avaliação do uso de inóculos na biodigestão anaeróbia de resíduos de avesde postura, frangos...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE QUÍMICA Campus Araraquara – SP AVALIAÇÃO DO USO DE INÓCULOS NA BIODIGESTÃO ANAERÓBIA DE RESÍDUOS DE AVES DE POSTURA, FRANGOS DE CORTE E SUÍNOS LARA STEIL BIÓLOGA ARARAQUARA – SP 2001

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Avaliação Do Uso de Inóculos Na biodigestão Anaeróbia de Resíduos de Avesde Postura, Frangos de Corte e Suínos

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

    INSTITUTO DE QUMICA

    Campus Araraquara SP

    AVALIAO DO USO DE INCULOS NA

    BIODIGESTO ANAERBIA DE RESDUOS DE AVES

    DE POSTURA, FRANGOS DE CORTE E SUNOS

    LARA STEIL

    BILOGA

    ARARAQUARA SP

    2001

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

    INSTITUTO DE QUMICA

    Campus Araraquara SP

    AVALIAO DO USO DE INCULOS NA

    BIODIGESTO ANAERBIA DE RESDUOS DE AVES

    DE POSTURA, FRANGOS DE CORTE E SUNOS

    LARA STEIL BILOGA

    Orientador: Prof. Titular Jorge de Lucas Jnior

    Co-orientador: Prof. Dr. Roberto Alves de Oliveira

    ARARAQUARA SP

    Setembro 2001

    Dissertao apresentada aoInstituto de Qumica do Campusde Araraquara UNESP, paraobteno do ttulo de Mestre emBiotecnologia rea deconcentrao em Biotecnologia

  • BANCA EXAMINADORA

    Dissertao defendida e aprovada em 27-09-2001 pela comisso julgadora:

    Prof. Titular Jorge de Lucas Jnior (orientador)

    (Departamento de Engenharia Rural Faculdade de Cincia Agrrias e

    Veterinrias Universidade Estadual Paulista UNESP)

    Profa. Doutora Rosana Filomena Vazoller

    (Departamento de Hidrulica e Saneamento - Escola de Engenharia de So

    Carlos Universidade de So Paulo USP)

    Prof. Doutor Edson Aparecido Abdul Nour

    (Departamento de Saneamento e Ambiente Faculdade de Engenharia Civil

    Universidade de Campinas UNICAMP)

  • Trabalhos publicados em peridicos e anais de congressos Artigos completos publicados em peridicos STEIL, L., Lucas Jr., J., Oliveira, R.A. Avaliao do uso de inculos na biodigesto anaerbia de resduos de aves de postura, frangos de corte e sunos. Engenharia Agrcola, v. 22, n. 2, p. 146-159, Jaboticabal, 2002. Palavras-chave: biodigestores modelo batelada; biogs; tratamento anaerbio. reas do conhecimento: Manejo de resduos da produo animal; Saneamento Ambiental; Controle da Poluio. Referncias adicionais: Brasil/Portugus; Meio de divulgao: Impresso; ISSN/ISBN: 0100916. Trabalhos completos publicados em anais de evento STEIL, L., Lucas Jr., J., Oliveira, R.A., Vazoller, R.F. Biomass evaluation from anaerobic bath reactors by specific methanogenic activity (SMA) test at different S0/X0 ratios In: THE FIRST INTERNATIONAL MEETING ON ENVIRONMENTAL BIOTECHNOLOGY AND ENGINEERING - 1IMEBE, 2004, Cidade do Mxico. Proceedings... 2004. CD. Palavras-chave: microbiology, anaerobic bath reactors, agricultural wastes, SMA test, S0/X0 ratio reas do conhecimento: Microbiologia de organismos anaerbios, Microbiologia Aplicada, Microbiologia Aplicada e Engenharia Sanitria. Setores de atividade: Produtos e servios voltados para a defesa e proteo do meio ambiente, incluindo o desenvolvimento sustentado. Referncias adicionais: Classificao do evento: Internacional; Mxico/Ingls. Meio de divulgao: Digital STEIL, L., Lucas Jr., J., Oliveira, R.A., Vazoller, R.F. Evaluation of dispersed biomass by using standardized batch methanogenic activity test at different initial substrates and biomass ratios. In: 10th WORLD CONGRESS ON ANAEROBIC DIGESTION, 2004, Montreal. Proceedings 2004. v. 3. p.1585 1589. Palavras-chave: anaerobic stabilization pond, batch systems, biomass evaluation, methanogenic activity. reas do conhecimento: Microbiologia de organismos anaerbios, Microbiologia Aplicada e Engenharia Sanitria. Referncias adicionais: Classificao do evento: Internacional; Canad/Ingls. Meio de divulgao: Impresso STEIL, L.; Lucas Jr., J.; Oliveira, R.A. Desempenho de biodigestores rurais anaerbios alimentados em batelada com resduos da avicultura e suinocultura com e sem a utilizao de inculo em diferentes pocas do ano. In: SIMPSIO LUSO-BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITRIA E AMBIENTAL, 2004, Natal - RN. Anais... 2004. CD. Palavras-chave: Biodigestores rurais; Tratamento de resduos da avicultura e suinocultura; biodigestores modelo batelada; inculo adicional. reas do conhecimento: Controle da Poluio. Referncias adicionais: Classificao do evento: Internacional; Brasil/Portugus; Meio de divulgao: Digital. STEIL, L.; Lucas Jr., J.; Oliveira, R.A. Eficincia de reatores anaerbios modelo batelada alimentados com resduos de aves de postura, frangos de corte e sunos na reduo de coliformes totais e fecais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITRIA E AMBIENTAL, 2003, Joinville - SC. Anais... CD. Palavras-chave: tratamento anaerbio; biodigestores modelo batelada; coliformes totais e fecais; Tratamento de resduos da avicultura e suinocultura. reas do conhecimento: Controle da Poluio; Resduos Slidos Domsticos e Industriais. Referncias adicionais: Classificao do evento: Nacional; Brasil/Portugus; Meio de divulgao: Digital.

  • minha me Maria Aparecida (in

    memorian), a meu pai Valmor e meu irmo

    Carlos Henrique.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Jorge de Lucas Jnior e Prof. Dr. Roberto Alves de

    Oliveira pela valiosa orientao, apoio e confiana na realizao deste trabalho.

    Ao Prof. Dr. Luiz Augusto do Amaral do Departamento de Medicina

    Veterinria Preventiva, FCAV UNESP, campus de Jaboticabal, pelo auxlio e

    disponibilizao de materiais e equipamentos para a execuo dos ensaios de colimetria.

    Ao Prof. Dr. Euclides Braga Malheiros do Departamento Cincias

    Exatas, FCAV UNESP, campus de Jaboticabal, pela contribuio nas anlises estatsticas.

    Ao Prof. Dr. Mrio Benincasa e Prof. Dr. Pedro Magalhes Lacava,

    pelas sugestes no exame geral de qualificao.

    Aos membros da banca examinadora, Profa Dra Rosana Filomena

    Vazoller e Prof. Dr. Edson Abdul Nour, pelas valiosas contribuies, crticas e sugestes

    apresentadas.

    Helosa Pozzi Gianotti e Juliana Calbria de Arajo do Laboratrio

    de Processos Anaerbios, EESC USP, campus de So Carlos, pelo importante auxlio com a

    metodologia de atividade metanognica.

    colega Fernanda L. A. Ferreira pelo apoio na realizao dos ensaios

    de colimetria.

    Aos funcionrios do Departamento de Engenharia Rural, FCAV

    UNESP Campus de Jaboticabal, Luizinho, Marquinhos e Fiapo pela colaborao no

    desenvolvimento deste trabalho.

    CAPES pela concesso da bolsa de estudos.

    s secretrias da Ps-graduao em Biotecnologia do Instituto de

    Qumica UNESP, campus de Araraquara, Izolina, Vilma e Sandra pela convivncia

    agradvel e atendimento prestativo.

    Aos meus amigos e amigas Rogrio, Sandra, ndrea, Dimitrios e Ana,

    Carolina, Jeff, Gandra, Maurcio, Fernando, Nice, Peninha e Gica, Srgio e Regiane, pelo

    carinho, amizade e importantes momentos compartilhados. Ao Alexandre pelo

    companheirismo, carinho e amizade de anos.

  • i

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS............................................................................................................... iii

    LISTA DE TABELAS............................................................................................................... vi

    LISTA DE SMBOLOS............................................................................................................ x

    RESUMO................................................................................................................................... xi

    ABSTRACT.............................................................................................................................. xii

    1. INTRODUO..................................................................................................................... 01

    2. OBJETIVOS.......................................................................................................................... 04

    3. REVISO BIBLIOGRFICA.............................................................................................. 05

    3.1. Processo de digesto anaerbia...................................................................................... 05

    3.1.1 Avaliao da atividade metanognica especfica.................................................. 12

    3.1.1.1 Aplicao dos testes de atividade metanognica especfica..................... 15

    3.2. Fatores que interferem na digesto anaerbia................................................................ 16

    3.3. Tratamento anaerbio de resduos................................................................................. 20

    3.3.1. Resduos da avicultura e suinocultura................................................................. 23

    3.3.2. Digesto anaerbia de resduos da avicultura e suinocultura.............................. 26

    4. MATERIAL E MTODOS................................................................................................... 31

    4.1. Local.............................................................................................................................. 31

    4.2. Caracterizao dos biodigestores batelada.................................................................... 31

    4.3. Resduos......................................................................................................................... 32

    4.4. Descrio do experimento............................................................................................. 32

    4.4.1. Produo e caractersticas dos inculos e dos substratos dos biodigestores

    batelada de campo................................................................................................ 35

    4.5. Determinaes para monitoramento do desempenho dos biodigestores....................... 38

    4.5.1. Teores de slidos totais e volteis....................................................................... 38

    4.5.2. Produo de Biogs............................................................................................. 39

    4.5.3. Composio do biogs......................................................................................... 39

    4.5.4. Teores de cidos volteis..................................................................................... 40

    4.5.4.1. Reta padro........................................................................................... 41

    4.5.4.2. Preparao das amostras para anlise cromatogrfica

    dos cidos volteis............................................................................... 42

    4.5.5. Potencial hidrogeninico..................................................................................... 43

  • ii

    4.6. Exames microbiolgicos................................................................................................ 43

    4.6.1. Coliformes totais.................................................................................................. 43

    4.6.2. Coliformes fecais................................................................................................. 44

    4.7. Avaliao da Atividade Metanognica Especfica........................................................ 44

    4.7.1 Reta Padro para o metano................................................................................ 46

    4.7.2 Metodologia para o clculo da atividade metanognica especfica................... 46

    4.8. Anlises Estatsticas....................................................................................................... 48

    5. RESULTADOS E DISCUSSES......................................................................................... 49

    5.1. Produo dos inculos................................................................................................... 49

    5.2. Segunda fase.................................................................................................................. 52

    5.2.1. Teores de slidos totais e volteis....................................................................... 52

    5.2.2. Produo de biogs.............................................................................................. 53

    5.2.3. Potenciais de produo de biogs........................................................................ 60

    5.2.4. Composio do biogs......................................................................................... 63

    5.2.5. cidos Volteis.................................................................................................... 70

    5.2.6. Potencial Hidrogeninico.................................................................................... 81

    5.2.7. Colimetria............................................................................................................ 84

    5.2.8. Avaliao da atividade metanognica.................................................................. 85

    6. CONCLUSES..................................................................................................................... 90

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................................. 92

    ANEXOS................................................................................................................................... 101

  • iii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Sequncia de processos na digesto anaerbia de macromolculas

    complexas (Fonte: FORESTI et al., 1999)........................................................ 06

    Figura 2. Esquema dos biodigestores batelada de campo, medidas em mm (Fonte:

    ORTOLANI et al., 1986). ................................................................................. 33

    Figura 3. Distribuio da produo mdia diria de biogs obtida durante os

    ensaios para obteno dos inculos adaptados aos resduos de aves de

    postura, frangos de corte e sunos. As setas indicam o momento em

    que os efluentes foram utilizados como inculo................................................ 51

    Figura 4. Teores mdios semanais de CH4 no biogs produzido nos biodigestores

    batelada de campo operados com resduos de aves de postura, frangos

    de corte e sunos durante a produo dos inculos. As setas indicam o

    momento em que os efluentes foram utilizados como inculo........................ 51

    Figura 5. Distribuio mdia diria da produo de biogs (a) e porcentagem

    acumulada de biogs produzido (b), para os biodigestores alimentados

    com resduos de aves de postura submetidos a trs condies de

    inoculao (sem inculo adicional (tr1), com 10 % de inculo adicional

    (tr2) e com 15 % de inculo adicional (tr3))...................................................... 55

    Figura 6. Distribuio diria mdia da produo de biogs (a) e porcentagem

    acumulada de biogs produzido (b), para os biodigestores alimentados

    com resduos de frangos de corte submetidos a trs condies de

    inoculao (sem inculo adicional (tr1), com 10 % de inculo adicional

    (tr2) e com 15 % de inculo adicional (tr3))...................................................... 57

    Figura 7. Distribuio mdia diria da produo de biogs (a) e porcentagem

    acumulada de biogs produzido (b), para os biodigestores alimentados

    com resduos de sunos submetidos a trs condies de inoculao

    (sem inculo adicional (tr1), com 10 % de inculo adicional (tr2) e

    com 15 % de inculo adicional (tr3))................................................................ 59

    Figura 8. Teores mdios semanais de CO2 e CH4 presentes no biogs produzido

    nos biodigestores operados com resduos de aves de postura

    submetidos a trs condies de inoculao (sem inculo adicional (a),

    com 10 % de inculo adicional (b) e com 15 % de inculo adicional (c))........ 65

  • iv

    Figura 9. Teores mdios semanais de CO2 e de CH4 presentes no biogs

    produzido nos biodigestores operados com resduos de frangos de

    corte submetidos a trs condies de inoculao (sem inculo adicional

    (a), com 10 % de inculo adicional (b) e com 15 % de inculo

    adicional (c))...................................................................................................... 67

    Figura 10. Teores mdios semanais de CO2 e de CH4 presentes no biogs

    produzido nos biodigestores operados com resduos de sunos

    submetidos a trs condies de inoculao (sem inculo adicional (a),

    com 10 % de inculo adicional (b) e com 15 % de inculo adicional (c))........ 69

    Figura 11. Distribuio dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) ao longo do perodo de

    operao dos mini-biodigestores alimentados com resduos de aves de

    postura, sem inculo adicional (a), com 10 % de inculo adicional (b) e

    com 15 % de inculo adicional (c).................................................................... 73

    Figura 12. Distribuio dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) ao longo do perodo de

    operao dos mini-biodigestores alimentados com resduos de frangos

    de corte sem inculo adicional (a), com 10 % de inculo adicional (b)

    e com 15 % de inculo adicional (c).................................................................. 76

    Figura 13. Distribuio dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) ao longo do perodo de

    operao dos mini-biodigestores alimentados com resduos de sunos

    sem inculo adicional (a), com 10 % de inculo adicional (b) e com

    15 % de inculo adicional (c)............................................................................ 79

    Figura 14. Variao do pH ao longo do perodo de ensaio nos mini-biodigestores

    operados com resduos de aves de postura (Ap) (a), frangos de corte

    (F) (b) e sunos (S) (c) submetidos a trs condies de inoculao (sem

    inculo adicional (tr1), com 10 % de inculo adicional (tr2) e com

    15 % de inculo adicional (tr3))........................................................................ 83

    Figura A1. Evoluo da produo de metano pela amostra proveniente dos

    biodigestores operados com resduos de aves de postura com 10 %

    de inculo adicional com carga orgnica de 0,25 g DQO g-1 SV (a) e

    0,50 g DQO g-1 SV (b).................................................................................. 103

  • v

    Figura A2. Evoluo da produo de metano pela amostra proveniente dos

    biodigestores operados com resduos de aves de postura com 10 %

    de inculo adicional com carga orgnica de 0,75 g DQO g-1 SV (a) e

    1,00 g DQO g-1 SV (b).................................................................................. 104

    Figura A3. Evoluo da produo de metano pela amostra proveniente dos

    biodigestores operados com resduos de frangos de corte com 10 %

    de inculo adicional com carga orgnica de 0,25 g DQO g-1 SV (a) e

    0,50 g DQO g-1 SV (b).................................................................................. 105

    Figura A4. Evoluo da produo de metano pela amostra proveniente dos

    biodigestores operados com resduos de frangos de corte com 10 %

    de inculo adicional com carga orgnica de 0,75 g DQO g-1 SV (a) e

    1,00 g DQO g-1 SV (b).................................................................................. 106

    Figura A5. Evoluo da produo de metano pela amostra proveniente dos

    biodigestores operados com resduos de sunos com 10 % de

    inculo adicional com carga orgnica de 0,25 g DQO g-1 SV (a) e

    0,50 g DQO g-1 SV (b).................................................................................. 107

    Figura A6. Evoluo da produo de metano pela amostra proveniente dos

    biodigestores operados com resduos de sunos com 10 % de

    inculo adicional com carga orgnic de 0,75 g DQO g-1 SV (a) e

    1,00 g DQO g- 1 SV (b)................................................................................. 108

    Figura A7. Evoluo da produo de metano nos frascos controle pelas amostras

    provenientes dos biodigestores operados com resduos de aves de

    postura (a), frangos de corte (b) e sunos (c) com 10 % de.inculo

    adicional........................................................................................................... 109

  • vi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Gneros representantes das espcies metanognicas, aspectos de sua

    morfologia e substrato utilizado para a converso em biogs (Fonte:

    BROOCK et al., 1997)....................................................................................... 09

    Tabela 2. Exemplos de alguns resduos com potencial para o tratamento por digesto

    anaerbia............................................................................................................ 22

    Tabela 3. Condies de inoculao e repeties realizados na execuo do

    experimento........................................................................................................ 34

    Tabela 4. Quantidades e caractersticas dos substratos (teores de slidos totais

    (ST) e volteis (SV)) dos biodigestores batelada de campo para os

    resduos de aves de postura (Ap), frangos de corte (F) e sunos (S)

    submetidos a trs condies de inoculao (sem inculo adicional

    (tr1), com 10 % de inculo (tr2) e com 15 % de inculo (tr3).......................... 38

    Tabela 5. Equaes das retas padres dos cidos volteis, concentraes

    abrangidas e coeficiente de determinao.......................................................... 42

    Tabela 6. Produes mdias semanais de biogs obtidas durante a produo de

    inculo a partir dos resduos de aves de postura, frangos de corte e sunos..... 50

    Tabela 7. Teores mdios semanais de CO2 e CH4 presentes no biogs produzido

    nos biodigestores batelada de campo operados com resduos de aves

    de postura, frangos de corte e sunos durante a produo de inculo................ 50

    Tabela 8. Teores mdios iniciais e finais de slidos totais (ST) e volteis (SV), e

    reduo de slidos volteis, para os biodigestores alimentados com

    resduos de aves de postura (Ap), frangos de corte (F) e sunos (S)

    submetidos a trs condies de inoculao (sem inculo adicional (tr1),

    com 10 % de inculo (tr2) e com 15 % de inculo (tr3)).................................. 52

    Tabela 9. Produes mdias semanais de biogs e porcentagem acumulada de

    biogs produzido, para os biodigestores alimentados com resduos de

    aves de postura submetidos a trs condies de inoculao (sem

    inculo adicional (tr1), com 10 % de inculo (tr2) e com 15 % de

    inculo (tr3))...................................................................................................... 54

  • vii

    Tabela 10. Produes mdias semanais de biogs e porcentagem acumulada de

    biogs produzido, para os biodigestores alimentados com resduos de

    frangos de corte submetidos a trs condies de inoculao (sem

    inculo adicional (tr1), com 10 % de inculo (tr2) e com 15 % de

    inculo (tr3))...................................................................................................... 56

    Tabela 11. Produes mdias semanais de biogs e porcentagem acumulada de

    biogs produzido, para os biodigestores alimentados com resduos de

    sunos submetidos a trs condies de inoculao (sem inculo

    adicional (tr1), com 10 % de inculo (tr2) e com 15 % de inculo (tr3))......... 58

    Tabela 12. Potenciais mdios de produo de biogs obtidos para os resduos de

    aves de postura (Ap), frangos de corte (F) e sunos (S) submetidos a

    trs condies de inoculao (sem inculo adicional (tr1), com 10 %

    de inculo (tr2) e com 15 % de inculo (tr3)).................................................. 61

    Tabela 13. Teores mdios semanais de CO2 e CH4 presentes no biogs produzido

    nos biodigestores operados com resduos de aves de postura

    submetidos a trs condies de inoculao (sem inculo adicional

    (tr1), com 10 % de inculo (tr2) e com 15 % de inculo (tr3))......................... 64

    Tabela 14. Teores mdios de CO2 e de CH4 presentes no biogs produzido nos

    biodigestores operados com resduos de frangos de corte submetidos

    a trs condies de inoculao (sem inculo adicional (tr1), com

    10 % de inculo (tr2) e com 15 % de inculo (tr3))........................................ 66

    Tabela 15. Teores mdios de CO2 e de CH4 presentes no biogs produzido nos

    biodigestores operados com resduos de sunos submetidos a trs

    condies de inoculao (sem inculo adicional (tr1), com 10 % de

    inculo (tr2) e com 15 % de inculo (tr3))...................................................... 68

    Tabela 16. Concentraes dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) para os mini-

    biodigestores operados com resduos de aves de postura sem inculo

    adicional........................................................................................................... 71

    Tabela 17. Concentraes dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) para os mini-

    biodigestores operados com resduos de aves de postura com 10 % de

    inculo............................................................................................................. 72

  • viii

    Tabela 18. Concentraes dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) para os mini-

    biodigestores operados com resduos de aves de postura com 15 %

    de inculo........................................................................................................ 72

    Tabela 19. Concentraes dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) para os mini-

    biodigestores operados com resduos de frangos de corte sem inculo

    adicional........................................................................................................... 74

    Tabela 20. Concentraes dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) para os mini-

    biodigestores operados com resduos de frangos de corte com 10 %

    de inculo........................................................................................................ 74

    Tabela 21. Concentraes dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) para os mini-

    biodigestores operados com resduos de frangos de corte com 15 %

    de inculo........................................................................................................ 75

    Tabela 22. Concentraes dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) para os mini-

    biodigestores operados com resduos de sunos sem inculo adicional.......... 77

    Tabela 23. Concentraes dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) para os mini-

    biodigestores operados com resduos de sunos com 10 % de inculo........... 78

    Tabela 24. Concentraes dos cidos actico (HAc), propinico (HPr), butrico

    (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) para os mini-

    biodigestores operados com resduos de sunos com 15 % de inculo......... 78

    Tabela 25. Concentraes mdias dos cidos actico (HAc), propinico (HPr),

    butrico (HBu), iso-valrico (HiVal) e valrico (HVal) nos efluentes

    dos biodigestores batelada de campo operados com resduos de aves

    de postura (Ap), frangos de corte (F) e sunos (S) submetidos a trs

    condies de inoculao (sem inculo adicional (tr1), com 10 % de

    inculo (tr2) e com 15 %de inculo (tr3))....................................................... 80

  • ix

    Tabela 26. Variao do pH ao longo do perodo de ensaio nos mini-biodigestores

    operados com resduos de aves de postura (Ap), frangos de corte (F) e

    sunos (S) submetidos a trs condies de inoculao (sem inculo

    adicional (tr1), com 10 %de inculo (tr2) e com 15 % de inculo (tr3))........ 82

    Tabela 27. Nmero mais provvel (NMP) coliformes totais e fecais nos afluentes

    e efluentes dos biodigestores alimentados com resduos de aves de

    postura, frangos de corte e sunos submetidos a trs condies de

    inoculao (sem inculo adicional (tr1), com 10 % de inculo (tr2) e

    com 15 % de inculo (tr3)).............................................................................. 84

    Tabela 28. Valores mdios de taxa de carga orgnica aplicada no lodo, slidos

    volteis (mdia entre o valor inicial e final em cada frasco), produo

    de metano, atividade metanognica aparente (AMA) desvio padro, e atividade metanognica especfica (AME) desvio padro, para os biodigestores operados com resduos de aves de postura, frangos de

    corte e sunos com 10 % de inculo................................................................ 86

  • x

    LISTA DE SMBOLOS

    AMA atividade metanognica aparente

    AME atividade metanognica especfica

    CLT caldo lauril triptose

    CLVBB - caldo lactosado com verde brilhante e bile

    CNTP condies normais de temperatura e presso

    Co-M coenzima M

    DBO demanda bioqumica de oxignio

    DQO demanda qumica de oxignio

    HAc cido actico

    HBu cido butrico

    HiVal cido iso-valrico

    HPr cido propinico

    HVal cido valrico

    NMP nmero mais provvel

    pH potencial hidrogeninico

    Ps peso seco

    Pu peso mido

    R2 coeficiente de determinao

    rpm rotaes por minuto

    RTR resposta trmica relativa

    SAS statistical analyses system

    SSV slidos suspensos volties

    ST Slidos totais

    SV slidos volteis

    TRH tempo de reteno hidrulica

  • xi

    RESUMO

    STEIL, L. Avaliao do uso de inculos na digesto anaerbia de resduos de aves de

    postura, frangos de corte e sunos. 2001. 109 f. Dissertao (Mestrado em Biotecnologia)

    Instituto de Qumica, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2001.

    Investigou-se a influncia da utilizao de inculos sobre a digesto anaerbia de resduos de aves de postura, frangos de corte e sunos em biodigestores modelo batelada com volume til de 60 L operados temperatura ambiente, por meio da caracterizao do potencial e distribuio da produo de biogs ao longo do tempo, o estudo da reduo de slidos, a anlise das caractersticas dos efluentes quanto concentrao de cidos graxos volteis e por meio da determinao do nmero mais provvel (NMP) de coliformes fecais e totais nos afluentes e efluentes. Avaliou-se tambm a atividade metanognica nos biodigestores com 10 % de inculo. Foram testadas trs concentraes de inculo: 0, 10 e 15 %. Os resultados mostraram que os resduos de aves de postura, frangos de corte e sunos so bons substratos para o processo de digesto anaerbia, apresentando potenciais mdios que variaram de 0,3828 a 0,4403 m3, de 0,3495 a 0, 3915 m3, e de 0,1949 a 0,4466 m3 de biogs por kg de ST adicionados, respectivamente para resduos de aves de postura, frangos de corte e sunos. Com base em todos os parmetros estudados, as concentraes de inculo que promoveram melhores resultados foram 10 % para resduos de aves de postura e frangos de corte, e 15 % para resduos de sunos. O tratamento anaerbio revelou-se eficiente na remoo de coliformes totais e fecais independente da concentrao de inculo, alcanando porcentagens mdias de reduo de NMP que variaram de 99,71 % de 1,09 x 102 a 100 %. A atividade metanognica especfica foi mais elevada nas amostras provenientes dos biodigestores operados com resduos de aves de postura (0,0340 mmol CH4 g-1 SV h-1), seguida pelos resduos de frangos de corte (0,0188 mmol CH4 g-1 SV h-1) e sunos (0,0029 mmol CH4 g-1 SV h-1). Estes resultados parecem estar mais associados aos teores de slidos volteis das amostras, do que a maior capacidade da biomassa ativa na converso de substrato. A taxa de carga orgnica aplicada ao lodo no teste de atividade especfica mais adequada para as amostras estudadas foi de 0,25 g DQO g-1 SV.

    Palavras chave: biodigestores modelo batelada, biogs, cidos graxos volteis, atividade

    metanognica especfica, coliformes totais e fecais

  • xii

    ABSTRACT

    STEIL, L. Evaluation of the use of inoculums in anaerobic digestion of laying hens,

    poultry and swine wastes. 2001. 109 f. Dissertao (Mestrado em Biotecnologia) Instituto

    de Qumica, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2001.

    This study was carried out in 60 L volume batch digesters at ambient

    temperature and investigated the inoculums concentration effects on anaerobic digestion of

    laying hens, poultry and piggery wastes through evaluation of potential and distribution of biogas

    production along the time, solids removal, analyze of volatile fatty acids efluent concentration

    and by monitoring the most probable number (MNP) of total and faecal coliforms in the

    inffluents and effluents. Specific methanogenic activity (SMA) into the 10 % inoculum digesters

    was also measured. Three inoculum concentrations (0, 10 and 15 %) were tested. Results showed

    that laying hens, poultry litter and piggery wastes are good substrats to anaerobic digestion. The

    potential biogas production varied from 0.03828 to 0.4403 m3, 0.3495 to 0.3915 m3 and 0.1949

    to 0.4466 m3 of biogas kg-1 of total solids added, respectively for laying hens, poultry and

    piggery wastes. The best results for inoculum concentration were 10 % for laying hens and

    poultry wastes, and 15 % for piggery wastes. Anaerobic digestion was efficient for reduction of

    the most probable mean number of total and faecal coliforms. Reduction of MNP mean varied

    from 99.71 of 1,09 x 102 to 100 %. SMA test showed the best activity was from laying hens

    wastes (0,03400 mmol CH4 g-1 SV h-1), followed by poultry wastes (0,01877 mmol CH4 g-1 SV h-

    1) and by piggery wastes (0,00293 mmol CH4 g-1 SV h-1). Results of SMA test appear to be most

    affected by volatile solids content of the samples than the best ability of the microrganisms to

    convert substrate. The best organic load rate for activity test were 0,25 g DQO g-1 SV.

    Keywords: batch digesters, biogas, volatile fatty acids, specific methanogenic activity, total

    and faecal coliforms

  • 1

    1. INTRODUO

    Os incrementos cada vez maiores da populao humana, intensificados

    principalmente aps a revoluo industrial, vem causando nas ltimas dcadas enormes

    preocupaes com o meio ambiente em todo o mundo. De tal modo, que o conceito

    estabelecido de desenvolvimento econmico vem sendo questionado, cedendo lugar nos

    ltimos anos ao conceito de desenvolvimento sustentvel que, alm do atributo de

    manuteno da produtividade ao longo do tempo, incorpora as questes relativas qualidade

    ambiental, considerando os requisitos fundamentais da natureza, sejam eles de ordem fsica,

    qumica biolgica, sociais e econmicas.

    O modelo tradicionalmente considerado pelas comunidades humanas

    para desenvolvimento das atividades industriais, agropecurias, comerciais e domsticas

    deteriora a qualidade ambiental e incompatibiliza-se com o conceito de desenvolvimento

    sustentvel, na medida em que so geradas altas quantidades de resduos, com o agravante de

    serem estes, geralmente, dispostos indiscriminadamente no meio.

    Entre os resduos gerados pelas atividades humanas, uma considervel

    parte composta por materiais orgnicos que, no tratados e acumulados desordenadamente,

    podem levar poluio da gua e do solo, disseminao de doenas entre a populao

    humana e animal, alm de provocar odores desagradveis.

    Particularmente, os resduos gerados pelas atividades agropecurias, na

    maioria orgnicos, apresentam, em geral, uma grande quantidade de nutrientes, que podem

    provocar a eutrofizao de lagos e rios se forem a despejados ou dispostos

    indiscriminadamente no solo. Por essas razes o tratamento e disposio adequados,

    associados a normas legislativas, no so apenas desejveis, mas extremamente necessrios.

  • 2

    Com a crescente demanda pela produo de alimentos, a agropecuria

    moderna vem acentuando a sua participao nos impactos provocados ao ambiente. Como

    afirmou CORRA (1993), indispensvel o desenvolvimento sustentvel nos sistemas

    agropecurios, a fim de que o atendimento s demandas da populao atual no comprometa

    as reservas potenciais dos recursos naturais que sero utilizados pelas futuras geraes,

    considerando que a preservao do ambiente uma obrigao constitucional do governo e do

    povo.

    No que se refere produo de alimentos de origem animal, observa-se

    que as formas empregadas para atendimento das demandas tm levado a aumentos nas

    densidades populacionais nas unidades produtoras e regionalizao dessas atividades

    (LUCAS JR., 1994). Assim, h maior gerao de resduos de origem animal com um grande

    potencial poluidor, concentrados em determinadas regies.

    Atualmente, o manejo adequado de resduos merece destaque como

    uma preocupao a mais dos produtores agropecurios, envolvendo qualidade, comrcio,

    assim como interferindo nos custos de investimento e retorno, que so fatores importantes

    para uma produo lucrativa (SANTOS, 1997).

    A conscincia crescente de que o tratamento de resduos produzidos

    pelas diferentes atividades humanas de vital importncia para a sade pblica e para o

    combate poluio das guas de superfcie e subterrneas, tem levado necessidade de se

    desenvolver sistemas que combinem alta eficincia e custos baixos de construo e de

    operao. O alto custo da energia diminuiu a atratividade de sistemas de tratamento aerbio e

    tem intensificado a pesquisa de sistemas com baixa demanda energtica. Desta forma, nas

    ltimas dcadas, foram desenvolvidos vrios sistemas que se baseiam na aplicao da

    digesto anaerbia para remoo do material orgnico de uma srie de resduos (VAN

    HAANDEL & LETTINGA, 1994).

    Diversos estudos envolvendo, particularmente, a criao de sunos e aves

    vm sendo desenvolvidos, enfocando a digesto anaerbia dos resduos orgnicos gerados nessas

    atividades, os quais mostraram ser bons substratos para a gerao de biogs.

    Segundo LUCAS JR (1994), o gerenciamento inadequado do enorme

    volume de resduos gerados nas produes animais provoca perdas de potencial se no forem

    reciclados, sobre o ponto de vista de produo agrcola, pelos componentes fertilizantes

    presentes nos resduos que poderiam ser aproveitados na melhoria das condies do solo; do

    ponto de vista energtico, pela capacidade de produo de biogs decorrente do teor de matria

    orgnica digervel.

  • 3

    O incio de operao de um sistema anaerbio deve ser considerado com

    ateno especial, visando o sucesso do tratamento. Segundo LETTINGA et al. (1997), com base

    no conhecimento atual do processo, nenhum outro sistema de tratamento biolgico compete com

    a digesto anaerbia no que se refere velocidade de partida, a menos que seja conduzida com

    inexperincia. Uma srie de fatores interferem no processo e devem ser considerados no incio

    de operao dos sistemas, entre os quais esto temperatura, pH, teores de slidos e composio

    do substrato. A quantidade, qualidade e concentrao do inculo, assim como a adaptao do

    mesmo ao resduo e o aumento gradual na concentrao do resduo a ser tratado, so aspectos

    que podem ser aplicados partida de biodigestores (LUCAS JR, 1994).

    Resduos de animais ruminantes propiciam partida e produo de biogs

    mais rpidas quando submetidos digesto anaerbia, em virtude da existncia de grandes

    quantidades de microrganismos anaerbios no trato digestivo desses animais, que so eliminados

    junto com as fezes. Entretanto para o tratamento de resduos de aves de postura, frangos e sunos

    devem ser tomados alguns cuidados na partida, ou o processo poder ser comprometido, uma vez

    que a populao anaerbia presente nesses resduos, ou seja, o inculo natural menor quando

    comparado com resduos de ruminantes.

    Neste sentido, a utilizao de inculo adicional apresenta-se como um

    aspecto favorvel a digesto anaerbia de resduos. Entretanto, a baixa eficincia desse

    inculo pode influir negativamente na produo de biogs e no processo como um todo, uma

    vez que ocupar um volume que poderia ser preenchido pelo substrato a ser tratado (LUCAS

    JR., 1994). Desta forma estudos que visem a avaliao da utilizao de inculo justificam-se

    por apresentarem a possibilidade de conduzirem a novas informaes que levem otimizao

    da biodigesto anaerbia, contribuindo para a consolidao desse processo como forma de

    saneamento, produo de biofertilizante e de energia no meio rural.

  • 4

    2. OBJETIVOS

    Levando-se em conta a importncia sanitria e econmica do

    tratamento de resduos orgnicos provenientes da produo animal, estabeleceu-se como

    objetivo deste trabalho a avaliao da influncia da utilizao de inculos na digesto

    anaerbia de resduos de aves de postura, frangos de corte e sunos. Para tanto foram

    determinados os seguintes objetivos especficos:

    caracterizar qualitativa e quantitativamente o biogs produzido; estudar a reduo de slidos volteis dos resduos orgnicos; avaliar a qualidade dos inculos utilizados no abastecimento dos biodigestores; caracterizar o efluente dos biodigestores quanto ao teor de slidos, qualidade sanitria e

    concentrao de cidos graxos volteis;

    avaliar a atividade metanognica nos biodigestores.

  • 5

    3. REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1. Processo de digesto anaerbia

    A digesto anaerbia um processo biolgico natural que ocorre na

    ausncia de oxignio molecular, no qual um consrcio de diferentes tipos de microrganismos

    interagem estreitamente para promover a transformao de compostos orgnicos complexos

    em produtos mais simples, resultando, principalmente, nos gases metano e dixido de carbono

    (TOERIEN et al., 1969; MOSEY, 1983; NOVAES, 1986; FORESTI et al., 1999).

    A transformao das macromolculas orgnicas complexas em CH4 e

    CO2 ocorre por vrias reaes sequenciais e requer a mediao de diversos grupos de

    microrganismos. Na Figura 1 apresentada uma representao esquemtica sugerida por

    diversos autores citados por FORESTI et al. (1999). Como pode ser observado na Figura 1, o

    processo de digesto anaerbia de material orgnico complexo desenvolve-se em quatro

    estgios principais: a hidrlise, acidognese, acetognese e metanognese, sendo que para

    cada estgio esto envolvidas diferentes populaes microbianas.

    Durante a hidrlise, o material orgnico particulado convertido em

    compostos dissolvidos menores. O processo requer a atividade de enzimas que so excretadas

    por bactrias fermentativas e que promovem a degradao de protenas a aminocidos, de

    carboidratos a acares solveis e de lipdios a cidos graxos de cadeia longa (C15 a C17) e

    glicerina (VAN HAANDEL & LETTINGA, 1994). Durante o tratamento anaerbio de

    diversos resduos, a velocidade da converso do material orgnico complexo em biogs

    limitada pela velocidade da hidrlise (SPEECE, 1983; SOTO et al., 1993; VAVILIN et al.,

    1996a; MATA-ALVAREZ et al., 2000).

  • 6

    Hidrlise

    Acidognese

    Acetognese

    Metanognese

    FIGURA 1. Sequncia de processos na digesto anaerbia de macromolculas complexas

    (Fonte: FORESTI et al., 1999)

    Na acidognese os compostos dissolvidos gerados na hidrlise so

    absorvidos nas clulas das bactrias fermentativas e excretados como substncias orgnicas

    simples (cidos graxos volteis, lcoois, cido ltico e compostos minerais como CO2, H2,

    NH3, H2S etc.). Entre as bactrias envolvidas na acidognese so encontradas espcies

    anaerbias estritas (a maioria) e facultativas. Estas so importantes na remoo de oxignio

    dissolvido presente no material em fermentao anaerbia, que poderia afetar negativamente

    o processo (VAN HAANDEL & LETTINGA, 1994).

    As espcies bacterianas participantes dos processos de hidrlise e

    acidognese so representadas por Acetivibrio cellulolyticus, Bacillus sp, Bacteroides

    succinogenes, Bifidobacterium sp, Butyrivibrio fibrisolvens, Clostridium, Eubacterium

    cellulosolvens, Megasphaera sp, Lachnospira multiparus, Peptococcus anaerobicus,

    Selenomonas sp, Staphylococcus sp (ZEHNDER, 1988).

    No passo seguinte, a acetognese, ocorre a converso dos produtos da

    acidognese em substratos para produo de metano: acetato, hidrognio e dixido de

    Material orgnico em suspenso Protenas, carboidratos, lipdios

    Aminocidos, acares

    cidos graxos

    Piruvato

    Outros

    cidos graxos

    Propionato

    Acetato

    Hidrognio

    Metano

  • 7

    carbono. Na digesto anaerbia de esgoto sanitrio, aproximadamente 70 % da demanda

    qumica de oxignio (DQO) originalmente presente convertida em cido actico e o restante

    da capacidade de doao de eltrons concentrado no hidrognio formado (VAN HAANDEL

    & LETTINGA, 1994).

    Considerando o estado de oxidao do material orgnico a ser digerido,

    a formao de cido actico pode ser acompanhada pela gerao de CO2 ou H2, sendo que o

    CO2 um produto da prpria metanognese. Nessas condies, ou seja, na presena de CO2 e

    H2, pode-se desenvolver a homoacetognese, que a reduo de dixido de carbono para

    cido actico pelo hidrognio (FORESTI et al., 1999). Entretanto, por razes termodinmicas,

    essa via metablica pouco provvel de acontecer, pois as espcies homoacetognicas so

    superadas pelas metanognicas utilizadoras de hidrognio (Zinder1, 1992 apud FORESTI et

    al., 1999).

    A acetognese , em geral, uma etapa termodinamicamente

    desfavorvel, ou seja, no ocorre espontaneamente, a menos que as espcies qumicas

    formadas (acetato e H2) sejam removidas do meio, deslocando o equilbrio da reao no

    sentido da formao desses produtos (FORESTI et al., 1999). As reaes envolvidas nesta

    etapa s so termodinamicamente favorveis quando a presso parcial de H2 no meio muito

    baixa (SPEECE, 1983; STAMS, 1994; KUS & WIESMANN, 1995; e SCHINK, 1997), as

    quais segundo FORESTI et al. (1999) e MASS & DROSTE (2000), devem ser de 10-4 e 10-3

    atm. para a converso de, respectivamente, propionato e butirato, que so importantes

    substratos durante a acetognese (VAVILIN & LOKSHINA, 1996; VOOLAPALLI &

    STUCKEY, 1999).

    Concentraes excessivas de H2 (> 10-4 atm) no so frequentes em

    reatores metanognicos, as concentraes mais comumente encontradas esto abaixo de 10-4

    atm (SPEECE et al., 1997).

    Para a manuteno de baixas presses parciais de H2 as espcies

    acetognicas estabelecem uma estreita relao de sintrofia com as utilizadoras de H2

    (SPEECE, 1983), sejam elas metanognicas hidrogenotrficas ou redutoras de sulfato

    (FORESTI et al., 1999).

    As espcies bacterianas envolvidas na acetognese incluem

    Acetobacterium woddii, Clostridium bryantii, Desulfovibrio sp, Desulfotomaculum sp,

    Syntrophomonas wolinii, Syntrophomonas wolfei, Syntrophus buswellii (ZEHNDER, 1988).

    1 ZINDER, S. H. Methanogenesis. In: LEDENBERG, J. (Ed.). Encyclopedia of microbiology. San Diego: Academic Press, 1992. v. 3, p. 81-96

  • 8

    No ltimo estgio da digesto anaerbia, a metanognese, ocorre a

    formao de metano a partir da reduo de cido actico pelas Archaea metanognicas

    acetotrficas (equao 1), ou a partir da reduo de dixido de carbono, pelas Archaea

    metanognicas hidrogenotrficas (equao 2), segundo as reaes:

    243 COCHHCOOCH ++ + (1) OHCHHHCOH 2432 34 ++ + (2)

    Embora a hidrlise seja limitante em alguns casos, a metanognese ,

    geralmente, o passo que limita a velocidade do processo de digesto anaerbia (VAN

    HAANDEL & LETTINGA, 1994), sendo que as metanognicas acetotrficas so as

    principais responsveis por este aspecto, uma vez que as metanognicas hidrogenotrficas

    crescem mais rapidamente (FORESTI et al., 1999).

    As reaes catalisadas pelas Archaea metanognicas so

    termodinamicamente favorveis em condies normais (FORESTI, 1994; SHINK, 1997), e a

    reao de reduo de CO2 mais favorvel que a reao de reduo do acetato.

    As espcies metanognicas constituem um grupo especial de

    microrganismos, de diferentes espcies, com diferentes formas celulares e que so

    filogeneticamente distintas dos microrganismos procariticos tpicos (NOVAES, 1986).

    Possuem uma parede celular sem cido murmico, que um constituinte do peptoglicano,

    presente nos demais procariotos. Consequentemente, so classificadas como membros do

    domnio Archaea (BROOCK et al., 1997). So microrganismos estritamente anaerbios,

    capazes de utilizar apenas determinados substratos (NOVAES, 1986; e STAMS, 1994). Na

    Tabela 1 so apresentados alguns gneros representantes das espcies metanognicas,

    aspectos de sua morfologia e o substrato que podem utilizar para a converso em biogs.

    Para a realizao de reaes, as Archaea metanognicas necessitam de

    alguns fatores especficos: a coenzima-M (Co-M) e os fatores F420, F430 e F342.

    A Co-M especfica das metanognicas e est relacionada aos passos

    finais da reduo de CO2 a metano (Taylor & Wolfe2, 1974, apud NOVAES, 1986)

    2 TAYLOR, C. D.; WOLFE, R. S. Structure and methylation of coenzyme M (HS, CH2CH2SO3). Journal of Biology Chemistry, v. 249, p. 4879-4885, 1974.

  • 9

    TABELA 1. Gneros representantes das espcies metanognicas, aspectos de sua morfologia

    e substrato utilizado para a converso em biogs.

    Gnero Morfologia Substrato

    Methanobacterium

    Methanobrevibacter

    Methanomicrobium

    Methanogenium

    Methanospirillum

    Methanoplanus

    Methanothermus

    Methanococcus

    Methanosarcina

    Methanothrix

    Methanolobus

    Methanococcoides

    Bastonetes longos/ filamentos

    Bastonetes curtos/cadeias

    Bastonetes curtos/ alguns flagelados

    Pequenos cocos irregulares

    Filamentos mveis

    Forma de prato

    Bastonetes

    Cocos irregulares, alguns mveis

    Aglomerados de cocos grandes

    Bastonetes/filamentos

    Cocos

    Cocos irregulares

    H2 + CO2, formiato

    H2 + CO2, formiato

    H2 + CO2, formiato

    H2 + CO2, formiato

    H2 + CO2, formiato

    H2 + CO2, formiato

    Somente H2 + CO2

    H2 + CO2, formiato

    Acetato, metilamina,

    metanol, H2 + CO2

    Somente acetato

    Metanol, metilamina

    Metanol, metilamina

    (Fonte: BROOCK et al., 1997)

    O fator F420 uma coenzima envolvida no transporte de eltrons e na

    reao da hidrogenase que ocorre no sistema de reduo da Co-M (Wolfe3, 1971, apud

    NOVAES, 1986). A F420 apresenta fluorescncia verde azulada em sua forma oxidada sob luz

    ultravioleta e pode, desta forma, ser utilizada para identificar colnias e indiretamente estimar a

    biomassa metanognica em sistemas anaerbios (FERREIRA et al., 1987).

    O fator F430 um composto de cor amarela, no fluorescente, com

    estrutura tetrapirrlica, que contm um tomo de nquel por molcula e provavelmente constitui

    o grupo prosttico da Co-M (Thauer4, 1981, apud NOVAES, 1986).

    O fator F342. uma coenzima derivada da pterina, fluorescente de

    colorao azul brilhante sob luz ultravioleta que foi encontrada por Gunsalus & Wolfe5 (1978)

    apud WOLFE (1991) aps o fracionamento de extrato de clulas por coluna cromatogrfica.

    3 WOLFE, R. S. Microbial formation of methane. In ROS, A. H.; WILKINSON, J. F. (Ed.). Advances in Microbiological Phisiology. New York: Academic Press Inc., 1971. V. 6, p. 107-146. 4 THAUER, R. K. Nickel tetrapyrroles in methanogenic bacteria: structure, function and biosynthesis. In: HUGHES et al. (Ed.). Anaerobic digestion. Proceedings of the second international symposium on anaerobic digestion held in Travemunde, Federal Republic of Germany, on 6-11 September, 1981. p. 37-43. 5 GUNSALUS, R. P. WOLFE, R. S. Chromophoric factors F342 and F420 of Methanobacterium thermoautotrophicum. Microbiology Letters, v. 3, p. 191-93, 1978.

  • 10

    Inicialmente nenhuma funo foi encontrada para este componente. Estudos posteriores

    indicaram que se tratava da tetrahidrometanopterina, cujos derivados formil, metenil, metileno e

    metil eram intermedirios com funo central na metanognese (WOLFE, 1991).

    Alm dos processos fermentativos que levam produo de biogs,

    podem se desenvolver outros processos no digestor anaerbio na presena dos oxidantes nitrato e

    sulfato (FORESTI et al., 1999). O nitrato reduzido para nitrognio molecular por meio do

    processo de desnitrificao, entretanto este processo pouco significante na prtica, pois o teor

    de nitrato normalmente baixo nos resduos a serem tratados (FORESTI et al., 1999).

    A reduo biolgica do sulfato em geral considerada como um processo

    indesejvel, uma vez que o material orgnico oxidado por esta via deixa de ser transformado em

    metano e gera o gs sulfdrico, que corrosivo e possui odor desagradvel, alm de ser txico

    para a metanognese (FORESTI et al., 1999). Alm disso, em ambientes metanognicos, a

    reduo de sulfato energeticamente favorecida em relao produo de metano a partir dos

    substratos H2 e acetato. Neste sentido, resduos com altas concentraes de sulfatos, sulfetos ou

    tiosulfatos apresentam especial problema no tratamento anaerbio, resultando em altas

    concentraes de gs sulfdrico (SPEECE, 1983).

    No tratamento de guas residurias ou lodos com metais pesados a

    reduo de sulfato pode ser vantajosa, uma vez que a presena de sulfeto pode contribuir para a

    estabilidade operacional do digestor, uma vez que a maioria dos sulfetos de metais pesados tem

    baixa solubilidade, reduzindo o teor de metais pesados e, consequentemente, a toxicidade

    exercida pelos mesmos sobre a atividade bioqumica dos microrganismos anaerbios (FORESTI

    et al., 1999)

    Todos os diferentes grupos de microrganismos que transformam material

    orgnico afluente tm atividades catablica (convertem material orgnico, que utilizado como

    fonte de energia, sendo transformado em produtos estveis) e anablica (transformam material

    orgnico que incorporado na massa celular). Desta forma, paralelamente liberao dos

    diferentes produtos de fermentao, ocorre a formao de novas clulas, das diferentes

    populaes microbianas no digestor (VAN HAANDEL & LETTINGA, 1994).

    VAN HAANDEL & LETTINGA (1994) ressaltaram dois pontos

    importantes relacionados aos diferentes processos desencadeados durante a digesto anaerbia:

    a) a remoo de material orgnico durante a fermentao cida se limita liberao de

    hidrognio. Somente cerca de 30 % do material orgnico afluente convertido em metano

    pela via hidrogenotrfica. Desta forma, uma condio necessria para a remoo eficiente de

  • 11

    material orgnico em um sistema de tratamento anaerbio que a metanognese acetotrfica

    se desenvolva adequadamente;

    b) A fermentao cida tende a provocar uma reduo de pH, devido produo de cidos

    graxos volteis e outros produtos intermedirios. Por outro lado a metanognese se

    desenvolver apenas quando o pH estiver prximo ao neutro. Portanto, se a taxa de remoo

    de cidos volteis por meio da metanognese no acompanhar a taxa de produo dos

    mesmos, pode surgir uma situao de instabilidade, gerando uma reduo adicional da

    atividade metanognica, que a etapa limitante da velocidade do processo de digesto

    anaerbia como um todo. Este problema pode ser evitado quando se mantm um equilbrio

    entre as fermentaes cida e metanognica, por meio da manuteno de uma capacidade

    metanognica alta e quando uma boa estabilidade do valor do pH estabelecida, proveniente

    de uma alta capacidade de tamponamento.

    Considerando o que foi exposto nota-se que o processo de tratamento

    anaerbio de resduos ocorre a partir de uma srie de transformaes bioqumicas envolvendo

    diferentes grupos de microrganismos que interagem estreitamente para promover essas

    transformaes. Neste sentido a avaliao qualitativa e quantitativa da biomassa presente no

    sistema de tratamento de fundamental importncia no apenas para o entendimento do

    processo, como tambm para alcanar melhor desempenho e estabilidade no tratamento de

    resduos.

    A manuteno de altas populaes metanognicas no sistema tem sido

    relatada como um fator crtico para uma desempenho estvel (INCE et al., 1995 e JAWED &

    TARE, 1999). Portanto, a avaliao quantitativa e qualitativa da biomassa metanognica de

    particular interesse para auxiliar a operao e controle de digestores anaerbios.

    Os mtodos utilizados para avaliao de biomassa em digestores

    anaerbios incluem a determinao dos slidos suspensos volteis (SSV), contagem de colnias,

    quantificao da coenzima F420 e avaliao da atividade metanognica especfica (AME),

    (PENNA, 1994).

    A quantificao de SSV um mtodo inadequado, uma vez que no

    permite a distino entre a populao microbiana e qualquer outro material orgnico (NOVAES,

    1986), alm de no fornecer nenhuma indicao da atividade da biomassa ativa presente na

    amostra ensaiada. A contagem de colnias um mtodo pouco prtico devido aos longos

    perodos de incubao necessrios a esta tcnica (NOVAES, 1986).

  • 12

    Tentativas de avaliao da populao metanognica tm sido feitas por

    meio da quantificao do fator F420, que uma coenzima exclusiva das metanognicas.

    Entretanto o contedo desta coenzima varia entre as diversas espcies metanognicas (De

    Zeeuw6, 1984, apud PENNA, 1994), tornando este mtodo pouco confivel para avaliao da

    biomassa.

    A avaliao da atividade metanognica especfica tem se tornado um

    mtodo atraente para determinar o desempenho das Archaea metanognicas, pois fornece

    informaes sobre grupos de metanognicas e/ou de algumas espcies, alm de informaes

    relativas velocidade da metanognese como um todo (DOLFING & BLOEMEN, 1985).

    3.1.1 Avaliao da atividade metanognica especfica

    A avaliao da atividade metanognica especfica consiste na

    determinao

    da taxa de produo de gs metano pela populao microbiana a partir de seus substratos

    especficos. Uma srie de metodologias so empregadas para a realizao deste teste. PENNA

    (1994) realizou uma ampla reviso das mesmas, de forma que neste trabalho sero destacadas,

    em linhas gerais, algumas delas.

    Os primeiros testes para avaliao da atividade metanognica foram

    feitos por De Zeeuw5 (1984) apud ARAJO (1995), e consistiam em medir a taxa de

    produo de metano de amostras por meio de um sistema de deslocamento de lquido, tipo

    frasco Mariotte. A carga orgnica e a concentrao de slidos suspensos volteis eram

    conhecidas. O substrato utilizado consistia em uma mistura de cidos (actico, propinico e

    butrico) ou na adio de apenas um cido, geralmente o actico. Solues de metais e

    nutrientes eram adicionadas s amostras ensaiadas com o objetivo de evitar limitaes

    nutricionais para a produo de metano.

    Na metodologia proposta por DOLFING & BLOEMEN (1985) a

    produo de metano era medida por cromatografia gasosa em amostras retiradas do volume

    livre de frascos de soro (frascos-reatores), nos quais o lodo era ensaiado. Utilizava-se uma

    seringa com trava de presso para que o gs amostrado se mantivesse na mesma presso do

    frasco-reator. Os substratos testados foram os cidos actico, propinico e butrico, que eram

    6 DE ZEEUW, W. J. Acclimatization of anaerobic sludge for UASB-reactor start-up. 1984. 157f. Doctoral Thesis Agricultural University Wageningen, The Netherlands, 1984.

  • 13

    adicionados em conjunto ou separadamente. Alm do substrato adicionava-se uma soluo

    tampo.

    Duborguier (1989) apud VAZOLLER (1989) props uma metodologia

    semelhante de DOLFING & BLOEMEN (1985), com a diferena que, neste caso, no era

    utilizada soluo tampo, nem soluo de nutrientes ou de metais. O resultado da atividade

    foi, ento, denominado, atividade metanognica especfica absoluta ou real, sendo obtida pela

    diferena entre a atividade metanognica aparente do substrato (frasco-reator com lodo e

    substrato) e a atividade do frasco controle (frasco-reator apenas com a amostra testada).

    JAMES et al. (1990) desenvolveram um mtodo simplificado a partir

    de uma adaptao de funcionamento do respirmetro de Warburg. Entretanto, um melhor

    desempenho deste mtodo dependia da automao do sistema de medio de gases e da

    otimizao do sistema de monitoramento do teste como um todo, como foi ressaltado pelos

    prprios autores. Neste sentido, o trabalho desenvolvido por Monteggia7 (1991) apud INCE et

    al (1995) e CHERNICHARO (1997), incorporando manmetros com sensores eltricos para o

    monitoramento contnuo da produo de biogs, foi um importante avano para o ensaio de

    atividade metanognica especfica (CHERNICHARO, 1997).

    Recentemente foi estabelecido no mbito do PROSAB (Programa de

    Pesquisa em Saneamento Bsico) um protocolo para o desenvolvimento do teste

    (CHERNICHARO, 1997). Foi sugerida a adio de soluo tampo e de nutrientes. O

    substrato utilizado como fonte de carbono foi o cido actico. A determinao da taxa de

    produo de metano pode ser feita por cromatografia gasosa ou por meio do deslocamento de

    lquido, em mini-manmetros ou transdutores de presso aps a passagem do biogs por uma

    soluo alcalina para reteno do CO2 presente no biogs.

    Outro aspecto a ser ressaltado para o teste de atividade metanognica

    especfica referem-se s unidades de medida utilizadas pelos diferentes autores, que divergem

    basicamente quanto medida de produo de metano (PENNA, 1994). Neste sentido, as

    diferentes unidades podem ser uniformizadas por meio de relaes estequiomtricas,

    tornando-se possvel a comparao entre elas. Cabe ressaltar, que para isso, necessrio que

    os volumes de metano medidos refiram-se s condies normais de temperatura e presso

    (CNTP) e que as atividades metanognicas medidas sejam as taxas especficas mximas de

    converso de substratos da biomassa presente na amostra ensaiada (PENNA, 1994).

    7 MONTEGGIA, L. The use of a specific methanogenic activity for controlling anaerobic reactors. 1991. Ph.D. tesis University of Newcastle, Tyne, 1991.

  • 14

    Independente da metodologia empregada para avaliao da atividade

    metanognica especfica, alguns aspectos podem influenciar o ensaio de forma que os

    resultados obtidos possam ser subestimados. Entre esses aspectos, ressaltam-se a relao entre

    a concentrao inicial de substrato e a concentrao inicial de biomassa (PENNA, 1994;

    MORENO et al., 1999), assim como o tipo de substrato utilizado.

    A concentrao de substrato no deve limitar a atividade metanognica

    seja por falta de alimento (INCE et al., 1995), seja por inibio quando em concentraes

    excessivas. No protocolo apresentado pelo PROSAB (CHERNICHARO, 1997) as relaes

    iniciais entre substrato e biomassa variaram de 0,4 a 1,0 g HAc-DQO g-1 SV, sendo que em

    ensaio para determinao da AME de um lodo anaerbio, a maior atividade foi alcanada com

    a relao 0,8 g HAc-DQO g-1 SV. No trabalho de INCE et al. (1995), a relao utilizada para

    o ensaio de AME foi de 0,46 g HAc-DQO g-1 SV para lodo de reator tratando gua residuria

    de cervejaria. DIEZ et al. (1999) estudaram taxas de carga orgnica iniciais variando de 0,31

    a 1,34 g HAc-DQO g-1 SV. Em estudo realizado sobre metodologias do teste de atividade

    metanognica especfica, PENNA (1994) utilizou diversas relaes iniciais entre substrato e

    biomassa para diferentes lodos e destacou que em funo do tipo de lodo e de sua atividade

    metanognica, deve ser pesquisada a relao tima entre a quantidade de substrato e biomassa

    inicial, que conduzam atividade metanognica especfica mxima durante o ensaio.

    Em relao ao tipo de substrato utilizado, verifica-se que em muitos

    trabalhos e metodologias a fonte de carbono utilizada ou sugerida foi apenas o cido actico

    (INCE et al., 1995; CHERNICHARO, 1997; KALYUZHNYI et al., 1998; DIEZ et al., 1999;

    MORENO et al., 1999). Em outros trabalhos (DOLFING & BLOEMEN, 1985; ARAJO,

    1995; e BORJA et al, 1996) tem sido utilizada uma mistura de H2/CO2. Entretanto,

    DOLFING & BLOEMEN (1985) destacaram que agitao vigorosa necessria para a

    obteno de resultados confiveis quando se utiliza essa mistura como substrato, e sugerem a

    substituio da mesma por formiato. Alguns estudos foram realizados utilizando-se o formiato

    como fonte de carbono, entre estes, pode-se destacar os trabalhos de ARAJO (1995),

    OLIVEIRA (1997) e LAY et al. (1998). Os cidos propinico e butrico foram tambm

    utilizados separadamente em alguns estudos (DOLFING & BLOEMEN, 1985; ARAJO,

    1995; LAY et al., 1998).

    A utilizao de cidos volteis individualmente interessante quando se

    objetiva a identificao de gneros de bactrias presentes no lodo, o estudo da degradao de

    cada substrato, assim como a determinao das taxas mximas de converso de cada um deles

    (ARAJO, 1995). Entretanto, quando se pretende uma anlise da atividade metanognica

  • 15

    mxima, a utilizao de uma mistura de cidos mais adequada (LIN et al., 1986), uma vez

    que propiciar a presena de substratos especficos de todas as espcies metanognicas

    presentes.

    3.1.1.1 Aplicao dos testes de atividade metanognica especfica

    A avaliao da atividade metanognica especfica de lodos anaerbios

    tem sido muito aplicada com a finalidade de se classificar o potencial da biomassa em

    converter substratos especficos em produtos finais, o metano e dixido de carbono. Este teste

    mostra-se como uma importante ferramenta para uma srie de aplicaes (CHERNICHARO,

    1997):

    a) como anlise de rotina para quantificar a atividade metanognica;

    b) para avaliar o comportamento da biomassa em relao a compostos inibidores;

    c) para determinar a toxicidade de determinados compostos presentes em efluentes lquidos e

    resduos slidos;

    d) para determinar o grau de degradabilidade de vrios substratos;

    e) para monitorar possveis modificaes na atividade do lodo aps longos perodos de

    operao de reatores;

    f) para determinar a carga orgnica mxima suportada por determinado tipo de lodo, a fim

    de acelerar a partida de sistemas de tratamento;

    g) para avaliar parmetros cinticos.

    Alguns dos inmeros trabalhos utilizando o teste de atividade

    metanognica so descritos brevemente a seguir.

    DOLFING & BLOEMEN (1985) utilizaram esse teste para o estudo da

    influncia sobre a atividade metanognica de diversos parmetros como substrato e pH, alm

    de avaliarem processos de inibio e toxicidade da digesto anaerbia por substncias como

    cloreto de sdio e amnia. Ainda com relao inibio e toxicidade, BORJA et al. (1996)

    avaliaram o efeito de diferentes concentraes de amnia sobre a biomassa por meio dos

    testes de atividade.

    SOTO et al. (1993) aplicaram o teste de atividade metanognica para

    estimar a carga orgnica inicial a ser aplicada ao lodo, determinar a atividade do lodo ao

  • 16

    longo do processo de operao do reator, avaliando no apenas a atividade metanognica, mas

    tambm a hidroltica e acidognica. A partir desse ensaio, os autores determinaram

    parmetros cinticos referentes aos estgios de hidrlise, acidognese e metanognese que

    caracterizam o processo anaerbio.

    INCE et al. (1995) determinaram a taxa de carga orgnica mais

    adequada durante a partida do reator utilizando o ensaio de atividade metanognica. Os

    pesquisadores KALYUZHNYI et al (1998), LAY et al. (1998), NOPHARATANA et al.

    (1998) e JAWED & TARE (1999) utilizaram o teste para monitoramento e determinao da

    biomassa em reatores anaerbios.

    No trabalho de ARAJO (1995) avaliou-se a influncia da estrutura

    populacional do biofilme na degradao dos cidos graxos volteis e, consequentemente, na

    produo de metano. Alm disso, determinou-se o comportamento da atividade metanognica

    do biofilme, frente s diversas fontes testadas ao longo do perodo de operao do reator.

    O teste de atividade metanognica tambm foi empregado por

    OLIVEIRA (1997) com a finalidade de avaliar a atividade metanognica do lodo em

    diferentes condies operacionais (carga orgnica e temperatura), em diferentes regies da

    manta de lodo e do lodo bruto e dos grnulos, separadamente, em reator anaerbio UASB

    tratando guas residurias de suinocultura.

    importante ressaltar que o ensaio de atividade metanognica

    especfica uma ferramenta interessante para o acompanhamento do desempenho do sistema,

    entretanto, apresenta limitaes quando se pretende comparar diferentes sistemas, em funo

    das particularidades dos lodos provenientes de diferentes plantas, assim como, das inmeras

    variaes nas metodologias para o ensaio.

    3.2. Fatores que interferem na digesto anaerbia

    O processo de digesto anaerbia pode ser influenciado por uma srie

    de fatores, favorecendo ou no a partida do processo, a degradao do substrato, o

    crescimento e declnio dos microrganismos envolvidos, a produo de biogs, assim como,

    podem determinar o sucesso ou a falncia do tratamento de determinado resduo. Entre esses

    fatores pode-se citar a temperatura, o pH, a presena de nutrientes, a composio do substrato,

    o teor de slidos totais, e como consequncia destes, a interao entre os microrganismos

    envolvidos no processo.

  • 17

    A temperatura um fator extremamente importante na digesto

    anaerbia, uma vez que influi na velocidade do metabolismo bacteriano, no equilbrio inico e

    na solubilidade dos substratos (FORESTI et al., 1999). O efeito da temperatura sobre o

    processo de digesto anaerbia tem sido estudado por diversos autores nas faixas psicroflica,

    abaixo de 20C (MASS & DROSTE, 1997; VARTAK et al.,1997; LOKSHINA & VAVILIN, 1999; MASS et al.,2000; e MASS & DROSTE, 2000), mesoflica, entre 20 e

    45C (TORRES-CASTILHO et al., 1995; BROUGHTON et al., 1998; CHEN & SHYU, 1998), e termoflica, entre 50 e 70C (ZTRK, 1993; LEPISTO & RINTALA, 1996). LUCAS JR. (1994) afirmou que a definio de uma temperatura

    operacional extremamente importante do ponto de vista biolgico e econmico, uma vez

    que a taxa de produo de biogs depende da temperatura. Biodigestores operando na faixa

    termoflica produzem maior quantidade de biogs em menor perodo quando comparados com

    aqueles operados na faixa mesoflica, resultando em menores tempos de reteno hidrulica

    (perodo em que o resduo permanece no interior do biodigestor), implicando em menor

    volume para o tratamento e, consequentemente, menores custos de implantao. Entretanto, o

    baixo custo da cmara de fermentao compensado pelos custos de aquecimento, uma vez

    que, geralmente, o gs produzido insuficiente para aquecer os resduos a serem tratados.

    Neste sentido, o tratamento na faixa termoflica torna-se interessante apenas quando o resduo

    a ser tratado encontra-se em temperatura mais elevada (LETTINGA et al., 1997).

    As Archaea metanognicas envolvidas no processo de digesto

    anaerbia constituem a populao mais sensvel a alteraes de pH, segundo SPEECE (1996)

    a operao do reator anaerbio deve ocorrer em pH entre 6,5 e 8,2 para evitar inibio da

    metanognese. Ainda segundo esse autor, uma operao adequada do reator em pH at 6

    possvel em determinadas condies.

    A disponibilidade de certos nutrientes essencial para o crescimento e

    atividade microbiana. Estudos sobre requerimentos nutricionais para o tratamento anaerbio

    apontam para um importante papel de ons inorgnicos, especialmente metais traos para a

    estimulao do metabolismo microbiano anaerbio. Segundo SPEECE (1983), a deficincia

    de ferro, cobalto e nquel foi a causa de resultados negativos no tratamento de efluentes

    industriais no passado.

    DAMIANOVIC (1992) em reviso de literatura sobre aspectos

    nutricionais em processos anaerbios fez referncias a uma srie de trabalhos que

    comprovaram a importncia desses micronutrientes na estimulao do processo, sendo que a

  • 18

    maioria desses trabalhos foi realizada em ensaios de crescimento de culturas de laboratrio. O

    nico metal trao testado em reatores de grande porte foi o ferro, com resultados bastante

    satisfatrios.

    O carbono, nitrognio e fsforo so essenciais para todos os processos

    biolgicos. A quantidade de N e P necessria para a degradao da matria orgnica presente

    depende da eficincia dos microrganismos em obter energia para a sntese, a partir de reaes

    bioqumicas de oxidao do substrato orgnico (FORESTI et al., 1999). A relao DQO:N:P

    de 500:5:1 parece ser suficiente para atender s necessidades de macronutrientes dos

    microrganismos anaerbios (SPEECE, 1996). O enxofre tambm considerado um dos

    nutrientes necessrios metanognese, e evidncias preliminares apontam para um elevado

    requerimento de sulfetos desses microrganismos (SPEECE, 1983). Os microrganismos

    assimilam enxofre na forma de sulfetos, que so originados a partir da reduo biolgica de

    sulfatos (constituinte comum a muitas guas residurias), (FORESTI et al., 1999).

    O nitrognio, embora essencial ao processo, pode tornar-se um fator

    inibitrio quando em altas concentraes na forma de amnia. As concentraes do on

    amnia (NH4+) e amnia livre (NH3) so ditadas pelo pH, com altos valores de pH a forma

    NH3 prevalece, e mais inibitria que a forma ionizada (MATA-ALVAREZ et al., 2000).

    BORJA et al. (1996) relataram a inibio no processo de produo de

    metano a partir de dejetos de bovinos quando a concentrao de amnia chegou a 5 g L-1, em

    reatores operados continuamente. A velocidade de produo de metano diminuiu 25 %

    quando 5 e 7 g-N L-1 foram adicionadas, em comparao com o controle, com 2 g-N L-1.

    Entretanto, os autores observaram que o processo no foi afetado com a concentrao de 4 g-

    N L-1, quando o aumento na concentrao de amnia foi gradual. Em reatores com

    concentraes de 6 e 7 g-N L-1, aps longo perodo de exposio, o processo alcanou a

    estabilidade, embora com baixa produo de metano. Os autores concluram que a

    instabilidade do processo devido a altas concentraes de amnia resultou no acmulo de

    cidos graxos volteis, os quais levaram a uma diminuio do pH, com consequente declnio

    na concentrao de amnia livre, explicando a habilidade do processo em alcanar a

    estabilidade em altas concentraes de amnia, com uma produo baixa, mas estvel de

    metano.

    A inibio do processo de digesto anaerbia por altas concentraes de

    amnia foi tambm associada temperatura na qual se desenvolve o processo. Na faixa

    termoflica a concentrao de amnia livre aumentou com a elevao da temperatura

    (HANSEN et al., 1998). Portanto, o tratamento por digesto anaerbia na faixa termoflica de

  • 19

    resduos com alto contedo de amnia ou com compostos que liberam rapidamente amnia

    deve ser conduzido com ateno especial, buscando-se a adaptao da biomassa microbiana

    ao resduo.

    O processo de digesto anaerbia tambm influenciado pela presena

    de outros compostos potencialmente txicos. No tratamento anaerbio de efluentes industriais

    a presena de alguns componentes prejudiciais aos microrganismos deve ser considerada.

    Dentre esses compostos destacam-se os metais pesados, solventes orgnicos, inibidores

    qumicos como o cloranfenicol, inibidores formados como produtos secundrios, como o

    cianeto, entre outros (SPEECE, 1983).

    No que se refere a resduos originados na produo animal, a

    administrao de antibiticos aos animais, o uso de desinfetantes e pesticidas pode influir

    negativamente sobre a populao microbiana, uma vez que esses compostos so encontrados

    em larga escala na propriedade rural e podem misturar-se aos dejetos aps a lavagem das

    instalaes.

    Outro aspecto a ser considerado no processo de digesto anaerbia e de

    extrema importncia a concentrao de cidos graxos volteis (AGV), que so produtos

    intermedirios da digesto anaerbia. Altas concentraes de AGV podem estar relacionadas

    instabilidade nas inter-relaes estabelecidas entre as diferentes populaes anaerbias.

    Para que a digesto anaerbia ocorra normalmente, a concentrao de

    AGV deve estar em equilbrio com a alcalinidade do sistema (LIN et al., 1986). A inibio do

    processo por cidos graxos volteis est associada ao pH. Baixos valores de pH esto

    geralmente associados a altas concentraes de cidos graxos volteis (KUS & WIESMANN,

    1995), e, consequentemente, falncia do processo.

    Um sistema de tratamento anaerbio operando de forma satisfatria

    apresenta no seu efluente baixas concentraes de cido actico, e s vezes, pequenas

    quantidades de outros cidos. Em sistemas instveis h acmulo de cidos actico,

    propinico, butrico, valrico e isovalrico (SUMMERS & BOUSFIELD, 1980; GOURDON

    & VERMANDE, 1987; HILL et al., 1987; HILL, 1989). A presena desses cidos no efluente

    em propores semelhantes ao afluente indica que as populaes microbianas que

    metabolizam esses cidos esto em desequilbrio, devido baixa concentrao de determinada

    espcie (HILL, 1987).

    O incio de operao de um biodigestor constitui um aspecto crucial na

    determinao do sucesso no tratamento de resduos. O ponto chave na partida do processo

    est relacionado com a existncia de uma populao microbiana adaptada ao resduo em

  • 20

    questo, que pode ser suprida por microrganismos presentes no prprio resduo (inculo

    natural), ou pode ser introduzida no biodigestor por meio da utilizao de inculos de outras

    fontes.

    Uma avaliao quantitativa e qualitativa do potencial microbiano do

    resduo, assim como do inculo a ser utilizado, importante no sentido de reduzir ao mnimo

    o perodo de adaptao e acelerar o processo de digesto anaerbia.

    Estudos feitos por LUCAS JR. et al. (1993) sobre a utilizao de inculo

    adicional no desempenho de biodigestores operados com resduos de frangos de corte

    demonstraram o aumento do potencial e antecipao da produo de biogs quando se utilizou

    este inculo, independente do teor de slidos totais. TORRES CASTILLO et al. (1995)

    observaram melhor desempenho de biodigestores com a utilizao de dejetos de bovinos e de

    sunos como inculo. Outros trabalhos enfocando a utilizao de inculo como forma de

    melhorar o desempenho de biodigestores incluem AUBART & FAUCHILLE (1983),

    CALLANDER & BARFORD (1983), TRITT & KANG (1991), CHEN & HASHIMOTO

    (1996), e BROUGHTON et al. (1998).

    Outro aspecto importante a ser observado na digesto anaerbia o teor

    de slidos totais (ST) do substrato. LUCAS JR. et a.l. (1993) encontraram melhor produo

    de biogs em biodigestores modelo batelada quando o teor de ST do substrato era menor, 8 %,

    em relao a um teor de ST de 16 % e a presena de inoculo adcional antecipou o pico de

    produo de biogs nos dois casos (8 e 16 % de ST). Outros estudos enfocando a influncia

    da concentrao de ST sobre o processo de digesto anaerbia incluem AUBART &

    FAUCHILLE (1983) e ITODO & AWULU (1999).

    3.3. Tratamento anaerbio de resduos

    O processo de digesto anaerbia hoje uma tecnologia bem

    estabelecida para o tratamento de uma ampla variedade de resduos gerados pelas atividades

    humanas (CALLAGHAN et al., 1999). Segundo LETTINGA (1997) o tratamento anaerbio

    de resduos pode ser considerado como principal mtodo da concepo de proteo ambiental

    e preservao de recursos. Esta concepo baseia-se no mnimo uso de energia e gua, alm

    de mximo reuso dos produtos gerados aps o tratamento. Neste sentido, resduos gerados

    pelas diferentes atividades humanas podem tornar-se uma importante fonte de gua,

  • 21

    fertilizantes, condicionadores do solo e tambm, fonte de energia (VAN LIER & LETTINGA,

    1999).

    Comparando os mtodos aerbios tradicionais ao processo anaerbio de

    tratamento de resduos, podem ser destacadas diversas vantagens, relatadas por vrios autores

    (TRITT et al., 1991; FORESTI, 1994; PERLE et al., 1995; VAN HORN et al.,1994;

    TORRES-CASTILLO et al., 1995; LETTINGA, 1996; VARTAK et al., 1997; DIEZ et al.,

    1999; VAN LIER et al, 1999; ZEEMAN et al., 1999; MATA-ALVAREZ et al., 2000):

    a) baixo consumo de energia, por no exigir a introduo forada de oxignio no

    meio;

    b) baixo custo de investimento;

    c) requerimento de pequena rea para implantao;

    d) baixa produo de lodo, estimada como sendo inferior a 20 % daquela apresentada

    por processos aerbios convencionais;

    e) limitado impacto ambiental;

    f) possibilidade de recuperao e utilizao do gs metano como combustvel;

    g) possibilidade de utilizao do efluente como biofertilizante;

    h) alta eficincia de tratamento;

    i) possibilidade de aplicao de altas taxas de carregamento volumtrico nos sistemas

    anaerbios modernos;

    j) reduo da emisso atmosfrica de metano e componentes com odor pelos

    resduos;

    k) possibilidade de preservao dos organismos anaerbios, sem alimentao por

    longos perodos, sem que haja deteriorao de sua atividade.

    As principais desvantagens esto relacionadas sensibilidade do

    processo a mudanas das condies ambientais. A biodigesto anaerbia depende muito mais

    de mecanismos reguladores intrnsecos que de controles externos. Esses mecanismos

    autoreguladores decorrem das interaes entre os diversos grupos microbianos que participam

    do processo com funes distintas e especficas, capazes de manter o pH e o potencial redox

    do sistema, no sentido de otimizar a metanognese (FORESTI, 1994).

    O processo de digesto anaerbia vem sendo amplamente utilizado para o tratamento de uma srie de resduos, notadamente de esgoto sanitrio. Entretanto outros resduos, incluindo aqueles que apresentam caractersticas que poderiam prejudicar a digesto

  • 22

    anaerbia, como presena de componentes txicos e falta de nutrientes vm sendo estudados e seu tratamento por esse sistema tem se tornado possvel por meio da co-digesto com outros resduos que minimizem o efeito txico de determinados compostos ou que supram a carncia de nutrientes (ANGELIDAKI et al., 1997; CALLAGHAN et al., 1999; WIEGANT et al., 1999). Na Tabela 2 so apresentados exemplos de diversos resduos que vem sendo estudados e apresentam potencial para o tratamento anaerbio, seja como substrato nico ou por meio da co-digesto. TABELA 2. Exemplos de alguns resduos com potencial para o tratamento por digesto

    anaerbia.

    Substrato Temperatura de operao

    Referncia

    Resduos de aves de postura Mesoflica AUBART & FAUCHILLE (1983)

    Efluente de leiteria Mesoflica PERLE et al. (1995) Palha de cevada Mesoflica TORRES-CASTILLO et al.

    (1995)

    Esgoto sanitrio Psicroflica LETTINGA (1996) Efluente de indstria de

    processamento de alimentos e dejetos de bovinos

    Mesoflica

    MADHUKARA et al. (1997)

    Efluente de fbrica de processamento de azeite de oliva e dejetos de bovinos

    Termoflica ANGELIDAKI et al. (1997)

    Resduos de sunos Psicroflica Mesoflica

    MASS & DROSTE (1997) PLAIXATS et al. (1988)

    Resduos de bovinos Psicroflica VAVILIN et al. (1998) VARTAK et al. (1997)

    Carcassas de aves Mesoflica e termoflica

    CHEN &SHYU (1998)

    Resduos slidos municipais Mesoflica NOPHARATANA et al.(1998) Resduos de bovinos de corte Mesoflica GARCA-OCHOA et al.(1999) Efluente de abatedouro Mesoflica BATSTONE et al.(1997) e (2000)

    e NEZ & MARTNEZ (1999)

    Efluente de curtume e esgoto domstico

    Mesoflica WIEGANT et al. (1999)

    Frao orgnica de resduos slidos municipais e dejetos de bovinos

    Mesoflica MASS et al. (2000) CALLAGHAN et al. (1999)

    Resduos de frangos de corte Mesoflica SANTOS (1997) e (2001)

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    Por meio da digesto anaerbia obtm-se a remoo efetiva de

    componentes orgnicos biodegradveis, levando mineralizao e liberao de compostos

    como NH4+, PO4-3, S-2, que podem, se necessrio, ser removidos em ps-tratamento

    (LETTINGA, 1996). Como o tratamento anaerbio basicamente um processo de

    mineralizao, mtodos de ps-tratamento (biolgicos ou fsico-qumicos) podem ser

    requeridos para melhorar as condies do resduo tratado para reuso e/ou emisso.

    3.3.1. Resduos da avicultura e suinocultura

    Os resduos gerados na produo animal constituem-se em substratos

    complexos contendo matria orgnica particulada e dissolvida como polissacardeos, lipdios,

    protenas, cidos graxos volteis, elevado nmero de componentes inorgnicos, bem como

    alta concentrao de microrganismos patognicos, todos de interesse na questo ambiental.

    O poder poluente dos dejetos animais extremamente alto, face ao

    elevado nmero de contaminantes que possui, cuja ao individual ou combinada, representa

    uma fonte potencial de contaminao e degradao do ar, dos recursos hdricos e do solo.

    Estes fatos vm exigindo a fixao de parmetros de emisso cada vez mais rigorosos pela

    legislao ambiental, visando a preservao dos recursos naturais, do conforto e da sade

    humana.

    Os nutrientes e a matria orgnica contidos nos dejetos animais

    constituem componentes naturais do ambiente e so, na verdade, recursos a serem reciclados

    nos ecossistemas (VAN HORN et al., 1994). Entretanto, quando esses nutrientes encontram-

    se em excesso nos sistemas possuem efeitos altamente deletrios.

    ATKINSON & WATSON (1996) relacionaram os impactos ambientais

    da produo animal aos seguintes provveis fatores:

    a) balano entre as produes de diferentes animais e as prticas utilizadas para a criao de

    cada um deles;

    b) potencial existente para a reciclagem de resduos e para a reduo de entrada de

    componentes nos vrios sistemas de produo animal;

    c) possibilidade de integrao da produo animal a sistemas agrcolas mais completos;

    d) impacto da criao de a