avaliacao histoquimica de folhas de passiflora setacea d. c. (passifloraceae)

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AVALIAÇÃO HISTOQUÍMICA DE FOLHAS DE PASSIFLORA SETACEA D. C. (PASSIFLORACEAE). Wilson Vicente Souza Pereira 1 ; Lorena Melo Vieira 1 ; Sarah Barbosa Reis 1 , Silma da Conceição Neves 1 , Maria Olívia Mercadante-Simões 1 , Leonardo Monteiro Ribeiro 1 . (1 - Departamento de Biologia Geral, Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, Avenida Dr. Ruy Braga, s/n, Vila Mauríceia, 39400-000, Montes Claros, MG, e-mail: [email protected] ). Termos para indexação: maracujazeiro, histoquímica, bioquímica Introdução A família Passifloraceae abriga cerca de 600 espécies conhecidas popularmente como maracujazeiros (Oliveira & Ruggiero, 2005) que são amplamente distribuídas nos trópicos, especialmente da América e África (Bernacci et al, 2005) tendo como centro de dispersão o norte do Brasil (Paula, 2006). As espécies desta família despertam interesse devido às propriedades nutricionais e farmacológicas dos seus frutos, folhas e flores (Zucarelli, 2007). O Brasil é o maior produtor e consumidor mundial de maracujá (Costa & Tupinambá, 2005). Das espécies de maracujazeiros comestíveis, destaca-se como principal representante o maracujazeiro-azedo (P. edulis Sims. f. Flavicarpa Deg.) (Glória et al, 1999). Entretanto, outras espécies apresentam potencial agronômico como P. alata [1], P. cincinnata (Zucarelli, 2007) e P. setacea (Prereira et al, 2007). P. setacea D. C. é uma espécie de maracujazeiro bastante apreciada em sucos e sorvetes (Pereira et al , 2007) e é conhecida popularmente como maracujá-do-sono, maracujá-sururuca, maracujá-de-cascavel (Oliveira Ruggiero, 2005). Esta espécie é pouco estudada, sendo os estudos concentrados na sua propagação (Pereira et al , 2007). Apesar do grande conhecimento das propriedades medicinais dos maracujazeiros, as informações científicas a respeito da composição química e de seus princípios ativos ainda é escassa (Costa et al, 2005), principalmente no que diz respeito à espécie em estudo. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi realizar um estudo buscando identificar as substâncias presentes nas folhas de P. setacea através de análises histoquímicas.

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Page 1: Avaliacao Histoquimica de Folhas de Passiflora Setacea D. C. (Passifloraceae)

AVALIAÇÃO HISTOQUÍMICA DE FOLHAS DE PASSIFLORA SETACEA D. C.

(PASSIFLORACEAE).

Wilson Vicente Souza Pereira 1; Lorena Melo Vieira 1; Sarah Barbosa Reis1, Silma da Conceição Neves1 , Maria Olívia Mercadante-Simões1, Leonardo Monteiro Ribeiro1. (1 - Departamento de Biologia Geral, Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, Avenida Dr. Ruy Braga, s/n, Vila Mauríceia, 39400-000, Montes Claros, MG, e-mail: [email protected] ). Termos para indexação: maracujazeiro, histoquímica, bioquímica

Introdução

A família Passifloraceae abriga cerca de 600 espécies conhecidas popularmente como

maracujazeiros (Oliveira & Ruggiero, 2005) que são amplamente distribuídas nos trópicos,

especialmente da América e África (Bernacci et al, 2005) tendo como centro de dispersão o norte

do Brasil (Paula, 2006). As espécies desta família despertam interesse devido às propriedades

nutricionais e farmacológicas dos seus frutos, folhas e flores (Zucarelli, 2007). O Brasil é o maior

produtor e consumidor mundial de maracujá (Costa & Tupinambá, 2005).

Das espécies de maracujazeiros comestíveis, destaca-se como principal representante o

maracujazeiro-azedo (P. edulis Sims. f. Flavicarpa Deg.) (Glória et al, 1999). Entretanto, outras

espécies apresentam potencial agronômico como P. alata [1], P. cincinnata (Zucarelli, 2007) e P.

setacea (Prereira et al, 2007).

P. setacea D. C. é uma espécie de maracujazeiro bastante apreciada em sucos e sorvetes

(Pereira et al , 2007) e é conhecida popularmente como maracujá-do-sono, maracujá-sururuca,

maracujá-de-cascavel (Oliveira Ruggiero, 2005). Esta espécie é pouco estudada, sendo os estudos

concentrados na sua propagação (Pereira et al , 2007).

Apesar do grande conhecimento das propriedades medicinais dos maracujazeiros, as

informações científicas a respeito da composição química e de seus princípios ativos ainda é escassa

(Costa et al, 2005), principalmente no que diz respeito à espécie em estudo. Dessa forma, o objetivo

deste trabalho foi realizar um estudo buscando identificar as substâncias presentes nas folhas de P.

setacea através de análises histoquímicas.

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Material e Métodos

A. Coleta do material vegetal

O material vegetal constituído de folhas de P. setacea foi coletado em área de transição

cerrado-caatinga, próximo ao município de Capitão Enéias, MG. As folhas foram colocadas em

jornal umedecido e mantidas em saco plástico protegidas da luz.

B. Testes histoquímicos

Foram feitos cortes histológicos na região da nervura central das folhas à mão livre com

auxílio de lâminas de barbear. Os cortes foram submetidos aos testes hitoquímicos com Sudam IV

para lipídios, floroglucinol para lignina, cloreto férrico para fenólicos em geral, vanilina clorídrica

para taninos, Dragendorf e Wagner para alcalóides. Os cortes foram fotografadas com câmera

digital Sony DSC-P52, em microscópio óptico Nikon, modelo Eclipse E-200.

Resultados e Discussão

Os resultados da análise histoquímica das folhas de P. setacea encontram-se dispostos na

Tabela 1.

Tabela 1: Testes histoquímicos em folhas de Passiflora setacea D. C.

Tecidos / Regiões Compostos

Teste

Coloração Epiderme Parênquima

Paliçádico Feixes

Vasculares Nervura Central

Lipídios Sudan IV Vermelho + - - - Lignina Floroglucinol Amarelo - - + - Fenóis Cloreto Férrico Enegrecida + + - + Taninos Vanilina Clorídrica Vermelho - - - +

Dragendorf Verde + + - - Alcalóides Wagner Laranjado + + - -

O reativo Sudan indicou a presença de lipídios na cutícula secretada pela epiderme (Figura

1A), sendo característico de plantas do cerrado grande espessura dessa estrutura (Ventura, 2008). O

reagente floroglucinol demonstrou a presença de lignina nos elementos do tecido vascular (Figura

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1B), onde normalmente esses compostos são presentes (Gloria, 1997).

Figura 1: Testes histoquímicos em P. setacea. A) Sudan IV para lipídios, barra=25 nanometros (reação positiva: coloração vermelha). B) Floroglucinol para lignina, barra=100 nanometros (reação positiva: coloração rosa). Legenda: cu=cutícula; xi=xilema.

O cloreto férrico demonstrou coloração enegrecida nas regiões da epiderme da nervura

central, no parênquima paliçádico (Figura 2A) e nos tricomas (Figura 2B), indicando dessa forma

reação positiva para compostos fenólicos em geral. A presença de fenóis foi descrita para P. edulis,

P. incarnata, sendo grande a quantidade desses compostos observados nestas espécies (Costa et al,

2005).

Figura 2: Teste de cloreto férrico para compostos fenólicos, barra=25 nanômetros (reação positiva: coloração negra) A) parênquima paliçádico. B) Tricomas. Legenda: pa= parênquima; tr=tricoma.

A vanilina clorídrica indicou reação positiva para taninos em estruturas secretoras no

parênquima da nervura central (Figura 3). Os taninos representam um meio de proteção do vegetal

contra o ataque de herbívoros (Triguilho, 1997) podendo ser utilizados como larvicidas (Silva,

1999). Esses compostos despertam interesse por estarem presentes em muitas espécies vegetais de

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interesse medicinal, e podem ser utilizados na fabricação de bebidas e curtume de couro (Queiroz,

2002). Os taninos, apesar de apresentarem efeitos negativos na digestão dos alimentos, possuem

atividade antioxidante, podendo ser utilizados como conservantes (Silva, 1999).

Figura 3: Teste de vanilina clorídrica barra=50 nanometros (reação positiva: coloração vermelha). A) Nervura central. B) detalhe evidenciando estrutura secretora com taninos. Legenda:es=esrutura secretora

Os testes de Dragendorf e de Wagner para alcalóides apresentaram reação positiva no

parênquima paliçádico e tricomas (Figura 4). Estes alcalóides são comuns em passifloráceas sendo

de grande importância na prevenção de doenças, além de sua aplicação no controle da hipertensão e

como tranquilizante (Costa, 2005; Freitas, 2007) Para a família Passifloraceae, foi descrita a

presença de alcalóides, fenóis (Freitas, 2007) e taninos (Muller, 2006).

Figura 4: A) Nervura central evidenciando reação positiva para alcalóides através do teste de Dragendorff , barra=100 nanometros; (reação positiva: coloração verde). B) Teste de Wagner para alcalóides, barra=37,5 nanometros (reação positiva: coloração laranjada).

Conclusões

A espécie apresenta compostos secundários comuns à família, dessa forma P. setacea possui

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potencial para a obtenção destes compostos e para seu uso como espécie medicinal.

Agradecimentos

À FAPEMIG pela concessão de bolsas.

Referências bibliográficas

BERBARI, S. A. G.; PASCHOALINO, J. E.; SIVEIRA, N. F. A. Efeito do cloro na água de lavagem para desinfecção de alface minimamente processada; Ciência e Tecnologia dos de Alimentos; v.21, 2007. BERNACCI, L. C.; MELETTI, L. M. M.; SOARES-SCOTT, M. D. ; PASSOS, I. R. da S. [Online]. Espécies de maracujá: Caracterização e conservação da biodiversidade. In Faleiro, F. G. Junqueira,N. T. V. Braga, M. F. (eds). Maracujá Germoplama e melhoramento genético. Embrapa Cerrados. 2005; P559-586. Disponível em: http://www.cpac.embrapa.br/ivrtpm/homepage/capitulos/cap_22.pdf ; acesso em 23 mai. 2007. COSTA, A. M. &TUPINAMBÁ, D. D. [Online]. O maracujá e suas propriedades medicinais: o estado da arte. In Faleiro, F. G. Junqueira, N. T. V. Braga, M. F. (eds). Maracujá Germoplama e melhoramento genético. Embrapa Cerrados; 2005. P475-506 Disponivel em: http://www.cpac.embrapa.br/ivrtpm/homepage/capitulos/cap_20.pdf acesso em 23 mai. 2007. FREITAS, M. S. M.; MONERAT, P. H. ; VIEIRA, I. J. C.; CARVALHO, A. J. C. de. Flavonóides e composição mineral de folhas de maracujazeiro amarelo em função da posição da folha no ramo. Ciência Rural, v37, 2007. GLÓRIA, B. A. da & CARMELO-GUERREIRO, S. M. 2003. Anatomia Vegetal. Editora UFV: Viçosa. 438p. FERREIRA, L. S.; MARSOLA, F. J.; TEIXEIRA, S. P. 2006 GLÓRIA, B. A. da; VIEIRA, M. L. C.; DORNELAS, M. C. . Anatomical studies of in vitro organogenesis induced in leaf-derived explants of passionfruit. Pesquisa Agropecuária Brasileira, V34, n11, 1999. MULLER, S. D. 2006. Determinação de alcalóides e flavonóides através de CLAE e UV de extratos de Passiflora alata Curtis, Passifloraceae – Maracujá-Doce. 91p. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Vale do Itajaí. OLIVEIRA, J. C. & RUGGIERO, C. [Online]. Espécies de Maracujá com potencial agronômico. In Faleiro, F. G. Junqueira,N. T. V. Braga, M. F. (eds). Maracujá Germoplama e melhoramento genético. Embrapa Cerrados, 2005 p141-158 Disponível em: http://www.cpac.embrapa.br/ivrtpm/homepage/capitulos/cap_6.pdf acesso em 23 mai. 2007.

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PAULA, M. da S. 2006. Diversidade genética e reação de Passiflora spp. a Meloidogyne icognita e a Meloidogyne javanica. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, 110p. PEREIRA, W. V. S.; VIEIRA, L. M.; RIBEIRO, L. M.; MERCADANTE-SIMÕES, M. O. Efeito do substrato na germinação e desenvolvimento inicial de Passiflora setacea D. C.; Anais VIII do Congresso Nacional de Ecologia do Brasil, Caxambu, MG, 2007. QUEIROZ, C. R. A. dos A.; MORAIS, S. A. L. de; NASCIMENTO, E. A. do. Caracterização dos taninos em aroeira-preta (Myracrondruon urundeuva); Revista Árvore; v.26 , 2002. SILVA, H. H. G. da; SILVA, I. G. da; SANTOS, R. M. G. dos; FILHO, E. R. ; ELIAS, C. N. Atividade larvicida de taninos em isolados de Magonia pubescens St. Hil. (Sapíndaceae) sobre Aedes aegypti (Díptera, Culicidae). Revista da Sociedade Brasleira de Medicina Tropical, v37 n5, 2004. SILVA, M. R. & SILVA, M. A. A. P. da. Aspectos nutricionais de Fiatos e Taninos. Rev. Nutr. V.12, 1999. TRUGUILHO, P. F.; CAIXEIRA, R. P.; LIMA, J. T.; MENDES, L. M. Avaliação do conteúdo em taninos condensados em algumas espécies típicas do cerrado mineiro, Cerne, v.3, 1997. VENTURA, S. J. Estruturas xeromórficas em folhas de plantas do cerrado e caatinga, no Norte de Minas Gerais. Monografia, Curso de Ciências Biológicas Bacharelado, ISEIB, Montes Claros, 2008. ZUCARELLI, V. Germinação de sementes de Passiflora cincinnata Mast.: Fases, Luz, Temperatura e Reguladores Vegetais. 2007. 111p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista.