovinos acometidos por Brucelose e Tuberculose no município de São Felix Do Xingu-PA no período de outubro de 2003 a maio de 2004. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária - ISSN 1679-7353 Publicação Científica da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Garça/Famed. Ano Iv, Número, 08, Janeiro de 2007. Periodicidade: Semestral. ASSIS, R. A.; FILHO, E. J. F.; LOBATO, F. C. F.; CARVALHO, A. Ú.; FERREIRA, P. M.; CARVALHO, A. V. A. Surto de carbúnculo sintomático em bezerros. Ciência Rural, Santa Maria, v35, n.4, p.945-947, jul-ago, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cr/v35n4/a34v35n4.pdf. Acesso em 18 nov. 2009. BRASIL. Decreto Nº 30.691, de 29 de março de 1952, Aprova o novo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Disponível em http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegislacao. BRASIL. Portaria nº 368, de 04 de setembro de 1997. Do Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: www.fea.unicamp.br/deptos/dta/higiene/legislacao/MA/MA_P_368_97_MAPA.pdf BRASIL. NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (Texto dado pela Portaria SSST n.º 25, 29 de dezembro de 1994). Disponível em www.trabalho.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_09_at.pdf. Acessado em 17 de nov. 2009. BRASIL. Resolução RDC Nº 216, de 15 de setembro de 2004. Disponível em www.anvisa.gov.br. Acessado em 17 nov. 2009. CANAL, I. H; CANAL, R. B; OLIVEIRA, R. Brasil e a Febre Aftosa: Detalhes do Descaso. Revista Eletrônica de Veterinária REDVET, ISSN 1695-7504, Vol. VI, nº 11 CETESB, Governo do Estado de São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente. FIESP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Frigoríficos Industrialização da Carne Bovina e Suína: São Paulo, 2008. 84p. Série P+L, Guia Técnico Ambiental. FIGUEIRAS, C; SANTOS, C; CONDINHO, P. Bacillus anthracis. Instituto Politécnico de Coimbra, Escola superior Agrária de Coimbra, Microbiologia Ambiental Ano lectivo 2008/2009. Disponível em: http://www.esac.pt/abelho/MicroAmbiental/trabalhos. Acesso em 18 nov. 2009

Page 43: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS RISCOS EM ABATEDOURO DE BOVINOS (TCC) UFMT

33

IBGE divulga resultados preliminares da contagem da população 2007. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007. Acesso em: 22 nov. 2009. LAMBERT J. A. Análise Preliminar de Riscos (APR). Apostila do Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho. FAET – UFMT. 11p. 2009. MANUALMERCK. Biblioteca Médica Online, disponível em www.manualmerck.net/ MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Secretaria de Defesa Agropecuária, Departamento de Saúde Animal. Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT): Brasília, 2006. Manual Técnico. Pinto, M. L. Introdução a Engenharia de Segurança do Trabalho –Apostila do Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho. FAET – UFMT. 2009. PITUCO, E. M. A importância da Febre Aftosa em Saúde Pública. Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal, Instituto Biológico. SIC serviço de informação da carne. Disponível em: http://www.sic.org.br/PDF/Febre_Aftosa.pdf. Acesso em 16 nov. 2009. SANTOS, L. M.; ROCHA, J. R.; RODIGUES, C. F.M.; CANESIM, R. Carbúnculo hemático. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária Ano VI – Número 10 – Janeiro de 2008 – Periódicos Semestral. Disponível em: http://www.revista.inf.br/veterinaria10/revisao/edic-vi-n10-RL13.pdf. Acesso em 17 nov. 2009. TOCANTINS. Coordenação de Informação de Vigilância em Saúde. Brucelose. Disponível em: http://www.revista.inf.br/veterinaria10/revisao. Acesso em 25 nov. 2009. VALÉE. Empresa Farmacêutico, de Produtos Veterinários. Disponível em www.valee.com.br/doencas.php/1/63, acessado em 17 de Nov. 2009