avaliação do perfil de tolerância ao risco por meio de segmentação
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O objetivo principal do estudo foi avaliar o perfil de risco de diversos segmentos dasociedade brasileira e, através de análise estatística, determinar a existência de padrõesdependentes de fatores demográficos. Para tal, foram testadas três hipóteses que relacionamsexo, idade do investidor e renda familiar com comportamento de tolerância ao risco.Objetivos secundários do estudo foram: (i) estudar o comportamento de tolerância ao riscodos mesmos segmentos quando se considera o horizonte de investimento; e (ii) analisar operfil do investidor da amostra e a relação existente entre conhecimento em finanças etolerância ao risco.Embora os resultados encontrados não possam ser generalizados para o âmbito brasileiro,são um forte indicativo de que: (i) mulheres são menos tolerantes ao risco do que homens;(ii) a idade do investidor não possui relação estatisticamente significativa com o grau detolerância ao risco; e (iii) quanto maior a renda familiar do indivíduo, maior a sua tolerânciaao risco.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF CENTRO TECNOLÓGICO
ESCOLA DE ENGENHARIA LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO
AMBIENTE MBA EM ENGENHARIA ECONÔMICA E FINANCEIRA
GÊIZA LÍLIAN BARRETO POWELL
RENATA DE PINHO GOMES
AVALIAÇÃO DO PERFIL DE TOLERÂNCIA AO RISCO POR MEIO DE
SEGMENTAÇÃO
Niterói
2006
GÊIZA LÍLIAN BARRETO POWELL RENATA DE PINHO GOMES
AVALIAÇÃO DO PERFIL DE TOLERÂNCIA AO RISCO POR MEIO DE
SEGMENTAÇÃO
Monografia apresentada ao Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios & Meio Ambiente – LATEC, como requisito parcial à conclusão do MBA em Engenharia Econômica e Financeira.
Orientador: Marco Antonio Oliveira, D. Sc.
Niterói 2006
Dedico este trabalho
A Edgard e ao nosso filho que está para nascer.
A Fabrício, que me entendeu e incentivou, sempre.
AGRADECIMENTOS
A nossas mães, pais e irmãos que nos incentivaram e nos ajudaram a chegar até aqui.
A Fabrício e Edgard, que compreenderam nossa ausência e estiveram ao nosso lado,
nos dando o apoio necessário para vencermos as dificuldades encontradas ao longo do
caminho.
A Marco Antonio Oliveira, nosso orientador, que nos ajudou principalmente na
difícil tarefa de encontrar o foco.
A Mário Jorge Gonçalves, Roger França, Aparecida Cecchetti, Viviane Teixeira,
Renata Araújo, Fernando Borges e a todos os que nos ajudaram a divulgar o questionário.
Aos amigos e amigos dos amigos, aos conhecidos e desconhecidos que confiaram na
seriedade do nosso trabalho.
“A possibilidade de arriscar é que nos faz homens” Damário da Cruz
RESUMO
Tolerância ao risco é um importante conceito que tem implicações tanto para investidores
individuais quanto para gestores de investimentos. Atualmente sabe-se que o gerenciamento
de bens de investidores pode ser melhorado através da combinação entre a metodologia de
investimentos tradicional, baseada na Teoria Moderna de Portfólio, e as observações feitas
em finanças comportamentais. No mercado financeiro americano há uma diversidade de
estudos abordando a influência de variáveis demográficas e psicográficas no comportamento
de tolerância ao risco, apesar de serem pouco conclusivos. No mercado financeiro brasileiro,
no entanto, trabalhos abordando finanças comportamentais ainda são raros.
O objetivo principal do estudo foi avaliar o perfil de risco de diversos segmentos da
sociedade brasileira e, através de análise estatística, determinar a existência de padrões
dependentes de fatores demográficos. Para tal, foram testadas três hipóteses que relacionam
sexo, idade do investidor e renda familiar com comportamento de tolerância ao risco.
Objetivos secundários do estudo foram: (i) estudar o comportamento de tolerância ao risco
dos mesmos segmentos quando se considera o horizonte de investimento; e (ii) analisar o
perfil do investidor da amostra e a relação existente entre conhecimento em finanças e
tolerância ao risco.
Embora os resultados encontrados não possam ser generalizados para o âmbito brasileiro,
são um forte indicativo de que: (i) mulheres são menos tolerantes ao risco do que homens;
(ii) a idade do investidor não possui relação estatisticamente significativa com o grau de
tolerância ao risco; e (iii) quanto maior a renda familiar do indivíduo, maior a sua tolerância
ao risco.
Palavras-chave: Tolerância ao Risco. Fatores demográficos. Segmentação. Finanças
Comportamentais.
ABSTRACT
Risk tolerance is an important concept, with implications to individual investors and
investment managers. Nowadays, it is known that investors’ asset management can be
improved through the combination of traditional investment methodology, based on Modern
Portfolio Theory, and observations from behavioural finance. At the American financial
market, there is a diversity of works studying the influence of demographic and
psychographic variables in risk tolerance behaviour. However, they are not conclusive. At
the Brazilian financial market, on the other hand, studies about behavioural finance are still
rare. The main objective of this study was to evaluate the risk profile for some segments of
the Brazilian Society and to determine, through statistical analysis, the existence of
behavioural patterns dependent on demographic variables. This way, three hypotheses were
tested, relating sex, age and family income with risk tolerance behaviour. Other objectives
of this study were: (i) studying the risk tolerance behaviour for the same segments if it is
considered the investment time horizon; (ii) analysing investors’ average profile and the
possible relationship between financial knowledge and risk tolerance behaviour.
Although results cannot be generalized to Brazilian market, they can be considered as strong
evidences that: (i) women are less risk tolerant than men; (ii) the age of the investor is not
statistically significant to risk tolerance level; (iii) risk tolerance increases with family
income.
Keywords: Risk Tolerance. Demographical Factors. Segmentation. Behavioural Finance.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Distribuição dos pesquisados por perfil de risco ...........................................43
Ilustração 2 - Histograma de Tolerância ao Risco...............................................................44
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resumo dos dados demográficos .................................................................. 39
Tabela 2 - Distribuição das respostas por horizonte de investimento............................. 41
Tabela 3 - Distribuição dos dados por tipo de investimento .......................................... 42
Tabela 4 - Estatística descritiva para a amostra analisada ............................................. 44
Tabela 5 - Resumo dos dados por sexo .......................................................................... 45
Tabela 6 - Tabela Contingencial com Tabulação Cruzada – Sexo ................................ 45
Tabela 7 - Tabela Contingencial com Tabulação Cruzada – Idade ............................... 48
Tabela 8 - Tabela Contingencial com Tabulação Cruzada – Renda Familiar Mensal .. 49
Tabela 9 - Resumo da tolerância ao risco por grupo ...................................................... 49
Tabela 10 - ANOVA para a Tolerância ao Risco por Renda Familiar Mensal ............... 50
LISTA DE SIGLAS
PASS Portfolio Allocation Scoring System
ANOVA Análise da Variância (do inglês ANalysis Of VAriance)
ANCOVA Análise da Covariância (do inglês ANalysis of COVAriance)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................12
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................12
1.2 OBJETIVOS.................................................................................................13
1.3 PROPOSIÇÕES ...........................................................................................13
1.4 JUSTIFICATIVA .........................................................................................14
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................14
2 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................16
2.1 TOLERÂNCIA AO RISCO .........................................................................16
2.2 HISTÓRICO.................................................................................................18
2.3 RESULTADOS DE ESTUDOS PRÉVIOS .................................................20
2.3.1 Sexo do Investidor ......................................................................................21
2.3.2 Idade do Investidor ou da Família ............................................................22
2.3.3 Renda e Riqueza .........................................................................................23
2.3.4 Outros Fatores ............................................................................................23
3 PROPOSIÇÕES .............................................................................................27
4 METODOLOGIA...........................................................................................29
4.1 AMOSTRAGEM E COLETA DE DADOS ................................................29
4.2 FORMATO DA PESQUISA E MEDIÇÕES...............................................30
4.3 TESTES APLICADOS ................................................................................33
4.3.1 Teste Qui-Quadrado...................................................................................33
4.3.2 Teste da Diferença Entre Médias (Teste Z)..............................................34
4.3.3 Análise da Variância ..................................................................................36
4.4 ESTATÍSTICAS DE FORÇA DAS RELAÇÕES SIGNIFICATIVAS.......37
4.4.1 V e Fi de Cramer ........................................................................................37
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS...................................................................38
5.1 PERFIL DO RESPONDENTE.....................................................................38
5.2 DETERMINANTES DA TOLERÂNCIA AO RISCO................................45
5.2.1 Sexo ..............................................................................................................45
5.2.2 Idade ............................................................................................................47
5.2.3 Renda Mensal..............................................................................................48
5.2.4 Outros Fatores ............................................................................................50
6 DISCUSSÃO ...................................................................................................52
7 CONCLUSÃO.................................................................................................56
7.1 ATINGIMENTO DOS OBJETIVOS...........................................................56
7.2 LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS.................57
12
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Tolerância ao risco é um importante conceito que tem implicações para investidores
individuais, bem como gerentes de investimento.
Apesar de sua relevância e de seu uso comum no Mercado Financeiro, há variações
consideráveis nas definições utilizadas.
Tolerância ao risco pode ser definida como uma combinação de atitude de risco e
capacidade de risco (CORDELL, 2002), mas alguns autores concordam que, apesar de inter-
relacionados, estes dois conceitos são distintos e assim devem permanecer (ROSZKOWSKI;
DAVEY; GRABLE, 2005). Um dos conceitos de tolerância ao risco seria “até que ponto
uma pessoa escolhe arriscar experimentar um resultado menos favorável na busca de um
resultado mais favorável”. (ROSZKOWSKI; DAVEY; GRABLE, 2005)
Atualmente sabe-se que o gerenciamento de bens de investidores, através de um
entendimento mais apurado dos seus perfis de risco, pode ser melhorado através da
combinação entre a metodologia de investimento tradicional baseada na teoria moderna de
portfólio e as observações feitas em finanças comportamentais.
No mercado financeiro americano, a diversidade de estudos abordando a influência
de variáveis demográficas e psicográficas no comportamento de tolerância ao risco mostra a
preocupação com o tema, apesar de estes serem pouco conclusivos devido às discordâncias
existentes entre os resultados encontrados. No mercado financeiro brasileiro, no entanto,
trabalhos abordando finanças comportamentais ainda são raros, sendo muitos desenvolvidos
internamente por bancos e instituições financeiras.
13
Assim, apesar da sua importância na área de Finanças Pessoais, o conceito de
tolerância ao risco ainda guarda muitas questões sem resposta, particularmente quanto aos
seus determinantes (FAAF; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003).
1.2 OBJETIVOS
O trabalho teve como objetivo principal avaliar o perfil de risco de diversos
segmentos da sociedade brasileira e, através de análise estatística, determinar a existência de
padrões dependentes de fatores demográficos.
Além do objetivo principal, durante a execução do estudo, foi observada a
necessidade de complementação e enriquecimento da idéia inicial, originando dois objetivos
secundários que compreendiam:
- estudar o comportamento da tolerância ao risco dos mesmos segmentos quando se
considera o horizonte de investimento; e
- analisar o perfil do investidor da amostra e a relação existente entre conhecimento
em finanças e tolerância ao risco.
1.3 PROPOSIÇÕES
O trabalho propõe o teste de três hipóteses para análise da relação existente entre as
variáveis sexo, idade do investidor e renda familiar no comportamento de tolerância ao
risco:
H1: Homens são mais tolerantes ao risco do que mulheres.
H2: Pessoas mais jovens são mais tolerantes ao risco do que pessoas mais velhas.
H3: Quanto maior a renda familiar, maior será a tolerância ao risco do indivíduo.
14
As principais conclusões em relação à amostra estudada foram:
- mulheres são menos tolerantes ao risco do que homens, embora a relação tenha se
mostrado fraca;
- a idade do investidor não possui relação estatisticamente significativa com o grau
de tolerância ao risco; e
- quanto maior a renda familiar do indivíduo, maior a sua tolerância ao risco, embora
a relação tenha se mostrado fraca.
Os resultados do estudo, embora não possam ser generalizados no âmbito brasileiro,
em função das limitações encontradas, são um forte indicativo de que sexo, renda familiar e
conhecimento em finanças influenciam o grau de tolerância ao risco do investidor.
1.4 JUSTIFICATIVA
A determinação da existência de comportamentos padronizáveis de tolerância ao
risco para determinados segmentos da sociedade e o entendimento de como e porque esses
padrões ocorrem podem ser bastante úteis não só para auxiliar na análise preliminar de
carteiras individuais, como também para direcionar corretamente campanhas publicitárias e
ofertas de produtos financeiros, poupando esforços e recursos para divulgação e alocação de
ativos.
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO
A trabalho foi estruturado de forma a facilitar o entendimento dos conceitos mais
importantes relacionados ao assunto estudado e à metodologia utilizada para coleta e análise
dos resultados.
15
Resumidamente, a estrutura é composta por:
- revisão de literatura, onde são abordados (i) conceitos de tolerância ao risco; (ii)
breve histórico sobre evolução das teorias de seleção de portfólio; e (iii)
principais resultados de estudos prévios sobre a influência de algumas variáveis
demográficas e psicográficas no comportamento de tolerância ao risco;
- proposições, onde são apresentadas as hipóteses elaboradas e uma breve
justificativa para cada uma delas;
- metodologia, onde são abordados os pontos relevantes sobre amostragem e coleta
de dados, formato da pesquisa e medições, descrição dos testes estatísticos
aplicados e das estatísticas de força das relações significativas;
- análise dos resultados, onde são apresentados os pontos mais relevantes sobre
perfil dos respondentes e resultados dos testes de hipóteses dos determinantes de
tolerância ao risco, além da discussão sobre os resultados encontrados;
- conclusão, onde também são apresentadas limitações do trabalho e sugestões
para trabalhos futuros.
16
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 TOLERÂNCIA AO RISCO
Tolerância ao risco é um importante conceito que tem implicações para investidores
individuais, bem como para gerentes de investimento.
Para investidores individuais, a tolerância ao risco determinará a composição
apropriada de ativos num portfólio otimizado em termos de risco e retorno relativo às
necessidades de cada indivíduo (DROMS, 1987). Para gerentes de fundos de investimento,
ao planejar a carteira de investimentos de um cliente, é essencial prever a tolerância ao risco
individual de forma a estruturar um portfólio que seja consistente com a disposição do
cliente em correr risco (DROMS; STRAUSS, 2003). A falta de habilidade em se determinar
efetivamente a tolerância ao risco de cada investidor pode levar a uma homogeneização dos
fundos de investimento escolhidos (JACOBS; LEVY, 1996).
Apesar do termo Tolerância ao Risco ser de uso comum no Mercado Financeiro, há
variações consideráveis nas definições utilizadas. Algumas mais conhecidas foram citadas
por Roszkowski; Davey; Grable (2005):
“É o nível de volatilidade que um investidor pode tolerar”;
“É onde as pessoas se sentem confortáveis em relação a risco/retorno”;
“É a quantidade de perda em que alguém arrisca incorrer”.
De acordo com definições encontradas em páginas da Internet voltadas para
investidores ou em páginas de bancos no exterior, tolerância ao risco pode definida como:
“É o nível em que o investidor se sente confortável com flutuações no valor de seus
investimentos e com o potencial para perdas” (CITIBANK, 2005).
17
“Descreve o nível em que o investidor se sente confortável para diferentes níveis de
risco no mercado” (HSBC, 2005).
“Descreve a disposição em aceitar reduções no valor dos investimentos com o
objetivo de atingir ganhos durante um período mais longo” (DEPARTMENT OF
RETIREMENT SYSTEMS, 2005).
Tolerância ao risco também pode ser definida como uma combinação de atitude de
risco - quanto risco eu escolho ter - e capacidade de risco - quanto risco eu posso ter
(CORDELL, 2002). Alguns autores (ROSZKOWSKI; DAVEY; GRABLE, 2005), porém,
concordam que, apesar de gerentes de investimento precisarem considerar os dois conceitos,
de atitude de risco e de capacidade de risco, para escolher o portfólio adequado ao
investidor, estes dois conceitos são distintos e assim devem permanecer. Para eles tolerância
ao risco pode ser definida como “até que ponto uma pessoa escolhe arriscar experimentar
um resultado menos favorável na busca de um resultado mais favorável”.
No Mercado Financeiro, brasileiro ou estrangeiro, a despeito da diversidade cultural
e de outros fatores diferenciadores, os investidores normalmente são classificados em três
modalidades distintas de tolerância ao risco – conservador, moderado e agressivo – embora,
a depender da instituição financeira, a definição de cada perfil possa apresentar algumas
variações. Segundo Corrêa (2001), as modalidades de tolerância ao risco financeiro podem
ser definidas como:
- Conservador: o investidor que possui um perfil conservador não gosta de assumir
grandes riscos. Ele busca rendimentos modestos, porém seguros, entendendo
que, para isso, seu risco de perda do capital investido é reduzido. Preza a
segurança do investimento em detrimento da rentabilidade. O investidor
conservador tem a segurança como ponto decisivo para as suas aplicações;
18
- Moderado: O investidor moderado gosta de equilibrar rentabilidade com riscos.
Procura segurança em suas aplicações, mas aplica uma parcela considerável do
seu patrimônio em renda variável. É o investidor que prefere a segurança da
Renda Fixa, mas também quer participar da rentabilidade da Renda Variável.
Para esse investidor, a segurança é importante, mas também quer retornos acima
da média. Um risco médio é aceitável; e
- Agressivo: o investidor de perfil agressivo está buscando sempre alta
rentabilidade, mesmo que corra risco de perder parte de seu patrimônio. Seu
portfólio é dividido basicamente em fundos de renda variável e derivativos. Ele
geralmente está alavancado, gosta do risco e da emoção das variações do
mercado.
2.2 HISTÓRICO
Desde que Henry Markowitz escreveu seu artigo Portfolio Selection em 1952,
profissionais da área de investimento têm sido educados numa visão bem conhecida de
gerenciamento do portfólio. O objetivo era construir portfólios eficientes, que
maximizassem o retorno para um dado nível de risco. Estes eram combinados para criar uma
fronteira eficiente de oportunidades de retorno, sobre a qual os investidores selecionariam o
portfólio mais adequado para seu perfil de tolerância ao risco (NEVINS, 2003).
Em meados de 1960, John Pratt e Kenneth Arrow introduziram medidas de aversão
ao risco relativo, juntamente com as hipóteses de que a aversão ao risco relativo aumenta
com o patrimônio. Desde então, vários pesquisadores tentaram estimar a magnitude da
aversão ao risco relativo para segmentos da população utilizando uma variedade de técnicas.
Outros conduziram testes empíricos para o número crescente de hipóteses sobre aversão ao
19
risco relativo. Mais recentemente, os estudos focaram na comparação da aversão ao risco em
diferentes subgrupos demográficos, particularmente homens e mulheres. Estes esforços, no
entanto, foram independentes entre si (HALEK; HEISENHAUER, 2001).
Segundo Nevins (2002), a procura por novas idéias em Finanças ganhou força em
2002 com o Prêmio Nobel em Economia, Professor Daniel Kahneman, da Universidade de
Princeton, e seu questionamento sobre como investidores pensam e se comportam. Apesar
de a maioria dos processos de investimento usados atualmente serem efetivos pelos padrões
estabelecidos pela teoria de seleção de portfólio de Markowitz, eles causam menos impacto
quando avaliados no contexto das finanças comportamentais.
Sabe-se, hoje, que o gerenciamento de bens de investidores, através de um
entendimento mais apurado dos seus perfis de risco, pode ser melhorado através da
combinação entre a metodologia de investimento tradicional, baseada na teoria moderna de
portfólio, e as observações feitas em finanças comportamentais.
No Mercado Financeiro Americano, a diversidade de estudos abordando várias
nuances comportamentais mostra a preocupação com o tema, apesar de estes serem pouco
conclusivos devido às discordâncias existentes entre os resultados encontrados.
No Mercado Financeiro Brasileiro alguns estudos focam em entender o perfil do
investidor brasileiro. Segundo Corrêa (2001), grande parte dos investidores atuantes é das
regiões Sul e Sudeste, devido ao fato de nessas regiões se concentrarem os maiores negócios
e as maiores instituições financeiras. Além disso, entre os investidores, a maior parte é do
sexo masculino, ao contrário de países europeus, onde o sexo feminino tem boa participação
no mercado. Os investidores estão, em sua maioria, entre 30 e 50 anos, sendo casados e com
nível superior.
Trabalhos abordando finanças comportamentais, no entanto, ainda são raros, sendo
muitos desenvolvidos internamente por bancos e instituições financeiras.
20
Assim, apesar da sua importância na área de Finanças Pessoais, o conceito de
tolerância ao risco ainda guarda muitas questões sem resposta, particularmente quanto aos
seus determinantes (FAAF; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003) e, embora muitos fatores
tenham sido propostos e testados, uma análise resumida dos resultados revela, mesmo no
mercado americano, uma evidente falta de consenso.
2.3 RESULTADOS DE ESTUDOS PRÉVIOS
Segundo Roszkowski; Davey; Grable (2005), em estudos deste tipo deve-se recorrer
à Psicometria, uma mistura da Psicologia e da Estatística, para medição de atributos como
tolerância ao risco. Através do uso desta ciência de medição, é possível elaborar pesquisas e
questionários que sejam válidos e confiáveis. Em termos psicométricos, um teste válido é
aquele que mede o que faz sentido medir e um teste confiável é aquele que faz isso
consistentemente.
Para estudos deste tipo também é preciso entender a relação existente entre alguns
fatores e o grau de tolerância ao risco. Para alguns fatores demográficos como idade, sexo e
raça, por exemplo, onde os indivíduos não têm chances reais de escolha, a relação causal
possível com a tolerância ao risco é óbvia. Esses fatores são denominados Variáveis Causais
Dependentes (HALEK; HEISENHAUER, 2001).
Já a relação entre tolerância ao risco e outros fatores como nível de educação, estado
civil e número de dependentes, por exemplo, não é tão clara. Apesar de se supor que estes
fatores podem afetar a tolerância ao risco, também se pode supor que a tolerância ao risco
do indivíduo pode levá-lo a algumas escolhas em relação ao seu estilo de vida. Estes fatores
são denominados Variáveis Causais Independentes (HALEK; HEISENHAUER, 2001).
Alguns dos fatores mais abordados em estudos prévios serão apresentados a seguir.
21
2.3.1 Sexo do Investidor
Segundo Schubert et al (1999), a visão mais difundida sobre tomada de decisão
financeira é a de que mulheres são mais avessas a risco que homens. Uma conseqüência
deste estereótipo é a discriminação estatística que reduz o sucesso das mulheres no mercado
financeiro e de trabalho. Espera-se que mulheres sejam investidoras mais conservadoras que
homens e, conseqüentemente, em geral são oferecidos a elas investimentos com menor risco
e menores retornos esperados (WANG, 1994 apud SCHUBERT et al., 1999).
As atitudes de risco em função especificamente do sexo podem ser confundidas com
diferenças em oportunidade. O comportamento em experimentos abstratos pode não
corresponder ao comportamento de risco em decisões dentro de determinados contextos.
Isso porque experimentos abstratos fornecem um forte controle sobre o ambiente econômico
que envolve a decisão de risco e, com isso, podem não ser conclusivos (SCHUBERT et al,
1999).
Alguns autores (BAJTELSMIT; BERNASEK; JIANAKOPLOS apud FAAG;
HALLAHAN; MCKENZIE, 2003; SUNG; HANNA, 1996; GRABLE; JOO, 2000;
HALEK; HEISENHAUER, 2001; PALSSON, 1996) encontraram embasamento para a idéia
de que mulheres são menos tolerantes ao risco do que homens.
Para outros autores (FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003; HANNA; GUTTER;
FAN, 1998; RILEY; HUSSON, 1995), no entanto, o sexo não é significativo para prever
tolerância ao risco financeiro. Segundo Schubert et al (1999), sob condições econômicas
controladas, mulheres geralmente não fazem escolhas financeiras menos arriscadas que os
homens. A propensão ao risco comparativo de homens e mulheres em escolhas financeiras
depende fortemente da estrutura de decisão. Tolerância ao risco em função do sexo acontece
em empreendimentos abstratos, com homens sendo mais propensos ao risco de ganho e
22
mulheres sendo mais propensas ao risco de perda. Com isso, o comportamento de risco
ligado especificamente ao sexo pode ser originado pelas diferenças entre as oportunidades
oferecidas a homens e mulheres e, na prática, decisões financeiras arriscadas são
inerentemente contextuais, sendo os estereótipos criados em torno das atitudes de risco de
investidoras mais discriminatórios que reais.
2.3.2 Idade do Investidor ou da Família
Estudos mais antigos mostram que a tolerância ao risco diminui com a idade
(WALLACE; KOGAN, 1961; MCINISH, 1982 apud FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE,
2003; INFORMATIVO ARUS, 2003), embora esta relação não seja necessariamente linear
(RILEY; CHOW, 1992; BAJTELSMIT; VANDERHAI, 1997 apud FAAG; HALLAHAN;
MCKENZIE, 2003). Esta observação pode ser justificada utilizando-se como argumento que
investidores mais jovens têm um maior número de anos para se recuperar das perdas que
podem ocorrer em investimentos mais arriscados, o que é chamado de argumento do
desconto padrão (FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003).
Pesquisas mais recentes, no entanto, não conseguem suportar esta teoria ou fornecem
evidências contrárias (WANG; HANNA, 1997; GRABLE, 2000 apud FAAG;
HALLAHAN; MCKENZIE, 2003).
Outros estudos, realizados com chefes de família, mostraram que famílias de pessoas
mais velhas e aposentadas alocam uma menor parte de seu portfólio em ativos de risco do
que famílias mais novas (SCHOOLEY; WORDEN, 1996; PALSSON, 1996).
Há, ainda estudos demonstrando não haver uma relação significativa entre idade e
tolerância ao risco (SUNG; HANNA, 1996; GRABLE; JOO, 2000).
23
2.3.3 Renda e Riqueza
Renda e riqueza são dois fatores adicionais que, hipoteticamente, têm uma relação
positiva com a tolerância ao risco, ou seja, quanto maior a renda e a riqueza, maior será a
tolerância ao risco (GRABLE; LYTTON, 1999; SHAW, 1996; BERNHEIM et al, 2001
apud FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003). Para alguns autores, a influência destes
fatores é significativa (FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003; SCHOOLEY;
WORDEN, 1996; INFORMATIVO ARUS, 2003), enquanto para outros ela existe, mas é
pequena (RILEY; HUSSON, 1995).
As interpretações quanto à forma como a riqueza afeta a tolerância ao risco, no
entanto, apresentam grandes variações. Por um lado, investidores ricos podem mais
facilmente se permitir incorrer em perdas resultantes de investimentos arriscados e sua
riqueza acumulada pode até ser um reflexo da sua disposição a correr riscos. Por outro lado,
isto é visto como um contra-senso, já que pessoas ricas deveriam ser mais conservadoras
com seu dinheiro e pessoas com menor nível de riqueza pessoal deveriam enxergar o risco
como um bilhete de loteria, estando mais dispostas a correr risco associado com lucros não
esperados (FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003).
2.3.4 Outros Fatores
2.3.4.1 Nível de Educação
Acredita-se que o nível de educação leva a uma maior tolerância ao risco financeiro
(HALIASSIS; BERTAUT, 1995 apud FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003).
24
Alguns trabalhos mostram que a tolerância ao risco prevista aumenta com o nível de
educação, mesmo depois de controlados os efeitos de outras variáveis (SUNG; HANNA,
1996), sendo maior para aqueles com nível superior completo e menor para aqueles com
nível médio incompleto.
Em outros trabalhos, este fator não se mostrou determinante (HALEK;
HEISENHAUER, 2001) ou conclusivo (FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003).
2.3.4.2 Estado Civil
A investigação sobre decisões de investimento feitas por indivíduos casados apresentou
um desafio singular aos pesquisadores, já que o portfólio de investimento de um casal deve
refletir uma combinação entre as preferências de risco do casal (BERNASEK; SHWIFF,
2001 apud FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003; SUNG; HANNA, 1996).
Alguns autores sugerem que um investidor solteiro é mais tolerante ao risco
(ROSZKOWSKI; SNELBECKER; LEIMBERG, 1993 apud FAAG; HALLAHAN;
MCKENZIE, 2003; INFORMATIVO ARUS, 2003; HALEK; HEISENHAUER, 2001),
embora algumas pesquisas tenham falhado em identificar qualquer relação significativa
entre estado civil e tolerância ao risco (MASTERS, 1989, HALIASSOS; BERTAUT, 1995
apud FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003).
Outro estudo comparou diferentes estados civis, concluindo que divorciados são menos
tolerantes ao risco que viúvos e estes são menos que os casados, que por sua vez são menos
que os solteiros (RILEY; HUSSON, 1995). Segundo Spero (2000), para casados, a
discordância entre a visão dos cônjuges precisa ser equacionada, para evitar a sabotagem da
política de investimentos definida com um deles; recém-divorciados podem ser
inexperientes em lidar com dinheiro, inseguros, indecisos e mal informados e normalmente
25
querem manter o padrão de vida do casamento, o que costuma ser difícil; já recém-viúvos
normalmente não sabem a origem do dinheiro e a sua atual disposição.
2.3.4.3 Raça/ Grupo Étnico
Alguns estudos tentaram relacionar a raça ou grupo étnico à tolerância ao risco do
indivíduo (SCHOOLEY; WORDEN, 1996; SUNG; HANNA, 1996; HALEK;
HEISENHAUER, 2001), mas os resultados encontrados foram divergentes e não
conclusivos. Enquanto para Schooley; Worden (1996) famílias não brancas e para Halek;
Heisenhauer (2001) negros e hispânicos tendem a ser mais tolerantes ao risco do que
brancos, para Sung; Hanna (1996) brancos não-hispânicos mostraram maior tolerância ao
risco prevista do que hispânicos ou aqueles em outros grupos étnicos que não negros.
2.3.4.4 Fatores com Menor Expressão
Outros fatores foram estudados com menor expressão pelos autores relacionados.
Para Riley; Husson (1995) e Informativo Arus (2003), o número de filhos e
dependentes, e não apenas o estado civil, influencia nas decisões de investimento e na
tolerância ao risco do investidor. Para Informativo Arus (2003), quanto maior o número de
filhos ou dependentes menor o grau de tolerância ao risco.
Segundo Spero (2000), a tolerância ao risco também pode ser associada ao tipo de
empreendimento ou emprego escolhido pelo indivíduo. É necessário, no entanto, entender
também os objetivos do negócio ou da escolha. No caso de donos de seu próprio negócio,
por exemplo, deve ser considerado que o fato de assumirem um risco ao possuir um negócio
não significa que eles tenham um perfil de investimento agressivo. Em geral, o próprio
26
negócio já é o risco assumido, e eles preferem ser mais conservadores com seus
investimentos.
Para Grable; Joo (2000), dois fatores se mostram mais significativos do que sexo na
determinação da tolerância ao risco dos indivíduos. Um deles é chamado de “Senso de
Controle”, ou seja, aqueles que sentem ter controle sobre o que acontece em suas vidas são
mais tolerantes ao risco. Outro fator apontado é o Conhecimento sobre Finanças; quanto
maior o conhecimento, maior a tolerância ao risco.
Outra característica destacada em Hofstede (apud POWELL; FRANÇA; MATTOS,
2005), é a necessidade de controlar as incertezas, dimensão que mede o grau de ansiedade
de uma sociedade, demonstrada como função de diferenças culturais. Dessa forma,
diferenças culturais entre países, que podem ter origens no tipo de povoamento ou
colonização, poderiam ser determinantes da tolerância ao risco de uma sociedade. Segundo
Tanure (apud POWELL; FRANÇA; MATTOS, 2005) o controle de incertezas foi
determinada por região do Brasil. Os resultados demonstraram que estados do Sul e Sudeste
têm menor necessidade de controle de incertezas quando comparados aos estados do Norte e
Nordeste, provavelmente pelo fato de serem mais desenvolvidos economicamente, com
melhores modelos de gestão e competição mais clara.
Segundo Faag; Hallahan; McKenzie (2003) outras questões também cercam a
tolerância ao risco de investidores, como situação política e econômica do país, por
exemplo, embora no estudo tenha sido detectado que a propensão média do investidor a
suportar risco não parece alterar ao longo do tempo ou responder a novidades ou eventos
financeiros globais.
27
3 PROPOSIÇÕES
Apesar de a visão mais difundida sobre tomada de decisão financeira ser a de que
mulheres são menos tolerantes a risco que homens (SCHUBERT et al, 1999) e alguns
autores terem encontrado embasamento para esta afirmação (BAJTELSMIT; BERNASEK;
JIANAKOPLOS apud FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003; SUNG; HANNA, 1996;
GRABLE; JOO, 2000; HALEK; HEISENHAUER, 2001; PALSSON, 1996), para outros
autores o sexo não é significativo para prever tolerância ao risco (FAAG; HALLAHAN;
MCKENZIE, 2003; HANNA; GUTTER; FAN 1998; RILEY; HUSSON, 1995). Estes
defendem que a propensão comparativa ao risco de homens e mulheres em escolhas
financeiras depende fortemente da estrutura de decisão. Além disso, a maior parte dos
estudos, feitos para o mercado americano, mostra a realidade das mulheres daquele país.
Estas afirmações levam à necessidade de testar para a realidade brasileira a seguinte
hipótese:
H1: Homens são mais tolerantes ao risco do que mulheres.
Estudos mais antigos mostram que a tolerância ao risco diminui com a idade
(WALLACE; KOGAN, 1961, MCINISH, 1982 apud FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE,
2003; INFORMATIVO ARUS, 2003), embora esta relação não seja necessariamente linear
(FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003). Esta observação pode ser justificada
utilizando-se como argumento que investidores mais jovens têm um maior número de anos
para se recuperar das perdas que podem ocorrer em investimentos mais arriscados (FAAG;
HALLAHAN; MCKENZIE, 2003). Já pesquisas mais recentes não conseguem suportar esta
teoria ou fornecem evidências contrárias (WANG; HANNA, 1997; GRABLE, 2000 apud
28
FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003). Há, ainda, estudos demonstrando não haver
uma relação significativa entre idade e tolerância ao risco (SUNG; HANNA, 1996;
GRABLE; JOO, 2000). Isto leva à necessidade de testar a seguinte hipótese:
H2: Pessoas mais jovens são mais tolerantes ao risco do que pessoas mais velhas.
Renda e patrimônio são dois fatores adicionais que, hipoteticamente, têm uma
relação positiva com a tolerância ao risco, ou seja, quanto maior a renda e o patrimônio,
maior será a tolerância ao risco (GRABLE; LYTTON, 1999, SHAW, 1996, BERNHEIM et
al, 2001 apud FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003). Para alguns autores, a influência
destes fatores é significativa (FAAG; HALLAHAN; MCKENZIE, 2003; SCHOOLEY;
WORDEN, 1996; INFORMATIVO ARUS, 2003), enquanto para outros ela existe, mas é
pequena (RILEY; HUSSON, 1995). Isto leva à necessidade de testar a seguinte hipótese:
H3: Quanto maior a renda familiar, maior será a tolerância ao risco do indivíduo.
29
4 METODOLOGIA
O foco da pesquisa era avaliar perfil de risco de diversos segmentos da sociedade
brasileira e, através de análise estatística, determinar a existência de padrões dependentes de
fatores demográficos e psicográficos como sexo, idade do investidor e renda familiar.
O estudo realizado consistiu em uma pesquisa descritiva, envolvendo a formulação
de um questionário e a realização de um pré-teste conforme indicado por Churchill;
Iacobucci (2005), com cinco respondentes escolhidos convenientemente. Os propósitos
deste pré-teste foram:
- verificar os pontos fortes e fracos do questionário, de forma a poder corrigi-lo ou
melhorá-lo;
- avaliar o grau de dificuldade encontrado pelo respondente para entendimento e
análise das questões;
- avaliar o tempo médio necessário para responder a todo o questionário.
4.1 AMOSTRAGEM E COLETA DE DADOS
Uma amostra conveniente de 450 pessoas, cujo escopo era brasileiros ou residentes
no Brasil, foi escolhida para receber a pesquisa. Destas, algumas redistribuíram o
questionário para seus conhecidos, sendo verificado um efeito de rede, ou “bola de neve”
(REA; PARKER, 2002). Os questionários foram distribuídos somente uma vez para os
participantes entre os dias 24 e 30 de outubro de 2005 por meio eletrônico e só foram aceitos
os questionários recebidos até o dia 08 de novembro.
As planilhas recebidas foram numeradas para preservar a identidade daqueles que
preferiram não informar o nome. À medida que iam sendo abertas para consolidação, o
30
preenchimento era verificado. No caso de questionários recebidos em branco ou com partes
essenciais não respondidas, o número foi usado para localizar o respondente e solicitar o
reenvio da planilha corretamente preenchida.
A maior parte dos questionários foi respondida e reenviada por meio eletrônico e
quatro respostas foram entregues em papel.
O questionário completo encontra-se no Apêndice A.
4.2 FORMATO DA PESQUISA E MEDIÇÕES
A pesquisa enviada incluía:
- Texto de apresentação da pesquisa, contendo objetivos e propósitos e
compromisso de confidencialidade dos dados, no corpo do correio eletrônico,
conforme indicado por Churchill; Iacobucci (2005). Nesse texto era informado,
ainda, o tempo estimado de resposta, com base no pré-teste realizado; e
- planilha contendo:
• perguntas fechadas em escalas nominal, ordinal ou de intervalos (REA;
PARKER, 2002) para classificação dos participantes em critérios
socioeconômicos e demográficos com propósito de segmentação quanto a
sexo, faixa etária, nível de escolaridade, raça/ grupo étnico, estado civil,
número de dependentes, região onde reside, região onde nasceu, renda
familiar, posse de imóvel, veículo e fundos de pensão, conhecimento em
finanças e situação profissional. Dado o provável desconforto que a pergunta
sobre renda mensal podia causar para algumas pessoas, foi incluída a
alternativa “Prefiro não responder”, para evitar que todo o questionário
deixasse de ser respondido por este motivo;
31
• adaptação do questionário utilizado em Droms; Strauss (2003), com cinco
perguntas escalonadas conforme o formato de Likert (REA; PARKER, 2002)
cujo objetivo era, através da pontuação obtida nas respostas, classificar os
participantes quanto ao seu perfil de risco em Muito Conservador,
Conservador, Moderado ou Agressivo, tendo como base as quatro faixas de
tolerância ao risco usadas por Droms; Strauss (2003) para alocação de ativos
e a definição já apresentada para os três perfis mais comumente utilizados. A
escala variava entre “Concordo Totalmente”, para a qual eram atribuídos
cinco pontos, até “Discordo Totalmente”, que recebia apenas um ponto.
Quanto maior o número total de pontos obtidos, maior o grau de tolerância ao
risco. As faixas possíveis para essa pontuação eram:
� Muito Conservador: de 6 a 12 pontos;
� Conservador: de 13 a 18 pontos;
� Moderado: de 19 a 24 pontos; e
� Agressivo: de 25 a 30 pontos.
Para estimular a resposta e prestar um serviço ao respondente, o questionário
informava, ao final das cinco perguntas, o seu perfil de tolerância ao risco. Esse
questionário continha, também, uma pergunta usada em Droms; Strauss (2003), para
obter o horizonte de investimento em carteira, classificado em Curto Prazo (até três
anos), Médio Prazo (quatro a sete anos) ou Longo Prazo (mais que sete anos);
- perguntas fechadas sobre a distribuição atual da carteira de investimentos,
em que o respondente deveria marcar os investimentos que faziam parte de sua
carteira atual: caderneta de poupança; títulos e fundos de renda fixa; ações e fundos
de ações; moeda estrangeira ou fundos cambiais; imóveis (exceto aquele em que
32
reside) e fundos imobiliários; e outros. Caso o respondente não marcasse nenhuma
das opções, dado que existia a opção “Outros” para cobrir investimentos não listados,
essa parte do questionário seria desconsiderada, devido à impossibilidade de
determinar se o respondente não possuía nenhum investimento ou se esqueceu, ou
mesmo não quis responder à pergunta.
Os questionários reenviados ainda com respostas faltantes na parte I foram
considerados, sendo somente desconsiderados quando da consolidação e análise dos fatores
não respondidos. Dessa forma, o tamanho da amostra considerada diferiu em algumas
unidades para cada fator analisado. Para cada um deles, foi construída uma tabela
contingencial com tabulação cruzada (REA; PARKER, 2002), em que a variável dependente
- pontuação de tolerância ao risco - foi agrupada por perfil, sendo considerados os seguintes
intervalos:
- conservador: 6 |-- 19 – que reunia os perfis Muito Conservador e Conservador,
dado o fato de apenas um entrevistado apresentar o perfil Muito Conservador ;
- moderado: 19 |-- 25; e
- agressivo: 25 |--| 30.
A partir dessa tabela foram feitos, quando necessário, reagrupamentos de variáveis
independentes que não tiveram um número representativo de respostas. Foram obtidos,
também, os histogramas e a Estatística Descritiva por categoria da variável independente, de
forma a facilitar a visualização e a análise do comportamento dos dados. A análise dos
dados foi feita usando o software MS-Excel.
De posse da distribuição de freqüências e com base nas hipóteses preestabelecidas,
foram identificados os testes estatísticos aplicáveis – qui-quadrado, teste da diferença entre
médias (teste z), análise da variância (ANOVA).
33
Quando um dos testes aplicados mostrou uma relação estatisticamente significativa,
estatísticas adicionais - teste V e Fi de Cramer (REA; PARKER, 2002) -, quando aplicáveis,
foram calculadas para medir a força da relação.
Outra segmentação para análise da influência dos principais fatores analisados –
sexo, idade e renda mensal - sobre a tolerância ao risco foi feita com base no horizonte de
investimento. Nesse caso, os dados para cada um dos horizontes possíveis (curto prazo,
médio prazo e longo prazo) foram isolados e foi repetido o teste de hipótese. O objetivo
desses testes foi verificar se o comportamento dos dados para cada horizonte seria diferente
do comportamento geral observado, já que foi encontrada uma relação estatisticamente
significativa, porém fraca, entre o horizonte de investimento e a tolerância ao risco.
4.3 TESTES APLICADOS
Quando a observação da Estatística Descritiva, do histograma ou da tabela
contingencial cruzada apontaram para um possível padrão de comportamento das variáveis,
foram aplicados testes para avaliar a significância estatística das diferenças observadas. Os
testes usados estão descritos a seguir.
4.3.1 Teste Qui-Quadrado
Segundo Rea; Parker (2002), o teste qui-quadrado é o mais freqüentemente usado
para determinar a validade estatística das diferenças observadas entre classes de dados,
sendo o único disponível para dados com ambas as variáveis medidas na escala nominal. Ele
também pode ser usado para testar dados medidos nas escalas ordinal e de intervalos,
organizados em categorias e apresentados numa tabela contingencial. Considerando que a
34
variável dependente – a pontuação obtida na parte II do questionário - foi agrupada em
intervalos de tolerância ao risco, o qui-quadrado pôde ser usado no trabalho.
O teste qui-quadrado compara as freqüências obtidas nas pesquisas por amostragem
e as que seriam esperadas caso não houvesse diferença entre as categorias das variáveis,
com base na seguinte equação:
(fo – fe)2
χ2 = Σ
fe
onde fo é a freqüência obtida em cada célula e fe é a freqüência que seria esperada
caso não houvesse diferença entre as categorias, suposição conhecida como hipótese nula.
Para analisar o qui-quadrado obtido, é preciso compará-lo ao qui-quadrado crítico
para um certo número de graus de liberdade, dentro de um nível de confiança. Dada uma
tabela contingencial cruzada, os graus de liberdade (gl) são obtidos pela seguinte fórmula:
gl = (l – 1) (c-1)
onde l é o número de linhas, ou categorias da variável dependente, e c é o número de
colunas, ou categorias da variável independente.
Os qui-quadrados críticos para até 10 graus de liberdade, dentro do nível de
confiança de 95%, estão apresentados no Anexo A.
Caso o qui-quadrado obtido seja maior que o qui-quadrado crítico, rejeita-se a
hipótese nula.
4.3.2 Teste da Diferença Entre Médias (Teste Z)
O teste Z é mais poderoso que o qui-quadrado quando uma tabela contingencial
contém uma variável dependente na escala de intervalos e uma variável independente
35
consistindo de duas categorias em qualquer escala (REA, PARKER, 2002, p. 181). Esse
teste consiste na comparação entre as médias aritméticas das duas categorias da variável
independente, por meio da fórmula:
Z =
onde o numerador representa a diferença entre as médias aritméticas dos valores de
cada coluna (variável independente), s1 e s2 são os desvios-padrão para cada uma dessas
colunas e n1 e n2, o total de elementos de cada categoria na amostra analisada.
Assim como no teste qui-quadrado, o teste da diferença entre médias requer a
comparação do Z obtido com o Z crítico, determinado pelo número de desvios padrão em
relação à média acima do qual a diferença é considerada estatisticamente significativa. Esse
número de desvios depende do nível de confiança com o qual se deseja trabalhar (para este
estudo, 95%) e a direção – única ou dupla – da hipótese formulada. A direção dupla testa se
existe diferença significativa entre as médias obtidas; a direção única, se essa diferença
acontece em um sentido específico, como é o caso da hipótese de que homens são mais
tolerantes a risco que mulheres.
Os valores críticos absolutos de Z para o nível de confiança de 95% são: 1,96 para os
testes de duas direções (bicaudais) e 1,645 para os testes de direção única (unicaudais). Se o
Z encontrado for maior que o Z crítico, rejeita-se a hipótese nula de que não há diferença
significativa entre as médias.
O teste Z é aplicável a amostras com pelo menos trinta elementos. Dado o número de
respostas obtidas, essa não foi uma limitação ao uso desse teste.
+ s1
2
n2
x1 – x2
s22
n1
36
4.3.3 Análise da Variância
A análise da variância permite avaliar afirmações sobre as médias de populações e
decidir se as diferenças amostrais observadas são reais ou casuais, isto é, se elas decorrem
de diferenças significativas nas populações avaliadas ou da mera variabilidade amostral
(MILONE, 2004).
A análise da variância parte dos seguintes pressupostos:
- as amostras são aleatórias e independentes;
- as populações são normais; e
- as variâncias populacionais são iguais.
Na prática, segundo Milone (2004), os resultados dessa análise são empiricamente
verdadeiros sempre que as populações são aproximadamente normais e têm variâncias
próximas. A hipótese nula para a análise das variâncias é a de que as médias populacionais
são iguais.
Para a análise da variância, é necessário obter a razão entre a variância das médias
amostrais (estimativa entre) e a média das variâncias amostrais (estimativa dentro), também
chamada de razão F. Quando F é menor que ou igual ao F crítico, aceita-se a hipótese nula.
O F crítico depende dos graus de liberdade das estimativas entre e dentro e do nível de
significância do teste.
O MS-Excel possui uma ferramenta para análise das variâncias (ANOVA), que
constrói a tabela com as diversas parcelas da análise da variância, incluindo o F observado e
o F crítico.
37
4.4 ESTATÍSTICAS DE FORÇA DAS RELAÇÕES SIGNIFICATIVAS
De acordo com Rea; Parker (2002), os testes de significância estatística são capazes
de determinar se existe ou não uma relação entre variáveis, mas não medem a força dessa
relação. Para isso, existem medidas de associação específicas, como V e Fi de Cramer.
4.4.1 V e Fi de Cramer
O V de Cramer é obtido a partir do qui-quadrado calculado (χ2), de acordo com a
fórmula a seguir:
V =
Onde n é o tamanho da amostra e M o número mínimo de linhas ou colunas na tabela
contingencial cruzada.
Os valores possíveis para o V de Cramer vão de 0 a 1, onde 0 representa nenhuma
associação e 1 representa a associação perfeita.
O Fi de Cramer é um caso especial do V de Cramer, onde uma ou ambas as variáveis
contêm somente duas categorias. Neste caso, M – 1 é igual a 1 e a fórmula passa a ser:
Fi =
A interpretação do Fi de Cramer é semelhante à do V de Cramer. O anexo B
apresenta os valores possíveis para essas estatísticas e sua interpretação.
χ2
n(M – 1)
χ2
n
38
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
De um total estimado de 450 questionários enviados, 198 retornaram dentro do
prazo. Destes, 108 (55% do total) foram respondidos por pessoas a quem o questionário foi
diretamente enviado, enquanto 90 (45% do total), por pessoas da rede de relacionamentos
das primeiras. Mesmo considerando a redistribuição do questionário por algumas pessoas, o
que aumentou o número de pessoas que o receberam, a quantidade de questionários
respondidos foi bastante satisfatória, principalmente dado o curto prazo para retorno e a
existência de perguntas delicadas, tais como renda mensal e investimentos atuais.
5.1 PERFIL DO RESPONDENTE
O perfil típico do respondente foi homem entre 31 e 40 anos, casado ou que vive
com companheiro(a), sem dependentes, branco, com pós-graduação, imóvel e veículo
próprios e plano de previdência privada, com conhecimento em finanças intermediário, que
nasceu e vive no Sudeste do Brasil, empregado de empresa particular e com renda familiar
mensal acima de R$6.501,00.
A tabela 1 ilustra a distribuição dos pesquisados por critérios demográficos. Embora
a amostra não seja representativa da população de brasileiros ou residentes no Brasil, não
podendo, portanto, ser usada para fazer inferências estatísticas sobre as médias e a
distribuição da população, ela permite que sejam feitas inferências sobre o relacionamento
entre as variáveis observadas.
39
Tabela 1 - Resumo dos dados demográficos (fonte: elaboração própria)
Fatores No de Observações % da Amostra
Painel 1 – Sexo
Masculino 137 69%
Feminino 61 31%
Painel 2 – Idade
Até 30 anos 64 32%
Entre 31 e 40 anos 82 41%
Entre 41 e 50 anos 38 19%
Entre 51 e 60 anos 11 6%
Acima de 60 anos 3 2%
Painel 3 - Estado civil
Solteiro 72 36%
Casado(a) ou vive com companheiro(a) 114 57%
Viúvo(a) 7 4%
Separação legal (judicial ou divórcio) 5 3%
Outro 0 0%
Painel 4 – Número de dependentes
Nenhum 95 48%
Um 32 16%
Dois 37 19%
Três 26 13%
Quatro ou mais 8 4%
Painel 5 – Cor ou raça
Branca 164 82%
Preta 0 0%
Parda 31 16%
Amarela 2 1%
Indígena 1 1%
Painel 6 - Escolaridade
Sem escolaridade 0 0%
Ensino fundamental incompleto 0 0%
Ensino fundamental completo 0 0%
Ensino médio incompleto 1 1%
40
Ensino médio completo 4 2%
Superior incompleto 13 7%
Superior completo 37 19%
Pós-graduação 143 71%
Painel 7 – Possui imóvel próprio
Sim 122 62%
Não 76 38%
Painel 8 – Possui veículo próprio
Sim 158 80%
Não 40 20%
Painel 9 – Possui plano de previdência privada
Sim 148 75%
Não 50 25%
Painel 10 – Conhecimento em finanças
Nenhum 2 1%
Baixo 62 31%
Intermediário 108 54%
Alto 25 13%
Não respondeu 1 1%
Painel 11 – Região em que vive
Norte 2 1%
Nordeste 20 10%
Sul 1 1%
Sudeste 168 84%
Centro-oeste 4 2%
Fora do Brasil 1 1%
Não respondeu 2 1%
Painel 12 – Região em que nasceu
Norte 3 2%
Nordeste 20 10%
Sul 5 3%
Sudeste 155 77%
Centro-oeste 10 5%
Fora do Brasil 3 2%
Não respondeu 2 1%
41
Painel 13 – Situação profissional
Empregador 4 2%
Empregado do governo 46 23%
Empregado de empresa particular 133 67%
Profissional liberal 4 2%
Trabalhador autônomo 2 1%
Auxiliar de membro da família 0 0%
Estagiário 4 2%
Desempregado 1 1%
Do lar 0 0%
Aposentado 4 2%
Vive de rendas 0 0%
Painel 14 – Renda familiar mensal
Até R$1.300,00 3 2%
De R$1.301,00 a R$3.900,00 30 15%
De R$3.901,00 a R$6.500,00 64 32%
Acima de R$6.501,00 77 39%
Prefiro não responder 24 12%
A tabela 2 mostra o horizonte de investimento dos pesquisados. Pode-se observar
que a grande maioria dos entrevistados tem uma visão de curto ou médio prazo para seus
investimentos.
Tabela 2 - Distribuição das respostas por horizonte de investimento (fonte: elaboração própria)
Fatores No de Observações % da Amostra
Painel 1 – Horizonte de investimento
Curto Prazo – até três anos 74 37%
Médio Prazo – quatro a sete anos 73 37%
Longo Prazo – mais que sete anos 47 24%
Não Respondeu 4 2%
42
A tabela 3 mostra a alocação por tipo de investimento dos respondentes. É possível
observar que os títulos e fundos de renda fixa são os investimentos preferidos pela maioria
dos pesquisados (68%), seguidos pelas ações e fundos de ações (50%) e pela caderneta de
poupança (44%).
Tabela 3 - Distribuição dos dados por tipo de investimento (fonte: elaboração própria)
Fatores No de Observações % da Amostra
Painel 1 – Caderneta de Poupança
Sim 87 44%
Não 106 53%
Não respondeu 5 3%
Painel 2 – Títulos e fundos de renda fixa
Sim 135 68%
Não 58 29%
Não respondeu 5 3%
Painel 3 – Ações e fundos de ações
Sim 100 50%
Não 93 47%
Não respondeu 5 3%
Painel 4 – Moeda estrangeira ou fundos cambiais
Sim 33 17%
Não 160 80%
Não respondeu 5 3%
Painel 5 – Imóveis ou fundos imobiliários
Sim 39 20%
Não 154 77%
Não respondeu 5 3%
Painel 6 – Outros investimentos
Sim 23 12%
Não 170 85%
Não respondeu 5 3%
43
O gráfico 1 apresenta a distribuição dos pesquisados por perfil de risco. O perfil mais
freqüente dentro da amostra analisada foi o Moderado, respondendo por 54% do total de
pesquisados.
Ilustração 1 - Distribuição dos pesquisados por perfil de risco (fonte: elaboração própria)
A ilustração 2 mostra a distribuição dos respondentes por pontuação de tolerância ao
risco. O número de respostas obtidas permitiu que fosse obtida uma curva próxima à normal,
com distribuição concentrada ao redor da média (19,64) e inclinação direita ou positiva,
conforme a tabela 4.
Tolerância ao Risco
1%
36%
54%
9%
Muito Conservador
Conservador
Moderado
Agressivo
44
Ilustração 2 - Histograma de Tolerância ao Risco (fonte:elaboração própria)
Tabela 4 - Estatística descritiva para a amostra analisada (fonte: elaboração própria)
Pontuação
Média 19,64141
Erro padrão 0,233656
Mediana 19
Modo 19
Desvio padrão 3,287834
Variância da amostra 10,80985
Curtose 0,196915
Assimetria 0,486953
Intervalo 18
Mínimo 12
Máximo 30
Soma 3889
Contagem 198
Maior(1) 30
Menor(1) 12
Nível de confiança(95,0%) 0,460789
Histograma - Tolerância ao Risco
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
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100
150
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as
45
5.2 DETERMINANTES DA TOLERÂNCIA AO RISCO
5.2.1 Sexo
Por meio da tabela 5, é possível observar que a média da tolerância ao risco dos
homens é maior que a das mulheres. Analisando a questão com mais profundidade usando a
tabela contingencial com tabulação cruzada (tabela 6), percebe-se uma maior concentração
do perfil conservador para o sexo feminino e do perfil agressivo para o sexo masculino.
Tabela 5 - Resumo dos dados por sexo (fonte: elaboração própria)
Grupo Contagem Soma Média Variância
Homens 137 2730 19,92701 11,93581
Mulheres 61 1159 19 7,833333
Tabela 6 - Tabela Contingencial com Tabulação Cruzada – Sexo (fonte: elaboração própria)
Tabela Contingencial com Tabulação Cruzada - Sexo
Masculino Feminino Total
Tolerância ao Risco f % f % f %
Conservador 0 |-- 19 47 34,3% 25 41,0% 72 36,4%
Moderado 19 |-- 25 75 54,7% 34 55,7% 109 55,1%
Agressivo 25 |--| 30 15 10,9% 2 3,3% 17 8,6%
Total 137 100% 61 100% 198 100%
46
As hipóteses aplicadas para testar a influência do sexo sobre o grau de tolerância ao
risco foram:
- Hipótese nula (H0): Não há diferença entre o comportamento de tolerância ao
risco de homens e de mulheres para a amostra analisada; e
- Hipótese alternativa (H1): Homens são mais tolerantes ao risco do que mulheres
na amostra analisada.
Como há duas categorias de variáveis independentes e a hipótese alternativa supõe
não apenas uma diferença, mas também o sentido em que essa diferença ocorre, foi
escolhido o teste da diferença entre médias para avaliar as hipóteses formuladas.
A aplicação do teste Z mostrou que, para um intervalo de confiança de 95%, é
possível afirmar que os homens são mais tolerantes ao risco que as mulheres (Z = 2,00,
maior que o Z crítico de 1,645), o que comprova a hipótese H1. Essa é, entretanto, uma
relação fraca, segundo a estatística Fi de Cramer obtida (0,13).
Nos testes segmentados por horizonte de investimento, foi verificado que, no curto
prazo, a relação se mantém, ou seja, os homens são mais tolerantes ao risco que as mulheres
(Z = 1,663). Essa relação, porém, é intensificada para esse horizonte, pois ocorre com força
moderada (Fi de Cramer igual a 0,27). Para os demais horizontes, não foi encontrada relação
estatisticamente significativa entre o sexo e a tolerância ao risco.
Para verificar a possível existência de relação entre horizonte e sexo, também foi
testada a hipótese de que a diferença na distribuição dos horizontes de investimento para
homens e mulheres era significativa. Como não foi encontrada qualquer relação entre o sexo
e o horizonte de investimento (Z = 0,07), pode-se afirmar, também, que as mulheres são
mais avessas ao risco que os homens para o horizonte de curto prazo.
47
5.2.2 Idade
Para a análise da idade foi necessário reagrupar as faixas etárias, dado o baixo
número de respondentes acima de 60 anos. Assim, permaneceram três categorias: até 30
anos, entre 31 e 40 anos e acima de 40 anos.
Pela hipótese 2, pessoas mais jovens são mais tolerantes ao risco do que pessoas
mais velhas. Os dados apresentados na tabela contingencial cruzada (tabela 7), porém,
mostram que, aparentemente, os extremos aumentam com a idade. As hipóteses formuladas
foram, então:
- Hipótese nula (H0): não há diferença significativa na tolerância ao risco entre as
diversas faixas etárias; e
- Hipótese alternativa (H2): a faixa etária influencia no grau de tolerância ao risco.
Para verificar se a diferença entre as classes é significativa, foi usado o teste qui-
quadrado, por meio do qual se constatou que a idade não influencia no grau de tolerância ao
risco para a amostra analisada (qui-quadrado observado igual a 8,82 e qui-quadrado crítico
igual a 9,488, com 4 graus de liberdade e intervalo de confiança de 95%).
48
Tabela 7 - Tabela Contingencial com Tabulação Cruzada – Idade (fonte: elaboração própria)
Tabela Contingencial com Tabulação Cruzada - Idade
Até 30 anos Entre 31e 40 anos
Acima de 40 anos
Total
Tolerância ao Risco f % f % f % f %
Conservador 0 |-- 19 21 32,8% 26 31,7% 25 48,1% 72 36,4%
Moderado 19|-- 25 40 62,5% 49 59,8% 20 38,5% 109 55,1%
Agressivo 25 |--| 30 3 4,7% 7 8,5% 7 13,5% 17 8,6%
Total 64 100% 82 100% 52 100% 198 100%
Ao se fazer a análise segmentada por horizonte de investimento, também não foi
encontrada relação entre a idade e a tolerância ao risco para cada um dos horizontes
considerados.
5.2.3 Renda Mensal
A análise da renda mensal exigiu o reagrupamento das quatro faixas iniciais em
apenas três faixas, dado o baixo número de pesquisados com renda familiar mensal até
R$1.300,00. Assim, as novas faixas foram:
- até R$3.900,00;
- de R$3.901,00 a R$6.500,00; e
- acima de R$6.501,00.
Aqueles que optaram por não responder à questão foram excluídos desta análise.
A hipótese 3 afirma que, quanto maior a renda familiar mensal, maior a tolerância ao
risco do indivíduo. Analisando a tabela contingencial com tabulação cruzada para a renda
(tabela 8), pode-se observar um aparente deslocamento do percentual de pesquisados do
49
perfil conservador para os perfis moderado e agressivo conforme a renda familiar aumenta.
De fato, a média de tolerância ao risco aumenta conforme a renda familiar mensal, conforme
pode ser visto na tabela 9.
Tabela 8 - Tabela Contingencial com Tabulação Cruzada – Renda Familiar Mensal (fonte: elaboração própria)
Tabela Contingencial com Tabulação Cruzada – Renda Familiar Mensal
Até R$3.900,00
De R$3.901,00 a R$6.500,00
Acima de R$6.501,00
Total
Tolerância ao Risco f % f % f % f %
Conservador
0 |-- 19 18 54,5% 21 32,8% 23 29,9% 62 35,6%
Moderado 19|-- 25 14 42,4% 39 60,9% 43 55,8% 96 55,2%
Agressivo 25 |--| 30 1 3,0% 4 6,3% 11 14,3% 16 9,2%
Total 33 100,0% 64 100,0% 77 100,0% 174 100,0%
Tabela 9 - Resumo da tolerância ao risco por grupo (fonte: elaboração própria)
Grupo Contagem Soma Média Variância
Até R$3.900,00 33 610 18,48 7,57
De R$3.901,00 a R$6.500,00 64 1259 19,67 10,16
Acima de R$6.501,00 77 1567 20,35 11,20
Para testar se essa diferença observada é estatisticamente significativa, foram usados
a Análise de Variância e o teste qui-quadrado, com as seguintes hipóteses:
- Hipótese nula (H0): A renda familiar mensal não influencia no grau de tolerância
ao risco; e
- Hipótese alternativa (H3): O grau de tolerância ao risco aumenta com o aumento
da renda familiar mensal.
50
Ambos os testes aplicados apontaram para uma diferença estatisticamente
significativa. No caso da ANOVA, como o F observado foi maior que o F crítico (tabela
10), a hipótese nula pôde ser rejeitada. O qui-quadrado observado foi 9,67, maior, portanto,
que o qui-quadrado crítico para quatro graus de liberdade e intervalo de confiança de 95%
(9,488), o que também mostrou que a hipótese nula poderia ser rejeitada.
Usando a estatística V de Cramer para medir a força da relação, foi encontrada uma
associação fraca entre as variáveis tolerância ao risco e renda mensal. Na segmentação da
amostra por horizonte, não foi obtida relação estatisticamente significativa entre a renda
mensal e a tolerância ao risco para cada horizonte analisado.
Tabela 10 - ANOVA para a Tolerância ao Risco por Renda Familiar Mensal (fonte: elaboração própria)
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 80,99 2 40,49 3,99 0,02 3,05
Dentro dos grupos 1733,88 171 10,14
Total 1814,87 173
5.2.4 Outros Fatores
Alguns fatores constantes do questionário foram incluídos de forma a possibilitar a
melhor definição do perfil do investidor entrevistado.
A relação entre tolerância ao risco e outros fatores como nível de escolaridade, grau
de conhecimento em Finanças, o fato de possuir imóvel, veículo ou fundo de pensão, estado
civil, lugar onde nasceu e onde reside, número de dependentes e situação profissional foram
51
avaliados mais superficialmente. Destes fatores, o único que apresentou relação com a
tolerância ao risco foi o conhecimento em Finanças (qui-quadrado observado igual a 20,41,
maior que o qui-quadrado crítico de 9,488 para quatro graus de liberdade e intervalo de
confiança de 95%), com força moderada (V de Cramer igual a 0,23).
52
6 DISCUSSÃO
O perfil típico do respondente entrevistado no presente estudo possui alguns fatores
coincidentes com o estudo sobre o perfil do investidor no mercado nacional, descrito por
Côrrea (2000). É importante ressaltar, no entanto, que os resultados encontrados não podem
ser generalizados para a população brasileira, já que nenhuma análise de significância foi
realizada neste sentido.
Dos fatores demográficos e psicográficos pesquisados, sexo, faixa de idade e renda
familiar do investidor foram utilizados na formulação das principais hipóteses do trabalho,
por serem estes os fatores tidos como mais significativos e precisos. A análise entre
tolerância ao risco e conhecimento em Finanças apresentou relação com força moderada.
Para os demais fatores, optou-se por utilizar apenas análises mais superficiais de tendência e
para determinação do perfil do investidor analisado, uma vez que a relação entre alguns
destes fatores e a tolerância ao risco não é muito clara, de acordo com Halek; Heisenhauer
(2001). Segundo os autores, pode-se defender que estes fatores afetam a tolerância ao risco
individual, ou que a tolerância ao risco individual afeta as escolhas dos indivíduos para
determinados fatores. Eles afirmam que é possível defender, por exemplo, que o casamento
reduz a tolerância ao risco, mas também que pessoas menos tolerantes ao risco optam pelo
casamento.
A análise da influência do sexo do investidor no grau de tolerância ao risco
financeiro demonstrou uma maior concentração do perfil conservador para o sexo feminino
e do perfil agressivo para o sexo masculino, sendo possível afirmar, em um intervalo de
confiança de 95%, que homens são mais tolerantes ao risco que mulheres, embora a relação
seja fraca.
53
Este resultado está de acordo com a maior parte dos autores pesquisados, que
encontraram embasamento para a idéia de que mulheres são menos tolerantes ao risco do
que homens. Esse comportamento pode ser originado pelas diferenças entre as
oportunidades oferecidas a homens e mulheres, bem como por fatores culturais, por
exemplo.
Com relação à influência da idade, verificou-se que, aparentemente, os extremos
aumentam com a idade, mas essa relação entre a tolerância ao risco e a idade não se mostra
significativa, podendo-se afirmar que, na amostra analisada, a idade não influencia o grau de
tolerância ao risco. Deve-se ressaltar, porém, que não foi possível analisar mais
detalhadamente as diferenças entre as faixas de 41 a 50 anos, de 51 a 60 anos e acima de 60
anos, uma vez que a quantidade insuficiente de respostas obtidas isoladamente para cada
uma das faixas levou à necessidade de agrupá-las.
Dessa forma, o resultado encontrado para a amostra em questão suporta os poucos
estudos encontrados que demonstram não haver uma relação significativa entre idade e
tolerância ao risco, não estando de acordo nem com os mais antigos, que demonstram que a
tolerância ao risco reduz com a idade, nem com os mais recentes, que afirmam o inverso.
No caso do estudo de renda e riqueza, ou patrimônio, sabe-se que as duas variáveis
tendem a ser altamente, se não perfeitamente, correlacionadas, ou seja, as pessoas mais ricas
geralmente tendem a ter rendas maiores. Assim, pode ser difícil isolar as influências de
renda e riqueza sobre a tolerância ao risco. Segundo Gujarati (2000), isso seria possível se
ambas fossem questionadas e se fosse obtido um número suficiente de observações de
pessoas ricas com baixa renda e pessoas pobres com alta renda. No entanto, considerando-se
a sensibilidade do tema riqueza para os brasileiros e as restrições de tempo e recursos,
optou-se por medir apenas a variável renda familiar, correlacionando-a com a tolerância ao
risco financeiro.
54
O resultado encontrado mostra que, quanto maior a renda familiar do indivíduo,
maior a sua tolerância ao risco, mas que essa relação é fraca. Este resultado está de acordo
com o estudo de Riley; Husson (1995), que afirmam que essa relação existe, é positiva, mas
é fraca.
Com relação aos três fatores - sexo, idade e renda - inicialmente a proposta era
apenas analisá-los de forma consolidada, sem considerar o horizonte de investimento
preferencial do investidor. No entanto, no decorrer das análises, foi verificada a
possibilidade de avaliar se as hipóteses testadas apresentariam resultados diferentes para
estes fatores, caso os investidores fossem segmentados por horizonte de investimento.
Para esta análise, demonstrou-se que, em relação ao sexo, no curto prazo há uma
intensificação da tendência de mulheres serem menos tolerantes ao risco do que homens.
Para os demais horizontes de investimento, homens e mulheres se comportam de forma
semelhante com relação ao risco.
Em relação à idade do investidor, observou-se que a relação com a tolerância ao
risco permaneceu indiferente estatisticamente em todos os três horizontes, assim como
ocorrido no cenário consolidado.
Em relação à renda, a fraca relação existente no cenário consolidado não foi
evidenciada nos cenários segmentados em horizonte de investimento.
De qualquer forma, cabe ressaltar que os resultados provenientes destes cenários
mostram somente tendências, não podendo ser considerados significativos e nem mesmo
confiáveis, de acordo com Rea; Parker (2002), já que as amostras não seguiram a regra
prática de que cada célula da tabela contingencial deveria possuir uma freqüência esperada
de pelo menos cinco observações.
O resultado adicional encontrado para a relação positiva existente entre
conhecimento em finanças e tolerância ao risco já era esperado e está de acordo com o
55
estudo de Grable; Joo (2000). A falta de conhecimento das regras e das particularidades de
qualquer área leva à insegurança, à sensação de falta de controle e impossibilidade de
detectar e gerenciar riscos. O conhecimento leva a uma maior segurança em arriscar, devido
à maior consciência da relação risco/retorno existente.
56
7 CONCLUSÃO
7.1 ATINGIMENTO DOS OBJETIVOS
O objetivo principal do estudo, que compreendia examinar o comportamento da
tolerância ao risco financeiro do investidor em função de fatores demográficos, tais como
sexo, idade do investidor e renda familiar, para uma amostra conveniente selecionada entre
brasileiros ou residentes no Brasil, foi alcançado.
A primeira hipótese, que visava testar se homens são mais tolerantes ao risco do que
mulheres, foi comprovada, embora com uma relação fraca.
A segunda hipótese, que visava testar se pessoas mais jovens são mais tolerantes ao
risco do que pessoas mais velhas, foi refutada, uma vez que se constatou que a idade não
influencia no grau de tolerância ao risco para a amostra analisada.
A terceira hipótese, que visava testar se quanto maior a renda familiar, maior seria a
tolerância ao risco do indivíduo, foi comprovada embora com uma relação fraca.
Os resultados encontrados estão de acordo com alguns estudos prévios realizados,
principalmente, no mercado americano, embora não possam ser considerados conclusivos.
Quanto aos objetivos secundários, o perfil dos respondentes encontrado teve pontos
em comum com o perfil do investidor brasileiro encontrado na literatura, porém nenhuma
análise de significância foi feita neste sentido e o resultado não pode ser generalizado para
investidores brasileiros, fornecendo apenas uma indicação.
Com relação às análises segmentadas por horizonte de investimento, os resultados
encontrados não podem ser considerados confiáveis devido ao número limitado de
observações realizadas para cada faixa dos fatores.
57
O resultado encontrado para a influência do conhecimento de finanças na tolerância
ao risco já era esperado.
O percentual de retorno obtido e os resultados encontrados demonstram a eficácia da
metodologia utilizada no estudo, baseada na utilização de questionário com perguntas
fechadas.
7.2 LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS
Uma limitação potencial deste estudo envolveu a amostragem. Deve-se notar a falta
de significância estatística de algumas variáveis demográficas e psicográficas analisadas.
Uma amostra maior e mais heterogênea possibilitaria a análise de outras variáveis e poderia
levar a resultados diferentes dos encontrados. Embora a amostra utilizada seja
potencialmente limitante no que se refere à generalização, ela se mostrou útil, por exemplo,
para tirar conclusões gerais sobre a influência de alguns fatores demográficos sobre a
tolerância ao risco.
Outro problema encontrado se deve à falta de ferramentas para garantia do sigilo dos
entrevistados. Assim, o teor e a forma das perguntas foram limitados, de modo a encorajar
os respondentes a completar e devolver a pesquisa. Perguntas de teor muito sigiloso ou
pessoal foram evitadas, a fim de não causar constrangimento, o que impediu a análise de
variáveis como riqueza/patrimônio.
Os resultados do estudo, embora não possam ser generalizados no âmbito brasileiro,
oferecem fortes indícios de que sexo, renda familiar e conhecimento em finanças
influenciam o grau de tolerância ao risco do investidor. A determinação da existência de
comportamentos padronizáveis de tolerância ao risco para determinados segmentos da
sociedade e o entendimento de como e por que esses padrões ocorrem podem ser bastante
58
úteis não só para auxiliar na análise preliminar de carteiras individuais, como também para
direcionar corretamente campanhas publicitárias e ofertas de produtos financeiros, poupando
esforços e recursos para divulgação e alocação de ativos.
Trabalhos futuros poderiam focar apenas em idade como variável quantitativa e sexo
dos investidores, desenvolvendo a análise pelo modelo ANCOVA e utilizando teste de
Chow (GUJARATI, 2000). Outra possibilidade seria utilizar amostras baseadas em bancos
de dados de instituições financeiras brasileiras, obtendo um maior número de observações,
que pudesse ser considerada representativa para o universo brasileiro.
Outros trabalhos poderiam, também, investigar a representatividade do questionário
de Droms; Strauss (2003) para identificação do perfil de tolerância ao risco do investidor
individual e, possivelmente, propor melhorias que facilitem a segmentação.
59
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63
APÊNDICE
64
APÊNDICE A −−−− QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE TOLERÂNCIA AO
RISCO
Observação: Este questionário destina-se exclusivamente a fins acadêmicos.
Parte I - Dados Pessoais
Nome (opcional):
Questionário de Avaliação de Perfil de Tolerância ao Risco
Masculino
Feminino
Sexo Até 30 anos
Entre 31 e 40 anos
Entre 41 e 50 anos
Entre 51 e 60 anos
Acima de 60 anos
Idade
Solteiro(a)
Casado(a) ou vive com companheiro(a)
Viúvo(a)
Separação legal (judicial ou divórcio)
Outro
Estado civil
Sem escolaridade
Ensino fundamental incompleto (até a 4ª série do primeiro grau)
Ensino fundamental completo (até a 8ª série do primeiro grau)
Ensino médio (segundo grau) incompleto
Ensino médio (segundo grau) completo
Superior incompleto
Superior completo
Pós-graduação
Escolaridade
Empregador
Empregado do governo
Empregado de empresa particular
Profissional liberal
Trabalhador autônomo
Auxiliar de membro da família
Estagiário
Desempregado
Do lar
Aposentado
Vive de rendas
Situação profissional
Branca
Preta
Parda
Amarela
Indígena
Cor ou raça
Norte
Nordeste
Sul
Sudeste
Centro-oeste
Fora do Brasil
Região em que nasceu
Norte
Nordeste
Sul
Sudeste
Centro-oeste
Fora do Brasil
Região em que vive
Até R$1.300,00
De R$1.301,00 a R$3.900,00
De R$3.901,00 a R$6.500,00
Acima de R$6.501,00
Prefiro não responder
Renda familiar mensal
Nenhum
Um
Dois
Três
Quatro ou mais
Número de dependentes
Sim
Não
Possui imóvel próprio
Sim
Não
Possui veículo próprio
Nenhum
Baixo
Intermediário
Alto
Como você classifica o seu conhecimento em finanças
Sim
Não
Possui plano de previdência privada
65
Parte II - Tolerância ao Risco (*)
Concordo
Totalmente Concordo Neutro Discordo Discordo
Totalmente Sua
Resposta 1. Um dos meus principais objetivos de investimento é obter um alto retorno a longo prazo que irá permitir que o meu capital cresça mais rápido que a taxa de inflação.
5 4 3 2 1
2. Eu gostaria de um investimento que me proporcionasse uma oportunidade de adiar, em alguns anos, o pagamento de imposto de renda sobre ganhos de capital.
5 4 3 2 1
3. Eu não faço questão de um alto nível de retorno no curto prazo para os meus investimentos.
5 4 3 2 1
4. Eu toleraria algumas variações bruscas no retorno dos meus investimentos para obter um retorno potencialmente mais alto do que normalmente seria esperado de investimentos mais estáveis.
5 4 3 2 1
5. Eu arriscaria uma perda no retorno de curto prazo por uma taxa de retorno potencialmente mais alta no futuro.
5 4 3 2 1
6. Eu estou financeiramente apto a aceitar um baixo nível de liqüidez em minha carteira de investimentos.
5 4 3 2 1
Total de pontos: 0
Seu perfil de risco é:
(*) Adaptado de DROMS, William G. e STRAUSS, Steven N. Assessing Risk Tolerance for Asset Allocation. Journal of Financial Planning, mar. 2003.
66
Parte III - Distribuição Atual da Carteira de Investimentos
Obrigada pela sua participação!
Tipo de Investimento em que aplica hoje
Títulos e Fundos de Renda Fixa
Ações e Fundos de Ações
Moeda Estrangeira ou Fundos Cambiais
Imóveis (exceto imóvel em que reside) ou Fundos Imobiliários
Caderneta de Poupança
Outros
67
ANEXOS
68
ANEXO A – VALORES CRÍTICOS DA DISTRIBUIÇÃO DE QUI-
QUADRADO
Gl χ2*0,05
1 3,841
2 5,991
3 7,815
4 9,488
5 11,070
6 12,592
7 14,067
8 15,507
9 16,919
10 18,307
Fonte: REA; PARKER, 2002
69
ANEXO B – INTERPRETAÇÃO DE MEDIDAS DE ASSOCIAÇÃO V E FI DE
CRAMER
Medida Interpretação
0,00 e até 0,10 Associação desprezível
0,10 e até 0,20 Associação fraca
0,20 e até 0,40 Associação moderada
0,40 e até 0,60 Associação relativamente forte
0,60 e até 0,80 Associação forte
0,80 e até 1,00 Associação muito forte
Fonte: REA; PARKER, 2002