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VI Reunión de Antropología del Mercosur GT 29 Políticas públicas y antropología en las áreas de Derechos Humanos, Seguridad Pública y Comunidades Coordenadoras: Ana Paula Mendes de Miranda e Maria Victoria Pita
AVALIAÇÃO DO TRABALHO POLICIAL NOS REGISTROS DE OCORRÊNCIA E NOS INQUÉRITOS REFERENTES A HOMICÍDIOS DOLOSOS CONSUMADOS EM
ÁREAS DE DELEGACIAS LEGAIS
Ana Paula Mendes de Miranda, Doutora em Antropologia Social (USP), Diretora-Presidente do Instituto de Segurança Pública (ISP), Professora da
Universidade Candido Mendes e do Centro Universitário Bennett. Contato: [email protected] / [email protected]
Marcella Beraldo de Oliveira, Bacharel em Ciências Sociais (UNICAMP) e em Direito (PUC – Campinas) e Mestranda em Antropologia Social (UNICAMP) Contato: [email protected]
Vívian Ferreira Paes, Bacharel em Ciências Sociais (UENF) e Mestranda em Sociologia e Antropologia (UFRJ)
Contato: [email protected] Eliane Santos da Luz,
Bacharel em Ciências Sociais (UFRJ) Contato: [email protected]
Marcos Vinícius Moura Silva, Graduando em Ciências Sociais (UFF)
Contato: [email protected] Wilson Santos de Vasconcelos
Bacharel em Ciências Sociais (UFF) Contato: [email protected]
RESUMO
A pesquisa tem como objetivo avaliar as características do processo de registro e investigação da polícia do município do Rio de Janeiro em casos de homicídios dolosos. Pretende-se a partir de um exame sistemático de uma amostra de 440 registros de ocorrência e das entrevistas com os agentes e autoridades policiais, avaliar os indicadores de êxito para os casos de homicídio em cinco unidades integrantes do Programa “Delegacia Legal”, assim como verificar como é percebido o fluxo do trabalho da organização policial. Sendo o homicídio doloso o crime mais grave contra a vida e considerado um dos crimes que demandam maior investigação por conta da polícia, pretendemos que este estudo permita diagnosticar como determinadas práticas policiais informam determinadas formas de tradução deste delito por parte dos seus agentes. O presente estudo foi facilitado pela forma informatizada de disponibilização dos registros.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa iniciou-se em maio de 2005 e está sendo realizada no âmbito do
Instituto de Segurança Pública (ISP), autarquia vinculada a Secretaria de Estado de
Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, com recursos da Secretaria Nacional de
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Segurança Pública (SENASP). Trata-se de uma avaliação preliminar do Programa
Delegacia Legal, implantado a partir de 1999, com o objetivo de propor uma
reestruturação dos processos de trabalho nas unidades da Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro.
Antes de passarmos a apresentação de resultados preliminares da pesquisa,
consideramos importante discutir algumas questões metodológicas relevantes para a
análise de políticas públicas, comparando os enfoques da Ciência Política e da
Antropologia.
Concebida como uma sub-área da Ciência Política no Brasil, o tema das políticas
públicas tem despertado cada vez mais o interesse de outras Ciências Sociais, o que pode
estar diretamente relacionado às modificações recentes da sociedade brasileira, em
especial, a redemocratização a partir da década de 1980 e as propostas de reforma do
Estado na década de 1990.
As diversas abordagens da Ciência Política acerca das políticas públicas (cf.
Arretche, 2003; Faria, 2003; Frey, 2000; Reis, 2003; Souza, 2003), têm se caracterizado
por:
• Uma abundância de estudos setoriais, em especial estudos de casos, sem um
aprofundamento analítico;
• Um escasso debate acadêmico específico sobre as políticas públicas;
• Uma proximidade com os órgãos governamentais, provocando o risco de gerar
trabalhos normativos e uma pauta “obrigatória” de pesquisas;
• Um predomínio de estudos sobre políticas públicas municipais e/ou nacionais, em
especial de governos geridos pelo Partido dos Trabalhadores (PT);
• Insuficientes análises sobre as políticas estaduais, o que poderia ser esclarecedor na
discussão sobre o federalismo no país;
• Um predomínio de temas de pesquisa relacionados às formas de participação
popular na decisão sobre políticas sociais;
• Uma concentração das análises nos atores que elaboram as políticas públicas;
• Poucos estudos que privilegiem a burocracia, grupo fundamental na análise porque
implementa as políticas públicas.
Considerando que o tema das políticas públicas constitui-se numa área propositiva,
não devemos cometer o erro de considerá-lo um assunto específico de um determinado
campo do conhecimento. Ao contrário, o nosso esforço será o de demonstrar como a
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antropologia pode, e deve, contribuir para a formulação de uma agenda de pesquisa em
políticas públicas. Neste caso, enfocando prioritariamente as temáticas da segurança
pública, dos direitos humanos e comunidades, que servirão como referencial para o Brasil
e para os demais países da América Latina, marcados pelo desafio da construção de
políticas públicas democráticas.
As abordagens antropológicas do Estado
A Antropologia Política caracterizou-se durante o período de sua formação por
analisar as sociedades ditas “primitivas”, delimitando o seu objeto na oposição que
distribui as formações sociais entre aquelas com Estado e sem Estado. Embora esta
oposição tenha marcado a Antropologia no que se refere ao estudo do governo e do poder,
a validade dessa classificação é questionada por dois antropólogos franceses. Georges
Balandier (1969) considerava que esta era uma oposição enganosa, pois criaria um corte
falsamente epistemológico. Para ele, a Antropologia Política examinava sociedades
“arcaicas”, onde o Estado não estava nitidamente constituído e sociedades em que o
Estado existe sob configurações diversas. Opinião que é compartilhada por Marc Abélès
(1990), para quem o modo como foi tratada a temática da origem do Estado pela tradição
antropológica conduziu a um problema – como negar totalmente o Estado quando o
objeto da antropologia coincidia com um conjunto de formas sócio-políticas, distintas,
mas delimitadas, cada qual a seu modo, no espaço e no tempo. A maior crítica deste autor
é direcionada à expressão de Pierre Clastres, “sociedade contra o Estado”, que julga
extremamente polêmica. Marc Abélès afirma ainda que a focalização do não-Estado e a
transformação do Estado num espectro a se conjurar é uma posição ideológica, e também
uma estratégia de construção da disciplina que afastou assim os “invasores”, cientistas
políticos e sociólogos, de seu terreno (as sociedades exóticas). Salienta ainda que a
antropologia política não poderia cair na tentação de se limitar a construir tipologias,
como a Ciência Política, mas deveria voltar-se para compreender a dinâmica do poder,
principalmente, nas sociedades políticas contemporâneas.
Atualmente, a questão que se coloca para a Antropologia Política é a da
identificação das condições dinâmicas que estão subjacentes à ordem social, ou seja, trata-
se de apreender a dinâmica das estruturas tanto quanto o sistema de relações que as
constituem, considerando as incompatibilidades, as contradições, as tensões e o
movimento inerente a todas as sociedades. Assim, os estudos antropológicos
contemporâneos abarcam um amplo campo de pesquisa, onde se destaca a análise de
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Estados e suas instituições, reconhecendo-se que as idéias e os conceitos fundamentais do
Iluminismo (‘liberdade’, ‘bem-estar’, ‘direitos’, ‘soberania’, ‘representação’,
‘democracia’), que fundamentaram a criação do Estado Moderno na Europa, foram
construídos com uma lógica interna, que presumia um determinado relacionamento entre
a interpretação, a representação e a esfera pública. Porém, a difusão desses conceitos pelo
resto do mundo, a partir do século XIX, alterou a coerência interna que unia os termos,
possibilitando uma sinopse política estruturada livremente, através da qual os diversos
estados nacionais organizaram a sua cultura política (Appadurai, 1994).
Assim, a análise antropológica tem se constituído pelo confronto entre as diversas
instituições estatais, não se limitando à mera diferenciação entre as organizações
tradicionais ou modernas, ou a uma gênese das formas jurídicas. Ao contrário dos
cientistas políticos, que se preocupam com a análise das instituições políticas, no sentido
da luta pelo controle das posições de tomada de decisões, o antropólogo tem buscado
compreender como as instituições e/ou os governos atingem seus propósitos públicos, o
que tornou vitalmente importante a distinção entre as práticas de implementação das
decisões políticas e as práticas da rotina administrativa.
O estudo comparativo das instituições estatais tem sido complementado pelas
análises da Antropologia Jurídica (Shirley, 1987), pois ao analisarmos os sistemas
políticos de uma sociedade estamos tratando também dos seus sistemas jurídicos, como
dizia Radcliffe-Brown (cf. Fortes & Evans-Pritchard, 1981). A principal contribuição da
Antropologia tem sido no sentido de ampliar o entendimento dos modos como as regras
de controle da ordem social são definidas pelos diferentes grupos, pelo modo como
expressam os conflitos e as formas pelas quais esses conflitos são administrados.
Antropologia e políticas públicas
No Brasil, a análise de políticas públicas pela Antropologia ainda não se constituiu
como um campo temático, porém já se pode falar de avanços, principalmente devido à
produção de laudos antropológicos para questões judiciais (Silva, Luz & Helm,1994),
geralmente voltados para a discussão acerca de direitos de minorias étnicas, o que
resultou em um protocolo firmado entre a Associação Brasileira de Antropologia e o
Ministério Público Federal, na década de 1980.
Pretendemos neste artigo alcançar uma perspectiva mais ampla, considerando
como a antropologia pode contribuir para a avaliação de políticas públicas.
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Em primeiro lugar, destacamos o foco na análise empírica. A etnografia em seus
moldes clássicos permite o questionamento das práticas daqueles que são responsáveis
pela implementação e execução das políticas públicas, destacando-se a dimensão
subjetiva das ações, geralmente deixada em segundo plano. No entanto, é preciso salientar
que o enfoque conjuntural, a partir dos casos analisados, deve possibilitar uma visão
estrutural das ações governamentais, a fim de que possamos apreciar seus impactos e
deduzir conseqüências futuras.
A descrição e a análise das interações sociais, que se constituem a partir da
implantação de uma política pública, possibilita a compreensão das conquistas e dos
obstáculos que surgem a partir da intervenção do poder público. Há que se ressaltar que as
resistências a uma dada política pública não são apenas sinais do fracasso da mesma, ao
contrário, podem servir como indicadores fundamentais das mudanças que estão
ocorrendo no grupo. Esta dimensão é reveladora do processo de institucionalização que se
dá mediante a padronização de comportamentos, o que será exemplificado com a análise
do trabalho policial.
Para tanto é importante que se concentre a análise na natureza do problema que a
política pública pretende solucionar. Isso parece óbvio, mas não é. É um erro muito
comum esperar que um programa/projeto transforme radical e magicamente a realidade.
Aliás, este erro é recorrente em análises de projetos voltados para a temática da segurança
pública e direitos humanos.
Um outro ponto importante diz respeito aos cuidados necessários para o uso de
métodos comparativos e os riscos da relativização radical, bem como a importância das
análises quantitativas e qualitativas de políticas públicas. A avaliação quantitativa permite
mensurar a eficiência de uma ação, ou seja, pode-se testar a relação entre o esforço
empregado na implementação de uma dada política e os resultados alcançados, bem como
medir a eficácia de uma política, na comparação entre as metas previstas e as metas
alcançadas. A avaliação qualitativa permite explorar a percepção que os indivíduos
envolvidos, direta ou indiretamente, na proposta têm acerca das deficiências e melhorias,
possibilitando a observação da efetividade da política pública, no que se refere a relação
entre os objetivos definidos e os impactos na mudança das condições sociais do grupo
(Rico,1998).
Neste artigo pretendemos avaliar o trabalho da Polícia Civil acerca dos Registros
de Ocorrência e dos Inquéritos referentes a homicídios dolosos consumados em áreas da
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capital do Estado do Rio de Janeiro, buscando enfocar a dimensão da efetividade do
Programa Delegacia Legal.
Consideramos que certas práticas e percepções policiais estão firmemente
enraizadas na sua cultura, isto é, formam uma lógica que parece ser natural e inerente ao
sistema. Interessa, portanto, descontruir e desnaturalizar essas práticas, o que possibilita a
discussão em torno da avaliação de propostas de mudança e da possibilidade mudança
dessas ações policiais.
Seguimos a perspectiva epistemológica enunciada por Geertz (1997), que indica
que o empreendimento antropológico deve voltar-se à compreensão das formas como os
“nativos” percebem o contexto em que se inserem. Por isso, no que diz respeito à
reestruturação do trabalho policial inaugurada pelo Programa Delegacia Legal,
pretendemos analisar o que os policiais fazem, como justificam o que fazem, bem como
verificar as suas reações a esse programa de governo
Para atingir o objetivo proposto optamos por duas formas de abordagem:
a) selecionamos e analisamos uma amostra de 395 Registros de Ocorrência e
inquéritos de homicídios dolosos;
b) realizamos 42 entrevistas com inspetores e delegados de cinco unidades de
Delegacias Legais na capital com um roteiro orientador das discussões.
As cinco unidades policiais selecionadas para a pesquisa foram as seguintes: 6ª DP
(Cidade Nova/1ª AISP); 12ª DP (Copacabana/19ª AISP); 20ª DP (Vila Isabel/6ª AISP);
21ª DP (Bonsucesso/22ª AISP); e, 34ª DP (Bangu/14ª AISP). Estas delegacias foram
escolhidas de acordo com uma avaliação do padrão de casos de homicídio registrados no
período de 2000 a 2003 conforme a distribuição nas Áreas Integradas de Segurança
Pública (AISP). A AISP é um projeto de correspondência geográfica entre a área de um
batalhão da Polícia Militar (responsável pelo policiamento ostensivo) e uma ou mais
circunscrições de delegacias da Polícia Civil (responsável pela polícia judiciária) contidas
nessa área. Essa reformulação pressupõe a responsabilidade compartilhada no
planejamento, coordenação, controle e avaliação permanentes das estratégias e ações da
Secretaria de Segurança Pública. Pelo ranking do número de vítimas de homicídio no
Estado do Rio de Janeiro, as delegacias analisadas ocupam as seguintes colocações: 34a
DP - 5o lugar; 21a DP - 9o lugar; 6a DP - 29o; 20a DP - 60o lugar; 12a DP - 87o lugar.
A coleta dos dados dos registros e inquéritos realizou-se por meio do Sistema de
Controle Operacional (SCO) das Delegacias Legais através das senhas de acesso
disponibilizadas pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). O Sistema de Controle
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Operacional (SCO) é o sistema através do qual são computadas e administradas todas as
informações pertinentes aos Registros de Ocorrência, Inquéritos policiais e rotinas
operacionais das delegacias incluídas no Programa Delegacia Legal. As informações
compiladas no banco de dados da pesquisa são referentes ao dia em que foram coletadas,
visto que o SCO fornece informações da atuação policial em tempo real, sendo a todo o
momento atualizado.
O ano escolhido para a análise dos registros foi o de 2002, porque neste ano
poderíamos encontrar casos já elucidados. Ao mesmo tempo, não é um ano muito
próximo da implementação do Programa Delegacia Legal, que ocorreu em 1999, o que
torna possível a análise do trabalho investigativo da polícia. É bom lembrar ainda que o
ano de 2002 foi marcado por uma interrupção neste Programa devido a mudança de
governo, durante os meses de abril a dezembro, enquanto durou a administração da
governadora Benedita da Silva. Nesse sentido, a escolha desse ano para análise também
está vinculada a possibilidade de destacar algumas características da influência que
distintas orientações políticas podem produzir na atividade policial.
O Programa Delegacia Legal
Com o objetivo de romper com os modelos e práticas que tradicionalmente eram
levadas a cabo pela polícia fluminense foi proposto um programa de reformas para a
Polícia Civil, no Governo de Anthony Garotinho, em 1999, intitulado Programa
Delegacia Legal. Nesta administração, iniciou-se a transformação das delegacias
convencionais em “legais”, e o projeto tem sido continuado pelo governo atual (Rosinha
Garotinho), de modo que em setembro de 2005, 86 das 121 delegacias distritais e
especializadas do Estado já fazem parte do Programa Delegacia Legal.
O Programa Delegacia Legal definiu uma nova forma de trabalho policial no que
diz respeito aos trâmites da investigação policial, paralelamente a uma reestruturação
administrativa e operacional nas delegacias. O termo “legal” foi incorporado ao nome do
programa para caracterizar uma dupla dimensão: as ilegalidades cometidas anteriormente
pela instituição e a idéia de uma coisa boa, “legal”, tal como é falado na gíria.
As principais transformações empreendidas dividem-se principalmente no
seguinte:
1) A reforma arquitetônica: aboliu a carceragem existente nas delegacias para que
os policiais não se ocupassem da guarda de presos; padronizou as fachadas e as
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dependências internas das delegacias para que os policiais trabalhem em um ambiente
aberto, no qual a população poderia identificar uma instituição transparente ao público.
2) A implementação de uma nova forma de gestão dos recursos policiais, onde os
profissionais que ficam no balcão de atendimento não são policiais, e sim estudantes das
áreas de ciências humanas, são eles que devem fazer o primeiro atendimento ao público e
encaminhar ao policial que irá atendê-lo e registrar a ocorrência. Há também uma nova
forma de organização do trabalho: antes três policiais ficavam em momentos distintos
responsáveis pela investigação (modelo de trabalho nas delegacias tradicionais), agora o
inspetor se torna responsável pelos casos que atende, devendo registrá-lo e também
conduzir sua investigação. Com isto o Programa buscou pôr fim as divisões em grupos –
setores internos responsáveis, por exemplo, por roubos e furtos, homicídios, entorpecentes
etc - dentro das delegacias. Estes grupos não caracterizavam um trabalho especializado,
mas sim núcleos que administravam de forma particularizada a informação. Esta ação
possibilitou um maior controle das atividades dos policiais, o que provocou muita
resistência, como foi possível observar durante a pesquisa.
3) Os procedimentos das Delegacias Legais são coletados e processados sob uma
nova sistemática de registro de ocorrência, em que todos os procedimentos devem ser
informatizados e feitos diretamente no computador, em formulários online com
terminologias predefinidas. Tradicionalmente, os espaços para o preenchimento de
características físicas dos envolvidos nos Registros de Ocorrência, por exemplo, eram
preenchidos de forma livre. Agora aumentou a padronização, o policial deve escolher uma
opção dentre as oferecidas pelo Programa no Sistema de Controle Operacional.
4) O Programa pretendeu, com a padronização, impor uma mudança
comportamental, que se tentou alcançar mediante cursos de capacitação para os policiais,
para que aprendessem a manusear os novos instrumentos disponíveis. Ressalta-se ainda
que os policiais que seguem os cursos recebem uma bolsa no valor de R$ 500,00. Todos
os procedimentos da delegacia estão, agora, socializados em uma rede que liga todas as
delegacias inseridas no Programa Delegacia Legal com o objetivo de valorizar a
transparência e controle das atividades policiais.
5) Visando à busca de aperfeiçoamento, tanto do trabalho policial quanto dos
processos de formação/capacitação, são realizadas atividades de monitoramento policial
por parte do Grupo Executivo do Programa de Delegacia Legal, desde 1999 – ano de
implementação do Programa - com intuito de analisar o trabalho dos agentes e autoridades
policiais mediante a varredura dos dados do sistema.
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A seguir, pretendemos destacar alguns pontos específicos dessa reforma da polícia
que parecem influenciar na maneira como os policiais desempenham suas funções.
Classificações do Registro de Ocorrência: primeira “reconstrução” do evento
O Programa Delegacia Legal propôs uma padronização da classificação das
ocorrências, construindo uma tabela com os detalhamentos possíveis dos delitos. Essa
prática inseriu-se na lógica de que, quanto mais detalhada for a circunstância do crime em
um primeiro momento, melhor será desenvolvido o trabalho policial no processo de
elucidação. Além disso, houve a preocupação de que esse detalhamento siga um padrão
para toda a Polícia Civil. É interessante notar a forma como os policiais utilizam essas
classificações quando se trata de um “evento morte”, traduzido ou tipificado como um
crime de homicídio doloso.
Os policiais entrevistados apontaram como fundamental para a classificação do
“evento morte” a ida ao local do fato e a preservação do mesmo. A partir desse contato
visual, eles poderiam verificar a existência de sinais de morte violenta. Se o local está em
desalinho, mas não encontrarem indício algum que permita tipificar a morte como
homicídio, eles classificam como “encontro de cadáver”. Mas se houver, por exemplo, a
morte e, ao mesmo tempo, verificarem que sumiu algum objeto de valor, será um
“latrocínio”. Se houver algum tiro na cabeça, verificam se foi suicídio ou homicídio; se
houver tiro na testa, pode ser execução. A seguir apresentamos algumas falas de policiais
que essas situações podem ser identificadas:
É muito importante preservar o local, porque se antes aparecer alguém ali ou o local for adulterado, você pode descaracterizar o que seria uma briga de dois amigos onde teria homicídio simples e se alguém tirar alguma coisa do local, você acha que é latrocínio. Às vezes, por exemplo, a família vai lá nervosa e tira alguma coisa dali, você fica achando que aquilo é um latrocínio
Em casos que encontra um corpo no meio da rua e não tem nenhuma informação a mais, eles antes de instaurar inquérito colocam como encontro de cadáver. Mas se houver dúvida se foi morte natural ou não já instaura o inquérito e coloca como homicídio, mas se for um simples encontro de cadáver não há nada a ser feito.
Se foi encontrado um corpo com um tiro, aí pode ser latrocínio, um suicídio e um homicídio; se tiver dois tiros no rosto dificilmente se trata de um suicídio, aí você já descarta essa possibilidade, mais ainda pode ser latrocínio ou homicídio. Então, dependendo do local onde o corpo estiver ou se estiver faltando algo, você tipifica aquilo como latrocínio... Mas as dúvidas não ocorrem com freqüência, o importante é ir ao local, porque ali pode ter alguma testemunha que sempre fala alguma coisa. E também se no decorrer das investigações a gente chegar a outras
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conclusões, podemos mudar a tipificação, por exemplo, um encontro de cadáver é uma tipificação que sempre vai mudar. Mas tudo isso não ocorre com freqüência, geralmente nos casos de homicídio já se sabe desde o início que é um homicídio.
Um inspetor nos disse preferir classificar as mortes como latrocínio em vez de
homicídio. Sua justificativa foi de que a condenação seria obtida mais facilmente, porque
no Tribunal do Júri ocorre “um teatro”, diz ele, e o acusado tem mais chances de
conseguir sua absolvição. Veja a seguir o trecho da entrevista:
Nós tentamos achar algo que sumiu da casa para tipificar como latrocínio, pois é um crime que não será julgado no Tribunal do Júri, vai para o juiz comum e é ele que decide e não o júri. No juiz comum é mais fácil incriminar o réu e ele ser condenado, no júri tudo é um teatro, o advogado vai armar uma cena e os jurados muitas vezes acreditam no teatro que ele está fazendo. Por isso, é mais difícil de provar que ele é culpado e de punir o autor.
Nos 395 registros de ocorrência analisados, 64% dos casos foram tipificados como
“homicídio por paf”, acompanhado do artigo 121 do Código Penal (“matar alguém”), isto
é, homicídio provocado por projétil de arma de fogo. Logo em seguida, a tipificação que
apareceu com maior freqüência nos registros foi “homicídios outros”, atribuído também o
artigo 121 do Código Penal, em 12% dos registros.
Além da ida ao local, que possibilitará a primeira tradução do evento morte em
uma categoria jurídica, é importante destacar também que as informações oferecidas pelos
laudos periciais são identificadas pelos policiais como de extrema importância para a
confirmação ou não dessa primeira classificação, como afirma o delegado a seguir:
No momento de tipificar o crime, o trabalho da perícia é muito importante, não dá para saber qual crime de fato ocorreu sem o laudo pericial, a Policia Civil não pode resolver nada sozinha! Todavia, observamos que os laudos provenientes do Instituto Médico Legal
(IML), que dizem respeito ao exame cadavérico, e do Instituto de Criminalística Carlos
Éboli (ICCE), que se referem à análise pericial do local, não contribuem para a primeira
tipificação do delito, já que, depois da abertura do Registro de Ocorrência, os laudos
demoram para chegar na polícia em média 84 e 56 dias respectivamente, de acordo com a
análise obtida através dos 395 casos de homicídios. Nesse sentido, os laudos só poderão
influenciar em uma posterior alteração da classificação elaborada a priori pelo policial, o
que resultará num registro de aditamento.
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No que diz respeito ao Programa, podemos inferir que, se antes a tipificação dos
registros era feita de forma livre, agora aumentou a padronização das categorias. A
Delegacia Tradicional dava margem para que os policiais colocassem qualquer
classificação nos procedimentos, o que o Programa Delegacia Legal não permite, pois dá
um rol de possibilidades fixas, dentre as quais os policiais têm de escolher. Esse
detalhamento está muito relacionado ao meio utilizado para a execução do crime, por
exemplo, “homicídio doloso por emprego de arma de fogo”, “por emprego de arma
branca”, “por envenenamento”, “por paulada”, “por pedrada”, entre outros.
Quando ocorre a necessidade de mudar a titulação durante o Inquérito, por
exemplo, de tentativa de homicídio para homicídio doloso consumado, deve ser feito um
Registro de Aditamento alterando a classificação inicial. Porém, algumas vezes, os
policiais não fazem esse Registro de Aditamento, tendo como conseqüência a
invisibilidade do homicídio decorrente de uma “tentativa”. O Registro de Aditamento fica
armazenado no sistema das Delegacias Legais, de modo que seja possível acompanhar as
mudanças de classificação no decorrer da investigação e também com intuito de que não
haja a possibilidade de “maquiagem” das estatísticas. Assim, o caso que foi tipificado
inicialmente como “tentativa de homicídio” deve ser depois incluído nas estatísticas como
“homicídio”, já que houve alteração na sua tipificação. É possível conferir isso através do
sistema.
É importante observar ainda que no sistema do Programa Delegacia Legal (PDL),
se o policial não atribuir um título ao Registro de Ocorrência, ele não consegue finalizar o
preenchimento do mesmo, o que impede, de certa forma, a incompletude e a ausência de
dados no campo destinado à classificação dos fatos considerados crimes. Ressalta-se
ainda que a não finalização do procedimento no Sistema Operacional, por ausência de
dados fundamentais, é percebida por alguns policiais como um fato negativo, o que,
segundo eles, torna o atendimento mais lento, porque o sistema os impede de trabalhar, o
que foi observado durante a pesquisa de campo.
Por outro lado, a possibilidade de saber como foi classificado e re-classificado um
evento morte através das informações que ficam registradas no sistema, permite um
controle do trabalho policial, diminuindo as possibilidades de mau uso da informação,
bem como a reorientação da capacitação, a partir do monitoramento dos erros.
Dinâmica do fato: segunda “reconstituição” do evento
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Além da classificação policial do evento morte, os agentes da Delegacia Legal
devem preencher um campo chamado “dinâmica do fato”, no Registro de Ocorrência das
delegacias tradicionais era chamado de “resumo do fato”, devendo conter, de forma
resumida, a descrição do evento que deu base ao título desse documento. Nesse campo, é
possível verificar as características destacadas e tomadas como importantes pela lógica
policial e que, devem constar no Registro de Ocorrência. Esta é a segunda reconstituição
do fato dentro da lógica institucional. A primeira consiste em enquadra-los em uma
classificação penal ou administrativa, isto é, dar um título ao fato criminoso. Nesse
segundo momento, o objetivo é resumir esse fato em poucas palavras.
A partir da Resolução nº 760/2005, da Secretaria de Segurança Pública do Estado
do Rio de Janeiro, a Corregedoria da Polícia Civil ficou responsável pela revisão dos
Registros de Ocorrência, principalmente no que diz respeito à verificação da
correspondência entre a “dinâmica do fato” e a tipificação do delito. Para o Corregedor
da Polícia Civil, as alterações classificatórias podem ser feitas ao decorrer das
investigações, porém, de acordo com este profissional, algumas vezes essa correção não é
realizada e a atividade da Corregedoria é identificar dos erros e de solicitar a correção
desses títulos.
Além disso, de acordo com o Corregedor da Polícia Civil, este é o campo mais
importante do Registro de Ocorrência. O que deve constar na dinâmica é a descrição de
como e onde o corpo foi encontrado:
É bom que o policial na linha do campo venha fazendo essa descrição, o corpo foi encontrado tantas horas na rua tal, coloque como foi encontrado, se o local é mal iluminado, se é local de desova, porque isso é fechar uma linha de investigação para saber se no local tem grupo de extermínio, saber se é comum naquele local a desova.
Observamos que, na dinâmica do fato, a descrição é muito técnica, abordando
mais os procedimentos do policial do que o fato em si. Perguntamos a um inspetor que
trabalha na Corregedoria como ele percebia o preenchimento e o que achava ser
importante constar nesse campo. Ele respondeu que:
Na dinâmica do fato o policial poderia aproveitar para dizer se o local estava iluminado, quantas pessoas havia lá, se era um local público muito movimentado, etc, isto é, descrever o local e não só as providências que foram realizadas logo que tomou conhecimento do fato delituoso. Isso deveria estar na parte de diligências realizadas no local e não na parte da dinâmica do fato. Eles misturam muito esses dois campos, o da dinâmica e o das diligências no SCO. O primeiro
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diz respeito ao que o Policial Civil autor do registro fez, ali deve ir descrito se ele também foi ao local, se tirou foto ou não, se encontrou alguma coisa etc, se não vier nada escrito neste campo, não é porque o policial não fez nada, mas porque ás vezes escreveu no local errado, pôs na dinâmica junto às diligencias da PM. Este inspetor demonstrou a forma como o campo “dinâmica do fato” é preenchido:
com ênfase mais nas atividades administrativas realizadas pelo policial do que com o foco
voltado para a investigação do crime, isto é, descrevendo as circunstâncias em que
ocorreram os crimes. É importante salientar ainda que existem vários campos do Sistema
de Controle Operacional das Delegacias Legais, criados para o Registro de Ocorrência,
que devem ser preenchidos obrigatoriamente, mas dois deles se mostraram importantes
para a investigação e para a tipificação do crime: o campo “dinâmica do fato” e o campo
“diligências realizadas” no local do crime e, como disse o inspetor acima citado, muitas
vezes os policiais confundem os dois campos, descrevendo a dinâmica do fato e as
diligências realizadas no mesmo campo.
Em uma das delegacias que pesquisamos, uma inspetora que cuida dos inquéritos
afirmou que geralmente a Polícia Civil não vai ao local e o que consta no relato da
dinâmica são os dados fornecidos pela Polícia Militar. Ou seja, apesar da maioria dos
policiais afirmarem que é de extrema relevância para a classificação do evento, tanto
quanto para a sua posterior investigação, a ida ao local do crime, foi amplamente
verificado durante as entrevistas, que essa não é uma atividade realizada comumente pela
Polícia Civil. Sendo assim, as informações que constam no Registro acabam sendo as que
o policial militar que foi ao local verificou e trouxe para a Polícia Civil. A inspetora disse:
Na dinâmica se coloca o que o PM tem a dizer sobre o fato, já que nem sempre a Polícia Civil vai ao local. Então o PM vem até a delegacia e conta sobre o ocorrido e o policial civil digita no computador. Quem vai ao local geralmente é a perícia do local - o ICCE - e não o policial civil, a delegacia só faz o contato telefônico para o ICCE solicitando o seu comparecimento no local, mas o policial civil pode ir também se quiser. Por exemplo, em alguns casos o PM chega depois do ocorrido, anota os dados de todas as vítimas sobreviventes que foram para o hospital, traz esses dados para a delegacia, porque essas pessoas são colocadas como testemunhas e devem prestar declaração depois de saírem do hospital. Também é importante constar na dinâmica as testemunhas do local, se o autor é identificado ou não... Muitos policiais relataram, durante as entrevistas, que o preenchimento da
dinâmica do fato muitas vezes é feito com base na informação do comunicante, que
muitas vezes é o policial militar. A partir da análise dos 395 Registros de Ocorrência
observamos que 58% deles continham relatos padronizados, fornecidos pela Polícia
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Militar, isto é, com mais informações sobre as diligências realizadas pelo policial militar
no local do que sobre as características do fato em si.
É importante notar que o campo da dinâmica do fato contém a segunda tradução
do fato, tradução que neste momento é feito de forma descritiva. É com base nessas
poucas informações iniciais que a Polícia Civil irá conduzir a investigação. No Programa
Delegacia Legal, este é um dos campos imprescindíveis do Registro de Ocorrência que
deve ser preenchido obrigatoriamente, se não for preenchido o Sistema de Controle
Operacional (SCO) impede sua conclusão, a tela do computador não “fecha”. Porém,
apesar do Programa impedir que esse campo não seja completado, o seu preenchimento,
na prática, acaba sendo mal realizado pelos policiais, que se referem muito mais a
procedimentos administrativos do que a características importantes para a investigação do
crime com intuito de uma possível elucidação do mesmo.
Abertura do Inquérito: Práticas Informais
Conforme prevê o ordenamento jurídico, os crimes de homicídio têm como titular
da ação penal o Estado, que deve abrir o Inquérito tão logo tome conhecimento do fato
através de suas instituições. Na prática, tal medida não é levada a cabo nas delegacias, os
policiais muitas vezes retardam a abertura do Inquérito. Os motivos dessa extensão dos
prazos legais parecem estar inserida em uma lógica policial, por exemplo, uma das formas
identificadas de driblar esses prazos legais foi através de práticas que apesar de serem
informais, estão institucionalizadas na polícia: a chamada Verificação de Procedência de
Informação (VPI). Kant de Lima (1995) constatou em sua pesquisa sobre a Polícia Civil a
existência deste procedimento informal na polícia. Verificamos durante a pesquisa que a
VPI é instaurada quando não há informação suficiente para a abertura de inquérito. Um
delegado nos disse, durante entrevista, que são feitas investigações preliminares para
saber o que ocorreu, e, em caso de necessidade, instaura-se o inquérito, isto é, somente se
ficar constatada a ocorrência de um crime.
Verificamos, durante a pesquisa, a existência da chamada VPI, por exemplo, em
casos classificados como “encontro de cadáver”, quando os policiais não têm certeza se
foi de fato um homicídio, um latrocínio, um suicídio ou morte natural, pois não há marcas
aparentes de violência aparente, ou ainda se foi um caso de morte natural. Nesse caso, a
primeira classificação do registro, segundo eles, fica comprometida, pois não é possível
identificar o crime a partir das evidências do corpo ou do local. Se tipificarem de início
como homicídio, o inquérito deverá ser instaurado imediatamente, de acordo com o
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Código de Processo Penal Brasileiro. Os autos em VPI têm capa branca e têm 30 dias para
serem concluídos.
A análise dos 395 Registros de Ocorrência demonstrou que alguns inquéritos de
homicídio demoravam muito mais do que 30 dias pra serem instaurados. Ou seja,
seguindo o prazo da VPI, ele deveria ser instaurado até 30 dias e sem a existência da VPI
o inquérito deveria ser instaurado no mesmo dia da abertura do Registro de Ocorrência.
Dos 385 registros de homicídios dolosos analisados - com exceção dos dez casos de
flagrantes, que não necessitam de Portaria para a abertura do Inquérito, pois seguem outro
procedimento, que é o da elaboração do Auto de Prisão em Flagrante - somente em 124
casos (33,5%) o inquérito foi instaurado no mesmo dia ou um dia depois do Registro de
Ocorrência. Contudo, verificamos que, se retirarmos os 15 casos que não são flagrantes, e
que, não tiveram o inquérito aberto em 2002, nem até o presente momento, o tempo
médio de abertura do inquérito nas Delegacias Legais corresponde a 29,81 dias depois do
registro inicial. A seguir, a tabela com a divisão por períodos da instauração do inquérito:
Tempo de Abertura do Inquérito (dias) Número de Registros %
0 –30 261 67,8
31-60 44 11,4
61-90 22 5,7
91-120 13 3,4
121-150 18 4,7
151 em diante 12 3,1
Não foi aberto o inquérito 15 3,9
Total 385 100,0
A obtenção desse tipo de dado – quanto tempo levou desde a feitura do RO e a
instauração do inquérito – para todos os casos de 2002 das cinco delegacias analisadas, só
foi possível através do SCO das Delegacias Legais. Essa é uma possibilidade de controle
do trabalho policial bastante interessante quando tratamos do crime de homicídio. Como
todos os procedimentos estão disponíveis virtualmente, mesmo que na realidade já
tenham sido enviados à justiça, é possível mesmo assim obter os dados desse tipo. Antes
da instauração do sistema Delegacia Legal não havia como ter acesso, na polícia, aos
inquéritos que já haviam sido enviados à justiça, pois não existia uma cópia desses
inquéritos. Quando estes eram enviados à justiça, alguns dados sobre o Inquérito ficavam
registrados em “Livros de Registro” na Delegacia, mas não havia como ter contato com o
próprio Inquérito. Muita informação ficava perdida e para resgatá-la era necessário ir ao
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Fórum para ver esses documentos ou ao arquivo cartorário, se esse já tivesse sido
recolhido. A partir da Delegacia Legal esses documentos estão disponibilizados
virtualmente, então, tivemos acesso a todos os registros e inquéritos das cinco delegacias
legais selecionadas para a pesquisa no ano de 2002, independentemente se esses
documentos estavam na delegacia, na justiça ou no arquivo. É importante observar que
este é um dos exemplos do enorme controle que passou a existir desde a implementação
deste Programa de Governo com relação ao trabalho policial.
Prática arraigada na Instituição – trabalho orientado por prazos
O Programa Delegacia legal permitiu um maior controle sobre o cumprimento de
prazos na polícia, na tela do computador destaca-se em vermelho quantos dias estão fora
do prazo. Isso acarretou maior volume de trabalho para o Ministério Público, fato que
levou à criação da Central de Inquéritos.
Uma das críticas feitas em relação a este Programa de Governo é que as
Delegacias Legais acabaram por abarrotar o Ministério Público, já que, a partir do
Programa, passaram a cumprir os prazos mais corretamente. Considerando os 395
registros de ocorrência foi possível verificar que deste total, somente 22 Registros se
encontravam fora do prazo.
O Ministério Público, por sua vez, demora muito tempo para despachar e devolver
os casos para a polícia para que ela prossiga nas investigações, muitas vezes retendo os
inquéritos por mais de três meses. Isto pode ser comprovado se considerarmos que, dos
385 inquéritos analisados no banco de dados do Sistema de Controle Operacional das
Delegacias Legais (os não-flagrantes), 63,4% desses inquéritos estão no Ministério
Público e não nas delegacias. Quando o inquérito é enviado definitivamente à justiça, para
o oferecimento da denúncia, a situação que consta no banco de dados do SCO da
Delegacia Legal é de “Relatado à justiça”. Porém, dos 385 registros que analisamos,
somente 16 deles, o que corresponde a 4,2% registros, se encontravam nesta situação no
momento da coleta dos dados. Desta forma, a maior parte dos inquéritos está na situação
“enviado à justiça” (63,4%), o que significa que eles estão no Ministério Público. Como
foi constatado durante a pesquisa na análise dos registros, a maioria dos inquéritos é
enviada para a justiça quando o prazo das investigações está encerrado. Nesses casos, se as
investigações não foram concluídas, é solicitado um novo prazo para prosseguir. Contudo,
observamos durante a pesquisa empírica nas delegacias de polícia, que, em alguns casos,
os registros de ocorrência que estão na situação de “enviados à justiça” podem ter sido
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denunciados pelo Ministério Público, iniciando uma ação penal e por isso não ter mais
retornado à delegacia. Por exemplo, se o Promotor ao receber o inquérito, mesmo sem a
peça que o finaliza – o relatório final do delegado – ,ele poderá oferecer denúncia se achar
suficiente o embasamento que consta no inquérito. Mas este não é um fato que ocorre com
muita freqüência. Pode ocorrer também que o policial, mesmo tendo relatado o inquérito à
justiça e este não tenha mais voltado para a delegacia, não tenha alterado sua “situação” no
SCO. Vale lembrar que todos os dez casos de flagrante se encontram na situação de
“enviado a justiça”.
Uma inspetora responsável por dar andamento aos inquéritos argumenta que o
tipo de trabalho que ela faz nos processos para envio à justiça, solicitando novo prazo, é
somente o cumprimento burocrático:
Como este fato aconteceu em 2002, a única possibilidade de manusear o inquérito segundo a policial é ficar cumprindo os prazos, pois dificilmente irá conseguir mais alguma coisa. Aí o inquérito fica indo e voltando para a justiça. Vai e volta, vai e volta. Assim fica difícil terminar tudo. A gente não tem essa facilidade de estar o tempo inteiro na rua porque também tem que tratar destes casos. A gente não encontra ninguém, não aparece ninguém. Aí o Ministério Público acha que a gente não fez nada, porque o inquérito vai para lá do mesmo jeito que chegou.
O argumento da inspetora acima reforça a idéia de que a polícia acaba fazendo um
trabalho burocrático mais do que investigativo. O novo prazo pedido é para cumprir uma
determinação legal e não para, de fato, ir a fundo nas investigações do crime. A idéia do
Programa de Governo de suprimir a cartorialização da delegacia vai sendo suplantada
progressivamente pela volta aos velhos hábitos.
Sobre a implementação do Programa Delegacia Legal, vai voltar tudo o que era antes. No início foi bom, mas agora já está acumulando todo o serviço novamente. O trabalho é burocrático, a gente acaba fazendo só trabalho burocrático, não a investigação...
Assim também argumenta outro policial:
Deve haver uma harmonia entre investigação e formalização. Se não formalizar tudo no papel é a mesma coisa que não existisse. O nosso trabalho é avaliado somente com base no que está no papel, mas a investigação não é feita só disso, senão a gente vira meros autuadores. Só com papel não soluciona nada. Então mesmo que seja feita a investigação externa, a gente tem que colocar tudo no papel depois. (...) Então a Delegacia Legal auxilia demais nos recursos materiais,
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mas a mesma investigação que é feita aqui é feita nas Delegacias Convencionais. A Delegacia Legal só investiu em formalização.
Esse policial toca no ponto fundamental do Programa de Governo que tenta tornar
públicas as informações da investigação policial, pelo menos internamente para a
instituição, considerando que elas podem ajudar na elucidação de outros delitos
relacionados e também como uma forma de evitar a corrupção interna. O Programa
Delegacia legal conta com a prática de registro das informações investigativas para que
elas fiquem disponíveis e organizadas, e não se tornem algo pessoal de um determinado
policial ou delegado. As informações são assim de caráter institucional e não pessoal. Isto
é, o policial precisa compreender que o registro das informações no sistema é algo
fundamental para a efetividade do Programa e que elas devem ser publicizadas
institucionalmente. Porém, não é isso que ocorre. A prática de registro acaba sendo muito
precária e, conseqüentemente, as investigações deixam muito a desejar. A lógica policial
não é a do registro no banco de dados, mas a de particularização da informação, ou seja, o
registro em um outro formato, que somente ele possa ter acesso. Os motivos desse não
registro podem estar relacionados a diversas causas lícitas e ilícitas, porém, importa aqui
salientar que essa lógica impede a realização efetiva do Programa de Governo. Um
delegado titular disse ainda que não vê nenhuma diferença na investigação do homicídio
nas delegacias legais e nas delegacias convencionais:
Não há muita diferença entre a investigação feita em um DP legal e em uma delegacia convencional, a única diferença que existe é que os recursos materiais aumentaram, como computador que agiliza o trabalho, impressora etc., mas que em termos de método investigativo continua a mesma coisa. Em relação ao pessoal disponível, a situação permanece a mesma.
Nesse sentido, esses profissionais identificam o trabalho policial como sendo mais
burocrático do que investigativo. Muitas vezes, como foi mostrado, este trabalho está
orientado pelos prazos legais de envio à justiça, isto porque o trabalho policial deve ser
periodicamente informado à justiça.
Caráter pessoal das investigações
Outro ponto que merece destaque em relação à investigação do crime de
homicídio diz respeito ao modo como os policiais percebem o trabalho de investigação.
Segundo eles, este trabalho está mais relacionado a uma característica pessoal do agente
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policial, ligado a uma “vontade de investigar” do que a uma infra-estrutura ou a uma
lógica institucional.
Perguntamos a um delegado qual a principal diferença no que diz respeito à
investigação na delegacia legal e na delegacia tradicional e ele nos respondeu que:
Não tem tanta diferença, depende da boa vontade do investigador. É claro que com relação a estrutura houve uma mudança significativa, melhorou as condições de investigação, mas se o policial não gosta do que faz um computador não vai mudar a mentalidade dele. A questão é muito particular de cada um. Não adianta você colocar um policial que gosta de fazer serviço externo que gosta de ficar na rua pra ficar aqui dentro mexendo no computador, isso não adianta! Ele gosta da rua. Não vai funcionar em um computador. (...) O programa de fato é legal, o negócio é quantos policiais vão trabalhar nisso... agora o policial é responsável por todos os registros... o negócio é não sobrecarregar o policial! Então o que depende mais é de vontade, de interesse, de empenho do policial e de não sobrecarregá-los.
Mais especificamente, com relação ao homicídio os policiais e delegados dizem
que o profissional deve ser mais “sensível”, mais “perspicaz” entre outras características
apontadas. Como aponta um inspetor a seguir:
O policial que investiga homicídio é um policial mais dinâmico, perfeccionista, tem mais sagacidade que os outros policiais, essas são características naturais que os policiais tem e que os delegados tem de ter a sensibilidade em perceber e alocar ele para o que ele é bem de fazer. Agora a delegacia legal coloca os policiais para fazerem tudo, aí o delegado não pode trabalhar com as características de cada policial. Tem policial que não sabe fazer trabalho de rua, tem outros que não sabem fazer RO.
Por outro lado, um delegado de polícia não concordou com essa argumentação das
características pessoais dos agentes na investigação do homicídio. Disse que não é algo
que nasce com o indivíduo, mas algo que ele apreende durante sua carreira através dos
cursos de especialização para investigação do homicídio.
Equipes especializadas: Delegacia Legal X Delegacia Convencional
Uma das críticas feitas com insistência por quase todos os policiais e delegados
entrevistados sobre o projeto do Programa Delegacia Legal dizia respeito à proposta de
supressão das “equipes especializadas”, para que o policial registrasse e investigasse
qualquer ocorrência que fosse a ele destinada. Nas delegacias convencionais existiam
núcleos de investigação formados por uma equipe de policiais que investigavam as
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ocorrências depois de separadas por tipos de crimes, assim, os inquéritos de homicídios
eram destinados à uma equipe que iria investigar somente aquele tipo de crime.
Apesar de nunca ter trabalhado em uma delegacia convencional, um delegado
aponta que a especialização é de suma importância porque o policial tem que ter tirocínio
(conhecimento adquirido na experiência prática), o policial que atende homicídio segundo
ele, tem uma característica diversa dos demais policiais e isto deve ser valorizado.
Contrariando a lógica do Programa, disse claramente que, na delegacia em que trabalha,
ele prioriza as especializações:
Eu presumo que a especialidade da convencional seja mais producente, porque você tem aquele policial que sabe conduzir aquela investigação. Na Delegacia Legal os policiais agora vão ter de fazer tudo, e não dá para ter um expert em todos os assuntos. Na Delegacia Legal é bom porque você tem mais informação. O SCO é ótimo, mas você tem que selecionar um policial porque o trabalho policial não é matemático, tem que ter o tirocínio do cara. Esses policiais que trabalham em homicídio, eles não servem para investigar outros tipos de crimes, porque eles estão mais sensíveis aos detalhes e mais observadores, se eles ouvirem determinado tipo de coisa, fala com a pessoa para ela se aprofundar naquilo, ou perceber contradições. O trabalho deles é mais demorado, eles ficam cozinhando aquilo, chamam a testemunha de novo... Agora, esse cara é muito lento para trabalhar roubo de loja, por exemplo, porque esse é um crime que pede uma investigação mais rápida, se ele demorar muito para investigar um roubo, o cara já roubou várias outras lojas, já fugiu e você não encontra ele mais. Isso depende das peculiaridades de cada policial. Aqui eu separo, para inquéritos de homicídio, vão dois policiais, para roubo em estabelecimento comercial eu coloco outros policiais.
Segundo este mesmo delegado, ter os policiais especializados é importante,
porque ele pode relacionar aquele fato que atende com as outras ocorrências do mesmo
gênero que está sob sua responsabilidade.
Dependendo da área, se você levanta, por exemplo, um homicídio em um morro decorrente de tráfico e tem vários outros crimes pendentes, dependendo da área em que estão acontecendo àqueles crimes, eles têm relação. O policial então vai poder vincular com aqueles casos que ele tem, se colocar todos os policiais para fazer tudo, o procedimento que um fez não vai ter vínculo nenhum com o que o outro fez, os policiais nem vão ficar sabendo do outro. Já se você tem o policial que investiga só aquilo, então quando você levanta um, você já pega mais três ou quatro casos.
Segundo outro delegado, é válida a manutenção da especialização nas delegacias,
pois, por meio delas, ele pode trabalhar com as particularidades e características de cada
policial:
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No meu ponto de vista o que prejudica na investigação principalmente dos crimes graves na delegacia é essa necessidade de todos terem que fazer clínica geral e não ter a especialização como existia na delegacia antiga, na convencional. (...) Às vezes o que é que acontece, o policial do atendimento na delegacia legal, eu vou te dar um exemplo, eu sou um policial e estou ali na mesa, um inspetor fazendo registro, “ah, chegou a conhecimento um caso de homicídio”, fiz registro e a partir do momento eu sou vinculado aquele homicídio para apurar o fato até o final. Claro, tem na resolução que passa homicídios, extorsão, tráfico é encaminhado para o GIC[grupo de investigação continuada], que tem a função de fazer a investigação desses crimes mais graves. Mas o que é que aconteceu? O policial que atendeu não foi o primeiro que chegou no local, por mais que o cara ponha no papel esmiuçadinho o que ele fez, o cara vai pegar depois não foi o que esteve no local. Mas eu acho que deve compartimentizar aqui dentro da delegacia, dentro da minha equipe a existência desses grupos, dar preferência, às vezes acaba até transferindo, olha, dá procedimento para um, dá procedimento para outro, você vai trabalhar com fulano, isso vai ser do cicrano, entendeu?
Ao contrário da maioria dos entrevistados, um delegado nos enuncia que, na
verdade, não existem especialistas que sejam peritos em um tipo de crime na polícia,
porque a experiência de manutenção do modelo que prioriza as “equipes especializadas”
não resultou em melhores resultados nas investigações, mas sim um acúmulo de
procedimentos sem andamento.
Esse sistema de não ter especialista, pelas estatísticas, produz muito mais resultados do que dos chamados especialistas dele! Como é que explica isso? Porque números não mentem!?(...)O que acontece, é que eles já empregam esse tipo de especialização nas delegacias e por isso que os resultados são baixos. Mas por que os resultados são baixos? Por falta de compromisso. (...) O brilhante especialista também não faz coisa nenhuma. Vamos chegar lá, são 146 casos de homicídios, por exemplo, numa determinada delegacia, em seis meses. 146 casos. Quantos casos foram resolvidos? Dois! E tem especialistas! Bom, pra mim não são especialistas, porque tem 146 casos e se resolve dois. Eu acho que alguma coisa está errada! E os delegados ainda continuam com essa história de especialistas... os especialistas, nada mais são do que aquele cara que não faz coisa nenhuma. Se você pegar os inquéritos você vai ver que eles estão parados, os especialistas não estão trabalhando em especialização nenhuma.
Deve-se ressaltar que um dos principais objetivos preconizados pela reforma é
responsabilizar o policial pela ocorrência que atende, ou seja, de criar uma relação entre o
fato, a investigação, o policial e o resultado do trabalho realizado por ele. No entanto,
segundo observamos, é principalmente no que diz respeito ao esforço de impor novas
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formas de controle e avaliação do trabalho policial que a polícia mais resiste. Evitam
particularizar as responsabilidades e incumbem ao grupo os resultados do trabalho.
CONCLUSÃO
Buscamos analisar a efetividade do Programa Delegacia Legal no que se refere ao
trabalho de registro de ocorrências e de investigação, dando destaque aos casos de
homicídio. Podemos afirmar que não há hoje mais resistência à reforma arquitetônica,
com a supressão da carceragem, o que já havia sido motivo de muitos debates. As
melhorias de estrutura administrativa também foram incorporadas pelos policiais
positivamente. Porém, há que se observar como as práticas policiais têm sido
influenciadas por essa política pública. Atualmente, já está havendo um reconhecimento
de que o Programa Delegacia Legal atingiu seu objetivo de atuar sobre a apropriação
privada por parte dos policiais de informações que são públicas. Ainda há o “chute” das
ocorrências, ou seja, práticas através das quais os policiais tentam convencer os cidadãos
a não registrarem, mas isso se torna quase impossível nos casos que envolvem mortes. Os
mecanismos de monitoramento que o Programa oferece representaram um avanço no
controle da qualidade da informação. Se ainda não houve um impacto na eficiência
policial, ou seja, se a produtividade no que se refere à elucidação de crimes ainda é baixa,
é bom lembrar que antes não havia nem a possibilidade de saber quais crimes teriam sido
registrados.
A resistência ao Programa no que se refere às novas práticas procedimentais de
investigação devem ser pensadas como um indicador de que houve uma tentativa de
mudança da lógica policial, para que deixe de ser uma rotina cartorial e se transforme
numa ação mais investigativa.
Nesse sentido, o debate acerca da especialização das equipes é revelador. De um
lado, os argumentos favoráveis à especialização se baseiam em características pessoais, de
outro, os argumentos contrários afirmam que a especialização só existe mediante a
qualificação profissional, e deveria ser restrita a situações específicas (como exemplo o
caso da Delegacia de Atendimento a Mulheres), e não ser utilizada nas distritais. Revela-
se assim a oposição clara entre o modelo de profissionalismo, proposto pelo Programa, e
o modelo tradicional, onde o funcionário resiste à regulação de padrões a fim de manter
seus poderes e vantagens.
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